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AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO

1) HABEAS CORPUS

O Habeas Corpus pode ser visto como um (i) Remédio constitucional para aquele ameaçado de
sofrer alguma restrição a sua liberdade de locomoção; (ii) como um direito fundamental; (iii) como
uma ação autônoma de impugnação.

Ele pode ser interposto tanto ANTES quanto DEPOIS do transito em julgado. Ainda, ele pode ser
concedido DE OFÍCIO pelos juízes e tribunais - contrário a ideia comum de ação, que necessitaria
sempre de uma provocação.

Trata-se de uma ação de origem inglesa, um "writ", uma ordem real capaz de intervir diretamente
no processo. Existia aquele "ad respondendum", utilizado para localizar o sujeito do local aonde
estava para ser processado ; "ad testificandum", ordem para que o sujeito fosse deslocado a fim
de prestar seu depoimento; "ad XXX", ordem quando não se tinha certeza aonde o sujeito se
encontrava, ou se estava vivo, para que ele, assim, se apresentasse; "ad satisfaciendo", utilizado
para que o indivíduo fosse deslocado e pudesse iniciar a execução da pena (que não
necessariamente era de prisão). Tratavam se ordens breves com o objetivo de apresentar a
pessoa para o processo criminal. Somente mais tarde é que ele era utilizado somente para que a
pessoa fosse apresentada ao juízo, e por fim, para afastar qualquer violação a sua liberdade de
locomoção, também as AMEAÇAS a essa liberdade. Na jurisdição inglesa, aos poucos, foi se
estabelecendo também, que essa ação caberia somente para questões CRIMINAIS.

No Brasil, a primeira constituição não previu esse remédio, contudo, muitos intérpretes afirmavam
que ele estaria IMPLÍCITO, uma vez que a ela protegia a liberdade. A primeira previsão foi em
1930, no Código Criminal, que previa uma pena para aquele que não cumprisse a ordem de
habeas corpus. Sua primeiras delimitações se encontravam no Código de Processo Criminal de
1932, sendo que não podia ser utilizado por estrangeiros, bem como só poderia ter o caráter
LIBERATÓRIO, não protegendo contra ameaças. Somente em 1871 é que se tem a previsão do
habeas corpus PREVENTIVO, utilizado para afastar qualquer ameaça à liberdade. A Constituição
de 1891, então, fez a previsão dessa ação, mas se tratava de uma previsão GENÉRICA, utilizado
para afastar QUALQUER ameaça de constrangimento ou constrangimento efetivo da LIBERDADE
- não necessariamente somente para locomoção - assim, (i) há quem acreditava que ele poderia
ser utilizado para afastar ameaças a qualquer liberdade, (ii) enquanto outros que a ameaça
deveria ser contra a liberdade de locomoção; ou ainda, (iii)para proteger qualquer direito que
estaria a ser cerceado pela liberdade de locomoção (ex: garantir a liberdade de culto - se o sujeito
estivesse sendo impedido de entrar no templo).
Em 1926, com a reforma constitucional, ficou claro que ele se destinava somente a proteger a
LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO. Na CF 1934, ele foi previsto novamente de forma GENÉRICA,
contudo, também se fez previsão para o MANDATO DE SEGURANÇA. A CF 1937 vai retirar o
status constitucional do habeas corpus, mas ele continuava presente infraconstitucionalmente.
Nas Constituições posteriores o Habeas Corpus estava previsto (em todas), mas se teve sua
suspensão com o AI5, nos casos de Crimes políticos, contra a ordem econômica, no geral, para
aqueles crimes que ameaçavam o regime militar.
Na CF 1988 ele volta novamente a figurar, sendo utilizado amplamente nos dias atuais. Sua
previsão é tanto de caráter PREVENTIVO quanto LIBERATÓRIO. Na esfera criminal, esse caráter
preventivo é bastante utilizado, sendo a ordem concedida, uma "ordem de salvo conduto" - é
utilizado, principalmente, para o TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL ou da AÇÃO
PENAL. Ou seja, quando a instauração do inquérito por si só é absurda, é possível um HC para
trancamento desse inquérito; ou ainda, quando o processo por si só é absurdo, é possível também
trancá-lo.
No geral, o HC preventivo pode vir a ter várias utilidades - quando não se tem como recorrer no
processo, ou quando o recurso demorar muito, etc. Ex: é possível utilizar o HC para arguir
NULIDADE de um processo. Uma vez que o HC é utilizado para impugnar alguma decisão de juiz
de primeiro grau, ele torna a câmara do TJ PREVENTA, de forma que pode vir a ser difícil reverter
uma possível opinião contrária na fase de recurso (aquela câmara que já não concedeu o HC,
pode não ver com bons olhos também o recurso) - isso faz com que seja necessário se pensar
antes de entrar com o HC.

