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CARLOS VARGAS

Dia a Dia com


Santa Teresinha
O Calendário de
uma Família
EDITORA LTDA.
© Todos os direitos reservados

Rua Jaguaribe, 571


CEP 01224-003
São Paulo, SP – Brasil
Fone (11) 2167-1101
www.ltreditora.com.br
Junho, 2018

Versão Impressa — LTr 6052.1 — ISBN 978-85-361-9667-1


Versão Digital — LTr 9402.5 — ISBN 978-85-361-9733-3

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vargas, Carlos
Dia a dia com Santa Teresinha : o calendário de uma família /
Carlos Vargas. -- São Paulo : LTr, 2018.

Bibliografia.

1. Biografia cristã 2. Família - Aspectos religiosos 3. Novenas 4.


Teresa do Menino Jesus, Santa, 1873-1897 - Família I. Título.

18-15205 CDD-922.2
Índices para catálogo sistemático:
1. Calendário : Família : Santa Teresinha do Menino
Jesus : Biografia 922.2

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427


“Tudo tem seu tempo.
Há um momento oportuno
para cada coisa debaixo do céu”
Eclesiastes 3, 1.
Este livro é dedicado
a todas as pessoas que querem
viver, a cada dia, o pequeno
caminho da união com Deus.
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus pelas graças recebidas.
Agradeço a todos os familiares que apoiaram a re-
dação deste livro, especialmente minha esposa Adineia,
meus filhos, Luiz Antônio e José Eduardo, e meus pais,
Miguel e Sirlene.
Agradeço a todos os freis carmelitas descalços
(OCD), especialmente o trabalho incansável e profético
do Frei Patrício Sciadini e a oração dos freis Rafael San-
tamaria, Davi de Maria Imaculada, Ari, Gabriel, Lucas,
Igor, Gilberto, Nelson, Ivo, Marcos, Marcelo, Evandro,
José Natal, Raphael, Gentil, Xavier, Washington e Tiago.
Agradeço a todos os carmelitas descalços seculares
(OCDS), especialmente os provinciais Sidnei Santos e
Luciano Dídimo, assim como os demais presidentes e
formadores comunitários. Também agradeço as suges-
tões enviadas pelas carmelitas seculares Juliana Arantes
de Carvalho e Ana Catarina Matos.
Agradeço especialmente aos membros da Comuni-
dade Santa Teresa (OCDS): Mário, Beatriz, José Alcides,
Marly, Giovana, Heverson, Matheus, Andréia, Mari, Vi-
nícius, Joaquim, Nelson, Suely, Camila, Marcelo, Adi-
neia, Nadir, Vera e Volnei.
Agradeço as orações de todas irmãs carmelitas des-
calças, especialmente o Carmelo Nossa Senhora da As-
sunção e São José (Curitiba) e o Carmelo de Lisieux,
pela autorização do uso das imagens de Santa Teresinha.

-9-
Agradeço a todos amigos e amigas que me ajudaram,
especialmente Valdemir Chiquito, João Domingos Mi-
lano, Saulo Marques (OTC), Alex Sandro, os ministros
(MESCs) da Igreja da Ordem e os padres Juarez Rangel,
Antônio Luciano, Waldir Júnior, Luiz Alberto Kleina,
Márcio Fernandes, Valdirlei Chiquito, Danilo e Clodo-
aldo.
Agradeço também às editoras que publicaram as
obras de Santa Teresinha e permitiram a publicação de
trechos das suas obras, especialmente a LTr Editora, Edi-
tora Santuário, Editora Paulus, Editora Vozes e Editora
Loyola.

- 10 -
SUMÁRIO

Abreviaturas 13
Prefácio do Frei Patrício Sciadini 15
Introdução 21
1. Janeiro 27
2. Fevereiro 39
3. Março 49
4. Abril 61
5. Maio 71
6. Junho 81
7. Julho 93
8. Agosto 103
9. Setembro 113
10. Outubro 123
11. Novembro 133
12. Dezembro 143
13. Novena de Santa Teresinha do Menino Jesus
e da Sagrada Face 153
14. Mensagem Final 165
15. Referências para Futuras Pesquisas 169
Anexo 175
Sobre o Autor 179

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ABREVIATURAS

C – Cartas de Santa Teresinha.


