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Título em Português: Efeitos de Perguntas Abertas e Fechadas na

Correspondência Verbal.

Título em Inglês: The effects of Open and Closed Questions on Verbal

Correspondance.

Título resumido em Português: Efeitos da Correspondência Verbal.

Título resumido em Inglês: Verbal Correspondance Effects.

Autores: Ana Victória El Jaliss Dourado (Centro Universitário de Brasília –

UniCEUB)

Carlos Augusto de Medeiros (Centro Universitário de Brasília –

UniCEUB)

Titulação: Carlos Augusto de Medeiros – Doutor em Análise do Comportamento

Ana Victória El Jaliss Dourado – Graduanda em Psicologia

Endereço para correspondência com editor:

Ana Victória El Jaliss Dourado

SQN 110 BLOCO M APT 609

Telefone: (61) 98260-4896

E-mail: anaeldourado@gmail.com

O presente artigo foi apresentado na disciplina de Produção de Artigo, no sétimo

semestre do curso de Psicologia do UniCEUB, em junho de 2019


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Título em Português: Efeitos de Perguntas Abertas e Fechadas na

Correspondência Verbal.

Título em Inglês: The effects of Open and Closed Questions on Verbal

Correspondance.

Título resumido em Português: Efeitos da Correspondência Verbal.

Título resumido em Inglês: Verbal Correspondance Effects.


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Resumo

O presente estudo foi realizado com indivíduos de ambos os sexos com idades

entre 18 e 30 anos e teve como objetivo analisar a influência de perguntas abertas e

fechadas sobre a correspondência verbal. O experimento contou com duas fases: a

primeira sendo um jogo no Microsoft Power Point contendo perguntas de múltipla

escolha sobre ética e moral em que o participante deveria escolher uma entre quatro

opções, e a segunda fase em que o participante deveria responder às perguntas abertas e

fechadas sobre o jogo feito anteriormente. Um exemplo de pergunta fechada seria

“Você contou para a polícia o atropelamento de seu amante?” e um exemplo de

pergunta aberta seria “O que você fez quando a polícia te procurou?”. Foi observado

distorção maior dos participantes em perguntas fechadas, corroborando com a hipótese

de que existe uma maior distorção em perguntas fechadas em relação às perguntas

abertas.

Palavras-chaves: perguntas abertas; perguntas fechadas; correspondência

verbal; comportamento verbal; análise do comportamento; ética e moral.


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Abstract

The present study was carried out with individuals of both sexes between the

ages of 18 and 30 years and had the objective of analyzing the influence of open and

closed questions on verbal correspondence. The experiment consisted of two phases: the

first being a Microsoft Power Point game containing multiple choice questions on ethics

and morals in which the participant should choose one of four options and the second

phase in which the participant should answer the open questions and closed on the game

previously made. An example of a closed question would be "Have you told the police

to run over your lover?" And an example of an open question would be "What did you

do when the police came to you?" It was possible to observe greater distortion of the

participants in closed questions, corroborating with the hypothesis that there is a greater

distortion in closed questions in relation to the open questions.

Keywords: open-ended questions; closed questions; verbal correspondence;

verbal behavior; behavior analysis; ethic and moral.


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A mentira é algo muito comum no dia a dia, e é um assunto de grande interesse

na Psicologia. Para a Análise do Comportamento, mentir, assim como dizer a verdade, é

considerado comportamento verbal (Catania, 1999). Sendo assim, estuda-se sobre o

meio em que a mentira se dá e quais as consequências de sua emissão. Em outras

palavras, a Análise do Comportamento procura entender como atitude de mentir

influencia no meio e de que forma esse comportamento é afetado por variáveis

ambientais.

        Sabe-se que, no senso comum, a mentira é vista como algo socialmente

condenável, pecaminoso ou mesmo uma falta de caráter. O comportamento de mentir é

frequente, porque no passado, ele foi reforçado (Catania, 1999). Para Barton e Barton

(1984), o estudo da filosofia moral consiste em questionar o que é ou não correto, um

sistema de valores que resultam em normas, como o código penal e os dez

mandamentos.

Um comportamento verbal, segundo Barros (2003), é um comportamento

operante mantido por consequências mediadas por um ouvinte treinado pela

comunidade verbal para operar como tal. Dessa forma, o comportamento que se aprende

em sociedade pode ser um fator de influência nas escolhas futuras. Skinner (1974)

discute sobre leis governamentais e religiosas, em que se formularam advertências

acerca de comportamentos considerados maus, e que, consequentemente, se levava a

punições.

