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Texto Bíblico em TROVAS de


José Alaby
com base na NTLH
– Nova Tradução na Linguagem de Hoje –
da SBB
– Sociedade Bíblica do Brasil –
Direitos autorais do texto original © 2017
José Assan Alaby
Todos os direitos reservados
Compartilho com você um sonho,
que talvez seja o seu também: o de ver e ouvir
pessoas recitando e cantando a PALAVRA DE
DEUS.
A TROVA facilita a memorizá-la e a cantá-la.
Porque a trova é um estilo de Ritmo e Poesia.
É por isso que cerca de 50% do texto bíblico está
em algum estilo de Poesia.
Isso facilitava ao povo decorar a Palavra de Deus,
cantá-la, ensiná-la aos filhos e... praticá-la.
A TROVA tem 4 versos (linhas); cada linha tem 7
sílabas poéticas; e cada verso tem Ritmo, com a
cadência ou na 2ª.-4ª.-7ª. sílabas ou na 3ª.-5ª.-7ª. Eu
prefiro este Ritmo: tatatá-tatá-tatá.
Veja como ficou, em trova, o versículo um do
capítulo um.
Ao ler, acostume-se a recitar no Ritmo, na cadência:
Lá em Uz morava um homem,
que, por Jó, era chamado.
Bom e honesto, a Deus temia,
e buscava nada errado.
No original, o livro de Jó foi escrito em poesia, e foi
encenado como uma peça teatral.
Então, os atores, com gestos e expressões, ajudaram
mais ainda a memorizar e entender a Palavra.
Costumo dizer que a Poesia é a sintaxe de Deus. Fiz
esta trova, inspirado no poeta gaúcho Mário
Quintana: Se alguém te perguntar
a razão de tua poesia,
diz-lhe: Deus, criando o mundo,
bons poemas já fazia.
ÍNDICE
Jó e sua família
Capítulo 1.1-5

Satanás põe em dúvida a sinceridade de Jó


Capítulo 1.6-12
Jó perde os filhos e a riqueza
Capítulo 1.13-22

A segunda prova de Jó
Capítulo 2.1-10
A visita dos amigos
Capítulo 2. 11-13

A queixa de Jó
Capítulo 3.1-26

O primeiro diálogo
Capítulos 4-14
O segundo diálogo
Capítulos 15-21

O terceiro diálogo
Capítulos 22-27
Elogio da sabedoria
Capítulo 28.1-28

A defesa final de Jó
Capítulos 29-31
As falas de Eliú
Capítulos 32-37

A primeira resposta de Deus a Jó


Capítulos 38.1-40.2
A primeira resposta de Jó a Deus
Capítulo 40.3-5
A segunda e última resposta de Deus a Jó
Capítulos 40.6-41.34

A última resposta de Jó
Capítulo 42.1-6

A cena final
Capítulo 42.7-17
Jó e sua família
Capítulo 1.1-5
1
Lá em Uz morava um homem,
que, por Jó, era chamado.
Bom e honesto, a Deus temia,
e buscava nada errado.

2
Sete filhos e três filhas
lhe vieram a nascer.
3
E milhares de animais,
Jó também já veio a ter.
De ovelhas, sete mil;
de camelos, Jó possuía
seus três mil; quinhentas mulas;
e mil bois. E se perdia ’té o número de escravos.
Jó, o mais rico do Oriente.
4
Os seus filhos costumavam
dar banquete a muita gente, revezando em cada
casa;
suas irmãs, vinham trazer,
para, juntos, nos banquetes,
bem comer e bem beber 5Terminada a temporada
dessas festas, Jó acordava
cedo para os sacrifícios
pelos filhos, pois pensava que seus filhos poderiam,
contra Deus, ter cometido
um pecado em pensamento,
e, a Deus, ter ofendido.
Satanás põe em dúvida
a sinceridade de Jó
Capítulo 1.6-12
6
Quando os anjos do Eterno
vieram se apresentar,
entre eles, Satanás
procurou também estar.
7
O Eterno perguntou-lhe:
“De onde é que você vem?”
“Venho duma volta à Terra,
por aí e mais além.”
8
O Eterno perguntou-lhe:
“O meu servo Jó ’stá bem?
Como Jó, tão bom e honesto,
não encontro mais ninguém.
Jó me teme e procura
nada, pois, fazer errado.”
9
Satanás responde a Deus:
“Jó está interessado.
É por isso que Te teme.
10
Tu estás a proteger
os seus bens, terra e família,
para nada acontecer.
Abençoas o que ele faz,
o trabalho de sua mão...
Seus rebanhos de animais
cobrem toda a região!
11
Entretanto, o que é dele,
se vieres a tirar,
tu verás que, sem respeito,
virá Te amaldiçoar.”
12
Disse Deus a Satanás:
“Faça tudo o que quiser
com as coisas que Jó tem
para o que lhe convier, mas não faça nenhum mal
nem a ele nem aos seus.”
Retirou-se Satanás
da presença lá de Deus.
Jó perde os filhos
e a riqueza
Capítulo 1.13-22
13
E um dia, enquanto os filhos,
também filhas, em reunião,
se fartavam num banquete
dado pelo velho irmão, 14chega à casa do bom Jó
um dos servos pra contar:
“Com os bois, jumentas perto,
nós estávamos a arar.
15
De repente, os sabeus
atacaram e levaram
tudo, tudo, e, à espada,
todos os servos, já mataram.
Eu, somente, escapei,
pra, notícia, lhe trazer”
16
Nesse instante em que falava,
outro servo vem dizer: “Lá do céu caíram raios,
sem ninguém sobreviver:
as ovelhas e os pastores.
Escapei pra vir dizer.”
17
Nesse instante, um terceiro:
“Ah! três bandos de caldeus
atacaram e levaram
todos os camelos teus.
Pela espada, os teus servos,
sim, vieram a morrer.
Eu, sozinho, escapei
pra, notícia, lhe trazer.”
18
E, falando ainda este,
chega outro a Jó contar:
“Os teus filhos e tuas filhas
’stavam bem a se fartar, lá na casa do mais velho,
num banquete a farrear.
19
De repente, do deserto
vento forte vem soprar contra a casa, e esta cai;
sua queda é bem forte
sobre todos os teus filhos,
provocando-lhes a morte.
Eu, somente, escapei.”
20
Então, Jó se levantou;
pra mostrar muita tristeza,
suas roupas, já rasgou, e rapou sua cabeça.
Logo após se ajoelhou,
encostando o rosto ao chão,
e a seu Deus, sim, adorou.
21
Aí disse: “Nasci nu,
e, sem nada, vou morrer.
Meu Deus deu. Meu Deus tirou.
Meu louvor Lhe vou render.”
22
Apesar de tanta prova,
contra Deus, Jó não pecou,
e nem mesmo toda a culpa,
no Eterno, colocou.
A segunda prova de Jó
Capítulo 2.1-10
1
E, de novo, veio o dia
em que servos celestiais
se reúnem ante Deus;
Satanás lá entre os tais.
2
O Eterno perguntou-lhe:
“Ei! De onde você vem?”
Satanás lhe respondeu:
“Lá da Terra e mais além.”
3
Deus Eterno então lhe disse:
“Viu meu servo Jó também?
Como Jó, tão bom e honesto,
não encontro mais ninguém!
Jó me teme e procura
nada, pois, fazer errado!
Mas você me convenceu,
e tornou Jó desgraçado, sem motivo para isso.
Mesmo assim, Jó permanece
muito firme e bem sincero
– como sempre, não esmorece.”
4
Satanás, a Deus, responde:
“Se, na pele, lhe tocar,
bem verás o que acontece:
Pra, sua vida, conservar, não lhe importa perder
tudo.
5
Mas, se Tua mão ferir
bem a pele de seu corpo,
Tu verás o que há de vir: Sem qualquer respeito
algum,
ele vai Te maldizer.”
6
Disse Deus a Satanás:
“Realize o seu querer lá com Jó, mas não o mate.”
7
Logo após se retirar
da presença do Senhor,
Satanás já fez ficar todo o corpo do bom Jó
bem coberto de feridas,
desde os pés até a cabeça,
tão horríveis, incontidas.
8
Bem num monte só de cinza,
Jó sentou-se e pegou
já um caco pra coçar-se.
9
Sua mulher então falou: “Você ainda
continua,
homem bom, querendo ser?
Joga praga em seu Deus,
e decida já morrer.”
10
Jó então lhe respondeu:
“O que dizes é bobagem.
Se, de Deus, nós recebemos
coisas boas, sem contagem, por que não também
desgraças,
sim, podermos aceitar?”
Assim Jó não disse nada
contra Deus nem quis pecar.
A visita dos amigos
Capítulo 2.11-13
11
Tinha Jó três bons amigos:
Elifaz da região
de Temã; e, mais, Bildade,
lá de Sua, outro sertão; e Zofar de Naamã.
Ao saberem da desdita
ocorrida ao bom Jó,
vão fazer-lhe uma visita, como prova de amizade;
sua tristeza lhe mostrar
pelos fatos ocorridos
e a fim de o consolar.
12
Vendo a Jó desfigurado,
começaram a chorar
e a gritar; e, por tristeza,
suas roupas a rasgar; e, pro ar e nas cabeças,
a jogar bastante pó.
13
Em seguida, se sentaram
lá no chão bem junto a Jó; sete dias, sete
noites,
sem palavras lhe dizer,
pois sabiam que o bom Jó
só estava a sofrer.
JÓ E SEUS AMIGOS
Capítulos 3-37

3
A queixa de Jó
Capítulo 3.1-26
1-2
Finalmente Jó quebrou
o silêncio, e, no momento,
ele amaldiçoou
dia do seu nascimento.

Jó: 3Oh! maldito seja o dia,


esse dia em que nasci!
Oh! maldita aquela noite
noite em que foi dito ali: “Já nasceu! Nasceu um homem”
4
Vire, o dia, escuridão!
Que o Altíssimo, com ele,
não se importe nunca, não; nunca mais o ilumine!
5
Trevas e escuridão
o dominem; e as nuvens
cubram toda a luz no chão!
6
Que essa noite fique escura
– como algo solitário –
e que ela não apareça
nunca mais no calendário!
7
Que essa noite seja triste;
solitário, esse dia;
e que, nela, não se escutem
quaisquer gritos de alegria!
8
Ah! que sejam mui malditas
essa noite e a manhã,
pelos bruxos com poder
sobre o monstro Leviatã!
9
Que da sua vil manhã,
as estrelas escureçam;
que ela espere suas luzes,
mas as luzes já feneçam; 10pois tal noite permitiu
que eu viesse a nascer,
não poupando, deste modo,
todo este meu sofrer!
11
Por que é que não nasci
morto já, pra não viver?
Por que é que não morri
antes mesmo de nascer?
12
Por que é que minha mãe
no seu colo segurou-me?
Por que é que deu-me o seio;
com carinho, amamentou-me?
13
Se eu tivesse, então, morrido,
estaria – bem capaz –
eu agora, sim, dormindo,
no descanso eterno em paz, 14como em paz
descansam reis
e ministros em jazigos
parecidos com pirâmides;
15
como os nobres bem antigos em suas tumbas de
ouro e prata!
16
Se minha mãe tivesse tido
um aborto às escondidas,
não teria Jó existido, só seria qual crianças
que não viram luz do dia.
17
A agitação dos maus,
lá na tumba acabaria, pois repousam bem ali
os que estão, sim, já cansados.
18
Lá os presos dormem juntos;
todos gritos são calados.
19
Os humildes e importantes
lá são todos igualados;
e os escravos, de seus donos,
já se acham libertados!
20
Por que é que os infelizes
continuam vendo a luz?
E por que deixar viverem
os que amargam uma cruz?
21
Só esperam sua morte;
ela teima; e não vem;
muito embora a desejem
muito mais que aos bens que têm!
22
Eles ficam muito alegres
e felizes quando, enfim,
descem para a sepultura,
como fim de dor assim!
23
Deus os faz andar às cegas,
e os cerca pelos lados.
24
Eu não como, mas só choro;
e meus ais são derramados!
25
Ora, o que eu mais temia
foi o que aconteceu:
O que mais me dava medo
me atingiu, sim, ocorreu!
26
Eu não tenho paz, descanso,
e, sossego, também não;
eu, em meio a sofrimentos,
tenho só agitação.
O primeiro diálogo
Capítulos 4-14

4
Elifaz:
1-2
Jó, será que ficará
ofendido se eu falar?
Mas quem é que, diante disto,
bem calado, vai ficar?
3
Pois você bem ensinou,
em sua vida, muita gente,
e deu forças a pessoas
em momento deprimente.
4
Quando alguém, sim, tropeçava,
sem descanso, força e fé,
suas palavras o animavam
a reagir, ficar de pé.
5
Mas agora que chegou
a sua vez de então sofrer,
como é que, paciência
e coragem, vem perder?
6
O temor que tem de Deus
não o leva a confiar?
Sua vida tão correta
não o leva a esperançar?
7
Tem lembrança de pessoa
inocente desgraçada
ou pessoa sempre honesta
que ficou despedaçada?
8
Tenho visto que os que aram
só em campos de maldade
e semeiam a desgraça
colhem males, crueldade...
9
Deus destrói-os em Sua ira
como uma tempestade.
10
Eles rugem como leão,
mas, o Eterno, em sua bondade quebra os dentes em
sua boca;
deste modo os faz calar.
11
Desdentados, os leões,
incapazes de caçar, deste modo os maldosos
só de fome vão morrer
e, seus filhos, se espalhar.
12
Eis, mensagem, vim a ter, bem mansinho, em voz
baixa,
que mal pude eu ouvir.
13
À noite, quando a gente
bem pesado vai dormir, ah! eu tive um pesadelo
que, agitado, me deixou.
14
E tremeu meu corpo inteiro,
pois terror o dominou.
15
Eu senti no rosto um sopro,
e fiquei arrepiado.
16
Pois alguém ali estava;
olhei bem, inconformado; mas não pude ver sua
forma.
Um silêncio; e após ouvi
uma voz que me falava,
e, por isso, estremeci: 17“Alguém pode ser correto
ante Deus, nosso Senhor?
Alguém pode ser tão puro
no julgar do Criador?
18
O Eterno não confia
nem nos servos celestiais;
mesmo até nos anjos Seus,
muitos erros, acha mais.”
19
Você pensa que confia
em humanos, caro Jó,
fracos, ao poder da traça,
feitos só de barro e pó?
20
Nós podemos, de manhã,
muitos vivos, bem estar,
mas, de tarde, mortos. Fim.
E ninguém vai se importar.
21
Ah! a nossa vida acaba
como cai, barraca, um dia;
e morremos, sem poder,
atingir sabedoria.

