Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Contribuir para a qualificação dos profissionais de saúde de nível superior e técnico dos
Serviços de Atenção Domiciliar e das Equipes de Atenção Básica para atuarem na Atenção
Domiciliar no âmbito do Programa Melhor em Casa e da Estratégia Saúde da Família,
respectivamente, para a realização de atividades de promoção à saúde, prevenção e
tratamento de doenças e reabilitação prestadas em domicílio, com garantia de continuidade de
cuidados e integrada às redes de atenção à saúde.
Os textos base deste curso estão no Caderno de Atenção Domiciliar, coleção institucional do
Ministério da Saúde compostos por dois volumes lançados em 2012.
1
Unidade 1 - Discute o contexto no qual a atenção domiciliar está inserida no Brasil e no
mundo, e apresenta as vantagens e singularidades desta modalidade de atenção;
A partir da leitura dos conteúdos e realização das atividades de fixação, você agregará
conhecimentos sobre a estruturação da Atenção Domiciliar e a forma como deve se organizar,
na perspectiva da mudança do modelo de atenção e busca da qualidade do cuidado realizado
no domicílio - “novo lugar”, que incorpora “novos atores” da rede de saúde.
Apesar dos avanços conquistados com o SUS, no que diz respeito ao acesso a ações e
serviços de saúde, e da expressiva ampliação da atenção básica por meio da Estratégia Saúde
da Família, com o objetivo de reorientar a forma como vem sendo produzida a saúde, podemos
afirmar que o modelo de atenção à saúde predominante no Brasil ainda é centrado no hospital,
é fragmentado, é biologicista e mecanicista.
2
Esta demanda pela reorientação do modelo de
atenção à saúde, reforçada pelas importantes e
aceleradas transições epidemiológica e demográfica
pelas quais o Brasil está passando, impõe a
necessidade de fortalecer/criar novas formas de
cuidar em saúde, bem como de estabelecer novos
padrões de articulação da rede de atenção à saúde
com vistas à integralidade.
É neste contexto que a Atenção Domiciliar desponta como uma modalidade de atenção com
potência humanização do cuidado e grande capacidade de produzir comunicação entre os
pontos de atenção (no setor saúde ou não) que compõem uma rede assistencial.
Legislação
Legislação Assim, representando um marco e um compromisso com este
processo, foi publicada a Portaria 2.527 de 27 de outubro de 2011, que redefine a
Atenção Domiciliar no âmbito do SUS. (Anexo A)
3
*Pode ser considerada componente de um processo mais amplo denominado “transição da
saúde”, que pode ser dividido em dois aspectos: a “transição das condições de saúde”
(mudanças na frequência, magnitude e distribuição das condições de saúde, expressas por
meio das mortes, doenças e incapacidades) e a resposta social organizada a essas condições,
representada pelos modelos de atenção à saúde (“transição da atenção sanitária”),
determinada em grande medida pelo desenvolvimento social, econômico e tecnológico mais
amplo (FRENK et al., 1991 apud SCHRAMM et al., 2004).
Com o aumento da expectativa de vida ao nascer (80 anos até o ano 2025) e melhoria nas
condições de vida (saneamento, educação, moradia, saúde), além da queda nas taxas de
natalidade (transição demográfica), muitas mudanças nas necessidades de saúde têm se
dado, ampliando, consequentemente, os problemas sociais e os desafios no desenvolvimento
de políticas públicas de saúde adequadas (MENDES, 2001).
Observação
À medida que a população envelhece e há aumento da carga de doenças
crônico-degenerativas, aumenta também o número de pessoas que necessitam
de cuidados continuados e mais intensivos. No entanto, com a predominância do
modelo de atenção à saúde discutida neste tópico, a tendência é a medicalização
da vida e do sofrimento (NOGUEIRA, 2003) e, com isso, da institucionalização
dessas pessoas, gerando hospitalizações, por vezes, desnecessárias. Da mesma
forma, situações agudas, como infecções urinárias (por ex. pielonefrite), ou
mesmo programadas, como o preparo pré-cirúrgico, têm provocado a ocupação
de leitos hospitalares sem necessidade.