        Coelho, Wechsler e Amaral (2002) propõem que a correspondência

verbal possui as seguintes sequências: fazer-dizer, dizer-fazer e dizer-fazer-dizer.

Coelho e cols. (2002) definem a sequência de correspondência fazer-dizer como aquela

em que a pessoa emite um comportamento não verbal e depois relata sobre este. No
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dizer-fazer, o indivíduo relata o comportamento não verbal e depois o faz. Já no dizer-

fazer-dizer, a pessoa emite um comportamento verbal de prometer, depois ela faz o que

prometeu e, por último, relata o que fez. O campo de estudo correspondência verbal

investiga as relações entre o comportamento relatado e o comportamento de relatá-lo

(Simonassi, 2003).

        O tato, segundo Córdova et al (2008), pode ser identificado como um

operante verbal que constitui uma relação funcional em que a forma da resposta é

controlada por um estímulo antecedente não verbal. Segundo Medeiros (2013), um tipo

de distorção do tato pode ocorrer quando não há uma correspondência entre aquilo que

foi dito e feito. A falta de correspondência ocorreria sob o controle do estímulo

consequente, uma vez que ao distorcer, pode-se evitar a exposição a estímulos aversivos

e produzir reforçadores positivos.

Pinto (2007) realizou uma pesquisa que teve como principio investigar a

correspondência entre o dizer e o fazer em uma sessão de terapia e verificar se o

comportamento do terapeuta mudaria como efeito da entrevista sobre correspondência.

Participaram desse experimento um terapeuta e sua cliente. O terapeuta gravava

a sessão e passava para a pesquisadora o áudio. A pesquisadora, então, transcrevia o

áudio e separava as partes por meio de três critérios: (1) terapeuta reafirma ou esclarece

a fala do paciente, (2) terapeuta analisa algum comportamento do cliente ou ensina-o a

fazer uma análise e o (3) terapeuta sobrepõe sua fala a fala do cliente.

A pesquisadora trazia o áudio da cliente, durante as entrevistas, relatando

alguma coisa e fazia a seguinte pergunta “o que você fez nesta situação?”, o terapeuta

então respondia e ela apresentava o resto da gravação para confirmar o que era dito por

ele.
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Os resultados encontrados nesse estudo indicaram haver uma maior quantidade

de comportamentos correspondentes do que comportamentos não correspondentes. Nas

quatro entrevistas realizadas, três constataram maior número de correspondência.

Em relação à mudança de comportamento do terapeuta, existiram muitas

variáveis que não foram possíveis de controlar, como o tempo e a demora para cada

categoria se estabilizar. Foi notado que os critérios 1 e 2 que tinham a intenção de

aumentar a frequência do comportamento conseguiram atingir o objetivo, assim como o

critério 3 que teve como finalidade a diminuição da frequência do comportamento. É

mais fácil para o participante poder identificar a contingência, no decorrer da

intervenção da entrevista, quando a categoria é melhor definida funcional e

topograficamente.

       Um estudo sobre correspondência verbal em relação às perguntas abertas e

fechadas foi realizado por Souza, Guimarães, Antunes e Medeiros (2014). Nesse

experimento, foi investigada a correspondência verbal em um jogo de cartas, verificou-

se se o tipo de pergunta influencia na precisão dos relatos dos indivíduos em uma

situação lúdica.

No estudo, foi realizado um jogo de cartas com dois tipos de perguntas: abertas e

fechadas. Foram comparados os tipos de perguntas e os efeitos entre crianças e adultos.

Os participantes formavam duplas para participar do experimento. Segundo as regras do

jogo, ganhava a partida quem descartasse todas as cartas primeiro. Cada carta continha

um valor, um animal e uma cor. O jogo foi realizado em duas fases, uma com adultos e

outra com crianças.

