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Dossiê: Teologia da Libertação 40 anos: balanço e perspectivas – Artigo Original

DOI – 10.5752/P.2175-5841.2013v11n32p1378

À margem de uma comemoração: considerações sobre a


Teologia da Libertação no seu quarentenário
On the sidelines of a celebration: considerations on Liberation Theology on
its fortieth anniversary

Sinivaldo Silva Tavares 

Resumo
O autor propõe algumas considerações sobre a TdL na celebração de seus 40 anos de existência. Num
primeiro momento, ele destaca três características que justificam a pretensão avançada pela TdL latino-
americana de se apresentar como “uma nova maneira de fazer teologia”: 1) nova relação para com a práxis;
2) nova perspectiva a partir da qual discernir os desafios postos pela práxis; 3) nova metodologia capaz de
unir espiritualidade e método teológico. Num segundo momento, a TdL é reconhecida e apresentada como
uma autêntica theologia crucis. Isto significa que a cruz de Jesus é acolhida pela TdL em um tríplice modo:
eixo gnosiológico, princípio epistemológico e critério formal. Por fim, o autor salienta o círculo virtuoso
testemunhado pela TdL entre o local e o global. Epistemologicamente, a TdL é materialmente global e
formalmente particular. Historicamente, ao longo de seus quarenta anos, a TdL tem se revelado como uma
verdadeira teologia glocal, testemunhando um relação circular entre particular e universal.
Palavras-chave: Teologia da Libertação. Práxis. Theologia crucis. Epistemologia teológica.
Teologica glocal.

Abstract
The author proposes some considerations about Liberation Theology in celebration of its 40 years of
existence. At first, he highlights three features that justify the claim put forth by Latin-American Liberation
Theology of presenting itself as "a new way of doing theology": 1) new relationship vis-à-vis the Praxis; 2)
new perspective from which we can discern the challenges posed by the Praxis; 3) new methodology able to
unite spirituality and theological method. In a second moment, Liberation Theology is recognized and
presented as an authentic theologia crucis. This means that the cross of Jesus is accepted by Liberation
Theology in a threefold manner: agnostical axis, epistemological principle and formal criteria. Finally, the
author stresses the virtuous circle witnessed by Liberation Theology between the local and the global.
Epistemologically, Liberation Theology is materially global and formally private. Historically, throughout its
forty years, Liberation Theology has been revealed as a true “glocal” theology, witnessing a circular
relationship between the particular and the universal.
Keywords: Theology of Liberation. Praxis. Theologia crucis. Theological epistemology. “Glocal”
(global + local) theology.

Artigo recebido em 24 de outubro de 2013 e aprovado em 09 de dezembro de 2013.



Doutor em Teologia. Professor de Teologia Sistemática na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) e no Instituto Santo Tomás
de Aquino (ISTA). País de origem: Brasil. E-mail: freisinivaldo@gmail.com.

Horizonte, Belo Horizonte, v. 11, n. 32, p. 1378-1402, out./dez. 2013 – ISSN 2175-5841 1378
Sinivaldo Silva Tavares

Introdução

A Teologia da Libertação (TdL)1 latino-americana foi, com razão,


reconhecida como “recepção criativa do Vaticano II na ótica dos pobres” (BOFF,
1984, p. 13-43). Esta afirmação revela a dupla relação constitutiva da TdL: com o
Vaticano II e com o mundo dos pobres. A TdL nasce no contexto da efervescência
eclesial provocada pelas interpelações teológico-pastorais do Concílio. Ela emerge,
portanto, como a melhor floração daquela primavera eclesial inaugurada pelo
Vaticano II. Todavia, a TdL não se limita simplesmente à aplicação do Vaticano II
ao contexto latino-americano. Não nos encontramos diante de mera aplicação de
princípios ou normativas gerais a uma situação particular. Trata-se, em última
instância, de uma autêntica “re-interpretação” do Concílio a partir da desafiadora
realidade do continente latino-americano. Este é precisamente o terreno onde as
sementes mais fecundas do Vaticano II encontraram uma acolhida generosa e, de
consequência, produziram seus melhores frutos.

A experiência fontal da TdL é, para todos os efeitos, o evento histórico –


econômico, político, cultural e eclesial – da irrupção dos pobres. O pobre irrompe
no cenário sócio-político e eclesial da América Latina como um apelo contundente.
Essa irrupção é discernida e acolhida como autêntico “sinal dos tempos”, na esteira
de uma das melhores intuições teológicas do Vaticano II. A inserção de uma parcela
significativa de cristãos no “mundo dos pobres” torna-se ocasião propícia para a
experiência de genuína conversão. Conversão compreendida como ruptura
existencial e epistemológica: uma nova maneira de viver a fé que, por sua vez,
produz uma inversão de perspectiva e, portanto, uma maneira alternativa de
problematizar e discernir as questões que emergiam naquela específica situação. A
esse propósito, Gutiérrez chama a atenção para a inversão de perspectiva verificada
durante a Assembleia episcopal de Medellín: de “A Igreja na atual transformação

1
De ora em diante, usaremos apenas a forma abreviada TdL.

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da América Latina à luz do Concílio” para “A Igreja do Vaticano II à luz da


realidade latino-americana” (GUTIÉRREZ, 1982, p. 256).

1 Teologia que ousa “beber de seu próprio poço”

A TdL irrompe, na história do continente latino-americano, como primeira


elaboração teológica autóctone, vale dizer, não mais atrelada de maneira
subserviente aos grandes centros teológicos do exterior. Os próprios teólogos da
libertação são unânimes em afirmar que a gênese da TdL se encontra em sua
estreita relação com os movimentos – eclesial, sócio-político e cultural – surgidos
na década de 60 do século passado, no continente latino-americano (TAVARES,
2008, p. 41-49).