5
1
Grite, Jó; e grite muito.
Vai alguém lhe responder?
E que anjo vai chamar?
Vai algum lhe atender?
2
É loucura, desgostoso
e, amargo, assim ficar;
é a falta de juízo
que, à morte, o vai levar.
3
Uma vez eu vi um homem
sem juízo: Parecia
progredir na sua vida,
mas, família, perecia.
4
Filhos seus são inseguros;
em juízos, condenados
de um modo muito injusto;
por ninguém, são amparados.
5
Os famintos, seus bens buscam,
em colheitas, pra comer;
pegam ’té aquele trigo
que, entre espinhos, vem crescer.
6
A aflição desses famintos
nunca brota desse chão;
a desgraça toda sua,
nasce por outra razão: 7Somos nós os que causamos
todo esse sofrimento;
é tão certo como brasas
atiçadas pelo vento.
8
Se eu fosse, Jó, você,
voltaria para Deus;
eu entregaria a Ele
todos os problemas meus.
9
Não podemos entender
maravilhas que Deus faz;
Seus milagres não têm fim,
pois, de tudo, é capaz.
10
Deus dá chuva para a terra;
e, os campos, vem regar;
11
põe humildes nas alturas
e, quem chora, em bom lugar.
12
Ah! o plano dos espertos,
Deus dá jeito de falhar;
Deus procura que as ações
deles venham fracassar; 13pega espertos nas
tramóias,
e acaba com intrigas.
14
Mesmo à luz do meio-dia,
trevas são suas inimigas.
15
Deus, da morte, salva os pobres;
do opressor, os vem livrar;
16
esperança, dá aos fracos;
e, aos maus, já faz calar.
17
É feliz aquele a quem
Deus corrige por amor.
Bem por isso, não despreze
o castigo do Senhor.
18
Ah! Deus fere, mas Deus mesmo
faz divino curativo;
Ele pode machucar
mas suas mãos são lenitivo.
19
Sempre e sempre o Senhor,
de perigo, o salvará;
que algum mal lhe aconteça,
Deus jamais permitirá.
20
Quando em fome, o Eterno
não o deixará morrer;
e, em guerra, da espada,
já virá lhe proteger.
21
Das más línguas viperinas,
o Senhor o guardará;
quando houver destruição,
medo algum você terá.
22
Ante violência e fome,
no final, você rirá;
e, dos animais selvagens,
medo algum você terá.
23
Nos seus campos, ao arado,
pedras não estorvarão;
animais, por mais selvagens,
jamais lhe atacarão.
24
E você, em sua casa,
muito em paz bem viverá;
ao contar as suas coisas,
nada, não, lhe faltará.
25
Muitos filhos lhe virão
quais benditas boas sementes:
como folhas de capim,
crescerão seus descendentes.
26
Como um feixe bom de trigo,
na hora certa de colher,
bem assim vai ser você:
velho e forte ao morrer.
27
Jó, a vida nos ensina
que é assim. Essa é a verdade.
Pense nisso pra seu bem;
pra você: felicidade!

6
Jó: 1-2Se desgraça e sofrimento
fossem postos pra pesar,
3
com certeza, pesariam
mais que a areia lá do mar!

Foi por isso que falei


com violência dura assim.
4
Mortais flechas do Eterno
’stão cravadas cá em mim.
Oh! meu Deus, com Teus ataques,
eu me encho de terror.
5
O jumento fica alegre
ao comer capim, sem dor; e o boi jamais reclama
quando, pasto, sempre tem.
6
Mas quem gosta de comida
sem ter sal? Quem gosta? Quem?
Eu comer clara de ovo?!
Qual é, dela, o sabor?
7
Eu não tenho apetite,
pra comer todo esse horror; o que como me faz mal.
8
O que peço, com paixão,
é que a mim meu Deus conceda
responder minha oração!
9
Ah! então o Deus Eterno,
minha vida, tiraria;
atacar-me-ia, sem dó,
e, comigo, acabaria.
10
Se soubesse que o Eterno,
para mim, isto faria,
apesar da breve dor,
saltaria de alegria!
Pois o Eterno é Altíssimo;
eu jamais O contrariei.
11
Onde estão as minhas forças?!
Como eu resistirei?!
Se não tenho esperança,
que razão pra eu viver?
12
Eu sou forte como a pedra?!
Como bronze, é meu ser?!
13
Até mesmo a mim mesmo
não consigo ajudar;
ninguém há que me socorra
– que me venha amparar!
14
Um desesperado assim
bem merece a compaixão
dos amigos, mesmo quando
ao seu Deus não teme, não!
15
Mas, nem com vocês, amigos,
eu não pude mais contar!
Qual riacho seca ao sol,
a mim vêm desapontar!
16
No inverno, gelo e neve
17
depois, água, vão virar;
esta vai sumindo ao sol
’té seu leito se secar.
18
Caravanas lá se perdem:
Buscam água pra beber;
e avançam no deserto,
mas ali, sim, vão morrer.
19
Caravanas – as que vêm
de Temá e de Sabá –
buscam esses ribeirões,
cheias de esperança lá, 20porém, quando chegam lá,
ficam bem desapontadas,
com as suas esperanças
morrem lá, incontroladas.
21
Como esses ribeirões,
são vocês: Na minha dor,
vocês, vendo minha miséria,
sentem medo e temor.
22
Por acaso eu pedi
que vocês, oh! minha gente,
a mim dessem qualquer coisa?!
Que me dessem um presente?!
23
Por acaso eu pedi
que viessem me salvar
de inimigos?! Ou das mãos
de bandidos me livrar?!
24
Me ensinem; calarei;
mostrem erros cometidos.
25
Se nos falam a verdade,
nós ficamos convencidos; mas, não prova, não, de
nada,
de vocês, a acusação.
26
Querem só me criticar
o que digo, na aflição?
E tratar minhas palavras
– as de um homem em tormento –
como se palavras fossem
parecidas com o vento?!
27
Em leilão, vocês seriam
bem capazes de vender
mesmo um órfão, ou até,
mesmo amigo, oferecer!
28
Olhem bem, cá em meus olhos:
Digam-me se estou mentindo.
29
E retirem o que disseram
– sintam o que estou sentindo – e não sejam tão
injustos.
A mim não condenem, não.
Analisem bem, e vejam:
Eu estou com a razão.
30
Que eu sou um mentiroso,
isso tem vocês pensado?
Por acaso, eu não sei
o que é certo, o que é errado?!

7
1
Dura é a vida neste mundo,
qual serviço militar,
em que todos, bem pesado,
têm que muito trabalhar, 2como escravo que suspira
pela sombra em seu labor;
como quem, salário, espera
– caso do trabalhador.
3
Mês a mês tenho sofrido
aumentar desilusões;
minhas noites são bem cheias,
sim, de muitas aflições.
4
Essas noites são compridas;
eu, na cama, a só virar,
perguntando, em madrugadas:
“Hora já de levantar?”.
5
O meu corpo está coberto
de feridas, bichos, pus...;
minha pele racha, e assim
não suporta qualquer luz.
6
Os meus dias passam céleres,
qual tear de tecelão;
sem deixar uma esperança,
passam como furacão.
7
Lembra-Te, ó Deus Eterno:
Minha vida é só um vento;
nela, nunca mais verei
o prazer de ter alento!
8
Tu me vês cá neste instante,
mas não mais me hás de ver;
pois terei daqui sumido,
quando fores me atender.
9
Como a nuvem: Passa e some.
Ah! assim também quem desce
’té ao mundo dos que morrem:
Jamais volta, pois perece.
10
Para casa, não mais volta.
Dele, quem vai se lembrar?
11
Bem por isso eu não posso,
só calado, mais ficar.
Eu estou bastante aflito.
Muito tenho de falar;
com o coração amargo,
eu preciso me queixar.
12
Por acaso, sou algum
desses monstros lá do mar,
pra que fiques Tu aí
assim a me vigiar?!
13
Quando penso que, na cama,
meu descanso encontrarei,
que, em sono, por um pouco,
minha dor, aliviarei, 14Tu me espantas com os
sonhos,
e me enches de terror
com meus tantos pesadelos
– aumentando a minha dor.
15
Diante disso, eu prefiro
ser já morto estrangulado;
é melhor do que viver
neste corpo infectado.
16
Eu detesto esta vida;
eu não quero mais viver.
Quero paz, pois esta vida
nada mais tem a valer.
17
O que somos, para que
nos dês tanta importância
e assim Te preocupas
com a gente, nesta instância?!
18
Por que é que nos vigias
todo dia e momentos,
e, a todo instante, provas
minha fé com tais tormentos?!
19
Quando deixarás de olhar-me
para que eu possa ter
um momento de sossego?
20
Se pequei, em meu sofrer, ó vigia das pessoas,
qual o mal que fiz a Ti?
Oh! por que de mim fizeste
– deste corpo meu aqui – alvo destas Tuas flechas?
Por acaso, carga eu sou
tão pesada desse jeito,
pra deixares como estou?
21
Por que Tu não me perdoas
meu pecado e não apagas,
sim, inteira minha maldade
– e, com ela, minhas chagas?
Logo, em breve, estarei
dentro de uma sepultura;
Tu me buscarás, porém,
já passei da vida dura.

8
Bildade:
1-2
Até quando você, Jó,
vai falar de modo assim?
Até quando suas palavras,
como vento, não têm fim?
3
Será que Deus se faz injusto?
Que justiça não faria
nosso Deus tão poderoso?
4
Pois é certo, todavia, que seus filhos, sim, pecaram
contra Deus, que os castigou
como bem o mereciam
– e a justiça não tardou.
5
Volte agora para Deus,
ao Altíssimo, orar.
6
Se você é puro e honesto,
Deus virá lhe ajudar; e, assim, como merece,
lhe dará de novo o lar.
7
A riqueza que perdeu
você vai recuperar, mas só isso é quase nada,
se você bem comparar
com o que o Deus Eterno,
depois disso, vai lhe dar.
8
Sim, pergunte aos antigos;
vem com eles aprender,
com as suas experiências.
9
Os novatos vão saber que não sabem quase nada;
como sombra, vêm passar
nossos dias sobre a terra.
10
Deixe antigos lhe falar e antigos lhe ensinar.
Da sua vida, vão dizer:
11
A taboa, sem o brejo,
pode acaso bem crescer?
Ou o junco, sem a água
poderá sobreviver?
12
Secam antes de outras ervas,
mesmo sem, cortados, ser.
13
A esperança dos malignos
dá em nada. Isto acontece
com quem – muito arrogante –
do Eterno Deus se esquece.
14
Semelhante a fio de linha,
é a sua segurança;
como teia de aranha,
é a sua confiança.
15
Só se apóiam lá em teia,
mas a teia não aguenta;
e, de pé, eles não ficam,
pois o fio já se arrebenta.
16
Os maus crescem como ervas
sob o sol pelo jardim.
17
Suas raízes se enroscam
lá nas pedras, e, assim, se agarram bem nas rochas;
18
mas, se alguém as vem tirar,
ninguém vai jamais saber
que estiveram no lugar.
19
É só nisso que, aos maus,
vida alegre, vem lhes dar;
chegam lá outras pessoas
e já tomam seu lugar.
20
Certo esteja de que Deus
está junto com pessoas
– as honestas. Não, com más,
mas, bem certo, com as boas 21Deus fará com que
você
novamente venha a rir
e dar gritos de alegria
– gratidão, sim, repartir; 22inimigos do Eterno
vão viver na confusão,
e as casas dos maldosos,
destruídas, sim, serão.

9
Jó: 1-2Ah! Eu sei, sim, muito bem
que as coisas são assim.
Mas como é que uma pessoa
pode a Deus provar, enfim, que ela está com a razão?
3
Quem se atreve a discutir
com o nosso Deus, Senhor?
Seu saber me faz sentir que Deus pode, mil perguntas,
aos humanos, sim, fazer,
e ninguém será capaz
de, a elas, responder.
4
É profundo Seu saber
e é grande Seu poder;
ah! quem pode desafiá-Lo
e, a Deus, poder vencer?
5
Sem aviso Ele muda
as montanhas do lugar;
em sua ira, as destrói.
6
Terremotos vem mandar, e este chão bem certo
treme;
Ele faz, sim, abalar,
desta terra, as colunas
que mantêm qualquer lugar.
7
Deus dá ordem: O sol não nasce;
Ele pode apagar
toda a luz de suas estrelas.
8
Ele, o céu, pôde aumentar; pisou nas ondas do mar.
9
Deus criou – com seu poder –
as estrelas bem em grupos:
as do Sul, veio fazer, Ursa Maior, Três Marias,
Sete Cabrinhas também.
10
Deus faz coisas grandiosas
e maravilhas tão bem!
Seus milagres não têm fim.
11
Deus, de mim, passa bem perto;
não O vejo; e Deus segue;
não percebo que Ele é certo!
12
Se Deus algo quer reter,
quem que O pode impedir?
Quem se atreve a Lhe dizer
quê fazer, aonde ir?
13
Deus não volta atrás na ira;
a seus pés caem derrotados
esse monstro – que é Raabe –
e também seus aliados.
14
Quem sou eu, então, Bildade,
para, a Deus, eu responder?
Onde vou achar palavras
pra, com Ele, me entender?
15
Mesmo se eu, razão, tivesse,
eu jamais responderia.
O Eterno é meu juiz;
só amor, Lhe pediria.
16
Lá perante o tribunal,
mesmo que eu O chamasse,
ah! não ouviria meu caso,
se Deus lá me apresentasse.
17
Sem razão, aumenta as chagas;
Deus me esmaga com tormentos.
18
Não me deixa respirar,
faz crescer meus ferimentos.
19
Farei uso eu da força?
Ele é o forte. Vou chamar
o Eterno ao tribunal?
Mas quem vai O obrigar?
20
Sou sincero e inocente.
Tais palavras, já, porém,
muito me condenariam
e culpando-me também.
21
Inocente, que importa?
’Stou cansado de viver?!
22
Tudo é a mesma coisa;
é a causa de eu dizer que o Eterno, a bons e maus,
os destrói, indiferentes.
23
Deus vai rir, se uma desgraça
mata muitos inocentes.
24
Este mundo em mãos de maus,
sim, o Eterno permitiu;
e, os olhos dos juízes,
com a venda, os cobriu.
Não foi Deus? Foi quem, então?
25
Mais depressa que um atleta
vão meus dias sem eu ver
feliz vida bem completa.
26
Minha vida passa logo
como um barco bem ligeiro,
como águia, ao lançar-se
no coelho, tão certeiro.
27
Ah! eu posso bem tentar
minhas queixas esquecer;
e deixar meu triste ar
pra voltar a alegre ser; 28todavia, os sofrimentos
mais me deixam deprimente
pois eu sei que Deus não crê
que eu seja inocente!
29
Se supõe que sou culpado,
não adianta, não, lutar.
30
O sabão não pode nunca
meus pecados, pois, lavar; todo mal que cometi,
sabão forte, não limpar.
31
Nesta lama tão imunda,
o Senhor vem me jogar; ’té a roupa que eu visto
deve ter nojo de mim.
32
Deus não é um ser humano,
como eu; por isso, assim, jamais posso responder-
Lhe
nem podemos resolver
tal questão no tribunal.
33
Pra nós dois não pode haver um juiz para julgar
ao Eterno e a mim.
34
Pára, ó Deus, de castigar-me!
Não me enchas tanto assim de temor com teus
terrores!
35
Só então eu falarei;
não me acusa a consciência;
então, medo, não terei.