O primeiro jogador relatava o valor da sua carta sem precisar mostrar. Na

condição de pergunta fechada, o segundo participante respondia à questão: "Você ganha


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do seu colega?". Logo após a resposta do segundo jogador, ele jogava um dado. Se o

dado caísse no valor 6, ele deveria mostrar a carta; no entanto, caso caísse em qualquer

outro valor, o jogo seguia normalmente sem ninguém precisar mostrar as cartas, e

ganhava a rodada quem falasse que tinha o maior valor. Na condição de pergunta aberta

o jogador precisava declarar o valor da carta, o animal e a cor. No mais, o jogo seguia

da mesma forma. Pôde-se notar, na condição de pergunta fechada, que as crianças

distorceram os relatos somente quando eram as segundas a relatar na rodada. Entre os

adultos, notou-se uma preponderância na frequência de distorções na condição de

pergunta fechada. Já na condição de pergunta aberta, observou-se que as crianças não

distorceram seus relatos. Em relação aos adultos, houve uma maior distorção quando

estes eram os primeiros a relatar na rodada.

Nesse estudo, os resultados apontaram para maior distorção na condição

pergunta fechada, havendo diferenças entre perguntas abertas e fechadas, fortalecendo a

hipótese de que perguntas fechadas podem evocar mais relatos distorcidos. (Souza e

cols, 2014).

Como na condição de pergunta fechada, bastava dizer sim ou não, o custo da

resposta para distorcer era menor do que na condição de pergunta aberta, já que nesta o

jogador tinha de descrever a sua carta.

Demoly (2016) replicou a pesquisa de Souza e cols (2014), realizando uma

pesquisa em que se investigou o efeito do tipo de pergunta aberta ou fechada sobre a

correspondência verbal em uma situação lúdica. Utilizou do mesmo jogo de cartas, mas

apenas com participantes adultos e, ao invés dos jogadores relatarem suas cartas, eles

descreviam-nas em um quadro branco. Os participantes foram divididos entre os que

passaram por partidas em Perguntas Abertas e, logo em seguida, por Perguntas


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Fechadas (PAPF), e participantes que passaram por Perguntas Fechadas e logo após,

Perguntas Abertas (PFPA).

O jogador que comprasse uma carta igual à carta trunfo, tirada de uma pilha pela

pesquisadora, vencia a rodada. O critério para vencer o jogo era ter menos cartas em sua

pilha. Os jogadores escreviam em quadro branco o valor da sua carta e esse relato podia

ser correspondente ou não ao real valor dela. Na condição de pergunta fechada, a

experimentadora perguntava: “você tem a carta trunfo?” Enquanto na de pergunta

aberta, a pesquisadora perguntava: “qual a cor e o animal da sua carta?”.

Concluiu-se, na pesquisa de Demoly (2016), que para o grupo PFPA, houve o

efeito da variável independente manipulada sobre o comportamento verbal, observando

distorção maior de cartas trunfos em partidas de perguntas fechadas do que em partidas

de perguntas abertas.

Baseada na história de aprendizagem que os participantes tiveram durante o

jogo, levantou-se a hipótese de que participantes PAPF por terem passado primeiro por

partidas de perguntas abertas distorceram em menor proporção em perguntas fechadas.

Antunes e Medeiros (2016), assim como Souza cols. (2014) e Demoly (2016),

realizaram um trabalho que investigou as variáveis interferentes na correspondência de

relatos verbais. A principal variável investigada foi a probabilidade de ganho para os

relatos precisos. Foi esperado que quanto maior a probabilidade de emissão de relatos

distorcidos, menor a probabilidade do relato preciso ser reforçado.

Foi utilizado o mesmo experimento com cartas e, assim como no experimento de

Demoly (2016), os participantes tinham de anotar o valor da carta em um quadro

branco. Cada participante recebia duas pilhas de carta, a pilha 1 e a pilha 2.


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As pilhas 1 de cartas eram embaralhadas e os valores das cartas eram, de forma

sequencial, anotados nos protocolos de registros, para que a experimentadora pudesse

ter acesso aos valores das cartas dos participantes. A pilha 2 era utilizada para que os

participantes pegassem as cartas em caso de relatos distorcidos após checagem. Elas,

portanto, diminuíam a probabilidade de ganho da partida caso compradas.

O experimento contou com cinco condições experimentais: linha de base 1, 2 e 3

(LB 1, LB 2 e LB 3), probabilidade baixa (PB) e probabilidade alta (PA). As linhas de

base foram importantes para comparação das condições experimentais de alta e baixa

probabilidade. A condição PB dizia respeito a pilhas de cartas com menores valores, o

que diminuiria a probabilidade de ganhos nas rodadas, caso o participante emitisse o seu

relato de forma precisa. E PA, que eram, em sua maioria, com cartas de alto valor, o

que aumentaria a probabilidade de ganho de rodadas, e consequentemente, da partida,

caso o participante emitisse sempre seu relato de forma precisa

Como resultado, observou-se que os participantes apresentaram maior número

de relatos distorcidos em partidas com probabilidade baixa do que quando comparado

com as de probabilidade alta. Foi evidenciado que o comportamento verbal dos

participantes pareceu estar sobre efeito da variável independente manipulada.

