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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

Direito Penal – Parte Especial – Prof° Norberto Bonamin Junior


ERICA CELESTINO – 6°B MANHÃ

Caso 1: Alteração de informações do próprio documento

Sobre as falsificações e usos relacionados aos documentos com tal


passividade, analisamos os seguintes artigos contidos no Título X – Dos
Crimes contra a Fé Pública:

Art. 299 – Omitir, em documento público ou particular, declaração


que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração
falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante:

Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é


público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é
particular.

Já os delitos de falsidade material (que pode ser quanto a documento


público ou particular), estão tipificados, respectivamente, nos artigos 297 e
298::

Falsificação de documento público

Art. 297 – Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar


documento público verdadeiro:

Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa.

(…)

Falsificação de documento particular

Art. 298 – Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar


documento particular verdadeiro:

Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Conforme visto acima, os três crimes se referem a algum tipo de


falso, porém, está presente uma diferença relevante: na falsificação de
documento (particular ou público), o documento em si, materialmente, é
falsificado. Já na falsidade ideológica, o documento (particular ou público) é
verdadeiro, contudo, a declaração que nele está inserida é falsa.
Como traz Cezar Roberto Bitencourt1, ao explicar tais delitos, aborda
tal diferença, da seguinte forma: “A falsidade material, com efeito, altera o
aspecto formal do documento, construindo um novo ou alterando o
verdadeiro; a falsidade ideológica, por sua vez, altera o conteúdo do
documento, total ou parcialmente, mantendo inalterado seu aspecto
formal.”
Assim, na tipificação de falsificação de documento, a própria forma é
investigada, no crime de falsidade ideológica, o problema está em seu
conteúdo. Por exemplo, ao inserir/ alterar uma informação na cédula de
identidade, CNH ou qualquer documento de identificação, tratar-se-á de
uma falsificação ideológica, uma vez que a “ideia” contida naquele
documento é falsa.
Destaca-se ainda que o crimes de falsidade ideológica não se
confundem com os delitos de falsa identidade ou falsificação e uso de
documento falso, previstos no Capítulo III do Código Penal.
Observação: se o agente falsifica documento com o intuito de
enganar alguém, obtendo vantagem econômica, haverá o delito de
ESTELIONATO, o qual absorve, neste caso, o delito de falsidade ideológica,
conforme a súmula 17 do STJ, que traz: “ Quando o falso se exaure no
estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido. ”

Seguem abaixo alguns julgados sobre o tema 2:


APELAÇÃO CRIMINAL. ARTIGO 299  DO CÓDIGO PENAL.
AUSÊNCIA DE PROVAS QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA. APELO IMPROVIDO. De acordo com a
denúncia, Maria Aparecida Marinello do Amaral, na condição de
secretária da instituição de ensino FIFASUL, dolosamente e
consciente da ilicitude de sua conduta, inseriu sua assinatura em
histórico escolar ideologicamente falso, com o fim de criar obrigação
e alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Após regular
instrução, o Juízo da 5ª Vara Federal de Campo Grande/MS, absolveu
a ré com fulcro no artigo  386, VII, do  Código de Processo Penal , por
ausência de provas quanto ao dolo. Observa-se que a
materialidade restou demonstrada nos autos, notadamente
pelo histórico escolar e ofícios expedidos pela Divisão de
Registro de Diplomas da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul e pelas Faculdades Integradas de Fátima do
Sul - FIFASUL, atestando que Maria Rosilde Ribera não foi
acadêmica desta Instituição. Por outro lado, o conjunto
probatório não se mostra apto a demonstrar, com a certeza
necessária, a presença do elemento subjetivo do tipo penal.
A simples demonstração de que a acusada assinou o
histórico escolar não basta para embasar a condenação pelo
crime de falsidade ideológica, por ausência de comprovação
do dolo. Nessa esteira, não ficou demonstrado que a ré
possuía conhecimento acerca da falsidade do referido
documento, tampouco que tenha agido com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre
1
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, 4: parte especial: dos crimes contra
a dignidade sexual até dos crimes contra a fé pública. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
2
https://karensayuri10.jusbrasil.com.br/artigos/339754134/analise-dos-artigos-289-297-298-e-299-do-
codigo-penal-brasileiro
fato juridicamente relevante.  O fato de ter sido condenada pela
prática de fatos semelhantes e a existência de outras ações penais
em curso não se prestam para embasar a condenação nestes autos,
como pretende o Parquet Federal. Apelação improvida. (TRF3 –
Apelação nº 0001608-70.2011.4.03.6000, Relator Des. José
Lunardelli, Décima Primeira Turma, julgado em 04/08/2015,
publicado em 04/08/2015 -  grifo nosso)

