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 Cimento e Betão

 O betão é o principal material de engenharia usado em construções


– é um material compósito cerâmico
 O betão é formado pela mistura de material granulado (o agregado
– cascalho/brita/areia) embebido numa matriz dura obtida da pasta
de um cimento (o ligante – normalmente Cimento Portland*)
misturado com água
 O betão é o material sintético mais utilizado na Terra, com um
consumo anual de cerca de 10 mil milhões de m³
Cimento e Betão

© Jörg Singer

*A invenção do cimento portland é atribuída ao inglês Joseph Aspdin, que em 1824


registou a patente de um cimento produzido por mistura sintética de pedra calcária
e de argila
 A Produção de Cimento Portland
 O processo é fundamentalmente constituído por três
partes: extracção e preparação da matéria-prima,
cozedura e moagem

 As duas matérias-primas principais:


i) calcário - basicamente CaCO3 (carbonato de cálcio)
ii) argila - silicatos de alumínio hidratados (caulinite
Al2O3.2SiO2.2H2O) com pequenas quantidades de outros óxidos
tais como: Fe2O3; MgO; CaO; TiO2; Na2O e K2O
iii) Podem ainda ser adicionados, em menores quantidades,
minério de ferro (Fe2O3); bauxite (Al2O3) e areia (SiO2)

 As principais etapas na produção de cimento envolvem:


i) extração dos materiais e subsequente trituração/moagem
ii) homogeneização e ajuste da composição química da mistura
iii) obtenção da farinha ou cru – material finamente moído
iv) o cru é alimentado, em contra-corrente com os gases de
combustão, ao forno rotativo
v) obtenção do produto - o clínquer (material duro; granulado
10 mm < diâmetro < 30 mm
vi) arrefecimento do clínquer – até temperaturas ~ 180 ◦C
vii) adição de gesso (CaSO4.2H2O – sulfato de cálcio dihidratado
viii) moagem do clínquer e aditivos » cimento
 A Produção de Cimento Portland
 Os constituintes químicos básicos do cimento Portland são o óxido de cálcio (CaO - cal), o dióxido de silício (SiO2 -
sílica), o óxido de alumínio (Al2O3 – alumina) e óxido de ferro (III) (Fe2O3)

 Os gases de combustão quentes, provenientes do forno, pré-aquecem o cru antes de entrar no forno - o pré-aquecedor consiste
numa série de ciclones através nos quais o cru é misturado, por turbulência, com os gases de combustão quentes
 Pré-calcinação (decomposição do CaCO3) – quando o cru atinge a base da torre de ciclones a sua temperatura é superior a 800 ◦C

 A decomposição do CaCO3 é responsável por 60 % das emissões totais


𝑪𝒂𝑪𝑶𝟑 𝒔 → 𝑪𝒂𝑶 𝒔 + 𝑪𝑶𝟐 𝐠
de CO2 do processo de fabrico do cimento. A queima do combustível é
responsável pelo restante
 O calor intenso provoca reações químicas e físicas que fundem parcialmente o cru e conduzem à formação do clínquer
 O material pré-calcinado entra na zona inicial forno ( T ~ 1000 ◦C ) onde ocorre a primeira reacção química entre o CaO e SiO2 –
formando-se 2CaO.SiO2 (silicato dicálcico – C2S)
 Na zona final do forno ( Tmin 1450 ◦C) o silicato dicálcico, por reacção com o CaO, forma silicato tricálcico 3CaO.SiO2 - C3S
 Quando se inicia o arrefecimento a fase líquida (que surge por volta dos 1300 ◦C) cristaliza na forma de aluminato tricálcico (3CaO.Al2O3
– C3A) e ferroaluminato tetracálcico (4CaO.Al2O3.Fe2O3 – C4AF)
 Apenas ~ 20 % da matéria-prima funde no interior do forno, a maior parte das transformações sofridas pela matéria-prima ocorrem no
em estado sólido
 Cimento Portland
 Os constituintes químicos básicos do cimento Portland são o óxido de cálcio (CaO - cal), o dióxido de silício (SiO2 -
sílica), o óxido de alumínio (Al2O3 – alumina) e óxido de ferro (III) (Fe2O3)
 Dada a complexidade da composição química do cimento, adoptaram-se as seguintes abreviaturas:
CaO - é designado pela letra C; SiO2 - é abreviado pela letra S
Al2O3 - é designado pela letra A; Fe2O3 - é abreviado pela letra F;

