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Olá!
O Caderno Legislação Penal Especial – Lavagem de Capitais possui como base as aulas
do professor Renato Brasileiro, do Curso G7 Jurídico.
Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2016 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2017, ambos da Editora
Juspodivm.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.
2. HISTÓRICO
A Lei de Lavagem de Capitais (LC) surgiu com um compromisso assumido pelo Brasil na
Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico de Drogas e Substâncias Psicotrópicas (Convenção
de Viena, celebrada no ano de 1988), ratificada pelo Decreto 154/1991. Nela, os países signatários
reconheceram a falência dos mecanismos de combate ao Tráfico de Drogas e concluíram que, ante
a frustração dos meios, até então, utilizados, restava pugnar a movimentação financeira do Tráfico.
O projeto de Lei foi coordenado pelo ex Ministro Celso Jobim e contou com a participação
de Vicente Greco Filho, René Ariel Dotti, Francisco de Assis Toledo e Miguel Reale Júnior.
Destaca-se, contudo, que após quatorze anos da edição da Lei Originária, a legislação
brasileira sofreu significativa transformação, verificada através da Lei nº 12.683/12 – que despontou
como consequência do reconhecimento de que a lei anterior (Lei nº 9.613/98) não estava surtindo
os efeitos desejados.
A referida lei produziu, pelo menos, três mudanças sensíveis, as quais veremos abaixo.
Quando a lei brasileira entrou em vigor, em 1998 (redação original), havia um rol taxativo de
infrações antecedentes. Isto é, antigamente, somente se configurava a Lavagem de Capitais se o
crime que produziu aquele dinheiro estivesse listado como infração antecedente no corpo do art. 1º
da Lei nº 9.613/98, vejamos a antiga redação:
Caso o crime antecedente não constasse no rol taxativo, ainda que ocorresse a ocultação
ou dissimulação de bens, direitos ou valores, não havia que se falar em Lavagem de Capitais.
A partir da alteração trazida pela Lei nº 12.683/12, esse rol perdeu seu caráter taxativo e
adquiriu viés exemplificativo. Observe a nova redação do art. 1º, “caput”, da Lei 9.613/98:
Obs. Perceba que, anteriormente, a redação trazia a expressão “crime”. Agora, o legislador não
apenas revogou todos os incisos do art. 1º, como também substituiu a palavra “crime” por “infração
penal”. Isso significa dizer que, pelo menos, em tese, qualquer infração penal, seja crime ou
contravenção penal, poderá figurar como antecedente da lavagem de capitais.
Exemplo: Alienação Antecipada – diligência por meio da qual são vendidos os bens que
sofreram algum tipo de constrição patrimonial, quando verificado que o decurso do tempo pode
causar seu perecimento ou afetar seu valor (art. 4º da Lei 9.613/98).
A modificação provocada pela Lei nº 12.683/12 passou a permitir que o juiz decrete medidas
assecuratórias que poderão recair não apenas sobre bens que sejam instrumento, produto ou
proveito dos crimes previstos na Lei de Lavagem de Capitais, mas também das infrações penais
antecedentes. Portanto, o juiz poderá sequestrar carros, iates, helicópteros e tantos outros bens
quanto forem necessários, não apenas nos casos em que se tratar de produto direto ou indireto da
Lavagem, porém também se for produto direto ou indireto da infração antecedente.
No sistema financeiro, por muito tempo, convencionou-se dizer que “dinheiro não tem
cheiro”, ou seja, a procedência da moeda era propositalmente ignorada.
Hoje, existe uma política de Know Your Costumer (conhecer o seu cliente), onde a empresa
busca criar mecanismos de modo a evitar que a sua operação seja utilizada para prática de
lavagem.
Desta forma, houve uma ampliação do rol de pessoas físicas e jurídicas que passam a ter a
obrigação legal de, eventualmente, comunicar operações suspeitas.
Note que “lavagem” é uma metáfora que traduz a ideia de que o dinheiro é “sujo”, porquanto
proveniente de infração penal antecedente e quando se lava, dá-se àquela moeda aparência lícita.
Cria-se estratagema para dar ao dinheiro proveniente de infração penal antecedente feição
lícita.
