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INFINITAMENTE MELHOR

Uma Devocional em Filipenses


Guilherme Jacobs

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SUMÁRIO: 

Página 3: Introdução 
Página 5: I: Como Deus Cumprirá Seu Propósito 
Página 7: II: A Alegria do Evangelho Proclamado 
Página 9: III: Infinitamente Melhor 
Página 12: IV: A Bênção de Sofrer com Cristo 
Página 14: V: Matando o Ego 
Página 16: VI: O Exemplo Supremo 
Página 18: VII: Salvação em Prática 
Página 20: VIII: Timóteo e Epafrodito 
Página 22: IX: A Perda Lucrativa 
Página 24: X: Em Busca da Perfeição 
Página 26: XI: O Caminho da Destruição 
Página 28: XII: Matando o Ego - Parte II 
Página 30: XIII: Gratidão 

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INTRODUÇÃO

É  ​normal  encontrarmos  nas  cartas  de  Paulo  inúmeras  advertências  e 


exortações  do  apóstolo em relação a problemas que ele detectava nas igrejas onde 
pastoreava.  Havia  em  Corinto,  na  Galácia,  em  Éfeso,  muito  a  ser  melhorado  e 
amadurecido.  Isso  torna  interessante  o  fato  de  que  em  Filipenses,  não 
encontramos nenhum comentário negativo quanto aos irmãos daquela igreja. 
Paulo,  em  Filipenses,  aconselha, pastoreia e conforta os seus leitores. Mas ele 
nunca  traz  à  tona  uma  atitude  negativa,  digamos,  como  o  incesto  ou  as  divisões 
que  aconteciam  em  Corinto. Ele levanta preocupações, como faz frequentemente, 
sobre  lobos  em  meio  às  ovelhas  (Fp  3:2),  mas  não  vemos  o  apóstolo  tentando 
alterar  ou  corrigir  o comportamento dos filipenses. E até mesmo quando ele trata 
dos  falsos  mestres,  Paulo  conclui  incentivando  os  santos  a  ​permanecerem  ​firmes 
no  Senhor  (Fp  4:1),  indicando  que  eles  já  haviam  se  firmado  na  rocha  de  Jesus 
Cristo  quanto  a  esse  assunto,  e  o  aviso  é  mais  uma  maneira  do  apóstolo 
encorajá-los  a  persistir  nesse  caminho  do  que  uma  tentativa  dele  de  alterar  algo 
que  vê  de errado na forma como eles portam. Isso nos leva a entender que a igreja 
de  Filipos  era  uma  igreja  experiente,  que  os  cristãos  de  lá  estavam  avançados  na 
sua  carreira  da  fé  e,  consequentemente,  que  os  assuntos  tratados  nesta  carta  são 
assuntos  voltados  para  pessoas  maduras  no cristianismo. Se você quer aprender a 
ser  um  cristão  experiente  e  sábio,  deve  prestar  muita  atenção  no  que  está escrito 
nesses preciosos quatro capítulos. 
 
Essa  devocional  é  apenas  isso.  Uma  meditação  nos  meus  quatro  capítulos 
favoritos  escritos  pelo  apóstolo  Paulo.  Isso  não  é  um  comentário,  não  trago  aqui 
grandes  revelações  sobre  o  contexto  sociopolítico  de  Filipos  na  época  ou 
explicarei  muitos  significados  de  palavras  no  grego.  Não  tenho  a  capacidade  ou 
qualificação  para  isso.  Meu  alvo  aqui  é,  pela  graça  de  Deus  e  sabedoria  do 
Espírito,  compartilhar  lições  valiosas  que  encontrei  meditando,  estudando  e 
fazendo uma rápida exegese de Filipenses. 
 
Na  carta  aos  filipenses,  encontraremos  dois  assuntos  principais  que  vão 
permear  os  escritos  de  Paulo:  a  diminuição  do  ego  e  a  alegria  cristã.  Esses 
conceitos  são  resumidos  pelo  apóstolo  em  Filipenses  1:21  quando  ele  diz  “para 
mim  o  viver  é  Cristo,  e  o  morrer é lucro.” Sua vida não se limita mais a si mesmo, 
não  é  mais  voltada  para  seus  próprios  interesses  e,  consequentemente,  até  sua 

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morte  é  motivo  de  alegria.  Também  é  importante  que  Paulo  a  escreveu  num 
estado de isolamento, quando estava preso em Roma (At 28). 
Ao  estudar  esses  textos  juntos  vamos  perceber  que  ao  diminuir  nosso  ego  e 
buscarmos  amar  a  Deus  e  ao  nosso  próximo  mais  do  que  a  nós  mesmos, 
encontraremos  uma alegria infinitamente melhor, que resultará em glória a Deus. 
Então abra sua Bíblia e acompanhe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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I: COMO DEUS CUMPRIRÁ SEU PROPÓSITO EM NÓS 
(Filipenses 1:1-11) 

O  ​começo  de  Filipenses  é  cheio  de  gratidão  e alegria por parte de Paulo. Ele 


dita  o  clima  da  carta  toda  e  mostra  que  esse  será  um  livro  repleto  de  felicidade e 
amor,  marcas  de  uma  igreja  madura  e  de  um  cristianismo  que  está  se 
aperfeiçoando.  Ao  revelar  o  conteúdo  de  suas  orações,  Paulo  apresenta  um 
carinho  enorme  por  aqueles  irmãos,  e  revela  como  tem  certeza  de  que  Deus 
cumprirá  seu  propósito  na  vida  deles.  A carta começa com uma introdução típica 
do  apóstolo  nos  primeiros  dois  versículos,  e  depois  iniciamos  a  apresentação 
desse conteúdo abençoado.  

Filipenses  1:3-5:  ​Paulo  está  sempre  orando  pelos  filipenses.  Em  seus 
momentos  a  sós  com  Deus,  o  apóstolo  nunca  esquece  de  mencionar  aqueles 
queridos  irmão.  Mas  qual  é  o  conteúdo  da  sua  oração?  Ela  é  repleta  de  súplicas 
feitas  com  ​alegria​.  Ele  está  pedindo  que  Deus  abençoe  os  filipenses,  mas  pede 
com  imensa  alegria  no  coração.  Por  que?  De  onde  vem  esse  sentimento?  Ele 
responde  no  v.  5:  “pela  vossa  cooperação  no  evangelho,  desde  o  primeiro  dia  até 
agora.”  Paulo  está  alegre  porque  os  filipenses  são  e  continuam  sendo  seus 
cooperadores  no  evangelho.  Isso  já  deve  gerar  em  nós  uma  grande  aplicação: 
temos gratidão nas orações pelos nossos irmãos? Somos gratos por caminhar com 
pessoas  que  também  buscam  ao  Senhor  e  amam  a  Cristo?  Nos  enche  de  alegria 
ter  uma  igreja,  um  pequeno  grupo  e  um  ministério  com  cooperadores  do 
evangelho? 

Filipenses  1:6-7:  ​Esses  versículos  começam  com  uma  certeza.  Paulo  afirma 
estar  certo  de  que  Deus  tem  um  propósito  para  os  filipenses,  ou  para  cristãos 
maduros  em  geral,  e  que  irá  cumprir  esse  propósito.  Precisamos  descobrir  agora 
qual  é  esse  propósito,  como  Deus  irá  cumprí-lo e como Paulo tem essa certeza. A 
última  pergunta  é  respondida  primeiro.  Essa  firmeza  vem  do  fato  dos  filipenses 
serem  “participantes  da graça” (v. 7) com ele. Isso permite que ele carregue-os em 
seu  coração  e  esteja  confiante  no  cumprimento  do  propósito  de  Deus  em  suas 
vidas. Faltam agora duas perguntas, e suas respostas vêm logo a seguir. 

Filipenses  1:8-9:  ​Voltamos  agora  para  o  conteúdo  da  oração  e  do  coração de 
Paulo,  que  está  repleto  de  saudade  pelos  filipenses.  Como  já  vimos,  o fato desses 

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irmãos  serem  cooperadores  no  evangelho  e  participantes  com  ele  na  graça  o 
enche  de  alegria  e  amor.  Paulo  escreve  essa  carta  cativo  numa  prisão  terrível,  e 
distante  dos  seus  queridos.  É  natural  então  que  sua  saudade  seja  grande  a  ponto 
de  ser  testemunhada  pelo  próprio  Deus.  E  a  isso  ele  adiciona  mais  uma  oração: 
que  o  conhecimento  e  percepção  do  amor  experimentado  pelos  filipenses 
aumentem  mais  e  mais.  Que eles aprendam e vivam mais o amor a Deus acima de 
tudo,  e  ao  próximo  como  a  si  mesmos.  O  propósito  disso  é  revelado  no  próximo 
texto. 

Filipenses  1:10-11a:  ​O  alvo  de  Paulo  com  essas  orações  é  que  os  filipenses 
passem  a provar, experimentar e viver as coisas excelentes de Deus, e dessa forma 
se  apresentem  inculpáveis  no  Julgamento.  O  aumento  do  amor,  então,  nos 
permite  experimentar  do  melhor  de  Deus.  É  através  do  amor  que  encontramos  o 
caminho.  É  assim  que  Deus  irá  cumprir  seu  propósito na vida deles: aumentando 
o  amor  e,  assim,  fazendo  com  que  os  filipenses  experimentem  das  coisas 
excelentes  que  o  Criador  tem  a  oferecer  e  se  tornem  inculpáveis.  Isso  nos  traz 
tantas  verdades  valiosas.  Aprendemos  com  isso  que  é  Deus  quem  aumenta  o 
amor,  que  parte  da  sua  graça  a  experiência  do  que  é  excelente,  e  que  ao 
experimentarmos  das  qualidades  do  nosso  Pai,  iremos  naturalmente  ser 
aperfeiçoados  ao  ponto  de  sermos  inculpáveis.  Encontramos  aqui  ​como  ​Deus  irá 
cumprir seu propósito. Resta identificar qual é o propósito. 

Filipenses  1:11b​:  Simples:  “para  a  glória  e  louvor  de  Deus.”  Palavras  tão 
simples  mas  tão  importantes.  Deus  criou  o  mundo  para  que  suas  criaturas  o 
glorifiquem  ao  desfrutar  e  se  alegrar  Nele.  Provamos  isso  ao  ver  que  o  aumento 
do  amor  gera  a  experiência  (ou  o  alegria,  regozijo  e  satisfação)  das  coisas 
excelentes  de  Deus,  e  ao  experimentarmos  isso,  nos  tornamos  reflexos  mais  e 
mais  perfeitos  do  nosso  Criador.  Quanto  mais  o  refletirmos,  naturalmente,  mais 
Ele é glorificado.  

