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INTRODUÇÃO

À APICULTURA

LOUSÃMEL

OUTUBRO DE 2011
1. A Abelha

1.1 O que significa o nome científico Apis mellifera ?


A classificação dos seres vivos é feita em diversos níveis (reino, classe, ordem...). Ao mencionarmos um
determinado indivíduo, o mais comum é usar-se apenas o género e a espécie. No caso, a nossa abelha comum
pertence ao género Apis e à espécie mellifera.
Um outro nível é usado às vezes para identificar subespécies, variedades ou raças, como em Apis mellifera
carnica. No final do nome científico, frequentemente aparece o nome do responsável pela identificação da espécie,
geralmente abreviado. Por exemplo, Apis mellifera mellifera L. (de Linnaeus).
Quando se está a fazer referência a mais de uma espécie do mesmo género, ele é escrito seguido da abreviatura
spp. Por exemplo, Apis spp.

1.2 Os elementos do nome científico são palavras em Latim, ou latinizadas, quando a palavra correspondente
não existe neste idioma. O género é escrito com a primeira letra em maiúscula, a espécie e subespécie, em
minúscula. Nenhum deles leva acento.

1.3 Que raças de abelhas existem?


A Apis mellifera possui diversas subespécies (raças). Algumas são originárias da Europa e outras da África. Entre
as europeias mais conhecidas, estão a mellifera, a ligustica (popularmente conhecida como "italiana"), a carnica e
a caucasica. Entre as africanas, destacam-se a scutellata, a capensis, a monticola e a adansonii.

1.4 As abelhas africanizadas são mais agressivas?


Sim, em intensidade variada. Há enxames excepcionalmente agressivos e outros relativamente mansos.
A propósito, a tendência de "correcção política", caracteriza o comportamento da abelha como defensivo, e não
agressivo, porque o ataque seria sempre uma resposta a um estímulo externo. No entanto, o intuito pode ser de
defesa, mas a acção é de agressão.

1.5 Quando um ataque de abelhas pode ser fatal?


A literatura regista que um indivíduo hipersensível pode morrer em virtude de uma única ferrada, mas isso é muito
raro. Mais comum é morrer a pessoa ou o animal que, impossibilitado de fugir por qualquer razão, fica exposto a
um número muito grande de ferradas. Crianças e deficientes físicos que estejam nas proximidades de um enxame
agressor correm maior risco. Animais amarrados ou cercados também. Apicultores bem protegidos raramente
sofrem mais do que umas poucas e inofensivas ferradas.
Há casos registrados de morte com 100-300 ferradas, e há um caso de sobrevivência registrada com 2.243
ferradas. Em geral, a dose letal mediana (para a qual 50% das vítimas morrem) fica em torno de 19 ferradas por
quilo, para adultos [SCH92].

1.6 A apicultura pode ser considerada uma actividade perigosa?


Mexer com abelhas, sem conhecimento, pode ser considerado perigoso. A apicultura racional, praticada com os
critérios de segurança bem conhecidos, é provavelmente uma actividade muito menos perigosa que algumas
outras profissões e passatempos.

1.9 Quantas vezes uma abelha pode ferrar?


Normalmente, uma única vez. O ferrão é uma estrutura que se parece com um arpão e que fica cravado na vítima.
Ao desprender-se, a abelha deixa para trás não apenas o ferrão, mas também o saco de veneno e parte do seu
aparelho digestivo. Enquanto o ferrão permanece cravado, o veneno continua a ser instilado por acção
involuntária. A abelha morre em horas ou dias.

1.10 A rainha ferra? E os zangãos?


Normalmente, a rainha só ferra outra rainha, quando em disputa pela colmeia. ferrada de rainha em humanos é
bastante rara, e, quando acontece, é geralmente após a manipulação de outra rainha pelo apicultor. O ferrão da
rainha é mais firme que o das obreiras e tem menos rebarbas, o que quase sempre evita o seu arrancamento após
a ferrada.
zangãos não ferram porque não possuem ferrão.
1.11 Afinal, por que as abelhas ferram?
As abelhas ferram quando sentem que a sua própria integridade ou a da sua família está ameaçada. Por isso, uma
abelha longe de sua colmeia nunca ataca ninguém, a menos que seja molestada directamente, ou que tenha saído
há pouco de uma colmeia atacada. Pessoas que desconhecem esse facto assustam-se desmesuradamente
quando uma abelha voa próximo a elas, imaginando que se trata de um ataque, e não uma simples investigação
sobre a possível utilidade daquelas vestes coloridas ou daquele perfume exótico.

1.12 As abelhas são criaturas boas?


Nem boas, nem más. São apenas insectos, que apresentam um comportamento baseado num conjunto limitado
de respostas aos diferentes estímulos que sofrem. Abelhas não raciocinam, não planejam, não ficam de mau ou
de bom humor. Também não se afeiçoam ao apicultor nem se acostumam a ser manipuladas. Todos esse
sentimentos são próprios de alguns vertebrados, especialmente os mamíferos, mas não de insectos.

1.13 Como é que as abelhas guardam mel para o inverno?


Elas não guardam mel para o inverno, simplesmente porque a grande maioria das abelhas que guardam o mel
nunca viram e nem verão o inverno, já que elas raramente chegam a viver dois meses na época de colheita de
néctar. Elas simplesmente respondem ao estímulo "secreção de néctar nas proximidades" colheitando e
armazenando tudo o que podem. Do ponto de vista da selecção natural, os enxames que assim procedem
conseguem sobreviver aos tempos difíceis e têm oportunidade de passar seus genes adiante. Os demais
simplesmente morrem, sem conseguir perpetuar esse comportamento na espécie.

1.14 O que as abelhas reconhecem como ameaça?


Barulhos normais, como o ruído de passos e conversa raramente perturbam as abelhas. Elas são estimuladas por
vibrações fortes (de motores, por exemplo), odores (suor, perfumes), movimento (quanto mais rápido, pior) e cores
(as escuras mais do que as claras). Pêlos em geral, cabelos e roupas felpudas estimulam fortemente o ataque,
mais ainda se forem escuros.
Dentre os maiores estímulos, pode-se destacar o dióxido de carbono, exalado em quantidade pelos humanos. Por
essa razão, evite, sempre que possível, respirar ou soprar próximo às abelhas.
Um detalhe interessante é que as condições ambientais parecem influenciar decisivamente no comportamento
mais ou menos agressivo das abelhas. Dias nublados, húmidos e ventosos são, quase com certeza, dias de
maneio difícil.

1.15 O que são as castas de abelhas?


Casta é cada um dos tipos de abelha existentes nos enxames: rainhas, obreiras e zangãos.

1.16 O que diferencia a rainha das obreiras?


Visualmente, a rainha é muito maior que as obreiras. Uma rainha é produzida pelas obreiras sempre que
necessário, a partir de uma larva jovem, de obreira, de até 3 dias de vida.
Três factores determinam que uma larva comum se transformará numa rainha, e não numa obreira [WIN03].
Primeiro, a qualidade da alimentação. Larvas de rainhas são alimentadas com geleia real, uma mistura de
secreções das glândulas mandibulares e hipofaringeanas das obreiras. Larvas de obreiras são alimentadas com
uma mistura semelhante, mas com uma proporção muito menor da substância mandibular e ainda com a adição
de pólen.
Segundo, a quantidade de alimentação. As larvas de rainha não apenas "bóiam" numa quantidade enorme de
geleia real, como a ingerem com muito mais apetite do que as larvas de obreira. Isso acontece porque elas são
estimuladas pelo conteúdo maior de açúcar na geleia real do que na comida das larvas nos primeiros dias.
Terceiro, o tamanho da célula de rainha, chamada de mestreira. Ela é muito mais ampla do que os alvéolos de
obreiras, e permitem um crescimento muito maior da rainha.
Outra diferença é que a rainha é a única fêmea a acasalar e, portanto, somente ela é capaz de pôr os ovos que
gerarão novas obreiras e zangãos.

1.17 E o que é uma princesa?


É como é chamada uma rainha muito jovem, que ainda não foi fecundada.
1.18 Como é a fecundação da rainha?
Alguns dias após o seu nascimento, a princesa faz um ou mais voos nupciais, nos quais copula com diversos
zangãos (entre 7 e 17, provavelmente). Depois disso, retorna à colmeia e nunca mais acasala. O sémen
introduzido fica armazenado num órgão da rainha chamado espermateca, pelo resto da sua vida reprodutiva. No
momento da postura, o óvulo que desce pela vagina será fertilizado por um espermatozóide da espermateca, caso
a rainha esteja pondo um ovo numa célula de obreira, ou não será fertilizado, caso a célula seja de zangão (que é
maior que a de obreira).

1.19 Como podem os zangãos nascer de ovos não fertilizados?


Trata-se de um fenómeno conhecido como partenogénese, comum também em vespas e formigas. O indivíduo
resultante não tem pai e é haplóide, isto é, possui metade dos cromossomos de sua mãe - apenas 16. Essa
situação curiosa determina que a rainha que gerou um zangão seja o "pai genético" das filhas desse zangão.

1.20 Qual é a função dos zangãos?


Aparentemente, eles existem apenas para a procriação. Eles não defendem a colónia (não possuem ferrão), nem
colheitam nada de útil para a colmeia na natureza.

1.21 Como identificar um zangão?


O zangão é maior que as obreiras e, por isso, é frequentemente confundido com a rainha por apicultores
iniciantes. Na verdade, ele é completamente diferente, tanto das obreiras quanto da rainha. O seu corpo é mais
largo, e o abdómen termina numa forma rombuda, e não pontiaguda. Além disso, os seus olhos compostos são
muito grandes, juntando-se no topo da cabeça.

1.22 zangãos são sempre “puros”? [1]


Talvez em razão de os zangãos serem haplóides, espalhou-se a crença de que eles são sempre de raça pura. O
filho de uma rainha pura também será puro (embora possa ter características diferentes da sua mãe), e o filho de
uma rainha mestiça poderá ser mestiço e, havendo coincidência, também poderá até ser puro (veja item ).

1.23 Os zangãos irmãos são idênticos? [1]


Não necessariamente. Pode haver zangãos irmãos idênticos, mas isso é apenas uma coincidência. Ocorre que
uma célula comum da rainha possui 32 cromossomos ligados dois a dois (16 pares) e os óvulos produzidos
possuem apenas 16 cromossomos, nenhum ligado a outro. Estes 16 cromossomos resultam da combinação
aleatória de um dos cromossomos do par 1, mais um dos cromossomos do par 2, e assim por diante. Como em
cada par de cromossomos a carga genética varia de um cromossomo para outro, cada óvulo produzido – e cada
zangão, por consequência - carregará uma carga genética particular. Posto em números, uma rainha pode gerar
216 = 65.536 óvulos (zangãos) diferentes, considerando-se apenas o agrupamento randômico dos cromossomos
durante a meiose. Na verdade, este número pode ser muito maior, pois há um segundo fenómeno de variabilidade
genética importante, conhecido por crossing over [ARM01].
Pela mesma razão, zangãos não são idênticos à sua mãe. Uma característica qualquer (determinada por gene
recessivo) que não se manifeste na rainha pode estar presente no zangão, se ele ficar com o cromossomo que
carrega este gene.

1.24 Qual é a função da rainha?


A rainha dá origem a todos os indivíduos da colmeia, pela postura de ovos fertilizados (para obreiras) e não
fertilizados (para zangãos). Além disso, a sua presença (mais precisamente as feromonas que ela produz)
determina o comportamento "normal" das demais abelhas.

1.25 Quantos ovos a rainha põe por dia?


No pico da postura, ela chega a pôr 2.000 ovos por dia.

1.26 O que acontece quando a rainha morre?


A rainha pode morrer acidentalmente, por exemplo, durante um maneio de rotina do apicultor, ou ser morta pelas
próprias abelhas, caso o seu desempenho seja insatisfatório. Em qualquer dos casos, as abelhas, assim que
percebem a falta da rainha, tratam de produzir outra, a partir de uma larva jovem de obreira (de até 3 dias).

1.27 E se não houver uma larva jovem?


Se não houver uma larva disponível, ou se as rainhas produzidas não sobreviverem por qualquer motivo, o
enxame não será mais capaz de produzir uma nova rainha. Se o apicultor estiver atento, ele poderá fornecer ao
enxame uma nova rainha ou um quadro de criação, para que elas tentem de novo, caso contrário, a colmeia
tornar-se-á zanganeira.
1.28 O que é uma colmeia zanganeira?
É a colmeia em que as abelhas, na falta da rainha, começam a pôr ovos. Como não são fecundados, esses ovos
geram apenas zangãos, e a colmeia acaba extinguindo-se com a morte das obreiras.

1.29 Por que as abelhas começam a pôr ovos?


Uma visão popular e antropomórfica explica que a postura das obreiras é um "esforço desesperado" de
preservação da colónia, mas isso não é verdade. Elas simplesmente passam a pôr ovos porque, sem rainha e sem
criação, interrompe-se a produção de feromonas que inibem o desenvolvimento dos seus ovários.
Uma questão interessante é por que esse mecanismo foi preservado ao longo da selecção natural, se ele,
aparentemente, é inútil. A resposta pode estar na subespécie africana A.m.capensis, que apresenta uma
característica interessante: os ovos não fertilizados podem produzir fêmeas também, além de machos. Assim, uma
colmeia pode produzir uma nova rainha a partir de um ovo posto por uma obreira e realmente conseguir voltar ao
normal. Em frequência muito menor, a geração de fêmeas a partir de ovos não fertilizados ocorre também nas
demais subespécies, o que pode indicar que esse mecanismo já foi mais útil e mais eficiente no passado.

1.30 Como saber se uma colmeia está sem rainha?[2]


A ausência de ovos em época de postura normal é um forte indicativo. Mas isso também pode significar
preparação para a enxameação, se houver mestreiras no ninho. Também pode indicar a presença de uma rainha
virgem, o que pode ser presumido se forem encontradas mestreiras já abertas.
Se a colmeia fica sem rainha durante vários dias na época da colheita, pode-se perceber a situação visualmente,
pela acumulação anormal de mel e pólen no centro dos favos de criação.
Apicultores mais experientes, porém, podem suspeitar da orfandade no instante em que abrem a colmeia.
O que acontece é que, à medida que aumenta o tempo de ausência da rainha, as obreiras começam a apresentar
um padrão anormal de agitação. Muitas saem voando imediatamente, não necessariamente para atacar, num
comportamento visivelmente diferente dos enxames normais.

1.31 Como saber se uma colmeia está zanganeira?


Nada mais fácil: no momento da postura, as obreiras não percebem (ou não fazem caso) se um alvéolo já tem
outro ovo nele depositado. Por isso, os ovos vão-se empilhando, e cada alvéolo acaba contendo vários, o que é
facilmente percebido pelo apicultor.
Os ovos são depositados nas paredes dos alvéolos, porque o abdómen das obreiras não alcança o fundo. A
operculação das células é protuberante, típica das de zangão. Depois de algum tempo, os zangãos começam a
nascer, mas são todos pequenos, porque foram gerados em alvéolos de obreiras, que são muito menores.

1.32 Em quanto tempo uma colmeia fica zanganeira?


Depende. Enquanto houver criação, aberta ou fechada, é pouco provável que as obreiras ponham ovos. Quando
não houver mais rainha e criação, as obreiras começarão a pôr dentro de 14 dias, em média [WIN03].

1.33 Como identificar a rainha?


A rainha parece-se com uma obreira, mas é maior e tem o abdómen proporcionalmente mais alongado. Encontrar
uma rainha pode ser uma das tarefas mais complicadas da apicultura. No capítulo 7, são mencionadas algumas
técnicas úteis.

1.34 Qual é a função das obreiras?


Como o nome sugere, trabalho duro. Enquanto são jovens, dedicam-se ao trabalho interno: limpam as células,
alimentam as larvas jovens e a rainha com substâncias nutritivas que elas mesmas segregam, alimentam as larvas
mais velhas com pólen e mel, empilham o pólen recolhido nas células, segregam cera, constroem favos, recebem,
processam e armazenam o néctar, vedam frestas com própolis, defendem e ventilam a colmeia, operculam
células. Quando mais velhas, dedicam-se, principalmente à colheita de néctar, pólen, água e própolis. A colheita
de néctar ou mel pode ser feita também em outras colmeias, especialmente as mais fracas, num comportamento
de pilhagem (saque)

1.36 Quanto tempo vive uma abelha?


Durante a colheita, uma obreira vive, em média, 38 dias. Entre colheitas, a expectativa de vida aumenta, e elas
chegam a viver 5 meses ou mais em climas muito frios. Uma obreira europeia chegou a viver 320 dias [WIN03].
Aparentemente, a distância total voada é um determinante muito mais importante para a longevidade da abelha
do que a sua idade. Um estudo de Neukirch, citado em [WIN03], estabeleceu um limite teórico médio de 800 km
voados, não importando se eles se acumulam ao longo de 5 ou de 30 dias.
1.37 Quantas abelhas vivem numa colmeia?
O número real é extremamente variável, a cada época do ano, de colmeia para colmeia. No pico da colheita, por
exemplo, considere as seguintes hipóteses:
 Postura diária de 2 mil ovos
 Tempo de desenvolvimento ovo-adulto de 20 dias
 Viabilidade de 100% da cria
 Ciclo de vida de 38 dias para as obreiras
Nesse caso, teoricamente, a colónia poderia crescer até chegar à população abaixo, permanecendo em equilíbrio
enquanto a postura se mantivesse.
 1 rainha
 algumas centenas de zangãos
 38 mil criação (ovos, larvas, pupas)
 44 mil obreiras domésticas/obreiras (até 23 dias)
 32 mil obreiras

1.38 Quando é que as abelhas pilham as colmeias vizinhas?


Geralmente acontece quando a produção de néctar é baixa e uma colmeia vizinha tem mel em armazém e está
desprotegida por falta de obreiras. Esse comportamento frequentemente é activado pelo próprio apicultor que,
durante o maneio, expõe o armazém de mel das colmeias à investigação das vizinhas ou fornece alimentação
artificial com xarope de forma descuidada ou em alimentadores deficientes (veja capítulo 6).

1.39 Como é que as abelhas comunicam entre si?


Principalmente, por meio de interacções químicas. Essas interacções processam-se pela produção de feromonas,
substâncias segregadas por diversas glândulas que são percebidas pelo olfacto. As feromonas são o principal
meio de estimulação e coordenação de quase todas as actividades das abelhas. As feromonas produzidos pela
rainha, por exemplo, inibem a construção de alvéolos reais pelas obreiras, inibem o crescimento dos ovários das
obreiras, atraem zangãos nos voos nupciais, atraem as obreiras em geral e particularmente as amas, que
alimentam a rainha com geleia real.
Feromonas de obreiras estão muito ligados à defesa da colmeia. A ferrada libera uma feromona que induz outras
abelhas a atacarem. Por esta razão, é comum a ocorrência de várias ferradas no mesmo local. Também por isso,
é conveniente a limpeza frequente das roupas de Protecção.
Uma outra feromona de obreira é a de localização, usada para atrair ou orientar outras abelhas em direcção à
tábua de voo, água ou fonte de alimento. A libertação dessa feromona se dá numa posição bastante familiar aos
apicultores: a abelha ergue o seu abdómen, expõe a glândula de Nasanov, localizada próximo à extremidade, e
bate as asas para dispersar a substância.
As criação também produzem feromonas que estimulam as obreiras a atendê-las e ajudam a inibir o
desenvolvimento dos ovários das obreiras.

1.40 E a dança das abelhas?


Feromonas são o principal, mas não único meio de comunicação. Interacções tácteis e sonoras, como o roçar de
antenas ou as danças também são muito usadas. As danças são padrões de movimento, vibração, ruído e
direcção utilizados com diferentes propósitos, dos quais o mais conhecido é a passagem de informações sobre
uma fonte de alimento. Nessa dança, por exemplo, a abelha percorre um trecho recto do favo "requebrando-se" e
depois volta ao início desse trecho num trajecto de semicírculo. Em seguida, percorre de novo o mesmo trecho
recto e volta em outro semicírculo, mas desta vez pelo lado oposto.
Para saber a qualidade e a distância dessa fonte, as abelhas levam em conta o entusiasmo da dançarina, o tempo
gasto no trecho recto e o número de vezes em que os passos foram executados. Já a direcção da fonte é passada
como um ângulo, formado entre o trecho recto da dança e uma linha vertical. Este ângulo corresponde ao formado
pelos pontos sol-colmeia-fonte (a colmeia no vértice).
Assim como o alimento achado, o de novas casas no momento da enxameação também é comunicado por
danças. Além disso, elas também estimulam determinadas actividades, como o armazenamento e a enxameação
[WIN03].

1.41 Como fazem quando o sol não está visível? [4]


Em tempo nublado, quando pedaços de céu podem ser avistados, a abelha consegue inferir a posição do sol pela
percepção da luz ultravioleta polarizada. Para isso, a abelha necessita de, pelo menos, cerca de 10% de céu
visível.
Quando a camada de nuvens não deixa uma porção de céu suficiente para a determinação da posição solar, as
abelhas valem-se de indicações geográficas importantes, como bosques, por exemplo, e de uma espécie de
relógio biológico bastante acurado para presumir a posição do sol a cada momento.
1.42 Como informam uma posição atrás de um obstáculo?
A direcção é informada como se ele não existisse. Por exemplo, uma floração atrás de um obstáculo é indicada na
dança como se as abelhas tivessem de atravessá-lo para chegar lá. A distância informada, porém, corresponde ao
gasto de energia necessário para alcançar o objectivo e ela, nesse caso, é maior do que seria se não houvesse
obstáculo. Na busca, as obreiras que assistiram à dança fazem as voltas que forem necessárias para alcançar o
destino.

1.43 A que velocidade voa uma abelha?


Em média, a 24 km/h.

1.44 Quanto tempo uma abelha leva para nascer?


Este tempo, ao contrário do que muitos imaginam, é variável. Temperaturas altas na área de cria podem acelerar o
processo, enquanto que as temperaturas baixas retardam-no. O ciclo médio de desenvolvimento das abelhas é o
seguinte: a rainha nasce em 16 dias, e a obreira, em 19-20 dias.

1.45 O que as abelhas comem?


Resumidamente, néctar e mel, como fonte de carbohidratos, e pólen, como fonte de proteínas, gorduras, vitaminas
e minerais, além de água. As larvas de obreiras e zangãos, até 3 dias de vida, são alimentadas pelas abelhas com
secreções nutritivas, produzidas pelas glândulas hipofaringeanas e mandibulares das obreiras. Após o 3º dia, a
alimentação das larvas muda para outros tipos de geleia e uma mistura de néctar, mel diluído e pólen. Após o
nascimento, durante cerca de duas semanas, a obreira consome muito pólen, pois depende dele para, nessa fase
da vida, produzir as substâncias que alimentarão as larvas e a rainha. Gradualmente, a dieta da obreira começa a
mudar para néctar e mel, à medida que ela abandona o serviço de alimentação e assume outros serviços, como a
colheita de água, néctar, pólen e própolis.
A rainha alimenta-se quase que somente de geleia real, tanto na fase larvar quanto em toda a sua vida adulta. A
geleia real é um produto semelhante à comida da larva, mas com uma proporção muito maior da secreção
mandibular e, por essa razão, mais rica em algumas substâncias nutritivas.
Zangãos adultos são alimentados pelas obreiras nos primeiros dias, e depois se alimentam sozinhos,
basicamente de néctar e mel.

1.46 Como se reproduzem os enxames?


Em algumas situações, uma colónia resolve dividir-se, e a isso dá-se o nome de enxameação. Ela ocorre com
frequência durante florações abundantes, quando o espaço na colmeia se torna insuficiente para armazenar o
néctar que entra e a nova prole que está a ser gerada pela rainha. Quando a rainha não produz feromonas em
quantidade suficiente para todo o enxame, a enxameação também pode ocorrer (é o que acontece com rainhas
mais velhas).
O primeiro passo do processo de enxameação é a produção de princesas.
Antes de nascerem as princesas, as obreiras submetem a rainha a um regime forçado, negando-lhe alimento e
tratando-a rudemente, para que não fique parada. Supostamente, isso serve para interromper a postura e deixá-la
mais leve para a viagem da enxameação. No dia da saída, muitas obreiras engolem o máximo de mel, para
garantir a sua sobrevivência até que uma nova morada seja encontrada, e para poderem produzir cera para a
construção dos primeiros favos. Muitas obreiras, especialmente as mais jovens, abandonam a colmeia, levando
junto a rainha (ou arrastando-a, em alguns casos).
Ao abandonar a colmeia, o enxame agrupa-se nas imediações, num galho de árvore, num poste, num automóvel,
onde ele achar mais conveniente. Em seguida, abelhas batedoras saem em busca de um lugar seguro para formar
a nova colmeia (em alguns casos, essa pesquisa pode iniciar antes mesmo da saída do enxame). Elas avaliam
ocos de árvores, cavidades em rochas, espaços em telhados, caixas vazias, tonéis abandonados e muitos outros.
Quando uma batedora acha um bom lugar, volta ao enxame e comunica a boa notícia dançando. Mais abelhas
aparecem para avaliar a escolha e, se ela for melhor que as alternativas encontradas por outras batedoras, o
enxame decide fazer a nova colmeia ali.

