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CAPÍTULO IX A Lâmpada da Meditação

A FALHA EM ASSIMILAR o conhecimento e afirmar inequivocamente "eu sou a consciência" deve-se à


interpretação inadequada das escrituras, dificuldade em aceitar a lógica dos ensinamentos ou fatores
desconhecidos. Se "eu sou o ser" se reflete em minha mentalidade e estilo de vida e minha busca parou, o
conhecimento está adequadamente assimilado (nididyasanam). Mas se isso não é um fato para mim; se por
alguma razão ou razões desconhecidas minha mentalidade e estilo de vida não mudaram (supondo terem
sido estabelecidos a partir de pensamentos Rajásicos e Tamásicos; para as pessoas Sattívicas não haverá
mudança de estilo de vida), como resultado de ouvir e refletir sobre o ensino, a repetição de “eu sou a
consciência” - ou alguma variante - com total entendimento pode criar karma bom o suficiente para remover
os obstáculos.

Se o seu estado de espírito não estiver baseado em "eu sou livre", estará embasado na noção oposta, "eu sou
pequeno, inadequado, incompleto, separado, desprovido, limitado, etc.", embora você possa não estar
completamente ciente desse fato. Essa conclusão sobre a pessoa é chamada de baixa autoestima. No entanto,
se você ouviu os ensinamentos e não adotou a mentalidade apropriada, significa que você está
conscientemente escolhendo pensar que não é livre. É claro que você é livre para pensar o que quiser, mas
se você diz que quer moksa, a escolha de pensar "eu sou limitado" não é consistente com o seu objetivo
declarado. Como na verdade não há evidências de que você seja limitado, além do sentimento de que o é, o
Vedanta sugere que você escolha o pensamento que está em harmonia com a sua natureza. Isso produzirá o
sentimento oposto. Como você é baseado em sentimentos, é melhor estabelecer sua identidade em
sentimentos positivos do que negativos.
Mesmo que você afirme que não há evidências para apoiar a afirmação do Vedanta de que você é livre, o
resultado de pensar "eu sou limitado e com vínculos" vai somente aprofundar a sua convicção de que você é
limitado, gerando as emoções negativas correspondentes e mantendo sua busca viva. O poder da mente de
gerar experiências é bem conhecido - na verdade, a experiência nada mais é do que seus pensamentos e as
emoções que eles geram. Sendo assim, por que não escolher um pensamento que produza uma perspectiva
positiva, criando o bom karma que dissolve o karma ruim, o qual está gerando a resistência de reivindicar seu
status ilimitado?
A única defesa que você pode oferecer para apoiar sua recusa em assumir a mentalidade de “eu sou livre” é
o sentimento “eu não sou livre”. É grosseiro apontar que sentimentos sobre qualquer ideia ou evento - ou
mesmo sentimentos sobre os próprios sentimentos - são notavelmente inconstantes? Sabendo disso, em
que base você escolhe considerar real o sentimento de apego? Não há base razoável. Os samsaris precisam
de experiências para resolver seus sentimentos porque não são capazes de resolvê-los com conhecimento.
Portanto, quando o sentimento de pequenez e inadequação surge na mente de um buscador, ele ou ela
anseia por algum tipo de experiência de iluminação para removê-lo. Existem experiências "espirituais" que o
removem mesmo, mas as experiências espirituais estão no samsara e, tal como as experiências mundanas,
terminam logo – mais, em geral, do que duram. Quando terminam, os pensamentos de limitação retornam.
Portanto, a experiência não remove o conhecimento errôneo. Mesmo que uma epifania não-dual produza o
pensamento "eu sou ilimitado”, a vasana dela decorrente não será forte o suficiente para acabar com a
tendência de pensar o contrário; o pensamento que tem sido o "pensamento-eu" dominante desde o
nascimento.

