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TRF 3

PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIARIA. INÉPCIA DA


INICIAL E INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 337-A DO CP REJEITADAS. DECADÊNCIA DOS
DÉBITOS TRIBUTÁRIOS. VIA INADEQUADA. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS COMPROVADAS.
DOLO COMPROVADO. PROVA DO "ANIMUS REM SIBI HABENDI". DESNECESSIDADE.
INAPLICABILIDADE DA TESE DE INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. DOSIMETRIA DA
PENA. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

1. No processo penal, a inépcia da denúncia ocorre somente quando a denúncia ou queixa


estiver em desconformidade com o artigo 41 do Código Penal, o que não se verifica no
presente caso. No caso, a conduta do réu foi descrita na denúncia de forma clara e suficiente,
o que permitiu que exercesse, com plenitude, a sua defesa.

2. Quanto à alegada inconstitucionalidade da figura contida no artigo 337-A, do Código Penal,


em razão de prever prisão civil por dívida, trata-se de matéria já pacificada pela jurisprudência
de nossos Tribunais, uníssona em afastar qualquer violação à Lei Maior.

3. No que tange ao reconhecimento da decadência de parte dos tributos que foram objeto dos
lançamentos materializados nos DEBCAD nº 37.180.727-1, DEBCAD nº 37.180.730-1 e DEBCAD
nº 37.180.731-0, as alegações a respeito de vícios no procedimento administrativo não
comportam discussão no âmbito deste processo, em razão da independência entre as
instâncias penal, cível e administrativa.

4. Nos crimes de sonegação de contribuição previdenciária (artigo 337-A do CP), por se tratar
de crime material, o termo inicial do prazo prescricional corresponde ao término do processo
administrativo fiscal, momento em que restará definitivamente constituído o crédito
tributário. No caso, o crédito tributário foi definitivamente constituído em 14.09.2009 (fl. 127),
momento em que deve ser iniciada a contagem da prescrição. A contagem do lapso
prescricional interrompeu-se com o recebimento da denúncia ocorrida em 05.02.2013 (fl. 146
vº) tendo sido publicada a sentença em 12.05.2014 (fl. 401). Não transcorreu lapso superior a
oito anos entre a consumação do crime e o recebimento da denúncia, nem entre esta e a
publicação da sentença, nem entre a publicação da sentença e a data atual.

5. Na hipótese é inaplicável o princípio da insignificância. O débito imputável ao réu é superior


ao valor determinado pela Lei nº 10.522/2002 e modificado pela Portaria nº 75, de
22/03/2012, para o não ajuizamento da execução fiscal, porquanto alcança o montante de R$
263.519,05 (duzentos e sessenta e três mil, quinhentos e dezenove reais e cinco centavos).

6. Preliminares rejeitadas.

7. Materialidade e autoria do crime de sonegação previdenciária demonstradas.

8. A materialidade delitiva dos fatos previstos no artigo 337-A, inciso III, do Código Penal está
comprovada pelos documentos que acompanham estes autos, quais sejam: Representação
Fiscal para fins penais nº 19515.004909/2009-10 (fls. 112/115 - Apenso I) e respectivos
Relatórios Fiscais (fls. 31/34; 112/120; 142/150; 164/173 e 187/198 do Apenso I); DEBCAD nº
37.180.727-1 (PAF nº 19515.003039/2009-53, fls. 91/116 do Apenso I), contribuições omitidas
referentes à cota patronal e SAT; DEBCAD nº 37.180.730-1 (PAF nº 1915.003036/2009-10, fls.
151/169), contribuições omitidas, descortinadas a partir da confrontação dos valores
declarados nas RAIS (03, 07,08 e 10 de 2004) e na DIRF (10/2004) e os descritos nas folhas de
pagamento de alguns segurados; DEBCAD nº 37.180.731-0 (PAF nº 19515.003035/2009-75, fls.
171/193), contribuições omitidas, descortinadas a partir da confrontação dos valores
declarados nas RAIS (03,07, 08 e 10 de 2004) e na DIRF (10/2004) e os descritos nas folhas de
pagamentos de alguns segurados; comprovantes de inscrição de débitos tributários da
empresa Otero Ferramentas Ltda. em dívida ativa (fls. 31/32); ofício nº 3502/2011, expedido
pela Procuradoria Regional da Fazenda Nacional da 3ª Região (fls. 46/57), informando a
ausência de pedido de parcelamento ativo ou pagamento integral relativo aos autos de
infração.