Ma – Manuscrito autobiográfico A de Santa
Teresinha.
Mb – Manuscrito autobiográfico B de Santa
Teresinha.
Mc – Manuscrito autobiográfico C de Santa
Teresinha.
O – Orações de Santa Teresinha.
OCD – Ordem Carmelita Descalça.
OCDS – Ordem Carmelita Descalça Secular.
P – Poesias de Santa Teresinha.
PS – Poesias Suplementares de Santa Teresinha.
RP – Recreações Poéticas de Santa Teresinha.
UC – Últimos Colóquios de Santa Teresinha.

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PREFÁCIO

Frei Patrício Sciadini1, OCD

A família é o coração da humanidade, da Igreja,


da sociedade e de Deus. O nosso Deus não é um Deus
solitário, mas é família: Pai, Filho e Espírito Santo. E
tudo nasce desta família que não é apenas santa, mas
é Santíssima. Tudo o que a Igreja faz para as famílias
é pouco. Tudo o que o Estado pode fazer para manter
unida a família é pouco. Devemos nos unir, homens e
mulheres de boa vontade, para salvar a família. Quando
a família perde a sua unidade e a sua força de amor, o
crime e a violência entram e destroem os valores mais

1  Frei Patrício Sciadini é sacerdote e missionário da Ordem Carmelita Des-


calça (OCD). Nascido na Itália, mora no Egito, mas é apaixonado pelo Brasil.
Pregador de cursos e retiros espirituais, publicou dezenas de livros. Colaborou
na divulgação e organização, em língua portuguesa, das obras de Santa Teresa
de Jesus, São João da Cruz, Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Edith Stein
(Irmã Teresa Benedita da Cruz), Santa Teresa dos Andes e Santa Elisabeth da
Trindade.

- 15 -
sagrados dos seres humanos: a sociedade, a pátria e a
Igreja.
A família não é algo de acessório ou opcional, que
se possa descartar e jogar fora. Podem nascer muitas
crianças fora da família que nós chamamos tradicional,
mas nunca poderia nascer uma criança sem a cooperação
de um homem e de uma mulher. E uma criança que
não encontra, no seu nascer, o apoio de algum adulto
é destinada à morte. A vida humana é a vida mais frágil
entre os animais. O gato nasce e depois já começa a andar
por aí. O pintinho nasce e já vai buscar o seu alimento. A
criança nasce e precisa de um longo tempo de assistência
especial para sobreviver.
E não é só a sobrevivência, mas também é necessário
carinho, amor e afeto para que o ser humano seja inserido
na sociedade, na família, na Igreja e na comunidade de
uma forma harmônica. Se a criança não recebe este amor
com o leite e com a comida terá, um dia, problemas e não
viverá uma vida digna. Hoje, a psicologia e as ciências
humanas se veem obrigadas, mesmo contra a vontade,
a recuar e reconhecer o valor fundamental na educação
da família. O Estado e nenhuma outra sociedade podem
dar à criança o afeto familiar de um pai e de uma mãe.

A Família
Se nós lemos os livros da Antiguidade, vemos sempre,
no centro, a preocupação educacional, seja na sociedade
grega, romana e em todos os povos. Mais exatamente,
nós, católicos, deveríamos voltar o nosso olhar para
a Bíblia Sagrada, o livro do povo de Deus, que é um
conjunto de famílias. Lá podemos buscar, na Palavra

