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1.1 O Impacto das políticas econômicas na Educa- Os cursos de Psicologia no Brasil não estiveram
ção alheios a tal movimento. Segundo o INEP [6], desde
Tendo em vista o capitalismo como elemento 1997, o número de estudantes de Psicologia nas IES
fundamental na construção de uma sociedade-arena, privadas aumentou de tal forma que, em 2012, 82%
na qual a luta pela riqueza se desenvolve [1], tal dos formandos provinham de instituições particulares
parâmetro carrega uma condição de relações de [4]. Esse crescimento foi visto com preocupação por
exploração que, para Marx, precisaria ser superada. profissionais da área, uma vez que tal alastramento,
Em nossos dias, no entanto, o neoliberalismo eco- ocorrendo sem o acompanhamento de qualidade,
nômico tem sido o mecanismo que qualifica o mer- traria um descompasso entre o profissional que esta-
cado como a única instituição capaz de coordenar va sendo formado e o que se desejaria formar [7].
racionalmente os problemas econômicos e políticos Ainda na década de 90 algumas oposições da
[2]. Em expansão, como sistema econômico, desde a formação começaram a ser discutidas, como os di-
pós segunda grande guerra, de forma ampla se lemas entre formar psicólogos generalistas ou espe-
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cialistas; entre um currículo rígido ou flexível; entre ção e instituição das Diretrizes, em 2004. Faz-se
cursos teóricos ou essencialmente práticos; além dos então a seguinte questão: e no período que se se-
dilemas éticos referentes à formação. Para solução guiu a estes fatos? Discute-se a formação depois da
de tais questões, mudanças curriculares começaram instituição das DCN?
a ser consideradas [8].
Duran [8], trabalhando em parceria com o OBJETIVOS
CFP, realizou um levantamento de posicionamentos Objetivo Geral
de vários profissionais da área de ensino da Psicolo-
gia, buscando reunir posicionamentos diversos sobre Evidenciar discussões posteriores à instituição das
questões relevantes da formação, que permaneces- DCN´s quanto à formação do psicólogo e em que
sem como entraves nos processos de revisão curri- direção esta formação se situa.
cular. Em seus resultados, as necessidades que
mais se destacaram foram: o direcionamento de uma
Objetivos Específicos
formação para a realidade de nosso país, a união de
uma formação teórica com a prática e a multidiscipli- (a) Discutir a construção histórica do conhecimento
naridade. psicológico para o atendimento das necessidades e
Semelhantemente, Guzzo [9] afirma que o demandas da classe dominante.
comprometimento com a realidade brasileira deveria (b) Marcar aspectos positivos e negativos da forma-
se estabelecer por meio de uma formação politizada ção profissional provocados pelas Diretrizes Curricu-
e crítica, para a libertação da formação hegemônica lares Nacionais em Psicologia.
que se faz presente na grande maioria das universi- (c) Contextualizar a produção científica sobre a for-
dades do país. mação de Psicologia a partir da aprovação das Dire-
trizes Curriculares Nacionais.
A partir de 1995, o MEC nomeou comissões de Este estudo se propôs a discutir e confrontar
as políticas de formação no Ensino Superior, especi-
especialistas para tratar da elaboração das Diretrizes
almente as políticas que envolvem a formação em
Curriculares Nacionais para os cursos de Psicologia
Psicologia, as DCN`s, com a ideologia de construção
– DCN e, até a instituição da versão final do docu-
do conhecimento, sustentadas para a alienação e
mento, em 2004 [10], travaram-se diversas discus- manutenção de uma ordem social. Para tanto, reali-
sões entre grupos de opiniões opostas, a favor de zou-se um levantamento bibliográfico de artigos
interesses distintos, basicamente entre dois grupos: acerca da formação em Psicologia.
