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Federação das

Associações de
Centro de Assessoria Recicladores de Resíduos
aos Movimentos Populares – Sólidos do Rio Grande Do
CAMP Sul – FARRGS

Grupo de Pesquisa CNPq:


Galpões de Reciclagem,
Arquitetura, Educação
e Design
FERNANDO FREITAS FUÃO

MANUAL CONSTRUIR E REFORMAR


UM GALPÃO DE RECICLAGEM

1ª edição

Porto Alegre
Edição do autor
2015
© de Fernando Fuão
1ª edição: 2015
Direitos reservados desta edição

Capa: Cintia Duarte


Editoração eletrônica: Gabriel Pozzobom, Débora Pustai e Rosa Corrêa
Revisão ortográfica: Felipe Raskin Cardon
Criação dos personagens: Cintia Duarte

F949m Fuão, Fernando Freitas


Manual construir e reformar um galpão de reciclagem / Fernando
Freitas Fuão. -- Porto Alegre : Edição do Autor, 2015.

152 p. : il.

ISBN 978-85-901612-2-6

1. Galpão de reciclagem de lixo : Construção : Manual. 2. Projeto arqui-


tetônico. I. Título.

CDU: 628.477.6:69(035)

CIP – Catalogação na publicação: Carmen Lúcia Rubin – CRB-10/857


Manual construir e reformar um
Galpao de Reciclagem
Agradecimentos

N
ossos agradecimentos a todos os Ao CEA - Centros de Estudos Ambientais (Vila Pin-
recicladores dos galpões que nos to), nas figuras da Dona Marli e da Maninha
acolheram durante a pesquisa: Gal-
pão Anjos da Ecologia, Galpão da Ao Galpão MDM Padre Cacique, coordenado pela
Santíssima Trindade, Galpão do São Sonia Mesquita.
Pedro, Galpão da Cavalhada, Galpão
da Restinga, Galpão da Ilha dos Marinheiros, Galpão Ao Sr. Antonio Carbonera, da Associação da Vila
da Lomba do Pinheiro, Galpão Campo Bom, Galpão dos Papeleiros.
de Dois Irmãos, ARCELE, Galpão Passo Dornelles,
Galpão Campo da Tuca, e ao Galpão Sepé Tiarajú. A Beatriz, da Associação de Reciclagem de Lixo
E em especial ao Galpão Profetas da Ecologia 1, Amigas Solidárias - ARLAS, que também foi presi-
onde nos sentimos em casa por um bom tempo. dente da FARRGS.

A estimada Eliane Nunes Peres, então Presidente Ao Mathias Albuquerque, por ter ensinado muitas
da FARRGS. coisas na Associação Catadores Novo Cidadão.

Ao educador popular Pedro Figueiredo. Aos professores Giovana Santini, Gladys Neves,
Helenice Porcella, Angela Ungaretti, ao prof. Paulo
Aos parceiros durante a pesquisa: FARRGS - Fede- de Mori, Eduardo Rocha, Ana Maria Dalla Zen, por
ração dos Recicladores do Rio Grande do Sul. seus incansáveis apoios.

CAMP - Centro de Assistencia aos Movimentos Po- A todos os integrantes do Grupo de Pesquisa do
pulares, AVESOL - Associação do Voluntariado e da CNPq: Galpões de Reciclagem, Arquitetura, Educa-
Solidariedade e a ABES - Associação Brasileira de ção e Design.
Engenharia Sanitária e Ambiental.
Aos profs. Maria Elizabeth Azevedo de Castro, Tia-
Um carinho todo especial ao Galpão Rubem Ber- go Cargnin, Vinicius Lousada, pelo apoio no Ru-
ta, com todos seus associados, que nos acolheram bem Berta.
em um momento bastante dramático da pesqui-
sa. Um agradecimento especial ao prof. Milton Fischer
(in memoriam) que nos acolheu junto ao Galpão
Ao Galpão Profetas da Ecologia 2, nas figuras caris- Rubem Berta e que nos deixou muitas saudades e
máticas da Marina, do Índio e do Douglas. muitos ensinamentos.
Agradeço sobretudo a colaboração de todos os
bolsistas de Iniciação Científica que trabalha-
ram ao longo desses anos todos, cada um aju-
dando a construir esse manual, pouco a pouco
ao longo do tempo. Sem vocês ele nunca teria
passado de um simples desejo.
Minha profunda gratidão, em especial a:

Aghata Muller, Amanda Fialho, Ananda Kuhn,


Antonio Pedro Figueiredo, Bruno Euphrasio de
Melo, Camila Bernadeli, Camila Rocha, Carol
Vasques, Celia Andrade, Cintia Duarte, Débora
Pustai, Eduardo Schmidt, Ezequiel Pawelack,
Fernanda Antonio, Fernanda Schaan, Gabriel
Pozzobom, Leandro Salvador, Livia Koeche de
Oliveira, Lucas Kist, Lucas Weinmann, Marcelo
Heck, Mariana Mincarone, Michele Raimann,
Rosa Marshall Corrêa, Simone Unanue Dias,
Thiago Wondraceck, Thomas Gleiser Oliveira,
Yan Furtado.

Prof. Fernando Freitas Fuão


Faculdade de Arquitetura UFRGS
10 Apresentacao
12 Os trabalhadores

14 Espacos de reciclagem
16 Como funciona
18 As três zonas dos galpões
26 Fluxo de produção
32 Bancadas, mesas e esteiras
48 Gaiolas
59 Rejeitos e baias externos

61 Onde construir
69 Os tipos de galpões

73 Como construir
73 Estrutura
76 Modulação
78 Áreas
83 Paredes
85 Aberturas
89 Iluminação natural e ventilação
96 Pisos
98 Drenagem
99 Vegetação
Sumario

Espacos socioculturais 102

O galpão como aglutinador social - Pedro Figueiredo e Fernando Fuão 104

Os espaços socioculturais 106

Sugestões de atividades para o centro sociocultural 111


Administração 111
Telecentro 112
Sala de ensino e alfabetização 113
Biblioteca 114
Lojinha 115
Oficinas (costura, artesanato, mosaico) 116
Sala de dança e teatro 116
Oficina de papel reciclado 116

Cozinha/refeitório 118

Sanitários e vestiários 122

Gestao do Galpao 130

Gestão 132
Identidade 136
Limpeza 140
Segurança do galpão 143
Categorias ou grupos de plásticos 147

Achei...! 148
Apresentacao

E
ste manual reúne os critérios em uma janela mal posicionada. Ou, ainda,
básicos para projetar um Gal- como pequenas mudanças no planejamen-
pão de Triagem de Resíduos Só- to do espaço podem facilitar seus trabalhos
lidos, assim como reformar um e aumentar seus ganhos: por exemplo, re-
já existente; apresenta os ele- duzir as longas distâncias para descarregar
mentos relativos ao espaço dos uma bombona numa baia, ou ter presen-
galpões de triagem e a organização destes, ça de um ralo para a limpeza e lavagem do
que aqui consideramos como as coisas mais piso, podem melhorar o aspecto do galpão.
importantes na hora do projeto. Foi pensado Os recicladores tomam ciência da impor-
numa linguagem simples, para que qualquer tância desses detalhes na hora de qualificar
um possa entender a arquitetura do galpão e construir seu espaço de trabalho. Isso é o
sob a perspectiva daqueles que não têm re- que chamamos de tecnologia: ter o conhe-
curso financeiro e acesso ao conhecimento cimento e vivência para assim ter respostas
técnico. a certos problemas surgidos na sua prática
profissional.
Apresentacao

Em seu conteúdo, o manual expõe a vida no


interior do galpão, desde as relações huma- “O Manual Construir e Reformar um Gal-
nas até a lógica de produção dos resíduos - da pão de Reciclagem” mostra que ele não
chegada até a sua saída. Mostra também os deve somente ser um espaço onde se faz
elementos que compõem um galpão, como a separação do material conhecido como
a gaiola, as mesas de trabalho, as baias, o lixo: ele é muito mais que isso. O galpão
deslocamento dos bomboneiros, o local das deve acolher todas as partes fundamentais
prensas, as aberturas, a iluminação, a venti- para o exercício, formação e crescimento
lação, os pisos, os banheiros e vestiários etc. da profissão de reciclador, que, embora re-
cente, demanda uma série de necessidades
Assim, pouco a pouco, o manual bus- em seu labor diário. Não pretende ofere-
ca apresentar as reais necessidades do coleti- cer um modelo pronto de construção que
vo, desmontando muitos dos modelos vigen- pode ser aplicado indiscriminadamente
tes. O manual não dirá exatamente quantos em qualquer lugar ou para qualquer grupo,
chuveiros terá por pessoa, mas apontará ao contrário, sugere que cada galpão deve
esses dados como elementos necessários ao ser cuidadosamente planejado, pensado,
diálogo da construção do projeto coletivo. construído com a participação de todos os
Também não responde qual seria o melhor associados, caso a caso, sem desconsiderar
tamanho das janelas para iluminar o galpão, as leis da economia e da racionalidade.
mas faz perceber o impacto negativo da luz

10
Economia é a valorização do trabalho e o cui- Assim, o galpão deixa de ser somente um
dado com o planeta, as leis da natureza, os lugar de geração de renda, para tornar-se
cuidados com o mundo e com os seres hu- um local catalisador de relações humanas no
manos imersos nele. Queremos alertar que bairro ou na vila.
um galpão de reciclagem não significa uma
caixa receptora, num terreno vazio, onde Ansiamos que os recicladores e gestores, por
tudo é preparado para a chegada do cami- meio do debate e conhecimento do espaço,
nhão com material trazido pela prefeitura e a tornem-se pessoas capazes de refletir sobre
posterior chegada do comprador. Um galpão seu cotidiano do trabalho da reciclagem, que
de reciclagem não pode assumir a lógica pro- possam refletir de forma crítica sobre suas
dutiva na qual os trabalhadores assumem o condições de trabalho e que sejam capazes
papel ou função de peças de uma máquina de determinar seu futuro, suas vidas e seu
de separar lixo e de limpeza ambiental. De lugar no mundo. Tomando ciência do que
alguma maneira, mostramos que boa parte o espaço do galpão significa, será possível
dos galpões existentes são pouco produtivos reivindicar e dialogar com os responsáveis
e, sobretudo, que os seres humanos não são técnicos e políticos de suas necessidades
colocados nele como sujeitos. Seus espaços na mesma altura, ou melhor: já explicando
não são organizados em vista do bem estar para eles como deve ser um galpão. Assim,
dos trabalhadores, apenas do ponto de vista de alguma maneira, o manual converte-se
de uma exploração brutal da força humana também num importante instrumento pe-

Apresentacao
dos que passam mais de 8 horas exercendo dagógico na formação dos trabalhadores.
nele seu trabalho. O trabalho realizado em
condições desfavoráveis influencia direta- O manual sugere temas para os diálogos en-
mente a questão produtiva e, consequente- tre os associados para determinação de suas
mente, sua rentabilidade. necessidades de trabalho, mostrando para
os recicladores, educadores populares e ad-
Na hora de conceber um galpão, é neces- ministradores municipais que o galpão de
sário não somente ter presentes os aspec- triagem é algo importante para o local onde
tos econômicos, mas também os diálogos se insere. Enfim, esse manual destina-se a
necessários com as pessoas que nele habi- recicladores, educadores populares, prefei-
tarão. Desta forma, procura-se destacar a turas, técnicos de prefeituras, escolas, arqui-
importância de um espaço pensado através tetos, engenheiros, políticos, ambientalistas,
das particularidades de cada trabalhador(a), ONGs e a quem mais possa interessar.
levando em conta as diferenças sociais, cul-
turais e de gênero no cotidiano das ativida- Este trabalho é fruto de uma longa pesquisa
des coletivas. Acreditamos que a riqueza e a de doze anos de vivência e perambulações
diversidade das relações sociais que se pro- pelos galpões de Porto Alegre e de algumas
duzem dentro desses espaços de trabalho cidades do interior do Rio Grande do Sul.
são fundamentais para o processo de con- Esta experiência mostrou-nos que a luta pela
cepção deles. O reciclador deve, não somen- humanização desses espaços faz com que os
te ter o saber da separação do material, mas trabalhadores se sintam orgulhosos de seu
também o conhecimento das possibilidades trabalho, melhorando seu desempenho e
de qualificar seu espaço, como a construção suas relações de convívio. Esses galpões tal-
de refeitórios e cozinhas devidamente equi- vez possam ser vistos também, poeticamen-
padas, vestiários e banheiros, ou mesmo a te, como locais de reciclagem de vida para
necessidade de uma sala de descanso após os trabalhadores, mas, curiosamente, foram
as refeições, uma sala de alfabetização, um eles que reciclaram nossa mentalidade e
telecentro, enfim, toda uma série de ele- sensibilidade ao mundo.
mentos que devem ser apontados pelos as-
sociados para o crescimento e capacitação. Fernando Fuão

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Os trabalhadores
Os trabalhadores

Recicladoras(es) Bomboneiros(as)
São as pessoas que realizam a triagem do Recolhem bombonas e bags e as levam para
material reciclável que chega até o galpão. as baias ou a prensa. São responsáveis por
Retiram as sacolas da gaiola e as abrem so- transportar garrafas e vidros para as respec-
bre a mesa, realizando ainda a separação tivas baias, localizadas fora do galpão. Exer-
dos diversos tipos de materiais e colocando cem um trabalho pesado. Geralmente, um
-os nas bombonas, bags ou sacolas destina- bomboneiro(a) atende duas ou três mesas
das aos bomboneiros. de trabalho com quatro recicladores.

Vigilante Cozinheiro(a)
Faz a segurança do galpão nas horas em que Responsável pelo preparo do café da manhã,
ele está parado. Pode ser um associado ou almoço e lanche da tarde. Deve exercer apenas
um profissional de uma empresa contratada. essa atividade, por questões de higiene e saúde.

12
Os trabalhadores
Prenseiros(as) Coordenação do galpão
São os responsáveis por prensar e enfardar Geralmente formada por três associados,
o material já separado, assim como trans- cuja função é gerenciar de forma autogestio-
portar os fardos para a zona de armazena- nável e democrática, partilhar ganhos, fazer
gem. Normalmente, em um galpão, tem-se a contabilidade, prestar contas, monitorar a
no mínimo dois prenseiros(as). Às vezes é participação dos associados e negociar o ma-
necessário um auxiliar para colocar o mate- terial. Também trabalham nas mesas, bom-
rial dentro da prensa, a fim de dinamizar o bonas ou prensas; fazem o entrelaçamento
trabalho. social do galpão com o bairro e conquistam
parcerias com a sociedade.

Outros agentes no cotidiano dos galpoes


Compradores ou intermediários Educadores(as) populares
Compram o material triado Ajudam no dia a dia capaci-
do galpão para revender tando recicladores na tarefa
para as indústrias. Não de separação, ensinando
existe a obrigatoriedade de noções de contabilidade
vender os diversos mate- para a partilha, conseguindo
riais para um só comprador. apoios, doações e recursos
financeiros. São mantidos por
ONGs, entidades religiosas ou municipais.

Prefeitura ONGs, universidades e escolas


Oferece apoio para o projeto e a construção Geralmente oferecem apoio técnico. É
do galpão, envia resíduos sólidos e recebe os tarefa da coordenação dialogar com essas
rejeitos; contribui mensalmente com os cus- instituições a fim de obter trocas de conhe-
tos de manutenção e fiscaliza os galpões. cimento.

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Espacos de reciclagem
Como funciona

O
funcionamento de um galpão material é retirado — sacola a sacola — para
de reciclagem compreende ser aberto e separado sobre as mesas de
uma sequencia de etapas de triagem. Cada material, então, separado, é
produção. jogado nas bombonas ou nos bags corres-
pondentes.
Primeiramente, o caminhão da
prefeitura descarrega o mate- Após essa operação, o bomboneiro trata de
rial nas gaiolas; depois de descarregado, o recolher as bombonas e os bags cheios, des-

16
carregando nas baias (local onde são arma-
zenados os materiais já separados) ou dei-
xando nos bags mesmo, à espera de serem
prensados.

Depois de prensados, os fardos são separa-


dos e estocados à espera de futuros compra-
dores.

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As tres zonas dos galpoes
Os galpões de reciclagem variam em forma, A ZONA de TRIAGEM consideramos como
estrutura, usos e condições de trabalho; en- sendo o primeiro momento, em que o ma-
tretanto, uma coisa parece comum a todos terial chega ao galpão através dos caminhões
eles: a produção e a divisão das tarefas. Ou da Prefeitura, ou através dos carrinheiros.
seja: as especificidades de cada trabalho ao Geralmente esse material é despejado numa
longo do trajeto do material, desde sua en- gaiola ou no chão, para posteriormente ser
trada até sua saída. Nesse processo podemos separado em mesas, bancadas ou esteiras.
observar que praticamente todos os galpões A ZONA de PRENSAGEM é o momento em
apresentam três áreas bem definidas que que o material, após ter sido selecionado por
denominamos ZONA DE TRIAGEM, ZONA DE categorias, é prensado em prensas mecâni-
PRENSAGEM e ZONA DE ARMAZENAGEM. cas, ou simplesmente amarrado e ensacado
Embora muitos galpões não tenham esses para ser vendido.
espaços muito definidos - principalmente os O terceiro espaço é A ZONA de ARMAZEN-
mais novos, em sua essência, eles apresen- AGEM, lugar em que são colocados os far-
tam esses três momentos, cada um com seu dos prontos, que ficam à espera de serem
respectivo espaço. comercializados.

18
descarga triagem prensagem armazenagem
do material

gaiola

mesa bombonas baias prensa

fardos

descarga triagem prensagem armazenagem


do material

gaiola
baias prensa
mesa bombonas
fardos

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Zona de triagem
É o espaço onde se dá a separação dos re- nhos de transporte para levar as bombonas
síduos sólidos, funcionando da seguinte de um lado ao outro. Ironicamente, muitas
forma: depois que o material chega, atra- vezes, o peso próprio da bombona é maior
vés do caminhão da prefeitura ou através que o peso do material que ele carrega nos
dos carrinheiros, os sacos com os materiais ombros, como garrafas PET.
provenientes da coleta, são depositados na
parte superior da gaiola, e retirados um a um Os diferentes materiais que são classificados
pela parte de baixo. Uma vez abertas as sa- nos galpões devem ser colocados em reci-
colas, são classificados nas mesas, segundo pientes apropriados: bombonas, bags, saco-
suas categorias (pet, tetrapak, vidro, pape- las, tonéis, conforme se julgar adequado. No
lão, plastico mineral etc.), e depositados nasentanto, o que se observa é que nos galpões,
bombonas ou bags que estão ao redor das os associados costumam adotar um recipien-
mesas de triagem. te padrão para todos os materiais, dificultan-
do o trabalho do bomboneiro, e até mesmo
Os bomboneiros são responsáveis por reco- a separação. Pensamos que poderiam existir
lher essas bombonas ou bags, quando ficam também diferentes tipos de recipientes para
cheias de material, e depositá-las nas baias, receber os diferentes materiais (garrafa, pa-
em que aguardarão a prensagem. A van- pel, tetrapak), cada um com as características
tagem do armazenamento em bags (e não mais adequadas para receber e transportar
em baias) é a possibilidade de arrastá-lo di- o material. Por exemplo: as garrafas PET, os
retamente à prensa. Materiais como vidros, PP e as sacolinhas podem ser colocadas em
garrafas e potes são colocados em bombo- bags, que são recipientes maiores, flexíveis e
nas ou tonéis e posteriormente levados para leves. Por terem um volume maior, as bags
fora do galpão, onde são dispostos sobre um evitam que bomboneiro faça várias viagens
telheiro enquanto aguardam comprador. Em entre a mesa e a baia respectiva, podendo
geral, as garrafas são quebradas em cacos ainda levar a bag diretamente para a prensa,
para a venda. otimizando tempo e caminhada. Um aspecto
positivo do uso de bags é que o peso trans-
Do ponto de vista do bomboneiro, o impor- portado é praticamente o peso do material
tante é reduzir o peso próprio da bombona, separado. Em contrapartida, a bombona,
ou, como alternativa, pode-se utilizar carri- ainda que vazia, pesa no mínimo 5kg.

Do ponto de vista
do bomboneiro, o
importante é reduzir
o peso próprio da
bombona, ou, como
alternativa, utilizar
carrinhos de
transporte

20
Zona de triagem

Os espaços e equipamentos referentes à umidade dentro do galpão, além de gerar


zona de triagem são (1) o espaço externo gaiolas mais altas (no centro, abaixo).
para o caminhão da prefeitura, (2) a gaiola,
(3) as mesas, (4) as bombonas e bags e (5) a Se o terreno for relativamente plano, não
faixa de circulação dos bomboneiros. há sentido em criar um desnível somente
para atender a uma facilidade de descarga
A zona de triagem possui algumas caracte- do ponto de vista do caminhão. Nos galpões
rísticas que devem ser avaliadas na que ocupam prédios já existentes,
hora de se projetar ou melhorar este desnível não desempenha
o galpão. São elas, por exem- um papel de relevância em
plo, a questão da acessibi- termos de funcionalidade e
lidade do caminhão da disposição espacial.
prefeitura e do desnível
do galpão em relação à É muito importante
rua. observar o terreno
onde está localizado
É também comum o galpão, os espaços
encontrarmos gal- e como o caminhão
pões que valorizam fará o descarrega-
o deslocamento e mento, as manobras
o descarregamento etc., bem como sua
do material dos ca- relação direta com a
minhões nas gaiolas gaiola.
em vez da movimen-
tação dos trabalhadores Outra consideração é
dentro do galpão, que é que gaiolas muito altas
o fator mais importante. não são desejáveis, pois,
Ou seja, a parte externa do além de dificultar o despejo
galpão, por onde chega o cami- do material, propiciam o acúmu-
nhão, geralmente é mais alta, para lo de sacolas que acabam trancando
facilitar o despejo dos sacos na gaiola. Mui- e obstruindo o fluxo, consequentemente,
tas vezes esse desnível varia de um metro também aumentando a altura dos galpões
a um metro e meio. Entretanto, nem sem- e tornando sua construção mais cara. No
pre ele é necessário, uma vez que utilizado, capítulo Gaiolas, sugerimos algumas alturas
pode ocasionar infiltrações e o aumento da razoáveis para gaiolas e galpões.

21
Zona de prensagem
É o espaço onde são prensados os diversos por exemplo, que caem e rolam pelo chão,
tipos de materiais já triados, compreenden- o trabalhador se vê obrigado a agachar-se
do dois espaços: as baias/bags e o espaço para recolher com as mãos, perdendo tem-
onde ficam as prensas. po. Nessa parte da produção que os resíduos
vão da bombona para baia e da baia para a
Chamam-se baias os espaços separados, ge- prensa, há, algumas vezes, além de desper-
ralmente cercados de tela e destinados aos dício de material, uma duplicação desneces-
diversos tipos materiais que ficam à espera sária do trabalho. Quando trabalha-se com
da prensagem. Cada baia é destinada a um bags, pode-se transportar os bags até a boca
tipo de material. Algumas baias são como da prensa, facilitando e diminuindo o traba-
pequenas gaiolas, com portas, por onde se lho do prenseiro.
retiram os materiais que são levados para a
prensa. Variam de um a dois metros de altu-
ra. Entretanto, essas baias ou boxes - como
são chamados também - podem ser substi- Chamam-se baias os
tuídas pela utilização de bags, que serão de-
pois transportadas diretamente para prensa.
espaços separados,
geralmente cercados de tela
Depois que o material foi separado e colo-
cado em suas respectivas baias e/ou bags
e destinados aos diversos
(garrafa PET, plástico, tetra pak...), ele ficará tipos materiais que ficam à
ali aguardando até juntar uma quatidade su-
ficiente para ser prensado. espera da prensagem.”
Uma vez cheia a baia, segue um trabalho
de transferência de material para a prensa, Os materiais são então colocados aos pou-
que muitas vezes requer o auxílio de outra cos na prensa, prensados várias vezes até
pessoa para puxar com um rodo o material formar o fardo, que é finalmente atado, re-
até colocá-lo próximo da prensa. Entretanto, tirado da prensa e levado para a zona de ar-
quando o material se trata de garrafas PET, mazenagem.

Zona de prensagem

22
As prensas, geralmente, estão localizadas de colocação na prensa. Assim, podemos
próximas às tomadas, que, por sua vez, estão pensar que as prensas devem ser localizadas
nos pilares centrais do galpão ou próximos às o mais próximo possível das baias. Daí a pre-
paredes. ferência pela utilização de bags, que permite
deixar o material muito próximo a prensa.
Geralmente os galpões construídos pelas
prefeituras utilizam um desnível entre a zona O mais importante para o projeto é, portan-
de triagem e a zona de prensagem em torno to, seguir a experiência do corpo do traba-
de 1,2 a 1,5 metro. Esse desnível tem por ob- lhador dentro da unidade, distinta da visão
jetivo facilitar ao bomboneiro (localizado na comum aos projetos da prefeitura que privi-
parte superior do desnível) despejar as bom- legia a chegada e a manobra do caminhão
bonas pela parte superior das baias. que faz a descarga do resíduo nas gaiolas.
O entendimento de cada uma das necessi-
dades desde o caminhão até o associado é
fundamental para a qualificação espacial da
unidade.

Por exemplo, em galpões onde se adota o


desnível e a colocação de baias e boxes, é
exigido um esforço muito grande do bombo-
neiro, pois sozinho ele tem de erguer a bom-
bona quase acima de sua cabeça para poder
despejar nas baias: esforço desnecessário,
que não acontece no caso de uso das bags.
Baia

Assim como na parte externa do galpão, não Quando se tem o galpão no mesmo nível, o
há necessidade que demande esse desnível bomboneiro pode transferir o material das
entre a zona de triagem e a de prensagem. bombonas diretamente para as bags, ou
Se houver, é melhor que se utilize de uma mesmo arrastá-las com o material já triado
rampa ao invés de escadas; assim, as três diretamente para a frente da prensa.
zonas podem comunicar-se com maior faci-
lidade.
Material estocado em
Enquanto um layout de galpão com desnível
induz à colocação de boxes e baias onde se baia é dinheiro parado;
estocam os materiais já triados, o layout de
um galpão em um mesmo plano sugere uma
poderia já estar prensado e
solução mais dinâmica e flexível, através de pronto para venda.”
bags e bombonas que aguardam na zona de
estocagem de material, para depois serem Devemos ter em mente que a redução do
puxadas até a prensa. tempo dos materiais na zona de prensagem
mostra dinamismo de produção. Material
Estas mesmas bags podem ser utilizadas nos estocado em baia é dinheiro parado; poderia
lugares das bombonas na volta das mesas, já estar prensado e pronto para venda. A fim
para materiais como PET e tetra-pack (que de economizar tempo e esforço, a utilização
ocupam muito volume, mas são leves e po- de bags, bombonas e recipientes maiores
dem ser facilmente arrastados). poderia eliminar ou reduzir essa etapa. Para
isso, o coletivo de recicladores deve possuir
O que deve ser levado em conta é a facilida- uma grande quantidade de bags, conside-
de de transporte do material para o bombo- rando que, até o momento, têm, relativa-
neiro, a economia de esforço e a facilidade mente, baixo custo.

23
Zona de armazenagem comercializacao
Depois de retirados os fardos da prensa, es- mesa e uma cadeira de apoio, para fazer o
tes são levados para a zona de armazena- registro e cálculo da saída de material.
gem, onde ficam à venda. As dimensões dos
fardos variam de acordo com o tamanho da Às vezes o comprador vem em busca de um
prensa. Prensas maiores e mais potentes são determinado material específico que está na
mais eficientes. parte externa do galpão, como vidro ou gar-
rafas, então, o caminhão posiciona-se perto
Esses fardos, dependendo do espaço dispo- dessas baias para recolher o material.
nível, podem ser colocados lado a lado ou
empilhados um em cima do outro. Depen- As zonas de armazenagem contêm espaço
dendo da logística da associação e da parti- para armazenagem dos fardos, empilhadei-
lha, os fardos podem permancer estocados ra, elevador, balança e um espaço destinado
de uma semana a um mês até serem vendi- ao estacionamento do caminhão. Deve ser
dos. planejado o lugar onde ficará o elevador, que
geralmente é alto, além da balança e da em-
Na hora da venda, os fardos são pesados um pilhadeira, para que não atrapalhe o fluxo.
a um na balança, o peso e a especificidade
são anotados em uma planilha para controle Alguns galpões possuem “picotadeira de pa-
da associação, e, posteriormente, são coloca- pel”, equipamento utilizado para picar docu-
dos no caminhão do comprador. Os trabalha- mentos de empresas ou de instituições. Em
dores colocam os fardos no caminhão com geral, coloca-se esse equipamento na zona
auxilio de uma empilhadeira ou elevador. de armazenagem, pelo fato de o material
não precisar ser triado e ficar próximo da en-
É interessante ter nesse espaço de arma- trada da caminhonete ou kombi que traz o
zenagem e comercialização uma pequena material.

Zona de armazenagem

24
Notas sobre as zonas e a producao
Os Galpões projetados pelos técnicos das cos a relação com o projeto e as benfeitorias
prefeituras e muitas vezes copiados pelas no galpão.
associações e cooperativas, desconhecem a
importância do espaço em relação à produ- Os recicladores, naturalmente, têm a com-
ção. Inicialmente podemos considerar que preensão exata das etapas de produção, mas
há um certo autoritarismo nesses projetos às vezes não conseguem organizar o processo
arquitetônicos, pois não há diálogo entre o de triagem de forma mais produtiva e mais li-
coletivo de trabalhadores e o técnico da pre- near. Esbarram exatamente no tamanho e na
feitura para definirem e construírem juntos o forma, que não se adequam às necessidades.
projeto do galpão.
Curiosamente, os estudos realizados em
“Vêm de cima para baixo”, como dizem, sem vários galpões mostraram que a produção
saber as reais necessidades dos associados. linear, por si só, não é suficiente para produ-
Geralmente esses projetos não são mostra- zir ganhos significativos. Eles também estão
dos à associação, e, quando são entregues, a atrelados a fatores como gestão, organiza-
obra já está sendo construída, não havendo ção, material recebido, condição dos asso-
possibilidade de mudança. As associações ciados e principalmente, preço de compra de
devem cuidar para que isso não aconteça. material pelo atravessador e pelas empresas
que compram do atravessador (este último
Um dos objetivos deste manual é fornecer talvez o mais determinante). Ou seja, não
para os associados informações sobre a im- adianta ter um galpão totalmente ajustado
portância e organização do espaço, para que se os preços pagos pelos materiais são exor-
possam dialogar e argumentar com os técni- bitantemente baixos.

Dimensoes das tres zonas do galpao


Preste atenção nas três zonas do galpão.
Em geral, elas se dispõem paralelamente ao
maior lado do galpão, em faixas estreitas e
compridas. No exemplo ao lado, para facili-
tar a construção, estabeleceu-se a medida de
7m de largura para cada zona.

Independentemente do tamanho do galpão,


a largura será sempre a mesma em cada
zona. O que se altera, definindo o porte do
galpão, será seu comprimento.

