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Cursos Técnicos em Turismo No Contexto Sócio Histórico Da Educação Profissional PDF
Cursos Técnicos em Turismo No Contexto Sócio Histórico Da Educação Profissional PDF
Resumo
O presente artigo busca investigar, por meio de uma pesquisa exploratória bibliográfica de
corte longitudinal, a partir da segunda metade do século XX até os dias que correm, aspectos
históricos de cunho político que se relacionaram com as concepções e significados atribuídos
a formação da mão de obra de nível técnico para as atividades turísticas no Brasil. Como
resultado das análises temporais, se verifica que o ensino de nível técnico para os segmentos
turísticos teve seus resultados condicionados às tomadas de decisões políticas que
influenciaram nos rumos da imagem do país como destino, bem como impactou numa
formação inconsistente e generalista que não deu conta de atender ao campo da hospitalidade
e nem no quesito que, prioritariamente, se espera da educação profissional, que é uma
formação para aqueles que vivem do trabalho, por meio de uma escola unitária e liberta das
imposições da escola dualista que historicamente segregou os menos favorecidos.
Introdução
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Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE). Av. Sete de Setembro, 3165 – Rebouças - CEP: 80230-
901 - Curitiba - Paraná - Tel.: (41) 3310-4713/4711 – e-mail: celso-meira@ig.com.br
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Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE). Av. Sete de Setembro, 3165 – Rebouças - CEP: 80230-
901 - Curitiba - Paraná - Tel.: (41) 3310-4713/4711 – e-mail: marioamorim@utfpr.edu.br
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Tais apelos estereotipados da mulher brasileira aguçaram e aguçam o imaginário daqueles, principalmente de
estrangeiros, que se deslocam ao Brasil a procura de sexo, caracterizando a exploração sexual por meio das
atividades turísticas em núcleos receptores, como é o caso de algumas capitais na região Nordeste, contribuindo
para o aumento de suas mazelas sociais.
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[...] a Lei nº 5692/71 pretendeu substituir a dualidade pelo estabelecimento da profissionalização compulsória
no Ensino Médio; dessa forma, todos teriam uma única trajetória. (KUENZER, 2000, p. 15)
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Disponível em: http://www.rieli.com.br/profissao/pb10.htm#ENSINO. Acesso: 02.abr.2012.
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visando a formação de mão de obra para atuação nos segmentos do turismo, observa-se que
somente há pouco mais de seis décadas é que se deu o interesse em formação de profissionais
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O texto da Lei nº 5692 fornecia os parâmetros para elaboração do currículo do ensino de 2º grau, ao determinar
que, nele, a parte especial, isto é, a propriamente profissionalizante, deveria prevalecer sobre a educação geral,
assim como o seu objetivo geral deveria ser o de propiciar a habilitação profissional de cada aluno. (CUNHA,
2005, p. 189). Sequencialmente, o Parecer 45/72 estabeleceu 130 cursos técnicos, dentre os quais constavam os
cursos de Hotelaria e Turismo, na área de hospitalidade.
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No Brasil, o dualismo das classes sociais, do acesso aos bens e aos serviços produzidos pelo conjunto da
sociedade, se enraíza no tecido social através de séculos de escravismo e de discriminação do trabalho manual.
Na educação, apenas na metade do século XX, o analfabetismo se coloca como uma preocupação das elites
intelectuais e a educação do povo se torna objeto de políticas de Estado. Mas sua organicidade social está em
reservar a educação geral para as elites dirigentes e destinar a preparação para o trabalho para os órfãos, os
desamparados. Esse dualismo toma um caráter estrutural especialmente a partir da década de 1940, quando a
educação nacional foi organizada por leis orgânicas, segmentando a educação de acordo com os setores
produtivos e as profissões, e separando os que deveriam ter o ensino secundário e a formação propedêutica para
a universidade e os que deveriam ter formação profissional para a produção. (CIAVATTA, 2005, p.87)
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Agropecuária, Artes, Comércio, Comunicação, Construção Civil, Design, Geomática, Gestão, Imagem Pessoal,
Indústria, Informática, Lazer e Desenvolvimento Social, Meio Ambiente, Mineração, Química, Recursos
Pesqueiros, Saúde, Telecomunicações, Transportes, Turismo e Hospitalidade.
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Em síntese, encontramos os seguintes problemas nas orientações oficiais para os currículos da educação
profissional de nível técnico, muitos próximos dos problemas próprios do condutivismo: a) reduzem as
competências profissionais aos desempenhos observáveis; b) reduzem a natureza do conhecimento ao
desempenho que ele pode desencadear; c) consideram a atividade profissional competente como uma
justaposição de comportamentos elementares cuja aquisição obedeceria a um processo cumulativo; d) não coloca
a efetiva questão sobre os processos de aprendizagem, que subjazem aos comportamentos e desempenhos: os
conteúdos da capacidade. (RAMOS, 2002, p. 412)
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Técnico em Agenciamento de Viagem, Técnico em Cozinha, Técnico em Eventos, Técnico em Guia de
Turismo, Técnico em Hospedagem, Técnico em Lazer e Técnico em Serviços de Restaurante e Bar.
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e genérica. Para se ter uma ideia dessa dimensão, citamos o segmento de turismo de aventura
que se desdobra em vinte e três atividades (ABETA, 2010). Outro exemplo é o caso dos
meios de hospedagem que, segundo Davies (2001), possuem 154 cargos e funções.