Para a pessoa comum, o pensamento não é deliberado, e, sim, inconsciente. Estamos sendo "pensados" pelo
nosso karma, que, como o Vedanta aponta zelosamente, nasce da ignorância de nossa natureza sempre livre.
Mas é possível pensar deliberadamente. E, uma vez que os pensamentos são karma, eles produzem karma.
O pensamento apropriado à sua natureza é "eu sou sempre a consciência livre". Ele tem o poder de remover
o seu oposto, mas não sem prática constante.
O ego nasce de Tamas, ignorância. Quando você está no escuro, é natural resistir a qualquer coisa que desafie
sua visão de si mesmo. As crianças são bons exemplos de egoísmo irracional; elas querem o que querem do
jeito que querem, e quando quiserem. E se lhes disserem "não", elas resistem imediatamente porque são
incapazes de entender o motivo da recusa dos pais. Essa psicologia é a base da rebelião, a qual se trata de,
automaticamente, pensar o pensamento oposto. Se alguém apontar um fato desconfortável, mas verdadeiro,
sobre o seu ego, você o negará imediatamente. "Você diz sim, eu digo não."
Para que o Vedanta funcione, o investigador deve ser qualificado. Em poucas palavras, as qualificações
equivalem à maturidade, uma mente saudável, discriminadora e desapaixonada, disposta a ouvir a razão e a
fazer escolhas de vida razoáveis. Mas às vezes pessoas que vêm ao ensino não resolveram completamente a
criança interior.

Isso não quer dizer que elas não possam se beneficiar do ensino, ou que viver no mundo do Vedanta não
produzirá a maturidade necessária. No entanto, explica a resistência irracional do ego à ideia "eu sou livre".
Enquanto você se sentir dependente de objetos - dinheiro, sexo, poder, reconhecimento, etc. - você
continuará basicamente uma criança em termos espirituais, e pode muito bem se sentir ameaçado,
inconsciente ou conscientemente, pela ideia de liberdade.

Você pode sentir que precisa mudar seu estilo de vida ou que moksa ameaçará relacionamentos
"importantes". Essa resistência é compreensível, mas precisa ser abordada para que você aproveite o fruto
do autoconhecimento - a liberdade real. Talvez o medo de que o autoconhecimento assimilado mude a vida
de uma pessoa seja o motivo mais comum para a recusa de reivindicar seu status de consciência sempre livre.
É um medo irracional. Em primeiro lugar, se o seu estilo de vida e os seus relacionamentos são tão
maravilhosos, por que você está buscando a liberdade? As pessoas que estão satisfeitas com suas vidas não
se interessam pela libertação.
Segundo, se você é livre, você é livre da sua vida. Vida é mithya. Você é satya. Qual é a conexão? O que precisa
mudar? De fato, o que você pode realmente mudar?
Terceiro, por que não mudar seu estilo de vida se isso tornará a vida do Jiva mais harmoniosa?
Quarto, você não tolerará mais a parte carente de si mesmo. A necessidade é dolorosa quando você não sabe
quem você é - e é intolerável quando você sabe. Então, antes de tudo, você se livrará do fator que provocou
os apegos.
Finalmente, moksa só vai melhorar os relacionamentos malsucedidos - porque, doravante, você se
relacionará com todos como se fossem você, e não como se fossem outra pessoa. Portanto, você
naturalmente responderá aos outros de uma maneira mais amorosa e solidária, o que só irá gerar um bom
karma. E, finalmente, você vai remover, talvez, a principal fonte de conflitos nos relacionamentos: você não
dependerá mais dos outros para eliminar os seus sentimentos de limitação.

Até o século XIV, a ideia “eu sou a consciência” como prática espiritual não agraciava as páginas da literatura
vedântica, porque a tradição insiste firmemente que o karma não pode produzir iluminação, uma vez que o
ser já é experimentado. Ela foi adotada pela tradição, no entanto, porque a prática não se destina a produzir
moksa, e, sim, apenas remover os obstáculos à assimilação do conhecimento; nesse caso, é equivalente a
moksa, porque o praticante já tem um entendimento claro de quem ele é.