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Eterna, o amor que Deus Pai tem com seus filhos e como
Jesus é o Educador que, pela força do Espírito Santo, nos
ensina o caminho da comunhão e da vida. A teologia da
família é, antes de tudo, uma teologia de amor, diálogo e
vida. Quando uma família quer se extinguir, se recusa a
gerar filhos. Quando uma família quer aumentar, toma
o caminho da fecundidade e do amor familiar.
Ha uma fecundidade humana, que nasce da sexua-
lidade, e há uma fecundidade espiritual, que nasce do
Espírito. Pensemos a fecundidade de Santa Teresinha
do Menino Jesus e contemplemos como esta família se
ampliou e se amplia todos os dias, mais e mais. Não posso
escrever um prefácio que seja mais longo do que o livro,
mas gostaria de colocar em evidência quatro coisas.
1. Todas as pastorais são úteis e necessárias, mas a
pastoral familiar é uma das mais úteis e mais necessárias
se amamos a Igreja. Sem a família é impossível formar
uma Igreja viva. O Papa Francisco, com o documento
sinodal Amoris Laetitia2 (A Alegria do Amor), manifesta
todo o seu amor, mesmo sendo incompreendido pela
família. Uma família é um centro de amor, solidariedade
e diálogo. Vamos nos unir para salvar a família à luz do
evangelho.
2. O Carmelo tem uma espiritualidade da família,
que devemos saber aproveitar na nossa evangelização. As
famílias dos Santos do Carmelo são modelos de vivência
e de superação dos conflitos.

2  FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Lætitia.


Roma: Libreria Editrice Vaticana, 2016.

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A família de Santa Teresa de Ávila foi uma família
onde não faltaram problemas e dificuldades, mas teve
uma orientação séria, seja por parte do Pai, que se casou
duas vezes ou por parte da mãe de Santa Teresa, Dona
Beatriz.
A família de São João da Cruz era uma família pobre,
que se viu obrigada a se dividir por causa da pobreza,
mas que sempre procurou a unidade da fé.
A família de Santa Teresa Margarida Redi, onde o pai
foi um autêntico diretor espiritual da filha.
A família de Santa Edith Stein, onde a mãe era
uma fervorosa judia e não conseguia compreender a
conversão da filha.
A família de Santa Teresa dos Andes era uma família
rica, que teve momentos difíceis na sua vida econômica.
E a família de Santa Teresinha do Menino Jesus…
uma família simples, de classe média, que teve sempre
a educação das filhas como uma prioridade absoluta e
que, mesmo nas dificuldades, soube viver a própria fé. É
importante poder acompanhar a evolução da família de
Santa Teresinha do Menino Jesus e ver como é sempre
possível dedicar-se ao trabalho e à vivência da fé.
3. O Carmelo deve saber aproveitar a Ordem
Secular para realizar também uma Pastoral Familiar à
luz das famílias dos Santos do Carmelo. Criar famílias
carmelitanas onde a oração, a missão, a unidade e o
trabalho sejam prioridades. A fé não deve ser vivida de
maneira individualista. Sabemos como Santa Teresa de
Ávila se preocupava com a vida espiritual do seu pai e
dos seus irmãos, como São João da Cruz teve um amor

- 18 -
especial pela sua família, que era pobre e necessitada,
e como Santa Teresinha do Menino Jesus recebeu
a atenção particular do seu pai, São Luís Martin. Ela
mesma teve muita preocupação pela doença do seu pai...
Os membros da Ordem Secular devem ser, antes de tudo
e sobretudo, evangelizadores das próprias famílias.
4. A mística da família, a partir da espiritualidade
dos Santos do Carmelo, desenvolve-se, de maneira
orgânica, mediante retiros, cursos que tenham como
tema a espiritualidade familiar, a oração na família, a
missão... O voluntariado das famílias da Ordem Secular
no serviço missionário é uma presença marcante dentro
da comunidade paroquial, especialmente na seara das
vocações e das famílias. O livro de Carlos Vargas é, sem
dúvida, um incentivo para conhecer a vida de Santa
Teresinha do Menino Jesus, mas é uma ideia brilhante
com o calendário desta família.

A Família é uma comunidade pascal


A família, por meio do seu caminho histórico, passa
sempre por dificuldades, paixão, morte e ressurreição.
Mas é fundamentalmente uma comunidade pascal,
onde a presença de Jesus é o centro do caminho da
evangelização. A família deve ser uma chama de alegria
e de esperança. Seguindo o caminho do calendário
da família de Santa Teresinha, encontramos muitos
momentos de alegria, mas também de dor e sofrimento.
Contudo, a força da fé nunca permite que esta família
excepcional desanime.