aqueles que defendiam uma formação em três dife- Através das lentes do método materialista
rentes perfis: bacharelado, licenciatura e formação histórico-dialético, este trabalho busca compreender
do psicólogo; e o grupo que desejava um perfil único, as origens historicamente construídas dos fenôme-
abrangente e pluralista. Diante de tais divergências, nos sociais, investigando-as nas formações socioe-
a comissão sugeriu aos grupos que elaborassem um conômicas e nas relações de produção. Sustenta-se
documento comum, que superasse os desacordos, em uma interpretação dialética do mundo, por meio
tendo então como resultado o documento citado da qual é possível admitir as transformações da ma-
anteriormente, em 2004, que define os eixos estrutu- téria e aceitar que estes fenômenos estão em movi-
rantes aos quais os cursos devem compor sua for- mento [13].
mação, com base em um núcleo comum, constituído O levantamento bibliográfico, tal como foi re-
de competências básicas, que garantem a identidade alizado, é um recurso que, de acordo com Antunes
dos cursos de Psicologia no país [11]. Em 2011, foi [14], possibilita recuperar o passado, a partir de um
atualizado com o estabelecimento de normas para o olhar do presente, considerando as limitações deste
projeto pedagógico complementar para a Formação processo. Entende-se que não se pode reaver o
de Professores de Psicologia [12]. passado em sua totalidade mas, reconhecendo que
A história aqui contada sobre a formação em seus elementos disponíveis podem elucidar suas
Psicologia no Brasil expõe momentos nos quais a contradições e a dinâmica de seus movimentos,
discussão sobre a formação no país se mostrou de- permite-se então admiti-lo como uma base de sus-
terminante na busca de soluções para os impasses tentação para a compreensão do presente.
vigentes, como aconteceu às vésperas da elabora-
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Gráfico 2: proporção dos artigos encontrados, de 2010, vol.14, no.1, p.105-120. ISSN 1413-
acordo com a categoria. 8557
Câmara de Educação Superior. Notícia: Dire-
trizes curriculares nacionais para os cur- forma-
Categorias
sos de graduação em psicologia. Psic.: ção:
Teor. e Pesq., Ago 2004, vol.20, no.2, p.205- DCN
Outros
208. ISSN 0102-3772
20%
Feitosa, Maria Ângela Guimarães. Implica-
ções da internacionalização da educação forma-
para a formulação de currículos em Psico- ção:
logia. Temas psicol., Jun 2007, vol.15, no.1, DCN
Formação
p.91-103. ISSN 1413-389X
16%
Formação
Poppe, Andrea Regina Soares e Batista, Syl-
específica
via Helena Souza da Silva. Formação em
64%
Psicologia no contexto das diretrizes curri- forma-
culares nacionais: uma discussão sobre os ção:
cenários da prática em saúde. Psicol. cienc. DCN
prof., 2012, vol.32, no.4, p.986-999. ISSN
1414-9893
Os artigos reunidos na categoria formação forma-
Ferreira Neto, João Leite e Penna, Lícia Mara
(16%) montam 37 publicações do período de 2004 a ção:
Dias. Ética, clínica e diretrizes: a formação
2011 dos quais, a) oito centraram-se em discussões do psicólogo em tempos de avaliação de
DCN
sobre as reformas de currículo e suas implicações; (ética
cursos. Psicol. estud., Ago 2006, vol.11, no.2, na
além de análises de Projetos Pedagógicos de Cursos p.381-390. ISSN 1413-7372 clínica)
no Brasil e em currículo voltado para atuação com forma-
Cirino, Sérgio Dias et al. As novas diretrizes
pessoas com deficiência; b) dez discutiram as DCN e curriculares: uma reflexão sobre a licencia- ção:
seus desdobramentos; e c) dezenove artigos apre- DCN
tura em Psicologia. Temas psicol., Jun 2007, (licen-
sentaram temas variados, mas com menção à for- vol.15, no.1, p.23-32. ISSN 1413-389X ciatura)
mação, tais como: história nacional e internacional
da formação em Psicologia, pesquisas com egressos Valle Cruces, Alacir Villa. A pesquisa na forma-
formação de psicólogos brasileiros e suas ção:
dos cursos de Psicologia, estágio curricular obrigató-
políticas públicas. Bol. - Acad. Paul. Psicol., DCN
rio, especialidades em Psicologia, desempenho no Dez 2008, vol.28, no.2, p.240- 255. ISSN (pes-
ENADE, a ética na relação professor-aluno, o perfil 1415-711X quisa)
dos cursos de Psicologia e a teoria versus prática na
supervisão. Luiz RibeiroI, Sérgio e Amélia Luzio, Cristina. forma-
Considerando o objetivo geral da pesquisa As diretrizes curriculares e a formação do ção:
de levantar uma discussão sobre as políticas de psicólogo para a saúde mental. Psicol. rev. DCN
(Belo Horizonte), Dez 2008, vol.14, no.2, (saúde
formação do psicólogo brasileiro, partindo especifi-
p.203-220. ISSN 1677-1168 mental)
camente das Diretrizes Curriculares da Psicologia,
elegemos os dez artigos com temas relacionados às
Portes, João Rodrigo Maciel e Máximo, Carlos
DCN como fundamentais para a compreensão da Eduardo. Formação do psicólogo para atuar
dinâmica das políticas de formação. De fato, o centro no SUS: possíveis encontros e desencon- forma-
de nossa pesquisa está nestes resultados que serão ção:
tros entre as diretrizes curriculares nacio- DCN
apresentados a seguir: nais e as matrizes curriculares de um curso (SUS)
de psicologia. Barbaroi, Dez 2010, no.33,
Tabela 1: Artigos encontrados sobre o tema das DCNs. p.153-177. ISSN 0104-6578
Artigo tema
Bernardes, Jefferson de Souza. A formação Dentre tais artigos, foram predominantes as
em Psicologia após 50 anos do Primeiro forma- críticas a respeito da aplicação e elaboração das
Currículo Nacional da Psicologia: alguns ção: Diretrizes Curriculares. O tema das contradições
desafios atuais. Psicol. cienc. prof., 2012, DCN
entre uma formação generalista versus especialista
vol.32, no.spe, p.216-231. ISSN 1414-9893
ainda apareceram, mesmo depois da institucionali-
Brasileiro, Tânia Suely Azevedo e Souza, zação do documento. Este fato confirmou o descon-
Marilene Proença Rebello de. Psicologia, forma- tentamento por parte dos profissionais com relação à
diretrizes curriculares e processos educa- ção:
DCN formação, ainda sem consenso. Semelhante a esta
tivos na Amazônia: um estudo da formação
de psicólogos. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Jun pesquisa, Costa et al. [15] realizaram uma coleta de
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artigos, livros, capítulos de livros, dissertações e ecoando: como se espera mudanças na formação
teses, publicados até 2011, em bases de dados on- em Psicologia, se há tão pouca discussão sobre ela?
line. A análise de seus resultados permitiu a obser- Os resultados desta pesquisa, de uma forma geral,
vação de que “a produção sobre a temática encon- ilustraram como está comprometida a psicologia de
tra-se dispersa e possui caráter opinativo; grande nossas IES com as especialidades tradicionais, prin-
parcela das publicações focaliza áreas tradicionais cipalmente com a atuação clínica, e que, quando há
da Psicologia e aborda o tema por uma ótica interna- discussão sobre a formação, em sua maioria ocorre
lista.” (p.135). Da mesma forma, neste trabalho ob- a defesa de uma área específica.