O artigo demonstrou que não só as consequências aos relatos distorcidos afetam

a correspondência verbal, mas que a probabilidade de reforço para relatos precisos

também pode afetá-la.

O presente estudo é uma pesquisa em Análise Experimental do Comportamento

e o objetivo deste trabalho é analisar o efeito de perguntas abertas e fechadas entre o

dizer e o fazer. Desse modo, avaliar se o tipo de pergunta influencia nas respostas dadas

pelos participantes. Para atingir o objetivo geral, foi realizado um jogo no Microsoft
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Power Point em que se tinha de escolher alguma opção sobre aquilo que lhe foi

perguntado.

Além do mais, questiona-se o fato de perguntas de framing positivo seja um

motivo de distorções nos relatos; já que são questões em que o enquadramento da

pergunta tende a ser da forma que a sociedade, por meio de suas normas e regras, espera

que uma pessoa siga.

As expressões framing positivo e framing negativo foram utilizados para

descrever duas maneiras de apresentar a mesma informação, positiva ou negativamente

(Tversky e Kahneman, 1981).

Logo após, os participantes responderam a um formulário sobre as respostas que

deram no jogo, com perguntas de framing positivo. Depois do experimento, foi

comparado se existiram distorções nas respostas do formulário quando comparadas com

as respostas dadas no Power Point.

Esse estudo é importante visto que os terapeutas realizam investigações clínicas

por meio de perguntas abertas e fechadas, já que não possuem acesso ao comportamento

não-verbal do cliente, apenas o relato verbal. O cliente pode emitir relatos não

correspondentes (Pinto, 2007).

Segundo Silvares e Gongora (2006), perguntas fechadas tendem a limitar as

respostas verbais do cliente às alternativas “sim” ou “não”, enquanto perguntas abertas

tendem a produzir respostas mais longas, o que demanda mais custo para responder.

Dessa forma, a pesquisa pode auxiliar o terapeuta a analisar que tipo de pergunta é mais

provável que ocorra a correspondência verbal.


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Método

Participantes

Participaram da pesquisa, quatro indivíduos adultos de ambos os sexos com

idades entre 18 e 30 anos que possuíam outras formações que não a Psicologia. Os

participantes foram selecionados aleatoriamente por meio de uma conversa no campus

de uma faculdade particular em Brasília. A participação foi voluntária e teve início o

procedimento quando assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE).

Local

O experimento foi realizado em uma sala de aula de uma faculdade particular em

Brasília, Distrito Federal. A sala possuía 10x8 metros quadrados, sessenta cadeiras

estofadas, ar condicionado, mesa de professor, quadro branco e iluminação artificial

feita por lâmpadas fluorescentes.  

Materiais e Instrumentos

Para realização dessa pesquisa, foram necessários o TCLE (anexo 1) para

assinatura dos participantes, um computador utilizado para responder as perguntas

(anexo 2); jogo montado pelas pesquisadoras no Microsoft Power Point; formulário para

resposta dos participantes (anexo 3) e caneta para a marcação de resposta.

O jogo consistia na aplicação de 30 (trinta) questões, em que cada uma delas

possuía 4 (quatro) alternativas de resposta. O participante ao escolher uma delas era

levado a próxima pergunta. O entrevistado, após responder as 30 (trinta) questões,

recebia um formulário contendo perguntas abertas e fechadas sobre o que ele respondeu

no jogo.
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Procedimentos

O procedimento foi dividido em duas partes: o jogo no Microsoft Power Point e

o preenchimento do formulário após o jogo. A participação era individual, sendo um

jogador por vez. O experimento foi feito em uma sala reservada e, ao adentrar o espaço,

o participante se deparava com o computador ligado no jogo, e recebia a seguinte

instrução lida pela pesquisadora:

“Você agora vai jogar um jogo chamado ‘O que você faria?’. Cada situação

possui quatro itens e você deve escolher uma opção que mais te representa. O jogo

possui 30 perguntas, sinta-se livre para demorar o tempo que quiser. Ao final das

perguntas, levante a mão que você receberá um questionário sobre o jogo, o qual deve

responder perguntas sobre o experimento. Podemos começar?”

