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FGTS – ATÉ 02/05/2019 NÃO EXISTE DECISÃO DO STF SOBRE A

SUBSTITUIÇÃO DA TR NA CORREÇÃO DO SALDO DO FGTS.

O SUPREMO IRÁ APRECIAR A MATÉRIA NA ADI 5090.

CORREÇÃO DO FGTS E A UTILIZAÇÃO DA TR

Nos anos 1990, diante dos sucessivos planos econômicos surgiram as ações para
discutir os expurgos.

A discussão, à época, estava centrada no direito adquirido aos índices expurgados.


Mesma discussão que foi travada em relação aos expurgos salariais.

No FGTS, após longa batalha judicial, o STF e o STJ acabaram definindo que havia
direito a alguns dos índices, nos termos da Súmula 252 do STF:
“STJ. Súmula 252. Os saldos das contas do FGTS, pela legislação
infraconstitucional, são corrigidos em 42,72% (IPC) quanto às perdas de janeiro
de 1989 e 44,80% (IPC) quanto às de abril de 1990, acolhidos pelo STJ os índices
de 18,02% (LBC) quanto às perdas de junho de 1987, de 5,38% (BTN) para maio
de 1990 e 7,00% (TR) para fevereiro de 1991, de acordo com o entendimento
do STF (RE 226.855-7-RS).” (Fonte: DJ. 13.08.2001)

O debate atual sobre perdas na correção das contas do FGTS em relação à inflação,
não tem relação direta com os expurgos dos planos econômicos (1986 a 1991). Naquela
época, o que se discutia era o direito adquirido aos índices expurgados.

A discussão agora questiona a aplicação da TR (Taxa Referencial) como fator de


correção do saldo das contas do FGTS.

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Essa questão é mais complexa, exige uma abordagem mais detalhada e exige,
inclusive, que se restabeleça o histórico e o dimensionamento coletivo da questão.

1. A correção das contas do FGTS feita pela TR ficou abaixo da inflação?


2.
Sim. Entre 1991e 2012, tudo que foi corrigido pela TR ficou abaixo do índice de
inflação. Somente nos anos de 1992, 1994, 1995, 1996, 1997 e 1998, a TR ficou acima dos
índices de inflação.

3. Então, minha conta no FGTS perdeu?


4.
Sim. A partir de 1991, quando foi criada a TR. Veja as perdas/ganhos anuais em
relação ao INPC-IBGE.
Ano Diferença Ano Diferença
1991 -8,41% 2002 -10,40%
1992 0,57% 2003 -5,20%
1993 -0,56% 2004 -4,07%
1994 2,12% 2005 -2,11%
1995 7,90% 2006 -0,75%
1996 0,43% 2007 -3,53%
1997 5,22% 2008 -4,55%
1998 5,18% 2009 -3,27%
1999 -2,49% 2010 -5,43%
2000 -3,02% 2011 -4,59%
2001 -6,54% 2012 -5,56%

5. Consigo saber quanto minha conta no FGTS perdeu?


6.
Cada cálculo é individual, dependerá do período de recolhimento, se houve saque ao
longo do tempo, para depois aplicar o índice correspondente. É bom esclarecer que as
diferenças em reais nas contas individuais não são muito altas. Veja os exemplos:

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Tempo de emprego – 2 anos
Salário (R$) Valor do saldo do FGTS Saldo do FGTS caso fosse Diferença (R$)
(R$) corrigido pelo INPC (R$)
R$ 678,00 1.432,84 1.495,77 -62,93
R$ 1.000,00 2.198,39 2.298,08 -99,69
R$ 2.080,86 4.574,53 4.782,98 -208,45
R$ 3.500,00 7.694,35 8.043,28 -348,93
R$ 5.000,00 10.991,93 11.490,40 -498,47
R$ 10.000,00 21.983,86 22.980,79 -996,93

Tempo de emprego – 4,7 anos


Valor do saldo do FGTS Saldo do FGTS caso fosse
Salário (R$) Diferença (R$)
(R$) corrigido pelo INPC (R$)
R$ 678,00 3.397,77 3.801,76 -403,99
R$ 1.000,00 5.011,46 5.607,31 -595,85
R$ 2.080,86 10.428,15 11.668,03 -1.239,89
R$ 3.500,00 17.540,11 19.625,55 -2.085,44
R$ 5.000,00 25.057,30 28.036,56 -2.979,26
R$ 10.000,00 50.114,60 56.073,00 -5.958,40
Nota: Considerando que a pessoa permaneceu no período indicado e que não fez nenhum
saque, e que é empregado no mercado de trabalho formal.