10
1
’Stou cansado de viver.
Quero me desabafar;
da amargura no meu peito,
quero muito Te falar.
2
Ó Senhor, não me condenes!
Do que vens me acusar?!
3
Sim, Tu mesmo me criaste.
Como podes Te alegrar com maus tratos e desprezo,
que praticas contra mim;
como podes ter prazer
de aprovar planos assim?!
4
Por acaso, tens os olhos,
como nós? E podes ver
bem do jeito que nós vemos?
5
Por acaso, vem a ser a Tua vida, Deus, tão curta,
como a nossa: poucos anos?
Será mesmo que Tu vives
pouco assim como os humanos?
6
Oh! por que, então, procuras
conhecer os meus pecados?
Por que males, que eu fiz,
Te são todos informados?
7
Pois Tu sabes que não sou,
eu não sou culpado, não,
que ninguém, salvar, me pode,
me salvar de Tua mão.
8
Tuas mãos, sim, me fizeram;
minhas formas, vieram dar;
e, agora, as mesmas mãos
me desejam destroçar.
9
Lembra-Te: Tu me fizeste
como o barro, a mim, Jó!
Vais agora, outra vez,
me fazer tornar-me pó?!
10
Tu fizeste que meus pais
me gerassem, dessem vida.
11
Tu formaste o meu corpo
de ossos, nervos e em seguida os cobriste: carne e
pele.
12
Tu me deste vida e amor;
Teus cuidados me conservam
’inda vivo, aonde for.
13
Mas, agora, eu já sei
que no Teu bom coração
tinhas tal secreto plano:
14
Tu querias, sim, então, ver se ia eu pecar
pra depois negar perdão.
15
Se culpado, estou perdido;
se inocente, ah! então eu não tenho, não, coragem
de a cabeça levantar,
porque fico envergonhado
de a meus males eu olhar.
16
Se levanto a cabeça,
orgulhoso da inocência,
ah! tal qual leão me segues;
e, com Tua conivência, até fazes Teus milagres
para só me destruir.
17
Sempre tens as testemunhas
pra acusar e me atingir; a Tua ira contra mim
tende sempre a aumentar
e, com ela aumentando,
Tu me atacas sem parar, como força bem armada.
18
Deus, por que eu vim nascer?
Deveria ter morrido,
antes de alguém me ver; 19já do ventre da minha
mãe,
para a sepultura ido,
e então seria como
nunca houvera existido.
20
Chega ao fim a minha vida.
Ah! então me deixa em paz!
Deixa que eu tenha alegria,
pouco (se isto for capaz), 21antes que em viagem vá,
sem nenhuma volta, não,
ao país de muitas trevas,
e de muita escuridão, 22ao país de muitas sombras,
de desordem pelo chão,
onde a própria luz é como
a mais negra escuridão.

11
Zofar: 1-2Todo esse palavrório
sem resposta vai ficar?!
Por acaso tem razão
quem só vive de falar?!
3
Você pensa que a resposta
que nós temos é bem oca?
Pensa que suas zombarias
fazem-nos calar a boca?!
4
Você, Jó, diz que seu modo
de pensar está bem certo
e afirma que é inocente
ante o Eterno sempre perto!
5
Que Deus fale e lhe dê
boa resposta, eu gostaria!
6
Lhe haveria de ensinar
o “xis” da sabedoria, pois, das coisas, há mistérios,
em explicação se dar.
Notaria que, então,
Deus o está a castigar muito menos que merece.
7
Você pensa ser possível
descobrir, de Deus, segredos?
O Senhor do impossível, conhecer completamente?!
8
Céu não é limite a Deus,
mas não podem lá chegar
nem você e nem os seus; ah! o mundo lá dos mortos
só conhece o Deus-Senhor,
mas você não o conhece
e nem pode o Céu supor.
9
Ele é maior que a terra
e mais vasto do que mar.
10
Se passar o Eterno Deus,
e prender alguém; levar para logo ser julgado,
quem O pode impedir?
11
Deus conhece as pessoas,
as que vivem a cair; Deus vê sempre suas maldades.
12
Se feroz jumento um dia
nascer manso, os sem-juízo,
sim, terão sabedoria.
13
Vire, Jó, seu coração
para Deus e venha orar
com as mãos bem estendidas
– pronto para O adorar.
14
Abandone o pecado
que vem suas mãos manchar
e não deixe que a maldade
venha em seu lar morar.
15
Você sempre andará
de cabeça bem erguida,
puro, firme e sem medo;
coisa má será esquecida.
16
E jamais se lembrará
de seus tristes sofrimentos,
como as águas que passaram,
e se esquecem os tormentos.
17
Sua vida brilhará
mais que o sol do meio-dia,
e, suas horas mais escuras,
serão claras! Que harmonia!
18
Viverá você seguro
e bem cheio de esperança;
Deus amparará você;
sua dormida é bem mansa.
19
Quando estando a descansar,
nada o assustará;
para lhe pedir boa ajuda,
muita gente, sim, virá!
20
Mas os maus – desesperados –
em redor, já vão olhar,
e, pra onde, então fugir,
ah! lugar, não vão achar; para eles, muito certo,
vem a morte sem tardança,
e a morte lhes será,
sim, a única esperança.

12
1-2
Ah! sem dúvida, vocês são agora a voz do
Jó:
povo, e, na hora em que morrerem, saber some e
some o novo.

3
Mas também entendo as coisas; menos que vocês
não sou.
Quem não sabe o que disseram?
Vejam como agora estou:
4
Sou motivo de risadas para cada um amigo – eu,
honesto e inocente, eu, que orava bem e, digo,
Deus me sempre respondia.
5
Ah! os que estão seguros menosprezam
desgraçados, forçam mais os em apuros.

6
Os bandidos têm a paz no recôndito do lar; vivem
bem os que ofendem ao Eterno no falar,
muito embora, a própria força, considerem o seu
deus.
7
Zofar, faça suas perguntas – sobre os mistérios seus

para as aves e animais, e eles o ensinarão.
8
Peça aos bichos e aos peixes, e, lições, já lhe darão.

9
Todas essas criaturas sabem, vivem a aprender que
a mão do Eterno Deus é que as veio bem fazer.

10
Toda a vida das criaturas bem está na mão querida
do Criador; é Quem mantém todas as pessoas com
vida.
11
Meus amigos, como ouvidos julgam sempre o
valor das palavras; paladar, de alimentos, seu sabor,
bem assim também escuto o que estão a me dizer,
mas só aceito o que está certo.
12
Velhos têm muito saber,
e são sábios, pois a idade lhes traz mais
compreensão.
13
No entanto, Deus é sábio, poderoso...; e, então,
entendido e inteligente.
14
O que Deus vem derrubar ninguém pode erguer de
novo; o que prende, não soltar.

15
Quando Deus segura a chuva, vem a seca; ao
deixar já saírem suas águas, tudo pode se inundar.

16
Deus é forte, vitorioso; tem poder, tem Seu valor
tanto sobre o enganado como sobre o enganador.

17
Tira das autoridades toda a sabedoria; faz com que
os chefes percam seu juízo dia-a-dia.
18
E Deus tira reis de tronos e os prende na prisão.
19
Deus afasta os sacerdotes do ofício, ocupação;
e derruba os que estão bem seguros no poder.
20
Faz calar os conselheiros de confiança, e, mais
fazer:
acabar com, dos mais velhos, toda a sabedoria.
21
Ele mostra menosprezo por só quem O contraria
– Ele, o Autor de autoridades – e vem logo acabar
com a força dos poderes.
22
Deus já vem bem revelar
os segredos escondidos; na completa escuridão, faz
a luz já bem brilhar.
23
Às nações, Deus dá, então,
a grandeza e o poder, mas depois o Eterno vem
derrotá-las, destruí-las.
24
O Eterno faz também
que seus chefes percam tino, sempre a perambular
por desertos sem caminhos.
25
Eles sempre estão a andar
só andando em desertos, no escuro, apalpando, às
cegas, como bêbados: ao andar, só tropeçando.
13
1
Com meus olhos, eu vi tudo;
escutei com meus ouvidos,
e, a tudo, entendi.
2
Meus amigos entendidos, não sou menos que
vocês:
O que sabem, sei também.
3
Mas, com Deus, falar eu quero
– com o Poderoso Bem – discutir com o Poder,
só com Ele, minha questão.
4
Ah! vocês tão bem disfarçam
toda a sua enganação com mentiras; como médicos
que não curam a ninguém.
5
Se ficassem bem calados
poderiam, muito bem, ’té, por sábios, já passar!
6
Ora, escutem, sim, então,
minha defesa; às minhas razões,
prestem muita atenção.
7
Para defenderem Deus,
oh! mentiras, vão dizer?!
E, palavras enganosas,
tantas, para O defender?!
8
Do Seu lado vão ficar?!
Defender no tribunal
esta causa do Eterno?!
9
Por acaso, é ideal que Deus, sim, os examine?
Acham podem O enganar
como enganam as pessoas?!
10
Deus os pode castigar, se, injustos, vocês forem,
mesmo sendo em segredo;
11
sua grandeza os encherá
de temor e muito medo; em vocês, cairão terrores.
12
As explicações antigas
que recordam nada valem,
e são cinzas inimigas; como cinzas, nada valem;
suas defesas, fracas, são;
como torres – as de barro –
elas não resistirão.
13
É melhor ficar calados,
pois agora vou falar,
seja lá o que acontecer.
14
minha vida – se, preciso –
Estou pronto pra arriscar
pra enfrentar até a morte.
15Esperança, não mais tenho,

eu Te entrego a minha sorte, Deus, sim, há de me


matar;
mesmo assim, defenderei
minha causa diante dEle.
16Eu, coragem, bem terei; e, talvez, esta coragem

venha mesmo a me salvar,


pois o mau, perante Deus,
jamais vai se apresentar.
17Ouçam o que estou dizendo,
ouçam minha explicação.
18Estou pronto a defender
minha causa, e com razão.
19Mas se Deus assim disser:
“Quem se atreve a discutir
lá comigo em tribunal?”,
certo, há de me convir que terei de me calar,
ficar quieto e morrer.
20Ó Deus, peço só duas coisas;

de Ti, não vou me esconder: 21ó não me castigues mais;


não me faças sentir medo.
22Ó Deus, chama-me à corte
e responderei bem cedo; ou eu falarei primeiro;
Tu então responderás.
23
Quantas faltas e pecados
cometi e fui capaz?

De que erros e pecados


estou sendo acusado?
24
E por que de mim Te escondes?
De inimigo, sou tratado?
25
Eu sou como a folha seca
que é levada pelo vento:
Por que é que Tu me assustas
e me trazes tal tormento?
Eu sou como a palha seca:
Por que tais perseguições?
26
Tu escreves contra mim,
oh! Senhor, acusações; e, ainda assim, Tu queres
que eu venha a pagar
pelos erros quando eu jovem.
27
Com correntes a me atar os meus pés, Tu me
vigias
cada passo ao caminhar
e examinas minhas pegadas
que em caminhos vou deixar.
28
E, assim, vou me acabando
qual madeira que é bichada;
como roupa, pela traça,
que, aos poucos, é tragada.

14
1
Todos somos muito fracos
desde o nosso nascimento;
nossa vida é muito curta,
agitada e com tormento.
2
Ser humano é como flor
que se abre e fenece;
como sombra, ele passa,
logo, sim, desaparece.
3
Nada somos; e por que
Tu nos dás tanta atenção?
Quem sou eu pra que me leves
para ser julgado então?
4
Ser humano, que é impuro,
nada puro há de criar!
5
Já marcaste quantos dias
cada um vai cá estar; isto está já resolvido,
e ninguém pode mudar.
6
Por favor, em paz nos deixa;
pára já de nos olhar, ’té que nosso dia chegue,
finalmente, ao seu fim,
como, de um trabalhador,
chega ao seu também, enfim.
7
Há esperança para árvore:
Se, cortada, acontecer,
ela brota, sim, de novo,
e tornando a viver.
8
Mesmo que suas raízes
venham a se envelhecer
e seu toco, lá na terra,
venha logo a morrer, 9basta um pouco d’água, e
brota,
solta galhos, como nova.
10
Entretanto, quando alguém
morre, já não se renova, acabado está. E fim.
Ao sua alma entregar,
para onde é que vai?
11
Como lagos vão secar, como rios, não mais
correm,
12
vamos todos nós morrer,
sim, enquanto o céu houver.
Pra ninguém jamais se erguer, vamos todos nós
dormir,
– pra jamais nos levantar –
esse sono, o da morte.
13
Ah! se então, nesse lugar, – lá no mundo que é dos
mortos –
Tu pudesses me ocultar,
’té passar a Tua ira,
e, um prazo, então marcar para te lembrar de mim!
14
Mas será que alguém assim,
viverá, após a morte?
Eu, porém, melhor pra mim: Esperar melhores
tempos,
’té minha luta acabar.
15
E então me chamarás,
e eu hei de Te falar; ficarás feliz comigo;
afinal, Tu me criaste.
16
Cuidarás pra que eu não erre,
não ficando – em contraste – me espiando o tempo
todo,
pra me veres só pecar.
17
Esquecendo meus pecados;
erros meus, vais apagar.
18
Mas assim como as montanhas,
lentas, vão se deslizando,
rochas saem dos lugares;
19
e assim como, escoando, águas cavam até pedras,
correntezas levam terra,
assim Tu, a esperança
do humano, já encerra.
20
Tu o derrotas; vai-se ele
para sempre, e vens mudar
toda a sua aparência,
ao, daqui, o enviar.
21
Já não fica mais sabendo,
se seus filhos são exaltados;
e, se caem na desgraça,
não lhe é noticiado.
22
Ele sente só as dores
de seu corpo dia-a-dia,
e também, do próprio espírito,
a terrível agonia.
O segundo diálogo
Capítulos 15-21

15
Elifaz: 1-2Jó, um sábio não responde
jamais com palavras ocas;
ele não se torna inchado
do que dizem ocas bocas.
3
Ah! palavras vãs, inúteis,
não, um sábio não diria
nem respostas sem valor,
como armas, usaria.
4
Mas você quer acabar
com o senso religioso;
dependendo de você,
ah! ninguém bem piedoso, ao Senhor, não oraria.
5
Você fala assim porque
seu pecado engana os outros
com palavras de você.
6
Com palavras próprias suas
não preciso o acusar,
ah! porque, com elas mesmas,
você vem se condenar.
7
Você pensa que é o primeiro
ser humano que nasceu?!
Pensa que, antes das montanhas,
cá no mundo, apareceu?!
8
Você pensa que conhece
os segredos só de Deus?!
Só você se acha sábio
cá, perante amigos seus?
9
Ah! Será que você sabe
o que ainda não sabemos
ou melhor entende as coisas
sobre as quais não compreendemos?!
10
Com pessoas bem idosas,
nós viemos aprender
tudo aquilo que sabemos,
antes de seu pai nascer.
11
Ah! por que você não quer,
o consolo, aceitar,
desse Deus que lhe oferece?
O que vamos já falar é em nome do Eterno,
delicados, com você.
12
Pelo coração, se deixa
ó levar assim. Por que?
Ou por que o olhar de ódio?
13
Tal revolta contra Deus?
E, com ira, tanta queixa
contra ’té amigos seus?
14
Poderá ser puro alguém?
Ser correto ante Deus?
15
Se o Eterno não confia
ah! nem mesmo em anjos seus; se nem céu, pra
Deus, é puro,
16
do humano, o que dizer?!
É imundo e nojento,
que, pecado, está a beber como se mesmo água
fosse?
17
Jó, escute-me explicar:
O que tenho visto sempre
é aquilo a lhe contar – pela própria experiência.
18
O que sábios vêm dizer,
pra ensinar verdades sempre,
com os pais foram aprender, 19e moravam numa
terra
sem influência de estrangeiro.
20
Quem é mau persegue os outros
– muitas vezes por dinheiro – bem atormentado
sofre,
sim, ao longo de sua vida.
21
Enche bem os seus ouvidos
cada voz que lhe é sentida de terror, e, quando
pensa
que está bem, bem protegido,
os bandidos o atacam.
22
Esperança não tem tido de escapar da escuridão
dessa morte, pois, punhal
está pronto pra matá-lo.
23
Urubus, – ante esse mal – esperando, já estão
pra seu corpo devorar;
ele sabe, perto está
noite escura a chegar.
24
Dominado pela angústia
e aflição, ele será,
como um rei, ao esperar
que o inimigo o atacará.
25
O perverso, contra Deus,
sua mão vem levantar,
desafia o Deus-Poder.
26
É rebelde; está a pensar que se acha protegido
por escudo bem pesado,
e se joga contra Deus.
27
Seu olhar – muito enganado – é bem cheio de
orgulho;
egoísta é o coração.
28
Esse homem mau tomou
já cidades que, então, tendo casas já vazias,
logo se transformarão
em um monte de ruínas.
29
Não será tão rico, não, tanto tempo e perderá
tudo, tudo o que tem.
’Té sua sombra, nesta terra,
não existirá também.
30
O homem mau não escapará
da imensa escuridão.
Será ele como árvore
cujos galhos foram então bem queimados, cujas
flores,
já levadas pelo vento.
31
Como não possui juízo
e confia em invento, em mentira, a sua própria
lhe será sua recompensa.
32
Secará antes da hora
como um galho – assim se pensa – nunca volta a
ficar verde.
33
Será ele qual videira:
perde as uvas ’inda verdes;
e será como oliveira, a que deixa cair flores.
34
Os maus não terão rebentos;
pois o fogo queimará,
sim, a casa de avarentos.
35
Eles, sim, planejam o mal;
o errado, vão tramar;
e só pensam em, aos outros,
sempre e sempre enganar.