Podemos  resumir  isso  tudo  dizendo  que  Paulo  tem  certeza  de  que  Deus  irá 
cumprir  seu  propósito  de  ser  glorificado  em  nossa  vida,  e  faz  isso  aumentando  o 
amor  entre  nós,  para  então  desfrutarmos  mais  da  sua  excelência.  E  através  dessa 
belíssima alegria somos aperfeiçoados, e vivemos um caminho que glorifica o Pai. 
Ser cooperador do evangelho e participante da graça é viver esse processo. 

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II: A ALEGRIA DO EVANGELHO PROCLAMADO 
(Filipenses 1:12-18) 

Algo  ​interessante  está  acontecendo  enquanto  Paulo  está  preso.  Era  de  se 
esperar  que  o  cárcere  do  maior  missionário  de  todos  os  tempos  resultaria  numa 
desaceleração  da  expansão  do  evangelho,  mas  sua  prisão  está  tendo  o  efeito 
inverso, e isso também é motivo de alegria. 

Filipenses  1:12-13​:  Paulo  está  preso,  mas  o  evangelho não. O apóstolo relata 


aqui  que  graças  ao  seu  aprisionamento,  o  nome  de  Jesus  Cristo  está  sendo 
pregado  e  seu  Reino  está  presente  agora  entre  a  guarda  pretoriana.  Todos  estão 
ouvindo  falar  do  prisioneiro  e  da sua mensagem. Mas não é apenas ali dentro que 
o volume de pregação aumentou. Como isso está acontecendo? 

Filipenses  1:14:  ​As  algemas de Paulo estão servindo de motivação. Ver Paulo 


preso  encorajou  “a  maioria  dos  irmãos”  a  “pregar  com  mais  desassombro  a 
Palavra  de  Deus”.  Eles  viram  a  tentativa  de  suprimir  o  evangelho  e  cresceram 
diante  da  ameaça,  pregando  mais,  com  mais  audácia  e  fervor,  para  mais  pessoas. 
O  efeito  de  prender  o  apóstolo  foi  o  inverso  do  desejado.  Ao  invés  de  diminuir  a 
expansão  do  Reino,  ela  aumentou.  Assim como a perseguição relatada em Atos 8, 
Deus  mostra  que  através do seu grande poder, tentativas de interromper o avanço 
da  igreja  não  só  são  frustradas,  como  também  se  tornam  combustível  para  a 
Missão. 

Filipenses  1:15-17:  ​Entretanto,  dentro  desse  aumento  no  número  de 


pregadores,  algo  está  aparentemente  negativo:  pessoas  estão  aproveitando  a 
ausência  de  Paulo  para  tentar  tomar  sua  fama  como  missionário  do  evangelho. 
Enquanto  Paulo  deixa  claro  que  muitos  estão  pregando  por  amor  a  Deus,  outros 
agem  motivados  pela  inveja  que  nutrem  do  ministério  do  apóstolo.  Os  que 
pregam  por  amor  o  fazem porque sabem que a prisão de Paulo não aconteceu por 
um  crime  contra  a  sociedade,  mas  porque  ele  defendia  o  evangelho  de  Deus  (v. 
16).  É  por  amor  à  defesa  do  evangelho  que  eles  estão  abrindo  suas  bocas.  Já  os 
invejosos  se  movem  na  base  da  ambição  egoísta,  e  por  achar  que  estão 
prejudicando Paulo, roubando seu holofote, ao se aproveitar das suas algemas. 

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Filipenses  1:18​:  O  que  os  invejosos  não  sabem,  entretanto,  é  que  não  é  a 
intenção  de  Paulo  ter  esse  holofote.  O  apóstolo  não  busca  ser  o  centro  das 
atenções,  ele  não  deseja  que  seu  nome  seja  conhecido.  Seu  propósito  é  simples: 
tornar  o  nome  de  Cristo  mais  conhecido.  Se  isso  acontece  através  de  invejosos, 
que  bom!  “Uma  vez  que  Cristo,  de  qualquer  modo,  está  sendo  pregado,  quer  por 
pretexto,  quer  por  verdade,  também  com  isto  me  regozijo.”  Isso  é  fruto  da 
liberdade  do  ego.  Ao  abrir  mão  de  si  mesmo,  Paulo  encontra  uma  tremenda 
leveza.  Sua  alegria  não  vem  de  ouvir  pessoas  elogiando  seus estudos, pregações e 
ministério. Se o evangelho verdadeiro é proclamado, ele está feliz. 

Esse  texto  é  uma  prova  concreta  da  nossa  certeza.  A  diminuição  do  ego  e  o 
aumento  da  alegria  em  Deus  estão  conectados.  Ao  tirarmos  a  atenção  de  nós 
mesmos  e  colocarmos  nossos  olhos  no  Reino,  nos  tornaremos  felizes  mesmo 
presos  e  longe  dos  holofotes.  Por  que  você  prega  a  Palavra  de  Deus?  Por  que 
posta  um  versículo  no  Instagram?  Você  faz  questão  de  ser  o  líder  de  pequeno 
grupo,  o  conselheiro do acampamento, ou sua alegria não depende da sua posição 
e  sim  da  expansão  do  evangelho  da  paz?  Liberte-se  do  ego  e  viva  a  alegria  do 
evangelho proclamado. 

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III: INFINITAMENTE MELHOR 
(Filipenses 1:19-26) 

Não  ​é  exagero  dizer  que  é  nessa  perícope  que  encontraremos  o  texto  mais 
importante de Filipenses. É o texto que define essa devocional, foi daqui que John 
Piper  tirou  o  hedonismo  cristão  e  sua  máxima de que Deus é mais glorificado em 
nós  quando  estamos  mais  satisfeitos  nele.  É  um  tesouro.  Abra  seus  olhos  para 
enxergá-lo. 

Filipenses  1:19:  ​Existe  em  Paulo  uma  esperança  grande  de  que  ele  será 
liberto.  Ele  acredita  fielmente  que  através  das  orações  dos  justos  e  da  ajuda  do 
Espírito  Santo,  ele  será  liberto  da  prisão.  Ele  acredita  nisso  por  razões  que 
veremos  em  breve,  mas  o  ponto  mais  valioso  dessa  perícope  não  está  em  suas 
circunstâncias físicas, mas na expectativa que ele deposita em Deus. 

Filipenses  1:20-21:  ​Paulo  diz  que  tem  uma  ardente  expectativa  e  esperança. 
Se  um  apóstolo  de  Jesus  Cristo  diz  que  está  esperando  ardentemente  algo,  que 
seu  coração  está  investido  na  realização  de  algo  ao  ponto  de  arder  enquanto 
aguarda,  eu  vou  prestar  atenção  nisso.  As  próximas  palavras  são  mais  valiosas 
que  o  ouro.  Ele  crê  que  quer  pela  vida  ou  pela  morte,  quer  pela  liberdade  ou 
prisão,  pelas  circunstâncias  boas  ou  ruins,  Cristo  será  engrandecido  e 
magnificado  em  seu  corpo.  Independente  do  que  lhe  aconteça,  o  nome  de  Jesus 
será  exaltado  através  de  Paulo.  Que  expectativa!  Que  desejo!  É  o  nosso  alvo. 
Glorificar  a  Deus  em  tudo  que  somos  e  fazemos.  E  a  chave  para  isso  é  um  dos 
tesouros  de  maior  beleza  em  toda  a  Bíblia.  Cristo  será  magnificado  em  Paulo 
porque  a  sua  vida  está  totalmente  dedicada  e  satisfeita  em  Cristo,  e 
consequentemente,  até  mesmo  a  morte  gera  lucro  para  Paulo.  Como  a  morte 
pode  resultar  em  lucro?  Ela  nos  separa  de  familiares,  daquilo  que  possuímos,  de 
tudo que guardamos aqui. Mas se estamos ajuntando tesouros no céu, onde nem a 
traça  ou  a  ferrugem  podem tocá-los (Mt 6:19-21), se nossa vida é Cristo, e Cristo é 
incomparavelmente  melhor,  a  morte  será  lucro  e  Cristo  será  glorificado.  Afinal 
de  contas,  qual  é  a  única  coisa  que  cristãos  tem  certeza  que  ganharão  mais?  Nós 
ganharemos  mais  de  Cristo!  Se  a  vida  já  está  satisfeita  no  nosso  Salvador,  e  a 
morte nos dá m ​ ais ​deste Salvador, como ela não poderia ser lucro? 

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Filipenses  1:22-23:  ​Isso  é  expresso  de  modo  claro  aqui.  Há  um  conflito  em 
Paulo.  Ele  acredita  que  será  liberto  da  prisão  porque  ainda  tem  muito  trabalho  a 
fazer,  e  reconhece  que  estar  vivo  gerará  frutos  para  o  seu  trabalho,  e  ele 
obviamente  deseja  servir  a  Deus.  Sua  vida  é  Cristo,  afinal.  Mas  ao  mesmo  tempo 
existe  nele  um  desejo  tremendo  de  deixar  esta  vida  e  partir  para  sua  Casa.  Ele 
deixa  claro  que  estar  com  Cristo  é  incomparavelmente  melhor,  é  ​infinitamente 
melhor​.  Como  não  poderíamos  ver  a  morte  como  lucro,  se  Cristo  é  o  maior  bem? 
Essa  é  a  bênção  de  viver  satisfeito  num  Deus  que  é  totalmente  superior  a 
qualquer  bem  que  podemos  adquirir  aqui.  Até  o  momento  que  devia  ser  nossa 
maior  derrota  -  a  morte  -  se  torna  motivo  de  gozo  em  nossa  alma.  Se  Cristo  é 
infinitamente  melhor  que  qualquer  coisa  na  Terra,  segue-se  que  viver  com  ele  é 
infinitamente  melhor  do  que  qualquer  outro  tipo  de vida, e segue-se também que 
partir  para  estar  com  ele,  para  o  momento  em  que  nossa  fé  se  transformará  em 
visão  e  que  teremos  acesso  ininterrupto  a  ele,  é  infinitamente  melhor  que  estar 
aqui.  Vivendo  em  Cristo,  poderemos  um  dia  olhar  para  morte,  agora  sem  seu 
aguilhão terrível (1 Co 15:55-57), e exclamar: lucro! 