4
A Atenção Domiciliar e seu potencial transformador
(...) Existe grande potência nesses arranjos. A ruptura parece ser uma condição fundamental
para a invenção. Mas é indispensável saber também que é preciso cuidar desses cuidadores,
criar espaços de escuta e de apoio, produzir dispositivos para sua educação permanente, de
modo que o inusitado, a singularidade e o desafio de se defrontar com a vida produzam
implicação, compromisso e potência no agir individual e coletivo desses trabalhadores”
(FEURERWERKER; MERHY, 2008).
Sobre a desospitalização
5
A Atenção Domiciliar e os seus custos:
O Hospital Municipal Odilon Behrens (Belo Horizonte) tem custo médio de R$ 585,00/leito/dia
para cirurgia geral e clinica médica. O custo do Programa de Internação Domiciliar (PID) varia
de R$ 87,00 a R$ 131,00/leito/dia, dependendo da antibioticoterapia usada e do acréscimo de
dieta enteral. O custo médio da Internação Hospitalar é de R$ 8.775,00 reais contra R$
1.307,00 a R$ 1.957,00 reais na Atenção Domiciliar. Isto significa uma economia de 78,7% a
85,2%, ou redução de 4,5 a 6,7 vezes no gasto para o SUS.
Nos Estados Unidos, cerca de 12 milhões de usuários por mês são atendidos em domicílio por
mais de 33 mil provedores de saúde. Em 2009, o gasto foi da ordem de U$72.2
bilhões (NATIONAL ASSOCIATION FOR ..., 2010).
6
Inserção e atuação da atenção domiciliar na rede de saúde
Você Sabia
Que no 1° semestre de 2012 próximo a 40% de todos os pedidos de internações
clínicas das UPAS de BH foram absorvidos pelas equipes locais do Melhor em
Casa? (Fonte: dados da GEUG/ SMSA-SUS/BH).
7
“Nesse sentido, é preciso que, aliado às concepções
necessárias ao desenvolvimento do cuidado, seja
entendido a especificidade do contexto domiciliar, o
qual abrange os aspectos econômicos, sociais e
afetivos da família; os recursos que dispõem, tanto
materiais quanto humanos; a rede social de apoio;
as relações que estabelecem dentro e fora do
domicílio; o espaço físico; as condições de higiene e
segurança da casa; tudo o que envolve o paciente e
sua família” (LACERDA, OLINISKI, 2004, p.240).
Então se faz necessário esclarecer que não é objetivo repassar para a família o cuidado, já que
o sistema de saúde não está tendo condições de fornecê-lo, mas, sim, construir uma
assistência em que as respostas se situem o mais próximo possível do nível em que se
encontram as necessidades e as possibilidades de atendê-las (KERBER, 2007).
Depoimentos
Depoimento 1: Depoimento de uma usuária, portadora de uma úlcera crônica de pele, após
ser atendida por uma equipe de Atenção Domiciliar
“Após uma longa caminhada, uma longa busca, eu finalmente encontrei alguém que percebe
que toda lesão tem um dono, todo dono é uma pessoa e toda pessoa tem suas necessidades
biológicas, sociais, espirituais e psicológicas. Ao me atender como paciente, vocês não se
limitaram ao foco de uma lesão, me proporcionaram todo o amparo necessário.
“Passei muitos anos da minha vida por conta de procurar tratamento para essa ferida da minha
mãe. Nunca conseguia resolver no posto nem nos hospitais. Até a cirurgia plástica que fez
durou pouco. Depois que vocês vieram na minha casa, deram a vara, me ensinaram a pescar e
ainda me deram um rio cheio de peixe. Cuidei eu mesma dessa ferida e ela nunca mais voltou”
8
Para a compreensão mais profunda do significado da atenção Domiciliar, reflita com os
textos, poesias e imagens da revista virtual que se segue.
9
10
11
12
13
14
15
Leitura Complementar
Para complementar seus estudos leia o texto “A contribuição da atenção
domiciliar para a configuração de redes substitutivas de saúde:
desinstitucionalização e transformação de práticas”.
