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MARCELO FELDHAUS
O Violinista
Alguns diziam que ele era muito estranho. Outros que era sobrenatural.
As notas mágicas que saiam de seu violino tinham um som diferente, por isso
para recebê-lo.
O maestro parou.
A orquestra parou.
O público parou.
Olhando para sua partitura, ele continua a tirar sons deliciosos de um violino com
problemas.
O maestro e a orquestra empolgados voltam a tocar.
sons do impossível.
O maestro pára.
A orquestra pára.
Como se fosse um contorcionista musical, ele tira todos os sons da única corda que
A orquestra se motiva.
Moral da história:
Nem tudo está perdido. Ainda existe uma corda e é tocando nela que você exercerá
o seu talento.
(Autor desconhecido)
percebê-las”.
3 APRENDENDO A OLHAR.................................................................................... 48
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 75
APÊNDICE ............................................................................................................... 78
Criciúma .................................................................................................................. 79
ANEXO..................................................................................................................... 80
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1 PENSAMENTOS INICIAIS...
Vim de uma pequena cidade do interior de Santa Catarina com um pouco mais de
espectador, ora como executor, e por assim ser inquieta-me saber como a
culturais desta cidade bem como a formação do olhar do público visitante que circula
espaços culturais.
a origem das cidades, seguida pelo histórico da cidade de Criciúma. Abro então a
construção do olhar? Esse olhar pode ser qualificado, aprimorado? Como se olha
uma produção artística? Uma exposição, uma peça de teatro, um concerto musical,
um monumento em espaço público? Como se olha para a cidade? (Ou) Que olhar
temos para a cidade? Estes são alguns dos vários questionamentos que surgem
quando lemos sobre a construção e a ampliação do olhar estético. Mais então como
alguém pode “construir” um olhar? Fecho o capítulo falando sobre o olhar sensível.
realizada com quarenta pessoas e que traz o foco da questão da pesquisa que
culturais da cidade.
Finalmente, nas considerações faço uma análise dos dados colhidos pela
mas servir como subsídio para a ampliação da discussão sobre Arte e Espaços
mesmo no país.
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“[...] a cidade é uma obra coletiva que desafia a natureza [...]. Ela nasce de
um processo de sedentarização e seu aparecimento delimita uma nova
relação homem/natureza: para fixar-se em um ponto para plantar é preciso
garantir o domínio permanente de um território”.
Balthazar (2001, p. 06), em sua dissertação, traz uma idéia sobre cidade:
cidades também que se criam vários ícones, como é o caso dos templos em que se
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Um dos primeiros dados que temos sobre o surgimento das cidades vem
dos zigurates, ou seja, templos que apareceram nas planícies da Mesopotâmia por
volta do terceiro milênio antes da era cristã. Com o plantio, cultivo e a colheita dos
alimentos criou-se uma relação mais íntima e permanente com o território ocupado.
espacialidade.
p. 19) diz:
esta diferença:
escolha, as quais devem ser levadas em conta para que políticas de democratização
governo na condução das ações culturais” (REIS apud NUSSBAUMER, 2005, p.03).
que guiam as ações de todos aqueles que atuam, de alguma forma, na condução de
percebo que a cidade não parece ser muito diferente de outras cidades brasileiras,
cidade de São Paulo, mostrou que existe “um desequílibrio e uma baixa
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grande parte dos bairros, favelas e periferias são apontados como “zonas sem
alguns endereços da cidade com uma breve descrição dos mesmos – que, além de
1995, p. 07). As várias etnias que deram origem a sua população fazendo coexistir
CATARINA, 2006).