1.47 O que acontece com a colmeia que perdeu um enxame? [2]


Fica com a casa, toda a cria, as reservas de pólen, parte das reservas de néctar e mel, parte das obreiras,
especialmente as mais velhas, e uma ou mais princesas ou rainhas novas, que lutarão até a morte até que só
sobre uma para comandar a colmeia.
Dependendo do tamanho original do enxame e das condições da colmeia, outros enxames podem ser produzidos
- os enxames secundários. Eles são menores e podem conter uma ou mais princesas.
Numa colmeia de um apiário, a enxameação representa um prejuízo certo, uma vez que, não apenas parte do mel
foi levada embora, como foi drasticamente diminuída a força de trabalho para colher mais. Em geral, de colmeias
que enxameiam, não se consegue nenhuma produção significativa de mel na temporada. Algumas vezes, porém,
especialmente se houver bastante espaço para criação e mel na colmeia, a enxameação ocorre suficientemente
tarde, para que bastante mel já tenha sido armazenado.
1.48 Por que as abelhas abandonam a colmeia?
Quando as abelhas são submetidas a um nível de stress ou privação muito grande, elas podem abandonar a
colmeia e tentar a sorte em outro lugar. Uma causa comum é o calor excessivo. Caixas com pouco espaço e sem
ventilação, quando deixadas ao sol, provocam abandono. Períodos de carência alimentar muito prolongados e
ataque de formigas também. O mesmo com maneios descuidados ou muito frequentes.

1.49 Por que as abelhas às vezes matam a sua rainha?


Diversos factores podem provocar a substituição da rainha. Quando ela já não produz feromonas em quantidade
suficiente, as abelhas podem resolver trocá-la. Também quando o seu desempenho é baixo (postura deficiente) ou
o seu armazém de esperma acaba (ela só consegue produzir zangãos). Em alguns casos, as abelhas parecem
culpar a rainha por algum distúrbio maior na colmeia, e liquidam-na por "peloteamento" (formam uma bola em
torno dela até sufocá-la). Em qualquer caso, o propósito parece ser sempre obter uma rainha nova, melhor do que
a actual.

1.50 Como as abelhas lidam com as variações de temperatura?


A capacidade de as abelhas lidarem com variações de temperatura está ligada ao tamanho do enxame. Uma
abelha sozinha tem mínima protecção, uma colmeia numerosa pode manter o seu centro a 35 ºC, em situações
externas de extremo calor (até 70 ºC) e de extremo frio (até -80 ºC) [SOU92].
Para arrefecer uma colmeia, as abelhas utilizam a evaporação da água, um processo eficiente, porque absorve
grande quantidade de calor ao ocorrer. Elas expõem a água, na forma de películas nas suas mandíbulas ou
gotículas espalhadas pela colmeia, a uma corrente de ar provocada por elas mesmas, com o bater de suas asas.
Dessa forma, conseguem sobreviver em ambientes muito quentes, desde que haja água suficiente disponível.
Para aquecer uma colmeia, as abelhas agrupam-se em torno do centro, onde está a criação. Quanto mais baixa a
temperatura, mais apertado será o agrupamento. As abelhas, nessa situação, assumem uma posição relativa que
força o entrelaçamento dos seus pêlos torácicos, aumentando a capacidade de isolamento térmico das sucessivas
camadas. Essas camadas são formadas por abelhas voltadas para o centro do grupo, e há um revezamento entre
as que estão em posição mais externa e as que estão mais ao centro.
Elas também são ajudadas pela presença de alvéolos vazios, que formam câmaras de ar parado, que é um bom
isolante. Se ainda assim a temperatura continuar caindo, as abelhas passam a produzir calor pela vibração da sua
musculatura torácica. Nesse caso, porém, elas necessitam ingerir quantidades maiores de mel para repor a
energia perdida. Em outras palavras, transformam-se em estufas movidas a mel.

1.51 Por que o apicultor põe fumo nas abelhas? [4]


A principal razão é bloquear ou diminuir a resposta agressiva.
Muitos acreditam também que o fumo dispara na colmeia um comportamento de preparação para a fuga: as
obreiras passariam a engolir mel e armazená-lo na vesícula melífera, para um eventual abandono da colmeia.
Isso, ocuparia as abelhas por algum tempo e alteraria o seu comportamento de defesa, mudando de agressão
para fuga. As abelhas que engolem mel também teriam maior dificuldade para ferrar.
Outra utilidade muito importante do fumo é a condução das abelhas. Como elas geralmente são repelidas pela
fumo, o apicultor a utiliza para afastar as abelhas de terminados locais, como a superfície da caixa antes da
recolocação da tampa.

1.52 A fumo não "stressa" as abelhas?


Sim, bastante. Maneios muito frequentes podem até provocar o abandono de toda a colmeia. O fumo é quase
sempre necessário, mas, por qualquer ângulo que se examine (stress das abelhas, contaminação de favos e mel),
sempre será preferível usar a menor quantidade possível de fumo numa manipulação.

1.53 Quanto pesa uma abelha?


Em média, uma abelha recém nascida (com o aparelho digestivo vazio) pesa cerca de 83 mg (europeia). Isso dá
12.000 europeias/kg.
Observação: não use esses dados para calcular o peso de um enxame, pois nele, as abelhas possuem um
conteúdo intestinal variável, que pode chegar a 80% do seu peso líquido. Em média, estima-se de 7.000 a 10.000
abelhas por quilograma.

1.54 Como a abelha colhe néctar?


A abelha suga a substância adocicada (néctar, pseudonéctar, calda, suco, refrigerante, etc.) com a ajuda da sua
prosbócide (língua). A substância é então conduzida até uma porção do aparelho digestivo chamado de vesícula
melífera, uma espécie de antecâmara do estômago, que pode ser amplamente distendida.
1.55 Quanto néctar a abelha pode transportar?
Em média, a carga de néctar de uma europeia situa-se entre 20 e 40 mg, podendo chegar, ocasionalmente a 80
mg.

1.56 A que distância uma abelha voa para colher néctar?


O mais próximo possível. Três quilómetros é uma distância máxima frequentemente mencionada, mas as abelhas
voarão mais do que isso se necessário. Economicamente, quanto mais próximas do apiário estiverem as flores,
melhor, pois as abelhas consumirão menos mel durante a actividade da colheita.
Na prática, frequentemente considera-se que a flora apícola útil ao apiário está circunscrita num raio de 1 a 1,5 km,
o que corresponde a uma área circular de 300 a 700 hectares.

1.57 Como a abelha colhe pólen?


Ela usa a língua e as mandíbulas para tirar algum pólen das anteras e humedece-lo. Muitos grãos também ficam
presos ao seu pêlo na operação. Depois, ela "escova" esses grãos, geralmente durante o voo, mistura-os ao pólen
humedecido e compacta tudo na corbícula, uma reentrância existente no seu par de pernas posterior. A medida
que mais pólen vai sendo colheitado, a carga nas corbículas aumenta, e alguns pêlos são envolvidos pelas
bolotas, para que elas permaneçam firmes no lugar.

1.58 Como a abelha colhe própolis?


Com ajuda das mandíbulas e do primeiro par de patas, ela remove o material resinoso da planta. Depois,
armazena-o na corbícula, de forma semelhante ao que faz com o pólen. Antes de usar a própolis, a abelha
mistura-a com cera, numa proporção que pode chegar a 30%, para tornar a sua consistência mais trabalhável.

1.59 Como a abelha colhe água?


Ela suga a água e armazena-a tal como faz com o néctar, na vesícula melífera.

1.60 O que estimula as abelhas para a colheita?


Basicamente, a necessidade das abelhas, a disponibilidade de espaço na colmeia e a abundância local dos
recursos. Num clima quente, por exemplo, a necessidade de refrigerar a colmeia comanda a busca de água. Em
florações grandes, a necessidade por pólen e néctar e o espaço de armazenamento disponível orientam a sua
colheita.

Em vários estudos, observou-se que a alocação de obreiras para colheita de um recurso específico estava
relacionada à pronta aceitação deste recurso pelas abelhas domésticas na hora da chegada da obreira. Por
exemplo, se uma obreira que colectou água é imediatamente aliviada da sua carga na chegada à colmeia, ela
provavelmente voltará para buscar mais água. Se, por outro lado, ela demora muito a conseguir livrar-se da sua
carga, ela provavelmente dirigirá seus esforços a outro produto na próxima viagem.

1.61 Onde as abelhas guardam esses produtos?


O pólen é armazenado nos alvéolos próximos à área de criação, que é o seu principal consumidor. O néctar é
armazenado nos alvéolos que estão acima e ao lado da área de criação e pólen. A própolis é usada directamente
no objectivo: tapar frestas e envolver corpos estranhos que não puderam ser removidos. A água não é
armazenada nos favos, mas distribuída entre diversas abelhas jovens, que a manterão nas suas vesículas
melíferas até que ela seja necessária.

1.62 Como as abelhas produzem cera?


Obreiras, normalmente entre 8 e 17 dias de idade, segregam cera na forma de flocos, através de glândulas
ceríferas, localizadas na parte frontal do abdómen. Para produzir cera, as abelhas precisam de ingerir muito mel.

1.63 Quanto mel deve ser ingerido para a produção de 1 kg de cera? [4]
A eficiência de conversão de mel em cera é extremamente variável, dependendo de múltiplos factores, como
propensão genética, idade média das obreiras, temperatura ambiente. Um estudo de Whitcomb, 1946, com 4
colónias durante 70 dias, obteve relações da ordem de 104:1 (104 kg de mel consumidos para 1 kg de cera
produzido) até 3:1, sendo que a média geral convergiu para 8,4:1, um valor que é frequentemente citado na
literatura.

2. A colmeia

2.1 O que é uma colmeia?


É a casa das abelhas. Por extensão, a palavra também é usada para fazer referência às abelhas que a habitam.
2.2 Como é uma colmeia?
A colmeia dita móvel é uma caixa, ou um conjunto de caixas empilháveis, dispostas sobre um fundo (ou chão) e
cobertas por uma tampa (ou tecto). Geralmente, é feita de madeira. Dentro das caixas, ficam os quadros, que são
estruturas rectangulares, como molduras, destinadas a conter os favos feitos pelas abelhas.
Esse é o modelo moderno básico, mas inúmeros outros são possíveis. No passado, as colmeias eram cestos de
palha emborcados. Cortiços, sem quadros, também foram usados durante décadas.

2.3 De que outros materiais podem ser feitas as colmeias?


Há muitos anos existe no mercado internacional colmeias feitas de material sintético, como o poliuretano. Embora
ocasionalmente alguém se manifeste favoravelmente a elas, o mais comum é ouvir-se queixas e suspeitas. Seja
como for, elas parecem estar no mercado há tempo demais para ainda não se terem imposto, já que o peso leve é
um grande atractivo para os apicultores. Talvez com a adopção de melhores tecnologias e materiais, a colmeia
sintética se torne uma boa alternativa.
.
2.4 Qual é o melhor tipo de colmeia?
É difícil dizer. Hoje em dia, a apicultura mundial inclina-se para o modelo Langstroth (ou americana), talvez nem
tanto pela sua funcionalidade, e mais pela sua popularidade. Quando não mencionado, este texto fará sempre
referência a colmeias Langstroth.
Existem várias alternativas ao modelo Langstroth, adequadas para climas mais frios ou mais quentes.
Reversível, Lusitana, Prática, etc. Quase todas têm uma ou mais vantagens em relação à Langstroth, mas
nenhuma delas foi capaz de superá-la a ponto de tornar-se um novo padrão de facto.

2.5 O que são ninhos e alças?


Ninhos (ou caixas, ou câmaras de criação) contêm os quadros que serão usados para a postura de ovos e
desenvolvimento das criação. Geralmente são mais altas e formam o primeiro andar, se a colmeia for vista como
um edifício.
Alças (ou sobrecaixas) são destinadas apenas à produção de mel, para que os seus quadros não contenham
também criação e pólen. Geralmente são mais baixas que os ninhos e formam os andares mais altos do "prédio".
Alguns apicultores preferem usar apenas ninhos nas colmeias, inclusive fazendo o papel de alças (os alças igual
ao ninho).
Ocasionalmente, usa-se a palavra caixa para fazer referência a um ninho ou a uma alça igual ao ninho,
indistintamente. A mesma palavra pode ser empregada no sentido de colmeia - "tenho dez caixas de abelhas".

2.6 O que é melhor, alças ou alças igual ao ninho?


Alças igual ao ninho são melhores por um lado, porque permitem uma padronização de quadros - com ninhos e
alças, o apicultor precisa manter armazéms de dois tamanhos de quadros e de lâminas de cera alveolada. Com
alças igual ao ninho, a prancheta excluidora torna-se totalmente dispensável, porque qualquer quadro com postura
pode ser aproveitado para o ninho.
Por outro lado, alças igual ao ninho carregados de mel são pesados demais, e praticamente inviabilizam o maneio
por uma só pessoa. Os favos de ninho também precisam ser centrifugados com muito mais cuidado, para não se
partirem. Além disso, florações não muito intensas ou enxames não muito fortes, que poderiam encher uma alça,
talvez não sejam suficientes para encher uma alça igual ao ninho, dificultando a colheita. Também o facto de se
efectuarem tratamentos no ninho, correndo o risco de vir a utilizar esses quadros para mel, deverá funcionar como
dissuasor de alças igual ao ninho.

2.7 Quanto pesam uma alça e uma alça igual ao ninho?


Em colmeias Langstroth, uma alça com dez quadros cheios de mel operculado contém cerca de 11 a 12 kg de mel.
Uma alça igual ao ninho nas mesmas condições contém cerca de 20 a 22 kg de mel.
O peso das caixas varia com o tipo de madeira empregue. Uma alça, com dez quadros aramados e lâminas de
cera alveolada pesa cerca de 5 kg. Um ninho nas mesmas condições, pesa cerca de 8 kg.

2.9 Afinal, quantos quadros devem ser usados, 8, 9 ou 10?


Dez quadros é a capacidade normal, tanto das alças quanto dos ninhos, e os espaçadores Hoffmann dos quadros
são projectados para manter a distância de 35 mm entre os centros de dois favos contíguos. Em alças e alças
igual ao ninho, muitos apicultores removem um ou dois quadros, para que os favos de mel fiquem mais largos
("gordos"). Isso facilita muito a desoperculação com faca, economiza quadros e promove um melhor
aproveitamento da caixa, já que um ou dois espaços vazios entre os favos são substituídos por mel. A remoção de
quadros, porém, não pode ser feita a qualquer momento.
Em relação ao ninho, não há vantagem para as abelhas em usar-se menos de 10 quadros, porque elas não teriam
o que fazer com o espaço excedente. É bom frisar que o transporte de caixas com menos de 10 quadros pode
acarretar muitas quebras e esmagamentos de favos e abelhas, pelas colisões ocorridas em razão dos movimentos
pendulares dos quadros.
2.10 O que são espaçadores Hoffmann?
São laterais de quadros mais largas na parte superior do que na inferior. O seu formato diminui a área propolisada
entre dois quadros contíguos, facilitando a remoção do quadro. Ao mesmo tempo, o estreitamento curto e
arredondado dos espaçadores facilita a inserção do quadro entre os demais.

2.11 Como as abelhas sabem onde devem colocar cada produto?


Não sabem. O apicultor apenas aproveita a sua tendência de organizar a colmeia em camadas: primeiro criação,
depois pólen, depois mel. Assim, se a primeira caixa (a mais de baixo) estiver bem, com favos em boas condições
e com espaço sobrando, é muito provável que a rainha use esta área para pôr seus ovos.Eventualmente, por falta
de espaço ou de condições melhores, a rainha pode subir e fazer a postura numa alça. Para evitar isso, os
apicultores às vezes usam grades excluidoras.

2.12 O que é uma prancheta excluidora?


É uma prancheta larga o suficiente para deixar uma obreira passar, mas não uma rainha, nem os zangãos. Com a
prancheta posta entre o ninho e as alças, pode ter-se segurança de que não haverá quadros de cria nas alças.

2.13 Porque é que alguns apicultores não usam a prancheta excluidora?


Uma razão é porque a prancheta é um equipamento a mais para o apicultor manipular. Os maneios às vezes são
demorados, e quanto mais peças o apicultor tiver de manipular, pior. Também, porque às vezes a prancheta
parece funcionar como uma barreira para as obreiras. Elas conseguem passar, mas simplesmente negam-se a
construir favos e depositar mel acima da prancheta, especialmente quando o fluxo de néctar não é dos mais fortes.
Quando colocada depois que algum mel ter sido armazenado na alça, zangãos podem ficar presos ali e até
seventalarem na prancheta e morrerem.

2.14 Porque é que as abelhas constroem os seus favos exactamente dentro dos quadros?
Somente porque são induzidas a isso. No centro de cada quadro, o apicultor coloca uma lâmina de cera alveolada,
que funciona como um início do favo. As abelhas só continuam o que já receberam começado. Quando não são
induzidas, ou quando sobra algum espaço relativamente grande numa caixa, as abelhas constróem favos fora dos
quadros. Quando o apicultor esquece quadros sem cera alveolada, elas constroem favos atravessados, cada um
passando por dentro de vários quadros. Neste caso, arrumar a colmeia pode dar um trabalho enorme.

2.15 Porque é que as abelhas preenchem alguns espaços com cera e outros com própolis?
Essa foi talvez a maior descoberta da apicultura moderna, que possibilitou o desenvolvimento das colmeias
racionais. Não há uma razão conhecida, mas segundo as observações de Lorenzo Lorraine Langstroth, em 1851,
as abelhas não fecham espaços maiores de 6,4 mm com própolis, nem constroem favos em espaços menores que
9,5 mm. Isso permitiu definir o espaço-abelha.

2.16 O que é o espaço-abelha?


É exactamente o intervalo de 6,4 a 9,5 mm que as abelhas deixam sempre livre. Conhecendo essas medidas, foi
possível projectar a colmeia racional, de quadros móveis, com a certeza de que as abelhas construiriam favos
apenas nesses quadros, se correctamente induzidas, e não iriam colá-los entre si e nem às paredes das caixas.
Essa é a dimensão mais conhecida na apicultura, mas há outras também importantes.

2.18 O que é cera alveolada?


É cera derretida e estampada com hexágonos com a dimensão média dos alvéolos. As lâminas produzidas assim,
são cortadas no formato dos quadros e vendidas aos apicultores. Esta cera é fornecida às abelhas em substituição
a favos velhos ou inutilizados.

2.19 Como se fixa a cera alveolada nos quadros?


Os quadros possuem fios de arame atravessados, geralmente no sentido horizontal. A lâmina é soldada neles com
ajuda de um pouco de cera derretida e, no caso de arames, pelo seu aquecimento por uma corrente eléctrica.
Arames também podem ser incrustados com ajuda de uma carretilha.
Um cuidado muito importante ao soldar a lâmina é com o alinhamento dos alvéolos. Eles devem ficar com dois
vértices opostos dos hexágonos perfeitamente alinhados na vertical. Isso pode não acontecer se a lâmina estiver
mal cortada, no sentido atravessado (dois lados opostos alinhados com a horizontal) ou simplesmente cortada
torta. Se isso ocorrer, a lâmina poderá ser integralmente rejeitada pelas abelhas.
2.20 É melhor soldar a lâmina encostada na barra superior?
O melhor, é usar lâminas que aproveitem ao máximo o espaço disponível no quadro. Isso poupará as abelhas de
produzirem cera, permitindo-lhes uma produção maior de mel. Mas quando a lâmina de cera é menor (em altura)
do que o espaço disponível no quadro, há duas indicações de soldagem.
Quando o quadro for destinado à postura, é preferível soldar a lâmina encostada na barra superior. O espaço que
sobrará entre a lâmina e a barra inferior normalmente não será puxado com alvéolos e, como vantagem, facilitará
a movimentação da rainha e das obreiras.
Quando o quadro se destina à armazenagem de mel, o ideal é soldar a lâmina encostada à barra inferior. Nessa
situação, as abelhas puxam o favo e estendem-no até a barra superior, promovendo um aproveitamento integral
do espaço e uma solidez muito maior do favo. Isso se reflecte num armazenamento maior de mel por quadro,
optimizando a função da alça. Além disso, e talvez mais importante, a resistência muito maior do favo, quando
soldado em cima e embaixo, permite uma colheita e uma centrifugação muito menos sujeitas a quebras e
despedaçamentos. E isso é especialmente importante quando se usam oito ou nove quadros na alça, pois
tornam-se ainda mais pesados do que o normal.

2.21 Como se solda cera com corrente eléctrica?


Primeiro, os quadros devem ser aramados. O ideal é quatro fios em quadro de ninho e três em quadro de alça. O
arame deve ser ancorado no início, passado pelos furos e ancorado novamente no fim, sem cruzamentos e
amarrações intermediárias. Ele deve ficar bem esticado, mas não em excesso, caso contrário, poderá causar
deformações nas laterais do quadro.
Para arames galvanizados, use uma fonte de tensão entre 12 e 18 volts. Para arame inox, use uma fonte entre 24
e 30 volts. Coloque a lâmina sobre os arames (um peso em cima da lâmina, como um pedaço de tábua, ajuda
bastante). Ligue cada pólo da fonte a uma extremidade do arame e observe a incrustação ocorrer até a metade,
mais ou menos, depois desligue os pólos.

2.22 Que fonte é essa?


Uma fonte de 12V possível é a bateria do automóvel, mas não é recomendável. Usando-a, você pode causar
curtos-circuitos que danifiquem a bateria ou outro sistema eléctrico do seu automóvel, além de descarregá-la,
naturalmente.
Se você tem experiência com ligações eléctricas, o melhor é fazer o seu próprio incrustador, adquirindo um
transformador de tensão numa loja de artigos electrónicos. Forneça essa especificação:
Para arames galvanizados:
Tensão de entrada: 220 volts (escolha a que corresponde à sua rede)
Tensão de saída: 12 volts
Corrente de saída: 8 a 10 amperes
Para arames inox:
Tensão de entrada: 220 volts (escolha a que corresponde à sua rede)
Tensão de saída: 24 a 30 volts
Corrente de saída: 8 a 10 amperes
Para qualquer tipo de arame:
Tensão de entrada: 220 V (escolha a que corresponde à sua rede)
Tensão de saída: 24 a 30 volts
Corrente de saída: 8 a 10 amperes
Em série com a entrada, ligue um dimmer para lâmpadas incandescentes. Ao fazer a primeira incrustação, ajuste o
dimmer para que a incrustação seja rápida, mas sem provocar muito centelhamento.

2.23 Que arame é melhor?


O arame inox. Ele é mecanicamente mais resistente, e podem-se usar fios mais finos, que atrapalham menos a
postura da rainha. É muito mais resistente à oxidação, e tem vida útil maior. Pela sua rigidez, é mais difícil de ser
manipulado, e precisa estar num carretel para não virar uma maçaroca. Precisa de uma tensão elétrica mais alta
para incrustação, por apresentar uma resistência elétrica maior. É mais caro, mas rende muito. O fio de 0,3 mm de
diâmetro tem cerca de 1.800 metros por quilo, e apresenta uma resistência mecânica maior que a do arame
galvanizado nº 22 (diâmetro de 0,7 mm), que ainda é muito usado.
O arame inox deve ser o do tipo rígido, usado para a confecção de molas. Há um fio mole, mais fácil de trabalhar,
mas com uma resistência mecânica muito menor.

2.24 O arame não encrava na madeira dos quadros?


Sim, e isso acarreta uma diminuição da tensão de esticamento do arame ao longo do tempo. Para evitar esse
problema, ponha ilhoses em todos os buracos dos quadros. No caso do fio de inox, mais fino, esse procedimento é
absolutamente indispensável.
2.25 Quadros plásticos não são preferíveis?
Os quadros plásticos, em poliestireno, compõem-se de uma moldura, idêntica aos de madeira, e mais uma
superfície alveolada, como se fosse uma lâmina de cera. Assim, estes quadros não precisam de aramação nem da
incrustação de cera. Quando a parte alveolada é banhada com cera, a aceitação das abelhas é normal, mas o
quadro dificilmente é aproveitado por elas quando o banho de cera não é feito.
Isso sugere dificuldades na reutilização dos quadros, e esta é de fato a principal reclamação dos usuários. É
possível que para quadros de alça, que devem ser preservados tanto quanto possível, essa ideia dê bom
resultado. Mas, como no caso das caixas de poliuretano, os quadros de poliestireno estão no mercado há tempo
demais para ainda não terem se tornado uma alternativa bem conhecida.

2.26 Do que são feitos os favos?


Exclusivamente da cera segregada pelas obreiras.

2.27 Como os favos são produzidos?


As abelhas que segregam cera fazem uma espécie de "cortina", umas presas às outras pelas patas. Cada uma
delas produz flocos de cera, que depois são mascados e amolecidos com um pouco de saliva. Em seguida, são
colados e moldados na estrutura de cera que está a ser construída. No caso do favo, a estrutura é um
agrupamento de alvéolos, ou células, cuja secção transversal é um hexágono. Esses alvéolos são dispostos lado a
lado, de forma que cada parede é compartilhada por duas células (excepto as paredes mais externas, é claro).
Eles também são dispostos fundo-contra-fundo, desencontrados, de maneira que cada favo possui duas camadas
de alvéolos, cada camada voltada para um lado.