Para que ele possa ser impetrado, necessário que preencha as CONDIÇÕES DA AÇÃO,
específicas do HC.
(a) Possibilidade Jurídica do Pedido: deve existir AMEAÇA ou REAL constrangimento a liberdade
de LOCOMOÇÃO. Não pode ser utilizado para impugnar ato de PRISÃO ADMINISTRATIVA na
esfera militar, segundo a lei (isso já tem sido relativizado - não se pode entrar muito no mérito,
mas poderia se abarcar questões procedimentais) - essa prisão, como infração disciplinar, é
utilizada para fugir de um processo penal militar, com direito de defesa e contraditório, caso se
enquadrasse aquele fato como crime.
(b) Interesse de agir: marcado pela NECESSIDADE da medida - deve existir uma ameaça ou real
constrangimento por ILEGALIDADE ou ABUSO DE PODER. Assim, não seria possível, por
exemplo, utilizá-lo para anular processo penal nulo, quando o sujeito já cumpriu a pena. O HC
deve ser a medida adequada para garantir a liberdade de locomoção (se essa liberdade não está
mais ameaçada ou restringida, não há adequação dessa ação).
O interesse de agir se dá pela JUSTA CAUSA em sentido amplo: (i) na ameaça ou sofrendo
cerceamento de liberdade por ato de autoridade INCOMPETENTE; (ii) preso além do PRAZO
específico em lei; (iii) se a pessoa tem direito à LIBERDADE PROVISÓRIA, mas esta não foi
concedida.
(c) Legitimidade:
ATIVA: figura do IMPETRANTE e do PACIENTE - o impetrante é aquele que REQUER a ordem
de HC. QUALQUER PESSOA pode ser um impetrante (sem exageros - a pessoa deve ter
capacidade para realizar uma argumentação); NÃO precisa de PROCURAÇÃO (mas
normalmente os tribunais dão mais prioridade àqueles que possuem procuração). Já o paciente é
o BENEFICIÁRIO. O MP também pode impetrar HC, mas só pode assim fazer quando ele fica
ciente do fato coator NO EXERCÍCIO DA SUA FUNÇÃO.
PASSIVA: recai sobre o COATOR, aquele que pratica o ato que acaba cerceando ou ameaça
cercear a liberdade de locomoção. Pode ser tanto uma AUTORIDADE PÚBLICA quanto
PARTICULAR (sendo que casos contra particular quase não se vê).

Também necessário observar os PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS:


(a) Capacidade postulatória: QUALQUER PESSOA possui, não se falando nada sobre limite de
idade, ou mesmo capacidade - não precisaria ter uma formação jurídica.

REQUISITOS DA PETIÇÃO:
- nome e qualificação do impetrante (NÃO pode ser ANÔNIMO);
- qualificação do paciente - não precisa ser completa, basta que seja possível identificá-lo;
- identificação do coator - basta o CARGO da pessoa, não precisando nome, entre outros dados.
- não se tem formato específico, mas deve tentar trazer a especificação do ato que está a
constranger ou ameaça a constranger a liberdade, devendo trazer PROVAS para isso;
- pode vir também com PEDIDO DE LIMINAR - preciso demonstrar "fumus boni iuris" e o
"periculum in mora".
- o ideal é já trazer todas as provas necessárias, com relação ao constrangimento - melhor as
provas pré-produzidas, pois a próxima fase do processo é chamar as informações (tenta-se,
assim, desde já negá-las). Na prática, não se poderia falar sobre provas do mérito do processo,
mas muitas vezes os tribunais adentram no mérito, pré-julgando o caso.

PROCEDIMENTO:
Impetrada a petição inicial, é realizado o PEDIDO DE INFORMAÇÕES para a autoridade coatora,
para depois se ter o julgamento. Da decisão de juiz singular que conceder HC, cabe o RECURSO
DE OFÍCIO (Reexame necessário); já, da decisão do Juiz singular que nega HC, cabe RECURSO
EM SENTIDO ESTRITO. Nos Tribunais Superiores, da decisão que DENEGA, cabe RECURSO
ORDINÁRIO para o STF. Das decisões que DENEGAM HC dos TJs e TRFs cabe RECURSO
ORDINÁRIO para o STJ. Da decisão que CONCEDE o HC nos tribunais, cabe RECURSO
ESPECIAL ou EXTRAORDINÁRIO, caso preencha os requisitos necessários.
Antigamente, era possível entrar com HC ao invés do Recurso Ordinário Constitucional -
atualmente se veda essa prática, visando diminuir a enxurrada de HC, uma vez que são ações
que ganham prioridades nos tribunais.

COMPETÊNCIA: territorialidade e hierarquia - aonde acontece, bem como pela pessoa superior
ao coator (ex: STJ - atos dos TJs e dos TRFs; TJs - atos dos juízes de 1º grau ou a Turma
Recursal do Juizado; TRFs - atos dos juízes federais; Juízes singulares - atos das Autoridades
policiais e dos particulares)

2) REVISÃO CRIMINAL

DISPOSITIVOS: art. 621 e seguintes (Capítulo dos Recursos)

CONCEITO: Ação autônoma de impugnação, inaugurando uma nova relação processual (não há
continuidade com nenhum processo anterior). Ela serve para afastar a DEFINITIVIDADE das
sentenças CONDENATÓRIAS (ou seja, somente favorável ao réu) - ao contrário de alguns outros
países (como a Alemanha, Noruega, Suíça - países com tradição bem menos punitiva e judiciário
bem mais organizado).
Pode ser utilizada, inclusive, nos casos de acusado que já CUMPRIU A PENA ou que já esteja
MORTO, para limpar seu nome - poderá servir também para se buscar futura INDENIZAÇÃO.
Ainda, ela NÃO POSSUI PRAZO.

HISTÓRICO:
Decreto 848/1890 - estabeleceu a revisão criminal, que em um primeiro momento era dirigida
diretamente ao STF.
Constituição 1891 - estabeleceu status constitucional à revisão criminal, mantendo-se presente
nas demais constituições (salvo a de 1937 - contudo havia previsão legal).

REQUISITOS:
(1) Legitimidade ativa: EXCLUSIVAMENTE a Defesa - exceção: sentenças Absolutórias
IMPRÓPRIAS (quando o sujeito é absolvido, mas recebe Medida de Segurança) - são
comparadas com sentenças condenatórias. O MP NÃO está legitimado - por mais que atue como
custos legis (ele pode impetrar HC, mas não entrar com revisão) - trata-se de decisão
jurisprudencial.