Portanto, essa prática é chamada de “erro condutor” porque, embora seja baseada em uma crença errônea,
pode levar à libertação. Não ajudará alguém que não esteja claro sobre a natureza do ser, porque a repetição
da ideia sem saber o que ela significa não passa de uma lavagem cerebral.

Assim, essa prática é a contribuição única de Vidyaranya para a tradição de ensino. Eu ampliei a ideia para
incluir a noção de que a prática consistente de alguma forma de ioga que produza epifanias "não-duais" pode
constituir um "erro condutor", no sentido de que um recorrente sentimento de fracasso em tornar essas
experiências permanentes pode fazer com que o iogue repense sua abordagem e, ao fazê-lo, ele pode se
sentir atraído pelo ponto de vista do conhecimento para a iluminação. De fato, muitos daqueles que eu ensino
foram, anteriormente, meditadores sérios, mas terminaram por abandonar a prática, apesar de inúmeras
epifanias, porque elas não duravam.

Erro Condutor

Os versos 1 a 12 introduzem o tópico da meditação sobre “eu sou a consciência não-dual, ilimitada”. Essa
discussão não inclui outras formas de meditação, porque, tanto quanto eu saiba, nenhuma tradição de
meditação se baseia na ideia de que o meditador é consciência ilimitada. Todas assumem que a realidade é
uma dualidade, que o samsara é real e que a iluminação, a autorrealização etc. é um evento que pode ser
provocado pela ação, ou seja, meditação.

1. É possível obter algo seguindo o caminho errado. Também é possível obter libertação adorando a
consciência. Assim, os tipos de adoração são descritos no Nrisimha-Uttara-Tapaniya Upanishad.

2 a 6. Na escuridão, uma pessoa viu um raio de luz emitido por uma joia valiosa que entrava pela janela
de uma sala, e outra pessoa viu um raio de uma lâmpada vindo da janela de outra sala. Ambas acreditavam
que os raios se originavam de pedras preciosas e correram na direção deles. Embora ambas considerassem
o raio uma gema, uma encontrou uma gema, e a outra não. Ambas têm conhecimento errado e esperam
encontrar uma joia. A primeira pessoa entrou na sala e encontrou a joia valiosa. A segunda pessoa
encontrou apenas uma lâmpada.
Confundir o raio de uma lâmpada com uma gema é chamado de erro "enganoso" (um erro que não leva ao
objetivo). Confundir o raio de uma gema com uma gema é chamado de erro "condutor" - uma bênção de fato
- porque leva ao objetivo. Eu removi vários exemplos desnecessários de erros condutores. Para simplificar, o
texto diz que meditar sobre "eu sou consciência" pode ter consequências favoráveis.

13. Meditar ou adorar a consciência também pode levar à libertação.


Achar que os pensamentos precisam ser eliminados para moksa pode levar alguém a moksa, mesmo que o
ser não seja obscurecido por pensamentos. Muitos daqueles que se tornaram investigadores no Vedanta
eram, anteriormente, meditadores.

Conhecimento Direto e Indireto

14. Depois de se ouvir indiretamente dos ensinamentos do Vedanta que somos consciência, deve-se meditar
repetidamente na ideia "eu sou consciência".
Se você é o ser, não meditará repetidamente na ideia "eu sou o ser". Portanto, muito embora você pense que
é outra coisa, a verdade é que você é o ser – e você a descobrirá dessa maneira.

15 a 19. Sem realizarmos que a consciência é o próprio ser de uma pessoa, o conhecimento da consciência
derivado das escrituras é indireto. Um adorador de uma divindade de quatro braços tem apenas
conhecimento indireto, a menos que tenha tido uma visão da divindade. O conhecimento indireto não é
falso, mas é defeituoso porque não é apoiado pela experiência. Embora um investigador tenha um conceito
preciso da consciência ilimitada, o conhecimento não é direto até que ele tenha realizado que a consciência
é a testemunha do seu próprio ser refletido. O conhecimento indireto é um meio válido de conhecimento.
Antes da realização, o ser refletido é considerado o único ser, mesmo que um investigador tenha ouvido a
respeito do ser pleno.