Nota

Tanto os galpões construídos pela prefeitura do material até a saída dele, começando pela
quanto os que não contam com o auxílio de triagem, prensagem e armazenagem. No entanto,
técnicos, de alguma maneira, partem do mesmo nos galpões da prefeitura, essas três zonas são
principio: a sucessão de etapas desde a entrada mais organizadas e delimitadas.

25
O fluxo de producao
Chamamos de Fluxo de Produção o deslo-
camento do material a partir do momento
em que chega nas gaiolas até ser enfardado GAIOLA
e vendido.

Esse deslocamento é um procedimento mui-


to delicado, que requer equilíbrio e sintonia
entre o trabalho do pessoal das mesas, o
trabalho dos bomboneiros que carregam o MESA DE MESA DE
material das bombonas e bags, e finalmente TRIAGEM TRIAGEM
com o prenseiro que enfarda o material.

Esse fluxo pode ser comparado ao fluxo de


água em um encanamento; ou seja, não
pode haver entupimento ou acúmulo de
material, a fim de evitar o trancamento do
fluxo da produção.

Por outro lado, também não pode haver


falta de material para ser triado nas mesas
ou para ser prensado, porque desacelera o BAIAS/
ritmo de produção do galpão. Um exemplo BOX
disso é o excesso de produção proveniente
das mesas de triagem, que pode acarretar
um congestionamento na hora de prensar
o material, ou se houver poucas prensas em
relação ao número de mesas e produção. PRENSA

De nada adiantará ter uma produção exce-


lente de separação de material se houver
poucas prensas, se o bomboneiro for lento,
ou mesmo se o ritmo do prenseiro for lento.
O material acabará ficando à espera de ser
prensado, acumulando-se cada vez mais na
zona de prensagem em baias e/ou bags.

A relação entre o ritmo do material triado


nas mesas e o ritmo do material enfardado
é fundamental. Daí a importância da relação FARDOS FARDOS
do número de prensas que o galpão possui,
além do número de mesas e trabalhadores.
A tabela de áreas dos tamanhos do Galpões
mostra a relação da área de um galpão com
os respectivos equipamentos, como prensas
e balanças.

26
27
A agilidade na separação do material nas ros ou bomboneiras, rápidos, ágeis, assim
mesas é condição inicial para marcar o ritmo como ótimos prenseiros(as), se o ritmo da
de produção de todo o galpão. mesa for lento, se as recicladoras forem inex-
perientes. Por isso, sempre optamos pela
Entretanto, não são só as mesas as respon- mesa de quatro pessoas ao invés da bancada
sáveis. Os bomboneiros desempenham um individual.
papel fundamental nesse processo também.
Um bomboneiro é responsavel, em média,
por fazer a manutenção de duas a três me- O mais trágico, no
sas de quatro pessoas.
fluxo de produção, é
Calculamos o ideal como duas mesas e meia quando falta material nas
para cada bomboneiro. Isso é, cinco mesas
correspondem a dois bomboneiros. Mas, se gaiolas para ser triado. Aí,
o bomboneiro não der conta, em sua agilida- literalmente, só resta parar
de, de recolher as bombonas e bags cheios e
os despejar nas baias de armazenagem, ou a produção das mesas.”
levá-los diretamente para o prenseiro, todo
fluxo se verá alterado, principalmente nas
mesas, as bombonas estarão cheias e as re- Devemos recordar que o ingresso de novos
cicladoras ficarão a espera dele recolher. trabalhadores é sempre louvável, mas tam-
bém sua inexperiência retardará o ritmo de
Tudo isso se reflete no ritmo de produção, produção. Como forma de solução, acon-
e, consequentemente, na hora da partilha e selhamos colocá-los em mesas produtivas,
dos ganhos. Essas questões de logística sem- para que aprendam rapidamente com os
mais antigos e se acostumem com o ritmo de
trabalho do galpão. Na bancada individual, o
O ritmo da mesa de trabalhador novo não tem possibilidade de
trocar experiências e demorará muito a en-
triagem determina trar no ritmo do galpão.
todos os demais ritmos do
Na verdade, o ritmo da mesa de triagem de-
galpão. Uma mesa eficiente termina todos os demais ritmos do galpão.
e um setor de triagem Uma mesa eficiente e um setor de triagem
eficiente exigirão também bomboneiros e
eficiente exigirão também prenseiros eficientes. E somente, e tão so-
bomboneiros e prenseiros mente, assim é possível determinar os au-
mentos de ganhos em um galpão, com mui-
eficientes.” to trabalho especializado.

Entretanto, essa ânsia de ganhos deve ser


pre são motivos de discórdia e culpabilidade relativizada segundo as características do
entre os recicladores, portanto, as coordena- galpão. Há belíssimos trabalhos de galpões
ções devem prestar atenção especial a esse que incorporam em seu grupo pessoas com
fato, procurando equilibrar todo o ritmo de deficiência física e até mentais, localizando
produção nos três segmentos (mesas, bom- essas pessoas em lugares estratégicos, que
boneiros e prenseiros). na maioria das vezes conseguem, por suas
peculiaridades, trazer grandes contribuições
Outro exemplo que pode ocorrer é o oposto: ao galpão, principalmente nas questões hu-
de nada adiantará ter eficientes bombonei- manas. E a riqueza dessas relações são mais

28
importantes que qualquer ganho monetário. prenseiro, assim como a formação das coor-
denações. São ofícios totalmente diferentes
O mais trágico, no fluxo de produção, é quan- e com tecnologias distintas.
do falta material nas gaiolas para ser triado,
porque a prefeitura não forneceu. Aí, literal- Durante os vários anos de pesquisa nos gal-
mente, só resta parar a produção das mesas, pões, nunca vimos um prenseiro parado por
reclamar ao setor responsável da prefeitura falta de material. Sempre há muito material
e convocar os recicladores para outras ativi- à espera para ser prensado. Na maioria das
dades de melhorias do galpão; ou simples- vezes, no final da semana após a partilha,
mente decidir terminar mais cedo a jornada. fica ainda pendente muito material para
ser prensado. Esse material corresponde à
A coordenação deve observar atentamente parte da produção que não teve seu corres-
o volume do material na gaiola, deve ter a pondente na prensagem, ou seja, os pren-
capacidade de antever, antecipar-se e soli- seiros não conseguiram dar conta e houve
citar mais material para o setor competente uma redução do fluxo e do ritmo do material
da prefeitura antes que ele termine. na hora que deveria passar pela prensa. Na
verdade, o fluxo de produção é um funil que
Partilhas semanais são mais reveladoras des- termina na prensa.
se processo do que partilhas mensais. No
esquema semanal, pode-se observar o que Esse volume de material não prensado, em-
foi produzido a cada semana, o qual é uma bora saiba-se que será prensado posterior-
forma de analisar e aprender mais rapida- mente, também é indicativo de que houve
mente com os equívocos e acertos dos tra- perda de ganhos, é material perdido para a
balhadores do galpão, em comparação com
as mensais. Muitas vezes, uma semana mal
trabalhada pode ser disfarçada por outra.
A coordenação
Todas essas reflexões têm implicações dire-
tas no espaço do galpão. Por exemplo, gal-
deve observar
pões que realizam a partilha mensal têm que atentamente o volume
ter dimensões maiores em relação aos que
realizam partilhas semanais, pois têm que do material na gaiola e
ter um espaço de armazenagem suficien- solicitar mais material
temente grande para guardar a produção
mensal de armazenamento. para a prefeitura antes
Para melhorar o ritmo de produção, não só
que ele termine.”
deveríamos capacitar o pessoal da mesa de
triagem, mas também os prenseiros e bom- renda semanal. Quando a partilha é sema-
boneiros. Mesmo sendo “recicladores”, eles nal, essa falta é mais perceptível. Já em par-
se diferem em sua atividade do pessoal que tilhas mensais, não se percebe tanto, pois
trabalha nas mesas. Sua atividade requer há as semanas seguintes para tentar recu-
um conhecimento e uma capacitação dife- perar. Esses detalhes são importantes, mas
renciados da do pessoal das mesas. passam despercebidos pelas coordenações
dos galpões. Enfim, é dinheiro que se está
Pensamos que da mesma forma que existe deixando de ganhar.
uma educação, uma capacitação profissio-
nalizante das recicladoras nas mesas, deve- A capacitação do prenseiro é importante, ele
ria haver também uma profissionalização do deve ter a ciência de acomodar o material
procedimento de trabalho especializado do na prensa, dependendo da especificidade

29
A mesa e as bombonas e bags

de cada material, e como deve ser enfarda- O bomboneiro deve sempre ser chamado às
do homogeneamente. Deve saber escolher discussões, para que ele reflita como pode-
o tipo de prensa: prensas baratas são im- ria melhorar seu trabalho, torná-lo mais con-
produtivas, fazem com que o prenseiro tra- fortável, eficiente e produtivo na construção
balhe o dobro para render o que com uma da produção coletiva. O mesmo é válido para
prensa de maior potência conseguiria. Um o prenseiro. O problema é que ainda conta-
trabalho de prensagem com duas pessoas mos com pouquíssimas pessoas que possam
trabalhando - uma colocando o material e transmitir esses conhecimentos.
a outra prensando - tem operacionalidade
e produção maior, a segunda pessoa seria Um exemplo típico desse fato é a própria or-
como auxiliar que traz o material para perto denação das bombonas ao redor da mesa,
e o coloca rapidamente dentro da prensa. muito pouco estudada e avaliada critica-
mente, inclusive pelos melhores capacitado-
Há uma série de detalhes de capacitação res de reciclagem.
que devem ser levantados. O bomboneiro,
por exemplo, deve levar em conta a forma
como carrega as bombonas - em carrinhos Prensas baratas
apropriados ou nos ombros - e, se for nos
ombros, qual a melhor forma de carregar e são improdutivas,
evitar traumas físicos. São detalhes sutis, po- fazem com que
rém relevantes: o modo como despeja-se o
material nas baias, o cuidado no manuseio, o prenseiro trabalhe o
estar atento aos deslocamentos desnecessá-
rios, o modo de arrastar os bags, onde loca-
dobro para render o que
lizar e como acomodar o material. Não pode com uma prensa de maior
nunca ser um trabalho mecânico e braçal, de
forma a evitar riscos de acidentes.
potência conseguiria.”

30
Deveríamos, ao dispor as bombonas em Também há muito desperdício no trabalho
volta da mesa, estabelecer um critério por do bomboneiro: muito material cai no mo-
faixas, zonas relacionadas aos pesos e ris- mento do despejo nos bags ou nas baias, e
cos dos materiais. Por exemplo, os materiais
mais leves, como pets e plásticos, deveriam
ser triados numa faixa mais próxima da gaio- Material que fica no
la; uma segunda faixa acolheria materiais de galpão é dinheiro
pesos médios (papelões), deixando os mais
pesados (garrafas, vidro e sucata) para a pon- que não fica no bolso
ta da mesa, facilitando o trabalho de retira-
da das bombonas e evitando o risco de cacos
do reciclador. O galpão
de garrafas. Isso pressupõe, numa mesa de eficiente deve estar quase
quatro pessoas, que as duas da ponta ficam
encarregadas de separar materiais pesados,
vazio no final da semana,
assim como o rejeito que fica em uma bom- sem nenhum fardo em seu
bona no final da mesa.
interior.”
Nunca colocando as bombonas para as gar-
rafas longe, que obriga o reciclador a atirar a o material que não é recolhido fica no chão,
garrafa e acertar dentro da bombona, provo- permanecendo ali por dias, até a limpeza do
cando um ruído constante e estressante de galpão, atrapalhando a circulação.
vidro quebrado.
Outro exemplo é que o comprador paga
Também podemos observar que vai muito mais pelo material prensado do que pelo
material no container de rejeito que ainda material não prensado, obviamente. Entre-
pode ser aproveitado. O desperdício está tanto, é possível rever e repensar a questão
vinculado à questão do ritmo da mesa de do tempo e gasto de energia nesse processo
triagem. Ao aumentar o ritmo ou a agilidade de produção do fardo, e avaliar a especifici-
da mesa, muitas vezes, algum material apro- dade de cada material para prensar ou não,
veitável é colocado, erroneamente, na bom- se vale a pena ou não. Por exemplo, quan-
bona de rejeito. do se está com problemas nas prensas, ou
o Galpão ainda não conseguiu comprar ou
ganhar uma prensa, é melhor vender o ma-
Os materiais mais leves terial sem ser prensado do que ficar espe-
rando arrumar a prensa.
devem ser triados
numa faixa mais próxima da Para melhor orientar os recicladores, há um
ditado que diz que “Material que fica no gal-
gaiola; uma segunda faixa pão é dinheiro que não fica no bolso do reci-
acolheria materiais de pesos clador”.

médios, deixando os mais O galpão eficiente, no final da semana, deve


pesados para a ponta da estar quase vazio, de preferência, sem ma-
terial na gaiola, nas baias e nenhum fardo
mesa.” dentro do galpão.

Bancada: sua profundidade varia de 0,60m a 0,70m e a extensão é a largura do


galpão, e deve acomodar o número de recicladores.

31
Bancadas mesas e esteiras
As mesas de triagem nos galpões podem ser quatro, seis, ou mesmo oito pessoas. A es-
de três formas: colha do tipo de mesa também implicará as
medidas dos galpões. Comentaremos uma
Bancadas: mesa contínua ao longo da gaiola, por uma suas vantagens e desvantagens.
onde trabalham individualmente, afastados
uns dos outros. Esteira: é uma esteira rolante onde se coloca
o material, que vai sendo triado pelos reci-
Mesas: retangulares, colocadas perpendi- cladores, cada um encarregado de separar
cularmente à gaiola, onde podem trabalhar materiais determinados.

Bancada
É o modelo no qual os trabalhadores se-
param os diversos materiais em uma mesa
contínua, de frente, ao longo da gaiola. Não
existe grande interação entre os associados;
a produção depende muito do indivíduo e
menos do coletivo.

Nas situações em que existe bancada, as


bombonas e bags tendem a se acomodar
nas laterais e algumas nas costas do recicla-
dor. São dispostas em fileiras duplas de seis
a oito bombonas/bags de cada lado. Nesse
caso, as bombonas e bags laterais, tanto da
direita quanto da esquerda, passam a ser
comuns a dois recicladores. No sistema de
bancada, os recicladores penduram algu-
mas sacolas na proximidade do reciclador,
onde colocam materias que são dificeis de
serem jogados nas bombonas por suas ca-
racterísticas físicas (como sacolas plásticas,
papeis, etc).

No sistema de bancada, deve-se também


levar em conta a medida que vai da gaiola
até a circulação do bomboneiro, ou seja, a
soma das medidas da área de trabalho do
reciclador, mais a medida correspondente didade; por isso, alguns galpões projetados
a três ou quatro bombonas e mais a circu- para bancada acabam aumentando a ex-
lação do bomboneiro. Exemplificando: às tensão da gaiola, e por consequência o ta-
vezes o modulo da área de triagem de 7x7 manho do galpão, para comportar todos os
metros pode ser muito grande em profun- recicladores, aqui considerados em torno

32
de 28 pessoas. Isso acaba gerando uma área
maior do galpão, muitas vezes não utilizada.

Em um espaço de 4,75m, por exemplo, é


possível trabalhar quatro ou seis pessoas
em uma mesa, enquanto que na bancada,
esse espaço comporta no máximo duas pes-
soas lado a lado. Ao lado mostramos dois
desenhos comparativos para uma mesma
área. Um com a utilização com mesas de
seis pessoas e outra com a bancada.
Zona de triagem com bancada: 6 trabalhadores
A produtividade do galpão não tem relação
direta com a área do galpão - por exemplo,
não é verdade que “quanto maior mais pro-
dutivo” e maiores ganhos - mas sim com um
justo equilíbrio entre todos os fatores aqui
considerados neste Manual. Para acomodar
28 recicladores teremos que ter um galpão
mais retangular e mais extenso, essa for-
ma retangular acaba gerando uma zona de
prensagem e armazenagem também mais
excessiva.

A bancada, também tem se mostrado me-


nos produtiva do que as mesas de quatro Zona de triagem com mesas de 4: 16 trabalhadores
ou de seis, pois requer um número maior de
bombonas e bags, a fim de satisfazer o tra-
balho de separação de cada reciclador. Além
disso, as bombonas e bags demandam um
tempo maior para serem preenchidas, visto
que recebem a produção de um ou dois re-
cicladores. Outra das desvantagens da ban-
cada individual é que o reciclador tem que
se virar constantemente para suas costas e
laterais.

As coordenações mais autoritárias, algumas


vezes, preferem a disposição em bancada ao
invés da mesa, evitando assim a integração
entre os associados. Zona de triagem com mesas de 6: 24 trabalhadores

2 módulos
Mesas - bancada - trabalhadores (14m)
Mesa para 6 trabalhadores 24 trabalhadores

Mesa para 4 trabalhadores 16 trabalhadores

Bancada individual 6 trabalhadores

33
Mesas
O número de mesas depende do número de pode fazer variações de mesas de quatro e
trabalhadores no galpão. seis recicladores para dividir o mais propor-
cionalmente possível os trabalhadores ao
Podem ser divididos em mesas de quatro longo da gaiola. Para nosso entendimento,
ou seis trabalhadores. Por exemplo, 28 tra- um galpão produtivo é o que tem em torno
balhadores podem ser distribuídos em sete de trinta a quarenta trabalhadores.
mesas de quatro pessoas, mas também se

Como funcionam as mesas


As sacolas são retiradas da gaiola, colocadas uma bombona destinada ao rejeito é colocada
em cima da mesa e abertas pelo reciclador na cabeceira (final) da mesa.
mais próximo. Os demais trabalhadores da
mesa, cada um responsável por determinados Mesas de quatro ou seis trabalhadores produ-
tipos de materiais, fazem a separação, colo- zem melhores ganhos e promovem a ativida-
cando nas respectivas bombonas e ou bags de solidária entre os recicladores; oportuni-
dispostas em fileiras duplas nas laterais. zando a conversa, o tempo de trabalho parece
passar mais rápido, e também diminuindo a
Também similarmente à bancada, fixam-se introspecção e o individualismo.
sacolas plásticas nas laterais da mesa para re-
ceber determinados tipos de materiais, tais No trabalho coletivo de mesa, é possível esta-
como papéis e plásticos leves. Finalmente, belecer um ritmo de produção mais acentua-

Medidas de referência

Mesa para 4 pessoas: 2,75m x 1,00m Comprimento (correspondente a duas fileiras


Mesa para 6 pessoas: 3,60m x 1,00m laterais de seis bombonas): 3,70m
Distância entre as mesas: 2,40m

Mesa para 4 trabalhadores: 2,75m x 1m Mesa para 6 trabalhadores: 3,60m x 1m

Distância entre mesas: 2,40m


Fileira de 6 bombonas: 3,70m

34
do, principalmente pelos trabalhadores mais e mais a medida de duas bombonas ou bags,
antigos e mais experientes que passam a ensi- que são divididas com a mesa adjacente.
nar a tecnologia aos mais novos, aprendendo
assim mais rapidamente o ofício. Daí a importância das proporções das dimen-
sões de um galpão para aproveitar os espaços
O aspecto negativo é quando há conflito entre de trabalho nas mesas, bombonas e prensas.
os trabalhadores. A coordenação deverá ser Essas proporções da largura do galpão devem
sensível à situação e fazer o remanejo neces- partir do módulo da mesa de trabalho que
sário entre os membros da mesa, fazendo a os associados podem escolher, por exemplo:
substituição de um ou mais trabalhadores. mesa de quatro ou seis pessoas, ou individual.

No sistema de quatro trabalhadores por mesa, Por exemplo, na mesa de quatro pessoas, o mó-
deve-se considerar a largura da mesa com os dulo da mesa de triagem mede, aproximadamen-
espaços laterais destinados aos trabalhadores, te, 4,80 x 4,75 metros.

Módulo estrutural 7x7 e a disposição das mesas com 4 trabalhadores:

Módulo estrutural 7x7 e a disposição das mesas com 6 trabalhadores:

35
Trabalhadores na mesa

Bombonas, bags e big bags

Cada bombona tem, aproxima-


damente, diâmetro de 62,5cm.
Os bags com alças (ráfia de
polipropileno) existem em
vários tamanhos no mercado,
como: 85x85cm, 95x95cm,
100x100cm e
alturas bastante variáveis. Suge-
rimos que não excedam
1,60 metro.

A gaiola sempre é uma consequência des- Há casos em que alguns galpões trocaram as
se dimensionamento inicial da mesa ou da mesas pela bancada, um desses motivos era
bancada, ou seja, fixa-se uma largura e o a relação entre o comprimento da gaiola e a
que deve variar é a profundidade e altura pouca quantidade de associados. Optou-se
da gaiola, conforme o volume de material por utilizar o sistema de bancada para que os
recebido. Em todos os casos, o projeto do recicladores pudessem se distribuir ao longo
galpão e suas medidas devem permitir a fle- da gaiola, não sobrando locais sem pessoas
xibilidade de adotar um ou outro sistema de trabalhando e não acumulando material por
triagem. muito tempo.

36
As mesas e as questões de gênero

É mais recorrente as mulheres trabalharem nas associados possam, pelo menos algumas vezes,
mesas, principalmente pelas suas habilidades experimentar o trabalho dos outros, constitui um
manuais finas, deixando a tarefa de bombona- fato integrador e solidário.
gem, prensagem e segurança para os homens.
Entretanto, os homens podem e devem, tam- O inconveniente é que nessas trocas o ritmo bai-
bém, trabalhar nas mesas, assim como as mulhe- xa acentuadamente, pelo menos até que todos
res podem trabalhar na prensa, e, dependendo se acostumem. Em suma: todos esses ofícios não
da força física e do modo como se deslocam as são questões de masculino, feminino, ou de gê-
bombonas (com carrinhos) e bags, poderemos nero LGBT, mas de disponibilidade de cada um
ter bomboneiras mulheres. A ideia de que todos frente a cada tarefa.

A relacao das mesas com as dimensoes das gaiolas


Para que a bancada possa contemplar o mes- Uma vantagem das mesas é que, quando tra-
mo número de trabalhadores de uma mesa balhadores faltam, há flexibilidade de deslo-
de quatro ou seis pessoas, é necessária uma camento de pessoas entre as mesas, poden-
extensão maior da gaiola, e consequente- do trabalhar três ou duas pessoas por mesa.
mente, do galpão. A gaiola mais extensa será Já na bancada individual, fica a lacuna do tra-
capaz de receber mais material, no entanto, balhador, permanecendo a gaiola com mais
o material demorará mais para ser triado. volume nessa seção.

O fato de o galpão apresentar dimensões Por exemplo, todos os galpões de Porto Ale-
maiores devido à bancada acarreta também gre, foram concebidos e construídos com
mais trabalho para o bomboneiro; não pelo base na lógica de uma bancada linear. E
volume a carregar, mas sim pelas distâncias quando os recicladores passaram a trabalhar
que ele deverá percorrer com a bombona em mesas de quatro ou seis pessoas, boa
Também haveria a necessidade de um nú- parte da extensão da gaiola ficou ociosa em
mero maior de prensas, para distribuir me- muitos galpões, ou tiveram que distanciar
lhor a produção ao longo do galpão. uma mesa da outra além do necessário.

37
Estrutura forma e materiais da
bancada e da mesa
Estrutura da bancada
A bancada pode ser concebida de duas maneiras distintas:

1) Como uma extensão da base da gaiola, ge-


ralmente construída e concebida como uma
laje de concreto de 6-8 cm, com uma pro-
fundidade de 60-70 cm, e seu comprimen-
to variando conforme o comprimento da
gaiola. Essa bancada em concreto deve ter
posteriormente aplicado um cimento quei-
mado ou um revestimento cerâmico, para
que os líquidos não penetrem no concreto,
evitando cheiros indesejados e facilitando a
limpeza.

2) Como uma estrutura independente da devem ser bem amarrada para que ela não
gaiola, como se fosse uma grande mesa; uma balance, ser resistente, e ser bem nivelada.
grande bancada que se encosta ao longo da
gaiola. Pode ser em madeira, caibros de 8x8 O material do tampo dessa bancada pode
cm ou de 8x16 cm. A altura dessa bancada ser o mesmo sugerido para as mesas: fórmi-
deve coincidir com a altura da boca de saí- ca, mdf com tinta de melamina, madeira ou
da da gaiola (90 cm). A estrutura é concebi- qualquer outro material não poroso imper-
da como uma grande mesa única, ou como meável e de fácil limpeza.
várias mesas independentes que se colocam
uma ao lado da outra ao longo da gaiola. Se a cooperativa tiver algum cooperado mar-
ceneiro e ou serralheiro será ótimo aproveitá
A estrutura pode ser também metálica (per- -lo para fazer as mesas e ou bancadas, fican-
fis metálicos de aço), permitindo uma estru- do assim o dinheiro para um associado em
tura mais delicada e também resistente. Tan- vez de pagar para outro profissional de fora
to a bancada em madeira como a metálica do galpão.

38
Estrutura das mesas
Essas mesas são aquelas nas quais se faz a separação do material perpendicularmente à gaiola.

1) Pode ser em madeira, caibros de 8x8 cm pode ser também em perfil metálico, permi-
e 8x16 cm. A altura dessa mesa obviamente tindo uma estrutura mais delicada e também
deve coincidir com a altura da boca de saída resistente. Tanto a mesa de madeira como a
da gaiola (90 cm). A estrutura é concebida metálica devem estar bem amarradas es-
como grande mesa, muito similar também truturalmente para que não balance, assim
a uma estrutura de uma cama. A estrutura como devem estar nivelados seus pés.

Mesa de madeira Mesa de aço


A mesa para 4 recicladores é de 2,75 x 1,00 m

A mesa para 6 recicladores e de 3,60 x 1,00 m

39
A forma do tampo da mesa
O tampo da mesa deve ter abas laterais, de materiais que por ali passam. A cor do tampo
altura entre cinco a dez centímetros de al- é fundamental. Para não cansar os olhos, su-
tura, para evitar que os materiais caiam nas gerimos uma cor clara para que os materiais
laterais. Essas abas podem ser colocadas se destaquem sobre ela.
perpendicularmente ou inclinadas, para faci-
litar o manuseio do material, e de certa for- Outra alternativa é ter abas laterais menos
ma também aumentam a largura da mesa. elevadas, tipo, 2-3 cm, mas é importante que
Servem também, por breves instantes, para o tampo das mesas tenham essas guardas la-
apoio das mãos dos recicladores. É impor- terais para evitar que os materiais caiam no
tante que essas abas sejam boleadas, para chão. Por exemplo, se o objeto for de vidro
não machucar os braços e as mãos. pode haver riscos de acidentes; não somente
isso, mas também o fato de que os recicla-
O tampo da mesa é a parte mais visível du- dores tenham que se abaixar, toda vez que
rante toda a atividade de separação dos ma- alguma coisa caia no chão para recolher, per-
teriais; é a parte do galpão que é mais vista, dendo, assim, tempo e desestruturando o
é uma espécie de pano de fundo de todos os ritmo de separação da mesa.

Abas inclinadas

Abas retas

40
O material do tampo
O material do tampo da mesa deve ser liso, aplicação de verniz náutico ou qualquer ou-
impermeável e lavável, para que as sujeiras e tro impermeabilizante; isso facilitará a limpe-
o chorume não fiquem aderidos no tampo. za das mesas, a higienização e evitará a im-
Sugerimos: fórmica, mdf com tinta minerali- pregnação dos líquidos na madeira.
zada, melamina, ou qualquer outro material
não poroso impermeável e de fácil limpeza. Mesmo quando a estrutura da mesa for em
O tampo das mesas também pode ser em perfil metálico, o tampo poderá ser em ma-
madeira aplainada e lixada, e deve receber deira ou fórmica.

Ganchos para fixação de sacolas plásticas


Ao longo e embaixo dessas abas pode-se ração de materiais leves que são difíceis de
colocar uma barra com vários pequenos depositar nos bags e nas bombonas atrás do
ganchos deslizantes cuja finalidade é a colo- reciclador. Na falta dessa barra com ganchos
cação de sacos plásticos para fazer a separa- deslizantes, muitas vezes, os recicladores co-
ção de materiais leves - que não podem ser locam pregos, levemente entortados, para
arremessados e depositados nos bags e nas fixar a sacola. Embora seja uma solução sim-
bombonas, atrás do reciclador. Geralmente ples e barata, pode haver risco de cortes ou
colocam-se pequenos ganchos para a colo- perfurações.
cação de sacos plásticos para fazer a sepa-

Ganchos para sacolas

41
Esteira
Geralmente os galpões que fazem a separa- Medidas comuns de uma esteira
ção do material orgânico e do seco utilizam-
se de esteiras. As esteiras aparecem como Comprimento: 10 metros
resposta apropriada para locais e cidades Largura: 80 centímetros
onde a coleta seletiva ainda não se efetivou. Altura: 1,10 metros

Entretanto a esteira pode ser também colo-


cada em galpões que fazem a coleta seleti- e consequentemente de todos os espaços.
va. Deve-se ter em conta que a colocação de Isso também não quer dizer que os galpões
uma esteira implica uma série de reformula- não possam se adaptar à colocação de uma
ções em sua volta. Ela determina uma outra esteira, mas ela será parte quase que deter-
forma de organização do trabalho no galpão, minante e inicial de um projeto de galpão.

Todos os comentários aqui serão referentes as esteiras num processo de separação so-
mente de resíduos sólidos.

Ao conceber a forma do galpão, mais espe- Ao comparar-se o dimensionamento de um


cificamente a área de triagem onde estará a sistema de esteira com um sistema de gaio-
esteira, esta deverá ser mais retangular que las, nota-se a dificuldade em se obter o mes-
quadrada, e será desnecessário as gaiolas. mo volume de material armazenado para
Em contra partida, haverá uma grande área as esteiras. Por exemplo, em um galpão de
onde será colocado o material que fica à es- porte médio, a gaiola deverá ter dimensões
pera de ser depositado em uma das pontas iguais ou aproximadas de 28m x 2m x 2,6m,
da esteira. obtendo-se, assim, um volume de estoca-
gem de 145,6m³. Para atingir-se esse volume
Ao contrário da gaiola, que é linear, esse es- através do sistema em esteira, deveria se ter
paço de armazenagem geralmente é mais uma baia para despejo dos resíduos com as
quadrado que linear. dimensões de 14m x 7m x 1,5m de altura.

42
Esteira e producao
O ritmo da triagem e da produ-
ção é determinado basicamente
pela velocidade da esteira. Mas
há uma ilusão de que os ganhos
podem ser aumentados por um
ritmo maior da esteira. Nem sem-
pre isso é verdade.

Durante nossa vivência nos gal-


pões, pudemos observar que as
mesas de separação propiciam o
diálogo e solidariedade. Os reci-
cladores e as recicladoras expõem
os seus problemas do cotidiano
nas mesas, e isso num processo de
uma esteira já não ocorrerá com
tanta facilidade, pois a esteira de
alguma maneira se interpõem en-
tre eles criando uma separação,
não tanto frente a frente, mas
lateralmente, pois a distância de
um reciclador a outro ao longo da
esteira normalmente é um pouco
mais distante que na mesa.

