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Representação Política

Módulo I - Representação Política

Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB

Curso: Política Contemporânea - Turma 03

Livro: Representação Política

Impresso por: Renata Lima

Data: terça, 31 Mar 2015, 09:55


Sumário
Módulo I - Representação Política

Introdução

Unidade 1 - Modalidades do Sistema Representativo

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Unidade 2 - As Metamorfoses do Sistema Representativo

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pág. 3
pág. 4

Conclusão

Exercícios de Fixação - Módulo I


Módulo I - Representação Política

Ao final do Módulo I, o aluno deverá ser capaz de:

Conhecer  o conceito de Representação Política;

identificar as características do Sistema Representativo;

reconhecer modificações que o Sistema Representativo sofreu ao longo de sua história.
Introdução
Neste Módulo, vamos abordar o instituto da Representação Política de duas maneiras.

Na  primeira,  apresentaremos  uma  definição  geral  do  Sistema  Representativo,  elaborada  a  partir  da  comparação  com  o  sistema  alternativo  de
governo participativo, a Democracia Direta.

Na  segunda,  vamos  analisar  as  mudanças  por  que  passou  esse  sistema,  desde  a  sua  formação  no  final  século  XVIII  até  os  nossos  dias,  a  partir  da
conceituação do autor Bernard Manin.
Unidade 1 - Modalidades do Sistema Representativo
Se excluirmos de todos os sistemas de governo  registrados  ao  longo  da  história  os  regimes  despóticos,  nos  quais  as  decisões  estão  completamente
fora do alcance da vontade e influência dos cidadãos, restam para nossa análise dois grandes sistemas de governo: a democracia direta e o sistema
representativo. Para traçar a diferença precisa entre eles, é preciso evitar dois erros muito presentes em nosso senso comum.

De  acordo  com  o  primeiro  erro,  na  democracia  direta,  o  povo,  reunido  em  assembleia,  é  responsável  imediato  por  todas  as  decisões.  Não  haveria,
portanto, mandatários, sejam eles eleitos ou escolhidos por sorteio. O problema é que um sistema como esse jamais existiu. Pelo menos, não é o que
os dados disponíveis nos dizem sobre os exemplos históricos de democracia direta, seja na Grécia clássica, seja nos cantões suíços de hoje. Nesses,
e  em  todos  os  demais  casos  conhecidos,  sempre  houve  e  há  funcionários  eleitos  e/ou  sorteados  incumbidos  de  tomar  decisões  importantes  para  a
comunidade.

Conforme o segundo erro, haveria simplesmente uma relação de continuidade entre a democracia direta e o sistema representativo. Na observação
conhecida de Rousseau,  o  tamanho  das  sociedades  políticas  inviabiliza  hoje  a  democracia  direta  e  teríamos  que  nos  contentar  com  uma  democracia
menor, imperfeita, porém exequível, na forma do sistema representativo.

No  entanto,  essa  ideia  colide  com  a  percepção  dos  teóricos  fundadores  do  sistema  representativo,  que  o  viam  como  algo  oposto  e  superior  à
democracia  direta.  Para  Sièyes,  a  representação  é  indispensável  na  sociedade  moderna,  onde  o  cidadão  se  ocupa  principalmente  do  próprio  bem­
estar  e  não  tem  tempo  para  a  participação  política.  Para  Madison,  a  representação  política  deixaria  o  poder  nas  mãos  dos  mais  sábios  e  produziria
decisões  intrinsecamente  superiores  àquelas  que  o  povo  em  sua  totalidade  tomaria.  Nos  dois  casos,  os  representantes,  por  seleção  ou  por
especialização, seriam mais capazes de tomar decisões corretas que seus representados. Antes de uma relação de continuidade, transparece nesses
argumentos uma relação de oposição entre democracia direta e sistema representativo.

Para resolver a questão, podemos partir de uma observação de Madison:  a  diferença  real  entre  um  e  outro  sistema  não  está  na  exclusão  completa
dos representantes do povo na democracia direta, mas na exclusão completa do povo reunido de qualquer decisão no sistema representativo. Num e
noutro  sistema,  há  representantes,  eleitos  ou  sorteados,  mas  somente  no  sistema  representativo  esses  representantes  detêm  o  monopólio  das
deliberações políticas.

A seguir, trataremos de alguns princípios gerais que caracterizam o sistema representativo.  