16
Jó: 1-2Já ouvi tudo isso antes;
vocês vêm me atormentar,
sim, em vez de consolarem.
3
Nunca mais vai se findar esse palavrório oco?
E por que não vão parar
essa tal provocação?
4
Se estivessem em meu lugar, eu também bem poderia
lhes dizer a que estão.
Menearia a cabeça,
com jeitão de sabichão, e eu, então, os pisaria
com palavras – um montão.
5
Ou até lhes falaria
tais palavras de unção, de consolo, para, enfim,
reduzir seus sofrimentos.
6
Mas, se falo, a minha dor
não se acalma em tais momentos; se me calo, o meu sofrer
não vai, não, se reduzir.
7
Tu, ó Deus, me enfraqueceste,
e vieste destruir toda inteira minha família.
8
Tu me aprisionaste então,
e, por isso, me acusam.
Eu sofri transformação.
Eu virei só pele e osso,
e concluem: Sou culpado.
9
Na Sua ira, Deus pisou-me,
me tornou bem arrasado; pra mim, olha, sim, com
ódio;
como fera, me persegue
e também me ameaça
– à Sua ira, estou entregue.
10
Assim, todos me ameaçam,
abrem a boca pra zombarem,
e me dão, sim, bofetadas,
para bem me humilharem.
11
E Deus entregou-me a homens
mui perversos; me empurrou
submisso a gente má.
12
E também Deus me esmagou, quando eu vivia em
paz.
Na garganta me pegou,
me quebrou, me fez Seu alvo
13
e, suas flechas, disparou e, meus rins,
atravessaram,
ah! sem dó nem piedade,
e também, a minha bílis,
expeli, por tal maldade, escorrendo pelo chão.
14
Avançou como um soldado
contra mim e, com seus golpes,
me deixou arrebentado.
15
Em sinal de minha tristeza,
eu vesti saco de pano
bem grosseiro; e, humilhado,
lá no pó – no desengano – me sentei para chorar.
16
Tanto tenho eu chorado
que meu rosto está queimando,
com, olheiras, bem marcado.
17
No entanto, nunca fui
violento, e meu orar
sempre foi muito sincero.
18
Terra, não venha ocultar injustiças contra mim!
Que não seja abafado
o meu grito por justiça!
19
Eu bem sei que, advogado, lá no céu, já tenho um,
e que vai me defender.
20
Os amigos, de mim, zombam,
para me entristecer; e eu me volto para Deus
com vontade de chorar.
21
Assim como alguém defende
seu amigo, vou buscar quem me venha defender,
ante Deus, o meu direito.
22
Meu caminho não tem volta,
tem um fim, e é estreito.

17
1
Pouco posso respirar.
Minha vida, se acabando,
só agora a sepultura
é que está me esperando.
2
Zombadores já me cercam;
E eu devo aguentar
esses tantos desaforos.
3
Só Tu podes me livrar; quem mais tenho, ó Eterno,
para ser meu fiador?
4
Tu fechaste a mente destes
zombadores, meu Senhor, para que não
entendessem
essas coisas; não permitas
que me venham derrotar.
5
Como coisas cá são ditas: “Passarão, sim, muita
fome
filhos dos que, por dinheiro,
traem todos seus amigos
desse modo aventureiro”.
6
As pessoas, contra mim,
usam, pois, o tal ditado;
vêm cuspir na minha cara.
7
Eu estou quase cegado, cego, sim, de sofrer tanto,
e meu corpo vir a ser
uma sombra tão-somente.
8
Ao tal coisa já se ver, esses homens tão direitos
ficam bem horrorizados;
me condenam como ateu.
9
Esses homens tão honrados, respeitáveis, ficam
firmes
bem na sua opinião,
cada vez mais convencidos
de que, certos, sim, estão.
10
Mas se eles cá voltassem,
não, jamais eu acharia
entre eles, um só sábio
pleno de sabedoria.
11
Minha vida vai passando;
os meus planos fracassaram;
lá se foram esperanças
que, no coração, moraram!
12
Meus amigos aqui dizem
que a noite é, sim, dia;
apesar da escuridão,
que a luz, já, já, viria.
13
Bem no mundo lá dos mortos,
minha casa então será,
onde vou deitar, dormir,
onde trevas haverá.
14
Eu direi que a sepultura
é meu pai; vermes serão
minha mãe, minhas irmãs.
15
Sendo assim, onde é que estão todas minhas
esperanças?
Há alguém que possa ver
esperança para mim?
16
Ela vai então descer para os quartos deste mundo
lá dos mortos, onde encerra
nossa vida, para juntos
descansarmos sob a terra?

18
Bildade: 1-2Jó, por que você não pára
de falar? Preste atenção.
Cale-se. E bem podemos
conversar assim então.
3
Por que pensa que não temos
bom juízo; que animais
se parecem bem conosco?
4
Com a raiva, você mais vai ferir-se. E será
que, estando bem zangado,
nosso mundo vai ficar
logo desertificado?
Será que, por sua causa,
montes hão de se mudar?
5
Ah! a vida do perverso,
como a luz, vai se acabar; como as chamas lá do
fogo,
as que deixam de queimar.
6
Lamparina de sua casa,
ah! também não vai brilhar; ao invés de luz, apenas
haverá escuridão.
7
O perverso, firme, andava,
mas agora a tropeção.
8
Ele pisa uma rede,
e seus pés vêm se prender.
9
A armadilha bem o pega
para, ao calcanhar, reter, e o laço o aperta.
10
Armadilha era escondida,
onde ia caminhar.
11
Ameaças à sua vida vêm de todos os seus lados,
e ele passa a ter temor,
pois seu passo é vigiado.
12
Era rico esse senhor, mas agora passa fome;
sobre ele, a desgraça
está pronta pra cair.
13
Pior tempo agora passa: Mal mortal percorre o
corpo
que lhe faz apodrecer
os seus braços e suas pernas.
14
Não podendo lá viver, onde estava mais seguro,
de sua casa, é arrancado,
e, até perante o Rei,
digo, a Morte, é arrastado.
15
Essa casa será limpa
com enxofre, pra deixar
um estranho morar nela.
16
O mau vem se assemelhar qual a árvore que seca:
nela, tudo vai secar,
desde os galhos às raízes.
17
Ninguém mais vai se lembrar do seu nome, quem
foi ele.
18
Sofrerá a expulsão
deste mundo, atirado,
da luz para a escuridão.
19
Ah! nem filhos e nem netos,
nem herdeiros vai deixar.
20
Onde for, os que ouvirem
sobre ele se falar, tremerão – pavor e medo.
21
Este é, pois, o fim dos maus,
sim, daqueles que não querem
vir a Deus, mas, antes, caos.

19
Jó: 1-2Até quando vão vocês
só ficar me atormentando,
me ferindo com palavras?!
3
Ah! vocês vêm me insultando várias vezes. Será que
nunca vêm se envergonhar
de tratar-me assim tão mal?
4
E é justo continuar a sofrer castigo tanto,
mesmo que fosse culpado?!
5
Vocês pensam são melhores
do que eu – eu neste estado?
Acham que desgraça prova
que alguém já é culpado?
6
Pois, então, fiquem sabendo
que eu fui injustiçado pelo Eterno; sim, foi Deus
Quem, só para me pegar,
me armou uma armadilha.
7
Sim, eu quero protestar contra Sua violência,
mas ninguém quer me ouvir;
peço ajuda, mas parece
a justiça não existir!
8
Deus fechou o meu caminho
com um muro; eu, então,
não consigo, não, passar;
me cobriu de escuridão.
9
Deus tirou minha riqueza,
destruiu a minha fama;
10
me atacou por todos lados
’té acabar-me nesta lama; e arrancou pelas raízes
toda a minha esperança.
11
A Sua ira contra mim
me queimou e não se cansa de queimar-me como
fogo;
o Eterno me tratou
como grande inimigo.
12
O Eterno me atacou com desgraças; como tropas
que, trincheiras, bem cavaram;
e, em volta de minha casa,
tais desgraças acamparam.
13
O Eterno fez com que
meus irmãos me abandonassem;
os que me conhecem vêem-me
como nunca se importassem!
14
Meus amigos não se lembram
mais de mim; e meus parentes
se afastaram como os outros.
15
Se tornaram indiferentes os meus hóspedes, que
fingem
não mais me reconhecer;
minhas servas, já me tratam
como, estranho, viesse a ser.
16
Chamo um servo; não atende,
nem pedindo-lhe favor.
17
Minha mulher não mais tolera,
da minha boca, meu odor; meus irmãos, de mim,
têm nojo.
18
Logo após me levantar,
’té crianças me desprezam,
já estão a me zombar.
19
Meus mais íntimos amigos
me detestam; tanta gente
que eu estimo, contra mim.
20
Pele e osso, de repente, me tornei; viver, não
posso.
21
Meus amigos, tenham dó,
pois a mão de Deus feriu,
duramente, este Jó.
22
E, vocês, por que perseguem
a mim como o Eterno faz?
E por que vocês não param
de, de mim, tirarem paz?
23
Minhas palavras, gostaria
de poder eu escrever,
fossem escritas em um livro!
24
Ou que eu pudesse ter um cinzel feito de ferro,
e, com chumbo, eu gravar
minhas palavras numa pedra
– como pedra de um altar!
25
Pois eu sei: Meu defensor
está vivo; e, no fim,
cá virá me defender.
26
Mesmo que, minha pele assim, a doença a coma
toda,
eu ainda hei de ver
o Eterno neste corpo.
27
Com meus olhos, há de ser, os meus olhos O
verão,
e, estranho, para mim,
o Eterno não será.
Eu desejo que, enfim, isso tudo aconteça!
28
“Como foi que o atormentamos?”,
vocês dizem. “Está nele
a origem dos seus danos!”
29
Mas vocês, ah! tenham medo
da espada, com que Deus
bem castiga a maldade.
E Deus julga bem os Seus.

20
Zofar: 1-2Jó, você me perturbou;
logo então vou responder.
3
Suas todas repreensões
são insulto; vou saber dar-lhe, sim, resposta certa.
4
Você sabe muito bem:
Desde sempre, que existimos,
sempre foi assim também: 5A alegria de ser mau,
dura pouco o seu prazer.
6
Sua cabeça, tocar nuvens,
como o céu, tão alto ser, 7mas também, igual a cinza,
ele, sim, perecerá;
seus amigos já perguntam:
“Onde é que ele está?”
8
Como um sonho, vai sumir;
como, em noite, a visão,
para nunca mais ser visto.
9
E o não verá, então, quem com ele convivia.
10
Os seus filhos hão de ter
que entregar o que roubou,
o que veio lhe render de um modo desonesto.
11
O seu corpo jovem, forte,
virará somente pó
– o produto de sua morte.
12
Para o mau, o mal é mel.
Sob a língua, o vai pôr;
13o
seu mal fica na boca;,
pra sentir o seu sabor.
14
Mas tão logo, no estômago,
um veneno, vai virar.
15
Mau vomita as riquezas
– as que está sempre a roubar.
Deus as tira do estômago.
16
O veneno que o mata
é o de cobra, quando bebe.
17
Quem é mau e só maltrata, não, jamais terá o
prazer
de o leite e mel tomar
– os que correm como rios.
18
Terá ele que largar tudo que, com seu trabalho,
ele veio a ganhar,
não podendo usufruir
das riquezas pra esbanjar.
19
Isso é porque, aos pobres,
ele vive a explorar
e os esquece e continua
a, aos outros, mais roubar, muito em vez de, suas
casas,
ele mesmo construir.
20
E jamais se satisfaz
com o que vem possuir, só querendo mais e mais.
21
Em função de seu poder,
ah! em tudo, ele avança,
porém, vai retroceder.
22
Bem no auge do sucesso,
a miséria o atacará;
todo o peso da desgraça
sobre ele cairá.
23
Ora, que ele se empanturre!
Deus, sim, descarregará
sobre ele a Sua ira;
e, chover, sim, Deus fará sobre ele Seu furor.
24
Mesmo que venha escapar
duma arma só de ferro,
uma flecha o vai vazar.
25
De suas costas já feridas,
essa flecha, tirarão.
Sairá brilhando em sangue.
Medo o tomará então.
26
E será bem destruído
tudo aquilo que ajuntou;
e um fogo – que não foi
mão humana que ateou – ah! com ele e família
inteirinha acabará.
27
Os pecados dos maldosos
ah! o céu bem mostrará, e a terra se erguerá
toda para os acusar.
28
Quando Deus, a Sua ira
sobre eles, derramar, suas riquezas vão sumir.
29
Deus vem isso realizar
com perversos; é o prêmio
que a eles vem guardar.

21
Jó: 1-2O melhor consolo, sim,
que vocês me podem dar
é, com muita atenção,
minhas palavras, escutar.
3
Tenham muita paciência,
sim, enquanto eu falar;
ao findar a minha fala,
vocês podem me zombar.
4
Não é, não, o ser humano
que me faz impaciente
e me leva a me queixar.
5
Se alguém pra mim olhar, ah! vai pôr a mão na
boca,
por ficar tão assustado.
6
Quando penso no ocorrido,
fico até bem perturbado, e meu corpo todo treme.
7
Ah! por que? Como explicar
que os maus ainda vivem?
Por que ricos vêm chegar à velhice com saúde?
8
Eles têm filhos e netos,
podem vê-los bem crescidos,
ao redor, com seus afetos!
9
Os seus lares são seguros,
nada, nada os ameaça,
Deus não traz qualquer castigo,
os protege da desgraça.
10
Sem problemas, o seu gado
reproduz-se normalmente,
dando crias sem aborto.
11
Cada filho, bem contente, corre e pula de alegria,
bem iguais a carneirinhos;
12
eles cantam, se divertem
– como aves saem dos ninhos – bem ao som de
harpas, flautas
e ao som de seus pandeiros.
13
Os maus sempre têm do bom,
do melhor, e bons dinheiros, morrem sempre muito
em paz,
sem sentir um sofrimento.
14
No entanto, a Deus dizem:
“Das Tuas leis, neste momento, não queremos nem
saber;
deixa-nos, portanto, em paz.
15
Quem é o Deus Poderosíssimo
para a gente ser capaz de adorá-Lo neste mundo?
Que adianta se fazer
orações ao Deus Altíssimo?”
16
Os maus vivem a dizer que progridem por si
mesmos;
não aceito, entretanto,
o seu modo de pensar.
17
Quando foi – lá no seu canto – que apagou-se a
luz dos maus?
Quantas vezes, na desgraça,
já caiu qualquer um deles?
Ah! será que o Deus da graça, já, com eles, se irou,
e, por isso, os fez sofrer?
18
Quando foi que os espalhou
– como a palha vem a ser; como o pó levado ao
vento?
19
Vocês dizem: Deus castiga
bem o filho por pecados
do seu pai. Mas, que intriga!
É o pai quem deveria
já sofrer castigo então
para que bem aprendesse,
do Eterno, boa lição!
20
Que o próprio pecador
venha ele receber
o castigo, sinta o peso,
sim, da ira do Poder!
21
Mas, se ele já está morto,
já está no outro mundo,
que lhe importa se a família
sofra um pesar profundo?!
22
Por acaso alguém pode
dar lições ao Deus-Poder,
que ’té julga os celestiais?!
23
Alguns homens podem ter vida alegre e tranquila
e, bem ricos, vão morrer
24
com saúde e muita força.
25
Ao contrário, vamos ver outros que nunca
provaram
um momento de alegria,
e, assim, falecem eles
de amargura e agonia.
26
Todavia, uns e outros
quando acabam por morrer,
são apenas enterrados,
para os vermes os comer.
27
Eu conheço os pensamentos
de vocês: bem mal de mim.
28
E perguntam: “Onde está
a mansão do homem, sim, que vivia em pecado?”
29
E vocês não têm falado
com pessoas que viajam?
E histórias escutado?
30
As pessoas essas dizem
que, ficando Deus irado,
Deus castiga, mas o mau
sempre foge para um lado.
31
E ninguém o acusa, não,
das maldades que comete;
sim, ninguém o faz pagar
pelo mal em que se mete!
32
É levado ao cemitério,
posto numa sepultura
bem guardada, em mausoléu.
33
E então o que se apura?
Ah! milhares de pessoas
acompanham o caixão;
e é leve a terra posta!
34
O que, pois, concluo então?
Meus amigos, suas palavras,
essas de consolação,
são vazias; o que dizem
é mentira, sim, então.
O terceiro diálogo
Capítulos 22-27