Outra sutil distinção é que na ati-


vidade de separação que exercem
as recicladoras nas mesas há um
tipo de catação, com certo senti-
do de colheita. O catador vai ao
material, o material é passivo es-
tático, há uma expectativa do que
pode aparecer de diferente den-
tro de cada sacola, embora quase
sempre seja a mesma coisa; mas
eventualmente aparecem coisas
imprevisíveis, e isso é talvez o que
alimente a curiosidade, e isso por
sua vez torna o trabalho mais atra-
tivo. O reciclador em sua totalida-
de de corpo mãos e pensamento
foca-se sobre a mesa, interage
com seu objeto de trabalho não
só fisicamente como mentalmen-
te. E o ritmo da separação não é
dado pelo próprio grupo, e sim
Zona de triagem com esteira pela esteira.

43
A esteira retira um pouco dessa expectativa, do demais para que o material passe por eles
já que somente os primeiros recicladores da e não sejam recolhidos. Pode-se observar que
esteira, os que fazem a abertura das sacolas, muitas vezes um reciclador, principalmente
contam com a possibilidade da surpresa, aos aqueles que ficam no final da esteira, ficam
demais só resta separar, catar os materiais que ociosos, pois em muitas das sacolas, frequen-
foram atribuídos e que se deslocam na esteira temente, não vem material pelos quais eles
sem nenhuma expectativa. Antes mesmo de são responsáveis por separar.
chegar ao alcance de suas mãos, o material já
foi visualizado. O ajuste do ritmo
O ritmo da esteira pode ser inferior ao ritmo
da esteira é sempre
da mesa, porque muitas vezes o reciclador uma arte, não deve
tem que esperar até passar pela sua frente os
materiais pelos quais ele é o responsável de ser lento demais, para
pegar. Essa diminuta espera ao longo do dia que os recicladores não
pode representar muito tempo.
fiquem ociosos, nem
Ao contrário da mesa, em que o material está
estático, na esteira, o reciclador vê o material
rápido demais, para que o
passar lentamente, num processo mecânico material passe por eles e
e alienante. Na mesa, no momento em que
a sacola é aberta, todos compartilham da ins-
não seja recolhido.”
tantaneidade de uma surpresa, e as diversas Às vezes é o contrário. Há uma sobrecarga de
mãos, numa sincronia impecável, recolhem os um determinado tipo de material que o reci-
diversos materiais cada um à sua respectiva clador está encarregado de separar e ele não
bombona ou bag. dá conta. Então o reciclador do final da esteira
deve ser encarregado de recuperar esse ma-
O ritmo da separação terial, ou, então, o encarregado de acionar
deve parar momentaneamente a esteira até
não é dado pelo grupo, e que recolha o material para seguir adiante.
sim pela esteira.
Outro aspecto é que, por mais veloz que a
O reciclador na esteira não tardará a perceber esteira possa ser, o ritmo da frequência que
que ele se tornou uma engrenagem da esteira os materiais aparecem é o que determinará
e que o processo manual foi substituído por o ritmo da esteira e consequentemente dos
um processo mecânico. Mas essas colocações recicladores.
sempre são relativas; se, por exemplo, os ga-
nhos obtidos, graças à utilização da esteira, Há, também, muito material que vai para o
forem superiores aos anteriores, podem com- rejeito, que escapou à separação e pelo qual,
pensar essas questões que levantamos ante- muitas vezes, não vale a pena retirar do rejeito,
riormente. por perder tempo.

As esteiras são desnecessárias em galpões Atrás de cada reciclador ficam duas ou três
que trabalham com carrinheiros, pois esses já bombonas que se destinam aos materiais que
fazem o processo de seleção na rua mesmo. ele ficou encarregado de recolher.

O ajuste do ritmo da esteira é sempre uma Os galpões com esteiras não necessariamente
arte, não deve ser lento demais, para que os terão uma produtividade maior, pois, como já
recicladores não fiquem ociosos, e nem rápi- comentamos, esta depende de um grande nú-

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mero de fatores e muitas vezes a questão da expressivos e qualquer defeito ou estrago nas
esteira, da mesa ou da bancada é irrelevante. máquinas acaba gerando um gasto que muitas
vezes os recicladores não estão dispostos a pa-
A utilização das esteiras parece que torna o gar, ficando a possibilidade da máquina estar
galpão mais limpo e organizado. São desne- desativada. O ideal é sempre ter duas esteiras,
cessárias em galpões que trabalham com car- caso uma estrague. A manutenção e revisão
rinheiros, pois esses já fazem o processo de deve ser periódica.
seleção na rua.
Outras vezes, alguns equipamentos exigem
Os equipamentos e maquinários são impor- uma certa prática e habilidade que só aconte-
tantes conquistas para as cooperativas. Utili- ce com o decorrer do tempo, e os recicladores
zá-los adequadamente e realizar sua manu- não estão dispostos a arcar com estas baixas
tenção permanente é fundamental para os de produtividade, preferindo voltar aos siste-
ganhos. Assim, também deve-se pensar que mas anterior e manual. Esse fato foi observa-
uma cooperativa-associação em seus primei- do em alguns galpões.
ros tempos talvez não obtenha ganhos tão

Implicacoes do uso das esteiras


QUANTO AO DESCARREGAMENTO DO MATERIAL

Com desnível:

Área para depositar o material numa parte por gravidade através de silo em forma de
superior ao nível do galpão; geralmente apro- funil e com o auxílio de uma pessoa que irá
veita-se um desnível do terreno. A planta do acomodar o material até a entrada da esteira.
galpão ficará escalonada e o material desce

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Sem desnível:

Quando não houver declividade do ter- necessário elevá-lo até a altura da estei-
reno, o material provavelmente será colo- ra, o que poderá ser feito com o auxílio de
cado no mesmo nível do galpão e se será uma outra pequena esteira transportadora.

Outras considerações:

Na utilização da esteira, existe a necessida- a entrada da esteira. Esse fato faz com que
de de uma ou duas pessoas irem abrindo as a produtividade decresça, pois retira-se da
sacolas para fazer a triagem, além de uma esteira três ou quatro pessoas que poderiam
pessoa que controle a velocidade e que acio- estar fazendo a separação, para um trabalho
ne a esteira, que pode ser um dos que fazem que, em comparação ao sistema gaiola-me-
a abertura das sacolas. Outro problema que sa, apresenta desvantagem. Ainda devemos
a esteira apresenta é quando não tem um considerar a perda de muito material, pois
funil de recolhimento do material (com des- as sacolas que estão embaixo do monte
nível), ou seja, o material é depositado no permanecem muito tempo fechadas, oca-
chão. Então, é necessário deslocar de três a sionando o apodrecimento e muitas vezes
quatro pessoas para empurrar o material até inviabilizando a separação desse material.

Exemplo do Galpão Sepé Tiaraju, CEAR - Centro de estudos ambientais e reciclagem

Há outra possibilidade de descarrega- colocar o material diretamente no chão,


mento que podemos observar no Galpão mas representa uma alternativa para situa-
Sepé Tiaraju, da Cooperativa de Educação ções em que não há declividade no terreno.
Ambiental e Reciclagem, em Porto Ale-
gre. Trata-se da construção de uma espé- Sem a inclinação, o material novo pode
cie de gaiola suspensa, de grande volume, misturar-se com o antigo, fazendo com
com fundo rampeado e duas aberturas. que alguns sacos de material permaneçam
por muito tempo estocados. Além disso,
Por uma delas, o caminhão faz a descarga, o trabalho fica mais pesado e ineficiente.
acumulando o material novo na parte supe- Sem o nivelamento desde a área de depó-
rior do espaço. Pela outra, na parte mais bai- sito até esteira, o desgaste físico dos tra-
xa da rampa, o material mais antigo é retira- balhadores é ainda maior, principalmente
do e colocado em uma mesa contígua, que ao fazer o movimento de rasgo dos sacos,
está em nível com a abertura e com a esteira. determinando, entre outros danos possí-
Essa opção é um pouco mais onerosa que veis, as lesões por esforço repetitivo (L.E.R.).

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No caso do Sepé, duas ou três pessoas tra- que não impede, por exemplo, o uso de bar-
balham dentro da gaiola, empurrando o lixo rotes e caibros de eucalipto. Se bem executa-
para a mesa, onde outros trabalhadores ras- da, a estrutura de madeira pode ter desem-
gam os sacos e alimentam a esteira. Neste penho tão satisfatório quanto a metálica.
setor, há mais outro trabalhador que faz a
organização e a limpeza do espaço. Com No Sepé, a gaiola, que é metálica, está cons-
este sistema, o serviço, segundo os trabalha- truída sobre pés também metálicos, apoiados
dores, rende mais e é menos desgastante. diretamente no contrapiso do galpão. Trata-
se de uma estrutura cara que, todavia, foi
O material de revestimento dessa gaiola doada pelo mesmo patrocinador da esteira.
pode ser feito de tela metálica, com fundo
em chapa metálica, para facilitar a limpeza O inconveniente da solução da gaiola sus-
e o deslize do material depositado quando pensa é a dificuldade de limpeza e manu-
empurrado ou puxado. Também podem ser tenção debaixo da estrutura. Sugerimos
utilizadas chapas de madeira lisas e imper- como alternativa que as placas de fundo,
meáveis. O importante, nesse caso, é a sus- metálicas ou de madeira, sejam remo-
tentação destas estruturas suspensas que víveis com certa familiaridade, sem des-
devem suportar o volume total de material cumprir o objetivo primeiro de seu papel.
mais a presença de alguns trabalhadores, o

Foto de Camila Domingues

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Gaiolas
A gaiola é um dos elementos vitais ao funcio-
namento de um galpão. Nela é depositado
quase todo material que chega para ser tria-
do. A capacidade e o formato desse equi-
pamento são dados importantíssimos para o
bom funcionamento da gaiola, assim como
para a agilidade da produção. A gaiola deve
estar sempre no interior do galpão, nunca na
parte externa, e devemos, sobretudo, prote-
gê-la o máximo possível do sol e da chuva.
A gaiola e seus elementos

A forma da gaiola
Deve-se ter atenção especial com o formato prefeitura. A tela da gaiola, do lado de dentro
da gaiola, pois é fundamental no desempe- do galpão, deve ir até o telhado para impedir
nho da produção. Uma forma inadequada que as sacolas, ao serem jogadas do cami-
pode fazer com que as sacolas se acumulem, nhão, acabem caindo dentro do galpão, pro-
dificultando o fluxo de retirada, obrigando o vocando acidentes.
reciclador a puxá-las com força, muitas vezes
arrebentando-as. A gaiola também não deve Os exemplos abaixo mostram três formatos
ser profunda demais, pois fica difícil pegar as diferentes de gaiolas para um mesmo vo-
sacolas. Todavia, deve ter um volume suficien- lume, bem como o desempenho esperado
te para receber o material dos caminhões da para cada caso.

Retangular Funil Funil invertido


A gaiola de formato retan- A gaiola em formato de funil, A gaiola em forma de funil
gular (regular) parece ser a mais larga em cima e menor invertido não é apropriada,
solução mais satisfatória, se na parte inferior, oferece o pois muitas sacolas acu-
não apresentar uma profun- risco de as sacolas ficarem mulam-se na base, e as do
didade muito grande, que trancadas em determinados fundo acabam não sendo re-
acabe dificultando a retirada pontos, impedindo o desliza- colhidas, ficando por muito
das sacolas. mento do material. tempo dentro das gaiolas.

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A capacidade da gaiola
Não se pode dimensionar a capacidade da O volume da gaiola depende
gaiola apenas pelo volume de material que
os recicladores conseguem triar. O tamanho do material fornecido pela prefeitura;
da gaiola depende do material fornecido do número de trabalhadores;
pela prefeitura. da agilidade dos trabalhadores;
dos períodos do ano, favoráveis e
O volume da coleta seletiva varia conforme desfavoráveis;
períodos do ano, por isso é difícil dimensio- das políticas educacionais de recicla-
nar com certa precisão o que seria o volume gem;
ideal para um galpão. Por exemplo, as políti- dos turnos de trabalho;
cas educacionais da reciclagem, contribuem da disposição das mesas ou utilização
para o aumento do material recebido, assim de esteiras mecânicas.
como as datas comemorativas (Natal, Pás-
coa, Dia das Mães etc.).
material, mesmo que a gaiola não compor-
Em outras palavras, a gaiola é o elemento do te. Os recicladores partem de certo temor -
galpão que melhor expressa o conflito entre muitas vezes até real - de que amanhã pode
o trabalho dos recicladores e a visão da pre- faltar material para triar. Preferem receber
feitura, rendimento dos recicladores e mate- e colocar o material mesmo fora da gaiola,
rial fornecido. É o elemento que intermedeia expondo à chuva e ao sol, apodrecendo e in-
essas duas visões de mundo da reciclagem, viabilizando muitas vezes sua separação.
de dentro para fora e de fora para dentro do
galpão. Uma vez dentro do galpão, o material repre-
senta dinheiro em potencial, mas, para isso,
Os galpões sempre querem receber mais esse material deve ser rapidamente triado.

Calculando o tamanho da gaiola

O cálculo das dimensões da gaiola é feito pela relação:

comprimento x altura x profundidade


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A gaiola também pode ser vista como parte pão (zona de triagem). E a dimensão dessa
de um sistema de vedação, ou seja, ela é o fachada, o comprimento da gaiola é calcula-
equivalente a uma parede de fechamento do da a partir do número de mesas ou bancada
galpão. Assim, o comprimento da gaiola tem (ver capítulo mesas, módulo).
a mesma medida da maior fachada do gal-

Comprimento
O primeiro passo é estabelecer o compri- As mesas, de certa forma, aqui também de-
mento da gaiola. Por exemplo, como esse terminam a modulação e o vão entre pilares.
manual sugere, mesas com quatro ou seis Adotamos como referência, para facilitar,
trabalhadores, a extensão da gaiola é fruto depois de vivenciarmos vários galpões, o
do cálculo dessas mesas e das bombonas módulo de 7x7 metros, fruto da relação da
que estão ao seu redor. Também nesse cál- estrutura do galpão e das mesas de trabalho.
culo deve ser considerado o número máximo
de trabalhadores nas mesas (sugerimos no
máximo 24 ou 28 associados), equivalente a
seis ou sete mesas.

Exemplos de comprimentos

O comprimento da gaiola pode ser múltiplo de Uma gaiola de 28m de comprimento (Galpão
sete metros, assim teremos, por exemplo: de Médio Porte);
Uma gaiola de 21m de comprimento (Galpão Uma gaiola de 35m de comprimento (Galpão
de Pequeno Porte); de Grande Porte).

Exemplo de comprimento modulado de 7 em 7 metros

Profundidade
Uma vez estabelecido o comprimento da de quantidade de material se não há reci-
gaiola, faz-se uma estimativa do volume de cladores no galpão para separá-lo.
material proveniente da coleta, o que aju-
dará a determinar a altura e profundidade Assim, deve-se entender que a relação de
da gaiola. Entretanto, consideramos muito produção de um galpão é um fino ajuste
complexo esse cálculo para os recicladores, entre número de recicladores, volume de
porque também não adianta ter uma gran- material, dimensões do galpão, da gaiola e

50
das mesas de trabalho. O que vamos fazer no alcance do braço para a retirada da sacola
aqui é propor medidas de altura e profun- do fundo da gaiola, ou com auxílio de um pe-
didade que facilitem a vida do reciclador e queno puxador. E, assim, evitando medidas
suportem o recebimento de um volume ra- muito maiores que dificultem a retirada das
zoável de material. Sugerimos uma medida sacolas. Achamos aconselhável a profundi-
média de 1,50m para profundidade, baseada dade não exceder dois metros.

Altura
Para a altura da gaiola, sugerimos uma me- aumento supérfluo na altura do galpão. A
dida máxima de 3,50m. A gaiola constrói-se, medida de 3,50 m está relacionada com a
mais ou menos, a 90cm acima do chão (al- altura do caminhão, e com a possibilidade
tura que se inclui nos 3,50m). Assim, a altu- de se depositar um volume razoável de ma-
ra efetiva de armazenagem da gaiola é de terial que possa ser colocado na gaiola.
2,60m. Medidas mais altas implicam em um

Medidas de referência

Profundidade: 1,50m a 2m Comprimento: conforme maior


Altura máxima: 2,60m dimensão do galpão, sugerimos sempre
Altura da gaiola a partir do chão: 0,90m múltiplo de 7m.

Volume da gaiola

O volume de material que uma gaiola pode V = 819m3


conter será dado pela relação: Galpão de Médio Porte: 28 m x 2,60 x 1,50.
V = Comprimento x Altura x Profundidade. V = 1092m3
Exemplo, para um: Galpão de Grande Porte: 35 m x 2,60 x 1,50.
Galpão de Pequeno Porte: 21 m x 2,60 x 1,50. V = 1365m3

Altura da entrada da gaiola


Chamamos entrada da gaiola, a abertura
ao longo da extensão do galpão, por onde
as sacolas, que são retiradas do caminhão,
são colocadas na gaiola. Uma medida razoá-
vel para a altura é de 1,20m, começando a
3,50m acima do nível do chão.

OBS: Consideramos a profundidade da gaiola em 1,50 m.; por exemplo: se o Galpão ne-
cessitar uma gaiola com maior volume, o mais prático, nesse caso, é aumentar a profundi-
dade da gaiola para 2,00 m, em vez de aumentar a altura da gaiola e, consequentemente, a
altura do galpão.

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Altura da saída da gaiola
É o rasgo que vai de ponta a ponta da gaiola e
que permite puxar as sacolas para as mesas.
A parte de baixo da boca da gaiola depende
da altura das mesas, que nunca deverão ser
mais altas, nem mais baixas, para não dificul-
tar a retirada dos sacos. A altura da boca da
gaiola é a medida que vai da parte superior
da mesa (ou da base da gaiola), onde estão os
sacos até a parte superior da boca. Podemos
estabelecer a altura média de 90cm.

Deve-se evitar uma altura excessiva da boca


de saída da gaiola para que as sacolas não
caiam para fora desta.

Medidas de referência

Altura da entrada da gaiola: 1,20m Altura da saída da gaiola: 90cm

Estrutura da gaiola
A estrutura da gaiola pode ser em madeira ter trabalhado na construção civil e em mar-
ou metálica (aço). Sugerimos aqui a utiliza- cenaria, além de ser de uma construção às
ção de madeira como material para a estru- vezes mais rápida do que a estrutura metáli-
tura, pois muitos recicladores costumam já ca. Tudo dependerá de quem irá construir o

52
galpão e a gaiola, se a prefeitura ou os coo-
perados. A vantagem da estrutura metálica é
que ela é menor e atrapalha menos o desli-
zamento das sacolas na gaiola.

Como exemplo, propomos a utilização de


caibros de 8x16cm e 8x8cm, 5x7cm ou medi-
das aproximadas. O eucalipto, na região sul,
é, atualmente, a madeira mais econômica.

Os pilaretes principais da estrutura da gaiola


devem estar fora da área da mesa a fim de
não atrapalhar a saída do material. O ritmo
entre as mesas é marcado por esses pila-
retes distanciados de 3,5m em 3,5m. Já os
pilaretes secundários, que fazem a base da
gaiola no chão, aparecem de 1,75m a 1,75m.
Uma ou duas vigas intermediárias ao longo
A amarração da estrutura da gaiola - a viga da altura devem ser também passadas de
- deve ser feita na parte superior, conforme ponta a ponta, para ajudar a estruturar a
o material utilizado, passando de ponta a gaiola. E, finalmente, a viga de baixo deve
ponta e amarrando-se transversalmente na passar por baixo da boca da gaiola, para que
parede de alvenaria ou madeira do fundo da assim o reciclador possa puxar as sacolas
gaiola. sem o impedimento da viga.

A tela vai fixada por dentro da


gaiola, para evitar que as sacolas
tranquem na estrutura

O material de vedacao da gaiola


Abaixo sugerimos alguns tipos de telas e As telas peneiras são uma ótima opção: mais
chapas para a vedação da gaiola. resistentes e menos flexíveis, permitem uma
boa visualização do material, e, dependendo
A tela de arame galvanizado é uma tela me- da abertura da malha, pode-se acomodar as
tálica muito usada em galinheiros e cercas, sacolas dentro da gaiola.
econômicas e de rápida colocação, mas com
frequência se dilatam, formando bolsões Também podem ser utilizadas como veda-
que impedem o deslizamento das sacolas. ção as chapas metálicas expandidas, mais

53
resistentes e menos flexíveis, além de dis-
porem de diversos modelos. Deve-se procu-
rar sempre telas que tenham uma abertura
maior da malha, permitindo, assim, visuali-
zar o máximo possível as sacolas na gaiola.

Outra possibilidade são as chapas perfura-


das, mais resistentes, mas geralmente di-
ficultam muito a visualização das sacolas,
além de serem mais caras.
Chapa perfurada

Chapa perfurada Chapa metálica expandida

Tela de arame galvanizado Tela peneira

Tela peneira Tela Ottis

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A parede do fundo da gaiola
Deve-se procurar a utilização de um mate-
rial resistente, seguro, de superfície lisa e
impermeável, de fácil limpeza, permitindo
que as sacolas desçam sem trancar. Sugeri-
mos paredes de alvenaria com revestimento
cerâmico, pois têm durabilidade maior. Se o
galpão for de madeira, sugerimos um trata-
mento contra água com verniz náutico, apli-
cado sobre a parede de madeira da parte de
trás da gaiola. A ideia é que se possa lavar
essa parede, tal como a base da gaiola. Tam-
bém pode-se pensar em outros materiais
para revestir a parede de trás – quando em
madeira – como linóleos e tecidos plásticos
que possam ser colados à superfície de ma-
deira.

A base da gaiola
A base da gaiola pode ser de duas formas. Na a elevação do terreno pelo lado de fora ou
primeira, a gaiola tem a estrutura indepen- sendo um aterramento somente para a base.
dente do galpão e é considerada como um Essa segunda forma é mais higiênica, porque
objeto colocado no interior do galpão (figu- elimina o espaço de baixo da gaiola que nor-
ra 1). Na segunda, a base da gaiola pode ser malmente acumula sujeira, além de propor-
feita por um aterramento, acompanhando cionar uma economia de custos da estrutura.

Gaiola com base independente Gaiola que aproveita o desnível do galpão

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A base da gaiola deve ser lisa, permitindo inclinação em direção à mesa de triagem, a
que as sacolas deslizem. Quando a gaiola for fim de facilitar o deslizamento das sacolas
independente, a base pode ser de madeira quando puxadas, e que apresente pequenos
aplainada (desde que tratada contra água), orifícios, para que o chorume escorra sem
de fórmica ou uma chapa metálica perfu- apodrecer a base.
rada. É interessante que a base tenha uma

Base com madeira aplainada Base com chapa metálica

No caso da gaiola ser independente (elevada pelas irregularidades da tela.


do chão), é importante que a base, além de
lisa, contenha buracos, para que os restos de Quando a gaiola tiver sua base assentada so-
líquido das sacolas (leite, óleo, refrigerantes, bre o desnível do galpão, é aconselhável que
água), o chorume, possa escorrer para a par- seja revestida de material cerâmico (azule-
te de baixo da gaiola, evitando a formação jo), ou cimento alisado, assim como a pe-
de poças. Não aconselhamos colocar tela quena parede vertical abaixo da gaiola, para
metálica na parte de baixo, pois, com fre- que o chorume não impregne o concreto e a
quência, as sacolas acabam sendo rasgadas alvenaria.

Prevencao de acidentes nas gaiolas


Atenção: alguns cuidados especiais devem
ser tomados para evitar acidentes dentro
das gaiolas.

Entre eles, ressalta-se a importância de não


subir na montanha de sacolas dentro da
gaiola para esparramar as sacolas ali depo-
sitadas – dessa forma, evita-se o risco de
cortar os pés ou afundar uma perna e fazer
algum corte em uma lata ou vidro.

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Como depositar o material na gaiola
Constatamos que a lógica de preenchimento Assim, todos poderão compreender como
da gaiola pelos caminhões da prefeitura não se dá a lógica de cada galpão, no sentido de
corresponde a uma lógica produtiva dos re- colaborarem no trabalho dos recicladores.
cicladores do galpão.

Os funcionários da prefeitura tendem a des-


Há em muitos
pejar o lixo na gaiola de uma maneira contí- galpões
nua e uniforme, ao longo da gaiola. O modo
de preenchimento mais produtivo é, en- uma submissão dos
tretanto, por setores. Uma conversa prévia coordenadores dos
entre os coordenadores do galpão e o res-
ponsável pelo despejo do material sempre é galpões ao pessoal do
conveniente para rentabilizar o trabalho. As
coordenações dirão para o pessoal respon-
caminhão. Os recicladores
sável pela descarga as melhores partes da nunca reclamam, como
gaiola para colocarem o material.
se o pessoal do caminhão
Caminhões estivesse...
compactadores de lixo Por exemplo, caminhões compactadores
são um problema para de lixo são um problema para os galpões,
pois prensam as sacolas e estas, depois, não
os galpões, pois prensam podem ser jogadas nas gaiolas, porque es-
as sacolas e estas, depois, tufam e podem arrebentar a gaiola. Assim,
os funcionários, mal orientados, acabam co-
não podem ser jogadas nas locando as sacolas fora do galpão, no chão,
e depois os recicladores têm que levantar
gaiolas, porque estufam e e carregar os sacos até em cima da gaiola,
podem arrebentar a gaiola.” mediante escadas, um trabalho absurdo e
desumano.
Observou-se em muitos galpões uma sub-
missão dos coordenadores dos galpões ao Tudo isso porque os funcionários não foram
pessoal do caminhão. Os recicladores nunca capacitados para enfrentar esse simples pro-
reclamam, como se o pessoal do caminhão blema.
estivesse fazendo um favor a eles quando,
na realidade, são eles que fazem um favor
a sociedade. [...] fazendo um favor
Acreditamos que na mesma intensidade em
a eles, quando, na
que se educam os recicladores, deveria ha- realidade, são eles
ver a capacitação dos funcionários dos cami-
nhões, que levam o material para os galpões, que fazem um favor a
assim como também dos funcionários do sociedade.”
departamento da coleta seletiva. Esse diálo-
go poderia favorecer o trabalho de ambas as
partes.

57
Como e quando fazer a limpeza
e a manutencao na gaiola
A limpeza das gaiolas deve ser feita sem-
pre que a gaiola estiver vazia, o que pode
ocorrer diariamente ou semanalmente.

Mesmo que não esteja completamente


vazia, restando alguns sacos e sacolas,
deve-se deslocá-los para que se faça
a limpeza com vassouras e escovas e,
posteriormente a lavagem, preferencial-
mente com uma mangueira de jato for-
te, para remover os resíduos aderidos à
gaiola.

Talvez a parte mais crítica, em termos de


sujeira e odor, seja a parte debaixo da
gaiola, que fica embaixo da base da gaio-
la, o espaço entre o piso e a gaiola pro-
priamente dito, onde se acumula restos
de lixo e chorume (líquido que escorre
de garrafas, caixas e latas). Esse espaço
deve ser lavado diariamente, observan-
do para que não fiquem poças de água
embaixo da gaiola.

Quando a base da gaiola é elevada do


chão por aterramento, conforme expli- somente a base – o chão – da gaiola, que
cado anteriormente, consegue-se elimi- deve ser revestido com material cerâmi-
nar a parte de baixo da gaiola, ficando co (azulejo ou piso cerâmico).

Para facilitar a lavagem da gaiola, é im-


portante a colocação de pontos de água
em locais próximos à gaiola, a fim de co-
nectar as mangueiras para realizar a lim-
peza da área.

Deve-se também colocar ralos sifonados


ou grelha no chão para coletar a água na
linha divisória das gaiolas e da bancada,
assim como fazer o caimento do piso. Na
parte de armazenagem também deve
ser feita lavagem de tempos em tempos,
sugere-se que o melhor momento seja
no mesmo dia e logo após a venda do
material. (Ver capítulo gestão/limpeza)

58
Rejeitos e baias externos
No exterior do galpão, existem outras uma das possibilidades é colocá-lo abaixo
construções para abrigar e armazenar os do nível do chão do galpão para facilitar o
materiais que dentro do galpão não são trabalho do bomboneiro ao erguer a bom-
possíveis prensar como: o espaço para o bona para descarregar no container, nor-
rejeito em container, as baias destinadas malmente a diferença de nível é de 1,50 m.
ao vidro, sucatas, latas, isopor, garrafas,
potes, enfim, toda uma variedade de ma- Em dias de chuva ou no final da jornada
teriais que são vendidos sem serem en- de trabalho deve se cobrir o container de
fardados. rejeito com uma lona.

Os espaços de armazenagem externos ao


galpão, quando necessários, além de se- O container deve estar,
rem cobertos, necessitam de um piso para
que o chorume não entre no solo. Sugere- preferencialmente, na
se a criação de baias destinadas cada uma mesma faixa de circulação
a seu respectivo material. Devemos evitar a
colocação de baias ou boxes externos sem do bomboneiro, na mesma
telhado, especialmente para garrafas e la-
tas, pois se tornam espaços insalubres su-
altura do galpão e ao final
jeitos a acumular água parada. deste corredor, a fim de que
o bomboneiro não percorra
Os espaços de grandes distâncias.
armazenagem
externos ao galpão, quando Para os galpões que não apresentam des-
nível, isso pode ser um problema, pois os
necessários, além de serem containeres de rejeito são normalmente
cobertos, precisam de um muito altos fazendo com que o bombo-
neiro tenha que erguer a bombona acima
piso para que o chorume não de sua cabeça, para despejar o material.
entre no solo. Sugere-se a Uma das alternativas é construir uma pe-
quena rampa até a borda do container.
criação de baias destinadas
A localização do container deve, prefe-
cada uma a seu respectivo rencialmente, estar na mesma faixa de
material.” circulação do bomboneiro, na mesma al-
tura do galpão e ao final deste corredor,
com o objetivo de fazer com que o bom-
O container do rejeito (onde é colocado boneiro não percorra grandes distân-
todo o material que não é aproveitado na cias. Se não for possível que o container
reciclagem) deve estar no espaço externo, esteja em um nível mais baixo que o do
e com fácil acesso ao caminhão da prefei- chão, é sugerível que se faça uma peque-
tura. O container deve observar a altura do na rampa para facilitar o movimento do
bomboneiro, e o nível onde está localizado; bomboneiro.