Para finalizar, recentemente assistimos a mais um capítulo da saga da educação
profissional, não somente no que concerne à formação de trabalhadores para o turismo, mas
para vários outros segmentos. O PRONATEC 12 lançou 288 cursos 13 em várias áreas, com
uma proposta de formação (cursos de 160 a 300 horas) que não foge das propostas que,
historicamente, almejaram atender o mercado e o desenvolvimento econômico com formações
aligeiradas e desintegradas 14.
Ainda, verificamos mais um episódio da educação profissional, as secretarias de
educação das unidades da federação são as instituições que estão fazendo as seleções dos
alunos para os referidos cursos (PRONATEC) em atendimento ao SENAC e aos Institutos
Federais. No caso do SENAC, se caracteriza a utilização de uma instituição pública a serviço
dos interesses privados.
Não podemos afirmar se é mera coincidência ou mesmo analogia, mas essa situação
nos remete a citar um episódio dos anos 1990, mais precisamente por meio do Projeto de Lei
1603/96 que tramitava na época, na perspectiva do desmantelamento das escolas técnicas,
conforme KUENZER (1996, p. 83), preconizava:
[...] cursos profissionais básicos de curta duração ou de módulos
independentes [...] esses cursos devem ser oferecidos obedecendo a lógica do
mercado (e da mercadoria, porque devem reverter em recursos captados
junto ao setor privado) por meio da identificação de perfis, estudos de
demanda e acompanhamento de egressos, bem ao gosto da velha Teoria do
Capital Humano.
12
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Disponível em:
http://www.pronatecportal.mec.gov.br/index.html.
13
Entre os cursos lançados, no tange ao turismo, estão: Auxiliar de Agenciamento de Viagens, Camareira em
Meios de Hospedagem, Recepcionista em Meios de Hospedagem, Condutor de Visitantes, Recepcionista de
Eventos, Recepcionista de Turismo Rural, Agente de Informações Turísticas e Monitor de Recreação.
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Além das ações do Ministério do turismo com cursos relâmpagos em diversas áreas, inclusive na área de
idiomas na modalidade de educação à distância (EAD).
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Copa das Confederações, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.
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Conclusões
Após as análises, nos resta salientar que pouco se alterou ao longo da trajetória
brasileira da educação profissional. Os processos ocorreram e ocorrem em meio a ajustes
políticos e partidários visando adaptação às demandas do capital, que culminaram e culminam
em formações interessadas mascaradas por ações assistencialistas, e desinteressadas quando
se trata em construir efetivamente uma política voltada para os que vivem do trabalho,
principalmente com a possibilidade de empregos dignos e remunerações satisfatórias,
diferentes da realidade imposta 16.
No que concerne ao ensino técnico em turismo, o mesmo obedeceu aos históricos
estímulos da educação para o mercado com formação (operacional) de trabalhadores,
deficitária e insuficiente à complexidade das atividades que envolvem o turismo e seus
espectros.
Por outro lado, ações interessadas visaram e visam àqueles que podem pagar pelos
produtos e serviços turísticos em detrimento daqueles que os recebem nos núcleos receptores.
Não obstante, um questionamento que importa lembrar com relação à formação
técnica em turismo na modalidade do ensino médio integrado, diz respeito às recentes
experiências dos estados do Espírito Santo e do Paraná que, se valendo do Decreto 5154/04,
implantaram em seus sistemas de educação os referidos cursos. Porém, no caso capixaba tal
tentativa não durou muito, pois na primeira troca de governo, logo após a implantação, a
proposta de integração foi desmantelada. No caso paranaense, a implantação ainda resiste,
mesmo com todos os obstáculos, desafios 17 e a diminuição dos cursos na atual gestão de um
governo com apelos neoliberais propostos à desintegração do ensino médio na modalidade
integrada.
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[...] O salário médio pago aos empregados do setor ainda é muito baixo, o que é uma das razões porque a
atividade é relativamente desprestigiada e por vezes tem dificuldade em atrair pessoal qualificado, por exemplo,
para os destinos turísticos no interior do País. O “trade” é conhecido pela alta-rotatividade, horas de trabalho
pouco usuais, empregos sazonais, instabilidade e baixo status, imagem que acaba por afetar também as agências
e operadores de turismo. Essas características também reforçam a concentração da receita do setor nas mãos de
algumas poucas empresas, como a CVC, que podem oferecer condições diferenciadas a alguns funcionários
principais. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006, p.27)
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Para aprofundamento, vide: GARCIA, Sandra R. O. A educação profissional técnica de nível médio integrada
ao ensino médio: obstáculos e avanços na rede pública do Paraná. Curitiba. SEED: 2006.
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REFERÊNCIAS
ANSARAH, Marilia Gomes dos Reis. Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos
e perspectivas. Barueri-SP: Manole, 2009.
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BENI, Mario Carlos. Análise estrutural do turismo. 2. edição. São Paulo: SENAC, 1998.
DAVIES, Carlos Alberto. Cargos em hotelaria. Caxias do Sul. 3. ed. Caxias do Sul.
EDUCS. 2001.
GASTAL, Suzana; MOESCH, Marutschka (Orgs). Um outro turismo é possível. São Paulo:
Contexto, 2004.
KUENZER, Acacia Z. (org.). Ensino médio: Construindo uma proposta para os que vivem
do trabalho. São Paulo: Cortez, 2000.
SANTOS FILHO, João. Embratur omite a verdade sobre a história do turismo: faz uma
leitura politicista dos fatos. Disponível em: http:// www.espacoacademico.com.br. Acesso em:
19.mar. 2012.