22
Elifaz: 1-2E será que uma pessoa,
por mais sábia que ela seja,
poderia ser bem útil
para Deus – no que deseja?
3
Interessa ao Deus-Poder
que você, honesto, seja?
E, que lucro tem o Eterno,
se é correto em que enseja?
4
Se o Eterno o castiga,
pra prestar-Lhe contas, chama,
a razão não é porque,
com temor, você O ama, 5mas é, sim, porque você,
ah! pecados cometeu
e seus males não têm conta!
6
Para um penhor que é seu de um empréstimo
pequeno
que, a seus patrícios dava,
lhes pedia roupas deles;
assim nus você os deixava!
7
Aos sedentos e cansados,
água, não, você não dava;
a famintos, sem comida;
ah! você não saciava!
8
Pra virar, da terra, o dono,
bem usou de seu poder!
9
Maltratou e ’té roubou
viúvas, órfãos pra valer!
10
É por isso que, agora,
de perigos, ’stá cercado;
de repente, de temor,
muito medo, está tomado!
11
A escuridão é tanta,
que você não enxerga nada
e uma enchente o arrasta.
12
Deus, da infinita escada, olha a baixo e vê estrelas
– mesmo, altas, ’inda estão.
13
Mas você pergunta ainda:
“Sabe Deus de tudo, ou não?
As estrelas ’stão no meio;
como pode nos julgar?”
14
Jó, você ainda pensa
que o Eterno, ao passear pelo céu, não pode ver-
nos,
mesmo estando o céu nublado?
15
Você quer andar nas vias,
as dos maus lá do passado?
16
De repente, os maus morreram
– quais levados por enchente.
17
Para Deus, diziam eles:
“Ora, deixa em paz a gente!”.
E ainda comentavam:
“O que pode o Deus-Poder
para o nosso benefício,
já, agora, oferecer?”.
18
Foi o Eterno quem encheu
só de coisas muito boas
lá as casas dos maldosos,
mas não sigo essas pessoas, na maneira de pensar.
19
Ficam cheias de alegria,
as pessoas bem honestas,
riem com sabedoria, as pessoas bem corretas,
20
sim, ao verem destruídas
a riqueza lá dos ricos,
e, suas sobras, consumidas pelo fogo que as devora.
21
Venha, Jó, ficar em paz
com o Eterno, e não o trate
como algoz, pois é capaz de lhe dar tudo de bom.
22
Deixe Deus o ensinar;
Suas palavras, em sua alma,
se disponha a guardar.
23
Se, ao Todo-Poderoso,
bem humilde, se voltar;
se, com males de sua casa,
você logo acabar, 24se o ouro mais precioso
não tiver-lhe mais valor;
e, se como pó ou pedras
do riacho, o ouro for, 25ah! então o Deus-Poder
bem será seu ouro puro,
sua prata mais preciosa,
26
seu prazer– o mais seguro – e você, com
confiança,
poderá a Deus olhar.
27
Vai ouvir suas orações,
e você, sim, vai lhe dar tudo que Lhe prometeu.
28
Tudo aquilo que fizer
vai dar certo e, seu caminho
terá luz que Deus lhe der.
29
Deus rebaixa os orgulhosos,
mas, humildes, vem salvar.
30
Sendo honesto e inocente,
salvação, virá lhe dar.

23
Jó: 1-2Eu ainda me revolto
e me queixo do Senhor;
não consigo, não, parar
de gemer, com tanta dor.
3
Gostaria de saber
onde posso O encontrar,
de ir lá, onde Ele está,
ir até esse lugar, 4pra levar-Lhe minha causa,
e, a Ele, apresentar
as razões a meu favor.
5
De saber, eu vou gostar, o que Ele me diria
e iria responder.
6
Ah! será que usaria
contra mim o Seu poder?
Não. Por certo, me ouviria!
7
Sou honesto. Poderia
Lhe mostrar a minha causa,
e, inocente, me veria.
8
Eu procuro o lado Leste,
mas o Eterno não está;
não O encontro nem no Oeste.
9
E também não O vejo lá se se esconde lá no Sul,
quando age lá no Norte.
10
Mas o Eterno bem conhece
cada passo de minha sorte; se Ele me puser à prova,
bem verá que sairei
muito puro como o ouro.
11
Seu caminho seguirei como o mostra, sem desvio,
não, jamais, pra nenhum lado.
12
Obedeço aos mandamentos
do Eterno, a Ele agrado, faço sempre Sua vontade.
13
Toda vez que decidir,
Deus faz sempre o que quer;
ninguém pode impedir.
14
O Eterno levará ,
os Seus planos ’té o fim
sobre o que fazer comigo
e outros planos Seus, enfim.
15
É por isso que eu perco
a coragem em Sua presença;
me apavoro ao pensar nisso.
16-17
A escuridão imensa me cegou; mas quem em
mim
muito medo vem me pôr
não é, não, a escuridão,
mas Poder de Deus-Senhor.

24
1
Oh! por que meu Deus-Poder
não me agenda pra julgar;
marca um dia para, aos dEle,
Sua justiça realizar?
2
Homens há que mudam marcos
de divisa pra aumentar
as suas terras; eles roubam
mais ovelhas pra pastar bem no meio lá das suas.
3
E também levam jumentos
de órfãos, mais bois de viúva,
garantindo os pagamentos de empréstimo que fez.
4
Não respeitam o direito
nem dos pobres; eles forçam
desgraçados – desse jeito – a correr e se esconder.
5
Como se fossem jumentos,
pobres andam por desertos,
procurando os alimentos para aos filhos sustentar.
6
Pobres vêm a precisar
trabalhar lá na colheita
desses maus, para apanhar muitas uvas só pra eles.
7
E, de noite, nada têm
para bem se agasalharem,
sim, do frio que, forte, vem.
8
Nas montanhas, são encharcados
pelas chuvas, e, então,
se abrigam lá nas rochas.
9
Os perversos – maldição! – pegam os pequenos
órfãos
e os tornam escravizados;
como um pagar de dívidas,
filhos dos necessitados.
10
Pobres andam por aí
quase nus e passam fome,
sim, enquanto colhem trigo,
no trabalho que os consome!
11
Movem pedras dos moinhos
lá dos maus, pra lá fazer
o azeite, e pisam uvas
para, em vinho, converter; mas, durante esse
trabalho,
sim, de sede, vêm morrer!
12
Os feridos e os que estão
a morrer, sim, vêm dizer, já aos gritos nas cidades,
que precisam de ajuda,
porém, Deus não os escuta
– não existe quem acuda.
13
Os perversos, luz, odeiam;
dela, não querem saber,
no que fazem, nos caminhos
– os que têm que percorrer.
14
O assassino se levanta
já bem cedo pra matar
quem é pobre; mas, de noite,
um ladrão, já vem virar.
15
O adúltero espera,
sim, a noite aparecer;
e, então, o rosto, cobre
pra ninguém podê-lo ver.
16
Os ladrões invadem casas
só de noite; não, de dia,
o ladrão não sai porque,
luz, jamais suportaria.
17
Eles temem luz do dia;
no entanto, a escuridão
não os deixa apavorados;
não têm dela medo, não!

25
Bildade: 1-2Deus é todo poderoso;
deve ser temido; faz
que no céu, lá nas alturas,
haja sempre muita paz.

3
Por acaso alguém contou
os Seus anjos lá no céu?
Haverá, acaso alguém
– seja crente ou incréu – sobre quem Sua luz não
brilhe?
4
Pode alguém, correto, ser
ante Deus? Pode um mortal
não-culpado se dizer?
5
Para Deus até a lua
não tem brilho; têm defeitos
as estrelas com luz própria.
6
E do homem e seus feitos, esse inseto, o que
dizer?
Esse verme, que valor,
quanto vale o ser humano
para Deus, seu Criador?

26
Jó: 1-2Oh! Bildade, estou fraco,
sem as forças para andar;
como ajuda, me consola!...
3
Como é bom para me dar tais conselhos e gastar
toda a sua sabedoria
com um bobo como eu!
4
E quem foi – perguntaria – que lhe veio ajudar
a dizer já para mim
tais palavras?! E inspirou,
a você, falar assim?!
Bildade: 5Ah! de medo, os mortos tremem
lá nas águas, sob a terra.
6
Para Deus, já esse mundo
é aberto, e descerra; não há teto que o impeça
de ver lá o que acontece.
7
O Eterno estendeu
já o céu, pra que pudesse preencher todo o vazio,
pondo a terra sobre o nada.
8
Prende a água lá nas nuvens;
– como coisa bem pesada – não se rasgam com seu peso.
9
Ele cobre bem a cara
da lua cheia, estendendo
sobre ela nuvem rara.
10
O Eterno separou
bem a luz da escuridão,
sim, por meio de um círculo
desenhado em mar, então.
11
Quando ele ameaça
as colunas que sustentam
este céu, de medo, tremem
e, seus sustos, mais aumentam.
12
Com o Seu poder, o Eterno
dominou, sim, bem o Mar;
com a Sua inteligência,
veio, Raabe, derrotar.
13
Com Seu sopro, Deus limpou
todo o céu e, com Sua mão,
a Serpente, já matou.
14
Mas, tais coisas, elas são, ah! somente uma
amostra,
eco fraco desse Ser,
desse Deus Onipotente,
do que pode mais fazer.
Ah! quem é que, neste mundo,
pode um dia compreender
a grandeza verdadeira
do Eterno e Seu poder?

27
Jó: 1-2Por Deus, juro, o Deus-Poder,
que, justiça a mim não quer,
que me enche de amargura,
3
juro que, enquanto der forças para eu respirar,
4
os meus lábios não dirão
coisas más, e minha língua
não dirá mentiras, não.
5
Não direi que vocês têm
a razão de me acusar;
ah! enquanto eu viver,
minha inocência, vou plantar.
6
Fico firme e não desisto
de dizer que estou certo,
pois a minha consciência
nunca me acusou nem perto.
7
Ah! que todos oponentes,
os que são meus inimigos,
sejam eles castigados
como os maus – tão atrevidos.
8
Que esperança têm ateus
quando Deus tirar-lhes vida?
9
Quando eles estiverem
em momentos sem saída, Deus não ouvirá seus
gritos,
10
pois, em Deus, não têm prazer;
nunca, ao Todo-Poderoso,
orações, hão de fazer.
11
A vocês, vou ensinar
como é grande o Seu poder,
explicar também Seus planos
– que executa com prazer.
12
Não, não é preciso, não,
pois já viram o que disse.
Ora, então, por que vocês
me repetem só tolice?
Zofar: 13Vou dizer como o Eterno
pune os maus e violentos.
14
Suas crianças terão fome,
e seus filhos, em tormentos, mesmo muitos, morrerão
– abatidos, sim, na guerra;
15
e, os que ficarem vivos,
a doença os enterra, sem o choro de viúvas.
16
O mau pode ajuntar
prata aos montes; muita roupa,
muita mesmo, ’té comprar, 17mas, um dia, uma pessoa
muito honesta usará
todas essas roupas finas;
outra honesta ficará com a prata ajuntada.
18
Tem bem pouca duração
casa feita pelo mau,
pois a traça a ataca então; ou é como a cabana
de um vigia em plantação.
19
Vai bem rico, o mau, pra cama
– numa doce ilusão –; quando acorda, sua riqueza
já se foi, sim, de uma vez.
20
O terror o arrasará
como enchente já o fez, e, de noite, a tempestade,
para longe, o jogará.
21
Violento é o vento Leste:
De sua casa, o arrancará, 22ao soprar sem piedade.
E faz tudo pra escapar.
Corre, e o vento assobia
com poder, para o assombrar.
Elogio da sabedoria
Capítulo 28.1-28

28
1
Minas há que são de prata,
há lugares de refino
de ouro bruto extraído.
2
E o ferro – não é fino – é extraído, sim, da terra,
e, das pedras, cobre vem.
3
Os mineiros levam luz
para as minas lá também; buscam em lugares fundos
e, ali, na escuridão,
buscam os minérios ricos.
4
Lá, bem longe, no sertão, e, por onde ninguém
passa,
fazem a escavação
dos seus poços – suas minas.
E trabalham em solidão, pendurados,
balançando,
de um lado pro outro lado.
5
E, na terra, lá por cima,
muito trigo é cultivado, mas, por baixo, a terra está
bem rasgada e esmigalhada.
6
Suas pedras têm safiras,
e riqueza é achada: Em seu pó se encontra ouro.
7
Águias não conseguem ver
o caminho para as minas,
nem falcões o conhecer.
8
Os leões e outras feras
nunca descem por aí.
9
Homens cavam duras rochas,
cortam montes ’té ali.
10
Furam túneis nessas pedras,
com olhar bem ocioso
de mineiros procurado
o que é bem precioso.
11
Eles cavam ’té chegar
lá, dos rios, suas nascentes,
e, o que estava escondido,
à luz, trazem, bem contentes.
12
Onde podem, entretanto,
encontrar sabedoria?
Onde está a inteligência?
13
Os humanos, todavia, da real sabedoria,
não conhecem o valor;
não a encontram neste mundo,
onde quer que a gente for.
14
O Mar diz: “Aqui não ’stá”.
“Nem aqui”, diz o Oceano.
15
A sabedoria não pode
ser comprada por humano, pelo ouro e nem por
prata.
16
Ah! não dá pra se a comprar
nem por ouro fino e puro,
nem com pedras de colar, como a ágata e safira.
17
Mais que o ouro ou cristal,
ela vale muito mais;
não se a troca – é natural – nem por jóias de ouro
puro.
18
Do coral e do cristal,
nem se fala; mais que pérolas,
seu valor é universal!
19
Co’ topázio da Etiópia,
não se a pode comparar
nem com ouro do mais puro.
Nada a pode igualar.
20
De onde vem sabedoria?
Onde está a inteligência?
21
Ah! Nenhum ser vivo pode
vê-la em plena consciência, nem as aves deste céu.
22
Dizem Morte e Destruição:
“Só ouvimos falar dela”.
23
É somente o Eterno, então, que conhece o
caminho
de onde está a sabedoria,
24
pois sua vista longe alcança,
’té lugar que não se via; Deus vê tudo o que
acontece
cá na terra – mais ninguém.
25
Quando Ele regulou
o poder que os ventos têm e, do mar, marcou
tamanho;
26
quando Ele decidiu
onde a chuva cairia
e por onde permitiu tempestades, sim, passar;
27
foi então que Ele viu
a sabedoria em tudo:
a testou e a permitiu.
28
E Ele disse aos humanos:
É preciso a Deus temer,
pra ser sábio; e, não ser mau,
para entendimento ter.
A defesa final de Jó
Capítulos 29-31