59
Depósitos cobertos com rampa
para acesso do bomboneiro

Depósitos cobertos com nível


abaixo do piso

60
Onde construir
O terreno

A
escolha da área onde será cons- rem aterrados. Por outro lado, se a associação
truido o galpão é a primeira de- ocupar um galpão industrial abandonado,
cisão importante a ser tomada fica a pergunta se haverá espaço suficiente
pela associação de trabalhadores. para organização das atividades de triagem
Muitas vezes, a associação já está e as demais como refeitórios, banheiros, ad-
ocupando algum lugar, como um ministração etc. Apesar da ocupação de pré-
prédio abandonado ou um terreno de pro- dios abandonados ser uma alternativa, nem
priedade desconhecida, por exemplo. sempre esta solução é mais econômica que a
construção de um novo prédio.
Os trabalhadores precisarão de uma área am-
pla, segura e preferencialmente plana para a
instalação do galpão, e deverão exigir o forne- Será preciso uma
cimento permanente de material por parte
da prefeitura, se o galpão estabelecer parce- área ampla, segura
ria com esta. e preferencialmente
A segunda leva de decisões importantes, por plana para a instalação do
parte dos associados, diz respeito às atividades
que se desenvolverão nos galpões, como: que
galpão, e deverão exigir o
tipo de resíduos sólidos serão recebidos? O fornecimento permanente
galpão separará todo tipo de material? Qual o
tamanho do refeitório, dos vestiários e dos sa-
de material pela prefeitura.”
nitários do galpão? Como será a divisão de en-
cargos e de benefícios entre os trabalhadores?
Lugares arborizados são preferíveis por diver-
Definidos a área de construção e o tipo de sos motivos, entre eles o isolamento acústico,
atividade, os associados deverão solicitar a a qualificação paisagística, a amenização do
Prefeitura ou a seus apoiadores um terreno calor e a proteção contra o vento.
capaz de abrigar no mínimo um galpão de
400m² a 600m², salvo exceções do tipo bai- Em todas essas possibilidades de se implan-
xios de viadutos ou prédios abandonados, ou tar um galpão de triagem, é aconselhável a
mesmo quando não houver melhor disponi- participação de um profissional (arquiteto e
bilidade de terrenos. ou engenheiro) que possa auxiliar os associa-
dos na hora da escolha do terreno e durante a
É preciso lembrar que terrenos sob viadutos realização da obra.
provavelmente terão sua expansão restrita e
apresentarão problemas de regularização pe- Sugerimos que os galpões de triagem sejam
rante a lei. construídos preferencialmente em terrenos
planos, pois a construção se torna mais rápida
Terrenos alagadiços devem ser evitados ao e fácil, os ambientes podem ser melhor ven-
máximo, podendo ser aceitos no caso de se- tilados, a acessibilidade dos caminhões para

61
carga e descarga, bem como o deslocamento Outro fator determinante na escolha do terre-
dos trabalhadores ficam facilitados, evitando no para implantação é a acessibilidade do ca-
subidas e descidas constantes. minhão para despejar o material nas gaiolas,
ou seja, por onde entrará o caminhão, como
Quando não houver a possibilidade dos asso- fará a manobra e por onde sairá.
ciados escolherem um terreno plano, o proje-
to deve se adaptar às declividades do terreno.

Observação

Por exemplo, durante a construção dos primei- plantados em terrenos planos mostraram que
ros galpões de triagem, em Porto Alegre, os a construção é mais rápida, a ventilação é me-
técnicos acreditaram que os galpões localizados lhor e a acessibilidade do caminhão para mano-
em desnível eram mais eficientes. Para eles, o bras ficava facilitada, o que não acontecia nos
desnível favorecia a descarga do material dos galpões em declive ou encosta. E, sobretudo, o
caminhões dentro da gaiola, e o material des- deslocamento dos trabalhadores e dos bombo-
ceria por gravidade ao longo de todas as etapas neiros é mais cômodo, não precisando subir e
da produção. Entretanto, o cotidiano mostrou descer a todo instante carregando bombonas e
que nem sempre isso é verdadeiro; galpões im- arrastando bags.

Onde colocar o galpao


A seguir, são apresentadas três possibilida- Rio Grande do Sul: a reutilização de baixios
des frequentes, três tipos de ocupação que de viadutos, de prédios e implantação em
pudemos abservar em algumas cidades do terrenos vazios.

A reutilização de Baixios de Viadutos


Algumas associações começam a separar o Os baixios dos viadutos costumam apre-
material embaixo de viadutos e ali perma- sentar alguns inconvenientes como: pou-
necem até conseguirem um outro espaço. ca iluminação e espaço insuficiente para
ampliações futuras como construção de
Embora inusitada, essa situação é bas- refeitório, vestiários, sanitários etc. Além
tante comum nas grandes cidades. Mui- disso, ruídos de trânsito muitas vezes im-
tas dessas associações são constituídas possibilitam as conversas e reuniões e
por moradores de rua e carrinheiros que aumentam a fadiga dos associados, po-
encontram nesses espaços abandonados dendo diminuir a produtividade.
um lugar protegido das intempéries para
realizar o seu trabalho. Não obstante as dificuldades, é possível
fazer triagem embaixo desses viadutos,
A substituição desses espaços ociosos preferencialmente com materiais como
de abandono por uma nova perspectiva papéis, papelão, alumínio, ou outros que
social é fundamental para recuperar a também não demandem muito espaço
cidade. Infelizmente, nem sempre é pos- para armazenagem.
sível adaptar as condições físicas de um
viaduto às necessidades de um galpão de Nesses ambientes, nem sempre a tria-
triagem. Porém, quando isso se viabiliza, gem segue um trajeto organizado e li-
resulta em um grande ganho para a ci- near, devido às dimensões do espaço.
dade. Também deve-se pensar na acessibilidade

62
Galpão Profetas da Ecologia, sob os viadutos da Avenida Sertório, em Porto Alegre. Foto do autor

dos caminhões, tanto no descarrega- deverá ser negociada com a prefeitura.


mento como no carregamento de mate- Outro fator que devemos ter em mente
rial. Outra consideração importante é a é o fechamento das laterais para a defi-
altura do viaduto, que deve permitir que nição do espaço do galpão e de seu per-
caibam todos os equipamentos, como as tencimento. Questões como ventilação,
prensas, a esteira etc. iluminação, fluxo de materiais ou outros
aspectos podem apresentar inconve-
Talvez o maior problema desses galpões nientes, que devem ser relativizados em
seja a própria ocupação do local, que comparação a galpões novos.

A reutilização de prédios abandonados


Existem vários exemplos de associações ralmente estes prédios estão arruinados
que utilizaram prédios abandonados e possuem péssimas condições de habi-
para o início de suas atividades. A ocu- tabilidade.
pação desses prédios, assim como a dos
viadutos, representa uma resposta rápi- As condições estruturais do prédio devem
da ao problema do espaço coletivo para ser avaliadas por um arquiteto e ou enge-
triagem. No entanto, nem sempre esta nheiro que assegure que o prédio não ofe-
solução é adequada em médio prazo. Ge- rece riscos estruturais de desabamento.

63
Associação de Recicladores da Vila dos Papeleiros, AREVIPA. Porto Alegre. Foto do autor

A adaptação desses prédios às necessi- número suficiente, gaiola ou esteira cor-


dades básicas de um galpão pode não ser retamente posicionada, locais para ma-
economicamente vantajosa. nobras de veículos etc. Enfim, uma série
de variáveis que qualificam ou prejudi-
Essas edificações dispõem de uma área cam o espaço.
fixa, sem possibilidade de aumento, e
nem sempre apresentam uma forma Nessas situações - bem como em todas
regular como a de um galpão ou depó- as outras contidas neste Manual, é sem-
sito industrial. Às vezes estes espaços pre necessário solicitar o auxílio de um
estão repartidos por uma sucessão de arquiteto ou de outro profissional que
pequenas salas. Para a produção fluir, possa auxiliar na solução dos problemas
são necessários espaços amplos com de organização desses espaços de tra-
pavimentação adequada, aberturas em balho.

Terrenos vazios (públicos ou particulares)


A maioria dos galpões existentes foi cons- Estes terrenos variam em dimensão, loca-
truída em terrenos vazios, sejam eles lização urbana, topografia e condições cli-
através das associações de recicladores máticas. Estes aspectos serão abordados
ou das prefeituras. a seguir.

64
O galpao e a topografia do terreno
Durante a construção dos primeiros galpões implantados em terrenos planos mostraram
de triagem, em Porto Alegre, os técnicos que a construção é mais rápida, a ventilação
acreditaram que os galpões localizados em é melhor, e a acessibilidade do caminhão
desnível eram mais eficientes, pois favore- para manobras ficava facilitada, o que não
cia a descarga do material dos caminhões acontecia nos galpões em declive ou encos-
dentro da gaiola, e o material desceria por ta. E, sobretudo, o deslocamento dos traba-
gravidade ao longo de todas as etapas da lhadores e dos bomboneiros é mais cômoda,
produção. Entretanto, o cotidiano mostrou não precisando subir e descer a todo instan-
que nem sempre isso é verdadeiro; galpões te carregando bombonas e arrastando bags.

Terrenos planos
A construção tende a ser mais econômica, rápida e fácil.

Terrenos desnivelados
A construção tende a ser mais cara e difícil.

Para galpões construídos em terrenos com


desníveis, há a possibilidade de
aproveitar esse desnível na
contrução da gaiola.

65
Quanto a implantacao no terreno
Devemos considerar a forma mais fácil de colo- Sugerimos que, quando possível, o galpão deixe
car o galpão e seus anexos (refeitório, salas, ves- espaços suficientes nas laterais do terreno para
tiários etc.) dentro do terreno. A colocação deve que se possa ter o livre deslocamento dos cami-
estar associada à orientação solar e aos ventos nhões ou que permita construções de anexos.
dominantes e também à acessibilidade dos ca- Nesses espaços também podem ser plantadas
minhões que entregam e recolhem o material. árvores frutíferas, de modo a gerar zonas de des-
canso e sombreamento.
Dentre outras considerações complementares,
o galpão, como catalizador social, deve se abrir Também sugerimos, de antemão, que os outros
para a comunidade, ou seja, a parte comunitá- setores do galpão (cozinha, refeitório, salas, ves-
ria (refeitório, salas de aula, telecentro etc.) deve tiários, administração e centro cultural) locali-
estar voltada preferencialmente para a frente do zem-se à frente do galpão, e não nos fundos.
terreno, a fim de integrar-se à comunidade.
Isso dá mais visibilidade ao empreendimento,
Feitas essas definições iniciais, devemos pensar já que, à de parte todo o cuidado, o lixo sempre
onde serão colocados também o container de traz aparência de desordem. Colocado nos fun-
rejeitos e os telheiros para garrafas e sucatas. Os dos, torna-se menos incômodo para a aparên-
terrenos mais amplos facilitam a construção do cia do conjunto e a interface social do galpão se
galpão, seus anexos e acessos. Entretanto, terre- integra melhor com a rua. Por exemplo, podem
nos desse porte nem sempre estão disponíveis. acontecer festas, atividades educativas e cul-
Geralmente, os terrenos maiores estão afasta- turais sem que haja necessidade dos visitantes
dos das moradias dos trabalhores ou a área não passarem pelo galpão.
é abastecida com material suficiente para reci-
clagem. Nesses casos, muitas vezes, é preferível É também essencial prever a área de desloca-
optar por terrenos menores que se adaptem mento e os raios de giro necessários aos cami-
melhor às necessidades dos associados. nhões de carga e descarga.

Raio de giro do
caminhao

66
O galpao no terreno e sua relacao com
as intemperies
Na hora da escolha do terreno, é fundamental ter- de seus usuários. Abaixo, listamos uma série de
mos em mente alguns aspectos da natureza que itens que consideramos importantes de serem
influem diretamente sobre o edifício e o cotidiano levadas em conta na hora de projetar o galpão.

Observar

É indispensável observar, dentro do terreno, usuários da edificação.


onde nasce o sol e onde ele se põe. Assim,
será possível identificar as orientações das É igualmente importante identificar
fachadas norte, sul, leste e oeste. Essa ob- os ventos dominantes de inverno e verão
servação será essencial para o bem-estar dos no terreno.

Evitar

Procura-se evitar a construção do galpão em Outros locais a serem evitados são terrenos
terrenos alagadiços, devido a umidade prove- em área de risco, como encostas e barrancos,
niente do solo, bem como possíveis enchentes e outros locais propensos a acidentes causados
que possam ocorrer nesses locais. por intempéries ou outros fatores.

ventos predominantes na Região Sul


Ventos predominantes regiao Sul

VERÃO:
Sudeste (Vento Alísio)

INVERNO: Sudoeste (Minuano)

67
Trajetoria do sol no verao regiao Sul

Trajetoria do sol no inverno regiao Sul

68
Os tipos de galpoes
Apresentamos abaixo quatro tipos de gal- pões que apresentam na maioria das ve-
pões que foram encontrados em nossas zes uma série de equívocos construtivos
pesquisas na região sul do Brasil. Esse e até mesmo de segurança, muitas vezes
tópico tem por objetivo mostrar que não são um telheiro, ou uma ocupação de um
existem somente galpões que são cons- baixio de viaduto, mas devem ser con-
truídos pela prefeitura ou por órgãos siderados em sua importância social, e,
técnicos, mas também que esses outros mais do que isso, como podem ser rees-
tipos de galpão (informais) representam truturados, reformados, em alguns casos
um passo de crescimento da associação, a partir do existente .
ou mesmo a fundação da associação, no
qual os catadores saem da catação indivi- O tipo do galpão resulta da combinação entre
dual e passam para o coletivo, para uma seu aspecto interior e exterior. Inicialmente
organização autogestionável. São gal- podemos falar em 4 tipos mais frequentes:

Galpões de triagem em prédios pré-exis- Galpões construídos pelas prefeituras;


tentes;
Galpões espontâneos, ou seja, aqueles sem
Galpões de triagem em baixios de via- um projeto inicial e foram construídos, na
dutos; maioria das vezes, pelos próprios associados.

Essa classificação refere-se também às reciclagem é entender todo o complexo de


construções anexas. Entender um galpão de construções e seu espaço circundante.

Galpoes em predios preexistentes


No caso de galpões que funcionam em edi- único tipo, já que sua configuração varia
fícios já existentes, não se pode falar de um caso a caso.

Galpão da Associação de Reciclagem do Hospital São Pedro. Foto do autor

69
Galpoes em baixios de viadutos
Quando os galpões são instalados em baixios ção ficam moldadas em parte pelo próprio
de viadutos, sua aparência e sua configura- viaduto.

Baixios do Viaduto da Conceição, Porto Alegre. Foto do autor

Associação Catador Novo Cidadão - Baixios do Viaduto da Conceição, Porto Alegre. Foto do autor

Galpoes construidos pelas prefeituras


A maioria dos galpões construídos por dades da reciclagem. A aparência desses
técnicos de prefeituras e ou outros ór- galpões é como a mistura de um telheiro
gãos são uma cópia originada do antigo com um galpão industrial ou ginásio de
modelo de fábrica adaptado às necessi- futebol.

70
Infelizmente, muitas associações e prefeituras que riam das proporções de 1x1 até 3x2. Essas propor-
pretendem construir um galpão tomam como re- ções relacionam-se diretamente com as três zonas
ferência esse modelo, como se fosse o ideal. funcionais que aqui apresentamos como forma de
organizar a produção: triagem, prensagem e ar-
Galpões construídos pelas prefeituras apresentam mazenagem, bem como com a estrutura física da
formas predominantemente retangulares que va- edificação: pilares, paredes e vigas.

Galpão da Associação de Reciclagem Ecológica Rubem Berta - Vista externa. Porto Alegre. Foto do autor

Galpão da Associação de Reciclagem Ecológica Rubem Berta - Vista interna. Porto Alegre. Foto do autor

Nos galpões que as prefeituras constroem para as res, ignora as forças não objetivas, o cotidiano e as
associações, o processo de triagem está organiza- relações pessoais. Acreditamos que o convívio nos
do sob uma forma linear. diversos momentos dos trabalhadores são tão de-
terminantes para a produção quanto, por exem-
Todos esses galpões provêm de um tipo de galpão plo, a tecnologia da separação dos materiais.
de reciclagem, que não se sabe bem de onde saiu,
mas como já dissemos, são semelhantes a um tipo Estes galpões, sobretudo, negam a necessidade de
de galpão de fábrica, onde o que interessa é majo- espaços de convívio social – como cozinha, refeitó-
ritariamente a produção. Este modelo desconhece rio e vestiário, e outros espaços que promovam a
as subjetividades e os desejos de seus trabalhado- reciclagem da vida de seus associados. Na maioria

71
dos galpões, não há espaços para essas atividades 1,5 metros, e é vencida através de escadas.
e, quando há, são mal dimensionados.
O telhado costuma ter duas águas. Alguns galpões
Em muitos galpões visitados, encontramos o ab- apresentam essas duas águas em níveis distintos,
surdo do refeitório, os banheiros e a administração uma mais elevada que a outra, formando uma
dentro do próprio galpão, com suas portas volta- fresta para iluminação e ventilação (shed).
das para a zona de triagem. O ideal é que essas
partes estejam dissociadas do galpão, em um novo A estrutura geralmente é de concreto e as veda-
volume. Veja-se capítulo Refeitório, banheiros. ções, de tijolos à vista, e não chegam até o telhado.
Assim, restam aberturas para iluminação e ventila-
Normalmente, a altura destes galpões da prefei- ção, que muitas vezes não favorecem o trabalho
tura são exageradas e antieconômicas, variando dos recicladores, expondo-os às intempéries.
de 5,5m a 7m de altura. Apresentam um desnível
interno, sendo a parte mais alta correspondente à Uma característica destes galpões é a presença da
zona de triagem, e a parte mais baixa correspon- gaiola, geralmente internalizada em uma das fa-
dente à área de prensagem e armazenagem. A di- ces, sendo que o material é depositado pela parte
ferença entre estes dois níveis varia de um metro a superior da parede.

Associação de Catadoras de Matériais Recicláveis Santíssima Trindade. Porto Alegre. Foto do autor

Galpoes espontaneos
Esses galpões surgem da necessidade imediata, projetados por profissionais técnicos (enge-
dos recicladores, de uma edificação de baixo nheiros e arquitetos). Além disso, os ambientes
custo que eles geralmente construíram ou cons- destes galpões que estão apenas indiretamente
troem. São, geralmente, regulares, planos, e relacionadas à produção (refeitório, sanitários,
utilizam preferencialmente a madeira na estru- administração etc.) são dispostos de modo va-
tura, nos revestimentos e na cobertura, e não riável, dentro ou fora do galpão, e muitos nem
seguem necessariamente um modelo de plan- os têm. Eles, de alguma forma, representam o
ta-baixa, ao contrário do que ocorre nos galpões desamparo da prefeitura com a Associação.

72
Como construir
Estrutura
Os quatro tipos mais comuns de estruturas pré-fabricado, o galpão de estrutura metáli-
usualmente encontradas em galpões de re- ca, o galpão de madeira e o galpão de estru-
ciclagem são o galpão de concreto armado tura mista.

Galpao de concreto armado pre fabricado

estrutra de concreto pré-moldado

cobertura

viga

pilar

contra-piso de concreto
fundação

73
Este tipo de galpão é construído com peças de, durabilidade, economia e segurança con-
de concreto feitas antes da obra. Essas peças tra incêndios. Deve-se tomar cuidado para
devem, preferencialmente, ser encomenda- não se tornarem frios no inverno e demasia-
das de algum fabricante próximo e transpor- damente expostos à radiação solar direta no
tadas para o terreno no momento da obra. É verão [devido ao excesso de aberturas e de
preciso conversar com cada fabricante para altura]. Um argumento comum para o exces-
resolver questões de disponibilidade do ma- so de aberturas e de altura pode ser a neces-
terial e tamanho das peças (vigas, pilares). As sidade de ventilação higiênica. No entanto,
obras feitas em concreto pré-moldado ficam esse problema pode ser resolvido de outras
rapidamente prontas, possuem canteiro de formas, que não prejudiquem o conforto in-
obras mais limpo, há também pouco desper- terno: através de aberturas venezianadas,
dício de material, possuem maior estabilida- ventiladores, exaustores etc.

Galpao de estrutura metalica

Esse galpão é mais leve em relação aos de


concreto pré-fabricado. É possível construir
uma edificação de mesmo tamanho com vi-
gas e pilares de menores dimensões (ou em
menor número).

Como no exemplo anterior, será preciso con-


versar com cada fabricante para mais escla-
recimentos. Além disso, é interessante con-
sultar sites e catálogos dessas empresas, a
fim de escolher a solução mais adequada.

Galpao de madeira
Estruturas de madeira são mais adequadas galpões menores, mas sempre há maior risco
em galpões provisórios e edificações secun- de incêndio. Exceção feita a esse problema, a
dárias, como depósitos, estacionamentos ou madeira é um ótimo material estrutural.

74
Pode ser adquirida por um preço acessível, os galpões estão próximos a locais que ven-
como o eucalipto, seja na forma de troncos dam o material a baixo custo.
ou de tábuas e ripas. Se o eucalipto for tra-
tado, por exemplo por autoclave, (método Para a execução de um galpão em madeira,
que a CEEE emprega para os postes de ilu- é possível às vezes utilizar a mão de obra dos
minação pública) a madeira adquirirá gran- próprios recicladores, pois muitos tiveram
de resistência às intempéries. Além disso, é experiência na construção civil.
possível trabalhá-la com ferramentas básicas
(prego, martelo, serrote, furadeira etc.), que Porém, apresenta aspectos negativos como a
estão ao alcance fácil dos construtores. fácil deterioração quando exposta às intem-
péries, riscos de incêndio, ação de cupins,
As estruturas de madeira podem ser a opção mofo e aos agentes decompositores localiza-
quando não há muitos recursos, ou quando dos no próprio lixo.

Galpão da Ilha dos Marinheiros. Porto Alegre. Foto do autor

Galpao de estrutura mista

Há, ainda, a opção do uso de soluções es- ções, paredes e cobertura podem ser feitas
truturais mistas, tanto na estrutura principal de materiais diferentes. Nesse caso, o rela-
quanto nas ampliações. Exemplo: pilares e cionamento entre as peças deverá ser bem
vigas em concreto e a estrutura da cobertu- avaliado pelos construtores, de modo que o
ra em treliça metálica. Vigas, pilares, funda- resultado final seja satisfatório.

75
Modulacao
O módulo corresponde ao espaço suficiente
para a colocação de duas mesas, de quatro
ou seis pessoas, as respectivas bombonas/
bags, assim como a bombona de rejeito.
Também está incluído neste espaço a largura
suficiente para o deslocamento do bombo-
neiro, assim como a possibilidade de utiliza-
ção de mesas de quatro pessoas (2,75m de
comprimento) ou seis pessoas (3,60m de
comprimento).

A planta baixa modulada


A modulação da estrutura e do galpão é de Os formatos em planta dos galpões devem
extrema importância para a construção do estar aproximados na proporção de módu-
galpão, pois além da função estrutural, a dis- los de 3x3, 3x4, 4x4, 3x5, ou seja:, 21x21m,
tribuição dos pilares irá formar os espaços a 21x28m, 28x28m e assim sucessivamente.
serem utilizados em seus diversos usos.
A estrutura dos galpões apresenta um layout
A modulação aqui sugerida é a de 7x7m. ou de dois ritmos de estrutura: um longitudinal
8x8m. A título de exemplo, adotaremos o e outro transversal.
módulo de 7x7m, que julgamos aqui por vá-
rios estudos o mais propício.

Ao lado, apresentamos a planta baixa esque-


mática de um galpão que tem três módulos
num sentido e quatro no outro. Toda a es-
trutura (pilares) está submetida à adequa-
ção da organização dos espaços internos e
influencia diretamente no trabalho da tria-
gem. Por exemplo, um pilar localizado no
caminho do bomboneiro, um pilar dentro da
gaiola, ou próximo a uma mesa de triagem
só atrapalham.

O ritmo e a modulação dos elementos estru-


turais, dos pilares, têm grande importância
nesse aspecto e sempre estão em relação ao
formato em planta. Pilares muito próximos
um do outro (pequenos vãos) podem muitas
vezes atrapalhar o trabalho dos recicladores.

76
1. O eixo transversal respeita as três zonas 2. O eixo longitudinal depende da capacida-
funcionais: triagem, prensagem e armaze- de do galpão e do número de mesas. O mó-
nagem. A dimensão dos vãos deve estar em dulo deve conter dimensões adequadas para
relação direta com as atividades realizadas um trecho da gaiola, duas mesas, bombonas
nesses espaços. e o espaço para circulação do bomboneiro.

O vão estrutural encontrado na maioria dos mais difícil a adequação das mesas. Original-
galpões de Porto Alegre (5,40m ou 5,60m) mente, esse vão também era compatível com
tem se mostrado insuficiente. Esse vão foi certa quantidade de bombonas, diretamente
pensado em uma situação em que a triagem relacionadas com um número de tipos de ma-
era individual (várias pessoas em uma mes- teriais a serem reciclados. Atualmente, existe
ma bancada). Entretanto, em um segundo uma gama muito maior de materiais (em mé-
momento, surge a ideia da mesa ficando per- dia, dezesseis tipos diferentes), necessitando
pendicular à gaiola, em um trabalho mais mais bombonas e, consequentemente, mais es-
coletivo (quatro ou seis pessoas), tornando paço para elas.

Modulação vista em perspectiva

77
Areas
Poderíamos classificar os galpões, segundo suas áreas, em pequenos, médios e grandes.

Pequeno porte Médio porte Grande porte

Módulos 9 12 15

Tamanho dos módulos 7x7m 8x8m 7x7m 8x8m 7x7m 8x8m

Área 441m² 576m² 588m² 768m² 735m² 960m²

Recicladores 20 24 28 32 36 40

Mesas 5 6 7 8 9 10

Equipamentos

Prensas 2 3 4

Empilhadeiras 1 1 2

Balanças 1 1 1

Carrinhos 1 1 2

78
Galpao de pequeno porte
441m² 21m

Consideramos de pequeno porte zonas


um galpão que tenha nove módu-
los, numa proporção de 3x3, com
uma área que pode variar em fun-
ção desse módulo. Por exemplo, se
é de 7x7m, corresponde a uma área
triagem
de 441m², ou, sendo de 8x8m, cor-
21m
repondendo a 576m². Desse modo,
suas dimensões serão de 21 x21m
até 24m x 24m. prensagem 21-24m

alpão Esse galpão comporta de cinco a seis


galpão de pequeno porte
mesas, e podem trabalhar de vinte
a 24 recicladores, com folga. Deve-
se salientar que não faz sentido co-
armazenagem
módulo galpão
locar muitos trabalhadores, pois a
área correspondente da gaiola será 49m² 7m

pequena, e pode não haver material 21-24m


para ser trabalhado. Ou seja, é me- 7m

lhor repartir o pequeno lucro com 441m² 21m

576m²
poucos do que repartir24m com muitos,
sob risco de inviabilizar o negócio.
zonas

triage
21m
galpão de pequeno porte prens
módulo galpão módulo galpão
arma
49m² 7m
64m² 8m
24m
7m 8m
441m² 21m
576m² 24m
zonas

triagem
21m
24m
prensagem 21-24m

Equipamentos
módulo galpão
armazenagem
64m² 8m
O número de equipamentos adequados para o porte desse21-24m
galpão:
2 prensas
8m 1 Balança
1 Empilhadeira 576m² 24m 5 ou 6 mesas

24m 79
galpão

Galpao de medio porte


588m² 21m

Consideramos de médio porte um zonas


galpão que tenha doze módulos,
numa proporção de 4x3: quatro na
zona de triagem e oito nas zonas triagem
de armazenagem e prensagem. A
área
28mpode variar segundo o tama-
nho desse módulo. Por exemplo, se
é de 7x7m, corresponde a uma área prensagem 21-24m
de 588m², ou, sendo de 8x8m, cor-
galpão repondendo a 768m². O galpão terá
como dimensões de 21 a 24m por
28 a 32m. armazenagem
Esse galpão comporta de sete a oito galpão de médio porte
mesas, nas quais poderão trabalhar 28-32m
módulo galpão
de 28 a 32 recicladores, número já
bastante razoável.
768m² 24m 49m² 7m

Para uma associação ou cooperativa, 7m

trinta recicladores trabalhando nas 588m² 21m

zonas
mesas é um número mais fácil de ad-
ministrar em termos de autogestão.
triagem
28m
galpão
32mde médio porte
prensagem
módulo galpão módulo galpão
armazena
49m² 7m 64m² 8m
28-32m
7m 8m
588m² 21m
768m² 24m
zonas

triagem
28m
32m
prensagem 21-24m

módulo galpão
Equipamentos armazenagem
64m² 8m
28-32m

O número de equipamentos adequados para o porte desse galpão:


8m

768m² 24m

3 Prensas 1 Carrinho
1 Empilhadeira 7 a 8 Mesas
1 Balança
32m

80
o de grande porte
o galpão

7m

Galpao de grande porte


735m² 21m

Consideramos de grande porte um galpão zonas


que tenha quinze módulos, numa proporção
de 5x3: cinco na triagem, cinco na zona de
prensagem e cinco na zona de armazena- triagem
gem. A área35m
pode variar segundo o tamanho
desse módulo. Por exemplo, se é de 7x7m,
correspondendo a uma área de 735m², ou, prensagem 21-24m

o galpão sendo de 8x8m, correpondendo a 960m². O


galpão terá como dimensões de 35 a 40m
por 28 a 32m. armazenagem
8m

Esse galpão comporta de nove a dez mesas, 35-40m


nas quais poderão trabalhar de 36 a 40 asso-
ciados somente trabalhando nas mesas. 24m
960m²
Constatamos que esse tipo de galpão, além galpão de grande porte
de não ser econômico, é de difícil administra-
módulo galpão
ção. O maior problema é a autogestão de um
número tão grande de associados trabalhan- 49m² 7m
do no mesmo turno. A experiência dos gal-
40m

pões nos mostra que o limite tolerável para 7m


735m² 21m

associações cooperativas é de no máximo de zonas


28 trabalhadores nas mesas e mais bombo-
neiros, prenseiros e cozinheira, chegando a triagem
um limite aproximado de 35 associados. 35m
galpão de grande porte prensagem
módulo galpão módulo galpão
armazenag
49m² 7m 64m² 8m

7m 8m
735m² 21m
960m² 24m
zonas

triagem
35m
40m
prensagem 21-24m

módulo galpão

Equipamentos armazenagem
64m² 8m
35-40m
8m
O número de equipamentos adequados para o porte desse galpão:
960m² 24m

4 Prensas 2 Carrinhos
2 Empilhadeiras 9 a 10 Mesas
1 Balança 40m

81
Observacoes sobre as areas dos galpoes
A questão do porte do galpão, que aqui apre- Não se pode aumentar um galpão indefini-
sentamos para entender as dimensões dos gal- damente. Existe uma relação muito clara e
pões, deve ser antes de mais nada relativizada. objetiva entre o número de trabalhadores, o
volume de material recebido e triado, a área
Por exemplo, um galpão pode ser considera- e o formato da gaiola e, sobretudo, que a área
do de pequeno porte numa grande cidade, do galpão é o resultado desses elementos.
mas numa cidade pequena pode ser con-
siderado um galpão de grande porte, pois
dará conta, suficientemente, do lixo reciclá- A própria estrutura
vel. Consideramos que as classificações exis-
tentes dos galpões de reciclagem provenien-
das associações/
tes do PAC em 2008, são irrelevantes e não cooperativas não comporta
apontam uma objetividade, pelo contrário,
induzem a uma série de equívocos.
trabalhar com mais de 30
associados, simultaneamente,
Não só a dimensão do galpão define a enver-
gadura do porte, mas também o volume de talvez com 60 associados
material que é triado nesse galpão, assim como divididos em dois turnos.”
o volume de material que as prefeituras conse-
guem fornecer. Pode ser um galpão grande, mas
se tem pouco desempenho de triagem pelos as- O princípio dessas propostas em relação à
sociados ele será um galpão ocioso. área do galpão parte de uma vivência dentro
dos galpões e das relações humanas entre os
O maior galpão que conhecemos possui 1200m², trabalhadores.
e grande parte dessa área era destinada a arma-
zenagem dos fardos que eram vendidos mensal- Por um lado, o material fornecido pela prefei-
mente, e, mesmo assim, no final do mês, essa tura consome-se muito rapidamente quando
parte do galpão não conseguia nem chegar à me- há um grande número de trabalhadores, e,
tade da área que deveria ser ocupada. faltando material, os trabalhadores são obri-
gados a pararem o trabalho. Por outro lado,
A própria estrutura das associações/coope- por falta de pessoas, há um acúmulo de ma-
rativas não comporta trabalhar com mais de terial, o qual os trabalhadores não dão conta,
trinta associados, simultaneamente, talvez evidenciando a ineficiência do galpão. Esse
com sessenta associados divididos em dois equilíbrio é fundamental para a organização
turnos. Então, não adianta ter galpões com e o planejamento de um galpão e também da
áreas muito maiores que 500 a 600 m², qual- sua área.
quer excesso de área constituir-se-á em espa-
ço ocioso dentro do galpão, gastos em cons- Sugerimos que em vez de construir um grande
trução desnecessária, excessos de gastos de galpão onde a associação corre o risco de virar
material e manutenção. uma grande fábrica sob a tutela dos coorde-
nadores que nunca mudam, seja criada uma
Se houver qualquer beneficiamento de ma- outra associação, outro galpão com as mes-
terial, por exemplo, garrafa pet e papel, esse mas características do anterior, um galpão
processo deve estar desvinculado do galpão de pequeno ou médio porte, oportunizando
de triagem e preferencialmente construído uma política geográfica mais equilibrada, lo-
em outro volume. calizando-o em áreas mais próximas à coleta.