Composição Química Cimento Portland

Constituinte Formula Química Abreviatura Teor (% m/m)  A composição química do


cimento depende,
Silicato tricálcico 3CaO.SiO2 C3S 20 a 65 essencialmente, da
composição e granulometria
Silicato dicálcico 2CaO.SiO2 C2S 10 a 55 da matéria-prima, das
condições de temperatura do
Aluminato tricálcico 3CaO.Al2O3 C3A 0 a 15 forno e das condições de

4CaO.Al2O3.Fe2O3 arrefecimento
Ferroaluminato tetracálcico C4AF 5 a 15

 O silicato tricálcico e o silicato dicálcico são constituintes que mais contribuem para a resistência mecânica do cimento
hidratado
 Outros compostos que surgem, em quantidades muito pequenas, no cimento: CaO, MgO, TiO2, Mn2O3, K2O e Na2O
 À excepção dos óxidos de potássio e de sódio, estes compostos não influenciam de forma significativa o comportamento do
cimento
 Os óxidos de potássio e de sódio (vulgarmente designados por álcalis) influenciam a velocidade de endurecimento do
cimento e podem reagir com o agregado – provocando a deterioração do betão
 Cimento Portland

 Cimento - “o cimento é um ligante hidráulico, isto é, um material inorgânico


finamente moído que, quando misturado com água, forma uma pasta que faz
presa e endurece devido a reacções e processos de hidratação e que, depois
do endurecimento, conserva a sua resistência mecânica e estabilidade
debaixo de água“ - NP EN 197-1:2012

 O endurecimento do cimento traduz-se numa série de reacções de hidratação – relativamente complexas – que começam
assim que se adiciona água (as reacções de hidratação dos constituintes do cimento são exotérmicas)
 O silicato tricálcico (C3S) e o silicato dicálcico (C2S) são os principais constituintes do cimento Portland – as suas reacções de
hidratação constituem o endurecimento do cimento - o principal produto da hidratação é o silicato tricálcico hidratado
(abreviatura: C-S-H)

Estes produtos hidratados estão na


𝟐𝑪𝟑 𝑺 + 𝟔𝑯𝟐 𝑶 → 𝑪𝟑 𝑺𝟐 . 𝟑𝑯𝟐 𝑶 + 𝟑𝑪𝒂 𝑶𝑯 𝟐 forma de géis complexos ou
substâncias cristalinas que formam a
𝟐𝑪𝟐 𝑺 + 𝟒𝑯𝟐 𝑶 → 𝑪𝟑 𝑺𝟐 . 𝟑𝑯𝟐 𝑶 + 𝑪𝒂 𝑶𝑯 𝟐 ligação cimentícia

 O aluminato tricálcico (3CaO.Al2O3 – C3A) e o ferroaluminato tetracálcico (4CaO.Al2O3.Fe2O3 – C4AF) irão também sofrer
hidratação
 No caso particular do C3A, a reacção de hidratação é muito rápida e confere, de forma quase instantânea, rigidez à pasta de
cimento, impossibilitando a sua aplicação. Para impedir a reacção de hidratação do C3A é adicionado gesso (CaSO4.2H2O) ao
clínquer. O gesso combina-se com os aluminatos, originando trissulfoaluminato de cálcio hidratado (etringite) - protegendo
os aluminatos da acção directa da água
 Cimento Portland – Presa e Endurecimento

 A adição de água ao Cimento Portland, formando uma pasta de cimento, desencadeia um conjunto de reacções
químicas de hidratação, que ocorrem ao longo do tempo e irão conduzir ao ganho de rigidez e de resistência
mecânica

 A pasta de Cimento Portland começa, usualmente, a ganhar rigidez duas a quatro horas após a sua mistura com água
 Logo após a mistura, a pasta mantém uma fluidez quase constante, com um ganho de consistência pouco significativo –
período de dormência ou indução
 O tempo de início de presa corresponde ao fim do período de indução - nesta fase ocorre perda de fluidez e de
plasticidade (a pasta apresenta um ganho inicial de resistência)
 O tempo de fim de presa é atingindo quando a pasta de cimento se comporta como um sólido - no final da fase da
presa o ligante já não apresenta plasticidade