2.28 Porque é que o alvéolo é hexagonal?


Essa forma optimiza a construção, pois atende da melhor forma possível o compromisso entre economia de cera e
trabalho versus a resistência mecânica final do conjunto.

2.29 Qual é o tamanho do alvéolo?


As europeias constróem 857 alvéolos de obreira em 100 cm² (considerando-se as duas faces). A Alvéolos usados
para cria de obreiras e armazenagem de pólen geralmente têm as mesmas dimensões. O armazenamento de mel
pode ser feito em alvéolos de obreira ou de zangão.

2.30 Quantos alvéolos há num favo?


Depende da área útil do quadro (as medidas mais rigorosas são as externas), mas pode-se estimar,
arredondando, para 7.000 alvéolos de obreira por quadro de ninho (3.500 por face), e 4.000 alvéolos por quadro
de alça (2.000 por face).
No caso de favo de zangão, um quadro de ninho possui cerca de 4.200 alvéolos (2.100 por face), e, um quadro de
alça, 2.400 (1.200 por face).

2.31 Existe cera alveolada para zangãos? [4]


Sim, é usada principalmente por criadores de rainhas, que precisam produzir bons zangãos também. Além disso, o
uso favo de zangão na alça é usado para controlo da varroa e também porque a extracção de mel é muito
acelerada pelo diâmetro maior dos alvéolos, o que facilita bastante o escoamento durante a centrifugação.

2.32 Que cor tem o favo?


Favos recém construídos são brancos, mas vão ficando amarelados rapidamente. Os favos de ninho escurecem
muito mais que os de alça, pois cada cria deixa resíduos do seu casulo e dejectos orgânicos que as outras
obreiras não conseguem eliminar inteiramente. Um favo de ninho antigo chega a ser quase negro.

2.33 Por que o mel não escorre do favo?


A construção do favo é orientada pela gravidade, e ele é perfeitamente vertical. Os alvéolos, porém, não são
puxados a 90º. Eles são feitos com uma inclinação ascendente de 9 a 14º em relação à horizontal. Isso evita que o
néctar/mel escorra logo que começa a ser armazenado no alvéolo, e também impede que as larvas caiam da
célula acidentalmente. Quando o volume de néctar/mel armazenado atinge a borda do alvéolo, as abelhas iniciam
a sua operculação (fechamento), de forma a impedir o escorrimento.

2.34 Como é o fundo da colmeia?


É uma superfície, geralmente de madeira, com pequenas paredes nas laterais e atrás, que servem de apoio ao
ninho. A frente estende-se alguns centímetros além do comprimento do ninho, para servir de plataforma de pouso
e decolagem das abelhas. O espaço formado entre a superfície do fundo e o início da parede frontal do ninho é a
entrada da colmeia.
2.35 Que tamanho tem a entrada da colmeia?
Tem cerca de 37 cm de largura por 1 ou 2 cm de altura. Na prática, geralmente é usado um redutor, para regular a
temperatura e impedir a entrada de insectos de maiores dimensões e roedores.

2.36 Como é a tampa da colmeia?


É uma superfície, geralmente de madeira, com paredes nas laterais, que ajudam no seu encaixe sobre a última
caixa da colmeia e prancheta.

2.37 O que é uma prancheta?


Trata-se de uma peça que serve para o fechamento superior da colmeia, mas não fica exposta, e sim protegida
pela tampa, que nesse caso, funciona também como um telhado.
É um dispositivo perfeito para promover a ventilação da colmeia, evitando que a grande quantidade de vapor
produzida pelo enxame condense nas partes superiores da colmeia e torne o seu ambiente insalubre,
especialmente em regiões muito húmidas ou frias. Também permitem a alimentação logo acima do ninho.

2.38 Que outros equipamentos podem compor a colmeia?


Outros equipamentos importantes, mas de uso temporári:

 Alimentadores, para fornecer alimentos às abelhas


 Prancheta excluidora de entrada de voo, para impedir a saída da rainha da caixa (útil em colmeias com
enxames recém capturados)

2.39 Como se protege a colmeia contra a intempérie?


De três formas: cobrindo-a com um telhado (ou impermeabilizando a tampa), protegendo-a com algum tipo de
pintura ou revestimento e colocando-a sobre um suporte para afastá-la do chão.

2.40 Que podemos fazer para evitar que o telhado da colmeia levante?
Quando a colmeia estiver exposta a ventos fortes, é recomendável colocar um peso sobre o telhado. Uma pedra,
uma lousa, etc.

2.41 Como se pinta uma colmeia?


Somente as paredes externas da colmeia devem ser pintadas. Cores claras ajudam a reflectir melhor as radiações
do sol e manter uma temperatura mais amena em dias quentes. A tinta esmalte e a tinta a óleo podem contaminar
os produtos da colmeia com metais pesados, e recomendam apenas tinta látex, a mesma usada para alvenaria.
Diversos fabricantes de colmeias não as pintam, mergulham-nas num preparado fervente de 75 % de óleo de
linhaça, 20% parafina, 5 % cera de abelhas. As caixas devem ficar em local ventilado até que o cheiro desapareça.
Quem é certificado como apicultor em modo de produção biológico, pode não usar esses processos de
impermeabilização, e vale-se de receitas caseiras, muitas vezes à base de óleo vegetal, própolis e álcool.

2.42 Onde fica apoiada a colmeia?


Diversos tipos de suporte podem ser usados. Cavaletes de quatro pés, fixos ou móveis, são muito usados. Tijolos,
pedras ou o chão facilitam o ataque de predadores e sujeitam a colmeia a quedas por desequilíbrio.
A caixa deve ficar a 40-50 cm do solo.
3. O Apiário

3.1 Com quantas colmeias devo iniciar um apiário?


Se não tem experiência anterior, com zero. Isso mesmo, antes de adquirir qualquer coisa de apicultura, procure
um bom curso. Depois de fazê-lo, terá condições muito melhores de avaliar como deverá ser o seu início na
apicultura, ou, se for o caso, até desistir da ideia. (espero que não!!)

3.2 Como encontro um bom curso de apicultura?


Uma boa forma é consultar a associação de apicultores da sua região.
Um bom curso é aquele que combina teoria e prática de forma complementar.

3.3 Mas, afinal, com quantas colmeias geralmente se inicia um apiário?


Cinco a dez colmeias é uma recomendação frequente na literatura mas pode perfeitamente iniciar com uma única
colmeia, aprender bastante com ela, divertir-se e ainda colher seu primeiro mel. Depois, se desejar, e na medida
das suas possibilidades, pode ir ampliando o apiário. A vantagem de ter mais de uma colmeia é que uma delas
pode salvar a outra em caso de necessidade (unindo-as, por exemplo).
Como primeiro critério, adopte a sua capacidade de maneio. Estime quantas colmeias você pode manter bem,
considerando o seu tempo disponível e a sua disposição. Esqueça o critério, relativamente comum no início, de
aumentar o número de colmeias até igualar-se ao seu vizinho ou impressionar seus amigos - esta é uma receita de
fracasso quase garantida. Não esqueça que você pode ser um excelente apicultor de uma colmeia ou um péssimo
apicultor de 200. Na dúvida, opte sempre pela qualidade.

3.4 Onde deve localizar o apiário ?


Há diversas variáveis envolvidas nessa escolha: segurança, disponibilidade de flores e de água, presença de
outros apiários.

3.5 A que distância de casas um apiário pode estar? (dec -lei 205/2005 de 25 de Novembro)
Portanto, ao escolher o local do seu apiário, certifique-se de que há uma boa barreira natural entre o local e as
casas e terrenos vizinhos. Terá de manter uma distância de 100 metros de qualquer edificação excepto as
destinadas à actividade e 50 metros de estradas ou caminhos.

3.6 A que distância de flores e água deve ficar o apiário?


Em relação às flores, quanto mais próximo, melhor. Grosso modo, considere que a flora apícola útil situa-se num
raio de até 1.500 metros do apiário. Não apenas a distância, mas também (e principalmente) a quantidade de
espécies apícolas e a duração, intensidade e período das florações são importantes na localização de um apiário
fixo. Se você não tem alternativa, só lhe resta estabelecer o apiário onde é possível e avaliar o seu desempenho
por algumas colheitas. Deficiências na flora apícola podem ser compensadas com o plantio de espécies
apropriadas à sua região, ao menos parcialmente.
Em relação à água, também é interessante que ela esteja disponível em local próximo, de fonte limpa. Às vezes,
uma alternativa viável é fazer um bebedouro para as abelhas, com água encanada a pingar sobre um tanque raso,
com areia e brita para as abelhas não se afogarem.

3.7 Que distância entre apiários deve ser respeitada? (dec -lei 205/2005 de 25 de Novembro)
Considerando-se a área útil de colheita das abelhas em 1.500 m, três quilómetros seria uma distância ideal.
Infelizmente, este também é um número completamente irreal para a maior parte dos apicultores. Em apiário de 11
a 30 colmeias deve respeitar uma distância de instalação de 400 m. Em apiário de 31 a 100 colmeias deve
respeitar uma distância de instalação de 800 m.
Qualquer floração produz uma quantidade de néctar que pode ser total ou parcialmente colhido pelas abelhas e
outros insectos. Se o tempo permite, mas nem todo o néctar produzido é colhido, a área está insaturada, isto é, ela
ainda admite acréscimo de colmeias. Caso contrário, a área está saturada, e o acréscimo de colmeias acarretará a
queda de produtividade das demais. Essa condição não é imediatamente percebida, mas uma queda de produção
contínua por alguns anos pode ter a saturação como causa. A saturação também pode ocorrer sem acréscimo de
colmeias, pela remoção da flora apícola local, devido a incêndios ou limpeza de campo.
Se estiver a iniciar, pode ir aumentando as suas colmeias gradualmente, até que a produção média fique mais ou
menos estável. Se ela entrar em declínio contínuo, é bom investigar as causas, mas cuidado para não culpar a
saturação muito cedo. O clima, por exemplo, é um factor altamente determinante da produção. As ocorrência das
espécies anuais e o desempenho apícola das plantas também podem variar enormemente de um ano para outro.

3.8 Até quantas colmeias posso ter num apiário?


De novo, depende da saturação da área. Em alguns lugares, não valerá a pena ter nenhuma; em outros, talvez
seja possível manter cinquenta colmeias. Em qualquer caso, a capacidade do local é variável, podendo crescer ou
diminuir de acordo com o que é plantado ou cortado nas imediações.
3.9 E se a produção cair porque o meu vizinho instalou um apiário?
Essa é uma questão muito delicada. Parece-me claro que seu vizinho tem o mesmo direito de ter um apiário. A
não ser que haja demanda reprimida, ambos ganharão menos do que ganhariam se estivessem sós. O direito de
ambos é garantido, mas os resultados podem fazer um desistir.
No caso de apiários vizinhos, há dois caminhos possíveis: cooperação ou competição. Você pode conversar com
o seu vizinho e chegar a um acordo com ele a respeito de quantas colmeias cada um pode explorar, considerando
o potencial do local e quanto cada sítio contribui para a flora apícola. Esta é a solução ideal, mas requer que os
vizinhos tenham bom senso e boa vontade, o que nem sempre acontece.
A alternativa, no caso de uma área saturada, é a competição; tentar fazer o melhor maneio possível, para obter
uma produtividade aceitável.

3.10 A que distância deve ficar uma colmeia da outra?


Normalmente guarda-se a distância da mesma medida de uma colmeia (mínimo).

3.11 Que outras considerações são necessárias no planeamento do apiário?


O mais importante é que haja um planeamento completo e cuidadoso antes que a primeira colmeia seja instalada,
porque depois tudo será muito mais difícil.
Por exemplo:
 Verifique se há agricultores que usam pesticidas nas proximidades. Isso pode ser fatal para suas abelhas
ou deixar resíduos no seu mel.
 O apiário deve ter acesso fácil - lembre-se de que haverá colmeias a serem levadas para lá e, espera-se,
alças muito pesadas a serem retiradas.
 O acesso às colmeias deve ser sempre por trás, nunca pela frente, pois isso interrompe a linha de voo delas
e provoca muito mais ataques.
 Um sombreamento leve é muito útil nas estações quentes. Em regiões que possuem estações frias, árvores
que perdem as folhas no inverno são uma boa opção para arborizar o apiário. Uma boa alternativa, especialmente
nas regiões mais quentes e expostasl, é posicionar as colmeias voltadas para o Norte. Desta forma, elas
receberão uma incidência directa de sol maior no inverno e menor no verão.
 Locais sujeitos a alagamento são péssimos para as abelhas, pois a humidade dificulta a evaporação do
néctar, e para o apicultor, que dificulta o maneio na lama.
 Terrenos muito íngremes dificultam a movimentação no apiário e sujeitam o apicultor a quedas que podem
ter sérias consequências. O uso de terraços pode ser uma boa solução.
 É preferível que o lado dos ventos mais fortes fique protegido por algum tipo de quebra-vento, natural,
construído ou plantado.
 Lembre-se que você pode querer aumentar o apiário no futuro. É melhor já pensar numa possível ampliação
e preparar toda a área de uma vez.
 Não esqueça de que precisará de um local para abrigar os equipamentos, as roupas e as colmeias vazias.
 A distância do apiário à sua casa também não pode ser grande demais, para que o maneio possa ser feito
numa frequência mínima, diminuindo os custos de deslocação.

3.12 Para que lado devem ficar viradas as entradas da colmeia?

Um critério bom é posicionar as colmeias de forma que o deslocamento do apicultor e de algum veículo se possa
dar sempre pelos fundos das colmeias, nunca próximo às frentes. Se ainda assim houver alternativas boas de
posicionamento, considere a possibilidade de instalá-las na beira de mato, voltadas para o Norte ou com o alvado
voltado para o lado em que os ventos são menos intensos.

3.13 Como limpar o apiário?


Depois de habitado, a limpeza do apiário é um pouco mais complicada. Tem de ser feita com o equipamento de
Protecção, pois a movimentação provoca muita agitação nas colmeias.
Pode usar herbicidas naturais, como o sal. Poucas plantas toleram uma alta salinidade, e o apiário, ou pelo menos
a área em torno das colmeias, pode ser mantida limpa assim. Sem uma ligeira cobertura vegetal, o solo absorve e
irradia mais calor, aumentando a temperatura no apiário. E as chuvas podem transformá-lo num lamaçal.
Uma boa ajuda pode ser o plantio de uma cobertura vegetal baixa e agressiva, como alguns tipos de grama e
trevos, de preferência que já estejam aclimatados à região.

3.14 Posso criar animais perto do apiário?


Depende. Animais encurralados podem ser atacados e mortos se não puderem fugir.
Gado bovino normalmente pode ser criado, desde que não haja cercas que impeçam a sua fuga. Nesse caso, é
preferível não cercar nem mesmo o apiário, pois se algum animal conseguir passar a cerca e derrubar alguma
colmeia, provavelmente não achará a saída. Com apiário aberto, geralmente o gado aprende a respeitar as
colmeias, e raramente se ouvem relatos de acidentes.
3.15 Posso fazer as minhas colmeias?
A não ser que seja carpinteiro, é melhor comprá-las, pois a construção dá muito trabalho, e as dimensões devem
ser exactas, para que outros acessórios possam ser usados nelas.

3.16 Quanto custa uma colmeia?


Uma colmeia completa, com fundo, ninho, duas alças, quadros aramados e tampa custa aproximadamente 60,00
€.

3.17 Quantas alças por colmeia devo comprar?


Depende da produtividade, na dúvida, compre duas alças por colmeia e avalie os primeiros resultados.

3.18 Preciso comprar colmeias de reserva?


Sim, isso é muito importante. Inicialmente, tenha pelo menos uma ou duas colmeias completas de reserva. Com o
tempo vai ajustando essa quantidade.

3.19 Como povoar o apiário?


Há diversas formas de se obter enxames para povoar o apiário. A primeira é comprar enxames.
Outra forma é capturar enxames com caixas-isca. Esse é o método mais barato e menos trabalhoso, mas não é
muito garantido.
Outra maneira é capturar enxames alojados na natureza ou em locais indevidos. Eles podem ser encontrados em
ocos, vãos de paredes duplas, caixas, barris, qualquer lugar. Esta, frequentemente, é a maneira mais penosa e a
que exige maior experiência.
Quando se deseja ampliar um apiário já povoado, pode-se também recorrer à divisão de enxames.

3.21 Não é melhor usar colmeias vazias para atrair enxames?


A caixa-isco é dez a quinze vezes mais atractiva do que as de madeira.

3.24 Quando é que o enxame pode ser transferido para a colmeia definitiva?
Cerca de uma semana após a captura, já deve haver favos com criação. Nesse momento, cai o risco de o enxame
abandonar a caixa após uma manipulação, e a transferência para a colmeia definitiva pode ser feita. No entanto,
eventualmente, pode-se manter o enxame na caixa-isca até a sua transferência para o local definitivo (apiário).

3.25 Quando a nova caixa pode ser transferida para o apiário?


Se o apiário estiver a mais de 3 km, basta esperar até que o enxame esteja bem ambientado, com as obreiras a
trabalhar bastante. Também é importante que o enxame esteja bem alojado, com bons favos de cria e quadros
bem seguros, para que o transporte não os danifique.

Se o apiário estiver próximo, há três possibilidades.


A primeira é na noite seguinte ao dia de captura. Essa é a melhor opção, mas só pode ser feita se a distância
permitir um transporte manual e extremamente cuidadoso, que não perturbe o enxame, pois ele estará em forma
de cortina, construindo os favos. Como as obreiras mal começaram a tarefa de colheita, elas ainda não se
habituaram ao novo local, e a perda no dia seguinte, por retorno ao local da captura, será mínima.

A segunda possibilidade é mover a caixa para um local distante mais de 3 km, deixá-lo por lá duas semanas e
depois transferi-lo para o apiário. Para isso, a colmeia deve estar em boas condições para resistir ao transporte.

Uma terceira possibilidade é a movimentação directa do local de captura para o apiário próximo por volta do 30º
dia de captura. Nesta época, grande parte das obreiras originais já morreram ou estão próximas do fim, enquanto
que a primeira geração de abelhas novas está quase pronta para iniciar as tarefas de colheita. Assim uma
transferência para um local próximo causa uma perda relativamente pequena de obreiras por retorno ao local de
origem, e ainda assim de obreiras velhas.
3.26 Como capturar enxames alojados?
Esse é um tópico avançado, que requer experiência no trato com as abelhas e, muitas vezes, outras habilidades.
O processo, basicamente, consiste em remover os favos do local e transferi-los para um ninho. Cada favo deve ser
colocado no centro de um quadro sem arame, e fixado com elásticos. É importante que a orientação vertical dos
favos seja preservada, ou todo o trabalho será perdido. Depois disso, as abelhas e, especialmente a rainha,
devem ser transferidas para a nova caixa, com ajuda de uma concha ou caneca. Enquanto a rainha não for
transferida, as abelhas não permanecerão na nova casa. Ao contrário, quando a rainha estiver lá, as abelhas
restantes entrarão por conta própria.
Por fim, a nova colmeia pode permanecer no local por algum tempo até que todas as abelhas tenham recolhido.
Posteriormente, a caixa deve ser movida para o local definitivo, e os favos capturados devem ser gradualmente
substituídos por cera alveolada.
Há uma alternativa interessante, que não pode ser usada sempre, consiste em instalar uma colmeia ou um núcleo
nas proximidades do enxame alojado e forçar a passagem das abelhas pela colmeia, com a ajuda de um tubo.
Naturalmente, todas as frestas da colmeia original deverão ser bem vedadas. Eventualmente, o enxame pode
adoptar o novo espaço e abandonar o antigo.

3.27 Como manter informações sobre o apiário? [3]


O registo de informações sobre o apiário e as colmeias pode ser muito útil ao apicultor, especialmente ao iniciante
e ao grande apicultor. Para poucas colmeias, um caderno pode ser suficiente. Para quem quiser manter dados
mais organizados e em maior quantidade, algumas planilhas electrónicas servirão perfeitamente. Quem preferir
uma interface mais simples e um conjunto de funções já bem definidas pode optar por um programa de apicultura.
Há vários deles disponíveis na Internet, em diversas línguas. Alguns possuem versões para demonstração e até
versões gratuitas completas para poucas colmeias.
4. Protecção

4.1 Como se deve proteger durante o maneio?


O apicultor protege-se principalmente de duas formas: com o uso de vestúario adequado e o uso de fumo.

4.2 Como deve ser o vestuário do apicultor?


Botas, casaco-máscara e calças ou macacão, luvas e máscara. O ideal é que sejam usadas apenas cores claras,
de preferência o branco, pois elas estimulam menos a agressividade das abelhas.
As botas devem ser de borracha branca, melhor se tiverem o cano firme e estreito, que proteja até o meio da
canela, aproximadamente.
O macacão, ou o conjunto de casaco-máscara e calça, pode ser feito de algodão ou de tecidos sintéticos, como
nylon . Há inúmeros modelos, alguns ventilados, alguns com máscara integrada, alguns com mais de uma
camada. O macacão ou o casaco devem ser bem folgados, pelo menos dois números acima do seu, para evitar
que fique muito esticado sobre a pele e facilite a vida das abelhas agressoras. Por baixo do macacão, deve usar
sempre uma camisola de algodão e calças ou bermudas, para que o macacão, quando molhado de suor, não fique
colado ao corpo. Para mexer em enxames muito agressivos, a roupa de baixo deve ser reforçada.
A máscara deve ter uma área de visão ampla, protegida por uma rede preta (para evitar ofuscamento). De
preferência, essa rede deve contornar toda a cabeça, para permitir uma ventilação melhor. Para iniciantes, o
modelo de máscara integrada ao macacão pode ser preferível, pois dá uma sensação de segurança maior.
As luvas podem ser feitas de nitrilo, napa ou couro (vaqueta). Eu gosto das luvas de couro, que dão Protecção
máxima em qualquer situação, e são muito resistentes.
Essas são as minhas preferências, certamente diferentes das de outros apicultores. Só depois de adquirir alguma
experiência, poderá definir bem qual é o seu conjunto ideal.

4.3 Como vestir todo esse equipamento?


Simples: as peças das extremidades devem recobrir o macacão. A máscara (quando separada) recobre a gola, as
luvas recobrem os punhos e as botas recobrem as pernas do macacão.

4.4 Não se morre de calor?


Na verdade, o calor pode ser um inimigo terrível do apicultor, e ainda assim será preferível a uma porção de
ferradas. Mas alguns procedimentos podem diminuir um pouco o sofrimento:
 Mantenha as colmeias a meia-sombra no verão.
 Leve água ao apiário.
 Carregue dentro da máscara uma toalhinha para secar o excesso de suor do rosto. Segure-a pelo lado de
fora da máscara.

4.5 Mas as abelhas não entram pelas frestas? [4]


No ajuste da máscara e das luvas, não devem sobrar frestas, ou as abelhas poderão entrar. Algumas abelhas
agressivas dentro da máscara não é uma situação agradável de se enfrentar.
Entre o macacão e as botas, o problema é menor, porque elas raramente descem para ferrar. Se o cano não for
muito largo, as canelas e o pé serão os locais com menor risco de serem ferrados. Colocar a perna do macacão
por fora da bota e fixá-lo com fita adesiva é uma solução definitiva.

4.6 Como agir se entrarem abelhas na máscara?


Uma solução é afastar-se bastante do apiário e tirar a máscara, mas isso raramente é possível. Quando essa
situação ocorre, o nível de ataque é muito alto, e vai acabar por ser perseguido por outras abelhas que o impedirão
de livrar-se da máscara.
O melhor mesmo é ter muito cuidado ao colocar a máscara, ou usar máscaras integradas ao macacão, que
impedem a entrada de abelhas.

4.7 Como se proteger contra enxames muito agressivos?


Enxames hiperagressivos podem ser um problema sério. Felizmente, eles não costumam existir em grande
número no apiário. Para começar, deixe a sua manipulação para o fim. Para que a resposta agressiva não
atrapalhe o maneio das demais colónias. Tente fazer um maneio rápido, aplicando mais fumo do que
habitualmente. Se possível, evite dias sombrios, húmidos ou ventosos.
Por baixo do macacão, use algo grosso. Use meias duplas e recubra-as o máximo possível com as extremidades
do abrigo e do macacão. Não deixe frestas junto às luvas e às máscaras. Deixe qualquer equipamento furado ou
descosturado em casa.
Alguns apicultores recomendam o uso de macacões de nylon nessas circunstâncias. O nylon é fino e não dá uma
boa Protecção, mas as abelhas têm dificuldade em ferrar por não conseguirem se agarrar bem à roupa. Com isso,
muitas que morreriam ao ferrar um macacão de algodão acabam por salvar-se.
4.8 O fumo desnorteia as abelhas?
Não, ela inibe a percepção das feromonas de alarme que são libertadas pelas abelhas quando elas se sentem
ameaçadas. O fumo desencadeia na colmeia um comportamento de preparação para abandono, que faz com que
muitas abelhas se encham de mel, ao invés de assumir uma posição de defesa à ameaça.Assim, uma abelha
cheia de mel tem também mais dificuldade em flexionar o abdómen para ferrar.

