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Uma adaptação “cristã” da Revolução Comunista: Uma análise do

livro fundador da Teologia da Libertação

Na década de 70, o padre peruano Gustavo Gutiérrez Merino, soltou o catinguento


Teología de la liberación. Perspectivas (Teologia da Libertação. Perspectivas)1, onde,
conforme se defende, ele fundou e teorizou as bases da chamada Teologia da
Libertação. O texto viera à tona após um longo período de reflexões e experiências entre
pessoas comprometidas com o ideal de libertação da América Latina.

O livro é composto de quatro seções, nas duas primeiras, se tenta justificar teoricamente
a Teologia da Libertação, e depois segue para desdobramentos práticos das questões
“teológicas”. Interessa-nos, especialmente, as duas primeiras seções, assim nomeadas: I
– Teologia e Libertação e II – Colocação do Problema.

A fim de remir o tempo, e mesmo para poupar os leitores de uma paisagem insólita,
hostil e improdutiva encontrada em cada página do escrito em questão, resolvi elencar
os pontos principais dessa “Teologia”, seguidas das contraposições Cristãs e bíblicas.

1. Conceito e Objetivo - A Teologia da Libertação busca explicitamente a libertação


econômica da América Latina retirando-a do seu status de subdesenvolvimento. A
palavra “libertação”, portanto, não se refere a libertação da alma humana do poder do
“Pecado”, mas sim à libertação social dos “povos pobres e oprimidos” a partir de um
movimento político e revolucionário. Este propósito, que nada tem de teológico, é
visivelmente apenas a importação das maníacas ideias e ideais dos comunistas para
dentro da Igreja, isto é, trata-se de uma clara tentativa de aparelhamento da Teologia e
da Igreja para os fins revolucionários2.

2. Conceito de Teologia – É de conhecimento geral que a sadia Teologia Cristã


objetiva ao estudo de Deus e da sua Obra etc., mas aqui na escola da Libertação, a
Teologia é a “...reflexão crítica da práxis histórica”, e “...um pensamento crítico de si
mesmo, de seus próprios fundamentos”3.

Esse conceito suscita questões. Afinal, por quais artifícios demoníacos, a Teologia
deixou o seu sagrado ofício de pensar e estudar sobre a Divindade para ir ocupar-se das
banais ações humanas na história? Acompanhe então como o negócio foi descendo
ladeira abaixo:
1
GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da Libertação. Perspectivas. 6ª Ed. Trad. Jorge Soares. Vozes, Petrópolis.
1986.
2
Nesse sentido: “Seja como for, de fato, a teologia contemporânea acha-se em inesquivável e fecunda
confrontação com o marxismo. E em grande parte estimulado por ele é que, apelando para suas próprias
fontes, orienta-se o pensamento teológico para uma reflexão sobre o sentido da transformação deste
mundo e sobre a ação do homem na história”, p. 22.
3
Note-se que “um pensamento crítico de si mesmo e de seus próprios fundamentos” não é tarefa
teológica, e sim filosófica. A Teologia estuda Deus e a história da salvação. A crítica radical teológica não
pode ser feita pela própria Teologia, pois a Teoria da Ciência é eminentemente filosófica, vide HUSSERL,
Edmund. Investigações Lógicas. Prolegômenos à Lógica Pura. Vol. 1. Trad. Diogo Ferrer. 1ª Ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2014.
a) Em primeiro lugar a Teologia foi definida, não pelo seu objeto etimológico,
mas sim como uma atividade humana voltada a “inteligência da fé”. O jogo
de palavras sedutor, leva o teólogo a retirar os olhos de Deus e a voltá-los
para a sua própria ação, emburrecendo a sua fé.

b) A Teologia torna-se antropocêntrica e isso de forma explícita. Cita, o autor,


com grande entusiasmo, o adágio de K. Barth: “o homem é a medida de
todas as coisas, uma vez que Deus se fez homem”. Obviamente que tudo isto
é de uma tolice sofrível. Deus se fez homem, mas não deixou de ser Deus.
Assim para desfazer este primeiro engodo, basta recolocar no centro da
Teologia, o seu legítimo objeto de estudo: Deus e a sua obra.

c) Mas se a suposta “teologia” significa apenas o estudo da ação humana na


história, segue-se que ela não é nada mais que uma atividade secular,
dessacralizada e, portanto, divorciada de suas funções espirituais. A Teologia
é esvaziada de suas missões clássicas e ortodoxas e passa a ser um mero eco
do Marxismo. É por isso que o charlatão em pauta, proclama que a Teologia
deve levar em conta na sua análise os “...condicionamentos econômicos e
socioculturais da vida”4.

d) Em outras palavras, a Teologia deve incorporar o Materialismo Histórico e


Dialético marxista, como método de análise teológico. Transforma-se a
Teologia numa crítica da sociedade e da própria Igreja. A Teologia se volta
contra a Religião.