 Sob o ponto de vista prático, o tempo de fim de presa


corresponde ao tempo a partir do qual um betão é
É difícil de estabelecer o
considerado um material sólido
momento em que se
 Com o objectivo de assegurar a trabalhabilidade dos betões
considera que ocorreu a
durante períodos de tempo que garantam o seu adequado
presa - procedimentos
transporte e colocação em obra, a NP EN 197-1 impõe, para os
normalizados, permitem
cimentos, tempos de início de presa:
avaliar os tempos de início e
i) superiores a 45 minutos, no caso dos cimentos de maior
de fim de presa
(ensaio da agulha de Vicat) resistência (52,5 MPa)
ii) de 60 ou 75 minutos, para os cimentos de resistência inferior
(32,5 MPa e 42,5 MPa)
 Cimento Portland – Presa e Endurecimento
 A resistência à compressão é avaliada de acordo com o especificado na NP EN 196-1 – “Métodos de ensaio de cimentos –
Parte 1: Determinação das resistências mecânicas”
 A resistência é estabelecida com base no ensaio à compressão de uma argamassa de composição normalizada - argamassa
normal, aos 28 dias de idade
 A composição desta argamassa (em massa) é de 1:3 (cimento: areia) uma relação a/c (água/cimento) de 0,5 e deve ser
produzida com uma areia de características normalizadas (areia normalizada)

Cimento Portland CEM I 52,5R – Ficha Técnica (Secil)

 A norma NP EN 197-1 define para o


cimento Portland três classes de
resistência: 32,5, 42,5 e 52,5 (MPa)
 Para cada uma destas classes de
resistência são estabelecidas duas
classes de resistência nos primeiros dias,
(resistência aos 2 e aos 7 dias de idade)
e resistência aos 28 dias
 São ainda especificados, para cada uma
das classes de resistência, os valores
mínimos do tempo de início de presa e
de expansibilidade máxima
 Cimento Portland – Presa e Endurecimento

 O C3S (silicato tricálcico) endurece rapidamente e é o principal


responsável pelo primeiro aumento de resistência mecânica
do cimento portland
 A maior parte da hidratação do C3S realiza-se em cerca de
2 dias, pelo que, os cimentos portland de endurecimento

CaSO4.2H2O rápido contêm sempre elevadas quantidades de C3S


 O C2S (silicato dicálcico) tem uma reacção de hidratação lenta
– é o principal responsável pelo aumento da resistência
mecânica ao fim de uma semana
 Os principais contributos para a resistência mecânica advêm
do C3S e do C2S (das respectivas reacções de hidratação)

 A resistência do cimento nos primeiros dias de idade é fundamentalmente conferida pelo C3S - a hidratação mais lenta do
C2S vai contribuir para o incremento de resistência ao longo do tempo
 O C3A (aluminato tricálcico) hidrata-se rapidamente, com uma grande velocidade de libertação de calor
 Para impedir a reacção de hidratação do C3A é adicionado gesso ao clínquer - o gesso (CaSO4.2H2O) combina-se com os
aluminatos, originando trissulfoaluminato de cálcio hidratado (etringite) - protegendo os aluminatos da acção directa da
água
 Após a fase de presa, o processo de endurecimento prolonga-se no tempo traduzindo-se num aumento da rigidez e da
resistência à compressão
 A maior parte da resistência à compressão dos betões é atingida ao fim de cerca de 28 dias, mas o aumento da resistência
pode continuar durante anos
 Cimento Portland – Presa e Endurecimento

 Após a fase de presa (final set), o processo de endurecimento prolonga-se no tempo traduzindo-se no aumento da
rigidez e da resistência mecânica da pasta de cimento - consequência do desenvolvimento das reacções químicas de
hidratação, que se processam ao longo do tempo
 O endurecimento de uma pasta de cimento é relativamente rápido nas primeiras horas (um a dois dias), baixando
progressivamente com o tempo – diminuição da velocidade das reacções de hidratação

silicato tricálcico hidratado

C3A + gesso

 Velocidades (típicas) de formação dos produtos de hidratação de um cimento portland comum (a)
 Influência da formação de produtos de hidratação no tempo de presa, porosidade, permeabilidade e resistência
da pasta de cimento (b)
 Cimento Portland – Influência da Composição Química

C3 S C2 S C3 A C4AF
Velocidade
Elevada Moderada Muito Elevada Elevada
de hidratação

Calor de hidratação Elevado Baixo Muito Elevado Moderado

Desenvolvimento Rápido e Lento e muito Muito rápido e de Lento e pouco


da resistência mecânica Prolongado prolongado curta duração significativo
Resistência ao ataque
Pequena Moderada Muito pequena Grande
químico

 A composição química do cimento (do clínquer) pode ser “ajustada” por forma a melhorar as características dos betões
(de modo a satisfazer exigências/requisitos específicas(os) da construção)

Composição (% m/m)

Cimento C3S C2S C3A C4AF

Normal/Comum 55 20 12 9

Aquecimento Ligeiro (por hidratação)