2006).
ganhou destaque sendo o maior produtor nacional e, a região, uma das maiores
Revestimento Cerâmico. No seu subsolo abriga uma das maiores reservas minerais
de Criciúma entrou em crise, com demissão de 70% dos operários (SILVA, 2000). A
crise do setor carbonífero, deu surgimento ao setor cerâmico, que tornou-se uma
grande potência, seguido pela confecção, iniciativa das mulheres, que agregou boa
parte dos desempregados e veio preencher uma lacuna provocada pela crise: a
maior pólo estadual do setor de confecções, além de ser forte na indústria da moda
Estado, como importante pólo de apoio ao turismo [...]”. (SILVA, 2000, p. 216).
vitórias, trouxeram consigo vários aspectos econômicos e culturais, e isto pode ser
Modelo Caetano Sonego (figura 01) é uma antiga mina desativada, restaurada pela
Martins. A mina foi então reformada e reiniciou as atividades. Mas, seis meses após
a Valdir Darós. Para manter o funcionamento da mina é cobrado dos visitantes uma
2006, p. 01).
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O prédio que comporta o museu (figura 02) foi idealizado e construído por
museu para a cidade. A restauração do prédio foi iniciada em 1978, mantendo todas
cidade.
ano.
editado em 1974, a construção do monumento (figura 04) teve por objetivo marcar
Carbonífera de Araranguá.
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Praça Etelvina Luz e seu registro temporal da extração do carvão foi adulterado. No
local em que estava “Criciúma aos Homens do carvão 1913 – 1971” posteriormente
Localização: Centro
Fiúza Rocha, Santo Antônio, Lauro Müller e Barão do Rio Branco. O local onde está
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inserida pertencia a Pedro Benedet e era uma área muito baixa e úmida. Em 1946, a
quem visita a praça encontra algumas obras, como o busto do ex-prefeito da cidade
Addo Caldas Faraco, colocado ali em 1984 e o busto do Sr. Aníbal Alves Bastos,
Ferro D. Tereza Cristina em Criciúma. A casa foi erguida na década de 1920 e tinha
por objetivo abrigar o Agente Ferroviário da Estação Ferroviária e sua família. Vários
agentes moraram neste local até a década de 1970. Na década de 1980 funcionou
novo terminal urbano da cidade. Alguns setores entraram com ações na justiça e o
O prédio que abrigou a Casa da Cultura Prof. Neuza Nunes Vieira até o
mês de fevereiro de 1999 foi construído na década de 1940 para funcionar a sede
quando então, foi colocado o revestimento em granito nas paredes externas para
suas atividades. Neste local também são realizadas algumas exposições de arte.
O Edifício que abriga o Centro Cultural Jorge Zanatta (figura 09) foi
1996 quando todo o prédio passou a ser administrado pela Fundação Cultural de
Shopping e duas no Shopping Della Giustina e tem como perfil principal a exibição
Osvaldo Pinto da Veiga. Esta praça foi inaugurada em 1984 e recebeu este nome
as crianças pescavam.
usina foi uma das primeiras usinas elétricas da cidade de Criciúma. Desta forma, a
rua General Osvaldo Pinto da Veiga no bairro Próspera. Mas, a primeira capela de
madeira, permanecendo esta última dentro da outra por algum tempo. O anteprojeto
terreno, doou todos os eucaliptos para o andaime, alcatrão, as tesouras e uma soma
promoções.
encontram-se quadros da Via Sacra, feitos em têmpera sobre papel pelo artista
culturais da cidade por ser tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional como
da população.
edificaçãos: Paço Municipal Marcos Rovaris, Memorial Dino Gorini, Centro Cultural
INFORMATIVO, s/d).
INFORMATIVO, s/d).
Cultural Santos Guglielmi, tem capacidade para 749 lugares, 04 cabines de tradução
abril de 1925.
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Em 1960 a biblioteca foi instalada numa sala maior, na rua Santo Antônio,
Funcionou ainda durante muitos anos no prédio que foi sede da primeira
Cultura.
shows musicais é uma das alternativas para a apreciação das diversas lingagens
artísticas.
Arte surgiu em agosto de 2000. Neste local são expressas diversas linguagens
artístico-culturais existentes.
seu papel como centro de formação, reflexão e referência sobre arte para a
Catarinense (Unesc) e está em atividade desde 1997 atendendo o público por meio
(IPAT) da Universidade.
bugio e algumas aves e insetos. Em 2006 foi incluído ao acervo a coleção óssea de
Proteção Ambiental).
contadas de pai para filho e que se tornaram em vários casos a única fonte de
que sentiam – que atravessaram anos e permaneceram até hoje norteando vidas e
maneiras de agir. Além dessas histórias que preservam a memória dos povos, da
típicos, que podem unir laços familiares e universais, vistos em outros lugares e
incorporados à região.
hoje.