82
Paredes
Escolha do material para as paredes
Os galpões podem ter suas vedações, pare- cêndio. As chapas metálicas, por sua vez, são
des de materiais diferentes como alvenaria execessivamente quentes no verão e frias no
(tijolo), madeira, placas pré-moldadas de inverno.
concreto, chapas metálicas. A escolha do
material de vedação do galpão dependerá Cada situação deve ser avaliada cuidadosa-
de quem vai financiar a construção e dos re- mente. As paredes de madeira, por exemplo,
cursos disponiveis. também devem ser protegidas da chuva e do
sol, pelo telhado.
É importante pensar no desempenho de
cada material em questões de prevenção As vedações não têm só o sentido de prote-
contra incêndios, exposição ao sol e à chu- ção térmica, mas também de proteção con-
va, e até mesmo o contato com resíduos do tra roubo. As paredes de tijolos sempre são
lixo. Nesses casos, por exemplo, a madeira uma boa escolha.
demanda maior cuidado com relação a in-

Altura das paredes


Outra questão a ser considerada é altura das lhadeiras de maior porte, o que é raro. Alguns
paredes. As paredes encontradas em alguns galpões utilizam essa altura excessiva para a
galpões de Porto Alegre não vão até a co- construção de mezaninos, onde ficam a admi-
bertura, atingem mais ou menos 3,50m de nistração, os banheiros ou depósitos.
altura, deixando um vão aberto de um a 1,5
metros para a ventilação. Alguns desses vãos O excesso de altura e de aberturas faz com
são fechados com tela. O problema desses que o galpão se torne um local demasiada-
vãos é que, ao mesmo tempo que permitem mente frio no inverno e quente no verão. A
a circulação do ar, deixam passar também justificativa para tais aberturas e altura é a
o sol, incidindo de uma maneira nefasta na necessidade de ventilação constante, entre-
mesa de trabalho, provocando ofuscamento tanto, a vivência nesses espaços e os testemu-
e insolação demasiada sobre os trabalhado- nhos dos trabalhadores evidenciam que essa
res; e no inverno não protegem da chuva e altura é exagerada e que implica um maior
do vento frio. gasto de estruturas, paredes e fundações.

A partir da conceituação das três zonas dife- Nesse caso, o mais econômico e sustentável
renciadas (triagem, prensagem, armazena- seria a parte da prensagem e a da armazena-
gem), podemos observar que a altura dos gem terem alturas mais baixas (pé direito) que
galpões geralmente está determinada pela a zona da triagem.
altura da zona de triagem, onde fica a gaio-
la, a parte mais alta. Assim, a área destinada A Alturas das paredes e do galpão
à prensagem e à armazenagem acaba sendo
subutilizada em sua altura, pois os fardos não Altura das pare- Altura do galpão:
podem ser armazenados em pilhas muito al- des: 3,50m 5 - 7m
tas (no máximo três), exceto se tiverem empi-

83
Diagrama de altura do
altura excessiva excessiva
galpão

área subutilizada

triagem 5 a 7m prensagem armazenagem

Diagrama de altura excessiva aproveitada


alternativa de ocupação com mezanino

caixa d’água área


agregada
5 a 7m

2,5 a 3m

triagem prensagem armazenagem

Diagrama de teto rebaixado na area de armazenagem

Pintura das paredes


As paredes internas não precisam ser re- clara, isso ajudará a clarear o galpão e a
bocadas, mas, sempre que houver a pos- transmitir um sentimento de higiene e or-
sibilidade de aplicar uma pintura em cor ganização.

84
Aberturas
Consideramos aberturas: janelas, portões, três áreas características (triagem, prensa-
portas, gaiola, vãos superiores e zenitais. gem e armazenagem), cada uma correspon-
dendo a um tipo de abertura. Por exemplo, a
O projeto das aberturas e das vedações deve zona de triagem exige maiores ventilação e
estar atrelado diretamente à distinção das iluminação e menor insolação.

Aberturas

As aberturas devem...
Proporcionar iluminação, ventilação e acesso das com grades e dispositivos de tranca.
ao galpão; Ter esquadrias o mais padronizadas possível,
Evitar o ofuscamento e estar preparadas para diminuindo o custo de construção dos galpões.
as diferenças das estações do ano; Elas também devem possuir controle de insola-
Evitar furtos, sendo preferencialmente equipa- ção e ventilação.

Aberturas no teto sheds ou zenitais


Devem estar orientadas para o sul. Este tipo rior do galpão sem provocar incidência solar
de abertura sempre provoca uma iluminação direta, o que prejudicaria a atividade.
uniforme, atingindo zonas que as aberturas
nas paredes não conseguiriam. Elas devem Os sheds são bem-vindos pelo fato de con-
possuir uma altura expressiva (um metro, seguirem iluminar a parte mais interna do
1,5 metros), devem ser vedadas e fixas. Os galpão, ao contrário da iluminação propor-
sheds sempre são orientados para o sul, o cionada pelas janelas localizadas nas laterais
vidro pode ser 100% translúcido, deixando – que, muitas vezes, dependendo da altura,
entrar a luz, e não o sol. não atingem o centro do galpão. Os sheds
devem ser fechados, não permitindo a pas-
A função dessas aberturas tipo shed ou zeni- sagem dos ventos, pelo menos no inverno.
tal é de iluminar a zona de trabalho no inte-

Exemplo de domus Exemplo de sheds

85
Portoes
São geralmente de ferro, não deixando luz circulação da zona da triagem, na circulação
e vento passar. Só pode-se utilizá-las para do bomboneiro. Essas aberturas levam de
ventilação e iluminação quando elas estão um lado para o container de rejeito e de
abertas. Entretanto, as portas geralmente outro para os boxes de vidro. Quando essa
ficam abertas permanentemente em fun- circulação está em nível mais alto, facilita o
ção do trabalho do bomboneiro. despejo da bombona. Essas portas, quanto
maiores forem, mais luz e ventilação no ve-
Sugere-se, de acordo com os galpões es- rão proporcionarão, e, no inverno, ao fechá
tudados, colocação de portas ao longo da -las, o ambiente ficará protegido.

Aberturas superiores
Facilitam a ventilação do ar, porém no ve- Cruelmente, no verão elas são também
rão elas são insuficientes. As ventilações ineficazes, pois estão acima da zona de
superiores utilizam-se normalmente para o trabalho e não proporcionam diretamen-
regime de inverno, correspondem a áreas te a ventilação necessária aos corpos dos
mínimas de ventilação. No caso dos gal- trabalhadores. Por outro lado, também em
pões que visitamos, e não consideramos termos de iluminação, elas são insuficien-
satisfatórios, elas são hiperdimensionadas tes e acabam priorizando iluminação em
para esse ponto de vista, tornando, no in- regiões do galpão que não precisaria.
verno, o ambiente frio e deixando as chu-
vas entrarem no galpão junto com o frio. Como os vãos laterais são muito altos,

86
há duas faixas pouco iluminadas junto às
empenas laterais. A porção que recebe
um pouco mais de iluminação é a central,
mesmo assim, a luz já chega a essa região
com pouca eficiência, por conta da distân-
cia que está da fachada e porque a telha
translúcida filtra parte da luz.

Uma alternativa para esses problemas


apontados seria que essas aberturas supe-
riores orientadas para sul ou leste fossem
de basculantes de vidro, o que permitia o
controle da passagem da luz e da ventila-
ção, conforme a necessidade.
Abertura superior

Orientações

Orientações mais adequadas das Orientações mais adequadas das


aberturas para iluminação: Norte e ou aberturas para ventilação: Sul e ou
Leste Leste

Para as janelas e outras aberturas, é indi- quer vedação, permitindo a passagem da


cado que sejam instaladas na fachada vol- chuva e do frio.
tada para o Norte – pois oferece incidência
solar intensa no inverno e amena no verão A maioria das aberturas de cozinhas e ba-
– e Leste, pois pega o sol da manhã. nheiros são do tipo basculante, por serem
baratas. A área dessas aberturas é insufi-
Um dos problemas é o custo de envi- ciente e o vidro martelado diminui a quan-
draçamento das aberturas. Este fato fica tidade de luz, tornando esses ambientes
evidente, pois nos galpões estudados as mais insalubres. A economia com o custo
aberturas não possuem esquadrias ou das esquadrias não é compensada, pois o
vidros, são apenas vãos abertos com, no gasto com energia elétrica é maior. A luz
máximo, telhas translúcidas vedando. O do escritório está sempre acessa durante
galpão fica prejudicado pelo uso de telhas a jornada de trabalho; com aberturas mais
translúcidas no sentido de que a luz ga- suficientes isso não seria necessário. As
nha passagem, mas o vento não circula. aberturas dos banheiros são insatisfató-
Há casos em que esses vãos não têm se- rias, principalmente pela iluminação.

As aberturas e a ventilacao
Em questão de ventilação, o ideal para se aproximadamente 1m, para proteger
esses espaços seria um galpão com aber- da incidência do sol) e ficassem fechados
turas superiores e portões que pudessem no inverno, permitindo a passagem da luz,
ser totalmente abertos no verão (porém, protegendo os trabalhadores do galpão do
com uma cobertura externa que avanças- vento frio.

87
No caso de não haver recurso para criação pela proximidade de contato com o lixo
de vários portões com controle de vene- na gaiola e pelos próprios trabalhadores.
zianas, seria possível criar elementos fixos As análises mostraram que nessa faixa se
para ventilação sempre pensando nas suas encontram as aberturas laterais superio-
vantagens e desvantagens. Sugestões: ve- res, as duas portas, o vão da gaiola. Essa
nezianas, telas, trepadeiras, brises, cobo- ventilação está constantemente aberta, o
gó, muxarabi. que no inverno é uma fatalidade, e no ve-
rão são ineficientes, pois são altas, sendo
É importante entender que, no inverno, o as portas as únicas situadas no nível dos
interior do galpão deve estar mais protegi- trabalhadores.
do dos ventos e da chuva, pois o frio assola
tremendamente o trabalhador que ali per- Devemos entender que o cheiro se intensi-
manece sem muito se mexer. Existe um fal- fica no verão, porém no inverno ele é bas-
so argumento, por parte dos técnicos das tante atenuado e suportável, para aqueles
prefeituras, que esses resíduos (lixo) exa- que ali trabalham e estão já acostumados.
lam um forte odor, exigindo um galpão ou
telheiro semiaberto. Entretanto, devemos Portanto, é possível concluir que o galpão
pensar que esse argumento para a região deve sim ser bastante ventilado, mas no
Sul, onde temos os regimes de inverno e período de verão, enquanto, no inverno,
verão intensos, isso torna-se uma cruelda- ele deve ser um tanto mais vedado da in-
de com os trabalhadores. cidência de ventos, para o maior conforto
térmico, necessitando, assim, de aberturas
Através das visitas feitas nos galpões, po- que possibilitem se abrir e fechar confor-
demos observar que a zona que mais care- me a estação.
ce ventilação no verão é a zona da triagem,

88
Iluminacao natural
e ventilacao
A iluminação natural e a ventilação do galpão aberturas (tijolo, contrapiso, telha fibroci-
são importantes fatores na determinação de mento), tornando o ambiente todo ele mui-
um bom projeto de galpão, esses fatores são to cinzento e marrom. As paredes podem
responsáveis pelo conforto térmico dentro ser pintadas de branco ou cor clara na parte
desses espaço e das condições de trabalho interna, aumentando a claridade interna do
dos associados. Não há nada pior que sentir- galpão, auxiliando na iluminação natural e
se trabalhando numa geladeira no inverno, e artificial.
no verão sentir-se dentro de um forno. Essas
condições de habitabilidade influem dire- Com relação à orientação solar do galpão e
tamente na produção do galpão e no esta- a sua implantação no terreno, sempre que
do emocional e físico dos associados; assim houver diferentes alternativas de colocar
como uma economia nos gastos da ilumina- o galpão, sugere-se que sejam seguidas as
ção artificial. Portanto esse breve capítulo orientações descritas neste capítulo.
merece uma atenção toda especial antes de
fazer o projeto e ou a readequação do galpão Não há nada pior que
existente.
sentir-se trabalhando
Todos os comentários que este Manual faz
com relação a iluminação natural, ventos e
numa geladeira no inverno
insolação dizem respeito à região sul do Bra- e dentro de um forno no
sil.
verão. Essas condições
De um modo geral, a maioria dos galpões de habitabilidade influem
existentes têm iluminação natural insatisfa-
tória, porque apresentam aberturas escassas diretamente na produção do
e mal localizadas, além do uso de materiais galpão e no estado emocional
de revestimento das paredes e dos pisos que
refletem muito pouco a luz que entra pelas e físico dos associados.”

Orientacao das aberturas


Os critérios de orientação e implantação dos Muitas vezes, a impossibilidade de um terre-
galpões construídos pela prefeitura não dão no maior impede o projetista de implantar o
prioridade aos critérios de iluminação e ven- galpão de modo a considerar esses elemen-
tilação. A face da gaiola está sempre voltada tos, e, como esses projetos são concebidos a
para frente ou lateral do terreno, onde é mais partir de um modelo, o projetista não se dá
fácil a acessibilidade do caminhão. Assim, ao trabalho de repensar toda lógica espacial
muitas vezes, a gaiola pode estar localizada do galpão.
erroneamente nas fachadas Norte e Oeste.

89
Norte

As paredes e aberturas, quando voltadas no, e, no verão, (se houver um bom beiral)
para norte, possibilitam entrada de uma ilu- o sol não incidirá dentro do galpão, como
minação amena no galpão durante o inver- ilustrado no diagrama abaixo:

fachadanorte
fachada norte

Incidência solar no verão Incidência solar no inverno


incidência solar
incidência solarno no verão verão incidência
incidênciasolar solar no inverno
no inver

Sul
As aberturas localizadas ao Sul fornecem uma ter a possibilidade tanto de deixar entrar o vento
boa iluminação e não têm incidência direta do (no verão), quanto impedir a entrada do vento
fachada
fachadasul
sol. Mas é importante tomar cuidado com os
sul
ventos invernais, ou seja, essas aberturas devem
frio no inverno. O ideal é que, nessas aberturas,
utilizem-se janelas do tipo basculante de vidro.

inverno: Ventilação
fechamento
inverno: fechamento no
dainverno
da janelajanela verão:
verão: Ventilação
abertura
abertura dano
da janela verão
janela

90
Leste

No Leste, há uma incidência solar menor, ficar fechadas. O ideal é que se tenha, nas
tanto no verão quanto no inverno. Portan- aberturas dessa fachada, a mesma possibi-
to, quando está frio, as aberturas podem lidade da fachada Sul.

Incidência solar fachada leste

Oeste
A fachada Oeste recebe luz e calor de for- voltadas para o Oeste. O controle de luz
ma excessiva durante o verão, portanto, é na fachada Oeste, no verão, pode ser fei-
sugerível que haja algum tipo de bloqueio to por meio de venezianas ou cobogós, e
nesta época do ano; enquanto, no inver- até mesmo por algum tipo de vegetação
no, é desejável a entrada de sol e calor no caducifólia que, por conseguinte, forneça
galpão por essa fachada, mas infelizmente melhor passagem de luz no inverno do que
devemos pensar que no inverno o sol cai no verão (ver capítulo Espaços Externos –
muito rápido (pôr do sol) e não consegue Vegetação). A outra alternativa é evitar o
iluminar suficientemente essas aberturas uso de aberturas para o Oeste.

Vegetação na fachada oeste


árvores sombreando parede do galpão
91
Orientacao solar e as zonas do galpao
Zona de triagem
A zona da triagem é a zona que mais carece altas, e a ventilação, que já é mínima, aca-
de ventilação no verão, pela proximidade de ba passando bem acima dos trabalhadores,
contato com o lixo na gaiola e dos próprios sendo as portas as únicas situadas no nível
trabalhadores, por ficarem uns próximos aos dos trabalhadores que podem ventilar algu-
outros; e, no inverno, cruelmente, é a zona ma coisa.
mais desabrigada do frio.
Sugere-se que esta zona tenha uma ilumina-
As observações em todos os galpões mostra- ção e ventilação diferenciada, com amplas
ram que nessa faixa se encontram as abertu- possibilidades de abertura e fechamento.
ras laterais superiores, as duas portas, o vão Uma boa alternativa é utilizar nas paredes
da gaiola; nos galpões construídos pela pre- laterais da zona de triagem, portões tipo os
feitura. Essa ventilação está constantemente que são utilizados em garagem de automó-
aberta porque não há fechamento, o que no veis que podem ser levantados, assim como
inverno é uma fatalidade, e, no verão ela é janelas de vidro que permitam a iluminação
ineficiente, porque as aberturas são muito e ventilação (como basculantes de vidro).

Gaiola Gaiola

Orientações mais adequadas


A fachada do galpão que contám a gaiola não
deve ser voltada para o Oeste - pois o calor pro- Norte Leste
veniente do sol da tarde no verão acelera os pro-
cessos de decomposição dos resíduos - nem para
o Sul, pois esta orientação recebe pouco sol e, Portanto, é importante pensar na fachada da
assim, acumula umidade e água proveniente dos Gaiola com uma orientação que não receba nem
ventos de inverno e das chuvas. Estes fatores pre- muita nem pouca luz, como a fachada Norte ou a
judicam o armazenamento do material. fachada Leste.

92
Indicado gaiola nas fachadas Norte e Leste

Gaiola

Gaiola
Nao indicado gaiola nas fachadas Sul e Oeste
Gaiola

Gaiola

93
iluminação na bancada individual
Bancadas e mesas

No sistema de bancada individual, a gaiola


sempre provoca um sombreamento sobre
a bancada, e a luz que entra pela parte su-
perior da gaiola não consegue atingir a zona
de trabalho, deixando o trabalhador sempre
numa zona relativamente mais escura. Para
piorar a coisa, na medida em que o material
vai sendo triado, vão abrindo-se buracos por
onde a luz passa com grande intensidade
provocando o que se chama de ofuscamen-
to (quando a luz bate diretamente no olho).

A iluminação que é feita através da cobertu-


ra, dos sheds, também não consegue atingir
a bancada individual, geralmente ilumina so-
mente a gaiola. E mesmo que conseguisse, iluminação na bancada individual
shed: viria
sombreamento ruim na bancada
por trás do trabalhador - quando ele gaiola: ofuscamento prejudicial
Gaiola: ofuscamento
trabalha no sistema de bancada - e ele pró-
prio acabaria sombreando a área de traba-
lho que está à sua frente.

No sistema de mesas de quatro ou seis tra-


balhadores, a luz que vem da gaiola e dos
sheds não é um problema, pelo contrário:
essa iluminação torna-se favorável ao traba-
lho, já que os olhos dos trabalhadores estão
voltados para os outros lados. Nesse caso, é
importante observar as aberturas das pare-
des laterais. As mesas mais próximas a essas
aberturas nas paredes laterais são mais privi- shed: sombreamento ruim na bancada gaiola: ofuscamento pre
legiadas pela iluminação, ao passo que as lo- Shed iluminando bancada: sombreamento
calizadas no meio são as mais prejudicadas.

Devemos ter em mente que iluminação e


insolação são coisas parecidas, porém dife-
rentes. Insolação é a incidência direta da luz
solar, enquanto a iluminação é a luz indireta
que entra pelas aberturas.

Insolação é a incidência
direta da luz solar,
enquanto a iluminação é
a luz indireta que entra
pelas aberturas.” Shed iluminando mesa: iluminação ideal

94
Iluminação artificial sobre a mesa de trabalho

Zona de prensagem
A área da prensagem, em geral, é a parte mais bastante fraca e, muitas vezes, é necessário con-
escura, por estar localizada no centro do galpão, tar com iluminação artificial.
distante das paredes laterais onde estão as aber-
turas. Quando as prensas estão mais próximas das pa-
redes, há uma maior iluminação e ventilação,
Na verdade, a área de prensagem precisa de entretanto devemos pensar que elas têm neces-
intensa ventilação e iluminação, pois é o ponto sariamente uma relação de proximidade muito
onde escorre o chorume dos materiais ao serem importante com as baias e com os pilares; o pri-
prensados, ou mesmo dentro das baias ou dos meiro pelo armazenamento do material triado e
bags. Normalmente a iluminação nessa zona é o segundo pelas descidas da rede elétrica.

Zona de armazenagem Iluminação artificial

O que se observa é que as luminárias


Na zona de armazenagem não é necessário o oferecidas nos galpões construídos
uso de muitas aberturas, podendo ser orienta- pelas prefeituras são muito altas,
da para oeste ou sul. A orientação sul para essa dificultando a manutenção e a troca.
zona, enquanto parede cega ou quase fechada, é Além disso, muitas vezes, sua capa-
aconselhável, pois o sul, no inverno, sempre traz cidade de iluminação é insuficiente,
o vento frio (minuano). O ponto desfavorável é o pois as luminárias estão distantes
verão, quando o vento sul ajuda a fazer a ventila- e muito altas do plano de trabalho.
ção. A orientação oeste para essa zona, enquanto O mais indicado seriam luminárias
parede cega ou quase fechada pode ser uma boa pendentes, principalmente sobre as
alternativa, principalmente no verão que é uma mesas de triagem, próximo às pren-
parede que recebe uma forte incidência solar, e sas (2,60m - 3,00m).
uma grande carga térmica.

95
Pisos
O piso - bem como sua cor, durabilidade e Devido ao custo elevado dos revestimen-
estado de conservação - é um fator deter- tos, indica-se o uso destes, ao menos, em
minante para a manutenção da qualidade áreas estratégicas: embaixo da gaiola, em-
do espaço no que diz respeito à higiene e baixo das mesas, na zona de circulação dos
à limpeza, à agilidade de produção e à se- bomboneiros e nos arredores da prensa.
gurança. É preferível sempre o uso de pisos
mais claros, que permitam arrastar bags e Uma alternativa relativamente econômica
carrinhos com mais facilidade. são os Pisos Polidos de Concreto, muito
utilizados em garagens, estacionamentos,
A maioria dos galpões têm somente con- canchas esportivas, tornam-se também
trapiso de concreto, o que não é muito re- impermeáveis devido à utilização de cris-
comendado, pois é poroso e absorve óleos talizadores (endurecedores de piso), são
e líquidos oriundos do resíduo, além de a base de silicato, utilizado para selar e
dificultar o arrastar de bags e bombonas. endurecer o piso de concreto, oferece um
A falta de revestimento dificulta a limpeza aumento de resistência à abrasão, ao des-
e mantém a umidade. O piso deve ter uma gaste. Entretanto, para isso, o contrapiso
baixa permeabilidade. deve estar regularizado, sem saliências e
sem muita porosidade.
Recomenda-se um piso que tenha resis-
tência ao tráfego e permita o deslizamento A utilização do piso de concreto polido é
fácil das bombonas e carrinhos, mas que muito propícia para aplicação de pinturas
não tenha perigo de escorregamento. Em no chão, as quais ajudam a organizar o es-
termos de segurança, deve se procurar a paço, designando áreas, circulações, faixas
utilização de um piso antiderrapante, para de trânsito etc.
evitar escorregões e quedas dos trabalha-
dores.

Pisos polidos de concreto

É fundamental, ao executar o contrapiso, dei- prever o caimento dos dutos que saem dos
xar os caimentos necessários para o escoa- ralos e são conduzidos até as caixas de inspe-
mento da água até os ralos. Os ralos devem ção externos ao galpão. Esses serviços devem
ser colocados numa proporção de 1 ralo para ser executados paralelamente aos trabalhos
5m de raio e abrangência. Deve-se também de fundação e terraplanagem.

96
Em vez da utilização de ralos, pode-se bem o fluxo de águas. Um bom lugar
utilizar grelhas no piso que recolham a para a colocação da grelha é ao longo
água, normalmente também conheci- da área de triagem, abaixo da gaiola ou
das como 'farroupilhas', utilizadas em entre as mesas e o espaço de circulação
áreas externas, que recolhem muito do bomboneiro.

Ralo tipo grelha

Pisos externos
Deve-se prever a colocação de ao menos um contrapiso ao redor do galpão, para evitar
infiltrações de água nas paredes, umidade e também facilitar o deslocamento e trans-
porte do material em volta do galpão (veja-se capítulo Drenagem).

Concregrama Blocos de concreto intertravados

Tipos de pisos externos

Blocos de concreto e grama - concregramas

Blocos de concreto intertravados

97
Drenagem
Geralmente a área externa dos galpões é um utilização desses espaços para o armazenamento
espaço amplo, porém subutilizado. Com o acú- de material que não coube na gaiola - o que não
mulo da chuva, esses espaços ficam sujeitos às é recomendado, embora comumente realizado.
intempéries e à formação de poças, o que deixa Por isso, a manutenção de um solo permeável de
o espaço intransitável. É também muito comum a forma controlada é extremamente necessária.

Recomendações

Existem algumas medidas que visam a atender essas necessidades:

A água que cai do telhado pelo beiral respinga umidade e apodrecimento do resíduo. Nossas
nas paredes do galpão, que não devem receber sugestões visam a revestir os espaços, tornando
umidade. A utilização de canaletas no entorno o passeio ou o trânsito de veículos, porém sem
do galpão - bem como calhas de condução - nos proporcionar empoçamento, pois estes são ma-
pontos de queda das águas do telhado, é uma teriais com relativa permeabilidade.
forma de se lidar com esse problema. Estas po- Em alguns espaços deve-se utilizar materiais
dem ser feitas com blocos de concreto vazados mais regulares, como no trajeto dos bombonei-
preenchidos com britas, para a dispersão da ros ao container de rejeito ou na baia dos cacos
água que se acumula em função do telhado. de vidro.
As calhas podem ser de PVC ou metálicas, estas
também ajudam bastante na condução da água Detectar áreas sujeitas a alagamento para a
para pontos estratégicos, como um ralo no chão colocação de jardins ou canteiros. Uma suges-
ou até mesmo uma cisterna para reutilização da tão de material barato para essa função é a
água. caliça, material de fácil obtenção por um preço
irrisório, e que tem um bom resultado.
Evitar a utilização do saibro para o piso exter-
no. Utilizar brita, areia, cascalho ou um agrega-
do de caliça.

Evitar terrenos alagadiços ou de várzea, bem


como terrenos de encosta com constante ero-
são. Mas, se necessária a utilização destes, deve
ser feito o devido aterramento, preservando a
área do galpão e o entorno imediato para garan-
tir a devida segurança.

A impermeabilização do entorno pela utiliza-


ção do asfalto não é favorável para a manuten-
ção da salubridade dos trabalhadores. Sugerem-
se a utilização de blocos de paralelepípedo, pisos
intertravados e concregramas, principalmente
nas áreas de trânsito dos caminhões e nos pas-
seios. A água que escorre do asfalto se acumula
em outro ponto, causando erosão, acúmulo de

98
Vegetacao
A vegetação é importante para o galpão por uma série de razões. Entre elas:

Controle termico
Oeste e Norte
É sugerível que se utilize vegetação no Oes- tindo que o sol penetre na edificação, aque-
te e Norte para a proteção da insolação. cendo os ambientes.
Recomendam-se árvores de grande porte,
principalmente caducifólias, pois no verão Árvores de grande porte (canafístula, jacaran-
as folhas fazem a proteção do sol, e no in- dá, flamboyant) fazem muito bem essa fun-
verno as folhas dessas árvores caem, permi- ção, assim como pergolados com trepadeiras.

Sul
Quando a vegetação é colocada no Sul da tombamento.
construção, ela protege dos ventos frios do
inverno, atuando como uma barreira, conser-
Outra possibilidade é a utilização de trepadei-
vando a temperatura do galpão. Entretanto,ras, pois elas fazem o controle da umidade blo-
podem gerar umidade no inverno. queando a incidência de chuvas nas paredes e
retirando a água das paredes. Outro benefício
Árvores recomendadas: bambuzal ou ba- é que não é necessária a pintura frequente das
naneiras que tenham certa densidade e fachadas, ficando apenas a necessidade de
que façam barreira de vento. Não utilizar poda frequente. Recomenda-se: Cipó-de-São
árvores de grande porte, pelo risco de João (nativa), HeraJaponesa ou Unha-de-Gato.

99
Leste
O Leste é a orientação que menos so- deve ser pensada em função do regime
fre a ação das intempéries. Portanto a de verão seguindo a lógica do desfrute
colocação de vegetação nesta fachada da sombra.

Humanizacao
A vegetação é importante para a humanização Interessante também é a possibilidade de colocar
dos espaços. É importante a visualização dos es- a vegetação dentro do galpão. É possível a utiliza-
paços verdes, que atuam como dissipadores da ção de sucata, latas velhas de tinta, banheiras e
tensão e da ansiedade do cotidiano de trabalho. computadores como vasos para o plantio de ar-
vores dentro do galpão e para sua consequente
A vegetação cria espaços de convívio, como chur- humanização. A presença de vegetação no galpão
rasqueiras que ficam à sombra de grandes ár- denota cuidado com o espaço, apego ao local de
vores. No verão, esses espaços são agradáveis e trabalho e a percepção do espaço não como um
geram ambientes de descanso ou de confraterni- depósito de lixo, mas como um local de trabalho
zação. Vegetação arbustiva também ajuda a com- agradável e sadio. Detalhes como este contri-
por esses espaços, delimitando canteiros. buem para a eificiência geral do galpão.