A ousada decisão de “beber de seu próprio poço” não apenas deu origem a
um discurso teológico sobre temas específicos oriundos de uma nova experiência
eclesial; propiciou novo horizonte hermenêutico no interior do qual discerni-los,
compreendê-los à luz do evangelho e de propor, enfim, eventuais práticas
alternativas. Em suma, “uma nova maneira de fazer teologia”. E essa “novidade” se
manifesta em um tríplice modo: 1) uma nova relação para com a práxis; 2) uma
nova perspectiva a partir da qual discernir os desafios postos pela práxis; 3) uma
nova metodologia capaz de unir espiritualidade e método teológico.

1.1 Teologia “a partir de/sobre a práxis histórica”

Desde suas primeiras e incipientes formulações, a TdL latino-americana tem


se caracterizado por uma peculiar relação para com a práxis eclesial e social dos
cristãos. Merecem destaque duas conferências proferidas por G. Gutiérrez: a
primeira em Montreal (Canadá) em 1967, sobre a pobreza do Terceiro Mundo, e a
segunda em Chimbote (Peru) em julho de 1968, poucas semanas antes da abertura
da Assembléia dos bispos em Medellín, sobre a realidade vivida na América Latina

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como desafio para uma pastoral de promoção humana. O texto da segunda


conferência, publicado no ano seguinte sob o título Para una teología de la
liberación, significou uma verdadeira guinada para a teologia latino-americana,
pois pela primeira vez e de modo explícito, se propunha uma “teologia da
libertação” em alternativa à “teologia do desenvolvimento”. O próprio Gutiérrez é
quem oferece um esclarecedor testemunho sobre o contexto de sua intervenção e
sobre o alcance da mesma:

Para nós que tínhamos uma responsabilidade pastoral eram os anos em que
nos interrogávamos sobre a presença do Evangelho e da Igreja nesta
ebulição de idéias, de experiências, de correntes e buscávamos critérios de
discernimento. Nessa situação se efetuou em Chimbote uma reunião de
sacerdotes e leigos para tentar compreender aquilo que vivíamos em nosso
país. Foi-me confiado o relatório teológico sobre um tema que era então
muito discutido: a teologia do desenvolvimento. Ao preparar meu relatório
compreendi que era mais bíblico e mais teológico falar de uma teologia da
libertação, ao invés de uma teologia do desenvolvimento. Ou seja, teologia
da libertação como teologia da salvação nas concretas situações históricas
em que o Senhor nos oferece a graça da salvação (GUTIÉRREZ, 1986, p.
125-126).

No seu programático Teologia de la Liberación. Perspectivas, Gutiérrez


apresenta a TdL como uma “reflexão crítica da práxis histórica à luz da fé”. Razão
pela qual ele concebia a teologia como “ato segundo” em face da vida e da
experiência de fé, “ato primeiro” (GUTIÉRREZ, 1971, p. 34-35). Quer, portanto, o
objeto da TdL seja a fé (no seio da história) ou antes a própria história (à luz da fé),
em ambos os casos, a referência à práxis histórica é imprescindível para a
constituição mesma da TdL.

Para salientar a peculiaridade da TdL enquanto teologia da práxis, Jon


Sobrino introduz uma questão metodológica que nos parece esclarecedora
(SOBRINO, 1976, p. 177-208). Ele distingue dois momentos no interior do
Iluminismo: o primeiro se caracterizaria pela exigência da racionalidade crítica
(Kant), o segundo pela exigência da práxis transformadora (Marx). A teologia
européia contemporânea teria se sensibilizado face às questões postas no interior
do primeiro momento. Já a TdL se teria ocupado sobretudo da problemática

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suscitada no bojo do segundo momento. A teologia européia responderia às


questões postas pela Modernidade. Questões relativas ao sentido da existência e,
portanto, circunscritas ao âmbito da subjetividade e da inter-subjetividade. De
outro gênero é a proposta da TdL que pretende instaurar uma relação diversa para
com a realidade através de um percurso peculiar: partindo da práxis e, passando
pela teoria, volta novamente à práxis. As perguntas, portanto, que a TdL quer
responder derivam da própria prática vivida dentro de um processo caracterizado
pelo binômio opressão/libertação. E sua intenção última é a de se constituir em
uma prática teórica teológica no interior do processo mais amplo de libertação
sócio-política e econômica.

Esta peculiar relação para com a práxis histórica é levada às últimas


conseqüências pela TdL quando essa mesma práxis passa a ser concebida como
“lugar teológico”, com os desdobramentos epistemológicos e metodológicos que
esta afirmação comporta. No plano metodológico, portanto, a TdL privilegia o
presente em relação ao passado e dá mais importância à realidade histórica que
propriamente aos textos. Precisamente aqui se encontraria, no dizer de Sobrino, o
pressuposto epistemológico de base da TdL latino-americana: “Elevar a conceito
teológico a realidade histórica tal como se vai manifestando em um processo, e não
só desenvolver conceitualmente as virtualidades de um fato ou texto do passado”
(SOBRINO, 1992, p. 50).

Isto não deve ser entendido naturalmente como uma espécie de exclusão do
passado e menos ainda dos textos da Escritura. De resto, nem se poderia privilegiar
o presente como sinal da irrupção do Deus cristão sem a referência ao passado e
aos textos da Revelação. Tais textos permanecem como referenciais básicos e ainda
como corretivos privilegiados de toda tentativa atual de perceber a presença
interpeladora de Deus e de interpretar seus desígnios, além de constituir uma
verdadeira e própria “reserva de totalidade” em face de toda e qualquer tentativa de
atualização (SOBRINO, 1989, p. 143-144).