4.9 Como usar o fumo?


Há duas abordagens.Uma é usar o mínimo indispensável. Por isso, deve estar sempre com o fumigador à mão e
usá-lo frequentemente, com pequenas fumigadas. Não há dúvida que dá mais trabalho, especialmente quando se
trabalha sozinho, mas as abelhas e os consumidores do seu mel agradecem. A outra abordagem é o oposto:
aplicar bastante fumo. Com isso, inibe-se de uma vez quase toda a capacidade de resposta agressiva da colmeia.
Esse método é frequentemente usado por quem possui um número grande de colmeias e não pode perder muito
tempo em cada uma delas.

4.10 Por que a fumo é indesejável?


A fumo causa um transtorno geral na colmeia, atrapalhando todas as actividades. A volta à normalidade na
colmeia pode levar horas. Além disso, ela impregna todo o interior da colmeia, inclusive o mel que será colhido
pelo apicultor. Se consome mel habitualmente, com certeza já provou mel com gosto de fumo. Ele foi extraído por
um apicultor que usou fumo demais quando havia mel não operculado na colmeia. Mas o mau sabor não é o pior
da história. A fumo proveniente da queima incompleta dos restos vegetais, que é o que ocorre no fumigador, é
composto por uma quantidade muito grande de substâncias químicas tóxicas e cancerígenas Hidrocarbonetos,
como metano, propano e octano, cetonas, álcoois, aldeídos, ácidos, entre outros, são produzidos no fumigador, e
parte deles é expelida junto com o vapor de água, as cinzas e o alcatrão que também compõem a fumo [FIS02].
Para resumir: fumo é sujeira, evite tanto quanto possível.

4.11 Quanto tempo devo esperar para abrir a caixa após pôr fumo?
A minha recomendação é fumigar três ou quatro vezes peloentrada, deslocar-se para trás da colmeia, levantar a
tampa e, a partir daí, usar o fumigador apenas quando necessário e apenas com intensidade suficiente. Deve-se
ter cuidado especial quando há alças com mel desoperculado, para não o contaminar. Obviamente, há condições
de excepção que precisam ser tratadas de forma especial. Enxames excessivamente agressivos não podem ser
controlados com pouco fumo. Em dias sombrios, a concentração de abelhas nas colmeias é maior, e a
agressividade geralmente também. A presença de vento dissipa muito rapidamente o fumo e, consequentemente,
os seus efeitos. Nesses casos, um volume maior de fumo e o seu uso com maior frequência é inevitável.
Da mesma forma, enxames pequenos podem muitas vezes ser manipulados sem fumo nenhum, ou com
quantidade absolutamente mínima. Por isso, nunca trate da mesma forma seus enxames diferentes.

4.12 Como posso livrar-me das abelhas que me perseguem?


Dentro do apiário, não é possível, você apenas deve manejá-las o mais suavemente possível para manter a
resposta agressiva no nível mais baixo que puder. Fora do apiário, há um método que funciona muito bem:
atravesse um mato fechado em zig-zag. Às vezes, uma ou duas entradas e saídas num mato já despista quase
todas as abelhas perseguidoras. Prevendo isso, você pode já deixar caminhos irregulares prontos para uso.

4.13 O que fazer quando eu levar uma ferrada?


O ferrão deve ser raspado rapidamente, com a ponta do formão. Depois, se for possível, limpe ou cubra a região,
para que não provoque outras ferradas. Se a ferrada atingir a pele através da roupa, veja se o ferrão ficou preso e
remova-o. Em seguida, aplique um pouco de fumo no local, para disfarçar a feromona.

4.14 Por que devo retirar o ferrão rapidamente e sem usar os dedos?
Porque junto com o ferrão, normalmente é deixado também o saco de veneno. Quando isso ocorre, o veneno
continua a ser injectado por algum tempo e quanto mais rápida for a sua retirada, melhor. O método de remoção
não tem nenhuma influência. A explicação para isso é que o veneno continua a ser bombeado após a deposição
do ferrão, mas é um sistema de válvulas que controla o fluxo e não contracções do saco (cujas paredes nem
sequer possuem músculos) ou a sua compressão. Resumindo, quando for ferrado, retire o ferrão o mais rápido
possível, do maneira que der.

4.15 Como é que alguns apicultores trabalham sem Protecção?


Com o tempo e a experiência, é possível dispensar alguma Protecção, especialmente as luvas. Muitos apicultores
profissionais, que trabalham com muitas colmeias, acabam habituando-se às ferradas e preferem evitar o uso das
luvas, que sempre atrapalham um pouco. Num maneio simples, em dia favorável, você pode fazer uma
experiência e ver como se sente.
Em nenhuma hipótese, porém, trabalhe sem a máscara. O pescoço e o rosto são áreas muito sensíveis, e não
vale a pena correr o risco.
5. Prática Básica

5.1 Quais são as principais ferramentas do apicultor?


Na hora do maneio, as ferramentas essenciais são o fumigador, o formão e a escova de sacudir.

5.2 Como é o fumigador?


É um cilindro metálico - a fornalha, acoplado a um fole.

5.3 Qual é o combustível ideal para o fumigador?


O melhor é usar apenas restos vegetais bem secos, como palha, restos de aplainamento de tábuas, Cuidado para
não usar restos de compensados ou aglomerados, inclusive MDF, pois eles são produzidos com colas que, ao
queimarem, podem produzir fumo ainda mais tóxico do que o normal.

5.4 Como acender o fumigador?


Se o combustível estiver bem seco, não haverá problema. Coloque um pouco no fundo da fornalha e acenda com
fósforo, ou, melhor ainda, com um daqueles acendedores a gás para fogões. Espere até formar algumas brasas,
ajude um pouco com o fole. Depois vá colocando mais combustível, pouco a pouco, e accionando o fole até que
uma fumo branco, espessa e frio saia pela boca do fumigador. Recarregue-o com mais combustível sempre que a
fumo começar a escurecer um pouco ou sair acompanhada de fagulhas. Deve colocar algumas ervas ou folhas
mais verdes no cimo para arrefecer um pouco o fumo.
Se o combustível estiver um pouco húmido, uma pequena dose de álcool em gel resolverá o problema.

5.5 E como reacender o fumigador?


Se sobrar combustível na fornalha de um dia para outro, não tente acender o fumigador por cima, pois o resultado
sempre será mau. Se o combustível velho estiver muito carbonizado, deite-o fora. Se ainda houver uma boa
porção não queimada, despeje-o numa folha de jornal, inicie o fogo do fundo e recoloque-o aos poucos na
fornalha. Depois, complete o nível com combustível novo.

5.6 Para que serve o formão?


As abelhas tendem a propolisar todas as frestas estreitas da colmeia, a acabam assim por colar todas as partes
móveis da colmeia. Por essa razão, a ferramenta mais importante do apicultor é o formão, uma barra chata de aço,
dobrada em L, com as extremidades levemente afiadas (mas não cortantes). Esse formão é usado sempre como
alavanca, para levantar a tampa, separar os quadros e descolar as caixas. Também é muito útil para raspar restos
de cera e de própolis.

5.7 Como é a escova?


A escova, apesar do nome, parece-se mais com um grande pente, porque possui apenas uma fileira de cerdas.
Essas cerdas devem ser bem macias, para removerem as abelhas sem as magoar ou danificar os favos. Também
é importante que as cerdas sejam de cor clara, menos irritantes para as abelhas.

5.8 Há outras ferramentas úteis para o maneio? [4]


Uma lâmina afiada (faca, canivete ou estilete) é imprescindível no dia-a-dia do apicultor.
Um acendedor para o fumigador é necessário. Podem ser fósforos ou isqueiro, mas o melhor é um acendedor a
gás para fogões, daqueles com uma haste comprida.
Um rolo de fita adesiva larga, de empacotar, é de enorme utilidade para vedar provisoriamente algumas frestas e
fixar alguns componentes.
Uma outra ferramenta, de alguma utilidade, é o alicate levantador de quadros. Trata-se de uma espécie de alicate
duplo, usado para retirar e segurar os quadros que serão examinados, com mínimo risco de danificar o favo ou
machucar as abelhas. Outras ferramentas podem ser importantes, mas de uso muito eventual, como alicate,
martelo, arame, pregos.

5.9 Como fazer para não perder essas ferramentas?


Nada mais fácil do que perder essas ferramentas num apiário. Para evitar isso, faça o seguinte: vá a uma casa de
ferragens e compre dois rolos de fita isolante, um vermelho e outro amarelo. Coloque uma ou duas fitas de cada
cor em volta das suas ferramentas e nunca mais você as perderá.
5.10 Com que frequência devo examinar as colmeias?
Depende da época e do tipo de maneio. Uma inspecção rápida pode ser feita a cada semana (ou duas, ou três),
mas talvez não haja nenhum problema se esperar um mês ou mais. Revisões completas podem ser feitas cerca de
2 a 4 vezes por ano.
Se quiser usar alimentação estimulante antes da floração, o ideal será fornecê-la com grande frequência - dia
sim, dia não, por exemplo. Se isso não for possível, procure fornecer uma quantidade maior de xarope em
alimentadores lentos.
Durante a colheita, há duas abordagens antagónicas. A primeira é verificar a colmeia frequentemente para tentar
conter alguma enxameação. No entanto, o controle de enxameação não é nada trivial nem 100% garantido, e
muito melhor é fazer-se uma prevenção adequada.
A segunda abordagem, é mexer o mínimo possível na colmeia, abrindo-a poucas vezes e rapidamente, apenas
para verificar a acumulação de mel e colocar ou retirar alças. Isso evita perturbações que podem até significar
perda de mel.
De qualquer forma, independentemente da abordagem adoptada, é importante que as colmeias não sejam
abertas com temperatura ambiente muito baixa, da ordem de 10 ºC ou menos. Caso contrário, muita criação
poderá morrer.

5.11 Como é feita uma revisão completa?


Primeiro, ponha fumo e abra a colmeia. Se houver alças, avalie o seu conteúdo retirando um ou dois quadros.
Com o tempo, bastará dar uma olhada superficial e suspendê-la, para estimar bem a quantidade de mel
armazenado. Verifique se há postura na alça. Faça o mesmo com todas as alças e vá retirando-as até chegar ao
ninho, usando um pouco de fumo sempre que necessário. Se houver mel desoperculado, use o fumo lentamente,
dirigindo-a apenas para o topo dos quadros. Se estiver vento, p direccional a fumo para o lado da colmeia que
estiver recebendo o vento, directamente na parede. A fumo vai subir e apenas lamber a parte superior dos
quadros. No ninho, retire cada um dos quadros e examine-os. com o tempo, será capaz de seleccionar apenas
alguns quadros bem representativos da situação do ninho, abreviando esse trabalho. No início, ajuda bastante
remover o quadro mais vazio de uma das extremidades e pô-lo de lado, para ampliar o espaço de trabalho. Em
seguida, faça as verificações e correcções necessárias, recoloque todos os quadros, de preferência com a mesma
orientação frente-fundo original, e recoloque as alças, usando um pouco de fumo para esmagar o mínimo de
abelhas possível.
Numa revisão de rotina, verificam-se diversos pontos:
 O enxame está bem desenvolvido para a época?
 Há reservas de mel suficientes até a próxima revisão?
 O tamanho da entrada é compatível com a temperatura média da estação e com o movimento de entrada e
saída das abelhas?
 A rainha está presente e a postura é adequada?
 Há alvéolos reais?
 As criação estão a desenvolver-se bem?
 Há espaço suficiente para aumentar a postura?
 Há espaço suficiente para armazenar mais mel?
 Há sinal de doença na colmeia?
 Há sinal de ataque de formigas, traças ou outros animais?
 Há favos velhos ou quadros danificados a serem substituídos?
 Há humidade condensada na colmeia?
 Há sinais de excesso de calor dentro da colmeia?

5.12 As colmeias mais fortes devem ser examinadas primeiro?


Não. Em apicultura, muitas vezes a ideia de se fazer primeiro o trabalho mais complicado é impraticável. A razão
disso é que mexer primeiro na colmeia mais difícil pode significar problemas para o maneio de todas as outras.
Isso acontece especialmente em dias desfavoráveis para o maneio, como os nublados, húmidos e ventosos.
Fazendo sempre as revisões mais simples primeiro garante que, se tiver de interromper o trabalho, uma boa parte
dele talvez já esteja concluída.

5.13 Por que pode ser necessário interromper o trabalho?


Uma possibilidade é começar a chover. Outra é que a agitação e a agressividade das abelhas podem atingir um
nível alto demais, atrapalhando muito o maneio e causando um número alto de ferradas, além de saque
generalizado e mortandade de abelhas. Isso não é comum, mas é bom acostumar-se com a ideia de que o
apicultor nem sempre consegue fazer no apiário tudo o que foi planeado, especialmente quando a sua experiência
ainda não muito grande.
5.14 Onde ponho as caixas que vão sendo retiradas?
Quando se retira uma caixa da colmeia, muitas abelhas que estavam ali saem (caminhando) para fazer uma
investigação do que houve. Quando essa caixa é posta directamente no solo, as abelhas que saem podem ser
pisadas pelo apicultor, atacadas por predadores ou, na melhor das hipóteses, demorar muito para retornar à casa,
já que muitas delas são jovens que nunca voaram.
Deve apoiar a caixa sobre a tampa, previamente largada no solo. A caixa pode ficar apoiada numa lateral menor,
isto é, de tal forma que os quadros fiquem em sentido vertical ("de pé"). Fica melhor ainda se um canto dessa
lateral ficar sobre um ressalto da tampa. Essa posição é confortável para o apicultor, evita que muitas abelhas
saiam da caixa, evita que o mel escorra e evita que os quadros se inclinem, o que acontece quando a caixa é
apoiada numa das laterais maiores.
Após recolocar as caixas, basta varrer as abelhas que estão sobre a tampa para dentro da colmeia, e a perda de
abelhas é mínima.

5.15 Como retirar e examinar os quadros?


Se houver muitas abelhas sobre ele, ponha um pouco de fumo para elas se afastarem. Depois, descole as laterais
do quadro, usando o formão como alavanca. Fica mais fácil se um quadro da extremidade tiver sido retirado antes.
A seguir, suspenda um canto do quadro com o formão e segure esse canto com os dedos ou o quadro inteiro com
o sacador de quadros. Depois solte o outro canto com o formão e retire o quadro.
Se houver muitas abelhas sobre o favo, e você precisar ter uma visão melhor, remova o excesso com um leve
chacoalhar, bem acima do ninho. Se precisar remover quase todas as abelhas, use seguinte manobra: segure o
quadro por um canto com uma das mãos e, com a outra mão, dê um golpe seco, de cima para baixo, na mão que
está a segurar o quadro. Dependendo da força que usar, poderão se desprender as abelhas, os ovos, as larvas e
o néctar; muito cuidado, portanto.
Em seguida, segure o quadro pelos cantos e analise a face do favo que está voltada para si. Se estiver de costas
para o sol, o quadro ficará mais bem iluminado. Para analisar a face oposta, vire-o de cabeça para baixo, girando-
o com os dedos das duas mãos. Tenha cuidado para não expor as criação muito tempo ao sol (mais de alguns
poucos segundos), pois elas são extremamente sensíveis.
Tenha muito cuidado também ao recolocar o quadro, para não esmagar outras abelhas e, principalmente, a
rainha.
Quando terminar de recolocar todos os quadros, aperte-os em direcção a uma das extremidades, para que sobre
o mínimo de folga entre eles, dificultando a propolisação das suas laterais.

5.16 Como saber se o enxame está bem desenvolvido?


Principalmente, por comparação com os demais. Mas a experiência ajuda muito.

5.17 Como saber se há mel suficiente até a próxima revisão?


Depende da temperatura média da época, do fluxo de néctar existente ou por iniciar, de quando será a próxima
revisão e do tamanho do enxame. É um ponto em que a experiência do apicultor é muito importante para um bom
julgamento.
Se as abelhas estiverem a colher néctar, esse dado não é tão importante. Na dúvida, alimente sempre a colmeia.

5.18 Quais são os sinais de excesso de calor na colmeia?


Um indício forte de excesso de calor é o agrupamento de abelhas do lado de fora, formando uma "barba". Embora
seja às vezes entendido (correctamente) como prenúncio de enxameação, o mais provável é que as abelhas não
estejam a conseguir arrefecer o interior da colmeia quando todas estão lá dentro. Para resolver esse problema
emergencialmente, podem coloca-se pequenos calços sob a tampa. Para resolvê-lo melhor, pode-se adoptar um
telhado maior, de cor clara, ou mover a colmeia para um local mais sombreado.

5.19 Por que os favos de cria devem ser substituídos periodicamente?


Há duas razões principais: Uma é evitar que o favo velho se transforme num veículo de contaminação, já que ele é
sistematicamente exposto a dejectos das larvas. A outra é impedir que o estreitamente natural do alvéolo,
provocado pelos restos de sucessivos encasulamentos, acabe influindo no desenvolvimento das criação,
resultando em adultos menores.

5.20 Quando se devem trocar as ceras?


A fórmula mais simples é substituir, numa das revisões anuais, aqueles que estiverem totalmente escuros, de
forma que não se possa ver a luz do sol através dos alvéolos.
Outra recomendação comum é trocar-se cerca de 1/3 dos quadros por ano, o que daria, em média, uma vida útil
de 3 anos por favo.
5.21 Quando devem ser colocadas as alças?
No início da colheita, quando a movimentação começar a crescer. Nesse momento, interrompa a alimentação
energética e, se houver quadros do ninho com "mel" feito a partir do xarope, remova-os, se o mel estiver
operculado, ele pode bloquear o ninho, impedindo que a rainha aumente sua postura.

5.22 É melhor fazer o maneio de dia ou à noite?


Isso é uma preferência bastante pessoal do apicultor. Acredito que a maioria prefira trabalhar à luz do dia, mas há
alguns que não concordam. Quem trabalha à noite afirma que é mais fácil o maneio dos enxames muito
agressivos, pois as abelhas voam muito pouco. O maneio à noite dificulta muito a inspecção visual, aumenta o
risco de acidentes e causa muito mais mortes de abelhas, pois elas tendem a cobrir a caixa e os favos, numa
atitude de defesa passiva (elas param com o ferrão voltado para cima, de modo a evitar o contacto do "atacante"
com a colmeia).
O fumo também parece ser muito menos eficaz à noite. Elas não retornam rapidamente à colmeia quando
fumigadas, e permanecem cobrindo o topo dos quadros e as paredes das caixas. Por esta razão, a quantidade de
abelhas esmagadas na reposição das caixas também é muito maior. As que voam até o apicultor agarram-se
firmemente às suas vestes, todas a tentar ferrar, e só podem ser removidas com a escova.
Uma vantagem é que o trabalho à noite é quase sempre mais fresco do que durante o dia.

5.23 Por que as abelhas voam pouco à noite?


Na verdade, elas voam se houver luz visível. O que os apicultores fazem é usar luz vermelha, que não é visível
para as abelhas. Para isso, usam qualquer fonte de luz comum, como uma lanterna, e cobrem-na com papel
celofane vermelho ou algo similar. Nessas condições, os objectos iluminados por essa luz não são bem visíveis
para as abelhas, especialmente se a lua for nova ou estiver encoberta. Mesmo assim, elas conseguem fazer
alguns voos curtos e chegar ao apicultor, que, por essa razão, não pode prescindir do seu equipamento de
Protecção.
6. Alimentação

6.1 Como deve ser alimentada a colmeia?


Há dúzias de fórmulas, das mais simples às mais sofisticadas. Também há diversas formas de fornecer o alimento.

6.2 O que é alimentação artificial?


Alimentação artificial é o fornecimento de substâncias nutritivas para as abelhas. A alimentação pode ser de
subsistência, quando não houver provisões suficientes na colmeia para garantir a sua manutenção, ou estimulante,
para induzir o crescimento da colmeia antes da floração. Além disso, a alimentação artificial pode ser proteica
(para substituir o pólen) ou energética (para substituir o mel).

6.3 Quando deve ser fornecida a alimentação de subsistência?


Quando não houver reservas suficientes até a próxima floração. Ela normalmente não é necessária quando o
apicultor deixa uma boa quantidade de mel para as abelhas, mas isso nem sempre é feito, já que,
economicamente, o mel vale muito mais que o açúcar. Além disso, há méis de cristalização rápida que não podem
ser deixados na colmeia, especialmente em climas frios, sob pena de as abelhas não conseguirem consumi-lo
mais tarde.
Após a colheita, o é um bom momento para fornecer a alimentação de subsistência. Uma possibilidade
interessante é adiar um pouco o fornecimento, até que o enxame se reduza naturalmente, inclusive com a
expulsão dos zangãos. Nesse momento o xarope pode ser fornecido em quantidade grande o suficiente. Ou, ao
contrário, essa alimentação pode ser fornecida aos poucos, de acordo com a percepção do apicultor.
O fornecimento de uma só vez reduz o trabalho, mas aumenta o risco de perda de alimento por deterioração, caso
as abelhas não o aceitem ou demorem muito a recolhê-lo. Enxames pequenos, especialmente, têm dificuldade em
esvaziar os alimentadores grandes.

6.4 Como é a alimentação energética de subsistência?


O xarope (substituto do mel) deve ser mais concentrado do que na alimentação estimulante, para que as abelhas
não precisem gastar muita energia na sua desidratação.
Como xarope, arecomenda-se uma mistura de açúcar refinado comum em água, num proporção alta. Isso
significa 2 kg de açúcar em 1 l de água, ou um xarope com concentração de açúcar de 67%. Aquecer a água
facilita bastante a mistura.
Outra proporção interessante é 1,5:1 (açúcar:água). Pode ser obtida enchendo um recipiente até a metade com
água e completando-se com açúcar. Produz um xarope com concentração de 60% de açúcar.
Outros recomendam o uso de açúcar invertido. Outros ainda, especialmente quem produz mel orgânico,
recomendam apenas o fornecimento de mel.

6.5 A alimentação de subsistência não pode ser sólida?


Pode fornecer candy às abelhas. Existem boas opções, com os açucares desdobrados em glicose, maltose,
dextrose, etc, sendo a melhor opção não tendo de dissolver o alimento antes de consumi-lo (num período frio isso
pode ser muito difícil).
Uma alimentação pastosa, mista, energético-protéica, é uma alternativa possível.

6.6 O que é candy mel?


É uma mistura de açúcar com mel. Para prepará-lo, peque uma porção de açúcar em pó e vá acrescentando mel e
amassando até formar uma massa flexível, que seja o mais seca possível, sem se esfarelar. É um de tipo alimento
muito usado em transporte e introdução de rainhas.

6.7 Quando deve ser fornecida a alimentação estimulante?


Cerca de sessenta dias antes da floração intensa.
Uma consideração importante sobre a alimentação estimulante é que ela deve simular um fluxo de néctar
na colmeia e, portanto, deve ser fornecida frequentemente. Nesse aspecto, as recomendações mais
comuns para alimentadores rápidos vão de três a sete vezes por semana. Para alimentadores lentos, o
fornecimento semanal ou ainda mais espaçado pode ser suficiente.

6.8 Quanto deve fornecer de alimentação estimulante?


Depende do tamanho do enxame. Cerca de 800 ml em dias alternados já dão uma resposta boa, mas o melhor é
observar a acumulação do xarope, permitindo-a, mas não em excesso. Se essa acumulação for muito grande,
vários quadros do ninho ficarão cheios de xarope, e a rainha não poderá fazer a postura. Essa é uma situação
chamada de bloqueio do ninho, e leva a colmeia, quase certamente, à enxameação.
Uma alternativa provavelmente melhor é alimentar as abelhas liberalmente, removendo os favos repletos de
xarope sempre que necessário. Com isso, o espaço para a rainha estará garantido, ao mesmo tempo que o
estímulo é máximo.
6.9 Como evitar o bloqueio do ninho?
Os quadros cheios de xarope devem ser removidos e substituídos por outros com favos vazios (em bom estado)
ou lâminas de cera alveolada. Os favos com xarope podem ser distribuídos às colmeias fracas, ou centrifugados,
para que o seu conteúdo possa ser devolvido à colmeia sob forma de mais alimento estimulante.

Uma alternativa possível, mas bem menos interessante, é deixar os favos por um dia a cerca de 100-200 metros
do apiário, para que o xarope neles armazenado volte a simular néctar para todas as colmeias. Nesse caso, não
apenas as suas colmeias, mas todas as da região serão beneficiadas.

6.10 Como é a alimentação estimulante?


O xarope deve ser menos concentrado do que na alimentação de subsistência, para simular o néctar, que possui,
em média, uns 30-35% de açúcar.
Para obter um xarope com aproximadamente 35% de açúcar, faça uma mistura na proporção de 4:7,5, por
exemplo, 4 kg de açúcar em 7,5 l de água. Isso dá 11,5 kg de xarope, que ocupam uns 10 litros. Como a mistura é
pouco saturada, ela pode ser feita facilmente com água fria e um pouco de agitação.
Da mesma forma que na alimentação de subsistência, há quem recomende o uso de açúcar invertido ou mel,
mais diluídos.