45 30 7 12
Moderada Resistência

Endurecimento Rápido 65 10 12 8

Pequeno Aquecimento (por hidratação) 25 50 5 13

Resistente aos Sulfatos 40 35 3 14


 Cimentos
 Existem 27 tipos de cimentos correntes que são, usualmente, agrupados em cinco categorias gerais:
i) Cimento Portland - CEM I; ii) Cimento Portland-Composto - CEM II; iii) Cimento de alto forno - CEM III;
iv) Cimento Pozolânico - CEM IV; v) Cimento Composto - CEM V
 A norma NP EN 197-1 “Cimento – Parte 1: Composição, especificações e critérios de conformidade para cimentos correntes” –
estabelece as exigências e regula as características a que os cimentos correntes devem obedecer para serem considerados
aptos à sua utilização em obras de engenharia civil

Algumas Considerações Gerais

CEM I - Cimento Portland: Cimento fundamentalmente constituído por clínquer ( 95 %) sem incorporação de adições

CEM II - Cimento Portland Composto: Constituído por um mínimo de 65 % de clínquer e incorporação de adições, até 35 %

CEM III - Cimento de Alto Forno: Constituído por 36 a 95 % de escória de alto forno e 5 a 64 % de clínquer

CEM IV - Cimento Pozolânico: Constituído por clínquer, 45 a 89 %, e 11 a 55 % de adições pozolânicas,, pozolana, cinza
volantes ou sílica de fumo

CEM V - Cimento Composto: Constituído por clínquer, 20 a 64 %, escória de alto forno com um mínimo de 18 % e um
máximo de 50 % e o restante por pozolana e cinza volante

 A utilização de adições dá origem aos chamados cimentos compostos, que são ligantes hidráulicos constituídos por clínquer,
adições e gesso
 De acordo com a NP EN 197-1: as adições que podem ser utilizadas como constituintes de um cimento são: escória de alto
forno, pozolana natural, pozolana calcinada, cinza volante, sílica de fumo, xisto cozido e calcário
 As adições mais utilizadas em Portugal são o calcário e as cinzas volantes
 Um cimento CEM só é designado por “Portland” se contiver um teor de clínquer  65 %
 Cimentos
 Adições ao Cimento Portland – ao longo dos últimos anos diversos materiais inorgânicos tem sido adicionados à
composição do cimento
 Estas adições têm como objectivo melhorar as propriedades do betão, quer no estado fresco (trabalhabilidade, tempos de
presa, etc.), quer no estado endurecido (resistência e durabilidade), assim como procurar obter soluções mais
sustentáveis (menores emissões de CO2; aproveitamento de resíduos industriais)

Cimento Composição Aplicação Principais Características

Cimento cinzento de muito


Cimento Portland - elevado desempenho Resistência mecânica elevada
CEM I
Elevado calor de hidratação
95 a 100 % de clínquer Recomendado para a produção Resistências iniciais elevadas
Exemplo: 0 a 5% outros constituintes de betões especiais para Elevada reactividade
CEM I 52,5R grandes obras de engenharia
Secil

Cimento 80 a 94 % de clínquer Cimento cinzento para a


Portland-Composto 6 a 20 % calcário produção de betão,
Boa trabalhabilidade
CEM II 0 a 5 % outros constituintes contribuindo para a melhoria
Construção sustentável
Exemplo: da sustentabilidade na
Resistência mecânica elevada
CEM II/A-L 42,5R construção
Secil
Cimento Pozolânico - Cimento cinzento para a
CEM IV betonagem de grandes massas,
65 a 89 % de clínquer Elevada resistência a ataques
Exemplo: betões para ambientes
11 a 35 % cinzas volantes químicos
CEM IV/A (V) 32,5R quimicamente agressivos e
0 a 5 % outros constituintes Baixo calor de hidratação
Secil obras de geotecnia
 Cimentos