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Nenhuma realidade pode ser compreendida se não se possuem de antemão


conceitos prévios a ela, uma vez que todo acesso humano à realidade concreta se dá
sempre dentro de um círculo hermenêutico. Por este motivo, Sobrino não se
declara contrário à conceitualização da história e da experiência, nem defende uma
teologia que seja mera narração da experiência e da realidade vividas. O que ele
propõe é a elevação desta ao grau conceitual e não o contrário, a saber, a
conceitualização de outro conceito já adquirido de antemão (SOBRINO, 1994, p.
51). Referindo-se a esta conceitualização da história e da experiência, ele fala de
“peso do conceito” (SOBRINO, 1993, p. 102).

Como entender a afirmação do “mundo dos pobres” como lugar teológico em


sua relação com os clássicos loci theologici, a saber, a Escritura, a tradição, o
magistério, as sentenças teológicas, entendidos como “fontes” da teologia? O
“mundo dos pobres”, portanto, não seria apenas lugar de compreensão dos dados
transmitidos pela tradição através das fontes do conhecimento teológico, mas
converter-se-ia em lugar no qual esses dados oferecem o melhor de si.

Não se pode afirmar, no entanto, que o mundo dos pobres seja lugar
teológico no sentido tradicional dos loci theologici, mas no sentido que os
pobres, como destinatários preferenciais, não exclusivos, do anúncio
teológico, fazem parte do dinamismo desses loci (SCANNONE, 1997, p.
23).

Com precisão e rigor, Cl. Boff oferece uma singular contribuição ao processo
de formulação da metodologia específica da TdL latino-americana. No seu clássico
Teologia e Prática. Teologia do político e suas mediações, ele propõe e analisa as
três dimensões constitutivas da TdL: a mediação socioanalítica, a mediação
hermenêutica e a mediação prático-pastoral2. Referindo-se ao “mundo dos pobres”,

2
Em sua tese doutoral, Clodovis Boff concebe a TdL como uma das “teologias do político”, uma “teologia do genitivo”, razão pela qual a
considera uma espécie de “T2” à diferença de uma “T1”. Segundo ele a “T1” designaria teologias que tem por objeto material temas da
teologia clássica: Deus, Cristo, Igreja, Graça, etc. A “T2” caracterizar-se-ia por uma teologia que, como todas as “teologias do político”,
tenha por objeto material o âmbito do político com suas respectivas temáticas. A TdL latinoamericana, na qualidade de “T2”, ao
elaborar o seu discurso deveria necessariamente ter atrás de si uma determinada “T1”. Em seu artigo “Retrato da Teologia da
Libertação”, acerca do estatuto epistemológico da TdL latinoamericana, publicado em 1985, reconsiderando a posição
precedentemente defendida de que a TdL seria uma “teologia do político”, Clodovis Boff afirma que “t1” e “T2”, ao invés de serem duas
teologias distintas, são antes dois momento distintos (“momento 1” e “momento 2”) e necessários do único processo teológico
realizado pela TdL latinoamericana (BOFF, 1986, p. 263-271).

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Cl. Boff o considera “lugar social” da TdL e, portanto, seu “ponto de partida
metodológico”, uma vez que seu “ponto de partida real” seria a fé em Jesus Cristo,
“perspectiva hermenêutica” da TdL3. A inserção no “mundo dos pobres”, por sua
vez, propiciaria a assunção da ótica dos pobres como perspectiva própria e,
portanto, “lugar epistêmico” da TdL, vale dizer, sua “precompreensão”.

1.2 Teologia “a partir do avesso da história”

À diferença de teologias que, ingênua ou intencionalmente, não revelam sua


perspectiva epistemológica, apresentando-se como neutras e universais, a TdL
assume-se enquanto discurso elaborado a partir de uma situação concreta e de suas
respectivas indagações. Desde o seu nascedouro a TdL tem manifestado claramente
a consciência de se constituir em discurso, para todos os efeitos, parcial: uma
teologia que não tem pudor de se construir a partir dos pobres para libertá-los da
condição à qual encontram-se submetidos injustamente.

Jon Sobrino fala de uma “hermenêutica práxica” como conseqüência da


assunção da ótica dos pobres como “lugar epistêmico” da TdL. O “mundo dos
pobres” não nos oferece apenas os itens de uma específica agenda teológica. Ele nos
desafia a pensar e a raciocinar segundo critérios bem precisos. O interesse que guia
o teólogo na leitura e na interpretação dos textos da Escritura deveria ultrapassar a
simples dimensão explicativo-compreensiva para alcançar a dimensão práxica,
condição para que se possa efetivar o sentido colhido na dimensão precedente. É
necessária, em outros termos, a disponibilidade para “fazer” como abordagem
privilegiada à interpretação dos textos da Revelação.

3
Naquela ocasião, Cl. Boff já chamava a atenção para uma imprecisão no vocabulário dos teólogos da libertação latino-americanos,
apesar de reconhecer na prática teológica deles uma correta articulação entre as duas perspectivas, responsáveis pela distinção entre
“ponto de partida metodológico” e “ponto de partida real”. Na opinião de Cl. Boff, esta articulação seria corretamente expressa nos
seguintes termos: “partir dos pobres partindo de Cristo”. Ultimamente, em seu artigo “Teologia da Libertação e volta ao fundamento”
(publicado na REB em 2007, p. 1001-1022), Clodovis Boff usa termos fortes para caracterizar o que antes ele havia sutilmente chamado
de “imprecisão do vocabulário”: ele fala, por exemplo, de “funesta ambigüidade”, “ambigüidade epistemológica”, “inversão do primado
epistemológico”, “instrumentalização”, “inversão de base”. Sua posição tem suscitado um fecundo diálogo: SUSIN ; HAMMES, 2008, p.
260-276; AQUINO JUNIOR, 2008, p. 597-613; L. BOFF, 2008 e C.BOFF, 2008, p. 892-927.