(2) Legitimidade Passiva: é do MP, como representante do Estado. Ele deverá fazer um Parecer
sobre o caso.

(3) Interesse de Agir: presença de uma sentença condenatória transitada em julgado, bem como
que se estabeleça uma das hipóteses previstas no art. 621.
Hipóteses:
(i) situação em que a sentença condenatória VIOLA expressamente a LEI PENAL ou é
CONTRÁRIA À EVIDÊNCIA DOS AUTOS - quando se fala "lei penal", tem-se ai um sentido
amplo, abarcando tanto lei material quanto processual. Assim, a sentença pode vir a ter
problemas desde a tipificação do fato, até mesmo a ocorrência de uma nulidade no processo.
Essa hipótese é proposta, normalmente, quando há MODIFICAÇÃO de entendimento
jurisprudencial (ou seja, mudança na interpretação da lei). Já o caso dela ser contrária à evidência
dos autos é mais difícil de comprovas, pois a avaliação das provas é normalmente muito subjetiva.
(ii) sentença condenatória se fundar em DEPOIMENTOS, EXAMES e DOCUMENTOS FALSOS -
nesse caso em específico a falsidade deve estar provada de pronto. Lógico que o melhor seria
que o tribunal propiciasse a formação dessa prova em sede da ação, uma vez presentes
suspeitas da falsidade - na prática essa prova deve estar pré-constituída antes de entrar com a
revisão criminal.
(iii) após o transito em julgado da sentença condenatória se descobrirem NOVAS PROVAS da
inocência do condenado ou que possam diminuir sua pena - o "descobrir" não significa
necessariamente que ninguém sabia da sua existência e ela depois apareceu, podendo se tratar
de casos em que a prova por algum motivo não conseguiu ser produzida (já existia durante o
processo, mas não foi produzida) - ex: o juiz negar a oitiva de uma testemunha importante.

REVISÃO NO TRIBUNAL DO JÚRI: as revisões criminais possuem como efeito ou a REFORMA


IMEDIATA da decisão ou sua ANULAÇÃO. A nova decisão que se venha a tomar, ainda, fica
marcada pela "reformatio in pejus". Essas características, assim, podem vir a entrar em conflito
com decisões tomadas pelo Tribunal do Júri - como que fica a Soberania do tribunal do júri? Na
prática, muitas vezes, os tribunais passam por cima dessa decisão, e reformam a sentença sem
voltar para o júri (passam em cima do Júri). Mas o que fazer quando se voltar o julgamento para o
júri e ele majorar a situação do condenado (ex: reconhecer uma qualificadora que não tinha sido
reconhecida antes)?

PROCEDIMENTO
Competência: em regra, será do Tribunal que conheceu o caso em primeira analise. Ou mesmo,
daquele que confirma a decisão em grau recursal. Dentro dos tribunais, será o órgão superior
àquele que proferiu a decisão ou confirmou-a em grau recursal.

Petição Inicial: é dirigida ao PRESIDENTE DO TRIBUNAL. Deve conter o (i) FUNDAMENTO


específico daquela revisão; vir com (ii) PEDIDO DE INDENIZAÇÃO (casos de erro); deve estar ao
máximo (iii) INSTRUÍDA (pois pode vir a ser indeferida liminarmente por falta de instrução); (iv)
anexar a CERTIDÃO DO TRANSITO EM JULGADO da decisão condenatória e FOTOCÓPIA
completa dos autos (mais seguro do que pedir para que os autos sejam transladados ao tribunal).

Julgamento: dirigida ao presidente, passa-se para o órgão específico de julgamento, no qual o


Relator poderá fazer uma análise preliminar para saber se será admitida a ação (muito comum se
INDEFERIR LIMINARMENTE por (i) falta de instrução adequada, (ii) porque o translado dos autos
originais é muito trabalhoso, ou (iii) porque é a segunda revisão criminal com o mesmo
fundamento). Se não for indeferida liminarmente, ela vai para o MP poder proferir seu parecer,
voltando depois para o relator, revisor e, por fim, para sessão de julgamento. O julgamento poderá
determinar (i) o afastamento da coisa julgada, (ii) a anulação da decisão, (iii) a reforma da decisão
ou até mesmo (iv) a modificação da pena. Da decisão de revisão criminal caberá Recurso
Especial ou Extraordinário desde que cabível segundo os requisitos necessários.
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MEDIDAS CAUTELARES

São regulamentadas de maneira bastante precária na legislação, gerando bastante polêmicas


quanto a sua aplicação.
Quando se decreta uma medida cautelar, sempre surge um conflito com o Princípio da
PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA (art. 5º, LXIII, CF) (não seria já um pré-julgamento?) - em
princípio, não há como se solucionar essa questão, mas não pode-se negar o estabelecimento de
uma "presunção de culpa". Fato é que nosso ordenamento jurídico convive bem com a Prisão
Cautelar, com a negação da fiança, mesmo quando há previsão de que ninguém será preso salvo
flagrante delito. O que se busca seria permiti-la, contudo dentro de certos LIMITES, para que esse
princípio não seja totalmente violado.
Aury Lopes Jr.: Presunção de Inocência teria seu aspecto interno e externo. O INTERNO seria
marcado pelo fato do juiz não poder decretar medidas cautelares mais gravosas que a pena e
também que a acusação teria o ônus de provar a necessidade dessa medida - na prática, o juiz
pode decretar medidas cautelares sem qualquer pedido da acusação; bem como, muitas vezes as
medidas decretadas são mais gravosas que a pena. Já o EXTERNO seria a impossibilidade da
mídia explorar o que acontece no processo penal de modo a estigmatizar o acusado.