20 a 25. Embora as escrituras digam que a pura consciência testemunhante é o ser, ela não será realizada
sem investigação. O maior obstáculo para a realização do ser como a consciência testemunhante é a crença
"eu sou o corpo". Como a experiência da dualidade não se opõe ao conhecimento indireto da não-dualidade,
um investigador sagaz das escrituras e dotado de fé pode facilmente obter conhecimento indireto da
consciência.

25 a 28. O conhecimento indireto da consciência pode surgir mesmo quando se ouve um único ensinamento
de um professor competente, assim como o conhecimento da forma de uma divindade não depende de
investigação, apenas da fé nas palavras das escrituras que a descrevem. Grande número de métodos
Védicos de adoração foram compilados dos Kalpa-Sutras e explicados por vários videntes. Pessoas obtusas,
com fé, podem aprender os métodos e praticá-los, em vez da investigação.
Mas as pessoas obtusas tornam-se intelectualmente hábeis ao seguirem os métodos de adoração, porque
estes são projetados para desenvolver a investigação.

29 a 32. Para determinar o significado correto dos textos védicos, o sábio recorre à investigação, mas a
adoração benéfica pode ser realizada com a ajuda de um professor habilidoso. A realização/conhecimento
direto da consciência só é possível através da investigação, mesmo que alguém tenha ouvido um professor
competente falar da consciência. A falta de fé impede o conhecimento indireto; a falta de investigação
impede o conhecimento direto. Se a investigação não produzir imediatamente o conhecimento direto, deve-
se continuar investigando até que o conhecimento direto apareça.
Indivíduos orientados para a experiência têm fé em moksa, mas geralmente não têm interesse em investigar,
então raramente percebem quem são. No entanto, ocasionalmente, em geral depois de muitos anos em
muitos caminhos, eles se tornam abertos à ideia de que o autoconhecimento é moksa e, consequentemente,
expõem suas mentes ao Vedanta. Investigar não é se fazer a pergunta "quem sou eu?”, mas, sim, aplicar os
ensinamentos à mente, momento a momento.

33 a 36. Se a morte intervir antes que o conhecimento direto aconteça, o investigador obterá a libertação
em um futuro nascimento, uma vez que os obstáculos a ela tenham sido eliminados. O conhecimento
surgirá neste ou no próximo nascimento, dizem os Brahma Sutras. Outras escrituras dizem que muitos que
ouvem os ensinamentos não se realizam nesta vida. Em virtude da prática da investigação em um
nascimento anterior, diz-se que Vamadeva realizou sua verdadeira natureza ainda no ventre materno. A
despeito de ler suas lições muitas vezes, um garoto pode não conseguir se lembrar do que leu, mas,
ocasionalmente, na manhã seguinte, sem mais estudos, ele se lembra perfeitamente.
Muitas vezes, os samskaras profundos precisam ser expostos e dissolvidos antes que o autoconhecimento
seja retido. O fato de um investigador em um nascimento subsequente não saber quem ele era no nascimento
anterior relativiza a noção convencional da reencarnação. É mais útil ver “nascimento” como a identificação
com um padrão específico que funciona no Corpo Sutil, morte como desapego e renascimento como
identificação com o ser. Os investigadores “nascem duas vezes”, uma vez fisicamente e outra vez
espiritualmente, quando o conhecimento direto ocorre.