- 19 -
Seria muito bom insistir, segundo o meu parecer,
que o Carmelo desse mais atenção à pastoral familiar
no estilo carmelitano: vida de comunhão, de oração, de
obras de caridade e de missão.

E a nossa família, como vai?


Não devemos pensar que seja possível uma família
ideal, sem dificuldades e sem conflitos... Só a Família da
Santíssima Trindade foi assim. Todas as outras famílias
tiveram conflitos, até mesmo a família de Nazaré.
Devemos pensar em diminuir esses conflitos: isto é
possível com uma forte espiritualidade e o Carmelo
pode oferecer isto. A família de Santa Teresinha teve
dificuldades de relacionamento entre São Luiz Martin
e Santa Zélia Guérin, que foram canonizados, entres
as filhas e, mesmo com Leônia, a filha que tinha
dificuldades de relacionamento e de inserção na família.
Tudo foi superado no amor e com amor. Este é o caminho
que devemos ter presente na pastoral familiar: não é o
idealismo da família sem problemas, mas é a consciência
de que a cruz amada nos ajuda a caminhar para ser uma
família que, apesar de tudo, pode viver a alegria do
Evangelho e da comunhão.

Desde o Egito,
Abuna Batrik3, o.c.d.

3  Desde 2010, o Frei Patrício Sciadini mora, como missionário carmelita, na


cidade do Cairo, no Egito, onde é conhecido como “Abuna Batrik”.

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INTRODUÇÃO

“Para Vós, o Tempo não é Nada.


Um único dia é como se fossem mil anos4”
Santa Teresinha

Um dos temas mais importantes do mundo


contemporâneo é a família. São João Paulo II (1981,
86) já havia alertado: “o futuro da humanidade passa pela
família”. E o Carmelo também tem algo a nos ensinar para
a espiritualidade dos leigos que querem construir uma
família de acordo com a aquela Rocha verdadeira que é
Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Mt 7 21-27). Quando o

4  TERESA DO MENINO JESUS E DA SANTA FACE, Santa. Obras com-


pletas: escritos e últimos colóquios. Tradução: Paulus Editora com a colabora-
ção das monjas do Carmelo do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha.
São Paulo: Paulus, 2002, p. 834.

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Papa Francisco canonizou o casal Luís e Zélia, foi dado
um grande incentivo para a importância da vivência da
santidade nos casais e nas famílias do mundo inteiro.
Era o dia 15 de outubro de 2015, pela primeira vez
na história da Igreja, um casal foi canonizado junto,
na mesma cerimônia: “os Santos esposos Luís Martin e
Maria Zélia Guérin viveram o serviço cristão na família,
construindo dia após dia um ambiente cheio de fé e
amor; e, neste clima, germinaram as vocações das filhas,
nomeadamente a de Santa Teresinha do Menino Jesus”
(FRANCISCO, 2015).
O casal Luís e Zélia Martin marcou a minha vida.
Eu e minha esposa Adineia casamos na semana em que
eles completariam 150 anos de casados. Era o ano de
2008, quando o Papa Bento XVI beatificou este casal
que trouxe tantos frutos para a vida de toda a Igreja. O
Frei Davi de Maria Imaculada, OCD, nos ajudou a fazer
uma singela homenagem para aquele casal, levando
um quadro deles no ofertório da Santa Missa em que
casamos. O testemunho dos pais de Santa Teresinha nos
enchia de esperança para construir a história da nossa
família conforme a graça divina.
Na história do Carmelo, temos muitos exemplos de
famílias santas, destacando-se aquela que se formou a
partir desse casal São Luís Martin (1823-1894) e Santa
Zélia Guérin (1831-1877). Eles tiveram dois filhos e sete
filhas, sendo que uma delas se tornou uma das santas
mais populares da história desses mais de dois mil anos
de cristianismo no mundo inteiro: Maria Francisca Teresa
Martin (1873-1997). Ela tornou-se monja carmelita
descalça com o nome de irmã Teresa do Menino Jesus e da

