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A colheita da forragem

como balizadora do
desempenho animal
As forragens têm papel fundamental na nutrição de bovinos como fonte de
energia de baixo custo e fornecedoras da fibra necessária à manutenção da
função ruminal e consumo de MS. Desta forma, o correto balanceamento da
dieta está cada vez mais dependente da combinação entre métodos químicos
(FDN) e físicos (tamanho de partícula) na avaliação da fibra.

A determinação da distribuição de partículas por tamanho vem sendo proposta


como método físico auxiliar na avaliação da fibra de alimentos. Um método
rápido e prático de determinação da distribuição de partículas por tamanho foi
desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Pennsylvania – USA
(Lammers et al. 1996). Este método utiliza um conjunto de peneiras (Penn
State Forage Particle Separator) e tem por objetivo avaliar a distribuição de
partículas por tamanhos de forragens e rações completas, combinando assim,
medidas químicas e físicas no balanceamento de dietas.

O tamanho da partícula é um importante fator na produção de silagem, pois a


sua redução é favorável ao processo de fermentação pela compactação
facilitada, pela redução nas perdas por respiração da planta e crescimento de
microrganismos aeróbios, principalmente fungos e leveduras e pela redução
nos custos de estocagem. Entretanto, do ponto de vista nutricional, o tamanho
de partícula também se torna relevante, já que a diminuição ou elevado
tamanho pode interferir na taxa de passagem e digestibilidade, promovendo
alterações no consumo voluntário do animal, e por conseqüência, no seu
desempenho.

No passado, acreditava-se que durante a picagem da forragem, destinada à


produção de silagem, o tamanho médio das partrículas deveria ser de 30 a 50
mm, para beneficiar a compactação e, por conseguinte garantir ambiente
anaeróbio mais rapidamente. Os estudos recentes nos mostram que o tamanho
médio de partícula não tem grande importância, mas sim a distribuição do
tamanho destas, ou seja, podemos obter duas silagens com o mesmo tamanho
médio de partículas, mas com diferente desempenho animal, dependendo do
desvio médio das partículas.
O método original desenvolvido por Lammers et al. (1996), com o uso de três
peneiras, foi adaptado para se avaliar rações totais contendo alto teor de
ingrediente concentrado. Quando é utilizado o sistema com três peneiras,
especialmente em dietas com elevada contribuição de grãos, há acúmulo de
material na bandeja inferior, ou seja, partículas de diâmetro inferior a 7,87 mm.
Além deste fato, as mensurações do tamanho de partícula somente de
forragens resolve os problemas apenas em parte, o correto é avaliar a
granulometria da forragem que será ofertada em conjunto com a ração
completa (Heinrichs & Kononoff, 2002). Diante disso, Heinrichs & Kononoff
(2002) estudaram a adição de uma nova bandeja, com perfurações de diâmetro
de 1,78 mm, abaixo da bandeja de furos de diâmetro de 7,87 mm, conforme
descrito na Tabela 1.

Tabela 1. Recomendações de tamanho de partícula em forragens e em


rações completas para animais alimentados com silagem de milho ou pré-
secado de alfafa com ou sem caroço de algodão

Lima et al. (2001) avaliando a distribuição de partículas durante a ensilagem de


milho, utilizando como método a proposta de Lammers et al. (1996), coletaram
amostras durante quatro dias, a cada três horas em triplicata (vagão no início,
no meio e no final do descarregamento do silo). Em 14 amostras, foram
encontrados 10 a 15% de partículas maiores que 19,05 mm no início da
colheita, aumentando à medida que as facas foram se desgastando, sendo que
ao serem afiadas, essa percentagem foi reduzida novamente. Segundo os
autores, em nenhum momento, a porcentagem de partículas maiores que 19,05
mm recomendada foi inferior ao preconizado, nem foi atingido o padrão das
menores que oito milímetros. Assim, as facas do equipamento deveriam ter
sido amoladas com maior freqüência e a ensiladora usada para colheita foi
incapaz de gerar distribuição de partículas em tamanhos adequados.
Numa segunda avaliação de silagens em fazendas comerciais, Lima et al.
(2001) utilizaram três tipos de equipamentos, com duas regulagens de corte (5
ou 8 mm). A pesquisa foi realizada em quatro fazendas do estado de Goiás
(Vianópolis, Abadiânia, Edealina e Bela Vista) e os resultados revelaram que
somente uma amostra se adequou ao padrão de partículas recomendados por
Lammers et al. (1996).

A inter-relação entre volumoso conservado versus desempenho animal, passa


substancialmente pelo tamanho da partícula da forragem. Na América do Norte
há uma grande preocupação em formular dietas com um teor mínimo de fibra e
esse é modificado pela distribuição do tamanho da partícula, devido ao anseio
de manter a saúde ruminal. No entanto, no Brasil depara-se na maioria dos
casos com cenário antagônico, pois as forragens utilizadas como volumosos
conservados, geralmente apresentam alto teor de FDN, tamanho e distribuição
de partículas, inadequados para atender as exigências dos animais.
Conseqüentemente torna-se necessário o uso de quantidade excessiva de
concentrado, no intuito de atender as exigências nutricionais.

A redução do tamanho de partícula trás benefícios ao processo de ensilagem e


nas condições brasileiras pode ser um fator primordial para o aumento da
inclusão de volumosos na dieta. Diferentemente de outros países, onde o grão
é subsidiado, o volumoso nacional possui menor custo que o concentrado
(desde que seja produzido com planejamento adequado), sendo assim ele
pode ser redutor do custo de produção de carne e leite.

No estudo realizado por Bezerra et al. (2004) com o objetivo de avaliar a


digestibilidade e a taxa de passagem de rações completas contendo diferentes
perfis granulométricos, observou-se que à medida que foi elevado a
percentagem de partículas acima de 8 mm na ração ocorreu aumento no tempo
de retenção ruminal, passando de 46,87 para 63,15 h nas rações completas
com 24 e 74% de partículas acima de 8mm, respectivamente. De maneira
clássica, o aumento do tempo de retenção propicia elevação na digestibilidade,
no entanto vários trabalhos na literatura e no caso o estudo de Bezerra et al.
(2004) esse efeito não foi constatado, pois outros fatores estão envolvidos
nesse contexto.

Há de se considerar que animais de alta produção necessitam de elevado nível


de nutrientes e uma das formas de atender essa exigência é com o aumento da
taxa de passagem que propicia maior trânsito de nutrientes pelo rúmen, no
entanto tem-se que com o aumento do tamanho de partícula ocorre aumento
do tempo de retenção e conseqüente redução da taxa de passagem, conforme
foi constatado por Bezerra et al. (2004).

Diante deste cenário, é possível inferir que no Brasil ainda há dificuldade para
melhorar o processamento físico através da picagem e do condicionamento
mecânico das máquinas que disponibilizamos, de modo que a distribuição do
tamanho de partícula alcance valores satisfatórios. O método das peneiras
ainda é utilizado de forma discreta, limitando-se apenas a algumas instituições
de ensino e pesquisa, porém é uma ferramenta de manejo que no futuro
poderá ter grande aplicabilidade dentro das fazendas brasileiras, unindo as
características químicas e físicas da forragem como forma de manter a saúde
animal.

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