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Negócio Jurídico

1º Teorias Explicativas
a) Teoria da Vontade ou Voluntarista
Os adeptos desta teoria explicavam o negócio jurídico,
traduzindo-o como a simples vontade interna ou intenção
do declarante. Esta teoria influenciou fortemente o CC/02,
conforme podemos extrair da leitura do art. 112:

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá


mais à intenção nelas consubstanciada do que ao
sentido literal da linguagem.

b) Teoria Objetiva ou da Declaração


Para essa teoria, o núcleo do negócio jurídico não é a
vontade interna, mas a vontade externa ou declarada.

A bem da verdade, ambas as teorias devem ser aplicadas: é


preciso harmonia entre o que se deseja e o que se declara.

2º Planos de análise
a) Plano de existência
Aqui, estuda-se os pressupostos de existência do negócio
jurídico, sem os quais ele é um nada. São pressupostos de
existência do negócio jurídico:
1º Manifestação de vontade;
2º Agente emissor da vontade;
3º Objeto;
4º Forma.

A manifestação da vontade é composta pela vontade interna


e externa. Sem vontade não há negócio. É por isso que a
coação física torna o negócio inexistente, por ausência
de vontade.

A forma é o revestimento exterior da vontade, é dizer, o


veículo pelo qual a vontade se manifesta. Todo negócio,
pois, pressupõe uma forma: oral, escrita ou de sinais.
Sabemos que a vontade é pressuposto existencial do
negócio. Contudo, pergunta-se: o silêncio traduz
manifestação de vontade?
Para Caio Mário, em regra, o silêncio é a ausência de
manifestação de vontade, de maneira que não produziria
efeitos. Contudo, em situações excepcionais, o nosso
ordenamento (art. 111, CC), admite que o silêncio possa
traduzir manifestação de vontade, de forma a produzir
efeitos (Ex: nos termos do art. 539, o silêncio pode
traduzir aceitação na doação pura).

A conjugação desses 04 pressupostos torna o negócio


juridicamente existente.

b) Plano de Validade

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou
determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

No plano de validade, busca-se saber se o negócio


jurídico, existente, é também válido. Trata-se, assim, de
um plano qualificativo.
São pressupostos de validade:
1º Manifestação de vontade, que deverá ser totalmente
livre e de boa-fé;
2º Agente, que deve ser capaz e legitimado;
3º Objeto, que deve ser lícito, possível e determinado ou
determinável;
4º Forma prescrita ou não defesa em lei.

Plano de Existência Plano de validade


Manifestação de vontade Vontade livre e de boa-fé
Agente Agente capaz e legitimado
Objeto Objeto lícito, possível e
determinado ou determinável
Forma Forma prescrita ou não
defesa em lei.

Na lição de Orlando Gomes, licitude e legalidade não são


sinônimos. A licitude envolve não só a legalidade, mas
também o padrão médio de moralidade de uma sociedade.

Vigora no Brasil o princípio da liberdade da forma:

Art. 107. A validade da declaração de vontade não


dependerá de forma especial, senão quando a lei
expressamente a exigir.

Sucede que, em determinadas situações, a forma do negócio


pode ser exigida ou para efeito de prova em juízo
(Negócio “ad probationem”) ou então como pressuposto de
validade do próprio negócio:

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a


escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos
reais sobre imóveis de valor superior a trinta
vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Assim, nos termos do art. 108, não dispondo a lei em


contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais
sobre imóveis de valor superior a 30 salários-mínimos
vigentes o país. É possível, contudo, que a promessa de
compra e venda seja feita por instrumento particular.

Para fins do art. 108 deverá ser levado em conta o preço


do imóvel avaliado pelo fisco:

O art. 108 do CC fala em valor do imóvel (e não em preço


do negócio). Assim, havendo disparidade entre ambos, é o
valor do imóvel calculado pelo Fisco que deve ser levado
em conta para verificar se será necessária ou não a
elaboração da escritura pública.

A avaliação feita pela Fazenda Pública para fins de


apuração do valor venal do imóvel é baseada em critérios
objetivos, previstos em lei, os quais admitem aos
interessados o conhecimento das circunstâncias
consideradas na formação do quantum atribuído ao bem.
Logo, trata-se de um critério objetivo e público.