Obstáculos

37 a 39. Tal como uma semente no campo ou um feto no ventre, ambos amadurecendo com o tempo, a
prática da autoinvestigação amadurece gradualmente e dá frutos. Ocasionalmente, apesar de repetidas
investigações, um investigador não realiza a verdade devido a vários impedimentos (pratibandakas). O
conhecimento direto vem com a remoção do último impedimento vinculativo.
Também pode acontecer antes, mas quanto mais alguém se apega aos seus samskaras, mais tempo leva para
assimilar a verdade das escrituras. Este verso não deve ser tomado como um endosso à teoria da vasana
ksaya, a ideia de que apenas a destruição de todas as vasanas é moksa.

40. Somente ouvindo e refletindo sobre os ensinamentos do Vedanta, e permitindo que o conhecimento
dissolva obstáculos, o conhecimento direto ocorrerá. Pode-se ter o conhecimento exato de que há ouro
enterrado embaixo de uma casa, mas é necessário cavar antes que o mesmo possa ser útil.

41 a 42. Uma música popular diz que um monge não conseguia realizar a verdade por causa do apego a
uma mulher. Seu professor lhe disse que a consciência era a natureza dela, então ele obsessivamente
contemplou o significado desse fato e alcançou a libertação.

43. Os impedimentos são: (1) ligação vinculativa aos objetos dos sentidos, (2) um intelecto agitado e obtuso,
(3) indulgência em relação a argumentos impróprios e ilógicos sobre a natureza de moksa e (4) a profunda
convicção de que o ser é um agente e um desfrutador.

44 a 46. Através da prática do autocontrole e do desenvolvimento das qualificações adequadas para


remover impedimentos, ouvir e refletir e assim por diante, obteremos, por fim, conhecimento direto. Alguns
superam os impedimentos rapidamente, outros não tão assim. Contudo, por mais que demore, a
investigação sempre dá frutos.

Os versos 47 a 73 cobrem tópicos que não se aplicam à maioria dos buscadores ocidentais, exceto, talvez,
aqueles que tiveram contato com a espiritualidade Védica: o impacto da morte na investigação; krama mukti,
a ideia bastante peculiar de que alguém faz boas ações, vai para o céu e obtém liberação pela graça do Criador
no final do ciclo macrocósmico; e, finalmente, videha mukti, liberação na morte quando o prarabdha se
esgota - nenhum dos quais endossado por Vidyaranya.

Há uma afirmação de que um acúmulo de culpa inconsciente causado por ações adhármicas pode impedir a
assimilação. Como única ideia útil, fica a sugestão de Vidyaranya de que a meditação sobre os atributos
positivos do ser - as qualidades Sattívicas - é uma prática benéfica. Ele também responde às objeções de
terceira categoria de um investigador cujo compromisso com moksa é suspeito e que questiona o valor da
meditação sobre os atributos. O Bhagavad Gita é uma boa fonte para aqueles que precisam meditar sobre os
atributos do ser.

A Diferença entre Conhecimento e Meditação

74. O conhecimento depende do objeto, enquanto a meditação depende da vontade do meditador.


A meditação é uma tentativa do praticante de obter uma experiência específica. Não é necessária a vontade
para se obter conhecimento, apenas uma mente aberta na presença do objeto de conhecimento. O
conhecimento acontece quando o fazedor é suspenso. No entanto, uma vez que o valor do conhecimento
referente à moksa é apreciado, é preciso força de vontade para manter a mente aberta, a menos que o desejo
pela liberação seja intenso.
No estágio nididhyasana, não há dúvidas sobre a natureza de uma pessoa como consciência ilimitada. O
investigador está apenas tentando se livrar de alguns obstáculos, mas, na meditação, imagina-se que se é
ilimitado e espera-se algum tipo de experiência que confirme essa crença.