e) Como consequência, se funda uma nova hermenêutica teológica totalmente


antibíblica. Note-se que a hermenêutica genuinamente cristã parte da
Escritura. É a Escritura que narra os fatos teológicos ao teólogo cristão. É a
Bíblia que fixa o objeto e o ângulo da análise teológica e, portanto, as
circunscrições do pensar teológico. O teólogo bíblico faz Teologia a partir da
Bíblia e não contra ela. Na absurda hermenêutica da Teologia da Libertação,
o suposto teólogo se ocupa dos fatos sociais e dos conflitos de classes, mas
não dos fatos bíblicos. Não há, em suma, verdadeira Teologia, mas apenas
uma teologia de fachada, para legitimar dentro da Igreja a Revolução
Cultural Comunista.

f) A seguir, a ação humana é revestida de um caráter escatológico: o homem dá


sentido à história quando age para transformar (práxis) o "injusto" mundo

4
Nesse mesmo sentido Gustavo Gutiérrez aduz: “Teologia que não se limita a pensar o mundo, mas
procura situar-se como um momento do processo através do qual o mundo é transformado”. Isto é
descaradamente o objetivo da própria Filosofia marxista segundo a qual “Os filósofos têm
apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”. Vide, MARX,
Karl. Teses Sobre Feuerbach. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/tesfeuer.htm
em que vive, ou seja, a “redenção” do mundo cabe à ação revolucionária do
homem5.

g) A propaganda comunista veiculada na Teologia da Libertação ensina ainda,


com certo otimismo que, por meio dessa ação humana, o homem materializa
o Reino de Deus na Terra. Resumindo em miúdos, para o milicrente
revolucionário libertino a Grande Comissão não tem nada a ver com pregar o
Evangelho de Salvação a toda criatura, mas sim com a militância política em
prol da causa comunista.

h) A Bíblia, ao contrário da cosmovisão da Teologia da Libertação, adverte que


o mundo jaz no maligno6, e que a Deus pertence o controle da história, dos
seus tempos e estações7. É Deus, como Criador, que estabelece os rumos da
História, bem como o sentido do seu percurso.

i) Por fim se diz que enquanto a igreja seguia a ortodoxia cristã, não teria feito
nada de proveitoso para alcançar um mundo melhor. Por esse motivo, o
teólogo da libertação postula uma tal ortopraxia como novo paradigma de
ação eclesiástica. Como age de má-fé um sujeito desses: o mundo atual,
democrático, próspero e civilizado, é exatamente o fruto social do
Cristianismo fundado na ortodoxia. Todos os bons valores que hoje são
defendidos e existem, surgem da ortodoxia cristã. É esse mesmo mundo que
eles querem destruir a todo custo.

Agora que ficou entendido que na Teologia da Libertação só é possível ter como objeto
a “...reflexão crítica da práxis histórica”, exatamente porque não há Teologia alguma,
vamos avançar para analisar como fica a questão do pecado.

3. O Pecado e o Amor - A palavra “pecado” foi meticulosa e estrategicamente


evitada e, quando finalmente apareceu na página 42, foi somente para receber, assim
como aconteceu com a Teologia, o seu novo conceito. Outrora significava “errar o alvo,
desobedecer à vontade de Deus”, mas dentro da Teologia da Libertação, o pecado “...é
um fechamento egoístico em si mesmo. Pecar é, com efeito, negar-se a amar os demais,
por conseguinte, ao próprio Senhor". Uma vez livre desse pecado, o suposto cristão é
livre para amar, não somente o que é bom, como também tudo o que há no mundo8.
5
Tal fato implica em uma nova concepção da História, conforme se percebe aqui: “Conceber a história
como processo de libertação do homem é perceber a liberdade como conquista histórica, é
compreender que a passagem de uma liberdade abstrata a uma liberdade real não se realiza sem luta
(...) contra tudo o que oprime o homem. Este fato implica não apenas melhores condições de vida,
radical mudança de estruturas, revolução social, mas muito mais: a criação contínua e sempre inacabada
de nova maneira de ser do homem, uma permanente revolução cultura”, p. 40.
6
1 Jo 5:19 “Estamos cientes de que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno”.
7
Atos 1:7: “Ele lhes afirmou: “Não vos compete saber as épocas ou as datas que o Pai estabeleceu por
sua exclusiva autoridade”.
8
A Bíblia rechaça textualmente esse tipo de “amor”, em 1Jo 2: 15-17: “Não ameis o mundo nem o que
nele existe. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo: as
paixões da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens não provém do Pai, mas do mundo. Ora, o
mundo passa, assim como sua volúpia; entretanto, aquele que faz a vontade de Deus permanece
eternamente”.
4. É óbvio que esse risível conceito de pecado não serve como descritivo da
realidade do pecado. Mas vejamos melhor as suas partes:

a) Primeiro, ele se baseia supostamente no amor. Mas esse “amor” não é o


perfeito amor cristão, que é essencialmente o amor ao que é bom, e
logicamente, o ódio ao que é mal (Vide Pv. 8:13). Amamos o nosso próximo
porque ele é a boa imagem e semelhança divina e, odiamos as condutas más,
sejam nossas ou do nosso próximo, precisamente porque não são boas.

b) O amor desejado na Teologia da Libertação é irresponsável e libertino, não se


harmoniza com o perfeito amor. O amor ágape, divino e perfeito, exige o
cumprimento dos seus deveres: “Aquele que tem os meus mandamentos e
obedece a eles, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por
meu Pai, e Eu também o amarei e me revelarei a ele.” João, 14:21.

c) O pecado de não amar ao próximo, de fato, é a raiz de muitos males, mas até
uma criança sabe que amar o outro não significa aceitar os seus erros e nem
compactuar com eles. Não há nenhuma boa intenção nesse tipo de amor. O
“amor” da Teologia da Libertação não tem compromisso com a obediência à
Palavra de Deus, precisamente, porque não tem amor pela Lei de Deus.

d) A verdade é que esse discursinho meloso de amor, esconde a mais perversa


sede de poder e totalitarismo. No fundo os teólogos da libertação odeiam e
censuram aqueles que não concordam com as suas ilusões.

e) Por fim, esse amor não é direcionado propriamente ao próximo e a Deus, mas
sim à causa revolucionária. Ocorre na Teologia da Libertação uma
substituição dos objetos amados. No amor bíblico, se ama à Deus e ao
próximo, mas na Teologia da Libertação, amar a Deus e ao próximo é estar
comprometido com a Revolução. O ódio bíblico é direcionado a todo tipo de
pecado e maldade, mas o ódio na Teologia da Libertação se volta contra tudo
aquilo que é contra a Revolução.

f) O amor à causa Comunista é tão grande que tudo lhe é submetido: Deus, a
Bíblia, a Teologia, o Cristianismo etc., tudo, absolutamente tudo, por causa do
amor ao Comunismo deve falar a língua da Revolução e se submeter a ela.

g) Esse falso amor busca arregimentar o outro, apenas, para militar na causa
comunista e, como a prioridade é ter militantes, pouco importa a condição
espiritual daquele a quem se busca. Aliás, quanto mais degradado o militante
estiver, tanto mais será eficaz na luta pela causa.

5. Conclusões – Inicialmente, quanto à leitura do livro, só é recomendada como


teste para averiguar a sanidade mental: se você conseguir discordar de cada uma das
ideias absurdas expostas ali, a sua mente estará em um juízo aceitável.
6. A Teologia da Libertação, ao fim das contas, não tem nada de Teologia e muito
menos de Libertação. É pura e simplesmente o velho e moribundo Marxismo adornado
com alguns termos religiosos para lhe dar alguma deferência. Como construção
científica, lógica ou filosófica, a pretensa teologia tem a consistência de uma bolha de
sabão.

7. Ela não busca nenhum objetivo genuinamente cristão: não busca a salvação da
alma humana do poder do pecado; não exige o novo nascimento; nem arrependimento
sincero; não exige santidade aos crentes; transforma a Grande Comissão em campanha
revolucionária comunista e dessacraliza a Obra de Deus9.

8. É uma peça de propaganda comunista, no sentido mais esculhambado do termo.


Ela entra em conflito permanente e inconciliável com o texto bíblico, não havendo outra
saída aos seus sectários senão pinçar os textos da Escritura que lhes agradem e distorcer
os demais.

9. Quanto aos pastores, padres e teólogos que são levados por essa ideologia, eles
abandonam o ofício sagrado que o Senhor lhes incumbiu, e tornam-se simples militantes
de uma causa que já tragou a vida de mais de 100 milhões de pessoas mundo afora.

10. De resto, não há como entender esse tipo amor que é pregado na Teologia da
Libertação. Amor que, quando se concretiza, mata, persegue, fecha igrejas, e comete
outras tantas atrocidades. Em verdade, a única forma de o compreender, ao fim, é como
um amor pelo avesso, o mesmo amor com que um demônio amaria.

11. Que Deus liberte definitivamente o Brasil da Teologia da Libertação.

9
No tópico denominado “O nível da reflexão teológica”, podemos constatar o quanto este nível é baixo,
ali, por exemplo, lemos um verdadeiro louvor ao secularismo: “Neste sentido, a secularização (...) é um
processo que não apenas se amolda perfeitamente a uma visão cristã do homem, da história e dos
cosmos, mas ainda favorece maior plenitude da vida cristã, na medida em que oferece ao homem a
possibilidade de ser mais plenamente humano”, p. 65.

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