A  lógica,  então,  é  a  seguinte:  Cristo  é  glorificado  em  nós  na  nossa  vida 
porque  nossa  vida  é  dedicada,  satisfeita  e  baseada  nele,  que  por  ser 
incomparavelmente  melhor  nos  enche  de  alegria  indizível  (1  Pe  1:6-9).  E  quando 
morrermos,  vamos  receber  mais  dele,  vamos  experimentar  mais  a  ele,  vamos 
deixar  pra  trás  o  pecado  e  adorá-lo  com  mais  perfeição,  ele  se  torna  para  nós 
lucro, e é mais glorificado ainda. 

Filipenses  1:24-26:  ​Apesar  do  enorme  e  precioso  desejo  de  estar  com  o 
Infinitamente  Melhor,  Paulo  se  vê  na  situação  de  permanecer  aqui.  Ele 
reconhece,  ao  olhar  para  seu  ministério,  que  por  sua  permanência  na  carne,  a 
alegria  na  fé  dos  filipenses  vai  aumentar  (v.  25).  O  apóstolo  reconhece  que  a 
continuidade  do  seu  ministério  traria  mais  gozo  para  seus  irmãos,  no  momento, 
do  que  sua  morte.  Ele  acredita  que  uma  possível  reunião  com  os  filipenses 
encherá  o  coração  deles  de  alegria,  e  isso  dará  para  eles  mais  motivos  para 
glorificar  a  Jesus  Cristo.  Meus  irmãos,  isso  me  deixa  tão  constrangido.  Até 
mesmo  a  vontade  de  Paulo  de  deixar  a  cadeia  é  voltada  para  a  alegria  dos  seus 
amados  cooperadores  do  evangelho,  e  para  a  glória  de  Deus,  do  que  para  o  seu 
bem  estar.  Paulo  não  deseja  sair  da  prisão  para  desfrutar  dos  prazeres  da  vida 
aqui,  ele  quer  apenas  alegrar  os  filipenses,  e  quer  isso  porque  tem  a  ciência  de 

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que  se  eles  crescerem  em  alegria,  em  experimentar  as  coisas  excelente  de  Deus, 
em viver satisfeitos em Cristo, o Criador será mais glorificado.  

Você  estaria  disposto  a  viver  assim?  A  buscar  em  primeiro  lugar  não  o  seu 
próprio  conforto  aqui  na  Terra,  mas  a  alegria  do  seu  próximo  em  Cristo, 
resultando  em  glória  a  Deus?  É  um  convite,  à  primeira  vista,  difícil.  Mas  não 
olhem  para  isso  como  um  caminho  de  tristeza.  Em  momento  algum  Paulo  está 
condicionando  sua  alegria  à  prisão  ou  liberdade.  Ele  só  se  importa  com  suas 
circunstâncias  à  medida  que  elas  resultarem  em  glória  ao  Pai.  Não  são  elas  que 
ditam  seu  humor,  seu  estado  de  espírito  ou  sua  condição  emocional.  Ele  está 
satisfeito  em  ter  Cristo,  pois  Cristo  é  infinitamente  melhor  que  sua  cadeia,  que 
sua  libertação,  que  nosso  emprego,  que  nossos  relacionamentos,  que  nossas 
vitórias,  conquistas  ou dinheiro. Viva assim, satisfeito no infinitamente melhor, e 
até mesmo a morte te fará sorrir. 

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IV: A BÊNÇÃO DE SOFRER COM CRISTO 
(Filipenses 1:27-30) 

Ninguém  ​em  sã  consciência  deseja  ativamente  o  sofrimento,  mas  isso 


não  quer  dizer  que  ele  não  possa  ser  recontextualizado.  Em  momentos  de 
sofrimento  ganhamos  a  oportunidade  de  aprender  lições  importantes, 
particularmente se estamos sofrendo e sendo perseguidos com Cristo. 

Filipenses  1:27:  ​Paulo  tem  grandes  expectativas  com  a  igreja  de  Filipos.  Ele 
espera  continuar  ouvindo  notícias  positivas  vindo  daquela  comunidade. 
Novamente,  ele  insiste  na  ideia  de  “cooperadores  do  evangelho”  ou 
“participantes  da  graça”,  a  diminuição  do  ego  para  estar  firme  num  só  espírito  e 
numa  só  alma  (v.  27).  Ele  quer  que  eles  insistam  nesse  caminho  de  humildade  e 
comunhão,  ao  ponto  que, mesmo estando preso longe deles, os bons testemunhos 
sobre a vida dos filipenses alcancem seus ouvidos. E ele termina destacando que a 
força  conjunta  deles  será  necessária  na  luta  pela  fé  evangélica.  Não  podemos 
esquecer que a igreja existe no mundo em um contexto de guerra contra as trevas. 
E  a  promessa  de  Jesus  é  que  as  portas  do  inferno não prevalecerão contra a ​igreja 
(Mt  16:18),  não  contra  um  grupinho  de  crentes,  ou  contra  super-pastores,  ou 
apóstolos,  mas  a  queda  das  forças  infernais  virá  diante  do  corpo  de  Cristo,  que 
avança unido e inteiro. 

Filipenses  1:28:  ​Essa  unidade  será  especialmente  importante  quando  eles 


forem  perseguidos  por  adversários  que  tentarão  intimidá-los  e  enchê-los  de 
medo.  Mais  uma  vez  o  contexto  de  guerra  surge  diante  de  nós.  As  forças  do 
inferno  vão  usar  instrumentos  humanos  na  perseguição  à  igreja  e  esses  inimigos 
vão,  muitas  vezes,  contar  vitórias.  Quando  cristãos  morrem,  são  silenciados, 
expulsos  ou  dispersos,  os  adversários  celebram.  Mas  nós  acabamos  de  falar  que 
quando  estamos  satisfeitos  em  Cristo,  e  não  em  nossas  circunstâncias,  até  a 
morte  vira  motivo  de  louvor,  o  que  dizer  então  do  sofrimento?  Paulo  deixa  claro 
que  quando  os  outros  vêem  a  igreja  como  algo  derrotado,  é  aí  que  os  cristãos 
devem  encontrar  prova  evidente  de  sua  salvação,  e  uma  prova  garantida  e 
estampada pelo próprio Deus. Por quê? 

Filipenses  1:29-30:  ​A  resposta  está  aqui.  Quando  somos  salvos,  recebemos a 
graça  de  crer  em  Cristo,  o  dom  da  fé  que  nos  livra  da  dominação do pecado, mas 

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também  recebemos  a  graça  de  padecer  por  Cristo,  de  sofrer  por  ele,  de  sermos 
perseguidos  e  atacados  por  proclamarmos  que  o  Rei  ressuscitou  e  vive.  Os 
apóstolos  consideravam  a  ideia  de  sofrer  por  Jesus  como  uma  honra  (At  5:40-42). 
Não  porque  eles  gostavam  do  sofrimento  em  si,  mas  porque  Jesus  prometeu  que 
aqueles  que  verdadeiramente  entraram  no  Reino  dos  Céus  serão  perseguidos por 
defenderem a única e verdadeira justiça (Mt 5:10).  

Você  vê  o  seu  sofrimento  por  Cristo  como  uma bênção? Você consegue calar 


o  seu  ego  e  seu  desejo  por  conforto  ao  ponto  de  olhar  para  a  perseguição  e 
considerá-la  não  uma  humilhação,  como  o  mundo  faz,  mas  uma  estampa,  uma 
marca  e  um  sinal  da  sua salvação? Se você está ajuntando tesouros no céu, se está 
satisfeito  em  Deus,  então  qualquer  coisa  que  aponte  para  o  seu  coração que você 
está com Cristo deve ser motivo de alegria para a alma. 

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V: MATANDO O EGO 
(Filipenses 2:1-4) 

Uma  ​das  principais  lições  do  livro  de  Filipenses  é  a  necessidade  de  deixar 
para trás o ego e a vida voltada para si e passar a buscar a unidade perfeita através 
do  Espírito  Santo.  No  capítulo  2,  Paulo  começa  a  mostrar  como  podemos  fazer 
isso. 

Filipenses  2:1-2:  ​O  segundo  capítulo  começa  com  Paulo  encorajando 


novamente  os  filipenses  a  viverem  de  uma  maneira  que  ele  descreve  como  sendo 
cheia  de  amor,  comunhão,  afetos  e  misericórdia.  Qual  igreja  não  quer viver isso? 
Qual  cristão  não  quer  experimentar  isso  em  sua  caminhada?  Devemos  prestar 
atenção  no  caminho  para  viver  essas  experiências  abençoadoras.  Paulo  repete  o 
que  disse  no  fim  do  capítulo  1:  seu  coração  se  encherá  de  alegria  (v. 2) ao ver que 
os  filipenses  andam  com  o  mesmo  amor,  têm  unidade  de  alma  e  os  mesmos 
sentimentos uns para com os outros. 

Filipenses  2:3a:  ​Viver  com  unidade  de  alma  é  viver sem estar dominado pelo 


ego  e  pelo  próprio  coração.  É  o  tipo  de  liberdade  que  podemos  experimentar  se 
nossa  satisfação  não  está  depositada  em  nossas conquistas, posses ou status, mas 
em  Cristo.  Isso  nos  permite  seguir  o  conselho  de  Paulo  aqui:  não  fazer  nada  por 
partidarismo  ou  vanglória.  Ou  seja,  não  fazer  nada  colocando  em  pauta primeiro 
a  opinião  ou  ideologia  que  nós  podemos  ter.  Nada  disso  pode  estar  acima  da 
própria  Palavra  de  Deus,  e  nada  disso  pode  estar  acima  do  nosso  amor  aos 
irmãos.  Qualquer  outro  tipo  de  prática  vai  gerar  em  nós  uma  tremenda idolatria, 
e  toda  idolatria  aponta,  em  última  instância,  para  o  ego.  A  figura  do  ídolo  pode 
mudar  -  um  político,  uma  ideologia,  um sistema econômico, um time de futebol - 
mas  o  motivo  da  idolatria sempre é o mesmo: achamos que o objeto idolatrado de 
alguma  forma  trará  prazer  para  nós.  Não  nos  importamos  de  ferir  outros  ou 
afastá-los,  desde  que  as  coisas  aconteçam  do  ​nosso  ​jeito.  Esse  prazer  próprio,  ou 
glória  própria,  é  justamente  o que Paulo quer que evitemos ao dizer para não agir 
pela  vanglória,  literalmente  uma  glória  vã,  vazia  e  nula.  Essa  é  a  glória  que  não 
adiciona  nada,  que  não  traz  satisfação  plena  e  que  apenas movimenta o egoísmo. 
Em  Gálatas  5:25-26,  Paulo  diz  que  vanglória  é  algo  que  nos  possui e consome, ao 

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ponto  de  provocarmos  e  invejarmos  os  outros.  Que  visão  horrível  é  um  cristão 
que se coloca acima do irmão. 

