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adiarei meu exame dessas tentativas até chegarmos à seção que versa sobre as várias teorias

acerca dos sonhos. [Ver em [1]]


O psiquiatra Krauss [1859, 255], numa investigação conduzida com notável consistência,
reconstrói a origem dos sonhos e deliria, de um lado, e dos delírios, de outro, até o mesmo fator, a
saber, sensações organicamente determinadas. É quase impossível pensar em qualquer parte do
organismo que não possa ser o ponto de partida de um sonho ou de um delírio. As sensações
organicamente determinadas “podem ser divididas em duas classes: (1) as que constituem a
disposição de ânimo geral (cenestesia) e (2) as sensações específicas imanentes nos principais
sistemas do organismo vegetativo. Dentre estas últimas devem-se distinguir cinco grupos: (a)
sensações musculares, (b) respiratórias, (c) gástricas, (d) sexuais e (e) periféricas.” Krauss supõe
que o processo pelo qual as imagens oníricas surgem com base nos estímulos somáticos é o
seguinte: a sensação despertada evoca uma imagem cognata, de conformidade com alguma lei de
associação. Combina-se com a imagem numa estrutura orgânica, à qual, no entanto, a consciência
reage anormalmente, pois não presta nenhuma atenção à sensação e dirige toda ela para as
imagens concomitantes - o que explica por que os verdadeiros fatos foram mal interpretados por
tanto tempo. Krauss tem um tempo especial para descrever esse processo: a “transubstanciação”
das sensações em imagens oníricas.
A influência dos estímulos somáticos orgânicos sobre a formação dos sonhos é quase
universalmente aceita hoje em dia; mas a questão das leis que regem a relação entre eles é
respondida das mais diversas maneiras, e muitas vezes por afirmações obscuras. Com base na
teoria da estimulação somática, a interpretação dos sonhos defronta-se assim com o problema
especial de atribuir o conteúdo de um sonho aos estímulos orgânicos que o causaram; e, quando
as normas de interpretação formuladas por Scherner (1861) não são aceitas, muitas vezes nos
vemos diante do fato desconcertante de que a única coisa que revela a existência do estímulo
orgânico é precisamente o conteúdo do próprio sonho.
Há uma razoável dose de concordância, contudo, quanto à interpretação de várias
formas de sonhos que são descritos como “típicos”, por ocorrerem num grande número de pessoas
e com conteúdo muito semelhante. São eles os conhecidos sonhos de cair de grandes alturas, de
dentes que caem, de voar e do embaraço de estar despido ou insuficientemente vestido. Este
último sonho é atribuído simplesmente ao fato de a pessoa adormecida perceber que atirou longe
os lençóis e está exposta ao ar. O sonho com a queda dos dentes é atribuído a um “estímulo
dental”, embora isso não implique, necessariamente, que a excitação dos dentes é patológica. De
acordo com Strümpell [1877, 119], sonhar que se está voando é a imagem que a mente considera
apropriada como interpretação do estímulo produzido pela elevação e pelo abaixamento dos lobos
pulmonares nas ocasiões em que as sensações cutâneas no tórax deixam de ser conscientes: é
esta última circunstância que leva à sensação ligada à idéia de flutuar. Diz-se que o sonho com as
quedas de grandes alturas se deve a um braço que passa a pender do corpo ou a um joelho
flexionado que se estende de súbito, num momento em que a sensação de pressão cutânea

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