Segundo entendeu o STJ, ao adotar o valor do imóvel


calculado pelo Fisco, evita-se possíveis fraudes. Isso
porque as partes poderiam inserir no contrato um preço
para o imóvel bem abaixo do real apenas para fugir da
obrigatoriedade da escritura pública, desvirtuando,
totalmente, o espírito e a finalidade da lei, com a
exclusiva finalidade de burlar o fisco e não recolher os
tributos e emolumentos devidos (REsp 1.099.480-MG).

Com a decisão do STJ, não mais se aplica o enunciado 289


das Jornadas de Direito Civil:

Enunciado 289: O valor de 30 salários mínimos a que se


refere o art. 108 do Código Civil brasileiro, ao dispor
este sobre a forma pública ou particular dos negócios
jurídicos que envolvam bens imóveis, é o atribuído pelas
partes contratantes, e não qualquer outro valor arbitrado
pela Administração Pública com finalidade exclusivamente
tributária.

Defeitos do Negócio Jurídico


1º Aspectos gerais
Os defeitos do negócio jurídico encontram-se inseridos
dentro do plano de validade do negócio jurídico, portanto,
sua presença não interfere na existência do negócio,
apenas na sua validade.

2º Espécies
a) Erro ou ignorância

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos,


quando as declarações de vontade emanarem de erro
substancial que poderia ser percebido por pessoa de
diligência normal, em face das circunstâncias do
negócio.

1º – Aspectos Gerais
Teoricamente, podemos diferenciar o erro da ignorância.
Enquanto o erro é uma falsa representação positiva da
realidade, a ignorância traduz um estado de total
desconhecimento. Assim, o erro é um estado positivo, de
forma que quem atua em erro atua comissivamente de forma
equivocada. A ignorância, ao seu turno, é um estado
negativo.

2º - Conceito e consequências
O erro é a opinião errada acerca de uma circunstância
fática, é um vício invalidante do negócio jurídico.
Segundo a doutrina clássica, o erro só invalidaria o
negócio jurídico se concorressem dois elementos: o erro
deveria ser escusável (perdoável) e essencial.

A doutrina mais moderna, contudo, com razão, afirma que,


a luz do princípio da confiança, é dispensável a
demonstração da escusabilidade do erro para efeito de se
invalidar o negócio jurídico.

Enunciado 12 da I Jornada: Na sistemática do art. 138, é


irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o
dispositivo adota o princípio da confiança.

3º Modalidades de erro

Art. 139. O erro é substancial quando:

a) Erro sobre o objeto


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto
principal da declaração, ou a alguma das qualidades
a ele essenciais;

É aquele que incide sobre a natureza da coisa ou suas


características essenciais (Ex: comprar estatua de osso
achando que ela é de marfim).

b) Erro sobre o negócio

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto


principal da declaração, ou a alguma das qualidades
a ele essenciais;

É aquele que incide na própria declaração de vontade (Ex:


o sogro que aluga a casa para o genro morar, mas o genro
acha que foi uma doação)

c) Erro sobre a pessoal

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial


da pessoa a quem se refira a declaração de vontade,
desde que tenha influído nesta de modo relevante;

É aquele que incide na identidade ou característica


pessoais do outro declarante de vontade (Ex: um casamento
com transsexual). Especial aplicação do erro sobre a
pessoa reside no direito de família, já que a luz dos
arts. 1556 e 1557, o erro sobre a pessoa pode anular o
casamento.

O erro de direito também é invalidante?:

III - sendo de direito e não implicando recusa à


aplicação da lei, for o motivo único ou principal
do negócio jurídico.

Tradicionalmente, na linha de pensamento como Clóvis


Beviláqua, não se aceitava a teoria do erro de direito.
Contudo, outros autores como Caio Mário, passaram a
defender a possibilidade de haver erro sobre a ilicitude
do fato. O erro de direito passou então a ser previsto
expressamente no CC, nos casos em que não traduzir
intencional recusa de aplicação da lei, nos casos em que
a declarante equivocadamente interpreta o alcance
permissivo da norma jurídica.

b) Dolo
1º Conceito e consequências
O dolo, vício invalidante do negócio jurídico, consiste
no artifício malicioso provocado por uma das partes ou
por um terceiro, em prejuízo de outrem, quando da
celebração do negócio. É, portanto, um erro provocado.