Reforma 2011: alterou sua aplicação - antigamente havia um número reduzido de cautelares no
processo penal (Liberdade provisória mediante fiança, sem fiança ou Prisão cautelar). Com a
reforma, estabeleceu-se um rol de medidas novas para além da prisão, devendo ser essa
decretada somente excepcionalmente. Contudo, boa parte das medidas cautelares previstas são
de difícil controle e fiscalização.
Características gerais
(i) instrumentalidade (hipotética): o exercício do poder de cautela seria um instrumento para
garantir a realização da instrução processual e para garantir a aplicação da pena ao final do
processo e a justa indenização da vítima (caso das cautelares reais).
Aury Lopes Jr.: esse poder cautelar do Estado seria marcado por uma DUPLA instrumentalidade,
pois o processo em si já seria um instrumento para efetivação de garantias, sendo a cautelar,
portanto, um instrumento do instrumento.

(ii) acessoridade: o Estado não precisa decretar medidas cautelares em todos os processo penais,
havendo situações em que elas são dispensáveis. Assim, o processo penal, para se desenvolver,
não precisa dessas cautelares, sendo elas acessórias.

(iii) preventividade: o exercício desse poder busca previnir que não aconteça qualquer obstrução
para realização da instrução processual ou aplicação da pena ao final e indenização da vítima.

(iv) sumariedade da cognição: o juiz ao exercer o poder de cautela realizará uma COGNIÇÃO
SUMÁRIA do caso real - aqui que entraria a questão do pré-julgamento. No processo penal, não
faz sentido a apreciação de fumus boni iuris e periculum in mora como no processo civil; nesses
casos, ele irá analisar o mérito do processo penal de forma limitada. Necessário seria analisar,
portanto, o FUMUS DELICTI COMISSI (probabilidade de ter sido praticado um crime - presença
MATERIALIDADE e INDÍCIOS DE AUTORIA) e o PERICULUM LIBERTATIS (perigo que a
liberdade do acusado causaria - seja perturbando a instrução ou dificultando a aplicação da pena -
vinculados a situações concretas).
No tocante às cautelares reais, o PERICULUM IN MORA é que volta a fazer sentido na cognição
do juiz - problemas na aplicação: de conseguir identificar o que é proveito do crime para realmente
fazer incidir a cautelar.
Casos de prisão em flagrante: nem sempre há materialidade comprovada, mas mesmo assim
muitas vezes ela é convertida em cautelar sem que se busque comprová-la.

(v) provisoriedade: as mediadas cautelares devem ter a duração enquanto persistirem os seus
fundamentos e as situações que autorizam a sua aplicação. Significa que, acabando a instrução,
não há razão para se continuar com a medida cautelar - salvo para garantir a aplicação da lei
penal (evitar fugas ou cometimento de novos crimes).

(vi) referibilidade: as medidas cautelares devem ter substrato em situações concretas, ou seja, sua
decretação devem estar fundada em provas de que o acusado irá atrapalhar a instrução
processual (constrangindo testemunhas, destruindo provas), ou que vai dilapidar seu patrimônio,
dificultando uma indenização e também para assegurar a aplicação da lei penal (diante de uma
situação concreta que demonstre que a pessoa pretende fugir).

(vii) proporcionalidade: o poder de cautela deve ser exercido na exata medida de garantia da
instrução processual, aplicação da pena ao final do processo, não podendo vir a ser mais gravosa
que a pena. Ainda, deve-se ser levado em consideração que esse exercício do poder de cautela
deve estar no limite da estrita previsão legal - NÃO há um poder GERAL de cautela (elas só
podem ser aplicadas para determinados casos quando especificamente previstas para tanto, e
somente essas estritamente previstas).

(FALTA 01 AULA - Características gerais do exercício das cautelares)

Características específicas
(i) Cautelares PESSOAIS
art. 282 - NECESSIDADE: elas devem ser necessárias para assegurar a realização da instrução
processual; assegurar a aplicação da lei penal e para evitar a reiteração criminosa (em casos
expressos na lei).
- ADEQUADAS: dependendo da situação que se configura, a medida deverá adequar-se a ela.
- PROPORCIONAL: preciso mensurar se é necessário decretar uma medida mais gravosa ou
ainda se é possível decretar uma medida menos gravosa - somente quando nenhuma das
cautelares servir é que deveria decretar a prisão (na prática pensa-se, normalmente, antes na
prisão).
- CONTRADITORIEDADE: as cautelares são tidas como medidas, pois o juiz pode decretá-las de
ofício (não seria propriamente um processo); no entanto, muitas vezes é possível se instalar um
contraditório quanto a aplicação de uma cautelar pessoal - antes de instaurar a prisão, instalar o
contraditório prévio, com a possibilidade da defesa se utilizar de instrumentos para revogação da
prisão - utilizável, principalmente, para casos sem ser de prisão, em que não há risco de fuga nem
demora na análise da questão. Contudo, é muito difícil estabelecer contraditório, pois
normalmente o sujeito se encontra mal assistido.
A lei não prevê, mas deveria se estabelecer contraditório com a alteração de alguma medida ou
instauração de uma medida a mais.
- EXCEPCIONALIDADE: só vai se decretar uma medida cautelar se for necessário; ela é
excepcional. Mais ainda excepcional é a PRISÃO.
- CUMULATIVIDADE: é possível CUMULAR cautelares (decretar várias de uma vez) para que
seja possível assegurar a realização do processo.