Depois que todas as dúvidas foram esclarecidas, teve início o jogo. O jogo

consistia em saber as respostas que o participante daria de acordo com as questões de

ética e moral que lhe eram propostas. Se escolheria uma das duas opções que tinham o

framing positivo, sendo assim, mais aceitas moralmente ou uma das duas de framing

negativo, respostas menos aceitas.

A seguir é apresentada a Figura 1, contendo um exemplo de questão que foi

aplicada durante o experimento.

Inserir Figura 1
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Desse modo, o participante ao clicar em uma das opções de resposta, como

mostra a Figura 1, era levado à próxima pergunta e sua resposta ficava guardada no

computador para futura verificação das pesquisadoras sobre possíveis distorções entre

as respostas do Power Point e as do formulário. O participante não tinha conhecimento

de que suas respostas estavam sendo gravadas no computador.

Depois de responder as 30 perguntas, o participante recebia um formulário que

continha perguntas abertas e fechadas de framing positivo

Pergunta fechada moralmente aceita: “Você contou para a polícia o

atropelamento do seu amante?”

(   ) sim                                                                (  ) não

Pergunta aberta: “O que você fez quando a polícia te procurou?”

________________________________________________________________

______________________________________________________________________

 Neste experimento, compararam-se as escolhas de cada participante para saber

se existiram mudanças ou não nas questões respondidas pelo Microsoft Power Point e as

respondidas no formulário, ou seja, se existia distorções entre elas. Se, ao ser

questionado sobre fazer algo que era moralmente esperado pela sociedade, ele era

inclinado a responder de acordo com o que fez no jogo, ou se mudava de resposta.

Resultados

A Figura 2 mostra a porcentagem de distorções entre as perguntas abertas e as

fechadas. Com base nessa imagem é possível observar que todos os participantes

emitiram distorções em relatos de perguntas fechadas e que apenas um participante não


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distorceu nas respostas de perguntas abertas. Dessa forma, o maior número de

distorções se deu quando a pergunta era fechada.

O participante P4 foi o que mais emitiu distorções. P3 obteve um maior número

de distorções em perguntas fechadas, juntamente com P4. .. O participante P2 não

emitiu distorções quanto às perguntas abertas. Já P1 obteve menos distorções quando

comparado com P3 e P4 em perguntas fechadas; e uma maior distorção em perguntas

abertas quando comparado com P4. Além disso, P1 teve como resultado o mesmo

número de distorções em perguntas aberta que o participante P3.

Inserir Figura 2

Na Figura 3, pode-se observar a porcentagem de distorções de perguntas

fechadas com o framing positivo comparadas com as perguntas abertas. Com o

resultado dos quatros participantes, verificou-se que existiu uma variedade de respostas

entre eles. P2, P3 e P4 distorceram em maior quantidade em perguntas fechadas,

enquanto P1 obteve uma maior adulteração em perguntas abertas.

Inserir Figura 3

Discussão
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A presente pesquisa teve como objetivo investigar a correspondência entre fazer

e dizer, que ocorre quando o indivíduo emite um comportamento verbal e depois relata

sobre este (Coelho et al. 2008). Foram comparadas as respostas às perguntas abertas e

fechadas respondidas na segunda etapa no procedimento, com as respostas do Power

Point dadas na primeira parte do jogo.

Conforme Skinner (1974), os relatos distorcidos ou precisos são considerados

comportamentos verbais e, por isso, sofrem influência do meio. Isso pode evidenciar

que dependendo do meio, os relatos podem ser diferentes.

O presente estudo percebeu, de acordo com os resultados da pesquisa, tanto

proveniente de outros autores como Antunes e Medeiros (2016), como também da

própria pesquisa, de que as consequências aos relatos distorcidos afetam a

correspondência verbal. Também notou que existe a probabilidade de que reforços,

tanto positivos como negativos, afetem as respostas ao que foi perguntado.

Os resultados sugerem que os relatos distorcidos não são decorrentes somente da

possibilidade de punição para relatos correspondentes. Isso pode indicar que as

respostas podem ser influenciadas pelo medo de possível punição diante de uma dada

resposta.

De acordo com os resultados de Souza e cols (2014), as perguntas fechadas

provocaram maiores distorções nos relatos dos participantes, porque produziam apenas

duas possibilidades de respostas: sim ou não, provavelmente porque não havia a

necessidade de se fazer um relato.