2º Espécies de dolo
O Código Civil distingue duas espécies de dolo:

a) Dolo principal

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por


dolo, quando este for a sua causa.

O dolo principal (causa de invalidade do negócio jurídico)


ataca a essência do próprio negócio. Aqui, o dolo é
direto, de forma que, sem ele, o negócio não seria
realizado.

b) Dolo acidental

Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação


das perdas e danos, e é acidental quando, a seu
despeito, o negócio seria realizado, embora por
outro modo.

O dolo acidental, que não prejudica a validade do negócio,


é aquele dolo secundário, de forma que, mesmo com ele, o
negócio seria realizado, mas a parte tem direito a perdas
e danos, pois apesar do negócio ser realizado, ele o
seria de maneira diversa.

c) Dolo Negativo
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o
silêncio intencional de uma das partes a respeito
de fato ou qualidade que a outra parte haja
ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que
sem ela o negócio não se teria celebrado.

A luz do princípio da boa fé objetiva, o Código Civil


proíbe também o chamado dolo negativo, consistente na
omissão intencional de informação essencial à celebração
do negócio.

d) Dolo Bilateral

Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo,


nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou
reclamar indenização.

Ocorre quando ambas as partes procedem com dolo. Nestes


casos, nenhuma delas pode alegá-lo para anular o negócio
ou receber indenização.

3º Dolo do Representante

Art. 149. O dolo do representante legal de uma das


partes só obriga o representado a responder
civilmente até a importância do proveito que teve;
se, porém, o dolo for do representante convencional,
o representado responderá solidariamente com ele
por perdas e danos.

O dolo do representante legal de uma das partes só obriga


o representado a responder civilmente até a importância
do proveito que teve; se, porém, o dolo for do
representante convencional, o representado responderá
solidariamente com ele por perdas e danos.

4º Dolo de Terceiro

Art. 148. Pode também ser anulado o negócio


jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem
aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento;
em caso contrário, ainda que subsista o negócio
jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas
e danos da parte a quem ludibriou.
Na forma do art. 148 do CC, o dolo de terceiro só
invalidará o negócio jurídico se o beneficiário dele
soubesse ou devesse ter conhecimento. Em caso contrário,
se não soubesse e nem tivesse como saber, o negócio é
mantido, respondendo apenas o terceiro pelas perdas e
danos.

c) Coação (Moral)
1º Conceito e Consequências

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da


vontade, há de ser tal que incuta ao paciente
fundado temor de dano iminente e considerável à sua
pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não
pertencente à família do paciente, o juiz, com base
nas circunstâncias, decidirá se houve coação.

A coação, vício invalidante do negócio jurídico, traduz a


violência psicológica apta a influenciar a vítima a
realizar negócio jurídico que lhe é prejudicial. Aqui, ao
contrário da coação física (que torna o negócio
inexistente), a vontade existe, mas não é livre.

A coação deve ser sempre aferida no caso concreto:

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta


o sexo, a idade, a condição, a saúde, o
temperamento do paciente e todas as demais
circunstâncias que possam influir na gravidade dela.

Não há, assim, nenhum parâmetro preestabelecido para sua


análise.

2º Casos de Inexistência de coação


Não se considera coação a ameaça do exercício normal de
um direito nem o simples temor reverencial (respeito pela
autoridade constituída)
3º Coação de Terceiros

Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação


exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse
ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta
responderá solidariamente com aquele por perdas e
danos.
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a
coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que
aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento;
mas o autor da coação responderá por todas as
perdas e danos que houver causado ao coacto.

Na coação de terceiro, assim como no dolo, o negócio só


será invalidado se o beneficiário dele tivesse ou devesse
ter conhecimento, respondendo o beneficiário
solidariamente com o coautor pelas perdas e danos. Esta
previsão de solidariedade, contudo, não foi prevista no
caso de dolo de terceiro. Por fim, se o beneficiário não
souber nem devesse saber, responderá apenas o coator
pelas perdas e danos, mantendo-se o negócio jurídico.

d)Lesão
1º Conceito e Consequência

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob


premente necessidade, ou por inexperiência, se
obriga a prestação manifestamente desproporcional
ao valor da prestação oposta.