9. A autoria é certa. No decorrer da instrução, restou evidente que o acusado tinha total
domínio das decisões sobre a omissão de valores na base de cálculo, ocorrida no desempenho
da administração da empresa, restando, assim, comprovada a autoria delitiva.

10. A documentação encartada nos autos demonstrou de forma consistente as circunstâncias


da fiscalização que culminaram na constatação de que o acusado omitiu valores de
remunerações pagas aos trabalhadores, deixando de recolher as contribuições sobre elas
calculadas e devidas.

11. Incabível ao delito de sonegação previdenciária a aplicação da excludente de culpabilidade


consistente na inexigibilidade de conduta diversa, já que o delito ora tratado cuida da
administração tributária das empresas, e do correto lançamento de sua contabilidade, não
havendo, assim, como entender-se que eventual dificuldade financeira possa justificar a
errônea anotação contábil da empresa, com o fim de prejudicar a fiscalização tributária.
Precedentes.

12. O dolo também se encontra presente. O crime de sonegação fiscal, tipificado no artigo 337-
A, do CP, exige supressão ou redução de contribuições sociais previdenciárias, ou seus
acessórios, pela conduta de omitir informações das autoridades fazendárias, como é
exatamente o caso dos autos. É irrelevante perquirir sobre a comprovação do elemento
subjetivo (dolo), porquanto o tipo penal de sonegação de contribuição previdenciária é de
natureza formal, e exige apenas o dolo genérico consistente na conduta omissiva de suprimir
ou reduzir contribuição social previdenciária ou qualquer acessório. Precedentes.

13. Dosimetria da pena. Na primeira fase da dosimetria, a pena base deve ser mantida.

14. Na segunda fase da fixação da pena, não há atenuantes ou agravantes a serem


consideradas.

15. Na terceira fase, deve ser mantida a causa de aumento de pena decorrente da
continuidade delitiva (artigo 71 do Código Penal), na fração de 1/6 (um sexto), sob pena de
reformatio in pejus.

16. No caso, em que pese existência de maus antecedentes do apelante em crime da mesma
natureza, com esteio no disposto no artigo 59 do Código Penal, levando em consideração a
culpabilidade, a conduta social e a personalidade do condenado, além dos motivos que o
levaram ao delito, é socialmente recomendável substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos, tendo em conta a maior possibilidade de reeducação do condenado.

17. Convertida a pena privativa de liberdade por duas penas restritivas de direitos,
consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária no valor de 05
(cinco) salários mínimos, em conformidade com as informações extraídas das declarações do
Imposto de Renda do apelante juntadas aos autos (Apenso II).

18. Pena de multa fixada de acordo com o sistema trifásico de fixação da pena, mantida em 12
(doze) dias-multa.

19. Pena definitiva mantida em 02 (dois) anos e 08 (oito) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e
12 (doze) dias-multa.

20. Preliminares rejeitadas.

21. Apelação criminal a que se dá parcial provimento.

(TRF 3ª Região, QUINTA TURMA, Ap. - APELAÇÃO CRIMINAL - 61538 - 0000878-


30.2013.4.03.6181, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO FONTES, julgado em 28/06/2017,
e-DJF3 Judicial 1 DATA:05/07/2017 )

PENAL. PROCESSO PENAL. CRIMES DOS ARTS. 334, § 1º, IV, E 334-A, § 1º, I, II E V, AMBOS DO
CÓDIGO PENAL. DESCAMINHO. CONTRABANDO. CIGARROS. MATERIALIDADE E AUTORIA
COMPROVADAS. DOSIMETRIA. EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE PELOS MAUS ANTECEDENTES.
ADMISSIBILIDADE. REGIME INICIAL ABERTO DE CUMPRIMENTO DE PENA. APELAÇÃO DA
ACUSAÇÃO PROVIDA.

1. Autoria e materialidade delitiva demonstradas.

2. Demonstradas a materialidade e a autoria delitiva em relação a ambos os crimes, das quais


as partes não se insurgiram, a condenação é mantida.

3. A sentença condenatória com trânsito em julgado pode servir como mau antecedente na
hipótese de restar destituída de eficácia para ensejar a reincidência em virtude de ter
decorrido o prazo de cinco anos previsto no art. 64, I, do Código Penal (STF, Habeas Corpus n.
98803, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 18.08.09 e STJ, Habeas Corpus n. 133858, Rel. Min. Félix
Fischer, j. 19.08.09).

