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CAPITULO 1
Para Freud, o ego detém linhas nítidas e claras de demarcação com o mundo
exterior. A vida em sociedade impõe ao ego das pessoas, limites comportamentais
das quais impendem muitas de realizarem ações sinistras, selvagens, habituais e
comuns. Além disto, a sociedade em sua preservação, conduz os indivíduos a
reprimirem seus impulsos e desejos momentâneos, ações estas, que sem a
quarentena, seriam simples atos de um encontro a dois ou a grupos, mas que por
fatores epidemiológicos, estes são ou estão, tosados por questões sanitárias que em
grande maioria da população, são de conhecimento vulgar ou nulo. Mas é relevante
aqui citar conforme texto de Freud que em relação ao amor, no auge deste, o ego
passa ter uma maior fluidez sobre suas fronteiras. Essa distinção para Freud do
indivíduo ao objeto amado está relacionada a ausência de ameaça. Isto é, o Ego
reconhece uma realidade separada de si mesmo. Daí é possível que muitas vezes
possamos ver pessoas detendo comportamentos ausentes das barreiras sociais
categorizadas sobre os aspectos de protocolos de saúde, responsabilidades, EPI,
perda financeira e até mesmo sua própria vida.
CAPITULO 2
Freud em seu texto demostra preocupação em relação ao homem comum sobre a
ideia de um pai extremamente exaltado encarnado por um Deus (Torá; Totem e
tabu). Já que nossa sociedade é constituída sobre vários estratos religiosos e
crenças; sabendo nós disso, nos vem em mente o que neste exato momento tais
religiões estariam expondo, descrevendo e\ou anunciando para os ditos “homens
comuns”? O que a perspectiva de fé Deus poderá significar para cada estrato
religioso? O que cada estrato religioso tem a falar sobre o indivíduo comum em
relação a pandemia? É importante aqui ressaltar que toda subordinação em relação
a uma recompensa do futuro por parte de um ser supremo é para Freud infantil.
Transladando aqui, Freud, o mesmo, não considerava a religião “ópio do povo” (Karl
Marx) mas torna-se relevante pensar sobre qual norte de tais lideres, representantes
e sacerdotes religiosos tem como bussola aos seus discípulos, associados e
crédulos. Tais aspectos teriam uma consonância em relação aos órgãos de saúde?
Haveria um respeito a integridade e individualidade conservada por parte dos
indivíduos participantes destes estratos? Se agem contrário quanto a uma posição
de sua religião, qual seria a consequência desta, qual punição, quais sentimentos
estariam sendo direcionados a estes indivíduos contrários a uma postura
eclesiástica, dogmática, sugestiva e\ou imperativa? Freud se preocupa em se
expressar que as massas de homens persistem nesta ilusão (opinião de Freud) por
toda sua vida. Freud bebe do niilismo de Nietzsche ao qual este afirma dizer que as
pessoas negam as circunstancias do mundo em relação a outros valores ou uma
vida vindoura.
Vemos aqui que estas e outras não citadas, mostram uma divisão de dois mundos,
um debaixo: sensível, mutável, corporal, imperfeito e temporal; outro suprassensível:
imutável, ordenado, perfeito e atemporal. O niilista na visão de Nietzsche e
descrição no texto de Freud, cria outros mundos para poder suportar este. Este
mundo é ruim, portanto, o niilista deve provavelmente ser o escolhido de seu deus,
conforme instituição\religião de pessoas que oprimidas, fracas e que sofrem ao meio
de tamanha insegurança de uma pandemia, percebem viver em sociedade uma
exclusão do seu ide e vir, tendo como fonte disto o invisível (Covid19), de
coparticipantes, e\ou de agentes governamentais com suas leis.