Adição de Cinzas Volantes Adição de Calcário

 As cinzas volantes (fly ashes) são resíduos das  Filer calcário (pó de pedra de calcário obtido por
centrais termoeléctricas a carvão moagem directa da rocha calcária)
 Embora dependendo do tipo de carvão, as cinzas  O filer calcário é constituído – carbonato de cálcio
são fundamentalmente constituídas por sílica (CaCO3) – finamente moído em partículas com
(SiO2), alumina (Al2O3) e óxido de ferro (Fe2O3) dimensões semelhantes às do cimento
 A incorporação de cinzas volantes conduzem a:  Considera-se um filer um material que passa num
i) Redução do calor de hidratação peneiro de 0,063 mm de abertura
ii) Redução da velocidade de reacção, que se traduz  O efeito de filer consiste, fundamentalmente, no
em maiores tempos de presa, menor velocidade de preenchimento dos espaços vazios existentes entre
endurecimento e redução da resistência inicial; as partículas dos agregados - contribuindo para o
iii) Redução de resistência – as cinzas volantes, aumento da compacidade dessa mistura
conduzem a valores de resistência mecânica  O preenchimento dos vazios de menor dimensão
inferiores (esta diferença é mais significativa aos 28 conduz a um incremento da resistência – reduz a
dias de idade, atenuando-se a longo prazo) permeabilidade
iv) Redução da quantidade de água para se obter a  O carbonato de cálcio não possui propriedades
mesma consistência hidráulicas, não participando de forma activa nas
v) Redução da permeabilidade do betão reacções químicas que levam ao endurecimento da
vi) Maior resistência química pasta de cimento - é habitualmente referido como
sendo quimicamente inerte, dado que não
manifesta reactividade significativa
 Cimento – Microestrutura e Morfologia
 Os dois principais constituintes do cimento (C3S - silicato tricálcico; C2S - silicato dicálcico) reagem com água
produzindo silicato tricálcico hidratado (C-S-H) e hidróxido de cálcio (Ca(OH)2
 O C-S-H é o principal produto de hidratação, representando entre 50 a 60 % do volume sólido da pasta de cimento
hidratada; o hidróxido de cálcio poderá representar entre 20 a 25 % do volume sólido da pasta de cimento hidratada

Uma pasta de cimento endurecida será,


basicamente, composta por silicatos hidratados,
hidróxido de cálcio (portlandite),
aluminatos hidratados, cimento não hidratado e
porosidades
 Betão - Durabilidade
 As propriedades do betão dependem da sua complexa estrutura interna - que vai evoluindo ao longo do tempo e
interagindo com o ambiente onde está inserido
 O comportamento do betão fresco e enquanto plástico irá influenciar de modo crucial na estrutura interna e,
consequentemente nas propriedades do material endurecido
 Um “betão de qualidade” irá resultar:
i) de uma avaliação correcta do ambiente onde a estrutura de betão vai ser inserida, procurando prever as interacções
ambiente/betão
ii) do conhecimento do comportamento dos constituintes
iii) do controlo das fases de produção, transporte, colocação, compactação, bem como de uma eficiente protecção e cura
(endurecimento)
 O projeto, as especificações e a execução das estruturas de betão devem adoptar e seguir três normas principais:
EN 1992-1-1, EN 206-1 e EN 13670

 A deterioração de estruturas de betão pode resultar:


i) De erros de projecto e de construção; falhas nas
especificações do betão (teor de cimento,
granulometria do cimento (finura); razão água:cimento
(a/c); granulometria do agregado; contaminação do
agregado por cloretos; agregados reactivos (SiO2))
ii) De falhas nas operações de monitorização/inspecção
iii) Do aumento e variação das cargas actuantes
iv) Do degaste e envelhecimento
v) Das condições de exposição ambiental
 Betão - Durabilidade

 Diversos processos de deterioração estão, frequentemente, presentes em simultâneo e, consequentemente,


os mecanismos associados são muito complexos e difíceis de identificar/diagnosticar
 Não é realista identificar/atribuir uma única causa específica de deterioração para os diversos sintomas que
podem ser detectados numa estrutura
 Os processos de deterioração que conduzem à deterioração prematura, podem ter origem interna ou externa –
e os defeitos/sintomas de dano resultando de um ou mais processos de deterioração agindo em simultâneo ou
sequencialmente
 A metodologia de durabilidade seguida nas normas
europeias (e portuguesas) baseia-se na classificação de
diferentes classes ambientais denominadas como classes de
exposição
 A norma EN 206-1 define, por exemplo, três classes de
exposição a ataque químico (XA1, XA2 e XA3) para as
estruturas de betão
 A limitação dos valores de espécies químicas agressivas do
solo (concentração em ião SO42- e acidez do solo) e das águas
subterrâneas (concentração dos iões SO42-, NH4+ e Mg2+, pH e
concentração de CO2), para as diferentes classes de
exposição, é especificada na EN 206-1
 Esta norma limita ainda o teor inicial de cloretos no betão -
expresso em percentagem mássica de iões cloreto por massa
As inspeções são fundamentais para a conservação das de cimento
infraestruturas e para classificação do seu estado de conservação
 Betão - Durabilidade