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Ademais, a necessidade da pré-compreensão não diz respeito somente à


leitura dos textos das Escrituras sagradas, mas também à compreensão da
realidade presente e à percepção da presença de Deus nela, com a conseqüente
interpretação de seus desígnios. Portanto, não apenas os textos bíblicos necessitam
ser lidos e interpretados segundo uma determinada perspectiva, mas também a
própria realidade atual tem necessidade de uma pré-compreensão que lhe permita
manifestar sua autêntica fisionomia, desvelando os reais interesses que lhe estão
subjacentes.

Um terceiro elemento seria a necessidade de ver a concreta realidade social.


Não basta só agir, nem somente esperar; faz-se necessária uma disponibilidade a
ver bem. É necessário analisar criticamente a situação histórica atual; mas, para
isso, além da utilização das ciências do social, torna-se imprescindível a decisão de
ver segundo a perspectiva do pobre. Em traços firmes e claros, afirma Jon Sobrino:
“Pré-compreensão significa, pois, para a teologia da libertação ver a realidade a
partir dos pobres, disponibilidade a atuar sobre ela para mudá-la e a releitura dos
textos da revelação a partir de ambas as coisas” (SOBRINO, 1992, p. 58).

A inserção no “mundo do pobre” e a assunção de sua perspectiva constituem


ocasião propícia para o processo de “conversão” no ato mesmo de pensar e de
refletir teologicamente. Sobrino alerta-nos quanto àquela específica hybris que
acompanha o funcionamento de toda atividade intelectual. Em âmbito teológico,
esta hybris se manifesta em múltiplos aspectos, em suas motivações e finalidades,
sobretudo no que se refere ao modo de fazer teologia enquanto atividade
especificamente intelectual. Seria este, de fato, o pecado primário denunciado por
Paulo como hybris humana que se manifesta na tentativa de submeter a verdade
aos interesses mesquinhos (cf. Rm 1, 18). A referência aqui não é propriamente aos
limites inerentes a todo processo intelectivo. A hybris humana se caracterizaria,
antes, por uma particular instrumentalização da inteligência que, ao invés de
libertar a verdade, procura submetê-la de maneira pecaminosa. Como

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antídoto a esta hybris, Sobrino propõe uma atitude de “honestidade intelectual”


face à realidade. É preciso, segundo ele, honrar a realidade pensando-a até suas
últimas conseqüências, evitando assim toda espécie de indiferença e de cinismo
intelectual e teológico face ao sofrimento dos pobres (SOBRINO, 1992, p. 65).

Gutiérrez, por sua vez, fala da experiência de “morte da inteligência dos


inteligentes” como uma das condições indispensáveis para que o teólogo encontre o
verdadeiro rumo e, por conseguinte, percorra o caminho certo e adequado para
uma correta linguagem acerca de Deus. A admoestação paulina em 1 Cor 1,18-19,
referindo-se à loucura da cruz, tem propriamente por alvo aniquilar a “sabedoria
dos sábios” e a “inteligência dos inteligentes”, justamente daqueles que, via de
regra, pensam a fé colocando-se na perspectiva dos “doutos e sábios” (Mt 11, 25),
como condição para ter acesso à Revelação divina dirigida preferencialmente aos
pobres (GUTIÉRREZ, 1982, p. 126).

1.3 “Nossa metodologia é nossa espiritualidade”

Na raiz desta peculiar relação que a TdL estabelece com a práxis, tão intensa
a ponto de produzir no ato mesmo de teologizar uma perspectiva própria,
encontra-se, em última análise, uma autêntica experiência espiritual, pois como
escreve Gutiérrez:

A firmeza e o alento de uma reflexão teológica estão precisamente na


experiência espiritual que a respalda. Esta vivência é antes de tudo um
encontro profundo com o Senhor e sua vontade. O discurso sobre a fé
parte de, e se orienta para, a vida cristã da comunidade. Uma reflexão que
não ajude a viver segundo o Espírito não é uma teologia cristã.
Definitivamente, toda autêntica teologia é uma teologia espiritual. Isto
não enerva seu caráter rigoroso e científico. Situa-o” (GUTIÉRREZ, 1993,
p. 52).

A experiência do encontro com Cristo no pobre concebida como síntese da


relação circular entre contemplação de Deus e prática de sua vontade, constitui “ato
primeiro” com respeito ao “ato segundo”, a teologia. Entre primeiro e segundo atos
vigora também uma relação dialética. Em particular, o binômio silêncio/palavra se

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apresenta aqui como o mais sugestivo e apto para ilustrar a relação que se dá entre
vida de fé e teologia. Através deste binômio estabelece-se a distinção entre “ato
primeiro” e “ato segundo” com base na própria constituição da teologia que,
estando à etimologia da palavra grega logos, seria “razão” e “palavra”.