§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações


segundo os valores vigentes ao tempo em que foi
celebrado o negócio jurídico.

§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for


oferecido suplemento suficiente, ou se a parte
favorecida concordar com a redução do proveito.

A lesão, vício invalidante do negócio jurídico,


caracteriza-se pelo prejuízo resultante da desproporção
entre as prestações do negócio, em virtude de premente
necessidade ou inexperiência da outra parte.

No código civil, a lesão é causa de anulação do negócio.


Já no CDC, dado a sua superior principiologia de ordem
pública, é causa de nulidade absoluta do negócio.

2º Requisitos ou elementos da lesão


Doutrinariamente, a lesão é composta por dois elementos:
a) Elemento material (ou objetivo): é a desproporção
entre as prestações do negócio.
b) Elemento imaterial (ou subjetivo): é a necessidade ou
inexperiência da parte que assume a obrigação excessiva.

No passado, a doutrina afirmava que a lesão era composta


de um elemento objetivo (desproporção) e de um elemento
subjetivo (necessidade ou inexperiência da outra parte)
aliada ao chamado dolo de aproveitamento (intenção de
explorar, de se aproveitar da outra parte) da parte que
se beneficia. Atualmente, contudo, prevalece que o novo
Código Civil dispensa a prova do dolo de aproveitamento,
contendo-se apenas com a desproporção e a necessidade ou
inexperiência da parte prejudicada.

Enunciado 150 da III jornada: A lesão de que trata o art.


157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento.

3º Possibilidade de não anulação do negócio


Não se decretará a anulação do negócio se, for oferecido
suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar
com a redução do proveito.

e) Estado de Perigo

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando


alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a
pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela
outra parte, assume obrigação excessivamente
onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não
pertencente à família do declarante, o juiz
decidirá segundo as circunstâncias.

1º Conceito e Consequências
O Estado de Perigo, vício invalidante do negócio jurídico,
configura-se quando o agente, diante de uma situação de
perigo de dano, conhecida da outra parte, assume
obrigação excessivamente onerosa. Trata-se de uma
aplicação do estado de necessidade ao direito civil.

Trata-se de um perigo de dano a saúde ou a moral.


Diferencia-se, assim, da lesão, já que a lesão parte de
uma situação de inexperiência ou necessidade da outra
parte.

2º Necessidade da existência de dolo de aproveitamento


Outro ponto que diferencia o estado de perigo da lesão é
que no estado de perigo é necessário a presença do
chamado dolo de aproveitamento, já que o perigo de dano
deve ser conhecido pela outra parte, o que não se exige
na lesão.

f) Simulação

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas


subsistirá o que se dissimulou, se válido for na
substância e na forma.

§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:


I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a
pessoas diversas daquelas às quais realmente se
conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou
cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem
antedatados, ou pós-datados.

§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-


fé em face dos contraentes do negócio jurídico
simulado.
1º Conceito e Consequências
Trata-se de um vício invalidante do negócio jurídico que
opera-se quando é celebrado um negócio aparentemente
normal, mas que não pretende atingir o efeito que,
juridicamente, deveria produzir. Diferencia-se do dolo na
medida em que as duas partes do negócio estão envolvidas
no ardil. No dolo, somente uma parte utiliza-se do ardil,
a outra parte é vítima.

No Código de 16, a simulação era causa de anulabilidade,


ao passo que no atual código, a simulação é causa de
nulidade absoluta do negócio jurídico.

2º Espécies
a) Simulação Absoluta
Aqui, as partes criam um negócio jurídico destinado a não
gerar efeito algum.

b) Simulação relativa (dissimulação)


Aqui, as partes criam um negócio destinado a encobrir
outro negócio jurídico de efeito proibido. Vale lembrar
que, na simulação relativa, o negócio jurídico simulado é
nulo, mas o negócio encobertado (dissimulado), com base
no princípio da conservação, poderá ser aproveitado, caso
não viole a lei ou cause prejuízo a terceiro.