CUIDADO: Apesar de a doutrina trabalhar com vários conceitos e fases da lavagem de capitais, a
jurisprudência do STF entende que não há necessidade de complexidade das operações
financeiras.
O Professor Renato Brasileiro afirma que houve um caso, conhecido como a “Máfia dos
Fiscais em São Paulo”, em que fiscais da prefeitura extorquiam construtoras e afins (concussão,
corrupção passiva) e com esse dinheiro realizavam depósitos na conta de familiares (cunhados). A
discussão deu-se em torno do questionamento se o mero depósito na conta de um cunhado
configuraria Lavagem de Dinheiro. O Supremo entendeu que, embora a doutrina desenvolva vários
mecanismos, a Lavagem de Capitais não demanda grandes articulações. A oportunidade em que
LEIS DE 1ª GERAÇÃO
As primeiras leis que surgiram sobre Lavagem de Capitais traziam como infração penal
antecedente um único delito: o Tráfico de Drogas.
Esse cenário era absolutamente natural, visto que a Lei de Lavagem surgiu na Convenção
das Nações Unidas contra o Tráfico de Drogas de Viena (1998).
Diante da satisfação dos países para com a criminalização da Lavagem é que surgem as
leis de 2ª geração.
LEIS DE 2ª GERAÇÃO
LEIS DE 3ª GERAÇÃO
A partir de 2012 é que se diz que a lei brasileira de Lavagem de Capitais revestiu-se de
caráter de lei de 3ª geração, porque qualquer infração penal (desde que produtora) poderá funcionar
como antecedente da Lavagem de Capitais.
Tais fases foram idealizadas pelo Grupo de Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro
(GAF), formado pelos sete países mais ricos do mundo, que tem como objetivo coordenar
providências de modo a combater a Lavagem de Capitais.
Idealiza-se um modelo de Lavagem composto por três fases – este é o paradigma mais
conhecido, porém não o único.
Várias são as técnicas utilizadas, tal qual o smurfing, que representa uma tática de colocação
pela qual se pulveriza uma quantidade grande em pequenos depósitos com a finalidade de não
levantar suspeitas.
*MPE-GO (2012 - Promotor de Justiça) questionou no que consistiam as práticas conhecidas como
“pitufeo” e “smurfing” – que são os ingressos de quantidades pequenas de dinheiro em contas
bancárias configura modalidade de reciclagem de dinheiro conhecida como "pitufeo" ou "smurfing".
Quanto maior a movimentação, maior a distância dos valores da sua origem ilícita.
Retorno daqueles bens formalmente incorporados ao sistema financeiro que se dará de duas
formas: no próprio mercado (mobiliário ou imobiliário) ou no refinanciamento de atividade ilícita
originária.
Os Tribunais Superiores e a própria doutrina consolidam que tais fases desenvolvidas pelo
GAF correspondem ao que seria um modelo ideal/completo de Lavagem de Dinheiro.
Consequentemente, a tipificação do delito NÃO está condicionada ao preenchimento das referidas
três fases.
CESPE (2013 – Delegado de Polícia) compreendeu que o crime de Lavagem de Capitais, consoante
entendimento consolidado na doutrina e na jurisprudência, divide-se em três etapas independentes:
colocação (placement), dissimulação (layering) e integração (integration), não se exigindo, para
a consumação do delito, a ocorrência dessas três fases.
1ª CORRENTE
Defende que o crime de Lavagem de Capitais tutela o mesmo bem jurídico protegido pela
infração antecedente.
2ª CORRENTE
Sustentada por Roberto Podval, Rodolfo Tigre Maia, Gustavo Badaró, Pierpaolo Bottini.
Para essa corrente, a Lavagem de Capitais é similar ao Favorecimento Real (art. 349 CP),
porque quando o agente oculta ou dissimula a origem ilícita dos valores, ele visa, em última análise,
os esconder para tornar seguro o proveito do crime. Portanto, se o Favorecimento Real tem como
bem jurídico a administração da Justiça, nada mais lógico do que emprestar idêntico raciocínio à
Lavagem de Capitais.
3ª CORRENTE
4ª CORRENTE
Defendida Alberto Silva Franco, entende que o crime de Lavagem de Capitais viola mais de
um bem jurídico.