4. Considerando a quantidade de pena aplicada, mantenho o regime inicial aberto de


cumprimento de pena, com fundamento no art. 33, § 2º, c, do Código Penal, e a substituição
das penas privativas de liberdade por restritivas de direitos, conforme fixadas na sentença.

5. Apelação da acusação provida.

(TRF 3ª Região, QUINTA TURMA, ApCrim - APELAÇÃO CRIMINAL - 78908 - 0006355-


53.2017.4.03.6000, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ NEKATSCHALOW, julgado em
24/06/2019, e-DJF3 Judicial 1 DATA:28/06/2019)

PENAL. PROCESSO PENAL. FURTO QUALIFICADO (CP, ART. 155, § 4º, I, II, E IV). AUTORIA E
MATERIALIDADE COMPROVADAS. QUALIFICADORAS RELATIVAS AO CONCURSO DE AGENTES E
ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO DEMONSTRADAS. EXCLUSÃO DA QUALIFICADORA DA
ESCALADA POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. DOSIMETRIA. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS. CULPABILIDADE (RÉU ADRIANO), MAUS ANTECEDENTES (RÉU LUIZ),
CONSEQUÊNCIAS E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. EXCLUSÃO DA CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL
FAVORÁVEL RELATIVA AO COMPORTAMENTO DA VÍTIMA. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES.
CONFISSÃO E MENORIDADE RELATIVA. NÃO INCIDÊNCIA DAS AGRAVANTES PREVISTAS NOS
ARTS. 61, II, "G", E 62, IV, DO CÓDIGO PENAL. EMENDATIO LIBELLI PARA INCLUSÃO E
RECONHECIMENTO DA MAJORANTE DE PENA PELO REPOUSO NOTURNO (CP, ART. 155, § 1º).
VALOR UNITÁRIO DO DIA-MULTA, REGIME INICIAL E POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS MANTIDOS
CONSOANTE A SENTENÇA. APELAÇÃO DA ACUSAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. APELAÇÕES
DOS RÉUS PARCIALMENTE PROVIDAS.

1. A denúncia narra que no dia 21.03.10, durante a madrugada, os denunciados Luiz Antonio e
Armando ingressaram em estabelecimento comercial em Matão (SP), mediante escalada até o
telhado e rompimento da cobertura de zinco e do forro de placas de gesso, e de lá subtraíram
dinheiro, cheques pré-datados de clientes e ingressos para um show artístico, o que lograram
realizar com o auxílio do denunciado Adriano, que era funcionário do supermercado e
repassara as informações necessárias ao cometimento do delito.

2. Analisados os autos, é satisfatória a prova de materialidade e de autoria delitiva para os três


acusados, sendo fidedigna a confissão extrajudicial de Adriano, a qual restou amparada pela
prova pericial do local dos fatos e do aparelho celular do acusado.

3. No tocante às três qualificadoras descritas na denúncia (escalada, rompimento de obstáculo


e concurso de pessoas), apenas duas restaram suficientemente demonstradas.

4. O concurso de agentes (CP, art. 155, § 4º, IV) foi comprovado haja vista a constatação de
que a ação delitiva foi consumada por três pessoas.

5. O rompimento de obstáculo (CP, art. 155, § 4º, I) restou demonstrado pelas fotografias do
relatório de ocorrência elaborado pela CEF e pelo laudo de exame pericial.

6. Quanto à qualificadora relativa à escalada (CP, art. 155, § 4º, II), à luz do disposto no art. 158
do Código de Processo Penal, não há no laudo de exame pericial detalhes suficientes acerca
das características exteriores do estabelecimento para verificar como e se de fato houve por
parte dos acusados emprego de esforço extraordinário consistente em escalada para o
ingresso no imóvel.

7. A denúncia narra que a subtração foi consumada "durante a madrugada", de forma que,
dado que os acusados defendem-se dos fatos que lhe foram imputados, cabe proceder
conforme o disposto no art. 383, caput, do Código de Processo Penal, e ajustar a classificação
jurídica para incluir a causa de aumento prevista no art. 155, § 1º, do Código Penal.

8. Consoante o depoimento judicial do proprietário do estabelecimento, o furto mediante


rompimento de obstáculo foi consumado durante a madrugada, período em que geralmente
há redução da vigilância, circunstância que implica maior vulnerabilidade e facilidade para o
cometimento do delito.

9. Dosimetria. Observado o disposto no art. 59 do Código Penal, impõe-se excluir a


circunstância judicial favorável relativa ao comportamento da vítima, que não facilitou ou
incentivou a prática criminosa. Em contrapartida, cabe reconhecer que são desfavoráveis as
circunstâncias do delito (rompimento de obstáculo que ensejou danos físicos ao imóvel) e a
culpabilidade do réu Adriano, que era funcionário do supermercado e gozava da confiança do
dono do estabelecimento, condição que implicava exigência maior de comportamento diverso
do réu. Mantida a valoração negativa das consequências do crime consoante a sentença.

10. A quebra do dever profissional por parte do réu Adriano já foi circunstância valorada de
forma negativa na primeira fase do cálculo, inviável o bis in idem para fundamentar a
incidência da agravante de pena do art. 61, II, g, do Código Penal.

11. No tocante à agravante da paga ou promessa de recompensa (CP, art. 62, IV), não restou
configurada haja vista que a entrega do dinheiro ao corréu constituiu mero exaurimento do
delito, resultado da divisão da própria res furtiva.

12. Restaram mantidas as atenuantes de pena pela confissão e pela menoridade relativa dos
réus Adriano e Luiz Antonio.

13. Incidência da causa de aumento relativa ao repouso noturno (CP, art. 155, § 1º).

14. Parcial provimento da apelação do Ministério Público Federal.

15. Parcial provimento das apelações dos réus Adriano, Luiz Antonio e Armando.

(TRF 3ª Região, QUINTA TURMA, ApCrim - APELAÇÃO CRIMINAL - 78179 - 0005010-


90.2011.4.03.6120, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ NEKATSCHALOW, julgado em
24/06/2019, e-DJF3 Judicial 1 DATA:28/06/2019)

PENAL. CRIME DE MOEDA FALSA. ART. 289, § 1º, DO CÓDIGO PENAL. PROVA TESTEMUNHAL.
DEPOIMENTOS PRESTADOS NA FASE INQUISITORIAL. RATIFICAÇÃO JUDICIAL. POSSIBILIDADE.
NULIDADE NÃO CONFIGURADA. INOCORRÊNCIA DE CRIME IMPOSSÍVEL. INAPLICABILIDADE DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. MATERIALIDADE, AUTORIA DELITIVAS E DOLO
DEMONSTRADOS. DOSIMETRIA DA PENA. PARCIALMENTE ALTERADA. APELAÇÃO DA DEFESA
PARCIALMENTE PROVIDA. APELAÇÃO DA ACUSAÇÃO PROVIDA.

1. Os depoimentos das testemunhas de acusação foram acompanhados por defensor ad hoc,


que teve oportunidade de fazer perguntas e inclusive de alegar alguma nulidade processual,
respeitando-se, assim, a ampla defesa e o contraditório, em observância ao devido processo
legal. Como salientado pelo Ministério Público Federal em sede de contrarrazões, não há
qualquer nulidade pelo fato de as testemunhas se limitarem a ratificar os depoimentos
prestados na fase policial. Oportunizada à defesa a realização de reperguntas às testemunhas.
Observância dos princípios do contraditório, ampla defesa e devido processo legal. Nulidade
não arguida em alegações finais. Prejuízo não demonstrado. Precedentes. Preliminar arguida
pela defesa rejeitada.

2. Inocorrência de crime impossível. Falsificação não grosseira. O fato de a vítima ter percebido
a falsidade das notas, não leva a conclusão de ser grosseira sua falsificação, não afastando, por
si só, a sua potencialidade de atingir o bem jurídico protegido. Precedente.

3. Inaplicabilidade do princípio da insignificância aos delitos relativos à moeda falsa, pois o


bem jurídico que o legislador intencionou proteger ao tipificar as condutas descritas no artigo
289 e seus parágrafos do Código Penal foi a fé pública. Nesse contexto, o valor das cédulas
falsas ou a quantidade apreendida não servem como critério para aferir a potencialidade da
lesão causada à fé pública e não excluem a tipicidade da conduta.
4. Materialidade, autoria delitivas e dolo comprovados nos termos da sentença.

5. Dosimetria da pena parcialmente alterada. O Código Penal não estabelece patamares para
as circunstâncias judiciais previstas em seu artigo 59, de modo que, a princípio, mostra-se
possível o aumento da pena-base até o seu limite máximo em razão de uma única
circunstância considerada desfavorável. O patamar de 1/6 (um sexto) para majoração da
pena base em razão dos maus antecedentes do agente mostra-se adequado para a
reprimenda do delito.

6. Recálculo da pena de multa seguindo os mesmos parâmetros utilizados na dosimetria da


pena privativa de liberdade.

7. A substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos da mesma


natureza corresponde à aplicação de apenas uma pena em duplicidade, o que desatende o
disposto no Código Penal. Pena privativa de liberdade substituída por prestação pecuniária e
prestação de serviços à comunidade ou entidade pública a ser definida pelo juízo da
execução.

8. A pena pecuniária substitutiva da pena privativa de liberdade deve ser fixada de maneira a
garantir a proporcionalidade entre a reprimenda substituída e as condições econômicas do
condenado (ajudante de pedreiro), além do dano a ser reparado.

9. Apelação da acusação provida. Apelação da defesa parcialmente provida.

(TRF 3ª Região, DÉCIMA PRIMEIRA TURMA, ApCrim - APELAÇÃO CRIMINAL - 74974 - 0011894-
88.2008.4.03.6105, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL FAUSTO DE SANCTIS, julgado em
21/05/2019, e-DJF3 Judicial 1 DATA:25/06/2019)

PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. DESCAMINHO. CONCURSO DE AGENTES.


INSIGNIFICÂNCIA. VALOR PER CAPITA. INADMISSIBILIDADE. AUTORIA E MATERIALIDADE.
COMPROVAÇÃO. CONDENAÇÃO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA. INABILITAÇÃO PARA DIRIGIR
VEÍCULO. APENAS NÃO APLICADA AO CORRÉU CARONA. RECURSO DA ACUSAÇÃO PROVIDO.

1- Na hipótese de concurso de agentes, a responsabilidade penal é regida pelo art. 29 do


Código Penal, segundo o qual quem, de qualquer modo, concorre para o crime, incide nas
penas a ele cominadas na medida de sua culpabilidade. Da aplicação do referido dispositivo
legal decorre a conclusão de que, na hipótese dos autos, a determinação da responsabilidade
penal de cada corréu não se resume a um mero cálculo aritmético de divisão do valor per
capita do objeto material do crime. Descabido simplesmente dividir o valor das mercadorias ou
do tributo incidente para render ensejo à aplicação do princípio da insignificância no delito de
descaminho. Precedentes do STJ e desta Quinta Turma.

2 - Incide o princípio da insignificância ao delito de descaminho quando o valor do débito


tributário não exceder a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/02,
com as alterações introduzidas pelas Portarias 75 e 130 do Ministério da Fazenda, o que não é
o caso. Os tributos federais não recolhidos somam R$25.198,89 (vinte e cinco mil, cento e
noventa e oito reais e oitenta e nove centavos).

3- A materialidade e a autoria delitivas encontram-se devidamente comprovada através dos


Autos de Infração e Guarda Fiscal, bem como pelos depoimentos prestados pela testemunha e
pelos réus, tanto na esfera policial quanto perante a autoridade judicial.
4. É responsável não somente aquele que faz a importação pessoalmente, no exercício de
atividade comercial ou industrial, mas também quem colabora para esse fim,
conscientemente, introduzindo ou transportando no país as mercadorias e deve responder
com fundamento no artigo 29 do Código Penal.

5. Pena-base acima do mínimo legal, em razão de maus antecedentes

6. Presente a agravante consistente na promessa de recebimento de vantagem econômica (CP,


art. 62, IV). Precedentes do STJ.

7. Reconhecida a incidência da circunstância atenuante da confissão espontânea (CP, art. 65,


III, d), tendo em vista que o acusado admitiu que transportava mercadoria desprovida de
regular documentação de importação. Todavia, compensada a atenuante da confissão com a
agravante da execução do crime mediante paga ou recompensa.

8. Na terceira fase, verifico que não há causas de aumento ou de diminuição de pena a serem
consideradas.

9. O regime inicial de cumprimento de pena é o aberto, nos termos do art. 33, §2º, c do
Código Penal.

10. Presentes os requisitos do art. 44, do Código Penal, a pena privativa de liberdade
substituída por restritiva de direitos.

11. Aplicada a inabilitação para dirigir veículo automotor, nos termos do art. 92, inc. III, do
Código penal, pelo prazo da pena imposta, pois os réus serviram-se de dois veículos para o
transporte das mercadorias apreendidas. No entanto, não deve ser aplicado tal efeito da
condenação em relação ao réu que era somente carona do veículo GM/Vectra, de propriedade
e conduzido por outro corréu.

12. Recurso da acusação provido.

(TRF 3ª Região, QUINTA TURMA, ApCrim - APELAÇÃO CRIMINAL - 77834 - 0002601-


32.2015.4.03.6111, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO FONTES, julgado em 10/06/2019,
e-DJF3 Judicial 1 DATA:19/06/2019)

APELAÇÃO CRIMINAL. DIREITO PENAL. PROCESSO PENAL. DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. HABITUALIDADE. DOSIMETRIA.

1. Ainda que o valor dos tributos não recolhidos (R$ 19.359,85) seja inferior ao patamar de R$
20.000,00 (vinte mil reais) aceito pela jurisprudência dos tribunais superiores, não cabe a
aplicação do princípio da insignificância quando verificado que o agente pratica o delito com
habitualidade, fazendo dele meio de vida.

2. A habitualidade delitiva foi assentada de forma contundente através dos documentos


acostados às fls. 39 e 40 e 58/65 dos autos em apenso que atestam o histórico de
envolvimento do acusado em casos de mesma natureza.

3. A materialidade restou comprovada nos autos através da "Representação Fiscal Para Fins
Penais" e Auto de Infração e Termo de Apreensão e Guarda Fiscal de Mercadorias, que
comprova a procedência estrangeira das mercadorias apreendidas, as quais não
acompanhavam documentação comprobatória da regular importação.
4. A autoria restou comprovada pelo conjunto probatório.

5. A prova acusatória é subsistente e hábil à condenação do réu pelo cometimento do crime


descrito no artigo 3334, "caput", do Código Penal.

6. Dosimetria. A culpabilidade do réu, os motivos, as circunstâncias e as consequências do


crime não extrapolam o comum em crimes dessa natureza. Não há nos autos elementos
disponíveis para que se avalie a conduta social do réu, bem como a sua personalidade. Não
há que se falar em comportamento da vítima. Todavia, o réu registra condenação com
trânsito em julgado, em data anterior ao cometimento do delito, ostentando, portanto,
maus antecedentes.

7. Pena-base majorada na fração de 1/6 (um sexto), fixando-a em 1 (um) ano e 2 (dois)
meses de reclusão. Não há causas de aumento ou de diminuição da pena, pelo que a torno
definitiva em 1 (um) ano e 2 (dois) meses de reclusão, em regime inicial aberto, substituindo,
nos termos do art. 44, do Código Penal, a pena privativa de liberdade por duas restritivas de
direitos consistentes em pena de prestação de serviços comunitários, com a duração da pena
corporal, a ser realizada a critério do juízo da execução penal e pena pecuniária de 1 (um)
salário mínimo a entidade social a ser designada pelo juízo da execução.

8. Apelação do Ministério Público Federal a que se dá provimento para condenar o réu como
incurso nas sanções do artigo art. 334, caput, do Código Penal, à pena de 01 (um) ano e 02
(dois) meses de reclusão, em regime inicial aberto, reprimenda corporal substituída por duas
penas restritivas de direitos, reformando integralmente a r. sentença de primeiro grau.

(TRF 3ª Região, QUINTA TURMA, ApCrim - APELAÇÃO CRIMINAL - 78260 - 0005278-


38.2015.4.03.6110, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO FONTES, julgado em 10/06/2019,
e-DJF3 Judicial 1 DATA:17/06/2019)

Outros Tribunais
1.

APELAÇÃO CRIMINAL. PORTE ILEGAL DE MUNIÇÕES. ARTIGO 14, , DA LEI 10.826/2003.


CONDENAÇÃO. INSURGÊNCIA CAPUT DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DA DEFESA. RECURSO DA
PLEITO DE CONCESSÃO DA GRATUIDADE DA DEFESA. JUSTIÇA. NÃO CONHECIMENTO.
MATÉRIA AFETA AO JUÍZO DA EXECUÇÃO. PEDIDO DE DIMINUIÇÃO DA PENA AO MÍNIMO
LEGAL. POSSIBILIDADE. PENA-BASE CALCULADA EQUIVOCADAMENTE. RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE CONHECIDA, PROVIDO. RECURSO MINISTERIAL.
PLEITO DE AFASTAMENTO DA SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR RESTRITIVAS DE
DIREITOS. CABIMENTO. RÉU QUE OSTENTA MAUS ANTECEDENTES. MEDIDA QUE NÃO É
SOCIALMENTE RECOMENDÁVEL. INCIDÊNCIA DO ARTIGO 44, III, DO CÓDIGO PENAL. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. AFASTAMENTO DE CONDIÇÃO ALTERAÇÃO DE OFÍCIO ESPECIAL AO
REGIME INICIAL ABERTO. (TJPR - 2ª C.Criminal - 0009837-07.2009.8.16.0014 - Londrina - Rel.:
Desembargador Laertes Ferreira Gomes - J. 13.06.2019)

2.

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE DISPARO DE ARMA DE FOGO (ART. 15 DA LEI 10.826/03) E


DE PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO (ART. 14 DA LEI Nº 10.826/2003).
RECURSO DO RÉU MARCOS ANTÔNIO BENEDITO. PUGNADA A REFORMA DA DOSIMETRIA DA
PENA. RECURSO INTEMPESTIVO, INTERPOSTO 01 (UM) DIA APÓS O PRAZO PREVISTO NO
ARTIGO 593, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. DE OFÍCIO, EXTIRPADA A
REINCIDÊNCIA, ANTE A SUA INOCORRÊNCIA, READEQUANDO-SE A DOSIMETRIA DA PENA,
COM Apelação Crime nº 0001893-55.2014.8.16.0053 ALTERAÇÃO DO REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DA PENA E SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR RESTRITIVAS DE
DIREITOS. RECURSO NÃO CONHECIDO, COM READEQUAÇÃO, DE OFÍCIO, DA DOSIMETRIA DA
PENA, ALTERANDO-SE O REGIME E OPERANDO A SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR
RESTRITIVAS DE DIREITOS. RECURSO DO RÉU THIAGO ANTÔNIO BRAZ EMBOABA.
DOSIMETRIA DA PENA. PLEITO DE REDUÇÃO DA PENA-BASE, SOB A ARGUIÇÃO DE
DESPROPORCIONALIDADE DO “QUANTUM” AUMENTADO EM RAZÃO DE CIRCUNSTÂNCIA
JUDICIAL NEGATIVA. INACOLHIMENTO. EXASPERAÇÃO EM RAZÃO DE MAUS ANTECEDENTES
E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. DISCRICIONARIEDADE DO JUÍZO SENTENCIANTE. AUMENTO
DE 1/6 PARA CADA CIRCUNSTÂNCIA DESFAVORÁVEL PROPORCIONAL E ADEQUADO. ANTE A
INEXISTÊNCIA DE REINCIDÊNCIA, ALTERA-SE, DE OFÍCIO, O REGIME INICIAL PARA O ABERTO E
SUBSTITUI-SE A PENA CORPORAL POR RESTRITIVAS DE Apelação Crime nº 0001893-
55.2014.8.16.0053 DIREITOS. RECURSO DESPROVIDO, ALTERANDO-SE, DE OFÍCIO, O REGIME E
OPERANDO A SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR RESTRITIVAS DE DIREITOS.

1. “A ponderação das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal não é uma operação
aritmética, em que se dá pesos absolutos a cada uma delas, a serem extraídas de cálculo
matemático levando-se em conta as penas máxima e mínima cominadas ao delito cometido
pelo agente, mas sim um exercício de discricionariedade vinculada”. (AgRg no HC 355.362/MG,
Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 28/06/2016, DJe 01/08/2016)

2. A reincidência somente se verifica quando o agente comete novo crime após o transito em
julgado de sentença condenatória. No caso, o delito aqui discutido foi cometido antes do
trânsito em julgado, não configurando, portanto, a reincidência nos termos do art. 63 do
Código Penal. Apelação Crime nº 0001893-55.2014.8.16.0053

3. O regime aberto é destinado aos réus não reincidentes apenados com reprimenda inferior a
quatro anos.I. (TJPR - 2ª C.Criminal - 0001893-55.2014.8.16.0053 - Bela Vista do Paraíso - Rel.:
Desembargador José Maurício Pinto de Almeida - J. 13.05.2019)

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