servamos que, dos dez artigos apresentados, a mai- É claro que os resultados desta pesquisa li-
oria provém de áreas específicas da psicologia, pre- mitam-se a um período exclusivo, a década de 2004-
ocupadas com seu espaço nas DCNs, como apare- 2014, e que temos em mãos apenas parte da produ-
ceram nos temas do preparo para a atuação em ção científica nacional – as publicações em duas
saúde mental, licenciatura, saúde, pesquisa e clínica. bases de dados online. Logo, sabe-se que não te-
Ademais, dos 235 artigos por nós analisa- mos um panorama completo das discussões atuais
dos, 64% centraram-se nas áreas tradicionais da sobre a formação no país. No entanto, acreditamos
Psicologia, em sua maioria Psicologia clínica, Psico- que esta parcela por nós observada, dentro de suas
logia e saúde e Psicologia escolar/educacional. limitações, é capaz chamar a atenção para a discus-
são sobre a formação em Psicologia em nosso país,
Sendo assim, percebe-se o quadro da dis- ou para a falta dela.
cussão sobre a formação em Psicologia no Brasil, Esperamos contribuir para a comunidade ci-
tendo como parâmetro e marco de partida a institui- entífica, no sentido de incentivar a discussão sobre
ção das Diretrizes Curriculares Nacionais para os nossos currículos e sobre o impacto das Diretrizes
cursos de Psicologia, no ano de 2004. Além de, pos- Curriculares em nossa formação. É necessário discu-
teriormente a esta data, a discussão sobre a temáti- tirmos, nos movimentarmos, nos comprometermos
ca estar significativamente menor do que estava na com a transformação e nos despojar da formação de
década anterior, que foi marcada pela farta discus- uma psicologia, usando as palavras de Moura [17],
são sobre o assunto [15], está agora majoritariamen- que não mais queremos (p.19).
te comprometida com as áreas específicas da forma-
ção, ao invés de promover uma discussão transfor- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
madora e transversal para a Psicologia.
A pequena parcela identificada nesta pesqui- [1] Lessa, S., & Tonet, I. (2011). Introdução à Filoso-
sa de artigos que tratam centralmente sobre o tema fia de Marx. São Paulo: Expressão Popular.
da formação, frente à representativa maioria das [2] Teixeira, F. J. (1996). O neoliberalismo em deba-
publicações em áreas específicas, representa a rea- te. In: F. J. Teixeira, & M. Oliveira, Neoliberalismo e
lidade na qual se encontram as IES formadoras de reestruturação produtiva – as novas determinações
psicólogos em nosso país. do mundo do trabalho (pp. 195-252). São Paulo:
Cortez.
[3] Sguissardi, V. (2000). O Banco Mundial e a edu-
CONSIDERAÇÕES FINAIS cação superior: revisando teses e posições? Univer-
Em uma observação panorâmica do trabalho sidade e Sociedade , 66-77.
realizado, podemos identificar como está entrelaçada [4] INEP. (2012). Sinopse da Educação Superior.
a formação em Psicologia no Brasil aos padrões Brasília: Ministério da da Educação e da Cultura.
neoliberais estabelecidos nas políticas educacionais [5] Calderón, A., & França, C. (2013). O Banco Mun-
para o ensino superior. Esta é uma trama composta dial na educação superior brasileira: de ilustre des-
de acordos políticos, motivações econômicas e inte- conhecido nos anos 1980 a protagonista nos anos
resses de grupos dominantes. A instituição das Dire- 1990. Andes-SN , 102-115.
trizes Curriculares para os cursos de Psicologia no [6] INEP. (s.d.). Evolução 1980-1998. Brasília: Minis-
ano de 2004 parece ter dividido em dois períodos a tério da Educação e Cultura.
movimentação dos profissionais na discussão sobre [7] Calais, S., & Pacheco, E. (2001). Formação de
a formação. Na década que o antecedeu, muito se psicólogos: análise curricular. Psicologia
debateu para que as DCN cumprissem a promessa Escolar e Educacional , 5 (1), 11-18.
de transformar a formação no país. Na década que [8] Duran, A. (1994). Alguns dilemas na formação do
se seguiu à instituição do documento, período por psicólogo: buscando sugestões para superá-los. In:
nós estudado, pouco se falou sobre. A questão que C. F. PSICOLOGIA, Práticas emergentes e desafios
levantamos no início deste trabalho parece continuar para a formação (pp. 273-308). Casa do Psicólogo.
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