***
PENAL. PROCESSO PENAL. ARTIGO 297, CAPUT, DO  CÓDIGO
PENAL. INSERÇÃO DE INFORMAÇÃO FALSA EM DECLARAÇÃO DE
IMPOSTO DE RENDA. ALTERAÇÃO DA DEFINIÇÃO JURÍDICA DOS
FATOS. EMENDATIO LIBELLI. ARTIGO  383 DO  CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. FATOS QUE SE SUBSUMEM AO ARTIGO  299 DO  CÓDIGO
PENAL. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. APELAÇÕES
PARCIALMENTE PROVIDAS. 1. Os apelantes foram denunciados como
incursos nas sanções do art. 297, caput, do  Código Penal, sob a
acusação de inserir declaração falsa em duas declarações de
imposto de renda de pessoa física - DIRPF. 2. A declaração de ajuste
anual de imposto de renda não se enquadra na definição de
documento público, por não ser emanada de funcionário público
competente, no exercício de suas funções, tampouco se encontra
elencada no rol de documentos públicos por equiparação, previsto
no artigo  297, § 2º  do  Código Penal. 3.  A conduta de inserir
declaração falsa em declaração de ajuste de imposto de
renda, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante,
subsume-se ao tipo penal do artigo  299  do  Código Penal.
Trata-se do delito de falsidade ideológica, pois se refere ao
conteúdo e não à forma do documento. 4. Materialidade e
autoria comprovadas pelos documentos e depoimentos coligidos nos
autos. 5. Apelações parcialmente providas. (TRF3 – Apelação nº
0002529-68.2011.4.03.6181, Relator Des. José Lunardelli, Décima
Primeira Turma, julgado em 15/04/2014, publicado em 29/04/2014
-  grifo nosso)

_____________________________________________________________________

Caso 2: Em se tratando de outro exemplo, o uso/repasse de


documento em uso de terceiro, pode-se haver configuração
conforme o artigo 308/CP:

Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de


eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de
identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize,
documento dessa natureza, próprio ou de terceiro:

Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se


o fato não constitui elemento de crime mais grave (trata-se
de crime subsidiário).
OBS.:

Art. 308 X Art. 304:

O art. 308 é uso de documento verdadeiro, porém de maneira falsa.

O art. 304 é quanto ao uso de documento falso. Pode-se dizer, ainda, que há uma falsidade
material e não somente ideológica, dependendo do caso. Uma identidade comprada de um
particular, por exemplo, consequentemente não expedida por ordem competente, seria
uma falsidade material de documento. Obs.: pode existir documento verídico e não
autêntico. Outra questão, ainda quanto à autodefesa: caso uma autoridade policial, no
momento de uma revista pessoal à alguém, encontre um documento falso – sem que
essa pessoa se utilize do documento – a conduta seria atípica.

Conforme demonstra jurisprudência:

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

D.E.

Publicado em 09/08/2013
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0100231-94.1997.4.03.6119/SP
1997.61.19.100231-8/SP
RELATOR : Juiz Convocado MÁRCIO MESQUITA
APELANTE : LUCIMAR FATIMA FERREIRA
ADVOGADO : FERNANDO DE SOUZA CARVALHO (Int.Pessoal)
: DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO (Int.Pessoal)
APELADO : Justica Publica
No. ORIG. : 01002319419974036119 6 Vr GUARULHOS/SP

