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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE
JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO BEZERRA
Processo: 0044880-18.2012.8.06.0001 - Apelação
Apelante: Maria Eunice Brandão
Apelado: Época Engenharia Importação Comércio Ltda
RELATÓRIO
Cuida-se de apelação cível interposta por MARIA EUNICE BRANDÃO,
em face de sentença prolatada pelo MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca
de Fortaleza/CE, nos autos de Ação de Obrigação de entregar coisa C/C reparação de
danos em desfavor de ÉPOCA ENGENHARIA IMPORTAÇÃO E COMÉRCIO LTDA.
VOTO
É consabido que o procedimento recursal exige o preenchimento de
pressupostos específicos, necessários para que se possa examinar o mérito do
recurso interposto. Portanto, torna-se imperiosa, num primeiro momento, a análise dos
pressupostos recursais, em razão de constituírem a matéria preliminar do
procedimento recursal, ficando vedado ao Tribunal o conhecimento do mérito no caso
de não preenchimento de quaisquer destes pressupostos.
Da análise detida dos autos, pode-se verificar que a decisão primeva traz
fundamentos genéricos sobre contratos de compra e venda de imóveis, cujas obras
atrasam, ensejando demandas processuais, mas não faz valoração jurídica do que
efetivamente foi apresentado pela parte Autora e pela parte Ré na respectiva ação, a
qual tipificou o que se encontra descrito no art. 489, III, do CPC/2015.
[…]
Diante disso, a jurisprudência brasileira, da qual sou partidário, interpreta que essa
conduta é juridicamente aceitável, sob o fundamento de que esses empreendimentos
estão sujeitos a diversos fatores que causam circunstâncias que impedem a finalização
da obra no tempo originalmente fixado, de modo que o prazo de tolerância é permitido,
mas reputa-se indigno a entrega do imóvel para após essa extensão, sendo tolerado a
extensão em até 180 dias. […]
De modo que, a extrapolação do prazo de 180 dias não é juridicamente aceitável, salvo a
existência de situações restritas de caso fortuito e força maior que inviabilizem a entrega,
cabendo ao juízo averiguar detidamente os motivos que dessa extensão para medir a
eventual aceitação ou denegação dessa extensão.
Com efeito, o atraso da entrega de mencionado bem por 180 dias da data fixada é
juridicamente aceitável, conforme as razões acima expostas, contudo, a
extrapolação desse prazo exige apreciação dos motivos.
Portanto, a situação dos autos é clara quando se constata que a requerida não
entregou o imóvel no prazo fixado, entretanto essa omissão decorreu do fato da
requerente não dispor de condições financeiras para efetuar o pagamento da
parcela restante que totaliza grande parte do valor contratado, não podendo o
judiciário legitimar a entrega de um bem para quem não demonstrou dispor de
capacidade financeira para o seu total adimplemento.
De bom alvitre ressaltar, antes de concluir, que, como os pedidos formulados nesta ação
não possuem nenhuma referência quanto essa questão da rescisão contratual, deixarei
assentadas essas conclusões para uma eventual pedido posterior de restituição dos
valores pagos. (Grifo nosso).
Verifico ainda que o juízo primevo não analisou os fatos de forma correta,
pois a parte Autora narra em sua peça inicial (fl. 05) que:
“No fim de maio de 2012, a Autora entrou em contato com a Sra. Germana Pereira
Costa, funcionária da Época Engenharia, via telefone, questionando o por quê da demora
na assinatura do financiamento com a Caixa Econômica Federal, sendo informada de
que a Época Engenharia estaria com seu nome inscrito nos cadastros de
inadimplentes do SERASA, e teria que resolver esta pendência antes de formalizar
contrato com a Caixa e chamar todos os compradores para assinar contrato de
financiamento bancário.”
Ora, em nenhum momento nos autos, por nenhuma das partes, foi dito
que a Autora estava com o nome negativado ou com seu nome inscrito nos cadastros
de inadimplentes, pelo contrário, a parte Autora foi quem disse que a empresa
recorrida, “Época Engenharia, estaria com seu nome inscrito nos cadastros de
inadimplentes do SERASA, e teria que resolver esta pendência antes de formalizar
contrato com a Caixa […]”.
• A reparação integral dos danos materiais sofridos pela Apelante, a ser pago em
uma única parcela, referente à devolução em dobro da quantia indevidamente
cobrada e paga a título de atualização monetária pelo INCC – Índice Nacional de
Custos da Construção, desde 31/12/2011 até a efetiva entrega das chaves à
Recorrente;
• A reparação dos danos materiais referentes aos alugueis pagos desde a data do
inadimplemento, qual seja, 31/12/2011, até a efetiva entrega das chaves à
Recorrente;
O fato do juízo de piso não ter analisado a maioria dos pedidos autorais,
faz com que a decisão se torne nula, posto que estaríamos diante de uma sentença
infra/citra petita, sendo, inclusive, matéria de ordem pública. Neste sentido, cito:
(Grifos nosso).
Afirma ainda, a Recorrente, que até os dias de hoje o imóvel não foi
entregue, sendo que, conforme análise do contrato juntado, a entrega deveria ter sido
em 31 de dezembro de 2011 e o magistrado de piso não trouxe argumentos para
justificar o referido atraso.
Tal conduta violou o comando do inciso I do art. 489 do CPC, posto que é
dever do juiz analisar as questões de fato e de direito, e pelo que se observa, o
magistrado a quo não analisou de forma correta os fatos.
Com efeito, o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, assim dispõe:
[…]
I – o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do
pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento
do processo;
III – o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe
submeterem.
É como voto.