Filipenses  2:3b-4​:  O  contrário  disso  tudo  é  o  caminho  proposto  a  seguir. 


Aqui  é  lançado  um  baita  desafio:  considerar  o  outro  superior  a  nós  mesmos.  A 
ideia  aqui  não  é  criar  um  complexo  de  inferioridade  -  isso  é  incompatível  com  a 
alegria  indizível  que  Cristo  nos traz, com a vida infinitamente melhor - mas de se 
colocar  como  servo. Talvez a melhor imagem seja a do próprio Jesus, literalmente 
se  colocando  numa  posição  inferior  à  dos  apóstolos  quando  lavou  seus  pés, 
insistindo  em  ensiná-los  a  bênção  do  serviço  ao  próximo  nos  últimos  momentos 
com  seus  preciosos  amigos.  O  Filho  do  Homem,  afinal,  veio  para  servir  (Mt 
20:28).  Servir  ao  próximo  em  primeiro  lugar  constrói  a  comunhão  que  tanto 
alegrará  o  coração  de  Paulo,  e  isso  significa exatamente colocar os interesses dos 
outros  acima  dos  nossos,  não  buscando em imediato o que é propriamente nosso, 
mas confiando que Deus é nosso provedor.  

Tendo  essa  certeza,  podemos  nos  dedicar  a  amar  os  outros  intensamente, 
abrindo  mão de garantir o nosso pão diário, pois ele vem do Senhor. Mas essa não 
é  a  última  vez  que  Paulo  aborda  esse  tema  em  filipenses.  O  apóstolo  tem  mais  a 
falar sobre isso. 

 
 

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VI: O EXEMPLO SUPREMO 
(Filipenses 2:5-11) 

A  ​razão  pela  qual  podemos  usar  o  exemplo  de  Cristo  servindo  os  seus 
apóstolos  para  ilustrar  os  ensinamentos  do  texto  anterior  está  exposta  nos 
versículos  que  estudaremos  a  seguir.  O  próprio Paulo vê uma ligação direta entre 
o serviço e exemplo deixado para nós por Jesus. 

Filipenses  2:5-8​:  No  texto  anterior,  Paulo  nos  chama  a  viver  numa  unidade 
de  mente,  alma  e  sentimento.  Aqui  ele  explica  de  onde  exatamente  vem  esse 
sentimento.  Ele  é  o  mesmo  que  houve  em  Jesus  quando  nosso  Salvador  veio  à 
Terra  em  obediência  ao  Pai,  pronto  para  nos  servir  e  dar  a  vida  pela  nossa 
salvação.  Nossos  interesses  próprios  raramente  são  justificados,  normalmente 
eles  são  movidos  pelo  ego  que  a  idolatria  alimenta  e  causam  provocações  aos 
irmãos.  Mas  com  Jesus  é  diferente.  Se  a  nossa  glória  é  vã,  a  dele  era  divina  e 
perfeita.  Ele  sim  tinha  o  direito  de  buscar  o  seu  interesse.  Ele,  ao  contrário  de 
nós,  era  superior  em  todos  os  sentidos.  Mas  por  ser  superior,  ele  deu  o  exemplo 
supremo,  literalmente  se  esvaziando  ao  ponto  de  assumir  a  forma  de  servo  e 
encarnar-se  como  100%  homem,  sem  deixar  para  trás  nada  de  sua  natureza  100% 
santa e piedosa, sim, mas não usufruindo dela como tinha direito.  

Agora  sua  imutabilidade  estava  submissa  à  mudança  -  Jesus  envelhecia, 


ficava  cansado,  com  fome,  etc.  -,  agora  sua  infinitude  está  submissa  aos  limites - 
Jesus  precisa  ir  até  os  lugares  com  seus  pés,  ele  anda,  leva  tempo  para  chegar  ao 
destino.  -,  e  essa  obediência  vai  persistir  até  a  cruz,  quando  sua  imortalidade  se 
submete  à  morte,  tudo  por  amor  a  nós.  Como não seguir esse exemplo? Se Cristo 
estava  disposto  a  abrir  mão  apenas  de  qualidades  infinitamente  melhores  às  que 
temos,  como  podemos  nos  prender  ao  ego,  à  idolatria  e  ao  pecado?  Aqui  está 
Jesus,  o  ser  que  mais  desfruta  da  satisfação  em  Deus,  da  comunhão  perfeita  do 
Pai,  e  ele  está  colocando  os  interesses  dos  outros  à  frente  dos  seus.  Qual  é  nossa 
desculpa? 

Filipenses  2:9-10:  ​Esse  exemplo  de  Cristo  trouxe  um  fruto  para  ele.  Deus  o 
deu  o  nome  acima  de  todo  nome,  para  que  todos  se  dobrem  em  serviço  e 
submissão  diante do nome de Jesus, e para que, finalmente, Deus seja glorificado. 
Essa  é  a  chave  do verdadeiro serviço. Cristo já tinha toda a glória e satisfação que 

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precisava.  Ele  não  serviu  para  se  exaltar  -  se  esse  fosse  seu  objetivo,  ele  poderia 
ter  aceito  de  bom  grado  a  terceira  tentação  de  Satanás  no  deserto  (Mt  4:8-10)  - 
mas  serviu  para  magnificar  o  nome  de  Deus.  Até  mesmo  a  exaltação  final  de 
Jesus,  a  glória  dada  ao  seu  nome,  resulta  em  exaltação  de  Deus (Jo 17:1). Como já 
vimos,  a  melhor  maneira  de  glorificar  a Deus é nos satisfazendo totalmente nEle, 
como  o  próprio  Cristo  estava  (Jo  17:4-5,  17:13).  Isso  significa  que  o  serviço  do 
cristão  não  é  ​para  ​ganhar  satisfação,  como  se  estivéssemos  servindo  a  Deus 
aguardando  algo  em  troca.  Não,  nosso  serviço  é  ​porque  ​ganhamos  satisfação. 
Deus  já  nos  deu  seu  filho  como  Salvador,  já  nos  salvou  para  a  vida  eterna,  já 
rasgou o véu. O que mais Ele pode nos dar, se o mais valioso já foi entregue?  

É  exatamente  assim  que  Paulo  posiciona  Jesus  em  Romanos  8:32;  o  maior 
tesouro.  Não  há  recompensa  no  serviço,  não  há  troca  de  favores.  Serviço  é  sinal 
de  plenitude  e  gratidão.  É  o  esvaziamento.  Pense  aqui,  literalmente,  em  um  ego 
que  estava  inflado  se  esvaziando  em  humildade.  Foi  assim  que  Cristo  serviu  e  é 
assim  que  devemos  seguir.  Qualquer  outra  espécie  de  serviço  é  um  trabalho,  um 
voluntariado  ou  uma  tentativa  de  exaltar  a  si  mesmo,  mas  não  é  o  serviço  que 
glorifica o Grande Autor da vida. 

 
 
 

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VII: SALVAÇÃO EM PRÁTICA 
(Filipenses 2:12-18) 

Podemos ​ter certeza de que se a prática de colocar os outros acima de nós 
mesmos,  de  deixar  pra  trás  o  ego  e  o  orgulho,  dependesse  inteiramente  de  nós, 
nossas  tentativas  seriam  frustradas regularmente. Felizmente, a garantia de que a 
nova  vida  é  possível  vem  do  próprio  Deus.  Isso  não  retira  de  nós  a 
responsabilidade  de  dia  após  dia  colocar  em  prática  aquilo  que  nos  foi  ensinado, 
mas deve nos encher de esperança. 

Filipenses  2:12-13:  ​Já  que  devemos  seguir  o  exemplo  de  Jesus,  devemos 
sempre  desenvolver,  ou  colocar  em  prática,  a  salvação  que  ele  nos  deu.  Não  é  a 
toa  que  Paulo  chama  os  filipenses  a  ​obedecer  ​aqui.  É  o mesmo verbo que ele usou 
para  descrever  o  serviço  de  Cristo  para  glorificar  ao  Pai  no  texto  anterior. 
Estamos  desenvolvendo  em  nós  mesmos  o  coração  e  as  obras  de  um  servo,  de 
alguém  que  se  coloca  disposto  para  abençoar os outros, para deixar seus próprios 
desejos  de  lado  e  viver  glorificando  e  magnificando  o  único  Deus.  Esse  tipo  de 
vida  deve  acontecer  no  nosso  cotidiano,  e  não  apenas  nas  “coisas  de  igreja.” 
Paulo  ensina  aos  filipenses  que  o  chamado  à  obediência  deve  existir  na presença 
de uma autoridade como ele, na presença de um pastor, dentro do pequeno grupo, 
da  igreja  e  do  ministério,  mas  ainda  mais  longe de uma figura ou ambiente como 
esse.  Não  obedecemos  para  sermos  bem-vistos  por  ninguém  na  igreja,  mas  para 
engrandecer  a  Deus,  seja  no  trabalho,  estudos  ou  nos  relacionamentos.  Não  caia 
na  armadilha  de  separar  sua  vida  entre  a  igreja  e  o mundo. Sua vida é uma só, e a 
ordem permanece independente de onde você esteja. 