EMENTA

PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. USO DE DOCUMENTO FALSO


E FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO. PRESCRIÇÃO
DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL: NÃO RECONHECIDA.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O TIPO DO ART. 308 DO CP:
INCABÍVEL. ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA:
RECONHECIDA. MINORAÇÃO DA PENA AQUÉM DO MÍNIMO
LEGAL: IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 231 DO STJ.
1. Apelação da Defesa contra a sentença que condenou a ré como
incursa no artigo 304 c/c o artigo 297, ambos do Código Penal, à pena
de 02 anos de reclusão.
2. Rejeitada a alegação de prescrição da pretensão punitiva estatal, ao
argumento de que nula a decisão de suspensão do processo, vez que
houve o prosseguimento do feito com a oitiva de testemunha de
acusação. Ainda que acolhida a tese de nulidade por ausência de
fundamentação da decisão que determinou a produção antecipada da
prova testemunhal, não há como reconhecer qualquer nulidade, por
ausência de prejuízo. O fato de o Juízo passar a efetuar diligências no
sentido de localizar novos endereços da ré, para tentativa de citação
pessoal, tampouco significa que estava a dar andamento ao feito.
3. Entre a consumação do delito e o recebimento da denúncia não
transcorreram mais de quatro anos, prazo prescricional do artigo 109,
inciso V, do Código Penal, considerada a pena imposta de dois anos de
reclusão. Da mesma forma, entre o recebimento da denúncia e a
publicação da sentença condenatória, considerada a suspensão do prazo
prescricional, também não transcorreram mais de quatro anos.
4. Não há se falar em desclassificação para o crime do artigo 308 do
Código Penal, pois este dispositivo tipifica a conduta de usar, como
próprio, passaporte alheio autêntico, ou seja, sem qualquer alteração ou
falsificação no documento. No caso concreto, a conduta foi de adulterar
passaporte, com a troca de fotografia da verdadeira titular pela
fotografia da ré e, em seguida, utilizá-lo para empreender viagem aos
Estados Unidos da América.
5. Reconhecida a circunstância atenuante da confissão espontânea.
Contudo, inviável a minoração da pena aquém do patamar mínimo,
porque válido o entendimento sumulado nº 231 do Superior Tribunal de
Justiça que aduz que "a incidência da circunstância atenuante não pode
coincidir à redução da pena abaixo do mínimo legal". Precedentes do
Supremo Tribunal Federal.
6. Apelo parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima


indicadas, ACORDAM os integrantes da Primeira Turma do Tribunal
Regional Federal da Terceira Região, por unanimidade, dou parcial
provimento à apelação, para reconhecer a incidência da circunstância
atenuante da confissão, mantida a pena lançada na sentença apelada,
nos termos do voto do Relator e na conformidade da minuta de
julgamento, que ficam fazendo parte deste julgado.

São Paulo, 30 de julho de 2013.

MARCIO MESQUITA
Juiz Federal Convocado
Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de
24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil,
por:
Signatário (a): MARCIO SATALINO MESQUITA:10125
Nº de Série do
24FC7849A9A6D652
Certificado:
Data e Hora: 05/08/2013 21:12:18

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0100231-94.1997.4.03.6119/SP


1997.61.19.100231-8/SP
RELATOR : Juiz Convocado MÁRCIO MESQUITA
APELANTE : LUCIMAR FATIMA FERREIRA
ADVOGADO : FERNANDO DE SOUZA CARVALHO (Int.Pessoal)
: DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO (Int.Pessoal)
APELADO : Justica Publica
No. ORIG. : 01002319419974036119 6 Vr GUARULHOS/SP

RELATÓRIO

O Juiz Federal Convocado MÁRCIO MESQUITA (Relator):

O Ministério Público Federal, em 11/01/1999, denunciou LUCIMAR


FÁTIMA FERREIRA, qualificada nos autos, nascida aos 30/01/1958,
como incursa nos artigos 304 e 297, ambos do Código Penal. Consta da
denúncia (fls. 02/03):