 
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Os quatro princípios assinalados a seguir desenvolveram­se pela primeira vez no Reino Unido, a partir da segunda metade do século XIX, de onde se
espalharam pela Europa continental. 

Primeiro princípio: os governantes são selecionados por meio de eleições regulares.

Este princípio afirma duas coisas distintas: só os representantes governam e são escolhidos mediante eleição. Em contraste, nas democracias diretas,
a assembleia de cidadãos toma decisões e é comum a escolha por sorteio, de acordo com a lógica de dar a todo cidadão que o deseje a oportunidade
igual de participar do governo. No exemplo ateniense, cargos que demandassem habilidade técnica, como generais e tesoureiros, eram preenchidos
por  eleição,  com  possibilidade  de  reeleição.  Já  os  mandatos  no  colegiado  que  executava  as  decisões  da  Assembleia  e  nos  tribunais  eram  sujeitos  a
sorteio e a recondução era vedada, na lógica de dividir esses cargos pelo maior número possível de cidadãos.

Segundo princípio: as decisões dos governantes mantêm algum grau de independência em relação à vontade dos representados.

Desde  o  início  o  sistema  representativo  posicionou­se  contra  todo  tipo  de  mandato  imperativo,  assim  como  contra  sua  consequência  lógica,  a
possibilidade de os representados substituírem seus representantes antes do término de seus mandatos.

Terceiro princípio: os representados podem manifestar livremente suas opiniões.

Há uma opinião pública, livre, que os representantes não podem controlar e precisam levar em consideração se querem pensar na eleição seguinte.

Quarto princípio: as decisões são submetidas a debate público.

Em algum momento do processo, as decisões passam por um debate aberto e transparente.

A seguir, apresentaremos, em linhas gerais, a tipologia dos sistemas representativos proposta pelo cientista político Bernard Manin.
Unidade 2 - As Metamorfoses do Sistema Representativo
Desde  a  segunda  metade  do  século  XIX,  o  sistema  representativo  passou  por  mudanças  profundas,  que  Manin  agrupa  em  torno  de  duas  grandes
metamorfoses. A primeira delas marcou, no final do século XIX, a passagem da democracia de notáveis, denominada por ele de parlamentarianismo,
para  a  democracia  de  partidos.  A  segunda  representou  o  fim  da  democracia  de  partidos  e  o  surgimento  de  um  tipo  de  democracia  que  o  autor
qualifica como de auditório.

Três observações são importantes para compreender a tipologia de sistemas representativos que Manin elabora:

A primeira remete ao fato que os tipos construídos são tipos ideais, no sentido weberiano do termo. Ou seja, são construções conceituais que reúnem
um conjunto de características, enfatizadas, com afinidade lógica entre si. Sua utilidade reside na comparação com casos empiricamente observados
que apresentam quase sempre uma mistura de traços presentes em diversos tipos.

A  segunda  refere­se  à  inspiração  histórica  da  tipologia.  É  evidente  que  os  tipos  foram  inspirados  numa  sequência  histórica  determinada,  o
desenvolvimento  do  sistema  representativo  nos  países  ocidentais  nos  séculos  XIX  e  XX.  Podemos  usar  a  tipologia  para  analisar  a  evolução  concreta
do  sistema  em  determinado  país.  Mas  também  podemos  usá­la  para  a  compreensão  de  um  determinado  sistema  presente,  sem  considerar  seu
desenvolvimento histórico.

A  terceira  diz  respeito  ao  fundamento  empírico  da  tipologia.  Manin  não  criou  os  argumentos  e  justificações  que  caracterizam  cada  tipo.  Todos  são
produtos  dos  teóricos  do  sistema  em  cada  período  histórico,  mas  há  boas  razões  para  supor  que  os  atores  do  sistema,  representados  e
representantes, compartilhavam a crença na validade desses argumentos.

  Tipologia de sistemas representativos elaborados por Manin:

  1­ Remete ao fato que os tipos construídos são tipos ideais, no sentido weberiano do
termo;

  2­ refere­se à inspiração histórica da tipologia; e

  3­ diz respeito ao fundamento empírico da tipologia.