6.12 O que é açúcar invertido?


É um açúcar comum, sacarose, quebrado ("invertido") em açúcares mais simples, a frutose e a glicose.
Por outro lado, o açúcar invertido é mais resistente à fermentação que a solução de sacarose, e pode ser
administrado em volumes maiores sem que se estrague antes de as abelhas poderem colhê-lo.

6.13 O que HMF?


É uma sigla que corresponde a hidroximetilfurfural, uma substância produzida pela desidratação da frutose em
meio ácido, numa velocidade que varia directamente com a temperatura. O mel (e muitos outros produtos
comestíveis) possui HMF, e o seu nível elevado é um indicativo de superaquecimento (cada 10ºC a mais aumenta
a velocidade de produção de HMF 4,5 vezes), longo armazenamento ou falsificação.

6.14 Mel velho pode ser usado na alimentação artificial?


Depende. Se ele for armazenado em temperaturas baixas, o nível de HMF deve permanecer baixo; caso contrário,
o mel velho pode até matar o enxame, alé, de que pode ser proveniente de colmeias doentes, podendo inclusive
transmitir essas doenças ao enxame que está a alimentar. Na dúvida, não o utilize.

6.15 Como resolver o problema de fermentação do xarope?


De duas formas: a primeira, quimicamente, acrescentando um conservante de alimentos. Por exemplo, sorbato de
potássio (1 grama por litro de xarope) ou benzoato de sódio (1,5 gramas por litro de xarope). O açúcar invertido
também é menos propenso à fermentação.
A segunda forma é deixar que as próprias abelhas cuidem disso, tal como cuidam do néctar. Para tal, é preciso
fornecer quantidades modestas de xarope de cada vez, em alimentadores individuais rápidos.

6.16 Deve-se acrescentar sal ao xarope?


Se a quantidade de sal for grande, o xarope poderá matar o enxame. Por exemplo, uma proporção de apenas
0,125% (ou seja, 14 mg de sal em 10 litros de xarope a 30%) já pode causar disenteria e mortalidade nas abelhas
[BAR77].

6.17 Como se fornece o xarope?


Há vários tipos de alimentadores, colectivos e individuais. Os colectivos facilitam o fornecimento, mas provocam
lutas e até pilhagens entre as colmeias, se o alimentador não estiver a uma distância razoável do apiário. Também
fornecem alimento a todos os insectos da região, além das suas abelhas. Como se não bastasse, os enxames
fortes, que não precisariam de alimentação, serão os que colheitarão mais xarope, em detrimento dos menores. Já
os alimentadores individuais atendem uma única colmeia cada um, e são muito mais eficientes. Eles podem ser
externos ou internos.
6.18 Porque é que os alimentadores colectivos provocam pilhagem?
Quando uma fonte de alimento é encontrada nas proximidades das colmeias, especialmente em época de
carência, há uma boa probabilidade de as abelhas começarem a pilhar umas às outras. A provável razão disso é
que recursos muito próximos da colmeia são comunicados através de uma dança circular, que não informa
distância e direcção [WIN03]. As abelhas que assistem à dança saem depois para fazer uma pesquisa nas
imediações da colmeia, e pode ocorrer de algumas acharem uma colmeia vizinha bem provida antes da fonte de
alimento comunicada.
Em pouco tempo, principalmente em apiários com colmeias próximas, muitas delas, às vezes todas, tornam-se
saqueadas e saqueadoras. Para o apicultor, é uma situação completamente indesejável, pois leva a morte de
muitas abelhas, e até talvez de algum enxame mais fraco. No caso do alimentador colectivo, depois de algum
tempo, dependendo da resistência nas colmeias, ele pode acabar sendo conhecido por todas as obreiras, e a
pilhagem acabará.
.

6.19 Como são os alimentadores individuais externos?


São, em geral, menores e mais sujeitos a saque, por ficarem mais expostos, mas são mais fáceis de fornecer às
abelhas, pois não exigem a abertura da colmeia.

6.20 Como são os alimentadores internos?


Há dois tipos principais. Um é o Doolittle, um cocho estreito, que substitui um quadro da colmeia. Não é muito
prático porque a sua colocação envolve manipulação do ninho, o que, além de trabalhoso, pode ser prejudicial às
abelhas quando a temperatura é muito baixa.
O outro modelo é o de cobertura. É um recipiente de mesmas dimensões que as caixas, apenas mais baixo, e é
colocado sobre elas. As abelhas entram no alimentador para remover o xarope por dentro da colmeia, o que não
dá muita margem a saques. É um alimentador rápido pela sua construção, mas que geralmente aceita volumes
grandes de xarope, que pode fermentar se não for quimicamente tratado. Também é um alimentador que,
frequentemente, não chama a atenção das abelhas e pode ser rejeitado. Dependendo da sua construção, também
pode provocar grande mortandade por afogamento.

6.21 Quando deve ser fornecida a alimentação proteica?


Em relação à alimentação proteica (substituição do pólen), geralmente não se diferencia subsistência de estímulo,
excepto em relação à quantidade fornecida. Entre colheitas, o consumo proteico normalmente é menor, pois pouca
ou nenhuma criação está a ser gerada. No entanto, quando o enxame começa a desenvolver-se, por estímulo
artificial ou natural, a escassez de pólen pode ser um factor limitante, causando um grande atraso no aumento
populacional. Se não houver fonte de proteína disponível, nenhum tipo de estimulação à base de xarope
funcionará, pois as abelhas jovens não terão como produzir as substâncias nutritivas para alimentar as criação e a
rainha.

6.22 Como é a alimentação proteica? [4]


Diversas fórmulas já foram testadas, com misturas em proporções variadas de farinha de soja, de milho e de trigo,
levedo de cerveja, pólen, leite em pó. Actualmente, há duas fórmulas populares disponíveis comercialmente – em
forma de farinha e em forma de pasta.

6.23 Comoé fornecida a alimentação proteica? [4]


Em alimentadores internos ou colectivos. Os internos devem ser de cobertura, de forma que o produto fique o mais
próximo possível das criação. Ração em pasta pode ser fornecida em saco plástico aberto (uma janela grande, na
face superior do saco) e deve ser deixado próximo à área de cria, directamente sobre os quadros do ninho ou logo
abaixo deles.
Um detalhe importante é que, se o alimento em pasta for posto longe dos quadros de criação (num alimentador de
cobertura, por exemplo), há uma boa probabilidade de as abelhas o rejeitarem. Já a farinha pode ser fornecida
também num alimentador colectivo.
7. Enxames e Rainhas

7.1 Como se movimenta uma colmeia para um lugar próximo?


Este pode ser um problema mais complicado do que parece à primeira vista. Acontece que as abelhas obreiras
memorizam a localização da sua colmeia, e quando ela é movida, as abelhas não aprendem imediatamente a
nova localização. Como resultado, muitas obreiras (talvez a grande maioria), ao saírem da colmeia recém movida,
acabam por voltar ao local original e perdem-se.

Para evitar esse problema, há duas soluções eficazes: mover a colmeia para longe, esperar duas semanas, e
movê-la de volta ao local definitivo. Durante esse tempo, pelo menos a maioria das obreiras já morreu ou
esqueceu os seus pontos de referência, e não voltará ao local original.

Outra solução é mover a colmeia cerca de um metro de cada vez, com a frequência possível para o apicultor (1, 2,
3 vezes por semana, etc.) Com isso, as abelhas nunca chegam a perder-se, pois conseguem identificar sem
problemas a sua colmeia, se ela estiver muito próxima do local original. Para usar esse método, um cavalete móvel
é muito útil.
Uma outra solução recomendada por alguns é garantir a ventilação da colmeia com uma prancheta, e fechar
completamente a entrada com palha ou serragem molhada, para que as abelhas percebam a mudança.
Quando a colmeia a ser movida para um local próximo tiver sido ocupada recentemente por um enxame, haverá
dois momentos bons para movê-la directamente para o local definitivo – na primeira noite e por volta do 30º dia.

7.2 O que fazer com as obreiras que voltam ao local de origem?


Quando não há alternativa para a movimentação curta de uma colmeia, pode-se tentar um reaproveitamento das
obreiras perdidas. Para isso, é preciso recolhê-las para um núcleo durante o dia e sacudi-las à tardinha na
colmeia deslocada. Há relatos de apicultores que repetiram esse procedimento por poucos vezes, e as obreiras
não retornaram mais ao local original.

7.3 A partir de que distância as abelhas não voltam mais ao local original?
Considerando-se a distância de voo útil de 1,5 km, o transporte da colmeia para além de 3 km não deve produzir
um retorno significativo de obreiras.

7.4 Como se movimenta uma colmeia para um lugar distante?


Distâncias grandes, que requerem o uso de um veículo, exigem a fixação das partes móveis da colmeia e uma boa
ventilação para as abelhas. A fixação pode ser feita com chapas de fixação, de forma que nenhuma caixa, fundo
ou tampa deslize sobre os demais. As alças devem ser removidas, especialmente se tiverem mel, pois este pode
entornar e afogar as abelhas.
A colmeia deve ser fechada para transporte no momento em que o mínimo de obreiras estiver fora. Isso pode se
dar ao anoitecer.
As colmeias não podem ficar em ambiente quente demais. O vento, durante o deslocamento, também pode matar
a criação e até as adultas. Quadros com muito mel podem partir-se e causar o afogamento das abelhas. Muita
vibração e quadros soltos podem causar o seu esmagamento.
Como os movimentos horizontais mais bruscos e frequentes ocorrem na direcção do deslocamento, por
acelerações e travagens, recomenda-se que as colmeias sejam alinhadas da mesma forma; o lado mais comprido
das colmeias deve ficar paralelo à lateral, com a entrada voltada para a frente ou para os fundos do veículo. Dessa
forma, os favos dificilmente sofrerão o movimento de pêndulo, que pode ser fatal para muitas abelhas e para a
rainha.

7.5 Como se faz a divisão de um enxame?


Há várias técnicas. A ideia básica é, a partir de uma colmeia, formar duas ou três menores. Um critério possível é
o do equilíbrio das colmeias resultantes, que é obtido pela divisão aproximadamente justa das quantidades de
criação, pólen e obreiras. Os quadros são separados de acordo com o seu conteúdo e postos noutras caixas. As
novas colmeias são depois completadas com outros quadros, com lâminas de cera, favos vazios ou favos com
criação, mel ou pólen de outras colmeias. As suas entradas devem ser diminuídos ao máximo.
Se uma das colmeias for movida para um local próximo, ela deverá ficar com o mínimo de mel possível, dando
preferência ao que estiver operculado. Isso vai diminuir a possibilidade de saque pelas ex-companheiras. Após
alguns dias, essa colmeia (e a outra também, se necessário) deve receber alimentação, em alimentador interno ou
externo de consumo rápido. Para dificultar a pilhagem, o xarope deve ser fornecido à noite e em pequenas
quantidades. Alimentação proteica também é muito importante nessa fase.
7.6 O que fazer com a rainha numa divisão?
Uma prática recomendável é capturar a rainha antes de se proceder à divisão, tanto para protegê-la quanto para
reintroduzi-la numa colmeia certa. Quando o enxame é muito grande e a identificação da rainha é muito difícil,
pode-se usar o seguinte método para dividir uma colmeia em duas:
1. Se houver alças, deve-se removê-las, cuidando para que a rainha não esteja nelas. Deixá-las fechadas por
enquanto;
2. Tirar metade os quadros do ninho original e transportá-los, sem abelhas, para o novo ninho;
3. Completar os dois ninhos com novos quadros;
4. Pôr uma prancheta excluidora sobre o ninho original e o ninho novo sobre a prancheta excluidora;
5. Fechar a colmeia e aguardar algum tempo (30 minutos).
6. Remover o ninho superior e formar com ele a nova colmeia (está será a colmeia sem rainha).
7. Redistribuir as alças e mover a nova colmeia ao seu local de destino. Cuidado neste ponto: o enxame movido
pode tornar-se alvo de pilhagem severa, com as abelhas tentando levar o seu mel de volta ao local de origem.
Uma saída possível é manter as duas colmeias lado a lado, de forma que as obreiras confundam os alvados.
Na nova colmeia, o apicultor pode introduzir uma rainha nova, ou deixá-la com criação e provisões suficientes
para que possa produzir a sua. Caso ele opte pela produção natural de rainha, e se a separação das duas
colmeias resultantes for pequena, a colmeia órfã provavelmente ficará melhor no local original, abastecida por
todas as obreiras. A colmeia com a rainha antiga perderá as obreiras, mas terá capacidade quase imediata de
reposição.

7.7 O que fazer se houver pilhagem entre as colmeias?


Este problema é especialmente grave no final das crestas, quando as populações estão fortes, mas não há mais
néctar para colher. Nesse caso, um simples maneio mais demorado pode levar todas as colmeias a entrarem em
conflito. Isso ocorre porque abelhas de todas as colmeias descobrem as provisões da colmeia vítima e avisam as
suas parceiras. No entanto, como a comunicação das abelhas não é muito precisa, as colegas tentam recolher
qualquer possível fonte de mel nas imediações, o que inclui as colmeias que não haviam sido abertas. Como
resultado, têm-se todas as colmeias tentando saquear quase todas as demais. Eventualmente, as mais fracas
acabam por sucumbir. Uma vez iniciada a pilhagem, pará-la é muito difícil. Quando o enxame é pequeno e as suas
provisões são grandes (pode acontecer com colmeias sem rainha há bastante tempo), a destruição do enxame é
quase certa.
Fechar a colmeia imediatamente e carregá-la para mais de 3 km pode ser a única saída.

7.8 Para que serve uma união de enxames? [3]


Enxames são unidos, principalmente em duas situações: por necessidade, quando um deles está fraco demais ou
perdeu a rainha (e há possibilidade de produzir uma nova), ou para aumento de produção.
Pelo menos em tese, um enxame grande deve produzir mais do que dois médios. A razão disso é que cada
colmeia requer um determinado número de obreiras para trabalhos internos, que não varia muito com o aumento
da população. Numa união, é como se todas as obreiras ocupadas com o trabalho interno de uma das colmeias
fosse libertada para a colheita. É uma quantidade muito significativa: numa colmeia de 15.000 a 30.000 abelhas,
entre 60 e 80% da população (11 a 18 mil indivíduos) cuida dos trabalhos internos. Numa colmeia de 60.000
abelhas essa quantidade se mantém, mas se torna muito menos significativa percentualmente (20 a 30%)
[AMB92].

7.9 Então é melhor unir o máximo possível de enxames?


Em tese sim, mas é preciso ter alguns cuidados. Uma união que resulte num enxame grande demais pode
acarretar dois problemas: dificuldade de maneio para o apicultor e aumento do risco de enxameação (pela
desagregação for falta de feromônio de rainha em quantidade suficiente). Na prática, talvez o melhor seja unir
cada 3 ou 4 enxames pequenos, e cada 2 médios.

7.10 Qual é o melhor momento para fazer-se a união? [3]


Em caso de necessidade, a qualquer momento. Para aumento da produção, o melhor é no início de uma grande
floração. Os enxames muito pequenos às vezes demoram demais a desenvolver-se, mesmo quando bem
alimentados. Provavelmente, a pequena quantidade de obreiras seja um factor limitante para o cuidado e o
aquecimento da cria, impedindo uma postura abundante da rainha, ou inviabilizando o seu desenvolvimento. Isso
acontece muitas vezes com enxames resultantes de divisões de outros; no entanto, enxames capturados (de
enxameações naturais) muitas vezes não apresentam a mesma dificuldade de desenvolvimento, mesmo quando
pequenos. É possível que essa diferença seja explicável pelo facto de que as enxameações naturais priorizam o
abandono das abelhas mais jovens e, portanto, mais aptas a cuidar das criação.
7.11 Como unir os enxames sem diminuir o número de colmeias?
Durante o período de colheita, um apiário menor e mais produtivo é mais vantajoso sob os aspectos de rendimento
e mão-de-obra empregada. No entanto, é importante que o apicultor consiga repor pelo menos o mesmo número
de enxames que foram subtraídos do apiário pelas uniões. Para isso, há duas alternativas. Primeiro, a divisão ao
final da colheita. Todas as colmeias fortes podem ser divididas, de forma a manter a lotação original do apiário.
Nesse momento, podem ser adquiridas boas rainhas para os novos enxames. Por outro lado, divisões de
enxames que não sejam muito grandes podem resultar em frustração. Isso ocorrerá se os enxames resultantes
forem muito pequenos, de modo que possam abandonar a colmeia ou demorarem demais a se recuperar, mesmo
sendo alimentados abundantemente.

7.12 Como se faz uma união?


A união é um procedimento relativamente simples:
 Primeiro, abra a colmeia com a rainha mais antiga ou mais fraca. Se houver alças, ponha-as de lado,
fechadas e com o mínimo de abelhas dentro. Cuidado para a rainha não ficar numa delas.
 Elimine a rainha e feche a colmeia.
 Faça o mesmo em todas as colmeias com rainhas antigas ou fracas.
 Mais para o final da tarde, reabra estas colmeias e cubra-as com uma folha de jornal. Alguns apicultores
preferem usar um sanduíche de jornal e mel, mas eu não vejo vantagem. Pelo contrário, mel com tinta de jornal
não parece muito apropriado para as abelhas.
 Em seguida, sobre cada uma destas colmeias orfanadas, coloque uma colmeia que possui rainha nova, e,
sobre esta, as alças retiradas no início.
 Aguarde uma semana e faça um rearranjo nos ninhos, de forma a deixá-los prontos para a colheita.
Quando o apicultor trabalha rotineiramente com união de enxames, suportes ou cavaletes duplos facilitam muito o
trabalho, já que as colmeias unidas já estarão lado a lado. Além disso, evitam a perda de obreiras, pois as da
colmeia deslocada entrarão automaticamente na colmeia unida.

7.13 O que fazer com um ninho bloqueado por mel?


Algumas vezes, as próprias abelhas tratam de transferir às alças o mel ali armazenado, se houver espaço
disponível e, especialmente, se a rainha não puder usar os favos logo acima do ninho, pela presença de prancheta
excluidora ou favos de mel operculados. Também por essa razão, é importante que o apicultor remova os favos
que estiverem cheios de alimentação artificial no início da colheita, ou ela pode acabar nas alças colocadas
posteriormente.
De qualquer forma, embora não seja aconselhável perturbar as abelhas durante a colheita, o apicultor pode aliviar
o bloqueio por mel de um ninho. Para isso, os favos devem ser removidos, centrifugados e devolvidos à colmeia,
de preferência um a cada 3 dias ou mais. Isso abre espaço para a rainha e é preferível à simples troca de um favo
com mel por um quadro com cera alveolada, pois as abelhas iniciam a deposição de néctar nos alvéolos logo que
eles começam a ser puxados, antes que a rainha possa efectuar a postura. Contrariamente, quando é fornecido
um favo puxado, a rainha pode usá-lo imediatamente, e garantir o seu espaço. Se muitos favos puxados forem
fornecidos de uma só vez, a rainha possivelmente não terá tempo de apossar-se de todos antes que a deposição
de néctar inicie.

7.14 Como reforçar uma colmeia com cria sem uni-la a outra?
É preciso retirar quadros com cria de algumas colmeias e colocá-los na colmeia necessitada. Alguns apicultores,
ao invés de apenas estimular os enxames ou uni-los, adoptam a táctica de manter colmeias criadeiras e colmeias
produtivas. As colmeias produtivas recebem cria das outras, aumentando rapidamente a sua população e, dessa
forma, a sua produtividade.

7.17 Como é uma colmeia criadeira?


É uma colmeia da qual não se obtém nada a não ser criação. Ela deve ter uma boa rainha e receber farta
alimentação energética e proteica, inclusive durante a colheita. Nessas condições, ela é capaz de gerar pelo
menos dois quadros completos de criação por semana (cerca de 12 a 14 mil criação). Quando a criação está
madura, prestes a nascer, uma parte é transferida para outro enxame (produtor), e outra parte é deixada na
colmeia criadeira para reposição das abelhas que forem morrendo. A criação aberta não deve ser transferida, para
não sobrecarregar a colmeia produtiva com mais trabalho.
7.18 Como evitar a enxameação?[2]
Não existe método garantido. Há diversos, alguns bastante complicados, quase todos exigindo verificação muito
frequente da colmeia para a destruição de mestreiras e ampliação do espaço de postura e armazenagem de mel.
Às vezes, parece preferível ter algumas enxameações no apiário do que usar um desses métodos propostos. Uma
boa prevenção é o caminho mais aceitável contra a enxameação. A troca anual de rainhas é um procedimento que
ajuda a evitá-la, além de contribuir para uma maior produtividade do enxame. A manutenção de espaço de sobra
na colmeia, tanto para a postura quanto para a armazenagem de mel, desde o início da colheita, também é uma
boa prática. Também o são os maneios rápidos e infrequentes e a manutenção das colmeias com boa ventilação e
em ambiente sombreado (ou com telhados amplos, de cor clara). Quando todos esses elementos estiverem
presentes, a enxameação ainda será possível, mas ela provavelmente ocorrerá mais tarde, permitindo que o
enxame armazene mel suficiente para ser colhido pelo apicultor.

7.19 O que fazer se houver mestreiros no enxame? [2]


Basicamente, há duas razões para haver mestreiros no enxame: morte da rainha ou enxameação. No primeiro
caso, os mestreiros devem ser preservados; no segundo, elas podem ser removidas se a rainha velha ainda está
presente.
A inspecção dos favos pode ajudar a identificar a causa das mestreiras. Muitas vezes (não sempre), um número
grande de mestreiras, localizadas nas bordas dos favos, são indícios de enxameação. Por oposição, poucas
mestreiras, localizadas nas faces dos favos, indicam reposição de rainha morta.
A esses sinais, deve-se acrescentar uma análise da cria. Rainhas prestes a enxamear param a postura por
poucos dias. Portanto, mestreiras fechadas com criação jovens podem indicar enxameação. Já mestreiras
fechadas e somente criação operculadas pode ser sinal de reposição de rainha.
De qualquer forma, é importante notar que a eliminação das mestreiras na ausência da rainha velha (morta ou já
enxameada) pode ser fatal para o enxame. O ideal, portanto, é que o apicultor sempre se certifique da presença
da rainha antes de remover as mestreiras.

7.20 O que fazer com as mestreiras removidas? [2]


Elas podem ser destruídas ou, se forem procedentes de um bom enxame e estiverem operculadas, podem ser
aproveitadas em outras colmeias ou núcleos.
Se a decisão for pela destruição, as que estiverem desoperculadas poderão ser guardadas num recipiente limpo
para que a geleia real seja retirada e consumida.

7.21 Como aproveitar as mestreiras noutras colmeias? [2]


As mestreiras retiradas de um enxame com boas características podem ser introduzidas em colmeias previamente
orfanadas ou núcleos criados para tal. No entanto, há um momento mais adequado para isso, que é por volta do
décimo dia de construção da mestreira, quando ela está fechada e a incubação ainda levará cerca de dois dias
para se completar. Como o apicultor não pode estimar a idade de uma mestreira "achada", o método não é muito
garantido.
Por essa razão, a opção por núcleos pode ser mais interessante: se a introdução da mestreira não der certo, o
prejuízo com a perda de um núcleo é muito menor do que com a perda de uma colmeia.
Para fazer um núcleo, pegue dois ou três quadros de cria em diferentes estágios e mais dois ou três quadros de
provisões, todos com abelhas aderentes. Esses quadros podem ser procedentes de colónias diferentes, mas
nenhum deles pode vir com a rainha. Os quadros serão postos numa caixa pequena (com volume de meio ninho)
ou mesmo num ninho inteiro, dividido ao meio por uma tábua separadora.

Para fazer a introdução da mestreira, tanto numa colmeia orfanada quanto num núcleo, recorte-a cuidadosamente
do quadro da colmeia-mãe e fixe-a entre as barras superiores de dois quadros da caixa de destino, com o máximo
cuidado para não danificar a mestreira. Depois, feche o núcleo e não mexa nele por cerca de duas semanas.
Dependendo das condições climáticas, durante esse tempo a princesa já deverá ter nascido e acasalado.

7.22 Porque a introdução de uma mestreira pode não dar certo? [2]
Vários motivos podem impedir que de uma mestreira resulte uma rainha fértil. O primeiro é pela inviabilidade da
pupa, já que ela pode estar morta dentro da mestreira, ou ter sido lesada durante a manipulação. Por esta razão,
introduzir pelo menos duas mestreiras em cada núcleo ou colmeia pode ser uma boa ideia.
Outro motivo é a falta de zangãos na região. Após uma época de colheita relativamente longa, a probabilidade de
haver zangãos em alguma colmeia próxima é muito pequena. Nesse caso, a princesa pode nascer saudável, mas
não encontrar seus pares para acasalar.
Da mesma forma, condições climáticas muito adversas podem retardar bastante os voos nupciais ou ocasionarem
a morte da princesa.
7.23 Como se encontra a rainha?
Com sorte ou muita paciência. O método principal é remover cada quadro e verificar cuidadosamente as duas
faces. Lembre-se que a rainha tentará esconder-se no ponto mais escuro, num canto, talvez por baixo das
obreiras. Olhe algumas vezes as duas faces, não desista logo. Se achar que ela não está mesmo ali, devolva o
quadro à colmeia (ou, melhor ainda, ponha-o num ninho vazio, previamente colocado ao lado) e passe para o
próximo quadro.