 Classes de exposição a ataque químico (XA1, XA2 eXA3) para as estruturas de betão - Norma EN 206-1
 Betão - Durabilidade
 Os processos de deterioração podem ser, de acordo com a sua tipologia, agrupados em dois tipos básicos:
i) mecânicos/físicos (erosão, abrasão, cargas excessivas, gradientes térmicos, ciclos gelo-degelo, etc.)
ii) químicos (por acção de substâncias tais como: água, SO42-, Cl-, Mg2+, CO2, O2, ácidos, etc.)
 A durabilidade do betão irá depender, entre outros factores, da permeabilidade do mesmo, isto é, do movimento de
líquidos e gases através da estrutura porosa
 A água está, usualmente, envolvida em todas as formas de deterioração e a maior ou menor a facilidade de
penetração de água (permeabilidade) irá determinar a velocidade dos fenómenos de deterioração

Processos de
Deterioração Química

Reacções Acção
Ataque Ácido Carbonatação
Expansivas dos Cloretos

Deterioração do betão por


dissolução do hidróxido de cálcio

 O principal mecanismo de ataque químico compreende duas etapas: a difusão/permeação de substâncias agressivas e a
subsequente reacção com os constituintes da matriz cimentícia, do betão, susceptíveis de serem atacados e/ou com as
armaduras (no caso de existirem) - deterioração por acção externa
 Mecanismos por deterioração interna são formas de degradação que se caracterizam, maioritariamente, pela formação de
produtos expansivos - (reacções expansivas – que englobam, por exemplo, as reacções álcalis-sílica (RAS) e o ataque por
sulfatos de origem interna (RSI)) - e que conduzem à fissuração/desagregação do betão
 Betão - Durabilidade
 O betão é susceptível ao ataque ácido, devido à sua natureza alcalina (os produtos das reacções de hidratação são,
maioritariamente, silicatos tricálcicos hidratados (C-S-H) e Ca(OH)2) – valores de pH, usualmente, compreendidos
entre 12,5 e 13
 Teoricamente, qualquer ambiente no qual pH < 12,5 seria agressivo - porque uma redução da alcalinidade dos
fluidos/solução nos poros levaria, eventualmente, à desestabilização dos produtos de hidratação cimentícios
 Contudo, a efectividade do ataque químico depende do pH do fluido agressivo, mas também da permeabilidade do
betão – para baixas permeabilidades e para pH > 6 a 6,5 a deterioração será muito lenta

 Durante o contacto com ácidos, os compostos da pasta de


cimento são destruídos
 O fenómeno mais importante é a dissolução do hidróxido de
cálcio - outros compostos da pasta de cimento e agregados
também podem ser atacados pelos ácidos
 O ataque ácido pode ocorrer quando a superfície do betão é
exposta a ambientes com pH inferior a 6,5

𝐶𝑎 𝑂𝐻 2 (s) + 2𝐻𝐶𝑙(𝑎𝑞) → 𝐶𝑎𝐶𝑙2 (𝑎𝑞) + 2𝐻2 𝑂(𝑙)


 Este tipo de ataque ácido pode ocorrer em ambientes
muito específicos: estações de tratamento de águas
Neste tipo de ataque ácido ocorre a dissolução
residuais; edifícios industriais
do hidróxido de cálcio com formação de sais de
 Na presença de ácidos tais como:, sulfúrico, nítrico,
ácido clorídrico, acético, láctico, fórmico, etc. cálcio solúveis que serão lixiviados
 Betão - Durabilidade
 No betão, a reação álcalis-agregado (RAA) identifica um conjunto grupo de reações entre certos tipos de minerais,
presentes no agregado (minerais contendo SiO2 reactiva), e a solução alcalina presente nos poros da pasta de
cimento – reacções expansivas
 Os óxidos de potássio e de sódio (K2O e Na2O; vulgarmente designados por álcalis) – presentes no cimento em
teores compreendidos entre 0,2 a 1,3 % – podem reagir com a sílica presente em certos agregados
 A reacção produz um gel higroscópico alcalino, que absorve água e se expande, causando tensões internas no betão
e que podem conduzir à sua fissuração
 A utilização de cimentos com baixo teor de álcalis ( % inferiores a 0,6) tem sido sugerida quando se usam agregados
reactivos
 Evitar o uso de agregados reactivos; reduzir o contacto com a água; utilização de adições pozolânicas minerais na
mistura do betão como adições ou substitutos do cimento - são medidas preventivas a ter em consideração