Filipenses  2:14-16​:  Paulo  instrui  os  filipenses  a  viverem  sem  murmuração 


constante  ou  com  contendas.  Afinal,  como  pessoas  satisfeitas  naquilo  que  é 
infinitamente  melhor  podem  viver  reclamando  da  vida?  É  interessante  notar  que 
ele  mostra  que  essa  é  uma  das  marcas  que  diferencia  os  “filhos  de  Deus 
inculpáveis”  de  uma  “geração  pervertida  e  corrupta.”  Os  perversos,  os corruptos, 
os  perdidos,  vivem  em  murmuração.  Eles  jamais  encontram  a  água  que  satisfaz 
sua  sede  essencial.  O  caminho  daqueles  que  vivem  no  pecado  é  um  caminho  de 
insatisfação,  de  repetidas tentativas frustradas de encontrar algo que sacie a fome 
que  sentem  em  seu  coração.  Há  uma  ausência  de  prazer  do  tamanho  de Deus em 

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seu  íntimo  e  o  pecado  nada  mais  é  que  a  busca  desenfreada  por  prazeres  falsos 
que  corroem  e  adoecem  o  espírito.  De  alguma  maneira,  o  apóstolo  fala,  a  alegria 
que  ele  terá  de  ver  os  filipenses  vivendo  dessa  maneira  será  grande  ao  ponto  de 
alcançar  a  eternidade. No Julgamento, ele saberá que seus esforços naquela igreja 
não  foram  em  vão.  É  uma  declaração  tremenda,  e  que  pode  até  nos  confundir. 
Mas  eu  a  vejo  como  um  gigantesco  sinal  de  amor.  É  quase  como  se  Paulo 
estivesse torcendo pra que isso se tornasse realidade.  

Filipenses  2:17-18:  ​Paulo,  mais  uma  vez,  demonstra  que  sua alegria não está 


aliada  às  suas  circunstâncias,  mas  firmada  na  eternidade.  Ele  diz  que  se  a  morte 
vier  até  ele,  se  ele  for  oferecido  como  sacrifício,  será  para  o  serviço  da  fé  de seus 
irmãos,  e  isso  o  faz  se  alegrar  tanto,  que  ele  convida  os filipenses a se juntarem a 
ele  nesse  prazer  santo.  Meus  irmãos,  isso  é  o  que  podemos  chamar  de  alegria 
radical.  Que  grande  satisfação  um  homem  deve  ter  em  Deus  para  olhar  para  sua 
possível  morte  como  um  instrumento  do  Senhor  para  trabalhar  a  fé  dos  outros. 
Como  podemos  nos  alegrar  tanto  em  Jesus  que  até  mesmo  as  circunstâncias  que 
nos  trazem  luto  podem  ser  vistas  sob  a  lente  da  plena  satisfação  em  Deus  e 
encaradas  como  ferramentas divinas para o desenvolvimento da nossa salvação. É 
aqui  que  devemos  almejar  chegar.  Uma  subversão  completa  e  total  da  forma 
cheia  de  murmurações  que  o  mundo  vive.  Paulo  não  está,  de  forma  alguma, 
proibindo  os  filipenses  de  sentirem  tristeza  ou  luto  aqui,  mas  ele  quer  que  estes 
mesmos  sentimentos  sejam  vistos  não  apenas  como  parte  natural  da  vida,  mas 
como  oportunidades  através  das  quais  Deus  fará de nós pessoas mais maduras na 
fé.  

Algumas  vezes  nós  temos  a  consciência  disso,  de  que  tudo  -  incluindo 
desastres  -  coopera  para  nosso  bem  e  para  o  propósito  de  Deus,  que  é  nos  fazer 
mais  parecidos  com  Ele,  mas  nós  conseguimos  transformar  esse  conhecimento 
teórico  em  alegria  e  louvor?  Se estamos satisfeitos em Cristo, tudo que fazemos é 
baseado  no  objetivo  de  desenvolver  nossa  salvação,  o  que  glorifica  a  Deus  e 
deveria  sempre  alegrar  nossas  almas,  pois  nem  a  morte  pode  impedir  esse  gozo 
supremo  e  nem  o  luto  pode  parar  o  crescimento  da  semente  da  fé  plantada  em 
nosso coração, afinal, é Deus quem garante o querer e o realizar em nós. 

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VIII: TIMÓTEO E EPAFRODITO 
(Filipenses 2:19-30) 

Paulo  ​não  podia  ir  visitar  os  filipenses  ainda.  Ele  estava  preso  e  não  tinha 
como  encontrar  com  seus  amados  irmãos  naquele  momento.  Por  isso  ele  decide 
enviar  dois  companheiros  seus:  Timóteo  e  Epafrodito.  As  razões  para  enviá-los 
são diferentes, mas o propósito é o mesmo. 

Filipenses  2:19-24:  ​A  primeira  pessoa  que  Paulo  enviará  enquanto  a 


possibilidade  de  sua  visita  à  igreja  de  Filipos  está  bloqueada  é  Timóteo,  que  ele 
considera  como  um  filho  na  fé.  É  interessante,  entretanto,  que  Paulo  envia 
Timóteo não apenas porque ele era um bom pregador, ou plantador de igreja, mas 
porque  Timóteo  está  vivendo  exatamente  o  que  Paulo  quer  que  os  filipenses 
vivam.  O  apóstolo  descreve  seu aprendiz como alguém “de igual sentimento, que, 
sinceramente,  cuide  dos  vossos  interesses.” Não é exatamente essa a descrição da 
vida  cristã  que  devemos  ter,  exposta  pelo  mesmo Paulo no começo do capítulo 2? 
Ter  o  mesmo  sentimento,  isto  é,  o  sentimento  que  houve  em  Cristo:  servir 
colocando  os  interesses  dos  outros  acima  de  nós  mesmos?  Paulo  até  diz  que  não 
há  mais  ninguém  em  sua  equipe  que consiga fazer isso com a mesma sinceridade 
de  coração  que  Timóteo.  Se  a  marca  de  uma  igreja  madura  é  a  morte  do  ego  e  a 
santa  unidade,  então  essa  igreja  precisa  de  um  líder  que  viva  do  mesmo  modo. 
Portanto,  Timóteo  será  enviado  assim  que  Paulo  tiver  mais  certeza  da  sua 
situação  atual  (v.  23),  e  o  apóstolo  ainda  espera  ir  ver  seus  queridos  amigos  do 
peito logo em seguida (v. 24). 

Filipenses 2:25-26: ​O outro enviado de Paulo é Epafrodito, descrito como um 
“irmão,  cooperador  e  companheiro  de  lutas.”  O  versículo  26  nos  dá  a  entender 
que  ele  era  uma pessoa escolhida pela igreja de Filipos para ser seu representante 
no  círculo  paulino.  Naturalmente,  Epafrodito  está  com  saudade  dos  seus 
conterrâneos,  e  também  sofre  de  uma  angústia  por  conta  da  preocupação  gerada 
no  coração  dos  filipenses  ao  saber  que  ele  havia  ficado  doente.  Meus  irmãos,  os 
versículos  que  tratam  da  história  de  Epafrodito  nesse  texto  são  tão  poucos,  mas 
tão  valiosos.  Só  aqui  temos  uma  visão  claríssima  do  que  é  colocar  os  interesses 
dos  outros  acima  dos  seus,  tanto  através  de  Paulo  quanto  do  próprio  Epafrodito. 

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O  primeiro  exemplo  é  o  de Epafrodito. Este ajudante do apóstolo está angustiado 
e  ansioso,  mas  não  porque  passou  perto  da  morte,  e  sim  porque  sua  condição  de 
doente  afetou  os  irmãos  de  Filipos.  Note  com  cuidado  o  que  está  escrito  aqui. 
Epafrodito  estava  angustiado  por  conta  da  ansiedade  no  coração  dos  filipenses. 
Sua  angústia  existia  não  por  causa  do  seu  bem-estar,  mas  porque  ele  estava 
colocando  os  interesses  dos  irmãos  acima  dos  seus.  Ele  sabe  que  se  voltar  para 
casa,  aqueles  que  estão  preocupados  com  sua  saúde  (outro  exemplo  de  amor  ao 
próximo e de priorizar o bem-estar do irmão!) irão se acalmar quanto a isso.  

Filipenses  2:27-30:  ​Realmente,  Epafrodito  adoeceu  com  algo  que  podia 


matá-lo,  mas  agora  ele  estava  bem  graças  a um ato de misericórdia de Deus. Essa 
é  uma  misericórdia  dupla,  pois  curou  Epafrodito daquilo que estava o matando, e 
também  poupou  Paulo  de  sofrer  com  “tristeza  sobre  tristeza.”  O  apóstolo 
certamente  teria  ficado  em  grande  luto  ao  ver  alguém  descrito  como  irmão, 
cooperador  e  companheiro  falecendo.  A  satisfação  em  Deus  não  nos  impede  de 
sentir  tristeza,  dor,  luto  ou  saudade.  Ela  nos  sustenta  apesar  desses  sentimentos. 
De  volta  à  narrativa,  vemos  que  Paulo tem agora pressa em enviá-lo. Assim como 
Epafrodito,  o  apóstolo  sabe  que  os  irmãos  de  Filipos  vão  se  alegrar  ao  ver 
novamente  seu  antigo  amigo,  e  Paulo  diz  que  ver  essa  alegria  surgir  entre  seus 
amados  filipenses  vai  diminuir  sua  tristeza  (v.  27).  Aqui  temos  outro  tremendo 
exemplo  do  amor  que  coloca  o  interesse  dos  outros  acima  dos  nossos.  Paulo 
claramente  valorizava  a  companhia  de  Epafrodito,  ao  ponto  de  dizer  que  sua 
morte  teria  lhe  trazido  tremendo luto, mas ele está disposto a suportar a ausência 
do  seu  companheiro  porque  valoriza a alegria daquela igreja. Paulo se alegra com 
os que se alegram. O que quer que tenha sido a causa da doença de Epafrodito, foi 
algo  que  lhe  aconteceu  “por  causa  da  obra  de  Cristo”,  pois  este  irmão  estava 
disposto  a  dar  a  própria  vida  para  suprir  as  carências  de  Paulo.  Novamente 
encontramos entre essas figuras um exemplo valioso de caridade e amor. 

Para  mim  é  difícil  ler  esse  capítulo,  perceber  esse  amor  tão  livre,  tão  sem 
constrangimento  e  tão  intenso  -  entre  Paulo  e  Epafrodito,  entre  Paulo  e  os 
filipenses,  e  entre  Epafrodito e os filipenses - e não ficar envergonhado. Podemos 
dizer  que  vivemos  isso?  Que  olhamos  para  nossos  queridos  irmãos da igreja com 
os  mesmos  olhos  cheios  de  afeto?  Que  seu bem-estar é mais valioso que o nosso? 
Aqui  vemos  toda  a  teologia  de  Paulo posta em prática. Vemos que o apóstolo não 
prega uma coisa e vive outra. Podemos fazer o mesmo. 