7.24 Durante as revisões é preciso ver sempre a rainha?


Não. A presença da rainha pode ser percebida pela presença de ovos. Mesmo quando a postura cessa
completamente no Inverno, o apicultor experiente pode perceber a presença da rainha pelo comportamento mais
pacífico das obreiras. Na verdade, há muito poucas ocasiões em que realmente é necessário achar a rainha.

7.25 Quando se deve substituir a rainha?


A melhor época de troca é dois a três meses antes da próxima colheita, mas isso nem sempre é possível.
Junto com a consideração de antecedência da próxima colheita, outra que pode ser útil é o final da colheita
corrente. Como o fim de colheita é uma ocasião de grande agitação na colmeia, pela grande quantidade de
abelhas presentes e pelo final do fluxo de néctar, muitas vezes é preferível esperar algum tempo (um mês, mais ou
menos) para efectuar a troca da rainha. Assim, as populações serão menores, facilitando a manipulação das
colmeias e a procura pela rainha antiga.
Por outro lado, se o apicultor quiser fazer divisões das colmeias, o ideal é aproveitar o momento de população
máxima, que ocorre no final da colheita. Embora a divisão não seja o método ideal para multiplicação de enxames,
ele facilita grandemente a introdução de rainhas novas

7.26 Com que frequência a rainha deve ser substituída?


Uma recomendação comum é que ela seja trocada anualmente. A razão disso é que uma rainha jovem é mais
produtiva e menos propensa a enxamear. Há quem troque as rainhas a cada seis meses e a cada dois anos ou
mais, considerados os aspectos práticos e económicos.
Num estudo citado em [SAN93], foi medida a produção de 36 colmeias, metade delas com rainhas de um ano,
metade com rainhas de dois anos. As colmeias com rainhas mais jovens produziram quase 40% a mais de mel do
que as mais velhas – 141 kg contra 102 kg, respectivamente.

7.27 Como substituir uma rainha?


De duas formas: adquirindo uma rainha de um fornecedor e introduzindo-a na colmeia ou forçando as abelhas a
produzirem uma nova. Para forçar as abelhas a produzir uma rainha, basta eliminar a antiga e deixar na colmeia
pelo menos um quadro com ovos e cria nova. Deixe a colmeia fechada por 7 a 10 dias e depois verifique a
presença de mestreiras. Se não houver nenhuma fechada ou em desenvolvimento, forneça mais um quadro com
cria nova ao enxame. Se falhar de novo, una o enxame a outro antes que ele se torne zanganeira. Essa técnica
deve ser usada apenas quando houver zangãos nas colmeias, para garantir a fecundação da princesa.

7.28 Como são as rainhas vendidas?


Salvo solicitação diferente, elas são vendidas fecundadas, testadas (já em postura), e marcadas na cor do ano.
São enviadas pelo correio numa gaiola de transporte, junto com algumas obreiras acompanhantes e uma porção
de candy.
Essa gaiola pode ser usada para se fazer a introdução, embora muitos manuais recomendem o uso de gaiolas de
introdução específicas.

7.29 Como se retiram as amas da gaiola de transporte?


O melhor é fazer isso num ambiente fechado, à prova de abelhas. Assim, se alguma rainha sair voando, ela
poderá ser recapturada.
Uma maneira relativamente eficiente é tirar a tampa da gaiola e sacudi-la com cuidado dentro de um saco
plástico. Quando a rainha sair, segure-a gentilmente numa dobra do saco e sacuda o resto das acompanhantes.
Depois, induza a rainha a entrar na gaiola de introdução.

7.30 Como se pendura a gaiola na colmeia?


Uma recomendação comum é que ela seja pendurada entre dois quadros de cria, com cuidado para não obstruir
os orifícios de ventilação e acesso ao cândi. Eu não gosto dessa forma porque ela exige a retirada (temporária) de
um quadro do ninho ou o sacrifício de uma parte das criação, pela proximidade dos seus alvéolos com a gaiola.
7.32 O que é "cor do ano"?
É a cor da tinta usada para pintar o tórax da rainha, para identificar o seu ano de nascimento (último dígito):
1 e 6 - branca
2 e 7 - amarela
3 e 8 - vermelha
4 e 9 - verde
5 e 0 - azul
Uma rainha pintada é mais fácil de ser encontrada do que uma não pintada.

7.33 O que fazer se a rainha morrer?


Uma solução é adquirir outra rainha e tentar uma nova introdução. Outra possibilidade é deixar as próprias abelhas
produzirem a sua rainha. Neste caso, deve haver um quadro com ovos e larvas jovens disponível, além de
alimento suficiente (especialmente pólen ou um substituto).

7.34 O que fazer se o enxame ficar zanganeira?


Se a colmeia não aceitar outra rainha ou não conseguir produzir uma nova, ela poderá tornar-se zanganeira. É
sempre melhor intervir antes que isso aconteça, mas caso essa situação ocorra, há algumas tentativas que podem
ser feitas. A introdução de uma nova rainha frequentemente falha, mas pode ser tentada se houver disponibilidade
de rainha.
Uma técnica possivelmente útil para enxames zanganeiros que ainda estejam fortes é sacudir todos os favos a
uma boa distância do local original da colmeia, para eliminar as poedeiras. Supostamente, por estarem mais
pesadas e talvez desorientadas por dedicarem-se apenas à postura, elas não voltariam para a colmeia. Depois, a
colmeia é remontada no local original, sem os favos de cria. Assim, apenas com as obreiras normais, o enxame
tem uma probabilidade maior de aceitar a rainha nova.
Outra ideia é a troca de lugar de uma colmeia zanganeira com outra normal, forte. Nesse caso, é preciso remover
os favos zanganeiros e acrescentar favos com postura boa e jovem, para que as obreiras não zanganeiras,
inclusive as da colmeia normal que estarão entrando, produzam uma nova rainha.

No entanto, antes de se experimentar alguma forma de recuperação do enxame zanganeira, é preciso avaliar a
sua viabilidade. Enxames nessa situação, quando são encontrados, frequentemente apresentam um número muito
pequeno de obreiras, muitas delas poedeiras, e não justificam esforços maiores na sua preservação individual.
Além disso, nenhum desses métodos é garantido, o que valoriza ainda mais a acções preventivas para que a
colmeia não chegue a essa situação.
A opção, então, é a união da colmeia zanganeira com uma normal, com a eliminação dos favos que estiverem
cheios de ovos das obreiras, para que não nasçam mais zangãos. Mesmo que o número de obreiras da colmeia
zanganeira não seja muito grande, ao menos as provisões de mel, pólen e favos não serão perdidas.

7.37 O que fazer se o enxame morrer?


Se o enxame morrer ou abandonar a colmeia, sobrará uma porção de favos cheios de criação e alimento. Em
pouco tempo, estará tudo em processo de decomposição, atraindo uma porção de traças e formigas.
Limpe bem as caixas, os quadros e os demais equipamentos atingidos.
8. O Mel e a Colheita

8.1 O que é o mel?


Mel é "o produto alimentício produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar das flores ou das secreções
procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insectos sugadores de plantas que ficam sobre
partes vivas de plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas próprias,
armazenam e deixam madurar nos favos da colmeia".
Em outras palavras, é uma substância produzida pelas abelhas a partir de secreções de plantas (o néctar) ou de
determinados insectos (o pseudonéctar) e da adição de algumas substâncias por elas mesmas produzidas
(enzimas, por exemplo), desidratada e armazenada nos favos da colmeia.

8.2 O que é o néctar?


Néctar é uma solução de açúcares (principalmente sacarose, glicose e frutose) em água em proporção que varia
de 3 a 87%, embora grande parte dos néctares esteja na faixa de 30-40%. Ele contém ainda diversas outras
substâncias complexas, em pequenas quantidades, que determinam o seu aroma, sabor e características
nutritivas (e tóxicas, em alguns casos). O néctar é produzido no nectário, um órgão presente em muitas plantas,
frequentemente (mas não sempre) nas suas flores.

8.3 O néctar pode ser produzido fora das flores?


Sim, nos chamados nectários extraflorais. Enquanto os nectários florais ajudam na reprodução das plantas,
atraindo insectos e outros animais que acabam acidentalmente polinizando as flores, acredita-se que os nectários
extraflorais ajudem a proteger as plantas. Por exemplo, uma planta rasteira, quando carregada de formigas
colectoras de néctar, tem menor probabilidade de ser consumida por algum animal herbívoro que passe por perto.

8.4 O que é melato?


Melato, também chamado de pseudonéctar, é uma substância doce produzido por alguns insectos que vivem em
plantas, como cochonilhas e pulgões. Esses insectos sugam a seiva elaborada das plantas em busca de açúcar e
quanto o tem em abundância, excretam o excesso.
O mel de melato é normalmente mais escuro e menos ácido do que o mel de néctar, e possui menos frutose e
glicose e mais maltose e outros açúcares complexos.

8.5 Quando o mel está pronto para ser colhido?


Assim que o favo for operculado, o mel estará "maduro" para ser colhido. Antes disso, ele é chamado de mel
"verde", significando que a sua humidade ainda está muito alta. Como a operação de colheita é trabalhosa, os
apicultores muitas vezes preferem esperar o final da colheita para fazê-la de uma única vez, mas nada impede que
o mel seja colhido aos poucos.
Aliás, a permanência do mel na colmeia por longo tempo pode levar à sua rehidratação, pois o mel é um produto
altamente higroscópico, isto é, ele tende a absorver água rapidamente quando exposto a um ambiente húmido.
Esse fenómeno pode acontecer mesmo com mel totalmente operculado, pois a cera é permeável à humidade.

8.6 Por que a humidade é ruim para o mel?


Um alto percentual de humidade favorece a fermentação do mel, inutilizando-o para o consumo.

8.7 Qual é o percentual de humidade seguro para o mel?


Um percentual de 17% é tido como muito seguro [CRA83]. Até 19%, o mel é razoavelmente seguro, a partir daí o
risco de fermentação começa a ser significativo. A legislação admite humidade máxima de 20%.

8.8 Como é medida a humidade do mel?


Com um instrumento chamado refractómetro. No entanto, esse controle geralmente é feito apenas por grandes
compradores (entrepostos, exportadores) e não pelos próprios apicultores.

8.9 Como retirar humidade do mel?


Há desumidificadores disponíveis no mercado, mas eles são destinados a grandes produtores ou entrepostos.
Para pequenas quantidades de mel, alguns apicultores recomendam a manutenção das alças num ambiente seco
por um dia ou dois antes do seu processamento.
Para remover humidade do ambiente, pode-se usar um desumidificador doméstico ou, se a temperatura for baixa,
até um aquecedor, com resistência elétrica e ventilador. Um higrómetro comum pode ser usado para medir a
humidade do ambiente. A tabela abaixo, extraída de [CRA83], mostra os valores de equilíbrio de humidade,
quando o mel é deixado exposto por tempo suficiente (URA = humidade relativa do ar, UM = humidade do mel).
URA (%) UM (%)
50 15,9
55 16,8
60 18,3
65 20,9
70 24,2
75 28,3
80 33,1

O tempo de chegada ao ponto de equilíbrio depende muito da superfície do mel que está exposta e da sua
agitação. Quanto maior for a superfície, mais rapidamente esse equilíbrio será atingido. Por outro lado, se o mel
estiver em repouso e a humidade do ar for muito baixa, a desidratação rápida da sua superfície pode formar uma
crosta isolante, o que atrasará bastante a continuação do processo.
Uma suspeita (desconheço algum estudo que a confirme ou negue) é que a centrifugação do mel, se realizada
num ambiente seco, pode ajudar a remover parte da sua humidade, em razão da exposição de uma superfície
grande (milhões de gotas, escorrimento pela parede da centrífuga) a uma ventilação forçada (produzida pelo motor
da centrífuga).

8.10 Em que condições o mel pode ser colhido? [2]


Normalmente, são colhidas as alças que possuem todos ou quase todos os favos totalmente operculados. Favos
desoperculados contém “mel verde”, isto é, mel que ainda não atingiu o nível de humidade ideal (ao redor de
18%). Como um nível alto de humidade está associado a um grande risco de fermentação, a colheita de favos
desoperculados deve ser evitada, pelo menos em quantidade significativa.
Uma boa ideia é preparar as alças e redistribuir os quadros na revisão anterior à colheita, de forma a já deixar as
alças prontas no topo das colmeias. Dessas alças, procura-se remover o máximo possível de abelhas, para elas
chegarem vazias ao local de processamento. As alças são então empilhadas, fixadas e transportadas.

8.11 Onde deve ser colocada uma nova alça?


Parte dos apicultores acredita que uma nova alça deve ser colocada logo acima do ninho (e abaixo das já
existentes), para diminuir o trânsito desde o recebimento do néctar até a sua armazenagem. Já outros entendem
que o resultado dessa técnica não compensa o trabalho de remoção das alças existentes para a colocação da
nova. E, além disso, uma alça vazia logo acima do ninho em plena colheita, pode estimular a rainha a pôr ovos ali,
caso não haja prancheta excluidora [AMB92].

8.14 Como colocar alças com 8 ou 9 quadros?


A ideia de se usar alças com 8 ou 9 quadros ao invés de 10 permite um melhor aproveitamento do espaço da
caixa, economia de quadros e a produção de favos mais profundos, o que facilita muito a desoperculação, embora
eles sejam mais frágeis e sujeitos a quebras e esmagamentos durante o transporte.

8.15 Como as abelhas são retiradas das alças?


A maneira mais simples é varrendo os quadros. Cada um deles é sacudido e depois varrido, de forma que as
abelhas aderentes caiam dentro ou próximo da colmeia. Depois o favo é levado para uma caixa auxiliar, que fica a
maior parte do tempo fechada na parte superior e inferior. Esse método é demorado, trabalhoso e muito
estressante para as abelhas.
Outra forma usada para remover as abelhas é por meio de um soprador, que é muito mais rápido e eficiente que a
vassourinha.

8.16 Como deve transportar as alças?


Essa é uma preocupação importante, tanto em relação à segurança das pessoas, quanto à integridade dos favos.
Alças cheias são muito pesadas e deslizam facilmente umas sobre as outras. Para evitar esse problema, você
pode utilizar dois pedaços de cantoneiras metálicas (alumínio é melhor) em cantos opostos da pilha, e amarrá-las
em pelo menos dois pontos. As pilhas amarradas devem resistir aos solavancos, curvas e travagens. Lembre-se
que um acidente com alças não significa apenas mel perdido. A chegada de uma nuvem de abelhas em poucos
minutos pode transformar qualquer lugar num ambiente assustador. Por isso, as alças devem ser transportadas,
sempre que possível, directamente do apiário a um lugar inacessível às abelhas. Caso aconteça um acidente,
procure lavar rapidamente o mel e remova o que for possível para um lugar fechado. Mesmo alças em bom estado
não devem ser deixadas ao ar livre por muito tempo.
8.17 Como é feita a desoperculação dos favos?
O método manual é com faca e garfo. A faca deve ser do tipo "serrote de pão", com um serrilhado bem largo e
afiado. O quadro é mantido quase na vertical, apoiado numa lateral pequena, e a faca é passada logo abaixo da
cobertura, de forma a remover as tampas sem prejudicar demais os alvéolos, para que o favo possa ser
reaproveitado. Essa operação pode ser feita numa mesa desoperculadora ou mesmo sobre um recipiente largo,
como uma bacia, que recolha a cera retirada e o mel que escorre. Quando a temperatura ambiente está alta
demais, porém, a cera dos favos pode amolecer, e a faca não a cortará direito. Alguns apicultores usam uma faca
especial de desoperculação que é aquecida electricamente, o que ajuda a cortar a cera. Outros usam uma faca
metálica comum aquecida em água quente. Nesse caso, é preciso secá-la antes de cortar o favo, para não
adicionar água ao mel. Como a faca normalmente não é suficiente para fazer um trabalho completo (a não ser
com favos gordos e perfeitos), o passo seguinte é o acabamento. Utiliza-se então o garfo desoperculador nas duas
faces, introduzido-o por baixo da cobertura e levantado com cuidado para não ferir muito os alvéolos. Há também
desoperculadores motorizados, com escovas ou lâminas que removem os opérculos, que normalmente se
destinam a grandes produtores ou entrepostos.

8.18 O que é uma mesa desoperculadora?


Basicamente, é um tanque com um apoio para os quadros, um fundo inclinado para facilitar o escorrimento do mel
e uma saída, por onde o mel passa para ser filtrado. Há modelos com pranchetas que aparam a cera removida e já
fazem uma pré-filtragem do mel.

8.19 O que é uma torneira de corte rápido?


É uma torneira em forma de tubo, com uma tampa que fecha com um movimento de guilhotina. Ela é chamada
assim porque interrompe o fluxo de mel imediatamente, evitando fios e pingos.

8.20 Como é feita a centrifugação dos quadros?


Os quadros são colocados numa centrífugadora, na posição vertical. Eles ficam apoiados no "cesto" da
centrífugadora, que gira junto com o eixo. Inicialmente, a velocidade da centrífugadora deve ser pequena, pois os
favos estão pesados de mel e podem romper-se com facilidade. No decorrer da centrifugação, o mel vai sendo
extraído, os favos vão ficando mais leves e a velocidade pode ser aumentada gradualmente, até que os respingos
de mel na parede interna da centrífugadora cessem.

8.21 Como centrifugar favos partidoss?


Devem ser desoperculados da forma que for possível e depois amarrados ao quadro. Essa amarração pode ser
feita com fio de nylon ou de arame fino. O fio deve ser amarrado a uma extremidade do quadro e depois enrolado
sobre ele em ida e volta, formando assim uma espécie de rede de Protecção ao favo. Com uma boa amarração, o
favo geralmente poderá ser centrifugado sem problemas. Em caso de dúvida, deixe-o para o final e faça uma
centrifugação só dos partidos, mais lenta e cuidadosa.

8.24 Por que a centrífugadora vibra?


A centrifugadora vibra quando o seu centro de massa não coincide com o eixo de rotação. Em outras palavras,
quando o cesto está desequilibrado, com mais peso de um lado do que de outro. Quando o desequilíbrio é grande,
a centrífugadora pode até se mover ("dançar"), se não estiver com os pés fixados no chão. Para evitar a vibração
ou diminuí-la muito, basta prestar atenção ao carregar a centrífuga, colocando quadros de peso semelhante em
posições exactamente opostas. É claro que isso só é possível quando a capacidade de quadros da centrífuga é
par, o que, felizmente, é a configuração mais comum.

8.25 O que move a centrífugadora?


Há centrífugadoras manuais, movidas por uma manivela, e eléctricas, movidas por um motor. As motorizadas
podem ter controle de velocidade manual ou automático.

8.27 A centrifugação dos favos é demorada?


Depende principalmente da temperatura ambiente. Grosso modo, a 30 ºC, o mel flui três vezes mais rápido do que
a 20 ºC, e dez vezes mais rápido do que a 15 ºC. Também por essa razão, vale a pena aquecer o ambiente antes
do processamento do mel. No entanto, é preciso notar que a desoperculação manual é dificultada quando a
temperatura está alta. Um teor de humidade baixo, por sua vez, aumenta a viscosidade do mel e dificulta o seu
fluxo. Quando o favo centrifugado tem alvéolos de zangão, o tempo de extracção diminui bastante, pela facilidade
maior de escorrimento do mel.
8.28 Como extrair o mel sem a centrífugadora?
Sem uma centrífugadora, o processamento do mel complica-se bastante. Nesse caso, normalmente há três
alternativas para o favo: deixar o mel escorrer, espremê-lo ou guardá-lo inteiro (ou em pedaços).
Deixar o mel escorrer é o procedimento ideal, porque permite o reaproveitamento posterior do favo. No entanto,
só pode ser feito em recipientes grandes (os favos devem deixados com uma face voltada para baixo, e depois a
outra). Também é um procedimento demorado, e o mel pode acabar absorvendo humidade do meio por
higroscopia. Aumentar a temperatura do ambiente e desumidificá-lo (com um aquecedor de banheiro, por
exemplo) vai acelerar o processo e diminuir o risco. Mesmo assim, só é uma fórmula viável para uma colheita
muito pequena. Espremer o favo é uma maneira perfeita de inutilizá-lo para as abelhas e obter um mel cheio de
impurezas. No entanto, se for a única solução possível, tente fazê-lo da forma mais higiénica possível. A terceira
alternativa, favos inteiros, pode ser preferível ao seu esmagamento. Infelizmente, ela só é possível se o quadro
não tiver sido aramado. Assim, se você não possui centrífuga, não conhece ninguém que possua e não está
pensando em adquirir uma, é bom prever esse problema antes de preparar e colocar as alças. Nesse caso, a
melhor opção é adquirir formas especiais e adaptá-las nos quadros das alças. Outra saída, é usar quadros inteiros
sem arame.

8.29 O que fazer com as alças após a extracção?


Elas devem ser devolvidas às abelhas, que limparão todos os resíduos de mel e deixarão os favos prontos para
serem usados novamente ou guardados até a próxima colheita.
Há duas formas de devolver as alças: empilhando-as em zig-zag a uns 100 metros do apiário, ou devolvendo-as
às colmeias. A primeira forma resulta em muitas brigas, mortes e, talvez, pilhagem. Também pode facilitar a
transmissão de doenças entre as colmeias. Além disso, não apenas abelhas, mas diversos outros insectos
aparecem para comer o mel ou depositar ovos nos favos. A segunda forma é mais trabalhosa e exige mais
cuidado, mas dá um resultado muito melhor. Para isso, a devolução deve ser feita em horário calmo das abelhas
(final da tarde, noite ou amanhecer), com as caixas bem limpas por fora, para não estimular os saques. Uma
alternativa interessante é devolver todas as alças a umas poucas colmeias, de forma a minimizar a perturbação no
apiário. Esse procedimento é especialmente recomendável para a última colheita da colheita.

8.30 O que é feito do mel após a centrifugação?


Primeiro, o mel deve ser passado por uma peneira fina. A seguir, o ideal é deixá-lo decantando por alguns dias e
só depois embalá-lo. Naturalmente, a segunda etapa só é possível com decantador.

8.31 O que é um decantador?


É um tanque com tampa e torneira. O mel é deixado nele por alguns dias (uma semana, por exemplo), para que as
impurezas que sobraram da filtragem se depositem no fundo ou subam à superfície (junto com as bolhas de ar).
Depois desse período, o mel é passado para as embalagens através da torneira, que deve ser de corte rápido.
Como essa torneira se localiza um pouco acima do fundo, o mel que passa por ela é o mais puro possível, excepto
bem no final, é claro.

8.32 É possível produzir mel em favo?


É claro que sim. Podem-se usar formas especialmente feitas para serem encaixadas nos quadros de alça -
geralmente três por quadro. No centro dessas formas é colocado um pedaço de cera alveolada, que será puxado,
enchido e operculado normalmente pelas abelhas. Após a colheita, basta desencaixar as formas e embalá-las. É
um processo muito mais simples e limpo que a centrifugação, mas possui um público alvo bastante restrito. No
preço final do produto deve ser considerada também a cera que foi produzida e estará sendo vendida junto.

Alguns apicultores, na falta de formas, usam quadros comuns, sem arames. Após a colheita, retiram o favo do
quadro, cortando-o pelas beiradas, dividem o favo em três ou mais pedaços, deixam-nos escorrer por algum tempo
e depois embalam-nos. Não fica com uma apresentação tão boa quanto os favos enformados.

8.34 Como se deve armazenar o mel?


Em recipientes próprios para produtos alimentícios, hermeticamente fechados. Em relação à temperatura de
armazenagem, a faixa ideal de temperatura para a cristalização do mel é de 10 a 18 ºC, especialmente, 14 ºC.. A
faixa ideal de temperatura para a fermentação do mel é de 11 a 21 ºC. A partir de 21 ºC a produção de HMF
acelera, junto com o escurecimento do mel. Cada 10 ºC a mais de temperatura aumentam a velocidade de
produção de HMF em cerca de 4,5 vezes. Por exemplo, um aumento que leva 100 dias para ocorrer a 30 ºC, leva
apenas 20 dias a 40 ºC, 4 dias a 50 ºC e 1 dia a 60 ºC [CRA83].

8.35 O HMF é prejudicial à saúde humana?


Não na proporção encontrada no mel. A sua presença, acima de determinado nível, é apenas um indicativo de má
qualidade do mel, por adulteração, superaquecimento ou longo armazenamento.
8.36 As enzimas são benéficas à saúde humana?
Não há evidências disso, embora muitos apicultores se refiram a elas como grandes vantagens do mel. As
enzimas são responsáveis pela transformação de substâncias doces colhidas na natureza em mel, e a sua
ausência também é um indicativo de má qualidade do produto.