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Sagrada Face. Neste livro, a chamaremos simplesmente
de Santa Teresinha, como ela se tornou conhecida.
Cada Santo expressa um pouco da misericórdia de
Deus. Quando falamos de um Santo, atualizamos a vida
de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente e real na vida da
Igreja, que é o seu Corpo Místico (cf. 1Cor 12, 11-27).
Talvez seja por isso que é tão interessante falar sobre os
santos e santas do Povo de Deus, desde São José e Nossa
Senhora até aqueles que estão vivos no meio de nós. Com
Santa Teresinha e sua família não é diferente: ela provoca
interesse e curiosidade de todos aqueles que querem
saber mais sobre a união com Deus por meio do pequeno
caminho da pequenez e da humildade espiritual.
O Santo Evangelho é sempre novo e atual, especial-
mente nesse ano do Laicato proclamado pela Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O Brasil precisa
do nosso testemunho leigo, que começa na família. A
vida dos santos sempre pode ser atualizada em nosso dia
a dia. Tudo aquilo que aconteceu na vida da família Santa
Teresinha nos chama atenção pela semelhança com nossa
realidade contemporânea. O objetivo desse calendário
de Santa Teresinha é apresentar fatos relacionados com a
sua vida, distribuídos entre o dia primeiro de janeiro e o
dia 31 de dezembro.
Espera-se que esse livro seja um recurso para
compreender melhor a importância da santidade nas
famílias, colaborando na vivência da espiritualidade
carmelitana. Espera-se que as famílias brasileiras encon-
trem aqui um livro de cabeceira, consultando os fatos
de cada dia e rezando a partir desses acontecimentos.

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Hoje em dia, esse livro adquire mais importância ainda,
como suporte para aqueles que trabalham nos meios de
comunicação, divulgando a vida de Santa Teresinha e o
carisma carmelitano. Aqui está um livro de referência para
o conhecimento da espiritualidade dessa santa família.
Sem ser teólogo, quero deixar aqui essa contribuição
para aqueles que desejam conhecer um pouco mais
sobre Santa Teresinha e sua família. Como membro
da Ordem Carmelita Descalça Secular, percebo um
interesse crescente em tudo aquilo que se relaciona com
a espiritualidade carmelitana, especialmente quando se
trata das canonizações mais recentes, como a de São Luís
Martin e de Santa Zélia Guérin.
Eu li a autobiografia de Santa Teresinha, pela pri-
meira vez, em 1998. Foi uma experiência que marcou a
minha vida espiritual. Contudo, a ideia de escrever esse
calendário surgiu, inesperadamente, quando, quase 20
anos depois, eu fui comprar um livro sobre a história do
futebol para o meu filho mais velho. Encontrei um livro
que apresentava um calendário com um fato esportivo
para cada dia do ano. Coloquei a mão na consciência
e pensei: se o futebol mereceu um calendário de fatos,
por que a vida de Santa Teresinha e de sua família não
merecem? Afinal, os leigos também têm o direito de
conhecer a espiritualidade carmelitana retratada na vida
dessa santa família de Lisieux. Relembrando diariamente
os fatos da vida de Santa Teresinha, cada um estará
motivado para colocar em prática esses ensinamentos de
fé, amor e esperança.