Enunciado nº 153 da III Jornada: Na simulação relativa, o


negócio simulado (aparente) é nulo, mas o dissimulado
será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a
terceiros.

c) Simulação maliciosa
É aquela onde as partes efetivamente visam prejudicar
terceiros ou violar a lei com a simulação.

d) Simulação inocente
É aquela onde as partes não desejam prejudicar terceiros
ou violar a lei, apenas querem ocultar de terceiros a
verdadeira natureza do negócio, sem, no entanto, causar
dano a interesses de qualquer pessoa. A doutrina entende
que tanto a simulação maliciosa quanto a inocente são
nulas:

Enunciado nº 152 da III Jornada: Toda simulação,


inclusive a inocente, é invalidante.

3º Legitimidade para alegar


Uma vez que a simulação é causa de nulidade absoluta do
negócio jurídico, passível, inclusive, de ser reconhecida
de ofício pelo juiz, poderá ela ser alegada por qualquer
pessoa, até mesmo por uma das partes contra a outra.

Enunciado nº 294 da IV Jornada: endo a simulação uma


causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada
por uma das partes contra a outra

O que é reserva mental (ou reserva de retinência)?:


A reserva mental se configura quando o agente emite
declaração de vontade resguardando o íntimo propósito de
não cumprir com o pactuado. Enquanto a reserva mental não
for manifestada, e dela tomando conhecimento a outra
parte, existem duas correntes doutrinárias:
1º Corrente (Carlos Roberto Gonçalves): essa primeira
corrente sustenta que se o destinatário tomar
conhecimento da reserva mental, o negócio é existente,
mas invalido por dolo ou simulação.
2º Corrente (Moreira Alves – Art. 110 do CC): essa
segunda corrente, adotada pelo Código Civil, sustenta que
se a outra parte toma conhecimento da reserva mental, o
negócio torna-se inexistente.

Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda


que o seu autor haja feito a reserva mental de não
querer o que manifestou, salvo se dela o
destinatário tinha conhecimento.

g) Fraude Contra Credores (Vício Social)


1º Conceito
A fraude contra credores caracteriza-se pela prática de
um ato negocial que diminui o patrimônio do devedor,
prejudicando o direito de credor preexistente.

Diferentemente da simulação, na fraude contra os credores


não há um necessário disfarce do negócio, bem como a
vítima é qualificada (o credor preexistente).

2º Elementos da fraude contra os credores


a) O “concilium fraudis”, que se traduz na má-fé presente
no ato;
b) O “Eventus Damini”, que se traduz no prejuízo do
credor preexistente.

Autores brasileiros, desde Clóvis Beviláqua, afirmam que


o “concilium fraudis” não necessita de prova cabal, sendo
presumido especialmente nos negócios jurídicos gratuitos.
Assim, a má-fé poderá ser presumida pelas circunstâncias
fáticas do negócio.

3º Hipóteses legais de fraude contra credores


a) Negócios de transmissão gratuita de bens

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de


bens ou remissão de dívida, se os praticar o
devedor já insolvente, ou por eles reduzido à
insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser
anulados pelos credores quirografários, como
lesivos dos seus direitos.

§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja


garantia se tornar insuficiente.

§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles


atos podem pleitear a anulação deles

Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão


de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por
eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore,
poderão ser anulados pelos credores quirografários, como
lesivos dos seus direitos. É a hipótese mais grave de
todas. A doutrina, inclusive, dispensa a prova do
“concilium fraudis”.

b) Remissão fraudulento de dívidas

c) Negócios onerosos fraudulentos

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos


onerosos do devedor insolvente, quando a
insolvência for notória, ou houver motivo para ser
conhecida do outro contratante.

Também haverá fraude nos negócios onerosos do devedor


insolvente, quando a insolvência for notória, ou haver
motivo para ser conhecida pelo outro contratante (Ex:
parentesco próximo).

d) A antecipação fraudulenta de pagamento

Art. 162. O credor quirografário, que receber do


devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não
vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do
acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores, aquilo que recebeu.