Alguns dos defensores afirmam que transgredi tanto a “ordem econômico-financeira” quanto
a “administração da Justiça”, enquanto outros dizem que se tutela, a um só tempo, a “ordem
econômico-financeira” e o mesmo bem jurídico tutelado pela infração antecedente.
Observações:
Hoje, o valor que serve como parâmetro é R$ 20.000,00 – quantia primeiramente adotada
apenas pelo STF, mas que também foi acolhida pelo STJ que, ao revisar sua jurisprudência, passou
a entender que:
Inicialmente, destaca-se que a leitura do art. 1º, “caput”, deve ser realizada conjuntamente
com o art. 2º, II e §1º do art. 2º, todos da Lei 9.613/98.
Vejamos:
Perceba que a palavra “infração penal” está inserida na redação típica do crime de Lavagem
de Capitais, isto é, a infração penal antecedente é uma elementar do crime de Lavagem de Capitais.
Por essa razão é que se diz que à semelhança do que ocorre com o crime de Receptação, a
Lavagem de Capitais é conhecida como “crime acessório/parasitário”, porque sua tipificação está
atrelada a outro crime.
Sem que haja a infração penal antecedente, não há que se falar em Lavagem de Capitais.
Todavia, o art. 2º, II, da Lei nº 9.613/98 estabelece aparente independência do processo da
Lavagem de Capitais:
Exemplo: dois processos, sendo que um deles comporta autos relacionados ao Tráfico de
Drogas e o outro a Lavagem de Capitais, no primeiro foram vendidos um milhão de reais em drogas
e, no segundo, abriu-se um curso preparatório para se aplicar esse um milhão de reais.
Os dois processos precisam tramitar juntos num único processo ou podem tramitar
separadamente? Os processos criminais da Lavagem de Capitais e da infração penal antecedente
NÃO precisam tramitar juntos (art. 2º, II, da Lei nº 9.613/98). Entretanto, não significa que não
possam tramitar em conjunto. Não há regra absoluta. Isto porque, entre os dois crimes praticados
há evidente conexão probatória. No exemplo, a prova da infração antecedente (Tráfico de Drogas)
influi na prova do crime de Lavagem de Capitais (art. 76, III, do CP). Como há conexão probatória,
é possível a reunião, porém esta reunião não é obrigatória.
Se for dito que podem tramitar juntos, quem é que decide sobre a reunião dos feitos:
o juiz da Lavagem ou o juiz do Tráfico de Drogas, já que ao último crime é cominada pena
mais gravosa? De acordo com o CPP, quando há conexão, quem decide, num primeiro momento,
é o juízo com força atrativa (forum attractionis). Existem alguns critérios para identificar o forum
attractionios; o primeiro deles é o juiz ao qual for cominada a pena mais grave. CONTUDO, ESSA
NÃO É A LÓGICA ADOTADA NA LAVAGEM DE CAPITAIS. A segunda parte do art. 2º, II, da Lei
nº 9.613/98 (“cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a
unidade de processo e julgamento”) é uma novidade e tem status de regra especial em relação ao
CPP. Assim, independentemente da gravidade das penas, quem dará a última palavra acerca da
reunião ou separação de processos é o juiz que averigua a Lavagem de Capitais
• Se absolvido por conta de excludente de ilicitude na infração antecedente, também não será
possível sua condenação na Lavagem.
Quer dizer, não se tem como conditio sine qua non da Lavagem de Capitais a condenação
pela infração antecedente, tanto é que a própria lei dispõe que os processos são independentes e
autônomos.
9. SUJEITOS DO CRIME
SUJEITO ATIVO
A Lavagem de Capitais é crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa,
não se exige nenhuma qualidade especial do agente.
A lei brasileira pune, exclusivamente, pessoas físicas pelo crime de Lavagem de Capitais. A
pessoa jurídica pode até responder, mas estará sujeita exclusivamente às punições administrativas
e não às criminais.
SUJEITO PASSIVO
Será a “coletividade”, caso concorde-se que o bem jurídico tutelado seja a “ordem
econômico-financeira”.
Por outro lado, se entender o bem jurídico tutelado como a “administração da Justiça”, o
sujeito passivo será “o próprio Estado no qual está inserido o Poder Judiciário”.