Na base desta identificação encontram-se duas motivações. A primeira é que


contemplação e prática, ambas, pressupõem uma atitude de admiração e reverência
por parte de quem experimenta em profundidade o que significa ver a partir de
Deus ou mesmo viver em sua presença. Já a segunda motivação é de caráter
gnosiológico. Gutiérrez observa que em determinadas situações, as palavras se
revelam insuficientes porque incapazes de comunicar experiências ou sentimentos
mais profundos. O silêncio se revelaria, em contrapartida, como lugar de encontro
amoroso com Deus e como expressão de uma profundidade capaz de penetrar nas
dimensões inefáveis do seu mistério: “A mediação do silêncio, da contemplação e
da prática, é necessária para pensar a Deus, para fazer teologia. Esta será um falar
enriquecido por um calar. Por sua vez, esse falar refletido alimentará e dará novas
dimensões ao silêncio da contemplação e da prática” (GUTIÉRREZ, 1988, p. 18).

A distinção entre “ato primeiro” e “ato segundo”, entre vida de fé e discurso


teológico, diz respeito não apenas ao âmbito da metodologia teológica, posto não se
tratar de uma questão meramente acadêmica. Ela se refere primariamente a um
estilo de vida caracterizado pelo seguimento de Jesus, por uma maneira de viver a
fé segundo as interpelações do Deus bíblico. O vínculo estreito entre
espiritualidade e metodologia teológica se encontra, portanto, na base da
constituição da TdL latino-americana enquanto tal, pois como afirma Gutiérrez: “A
rota para ser cristão é o fundamento da direção que se toma para fazer teologia. Por
isso se pode dizer que nossa metodologia é nossa espiritualidade (isto é, uma
maneira de ser cristão)” (GUTIÉRREZ, 1990, p. 18).

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Compreendidos assim, os três elementos que caracterizam a originalidade


metodológica e epistemológica da TdL latino-americana estabelecem entre si uma
relação de virtuosa circularidade. Em última instância, é essa autêntica experiência
espiritual do encontro do Cristo no rosto desfigurado do pobre que desencadeia
todo o processo marcado por nova relação para com a práxis e, por conseguinte, da
assunção da perspectiva do pobre como pré-compreensão de seu fazer teológico. É
verdade também que essa experiência espiritual será, por sua vez, reforçada pela
posta em prática dos elementos anteriores. Trata-se de um processo contínuo: de
um autêntico círculo virtuoso.

2 Teologia que se propõe como theologia crucis

Com base no que foi dito acima, gostaríamos de ressaltar o diferencial


metodológico da TdL: a transferência dos conteúdos da teologia para a própria
condição de possibilidade de se fazer teologia cristã. Este princípio metodológico de
base se verifica no caso específico da cruz de Jesus Cristo, tema central e, por isso
mesmo, muito recorrente na produção teológica dos teólogos da libertação. A TdL
não apenas reflete sobre a cruz nos âmbitos específicos da estaurologia e da
cristologia. Ela mesma se apresenta como uma autêntica theologia crucis
(LÖWENICH, 1975; GHERARDINI, 1978). Isto significa que a cruz é concebida
como horizonte hermenêutico para a constituição da TdL enquanto tal e ainda
como critério formal essencial para a autocrítica atinente a seu modo específico de
desempenhar a própria tarefa.

Por essa razão, a TdL latino-americana revela-se como uma específica


“teologia da cruz”, uma vez que ela tem dado um destaque especial à reflexão sobre
a theologia crucis desenvolvida no âmbito da teologia contemporânea, oferecendo
uma contribuição original, embora na sua inspiração fiel à grande tradição
(BRETON, 1990, p. 32-46). Este destaque especial ela deu ao considerar a cruz de
Jesus em sua tríplice valência: de evento histórico e político com sentido crítico e
libertador, de chave gnosiológica para o conhecimento do Deus de Jesus Cristo e,

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enfim, de elemento a integrar no próprio processo de elaboração teológica (LOIS,


1986, p. 53-70; LOIS, 1998, p. 41-52).

Essa é a principal razão pela qual no bojo da TdL latino-americana, a cruz


assume a tríplice valência: eixo gnosiológico, princípio epistemológico e critério
formal (TAVARES, 2002, p. 188-191).

2.1 A cruz como “eixo gnosiológico” da TdL

Antes mesmo de discorrer acerca da cruz, a TdL latino-americana é ela


mesma uma “teologia crucificada”, posto que é elaborada a partir dos pobres, nos
quais ela contempla o rosto desfigurado de Jesus crucificado. Ela compreende a si
própria, portanto, como discurso elaborado na perspectiva daqueles que vivem
“sob a cruz”, dos “povos crucificados”, concebendo-os como seu lugar
hermenêutico privilegiado. A TdL, portanto, se tece ao redor da experiência do
seguimento de Jesus, assumindo concretamente a inserção no “mundo do pobre”
como expressão de solidariedade efetiva com a vida e o projeto histórico de
libertação/salvação de seu mestre. Na origem do seguimento de Jesus se encontra a
singular experiência espiritual da contemplação do Deus de Jesus Cristo no coração
mesmo da história e, de modo particular, no encontro com Jesus na pessoa do
pobre. Este momento fontal e constitutivo da TdL latino-americana, por seus
teólogos chamado de “ruptura existencial e epistemológica”, poderia ser definido
como um verdadeiro e próprio abraçar a cruz de Jesus na cruz atual dos “povos
crucificados”.

2.2 A cruz como “princípio epistemológico” da TdL

A TdL latino-americana está marcada em sua estrutura epistemológica pela


cruz de Jesus Cristo, sobretudo no que diz respeito à relação fundante que ela

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estabelece com a Revelação. Consciente de ser “linguagem acerca do Deus de Jesus


Cristo”, ela assume a Revelação como condição de possibilidade da própria
existência e se constitui, portanto, como reflexão metodologicamente fundada
sobre a Revelação de Deus como Mistério de amor, testemunhado de modo
inequívoco pela “história de Jesus Crucificado”. O Mistério pascal de Cristo
constitui, com efeito, o cume e a forma do cumprimento da Revelação histórica de
Deus.

Por essa razão, a cruz se torna princípio epistemológico da Revelação de


Deus no diferente de si, na alteridade mais radical com respeito a si mesmo e,
portanto, princípio epistemológico de toda possível palavra humana acerca de
Deus. A cruz é, assim, expressão da fidelidade extrema de Jesus ao Pai e à missão
dele recebida de anunciar o advento do seu Reino como boa-nova aos pobres, como
expressão da gratuidade de seu amor. Além disso, morrendo na cruz Jesus se faz
solidário com os últimos da história, com os deserdados, com todos os
marginalizados e todos aqueles que vivem em situações de desumanidade e
exclusão. Jesus crucificado, na solidariedade mais radical com a não pessoa, revela
o Pai na sua alteridade mais absoluta. Neste sentido, a cruz leva, então, às suas
extremas conseqüências a decisão divina de revelar-se no outro, no diferente de Si,
pois é a expressão mais cabal da predileção de Deus pelos últimos. Na qualidade de
princípio epistemológico, então, a cruz evidencia o aspecto essencial da Revelação
cristã, pelo qual é na história singular do Crucificado que acontece a Revelação
mais plena do Deus de Jesus Cristo: comunhão plena entre Pai e Filho e Espírito
Santo.

2.3 A cruz como “critério formal” da TdL

Justamente por ser cume e forma do cumprimento da Revelação, a cruz de


Jesus assume um papel insubstituível no estatuto epistemológico da TdL latino-
americana também ao determinar a própria formalidade, como esforço humano
voltado para o conhecimento de Deus. Assim, A TdL assume uma atitude de

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reverência face ao Mistério de Deus, que considera infinitamente maior que


qualquer outra realidade e que tudo envolve. Além disso, ela está consciente da
necessidade da crucifixão, quer da razão quer da linguagem, como condição
indispensável para a elaboração do próprio discurso acerca de Deus. Enfim,
consciente dos limites e dos condicionamentos ideológicos de todo discurso
humano, também do teológico, a TdL latino-americana se faz particularmente
vigilante quanto a qualquer forma de manifestação da hybris humana como
tentativa de submeter a verdade à injustiça (Romanos 1, 18), apresentando-se como
autêntica “teologia autocrucificante”.

Concebendo-se como “ato segundo” com relação à vida de fé, a TdL latino-
americana pretende, portanto, elaborar um discurso acerca de Deus que provenha
da experiência e a ela esteja continuamente referida. Com um pensamento e uma
linguagem “crucificados” capazes de acolher o Mistério de Deus, ela, justamente
porque fundada sobre a contemplação de Deus revelado como Amor no seu Filho
Crucificado e sobre a vivência daquela “fé que opera pela caridade” (Gálatas 5, 6),
compreende-se a si mesma como intellectus amoris. A TdL latino-americana
pretende ser um conhecimento de amor mediante o qual ela se deixa configurar
pelo Deus de Jesus Cristo, tornando então possível uma experiência de fé sempre
mais inspirada e propriamente conforme à vontade desse mesmo Deus.

3 Teologia que testemunha a circularidade virtuosa entre local e global

Desde seus inícios, a TdL latino-americana tem proposto uma peculiar


relação entre local e global. E com isso ela tem recolocado, de forma atualizada,
uma das clássicas questões do pensamento ocidental: a relação entre o particular e
o universal.

A TdL latino-americana inaugura, portanto, uma nova relação para com a


práxis no sentido de não considerá-la apenas uma espécie de laboratório onde

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testar a pertinência ou eficácia do próprio discurso. Se assim fosse, ela se


conceberia como uma teoria geral a ser aplicada a realidades particulares. Teoria
geral que, na melhor das hipóteses, acolheria as deficiências e eventuais
incongruências resultantes da tentativa de aplicação a contextos particulares. A
TdL se constitui como tal mediante o exercício, não do clássico método dedutivo,
mas do método indutivo. Este consiste em construir o discurso a partir das
demandas postas pela práxis e de se manter em contínua vigilância para que este
não se desvincule da práxis, mas que lhe seja continuamente referido. Em
consonância com o método indutivo, a práxis constitui o referencial permanente
em todo o processo de constituição do próprio pensar.

Isso posto, a TdL tem consciência de se construir a partir de um


determinado lugar que é, para todos os efeitos, particular. E a partir desta
particularidade que lhe é constitutiva, ela se abre à complexidade da realidade
histórica e à universalidade da temática teológica contemporânea.

3.1 Reciprocidade entre “teologia da libertação” e “libertação da teologia”

No que se refere à relação existente entre “teologia” e “libertação”, relação


pressuposta na formulação “teologia da libertação”, é necessário, antes de tudo, ter
presente a reivindicação feita desde o início e expressa por L. Boff nos seguintes
termos:

A teologia da libertação e do cativeiro, tal como se articula na América


Latina, não quer ser uma teologia de compartimentos e de genitivos como a
teologia do pecado, da revolução, da secularização, da vida religiosa, isto é,
um termo entre outros da teologia. Quer apresentar-se, ao contrário, como
uma maneira global de articular praxisticamente na Igreja a tarefa da
inteligência de fé. É um modo diferente de fazer e pensar em teologia
(BOFF, 1975, 853).

Este esclarecimento se faz necessário porque, na formulação “teologia da


libertação”, somos, de fato, postos diante de um genitivo gramatical. Como a maior
parte das teologias que até aquele momento tinham usado o genitivo, o tinham

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feito para designar sua concentração analítica sobre um determinado tema ou setor
do âmbito teológico, este esclarecimento se faz imprescindível para atalhar
eventuais ambiguidades. Juan Luis Segundo introduz uma distinção esclarecedora
quanto à especificidade da reivindicação da TdL (SEGUNDO, 1992, 373-391). Parte
ele da constatação que essa teologia é apresentada servindo-se, geralmente, de dois
genitivos: ela é chamada ora “teologia da libertação” e ora “teologia da América
Latina”. O jesuíta uruguaio recorda que nenhum dos dois pode ser entendido como
genitivo temático. No primeiro caso o genitivo tem o sentido de “uma ênfase posta
em um termo-chave, a partir do qual se procura abrir a totalidade da teologia a
horizontes hermeneuticamente ricos, mas ainda insuficientemente tratados ou
desenvolvidos” (SEGUNDO, 1992, p. 374).

No segundo caso, a especificação de uma região ou área geográfica a partir


da qual é elaborada a reflexão teológica não se deve confundir com a delimitação do
âmbito temático sobre o qual se vai refletir. Enquanto nas assim chamadas
“teologias do genitivo” o genitivo tem um sentido objetivo, visto que se emprega
uma espécie de leitura parcial da temática teológica, na “teologia da América
Latina” o genitivo é assumido no seu valor subjetivo, querendo-se fazer referência a
um grupo de sujeitos particulares que refletem, ao invés, sobre uma temática
teológica universal e procuram, portanto, compreender toda a fé, como, aliás, se
explicita naquela que, desde o primeiro momento, foi a definição da TdL.

Foi ainda J.L. Segundo quem salientou, desde o início, uma necessidade
básica para a TdL: por em movimento o círculo hermenêutico entre “libertação da
teologia” e “teologia da libertação”. Trata-se de um processo recíproco e, por isso
mesmo, simultâneo. Esta seria, em sua opinião, condição imprescindível para
libertar a teologia clássica das amarras de sua falsa consciência universal. Explorar
a autonomia relativa e a constitutiva mutualidade entre “libertação da teologia” e
“teologia da libertação” seria conditio sine qua non para o exercício de uma
autêntica Teologia da Libertação (SEGUNDO, 1975).

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3.2 A TdL como um caso de “teologia glocal” 4

A TdL latino-americana apresenta-se, portanto, como uma teologia glocal:


global e local ao mesmo tempo. Ela é global porque assume a pretensão de
abranger a totalidade dos argumentos e da temática teológica. Por isso a TdL se
apresenta, com toda a propriedade, como “teologia da libertação”. Todavia, ela não
se detém em uma visão genérica ou abstrata da fé. No cumprimento de sua
incumbência fundamental, que é a de desdobrar o sentido histórico-libertador do
Evangelho, a TdL dá passos decisivos que vão do geral ao particular. Em outras
palavras, a TdL elabora toda a teologia em termos específicos, ou seja, liberadores,
desenvolvendo, portanto, uma ótica particular no contexto da ótica mais global da
fé. Ela enriquece, portanto, toda a teologia com outros termos profundamente
ligados ao binômio opressão/libertação. Mas a TdL também dá passos concretos
que vão do particular ao universal. É, portanto, a partir de sua particularidade que
a TdL se insere de maneira orgânica e ativa no cenário da teologia universal. Por
esta específica razão, a TdL se apresenta, com toda legitimidade, como “teologia da
libertação”. Sua contribuição na abordagem da totalidade da fé é sua perspectiva;
todavia, o objeto da TdL é também a totalidade da fé, na medida em que intervém
para lhe salientar o sentido libertador. Em síntese: A TdL é materialmente global e
formalmente particular.

Em seus quarenta anos de existência, a TdL latino-americana tem


testemunhado uma circularidade virtuosa: particularização-universalização-
particularização. De discurso regionalizado, a princípio, ela foi se expandindo como
discurso global e, ao mesmo tempo, se consolidando como uma teologia particular
e, portanto, legítima no conserto do universo teológico plural. O período de tempo
compreendido entre 1972 e 1979 se caracterizou por alguns eventos significativos
no que diz respeito a esse processo descrito como “particularização-

4
O termo glocal constitui um neologismo forjado por alguns estudiosos que tem se debruçado sobre o complexo fenômeno da
Globalização. Estes autores distinguem “globalização” de “globalismo”. Este último termo exprimiria a hegemonia da expansão do
Mercado neoliberal com a consequente supressão das diferenças regionais e locais. Globalização, ao contrário, seria aquele processo
de articulação entre o local e o global, mediante a recomposição, não supressão, das diferenças e a superação das desigualdades. Neste
particular contexto, com vistas a salientar a articulação reciprocamente fecunda entre local e global, criou-se o termo glocal (BECK,
1999; GARCIA CANCLINI, 2007a, 2007b, 2008).