Para melhor compreender a natureza de cada um desses tipos e as razões das mudanças que vinculam um ao outro, vamos descrevê­los a partir dos
quatro  princípios  mencionados  anteriormente,  quais  sejam:  os  governantes  são  selecionados  por  meio  de  eleições  regulares;  as  decisões  dos
governantes  mantém  algum  grau  de  independência  em  relação  à  vontade  dos  representados;  os  representados  podem  manifestar  livremente  suas
opiniões; as decisões são submetidas a debate público.
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A  consolidação  do  sistema  representativo,  primeiro  no  Reino  Unido,  depois  nos  demais  países  da  Europa,  ocorreu  sob  duas  condições  institucionais
que determinaram seu formato inicial: o voto distrital uninominal como regra eleitoral e o voto censitário, ou seja, a restrição do direito de voto aos
detentores  de  propriedade  e  renda.  Em  decorrência  dessas  condições,  o  número  de  eleitores  era  pequeno  e  concentrado  por  localidade.  Não  havia,
nem eram necessários, partidos fora do parlamento. 

No  que  diz  respeito  à  eleição  dos  representantes,  a  escolha  dos  eleitores  tinha  como  fundamento  a  confiança  pessoal  dos  representados  nos  seus
representantes e o resultado eleitoral expressava a rede de relações locais dos candidatos. O político por excelência era o líder local, o notável.

A  autonomia  parcial  ou  relativa  dos  representantes  manifestava­se  na  defesa  apaixonada  do  voto  de  consciência  dos  deputados  no  parlamento.  A
autonomia do parlamentar era condição da legitimidade do sistema e deveria estar acima até mesmo dos compromissos partidários.

Como consequência, a opinião pública, livre, não coincidia necessariamente com a expressão eleitoral da vontade do eleitor. Em outras palavras, os
eleitores  votavam  segundo  motivações  pessoais,  em  vizinhos  de  sua  confiança.  Os  grandes  temas  de  confronto  político  não  eram  objeto  das
campanhas eleitorais e os cidadãos tomavam suas posições sobre eles participando de reuniões e assinando petições. Era frequente o conflito entre
opinião pública e parlamento.

Finalmente, o espaço para a livre discussão era o próprio parlamento, no qual deputados eram, como vimos, livres para mudar suas posições iniciais,
para convencerem e serem convencidos pelo debate.
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A  partir  da  segunda  metade  do  século  XIX,  a  ampliação  progressiva  do  direito  de  voto,  primeiro  até  o  sufrágio  universal  masculino,  depois  para  o
voto  das  mulheres,  produziu  uma  nova  situação  que  pôs  fim  à  democracia  dos  notáveis.  Para  organizar  e  mobilizar  o  novo  eleitorado,  surgiram  os
partidos  políticos,  que  logo  se  tornaram  partidos  de  massa,  definidos  conforme  critérios  ideológicos  que  refletiam,  normalmente,  as  divisões  de
classe  presentes  na  sociedade.  O  sistema  eleitoral  com  mais  afinidade  ao  novo  modelo  foi  o  voto  proporcional,  que,  adotado  pela  primeira  vez  em
1900, espalhou­se com sucesso em poucos anos.

Na nova fase do sistema representativo, a quantidade de representados tornou impossível o conhecimento pessoal e, consequentemente, a confiança
pessoal no representante. A eleição passou a expressar a lealdade dos eleitores a um determinado partido. O resultado eleitoral tornou­se expressão
política,  embora  indireta,  da  estrutura  de  classes  e  a  figura  central  da  política  deslocou­se  do  notável  para  o  militante,  o  agitador  e  o  burocrata  do
partido.

A  autonomia  parcial  dos  representantes  ganhou  nova  face:  manifestou­se  na  liberdade  das  lideranças  partidárias  de  definir  as  prioridades  na
plataforma do partido apresentada aos eleitores.

A opinião pública tendeu a reproduzir as divisões partidárias, uma vez que a maior parte da imprensa escrita foi tomada por jornais de partidos. Com
isso, a coincidência entre opinião pública e opinião partidária passou a ser a tendência dominante.