O credor quirografário, que receber do devedor insolvente


o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado
a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de
efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.

e) Outorga fraudulenta de garantia de dívida

Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos


outros credores as garantias de dívidas que o
devedor insolvente tiver dado a algum credor.

Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores


as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver
dado a algum credor.

4º Hipóteses Jurisprudenciais de fraude contra credores


a) STJ – Súmula 195: em embargos de terceiro não se anula
ato jurídica por fraude contra credores.

5º Ação Pauliana
a) Aspectos gerais
Denomina-se ação pauliana a ação judicial que visa a
impugnar o negócio jurídico feito em fraude contra
credores. Trata-se de ação pessoal, com prazo decadencial
de 04 anos para sua propositura. É uma ação específica
para a fraude contra credores, o que explica a
impossibilidade de se discutir a fraude contra credores
em sede de embargos de terceiro (Súmula 195 do STJ).

b) Legitimidade
A ação pauliana deverá ser proposta em face do devedor
insolvente, e, se for o caso, contra a pessoa com que ele
contratou e, também, contra o terceiro de má-fé. Por
outro lado, com base no princípio da boa fé, que orienta
a interpretação do art. 161 do CC, se o terceiro a quem
se transferiu o bem demonstrar a sua boa-fé, não poderá
ser prejudicado. Nesse caso, o credor deverá buscar
outras vias de satisfação do seu crédito.

c) Natureza jurídica da sentença


Uma primeira corrente, tradicional (Moreira Alves e
Clóvis Beviláqua), com base no art. 165 do CC, afirma que
se trata de uma sentença desconstitutiva anulatória do
negócio jurídico invalido, é dizer, anulando o negócio,
ele não produzirá efeitos.
Uma segunda corrente, mais arrojada, defendida por
Alexandre Câmara, sustenta que a sentença na ação
pauliana apenas declara a ineficácia jurídica do ato
fraudulento em face do credor preexistente. Nesse sentido,
também já entendeu o STJ (Resp 506.312/MG).

Plano de eficácia do Negócio Jurídico

Neste terceiro plano, estuda-se a projeção da eficácia do


negócio e os elementos que ai interferem. É aqui que
estão inseridos os chamados elementos acidentais do
negócio jurídico: condição, termo e medo ou encargo (são
chamados de acidentais porque não são obrigatório).

1º Condição

Art. 121. Considera-se condição a cláusula que,


derivando exclusivamente da vontade das partes,
subordina o efeito do negócio jurídico a evento
futuro e incerto.

a) Conceito
Trata-se de um elemento acidental, consistente em um
acontecimento futuro e incerto, por meio do qual
subordina-se ou resolvem-se os efeitos jurídicos de um
determinado negócio.

b) Características
1º Futuridade: a condição é sempre futura. Fatos
pretéritos não caracterizam uma condição (Ex: não é uma
condição a promessa de dividir um prêmio de loteria, que
foi sorteado no dia anterior). A morte, por se tratar de
um fato certo em nossas vidas, em regra, não traduz uma
condição. Contudo, se a previsão da morte for dentro de
um determinado prazo, neste caso, não se sabe se ela
ocorrerá, de maneira que poderá haver uma condição.
2º Incerteza: toda condição deve ser incerta. A incerteza
aqui, refere-se a ocorrência ou não do fato.

Nos termos do art. 121 do Código Civil, a condição é


sempre estipulada pela vontade das partes. Assim, a lei
não poderá impor uma condição;

c) Classificação
1º Quanto ao modo de atuação
a) Condição suspensiva: é aquela que subordina o início
da eficácia jurídica do negócio. Enquanto não verificada,
paralisa ou suspende o início da eficácia do negócio.
b) Condição resolutiva: é aquela que resolve ou desfaz os
efeitos jurídicos até então produzidos pelo negócio.
A luz do art. 125 do CC, a condição suspensiva suspende
não apenas a exigibilidade, mas também a própria
aquisição do direito e da obrigação correspondente.

Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio


jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se
não verificar, não se terá adquirido o direito, a
que ele visa.

Assim, é correto dizer que haverá pagamento indevido,


caso o devedor efetue antes do implemento da condição
suspensiva. Isso porque enquanto ainda verificada a
condição, não haverá direitos e obrigações recíprocas.

