Você está na página 1de 1

DCSH. Filosofia da Religião, I Semestre 2014/2015.

3º Ano

“É praticamente impossível abrir um livro de filosofia da religião e não se deparar com a firmação
preliminar de que se trata de uma disciplina problemática, com método difícil e estatuto confuso. O
facto é, desde logo, insuperável”.
1. Filosofia e religião, duas magnitudes (pólos) complexas.
Uma simples inspecção da expressão linguística já pode faz prever a dificuldade. A filosofia da
religião junta duas palavras, que remetem a conceitos e realidades muito complexas: sua conjunção
das duas não pode resultar em algo fácil e acaba reforçando por força da complexidade e também, a
ambiguidade. Não se pode extranhar a afirmação de Richard Schäeffler: «A filosofia de la religião
como um campo unitário de temas e questões, de métodos e resultados não existiu até hoje; (...)
Mas, de momento o que temos é uma pluaralidade desconcertante de posicionamentos, tentativas
de soluções e métodos”.
Além dissso, não se trata de uma complexidade neutra, entregue à calma consideração da teoria,
mas de uma complexidade na qual, os elementos fundamentais estão fortemente ideogizados
(sobrecarga afectiva e histórica) e largamente marcados por profundos preconceitos. (...) A filosofia
da religião nasceu propriamente de uma abrupta e profunda mudança cultural, que corruiu os
cimentos da cultura ocidental (fundada na tradição judaico-cristã). Esta se viu assim colocada na
trincheira contrária, e o tratamento filosófico da religião adquiriu em grande parte, a aparência «de
uma inimizade fundamental contra o cristianismo».

2. Filosofia e religião, duas magnitudes (pólos) opostas.

A dificuldade até qui analizada bastaria, sem dúvida, para fazer ver a dificuldade de uma filosofia
da religião. Contudo, não radica nela a dificuldade principal. Esta nasce bem mais além do carácter
interno: de uma espécie de incompatibilidade, que parece opor-se à antítese entre a filosofia e
religião. Tão impossíveis de misturar como «água e azeite», disse Kant; já Hegel falava de uma
“velha antítese”. Assim, algo que aparece facilmente em conta se pensa em interesses contrapostos,
que ao menos, à primeira vista os move: fé e acolhimento (religião) face à razão e crítica (filosofia).
Tanto assim é que, como bem osbervou Paul Tillich (Religionphilosophie, 1969:7-8), dado o
carácter totalizante de ambas, nenhuma das duas admite limites: quando entram em contacto, uma
tende a absorver e a dissolver a outra. Desse modo, a filosofia da religião parece tentar algo
impossível.
[...] De facto, cabe estudar debaixo deste ponto de vista (possibilidade da filosofia da religião não
falar da religião verdadeira e perder a noção do seu objecto se não tiver em conta o carácter
revelado da religião ou a possibilidade de se converter em teologia natural se reconhecer o carácter
revelado da religião), a história da filosofia e da religião. Paul Tillich assinala as seguintes
manifestações: 1) uma das duas tenta impor-se praticamente à outra (assim foi a religião na primeira
Idade Média e no Iluminismo); 2) buscam-se sínteses e mediações (assim foi na grande Idade
Média, desde a religião, e no Idealismo e no Romantismo, desde a filosofia); 3) afirma-se uma
coexistência (assim foi na alta Idade Média, e no empirismo inglês e no kantismo religioso).
[...] Mais importante é advertir que aqui se encontra sua raíz, a tensão fundamental, que percorre de
uma ponta à outra, todo a abordagem da filosofia da religião”.

in, QUEIRUGA, Andrés Torres. La Constitución Moderna de la Rázon Religiosa, Ed. Verbo
Divino, 2ª Ed., Barcelona, 2000, pp-15-19.

Você também pode gostar