7. Minha conta no FGTS tem alguma outra correção, além da TR?


As contas do FGTS além da correção da TR tem também uma capitalização de 3% de
juros ao mês, conforme estabelecido em lei (lei 8.036/90). Considerando a remuneração
total (TR+3%) em relação ao INPC, as perdas/ganhos anuais são:
ANO DIFERENÇA ANO DIFERENÇA
1991 13,62% 2002 -7,87%
1992 6,63% 2003 -2,19%
1993 -6,34% 2004 -1,24%
1994 30,77% 2005 0,84%
1995 13,46% 2006 2,30%
1996 3,92% 2007 -0,55%
1997 7,91% 2008 -1,84%
1998 8,94% 2009 -0,21%
1999 0,88% 2010 -2,67%
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2000 0,09% 2011 -1,69%
2001 -3,83% 2012 -2,64%

8. Mas essa diferença só foi vista agora?

O problema da escolha da TR como fator de correção/atualização do FGTS ganha


força agora, porque a distância entre a TR e a inflação tem aumentado e a partir de setembro
de 2012, a TR é zero.

9. Por que essa questão ainda não foi solucionada?


10.
Porque não se trata de uma questão isolada do FGTS. Trata-se de todo um sistema que
se relaciona. Os trabalhadores de menor renda, que são beneficiados com programas de
financiamento, subsidiados pelo FGTS, poderiam sofrer impactos. O mesmo em relação aos
trabalhadores com financiamento pelo SFH (Sistema Financeiro de Habitação), que tem sua
dívida corrigida pela TR.

Além disso, o critério é legal e exige, portanto, uma alteração na lei para que se
repense o sistema de remuneração global e das contas do FGTS.

11. É verdade que tem trabalhador que já ganhou a ação e já está recebendo?

Não. É preciso ter muito cuidado com notícias que tem circulado sobre ganhos de
causa, isso NÃO é verdade. Não há nenhum posicionamento definitivo do judiciário sobre o
assunto.

O STJ já decidiu desfavoravelmente em decisão proferida no REsp 1.614.874,


oriundo de Santa Catarina.

Existe ainda no STF uma ADIn (5.090) ajuizada pelo PSOL que está sob a
relatoria do Ministro Barroso, especificamente sobre a TR na correção do FGTS que
ainda está pendente de julgamento.

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PORTANTO, NÃO EXISTE DECISÃO DO SUPREMO COM RELAÇÃO A CORREÇÃO
DO FGTS.

12.É certo que a ação seja ganha?

Tudo indica que o processo será longo, considerando a complexidade que envolve essa
matéria. E O RESULTADO FINAL É INCERTO.

PARA ENTENDER MELHOR O DEBATE DA REMUNERAÇÃO DO FGTS

13. O que é o FGTS?


O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) é um fundo parafiscal, criado em
1966, em substituição a estabilidade decenal no emprego. É formado por depósitos mensais,
efetuados pelo empregador, em contas individuais e vinculadas, em nome de cada
trabalhador, correspondente a 8,0% de sua remuneração mensal, incidindo também sobre o
13º salário e o adicional de 1/3 das férias. Suas funções são: a de seguro social para os casos
de aposentadoria, morte ou invalidez e desemprego do trabalhador; e de fonte de
financiamento para habitação, saneamento e infraestrutura urbana.

14. A correção monetária das contas do FGTS está garantida em Lei?


Sim, em seu artigo 2º.
“Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se
refere esta lei e outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com
atualização monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas
obrigações.”

15. O que é a TR?


A Taxa Referencial (TR) foi instituída na economia brasileira pela Lei Nº 8.177, de
31/03/1991 que ficou conhecida como Plano Collor II. Seu objetivo foi estabelecer regras
para a desindexação da economia. À época, foram extintos um conjunto de indexadores que
corrigiam os valores de contratos, fundos financeiros, fundos públicos, bem como as dividas
com a União, dentre outros.
A TR é calculada, pelo Banco Central, a partir do calculo dos juros médios pagos pelos
CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e RDB (Recibos de Depósito Bancário) pelos 30
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maiores banco. Em 1995, o Banco Central introduziu na fórmula um redutor sobre esse
calculo.

16. Quando a TR passou a corrigir os saldos do FGTS:


A partir de fevereiro de 1991, quando a TR foi criada.
O artigo 17 da Lei 8177/91 assim estabelece:
“Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à
remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia
1°, observada a periodicidade mensal para remuneração.
Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do FGTS são
mantidas e consideradas como adicionais à remuneração prevista neste artigo.”

17. A remuneração do FGTS é TR+3% de juros ao ano?


Sim. A Lei 8.036/90, que regulamenta o FGTS, estabelece juros moratórios de 3% ano
e a atualização monetária que sempre foi fixada, ao longo dos anos, por legislação própria,
sem definição de índice na Lei 8.036/90.

18. A TR também é utilizada para outras obrigações, correções e contratos?


Sim. Ela serve igualmente para definir outras obrigações, como nos casos dos
empréstimos do SFH e a correção da Poupança.

19. A TR é igual aos índices de preço que medem a inflação?


Nunca foi. Ao contrário, a TR foi criada para tentar desvincular a economia de
qualquer memória inflacionária.

Brasília, 1 de maio de 2019.

Gláucia Costa
OAB/DF 22.531

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