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IX: A PERDA LUCRATIVA 
(Filipenses 3:1-11) 

A  ​igreja  de  Filipos  era  uma  igreja  madura.  Paulo  não  levanta  nenhum 
comportamento  claramente  escandaloso  ou  pecaminoso  nesta  carta.  Isso, 
entretanto,  não  significa  que  não  haviam  ameaças  próximas  a  ele.  Assim  como 
qualquer  igreja,  eles  precisavam  prestar  atenção  nos  falsos  mestres  e  tomar 
cuidado com ensinos errados. E aqui o grande apóstolo traz essa questão à tona. 

Filipenses  3:1-3:  ​O  alerta  de  Paulo  quanto  aos  falsos  mestres  aqui  nos  diz 
muito.  Ele  podia  destacar  uma  doutrina  específica  que  estava  sendo  ensinada 
como  em  1  Timóteo  1:3-4,  ou  até  dar  nomes  aos  bois  e  dizer  o  grupo  que  está 
causando  os  problemas,  como  faz  em  Gálatas  2:13  ao  apontar  para  os  judeus. 
Aqui  ele  gasta  apenas  um  versículo  (Fp  3:2)  apontando  para  esses  perigosos 
professores  (o  tema,  entretanto,  retorna  no  final  do  capítulo)  -  e  é  mais  do  que  o 
suficiente,  afinal  o  palavreado  é  duro  e  memorável  -  e  depois  trata  não  de  um 
ensinamento  danoso  em  especial  que  deve  ser  evitado,  mas  da  própria  satisfação 
dessas  má  influências.  Quando  ele  dá  a  razão por trás do seu alerta (note o ​porque 
no  começo  do  v.  3),  o  argumento  vai  para  onde  está  a  confiança  dos  pregadores. 
Enquanto  Paulo  e  seu  grupo  gloriam-se  em  Cristo, os falsos mestres colocam sua 
confiança,  sua  satisfação  e  glória  na  carne.  Eles  confiam  na  força  do  próprio 
braço  e  abraçam  a  vanglória  condenada  pelo apóstolo apenas alguns versos atrás. 
Isso  está  completamente  de  acordo  com  tudo  que  lemos  até  agora.  Se a marca de 
uma  igreja  madura  é  sua  constante  satisfação  em  Deus,  permitindo  que  eles 
vivam  uns  para  os  outros,  então  o  pior  tipo  de  ensinamento  possível  para  eles 
seria  algo  que  os  fizesse  depositar  sua  alegria em outra fonte, como na carne, nas 
conquistas, nos lucros ou em qualquer outro ídolo terreno. 

Filipenses  3:4-7:  ​E  aqui  Paulo  entra  no  seu  modo  irônico.  O  apóstolo  era 
seríssimo,  mas  todos  nós  sabemos  que  ele  gostava  de  inserir  uma  boa  dose  de 
ironia  quando  tratava  de  alguns  assuntos.  Ora,  se  é  pra  confiar  na  carne,  quem 
entre  os  homens  teria  mais  direito  de  fazer  isso  do  que  ele? O apóstolo lista aqui 
seu  grande  currículo  humano,  aponta para todas as suas conquistas com o intuito 
de mostrar que no quesito “confiança na carne”, ele tem mais onde confiar do que 

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os  seus  adversários.  Mas  depois  de  construir  esse  edifício  de  méritos  terrenos, 
Paulo  detona  uma  série  de  explosivos  de  demolição com uma só brilhante e linda 
declaração:  “isto  considerei  perda  por  causa  de  Cristo.”  (v.  7).  Ele,  então,  passa  a 
expandir essa ideia. 

Filipenses  3:8-10:  ​O  que  significa  dizer  que  você  considera  algo  como perda 
por  causa  de  Cristo?  Se  lembrarmos  que  Paulo vê e descreve o seu salvador como 
lucro,  ou  ganho,  faz  sentido  que  qualquer  coisa  que  não  seja  o  próprio  Jesus 
ganhe  a  etiqueta  de  perda.  Há  uma  importante  distinção  a  ser  feita  aqui.  Algo 
pode  ser  uma  grande  bênção  -  casamento,  filhos,  viagens,  empregos  - e ainda ser 
perda.  A  questão  é  qual  é  a  comparação  sendo  feita  aqui. Paulo está comparando 
bênçãos  humanas  não  com  outros  estilos  de  vida,  ou  com  outras  religiões,  mas 
com  a  suprema  satisfação  em  Cristo.  A  falsa  religião  judaica  fazia  o  contrário 
disso,  e  gerava  uma  meritocracia  baseando-se  apenas  nos  feitos  e  status  da 
pessoa.  O  que  ele  está  dizendo  não  é que ter um bom currículo é perda de tempo, 
mas  que  trocar  a  satisfação naquilo que é infinitamente melhor por satisfação em 
qualquer  outro  objeto,  incluindo  as  bênçãos  que  recebemos,  resulta  em perda. Se 
nosso  alvo  é  Cristo,  se  nosso  viver  é  ele,  se  nossa  alegria  está  nele,  então  sim, 
consideremos  tudo  como  perda  e  refugo  para  ter a sublimidade do conhecimento 
íntimo  e  relacional  do  prazer  eterno  e  celestial  que  nosso  Salvador  garantiu  para 
nós.  A  conclusão  de  Paulo  é  que  só  assim,  só  conhecendo  e  se  satisfazendo  mais 
em  Cristo,  é  que  ele  obterá  a  total  comunhão  com  Jesus  -  tanto  na  sua  morte 
como  na  ressurreição,  quando  ele  alcançar  o  estado  perfeito.  Esse  também  deve 
ser nosso objetivo. 

Estejamos  prontos  para  abrir  mão  de  qualquer  bênção,  percamos  todos  os 
nossos  ídolos,  porque  até  mesmo  a  morte  é  para  nós,  agora,  uma  forma  de 
conseguir  mais  do nosso precioso Jesus. A plena satisfação em Deus não significa 
que  não  podemos  desfrutar  de  outras  coisas,  afinal  tantas  são  dádivas  do próprio 
Pai,  mas  não  vemos  o  que  recebemos  como  objetos  de  prazer,  mas  como  placas 
que  apontam  para  algo  incomparavelmente  melhor  e  superior, e estamos prontos 
para  perder  tudo  isso,  para  perder até a vida, em nome de ganhar mais comunhão 
com  Deus.  É  uma  proposta  radical,  uma  que  não  deixa  brecha  para  nos 
alegrarmos  em  Deus  ​e  outra  coisa,  mas  só  assim  iremos  nos  satisfazer  ​apenas  no 
Abençoador e não nas bênçãos. 

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X: EM BUSCA DO PRÊMIO 
(Filipenses 3:12-16) 

Perfeição.  ​Essa  é  a  nossa  linha  de  chegada.  A  perfeita  satisfação  que  é 


fruto  da  perfeita  comunhão  com Cristo e gera a perfeita exaltação do nosso Deus. 
Paulo  está  em  busca  disso,  e  nesse  texto  ele  nos  lembrará  de  algo  muito 
importante. Mais do que o nosso objetivo, esse é o nosso propósito. 

Filipenses  3:12​:  A  perfeição  só  virá  no  céu,  Paulo  sabe  disso,  por  isso  ele 
deixa  claro  que  ainda  não  alcançou.  Entretanto,  ele  garante  que  vai  seguir  em 
busca  disso.  A  primeira  lição  que  tiro  disso  é  algo  muito  valioso.  Por  mais  que 
tenhamos  consciência  de  que  estamos  num  mundo  caído  e  que  pecaremos  até  o 
dia  da  nossa  morte,  ou  até  o  retorno  do  Rei,  isso  não  deve  nos  impedir  de 
perseguir  com  todas  as  nossas  forças  a  satisfação  completa  e  total  em  Deus.  A 
linguagem  da  Bíblia  não é de “ok, você vai pecar aqui, não tem como evitar, então 
pode  se  satisfazer  com  ​parte  de  Cristo.”  Não,  meus  irmãos.  Nós  ​já  ​somos  nova 
criatura  (Ef  2:1-10),  a  vida  que  ganhamos  é  de  abundância (Jo 10:10) e Deus já nos 
oferece  total  satisfação  (Sl  16:11).  Além  disso,  buscá-lo,  satisfazer  nosso  coração 
nele,  é  uma  ordem  (Fp  4:4).  Ou,  como  Paulo  explica  aqui,  é  nosso  propósito.  Ele 
diz  que  vai  prosseguir  para  conquistar aquilo ​para ​o qual Cristo o conquistou. Ou 
seja,  Cristo  o  conquistou  com  a  intenção  de  que  Paulo,  pela  graça  de  Deus, 
conquistasse  a  plena  satisfação  e  se  tornasse  perfeito  para  a  glória  do Pai. Assim 
como  apóstolo,  esse  é  o nosso propósito. Fomos criados para glorificar o Criador, 
e como já estudamos, isso acontece quando estamos alegres em Sua Presença. 

Filipenses  3:13-14:  ​Então,  deixando  para  trás  a  ideia  de  se  satisfazer  em 
qualquer  coisa  terrena,  onde  o  velho  homem  e  os  falsos  mestres  depositam  sua 
confiança  e  força,  Paulo  segue em busca do que ele diz ser o “prêmio da soberana 
vocação”  (v.  14)  de  Cristo  Jesus.  É  uma  descrição  essencial.  Nós  temos  uma 
vocação,  um  chamado,  que  nos  ordena  encontrar  em  Deus  a  maior  alegria.  O 
prêmio  de  cumprir  esta  ordem  é,  então,  a  própria  alegria.  Atendemos  esse 
chamado  fazendo  exatamente  o  que  foi  descrito  acima:  considerando  os  ídolos, 
aquilo  que  massageia  o  ego  do  velho  homem,  como  coisas esquecidas e lançando 
nosso coração inteiramente nas mãos do Senhor.  

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Filipenses  3:15-16:  ​Paulo  então  chama  todos  os  perfeitos  -  talvez  uma 
tradução  melhor  aqui  fosse  “maduro”.  Mais  uma  vez  vemos  a  conexão  direta 
entre  um  cristão  que  amadureceu  na  fé  e  a  satisfação  em  Deus.  A  marca  do 
crescimento  da  fé  não  é  uma  biblioteca gigante, não é vencer debates ideológicos 
ou  ter  nosso  conhecimento  reconhecido  por  outros  homens.  Não,  a  marca  do 
crente  maduro  é  sua  exultante  alegria indizível (1 Pe 1:7-9). Isso vai na contramão 
do  estilo  de vida mundano que o nosso velho homem tinha. Tanto é que Paulo diz 
que o próprio Deus muda a mente daqueles que pensam de outra maneira. Não há 
nada  em  nós  que  consiga  iniciar  esse  processo  santo  de  regozijar  unicamente  no 
Senhor.  É  através  do  conselho  e  ensino  do  Espírito  Santo,  usando  a  Palavra  de 
Deus,  que  essa  nova  vida  começa  a  surgir  em  nós.  Dependemos  inteiramente  da 
graça  na  busca  pelo  amadurecimento,  que  não  é  uma  conquista  simplesmente 
nossa,  mas  sim  o apropriar-se da santidade e perfeição que Cristo já conquistou e 
entregou.  