29
1-2
Ah! pudesse eu voltar
tempo atrás, já desde o dia
– em que, com o Seu poder –
o Senhor me protegia!
3
Nesse tempo o Deus Eterno,
meu caminho, iluminava;
com Sua luz, na escuridão,
eu, seguro, bem andava!
4
Nesses dias, eu estava
bem de vida e a amizade
do Senhor bem protegia
o meu lar e minha herdade!
5
Deus-Poder, comigo, estava,
com meus filhos ao redor.
6
Lá em casa sempre havia
muito leite – e do melhor – e azeite de oliva,
de oliveira natural.
7
Toda vez que eu saía
à reunião do tribunal, com juízes, me assentando,
8
moços viam-me e até
entre eles eu passava,
velhos punham-se de pé!
9
As pessoas – as mais nobres –
já paravam de falar
e ficavam em silêncio!
10
Também vinham se calar todas as autoridades
– nada tinham a dizer!
11
Quem me ouvia, pois, falar
me podiam bendizer e me davam parabéns,
12
pois, aos pobres, ajudava,
que pediam minha ajuda;
e, dos órfãos, eu cuidava, pois não tinham proteção.
13
Sim, me vinham abençoar
os que estavam na miséria;
também vinham se alegrar as viúvas, com o auxílio.
14
Eram parte, sim, de mim
a justiça e honestidade,
como roupas que, enfim, uso todos os meus dias.
15
Era os pés para aleijados
e os olhos para os cegos.
16
Era o pai dos desgraçados, defensor dos
estrangeiros.
17
Acabava co’o poder
de opressores e livrava
suas vítimas de ser exploradas por suas garras.
18
Eu pensava sempre assim:
“Longa vida, vou viver
e morrer em casa, enfim, tendo todo meu conforto.
19
Como árvore, serei,
de raízes ’té a água:
Toda noite eu terei o orvalho a me molhar.
20
Todos, só bem, falarão
sobre mim; e eu serei
vigoroso, forte, então.”
21
Todas as pessoas, sim,
a mim davam atenção
e em silêncio escutavam
meus conselhos co’ afeição.
22
Terminando de falar,
não, ninguém me contestava.
Cada uma das palavras,
na cabeça, lhes entrava como gotas na areia!
23
E esperavam com fervor
tais palavras como, à chuva,
se espera no calor.
24
Aos que tinham já perdido
a esperança, eu sorria;
e, coragem mais lhes dava,
o meu rosto de alegria!
25
Era eu igual a chefe
– o que vinha decidir
quê deviam já fazer –;
eu os vinha dirigir como, à frente de um exército,
faz um rei: As ordens, dava;
e, nas horas de aflição,
eu também os consolava.

30
1
Mas agora os mais jovens
vivem a zombar de mim.
Os seus pais não valem nada;
não poria gente assim nem com cães que agora
estão,
do meu gado, a cuidar.
2
Ora, a força dos seus braços
em que pode me ajudar?
São pessoas muito magras,
3
fracas de, fome, passar.
À noite, na miséria,
para se alimentar, roem só raízes secas.
4
E, ainda pra comer,
pegam ervas, também cascas,
sem mais nada lhes valer.
5
São expulsos por pessoas,
que os espantam, já aos gritos,
como fossem, sim, ladrões
– nesse meio de malditos.
6
Têm de morar em morros,
em cavernas ou nas rochas.
7
Eles uivam lá nas moitas,
não possuem luz de tochas, e se ajuntam em
espinheiros.
8
Raça inútil, não têm nome;
enxotados do país,
condenados são à fome.
9
Mas agora essa gente
vem querer de mim zombar,
como se fosse eu piada.
10
E, de mim, vêm se afastar, porque, nojo, eles
sentem;
chegam mesmo a me cuspir.
11
O Senhor me fez tão fraco,
e, humilhado, me sentir; e, por isso, furiosos
já se viram contra mim.
12
Essa raça me ataca,
é de gente bem ruim, e me faz correr, e busca
já, comigo, me acabar.
13
Não me deixam que eu fuja,
me procuram destroçar, e ninguém os faz parar.
14
E irrompem pela fenda
e me jogam aos estranhos;
15
me apavoro na contenda.
Minha honra foi varrida
para longe pelo vento;
meu sucesso, como nuvem,
só durou pouco momento.
16
E, agora, já não tenho
mais vontade de viver;
desespero dominou-me.
17
Ah! eu sinto bem doer os meus ossos mais de
noite;
ai, não pára essa dor
– essa dor que me atormenta.
18
Agarrou-me o Senhor pela goela, violento,
que, até, desarrumou
minha roupa que eu vestia.
19
Deus, na lama, me atirou.
Mais que pó ou cinza valho?
20
Ó Deus, vem me responder,
pois Te clamo por ajuda.
Não Te importa me atender?
21
Com crueldade Tu me tratas
e, com todo o Teu poder,
Tu ainda me persegues.
22
Tens poder para fazer que o vento me carregue;
Tu me fazes balançar
numa forte tempestade.
23
Sei que hás de me levar para a Terra, sim, da
Morte,
o lugar que está marcado
para o encontro dos viventes.
24
Por que atacas o arruinado – este homem – que
não pode
fazer nada, a não ser
só pedir-Te piedade?
25
Não me fiz compadecer, por acaso, com aflitos?
E, dos pobres, ter já pena?
26
Esperava por prazer,
e me veio a gangrena; aguardava muita luz,
e chegou a escuridão.
27
Tendo o coração cansado,
vivo dias de aflição.
28
Levo vida muito triste,
como um dia bem nublado;
me levanto ante todos:
Tenho que ser ajudado.
29
É, minha voz, gemido triste,
como um lobo a uivar
ou os gritos do avestruz.
30
Minha pele está a ficar muito preta, e meu corpo
’stá, de febre, a queimar.
31
Costumava eu ouvir
harpas, flautas a tocar sempre músicas alegres,
mas agora, o que escutar?
Eu escuto muito choro,
muita gente a soluçar.

31
1
Eu jurei que nunca os olhos
tentariam cobiçar
uma moça ainda virgem.
2
Se eu viesse a quebrar a tal jura, qual seria,
do Senhor, a recompensa?
Como é que, lá do céu,
Deus, suas bênçãos, me dispensa?
3
Pois Deus manda a desgraça
e, também, o desprazer,
para aqueles que estão
a somente o mal fazer.
4
Tudo sabe Deus que faço
e o que vou realizar;
Ele vê e acompanha
cada passo que vou dar.
5
Juro não ter sido falso;
Nunca enganei ninguém.
6
Que me pese Deus agora
em balança muito bem; ficará, sim, convencido
de que sou um inocente.
7
Se acaso me desviei
do caminho certo à frente; dominou meu coração;
se pequei, me apoderando
do que é de outra pessoa,
8
o que venho semeando, ah! então, que outros
comam,
e que seja destruído
tudo o que eu já plantei.
9
Se sentime seduzido por mulher de meu vizinho
algum dia em minha vida,
espreitando a porta dela,
10
ah! então que seja tida minha mulher escrava de
outro;
e que venha a dormir,
sim, com outros sedutores.
11
Se eu chegasse um dia a vir a fazer tal crime
horrível,
sim, a corte deveria,
com justiça, condenar-me.
12
Tal pecado, pois, seria como incêndio infernal
que a tudo destruiria,
sim, a tudo que eu tenho.
13
Sempre que acontecia um reclamo de
empregado(a),
o assunto eu resolvia
com direito e com justiça.
14
Deus-Juiz o que faria, ao julgar-me, se eu não
já tivesse agido assim?
O que eu responderia,
quando Deus pedisse a mim dar as contas de meus
atos?
15
Pois o mesmo Deus-Senhor
fez a mim e aos empregados;
sim, de nós, é o Criador; e deu vida a mim e a eles.
16
Sempre, aos pobres, ajudei;
as viúvas, sem esperança,
e, chorando, não deixei.
17
Eu. sozinho, não comia;
com os órfãos repartia
sempre as minhas refeições;
18
como pai, os protegia, assim como as viúvas.
19
Quando via alguém sofrendo
pela falta de agasalhos,
cobertores, nunca tendo, 20eu lhe dava roupas
quentes,
que, com lã, eu já fazia,
das ovelhas do rebanho;
ele, então, me agradecia, com profundo sentimento.
21
Se algum dia fui violento
com um órfão – mesmo tendo,
de juízes, o sustento – 22que se quebrem os meus
ossos;
eu, sem braços, ficaria.
23
Eu, nenhuma dessas coisas,
ante Deus, jamais faria, pois, de Deus e Seu castigo,
tenho medo e pavor,
não podendo enfrentar
toda a glória do Senhor.
24
Eu jamais confiei no outro;
não foi nunca o fundamento
desta minha segurança.
25
Nunca tive o sentimento de orgulho por ser rico,
por ganhar muito dinheiro.
26
Tenho visto o sol brilhar
e, a lua, por inteiro, caminhar com sua beleza;
27
porém, nunca os adorei,
no segredo, e nem beijos,
com a mão, lhes atirei.
28
Se tivesse cometido
tão terrível tal pecado,
infiel, teria sido,
o Juiz me condenado...
29
Eu jamais me alegrei
com o grande sofrimento
de qualquer dos inimigos;
nem me deu contentamento se, desgraça, lhe
ocorreu.
30
Nunca fiz uma oração
para Deus matar um deles.
31
Os meus servos têm noção de que todos meus
convivas
comem sempre à vontade
do que é bom e do melhor.
32
E – movido por bondade – não deixei nem
estrangeiro
lá, na rua, ir dormir;
os viajantes sempre tinham
uma casa aonde ir.
33
Encobrir as minhas faltas,
não, jamais eu procurei
– como fazem sempre alguns –
nem no coração busquei esconder os meus pecados.
34
Nunca tive o pavor
do que os outros vão dizer;
e nem medo a zombador; não fiquei dentro de casa,
lá, sozinho, bem calado.
35
Ah! se alguém a mim ouvisse!
Deixo aqui, já assinado, o lavrado em minha defesa;
me responda o Deus-Poder!
Que a Acusação já possa,
contra mim, sim, escrever, 36e, assim, com muito
orgulho,
no meu ombro, a levarei;
na, cabeça, igual coroa,
orgulhoso, a porei.
37
Sim, as contas de meus atos,
ao Eterno, eu darei;
ante Deus, com a cabeça
bem erguida, ficarei.
38
Minhas terras não choraram
nem gritaram contra mim.
39
Se comi lá de seus frutos,
eu, por isso, paguei, sim, todos os trabalhadores
bem do jeito que devia
e ninguém morreu de fome.
40
Não, jamais eu mentiria; se não digo a verdade,
que minhas terras não dêem nada;
só espinhos, não mais trigo
e só mato, não cevada.

As falas de Eliú
Capítulos 32-37

32
1
Jó estava convencido
da inocência e, por isso,
desistiram os três amigos
de seguir o compromisso de tentar recuperá-lo.
2
Acontece que ali
’stava um homem: Eliú
– mais informações aqui – cujo pai é Baraquel,
que, de Buz, é descendente,
e, do grupo de famílias
lá de Rão, é pertencente.

Eliú ficou zangado


com o Jó porque dizia
inocente ele ser,
e, culpado, Deus seria.
3
E também ficou zangado
com aqueles três amigos
porque eles não puderam
responder sobre os perigos ante os quais se expunha
Jó,
pressupondo um Deus errado.
4
Eliú foi paciente
pra no fim só ter falado porque era o mais jovem.
5
Quando viu que, responder
bem a Jó, ah!, não souberam,
6
Eliú veio a dizer, bem zangado, o que pensava;
começou, pois, a falar: [A primeira fala de Eliú]
Sou mais jovem que vocês
e, por isso, não quis dar, antes, minha opinião.
7
E pensei assim: “Que fale
essa voz da experiência
– e que ela não se cale – que os muitos anos
mostrem
toda sua sabedoria!”
8
Mas ocorre que lá dentro
das pessoas haveria um espírito, há um sopro
de Deus Todo-poderoso:
O que dá sabedoria.
9
Não se é sábio, sendo idoso e nem sempre os mais
velhos
sabem mais o que é certo.
10
Eu também vou opinar;
pois me escutem cá bem perto.
11
Esperei que bem falassem
e escutei suas razões.
Ah! enquanto escolhiam
– para suas opiniões – as melhores das palavras,
12
eu prestava atenção.
Mas nenhum entre vocês
convenceu a Jó então e nem deu-lhe uma resposta.
13
Como podem já dizer
que, sabedoria, têm?
Só é Deus quem tem poder – não um simples ser
humano –
para, a Jó, bem responder.
14
Eu jamais responderia
co’ esse modo de dizer.
Jó falava com vocês,
não comigo, todavia.
15
Jó, os três ’stão derrotados;
não prosseguem na porfia, pois, palavras, não mais
têm.
16
Já pararam; não mais falam.
Será devo esperar,
visto que eles se calam?!
17
Não. Darei resposta minha.
Já, direi o que eu penso
sobre o assunto tão difícil.
18
A calar, não ’stou propenso.
Tenho muito o que dizer.
19
Sou capaz de estourar
como odre cheio de vinho,
se eu não puder falar.
20
Não aguento isto mais;
quero, já, desabafar,
expressar a opinião.
21
Ah! jamais eu vou tomar um partido no debate
e a ninguém vou adular.
22
Bajular? Nem ao Senhor,
que me pode castigar.

33
1
Jó, por isso, minhas palavras,
co’ atenção, venha escutar,
tudo que vou lhe dizer.
2
Já consigo começar.
O que penso, vou falar.
3
Com franqueza eu darei
esta minha opinião;
nas palavras, eu serei bem sincero ao coração.
4
Foi o Espírito de Deus
que me fez; e é Seu sopro
que dá vida a mim e aos meus.
5
Me responda, se é capaz;
e prepare-se bem mais
para discutir comigo.
6
Eu-você somos iguais para Deus; e também eu,
lá do barro, fui formado.
7
E, por isso, não me temas;
não estou intencionado de esmagá-lo em discussão.
8
Creio, ouvi você dizer:
9
“Eu não sou culpado, não,
de, erro algum, eu cometer.
Eu estou, sim, inocente;
inculpável de pecar.
10
Deus inventa mais motivos
para apenas me atacar; Deus me trata como fosse
para Ele um inimigo.
11
E, meus pés, acorrentou
como fosse um perigo, vigiando o que eu faço.”
12
Mas eu venho lhe dizer
que não tem qualquer razão,
pois, maior que qualquer ser já criado, assim é
Deus.
13
Por que acusa Deus assim,
afirmando não atender
nossas queixas tão sem-fim?
14
Deus bem fala sempre a nós
de um modo, de outro então;
porém, nós, tão distraídos,
não Lhe damos atenção.
15
Ah! de noite, em nossa cama,
ao dormir e descansar,
sim, por sonhos e visões,
Deus bem pode nos falar.
16
Aos ouvidos, Deus nos fala;
seus avisos dão pavor.
17
Deus nos fala para que
– bem seguindo o seu amor – nós deixemos de
pecar,
pra não sermos orgulhosos.
18
Assim Deus nos vem livrar
de morrer, dos poderosos que nos podem sepultar;
Deus não deixa que nos joguem,
nos atirem à sepultura
– ou que males nos afoguem.
19
Outras vezes, Deus castiga
com doenças, fortes dores.
20
O doente perde a fome,
as comidas são horrores.
21
Emagrece, se acaba
e, no fim, é pele e osso.
22
À beira de sua morte,
irá logo para o fosso.
23
Pode ser que ele venha,
sim, a ser bem socorrido
por um anjo, dos milhares,
os quais Deus tem escolhido, que ensinam bem a
gente
a fazer o que é certo.
24
Esse anjo terá pena
e, a Deus, dirá bem perto: “Solta ele! E que não
desça
’té os mortos – para o abate.
Eis aqui o pagamento
certo para o seu resgate.”
25
Então ele, novamente,
sim, terá boa saúde
e seu corpo será forte
como em sua juventude.
26
Quando orar, Deus o ouvirá.
Ele, com muita alegria,
vai a Deus já adorar,
e Deus de sabedoria o aceitará de novo
como um homem que é direito.
27
Ele, a todos, já dirá:
“Sim, eu sinto no meu peito que pequei, fiz
injustiças,
mas Deus não me castigou.
28
’Inda a luz eu posso ver;
Deus, da morte, me salvou.”
29
Tudo isso Deus nos faz;
várias vezes, vem fazer.
30
Não nos deixa que morramos,
para continuarmos ser, por Sua luz, iluminados.
31
Jó, agora, atenção;
cale, pois eu vou falar.
32
Se você tem algo, então, pra dizer, responda já,
para eu lhe dar razão.
33
Cale e escute, pra ensinar-lhe
como ser um sábio, ou não.

