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FUNDAMENTAL *
Jörg Neuner
SUMÁRIO: I. Introdução. II. A relação hierárquica. 1. A hierarquia das normas. 2. A concorrência das
normas. a) A tese da disparidade. b) A tese da identidade. III. A ordem fundamental formal. 1. Os
titulares de competências. 2. A relação concorrencial. IV. A ordem fundamental material. 1. A proteção
da dignidade humana em conformidade com o artigo 1º da LF **. a) A eficácia externa imediata. b) Os
limites da desistência. aa) Interesses de terceiros. bb) Interesses de bem-estar da coletividade. cc)
Interesses próprios. 2. A proteção da liberdade de acordo com os artigos 2º e seguintes da LF. a) Os
direitos fundamentais como direitos de defesa. b) Os destinatários dos direitos fundamentais. aa) O
legislador jusprivatista. bb) A jurisprudência jusprivatista. c) Os direitos fundamentais como deveres de
proteção. aa) A fundamentação. bb) A estrutura dos deveres de proteção. 3. A tutela de interesses
sociais em conformidade com o artigo 1º, inciso II, da LF. a) A norma contida no artigo 1º, inciso II, da
LF. b) A legitimação dos direitos humanos sociais. c) O sistema dos direitos humanos sociais. d) A
autonomia dos direitos sociais. V. A posição do Tribunal Constitucional Federal. 1. O controle de atos
legislativos. 2. O controle de atos judiciários. VI. Consideração conclusiva.
I. INTRODUÇÃO
a) A tese da
disparidade
b) A tese da identidade
Na argumentação subseqüente uma concorrência de normas é
contestada também inversamente com o argumento de que os valores
fundamentais do ordenamento jusprivatista burguês foram absorvidos
pela LF, existindo assim uma congruência em larga escala. 16 Essa tese é
correta na medida em que diferentes conceitos de direito constitucional,
como "propriedade" ou "família", só são explicáveis se considerarmos a
prévia definição jusprivatista do seu conteúdo. Por outro lado, essa
inelutabilidade hermenêutica não pode conduzir a uma contestação da
autonomia da Constituição ou da relatividade dos conceitos jurídicos.
Assim a visão orientadora [Leitbild] do Constituinte justamente não foi
apenas o Direito Privado tradicional, mas nomeadamente também a
Declaração Universal dos Direitos Humanos. 17 Por essa razão o povo
alemão assume os direitos humanos expressis verbis tal como estatuído
no artigo 1º, inciso II, da LF. Acresce, de uma perspectiva histórica, que a
LF de Bonn constitui, de certo modo, uma "anticonstituição" 18 e com isso,
ao mesmo tempo, um "anti-Direito Privado" em relação à ausência de
Direito [Unrecht] característica do nacional-socialismo.
1. Os titulares de
competências
2. A relação
concorrencial
a) A eficácia externa
imediata
A eficácia externa imediata do artigo 1º, da LF, significa que também
sujeitos jusprivatistas devem respeitar a vida humana, a integridade
física, bem como o núcleo absoluto da personalidade. Esse último valor
abrange, mais especificamente, a proibição da discriminação em
conformidade com o artigo. 3º, inciso III, da LF, uma vez que justamente
também a concepção de uma sociedade jusprivatista se baseia na idéia
da liberdade e igualdade jurídicas de todos os cidadãos. Assim, para citar
apenas um exemplo, Franz Böhm neutraliza a objeção de que uma
sociedade de Direito Privado encarnaria um mero jogo lotérico,
coerentemente com a referência ao lucro de informação para o agente:
"Agora ele sabe ao menos como as outras pessoas [seine Mitmenschen]
reagiram e tentará extrair as suas inferências dessas reações e organizar
correspondentemente o seu comportamento futuro." 29 Mas justamente
isso é impossível para ele, se ocorre uma fundamentação com base em
fatores objetivos, previamente dados pela natureza, como raça ou
gênero. Muito pelo contrário, a pessoa afetada corre o risco - como a
história documenta de modo impressionante - de perder
sistematicamente seu status de membro da "sociedade de Direito
Privado" com base em uma regra geral. Por isso, a intenção expressa do
legislador constituinte foi, mediante a introdução do artigo 3º, inciso III,
frase 2, da LF, fortalecer não apenas a posição de pessoas portadoras de
deficiências na relação entre Estado e cidadãos, mas, de modo genérico,
na esfera de toda a ordem jurídica e na sociedade. 30 Disso segue, por
exemplo, que um operador de viagens turísticas ou o dono de um
restaurante ou hotel, que rejeita sem razão objetiva [sachlichen Grund]
um deficiente como parte contratante unicamente em virtude da sua
deficiência, está sujeito, por forca da Constituição, a uma contratação
compulsória (Kontrahierungszwang). 31
b) Os limites da desistência
cc) Interesses
próprios
Segundo o teor literal do artigo 1º, inciso III, da LF, o destinatário dos
direitos fundamentais é, em primeira linha, o legislador jusprivatista. O
argumento material em favor da vinculação deste aos direitos
fundamentais está no fato do cidadão individual ser restringido nos seus
direitos de liberdade por normas do Direito Privado de modo similar ao
que ocorre com as normas do Direito Público. 53 Basta mencionar, como
exemplos, as determinações atinentes ao direito que regulamenta as
relações de vizinhança ou ao direito que regulamenta as demissões. No
fundo, o critério de aferição, no sentido da proibição do excesso
[Übermassverbot], também é adequado. Pensemos e.g. em
regulamentações do direito de proteção ao consumidor, que, pelo prisma
da necessidade, devem preservar a autonomia privada no grau máximo
possível, de modo que os direitos de esclarecimento e revogação do
negócio gozam, em princípio, de uma primazia em relação às
intervenções de conteúdo. Além disso, é significativo que medidas
redistributivas mediante o Direito Privado podem atingir cidadãos
individuais de modo puramente acidental, ao passo que o legislador
tributário logra distribuir os ônus sociais de modo justo, de acordo com a
capacidade contributiva do indivíduo. Imaginemos como exemplo que em
vez de um aumento das contribuições de assistência social, financiadas
por impostos, sejam proibidos aumentos dos aluguéis a expensas dos
beneficiários da assistência social. Por essa razão o legislador
jusprivatista chega a estar vinculado aos direitos fundamentais por uma
inferência do tipo 'justamente em virtude disso'.
328 Revista da AJURIS - v. 32 - n. 97 -
Março/2005
DOUTRINA ESTRANGEIRA
aa) A fundamentação
1. O controle de atos
legislativos
2. O controle de atos
judiciários