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AGRAVO DE INSTRUMENTO - Penhora

sobre verba salarial - Insurgência contra a decisão que indeferiu pedido da exequente no
sentido de penhorar 30% (trinta por cento) dos rendimentos mensais da parte executada
- Incidência do art. 833, IV, do CPC/15 - Impenhorabilidade que visa manter a
dignidade existencial do executado - Ademais, necessário que a exequente traga aos
autos lastro probatório mínimo de que a penhora não afetaria o sustento do executado e
de sua família - Entendimento consolidado destra Egrégia Corte e do Colendo Superior
Tribunal de Justiça - Decisão mantida - AGRAVO NÃO PROVIDO.

VISTOS.

1. Cuida-se de Recurso de Agravo de


Instrumento interposto por, contra a r. decisão transcrita a fls. 05, proferida pelo D. Juiz
da 2ª Vara Cível do Foro da Comarca de Campinas, Dr. Fábio Henrique Prado de
Toledo, que indeferiu o pedido formulado pela exequente, ora agravante, a fim de que
fosse penhorado 30% (trinta por cento) da verba salarial recebida pela parte executada,
ora agravada, sob o fundamento de que tal verba seria acobertada pelo manto da
impenhorabilidade.

Busca a agravante a concessão do efeito


suspensivo/ativo ao recurso e, ao final, seu provimento para que seja reformada a r.
decisão, a fim de que seja deferida a penhora requerida, bem como expedido ofício à
empresa na qual labora o executado para que realize os depósitos em conta vinculada ao
juízo.

Indeferido o efeito postulado em sede de


cognição sumária (fls. 229/230).

Em resposta (fls. 232/237) pugna o agravado


pelo não provimento do recurso e pela manutenção in totum da decisão agravada por
seus próprios e jurídicos fundamentos. Acrescenta, em apertada síntese, que a verba
salarial seria impenhorável, e que a agravante teria logrado êxito em descobrir o local
onde trabalha o agravado, sendo possível localizá-lo.

Recurso tempestivo, preparado e instruído.

Não houve oposição ao julgamento virtual.


É o relatório.

2. Dispõe o artigo 833, IV, e §2º do Código


de Processo Civil:

“Art. 833. São impenhoráveis:


IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as
remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os
pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e
de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º ;
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à
hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia,
independentemente de sua origem, bem como às importâncias
excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo
a constrição observar o disposto no art. 528, § 8º, e no art. 529,
§ 3º .”

Com efeito, “a justificativa para a


impenhorabilidade prevista no dispositivo legal ora comentado reside justamente na
natureza alimentar de tais verbas, donde a penhora e a futura expropriação
significariam uma indevida invasão em direitos mínimos da dignidade do executado,
interferindo diretamente em sua manutenção, no que tange às necessidades mínimas de
habitação, transporte, alimentação, vestuário, educação, saúde etc.”. (NEVES, Daniel
Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil: volume único. Salvador:
Juspodivm, 2017; pág. 1141).

Embora a agravante tenha citado decisões do


C. STJ que, à luz dos casos concretos, tenham admitido a penhora sobre os rendimentos
da pessoa física, certo é que não são decisões pacíficas naquele tribunal. Tais decisões
só fazem concluir que pode haver a flexibilização da impenhorabilidade, em casos
excepcionais, com a condição de não violar a existência digna do devedor e de sua
família. Contudo, tais precedentes não autorizam irrestritamente a penhora sobre o
salários e rendimentos. Sendo assim, as únicas exceções previstas em lei são aquelas
relativas ao crédito de natureza alimentar e à penhora de rendimentos acima de 50
(cinquenta) salários mínimos, o que não é a hipótese dos autos.

Assim, agiu com acerto o magistrado a quo


ao indeferir o pedido da agravante quanto à penhora de 30% (trinta por cento) dos
vencimentos do agravado.
Neste sentido, o entendimento deste E.
Tribunal de Justiça:

"Agravo de Instrumento – Execução – Insurgência contra


decisão que deferiu pedido de penhora de 10% do salário da
executada – Inadmissibilidade da penhora incidente sobre tais
valores, por terem caráter alimentar – Impenhorabilidade
configurada, nos termos do art. 649, inciso IV, do CPC/73
(recepcionado pelo art. 833, inciso IV, do Novo CPC) –
Recurso provido. "
(Agravo de Instrumento nº 2282842-58.2019.8.26.0000, Rel.
Thiago de Siqueira, 14ª Câmara de Direito Privado, j.
06/03/2020, TJSP)

"Penhora – Incidência sobre 10% dos proventos líquidos


mensais da agravante – Descabimento - Art. 833, § 2º, do atual
CPC – Caso em que os rendimentos mensais da agravante não
ultrapassem cinquenta salários mínimos – Débito em questão
que não tem natureza alimentar - Inviabilidade da penhora –
Precedentes do TJSP – Agravo provido."
(Agravo de Instrumento nº 2188872-04.2019.8.26.0000, Rel.
José Marcos Marrone, 23ª Câmara de Direito Privado, j.
24/09/2019, TJSP)

"PENHORA – Decisão agravada que indeferiu a penhora sobre


os vencimento dos devedores – Impenhorabilidade verificada –
Art. 833, IV, do CPC/15 que torna absolutamente impenhorável
o salário – Decisão mantida - Recurso improvido. (...)"
(Agravo de Instrumento nº 2089920-87.2019.8.26.0000; Rel.
J. B. Franco de Godoi; 23ª Câmara de Direito Privado;
j.15/07/2019; TJSP)

FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. Ação


declaratória de inexigibilidade de título de crédito. Pleito de que
a penhora recaia sobre rendimentos oriundos do salário do
devedor. Inadmissibilidade. Recursos destinados à subsistência
do executado e de sua família. Impenhorabilidade dos recursos
de natureza salarial recebidos pelo devedor (CPC, 833, IV), que
são inferiores a 40 salários mínimos, reconhecida. Decisão
mantida. Recurso improvido. Dispositivo: negaram provimento
ao recurso.
(Agravo de Instrumento nº 2141544-78.2019.8.26.0000; Rel.:
João Camillo de Almeida Prado Costa; 19ª Câmara de
Direito Privado; j. 24/09/2019; TJSP)

Ademais, a parte agravante não logrou êxito em


demonstrar que a penhora sobre a verba salarial da parte executada não lhe privaria de
sua dignidade existencial garantida pelo CPC/15 e pela Constituição da República.
Neste sentido, cita-se o excerto do Agravo Interno no Recurso Especial nº 1841529 /
DF, julgado em 17/02/2020, proferido pelo Ilustre Ministro Moura Ribeiro, do C.
Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

"Assim, é possível excepcionar a regra da impenhorabilidade,


mas apenas nos casos em que as provas dos autos indicarem
que o valor remanescente é suficiente para garantir a dignidade
do devedor e sua família.
É ônus do exequente carrear aos autos lastro probatório
mínimo que indique que a pretensão de penhora não afeta o
sustento do devedor."

Dessa forma, em que pesem as alegações da


agravante, de rigor a manutenção da decisão agravada, visto que o caso em tela não
comporta as exceções acerca da impenhorabilidade dos rendimentos da pessoa física.

3. Pelo que, diante de tais circunstâncias, em


sendo este o entendimento dos demais, VOTO pelo NÃO PROVIMENTO do recurso.

Jurisprudência do STJ

Jurisprudência do TJSP

Por todo o exposto, de rigor a


manutenção/reforma da decisão agravada...

3. Pelo que, ante tais circunstâncias, em


sendo este o entendimento dos demais, VOTO pelo (NÃO) PROVIMENTO do
recurso.

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