Nesta terceira forma, torna-se presente a partir das duas primeiras, como uma
situação de negação de sua validade por não compreenderem (estratos religiosos
da sociedade) o mundo verdadeiro. Fica aqui apresentado uma importante leitura do
niilismo de Nietzsche, pelo autor Deleuze em seu livro Nietzsche e a Filosofia, que
espoem a sociedade sendo composta naturalmente de negação do mundo real por
um mundo superior extramundano. Para Deleuze fica clara a relação deste tipo de
niilismo com as religiões. O sujeito religioso é castrado da realidade porque deixa de
vivê-la e segue regras para ter o privilégio de viver aquilo que seria a realidade
verdadeira, o paraíso, o outro mundo. (Gilles Deleuze 1976)
É importante aqui frisar que Freud enxergava a religião como algo fora deste
esquema aqui citado. Para Freud, a crença religiosa pode responder a pergunta do
propósito final da vida.
A conclusão que Freud chega é que tudo isto é limitado e por isto, mais
frequentemente experimentamos infelicidades no nosso corpo, no mundo exterior e
nas nossas relações com os outros, do que a dita felicidade. O que se dirá em
tempos de pandemia, quarentena horizontal ou outros aspectos que as pessoas
conforme estratos sociais estejam enfrentando. Tédio, depressão e angustia para
classe média e demais acima. Fome, desespero e angustia nas classes pobres,
assalariadas e marginalizadas.
Não é surpresa para ninguém que tal perspectiva envolve uma disciplina severa em
influenciar nossa psique, sendo esta uma estratégia disponível para muitos poucos,
pois os aspectos econômicos e demandas familiares estão em potencial
concorrência. É comum obtermos a satisfação das ilusões com o gozo fornecido por
obras de artes que fornecem alivio temporário da miséria do mundo exterior, ao qual
são válvulas de escape que não ocupam muito tempo do indivíduo que possa estar
tendo novas tarefas junto aos seus entes, familiares e demais conviventes.
No amor, tanto Freud como empiricamente podemos observar nos indivíduos, tais
dados demostram que o amor é uma fonte de felicidade potencialmente intensa em
tempos de empatia, solidariedade, compaixão e tudo aquilo que possa ser análogo
nestes dias de isolamento, pobreza, angustia, falta, necessidades e outros aspectos
de nossa sociedade; mas tem como inconveniente a vulnerabilidade e desproteção
do ego que acompanha o amor por outra pessoa ao qual, pode ser retribuído ou
respondido por esta com resistência a ajuda, soberba, dureza de coração,
oportunismo quanto a ajuda do outro, interesse, uso, falsidade demagogia,
manipulação e critica quanto a ajuda recebida.
É interessante notar que Freud no texto, reflete sobre o papel da beleza em alcançar
a felicidade. Não podemos aqui como grupo afirmar categoricamente que o tipo de
beleza que Freud se referia em sua sociedade seja “exatamente” a mesma da nossa
sociedade. Mas estudando a beleza, sem dúvida aprenderemos que ela é uma fonte
de prazeres e fonte esta que não tem natureza ou origem discernível, ainda que
estudos filosóficos na estética, tenham conseguido descrever as condições sobre as
quais ela é experimentada. Por outro lado, a psicanalise aparenta localizar a beleza
na sensação sexual ao qual diferia da de Aristóteles (Ariano Suassuna - 2008) que
concebia o belo a partir da realidade sensível, deixando este de ser algo abstrato
para se tornar concreto. O belo materializa-se, não sendo imutável, nem eterno, mas
podendo evoluir. Decorre apenas de certa harmonia entre as partes desse objeto
entre si e em relação ao todo. A beleza exige, entre outras características, a
grandeza (imponência) e ao mesmo tempo proporção, sendo assim, citando como
exemplo, uma mulher bonita e bem proporcionada, mas ainda sim pequena; esta
pertenceria ao campo da graciosidade e não ao da beleza.