Os resultados deste trabalho se assemelham aos resultados achados por Souza e

cols (2014), já que nos dois foram percebidas maiores distorções quando a pergunta era

fechada. O fato de que as crianças não mentiram, de acordo com o citado autor, pode
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indicar que suas respostas sofreram influência de contingências passadas, da mesma

forma que P2 não emitiu distorções nas respostas das perguntas abertas.

Nos estudos de Souza e cols (2014) e Demoly (2016) houve maior distorção dos

participantes em perguntas fechadas. De acordo com o que foi relatado na análise dos

dados, pode-se observar que todos os participantes emitiram distorções e apenas um não

distorceu quando respondeu perguntas abertas.

Três dos participantes, P2 P3 e P4, tiveram uma maior distorção quando

responderam perguntas fechadas cujas respostas só podiam ser “sim” ou “não”, o que

fortalece a hipótese, nesses casos, de que perguntas fechadas podem provocar relatos

distorcidos; como na pesquisa de Souza e cols (2014), em que os adultos distorceram

um maior número de vezes em perguntas fechadas.

O menor índice de distorção diante de perguntas abertas nos casos de P2, P3 e

P4 pode indicar que escrever algo seja algo mais complexo do que apenas marcar uma

das alternativas. No caso, o participante P2 não distorceu em nenhuma pergunta aberta.

No entanto, o caso de P1 foi diferente dos demais. O participante emitiu maior

número de distorções em perguntas abertas. Uma hipótese para esse fato seria de que,

escrever algo que não seja aceito moralmente pela sociedade é mais difícil do que

escrever aquilo que a sociedade espera que se faça.

Desse modo, levanta-se a hipótese feita por Demoly (2016) de que o custo das

respostas influenciou na precisão dos relatos emitidos pelos participantes, o que no caso

dessa pesquisa pode haver uma semelhança, já que a maior parte dos participantes

possuiu um maior índice de distorção em perguntas fechadas.

Conforme o resultado da pesquisa de Pinto (2007), foi observado que ocorreu

maior quantidade de relatos correspondentes do que não correspondentes. De acordo


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com as respostas do participante, pode-se perceber que o seu relato foi mais preciso do

que distorcido.

O estudo de Pinto (2007) não indicou correspondência topográfica, que é

quando o indivíduo apresenta uma resposta de auto-observação precisa para um

determinado comportamento e que estímulos resultantes dessa auto-observação

controlaram o relato. Já nesta pesquisa isso pode ter acontecido, visto que na hora de

responder as perguntas de framing positivo, o participante pode ter sido levado a

respondê-las de uma forma esperada pela sociedade.

Essa pesquisa, por ser desenvolvida em tempo menor, contou com a participação

de poucos voluntários, o que pode acontecer de não existir uma maior segurança dos

resultados apresentados.

Estudos como este podem contribuir para analisar o efeito de perguntas abertas e

fechadas nas respostas dos participantes. Sugere-se que esse experimento seja

sistematicamente aplicado para que se tenha respostas mais precisas em relação à

distorção ou não em perguntas abertas e fechadas. É importante também ter uma maior

amostra da população respondendo a esse experimento, para que se possa ter maior

precisão sobre os resultados.


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Referências

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de cartas com crianças. Acta Comportamentalia: Revista Latina de Análisis del

Comportamiento, 24, 15-28.

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Souza, R. S., Guimarães, S. S., Antunes & R. A. B., Medeiros, C.A. (2014).

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Wechsler, A., & Amaral, V. L. (2009). Correspondência verbal: uma revisão da

literatura. Revista Brasileira De Terapia Comportamental E Cognitiva, 11(2), 189-208.


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Figura 1.

Figura 2.

100%

75%

50% Perguntas Abertas


Perguntas Fechadas

25%

0%
P1 P2 P3 P4
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Figura 3.

100%

75%

50% Pergunta Aberta


Pergunta Fechada

25%

0%
P1 P2 P3 P4
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Títulos de Figuras

Figura 1. Ilustração de uma tela do jogo com uma das situações hipotéticas da

primeira fase do experimento.

Figura 2. Porcentagem de distorções dos participantes em perguntas abertas e

fechadas.

Figura 3. Porcentagem de distorções dos participantes em perguntas abertas e

perguntas fechadas de framing positivo

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