Espécies

(1) PESSOAIS

(a) PRISÕES PROCESSUAIS


São três os tipos: (i) em FLAGRANTE; (ii) TEMPORÁRIA; (iii) PREVENTIVA.
Em tese, só é possível prender alguém mediante ordem judicial fundamentada - salvo a prisão em
flagrante, que irá ser analisada posteriormente.
Além disso, a prisão deve seguir determinados procedimentos. Ex: respeito à inviolabilidade do
domicílio - não pode ser cumprida a noite.

(a.1) PRISÃO EM FLAGRANTE


Tida pelos autores como uma medida "pré-caultelar", pois deverá depois ser afirmada pelo juiz,
convertendo-se em cautelar. Ela serve para assegurar as provas da materialidade e autoria e para
evitar que o sujeito consume o delito ou continue a praticar outros delitos.
Momentos:
- Prisão captura: momento em que o sujeito é preso - utilização da força policial dentro dos limites
necessários para realizar a prisão.
- Lavratura da prisão em flagrante;
- Prisão detenção: diante da real possibilidade de se ter cometido um crime, ele será recolhido à
cela, devendo nas próximas 24h o juiz se manifestar sobre a continuidade dessa prisão
(convertendo-a em preventiva).

Espécies de flagrante:
(i) Próprio: o indivíduo é flagrado praticando o delito ou logo após;
(ii) Impróprio ("quase flagrante"): o sujeito supostamente pratica o crime e é perseguido (pela
vítima, pela polícia, ou qualquer pessoa), sendo presumido como autor desse crime.
(iii) Presumido: o sujeito é encontrado com os instrumentos do crime ou com o produto do crime -
não existe um lapso temporal específico, não precisando ser logo após.
(iv) Diferido (ou retardado): situação em que se tem um agente infiltrado, e ele fica observando as
atividades da organização, presencia a prática de crimes, mas não prende no momento em que
eles foram cometidos. Tempos depois, após construção de provas necessárias, realiza a prisão
em flagrante.
(v) Flagrante esperado: sabe-se que em determinado local sempre ocorre prática de crimes,
assim, os agentes policiais ficam esperando que eles aconteçam.
* Flagrante provocado: NÃO é aceito a situação de flagrante - seria situação em que a pessoa é
induzida a praticar um crime (não se trata de caso de agente infiltrado). Súmula 45 STF:
considerado CRIME IMPOSSÍVEL.
Enquanto não cessar a prática da conduta criminosa, ainda é possível a prisão em flagrante. Ex:
durante um sequestro.

Regras gerais:
- A autoridade policial é OBRIGADA a realizar a prisão em flagrante; as pessoas da população
PODEM realizá-la;
- Competência para lavrar o auto: autoridade policial MAIS PRÓXIMA (não necessariamente do
local em que deverá ser processado - ex: poderia até ser em outro estado) - isso deveria
acontecer, na prática, para submeter essa prisão o mais rápido possível ao controle judicial.
- Quando o indivíduo é preso ele é levado para lavratura do auto; a autoridade policial vai ouvir o
condutor do ato de prisão (aquele policial que a efetuou); vai ouvir duas testemunhas que
presenciaram a prisão - se não houver, testemunhas que presenciaram a lavratura do auto. Essas
testemunhas não se confundem com o condutor (lei é clara), contudo, na prática, muitas vezes
consideram o condutor como uma testemunha.
- Interrogado o agente - esse termo deverá ser assinado; caso ele não consiga, serão chamadas
duas novas testemunhas para assinar esse termo. Durante esse momento, o sujeito poderá se
utilizar de seu DIREITO AO SILÊNCIO.
- Se no final das contas não existir a probabilidade de um crime, ele não deve ficar preso; mas se
sim, ele ficará detido.
- Terminada a lavratura do auto, deverão ser comunicados o MP, o juiz e a Defensoria (a não ser
que o sujeito já tenha advogado - lembre-se que quando efetuada a prisão, deverá ser
possibilitado ao sujeito que se comunique com qualquer pessoa para avisar de sua prisão e seu
advogado.
- Até 24h da lavratura do auto, deverá ser produzida a NOTA DE CULPA (documento que resume
o acontecimento do auto de prisão); bem como, deverá ser encaminhado ao juiz esses
documentos para que ele se manifeste sobre essa prisão.
- A prisão poderá ser RELAXADA quando ela for ILEGAL, ou seja, (i) quando aquela conduta não
constituir crime; (ii) quando houver qualquer irregularidade no ato da prisão; ou (iii) quando existe
uma irregularidade no auto da prisão em flagrante. O juiz que deve avaliar todos esses requisitos.
- Ou então, o juiz irá convertê-la em PRISÃO PREVENTIVA, ou ainda, conceder LIBERDADE
PROVISÓRIA juntamente com a interposição de uma outra cautelar.

(a.2) PRISÃO PREVENTIVA


Requisitos:
Ela poderá ser decretada durante a investigação ou durante o processo; assim, poderá ser
requerida pela Autoridade Policial, pelo MP, pelo Querelante, ou ainda, de ofício pelo juiz.
Para tanto, o crime deve ter a pena máxima SUPERIOR a 4 ANOS (com os acréscimos de uma
eventual continuidade delitiva ou concurso formal) (i). Isso tudo, salvo o sujeito já tenha sido
condenado por crime DOLOSO transitado em julgado (ii). Ainda, poderá ser decretada a
preventiva quando o sujeito NÃO conseguiu ser identificado (não trouxe documentação) (iii).

Pressupostos:
- Fumus delicti comici: probabilidade da existência de um crime;
- Periculum libertatis: o perigo desse suspeito/acusado oferecer algum perigo para a realização da
instrução processual ou ainda para ao final aplicar-se a pena, comprovada a culpa do indivíduo.
(indicar também indícios de autoria - mas normalmente ele é preso em flagrante, não havendo
maiores dúvidas).

Situações possíveis:
- conveniência da instrução processual;
- necessidade para garantir a aplicação da lei penal;
- para garantia da ORDEM PÚBLICA - desde a comoção social à insensibilidade moral do
acusado; Argumentos mais utilizados: (i) PERICULOSIDADE DO AGENTE e (ii) PERVERSIDADE
DO CRIME (gravidade do crime; espécie do crime - normalmente quando o crime abala a
comunidade, há bastante repercussão na mídia). Tal argumento também é utilizado para
"proteger" o indivíduo suspeito da IRA SOCIAL;
- para garantia da ORDEM ECONÔMICA.
Profª: essas duas últimas possibilidade não deveriam existir; primeiro, porque dependem de
interpretações amplas e subjetivas; segundo, porque elas vão além de uma medida cautelar,
visando conter uma desordem e não proteger o processo. Contudo, em que pese essa crítica, sua
existência não é exclusiva da ordem jurídica brasileira. Diante disso, alguns autores defendem a
definição de que circunstâncias caberia a utilização do argumento de ordem pública - muitos
defendem que seria somente para evitar a REINCIDÊNCIA de uma conduta criminosa (problema:
exigiria um juízo de "vidência" do juiz de como o agente iria atuar).
- sujeito não cumpre a medida protetiva de urgência - quando o crime é praticado é de violência
contra a mulher, pessoa enferma, idoso, doentes mentais: nesses casos estaria autorizada
também a prisão preventiva; ainda, a questão da proporcionalidade cai por terra, uma vez que a
maioria dos juízes não realiza uma ponderação prévia, somente seguindo disposição legal que
prevê a prisão (disposição essa que não prevê um juízo prévio da questão).

A prisão preventiva poderá ser RELAXADA quando: (i) em seu lugar for decretada outra medida
cautelar; (ii) houver excesso de prazo (a depender do procedimento - no projeto de reforma de
CPP há um prazo previsto).
Ainda, ela poderá ser REVOGADA, quando as situações que embasaram sua decretação NÃO
subsistem mais.

(a.3) PRISÃO TEMPORÁRIA (Lei 7.760 e Lei de Crimes Hediondos)


Lembra muito a chamada "Prisão para averiguações", existente antes da CF88, e que não
demandava grandes fundamentos.
A prisão temporária será decretada (i) quando for imprescindível para a INVESTIGAÇÃO; (ii)
quando NÃO é possível IDENTIFICAR o sujeito; ou ainda, (iii) quando ele NÃO tem RESIDÊNCIA
fixa.
Só poderá ser decretada nos casos previstos EXPRESSAMENTE em lei. Em tese, ela só poderá
durar por um prazo curto de 5 dias, prorrogáveis prorrogáveis por mais 5 - ou, quando é crime
hediondo, por 30 dias, prorrogáveis por mais 30.
Ela necessariamente deverá ser pedida pela Autoridade Policial ou pelo MP, não podendo o juiz
decretá-la de ofício.

(b) COMPARECIMENTO PERIÓDICO EM JUÍZO PARA JUSTIFICAR SUAS ATIVIDADES


Normalmente essa cautelar vem junto com outra. O juiz que irá determinar essa periodicidade
(não há previsão legal). Nesse caso, não existe a finalidade para evitar a reiteração criminosa,
mas sim, fazer com que o sujeito NÃO suma e participe da instrução processual, colaborando com
ela; bem como, estando presente para eventuais aplicações da lei penal ao final do processo.

(c) PROIBIÇÃO DE ACESSO OU FREQUÊNCIA A DETERMINADOS LUGARES


Ela serve, principalmente, para evitar reiterações criminosas. Tais locais seriam aqueles que
realmente poderiam facilitar uma prática criminosa. O problema dessa medida cautelar é, na
verdade, QUEM a FISCALIZA - ela é de difícil controle. Atualmente é comum que essa medida
cautelar venha com o monitoramento eletrônico.

(d) PROIBIÇÃO DE MANTER CONTATO COM PESSOA DETERMINADA EM RAZÃO DE


CIRCUNSTÂNCIAS RELATIVAS AO FATO
O juiz deverá especificar a DISTÂNCIA que deverá ser mantida dessas pessoas; bem como, essa
proibição de contato não implica somente a aproximação física, mas também virtual. Essa
proibição de manter contato, contudo, não pode impedir a pessoa de exercer direitos, como por
exemplo, de pai; ou mesmo de trabalhar.
Nesses casos, a medida é mais utilizada para não tumultuar a investigação.

(e) PROIBIÇÃO DE AUSENTAR-SE DA COMARCA QUANDO A SUA PERMANÊNCIA FOR


NECESSÁRIA PARA A INSTRUÇÃO
Da mesma maneira, essa medida não pode ir de encontro com certos direitos do sujeito - de ser
pai, de trabalhar.
Ainda, segundo a professora, não se trata de uma medida muito útil, uma vez que se há risco de
fuga, já começa a se configurar a possibilidade de decretar prisão (serviria mais para crimes em
que não cabem a prisão).

(f) RECOLHIMENTO NOTURNO NOS DIAS DE FOLGA


O juiz deverá determinar quais são os dias de folga. Ainda, dificilmente é também uma medida
fácil de fiscalizar. Segundo a professora, esse período que ele se mantem recolhido deveria ser
contabilizado na DETRAÇÃO da pena.

(g) PROIBIÇÃO DE EXERCER FUNÇÃO PÚBLICA PARA EVITAR PRÁTICA DE NOVOS


CRIMES
A principal questão tem ligação com a DURAÇÃO desse afastamento (por exemplo, na Itália não
se possibilita para cargos eletivos). Ainda, se a pena final do crime não prevê perda do cargo, não
haveria motivos para afastá-lo de suas funções.

(h) SUSPENSÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS A FIM DE EVITAR


REITERAÇÕES CRIMINOSAS
É quase a mesma situação anterior, mas ao invés de função pública, seria uma atividade
financeira. Evidente que para sua aplicação o crime deverá estar ligado a lesão a ordem
econômica. Não se pode simplesmente privá-lo de exercer atividades econômicas
indeterminadamente, pois normalmente é a partir delas que o sujeito realiza sua subsistência.

(i) INTERNAÇÃO PROVISÓRIA DO INDICIADO SEMI-IMPUTÁVEL OU INIMPUTÁVEL, nas


hipóteses de crimes realizados com VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA
Trata-se de um INTERNAMENTO COMPULSÓRIO, sendo uma medida polêmica, visto que
muitas vezes ele poderá receber uma absolvição PRÓPRIA. Ainda, não há consenso se essa
incapacidade deveria se configurar no momento do crime ou ser superveniente no momento da
investigação - nesta última hipótese, ele estará enfrentando a possibilidade de receber uma pena,
contudo interna-se ele antes para ver se consegue melhorar.

(j) MONITORAÇÃO ELETRÔNICA


A partir dela, todos os passos do sujeito são monitorados. A regulamentação sobre essa medida é
muito vaga. A vigia do sujeito se dá 24 horas por dia. Apesar de toda a tecnologia, tem gente que
consegue burlar.

(k) PROIBIÇÃO DE AUSENTAR-SE DO PAÍS acompanhada com a ENTREGA DE


PASSAPORTE
Normalmente pedida somente para quem tem condições econômicas para tanto. Quando isso
acontece, deve-se comunicar as fronteiras sobre essa proibição.

(l) FIANÇA
Segundo a professora, não haveria muita compatibilidade com a realidade contemporânea. Essa
medida prevê um depósito de bens (os quais não podem ser perecíveis), não necessariamente
pela pessoa que será beneficiada pela liberdade provisória, podendo ser por outra pessoa (fiador),
para garantir que a pessoa não fuja. Se por um acaso ela foge ou descumpre as condições da
liberdade provisória mediante fiança ou descumpre outra cautelar, além de poder agravar a
cautelar imposta, METADE desse valor se perde para o Estado (QUEBRA DA FIANÇA) - ao final,
se ele não estiver presente para cumprir a pena, TODO esse valor é perdido (PERDIMENTO DA
FIANÇA).
Para os crimes até 4 anos, a própria Autoridade Policial poderá conceder a liberdade provisória
mediante fiança - salvo isso, deverá ser realizada pelo juiz.
Deve-se ressaltar que há uma série de crimes INAFIANÇÁVEIS, como o racismo e a tortura.
Além disso, ela não poderá ser concedida quando o sujeito já violou as condições da liberdade
provisória mediante fiança.
Existem limites para a fixação dessa fiança, gerando em torno da (i) Capacidade econômica do
acusado e da (ii) Gravidade do Crime. Para crimes até 4 anos tem-se de 1 a 100 Salários
mínimos; superior a 4 anos 10 a 200 Salários mínimos; se a pessoa tiver boas condições
econômicas, o juiz poderá aumentar esse valor em até 1000 vezes; já, se a condição for
desfavorável, ele poderá diminuir em até 2/3 esses valores.
Prestada a fiança, o sujeito gozará de sua liberdade provisória, devendo cumprir certos requisitos:
não pode se ausentar da comarca mais de 8 dias, sem avisar o juízo; não pode se mudar sem
avisar o juízo; (iii) não pode deixar de cumprir a outra cautelar (se prevista; e ainda, (iv) não pode
realizar outro crime doloso.
Se ao final do processo o sujeito for ABSOLVIDO ou houver EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE esse
dinheiro será devolvido. Caso seja condenado, ele servirá para pagar (i) Custas; (ii) eventual
Multa; (iii) Indenização da vítima (se mesmo assim sobrar, devolve-se o que restou).
Pode ser que o juiz conceda essa medida, mas depois verifique não seria mais o caso para ela,
que ela não seria cabível. Nesses casos, ocorre a CASSAÇÃO DA FIANÇA, devendo ela ser
devolvida para o sujeito.
Caso durante essa medida os bens sofram uma DESVALORIZAÇÃO, o juiz deverá pedir um
REFORÇO da fiança para complementar o valor. Se esse reforço não for feito, a fiança é
declarada SEM EFEITO, sendo o valor devolvido e o juiz deverá decretar outra medida cautelar
(não necessariamente a prisão).

(m) PRISÃO DOMICILIAR


Trata-se de medida mais controvertida. Ao invés de estar preso em um estabelecimento prisional,
o sujeito permanece em casa. Essas situações só irão existir quando o sujeito (i) for maior de 80
anos; (ii) estiver extremamente debilitado por motivos de doença; (iii) quando for imprescindível
que preste cuidados a menor de 6 anos ou com alguma deficiência; (iv) gestante a partir do 7º
mês ou quando a gravidez for de alto risco.
Normalmente o período dessa medida é contado para a Detração.

(2) REAIS
(art. 125 e seguintes)
Todas as características das medidas cautelares GERAIS se aplicam também para as cautelares
reais.