AUTOLAVAGEM (SELFLAUNDERING)
Entende-se por “autolavagem” a hipótese em que o mesmo indivíduo que responde pela
infração penal antecedente também é criminalmente processado pelo delito de Lavagem de
Capitais.
A legislação brasileira não fez semelhante reserva à da Itália e da França, basta comparar
os preceitos do art. 1º da Lei nº 9.613/98 com os do art. 349 do CP.
Não há falar em Princípio da Consunção ou conflito aparente de normas, visto que a infração
penal antecedente independe da Lavagem de Capitais. Quando o indivíduo lava o dinheiro, pratica
infração penal autônoma, violando, portanto, bem jurídico diverso - é incongruente entender a
Lavagem como exaurimento da infração antecedente.
O sujeito ativo da Lavagem de Capitais não necessariamente precisa ter concorrido para a
infração antecedente, desde que tenha consciência da origem ilícita dos valores por ele ocultados.
*CESPE (2013 – Delegado de Polícia) considerou que, no que se refere à legitimidade para o polo
passivo da ação penal por lavagem de capitais, é dispensável a participação do acusado do crime
de lavagem de dinheiro nos delitos a ele antecedentes, sendo suficiente que ele tenha
É evidente que o advogado (assim como juízes, promotores e outros) pode ser sujeito ativo,
até porque a Lavagem é caracterizada como “crime comum”.
A indagação feita acima é oriunda das mudanças introduzidas pela Lei nº 12.683/02, entre
elas, a ampliação das pessoas físicas ou jurídicas obrigadas a comunicar operações suspeitas.
b) Advogados de operações
Esse perfil de advogado tem a obrigação de comunicar operações suspeitas, assim como
profissionais de qualquer outra área.
Não é essa a orientação que tem sido adotada pelo próprio COAF (vide Resolução nº 24) e
pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), conforme verificado na provocação do órgão especial
do Conselho Pleno do Conselho Federal, em relação à consulta formalizada pela OAB São Paulo,
processo em que o Conselho Federal decidiu
Portanto, tanto o COAF quanto a OAB entendem que as alterações produzidas pela Lei nº
12.683/02 não são aplicáveis aos advogados e que a distinção entre advogados de representação
contenciosa e) advogados de operações não tem qualquer validade.
Tem-se crime de ação múltipla e conteúdo variado, sendo que a incidência de qualquer um
dos verbos (ocultar ou dissimular) é suficiente para caracterização do delito de Lavagem de
Capitais.
É imperioso saber precisamente a linha tênue que separa a infração penal antecedente, com
todo seu iter criminis (cogitação, preparação, execução e consumação), do momento inicial que
marca o crime de Lavagem de Capitais, principalmente o momento final do antecedente criminal
(compreendido como o “exaurimento”, apesar de, para a maioria dos doutrinadores, não fazer parte
do iter criminis).
2ª corrente: os verbos “ocultar” e “dissimular”, pela própria redação do tipo penal, sugerem
tratar-se de crime permanente. Ou seja, aquele cuja consumação se prolonga no tempo e, durante
todo esse período, o agente detém o poder de fazer cessar sua execução.
Quando abordado o crime instantâneo, tem-se que a prescrição começa a fluir a partir da
consumação.
Por outro lado, no que tange ao crime permanente, a prescrição começa a fluir a partir da
cessação da permanência do delito.
A 1ª Turma do STF, na Ação Penal 863, condenou Paulo Maluf por Lavagem de Capitais
praticada na década de 90, sob justificativa de que o réu manteve os valores ocultos no exterior,
configurando, portanto, o crime permanente e, como tal, não haveria que se falar em prescrição.
No Brasil, o crime de Lavagem de Capitais é punido, unicamente, a título de dolo, seja ele
direito (resultado pretendido) ou eventual (assumidos riscos de produção do resultado).
DOLO EVENTUAL
O mesmo raciocínio deve ser aplicado aos crimes de Lavagem de Capitais. Em regra, os
crimes de Lavagem de Capitais são punidos tanto a título de dolo direito quanto eventual.
Exceções:
- Artigo 1º, §2º, inciso II, da Lei nº 9.613/98, que prevê a punição apenas a título de dolo
direto.