Atividades de Fixação
Neste módulo serão apresentadas atividades de fixação para auxiliar a sua
compreensão a cerca do conteúdo proposto. O objetivo destas atividades é
complementar as informações apresentadas no conteúdo de cada unidade.
16
Referências
ALONSO, I.L.K. ALONSO, I.L.K. Luzes e sombras no ritual do encontro entre o
universo profissional e o mundo da intimidade familiar: a intervenção
profissional na saúde da família em âmbito domiciliar. 2003, 265p. Tese
(Doutorado em Enfermagem) - Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2003.
BOFF, L. O Senhor é meu pastor: consolo divino para o desamparo humano. Rio
de Janeiro: Sextante, 2004. p. 155.
BOFF, L.; MULLER, W. Princípio da compaixão e cuidado. 2. ed. Petrópolis:
Vozes, 2001. p.12.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 1.533, de 16 de julho de 2012.
Altera e acresce dispositivos à Portaria nº 2.527/GM/MS, de 27 de outubro de
2011, que redefine a Atenção Domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS). Diário Oficial da União, Brasília-DF, Seção 1, 17 jul. 2012.
______. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 2.527 de 27 de outubro de 2011.
Redefine a atenção domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário
Oficial da União, Brasília, DF, v. 1, n. 208, 28 out. 2011. Seção 1. p. 44.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Coordenação de Atenção Básica. Melhor em Casa: a segurança
do hospital no conforto do seu lar. Caderno de Atenção domiciliar, v.1. Brasília:
Ministério da Saúde, 2012.
DIAS, M. B. O Programa de Atenção Domiciliar - PAD; In: MAGALHÃES, J. R. H.
M (Org).Desafios e Inovações na Gestão do SUS em Belo Horizonte: a experiência
de 2003 a 2008. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010.
FEUERWERKER, L. C. M.; MERHY, E. E. A contribuição da atenção domiciliar
para a configuração de redes substitutivas de saúde: desinstitucionalização e
transformação de práticas. Rev Panam Salud Publica, Washington, v. 24, n. 3, set.
p. 180-188, 2008.
KERBER, N. P. C. A atenção domiciliária e direito à saúde: análise de uma
experiência na rede pública de saúde no Brasil. 2007. 335 f. Tese (Doutorado em
Enfermagem) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.
KERBER, N. P. C.; KIRCHHOF, A. L. C; CEZAR-VAZ, M. R. Considerações sobre
a atenção domiciliária e suas aproximações com o mundo do trabalho na saúde.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, mar. 2008.
LACERDA, M.R.; OLINISKI, S.R. O familiar cuidador e a enfermeira:
desenvolvendo interações no contexto domiciliar. Acta Scientiarum Health
Sciences, Maringá, v.26, n.1, p. 239-248, 2004.
MACIEL, Helena Francisca Valadares. Análise descritiva de um programa de
assistência ao paciente pediátrico “internado” no domicílio. 127 f. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Medicina.
2007.
17
MENDES, E. V. Os grandes dilemas do SUS. Tomo II. Salvador: Casa da
Qualidade, 2001. Disponível em:
http://dc218.4shared.com/doc/W0imOTcs/preview.html.
NATIONAL ASSOCIATION FOR HOME CARE & HOSPICE. Basic Statistics About
Home Care: Updated 2010. Washington, DC, 2010.
NOGUEIRA, R. P. A segunda crítica social da saúde de Ivan Illich. Interface:
comunicação, saúde, educação, Botucatu, v. 7, n. 12, p. 185-190, fev. 2003.
SCHRAMM, J. M. A. et al. Transição epidemiológica e o estudo de carga de
doença no Brasil. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n. 4, p. 897-908,
2004.
SENA, R. R. et al . Atenção domiciliar como mudança do modelo
tecnoassistencial. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 44, n. 1, fev. 2010 .
SILVA JR., A. G. Modelos tecnoassistenciais em saúde: o debate no campo da
saúde coletiva. 2. ed. São Paulo: Editora Hucitec, 2006.
18