(a) APREENSÃO
Normalmente é tratada no capítulo das provas, pois é analisada junto com a "BUSCA" (um meio
de produção de prova).
Ela ocorre em relação a bens que são PRODUTOS DIRETOS do crime para assegurar
principalmente a prova. Pode ocorrer de várias maneiras, a depender muitas vezes das espécies
de buscas, as quais são judicialmente determinadas - salvo quando se trata de uma prisão em
flagrante (não precisaria de uma ordem judicial, mas depois se submete à analise do juiz).

(b) SEQUESTRO
Trata-se de uma medida cautelar que vai determinar a CONSTRIÇÃO, a indisponibilidade, de
bens IMÓVEIS e MÓVEIS - quando estes não forem passíveis de apreensão - os quais são
adquiridos com os PROVENTOS de uma infração penal (não se trata de produto direto do crime;
estes somente foram utilizados para adquirir esses novos bens).
Quanto aos bens móveis, não é possível a apreensão quando um bem é produto direto do crime,
mas é TRANSFORMADO - deverá ser necessariamente sequestrado (ex: dissolver joias e
transforma-las em barras de ouro).
O pedido de sequestro poderá ser feito por uma Autoridade Policial, pelo MP ou decretado De
Ofício pelo juiz (neste último caso ele normalmente ouve o MP antes) - discute-se muito se o juiz
poderia decretar de ofício ainda na fase da investigação preliminar (normalmente afirma-se que
seria somente durante o processo).
Esses bens sequestrados servem, primeiramente, para assegurar a prova do processo; e, em um
segundo momento, para assegurar a justa indenização da vítima, pagamento das custas
processuais e penas pecuniárias. Para tanto, deve-se LEILOAR o bem, atividade que é
desenvolvida pelo próprio juízo criminal.
Uma vez decretado o sequestro é possível realizar o EMBARGO do sequestro, o qual pode ser
proposto (i) pelo próprio acusado - buscando demonstrar que esse bem não foi adquirido com os
proventos do crime -, (ii) pelo indivíduo que adquiriu o bem de boa-fé; ou (iii) por pessoa estranha
ao processo que teve seu bem sequestrado por engano (ex: esposa do acusado tem seu bem
sequestrado). Esses embargos só serão decididos após o trânsito em julgado da decisão
condenatória - acaba-se esperando um grande período para poder dispor dos bens novamente.
Para recorrer da decisão dos embargos, deve-se entrar com APELAÇÃO - contudo, trata-se de
uma apelação distinta daquela da sentença condenatória. Pela nova lei de lavagem de dinheiro,
deve-se decidir antes sobre os bens, tendo sido observado os requisitos específicos para o pedido
de embargo.
Ainda, tem-se a previsão de, uma vez decretado o sequestro, utilizar-se do MANDADO DE
SEGURANÇA criminal, diante de atitude ilegal.
Quando se tem uma sentença ABSOLUTÓRIA ou EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE o sequestro é
levantado. Aury Lopes Jr. defende que quando se tem uma sentença absolutória recorrível ainda,
já seria possível o levantamento do sequestro (o mesmo aconteceria para uma sentença
condenatória recorrível: os bens deveriam continuar constritos).
Tendo sido decretado o sequestro ainda na investigação preliminar, tem-se 60 dias para se entrar
com a DENÚNCIA, caso contrário, deve-se levantar também o sequestro.

(c) HIPOTECA LEGAL


Ela é decretada para estabelecer a constrição de bens IMÓVEIS, especificamente para assegurar
a indenização da vítima e o pagamento das custas e eventuais penas pecuniárias. Trata-se de
uma medida que vai incidir sob os bens de origem LÍCITA, daquilo que for lícito do patrimônio do
acusado.
No período antecedente à inscrição da hipoteca é comum que o juiz decrete o arresto do bem,
para estabelecer uma indisponibilidade imediata, impedindo que consigam se desfazer do bem até
essa medida ser concretizada.
Assim como em todas as cautelares, necessário ter a Materialidade da prática de um delito, a
probabilidade da prática de um delito, ainda que os bens sejam se origem lícita.
A legitimidade de pedir sua entrega e depois seu registro seria a partir do Juiz (de ofício), da
própria vítima e o MP, quando existir interesse da Fazenda Pública. Ela poderá ser decretada
desde a fase da investigação preliminar até o transito em julgado da sentença.
Depois de se fazer o pedido de realização da hipoteca, deverá ser instaurado o contraditório, de
modo que se trata de um procedimento um pouco demorado.
Absolvido o acusado ou extinta a punibilidade LEVANTA-SE a hipoteca. Caso ele seja condenado
por sentença transitado em julgado, NÃO é o juízo criminal que tomará as providências para
indenizar a vítima. Envia-se o caso para a esfera cível, na qual já deve existir uma ação própria
para se indenizar a vítima.
Nesses casos de hipoteca, desde o pedido é necessário especificar quais seriam os bens a serem
hipotecados, juntando avaliações desses bens - o juiz também deve determinar avaliações
através de um perito judicial.

(d) ARRESTO
Pode ser uma medida preparatória para a hipoteca ou realizado frente a bens móveis.
Acontece, normalmente, quando o sujeito NÃO possui bens imóveis suficientes para indenizar a
vítima. Trata-se da constrição de bens móveis de origem LÍCITA, visando essa indenização da
vítima e/ou o pagamento de custas e de penas pecuniárias. Por se tratar de bens móveis, estes
deverão ficar depositados.
Na lei de lavagem de dinheiro há a previsão de ALIENAÇÃO ANTECIPADA de bens para poder
indenizar a vítima

* Na prática: acaba-se pegando TODOS os bens do indivíduo, devendo ele provar que eles não
são fruto de crime ou que são mais do que suficientes para indenizar a vítima (ou seja, inverte-se
o ônus probatório).

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