...1. Consta dos autos que, a denunciada, no dia 14.12.96, embarcou


no Aeroporto Internacional de Guarulhos, com destino aos Estados
Unidos da América, ocasião em que lá chegando foi barrada pelo
serviço de imigração, pois foi constatado que o passaporte que portava
havia sofrido adulteração relativamente à fotografia nele constante.
2. Em face disso, foi deportada para o Brasil.
3. Em depoimento, relatou que pegou o passaporte de sua irmã,
Marlene Dalva Ferreira Ribeiro, levando-o a um despachante no Rio
de Janeiro, que promoveu a troca da fotografia da titular do
documento, colocando em seu lugar a sua foto (fls. 5/7).
4. Disse ainda, que o referido despachante, forjou uma carteira de
identidade com fotografia sua e dados de sua irmã, tendo cobrado
pelos serviços a quantia de R$ 300,00; com tais documentos pretendia
ingressar nos EUA, mas, descoberta a falsificação, foi deportada em
seguida.
5. Informou que, assim procedeu porque, tendo residido durante seis
anos nos EUA, pretendia para lá retornar. Entretanto, tendo o seu
visto sido negado pelas autoridades americanas, houve por bem usar
do expediente acima descrito, não sabendo informar o nome do
despachante nem o seu endereço atual.
6. O passaporte e o documento de identidade foram submetidos a
exame pericial, tendo os "experts" constatado que o visto americano
aposto no passaporte é materialmete autêntico, mas foi adulterado na
fotografia original, sendo falso o RG, pois o papel utilizado não
contém os elementos do original, bem como a assinatura não
corresponde à de Marlene Dalva Ferreira Ribeiro (fls. 25/26).
7. Como se vê, autoria e materialidade delitivas estão demonstradas no
caso em apreço. Com relação à falsificação do documento de
identidade, não havendo nos autos elementos no sentido de que a
acusada dele fez uso, deverá responder pelo delito previsto no artigo
297, do Código Penal. Ao usar o passaporte adulterado, praticou o
delito de uso de documento público falso, incorrendo, assim, no tipo
descrito no artigo 304, do Código Penal, combinado com as penas
previstas no artigo 297, do mesmo Estatuto...

A denúncia foi recebida em 13/01/1999 (fls. 68/69).

Determinada a suspensão do processo e do prazo prescricional em


30/11/1999, nos termos do artigo 366, do Código de Processo Penal
(fls.95).

Realizada a citação pessoal da ré em 11/11/2008 (fls. 361v), foi


determinado o fim da suspensão do processo, conforme decisão
proferida em 13/02/2009 (fls. 378/379).

Processado o feito, sobreveio sentença da lavra do MM. Juiz Federal


Substituto Fabiano Lopes Carraro, registrada em 19/10/2009 (fls.
429/432 e 433), que condenou a ré, como incursa no artigo 304 c/c o
artigo 297, ambos do Código Penal, à pena de 02 (dois) anos de
reclusão, em regime inicial aberto, e 10 dias-multa, fixados no valor
unitário mínimo.

A pena privativa de liberdade foi substituída por uma restritiva de


direito, consistente em prestação pecuniária no valor de 03 (três)
salários mínimos em favor de entidade pública ou privada com
destinação social, e por multa substitutiva de 10 (dez) dias-multa,
fixados no mínimo legal,.

O Ministério Público Federal tomou ciência da r. sentença em


03/11/2009 (fls. 434) e não apelou.

Apela a ré, representada pela Defensoria Pública da União, às fls.


475/482, pleiteando, em síntese:

a) o reconhecimento da ocorrência da prescrição retroativa, em razão da


nulidade da suspensão do processo, vez que teria ocorrido o
prosseguimento regular do feito, inclusive, com a oitiva de testemunha
da acusação;

b) a aplicação da atenuante da confissão espontânea no patamar


máximo, ainda que para reduzir a pena abaixo do mínimo legal;

c) a desclassificação do delito previsto no art. 304, do Código Penal,


para o previsto no art. 308, do mesmo diploma legal.

Contrarrazões do Ministério Público Federal às fls. 485/489, pelo


improvimento do recurso interposto, mantendo-se a r. sentença atacada
em todos os seus termos.

A Procuradoria Regional da República, em parecer da lavra da Dra.


Maria Iraneide Olinda S. Facchini, opinou pelo desprovimento do
recurso (fls. 491/495).

É o relatório.

À MM. Revisora.

MARCIO MESQUITA
Juiz Federal Convocado

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