8.37 Como o mel é adulterado?


Ele pode ser misturado a outras substâncias doces, como açúcar invertido, por exemplo. Um outro tipo de
adulteração é feito com o fornecimento de xarope às abelhas e colheita do que as abelhas armazenam, como se
fosse mel.

8.38 Há um modo simples de descobrir se o mel é adulterado?


Não. Quando a adulteração é grosseira, qualquer pessoa com razoável experiência de consumo de mel pode
suspeitar da sua qualidade.

8.39 É possível identificar a origem floral de um mel? [3]


No caso de méis monoflorais, há alguns parâmetros pré-definidos, que variam conforme a espécie de origem.
Várias análises são necessárias, em conjunto, para a comprovação da condição de monofloral de um mel. Por
exemplo, análise de cor, análise de contagem e identificação dos grãos de pólen presentes (análise polínica ou
melissopalinológica), análise da condutividade (cujo resultado depende da quantidade de minerais presentes no
mel), análise do espectro de açúcares (a proporção de glicose, frutose, maltose, etc.). No caso de méis multiflorais,
no entanto, a identificação precisa das fontes é muito difícil. Uma determinada cor pode resultar de inúmeras
misturas diferentes de néctar, assim como a condutividade e o espectro de açúcares. Já a análise polínica é, por
natureza, pouco confiável. Muitas plantas que produzem néctar em abundância não têm o seu pólen colhido pelas
abelhas (nem acidentalmente), enquanto outras possibilitam uma contaminação pesada do néctar. Além disso,
outras contaminações polínicas podem ocorrer dentro da própria colmeia, pela manipulação do néctar e do pólen
pelas abelhas, ou mesmo fora dela, provocadas pelo apicultor durante a colheita e extracção do mel.

8.40 Por que o mel cristaliza?


O mel é uma solução supersaturada de açúcar, o que significa que há mais açúcar dissolvido na água do
normalmente seria possível manter-se. Isso faz da solução uma mistura instável, e ela, ocasionalmente, pode
retornar à estabilidade através da cristalização. Isto ocorre com a perda de água da água por parte da glicose, que
se transforma em monoidrato de glicose e toma a forma de cristal. Entretanto, nem todo mel cristaliza. Como o
açúcar responsável pela cristalização é a glicose, a relação entre a sua quantidade e a de água no mel é que
determina se o mel cristalizará ou não. Por exemplo, de acordo com um estudo citado em [WHI92], uma relação
glicose/água de 1,58 (por exemplo, um mel com 17% de humidade e 27% de glicose) não cristalizará, enquanto
outro, com relação de 1,98, provavelmente cristalizará até a metade do recipiente. Uma relação de 2,16 deve
provocar uma cristalização total e mole, enquanto outra, de 2,24, deve provocar uma cristalização total e dura.

8.41 Como ocorre a cristalização?


A cristalização, além da relação glicose/água, depende da presença de "núcleos" para iniciar-se. Os núcleos
podem ser impurezas microscópicas, grãos de pólen, partículas de cera, bolhas de ar ou cristais incipientes. O
processo, após se desencadear, prossegue até que o ponto de equilíbrio da solução seja atingido ou até que o mel
seja exposto a uma temperatura imprópria à cristalização. Quando a proporção de glicose no mel é baixa, os
cristais depositam-se no fundo do recipiente, formando um agrupamento mais sólido e grosseiro. Na superfície,
forma-se uma mistura mais rica em frutose e água, que é muito mais propensa à fermentação que a forma líquida
original. Por essa razão, uma cristalização grosseira e parcial do mel está frequentemente associada a um início
de fermentação. Já quando a proporção de glicose é alta, a cristalização forma uma espécie de rede, imobilizando
os outros componentes do mel e levando a mistura a um estado semi-sólido, com uma consistência mais
homogénea. Nesse caso, como não há separação de uma parte mais líquida, o risco de fermentação não cresce.
A velocidade de cristalização depende da quantidade de núcleos existentes, e por isso, um mel que tenha sido
perfeitamente filtrado e previamente aquecido (para que até os menores cristais sejam desfeitos) demorará muito
mais a cristalizar. Além disso, a velocidade depende também da temperatura de armazenagem do mel.
Temperaturas abaixo de 10 ºC e acima de 21 ºC inibem ou retardam bastante a cristalização. A temperatura de 14
ºC é a ideal para a cristalização.

8.42 Como descristalizar o mel?


A descristalização do mel deve ser feita com o aumento da temperatura. Quanto mais alta for a temperatura, mais
rápida será a descristalização. Altas temperaturas, porém, destroem muitas propriedades do mel, e devem ser
rigorosamente evitadas. Industrialmente, o mel é aquecido por pouco tempo a temperaturas entre 60 e 70 ºC,
aproximadamente, para inactiva os fermentos existentes (e evitar uma futura fermentação), para expelir pequenas
bolhas de ar e derreter os cristais microscópicos, que posteriormente serviriam de núcleos para a cristalização, e
para permitir o bombeamento do mel e a sua filtragem sob pressão. No uso doméstico, porém, recomenda-se que
o derretimento do mel cristalizado seja feito numa temperatura mais baixa (cerca de 40 ºC), em banho-maria.
8.43 O que é mel cremoso?
É um mel que foi induzido a uma cristalização fina e homogénea. Essa indução é puramente mecânica, a baixa
temperatura e sem adição de nenhuma substância, o que preserva todas as qualidades do mel. O mel cremoso
possui a consistência que o nome indica e o aspecto parecido com o do doce de leite, embora mais denso. O mel
cremoso é muito fácil de ser manuseado com colher e espátula, pois escorre lentamente, não despedaça pães e
bolos e dissolve-se facilmente em líquidos. Ele também é mais estável que o mel comum e não forma
cristalizações parciais e grosseiras.

8.44 Qual é a densidade do mel?


A densidade do mel, a 20ºC, com 18% de humidade, é cerca de 1,42. Isso significa que, nessas condições, 1 litro
de mel pesa 1,42 quilos, em média.

9. Outros Produtos

Pólen

9.1 O que é o pólen?


É a célula reprodutiva masculina das plantas floríferas. Ele é produzido pelas anteras e deve alcançar o estigma da
flor (a porção terminal do seu órgão reprodutivo feminino, o gineceu) para que ocorra a fecundação e a posterior
formação de sementes. Este processo é chamado de polinização, e ele ocorre muitas vezes com a ajuda de
agentes externos, como o vento, a chuva e animais que se alimentam do pólen ou do néctar, como as abelhas. Em
comparação com o néctar, o número de espécies que produz pólen é muito maior.

9.2 Como as abelhas ajudam na polinização?


Quando a abelha pousa numa flor, para colher néctar ou pólen, grãos de pólen ficam presos nos seus pêlos. Em
razão do movimento da abelha, os grãos podem ser levados ao estigma da mesma flor ou de outra. Essa acção da
abelha é involuntária, e a polinização, um resultado acidental.

9.3 Como o pólen é armazenado pelas abelhas?


As bolotas de pólen trazidas pelas obreiras são empilhadas nos alvéolos logo acima da área de cria. Ao pólen, são
adicionadas algumas secreções glandulares e uma fina cobertura de mel, formando o alimento básico das larvas e
abelhas jovens (chamado por alguns de "pão de abelha").

9.4 Como o apicultor colhe o pólen?


O que é colhido, na verdade, são as bolotas trazidas pelas obreiras, não o que é depositado nos alvéolos. Para
essa coleta, empregam-se armadilhas, chamadas de caça-pólen.
Basicamente, o caça-pólen é constituído por uma grade e uma gaveta. As abelhas passam apertadas pela grade
e acabam perdendo a bolota de pólen, que cai dentro da gaveta. As abelhas não têm acesso à gaveta, que é
protegida por uma prancheta mais fina.

9.5 Por quanto tempo o caça-pólen pode ser deixado na colmeia?


É preciso considerar que o pólen é um produto de extremo valor para as abelhas. Sem ele, não é possível
alimentar as larvas mais velhas e as abelhas jovens que, por sua vez, dependem dele para produzir as secreções
hipofaringeanas e mandibulares que alimentam as larvas jovens e a rainha. Some-se a isso o facto de as abelhas
não armazenarem pólen em grandes quantidades, como fazem com o mel, e terá uma limitação muito forte para o
tempo de permanência do caça-pólen na colmeia. E essa limitação é tanto maior quanto mais eficiente for o caça-
pólen.

9.6 Como é o processamento do pólen?


Inicialmente, caso o pólen não possa ser secado imediatamente, ele deve ser congelado. A etapa de secagem é a
mais importante. O pólen possui de 18 a 25% de humidade, um nível que deve ser reduzido até cerca de 3%, para
impedir o desenvolvimento de fungos e fermentos. A limpeza do pólen, manual ou mecanizada também é muito
importante. Por fim, a armazenagem deve ser feita em recipiente hermeticamente fechado, para que não haja
nenhuma contaminação.

9.7 É possível produzir mel e pólen na mesma colmeia?


Sim, mas nenhum dos produtos de forma optimizada. Quando um produto falta na colmeia, um número maior de
abelhas passa a buscá-lo na natureza. Ao usar-se o caça-pólen, muitas abelhas provavelmente deixarão de colher
néctar para colher pólen, o que resultará numa produção do mel inferior à capacidade do enxame em condições
normais.
9.8 O pólen é um alimento completo para os humanos?
Não, ele é deficiente em algumas vitaminas, por exemplo. Também possui uma porção relativamente alta de
matéria indigerível por humanos, a celulose.
Apesar disso, o pólen pode ser considerado um excelente alimento.

9.9 O pólen pode ser consumido por qualquer pessoa?


A princípio sim, mas estudos identificaram que 12 a 33% das pessoas experimentaram algum tipo de problema ao
ingerir pólen, especialmente no que se refere às funções gastrintestinais. Na dúvida, inicie comendo quantidades
bem pequenas e observe o resultado.

9.10 Para que o pólen pode ser usado como remédio?


O principal é o seu efeito sobre a prostatite. Diversos estudos identificaram redução da inflamação, do desconforto
e da patologia de pacientes que sofriam de inflamação prostática benigna. Um dos problemas do pólen em relação
ao seu uso terapêutico é que, como ele raramente tem origem monofloral, cada amostra possui sua composição
química particular. Por essa razão, a variabilidade quantitativa de seus componentes é muito grande, chegando à
ordem de 500% ou até mais. Isso dificulta a prescrição de uma dosagem terapêutica específica.

Própolis

9.11 O que é a própolis?


Própolis é uma substância resinosa, colhida pelas abelhas numa grande variedade de plantas, especialmente em
brotos de árvores. Dentro da colmeia, essa substância é manipulada pelas abelhas e misturada a um pouco de
cera a fim de adquirir propriedades mecânicas adequadas ao seu futuro uso. Tal como o pólen e o mel, a própolis
é uma substância de composição variável, por provir das plantas disponíveis na região de cada colmeia. No
entanto, essa variabilidade não é tão grande quanto se poderia esperar; alguns estudos mostram uma razoável
similaridade entre amostras de origens bastante diferentes.

9.12 Para que as abelhas utilizam a própolis?


Para vedar frestas que permitam a entrada de frio ou inimigos naturais, para "envernizar" o interior da colmeia e
assim repelir outros insectos e inibir o desenvolvimento de alguns microrganismos, para recobrir corpos estranhos
que não possam ser retirados da colmeia, como animais mortos, para impermeabilizar a colmeia e para reforçar
partes frágeis da colmeia, entre outros.

9.13 Como o apicultor recolhe a própolis?


Para produzir própolis, o apicultor cria frestas na colmeia introduz uma prancheta plástica abaixo da tampa.

9.14 É possível produzir mel e própolis na mesma colmeia?


Sim.

9.15 Por quanto tempo pode ser mantido o coletor de própolis?


Por tempo indeterminado, desde que o enxame esteja suficientemente alimentado e forte. Segundo [CON98], um
enxame forte leva cerca de 30 dias para produzir 600 gramas de própolis, mas isso, é claro, varia muito com o tipo
de flora local, as condições do enxame e a sua tendência mais ou menos propolisadora.

9.16 Como a própolis é processasa?


Primeiro, deve ser feita a limpeza manual da própolis, para eliminação de lascas de madeira (oriundas da
raspagem), pedaços de abelhas e resíduos vegetais. Em seguida, ela deve ser classificada segundo o padrão de
mercado vigente. Uma classificação simplificada, apresentada em [ESP02], é a seguinte: de primeira qualidade,
própolis em grandes flocos ou tiras; de segunda, própolis granulada; de terceira, própolis pulverizada.

9.17 Como a própolis é armazenada?


Algumas substâncias presentes na própolis evaporam-se ou degradam-se com facilidade. Por isso, é importante
que a própolis seja armazenada em recipientes hermeticamente fechados, como vidros e plásticos atóxicos. Após
embalada, a própolis deve sofrer um resfriamento intenso (um dia no frigorifico, por exemplo), a fim de esterilizar
possíveis ovos de traça. Depois disso, os recipientes devem ser guardados em local fresco, seco e escuro, sem
necessidade de refrigeração [ESP02].
9.18 Como a própolis é comercializada pelo apicultor?
Bruta ou sob a forma de extrato alcoólico ou aquoso.

9.19 Quais são as propriedades da própolis?


A própolis possui diversas propriedades terapêuticas e biológicas, muitas delas já bem estudadas e
compreendidas. Por exemplo, ela apresenta actividades antibiótica, anti-inflamatória, anestésica, antioxidante e
cicatrizante, entre outras.

Cera

9.21 O que é a cera?


Cera é uma substância produzida pelas glândulas cerígenas das obreiras com idade em torno de 14 dias. Para
produzir a cera, as abelhas convertem o açúcar consumido sob forma de mel, num processo de baixa eficiência -
cerca de 8 kg de mel precisam ser consumidos para a produção de 1 kg de cera.

9.22 Qual é a cor da cera?


Branca, como pode ser visto nos favos recém produzidos. A cor amarela ou castanha de alguns favos resulta da
impregnação da cera com própolis, resíduos de pólen e outras impurezas. Os favos de criação antigos têm uma
cor ainda mais escura, por conta dos restos de casulo e dejetos deixados pelas larvas.

9.23 Para que as abelhas usam a cera?


Para construir os favos e para misturar à própolis, a fim de obter uma substância com melhores propriedades
mecânicas.

9.24 Quanta cera há numa colmeia?


Cada favo de ninho completo possui cerca de 100 g de cera. Para cada kg de mel maduro, operculado, são gastos
55 g de cera.

9.25 Qual é a vantagem de se fornecer cera à colónia?


Pelos dados acima, uma alça com 11 kg de mel possui uns 600 g de cera. Para produzir 600 g de cera, as abelhas
devem consumir cerca de 5 kg de mel. Em outras palavras, se um enxame produz uma alça cheia sem receber
nenhuma cera, o mesmo enxame produzirá quase uma alça e meia (uns 40% a mais, na verdade) se lhe forem
fornecidos favos inteiros e vazios. Se lhe forem fornecidas lâminas alveoladas, a perda de mel será menor, mas
ainda assim significativa. Por essa razão, alguns apicultores incluem os favos de alça entre os bens mais valiosos
do apiário, e tratam-nos com extremo cuidado.

9.26 Como preservar os favos de forma natural?


Essa é uma questão ainda não muito bem resolvida na apicultura. Favos são delicados, ocupam muito espaço e
são muito atrativos para roedores e insectos, particularmente as traças de cera. Os favos mais sujeitos a ataques
são os usados para criação e para pólen; os usados apenas com mel são bem menos suscetíveis. Favos de ninho,
porém, raramente são armazenados, apenas substituídos e derretidos.
Em relação aos quadros de alça (entendido como aqueles usados apenas para mel), uma recomendação básica é
que eles sejam devolvidos às abelhas após a extração, para que elas removam todos os resíduos de mel e
deixem-nos suficientemente secos para a posterior armazenagem. Dependendo das condições climáticas (sem
excesso de frio e humidade), as alças podem ser deixadas nos enxames mais fortes, que se encarregarão de
protegê-los contra as traças.
Se as alças tiverem de ser removidas, a melhor medida para evitar a infestação por traças de cera é o tratamento
térmico. O congelamento de favos por 4,5 horas a -7 ºC ou por 2 horas a -15 ºC mata todos os estágios da traça
de cera. Note que esse tempo deve ser contado a partir do momento em que os favos atingiram essas
temperaturas, e não do momento em que eles foram colocados no congelador. Na prática, o melhor é deixar os
favos no congelador por 24 horas. Depois, os favos devem ser guardados em ambiente seco e isolado, para que
não ocorram novas infestações. Se as próprias alças forem usadas para armazenagem dos favos, o ideal é que
elas também sejam congeladas, pois elas também podem conter ovos de traças, especialmente as muito
propolisadas. Cuidado com a manipulação dos favos logo após o congelamento, pois eles se tornam
extremamente frágeis e quebradiços.
Uma alternativa para a armazenagem é fazê-la em ambiente arejado e bem iluminado (mas sem exposição ao
sol). Lembre-se de que, se os favos estiverem afastados uns dos outros, todas as faces receberão uma iluminação
melhor. Essas condições são muito desfavoráveis ao desenvolvimento das larvas, e os favos acabam sendo
rejeitados pelas traças. Se, adicionalmente, os favos puderem ser isolados do ambiente por pranchetas
mosquiteiras (num armário de prancheta, por exemplo), tanto melhor.
9.27 Há produtos químicos seguros para a preservação de favos? [3]
A título de informação, porém, o paradiclorobenzeno (PDB). trata-se de uma substância muito empregue, como
repelente de traças domésticas. É um contaminante importante da cera.
O PDB só pode ser usado em favos limpos, sem resíduos de mel ou pólen. Ele é usado numa proporção de 100 g
para cada pilha de 5 ninhos ou 8 alças. O PDB sublima (passa do estado sólido para o gasoso), e o seu gás mata
a traça em todos os estágios, exceto os ovos. Por essa razão, ele deve ser reaplicado periodicamente. Como o
gás é mais pesado que o ar, o PDB deve ser colocado sobre a caixa de cima, logo abaixo da tampa, e todas as
frestas devem ser fechadas. O gás pode contaminar a cera, e por isso os favos precisam ser arejados por alguns
dias antes de retornarem às colmeias.
Atenção: nunca use naftalina para preservar equipamento apícola. Ela deixa mais resíduos na cera, e há diversas
referências na literatura sobre a sua toxidade para as abelhas.

9.28 Como se produz cera?


Quantidades relativamente pequenas são produzidas a partir do derretimento dos favos velhos que foram
substituídos e também dos opérculos que resultaram da extração do mel.
Se o objetivo principal for a produção de cera, as colónias deverão ser alimentadas abundantemente com xarope,
a fim de estimular a produção dos favos. Por exemplo, considere a produção de uma alça cheia de mel
operculado, a partir de dez quadros que tenham apenas uma pequena tira de cera alveolada para orientação inicial
das abelhas. Neste caso, é preciso fornecer à colónia cerca de 15 litros (= 19 kg) de xarope, na proporção de 12,6
kg de açúcar para 6,4 litros de água. Posteriormente, esses favos serão centrifugados e derretidos, resultando,
aproximadamente, em 11 kg de "mel" mais 600 g de cera. Esse "mel" extraído será então diluído e devolvido às
abelhas como xarope, para a produção de mais cera.

Já a cera produzida pode ser derretida, a fim de ser vendida bruta ou processada. Um processamento possível,
extremamente importante para a apicultura, é a laminação e estampagem da cera, para produção de lminas
alveoladas.

Outra utilidade possível para esse método é a produção de favos completos, para uso na colheita de mel.

9.29 A produção de cera é rentável?


Parece não haver muita gente a produzir cera, talvez pela quantidade de trabalho necessário, mas ela pode ser
rentável, sim. E o melhor é que ela depende apenas de alimentação artificial, não de florações. Chuvas não
atrapalham, porque toda a actividade é interna, mas o frio pode inibir a produção de cera.

9.30 Como se derretem favos de mel? [3]


Um equipamento relativamente eficiente para derreter favos de mel limpos e opérculos é o derretedor solar, que
pode ser comprado ou feito em casa. Para isso, basta fazer uma caixa de madeira rasa, com tampa de vidro duplo.
No fundo, pode ser improvisada uma bandeja para recolher a cera derretida. Os quadros ficam apoiados sobre a
bandeja, um pouco acima do fundo. A caixa deve ser posicionada inclinada, sempre com a tampa de vidro
diretamente voltada para o sol. O calor do sol eleva a temperatura dentro da caixa a mais de 80 ºC, bem acima do
ponto de fusão da cera.
Quando o volume de cera é maior, um derretedor a vapor pode ser uma boa solução. Um modelo compacto
bastante usado é o que emprega um tonel de 200 litros.

9.31 Que tipo de recipiente deve ser usado para derreter a cera? [3]
Conforme [BOG04], recipientes de aço comum, zinco e cobre não devem ser usados, para não escurecerem a
cera. Materiais que contenham chumbo também não devem ser empregados para não contaminar a cera. O aço
inox, também aqui, é o material mais indicado.

9.32 Como se derretem favos de cria? [3]


Os favos de cria têm restos de casulos nos alvéolos, que são tecidos pelas larvas antes do seu fechamento. Além
disso, têm uma cera impregnada por impurezas e, por isso, mais escura.
Qualquer uma das formas acima mencionadas pode ser usada para derreter favos de cria, mas a cera precisa ser
filtrada enquanto estiver derretida a fim de que as impurezas mais grosseiras sejam separadas. Quando a cera for
derretida em água quente, a mistura pode ser passada por uma peneira para outro recipiente. Para isso, um
pedaço de prancheta metálica fina ou um saco de serrapilheira funcionam muito bem. No caso do derretedor solar,
os quadros devem ficar sobre uma prancheta que retenha os casulos das criação (o que diminui a eficiência desse
equipamento e aumenta o tempo do processo). No derretedor a vapor, normalmente já há uma prancheta para
filtragem das impurezas.
9.33 Como purificar a cera? [3]
Qualquer filtragem da cera em equipamento caseiro dificilmente conseguirá limpar a cera convenientemente.
Quando for derretida em água quente, o processo pode melhorar bastante se a cera filtrada for mantida líquida
pelo maior tempo possível. A razão disso é que, líquida e em repouso, a cera sofre um processo de decantação
em que os detritos mais pesados afundam e os mais leves flutuam. Assim que o bloco de cera esfria, a maior parte
das impurezas pode então ser facilmente raspada da sua superfície. Quem prefere números mais exatos, pode
tomar como ideal a permanência da cera derretida em água a 75-80 ºC por 8 horas, no mínimo [BOG04]. Quando
isso não for possível, é recomendável que, pelo menos, o resfriamento da cera seja atrasado o máximo possível,
envolvendo o recipiente com material isolante (panos, jornal) e deixando-o no ambiente mais aquecido que houver.

9.34 Há meios químicos para processar a cera? [3]


Certamente, e a literatura registra alguns, como o uso de água oxigenada para o branqueamento da cera. Eles
podem ser utilizados industrialmente e até em ambiente doméstico. No entanto, devido ao perigo de contaminação
da cera, o melhor é evitá-los sempre que possível.
Uma questão importante é o derretimento da cera em água dura (com excesso de minerais). Neste caso, pode ser
produzida uma emulsão de água e cera. Para evitar o problema, em primeiro lugar, a temperatura da água deve
ser mantida abaixo de 90 ºC. Uma alternativa é acrescentar 2-3 gramas de ácido oxálico para 1 kg de cera e 1 litro
de água [BOG04] (o ácido se ligará ao cálcio e evitará a formação da emulsão, além de ajudar a clarear a cera).

9.35 Como se retira a cera dos quadros sem rebentar os arames?


O melhor jeito é deixar os quadros ao sol por algum tempo. Em seguida, usar uma espátula com delicadeza para
remover os favos. É um bom momento para raspar a própolis acumulada, que também estará amolecida pelo
calor.

9.36 O que fazer com a cera derretida?


Ela pode ser usada em troca por lâminas alveoladas. Dependendo da qualidade da cera derretida, os produtores
de lâminas atribuem-lhe um valor bastante variável.

9.37 Qual é a temperatura de fusão da cera?


Entre 62 e 64 ºC. A partir de 50 ºC, no entanto, a cera já amolece significativamente, e a resistência mecânica de
um favo diminui muito.

geleia Real

9.38 O que é geleia real?


É uma substância produzida pelas obreiras jovens para alimentação da rainha, desde o estágio de larva. Essa
substância inclui secreções mandibulares e hipofaringeanas das abelhas.
Embora o alimento das criação jovens também seja freqüentemente chamado de geleia real, ele é diferente,
possuindo uma proporção muito menor de secreção mandibular. Por essa razão, a geleia real contém algumas
substâncias, como o ácido pantotênico e a biopterina, em quantidades muito maiores que a comida de cria.