75. Através da prática da investigação, surge o conhecimento da natureza da consciência. Como a


investigação é orientada para objetos, o conhecimento não pode ser impedido e é permanente, assumindo
as qualificações. A investigação destrói todas as ideias embasadas na crença de que o mundo é real.
Como apenas buscam experiência, não conhecimento, os meditadores tentam transcender ou eliminar suas
mentes, de modo que raramente examinam suas crenças e opiniões sobre si mesmos, moksa e o mundo. Mas
são precisamente as ideias sobre si mesmo e moksa que impedem a capacidade de se entender que "eu sou
consciência". A investigação - olhar o condicionamento à luz do conhecimento "eu sou consciência" –
evidencia a ignorância na forma de crenças e opiniões sobre a realidade, o que exige renúncia. Também dá
origem ao conhecimento, sem dúvidas, de satya e mithya, o que elimina problemas samsáricos e transforma
a realidade aparente em uma peça teatral. O conhecimento é independente dos pensamentos e sentimentos
de alguém. Dois mais dois é igual a quatro, quer você goste ou não, quer você traga isso à mente ou não.
Ninguém precisa escrever o seu nome antes de dormir, com medo de que o mesmo não esteja disponível
pela manhã.

76. O autoconhecimento causa um "sentimento" de satisfação ininterrupta e não orientada a objetos, e a


sensação de que alguém realizou tudo o que é para ser realizado.
O conhecimento firme não requer manutenção, ao contrário da meditação, que é experimental e só produz
conhecimento relativo, sujeito a correções. O conhecimento relativo não dá ao meditador a confiança
necessária para afirmar "Eu sou consciência". Os meditadores, munidos da memória de suas experiências
místicas, são rápidos em informar os outros sobre suas realizações espirituais, precisamente porque não têm
confiança em quem são. Eles continuamente buscam validação no mundo.
Havia um homem com um complexo que pensava que era um verme, e foi a um psiquiatra para resolver o
problema. O psiquiatra disse-lhe para ficar dentro de casa, longe dos pássaros, por três meses, para que o
medo desaparecesse. Quando ele foi para a sessão final, o psiquiatra ergueu um espelho e disse "Veja, você
não é um verme, você é um ser humano". O homem ficou muito feliz com a sua compreensão, pagou a conta
e saiu do consultório, apenas para descobrir um grande corvo sentado em seu carro. Aterrorizado, ele voltou
ao psiquiatra, que disse “E daí? Você é um ser humano.” “Eu sei disso”, respondeu o homem, “mas o corvo
não.”
Uma pessoa sábia é completamente autoconfiante e não considera o karma frutificante um fardo, porque
trata-se de mithya. Ainda assim, ele segue o dharma porque o dharma é a sua natureza.
77 a 80. Por outro lado, um meditador que não pratica a investigação deve meditar fielmente na
consciência sem atributos até que não se distraia com pensamentos de objetos mundanos, e até que ele se
veja como idêntico ao objeto da meditação.
Então, se o objeto da meditação é outro que não a consciência, ele deve aplicar o poder de concentração,
derivado da meditação, ao pensamento "Sou a consciência completa e plena, sem ação, comum,
despreocupada, sempre presente e não-dual”, até que seu significado se torne claro. É de vital importância
que um meditador desenvolva a vasana “Eu sou ilimitado”, ao passo que uma pessoa sábia não precisa da
vasana para manter sua identidade; o conhecimento cuidou dela de uma vez por todas. Os meditadores
carecem de autoconfiança, então eles podem apenas imaginar que são o ser e esperar que, ao
programarem a mente subconsciente, as luzes se acendam em um belo dia.

81 a 83. Um estudante diligente dos Vedas recita os mantras em seus sonhos através da força do hábito.
Da mesma forma, se a meditação for contínua no estado de vigília, ela continuará no estado de sonho
porque a vasana de meditação é muito forte. Se a vasana de meditação for muito profunda, o karma
frutificante não perturbará a meditação, assim como uma pessoa mundana com uma vasana forte sempre
pensa no objeto conectado a ela.