Alimentacao (horta, pomar)


Outra função que a vegetação pode cumprir É importante que o cultivo dessas árvores
em um galpão de reciclagem é como fonte seja numa área reservada, onde não haja cir-
de alimentação dos trabalhadores. Árvo- culação, que seja bem iluminado e que tenha
res frutíferas, legumes e herbáceas (horta um solo adequado.
comunitária) podem servir como alimento
para os associados. A associação também Árvores frutíferas: pitangueira (nativa), amo-
pode cultivar plantas medicinais e aromáti- reira (nativa), laranjeira, limoeiro, bananeira,
cas, pois requerem pouco espaço. bergamoteira, figueira, ameixeira e goiabeira

100
Vegetacao nos limites do terreno
No muro, na grade ou na cerca, deve-se colo- espécies nativas, para a manutenção da bio-
car arbustos ou trepadeiras que tenham flo- diversidade local. É sugerível que se consul-
ração exuberante, como forma de embelezar te um engenheiro agrônomo, um paisagista
não só o galpão como seu entorno, como ou um engenheiro ambiental na hora de se
bougainvilles, tungeia, jasmim etc. plantar vegetações.

A grama é importante para permeabilização Essas árvores não devem ficar muito próxi-
do solo. No entanto, requer manutenção de mas da construção, para evitar que a queda
corte, visto que um local com grama não cor- das folhas entupam calhas, ou mesmo que
tada é vista como mau cuidado. os galhos caiam no telhado. Também se deve
tomar certa atenção com as raízes, para não
A vegetação também é uma forma de iden- comprometer as fundações do galpão.
tidade do galpão, que se pode manifestar
através das cores em determinadas épocas, É importante que se pense na chegada do
como na primavera. caminhão e no espaço de manobra para ele
(uma largura de 5 a 6m) na hora de ajardi-
É importante observar as dimensões da copa nar ou plantar árvores na fachada da gaiola.
e das raízes da espécie a ser plantada, bem A manobra do caminhão impede o cresci-
como sua compatibilidade com a função mento de espécies de qualquer porte, desde
desempenhada no espaço em que ela será as gramíneas até as arbustivas á árvores de
plantada, além do solo e da insolação que grande porte.
ela receberá. Outra sugestão é a utilização de

101
102
Espacos socioculturais
O galpao de triagem
como aglutinador social
Fernando Fuão e Pedro Figueiredo

Nas visitas ao longo da pesquisa, constatamos públicos. Uma cozinha, por exemplo, pode servir
que um galpão de triagem ou coletivo de reci- não apenas aos trabalhadores associados, mas
cladores instalado em uma comunidade pode também transformar-se em um espaço aberto a
Espacos socioculturais

representar mais que um simples local de se- toda comunidade. Aos finais de semana, o refei-
paração, prensagem e venda; pode-se ir além tório pode tornar-se uma sala de cinema ou uma
de apenas aspectos produtivos, econômicos oficina de teatro, agregando adultos e adoles-
e ambientais. Este tipo de visão não depende centes em diversas iniciativas culturais. O galpão,
apenas das lideranças do galpão, mas também conforme a sua localização dentro da cidade,
da visão do poder público, que, através de pode fornecer comida a baixo preço a moradores
ações interdisciplinares, propõe políticas so- de rua e desempregados. Ou ainda, por exemplo,
ciais, articuladas ou não a questões ambientais. um espaço ao ar livre com arborização pode abri-
Dependendo da modalidade de ação do poder gar churrasqueiras abertas à comunidade.
público, serão implementados espaços inova-
dores, ou, então, ações não emancipatórias.
É na construção
Esses espaços podem tornar-se agregadores de
várias outras atividades e organizações da comu- e distribuição dos
nidade ou do bairro. Tendo como ponto de par- espaços que se fortalecerá
tida a separação do material, as possibilidades
que o galpão pode oferecer a seus associados não somente a vida e o
e a comunidade do seu entorno é infinita. Daí a convívio dos associados e
importância da interação entre prefeitura, coleti-
vo de recicladores e comunidade local, desde os familiares, mas também da
processos de implantação e concepção do galpão
até sua efetiva inserção na comunidade.
comunidade do entorno e
suas aspirações.”
Na concepção do empreendimento, a questão da
arquitetura tem que estar presente, ajudando a
pensar a organização do espaço. É na construção Dentro desse pensamento, o galpão pode ofere-
e distribuição dos espaços que se fortalecerá não cer ainda espaços destinados a ofícios diversos,
somente a vida e o convívio dos associados e fa- como reciclagem de papel, marcenaria, corte e
miliares, mas também da comunidade do entor- costura e artesanato.
no e suas aspirações.
Também se pode pensar em pequenas salas
O galpão tem o potencial de tornar-se uma espé- onde outros agentes (profissionais da saúde, uni-
cie de aglutinador social, para o qual convergem versidades, empresas) podem oferecer assistên-
as mais diversas experiências coletivas do bairro: cia comunitária. Nas instituições de ensino, estu-
a creche, a biblioteca, o telecentro, os conselhos dantes, professores e voluntários costumam ter

104
interesse por esse tipo de trabalho, mas muitas da triagem especializada em papelões, papéis e
vezes não sabem como fazer a intervenção. Entra plásticos variados, por questões de salubridade e
aí a ação das lideranças e dos parceiros dos Gal- higiene do local e da vizinhança.
pões na interlocução com essas diversas pessoas.
Ainda, nos baixios dos viadutos, os seus integran-
Antes da implantação de um galpão de triagem, é tes devem estar atentos para o problema de ruí-
importante um trabalho de prospecção social da dos constantes e trepidação dos automóveis, o
vizinhança por parte do poder público e coletivo que pode provocar uma fadiga maior nos traba-
de recicladores, mesmo que isso signifique algu- lhadores.
ma espécie de entrave.
Os responsáveis do setor de limpeza urbana do
Um empreendimento desta natureza não pode município deverão buscar entidades de educação
ser instalado no distrito industrial do município, com experiência em abordagens participativas,
distante de tudo e de todos. A moradia não pode com a tarefa de identificar os aglomerados com
ser desvinculada do trabalho de reciclagem - o potencial no ramo da reciclagem. A entidade res-

Espacos socioculturais
que também não significa que se deva fazer a ponsável deverá traçar um plano de intervenção
triagem dentro das casas ou em suas proximida- que congregue os trabalhadores para formar as-
des. O que se quer dizer é que a atividade da re- sociações ou cooperativas, oferecendo formação
ciclagem principia pelas relações de vizinhança e adequada não somente as questões produtivas e
amizade entre os moradores de um determinado econômicas, mas, sobretudo, nas problemáticas
bairro ou vila. As igrejas e Associações de bairro humanas do cotidiano.
também podem colaborar nesse intento.
Devemos ter presente que um Galpão de Triagem
Por vezes pode ser encontrado um campus uni- se impõe em uma região, comunidade ou bairro,
versitário e uma aglomeração urbana com estas não somente pelo ineditismo nas relações produ-
características. Em um local como este, o em- tivas e econômicas, mas pela forma de atuação
preendimento pode vir a se tornar o elo entre de suas lideranças que não devem reduzir seu
a universidade e a população carente. A localiza- trabalho apenas no gerenciamento da produção,
ção para implantação é importantíssima. É pre- partilha e comercialização, mas empenhando-se
ciso procurar espaços para implantação do gal- no treino permanente da ética dos relacionamen-
pão onde já existam recicladores independentes tos, na habilidade do trato e no fortalecimento e
e carrinheiros com grau de vulnerabilidade so- reconstrução de relacionamentos.
cial, experientes na tarefa de separar o material.
Por fim, é importante ressaltar que o educa-
Muitos coletivos de Recicladores surgem da aglu- dor popular ou qualquer outro parceiro de um
tinação espontânea de carrinheiros que a princí- coletivo de recicladores deve se desvencilhar
pio trabalhavam de forma isolada, mas que, com do pensamento pré-concebido, dispondo-se a
o acompanhamento de outros agentes, como compreender as dinâmicas peculiares de cada
educadores populares, evoluíram até formarem coletivo. Eles não podem ser entendidos como
associações e cooperativas. uma empresa que tem um dono e um corpo
funcional estruturado.
Há também a possibilidade de se implantarem
coletivos de recicladores embaixo de viadutos, tú- Os coletivos devem estabelecer um diálogo per-
neis desativados, prédios abandonados ou outros manente com a comunidade, escolas e tantas ou-
espaços ociosos no centro de grandes cidades, tras entidades onde o Galpão está inserido. Por-
oferecendo oportunidades aos moradores de tanto, não existem respostas antecipadas; esse
rua, revitalizando essas áreas degradadas, onde manual pretende ser apenas o ponto de partida
o material para reciclagem é farto. Nesse caso, para discussões em grupo.
deve-se cuidar a proximidade com zonas residen-
ciais e comerciais. Pode-se pensar, na alternativa

105
Os espacos socioculturais
Espacos socioculturais

A relacao dos espacos


socioculturais e o galpao

A
maioria dos galpões de reciclagem diferenciadas em sua especificidade: o galpão
começou como um galpão simples, e o Centro Sociocultural. Algumas vezes cons-
que foi crescendo com o tempo e tituindo-se até de dois prédios separados: um
se tornou cada vez mais complexo, para o trabalho destinado a triagem, o galpão
construindo uma série de peque- propriamente dito; e o segundo volume - des-
nos anexos (refeitórios, cozinhas, tinado à parte social, administrativa e cultural
banheiros, centro cultural etc.), mostrando - onde podem estar o refeitório-cozinha, os
outra realidade distinta que ultrapassou o vestiários-banheiros, as salas de alfabetiza-
simples processo de triagem; assim como ção, o telecentro, a sala para artesanato e as
uma casa, o galpão não vive sem cozinha, um oficinas e a administração; salvo casos parti-
refeitório, banheiros, áreas de descanso e de culares de edifícios já construídos e adapta-
outras atividades. Essas construções que mui- dos para se tornar um galpão de reciclagem.
tas vezes já não estão mais dentro do galpão
são registros das conquistas que foram feitas A seguir, apresentamos alternativas de dis-
ao longo desse tempo como reconhecimento posição do Galpão e do Espaço Sociocultural
da profissão de reciclador; por isso, elas têm dentro do terreno. Evidentemente, existem
características arquitetônicas distintas do gal- outras possibilidades de implantação dentro
pão principal que aqui chamaremos de Cen- do terreno, sendo que algumas vezes os terre-
tro Sociocultural do Galpão. nos diferem muito dos exemplificados. Apre-
sentamos essas alternativas para que os as-
Na verdade, o que chamamos “galpão de sociados se amparem nelas como referência
triagem” na realidade é - e deve ser - incon- para a situação de que dispõem, e dialoguem
dicionalmente constituído por duas partes a fim de fazerem os ajustes necessários.

106
Relacao espacial volumetrica entre o galpao e o centro sociocultural

Na frente Na frente - melhor alternativa!

Espacos socioculturais
Nos fundos Nos fundos - afastado

Na lateral Na lateral - afastado - melhor alternativa!

Dessas alternativas acima, considera-se a me- de Reciclagem, por legislação própria, proíbe a
lhor justamente aquela que coloca o centro cul- permanência de crianças, fazendo-se necessário
tural na frente afastado, na interface direta com o emprego de cercamento entre um espaço e
a comunidade, como espaço mesmo de divulga- outro.
ção do galpão, ou na lateral afastado. Dessa for-
ma, cria-se uma independência entre esses dois Acreditamos também que o refeitório-cozinha
espaços; por exemplo, nos finais de semana, o e os vestiários-sanitários não necessitam estar
Galpão pode estar fechado e o Centro Cultural aglutinados em forma de um único volume.
pode estar exercendo suas atividades, indepen- Ou seja, não precisam estar dentro do centro
dentemente do Galpão. cultural social, podem se apresentar como edi-
ficações isoladas, por exemplo: um prédio para
Outro dado importante é que, ainda que os o refeitório-cozinha e outro para os vestiários-
dois se situem dentro do mesmo terreno, seria sanitários.
interessante que houvesse entradas distintas e
um cercamento, para diferenciar um espaço do Nessas escolhas, quanto à composição dos pré-
outro; isso porque enquanto o Centro Cultural dios, há pontos favoráveis e desfavoráveis para
pode – e deve – atrair um grande número de cada um dos exemplos.
crianças da comunidade local para atividades
do telecentro, de ensino, de arte etc, o Galpão Quando temos o refeitório-cozinha e os vestiá-

107
rios-sanitários dentro do centro, isso, de alguma truções ao seu redor. Em alguns, equivocada-
forma, induz os associados a participarem e en- mente, encontramos cozinha-refeitório voltados
trarem com mais frequência no Centro, ao con- para dentro do galpão, assim como os sanitários,
trário de quando se constrói esses espaços fora criando espaços insalubres e pouco higiênicos.
do centro sociocultural.
Infelizmente os galpões que as prefeituras cons-
O ponto positivo de colocar essas construções troem para as associações são muito semelhan-
isoladas, fora do centro, do lado de fora, é que, tes a um de galpão de fábrica do século passado,
assim, criam uma liberdade administrativa onde o que interessa é só o trabalho e a produ-
maior, fazendo com que as essas atividades pos- ção. Esses galpões, sobretudo, negam a necessi-
sam se realizar independentemente, por exem- dade de espaços de convívio social - como refei-
plo: numa segunda-feira, o centro cultural pode tório e vestiário, ou seja: em geral não existem,
estar fechado, embora os refeitórios e vestiários e, quando existem, são mal dimensionados.
possam estar abertos, servindo ao galpão.
Esse modelo desconhece as subjetividades e
Espacos socioculturais

Entretanto, uma coisa não exclui a outra. Facil- desejos de seus trabalhadores, ignora assim
mente podemos conjugar essas partes, uma ao também o cotidiano e as relações pessoais, os
lado da outra, conectadas por pequenos jardins, dramas individuais. Acreditamos que o conví-
pergolados etc. vio solidário dos associados é tão determinante
para a produção quanto, por exemplo, a tecno-
Do total de galpões analisados no Rio Grande logia da separação dos materiais. Um bom am-
do Sul, quase 80% não apresentam essas cons- biente de trabalho gera orgulho e satisfação.

Para melhor explicar as partes que constituem o Centro Sociocultural, vamos dividi-las em
três partes: os ESPAÇOS SOCIOCULTURAIS (administração, telecentro, salas, biblioteca, ofi-
cinas de artesanato...), o REFEITÓRIO E A COZINHA e os VESTIÁRIOS E SANITÁRIOS.

Como comentamos anteriormente, esses tamanho, ele pode se transformar em mui-


espaços podem estar unificados num prédio tas coisas fora do horário das refeições. No
só, ou separados em três construções distin- fim de semana, o refeitório pode se tornar
tas. E, ao apresentarmos as alternativas de uma sala de cinema ou oficinas de teatro,
usos para o Centro Sociocultural, apresen- agregando adultos e adolescentes, em ou-
taremos pequenas sugestões de planta para tras tantas iniciativas culturais. Seu mobiliá-
cada parte (biblioteca, telecentro, lojinha...),rio tem que ser flexível, móvel e nunca fixo,
conforme proposta anterior. para que se possa ter essa liberdade de usos.
Pode-se pensar, também, em uma cozinha
A existência desses espaços é fundamental que seja não só para os trabalhadores(as),
para o galpão. Por exemplo: o refeitório, além mas um refeitório aberto a comunidade ao
de conter as mesas de refeições, também redor, oferecendo refeições a preços popu-
pode conter sofás ou poltronas (reciclados, re- lares, como o Galpão Sepé Tiaraju em Porto
formados) para o descanso após as refeições, Alegre.
e uma televisão. Esse mesmo espaço pode
incorporar um pequeno telecentro e uma bi- O Centro Social pode oferecer ofícios diver-
blioteca, e outras tantas possibilidades. sos como forma de geração de renda e tra-
balho, como uma oficina de papel reciclado,
Um refeitório não precisa ser, necessaria- uma pequena marcenaria, corte e costura,
mente, só um refeitório. Dependendo do seu além de artesanato feito com material en-

108
contrado no próprio galpão, e outras for- dos Ambientais, o CEA, em Porto Alegre: um
mas de geração de renda e trabalho que a volume de dois andares em cuja base en-
demanda dos associados pode apontar nas contra-se uma pequena sala de espetáculos/
reuniões do coletivo. cinema, cozinha-refeitório e salas para arte-
sanato, e no segundo pavimento, a adminis-
O Centro Sociocultural pode ser em um pavi- tração do Centro e do Galpão, a biblioteca, o
mento, ou em dois pavimentos, conforme a telecentro e as salas de costura.
disponibilidade de espaço.
A área deste Centro destinado às atividades
Dentro do espaço do centro, pode-se colocar socias é bem inferior à área do galpão, na
a parte Administrativa do Galpão; um bom proporção de ¼ a 1/3 do volume, conforme
exemplo dessa situação é o Centro de Estu- as atividades que se possam propor.

Galpão de pequeno Galpão de médio Galpão de grande


porte porte porte

Espacos socioculturais
Número de
20 28 36
trabalhadores
Área 441m² 588m² 735m²

Área somada ao bloco da


441m² + 245m² = 686m² 588m² + 245m²= 833m² 735m² + 245m² = 980m²
cozinha e dos vestiários
Porcentagem de ocu-
76,3% 79,6% 82,1%
pação do galpão
Porcentagem de ocu-
23,7% 20,4% 17,9%
pação do centro cultural

Área total 833m² + 214m² = 980m² + 214m² =


686m² + 214m² = 900m² 1.047m² 1.194m²

Relação entre áreas Área Porcentagem de Porcentagem de Porcentagem de


do centro cultural e do area em galpão área em galpão área em galpão
galpão pequeno médio grande
Administração 4x4m = 16m² 1,7% 1,5% 1,3%

Telecentro 7x4m = 28m² 3,1% 2,6% 2,3%

Biblioteca 7x4m = 28m² 3,1% 2,6% 2,3%

Sala de aula 7x7m = 49m² 5,4% 4,6% 4,1%

Sala de oficinas 7x7m = 49m² 5,4% 4,6% 4,1%

Oficina de papel 7x4m = 28m² 3,1% 2,6% 2,3%

Lojinha 4x4m = 16m² 1,7% 1,5% 1,3%

Bloco do centro cultural Soma das Áreas: 23,7% 20,4% 17,9%


214m²
Cozinha e refeitório 12,8x14,4 = 20% 17,3% 15,2%
182m²
Vestiários e sanitários 9x7m = 63m² 7% 6% 5%
Bloco da cozinha e Soma das Áreas: 27,2% 23,4% 20,5%
vestiários 245m²

109
Fica claro, pelas informações da tabela, que A cozinha-refeitório, assim como os banhei-
a área de ocupação do Centro Cultural incide ros-vestiários, é considerada parte integran-
muito pouco (menos de 24%) na área total do te do Galpão de Triagem, muito embora
Galpão e traz um benefício para os recicladores, seja colocada num volume independente
ainda que o metro quadrado construído do Cen- do galpão por questões de salubridade e de
tro Cultural seja mais caro do que o do Galpão. higiene.

Proporcao entre as areas


Espacos socioculturais

A cozinha e o refeitório, assim como os ba- tão o afastamento de dez a quinze metros.
nheiros e vestiários, a administração e as
outras salas para atividades que possam Sugestões para as partes e atividades que
gerar renda dentro do galpão (oficinas de compreendem o centro sociocultural: ad-
papel reciclado, salas de alfabetização, te- ministração, oficina de papel reciclado,
lecentro, salas de artesanato, biblioteca) sala de dança e teatro, sala de oficinas (ar-
não devem estar dentro do galpão de tria- tesanato, costura, mosaico...), biblioteca,
gem, devem localizar-se - sempre que as telecentro, pequena loja de comercializa-
dimensões do terreno permitirem - em ou- ção e salas de ensino.
tro prédio devidamente afastado, mas não
tão afastado que dificulte o deslocamento Na sequência trataremos mais detalhada-
dos trabalhadores. Tomamos como suges- mente algumas dessas partes.

110
Sugestoes de atividades para o
centro sociocultural

Espacos socioculturais
Administracao
A administração constitui-se numa pequena
sala, com no mínimo duas mesas e dois com-
putadores destinados à coordenação do galpão
para que possa fazer o controle de saída do ma-
terial, o cálculo das partilhas, os pagamentos
e recebimentos. O espaço deve ser suficiente
para acomodar duas ou três pessoas, mais as
pessoas que vêm para conversar e negociar. Fa-
zem-se necessários como equipamentos um ou
dois armários que possam ser chaveados, uma
ou duas cadeiras para receber e conversar; rede
de internet e telefonia; várias tomadas elétricas
e computador.
do comprador de material deve ser depositado
Não devemos associar a Administração ao paga- o mais rápido possível num banco, assim como
mento dos associados. O cálculo da partilha deve também qualquer forma de pagamento aos as-
ser feito num espaço grande e comum, como o sociados deveria ser feito, se possível, através de
refeitório, ou em alguma sala destinda à escolari- conta bancária individual.
zação.
A área de uma Administração sugerida é aproxi-
Algumas dicas: nunca se deve guardar nenhum madamente 16m², aqui apresentada nas medidas
dinheiro na administração. O dinheiro recebido de 4 x 4m.

111
Espacos socioculturais

Telecentro
A dimensão da sala do telecentro está direta-
mente associada ao número de computado-
res disponíveis que a associação conseguirá;
geralmente, os telecentros nos galpões de
reciclagem são obtidos através de parcerias
com ONGs, instituições religiosas, universi-
dades ou empresas. Na imposibilidade de
prever o número de computadores, conside-
ramos um número razoável de no mínimo 10-
12 computadores; isso demandaria um espa-
ço em torno a 28m² metros quadrados. Aqui
sugerido através das medidas 4 x 7m.

O telecentro deve ser dimensionado não so-


mente para os recicladores, mas principal-
mente para estar aberto para a comunidade
ao redor, às crianças e aos adolescentes em
risco pelo tráfico de drogas. Certamente, para
a administrar o telecentro, se necessitará um
profissional que possa ensinar noções bási-
cas, pelo menos durante um turno. Este pro-
fissional pode ser um estudante de escola de
segundo grau, beneficiado por uma bolsa, ou
mesmo um universitário, ou um voluntário.

112
Espacos socioculturais
Sala de ensino e alfabetizacao
Consideramos aqui a possibilidade de uma sala negro), cadeiras e mesas individuais (e/ou ca-
para educação e alfabetização, que poderá deiras com braços com prancheta), ou mesmo
servir tanto para alfabetizar como fazer apre- uma grande mesa com cadeiras ao redor.
sentações expositivas para escolas, empresas e
instituições. Abaixo apresentamos algumas alternativas de
disposição desse espaço através de mobiliário
A sala, aqui, estipulamos para acolher trinta diferente. A área proposta é de 49m² para cada
pessoas, sendo que cada uma deve possuir sala, sempre com as medidas de 7 x 7m.
um quadro para apresentação (lousa/quadro

113
Espacos socioculturais

Biblioteca
A biblioteca pode ser uma pequena sala. A
ideia é que os livros e as revistas possam
estar sempre à mão. Há outras possibili-
dades, como a biblioteca estar no próprio
refeitório, ou nos corredores do Centro,
dispostas em prateleiras e acessíveis a
qualquer um; entretanto, deve-se ter em
mente a necessidade de uma pessoa res-
ponsável pelos empréstimos dos livros –
essa pessoa pode ser uma integrante da
coordenação e os empréstimos dos livros
podem ser feitos diretamente na adminis-
tração. No caso de se optar por uma sala
exclusiva para a biblioteca, deveremos ter
estantes variadas com a classificação dos
assuntos, e algumas mesas para leituras.
Muitos dos livros da biblioteca podem
ser provenientes de doações ou mesmo
encontrados no lixo, nas mesas de reci-
clagem. Acreditamos que a área necessá-
ria para uma pequena biblioteca seria de
aproximadamente 28 metros quadrados
(4 x 7m). É necessário, também, pensar
sempre na utilização pela comunidade.

114
Espacos socioculturais
Lojinha
Alguns galpões de reciclagem que tivemos a
oportunidade de visitar tinham uma peque-
na loja onde comercializavam artesanatos
feitos a partir de material reciclado, como
bolsas de sacos de comida de cães e gatos,
sacolas de pano, guarda-chuva, bijuterias e
toda sorte de produtos que possam ser feitos
pelos recicladores que tenham habilidade e
aptidões para o artesanato. Além disso, ven-
diam objetos como máquinas fotográficas,
toca-discos, roupas, quadros, discos; uma
dessas lojas que nos surpreendeu encontra-
mos no Galpão Arcele, em Santa Maria.

Essa lojinha, quando houver, deve ter a entra-


da diretamente voltada para rua, e deve cons-
tituir-se em mais uma fonte de renda para possibilidade de sobrevivência, ou então se-
os associados. Uma ou duas pessoas podem rem também associados e repartirem os lu-
trabalhar nessa loja produzindo e comercia- cros das vendas com os demais associados.
lizando os produtos independentemente da
cooperativa; pessoas que não gostam de tra- Área destinada estimada para a lojinha é de
balhar na triagem e que ali encontram uma 16 metros quadrados (4 x 4m).

115
Oficinas costura
artesanato mosaico
Essas salas não podem ser muito pequenas e cada
uma deve estar preparada para atender a especifi-
cidade de cada atividade proposta, por exemplo: a
sala para oficina de mosaico deve ter mesas gran-
des, tanques com água, estantes, armários e bal-
cões para guardar os azulejos e cacos de azulejos,
cimento-cola, colas, panos, pranchas de madeiras,
enfim, deve ser um espaço preparado para organi-
zar a atividade. Com mosaico, pode ser feito muita
coisa que pode ser revertido em rendimento, se for
Espacos socioculturais

um bom artesanato, como tampas para mesas, re- vidades que podem ser desenvolvidas, como a sala
vestimentos de bancos, armários e outros objetos. de costura. Encontramos um bom exemplo disso
Área aproximada de 49 metros quadrados. no Centro de Estudos Ambientais da Vila Pinto,
onde havia um espaço bastante generoso e uma
Aqui colocamos apenas como exemplo outras ati- dezena de máquinas de costura.

Sala de danca e teatro


A sala de dança e teatro pode ser parte de um pode ser propício para a celebração de festas
espaço multiuso que seria o próprio refeitório como Natal, Páscoa e aniversários, não só para
do centro sociocultural. Esse mesmo espaço o galpão, mas para a comunidade ao redor dele.

Oficina de papel reciclado

Projeto e desenho de Adriana Tazima

A oficina de papel reciclado surge como uma balhar diretamente dentro do galpão. Os três
das primeiras alternativas de geração de ren- galpões produziam papéis fantásticos, mas in-
da e trabalho dentro dos galpões. Três galpões felizmente nenhum conseguiu sobreviver por
em Porto Alegre chegaram a ter a oficina de muito tempo, pois a maior dificuldade não era
reciclagem de papel, em que se reuniam al- a produção, mas sim a comercialização: onde
guns jovens que optaram por trabalhar com colocar para vender o trabalho de rua para
a confecção de papel reciclado em vez de tra- distribuir e depois voltar para receber?

116
Com frequência algumas parcerias financiam tante paciência, e depois, sem a possibilidade
os equipamentos e mobiliários para oficina de um retorno econômico, a coisa piora. Ve-
que não são muito caros, como os liquidifica- mos a possibilidade de haver oficina de papel
dores, os bastidores, as secadoras, as mesas, reciclado não diretamente para os reciclado-
as estantes, as bancadas de pias e os tanques. res, mas uma oficina aberta para os jovens
Também é frequente a ilusão por parte de da comunidade onde o galpão está inserido,
apoiadores de que os recicladores consigam permitindo, assim, a possibilidade de uma ca-
sair da mesa de separação para produzir o pacitação profissional, desde que apoiada por
papel, e assim fazerem a capacitação para ou- uma entidade que ajude a formar uma asso-
tros, quando na realidade muitos não têm a ciação com esse novo pessoal, que colabore
vocação para essa atividade, que requer bas- na comercialização e na sua produção.

Espacos socioculturais

Projeto e desenho de Adriana Tazima

117
Cozinha refeitorio
O refeitório/cozinha é uma espécie de cora- alimentação, ou se não houver essa possibi-
ção do galpão de triagem, ele é o lugar do lidade sua entrada deve ser independente
descanso e do alimento entre as jornadas do galpão.
de trabalho, é um espaço de escape onde o
trabalhador pode se sentir como se estives- A cozinha refeitório é o elemento mais im-
se em casa, em meio à profusão de tanto portante e indispensável que deve acom-
lixo que envolve um galpão de reciclagem; panhar o projeto do Galpão de Reciclagem.
assim ele também é uma espécie de ilha ou Ele é, por obrigação ética profissional assim
oásis. Ele sempre deve estar separado do como os sanitários/vestiários, os elementos
galpão para evitar a relação do lixo com a constituintes do projeto do galpão.
Espacos socioculturais

A cozinha
O projeto de uma cozinha é bastante com- piso; forros; aberturas mínimas; iluminação e
plexo, não só pelos os equipamentos e uten- ventilação; exaustão mecânica; pias; cubas;
sílios de que necessita, mas sobretudo pelas armários para guardar utensílios etc.
normas de higiene e saúde que são estabele-
cidas para a viabilização de uma cozinha. São Abaixo colocamos o link para o Regulamen-
normas que, por exemplo, falam de questões to Técnico Sobre os Parâmetros e Critérios
como: caixa d´água, que não deve ser a mes- para o Controle Higiênico-Sanitário em Es-
ma do galpão, e deve ser hermética; controle tabelecimentos de Alimentos. Centro de Vi-
de água para consumo; prevenção de roedo- gilância Sanitária.
res e insetos; paredes e revestimentos; tipo de

Portaria CVS-6/99 10/03/99 Doesp 12/03/99


http://www.cvs.saude.sp.gov.br/zip/E_PT-CVS-06_100399.pdf

Breve organizacao de uma cozinha


A cozinha propriamente dita deve ser organizado segundo alguns setores ou partes:

Armazenagem

Chama-se espaço de armazenagem o local peratura ambiente): farináceos, arroz, fei-


destinado para guardar adequadamente os jão, massa, óleo, café etc; devem ser guar-
alimentos, para que não se estraguem. A ar- dados em armarios, estantes e caixas.
mazenagem é dividida em:
Armazenagem de alimentos frescos: car-
Armazenagem de alimentos secos (tem- nes, legumes, iogurtes etc; devem ser guar-

118
dados em geladeira e ou freezers. Esta área duzidos/armazenados. No caso de possuir
destina-se ao armazenamento de alimentos apenas uma geladeira ou câmara, o equipa-
perecíveis ou rapidamente deterioráveis. mento deve estar regulado para o alimento
Os equipamentos de refrigeração e conge- que necessitar de menor temperatura.
lamento devem ser de acordo com a neces-
sidade e os tipos de alimentos a serem pro-

Preparação/Lavagem dos alimentos

Etapa em que se lava os alimentos, descas- secções e uma bancada ou mesa próxima ao
ca e corta, antes de levar ao fogão (cocção) fogão e forno onde se possa trabalhar os ali-
ou para o forno. mentos. Nesse local devem se localizar, ain-
da, as pequenas lixeiras para o lixo seco e o
Deve-se ter preferencialmente uma área orgânico. Essa área deve possuir uma peque-
para preparo de carnes, aves e pescados; e na pia exclusiva para lavar as mãos das cozi-

Espacos socioculturais
outra para o preparo de hortifrúti. Para essas nheiras, pois essas não podem ser lavadas na
atividades, é necessário uma cuba com duas mesma cuba em que se lavam os alimentos.