O  debate  público  retirou­se  do  parlamento,  uma  vez  que  deputados  tinham,  sempre  que  necessário,  seu  voto  vinculado  à  posição  definida  por  seu
partido.  Como  disse  o  líder  social­democrata  alemão  Kautsky,  o  deputado  não  era  mais  que  a  voz  do  partido  no  parlamento.  O  debate  passou  a
acontecer  no  âmbito  da  discussão  interna  de  cada  partido,  das  negociações  entre  os  partidos  fora  do  parlamento,  e  nas  conversas  mantidas  pelos
governos com grupos de interesse organizados, como sindicatos de trabalhadores e organizações representativas de setores empresariais.
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O  uso  dos  meios  de  comunicação  de  massas  nas  campanhas  eleitorais,  a  partir  das  últimas  décadas  do  século  XX,  veio  alterar  profundamente  esse
quadro. O rádio, a televisão e depois, com muito mais intensidade, todos os recursos da internet, de certa maneira restabeleceram o contato direto
entre  representante  e  representado,  esquecido  desde  o  fim  da  era  dos  notáveis.  Partidos  e  suas  burocracias,  por  muitas  décadas  os  mediadores
dessa  relação,  perderam    desde  então  importância,  a  ponto  de  se  falar,  novamente,  numa  crise  profunda  do  próprio  sistema  representativo  de
governo.

Na  democracia  de  audiência  retorna,  portanto,  o  elemento  da  confiança  pessoal  como  decisivo  da  escolha  do  eleitor.  Ao  invés  de  uma  escolha
partidária  previamente  determinada,  de  motivação  classista,  o  eleitor  sente­se  livre  para  responder  a  um  leque  de  ofertas  que  as  diferentes
campanhas  apresentam.  Seu  voto  passa  a  ser  flutuante  e  a  figura  central  da  política  passa  a  ser  a  do  perito  de  mídia  nas  suas  várias  formas:  o
marqueteiro, o especialista em pesquisas de opinião, o candidato com talento midiático.

A autonomia relativa dos representantes se manifesta na indeterminação das propostas de campanha. As imagens públicas dos candidatos definem o
resultado, de modo que as plataformas podem ser vagas o suficiente para manter uma larga margem de liberdade para os eleitos.

A  retração  dos  partidos,  por  sua  vez,  levou  à  separação  entre  a  opinião  pública  e  sua  expressão  eleitoral.  A  imprensa  escrita,  falada  e  televisiva
ganha  autonomia  em  relação  aos  partidos.  Ganha  importância  também  a  manifestação  da  opinião  pública  por  meio  de  pesquisas  de  opinião.  A
diferença  em  relação  ao  modelo  anterior  fica  clara  na  comparação  entre  o  caso  Dreyfus,  na  França,  na  passagem  dos  séculos  XIX  e  XX,  e  o  caso
Watergate,  nos  Estados  Unidos  dos  anos  1970.  Nesse  último,  a  mídia  não  partidarizada  permitiu  que  todos  concordassem  sobre  os  fatos,  embora
discordassem na avaliação deles. No caso francês, a partidarização da imprensa fez com que os próprios fatos não fossem objeto de consenso entre
os dois campos que se formaram.

Finalmente,  o  espaço  do  debate  desloca­se  novamente:  agora  passa  a  ocorrer  debate  nas  negociações  entre  governo  e  grupos  de  interesse,  de  um
lado,  e,  de  outro,  o  debate  na  mídia,  no  qual  os  antagonistas  procuram  capturar  a  simpatia  do  eleitor  flutuante,  não  mais  vinculado,  a  priori,  a  um
determinado partido por sua origem ou situação de classe.
Conclusão
Vimos  neste  Módulo  que,  a  principal  característica  do  Sistema  Representativo  é  o  monopólio  das  decisões  políticas  nas  mãos  de  representantes
eleitos pelo povo.

Vimos  ainda  que  ao  longo  da  história  quatro  princípios  do  sistema  mantiveram­se  constantes:  a  seleção  dos  governantes  por  meio  de  eleições
regulares, a autonomia relativa dos representantes em relação a seus representados, a vigência do direito à livre manifestação dos representados e a
realização de um debate aberto prévio à tomada da decisão.

Discutimos, finalmente, as metamorfoses do sistema ao longo de sua história: a passagem da democracia de notáveis para a democracia de partidos
e, já avançado o século XX, a passagem da democracia de partidos para a democracia de audiência ou de auditório.

 
Exercícios de Fixação - Módulo I
  Parabéns! Você chegou ao final do Módulo I do curso de Política Contemporânea. 

    Como  parte  do  processo  de  aprendizagem,  sugerimos  que  você  faça  uma  releitura  do  mesmo  e  resolva  os  Exercícios  de  Fixação.  O
resultado não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo.

  Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas!

Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui.

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