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1. Sobre o tema da Obra: O Protágoras é o primeiro dos diálogos maiores em extensão (...)
A perspetiva com que aborda estas questões (i.é, a definição das virtudes e as relações entre a
virtude e o conhecimento/saber) é maior do que aquela mantida nos diálogos breves
(Eutífron, Apologia, Críton...), uma vez que nela não se procura formular a definição de tal ou
tal virtude em concreto, mas determinar se a areté (excelência) é ensinável em termos gerais.
O carácter didáctico da excelência moral e política, que ali se discute – que é um tema de
maior interesse na época da democracia ilustrada por Péricles e um dos lemas da ideologia
dos Sofistas – remete à existência de uma epistemé ou techné politiké, sobre a qual os
pressupostos de Sócrates e de Protágoras são divergentes. No final do diálogo, assistimos a
uma curiosa mudança de posição entre os dois principais personagens: Protágoras, que
começou postulando como um facto evidente o ensino dessa areté (excelência moral e
política), desconfia de tal possibilidade, e Socrátes, que começou por se estranhar de tal
afirmação, vê-se a admitir que se a areté é conhecimento (um saber ou ciência do Bem),
como parece sugerir-se poderá ser susceptível de ensino (...)
A conclusão do Protágoras é como já dissemos, um tanto quanto surpreendente. Pois
chegamos à conclusão de que toda a virtude é um saber ou ciência do bem; a se a virtude é
saber, teria que ser possível ensiná-la, já que, como sabemos perfeitamente, o que é ciência se
ensina, e o que se ensina é ciência. Ora bem, paradoxalmente, é Sócrates, segundo vimos,
quem afirma que é ciência (saber ou ciencia intuitiva dos valores e do bem), quem nega que
seja ensinável, e Protágoras, quem pretendia ensiná-la, quem não admite que seja ciência.
(PLATÃO, Diálogos I, «Protágoras», GREDOS, pp. 489-495).