Dr. Raulino Reitz (CRI), fundado em 21 de junho de 1992. Sua função é identificar
pedra polida e lascada, urnas funerárias, pontas de flecha, vasos cerâmicos, dentre
www.unesc.net)
Criciúma.
3 APRENDENDO A OLHAR
formas artísticas como literatura, cinema, teatro, fotografia, pintura, música etc.
Podemos também nos expressar utilizando as escritas que são próprias dessas
linguagens. Aprender a olhar para o mundo através de novos pontos de vista, novas
Como se olha para a cidade? (Ou) que olhar temos para a cidade? Estes são alguns
ampliação do olhar estético. Mas então como alguém pode “construir” um olhar?
uma geração mais autônoma, crítica e autoral – participativa. Para isso, diz ela, é
instiguemos a ver, ouvir e movimentar-se na cidade, a partir dos convites que esta
lhes faz.
quando reconhecemos objetos. Assim, tudo que vemos acaba, mais cedo ou mais
Da mesma forma, uma pessoa nascida nas montanhas, que jamais tenha
pontilhão — por mais que tenha lido O velho e o mar, Moby Dick ou a Odisséia,
isso somos induzidos a acreditar no que vemos de forma tão contundente: uma
que vamos ampliando nosso olhar. Quando olhamos para uma cidade percebemos
informações é algo fantástico e muitas vezes na correria do dia a dia, todos estes
Um olhar atento pode não nos levar longe, mas fará uma enorme
uma igreja, ou Isaac Newton deitado debaixo de uma macieira. É claro que esses
vemos. E não deixa de ser interessante o fato de que, exatamente porque podemos
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"escrever" através delas. Lembro-me imediatamente, por exemplo, dos velhos filmes
dia a dia como, uma fotografia; um edifício; um outdoor; uma cidade inteira...
aprenderemos a ser seres mais sensíveis ao olhar, com uma informação mais
nosso dia a dia é um importante caminho para a construção de nosso olhar, para a
compreensão estética.
preocupação de ser bonito, mas de saber identificá-lo. O belo está em toda parte,
desde nossos objetos do cotidiano, nas ruas, na urbanização da cidade, nas praças,
na fisionomia das pessoas, no cinema, nos teatros, nas galerias e museus, nas
e leituras com outras pessoas, contribuindo para que elas também possam perceber
novo são relações que certamente são muito significativas ao nosso processo de
Museus é que vamos ter um olhar qualificado. Sem dúvida eles contribuem muito
para nosso aprendizado e repertório imagético, mas e a nossa cidade? Será que ela
também não nos oferece subsídio para ampliação do olhar? Será que estamos
memoriais e obras públicas otimizados pela cidade; temos ido ao teatro apreciar
diferentes dos outros, mostrando a diversidade que existe em cada ser humano,
como ser único dotado de potencial e criatividade. “É preciso conhecer mais para
compreender mais” (LEITE, 1997, p.07). É desta forma que ampliamos nosso olhar,
vivemos e também visitar outras descobrindo que equipamentos culturais elas têm a
nos oferecer fará com que nosso olhar seja educado e qualificado.
externo. “Ver, verbo passivo, provoca um prazer ou uma dor de caráter sensual.
Olhar, verbo ativo, supõe um ato deliberado, uma além do simples ato físico,
necessário querer olhar, e praticar o exercício do “o que olhar” ou “parar para olhar”
formas iremos ampliando o nosso olhar sensível, o olhar que consegue estar livre de
(1993, p. 348):
Quanto mais ampla for essa convivência com os tipos de arte, os estilos, as
épocas e os artistas, melhor. É só através desse contato aberto e eclético
que podemos afinar a nossa sensibilidade para as nuances e sutilezas de
cada obra, sem querer impor-lhe o nosso gosto e os nossos padrões
subjetivos, que são marcados historicamente pela época e pelo lugar em
que vivemos, bem como pela classe social a que pertencemos.