34
A segunda fala de Eliú 1-2Vocês, sábios e instruídos,
ouçam o que eu vou dizer.
3
Assim como os ouvidos,
com razão, tem o poder de julgar bem o valor
de palavras proferidas;
paladar prova alimentos
e o sabor, sim, de comidas, 4assim vamos nós agora
o seu caso, examinar,
e solvê-lo bem ao jeito
do melhor que se achar.
5
Jó diz sempre que é inocente
e que Deus, não o quer julgado.
6
E pergunta: “Eu, mentir?
E dizer que estou errado?
Sofro muito de um mal
que não pode ser curado,
muito embora eu não tenha
cometido um pecado.”
7
Neste mundo, como Jó,
não existe, não, ninguém,
para quem ficou tão fácil,
sim, zombar de Deus também, como água se beber.
8
Ele anda com os maus
e se ajunta com vilões.
9
Diz, no meio desse caos: “Não me vale nada, nada,
ao Eterno, agradar.”
10
Já, vocês que têm juízo,
venham cá me escutar.
Ah! será que, coisa errada,
qualquer uma, Deus faria?
Que o Todo-Poderoso,
injustiça, buscaria?
11
Deus nos paga de acordo
com aquilo que fazemos
e Deus dá a cada um
o que nós bem merecemos.
12
Na verdade, o Deus-Poder
não pratica, não, o mal.
Com ninguém, Ele é injusto.
13
Quem Lhe deu o poder tal?
Quem o fez, deste universo,
único governador?
14
Sim, se Deus quisesse um dia
– sendo o nosso Criador – poderia até fazer
a respiração da gente
– nosso fôlego – voltar
para Si, bem de repente; 15e, então, já, todos juntos
morreriam – também Jó;
sim, no mesmo instante, todos
voltariam para o pó.
16
Jó, agora, se é sábio,
atenção ao meu dizer:
17
Se o Eterno odiasse
a justiça com poder, como o Justo poderia
este mundo governar?
A Deus-Justo e Onipotente,
você, Jó, quer condenar?!
18
Deus condena autoridades
e reis maus, quando não prestam.
19
Deus não mostra preferência
aos que nunca Lhe contestam, mesmo usando algum
poder,
nem o Eterno favorece
mais o rico em prejuízo
do que, assim, se empobrece, pois, a ambos, Deus
criou.
20
Ah! a morte pode vir
de repente, em meio a noite.
Pode, ataque, já surgir à pessoa, e ela morre.
Pra matar os poderosos,
não precisa Deus de ajuda.
21
Tudo o que nós, tão ciosos, cá fazemos, sim, Deus
sabe;
nossos passos, pode ver.
22
Nem lá mesmo no escuro,
o mau pode se esconder.
23
Não precisa Deus marcar,
para alguém se apresentar
e, por Ele, ser julgado.
24
Não precisa examinar vida de quem tem poder,
pra, com eles, acabar
e, depois de destronados,
dar a outros seu lugar.
25
Pois Deus sabe o que eles fazem;
numa noite os faz cair
e, depois, são esmagados.
26
Ante todos hão de ir e, em público açoitados
como são os criminosos,
27
porque eles se afastaram
do Senhor, e, revoltosos, não cumpriram Suas
ordens.
28
E, fizeram que o clamor
lá dos pobres e explorados
já chegasse ao Senhor.
29
Mas, se o Eterno se calar,
não, ninguém há de poder
condená-Lo. Entretanto,
se, Seu rosto, Ele esconder, as pessoas e as nações
ficarão sem defensores;
30
nada poderão fazer
pra evitar que exploradores as governem e oprimam.
31
Jó, você reconheceu
já, diante do Senhor,
que você tanto sofreu em virtude dos pecados
que você, sim, cometeu
e que não mais pecará,
você mesmo prometeu?
32
Será que você pediu
ao Senhor pra lhe mostrar
suas faltas cometidas?
Resolveu também parar de, os pecados, praticar?
33
Se, o que faz seu Criador,
você, Jó, nem mesmo aceita,
como espera que o Senhor faça o que você tão
quer?
Quem precisa responder
é você, mas nunca eu.
O que pensa em fazer?
34
Gente sábia e sensata
já dirá ao nosso ouvido:
35
“Jó não sabe o que fala;
o que diz não tem sentido.”
36
Basta só examinar
suas palavras muito bem
e se vê que ele responde
como mau que é também.
37
Jó é, sim, um pecador,
pecador bem revoltado.
Ante nós, zomba de Deus,
contra Deus, sem ter parado.

35
A terceira fala de Eliú 1-2Jó, você não tem direito
de dizer que é inocente
3
e também você não pode
perguntar a Deus somente: “Será, Deus, que Tu te sentes
muito mal com meu pecado?
Que vantagem tenho eu,
se eu não tiver falhado?
4
A você e a seus amigos
já eu vou, pois, responder.
5
Olhe para o céu e então
poderá, as nuvens, ver muito acima de você.
6
Se você vem a pecar,
isso não atinge o Altíssimo;
não Lhe vão prejudicar, suas faltas, mesmo muitas.
7
Se você já faz o bem,
não precisa Deus de ajuda.
8
São os outros, sim, que vêm a sofrer por sua causa,
por pecados que comete;
e, são eles ajudados,
quando o bem, sim, lhe compete praticar em favor
deles.
9
Homens, sendo perseguidos,
sim, de todo e qualquer lado,
gritam, soltam seus gemidos, e suplicam que alguém
venham logo lhes livrar,
sim, das mãos de poderosos;
10
mas não buscam já voltar para Deus, seu Criador,
que, Suas forças, pode dar,
sim, nas horas mais escuras.
11
Não, não buscam já voltar para Deus, que os torna
sábios,
bem mais sábios que animais,
bem mais sábios que as aves.
12
Por socorro, gritam mais, mas o Eterno não
responde,
pois são maus e orgulhosos.
13
Sim, Deus vê, e Deus, sim, ouve
– não crêem nisso os mentirosos.
14
Você diz, Jó, que não pode
ver a Deus; mas, com paciência,
sim, espere, pois sua causa
’stá com Ele – tem ciência.
15
Você pensa que o Eterno
não castiga, que não presta
atenção muita ao pecado.
16
Não adianta nada esta intenção de continuar
seu discurso – tão horrendo!
Fala muito, mas não sabe
bem o que está dizendo.

36
A quarta fala de Eliú 1-2Tenha, Jó, um pouco mais
de paciência; vou mostrar
que, a favor de Deus, ainda
tenho muito pra falar.
3
Usarei dos meus saberes
pra mostrar que o Criador,
e meu Deus, é muito justo.
4
Tudo o que, a Seu favor, vou dizer é bem verdade;
com você quem ’stá falando
é um sábio realmente
– fique atento, concordando.
5
Como Deus é poderoso!
Não despreza, não, ninguém!
Tudo, tudo, sim, Deus sabe.
6
Deus não deixa que, também, maus estejam a viver.
E Deus sempre vem tratar
bem os pobres, com justiça.
7
Deus protege, vem guardar homens que são bem
corretos;
e os que venham governar,
justamente, como reis,
sempre, em alto, bom lugar.
8
Entretanto, se alguns
presos são, e acorrentados
ou, com cordas de tormentos,
eles ficam amarrados, 9então Deus lhes mostra que
isso
é devido ao que fizeram;
é o castigo por pecados
e orgulho que tiveram.
10
Sim, Deus faz que seus avisos
sejam todos escutados;
e Deus manda que os pecados
sejam já abandonados.
11
Se obedecem ao Eterno
e O adoram de verdade,
então têm, por toda a vida,
muita paz, prosperidade...
12
Mas, se a Deus eles desprezam,
então morrem na ignorância,
passam o rio, entram no mundo
lá dos mortos – sem importância.
13
Guardam raiva os que têm
um perverso coração;
mesmo quando castigados,
nunca pedem proteção.
14
Entre si, desonram os corpos;
morrem em plena mocidade.
15
Mas o Eterno nos ensina
– como Mestre de bondade – : Deus ensina até por
meio
de uma dor ou sofrimento
e bem usa a aflição
para abrir o entendimento.
16
Jó, o Eterno o livrou
dos perigos e o deixou,
sim, viver em segurança.
À sua mesa, se gozou comer sempre do melhor.
17
Mas, julgado e condenado,
já merece seu castigo.
18
Ah! você tome cuidado: Não aceite, não, dinheiro
pra torcer toda a justiça;
não permita que as riquezas
o seduzam qual carniça.
19
Nada vale suplicar
por socorro ao Senhor;
todo o seu poder não tem
mais agora algum valor.
20
Não, não fique desejando
que a noite chegue agora,
essa em que todas nações
já receberão sua hora.
21
Você, Jó, está sofrendo,
mas por sua iniquidade;
cuide bem pra não voltar
a fazer, pois, tal maldade.
22
Como Deus é poderoso!
Ah! Quem pode governar,
sim, tão bem quanto o Eterno?
23
Ninguém pode nunca dar qualquer ordem ao
Senhor
nem jamais O acusar
de que Ele, alguma vez,
veio o mal já praticar.
24
Ah! o mundo inteiro O louva
por aquilo que Ele faz,
e você, Jó, não se esqueça
de louvá-Lo – É capaz.
25
Mesmo ao longe, as Suas obras,
todos nós podemos ver,
contemplar o que Deus faz!
26
Não podemos conhecer o Eterno, pois é grande!
Nem podemos calcular
quanto o Eterno já viveu!
Quantos anos? Nem pensar.
27
O Eterno faz que a água,
em vapor, venha a subir,
e, depois, formada em nuvens,
venha em chuva já cair.
28
Cai a chuva sobre a terra
para todo ser humano.
29
Quem entende o movimento
lá das nuvens – em seu plano – ou o som de seus
trovões
– lá nas “tendas” do Senhor?
30
Deus, relâmpagos, espalha
muita luz – aonde for – mas o mar, no fundo, é
escuro.
31
Assim, Deus dá de comer
às nações em abundância
para se satisfazer.
32
Pega o raio com as mãos
para, o alvo, acertar.
33
Gado sente a tempestade,
– por trovão - que está a chegar.

37
1
Tempestade já me faz,
sim, meu coração bater,
qual saltando para fora
– e eu fico a tremer.
2
Sim, escutem o estrondo
do trovão, voz do Senhor.
3
Ele solta seus relâmpagos
no céu todo, onde for.
4
Então, ouve-se sua voz,
o barulho do trovão;
e, durante todo o tempo,
céus se enchem de clarão com a queda dos
relâmpagos.
5
Grandes coisas, sim, Deus faz
com Sua voz maravilhosa
que, entender, quem é capaz?
6
Também neve e forte chuva,
Deus-Eterno faz cair.
7
Assim faz que as pessoas
fiquem em casa, sem sair, sem poderem trabalhar
e assim venham a saber
que é Deus Quem age em tudo.
8
Animais vão se esconder e já entram nas suas tocas.
9
Tempestades violentas
vêm do Sul; do Norte, frio.
10
E, de neve, as tormentas são o sopro do Eterno:
Vem, as águas, congelar,
que assim ficam como gelo.
11
Nuvens-nimbo, vem formar e elas lançam os
relâmpagos
12
Nuvens buscam só cumprir
todas ordens do Senhor,
no constante ir e vir bem em todas direções;
fazem tudo o que Deus manda,
onde for, no mundo inteiro.
13
Deus, a chuva, nos desanda sobre a terra, por duas
coisas:
ou é para castigar
as nações que nela habitam
ou, amor, sim, lhes mostrar.
14
Pare, Jó, só um instante;
pense em tudo que Deus faz:
coisas tão maravilhosas!
15
Jó, você é bem capaz de saber como Deus dá
ordens para a criação
de relâmpagos nas nuvens.
16
Você sabe assim, então, como é que as nuvens
ficam
bem suspensas lá no ar?
Isso é prova como Deus
está sempre a governar este mundo que criou
co’ infinita inteligência.
17
Você fica sufocado
de calor, com a ciência de que vem a tempestade
de areia que é soprada
pelo vento lá do sul?
18
Com alguma força dada, você pode ajudar
o Senhor a estender
este céu, igual metal,
e, bem duro, de o fazer?
19
Jó, ensine-nos o que
nós devemos Lhe dizer,
pois não temos a clareza
de pensar em que fazer.
20
Não teria o atrevimento
de, com Deus, eu discutir,
pois seria eu pedir
que viesse me destruir.
21
Impossível ver o sol,
pelas nuvens, escondido,
mas, de novo, ele brilha
’pós o vento ter havido já passado e limpo o céu.
22
A dourada luz, então,
nos faz ver glória de Deus
com profunda gratidão!
23
O Deus Todo-Poderoso,
não podemos compreender;
o Deus nosso, de justiça,
possui grande, sim, poder!
Sua justiça é infinita:
Não persegue, não, ninguém.
24
É por isso que as pessoas
temem, amam a Deus também!
Deus não dá muita importância
aos que acham entender
tudo, como, sábios, fossem
e detêm todo o saber.