84 a 90. Uma dona de casa que tem um amante pensará nele continuamente e desempenhará seus deveres
indiferentemente, devido ao poder de sua vasana por prazer. Da mesma forma, alguém que pratica
meditação focada geralmente realiza seus deveres mundanos sem entusiasmo, mas alguém que percebeu
a verdade cumpre bem seus deveres mundanos. O mundo e o ser estão em diferentes ordens da única
realidade. Como o autoconhecimento pode se opor a qualquer atividade? Para executar ações, você não
precisa pensar que o mundo é real, nem precisa acreditar que a consciência é inexistente. Os meios de ação
são a mente, a fala, o corpo e os objetos externos. Eles não desaparecem quando você realiza quem você
é. Então você poderá continuar a agir quando souber que você é a consciência.

91, 97. Controlar e concentrar a mente fazem de você um meditador, não um conhecedor da verdade. Para
conhecer um objeto como um pote, a mente não precisa ser controlada. A meditação é um ato de vontade.
A libertação é alcançada através do conhecimento.

98. O envolvimento na ação não compromete o autoconhecimento.


A meditação, historicamente, é uma tradição monástica. Raramente funciona para pessoas mundanas, mas
funciona bem para aqueles dispostos a abandonar o mundo. Consequentemente, os meditadores tendem a
acreditar que o mundo é inerentemente não espiritual, mas os iluminados veem o mundo como o ser e não
têm problemas com ele.

116 a 117. Por outro lado, um meditador deve sempre meditar, pois através da meditação um sentimento
de identidade com a consciência acaba surgindo. O sentimento de identidade, que é o efeito da meditação,
cessa quando a meditação para. Mas o ser não desaparece na ausência do conhecimento.

118. O ser é revelado pelo conhecimento, não criado pela ação ou pelo conhecimento.

120 a 121. Como a autoignorância é comum a todos, o verdadeiro propósito da vida não é conhecido.
Contudo, assim como mendigar é melhor do que morrer de fome, é melhor praticar rituais devocionais e
meditação do que se engajar em buscas mundanas. É ainda melhor adorar uma divindade pessoal, mas é
melhor meditar sobre a pura consciência sem atributos.
Isso supondo que você queira a libertação e esteja qualificado para tal.

122 a 124. Embora a meditação seja um erro condutor, o meditador pode se tornar um investigador, o que
acabará resultando no conhecimento direto.

125 a 128. A meditação na forma de uma divindade e a repetição de mantras sagrados também podem
levar à libertação, mas a meditação na pura consciência é o meio mais direto. Quando a meditação sobre
a consciência sem atributos amadurece, ela leva ao savikalpa samadhi, que destrói a distinção entre sujeito
e objeto, deixando apenas a consciência pura. Medite sobre isso com o conhecimento "Eu sou consciência".
Isso levará ao conhecimento firme e imediato – "Eu sou a consciência imutável, sem associações, eterna,
autorrevelada, a única, inteira e completa, despreocupada, comum e sem ação".

129 a 130. O Amritabindu e outros Upanishads recomendam ioga para a autorrealização. É claro que a
meditação sobre a consciência sem atributos é superior a outros tipos de adoração. Quem renuncia à
meditação sobre a consciência sem atributos e realiza peregrinações, recitações das fórmulas sagradas e
outras práticas é como uma pessoa que come o recipiente e descarta o conteúdo.

131 a 132. Os qualificados para investigar devem meditar na consciência sem atributos. O conhecimento
de si mesmo como consciência não acontece para aqueles cujas mentes são inconstantes e agitadas.
Portanto, é necessário controlar a mente.

133. É necessário apenas ouvir e refletir sobre os ensinamentos do Vedanta para aqueles cujo intelecto não
está distraído ou inquieto, mas tão somente encoberto por um véu de ignorância. Certamente o Vedanta
os libertará com rapidez.

134 a 135. A não dualidade é realizável pelos que seguem tanto o caminho da investigação quanto o
caminho da meditação. Quem conhece as escrituras sabe que ambos são meios legítimos. Ignore os textos
que contradizem as escrituras.
Mas apenas se o meditador - uma vez que ele já é livre - desistir da ideia de que a libertação é experiencial e
converter seu desejo por experiências em desejo pelo conhecimento

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