Lembraremos, ainda, que é na frequentação da obra que a
intersubjetividade pode se dar. É através dela que podemos encontrar com
o autor, sua época e também com nossos semelhantes [...] precisamos
aprender a sentir. E na nossa sociedade, dada a importância atribuída à
racionalidade e à palavra, não é raro tentarmos, sempre, enquadrar a arte
dentro desse tipo de perspectiva. Assumimos, então, tal distância da obra
que não é possível recebê-la através do sentimento [...] chorar ao assistir a
um drama ou a ouvir uma música não é sinal de que estejamos acolhendo a
obra através do sentimento.
Contudo vale ressaltar que de acordo com Aranha e Martins (1993), para
momento olhar, sem emitir juízos de gosto ou valor, mas sim de apreciar e buscar
Quando nos propomos a sentir a obra sem estar ligado/preso a conceitos, faremos a
não são para serem explicados, justificados, mas sim para serem sentidos!
escritos verbalmente.
cultura a ser analisada, período histórico ou até mesmo indivíduo em questão. Não
sobre ele.
Por um lado, parece ser possível a conceitualização da arte uma vez que
este objeto existe, nós o identificamos e nomeamos como arte e, enfim, existem os
artistas. Por outro lado, em arte, nenhum conceito até agora se sustentou, pois a
arte não é uma ciência exata, ao contrário, nela tudo muda e, ao mesmo tempo,
nada muda.
Posso aqui abrir espaço de diálogo com alguns teóricos que, enraizados
A obra de arte está dentro ali fora. É isto que faz dela um objeto especial –
um ser novo que o homem acrescenta ao mundo material, para torna-lo
mais humano. A arte não seria uma tentativa de explicação do mundo, mas
de assimilação de seu enigma. Se a ciência e a filosofia pretendem
explicação do mundo, esse não é o propósito da música, da poesia ou da
pintura. A arte, abrindo mão das explicações, nos induz ao convívio com o
mundo inexplicado, transformando sua estranheza em fascínio. (GULLAR
apud MORAIS, 1998, p.41).
Segundo Jorge Coli (1990 apud Leite, 2005, p.25), “a arte são certas
considerado como admirativo, ou seja, nossa cultura possui uma noção que
riqueza inesgotável” (Idem, p.104) e que “as obras, em sua fecundidade concreta,
são sempre mais do que nos dizem pretensas definições” (Ibidem, p.35). Sua
A arte é criada por indivíduos e isso é algo que nunca devemos esquecer, o
objeto de investigação deve ser sempre os artistas e suas obras, não os
estilos, os movimentos ou tendências que somente devem ser concebidos
como hipóteses do trabalho, destinadas a facilitar a investigação.
(BIALOSTOCKI apud MORAIS, 1998, p.59).
heróica:
Ele é um homem como qualquer outro. É sua ocupação fazer coisas, mas o
homem de negócios também faz certas coisas, entende? Por outro lado, a
palavra ‘arte’ me interessa muito. Se ela vem do Sânscrito, como ouvi
dizer, ela significa ‘fazer’. Agora todo mundo faz alguma coisa e aqueles
que fazem coisas em tela, com uma moldura, são chamados de artistas.
Mas o problema não termina aí. Como já disse, as opiniões ora divergem,
fundamenta somente como manifestação de sentimentos, vai muito mais além; ela é
mais do que isto. A técnica tem junção com a expressão e a arte torna-se social. O
próprio artista também é espectador de sua obra, ela deixa de estar pronta para
entrada para uma compreensão mais significativa das questões sociais, valores que
arte é vista como conhecimento: “A arte pode assumir diversos significados em suas
111).
dificuldade de sua definição do que seja arte, o fato é que ela está sempre presente
na história humana. Aliás, fazer arte é um dos fatores que diferencia o ser humano
produzida.
pelo homem. Essas produções são evidenciadas, ou pelo menos deveriam ser, em
vemos “que a cidade sempre exerceu uma espécie de fascinação sobre os seres
cidade em que vivemos. Ela educa? Forma? Como é nossa cidade? Como estão
Utilizados?