 Outro tipo de reacções que conduzem à formação de produtos expansivos são as que
envolvem: o CaO livre e o CaSO4
 A presença no cimento de CaO livre pode ocorrer por mau ajuste das matérias-primas
(excesso de CaO) ou condições de aquecimento insuficientes - a reacção de hidratação
do CaO é muito lenta e é acompanhada de expansão (formação Ca(OH)2)
 Para evitar a presa instantânea, causada por hidratação do C3A (aluminato tricálcico), é
necessário adicionar, ao clínquer, uma certa quantidade de CaSO4.2H2O - mas o seu
teor está limitado a máximos de 3,5 a 4,5 %, dependendo do tipo de cimento
 O excesso de sulfato pode dar origem à formação de sulfoaluminatos de cálcio
(etringite) – reacções sulfáticas internas (RSI)
 Betão - Durabilidade
 O tipo mais comum de ataque por sulfatos ocorre, geralmente, em locais onde a água ou os solos contêm
concentrações elevadas deste iões - que penetram no betão (reacção sulfática externa (RSE))
 Contudo, o ataque por sulfatos pode ser distinguido tendo em conta a origem dos sulfatos - podendo ser
proveniente do exterior, reacção sulfática externa (RSE), ou dos componentes usados no fabrico do betão, reacção
sulfática de origem interna (RSI)
 A deterioração do betão resulta da natureza expansiva dos produtos de reacção – maioritariamente etringite –
resultado da reacção dos iões sulfato com os aluminatos hidratados, na presença de hidróxido de cálcio e água
 No betão, os aluminatos hidratados (resultantes da hidratação do C3A - aluminato tricálcico) podem apresentar,
dependendo do teor de C3A, duas composições químicas genéricas: e

Formação de etringite
(trissulfoaluminato
de cálcio hidratado)

 Para que o ataque sulfático externo (RSE) ocorra, é necessário que se


verifiquem, simultaneamente, três condições: 𝟑𝐂𝐚𝐎. 𝑨𝒍𝟐 𝑶𝟑 . 𝟑𝑪𝒂𝑺𝑶𝟒 . 𝟑𝟐𝑯𝟐 𝑶
i) elevada permeabilidade do betão
ii) ambiente rico em sulfatos
iii) presença de água Expansão » Fissuração
 Betão - Durabilidade

 Dependendo do tipo de catião associado à solução de sulfato (isto é, Na+ ou Mg2+), quer o hidróxido de cálcio,
Ca(OH)2, quer o silicato de tricálcico hidratado (3CaO.2SiO2.3H2O ou C-S-H), presentes na matriz cimentícia do
betão, podem ser convertidos em gesso (CaSO4.2H2O - produto expansivo) por reacção com os sulfatos:

𝑁𝑎2 𝑆𝑂4 + 𝐶𝑎 𝑂𝐻 2 + 2𝐻2 𝑂 → 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 2𝐻2 𝑂 + 2𝑁𝑎𝑂𝐻

𝑀𝑔𝑆𝑂4 + 𝐶𝑎 𝑂𝐻 2 + 2𝐻2 𝑂 → 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 2𝐻2 𝑂 + 𝑀𝑔 𝑂𝐻 2

3𝑀𝑔𝑆𝑂4 + 3𝐶𝑎𝑂. 2𝑆𝑖𝑂2 . 3𝐻2 𝑂 + 8𝐻2 𝑂 → 3𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 2𝐻2 𝑂 + 3𝑀𝑔 𝑂𝐻 2 + 2𝑆𝑖𝑂2 . 𝐻2 𝑂

 No caso do ataque por sulfato de sódio (Na+ e SO42-), a formação de


hidróxido de sódio (NaOH - solúvel em água) assegura a continuação da
alta alcalinidade do sistema, essencial para a estabilidade da fase C-S-H
 No caso de ataque por sulfato de magnésio (Mg2+ e SO42-), a conversão
de hidróxido de cálcio a gesso é acompanhada pela formação
simultânea de hidróxido de magnésio, que é insolúvel, reduzindo-se a
alcalinidade do meio
 Na ausência de ião OH- (em solução) a fase C-S-H é também atacada
 O ataque por sulfatos, na presença de iões Mg2+ (sulfato de magnésio) é
mais severo para o betão – conduz à perda de coesão entre os
componentes da matriz cimentícia
 Betão - Durabilidade

 Reacções sulfáticas de origem interna (RSI) poderão ocorrer por contaminação dos agregados ou do cimento, por
sulfatos
 A decomposição/dissolução da etringite (3CaO. Al2 O3 . 3CaSO4 . 32H2 O) poderá também contribuir para o teor de
sulfatos livres
 A reacções sulfáticas internas podem desenvolver-se por:
i) formação de etringite retardada (DEF - delayed ettringite formation);
ii) ataque por sulfatos com formação de taumasite (TSA - thaumasite form of sulfate attack; CaSiO3.CaCO3.CaSO4.15H2O)
que necessita não só de uma fonte de sulfatos, mas também de iões carbonato