A primeira
resposta de Deus
a Jó
Capítulo 38.1-40.2

38
1
Depois disso, lá do meio
dessa grande tempestade,
Deus Eterno deu a Jó
a resposta, Sua verdade: 2As palavras suas mostram
uma mente bem tardia
que só pensa em duvidar
de minha sabedoria; 3Mostre agora que é valente;
venha já Me responder
às perguntas que Eu vou
desde agora, lhe fazer.
4
Onde é que você estava
quando o mundo vim criar?
Se você é inteligente,
venha isto me explicar.
5
O tamanho deste mundo,
sabe quem o fixou?
E quem fez suas medições?
6
Sobre o que se sustentou sua base: as colunas?
Sabe quem bem assentou
sua pedra principal?
7
Toda estrela, sim, cantou na manhã da criação,
como em coro, nesse dia;
servidores celestiais
davam gritos de alegria.
8
Quando o Mar jorrou do ventre
lá da terra, quem fechou
os portões pra segurá-lo?
9
E mais: Quem agasalhou, com as nuvens, esse Mar
e o envolveu co’ escuridão?
10
Eu marquei os seus limites
e tranquei o seu portão.
11
Eu lhe disse: “Até aqui
– este ponto – chegará
– ondas pararão aí –
e daqui não passará.
12
Jó, alguma vez na vida
ordenou vir madrugada
e, assim, que começasse
novo dia, uma alvorada?
13
Já mandou alguma vez
que a luz se espalhasse
sobre a terra, sacudindo
os perversos que encontrasse, expulsando-os de suas
tocas?
14
A luz mostra o contorno
das montanhas e dos vales,
como dobras de adorno de um vestido ou como
marcas
de um sinete – a saliência.
15
Essa luz tão forte cega
maus pra agir com violência.
16
Jó, você já visitou
as nascentes lá do mar?
Pelo fundo do oceano,
foi um dia passear?
17
Quanto ao mundo lá dos mortos,
já conhece seu portão
– esse que é o país da Sombra
de, sem fim, escuridão?
18
Sabe quanto mede a terra?
Você diz que é “sabichão”;
se já sabe tudo isso,
por favor, responda então.
19
De onde é que vem a luz?
Como surge a escuridão?
20
Como é que vêm e voltam?
Você manda nisso ou não?
21
Porque acha que é idoso,
pensa tudo já saber
e que, ao mundo ser criado;
Jó já era um pleno ser!
22
Visitou já os depósitos,
onde venho bem guardar
neve e chuvas de granizo,
23
que eu venho reservar para quando há lutas,
guerras,
tempos de só sofrimento?
24
Já esteve onde nasce
nosso sol no firmamento?
Ou no ponto em que começa
vento Leste a soprar?
25
E quem foi que abriu canal
para a chuva desabar e marcou o rumo certo
pelo qual deve passar
qualquer uma tempestade?
26
E quem é que vai levar chuva lá para o deserto
totalmente desolado?
27
Quem que rega terras secas
em lugar desabitado, e fazendo nelas já
capim verde bem nascer?
28
Ah! será que chuva e orvalho
têm pai pra os proteger?
29
Quem é mãe de geada e gelo,
30
que, das águas, faz gerar
pedras e que faz cobertas
– mas, de gelo – sobre o mar?
31
E será que você pode
com a corda amarrar,
lá no céu, Sete Cabrinhas;
Três Marias já soltar?
32
E, a estrela-d’alva, pode
já fazer ela brilhar?
A Maior e Menor Ursa,
as consegue já guiar?
33
Leis que regem bem o céu,
Jó, lhe são bem dominadas?
Sabe como devem ser
bem, na terra, aplicadas?
34
E será que sua voz
pode às nuvens já chegar
e mandar que um dilúvio
venha a todos desabar?
35
Pode despachar os raios,
e eles venham lhe dizer:
“Cá estamos às suas ordens”?
36
Quem deu todo o saber para as aves, como o íbis,
a que pode anunciar
as enchentes do rio Nilo,
ou ao galo, pra cantar sempre antes de uma chuva?!
37
Quem que pode bem contar
todas nuvens lá do céu?
Quem que pode derramar a sua água como chuva,
38
a que faz o pó virar
barro que liga os torrões?
39
É você quem pode dar de comer para as leoas?
Seus filhotes, proteger,
40
quando estão bem escondidos,
de tocaia pra comer?
41
Quem aos corvos alimenta,
em sua fome incontida?
Quando seus filhotes gritam,
me pedindo mais comida?

39
1
Você sabe quando nascem
os cabritos mais selvagens?
Ou, já viu o nascimento
de veados nas pastagens?
2
Você sabe quantos meses
para a corça dar a cria?
E, o momento de parir,
você sabe qual seria?
3
Você sabe quando elas
se abaixam pra dar cria,
e trazer os seus filhotes
bem ao mundo, à luz do dia?
4
Os filhotes crescem fortes,
lá no campo; vão embora
e não voltam nunca mais.
Mais perguntas, faço agora: 5Aos jumentos mais
selvagens,
quem lhes deu a liberdade?
Quem os deixou que andassem soltos
e bem livres, à vontade?
6
Eu lhes dei todo o estepe
para ser sua casa e lar
e viver em chão salgado.
7
Não desejam nunca estar no barulho das cidades;
não, não podem ser domados;
pra levar cargas pesadas,
nem assim ser obrigados.
8
Eles pastam nas montanhas
onde estão a procurar
qualquer dessas ervas verdes
para se alimentar.
9
Ah! um touro bem selvagem
vai querer, pois, trabalhar
com você? Em seu curral,
uma noite, então passar?
10
Você vai poder prendê-lo
com as cordas ao arado
pra poder arar a terra
ou o chão ter rastelado?
11
Você pode confiar,
sim, na força que ele tem,
e deixando por sua conta
o pesado que há também em seguida a fazer?
12
E espera, em derradeiro,
que, o trigo, ele traga
e o amontoe no terreiro?
13
O avestruz bate asas rápidas!
Mas não pode, não voar
como voa uma cegonha!
14
O avestruz põe-se a botar os seus ovos na areia,
que é bem quente pra chocar.
15
O avestruz nem pensa nunca
que alguém os vai pisar, que animal vai esmagá-los!
16
Age como se os ovos
nunca fossem mesmo seus
nem se importa que seus novos bons esforços já se
percam.
17
E fui Eu que o fiz assim:
Não lhe dei sabedoria.
18
Ah! porém, – concorde, sim, – quando corre, é tão
veloz
que ele pode até zombar
de cavalo e cavaleiro
– incapazes de o alcançar.
19
Jó, acaso você fez
o cavalo forte assim?
Foi você quem o enfeitou
com a crina linda, enfim?
20
Como fazem gafanhotos,
é você quem o faz pular?
O cavalo, com seu rincho,
faz, a gente, assustar?
21
Impacientes, os cavalos,
sim, cavoucam o seu chão,
depois correm pra batalha
com sua força e direção.
22
Os cavalos não têm medo.
Nada os pode assustar
e a espada, na batalha,
não os faz, não, recuar.
23
E, por cima deles, flechas,
lanças, dardos assobiam.
24
Mas, com muita impaciência,
bem galopam, se desviam; quando soa a corneta,
não conseguem se acalmar.
25
Ah! aos toques da corneta,
já se põem a rinchar; e, o cheiro da batalha,
podem, longe, já sentir;
gritarias e comandos,
podem, muito bem, ouvir.
26
É você, Jó, quem ensina
a voar o gavião,
no seu rumo para o Sul?
27
E será também, então, que a águia vai esperar
que você lhe venha dar
ordem para fazer ninho
em altíssimo lugar?
28
Nas mais altas pedras mora
em seu ninho bem seguro.
29
Dali vê a sua presa,
com olhar de muito apuro.
30
Onde há, morto, um animal,
águias, lá, vão se ajuntar
e os filhotes se alimentam:
têm o sangue pra chupar.
40
1-2
Jó, você desafiou
a Mim, Todo-poderoso.
Você vai me dar resposta
ou manter-se assim teimoso?
A primeira resposta
de Jó a Deus
Capítulo 40.3-5
3-4
Ó Eterno, nada valho;
o que eu responderia?
Eu prefiro estar calado.
5
Falei mais do que devia.
A segunda e última
resposta de Deus a Jó
Capítulo 40.6-41.34
6
Depois disso, lá do meio
dessa grande tempestade,
Deus Eterno deu a Jó
a resposta, Sua verdade: 7Mostre agora que é
valente
e me venha responder
às perguntas que, agora,
Eu lhe vou então fazer: 8Será que você deseja
Me provar – tão simplesmente –
que Eu sou culpado e injusto
e você é inocente?
9
Será que, a sua força,
você pode comparar
com a Minha? Você pode,
com voz forte, trovejar como posso Eu fazer?
10
Se sim, vista-se de glória,
majestade e esplendor,
como nunca em sua história.
11
Olhe para os orgulhosos;
e derrama o seu furor
contra eles pra humilhar
– faça isso com ardor.
12
Olhe, sim, e os humilhe;
pise os ímpios onde estão;
13
os sepulte sob a terra
e amarre-os na prisão.
14
Se você fizer assim,
Eu serei, sim, o primeiro
a louvá-lo e convencer-se
de que enfim, por derradeiro, venceu pelas próprias
forças.
15
Venha agora bem olhar
para o monstro hipopótamo,
que Eu vim também criar, como Eu criei você.
Como boi, come capim,
16
porém, veja quanta força,
que poder tem ele, enfim!
17
No seu rabo e nas suas pernas,
quanta força ele tem!
18
Como tubos – os de bronze –
os seus ossos são também muito fortes; e, suas
pernas,
também fortes, musculosas
– como ferro parecidas!
19
Criaturas espantosas!
Esta é a mais de todas!
Só Eu posso o vencer.
20
O capim que o alimenta
– e que Eu faço, sim, crescer -
cresce bem lá nas montanhas,
onde as feras se divertem.
21
Deita-se sob espinheiros
e se escondem onde vertem minas d’água entre as
taboas.
22
Espinheiros, sombra, dão;
o rodeiam os salgueiros
– os que dão em ribeirão.
23
E, se uma enchente há,
não se assusta no caminho,
mesmo que a água do Jordão
suba até o seu focinho.
24
Quem consegue agarrá-lo,
e cegá-lo ou prender
seu focinho em armadilha?
Quem, pra isso, tem poder?

41
1
Quanto ao monstro Leviatã,
é capaz, Jó, de pescar
com anzol o crocodilo?
É capaz de amarrar sua língua c’uma corda?
2
E, uma corda, já passar
bem em volta do nariz?
Ou, seu queixo, perfurar com um gancho afiado?
3
Será que vai lhe suplicar
que o solte; ou, que tenha
dele dó, vai lhe implorar?
4
E será que, com você,
já, um trato, vai fazer?
Trabalhar por toda a vida,
pra você, vai prometer?
5
E, com ele, vai brincar,
como fosse um passarinho?
Amarrá-lo, pra suas servas,
lhes servir de brinquedinho?
6
Será ele bem vendido
pelos simples pescadores?
Para isso o cortarão
em pedaço aos compradores?
7
É capaz de, no seu couro,
uma lança, enterrar?
Ou arpões, na sua cabeça,
é capaz de bem fincar?
8
Ah! encoste-lhe sua mão,
e será uma vez só;
nunca mais se esquecerá
de uma luta, caro Jó!
9
Só de olhar pra Leviatã,
já a gente se amedronta
e, assim, perde a coragem;
tanto medo toma conta.
10
Se alguém já o provoca,
ele fica furioso.
Quem se atreve a enfrentá-lo
de um modo corajoso?
11
Quem consegue fazer isso,
sem, no entanto, se ferir?
Não, ninguém, no mundo inteiro.
12
Vou, então, me referir às pernas desse monstro,
à sua força sem igual.
13
Quem que pode arrancar,
de um modo natural, esse couro que o cobre?
Quem que pode até furar
sua dupla “armadura”?
14
Quem que pode escancarar a queixada rodeada
de uns dentes tão terríveis?
15
As suas costas são cobertas
de fileiras tão cabíveis de escamas bem ligadas
entre si, e, duras, são
como verdadeiras pedras.
16
Tão coladas, sim, estão, que nem ar não passa,
não!
17
Tão ligadas e coladas:
Ninguém pode separá-las!
18
Quando ele dá espirradas, dos espirros, saem
faíscas,
faz a luz resplandecer;
os seus olhos brilham tanto
como o sol no amanhecer!
19
A sua boca lança chamas,
e, faíscas, saltam dela.
20
Seu nariz solta fumaça,
como, sob uma panela, os gravetos lá se queimam.
21
O seu sopro acende o fogo;
de sua boca saem chamas.
22
A sua força está no jogo que ele faz com o
pescoço
e sua cara mede medo,
medo, sim, em todo mundo.
23
No seu couro, desde cedo, não existe ponto fraco;
como ferro, é firme e duro.
24
É cruel seu coração;
não tem medo do escuro; é uma pedra de moinho.
25
Quando ao se levantar,
tremem ’té os mais valentes,
cada um no seu lugar.
26
Pra ferir Leviatã,
não existe espada, não;
nem a lança, nem a flecha
e nem mesmo um arpão.
27
Para ele, ferro é palha.
E, o bronze, um podre pau.
28
Flechas não o afugentam.
Jogar pedras é igual atirar-lhe só capim.
29
Com porrete, lhe bater,
é usar torcida palha;
zomba muito, pra valer, de homens que lhe atiram
lanças.
30
Sua barriga é coberta,
sim, de cacos bem pontudos,
os quais, de maneira certa, já reviram toda a lama
como arado a gradear.
31
Como água já fervendo,
ele agita bem o mar.
32
Ele vai deixando n’água,
luminosa, sua pegada,
como se o mar tivesse
cabeleira esbranquiçada.
33
Não há nada neste mundo
que se possa comparar
com o monstro Leviatã:
nada o pode amedrontar.
34
Ele afronta tudo e todos
com desprezo, orgulhoso;
entre as feras orgulhosas,
ele é rei bem majestoso.
42
A última resposta de Jó
Capítulo 42.1-6
1-2
Então Jó Lhe respondeu:
Reconheço, ó Deus Eterno:
Para Ti, nada é impossível;
dos Teus planos no “caderno”
nenhum pode ser barrado.
3
Perguntaste-me por quê
me atrevi a pôr em dúvida
Teu saber, sabendo que eu sou tão ignorante.
É que eu não compreendia
coisas tão maravilhosas
vindas da sabedoria que eu ainda não podia,
por orgulho, entender.
4
Tu mandaste-me escutar
o que estavas a dizer e, então, Te responder
o que vinhas perguntar.
5
Antes eu Te conhecia
só por eu ouvir falar, mas agora, com meus olhos,
eu Te vejo, extasiado.
6
E, por isso, do que disse,
eu estou envergonhado e, então, eu me arrependo,
eu, no chão, sentado aqui,
neste monte só de cinzas,
adorando só a Ti.
A cena final
Capítulo 42.7-17
7
Depois de falar com Jó,
o Senhor disse a Elifaz:
Com você, estou irado,
pois você não foi capaz e também os seus amigos
de falarem a verdade
sobre mim como meu servo
Jó falou com seriedade.
8
Peguem já os sete touros
e também sete carneiros;
levem todos para Jó
e ofereçam por inteiros como nobres sacrifícios
a vocês, a seu favor.
Jó, meu servo, orará
por vocês, e com fervor; Eu aceitarei suas preces
e não os castigarei
como já vocês merecem,
muito embora (averiguei) não falassem a verdade
sobre mim, segundo Jó.
9
Elifaz, Zofar, Bildade
foram e cumpriram só o que Deus tinha mandado.
O Senhor bem aceitou
a oração do pobre Jó.
10
Logo após que Jó orou pelos três amigos seus,
o Eterno duplicou
o que Jó possuía antes.

11
Muita gente o visitou:
todos seus irmãos, irmãs,
seus amigos... E ficaram
pro banquete em sua casa.
Todos eles, sim, falaram da tristeza que sentiram
pelo drama ocorrido
e também o consolaram
pelo mal que tinha tido, que, por Deus, lhe foi
enviado.
Cada um lhe deu dinheiro
e também um anel de ouro.
12
Muito mais do que o primeiro episódio de sua
vida,
seu final foi o melhor,
sim, por Deus abençoado,
tendo em tudo o maior: sim, catorze mil ovelhas;
de camelos, uns seis mil;
dois mil bois e mil jumentas.
13
E, mais bênçãos, Jó bem viu: sete filhos e três
filhas.
14
A primeira se chamou
de Jemima; a segunda
de Quezia e nomeou outra de Querém-Hapuque.
15
As mais lindas do país:
as três filhas desse Jó!
As herdeiras de raiz, junto com os sete irmãos.
16
Depois disso, Jó viveu
cento e quarenta anos,
e ainda conviveu com os filhos de seus filhos,
’té a quarta geração.
Velho e farto de seus dias,
Jó morreu feliz então.

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