A boa notícia, meus irmãos, é que nós já recebemos tudo que precisamos para 
seguir  essa  jornada.  É  assim  que  essa  parte  de  Filipenses  3  se  encerra.  Já 
alcançamos  o  acesso  à  maturidade  cristã,  já  temos  a  salvação.  Jesus  Cristo  já 
morreu  e  ressuscitou,  o  véu  já  se  rasgou,  o Espírito Santo já vive em nós e o Deus 
Pai  já  nos  chama  pra  casa.  Sabendo  disso,  podemos  iniciar,  aqui  mesmo  nesta 
Terra  perdida,  a  busca  pela  glória,  pelo  infinitamente  melhor.  Ele  já  está  nos 
esperando. 

 
 

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XI: O CAMINHO DA DESTRUIÇÃO 
(Filipenses 3:17-4:1) 

Depois  ​de  gastar  basicamente  o  capítulo  3  inteiro  diferenciando  o


caminho de vida do velho homem, idólatra e focado no eu, do caminho abençoado 
para  o  qual  Jesus  nos  salvou, Paulo volta a alertar os filipenses sobre os lobos que 
andam em meio às ovelhas. E agora nós conheceremos o destino dessas pessoas. 

Filipenses  3:17-18:  ​Depois  de  apresentar  esses  dois caminhos, Paulo conclui 


clamando  aos  filipenses:  “observem  como  eu  e  os  meus  amigos  andamos,  e 
andem  como  nós!”  O  apóstolo  alerta,  novamente,  sobre  a  existência  de  má 
influências na igreja de Filipos. Isso não deve nos surpreender. Satanás jamais vai 
deixar  uma  igreja  prosperar  sem  tentar  destruí-la.  O  nosso  adversário  sempre 
enviará  seus  agentes  para  plantar  discórdia.  Seus  esforços,  infelizmente,  dão 
resultados  em  vários  lugares  ao  redor  do  mundo.  Mas  o  destino  final  daqueles 
que Paulo chama de inimigos da cruz é a total destruição.  

Filipenses  3:19:  ​Novamente,  Paulo  se preocupa mais em destacar onde está a 


satisfação  desses  falsos  mestres.  Ele  diz  que  o  seu  deus  é  o  próprio  ventre,  o  seu 
próprio  ego.  A  Bíblia  padrão  americana  -  English  Standard Version - traduz para 
“o  seu  deus  é  sua  barriga”,  o  que  expressa  perfeitamente  a  intenção  de  Paulo 
aqui.  O  ídolo  desses  homens  é  seu  próprio  ego,  e  é  a  este  falso  deus  que  eles 
querem  alimentar.  Por  isso  sua  glória  é  infame  e  suas  preocupações  e  confiança 
estão  lançadas  sobre  as  coisas  terrenas.  Eles  serão  totalmente  aniquilados  por 
causa  disso.  O  cristão  deve  ser  o  oposto.  Seu  Deus  é  o  Senhor, sua glória é a cruz 
(Gl  6:14)  e  sua  preocupação  é  com  as  coisas  do  céu.  Nós  seremos  totalmente 
satisfeitos por causa disso. 

Filipenses  3:20:  ​Quão  grande  é  a  diferença  do  nosso  destino.  Estamos  no 
mundo,  mas  não  somos  do  mundo  (Jo  17:15-16).  A  nossa  verdadeira  casa,  a nossa 
pátria,  está  nos  céus.  Isso  elimina  qualquer  espécie  de  idolatria  aqui,  inclusive 
coisas  como  o  nacionalismo,  preconceito,  senso  de  superioridade  ou outros tipos 
de  pecado  que  partam  de  alguma  definição  humana.  Esses  comportamentos 
existem  quando  passamos  a  nos  definir,  primariamente,  por  algo  que  possuímos 
aqui.  Eles  existem  quando  nossa  satisfação  está  no  lugar  onde  nascemos,  na  cor 

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da  nossa  pele  ou  no  nosso  status  social.  A  nossa  pátria  está  nos  céus,  nós  somos 
peregrinos,  forasteiros  vindos  de  uma  terra  distante  e  com saudade do nosso Pai. 
Viemos  para  cá  com  a  missão  de  glorificar  o  único  Deus,  e  um  dia  Ele  retornará 
para nos buscar. Aguardemos, então, o retorno do Salvador. 

Filipenses  3:21:  ​A  ênfase  de  Paulo  na  glorificação  do  corpo  como  fruto  do 
retorno  de  Cristo  faz  muito  sentido (1 Co 15:53-54. Paulo acabou de tratar com os 
filipenses  sobre  aqueles  homens  cujos  olhos  estão  totalmente  voltados  para  a 
terra.  Logo,  seus  prazeres  estão  totalmente  ligados  ao  físico,  e  a  experiência 
desses  prazeres  limita-se  a  existência  física  nesse  mundo.  Em  outras palavras, ao 
corpo.  Não  pense  que  Paulo  se  refere  aqui  apenas  a  prazeres  experimentados 
através  do  corpo,  como  o  sexo,  comida  ou  sono,  mas  se  depositarmos  nossa 
confiança  apenas  no  que  podemos ver, tocar ou provar, e nosso corpo for, ao final 
de  tudo,  destruído  e  lançado  no  inferno,  então  esses  prazeres  cessarão.  Eles  são 
insuficientes,  pois  não passam o teste da morte. O corpo glorificado daqueles que 
são  resgatados  por  Jesus  Cristo  é  diferente.  Em  Deus,  nosso  corpo  ​também  ​é  um 
instrumento  de  plena  satisfação,  pois  todas  as  coisas  estão  submissas  ao  seu 
infinito  poder.  Nossa  satisfação  nele  começa  aqui,  e  chegará  a  um  estado 
glorificado  quando,  quer  pela  morte  ou  pela  volta  de  Cristo,  entrarmos  na 
comunhão perfeita com o Pai. 

Filipenses  4:1:  ​Paulo  conclui  dizendo  aos  seus  amados  irmãos,  a  quem  ele 
descreve  como  sua  coroa  e  alegria  (mais  um  lembrete  do  enorme  amor  e  carinho 
que  existia  entre  eles,  algo  alcançado  graças  à  satisfação  em  Cristo e à libertação 
do  ego),  para  permanecerem  firmes  no  Senhor.  Ou  seja,  eles  já estão firmados na 
Rocha  eterna.  No  seu  combate  contra  os  falsos  mestres,  os  filipenses  estão 
posicionados no terreno certo.  

Mas  eles  não  podem  relaxar.  A  guerra  contra  o pecado e os prazeres da carne 


continua.  Ela  durará  até  a  morte,  ou  até  o  nosso  Rei  voltar  para  nos  buscar. 
Enquanto  uma  dessas  coisas  não  acontece,  devemos  continuar  a  mergulhar  na 
infinita graça do Senhor.  

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XII: MATANDO O EGO - PARTE II 
(Filipenses 4:2-4:9) 

Se  ​uma  das  marcas  da  satisfação  e  alegria  em  Deus  é,  como  temos  visto, 
colocar  o  interesse  dos  irmãos  acima  dos  nossos,  quem  vai  cuidar  dos  nossos 
interesses?  Quem  vai  prover  para  nós?  Esse  tipo  de  vida  pode  gerar  em  nós 
ansiedade, e por isso Paulo retorna ao tema, mas por outra perspectiva. 

Filipenses  4:2-3:  ​Ao  fazer  alguns  pedidos  específicos  a  certos  membros  da 
igreja  de  Filipos,  Paulo  encoraja  os  seus  leitores  a,  novamente,  buscar  a  unidade 
de  alma  e  sentimento.  Aqui  ele  expressa  essa  ideia como um pensamento único e 
concordante  no  Senhor  (v.  2),  semelhante  ao  que  encontramos  em  Filipenses  2:2. 
Assim  como  naquele  texto,  o  apóstolo  irá  tratar  novamente  da  importância  de 
matar  e  esvaziar  o  nosso  ego,  mas  se  antes  ele  dá  a  razão  pela  qual ​devemos ​fazer 
isso  (imitar  a  Cristo),  aqui  ele  diz  porque  ​podemos  ​fazer  isso  sem  preocupação.  É 
mais  fácil  cuidar  dos  interesses  do  próximo  antes  dos  meus  quando  eu  tenho 
certeza de quem é que cuida dos meus. 

Filipenses  4:4-5:  ​Recebemos  uma  ordem  aqui.  Um  comando  direto  para 
nosso  íntimo.  Alegre-se  em  Deus!  Repito:  Alegre-se  em  Deus!  Você  nasceu  para 
isso.  Você  foi,  de  fato,  criado  para  ser  feliz.  Não  para  ser  feliz  através  do  amor 
próprio,  ou  da  satisfação  em  ídolos  que  não  saciam  a  sede eterna, mas no Senhor 
que  oferece  o  maior  e  mais  completo  gozo  do  universo. Portanto, alegre-se nesse 
Deus.  É  imperativo  que  você  faça  isso.  Não  é uma opção. O comando a seguir, de 
que  sua  moderação  seja  conhecida,  está  ligado  a  isso.  A  palavra  para  moderação 
aqui,  no  original,  significa  um  espírito  magnânimo.  Em  outras  palavras,  um 
espírito  gentil.  Paulo  ordena  que  a  gentileza  dos  filipenses  seja  conhecida  por 
todos.  Como  já  vimos  antes,  essa  gentileza  se  configura  ao  amarmos  o  próximo 
como  a  nós  mesmos,  e  isso só acontece se não alimentamos o ego, mas definimos 
nossa  vida  em  Cristo.  Ao  se  alegrar  no  Senhor,  podemos  deixar o egoísmo para o 
lado e simplesmente agir com gentileza. 