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Esse livro nunca chegaria a ser escrito sem as orações
das irmãs carmelitas de Curitiba. Também agradeço
especialmente a amizade e o apoio dos freis carmelitas.
Este livro surgiu a partir do dia a dia da nossa vivência
na Ordem Carmelita Descalça Secular, mas boa parte
da inspiração veio da obra e das mensagens do Frei
Patrício Sciadini, carmelita descalço. Ele preparou o
caminho para a divulgação dos santos e das santas
carmelitas, com suas dezenas de livros. Agradeço a Deus
pela oportunidade que eu e minha família tivemos de
conhecê-lo pessoalmente em Aparecida, no ano de 2015,
quando foi realizado o “Fórum Santa Teresa de Jesus – 500
anos”.
Três anos depois, a Província São José está organi-
zando um Fórum sobre Santa Teresinha que será realizado
na cidade de Aparecida, em 2018. Este livro vai ao
encontro dessa iniciativa da Ordem Carmelita Descalça
Secular. A mensagem de Santa Teresinha precisa ser
renovada a cada geração. Recentemente, comemoramos o
aniversário de 20 anos do doutorado de Santa Teresinha.
Em 1997, São João Paulo II a proclamou como a terceira
doutora na História da Igreja e a segunda na história do
Carmelo. Espero que esse livro seja um incentivo e uma
ajuda especial para a família carmelitana: irmãs, freis
e seculares. Acredito que ainda ouviremos falar muito
mais de São Luís Martin, Santa Zélia Guérin e das irmãs
de Santa Teresinha: Maria, Paulina, Celina e Leônia, que
já está em processo de canonização.
Santa Teresinha, com toda sua humildade, se mostrou
muito humana e muito jovem. A sua mensagem vai

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além desses aspectos históricos. Que esse “Calendário”
desperte a chama do Amor Divino que somente o
Espírito Santo pode acender em cada coração. Afinal, “o
Espírito sopra onde quer” (Jo 3, 8). No final deste livro,
se encontra um roteiro de novena ou celebração para
aqueles que mais precisam da intercessão da Santa que
tem distribuído rosas do Céu.
Por último e não menos importante, deixo uma
breve observação metodológica. As citações bíblicas do
livro são feitas de acordo com a Edição da CNBB5, pois é
a versão adotada na liturgia católica no Brasil. A maioria
dos fatos citados e dos textos citados segue o volume
das obras completas de Santa Teresinha publicado pela
Editora Paulus em 2002, conforme consta nas referências
bibliográficas. Esse livro não pretende esgotar todas as
datas envolvendo Santa Teresinha e sua família. Espero
que a leitura dessa obra estimule a curiosidade sobre a
espiritualidade carmelitana e a vivência da santidade na
família.
Em cada data, procurou-se fazer uma relação mais
ou menos direta com Santa Teresinha ou com seus pais.
Cada fato não foi escolhido por sua grandiosidade.
Pelo contrário, quando se trata de Santa Teresinha, um
suspiro voltado para o Céu já é sublime, pois já pode
se tornar uma oração contemplativa. Nada é pequeno
quando é feito com amor. Ou melhor, diante de Santa
Teresinha tudo que é pequeno pode-se tornar-se divino,
porque tem a bênção do Menino Jesus, o Verbo que se
encarnou no ventre da Virgem Maria.
5  CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DOS BRASIL. Bíblia Sagra-
da — Tradução da CNBB. Disponível em: <http://www.pr.gonet.biz/biblia.php>.

- 26 -
1. JANEIRO

“Para mim, o primeiro dia do ano


é um mundo de recordações6...”
Santa Teresinha

1
No dia primeiro de janeiro de 1888, Santa Teresinha
recebeu a sua esperada resposta positiva, mas o Carmelo
de Lisieux adiou a entrada da adolescente para depois da
Quaresma (Ma 189).

6  TERESA DO MENINO JESUS E DA SANTA FACE, Santa. Obras comple-


tas: escritos e últimos colóquios. Tradução: Paulus Editora com a colaboração
das monjas do Carmelo do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha. São
Paulo: Paulus, 2002, p. 321.

- 27 -
2
No dia 2 de janeiro de 1873, Santa Teresinha nasceu
em Alençon, na França, filha de São Luís e Santa Zélia
Martin.
No dia 2 de janeiro de 1841, nasceu Isidoro Vítor
Maria Guérin, em Gandelain, na França. Foi a terceira
criança do casal Isidoro Guérin e Luísa Joana Macé.
Isidoro, caçula da família, foi o primeiro menino do
casal, recebendo um nome que presta homenagem ao
seu pai. Outra coincidência é que ele comemorava o
aniversário de nascimento no mesmo dia de sua famosa
sobrinha, Santa Teresinha.