Cocção/reaquecimento dos alimentos

Etapa na qual se faz a comida no fogão e também se requererá um forno industrial,


ou forno. Dependendo da característica do por exemplo, para produzir pão e biscoito
refeitório, se servem refeições para a co- para o café da manhã e/ou lanche. Não
munidade e ou dependendo do número de deve existir nesta área equipamentos refri-
trabalhadores esse fogão deve ser indus- geradores ou congeladores, porque o ca-
trial e deve vir acompanhado e uma coi- lor excessivo compromete os motores dos
fa de exaustão em cima do fogão. Assim, mesmos.

Apresentação da comida

Uma vez preparada a comida, ela pode ser da das panelas e demais pratos. Para essa
servida de diversas formas, de acordo com etapa, necessita-se também uma mesa ou
as necessidades das trabalhadoras: prato bancada em que se possa organizar esses
feito, quentinha ou bancada de Buffet, ou alimentos já prontos, onde serão levados
a simples colocação numa mesa ou banca- posteriormente para o refeitório.

Limpeza de pratos e panelas e outros utensílios

Para essa etapa serão necessários uma panelas e pratos com facilidade. Esses
cuba (pia grande quase como um tan- utensílios deverão retornar para os ar-
que) para que possa fazer a limpeza das mários e caixas.

Outros espaços

A cozinha ainda deve ter um espaço externo a pois deverá ser encaminhado ao galpão, e/ou para
ela para colocação do lixo seco e orgânico, que de- uma composteira, se houver a possibilidade.

119
Depósito de materiais de limpeza externo com as normas, deve existir área exclusiva para ar-
à cozinha; mazenamento de recipientes de gás e seus aces-
sórios. A delimitação dessa área deve ser com
Banheiro para os trabalhadores da cozi- tela, grades vazadas ou outro processo constru-
nha, também externo à cozinha; tivo que evite a passagem de pessoas estranhas
à instalação e permita uma constante ventilação.
Área para guardar botijões de gás. De acordo Deve ser externo à cozinha.

Observação: A cozinha deve ter entrada independente do refeitório, com separações


bem evidenciadas e de preferência a única comunicação possível entre eles é um ‘passa
prato’, com a possibilidade de ser fechado com uma janela, assim como também a parte
de depósito de limpeza, preferencialmente, não pode ter comunicação direta com a
cozinha. A cozinha deve ser o mais fechada possível, para evitar o entra e sai de pessoas,
e também evitar a entrada de insetos e roedores. As janelas e portas da cozinha devem
Espacos socioculturais

ser teladas. Os banheiros também não podem se abrir diretamente para cozinha, assim
como o pequeno deposito de lixo.

120
Na página anterior apresentamos um modelo na e sofá para o descanso e assim também a
de cozinha refeitório, onde procuramos colocar possibilidade de ter uma televisão. Foram co-
essas etapas do funcionamento de uma cozi- locadas algumas mesas e cadeiras no alpendre
nha e com um refeitório previsto para 50-60 como sugestão; e também pias no refeitório.
pessoas num único turno. Esse refeitório co- No refeitório, sugeriu-se o sistema de buffet. O
zinha foi calculado para um galpão de médio sanitário único é para uso eventual dos traba-
porte, com uma área aproximada de 182,0 lhadores da cozinha, pois, a princípio, deverão
metros quadrados (12,80 x14,40m). O refeitó- utilizar os sanitários-vestiários comuns ao gal-
rio apresenta uma pequena saleta com poltro- pão e localizados em outro volume.

Áreas

Área da cozinha: aproximadamente 65m² Área total: aproximadamente 152m²


Área do refeitório: aproximadamente 87m² Área do alpendre: aproximadamente 36m²

Espacos socioculturais
O refeitorio
Pensamos que o espaço do refeitório possa ser O refeitório torna-se mais acolhedor quando tem
usado também para festas e comemorações, um espaço para descanso com TV, poltronas e
como outra fonte de renda alternativa. Ele pode sofás – que podem ser conseguidos em briques e
ser dimensionado para abrigar um número maior reformados. Pensamos ser prática a colocação de
de pessoas que o número de trabalhadores. Ele pias para lavagem das mãos. No exemplo, sugeri-
ainda pode ser aberto para a comunidade, ofe- mos a utilização de um alpendre, para que, nos dias
recendo refeições a preços populares. Enfim, ele quentes, os recicladores possam comer ao ar livre.
é um espaço multiuso que inclusive pode servir
como uma sala para projeção de filmes, teatro, Um dado importante que as mesas sejam moveis,
dança, palestras e até mesmo para fazer a partilha e não fixas, para dar flexibilidade para o uso deste
dos ganhos. espaço.

121
Sanitarios e vestiarios
Inicialmente, é importante diferenciar os Para muitos técnicos, projetistas, essas
banheiros dos vestiários. Banheiro é o es- instalações tratam-se apenas de uma for-
paço destinado ao vaso sanitário e à pia. Já malidade que deve ser cumprida segun-
o vestiário, entendemos como o ambiente do a utilização das normas no código de
que compreende os chuveiros, armários, obras e planos diretores, esquecendo-se
bancos e o espaço para se vestir. da importância que esses espaços re-
presentam em um galpão de reciclagem.
Esses espaços não precisam estar neces-
sariamente juntos, podendo estar em am- Geralmente são instalados segundo uma
bientes diferenciados. Às vezes, é até me- relação de determinado número de tra-
lhor separar a área molhada dos chuveiros balhadores para cada vaso sanitário e
Espacos socioculturais

das áreas de pias e vasos sanitários, para chuveiro. Essa proporcionalidade tem se
não molhar todo banheiro. mostrado insuficiente nos galpões visita-
dos, que foram construídos segundo as
O grau de cuidado de um galpão pela coor- normas, mas nunca estão em conformida-
denação administrativa e seus cooperados de com as necessidades reais dos profis-
pode ser representado pela aparência, lim- sionais da reciclagem de resíduos sólidos.
peza e organização do banheiro, dos ves-
tiários e da cozinha.

Elementos que compõem um banheiro

Vaso Ralo Toalheiro Cabides


Pia Lixeira Porta-papel

Elementos que compõem um vestiário

Chuveiros (box isolados ou Cabides para roupas e toalhas


área coletiva) junto ao box
Espaço para se vestir Saboneteiras e porta xampus
Armários Espelhos
Bancos e/ou cadeiras Bancada para maquiagem.
Espelhos

122
Principais problemas

Número reduzido de chuveiros e va- masculinos e femininos, pois muito dos


sos sanitários em relação à quantidade chuveiros ficarão ociosos se o número
de trabalhadores, gera um longo tem- de homens for inferior ao das mulhe-
po de espera por parte das trabalhado- res, enquanto que o numero superior
ras cansadas ao final da jornada, que, de mulheres demandarão um maior
muitas vezes, nem chuveiro quente numero de chuveiros.
têm em suas casas. Por exemplo, fa-
zendo o cálculo do tempo de banho de Falta de diferenciação entre banhei-
quinze minutos por recicladora, após ros/vestiários masculinos e femininos.
uma jornada de trabalho, a terceira Por exemplo, o feminino exige a colo-
trabalhadora terá que esperar meia cação de espelho e local para fazer a
hora para poder se banhar. Também maquiagem. No banheiro masculino,
deve-se considerar que a maioria dos por exemplo, um mictório ajuda miuto

Espacos socioculturais
trabalhadores são mulheres, mães, e na manutenção e na limpeza dos vasos
esse período de espera se torna muito sanitários.
significativo na vida delas, pois no seu
dia a dia têm que sair correndo para Chuveiros coletivos podem causar
buscar seus filhos em creches ou es- desconforto para algumas pessoas.
colas. Quando o número de chuveiros
é mais reduzido ainda, esse tempo de Com frequência, vasos podem entupir
espera pode extender-se até uma hora, e as resistências dos chuveiros podem
inviabilizando o proprio banho e tendo queimar, impossibilitando o uso duran-
que voltar para casa suja, muitas vezes. te algum tempo, por isso, sempre se
Esse fato muitas vezes é determinante deve dimensionar o banheiro/vestiário
na autoestima feminina, baixando ou com um número de chuveiros e vasos
elevando-a. E pode até ser motivo de sanitários não menor que três e dois,
abandono do trabalho. respectivamente.

Igualdade na quantidade de banhei- Outro dado conflitante, que não deve


ros/vestiários masculinos e femininos ser ignorado, é a questão de gênero
quando na prática o número de mu- (homosexuais e transexuais), pois pode
lheres é geralmente maior, cerca de gerar problemas quanto à sua aceita-
70% a 80% dos trabalhadores. Deve- bildade tanto no vestiário masculino
se evitar essa simetria entre banheiros como no feminino.

123
Vestiarios
Opção 1: banheiros e vestiários masculino/feminino diferenciados
O vestiário feminino: deve ser resguardado vestiários masculinos não são individuali-
do masculino, para assegurar privacidade, zados. O cálculo de proporção de chuveiros
isso quer dizer entradas independentes e para cada trabalhdor foi de três para um
privacidade garantida. O espaço para o ba- (3/1) e o de vasos sanitários de cinco para
nho pode ser coletivo ou individual. Consi- um (5/1); baseado num coletivo de trinta
deramos coletivo quando os chuveiros são pessoas, exemplificado aqui com vinte e
todos colocados coletivamente, e o lugar uma mulheres e nove homens.
e a troca de roupa e maquiagem também.
Quando individual, pode-se dar de dois
modos: com box individual e espaço para
O cálculo de chuveiros
para cada trabalhador
Espacos socioculturais

troca de roupa coletivamente; ou todo ele


individualizado: chuveiro, espaço para secar
e trocar de roupa com banco individual ou foir de três para um; e de
cadeira, mas com o espaço de bancada para vasos sanitários de cinco para
maquiagem e espelhos em um espaço co-
mum. um; baseado num coletivo
O vestiário masculino: pode ser tratado
de 30 pessoas, exemplificado
como o feminino, individual ou coletivo, aqui com 21 mulheres e 9
na mesma proporcionalidade de chuveiros
para cada trabalhador. Normalmente, os
homens.”

124
Espacos socioculturais
Exemplo de planta baixa de banheiros e vestiários com divisão entre os boxes

Exemplo de planta baixa de banheiros e vestiários sem divisão entre os boxes

125
Opção 2: banheiros e
vestiários masculino/feminino
indiferenciados

Banheiros e vestiários indiferenciados são uma boa


solução para diferenças de gênero, não só entre
mulheres e homens, mas também de lésbicas, gays
e transexuais. Suas necessidades específicas fazem
parte das atribuições e da sensibilidade de acolhi-
mento por parte da coordenação do galpão, pois é
frequente enquanto grupos de vulnerabilidade so-
cial e econômica diriger-se aos galpões de triagem
em busca de trabalho.
Espacos socioculturais

Quando se trata de vestiários indiferenciados, de-


ve-se ter em mente que o box (individual) deve ter
as dimensões suficientes para assegurar o banho,
assim como um espaço seco para troca de roupa
com dimensões suficientes. O box deve ter tam-
bém cadeira ou banco, cabides para toalha e rou-
pas e também sapatos, saboneteira e suporte para
xampus. A porta de acesso ao box pode estar 10-20
cm elevada do chão para promover circulação de ar
e evitar contato direto com a água e possível apo-
drecimento, e deve ser aberta sempre para fora,
conforme desenho ao lado. Dentro do box, deve
haver uma abertura/janela na parede do chuveiro
permitindo a ventilação cruzada de ar e retirada da
umidade.

126
Planta baixa de banheiro unissex

Espacos socioculturais
Corte de banheiro unissex

Planta baixa de vestiário com chuveiro unissex

127
Cálculo de chuveiros e vasos por trabalhador

Banheiros e vestiários diferenciados

CHUVEIROS VASOS SANITÁRIOS


1 chuveiro para cada 4 trabalhadores, 1 vaso para cada 5 trabalhadores,
70% femininos e 30% masculinos 70% femininos e 30% masculinos

Exemplo de cálculo: Exemplo de cálculo:


Para um total de 30 trabalhadores Para um total de 30 trabalhadores
70% de mulheres = 21 mulheres 70% de mulheres = 21 mulhwres
30% de homens = 9 homens 30% de homens = 9 homens
Mulheres: 5 chuveiros Mulheres: 4 vasos
Homens: 2 a 3 chuveiros Homens: 2 vasos
Espacos socioculturais

Banheiros e vestiários indiferenciados

CHUVEIROS VASOS SANITÁRIOS


1 chuveiro para cada 3 trabalhadores, 1 vaso para cada 5 trabalhadores,
todos sem distinção de gênero todos sem distinção de gênero

Exemplo de cálculo: Exemplo de cálculo:


Para um total de 30 trabalhadores Para um total de 30 trabalhadores
Unissex: 10 chuveiros Unissex: 6 vasos sanitários

Localizacao
Aconselha-se a construção dos banheiros e ves- assim como as aberturas, para evitar o contato
tiários como um prédio isolado próximo ao gal- com os resíduos e o mau cheiro. Pode-se também
pão, de preferência, com acesso coberto. Caso criar uma bateria de cabines, cada uma com sua
não haja essa possibilidade, ou em casos de adap- porta abrindo para o exterior do galpão. Essas cé-
tação e reformas, deve-se procurar fazer com que lulas devem ter portas a uma altura que permita
as portas dos banheiros sejam externas ao galpão, privacidade, mas que auxiliem na ventilação.

128
Orientacao solar e ventilacao
Qualquer projeto de banheiros e vestiários no A área das aberturas em banheiros destinadas à
galpão de reciclagem deve levar em conta a orien- ventilação, segundo o código de obras, é de no
tação solar. mínimo 1/20 da área do piso, mas pode ser maior.
Normalmente, utilizam-se aberturas na parte su-
Para o clima do Rio Grande do Sul, é importante perior da parede, devido à privacidade, mas essa
que existam aberturas voltadas para Norte e Oes- solução não é adequada, pois não ventila as par-
te, pelo grau de carga térmica que essas fachadas tes mais baixas do box e do vaso sanitário, que são
recebem, colaborando para a manutenção dos úmidas.
banheiros secos, sem muita umidade e mofo.
Deve-se procurar posicionar as aberturas o mais
Essas mesmas aberturas de entrada da luz devem baixo possível, mas sempre levando em conta a
permitir ventilação. Na maioria dos galpões, essas privacidade dos trabalhadores e usuários desses

Espacos socioculturais
aberturas de banheiros e vestiários são insuficien- espaços, pois elas devem permitir que essas mes-
tes. Encontramos, em muitos deles, manchas de mas aberturas incidam luz sobre os boxes que po-
umidade e problemas de infiltração e de mofo. dem estar próximos ou distantes.

Revestimento e registros
Sugere-se a utilização de revestimento cerâ- direcionado ao ralo. As paredes devem ser re-
mico nas áreas molhadas, tanto para o piso bocadas e pintadas com tinta acrílica ou outra
quanto para as paredes. Nos banheiros, o re- lavável com antimofo. O importante, nos ba-
vestimento deve ser principalmente no piso, nheiros, com relação aos materiais, é a durabi-
na área da parede, em torno do vaso sanitário lidade e resistência. Então, deve-se evitar fazer
(até a altura de 1 metro) e na pia, próximo à economias em registros e instalações elétricas,
torneira. pois a manutenção requer quebra de paredes.
Muitos galpões que são construídos pela prefei-
Nos vestiários, deve-se usar revestimento na tura utilizam na construção materiais, torneiras
região do box. Deve-se tentar usar azulejos e e registros baratos e de má qualidade, que po-
peças cerâmicas de dimensões maiores, para dem causar problemas em um curto espaço de
evitar juntas entre os azulejos e diminuir os re- tempo, levando os custos de troca das instala-
juntes, e possíveis infiltrações. ções frequentes para o bolso dos trabalhadores
não têm dinheiro imediato para repor, os quais
É essencial que o piso do box tenha caimento ficam vazando ou inviabilizando o uso.

129
Espacos socioculturais

130
Gestao do galpao

Gestao do galpao
131
Gestao

E
ntendemos aqui por gestão o gionais e locais de representação, por me-
papel que deve desempenhar lhores condições de rendimento, qualidade
a coordenação, os gestores de trabalho e vida dos recicladores.
como representações legítimas
de seus associados para que a É importante que na coordenação do galpão
Associação consiga atingir seus também estejam representadas as ques-
projetos e suas metas. Na qualidade de re- tões de gênero, tanto de mulheres, quanto
presentantes do galpão de triagem, a coor- de homens e LGBT. A coordenação deve ser
denação deverá lutar sempre junto as cate- eleita por votação e o tempo de permanên-
gorias (Movimento Nacional dos Catadores cia deverá ser regido pelo estatuto; o ideal
de Material Reciclável. MNCR) nacional, re- é que ano a ano haja votação.
Gestao do galpao

São atividades próprias da coordenação

São atividades próprias da coordena- assunto de reciclagem, ensinam como


ção: é feita a separação e reciclagem dos
Organizar e manter o coletivo unido diversos tipos de materiais que chegam
e solidário, responsabilizando-se pelo ao galpão. Assim, o reciclador pode
gerenciamento e pela venda do mate- mostrar para onde vai o material que é
rial triado, resolvendo problemas do separado na coleta seletiva. Na maioria
cotidiano do galpão, que são muitos das vezes, as pessoas desconhecem
e, às vezes, até mais complexos que a para onde são levados e o que é feito
questão da comercialização da produ- com eles.
ção. Melhorar a produção dos reciclado-
Estabelecer a divisão do trabalho res, e, consequentemente, os rendi-
dos associados. Essa divisão deve ser mentos, principalmente a incumbência
democrática, de preferência voluntária, de fazer a ‘partilha’ dos ganhos, que
para que cada um encontre seu lugar pode ser semanal ou mensal.
no galpão. E, de tempos em tempos, Capacitar e aperfeiçoar a mão de
fazer um rodízio, para conhecer e ex- obra dos recicladores. A coordenação
perimentar as tarefas realizadas pelos deve motivar seus associados em seu
outros. Sempre avançar com práticas crescimento profissional, formação
de participação igualitária entre ho- específica relacionada ao seu trabalho
mens e mulheres. (mesa-esteira-bancada, bomboneiro,
Travar relacionamento com a comu- prensagem), assim como perceber
nidade local, divulgando a importância e transmitir a importância da pre-
da Associação: com a prefeitura, esco- servação do meio ambiente. Fazer a
las, condomínios residenciais, hospi- formação de liderança para outros
tais, empresas, instituições públicas, associados, para que sejam capazes de
etc. Estas parcerias são bem-vindas, assumir a qualquer momento a situa-
pois têm a intenção de promover a ção de coordenador(a). Há Ongs que
educação ambiental; os reciclado- fazem essa capacitação de liderança.
res são também professores sobre o Gerenciar o recebimento e mate-

132
rial (resíduos sólidos) da prefeitura e tir notas fiscais.
outras entidades. Essa tarefa é desgas- Garantir a limpeza e a organização do
tante, pois os recicladores deparam-se galpão, do refeitório e dos banheiros.
muitas vezes com o escasso material Comprar materiais necessários e
fornecido pela prefeitura, devido a alimentos para o refeitório.
falta de divulgação frente à sociedade, Promover cursos profissionalizantes,
em relação à necessidade de separar cuidar e gerenciar o espaço cultural-so-
o lixo seco do orgânico. Algumas vezes cial do galpão, designando responsabi-
acontece da prefeitura entregar o lidades para as atividades que possam
material - o lixo seco - misturado com o acontecer no centro como oficinas
lixo orgânico, num galpão que somente de corte-costura, cursos de mosaico,
faz a separação dos resíduos secos. atividades físicas e esportivas, bibliote-
Supervisão e manutenção das máqui- ca, telecentro, cinema-teatro e todas
nas. outras atividades que houver, festas de
Supervisão e manutenção do galpão final de ano, aniversários etc.
(eletricidade, lâmpadas, banheiros, Buscar ajuda especializada para fazer
torneiras etc). a contabilidade do galpão, assim como

Gestao do galpao
Gerenciar a segurança do Galpão. uma consultoria jurídica, quando for
Gerenciar os EPI (Equipamentos de necessário.
Proteção individual), extintores. Estimular a convivência saudável e
Prestar serviço de contabilidade, emi- amigável entre todos os associados.

Coordenacao convivencia
Um dos aspectos promotores do coletivo e das lucro (a harmonia do coletivo depende de rece-
relações em função da proximidade dos associa- ber uma quantia mínima satisfatória oriunda de
dos é a mesa de quatro ou seis trabalhadores: o seu trabalho). Mas essa produção muitas vezes
real benefício que ela traz, talvez, seja a aproxima- pode mascarar a essência do coletivo: a solidarie-
ção entre as associadas. A separação do material dade, os afetos a cooperação... que devem sem-
permite um convívio maior ao trocar entre si suas pre se sobrepor a qualquer relação econômica. O
experiências de vida. Esse convívio – como todas ideal é que aconteçam juntas.
as relações - às vezes pode apresentar conflito.

O espaço da arquitetura é um forte estimulador


... entendeu-se que
das relações de acolhimento e solidariedade ao trabalhando em mesas
promover esses convívios. São estratégias: a mesa
para quatro trabalhadores, o refeitório, os espa-
de 4 a 6 pessoas aumentava a
ços de lazer, as festas. produtividade do galpão.”
Com a evolução do processo de triagem, enten- A mesa de separação revela o sentido de coletivo
deu-se que trabalhando em mesas de quatro ou de produção, mas, por outro lado, ela apresenta
seis pessoas aumentava a produtividade do gal- um trabalho disciplinar de vigilância e de controle
pão, gerando mais renda com mesmo tempo de dos associados sobre si mesmos, estabelecendo
trabalho, ao invés da bancada. Queremos dizer um certo cotidiano de trabalho em que a agilida-
com isso que também o sentido de coletivo está de e a rapidez são fatores decisivos para o ritmo
intimamente atado à questão da produção e do da produção.

133
Como entre os remadores em um barco, a sinto- ordem sexual.
nia entre eles é imprescindível para o processo.
Entretanto, cada mesa pode apresentar ritmos de Infelizmente algumas pessoas ainda acreditam
produção distintos. que uma ordem que parte de cima seria melhor
para a rentabilidade do que a discussão e a cons-
Dessa disciplina, desse ritmo impostos aos asso- trução coletiva do que deve ser feito para renta-
ciados, por eles mesmos, surge certa familiarida- bilizar o galpão. Mas devemos estar cientes de
de entre o modo de pensar, de agilizar o processo que a construção coletiva democratiza as ações e
de triagem, no modo de falar e o tempo de des- representa os interesses de todos os associados,
canso se torna comum a todos. E os coordena- e assim também dificulta qualquer processo de
dores devem estar sensíveis a essas relações que desvio de recurso por parte da coordenação.
extrapolam ao simples produzir.
Infelizmente algumas
O tempo de permanência de um associado
(quantos anos ele já trabalha ali no galpão) é fun- pessoas ainda acreditam
damental para a integração do coletivo. A rotati- que uma ordem que parte
vidade constante prejudica a sincronia entre os
associados, tanto na produtividade quanto na in- de cima seria melhor para
Gestao do galpao

tegração. Os associados mais antigos ensinam os


mais novos. Mas o ritmo do galpão dependerá da
a rentabilidade do que a
agilidade, rapidez e eficiência de cada reciclador, discussão e a construção
da peculiaridade de cada pessoa, alguns são mui-
to ágeis - geralmente os mais jovens - entretanto, coletiva do que deve ser feito
outros apresentam um ritmo mais lento. Cada para rentabilizar o galpão.”
um tem o seu tempo e deve ser respeitado.

O tempo de Podemos observar em nossas pesquisas que al-


permanência de um guns coordenadores já nem trabalhavam mais
nas mesas, não que seja uma coisa ruim, mas por
associado (quantos anos que eles tinham que fazer a contabilidade, o ge-
renciamento, buscar apoiadores externos, uma
ele já trabalha ali no galpão) é grande carga de tarefas. Exatamente por terem
fundamental para a integração conhecimento diferenciado de contabilidade, ou
uso de computador, acabavam se destacando,
do coletivo.” e logo acabavam se afastando naturalmente do
Os mais antigos devem ser os responsáveis pelo grupo principal.
primeiro acolhimento e sempre evitar qualquer
prepotência de saber sobre os iniciantes. Daí a importância de capacitar o maior nú-
mero possível de recicladores em contabili-
Existem galpões que são encabeçados por coor- dade e informática. Assim como também,
denadores autoritários. Eles assumem a liderança em certos casos mais extremos, fazer o pro-
entre os associados e acabam tratando os asso- cesso de alfabetização.
ciados como funcionários, empregados de uma
fábrica ou até mesmo escravos. As gestões nesses Talvez seja por isso que algumas coordena-
galpões são menos participativas, o senso de co- ções se recusem a esse processo de cresci-
letivismo fica de lado, enquanto a produtividade mento de seus associados.
parece ser supervalorizada. Pudemos observar
algumas vezes favorecimentos econômicos, em- Com frequência, alguns coordenadores com
préstimos, em troca de apoio em decisões do os quais tivemos aproximações se mostra-
coletivo, ou até mesmo envolvendo questões de ram com grande virtude de liderança criando

134
uma identificação tão forte com o galpão
que se acabava associando o nome de um
É papel da coordenação
galpão ao nome da coordenadora, o galpão englobar outras
da fulana, o galpão do ciclano.
atividades no galpão como
Galpões que recebem subsídios e ajudas das oficinas práticas, cozinhas
prefeituras, ONGs, empresas, universidades
conseguem melhor rentabilidade. que estão abertas também
É papel da coordenação englobar outras ati-
a comunidade próxima,
vidades no galpão como: oficinas práticas, telecentro e bibliotecas, ou
cozinhas que estão abertas também à comu-
nidade próxima, telecentro, bibliotecas ou
seja, criar um centro social e
seja, criar um centro social e cultural. Ao sair cultural.”
do patamar da miserabilidade, conseguem
maior reconhecimento por parte da socie- trário dos outros galpões, quanto mais baixa
dade e da comunidade local. Na medida a qualidade do espaço mais dificuldade têm
em que estão abertos para prestar serviço, de sair desse patamar, muitas vezes até obri-

Gestao do galpao
esses galpões melhoram mais rapidamente, gando a finalizar suas atividades.
numa espécie de corrente positiva. Ao con-

Galpoes de carrinheiros independentes


Há experiências positivas e negativas, ou Existe uma crença de que a triagem do lixo,
seja, recolhem o material nas ruas e levam quando realizada em coletivo e recebendo
para o galpão para separação. Nesses gal- material da prefeitura, promove o associati-
pões, a gestão sempre é mais complicada, vismo e o cooperativismo. Entretanto, é pos-
apresentam ganhos mais baixos e deixam sível, mesmo trabalhando individualmente
sempre o coordenador sobre suspeita na como carrinheiro, participar efetivamente
hora da partilha. (A falta de conhecimento de uma associação ou de um coletivo. To-
de matemática, de contabilidade, de notas ma-se como exemplo o galpão da ARSELE,
fiscais, de descontos, da falta de controle de na cidade de Santa Maria (RS), que tem um
horas trabalhadas, gera paranoia e descon- refeitório para seus carrinheiros, promoven-
fiança). Também os carrinheiros vendem do a interação entre eles. Dessa forma, o car-
previamente os melhores materiais para o rinheiro tem conhecimento do que se passa
atravessador antes de levar para o galpão. no cotidiano de seus iguais.

A coordenação deve ter em mente e os catadores não devem nada à


que todos os galpões de reciclagem, prefeitura por receber o material.
antes de tudo, são prestadores de A prefeitura e toda a sociedade são
serviço para as prefeituras; são responsáveis pela manutenção e
como uma empresa terceirizada, pelo bom funcionamento dessa ati-
só que, em vez de empresa, são vidade, ou seja, não fazem mais que
uma associação ou cooperativa. As a obrigação por zelar e promover os
prefeituras precisam desse serviço, galpões.

135
Identidade
A construção da identidade de um galpão das que ainda não conseguiram ou conseguir
esta associada a vários fatores, entre eles, o mais material reciclável de qualidade e de
tempo de existência do galpão, da coopera- alto valor no mercado. Uma das ideias é di-
tiva, do trabalho de relacionamento com a vulgar informações sobre a cooperativa para
comunidade local, com outras instituições, jornais, revistas, televisão e redes sociais na
com a prefeitura e com as escolas. Não po- internet, a fim de se tornar mais conhecida.
demos, entretanto, esquecer os aspectos
externos, ou seja, a aparência do galpão, vis- A identidade visual do galpão atua de diver-
to que estamos trabalhando com o lixo, ou sas formas sobre seus associados e sobre as
seja um material altamente estigmatizado pessoas da vizinhança. A existência de uma
pela sociedade. E a identidade de um galpão logomarca, na maioria das vezes, ajuda a
infelizmente está associada à organização e identificar a cooperativa; coloca um nome
limpeza deste e de seus associados. sobre o galpão, que deixa de ser algo desco-
Gestao do galpao

nhecido e passa a ser conhecido, deixa visí-


Ao construir uma identidade, sua identifica- vel, dá uma cara. E isso, às vezes, é decisivo
ção, a associação/cooperativa coloca-se num para a respeitabilidade do galpão com a co-
novo patamar, é hora de ir além do simples munidade que o cerca e mesmo dentro da
receber o apoio da prefeitura e começar a cidade.
procurar novos parceiros para suprir deman-

Exemplos de logos

136
Gestao do galpao
Identidade visual na fachada e no uniforme

A manutenção dessa identidade e sua vei- entorno e galpão. Entretanto, os valores


culação subsequente em forma de cartaz mais importantes para a identidade residem
ou placa (na fachada ou junto ao portão de ainda nas relações humanas que se possam
entrada) demonstram que existe uma ativi- estabelecer entre os associados e entre os
dade sendo desempenhada dentro daquele associados e a comunidade.
espaço. Dessa forma, a comunidade passa a
entender que existem pessoas, muitas vezes A identidade visual atua positivamente no
membros da própria comunidade, prestan- psicológico nos membros do próprio galpão.
do um serviço sério e fundamental para a O uso da logomarca em uniformes, por exem-
cidade, dentro daquele espaço. plo, denota uma imagem de galpão bem es-
tabelecido, rentável, unido e consolidado.
A manutenção e a limpeza, tanto na área Os associados precisam de motivação e de
externa como na área interna, a delimitação um entendimento de que eles trabalham em
do terreno e um acesso satisfatório e iden- equipe. Portanto, a reprodução de um símbo-
tificado, transmitem uma imagem positiva, lo, de algo que os une, os estimula no sentido
até de sucesso, do galpão ante a comunida- coletivo, de cooperação e contribui até mes-
de. Portanto, a identidade visual atua como mo para o orgulho pessoal de realizar aquele
um fator referencial entre comunidade do trabalho.