Olhar para as cidades pode ser um prazer especial, por mais comum que
possa parecer o panorama. Como obra arquitetônica, a cidade é uma
construção no espaço, mas uma construção em grande escala; uma coisa
só percebida no decorrer de longos períodos de tempo.
Cultura? Os bens culturais da cidade estão bem distribuídos e divulgados nos meios
de comunicação?
CIDADE DE CRICIÚMA
estudo de caso.
realidade atual.
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anda pelas ruas da cidade, estabeleci a seguinte pergunta: O que você costuma
olhar quando passeia pelas ruas da cidade? As repostas foram bem ecléticas. Dos
dado visível nas entrevistas. Como a cidade está organizada, assim como as cores e
fachadas dos prédios e lojas são apontados por três entrevistados. Um aspecto
bastante notável nas repostas é no que se refere às vitrines das lojas: dos quarenta
entrevistados, trinta e cinco apontam esta característica. Alguns vão mais a fundo,
manequins... Uma entrevistada traz em sua resposta que observa a roupa das
pessoas e o movimento delas na rua. A marca dos carros também é um dado que
pessoas que circulam nas ruas. Um aponta que gosta de andar pelas ruas e
monumentos, mas que não o faz por falta de tempo. Outra entrevistada também
comenta das calçadas e acrescenta a Igreja Matriz, os sons criados pelo movimento
seguintes respostas:
espaço cultural na cidade de Criciúma. Um fala que não consegue identificar o que
é um espaço cultural.
vinte questionários, embora muitos não o registram pelo nome oficial, colocando
somente “teatro”.
citado em quatro questionários. A Casa Ferroviária foi apontada em um. Outro dado
novo foi a Biblioteca Municipal, também destacada uma vez. Dois entrevistados
acima.
monumentos de arte da cidade, questionei: “Você lembra de ter visto alguma obra de
obras de Arte na cidade e que muitos nem sabem o que é uma obra de Arte. Dez
indicam que as obras de arte que viram na cidade até hoje foram em exposições no
Espaço Cultural da Universidade. Treze dizem que a única obra de que têm
Pinheirinho.
Uma entrevistada coloca que o único lugar que viu obras de arte foi no
dizem que visitam parentes ou ficam em casa. Outros apontam que gostam de
compras.
desempregados.
Outro item que compôs o questionário foi sobre o local e o tempo que o
dado essencial para a função da pesquisa, mas a torna mais pessoal, única. Busca
uma aproximação com o entrevistado uma vez que as perguntas não o trazem a
descritos no início do texto que apresentam a visão dos entrevistados, e logo a visão
recebem, então, uma análise mais densa que vem ao encontro das discussões
particularizado para a cidade de Criciúma, passando por seu histórico singular, seus
investigativo” (LEITE, 2006, p.03) permite reflexões e nos torna cidadãos mais
de cidadania com a percepção dos elementos que constituem a cidade faz parte da
pessoas olham para a cidade. O dia-a-dia frenético faz com que não contemplemos
cidade. Citam os mais divulgados. Será que as políticas públicas de Criciúma estão
poderiam pensar em uma forma de divulgação mais extensa, intensa e eficaz que
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da cidade passa por uma questão anterior: o que é uma obra de arte na cidade?
Respostas: “não sei definir o que é obra de arte”. “Não lembro de ter visto obra de
arte”. Concordo com Leite (2005), Aranha (1993), Buoro (1996) quando falam da
um bar, um museu, livres para visitação, seguro. Será que a Mina oferece estas
registram a história da cidade. Muitos deles são pouco conhecidos, mas que têm
muita história e merecem ser lembrados. Procuro destacar os equipamentos que vão
duas Igrejas são citadas por abrigarem obras de Arte de reconhecidos artistas desta
região, o que possibilita um espaço para a Arte uma vez que os entrevistados foram
atendimento?