3
Do final de 1891 até o começo de 1892, o Carmelo
de Lisieux foi atingido por uma epidemia de gripe. Três
irmãs da comunidade morreram com essa doença, entre
os dias 2 e 7 de janeiro (Ma 224): irmã São José (2/1),
irmã Febrônia (4/1) e irmã Madalena do Santíssimo
Sacramento (7/1).

4
No dia 4 de janeiro de 1873, a recém-nascida Santa
Teresinha foi batizada em Alençon, pelo padre Luciano
Dumaine. A menina teve como madrinha a sua irmã
mais velha, Maria, que tinha 12 anos. O padrinho foi o
adolescente Paulo Alberto Boul, de 13 anos, amigo da
família7.

7  DE MEESTER, Conrad (org.). Teresa de Lisieux: Vida – Doutrina – Am-


biente. Trad.: Manuel Reis (OCD). Avessadas: Edições Carmelo, 2004, p. 26.

- 28 -
5
Em 1889, Santa Teresinha, aos dezesseis anos de
idade, iniciou seu retiro preparatório para a tomada de
hábito no Carmelo de Lisieux. O retiro ocorreu entre os
dias 5 e 10 de janeiro (C 74-79).

6
No dia 6 de janeiro de 1888, Leônia Martin, irmã de
Santa Teresinha, saiu do mosteiro da Visitação de Caen,
aos 24 anos de idade, retornando para a casa da família
em Lisieux.

7
No início de janeiro de 1889, Santa Teresinha, aos
16 anos, escreveu uma carta para sua irmã, Maria do
Sagrado Coração. O padre Pichon havia apelidado a
irmã Maria de “Leão” e Santa Teresinha se chamava de
“Cordeirinho”. A monja adolescente faz metáforas com
a imagem de um cordeirinho com sede (C 75). Santa
Teresinha fala de uma sede de felicidade que não pode
ser saciada na terra por nenhuma criatura. A jovem
carmelita decide saciar sua sede em outra nascente, que
“é o sofrimento conhecido só por Jesus8”.

8  TERESA DO MENINO JESUS E DA SANTA FACE, Santa. Obras com-


pletas: escritos e últimos colóquios. Tradução: Paulus Editora com a colabora-
ção das monjas do Carmelo do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha.
São Paulo: Paulus, 2002, p. 293.

- 29 -
8
Em 1889, São Luís Martin tinha visitado o Carmelo
de Lisieux para levar os presentes para “Sua Rainhazinha”
que tomaria o hábito carmelita nos próximos dias. Santa
Teresinha agradeceu a visita e os presentes com uma carta
escrita no dia 8 de janeiro (C 77). Ela atribui sua vocação
carmelita aos méritos de seu pai, que ela considerava um
santo: “os anjos ficarão admirados ao ver um Pai tão
agradável a Deus, e Jesus prepara uma coroa, que irá
juntar a todas aquelas que meu Rei já juntou9”.

9
No dia 9 de janeiro de 1897, Santa Teresinha, aos 24
anos, escreveu uma carta para sua irmã, Madre Inês de
Jesus, fazendo, pela primeira vez, alusão à proximidade
da própria morte, a qual ocorreu naquele ano (C 216).

10
Em 1889, Santa Teresinha, aos 16 anos, vestiu o
hábito carmelita no dia 10 de janeiro, quinta-feira, assu-
mindo o nome de irmã Teresa do Menino Jesus. Mais
tarde, ela acrescentaria “da Sagrada Face” ao seu nome
religioso. Naquele dia marcado pela neve, São Luís
Martin participou da cerimônia, presidida pelo Bispo de
Bayeux, Dom Flaviano Hugonin (Ma 203-205). Iniciou-
se o noviciado de Santa Teresinha que durou até a sua
tomada de véu no dia 24.9.1890.

9  Ibidem, p. 295.

- 30 -

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