2º Quanto a licitude

Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições


não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons
costumes; entre as condições defesas se incluem as
que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou
o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.

A luz do art. 122 do CC/02, fixou-se a seguinte regra:


lícita é a condição que não for contrária a lei, a ordem
pública e aos bons costumes. Já as condições ilícitas são
as seguintes:

Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes


são subordinados:
I - as condições física ou juridicamente
impossíveis, quando suspensivas;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa
ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou
contraditórias.

a) Condição perplexa (ilícita): é aquela condição


contraditória em seus próprios termos:

b) Condição puramente potestativa: é aquela que o


acontecimento que subordina a eficácia jurídica do
negócio deriva do exclusivo arbítrio de uma das partes. A
ilicitude da condição deriva do exclusivo arbítrio de uma
das partes. A ilicitude da condição puramente potestativa
não deve ser invocada nas situações em que o próprio
legislador admite a prevalência excepcional da vontade
exclusiva de uma das partes (Art. 49, CDC).

Não se deve confundir, contudo, a condição puramente


potestativa (ilícita) com a condição simplesmente
potestativa (lícita), pois esta última, embora derive da
vontade de uma das partes, alia-se a fatores
circunstanciais que a amenizam.

O que seria condição promíscua?: trata-se da condição que


nasceu simplesmente potestativa e se impossibilita depois
por conta de acontecimento superveniente.

Qual a consequência da ilicitude?:


Nos termos do art. 123, II, do Código Civil combinado com
o art. 166, VII, a condição tem por consequência
invalidar todo o negócio jurídico (Nulidade Absoluta).

Ademais, nos termos do art. 124 do CC, têm-se por


inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas,
e as de não fazer coisa impossível.

Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições


impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer
coisa impossível.

3º Quanto a origem
a) condição causal: aquela em que o evento futuro e
incerto decorre de um fato da natureza.
b) condição mista: é aquela que deriva da vontade de uma
das partes e de um fator externo, em geral a vontade de
um terceiro.
c) Condição potestativa: é aquela que deriva da vontade
de uma das partes, podendo ser pura (ilícita) ou simples
(lícita).

2º Termo
a) Conceito
É o acontecimento futuro e certo que interfere na
eficácia jurídica do negócio.

b) Características
1º Futuridade
2º Certeza: a certeza é quanto a ocorrência do fato,
ainda que não se saiba quando, ele ocorrerá.

c) Classificação
Teoricamente, costuma-se classificar o termo da seguinte
maneira:
1º Termo convencional: aquele estipulado pelas partes.
2º Termo legal: aquele estipulado por lei. Ao contrário
da condição, o termo não deriva exclusivamente da vontade
das partes.
3º Termo judicial ou termo de graça: é aquele fixado pelo
poder judiciário.

Diferentemente da condição suspensiva, nos termos do art.


131 do Código Civil, o termo inicial suspende o exercício,
mas não a aquisição do direito. Assim, aqui o pagamento
antecipado é possível.

d) Formas de contagem

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em


contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do
começo, e incluído o do vencimento.

§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado,


considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte
dia útil.

§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu


décimo quinto dia.

§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de


igual número do de início, ou no imediato, se
faltar exata correspondência.

§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de


minuto a minuto.
3º Encargo ou Modo
a) Conceito
Elemento acidental típico dos negócios gratuitos, traduz
um ônus a ser cumprido em troca de uma liberalidade maior.
É, portanto, um ônus que se atrela a uma liberalidade.

O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do


direito, salvo quando expressamente imposto no negócio
jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva (Art.
136, CC). Considera-se não escrito o encargo ilícito ou
impossível, salvo se constituir o motivo determinante da
liberalidade, caso em que se invalida todo o negócio (Art.
137, CC)

Bibliografia consultada para elaboração da apostila e


indicada para aprofundamento do tema:
– Novo Curso de Direito Civil – Pablo Stolze Gagliano
e Rodolfo Pamplona Filho

– Direito Civil Brasileiro – Carlos Roberto Gonçalves

– Manual de Direito Civil: Volume Único – Flávio


Tartuce

- Dizer o direito (http://www.dizerodireito.com.br/).

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