9.39 A geleia real é um bom alimento?


A geleia real possui uma composição variada, com carboidratos, proteínas, gorduras, algumas dessas com uma
composição molecular bastante peculiar. Também possui algumas vitaminas e minerais (quase todos em
quantidades menores do que no pólen), além de outras substâncias (esteróides, fenóis, etc.).
Diversas pesquisas atribuem benefícios variados à ingestão de geleia real, mas estudos mais elaborados, com
protocolos de duplo-cego, ainda podem ser necessários para se chegar a um grau aceitável de certeza [SCH92a].
Segundo [MUR02], no entanto, já há evidências de que a geleia real pode ser eficiente como estimulante ou para
tratamento distúrbios neurológicos, endócrinos, digestivos e hematopoiéticos (formadores de células sangüíneas).

9.41 Em que mais a geleia real pode ser usada?


A geleia real possui propriedades cosméticas e antimicrobianas que são aproveitadas largamente na indústria de
cosméticos, especialmente sob a forma de cremes tópicos.

9.42 Quanto vale a geleia real?


Varia muito, mas uma relação possível é a de um quilo de geleia real para 40-45 kg de mel.
9.43 Como se produz geleia real?
Da mesma forma que se produz rainhas, mas com a interrupção do processo. Basicamente, é feita a orfanação de
um enxame forte, seguida do enxerto de larvas de 12 a 36 horas num quadro com cúpulas artificiais, que é
introduzido na colmeia. Três dias depois, o quadro é recolhido, as larvas descartadas e a geleia real retirada.
Cada cúpula fornece entre 200 e 300 mg de geleia.

9.44 Como a geleia real é armazenada?


Protegida da luz, em ambiente refrigerado, inclusive congelada. Ela também pode ser desidratada (por liofilização).

Veneno

9.45 O que é o veneno?


O veneno, ou apitoxina, é um produto sintetizado pelas glândulas de veneno das obreiras e da rainha. É
basicamente composto por uma ampla mistura de enzimas, proteínas e outras moléculas menores.

9.46 Quanto veneno possui uma abelha?


Obreiras em fase de guarda possuem entre 100 e 150 microgramas (milionésimos de grama). Rainhas possuem,
em média, 700 microgramas.

9.47 Como o veneno atua?


Ele é injectado pelas abelhas, com o auxílio do ferrão, nos seus predadores (reais ou presumidos). Algumas de
suas substâncias causam dor, enquanto outras provocam uma reacção alérgica de intensidade variável, que
depende do porte e da sensibilidade da vítima.

9.48 Como evitar uma reacção alérgica ao veneno?


Evitando abelhas. Fora isso, um médico pode prescrever-lhe medicamentos antialérgicos para serem usados após
as ferradas e diminuir a reação, ou submetê-lo a uma dessensibilização. Mas isso, normalmente, só é feito em
caso de sintomas mais graves do que simples reacções locais.

9.49 Como se extrai o veneno das abelhas?


Por meio de um equipamento composto por uma prancheta metálica e uma membrana. A prancheta metálica é
carregada eletricamente, o que provoca um pequeno choque nas abelhas e leva-as a ferrar a membrana e
depositar ali o veneno. A membrana cede o suficiente para que o ferrão não seja arrancado, evitando assim a
morte da abelha.

Pela pequena quantidade de veneno de cada abelha, o rendimento é muito baixo - um grama é obtido a partir de
100.000 ferradas. E o processo de estimulação acaba estressando muito o enxame, que se torna hiperagressivo.
Por essas razões, o valor do veneno é muito alto.

9.50 Quanto vale o veneno?


De 35-55 euros por grama no mercado internacional.

9.51 Para que serve o veneno?


O veneno ainda é objecto de muito pesquisa no mundo inteiro. O seu uso nos tratamentos de dessensibilização é
prática corrente. Diversas pesquisas também apontam para uma possível utilidade no tratamento de artrite
reumatóide, uma doença degenerativa das articulações, muitas vezes acompanhada por dor intensa.
10. Flora Apícola

10.1 O que é considerado flora apícola?


Um conjunto de plantas de interesse para as abelhas. Normalmente, essas plantas são classificadas como
nectaríferas ou poliníferas, mas as boas produtoras de própolis também podem ser incluídas. Outras plantas que
devem integrar a flora apícola são aquelas que não se enquadram propriamente em nenhum dos tipos acima, mas
são hospedeiras habituais de insectos que produzem um pseudonéctar (melato) que é colhido pelas abelhas e
transformado em mel.

10.2 Como saber qual é a flora apícola de uma região?


Impossível dizer sem examiná-la. Cada região possui sua vegetação própria, plantada ou nativa, adaptada às
condições de solo, clima, topologia e ecologia. Uma região distante poucas dezenas de quilômetros de outra pode
ter flora apícola predominante bastante diferente.
Para conhecer as plantas principais, pode-se perguntar a um apicultor experiente da região, ou observar
cuidadosamente a actividade das abelhas por um ou dois anos.

10.3 O que é o calendário apícola?


No que diz respeito à flora, o calendário determina os ciclos de floração da região por espécie. Em geral, muitas
plantas florescem ao mesmo tempo, criando períodos de abundância de alimento que podem resultar em colheita
para o apicultor. Esses períodos são chamados de colheitas. Em contrapartida, os períodos em que a quantidade
de alimento disponível para as abelhas é escassa ou nula são chamados de entrescolheitas.

10.4 Como descobrir o calendário apícola de uma região?


Da mesma forma que a flora apícola - perguntando ou observando. Aqui também, grandes variações podem existir
entre regiões próximas, especialmente se a diferença de altitude entre elas for significativa. Os livros, por exemplo,
definem a época de floração numa faixa ampla, de dois, três ou mais meses. Um leitor desavisado pode imaginar
que a floração se estende por todo esse intervalo, mas, na verdade, este é apenas o período provável da sua
ocorrência.
Aliás, a mesma região pode apresentar variações significativas no seu calendário apícola, de um ano para outro,
por conta de fenómenos climáticos. O que se consegue, na verdade, é apenas uma média, mas que já é muito
importante para o apicultor.

10.5 Por que o calendário apícola é importante?


Porque ele determina grande parte do maneio. Alimentação artificial, troca de rainhas e substituição de quadros,
por exemplo, são actividades típicas da entrescolheita, e todos guardam uma relação temporal importante com a
colheita.

10.6 Quanto dura em média uma floração?


Depende muito da espécie e do tipo de plantio. A família Myrtaceae (dos eucaliptos) floresce por um ou dois
meses, às vezes mais. A Asteraceae (vassouras, carquejas) também tem uma floração longa, e uma espécie
sucede a outra, cobrindo um período longo. A Brassicaceae ( nabo, couve) pode florescer por mais de dois meses.
A Rutaceae (citros) tem uma floração curta, de cerca de duas semanas. Muitas outras espécies, talvez a maioria,
têm uma floração relativamente curta, de alguns dias a duas semanas.

10.7 Florações curtas são inúteis para as abelhas?


Depende do momento de ocorrência. Uma floração curta, mesmo com bom volume de néctar e concentração de
açúcar, não pode ser aproveitada pelas abelhas enquanto o enxame ainda não se desenvolveu o suficiente. Essa
é a principal razão do sucesso dos apicultores que estimulam corretamente as suas abelhas com alimento entre
colheitasm elas conseguem aproveitar bem as primeiras florações.
Depois de o enxame estar bem desenvolvido, naturalmente ou por intervenção do apicultor, qualquer floração
que seja atrativa para as abelhas é útil.

10.8 Quais são as melhores plantas apícolas?


Essa é uma das perguntas mais feitas na apicultura. Há uma variedade enorme de plantas apícolas, mas há
também um problema básico: plantas de excelente desempenho numa região podem se tornar más produtoras
noutra. Por essa razão, diversos estudos chegam a conclusões aparentemente incompatíveis ou mesmo
conflitantes.
Na prática, é preciso recorrer a informações de inúmeras fontes e extrair delas algum consenso sobre espécies
mais úteis.
10.9 A flora apícola de uma região pode ser melhorada?
Sim. O plantio de espécies melíferas que tenham bom desempenho numa região pode resultar em grande
melhoria da flora apícola. Uma abordagem recomendada é o plantio de espécies arbóreas perenes, consorciadas
com espécies herbáceas ou arbustivas anuais, para ganho a curto, médio e longo prazos. A questão económica,
porém, não é tão clara. Por exemplo, alguns estudos identificaram espécies com altos potenciais melíferos, da
ordem de 200 a 1.000 quilos por hectare. Mas este é um potencial teórico, calculado a partir de estimativas do
número médio de flores por hectare durante uma colheita e do volume e da concentração média de açúcar do
néctar produzido por cada flor. Não custa lembrar que, para que este néctar seja recolhido, é preciso haver
condições climáticas adequadas. Também, muitas vezes há uma enorme variação no desempenho das plantas de
um ano para outro. E como se não bastassem essas incertezas, nada impede que um pasto apícola
cuidadosamente cultivado seja aproveitado entusiasticamente por todos os demais enxames da região, sejam eles
naturais ou alojados em colmeias de outros apicultores.

10.10 Que critérios definem uma boa planta nectarífera?


Basicamente, três: quantidade, qualidade e disponibilidade do néctar produzido. No que diz respeito a néctar floral,
os factores levados em consideração são, principalmente, os seguintes:
 Duração da floração;
 Confiabilidade (previsibilidade) da floração;
 Volume de néctar produzido por planta;
 Concentração de açúcar do néctar;
 Acessibilidade da abelha ao nectário;
 Qualidade do mel produzido, consideradas as suas propriedades organolépticas (aroma, sabor, textura,
aspecto, etc.).
Há autores que também incluem a abundância regional como um critério para qualificação de planta nectarífera.
Na minha opinião, isso é um equívoco, pois confunde a avaliação individual de cada planta com a sua participação
relativa no conjunto da flora apícola regional, que são pontos bem diferentes.
Alguns desses factores não são mensuráveis senão em laboratório, mas são percebidos pelo nível de
atractividade que as flores exercem nas abelhas e pela produção destas.
Ou seja, de forma mais simples, uma boa nectarífera é aquela que floresce intensamente, todos os anos (ou
sempre que plantada), atrai muitas abelhas e dá um mel saboroso.

10.11 Há plantas de floração imprevisível?


Sim. Muitas espécies perenes apresentam grandes variações de um ano para outro. É o mesmo processo que
ocorre com as frutíferas, para as quais, sem maneio adequado, os anos de abundância precedem os de escassez.
Os eucaliptos, por exemplo, reconhecidos mundialmente como uma excelente fonte de néctar e pólen, são
notoriamente pouco confiáveis.

10.12 Que critérios definem uma boa planta polinífera?


A flora polinífera é muito mais abundante do que a nectarífera, e, talvez por esta razão, receba menos atenção. É
comum encontrar-se plantas qualificadas como boas produtoras de pólen, mas não estimativas de produtividade
por espécie, por exemplo.
Do ponto de vista da necessidade alimentar das larvas de abelha, porém, sabe-se que há polens muito melhores
que outros. O primeiro dado importante é que o total de proteína no pólen deve ser igual ou superior a 20%, mas
ele, por si só, não significa muito. Um estudo realizado por DeGroot em 1953 determinou as quantidades mínimas
de 10 aminoácidos que devem estar presentes na proteína do pólen para que as larvas possam aproveitá-la
integralmente. Por exemplo, a proteína presente num pólen deve conter no mínimo 4% do aminoácido isoleucina.
Se tiver apenas 3%, segundo DeGroot, as larvas só conseguirão digerir 3/4 da proteína total. Nesse caso, se o
volume total de proteína for de 24% e todos os demais aminoácidos estiverem dentro do mínimo necessário, a
proteína digerível para as larvas será de apenas 18%, o que é um valor insuficiente.

10.14 Que critérios definem uma boa planta propolífera?


Menos informações ainda se têm sobre plantas propolíferas.

10.15 Como identificar uma planta?


Uma vez que se tenha observado uma planta de interesse, o primeiro passo é fazer uma pesquisa como os
moradores locais para descobrir o seu nome popular. Com o nome popular, pode-se descobrir a espécie com uma
simples consulta à Internet
Não conseguindo o nome popular, pode-se recorrer a herbários de universidades ou Jardins Botânicos. Biólogos
que fazem trabalho de campo, têm vasto conhecimento sobre a vegetação regional, e podem ajudar.
11. Inimigos

11.1 Quais são os inimigos das abelhas?


Há vários. Microorganismos causadores de doenças de cria e de adultos, parasitas internos, externos e sociais,
substâncias tóxicas, predadores e outras pragas.

11.2 Como são classificados esses inimigos?


Há varias classificações possíveis. Uma delas, muito citada, é por fase da vida da abelha em que ela é atingida.
Por exemplo, as principais doenças de cria são as seguintes:
 Loque Europeia
 Loque Americana
Criação ensacada
 Ascosferiose
Já as principais doenças de adultos são estas:
 Nosemose
 Disenteria
 Envenenamento
 Fome e frio
E há também os parasitas e outras pragas:
 Varroa
 Acarapis woodi (doença chamada de acariose)
 Aethina tumida (besouro da colmeia)
 Traças de cera
 Formigas

11.3 Loque Europeia


Agente: bactéria Melissococcus pluton.
Sintomas: larvas mortas, amareladas ou marrons. Cheiro ácido forte. Favo de cria com poucos alvéolos
operculados em meio a muitos vazios ou com larvas mortas.
Contágio: as abelhas adultas contaminam as larvas ao alimentá-las.
Prejuízo: significativo, quando a colônia não tem alimento suficiente.
Controle: uma alimentação abundante, energética e protéica, geralmente resolve o problema. Se ele persistir,
uma opção é substituir a rainha para tentar mudar o perfil de tolerância à doença da colônia.
Observação: essa doença pode ser tratada com Terramicina, mas essa não é a melhor escolha

11.4 Loque Americana


Agente: bactéria Paenibacillus larvae
Sintomas: criação operculadas (pré-pupa/pupa) mortas, opérculos perfurados. Larvas marrons que, quando
esmagadas com um palito, adquirem uma consistência viscosa e provocam a criação de um "fio" no momento em
que o palito é removido.
Contágio: fácil, através de mel e pólen contaminados com os esporos da bactéria. A transmissão se dá por
pilhagem de colônias infectadas, transferência de favos de alimento pelo apicultor e até mel extraído que é
recolhido pelas abelhas (essa forma proporciona a "importação" da doença de outros países, junto com méis
contaminados).
Prejuízo: muito grande, podendo devastar apiários.
Controle: colmeias suspeitas devem ser imediatamente isoladas e ter uma amostra enviada a análise de
laboratório. O melhor talvez seja adoptar o critério mais radical, que é o da destruição completa das abelhas e de
todas as partes da colmeia. Para isso, remova primeiro todos os quadros e queime-os durante o dia. À noite, feche
a colmeia e mate as abelhas com um inseticida. Essa parte é especialmente difícil para o apicultor, mas ele deve
lembrar que a sobrevivência de todos os demais enxames está em jogo. No dia seguinte, queime as caixas, fundo,
tampa e as abelhas mortas.

11.5 Cria ensacada


Agente: vírus (SBV, de Sacbrood Virus, sem nome científico)
Sintomas: criação parcialmente operculadas em meio a outras totalmente operculadas ou já emergidas. Pré-
pupas mortas, com cor variando do amarelo ao castanho-escuro, especialmente com a extremidade da cabeça
mais escura que o resto do corpo. Indivíduos mortos podem ser facilmente removidos dos alvéolos, mas, quando
agarrados por uma pinça, tomam a forma de um saquinho (daí o nome).
Contágio: provavelmente através das abelhas adultas, ao alimentar as larvas.
Prejuízo: pouco significativo, podendo passar despercebido em enxames fortes.
Controle: a manutenção de enxames fortes, com bastante alimento é suficiente.
11.7 Ascosferiose
Agente: fungo Ascosphaera apis
Sintomas: larvas rígidas, aparentando mumificação. Podem ser facilmente removidas do favo sacudindo
Contágio: pelas abelhas adultas, ao alimentar as larvas com pólen contaminado com o fungo.
Prejuízo: moderado em enxames mais suscetíveis.
Controle: manutenção de enxame forte e substituição freqüente da rainha.

11.8 Nosemose
Agente: protozoário Nosema apis
Sintomas: abelhas incapazes de voar, desorientadas no chão da colmeia, com tremores, com asas em posição
anormal e abdomen inchado.
Contágio: pelas fezes das abelhas adultas contaminadas, quando depositadas dentro da colmeia (por
impossibilidade de realizar os vôos higiénicos).
Prejuízo: grande em climas temperados, pequeno nos demais.
Controle: manutenção de enxame forte e substituição frequente da rainha. Esterilização eventual dos
equipamentos por imersão em água quente.

11.9 Disenteria
Agente: más condições alimentares e sanitárias
Sintomas: presença de matéria fecal castanho ou amarelada na colmeia, abelhas com movimentos lerdos e
abdomens inchados. Mortandade de abelhas.
Causas: alimento fermentado, alimento com impurezas (como as presentes no açúcar mascavo e melado de
cana), alimento com alto teor de HMF (mel velho, açúcar invertido), excesso de umidade na colmeia.
Prejuízo: de pequeno a muito grande, podendo acabar com o enxame.
Controle: eliminação das causas.

11.10 Envenenamento
Agente: inseticidas
Sintomas: mortandade súbita de adultas dentro da colmeia ou redução drástica do enxame (mortandade no
campo).
Causas: aplicação de inseticidas em culturas vegetais no raio de ação das abelhas. Fungicidas e herbicidas
normalmente não matam as abelhas, ainda que possam deixar resíduos nos produtos colhidos.
Prejuízo: Muito grande, podendo devastar o apiário.
Controle: escolha prévia do local do apiário, conhecimento prévio da rotina de pulverização das culturas vizinhas,
remoção das colmeias antes das pulverizações, alimentação abundante durante e após as pulverizações.

11.11 Fome e frio


Agente: falta de alimento energético
Sintomas: Morte ou forte redução do enxame, com abelhas adultas mortas dentro dos alvéolos, as cabeças
voltadas para o fundo.
Causas: falta de alimento energético (mel, néctar, xarope), especialmente na entrescolheita e em clima frio,
quando o consumo de mel é aumentado para a geração de calor. É importante salientar que qualquer enxame
normal só morrerá de frio se não tiver mel suficiente a disposição.
Prejuízo: Grande, com possível perda do enxame.
Controle: Alimentação artificial com xarope ou mel deixado na colmeia em quantidade suficiente para a
entrescolheita.

11.12 Varroa
Agente: ácaros Varroa destructor e Varroa jacobsoni (talvez outros)
Sintomas: presença de muitas larvas (especialmente de zangãos) com ácaros - vistos a olho nu como pontos
marrons, do tamanho de uma cabeça de alfinete. Os ácaros estão presentes nos adultos também, mas não são
tão facilmente identificáveis.
Um teste simples de ser feito é o seguinte: recolher uma porção de abelhas adultas (500-1000 abelhas) num vidro,
adicionar água e sabão líquido a 4% (ou álcool etílico ou isopropílico a 70%) e agitar bem. Depois, coar as abelhas
e verificar a presença de varroas no líquido.
Prejuízo: muito grande
Controle: manutenção de enxames fortes, bem alimentados. Substituição da rainha em caso de infestação
acentuada. Uso de acaricidas homologados, bayvarol, apistan, apivar, thymovar.
Observação: existe um insecto (Braula coeca) que é praticamente inofensivo às abelhas, mas muito parecido com
a varroa. Ele se aloja no tórax das obreiras e da rainha, às vezes em grupos. Uma diferença perceptível é que ele
possui 3 pares de patas, que se estendem para o lado do corpo, enquanto que a varroa, um aracnídeo, possui 4
pares, que se estendem para frente.
11.13 Acariose
Agente: ácaro Acarapis woodi
Sintomas: imprecisos, muito semelhantes aos de outras doenças: enxame anormalmente reduzido, abelhas
arrastando-se com asas desconjuntadas. A confirmação só pode ser feita em laboratório.
Prejuízo: grande, se não tratado.
Controle: manutenção de enxames fortes, bem alimentados, com rainha nova.

11.14 Besouro da colmeia


Agente: coleóptero Aethina tumida
Descrição: fêmeas adultas deste besouro são atraídas pelo mel e podem entrar na colmeia ou pôr ovos em favos
expostos ao ar livre. As larvas, de pouco mais de 1 cm, alimentam-se de mel e de criação vivas, infestando
qualquer tipo de favo. O mel, fermentado pelas fezes das larvas, é repudiado pelas abelhas. Poucos indivíduos
adultos podem causar pesadas infestações.
Prejuízo: muito grande na América do Norte, com exterminação de enxames.
Controle: difícil. Verificação cuidadosa e pronta eliminação de favos infectados. Manutenção de enxames fortes.
Prevenção por exposição mínima dos favos durante o maneio e colheita de mel.

11.15 Traças de cera


Agente: Galleria mellonella (traça maior) e Achroia grisella (traça menor)
Descrição: indivíduos adultos põem ovos no interior da colmeia ou em favos guardados, especialmente os mais
escuros. As larvas alimentam-se de cera e formam túneis cheios de fezes e fios de seda nos favos, que se tornam
inaproveitáveis para as abelhas. Em infestações pesadas, as larvas chegam a destruir a madeira dos quadros e
das caixas.
Prejuízo: insignificante ou inexistente em enxames médios e fortes; importante em enxames fracos. Possivelmente
grande em favos armazenados.
Controle: manutenção de enxames fortes. Enxames fracos devem ser protegidos por redução do alvado e
vedação das frestas das colmeias. Favos escuros (especialmente os de ninho) devem ser derretidos tão logo
sejam retirados da colmeia. Favos claros devem ser guardados, preferencialmente, em ambiente claro, seco e
arejado. O congelamento dos favos a -15 ºC por 2 horas destrói todas as fases das traças (ovos, larvas e adultos).
Observação: em alguns países o paradiclorobenzeno (PDB) é uma substância química aprovada para controle da
traça em favos armazenados.

11.17 Formigas
Agente: diversas espécies de formigas
Descrição: as formigas costumam atacar repentinamente e causar grandes danos, devorando as criação, o mel,
o pólen e provocando um grande stress na colmeia.
Prejuízo: destruição dos favos e abandono dos enxames.
Controle: manutenção da colmeia em posição elevada em relação ao solo. Uso de cavaletes com Protecção
contra formigas, como lã ou estopa embebida em óleo, arandelas com óleo, cúpulas invertidas (de garrafas PET,
por exemplo). Limpeza do terreno e combate das formigas predadoras nas imediações do apiário.

11.18 Como se pode confirmar uma suspeita de doença?


Enviando uma amostra de favo, criação e/ou adultas para análise num laboratório. Consulte o técnico da sua
cooperativa ou associação.
Consulte em www.fnap.pt a entidade mais próxima.

11.20 Por que não tratar as doenças?


Medicamentos oferecem o risco de, se mal usados, contribuírem para a seleção de estirpes resistentes dos
organismos que estão a ser combatidos. Além disso, contaminam os produtos da colmeia

11.21 Como evitar o roubo e o vandalismo?


Esse é um problema difícil. Por representar um perigo a pessoas e animais, o apiário necessariamente deve ser
localizado a uma certa distância de casas e caminhos, o que o torna um alvo fácil para ações criminosas. Há
muito pouco o que fazer sem investir muito. A primeira tentativa é ocultar da melhor forma possível o apiário da
vista de populares. O uso de cores discretas nas colmeias, telhados e suportes pode ajudar. Alguns apicultores
sugerem adoptar equipamentos especiais, como fundos (chãos) de colmeias com furos grandes, ou tampas
integradas com telhados pesados. A ideia é que as colmeias não possam ser carregadas sem que as abelhas
ataquem os ladrões. Isso pode funcionar na primeira vez, mas dificilmente dará resultado numa segunda tentativa.
A montagem de armadilhas nas imediações do apiário é defendida por alguns, mas é preciso considerar muito
bem as possíveis consequências. Armadilhas que causem dano físico ao invasor podem motivar a
responsabilização criminal do apicultor. Armadilhas que apenas assustem ou que provoquem ruídos altos ou
activem sirenes talvez possam ser usadas. Não há local 100% seguro, mas o conhecimento e uma boa relação
com os vizinhos também ajudam. Um pouco de mel na colheita pode angariar aliados vigilantes.
12. Sobre o texto

Esta é uma compilação de informação relacionada com a temática.


Realizaram-se adaptações a algumas informações. Resulta de compilações de informação da internet.
A apicultura é um assunto vasto. O que está exposto neste texto é uma parte ínfima da apicultura, embora os
assuntos tratados, sejam de interesse frequente dos apicultores e iniciantes. Muita informação é de carácter
empírico, no entanto, a experiência de cada um mostrará certamente o caminho a seguir.Todas as dicas,
informações e opiniões deste texto (e de todos os outros) deverão ser sempre analisadas com um cepticismo
positivo, aquela desconfiança saudável que leva as pessoas a verificarem os dados em outras fontes, a refazerem
experiências, a levantarem dúvidas, raciocinarem, contestarem e argumentarem. A chamada curiosidade de
ouriço.
13. Referências citadas
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