 A TSA é normalmente mais agressiva que a DEF, uma vez que


na TSA os produtos de hidratação do cimento (a fase C-S-H,
silicatos tricálcicos hidratados) sofrem decomposição em
consequência do resultado do ataque, combinado, por sulfatos
e por carbonatação

 Para que o ataque sulfático interno (RSI) ocorra, é


necessário que se verifiquem, simultaneamente,
três condições:
i) elevada permeabilidade do betão
ii) fonte interna (de libertação tardia) de sulfatos
iii) presença de água O padrão de danos da RSI é uma rede multi-direcional de
fissuras formando uma rede de largura variável
 Betão - Durabilidade
 A carbonatação é um dos mecanismos mais comuns de deterioração do betão – em particular do betão armado ou
pré-esforçado
 O dióxido de carbono difunde-se através dos poros do betão e reage com o hidróxido de cálcio – a consequência
mais significativa é a redução da alcalinidade do betão
 A redução da alcalinidade conduz à destruição do filme de óxido (camada passiva) que protege o aço das
armaduras da corrosão – para valores de pH < 11 o aço deixa de estar protegido, podendo iniciar-se a corrosão
 As reações de carbonatação são lentas e, à medida que a carbonatação progride, a formação do CaCO3 contribui
para a diminuição porosidade e permeabilidade - dificultando o acesso do CO2

𝐶𝑎 𝑂𝐻 2 (s) + 𝐶𝑂2 (𝑎𝑞) → 𝐶𝑎𝐶𝑂3 (𝑠) + 𝐻2 𝑂(𝑙)

 A taxa de carbonatação vai depender, entre outros


factores, da permeabilidade do betão (quanto mais
permeável, maior será a taxa de carbonatação), da
concentração CO2 e das condições de humidade
 Águas subterrâneas poderão conter valores
compreendidos entre 15 a 40 mg /L de CO2 - no entanto,
concentrações da ordem de 150 mg /L não são incomuns
 Água do mar poderá conter valores de 35 a 60 mg /L de
CO2
 Em regra, águas com valores de pH < 6,5 possuirão teores
de CO2 considerados agressivos
 Betão - Durabilidade

 A corrosão da armadura de aço é uma das principais causas de deterioração das estruturas de betão, e é facilmente
induzida pela presença de iões cloreto
 O mecanismo de transporte dos cloretos é complexo – estes iões penetram no betão por difusão, através da
estrutura porosa ou através de fissuras, ou podem ser misturados no betão a partir de água contaminada ou dos
agregados
 A norma EN 206-1 estipula valores limite de cloreto de 0,4 % e 0,1 %, (em percentagem de peso de cimento) para
betão armado e pré-esforçado, respetivamente
 Os cloretos poderão ligar-se quimicamente a compostos resultantes da hidratação do cimento, principalmente
aluminatos ou podem ficar fisicamente adsorvidos nos produtos de hidratação ou ainda existir como iões livres na
solução intersticial dos poros – apenas estes últimos irão provocar a despassivação do aço (destruição da camada
passiva) – para que a corrosão ocorra é, ainda, essencial a presença de H2O e O2
 A penetração de iões cloreto no betão, não ocorre, geralmente, de um modo uniforme - as zonas das armaduras
expostas a altas concentrações de cloretos irão começar a corroer – corrosão localizada/por picadas

A oxidação do ferro é
acompanhada por aumento de
volume, que dependendo do
estado de oxidação
(isto é dos produtos) poderá
atingir os 600 %

Expansão » Fissuração
 Fontes consultadas na elaboração da apresentação:

1. R. Chang, Chemistry, 10th Edition, McGraw-Hill, 2010


2. W. F. Smith., Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais,
3ª Edição, McGraw-Hill, 1998
3. P. K. Mehta, P. J. M. Monteiro, Concrete - Microstructure, Properties,
and Materials An Introduction, 3th Edition, McGraw-Hill, 2006
4. P. E. Stutzman, Scanning Electro Microscopy in Concrete Petrography,
NIST
Bibliografia
5. J. Coutinho, Materiais de Construção 2, Dep. Engª Civil - Feup, 2006
6. http://www.secil-group.com/produtos-e-servicos/cimentos-e-cal/
7. https://secilpro.com/
8. https://www.britannica.com/
9. https://cembureau.eu/
10. DuratiNet, Manutenção e Reparação de Infraestruturas de Transporte
– Guia Técnico (http://durati.lnec.pt/techguide/#)

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