CAPITULO 3
Talvez alguns tenham pensado que a tecnologia pudesse trazer uma promessa de
uma vida melhor (em algum aspecto) e com maior felicidade; mas mesmo Freud em
sua época, já contestava a noção de que os avanços desta área certamente não
poderiam melhorar nossa qualidade de vida (psíquica), pois assim como em sua
época (fotografia e cinema), a tecnologia de massas presente agora, vide as redes
sociais, com todas as suas variáveis de vídeos, texto, gifs, e demais script derivados
de algorítmicos, expõe, revela e invoca (conforme estudos); os estresses, maus
humores, ansiedades, depressão, luminosidades (contra sono), vícios, baixa
autoestima, pseudos relacionamentos, invejas, maior solidão e toda uma gama de
neuróticos, psicóticos e perversos presentes e crescentes, conforme mecanismos de
pesos\contra pesos dos estratos sociais. É importante a nós como grupo acadêmico
ressaltar que ninguém aqui solicita que sejamos como a escritora romântica Mary
Shelley e escrevamos um livro que fale da criatura contra o criador, do medo da
modernidade e da tecnologia, como no clássico Frankenstein ou moderno prometeu
(1818). Em suma, a técnica é uma área da sociedade inata, sem aspectos morais, e
ausente de perversão ou benefício. Quem é perverso ou faz uso do benefício técnico
é o animal homem.
É bem verdade que Freud no terceiro capitulo do mal estar da civilização, expressou
que é difícil você medir a felicidade de uma sociedade em uma época anterior, pelo
simples fato da felicidade ser algo subjetivo em relação a sentimentos; mas tentando
ler o texto de Freud como lanterna para nossa época, em relação nosso tempo, “as
evidências apontam para um caminho: as redes sociais afetam as pessoas de
maneiras diferentes, dependendo de condições pré-existentes e traços de
personalidade” (BBC NEWS – Tecnologia e ciência – 01/05/2018). com ou sem
pandemia; e por isto, os aspectos comportamentais de antes (Sec. XX) não
mudaram, mas sim, agregaram uma maior neurose, psicose e perversão na
sociedade. E tudo isto, encontra-se atrelado a felicidade.
As pessoas em situações extremas de felicidade também podem ser ou estar
insensíveis ao seu próprio sentimento. Por isto, ainda que um indivíduo esteja
plenamente abastecido quanto a mantimentos e outros aspectos materiais, contas
pagas, salário ou renda integral garantida, familiares qualitativos e prestativos a este
dito indivíduo, ainda sim, poderá ser ou estar este indivíduo, insensível aos seus
próprios sentimentos, vivendo este em quarentena ou não.
Freud define que a civilização humana é a soma total das realizações humanas e
regulamentos destinados a proteger os homens contra a natureza (aqui podemos
citar as doenças, viroses e toda uma miríade de aspectos naturais ao animal que
somos) e esta dita civilização (cultura) busca ajustar as relações mútuas desta
sociedade, isto é, a felicidade, vivendo nós em quarentena ou não. Por tanto,
indiferente de como se esteja, a felicidade é um problema da economia da libido do
indivíduo e cada indivíduo deve identificar o tipo de felicidade mais importante para
ele (naquele momento). Bem como a capacidade de sua própria constituição mental
para experimentar a felicidade em tempos de quarentena, ou não. Os avanços
tecnológicos têm melhorado nosso poder contra a natureza em algum dado, mas as
nossas capacidades de percepção sensorial através de invenções como fotografia e
telefone (época de Freud), na percepção do autor, geravam no homem uma
sensação de onipotência e onisciência anteriormente atribuído apenas aos deuses.
Freud chamava este homem de deus protético; já sobre nosso tempo atrelado a
smartphones, veículos elétricos e serviços delivery (principalmente nestes dias de
pandemia) temos aqui uma completa liquidez de relacionamentos. Neste sentido,
poderíamos aqui sugerir como inspiração ao homem de nossa época, algo dos livros
“mundo líquido” ou “modernidade liquida” (Zigmunt Bauman) ou buscar do livro Tudo
que é solido se desmancha no ar (Marshall Berman) uma fonte de descrição ao novo
homem de nossa época: Um Homem Líquido.