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universalização” da TdL. Trata-se de um verdadeiro processo de “expansão e de


consolidação” da TdL. Houve um ciclo de cinco encontros teológicos em diversos
níveis. O primeiro se deu em El Escorial (Madri), de 8 a 15 de julho de 1972.
Participaram sociólogos e teólogos latino-americanos e alguns teólogos europeus,
quase todos espanhóis, e caracterizou-se por uma partilha sobre o sentido e sobre o
método da incipiente TdL. De 11 a 15 de agosto de 1975 celebrou-se, na cidade do
México, um Encontro latino-americano dos teólogos da libertação para discutir a
questão do método da TdL. Na semana seguinte, de 18 a 24 de agosto, teve lugar
em Detroit, EUA, um Encontro interamericano em que pela primeira vez os
teólogos da libertação latino-americanos entravam em contato com representantes
de outras teologias da libertação, como por exemplo, a teologia negra e a teologia
feminista. A partir de então, começa-se a falar no plural de “teologias da
libertação”. Em 1976, em Dar-es-Salaam (Tanzânia), de 5 a 12 de agosto, se realizou
um histórico encontro os principais representantes da teologia na Ásia, África e
América Latina, durante um congresso intercontinental que marcou também a
criação da “Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo”. Enfim, a
convocação e a sucessiva fase de preparação da III Conferência Episcopal latino-
americana de Puebla, no período compreendido entre o fim de 1976 e o começo de
1979, despertaram intenso e fecundo labor teológico e ao mesmo tempo
estimularam o processo de crescimento e de ulterior amadurecimento da TdL
(LIBANIO, 1992, p. 148-150).

Suas intuições básicas e sua metodologia específica foram sendo aos poucos
incorporadas por outras teologias e pelo próprio Magistério; simultaneamente suas
raízes foram se aprofundando nos terrenos específicos das minorias pobres e
oprimidas do continente latino-americano e de outras latitudes (LIBANIO, 1987).
Trata-se de uma expansão e consolidação mediante um processo que poderíamos
chamar de “desdobramento de paradigma”. Um exemplo claro dessa atitude se
observa na sensibilidade crescente de seus principais representantes com relação às
questões relacionadas ao âmbito da cultura. Neste particular, a TdL colheu a
ocasião das celebrações em torno dos 500 anos de evangelização do continente

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para prestar mais atenção aos desafios e questões provenientes sobretudo das
culturas marginalizadas presentes e atuantes na formação das culturas latino-
americanas e caribenhas: a cultura dos povos indígenas autóctones, a cultura afro-
americana e a cultura da mulher, vítima da opressão machista. Neste sentido, a
proposta de inculturar o Evangelho nas diversas culturas presentes no continente
surgiu como alternativa à proposta de se criar uma cultura cristã para fazer frente à
cultura moderna secular (AZEVEDO, 1985; SUESS, 1992, p. 377-422; MARZAL,
1989; BOFF, 1990 e 1992; FRANÇA MIRANDA, 2001). Recentemente, tem-se
forjado outros termos para se referir à complexa relação envolvendo evangelho e
culturas: “diálogo intercultural” ou “interculturalidade” (BRUNELLI; TAVARES,
2010).

Outra questão recorrente é a preocupação de indagar acerca das recíprocas


relações entre teologia e economia. O aprofundamento dessa relação propicia a
emergência da categoria do “excluído” como ulterior enriquecimento da concepção
do “pobre” em geral. Fazendo uma leitura teológica da economia de mercado, estes
autores denunciam seu caráter intrinsecamente idolátrico (ASSMANN;
HINKELAMMERT, 1989; SUNG, 1989, 1992 e 1994; ASSMANN, 1990, 1991 e
1994).

Ainda no bojo desse processo de desdobramento de paradigmas situa-se a


crescente sensibilidade para com a relação existente entre a libertação do pobre e
excluído e a questão ecológica. Nesse contexto, insere-se o esforço de articular o
grito do pobre com o grito da Terra, situando as questões provenientes da situação
ingente de opressão e miséria dos povos empobrecidos no contexto maior da
questão da preservação do planeta e do conjunto de suas criaturas5.

Duas outras questões têm sido explicitadas e aprofundadas sempre mais no


âmbito da TdL: o gênero em teologia (BRUNELLI, 2000; WEILER, 2000;
ARAÚJO, 2000; TOMITA, 2000; IRARRAZAVAL, 2000) e o diálogo inter-religioso

5
O pioneiro nesta abordagem e aquele que mais tem se interessado pela mesma é Leonardo Boff. Sua produção acerca desta temática
é extensa. Por essa razão, limitamo-nos aqui a citar apenas algumas entre suas principais publicações: BOFF, 1993; 1995, p. 753-764;
1996, p. 75-88; 2000, p. 189-207. Remetemos o leitor ainda a TAVARES, 2007 e 2010.

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(IRARRAZAVAL, 2000; ALTMANN, 2000; TEIXEIRA, 2000; ASETT, 2003;


VIGIL, 2007).

Mais recentemente, através da realização do “Fórum Mundial de Teologia e


Libertação”, inserido no contexto maior do Fórum Social Mundial, pôde-se
perceber a peculiar vitalidade da TdL enquanto presença rizomática no seio das
várias expressões do movimento social e popular do inteiro planeta: o primeiro se
deu em Porto Alegre (SUSIN, 2006), o segundo em Nairobi (BRIGHENTI, 2007, p.
340-359), o terceiro em Belém (SUSIN; SANTOS, 2011) e o último em Túnis.

Conclusão

Como um afluente que leva ao rio principal suas águas, a TdL latino-
americana continua oferecendo sua contribuição específica à teologia cristã global.
Entretanto, mesmo incorporada de maneira orgânica à teologia global, a TdL
mantém sua peculiaridade epistemológica e temática, inserindo-se ativamente no
processo de um legítimo pluralismo teológico. Sua maneira peculiar de se inserir na
harmoniosa sinfonia da teologia cristã é manter viva a imprescindibilidade de se
resgatar a dimensão sócio-libertadora da fé, cujos protagonistas são, sobretudo, os
pobres e os excluídos.

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