Filipenses  4:6-7: E aqui está a razão pela qual podemos fazer isso com paz no 
coração.  Paulo  nos  chama  a  não  andar  ansiosos,  mas  a  lançar  todas  as  nossas 
preocupações,  pedidos,  necessidades  e  sonhos  aos  pés  do  Eterno.  Ele  diz  para 
colocar  tudo  isso  em  oração  a  Deus.  E  note  que  o  apóstolo  faz  questão  de  dizer 

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tudo​.  Disso  podemos  concluir  duas  coisas:  primeiro,  a  realização  de cada sonho e 
o suprimento  de  cada  necessidade  que  temos  depende  de Deus. É o Senhor quem
escreve  o  grande  roteiro  das  nossas  vidas  e  tudo  está  submisso  à  sua  santa  e
perfeita  vontade  (Tg  4:13-17).  Mas  isso  também  nos  ensina  que  podemos  confiar
tudo  a  Deus.  Você  sonha  com  algo?  Está  sentindo  falta  de  alguma  coisa?  Peça  a
Deus.  Não  esconda  nada.  Tenha  um  relacionamento  íntimo  com  Ele,  afinal  Ele é
seu  Pai.  Então  coloque  seus  pedidos,  sonhos  e  preocupações  diante  do  Rei,  mas
faça  isso  confiando  na  providência  dEle.  Timothy  Keller  uma  vez  disse  que
quando  pedimos  algo  a  Deus,  ou  Ele  nos  dá  o  que  pedimos,  ou  nos  dá  o  que
teríamos  pedido  ​se  soubéssemos  tudo  que  Ele  sabe.  Por  isso,  Paulo  diz  para
fazermos  isso  com  ações  de  graça.  Pedimos  com  o  coração  grato  porque  nossa
satisfação  não  depende  da  realização  dos  nossos  pedidos,  e  porque  a  resposta  de
Deus  sempre  será  aquela  que  nos  ajudará  a  desfrutar  mais  de  sua  santa  alegria.
Esse  texto  termina  dizendo  que  é  assim  -  pedindo,  confiando  e  agradecendo  a
Deus  -  que  obteremos  a  paz  que  excede  todo  o  entendimento,  e  com  isso
podemos  vencer  a ansiedade, acabaremos com o ego, e viveremos em gentileza de
coração.

Filipenses  4:8-9:  ​Depois  de  apresentar  o  que  ​não  fazer  para  obter  a  paz  (não 
andeis  ansiosos,  mas  confiai  em  Deus),  Paulo  agora  mostra  o  que  ​devemos  fazer​. 
Devemos  encher  a  mente  e  o  coração  daquilo  que  recebemos  e  aprendemos.  De 
tudo  que  merece  ser  louvado,  ensinado,  de  tudo  que  é virtuoso e digno de louvor. 
Ou  seja,  de  Deus!  De  seus  atributos  maravilhosos  e  grandes  feitos,  de  seu  eterno 
amor  e  longânimo  coração,  de  seu  plano  de  redenção  e  do  caminho  que  Ele  nos 
deu.  Pense  nisso,  medite  nisso  e  pratique  isso.  Que  isso  gere  em  você  vida,  para 
que você experimente a paz. 

Deus  não  é  só  a  satisfação  espiritual  da  nossa  alma,  Ele  também  é  a  nossa 
providência  enquanto  estamos  no  meio do mundo caído. Ele garante que teremos 
o que  precisamos.  Por  isso  não  devemos  idolatrar  as  bênçãos  ou  alimentar  o  ego
com  aquilo  que  é  terreno.  Devemos  confiar,  louvar,  orar  e  agradecer  ao  nosso
Provedor,  que  é  infinitamente  melhor  que  tudo  aqui.  Se  tivermos  essa  certeza,
teremos  uma  arma  para  lutar  contra  ansiedade  e  estaremos  prontamente
equipados  para  colocar  os  interesses  dos  irmãos  acima  dos  nossos,  e  então
amá-los  como  a  nós  mesmos,  tendo  o  mesmo  pensamento  e  sentimento,  vivendo
a unidade de alma e espírito.

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XIII: GRATIDÃO 
(Filipenses 4:10-4:23) 

Chegamos  ​ao  final  de  Filipenses,  e  é  natural  que  agora,  após  expor  tudo
que  precisava  ser  ensinado  e  destacado,  Paulo  volte  a  falar  do  coração.  Assim 
como  no  começo  do  livro,  a  característica  do  texto  apostólico  aqui  é  de  gratidão. 
Essa é uma marca do coração cristão (1 Ts 5:18).  

Filipenses  4:10-11:  ​Parte  da  gratidão  de  Paulo  aqui  vem  do  apoio  material 
dos  filipenses.  Eles  amavam  a  Paulo  e  viram  sua  situação  atual  como  uma 
oportunidade de colocar esse amor em prática. Como é boa a presença dos irmãos 
em  nossa  vida!  Quão  maravilhoso  é  o  sentimento  de  que  não  estamos  sozinhos 
aqui!  Mas  ainda  assim,  por  mais  abençoador  que  seja  fazer  parte  do  corpo,  a 
alegria suprema vem daquele que é o cabeça desta unidade (Cl 1:18). Paulo declara 
que  ​aprendeu  ​a  viver  satisfeito  em  qualquer  situação.  Daqui  tiramos  uma  lição 
valiosa:  é  possível  aprender  a  não  ser  ansioso.  Paulo  fez  exatamente  isso.  Sua 
exultação  não  depende  de  como  está  sua  conta  bancária,  sua  saúde  ou  sua 
popularidade  É  comum  ouvir  uma  pessoa  dizer  que  um  dos  seus  defeitos  é  a 
ansiedade,  ao  ponto  delas  se  descreverem  como  pessoas  ansiosas.  Mas  isso não é 
uma  característica  que  deve  nos  definir,  e  nós  podemos deixá-la pra trás. Através 
de  Cristo,  descobrimos  como  obter  a  paz.  Não  preciso  explicar  isso  aqui,  porque 
Paulo já fez isso no começo de Filipenses 4. 

Filipenses  4:12-13:  ​Por  conta  desse  aprendizado,  Paulo  sabe  como  viver 
satisfeito  independente  das  suas  circunstâncias.  É  importante  notar  que  o 
apóstolo  não  ignora  a  situação  em  que  se  encontra,  mas  alegra-se  ​apesar  ​dela.  A 
alegria  e  a  fé  do  cristão  não  existem  com  base  na  negação  da  realidade.  Quando 
estamos  no  meio  de  uma  crise, pandemia ou perseguição, não devemos viver uma 
ilusão,  como  se  nada  de  mal  fosse  acontecer  conosco.  Não  precisamos  fingir  que 
não  temos  medo  ou  tristeza  em  meio  às  tempestades,  mas  também  não podemos 
ficar  nesse  estado.  Sentir  essas  coisas  é  normal,  mas  jamais  devemos  deixá-las 
nos  dominarem.  Temos  que  partir  para  a  certeza  que  Paulo  exclama  aqui. 
Podemos  suportar  tudo,  encarar  tudo  e  nos  alegrarmos  apesar  de  tudo  porque 
nossa  força  e  satisfação  vêm  do  Senhor.  Ele  é  nossa  fortaleza  e  sustento,  então 

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não  são  as  lágrimas  ou  temores  que  irão  nos  impedir  de  desfrutar  da  plena 
alegria.  Dizer  que  “tudo  posso  naquele  me  fortalece”  (v.  13)  não  é  dizer  que 
podemos  fazer  tudo  e  conquistar  tudo  que  queremos  porque  Deus  vai  nos 
abençoar,  é  dizer  que  podemos  suportar  tudo,  estar  satisfeitos  independente  de 
tudo, porque Deus é nossa força. 

Filipenses  4:14-23:  ​Então  Paulo  parte  para  a  conclusão  dessa  carta 


abençoada.  O  apóstolo  deixa  claro  que  ter  a  alegria  firmada  em  Deus  não  deve 
nos  impedir  de  apreciar  e  agradecer  os  nossos  irmãos  por  seus  atos  de  carinho  e 
bondade.  Paulo  mostra  estar  alegre  com  a  ajuda  material  dos  filipenses  (v.  14), 
mas  como  sempre,  há  um  motivo  maior  por  trás  do  seu  sorriso.  No  versículo  17 
ele  mostra  que  acima da felicidade por ter suas necessidades supridas, existe uma 
exultação  que  parte  do  fruto  que  aumenta  o  crédito  daquele  povo.  Mais  do  que 
uma  oferta  monetária  ou  física,  a  ajuda  dos  filipenses  é  um  ato  de  amor,  e  serve 
de  crédito  para  eles  porque  agrada  a  Deus  (Hb  13:15-16).  Que  conclusão,  meus 
irmãos! 

Até  ao  ter  suas  necessidades  supridas,  até  ao  receber  recursos  para  o  ajudar, 
Paulo  se  alegra  no  Senhor!  Sua  alegria  não  está  baseada  no  que  ​ele  ​recebeu,  mas 
em  ver  o  crescimento  dos  irmãos.  Até  aqui,  ele  está  colocando  o  interesse  dos 
outros  acima  dos  seus,  e  até  aqui  ele  se  alegra  com  o  amor  dos  outros.  Ele  vê  a 
doação  como  prova  concreta  da  satisfação  dos  filipenses  em  Deus,  e  a  própria 
alegria  de  Paulo  aqui  é  mais  uma  evidência  de  que  o  apóstolo  também  estava 
nesse  caminho.  Regozijar no Senhor é alterar a forma como vemos tudo, inclusive 
a forma como recebemos recursos e presentes.  

Esse  é o ponto de Filipenses. Essa é a razão dessa carta. A conexão clara entre 
a  satisfação  em  Deus  e  a  morte  do  ego  para  viver  abençoando  e  amando  ao 
próximo.  Sem  um,  o  outro  não  acontece.  Por  isso,  quero  convidar  você  a  buscar 
isso  de  forma  incessante.  É  literalmente  a  razão  para  qual  Cristo  te  conquistou. 
Então  em  cada  leitura  bíblica,  em  cada  sermão  que  você  escuta  ou  louvor  que 
você  canta,  procure  ver  o  que  Deus  está  te  falando  sobre  a  satisfação  no  que  é 
infinitamente  melhor.  Não  se  contenha  com  pouco,  vá  além.  Você  já  está  no 
Reino,  agora  peça  a  Deus para entrar na sala do trono. Ore ao Senhor para encher 
seu espírito de Cristo, até o momento no qual você esteja pronto para olhar para a 
morte e gritar com toda sua alma: lucro! 

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