Além dos aspectos aqui citados sobre a proteção do homem em relação a natureza,
podemos também expressar a fuga desesperada contra as viroses e toda gama de
destruição natural da vida, atrelado também a expectativas de uma vivencia em
sociedade dita civilizada, contrária a doenças, perdas e morte. No entanto, Freud
informa que esta dita sociedade, estaria ao mesmo tempo, na beleza, na experiência
estética de várias expressões de arte e artística; na limpeza em relação a higiene
pessoal e urbana, absorvendo, acumulando e tendo em vista sobre nossas vistas,
gradativas mudanças em tempos comuns e gritantes mudanças em tempos de
pandemia; com explosões de comportamento, medo do outro, ações capitalista
selvagens; lançando o governo, ordem e ordenação a sociedade (positivismo), ao
mesmo tempo em que estratos da sociedade vigente adquirem conhecimento via
observação; isto é, aprendendo sobre a natureza humana. (Gregos, Estoicos e
Empíricos e Behaviorismo).
A vida comunitária dos seres humanos tem as suas raízes na compulsão para
trabalhar (Max Weber - A ética protestante e o espírito do capitalismo) criadas por
necessidade externa e o poder do amor ou falta de vontade de ser privado de um
objeto sexual em tempos de pandemia ou não. Para Freud o erotismo genital
estimulou a formação de relações humanas duráveis, tornando a satisfação do
prazer sexual, o protótipo de outras formas de felicidade que poderiam ser
alcançadas com e através de companheirismo.
“..existe um discurso dos ofícios que faz a linguagem do trabalho uma das
mais sexuadas possíveis. ‘Ao homem, a madeira e os metais. À mulher, a
família e os tecidos..” (Perrot 1992, p. 178).
CAPITULO 4
Tendo em conta os riscos do amor, algumas pessoas fazem ser independentes dos
objetos de amor individuais e em vez disto, dedicasse a um amor universal por toda
a humanidade ou pelo menos parcela desta. Vemos aqui os chamados médicos sem
fronteiras que atuam em locais de difícil acesso por consequências de guerra, fome,
desastres naturais e outros aspectos que nenhuma remuneração pagaria.
Missionários evangélicos e católicos dedicados a educação, proteção aos mais
necessitados e longe, dos centros urbanos inalcançáveis em relação a atividades
privadas e públicas. As atividades de vestimentas, alimentação e cuidados
higiênicos e outros mais, promovidos por espiritas, umbandistas, ateus e outros
troncos da sociedade. Aos indivíduos presentes nestes e outros ramos, vemos o
amor como objetivo inibido. Mesmo que uma das metas da civilização humana, seja
vincular os indivíduos de maneira libidinal, o amor e civilização eventualmente
entram em conflito já que em tempos de pandemia, percebemos os saques a carros
transportando álcool em gel, a fabricação clandestina deste, ao super faturamento
de equipamentos hospitalares recentemente adquiridos por governos estaduais e
(possivelmente) municipais. As falsas justificativas de médicos, enfermeiros e outros
profissionais da área da saúde, com o intuito de se ausentar de suas atividades. O
desrespeito da população em relação a distância com outros indivíduos em lugares
públicos e privados, a omissão dos sintomas e o mais grave, a transmissão da
doença de maneira intencional por parte de alguns. Em suma, são poucos
exemplos, mas relevantes em nos fazer pesar sobre o conflito libidinal do amor e
civilização presentes em nossa sociedade.
Freud, Sigmund. Mas estar na civilização. Obras completas Vol. 18. Trad.: Paulo
Cesar de Souza. Companhia da Letras. Ano 2010
LEITE, Míriam Moreira (org.). A condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX:
antologia de textos de viajantes estrangeiros. – São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 1993.
MARX, Karl. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel - Pag. 145; Ed. Boitempo Ano
2005
Acessos: