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Módulo 2 – Textos Expressivos e Criativos e Textos Poéticos – Parte II

Poetas portugueses de expressão portuguesa do séc. XX – poesia de expressão portuguesa


Módulo 2 – Textos Expressivos e Criativos e Textos Poéticos – Parte II

Grupo I

FLORBELA ESPANCA

Pergunto-me o porquê da visibilidade de Florbela e da sua aceitação por um público muito mais
vasto que o de muitos outros escritores seus contemporâneos, anteriores e posteriores, de qualidade se
não superior, pelo menos semelhante, e de interesse e carácter mais universalista, com preocupações
capazes de fazerem apelo a um mais vasto e amplo leque de sensibilidades.
Se a sua obra apresenta inegável interesse e beleza, não deixa de constituir surpresa para alguns
críticos, o impacto junto do público leitor, comparado com o de outros autores de igual valia e que fora
dos meios ditos intelectuais pouco ou nada são conhecidos.
(…)
Após vasta inventariação de publicações, José Augusto França, na sua obra Os anos vinte em
Portugal, indicando umas dezenas de escritores, a Florbela se refere dizendo-a "escondida de todos",
acrescentando todavia que "foi ela o caso de mais profunda criação entre as mulheres que publicaram
nos anos 20 portugueses".
Para outros não é um astro da grandeza de vários dos seus contemporâneos. Estará um tanto em
atraso, quer quanto à forma, quer quanto às suas preocupações. Como explicar então que seja
qualificada por muitos como um dos vultos do século - e o seja, pela projecção que acaba por atingir?
Rolando Galvão
in http://www.vidaslusofonas.pt/florbela_espanca.htm

SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior


Compreender
Do que os homens! Morder como quem beija!
1. O soneto apresenta uma concepção de poeta, segundo
É ser mendigo e dar como quem seja
a qual este é um ser excepcional e intenso.
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
1.1. Recorrendo a nomes abstractos, aponta as
características que, de acordo com o texto, definem o
É ter de mil desejos o esplendor
poeta.
E não saber sequer que se deseja!
1.2. Essas características são sublinhadas pela utilização
É ter cá dentro um astro que flameja,
de diversos recursos estilísticos. Transcreve exemplos
É ter garras e asas de condor!
de adjectivação, comparação, metáfora, paradoxo e
enumeração.
É ter fome, é ter sede de Infinito!
2. O poeta é um ser, mas profundamente insatisfeito.
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
2.1. Indica, justificando, a faceta que te parece mais
É condensar o mundo num só grito!
sobressair no poema.
3. Interpreta o último terceto, não esquecendo que
E é amar-te, assim perdidamente...
conclui o poema.
É seres alma, e sangue, e vida em mim
4. De todas as definições de poeta, qual a que
E dizê-lo cantando a toda a gente!
escolherias? Justifica a tua resposta.

Grupo II

Poetas portugueses do séc. XX – poesia de expressão portuguesa 2


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SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo
traçado à roda duma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso. E se a minha poesia, tendo
partido do ar, do mar e da luz, evoluiu, evoluiu sempre dessa busca atenta. Quem procura uma relação
justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o
anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é
logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo
o fenómeno. É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor.
E é por isso que a poesia é uma moral. E é por isso que o poeta é levado a buscar a justiça pela
própria natureza da sua poesia. E a busca da justiça é desde sempre uma coordenada fundamental de
toda a obra poética (...).
Sophia de Mello Breyner Andresen, “Posfácio”, in Obra Poética II, Ed. Caminho, 1998

PORQUE
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude Compreender
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não. 1. Faz uma primeira leitura silenciosa do poema e sublinha as
repetições que nele encontras.
Porque os outros são os túmulos caiados 2. Diz a que classe pertence a palavra com que se inicia a
Onde germina calada a podridão. maior parte dos versos.
3. O sujeito poético não expressa qualquer oração subordinante
Porque os outros se calam mas tu não.
para as repetidas orações causais. Sugere-a tu.
4. O poema desenvolve-se em torno de uma oposição.
Porque os outros se compram e se vendem
4.1. Identifica os elementos que o sujeito poético opõe.
E os seus gestos dão sempre dividendo. 4.2. Sinaliza a conjunção e o advérbio que contribuem para
Porque os outros são hábeis mas tu não. marcar essa oposição.
4.3. Liga os nomes que se seguem ao elemento a que se
Porque os outros vão à sombra dos abrigos referem.
E tu vais de mãos dadas com os perigos. a. os outros → dissimulação; falsidade/hipocrisia; ousadia;
Porque os outros calculam mas tu não. medo;
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética II, Ed. caminho, 1991
b. tu → denúncia; cedência; aventura/risco; honestidade;
calculismo
5. O poema que acabaste de analisar insere-se num contexto
histórico particular do nosso país — que terminou com a
Revolução de Abril de 1974 - a que a poetisa não foi
indiferente. Informa-te sobre esse contexto e comenta o poema
à luz desta nova informação.
6. Nos versos 11 e 12, substitui a conjunção “e” por outra, que
especifique melhor o seu valor neste contexto.

Grupo III

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EUGÉNIO DE ANDRADE
Todos os meus versos são um apaixonado desejo de ver claro mesmo nos labirintos da noite. O
amor da transparência é a minha fraqueza, mas a minha força também.
Quanto a mim, gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do Verão, aos
barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como o pão de centeio. Palavras que
cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol.
Eugénio de Andrade, Poética, introdução ao folheto da exposição “Eugénio de Andrade
- 30 anos de trabalho”, que teve lugar de 22 de Outubro a 5 de Novembro de 1976

AS PALAVRAS
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.


Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem


as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade, “Coração do Dia/Mar de Setembro”, (1.ª ed., 1997),
in Poesia, 1.ª ed., Ed. Fundação Eugénio de Andrade, 2000

Compreender
1. Lê o primeiro poema - “As palavras”.
1.1. Sublinha, na primeira estrofe, quatro nomes que o sujeito poético escolheu para definir as palavras.
1.1.1. Explicita o alcance significativo desses nomes no contexto do poema.
1.1.2. Explica por que razão o carácter ambíguo das palavras está aqui em evidência.
1.1.3. Identifica duas figuras de estilo presentes nesta estrofe.
1.2. Aponta os recursos estilísticos presentes nos versos 11 e 12.
1.3. Comenta a antítese contida nos versos 13 e 14.
1.4. Interpreta o sentido do adjectivo “pálidas” v.15.
1.5. Explica o apelo lançado nas duas interrogações retóricas da última estrofe.
1.6. Esclarece as razões pelas quais o poema que acabaste de analisar podia ser uma definição de polissemia.
Grupo IV

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ANTÓNIO GEDEÃO

Afirmando-se como um dos mais brilhantes e talentosos criadores lusófonos do século XX, Rómulo de
Carvalho/António Gedeão, respectivamente, o professor, pedagogo e historiador da ciência, e o seu alter-ego
literário, atravessou todas as convulsões e acontecimentos marcantes do nosso século, que se reflectiram no
formar-se de um espírito extremamente marcado pelo cepticismo e pela ironia, sempre presentes nos seus
poemas.
Licenciado em Ciências Físico-Químicas pela Universidade do Porto em 1931, traduziu como
ninguém, a ciência para os leigos, desvendando segredos científicos com a mesma simplicidade com que os
exemplificava.
Lisboeta toda uma vida, uniu de forma exemplar, através da sua obra, a ciência e a poesia, a vida e o
sonho. Apesar de só aos 50 anos ter decidido publicar o seu primeiro livro de poesia, inaugurando assim uma
carreira que se afirmou por si própria na cultura portuguesa, tornou-se uma figura de referência incontornável
no imaginário colectivo do povo português, principalmente para toda a geração da "Pedra Filosofal".
Poucos meses após ter celebrado o seu 90º aniversário, assinalado pela homenagem que lhe foi prestada
pelo Ministério de Ciência e de Tecnologia, a sua morte em 19 de Fevereiro 1997, deixa-nos um legado para
o futuro, numa sociedade cada vez mais global, onde a união entre Ciências e Humanidades se torna cada vez
mais uma necessidade premente.
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/

PEDRA FILOSOFAL

Eles não sabem que o sonho máscara grega, magia,


é uma constante da vida que é retorta de alquimista
tão concreta e definida mapa do mundo distante,
como outra coisa qualquer, rosa-dos-ventos, Infante,
como esta pedra cinzenta caravela quinhentista,
em que me sento e descanso, que é Cabo da Boa Esperança,
como este ribeiro manso ouro, canela, marfim,
em serenos sobressaltos, florete de espadachim,
como estes pinheiros altos bastidor, passo de dança,
que em verde e oiro se agitam, Colombina e Arlequim,
como estas aves que gritam passarola voadora,
em bebedeiras de azul. pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
Eles não sabem que o sonho alto-forno, geradora,
é vinho, é espuma, é fermento, cisão do átomo, radar,
bichinho álacre e sedento, ultra-som, televisão,
de focinho pontiagudo, desembarque em foguetão
que fossa através de tudo na superfície lunar.
num perpétuo movimento.
Eles não sabem, nem sonham,
Eles não sabem que o sonho que o sonho comanda a vida.
é tela, é cor, é pincel, Que sempre que um homem sonha
base, fuste, capitel, o mundo pula e avança
arco em ogiva, vitral, como bola colorida
pináculo de catedral, entre as mãos de uma criança.
contraponto, sinfonia, António Gedeão
Leitura/compreensão

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1. Lê o poema para apreensão global do seu 4.1.1.2. nos elementos evocados


sentido. 4.1.2. na segunda estância
2. Relê-o. 4.1.2.1. no léxico utilizado para caracterizar o sonho
3. Menciona o destinatário do discurso poético. 4.1.3. na terceira estância
3.1. Aponta o vocábulo que o define. 4.1.3.1. nos vocábulos que se ligam a
4. O sujeito poético defende que o “sonho” é determinadas áreas do saber
necessário para viver. 4.1.4. na última estância
4.1. Indica a forma como o poeta o caracteriza, 4.1.4.1. na comparação final
tendo em conta que ele é uma “coisa” “concreta 5. Refere a forma verbal utilizada ao longo do
e definida”, atentando: poema para definir o sonho.
4.1.1. na primeira estância 5.5. Assinala o modo e tempos verbais em que
4.1.1.1. na figura de estilo utilizada se encontra

Leitura/oral

"…Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de
amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou
se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me
conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura,
movimentos, carácter eFERNANDOGrupo V - FERNANDO
história, várias figuras irreais que eram PESSOA para mim tão visíveis e minhas
como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida-real. Esta tendência, que
me vem desde que me lembro de ser um eu, tem me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo
de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar."
Poetas portugueses doin séc. XX – poesia de expressão portuguesa
http://www.vidaslusofonas.pt/fernando_pessoa.htm
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O menino de sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
Leitura
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado – 1. Lê o texto.
Jaz morto, e arrefece. 2. Relê-o, de modo a perceberes a construção do sentido do mesmo.
3 Pede a dois colegas que leiam o poema contigo em voz alta.
Raia-lhe a farda o sangue. 4. Justifica os diferentes ritmos de leitura, a diferente acentuação das
De braços estendidos, palavras e das frases, as diferenças ao nível da entoação e da altura da voz
Alvo, louro, exangue, (pensa nos conceitos objectivo / subjectivo).
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos. Compreender/ler
1. Relê o poema.
Tão jovem! que jovem era! 2. Discute com os teus colegas o(s) possível(eis) sentido(s) do poema.
(Agora que idade tem?) 3. Refere a situação apresentada na primeira estância, mencionando:
Filho único, a mãe lhe dera 3.1. o espaço
3.2. as condições climatéricas
Um nome e o mantivera:
3.3. o estado da pessoa a que se refere o sujeito poético
“O menino da sua mãe”. 4. Explica o contraste estabelecido entre o “sangue”, os “braços estendidos”
Caiu-lhe da algibeira e a descrição do jovem.
5. Explicita o sentido das expressões e das frases exclamativas.
A cigarreira breve.
6. Indica os elementos que o sujeito poético refere como símbolo de algo
Dera-lha a mãe. Está inteira perene, isto é, que se mantém, em contradição com a efemeridade que marca
E boa a cigarreira. a vida do ser humano.
Ele é que já não serve. 7. Aponta as duas figuras femininas aludidas no texto.
7.1. Relaciona-as com o título do poema.
De outra algibeira, alada 8. Na última estância é apresentado um outro espaço.
Ponta a roçar o solo, 8.1. Identifica-o.
A brancura embainhada 8.2. Explica a relação de sentido entre a prece “Que volte cedo, e bem!” e os
De um lenço... Deu-lho a criada dois últimos versos “Jaz morto, e apodrece, / O menino da sua mãe.”
Velha que o trouxe ao colo. 9. Menciona o significado do verso entre parênteses “(Malhas que o
Império tece!)”, não esquecendo o valor do ponto de exclamação no final
Lá longe, em casa, há a prece: do mesmo e tendo em conta a leitura global que fizeste do poema.
“Que volte cedo, e bem!” 10. Redige um pequeno texto no qual expresses a tua perspectiva pessoal do
(Malhas que o Império tece!) poema.
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
Fernando Pessoa

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