Há quanto tempo não temos um espetáculo neste equipamento? Como está sua
Diante disto, qual será o perfil da população da cidade? O que será que
desejam assistir, contemplar? Estes são alguns questionamentos que servem para
futuras pesquisas.
e Extensão e Educação Estética - GEDEST, que não foi citado nas entrevistas, mas
percebo que muitos, nem eu mesmo conhecia até propor este levantamento. São
muitos locais que mantém viva a memória da cidade e que contam parte de sua
história da cidade, percebo que muitos estão pixados e danificados. A agressão aos
população precisa vivenciar sua arte e seus equipamentos culturais. Muitas destas
política de formação das cidades, ou seja, noto que na dinâmica de formação das
cidades, incluindo o próprio nome dado a lugares, ruas, bairros, é dado pelo usos e
Isto requer um estímulo dos próprios professores para que instiguem em seus
“olhares” que perpassam dos outdoors, vitrines, carros, pessoas às obras de arte e
espaços culturais da cidade. São muito poucos que destacam em suas entrevistas
Cultura das cidades pelos órgãos públicos, pelas escolas, universidades... formando
um cidadão que “olha” e não apenas “vê”, e que cuida de sua cidade tornando-a
(CALVINO, 1990).
conhecimentos. Talvez este possa ser um dos segredos para a convivência entre
trabalhar, circular e habitar. Os espaços livres, dizia o arquiteto, devem ser lugares
convida para o apreciar, que insira monumentos e obras de arte públicas, enfim,
(2006), é necessário que a cidade seja formadora e educadora. Que convide o ser
campo e nos arquivos históricos da cidade, possui vários espaços que contam a
história e mostram o trabalho dos artistas. O que quase não existe é a apropriação
destes espaços, bem como a vivência dos mesmos. A maioria das pessoas
arte precisa deixar de ser elitizada e alcançar as camadas populares, assim como
aconteceu na Pop Art1. É preciso que se pense uma arte para o povo na tentativa de
da cidade uma vez que a cidade não incentive e convide a este olhar. Outro aspecto
violência e a insegurança das cidades também faz com que as pessoas se isolem
de cultura; precisamos nos perceber como tal e usufruir museus, teatros e cinemas.
1
“Pop Art” é a abreviação do termo inglês “popular art” (arte popular). Não significa arte feita pelo povo, mas produzida para o consumo de
massa. Surgiu na Inglaterra em meados dos anos 50, mas realizou todo seu potencial na Nova York dos anos 60, quando dividiu com o
minimalismo as atenções do mundo artístico. Trata-se de um estilo artístico baseado no reprocessamento de imagens populares e de consumo.
Neste movimento artístico o épico foi substituído pelo cotidiano e o que se produzia em massa recebeu a mesma importância do era único
e irreproduzível; a distinção entre “arte elevada” e “arte vulgar” foi assim desaparecendo.
75
REFERÊNCIAS
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
FONSECA, Ruben. Contos Reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
OTT, Robert Willian. Ensinando Crítica nos Museus. In: BARBOSA, Ana Mãe (org).
Arte-educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997.
SILVA, Eunice Assine da. Conhecendo Santa Catarina: Opções Turísticas. Itajaí:
UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí, 2000.
Bibliografia Complementar:
BECKER, Karla Luciane. A cidade como ponto temático para a formação cultural
dos cidadãos. 2005. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Artes
Visuais. Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma. (mimeo).
COSTA, Fabíola Cirimbelli Búrigo. O olho que se faz olhar: os sentidos do “espaço
estético do colégio de aplicação da UFSC” para alunos do ensino fundamental.
Práticas Sociais e constituição do sujeito. 2004. Dissertação (Mestrado em
Educação). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. (mimeo).
APÊNDICE
79
O questionário tem o objetivo de reunir informações para uma pesquisa de campo, que
contemplará vários aspectos ligados ao olhar da população de Criciúma, sobre a arte e os
Espaços Culturais da cidade, e é parte da Monografia do Curso de Especialização em
Ensino da Arte da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC
........................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
ANEXO