Exemplo: relógio subtraído, dinheiro obtido com a venda da droga, dinheiro obtido como fruto
da corrupção.
Exemplo: venda de droga que gera R$ 500.000,00 – esse valor é o produto direto. O que o
sujeito for fazer com esses R$ 500.000,00 será o produto indireto. Se comprar um apartamento,
será ele o proveito.
O examinador de uma prova do MP-GO questionou se era possível e o que seria a lavagem
da lavagem ou lavagem em cadeia.
Possibilitada a partir da edição Lei nº 12.683/12, consiste na Lavagem que tem como
infração penal antecedente outra Lavagem. Isto é, a partir do momento em que qualquer infração
penal pode ser considerada antecedente da Lavagem de Capitais, esta infração penal antecedente
poderá ser, inclusive, outra Lavagem de Capitais.
Entendeu-se como alternativa de fonte de rendas, no Brasil, o retorno dos valores remetidos
ao exterior de maneira não declarada.
Art. 1º (...) §4º A pena será aumentada de Art. 1º (...) §4º A pena será aumentada de
1 (um) a 2/3 (dois terços), nos casos um a dois terços, se os crimes definidos
previstos nos incisos I a VI do caput deste nesta Lei forem cometidos de forma
artigo, se o crime for cometido de forma reiterada ou por intermédio de
habitual ou por intermédio de organização organização criminosa.
criminosa.
O crime de Lavagem de Capitais não é crime habitual. Tanto não é que, se praticado
reiteradamente, será computada a causa de aumento de pena (exemplo: caso de Marcos Valério –
Ação Penal 470 do STF).
De acordo com Gustavo Badaró: deve-se “interpretar o novo texto como uma dispensa da
comprovação da habitualidade para a causa de aumento, caracterizada como repetição usual da
prática criminosa, que revela um estilo de vida do agente, voltado àquele delito”.
Renato Brasileiro de Lima entende que “a habitualidade não é uma elementar do tipo de
lavagem, como acontece em outros crimes, como o exercício ilegal de medicina, arte dentária ou
farmacêutica (art. 282 do CP). O § 4º (em sua redação antiga) traz a figura da habitualidade
criminosa, a reiteração delituosa, ou do criminoso habitual, conceito este que não se confunde com
crime habitual. Enquanto no crime habitual o delito é único, figurando a habitualidade como
elementar do tipo, na habitualidade criminosa há pluralidade de crimes, sendo a habitualidade uma
característica do agente, e não da infração penal. No crime habitual a prática de um ato isolado não
gera tipicidade, ao passo que, na habitualidade criminosa, tem-se uma sequência de atos típicos
que demonstram um estilo de vida do autor, ou seja, cada um dos crimes anteriores já é suficiente
de per si para a caracterização da lavagem, sendo que o conjunto de delitos autoriza o aumento da
pena”.
Art. 2º (...)
III - são da competência da Justiça Federal
Além disso, alguns doutrinadores (Andrey Borges de Mendonça) citam o inciso V do artigo
109 da CF/88:
A Lavagem também será julgada pela Justiça Federal quando a infração penal antecedente
for dotada de internacionalidade territorial do resultado relativamente à conduta delituosa. Nesse
caso, o Brasil também teria assumido a obrigação de combater esse delito.
Essa especialização, de acordo com o Supremo, não está sujeita ao Princípio da Reserva
Legal em Sentido Estrito e sim ao Princípio da Legalidade em Sentido Amplo. Portanto, pode ocorrer
através de Provimentos, Portarias, sem que seja necessária lei ordinária em sentido estrito.
Houve uma decisão que, à época, entendeu que essa atribuição não seria do Conselho da
Justiça Federal (CJF), porque, de fato, na CF/88, o CJF não tem atribuições jurisdicionais, desta
forma, tal especialização não pode ser feita pelo CJF como determina o artigo 12 da Lei nº 5.010/66
que, por sua vez, deve ser lido à luz da CF/88:
Art. 12. Nas Seções Judiciárias em que houver mais de uma Vara, poderá o
Conselho da Justiça Federal (entende-se TRF) fixar-lhes sede em cidade
diversa da Capital, especializar Varas e atribuir competência por natureza de
feitos a determinados Juízes