137
Sugere-se a criação de logomarca para o gal- do galpão, o tipo de trabalho que realizam,
pão e a veiculação dessa sob forma de aplica-o endereço, seus parceiros; tudo isso ajuda
ção de uniformes, aventais, equipamentos, a dar credibilidade a Associação de recicla-
carrinhos dos carrinheiros ou veículos auto- dores. Assim, também, quando possível, a
motivos que o galpão tiver. utilização de um banner para divulgação de
feiras, encontros, seminários. Até mesmo, a
Interessante também é a ideia de um folder criação de uma apresentação digital em Po-
que possa ser distribuído e entregue em ins- wer Point. Sempre é possível conseguir aju-
tituições, escolas e empresas, onde em seu da para fazê-lo numa universidade, escola,
conteúdo apareça a história de formação ONGs, ou mesmo na prefeitura.
Gestao do galpao

Exemplo de folders ou panfletos

138
A prefeitura deve ter como obrigação a pro- contato que o galpão tem: telefone, e-mail,
moção dessa identidade dos galpões, e não endereço etc.
apenas o fornecimento de material e/ou
ajudas em dinheiro, uma vez que os galpões Ter um telefone fixo no galpão também é
prestam serviços que deveriam ser desem- um registro de sua identidade. A conta do
penhados pelas prefeituras ou pelo estado. telefone pode ser paga pela prefeitura, ob-
Essa divulgação pelas prefeituras é impres- viamente estabelecida uma cota, ou mesmo
cindível, seja pela internet, veiculando pági- pela Associação, todas essas questões, mais
nas com fotografias e dados referentes aos cedo ou mais tarde, serão temas de conversa
galpões, seja produzindo pequenos folhetos entre os associados.
ou banners.
Outro fator que auxilia a identidade do gal-
Hoje em dia, também com o advento da pão e está ligado diretamente à arquitetura
internet, é extremamente favorável para a é a questão da iluminação. A iluminação no-
identidade do galpão a criação de um blog, turna do galpão destaca-o em relação às ruas
onde poderiam estar presentes, além desses à noite e seria importante estar vinculada a
dados anteriormente citados, outros mate- uma placa junto ao portão. Além da questão
riais como fotos e vídeos com depoimentos da segurança, a unidade fica identificável du-

Gestao do galpao
de seus associados. Acreditamos que a utili- rante a noite. Assim, deveríamos considerar,
zação da internet como meio de divulgação também, a conservação da fachada como
do galpão pode ajudar a encontrar parceiros símbolo de identidade.
mais longínquos, que tragam contribuição ao
galpão. É importante a manutenção de placas indica-
tivas da localização do galpão no bairro, nas
ruas próximas ao galpão - como mapas de
A iluminação noturna “você está aqui” com setas indicativas, para
do galpão destaca-o que as pessoas de fora possam chegar com
facilidade ao galpão.
em relação às ruas à noite, e
Além disso, seria interessante a veiculação
é importante que ela esteja do galpão ao centro socioultural: quadra de
vinculada a uma placa junto esportes, sala para cursos, pequenas salas
de cinema, sala de oficinas de artesanato,
ao portão. Além da questão oficina de papel, oficinas de saúde, cozinhas,
da segurança, a unidade fica refeitórios, museu do lixo, canchas despor-
tivas, biblioteca, telecentro, sala de costura,
identificável durante a noite.” teatro, horta, biblioteca, creche, moradia etc.
Essas atividades funcionam como catalisado-
Acreditamos, também, que a identidade da res da vida social do bairro.
associação cresce quando a associação con-
segue criar uma conta num banco e seus São formas também de construção da identi-
associados recebem cartão para retirada do dade: participação das gestões em atividades
dinheiro. Hoje em dia, não deixa de ser uma externas ao galpão: reuniões com a prefeitu-
forma de identificação, ainda que discutível ra, com a secretaria ou departamento que
e questionável. Também pensamos que os administra o lixo da cidade, movimento na-
associados poderiam ter cartões de apresen- cional dos catadores (MNC) ou a Federação
tação, em que figurasse o nome da Associa- dos Recicladores (FARRGS), escolas, condo-
ção, o nome do galpão, o nome do reciclador, mínios, eventos ligados ao meio ambiente,
seu e-mail, ou telefone para contato. Sempre ou seja, atividades que demonstrem a repre-
é importante também divulgar as formas de sentatividade do galpão ante a comunidade.

139
Limpeza
O aspecto de limpeza é imprescindível para Os galpões que recebem material da pre-
a respeitabilidade do galpão ante à comu- feitura apresentam um alto índice de dis-
nidade; limpeza diz respeito à salubridade persão do material na área externa na
no ambiente de trabalho e também à orga- proximidade da gaiola. Curiosamente, es-
nização do processo de triagem. ses mesmos galpões também apresentam
falta de estima por parte dos associados,
Durante a pesquisa, podemos observar além de falta de rigor no controle do ma-
que os galpões que se utilizaram de edi- terial.
ficios já existentes, curiosamente tinham
uma limpeza e ordenação melhores que os
galpões construídos pelas prefeituras.
Gestao do galpao

Limpeza na area externa do galpao


Não é frequente, mas o material que per- 3. Alguns galpões não possuem espaço físi-
manece na parte externa do galpão con- co (container) adequado para o armazena-
tribui para a insalubridade do espaço de mento do rejeito. Nesses casos, o rejeito é
trabalho. Isso ocorre por uma série de fa- depositado também no chão, na parte ex-
tores, como: terna do galpão.

1. Às vezes não há espaço de armazena-


mento para o resíduo que o caminhão Muitas vezes os próprios
traz. Geralmente esse resíduo é deposita- caminhões da prefeitura
do no chão em uma parte externa da uni-
dade. Muitas vezes os próprios caminhões descarregam o lixo no chão,
da prefeitura descarregam o lixo no chão,
quando a gaiola está cheia; material esse
quando a gaiola está cheia,
que deveria ser direcionado a outro gal- material esse que deveria ser
pão. Outro fator é a falta de profissionalis-
mo dos funcionários da prefeitura que fa-
direcionado a outro galpão.”
zem a descarga do material, que, quando
as sacolas caem no chão, não são capazes 4. Alguns materiais, como a sucata, o lixo
de recolher e as coordenações ficam com eletrônico, os resíduos de grande porte
medo de reclamar, pois podem sofrer algu- que não são reciclados, são depositados
ma represália e o pessoal no outro dia não também na área externa, aguardando
entregar o material. comprador. A atuação da intempérie sobre
estes resíduos e sua dispersão por animais
2. Em alguns casos, a prefeitura deposita e pelo vento favorecem a degradação do
o material na parte externa da gaiola, por- espaço. Estes exalam odores de substância
que as sacolas são compactadas dentro do tóxica – e contribuem para a proliferação
caminhão compactador e, quando deposi- de bactérias, organismos decompositores,
tadas dentro da gaiola, voltam ao seu vo- pragas, ratos, baratas; e formam focos para
lume normal, correndo o risco de estourar os mosquitos da dengue. Importante tam-
a mesma. bém que não se acumule agua dentro dos

140
vasilhames e garrafas guardados na parte Geralmente, a zona de armazenagem dos
externa e expostos às intempéries. fardos é mais limpa que a zona de triagem.
Logo, é mais indicado que o material seja ar-
Os galpões que trabalham diretamente mazenado em forma de fardo do que dentro
com carrinheiros apresentam uma parte da gaiola em forma de resíduo não separado.
externa mais limpa, pois os carrinheiros
já trazem para dentro do galpão os mate-
riais mais rentáveis (pet, latinhas, papéis, É mais indicado
alumínios, conforme os preços da época) que o material seja
previamente triados. O galpão, no minimo,
deve ser limpo semanalmente. armazenado em forma de
fardo do que dentro da
Os galpões que trabalham gaiola em forma de resíduo
diretamente com não separado.”
carrinheiros apresentam uma
parte externa mais limpa, pois O piso - bem como sua cor, durabilidade e

Gestao do galpao
seu estado de conservação - é um fator de-
os carrinheiros já trazem para terminante para a manutenção da qualida-
de do espaço no que diz respeito à higiene
dentro do galpão os materiais e à limpeza dentro do galpão. Aconselha-se
mais rentáveis previamente o uso de pisos mais claros e lisos, por exem-
plo, o Galpão de Tiagem do São Pedro - um
triados.” prédio já existente que foi reaproveitado -,
é de pedra granítica cinza clara (granitina).

141
A maioria dos galpões utiliza contrapiso, -
muito econômico - mas não é muito reco- Para que seja realizada
mendado pois é poroso, absorve óleos e
líquidos oriundos do resíduo. A falta de um a lavagem com água e
revestimento no contrapiso dificulta a lim- mangueira, é necessário que
peza e mantém a umidade.
existam pelo menos quatro
Devido ao custo elevado dos revestimentos,
indica-se o uso de pisos cerâmicos de alta
pontos de água no interior do
resistência em áreas estratégicas como na galpão. Importante também
zona de triagem, embaixo da gaiola, nos bo-
xes-baias e na volta da prensa. Sobre outros
observar o caimento dos
revestimentos para pisos, veja-se o item pi- pisos, para que as águas
sos.
sejam recolhidas pelas
Para que seja realizada a lavagem com àgua grelhas e ou ralos sifonados,
e mangueira, é necessario que tenham pon-
tos de água no interior do galpão, no míni- impedindo a formação de
Gestao do galpao

mo quatro ao longo das duas laterais do


galpão, conforme mostra a planta baixa no
poças.”
desenho. Importante também observar o parte que fica embaixo da base da gaiola, o
caimento dos pisos, para que as águas se- espaço entre o piso e a gaiola propriamente
jam recolhidas pelas grelhas e/ou ralos sifo- dito, onde acumulam-se restos de lixo, e o
nados, não permitindo a formação de poças chorume (líquido que escorre de garrafas,
de água. (veja-se desenho de pisos). caixas e latas). Esse espaço deve ser lava-
do diariamente, observando para que não
fiquem poças de água embaixo da gaiola.
A falta de um Veja-se o item Gaiolas. Limpeza da gaiola.
revestimento no Outros elementos que contribuem para o
contrapiso dificulta a limpeza e aspecto e limpeza do galpão internamente
é a limpeza das paredes e/ou a manutenção
mantém a umidade.” da pintura com cores claras; também a par-
te interna do telhado, em que é necessário,
Sugere-se também que alguém do coleti- de tempos em tempos, limpar ou pintar.
vo de associados seja responsabilizado por
esta tarefa da coordenação da limpeza. Os espaços como sanitários, vestiários, re-
feitório-cozinha devem ser limpos diara-
A limpeza da gaiola deve ser feita sempre mente para garantir um ambiente, limpo,
que ela estiver vazia, o que pode ocorrer higienizado e ordenado.
diariamente ou semanalmente. E mesmo
que não esteja completamente vazia, res-
tando alguns sacos e sacolas, deve-se des-
A limpeza da gaiola deve
locá-las para que se faça a limpeza com vas- ser feita sempre que
souras e escovas, além de posteriormente
a fazer a lavagem, preferencialmente com ela estiver vazia, o que
uma mangueira de jato forte. pode ocorrer diariamente ou
Talvez a parte mais crítica, em termos de su- semanalmente.”
jeira e odor, seja a parte debaixo da gaiola, a

142
Seguranca do galpao
Vigilancia e controle
Existe uma necessidade de cercar o terreno pria cidade vive sob esse contexto.
onde está localizado o complexo do galpão.
Geralmente, o cercamento é feito com telas, Uma alternativa mais econômica para au-
pilaretes ou placas de concreto pré-fabrica- mentar a segurança é realizar a prensagem
da. dos materiais no turno da noite, assim, o gal-
pão funciona durante 24 horas e os vigilantes
Os galpões geralmente estão situados em podem ser os próprios prenseiros, ficando a
áreas vulneráveis da cidade – periferia, locais necessidade de um(a) vigilante no final de

Gestao do galpao
próximos a vilas, em regiões desocupadas e semana. Na inviabilidade de haver dois tur-
marginalizadas por tráfico de drogas e pros- nos é prudente contratar um vigilante que
tituição – por isso, estão sempre sujeitos a pode ser cooperativado, ou uma empresa de
roubos e depredação do patrimônio do gal- vigilancia terceirizada para esse serviço. Essa
pão. Portanto, é importante que haja cerca- segunda possibilidade, embora mais onero-
mento do terreno, gradeamento do galpão sa, é mais segura, pois exclui qualquer rela-
e vigilância, principalmente nos horários em ção viciada e comprometedora com algum
que não há pessoas trabalhando. Não que cooperado, e exime a Associação, posterior-
isso seja uma exclusividade do galpão: a pró- mente, de sofrer ações judiciais trabalhistas.

143
Outro fator que auxilia bastante na proteção dores, mas também para os visitantes; muitas
do galpão é uma boa iluminação externa, pois vezes, as escolas visitam os galpões e é neces-
ajuda a inibir os assaltos. Ou mesmo, devido ao sária uma atenção ainda maior, por se tratar de
baixo custo, pode ser oportuno instalar câme- visitantes e de crianças.
ras de vigilancia e alarmes.
Devem-se evitar caseiros no galpão, pois de-
A utilização de cães de guarda sempre deve senvolvem sentimento de posse, e, eventual-
ser feita com muito cuidado, principalmente mente, podem negar-se a sair depois e não
de dia. Os cães devem ficar presos e distantes tem para onde ir, e também futuros problemas
da zona de trabalho e do centro. O perigo de trabalhistas. Famlia com com crianças não de-
acidentes não se apresenta só para os trabalha- vem morar num galpão.

Seguranca dos trabalhadores


Gestao do galpao

A cooperativa/associação deve preocupar-se consdera-se EPI todo dispositivo ou pro-


com a segurança de seus trabalhadores. Des- duto de uso individual utilizado pelo tra-
sa segurança depende a integridade física e o balhador destinado à proteção de riscos
profissionalismo do coletivo. Para isso é impor- suscetíveis de ameaçar a segurança e a
tante observar alguns cuidados básicos como: saúde no trabalho; conforme as atividades
que são desenvolvidas no galpão, os mais
Usar vestimenta adequada, incluindo sapatos comuns são:
fechados.
Luvas de latex para os recicladores que traba-
Usar os Equipamentos Individuais de Prote- lham na triagem;
ção (EPI).
Luvas de algodão ou couro, para os bombo-
Para fins da Norma Regulamentadora, neiros e prenseiros;

144
Óculos de proteção contra impacto de parti- É importante que os(as) trabalhadores que
culas; operaram as máquinas como prensas, ele-
vadores, empilhadeiras e esteiras, quando
Protetores de ouvido, principalmente quando houver conheçam bem essas máquinas e
houver muito ruído no galpão; saibam operá-las. De um modo geral, as
recicladoras, os recicladores devem ter um
Aventais ou macacões; cuidado especial por exemplo, em não uti-
lizar colares, correntes, pulseiras e brincos
Capacetes ou toucas; quando estiverem operando as máquinas.
As diferenças físicas entre homens e mu-
Máscaras, principalmente se trabalharem lheres, assim como a idade, geram neces-
com descarte hospitalar. sidades especiais de proteção. Observar
as diferenças de gênero não só entre mu-
A associação/cooperativa é obrigada a fornecer lheres e homens mas também de lésbicas,
gratuitamente os EPI, em perfeitas condições gays e transexuais e de suas necessidades
de uso. Cabe à coordenação exigir, orientar e específicas faz parte das atribuições e da
treinar o trabalhador sobre o seu uso adequa- sensibilidade de acolhimento por parte da
do, a guarda e conservação. Substituir imedia- coordenação do galpão, pois é frequente,

Gestao do galpao
tamente, quando danificado ou extraviado. enquanto grupo de vulnerabilidade social
e econômica, dirigir-se aos galpões de tria-
Não trabalhar sobre efeito de drogas ou gem em busca de trabalho, seja por conve-
álcool, especialmente se estiver operando niência, seja por falta de opção em algum
máquinas. outro campo de trabalho.

Prevencao de incendios
Os galpões de triagem são muito vulneráveis a in- especial, disjuntores adequados para cada tipo de
cêndios, por causa dos diversos materiais que são prensa; por isso, é recomendável buscar sempre
combustíveis como papéis, papelões, tetrapack, o auxílio de um engenheiro eletricista ou de técni-
plásticos etc. co eletricista. É frequente encontrar as redes elé-
tricas de alguns galpões na proximidade das redes
Outro fator determinante para a ocorrência de in- de água e de esgotos.
cêndios é, geralmente, as péssimas condições de
instalações elétricas, que muitas vezes vão sendo Para tal deve ser obrigatório que cada galpão es-
feitas ao longo do tempo por diversas pessoas teja adaptado segundo as normas de incêndio
não capacitadas. Por exemplo, para a instalação de prevenção dos bombeiros. As normas encon-
de uma prensa, é necessário um fio com bitola tram-se no site:

http://ppci.com.br/

O sistema de prevenção de incêndio depen- rio, antes de comprar, entrar em contato com
derá do número de extintores e respectivos um profissional engenheiro e/ou bombeiros,
tipos para cada tipo de incêndio, para abarcar para calcular e especificar o numero de extin-
a área do galpão. Normalmente, a distância tores.
entre um extintor e outro varia de 10 a 20 me-
tros dependendo do risco. Sempre é necessá- Existem diversos tipos de extintores, são eles:

145
Extintor de Água Pressurizada: indicado para in- Extintor de Pó Químico ABC: indicado para qual-
cêndios de classe A (madeira, papel, tecido, mate- quer classe de incêndio, pois extinguem princípios
riais sólidos em geral). de incêndio em materiais sólidos, em líquidos in-
flamáveis e gases e líquidos inflamáveis. Também
Extintor de Gás Carbônico: indicado para controlam incêndios em que haja a presença da
incêndios de classe C (equipamento elétrico corrente elétrica, sem transmiti-la.
energizado), por não ser condutor de ele-
tricidade. Não é aconselhável sua utilização Extintor de Espuma Mecânica: indicado para
em fogos de classe B. as classes de incêndio do tipo A (madeira, papel,
tecido, materiais sólidos em geral) e do tipo B (in-
Extintor de Pó Químico- BC: Indicado para incên- cêndios em superfícies, que não deixam resíduos,
dios de classe B (líquidos e gases inflamáveis) e C como álcool, gasolina etc.).
(equipamento elétrico energizado).

CO2 (gás Espuma


Água Pó químico “bc”
carbônico) mecânica

Material a apagar
Gestao do galpao

Não (apenas pe- Não (apenas pe-


Materiais sólidos Sim (excelente) quenos incêndios quenos incêndios Sim (excelente)
de superfície) de superfície)
Líquidos, inflamáveis e Sim (excelente in-
Não (o líquido clusive para gases Sim (excelente) Sim (excelente)
hidrocarburetos incentiva o fogo) liquefeitos)
Sim (excelente;
Não (água conduz
Fogo de origem elétrica eletricidade) desvantagem: deix Sim (excelente) Não (eletricidade)
a resíduos)

Para saber das distâncias e áreas de coberturas de


cada extintor, consultar:

http://ppci.com.br/pdf/mgit16%20.pdf

Para calcular a quantidade de extintores,


consultar:

http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/
acidentes/extin2.htm

146
Categorias ou grupos de plasticos
Os plásticos são reunidos em sete grupos identifica o plástico utilizado. Normalmen-
ou categorias. O símbolo da reciclagem te, esse símbolo é colocado no fundo dos
com um número ou uma sigla no centro produtos.

Polietileno Tereftalato
1 Produtos: frascos e garrafas para uso alimentício/hospitalar, cosméticos, bandejas para micro-ondas, filmes
para áudio e vídeo, fibras têxteis etc. Benefícios: transparente, inquebrável, impermeável e leve.
PET
Polietileno de Alta Densidade
2 Produtos: embalagens para detergentes e óleos automotivos, sacolas de supermercados, garrafeiras, tam-
pas, tambores para tintas, potes, utilidades domésticas. Benefícios: inquebrável, resistente a baixas tempe-
PEAD raturas, leve, impermeável, rígido e com resistência química.

Polietileno de Alta Densidade

Gestao do galpao
3 Produtos: embalagens para água mineral, óleos comestíveis, maioneses, sucos. Perfis para janelas, tubu-
lações de água e esgotos, mangueiras, embalagens para remédios, brinquedos, bolsas de sangue, material
PVC hospitalar etc. Benefícios: rígido, transparente, impermeável, resistente à temperatura e inquebrável.

Polietileno de Baixa Densidade / Polietileno Linear de Baixa Densi-


4 dade
Produtos: sacolas para supermercados e butiques, filmes para embalar leite e outros alimentos, sacaria
PEBD industrial, filmes para fraldas descartáveis, bolsa para soro medicinal, sacos de lixo etc. Benefícios: flexível,
PELBD leve, transparente e impermeável

Polipropileno
Produtos: filmes para embalagens e alimentos, embalagens industriais, cordas, tubos para água quente,
5
fios e cabos, frascos, caixas de bebidas, autopeças, fibras para tapetes, utilidades domésticas, potes, fraldas
PP e seringas descartáveis etc. Benefícios: conserva o aroma, é inquebrável, transparente, brilhante, rígido e
resistente a mudanças de temperatura.

Poliestireno
6 Produtos: potes para iogurtes, sorvetes, doces, frascos, bandejas de supermercados, geladeiras (parte in-
terna da porta), pratos, tampas, aparelhos de barbear descartáveis, brinquedos etc. Benefícios: impermeá-
PS vel, inquebrável, rígido, transparente, leve e brilhante.

ABS - Acrilonitrila Butadieno Estireno / SAN – Estireno Acrilonitrila /


EVA – Acetato de Etileno Vinila / PA – Poliacetal / PC – Policarbonato
7 Produtos: solados, autopeças, chinelos, pneus, acessórios esportivos e náuticos, plásticos especiais e de en-
genharia, CDs, eletrodomésticos, corpos de computadores etc. Benefícios: flexibilidade, leveza, resistência
OUTROS
a abrasão e possibilidade de design diferenciado.

FONTE: PERES, Eliane; PIRES, Jussara; UNGARETTI, Angela. Guia de reciclagem. Porto Alegre: ABES. FARRGS.
COPESUL. 2005

147
Achei..!
Abas das mesas – 40, 41 Compradores – 13, 17.
Aberturas – 74, 83, 85-92, 94-95, 118, Container de rejeito – 31, 59, 66, 86, 98,
128-129. 140.
Administração – 61, 66, 72, 83, 106, 108- Coordenação – 13, 29, 35, 111, 114, 122,
111, 114, 126, 132-135, 142, 145.
Alpendre - 121 Cozinha – 11, 66, 71, 87, 104, 106-110,
Altura da gaiola – 36, 51, 118-122, 135, 139, 142.
Altura do galpão – 51, 59, 83, Cozinheiro(a) – 12, 81, 119.
Área – 18, 26, 32, 33, 42, 72, 78-85, 95, Depósito da cozinha – 83, 100, 120.
Área do galpão –109 Drenagem – 98.
Armazenagem – 13, 18, 19, 22, 24, 25, 28, Educador(a) popular – 11, 13, 105.
29, 33, 42, 58, 59, 62, 71, 72, 77, 79, 80- Entrada da gaiola – 51, 52.
85, 95, 118, 141, Esteira – 45-47, 49, 64, 132, 145.
Associações/cooperativas – 25, 62-64, Estrutura do galpão – 35, 63, 69, 71-77.
71, 81, 82, 105, Estrutura da gaiola – 52, 53, 55.
Gestao do galpao

Aterramento – 55, 58, 98, Extintor – 145, 146.


Bags – 12, 16, 17, 20, 21-23, 26, 28, 30- Fardo – 13, 17, 18, 22, 24, 26, 31, 82, 83,
37, 41, 62, 65, 76, 95, 96 141, 142.
Bancada – 18, 28, 31, 32-34, 36-38, 45, Fluxo – 26.
50, 58, 77, 94, 117, 119, 122, 124, 132, Gaiola – 16, 21, 22, 23, 26, 28, 29, 37, 42,
133. 48, 56-58, 62.
Base da gaiola – 38, 52, 53, 55, 56, 58, Ganchos da mesa de sacolinhas – 41.
142. Horta/pomar – 100, 139.
Biblioteca – 104, 108, 109, 110, 114, 133, Identidade – 136.
135, 139, Iluminação Artificial – 63, 89, 95, 139,
Bombonas – 12, 16, 19-21, 23, 26, 28, 30- 144.
37, 41, 44, 50, 62, 65, 76, 77, 96, 97. Iluminação Natural – 10, 62, 63, 72, 85-
Bomboneiro(a) – 10, 12, 16, 20, 21, 23, 87, 89, 90, 92, 94, 95, 118, 139.
26, 28-32, 37, 59, 60, 62, 65, 76, 77, 81, Implantação do galpão – 62, 66, 89, 104-
86, 96-98, 132, 144. 106.
Box/baias – 10, 12, 17, 19-24, 26, 28, 30, Incêndio – 74, 75, 83, 145, 146.
31, 59, 95, 142. Intempéries/proteção – 62, 67, 72, 75,
Caminhão de carga-descarga – 11, 16, 20, 98, 100, 141.
21, 23, 24, 46, 48, 51, 57, 59, 62, 65, 66, Largura da gaiola – 31, 36.
89, 101, 140. Largura do galpão – 25, 35, 76, 122, 123.
Capacidade da gaiola – 48, 49. Largura da mesa – 35, 40.
Capacidade do galpão – 77. Limpeza da gaiola – 55, 58.
Carrinheiro – 18, 20, 44, 45, 62, 105, 135, Limpeza do piso – 96, 140-142.
138, 141. Limpeza do galpão – 47, 120, 122, 123,
Carrinho – 20, 30, 37, 78, 80, 81, 96, 138. 133, 136, 137, 140-142.
Centro sócio-cultural – 106-111, 116. Limpeza da mesa – 38, 41.
Chapa de base da gaiola – 47, 53, 56. Localização do galpão – 64, 104, 105, 139
Chorume – 41, 56, 58, 59, 95, 142. Localização dos vestiários/sanitários –
Circulação dos bomboneiros – 21, 32, 59, 128.
77, 86, 96, 97. Lojinha – 108, 109, 115.
Comercialização – 24, 105, 110, 116, 117, Mesa – 10, 12, 13, 16, 18-21, 23, 24, 26,
132. 28-41, 43-47, 49-53, 56, 76-81, 83,...

148
[...] 94-97, 108, 111, 113, 114, 116, 117, [...] 142, 148.
119, 121, 132-134. Saída da gaiola – 38, 39, 52.
Modulação da estrutura – 50, 76, 77. Saída do material – 24, 25, 53, 111.
Nível e desnível do galpão – 21, 23, 45, Sala de aula/ensino – 109, 113.
46, 55, 59, 62, 65, 72. Sanitários/vestiários/banheiros – 10, 11,
Oficina de papel reciclado – 116. 61, 62, 66, 72, 83, 87, 106-110, 118, 120-
Oficina de teatro – 104. 126, 128, 129, 133, 142.
Partilha – 105. Segurança do galpão – 12, 37, 74, 133,
Pintura – 84, 96, 99, 142. 139, 143, 144.
Piso – 10, 47, 58, 59, 60, 73, 89, 96-98, Sheds – 85, 94.
118, 129, 141, 142. Sombreamento – 66, 94.
Plástico – 105, 145, 148, 149. Tampo da mesa/bancada – 38, 40, 41.
Portas/portões – 22, 72, 85-88, 92, 120, Telecentro – 11, 66, 104, 106, 107-110,
128. 112, 139.
Prensa – 10, 12, 13, 17-20, 22-26, 29-31, Topografia do terreno – 65.

Gestao do galpao
33, 35, 37, 57, 59, 63, 71, 72, 77-81, 83- Vedação – 50, 53, 83, 87.
85, 95, 96, 104, 132, 142, 143, 145. Vegetação/árvores – 66, 91, 99-101.
Prensagem – 18-20, 22, 23, 25, 26, 29, 30, Ventilação – 87, 89, 95, 120, 126, 128,
33, 37, 71, 72, 77, 79-81, 83-85, 95, 104, 129.
132, 143. Ventos – 66, 67, 85, 88-90, 92, 99, 139.
Prenseiro(a) – 13, 22, 26, 28-30, 81, 143, Viadutos – 61-63, 69, 70, 105.
144. Vigilância/vigilante – 12, 118, 133, 143,
Prevenção de acidentes – 56. 144.
Prevenção de incêndios – 83, 145.
Produtividade, Produção – 10, 16, 18,
22, 23, 25, 26, 28-34, 37, 43, 48, 50, 62,
64, 65, 71, 72, 89, 96, 105, 108, 116, 117,
132-134, 137.
Profundidade da gaiola – 48-51.
Profundidade bancada/mesa – 31, 36,
38.
Raio de giro do caminhão – 66
Ralo – 10, 37, 58, 96-98, 122, 129, 142.
Reciclador(a) – 10, 11-13, 25, 28, 29, 31-
34, 36, 37, 39-41, 43-45, 48-53, 57, 64,
72, 75, 76, 78-80, 104-106, 110, 112, 115,
117, 121, 123, 131-134, 138, 139, 144,
145.
Refeitório – 11, 61, 62, 66, 71, 72, 104,
106-111, 114, 116, 118-121, 133, 135,
139, 142.
Rejeito – 13, 31, 34, 44, 59, 66, 76, 86, 98,
140.
Ritmo de produção – 26, 28, 29, 31, 34,
37, 40, 43, 44, 133, 134.
Sacolas/sacolinhas – 12, 20, 21, 32, 34,
41, 44, 46, 48, 51, 52-58, 115, 140,...

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Gestao do galpao

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Gestao do galpao
Fernando Freitas Fuão é pesquisador do
CNPq com a pesquisa Manual: Galpões de
Reciclagem, um estudo tipológico e nor-
mativo. Professor titular da Faculdade de
Arquitetura da UFRGS. Participou e coor-
denou diversas ações de extensão, entre
elas a Reabilitação do Galpão Profetas da
Ecologia e a Reabilitação do Galpão de
Reciclagem Associação Catador Novo Ci-
dadão. Atualmente coordena o programa
Universidade na Rua (Mec - Prorext.
UFRGS), voltado para moradores de rua. É
autor dos livros Lixivia (i) mundi (Prorext
- DEDS. UFRGS, 2015), Os galpões de Reci-
clagem e a Universidade, (Rocha Eduardo
e Fuão, F., org. UFPEL. 2008), Derrida e Ar-
quitetura (Fuão, F.; Solis, D.; UERJ, 2014),
entre outros. Co-organizador da Coleção
Inscritos no Lixo. (PROREXT, 2015. Fuão
e Mello, B.). Líder do grupo de pesquisa
CNPq Galpões de Triagem: Arquitetura,
Design e Educação. Desde 2004 estuda os
Galpões de Reciclagem e divulga seus tra-
balhos nos seguintes blogs:

http://inscritosnolixo.blogspot.com
http://galpoesdetriagem.blogspot.com
http://fernandofuao.blogspot.com

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