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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DA ARTE

MARCELO FELDHAUS

OS ESPAÇOS CULTURAIS DE CRICIÚMA E A CONSTRUÇÃO DO


OLHAR: UM RECORTE DOS DIFERENTES OLHARES SOBRE A
CIDADE, A ARTE E OS EQUIPAMENTOS CULTURAIS

CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2006.


MARCELO FELDHAUS

OS ESPAÇOS CULTURAIS DE CRICIÚMA E A CONSTRUÇÃO


DO OLHAR: UM RECORTE DOS DIFERENTES OLHARES SOBRE A
CIDADE, A ARTE E OS EQUIPAMENTOS CULTURAIS

Monografia apresentada à Diretoria de Pós-


Graduação da Universidade do Extremo Sul
Catarinense- UNESC, para a obtenção do título
de especialista em Ensino da Arte

Orientador(a): Profª Drª Maria Isabel Leite


Co – Orientador(a): Profª Adriana Ganzer

CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2006.


A toda minha família, pais, irmãos,
sobrinhos, que mesmo distantes são a
razão de minha existência.
Aos meus queridos amigos Fernando,
Katiana, Juliano, Valter, Luciane e em
especial a querida Francielle, pelo incentivo,
paciência, contribuições e apoio.
Às minhas orientadoras Profª Maria Isabel e
Profª Adriana pela condução de minha
produção.
À todos que direta ou indiretamente
contribuíram para a conclusão deste
trabalho.
“Se você tivesse acreditado na minha
brincadeira de dizer verdades, teria ouvido
as verdades que eu insisto em dizer
brincando. Falei muitas vezes como um
palhaço, mas nunca desacreditei na
seriedade da platéia que sorria”. (Chaplin).
AGRADECIMENTOS

Deixo meu agradecimento a todos que colaboraram na produção de meu

trabalho com a mensagem a seguir:

O Violinista

Era uma vez um grande violinista chamado Paganini.

Alguns diziam que ele era muito estranho. Outros que era sobrenatural.

As notas mágicas que saiam de seu violino tinham um som diferente, por isso

ninguém queria perder a oportunidade de ver seu espetáculo.

Numa certa noite, o palco de um auditório repleto de admiradores estava preparado

para recebê-lo.

A orquestra entrou e foi aplaudida.

O maestro foi ovacionado.

Mas quando a figura de Paganini surgiu, triunfante, o público delirou.

Paganini coloca seu violino no ombro e o que se assiste a seguir é indescritível.

Breves e semibreves, fusas e semifusas, colcheias e semicolcheias parecem ter

asas e voar com o toque daqueles dedos encantados.

De repente, um som estranho interrompe o devaneio da platéia.

Uma das cordas do violino de Paganini arrebenta.

O maestro parou.

A orquestra parou.

O público parou.

Mas Paganini não parou.

Olhando para sua partitura, ele continua a tirar sons deliciosos de um violino com

problemas.
O maestro e a orquestra empolgados voltam a tocar.

Mal o público se acalmou quando de repente, um outro som perturbador derruba a

atenção dos assistentes.

Uma outra corda do violino de Paganini se rompe.

O maestro parou de novo.

A orquestra parou de novo.

Paganini não parou.

Como se nada tivesse acontecido, ele esqueceu as dificuldades e avançou tirando

sons do impossível.

O maestro e a orquestra impressionados voltam a tocar.

Mas o público não poderia imaginar o que iria acontecer a seguir.

Todas as pessoas, pasmas, gritaram oohhh!

Que ecoou pela abobadilha daquele auditório.

Uma terceira corda do violino de Paganini se quebra.

O maestro pára.

A orquestra pára.

A respiração do público pára.

Mas Paganini não para.

Como se fosse um contorcionista musical, ele tira todos os sons da única corda que

sobrara daquele violino destruído.

Nenhuma nota foi esquecida.

O maestro empolgado se anima.

A orquestra se motiva.

O público parte do silêncio para a euforia, da inércia para o delírio.

Paganini atinge a glória.


Seu nome corre através do tempo.

Ele não é apenas um violinista genial.

É o símbolo do profissional que continua diante do impossível.

Moral da história:

Nem tudo está perdido. Ainda existe uma corda e é tocando nela que você exercerá

o seu talento.

Tocando nela é que você irá vibrar.

Aprenda a aceitar que a vida sempre lhe deixará a última corda.

Quando você estiver desanimado, nunca desista.

Ainda existirá a corda da persistência inteligente, do “tentar mais uma vez”

(Autor desconhecido)

Que o exemplo de Paganini seja inspiração para todos que necessitam de

incentivo, ânimo e inspiração para vencer desafios.

À todos, sem exceção o meu muito obrigado!


“A educação em arte só pode propor um

caminho: o da convivência com as obras de

arte. Aquelas que estão assim rotuladas em

museus e galerias, as que estão em praças

públicas, as que estão em bancos, em

repartições do governo, nas casas de

amigos e conhecidos. Também aquelas,

anônimas, que encontramos às vezes numa

vitrina, numa feira, nas mãos de um artesão.

As que estão em alguns cinemas, teatros,

na televisão e no rádio. As que estão nas

ruas: certos edifícios, casas, jardins,

túmulos. Passamos por muitas delas, todos

os dias, sem vê-las. Por isso, é preciso uma

determinada intenção de procurá-las, de

percebê-las”.

(ARANHA E MARTINS, 1993, p.347)


RESUMO

A presente pesquisa apresenta e discute as obras de arte e os equipamentos


culturais da cidade de Criciúma, bem como a formação do olhar do público visitante
que circula nestes espaços cotidianamente, muitas vezes sem se dar conta de
apreciar, contemplar e valorizar os espaços destinados a arte e a cultura na cidade.
Olhar de modo diferente, ver, de fato, aquilo que geralmente nos passa
despercebido, contemplar plenamente a beleza que está a nossa volta, à natureza,
às coisas, à arte, às pessoas. Apresenta uma abordagem de cunho qualitativo, uma
vez que não pretende medir e comprovar fatos. É descritiva, pressupondo uma
pesquisa de campo através de questionários com perguntas semi-estruturadas.
Contudo verificou-se com este trabalho a real necessidade de preservar e divulgar
os equipamentos culturais e obras de Arte da cidade uma vez que muitos
entrevistados desconheciam as opções de Arte e Cultura que existem em Criciúma.
A construção, ampliação e qualificação do nosso olhar, só se dará com a constante
visitação em mostras, peças teatrais, musicais, espetáculos de dança, cinema
compreendendo a cidade como espaço de cultura com amplas possibilidades para o
desenvolvimento da educação estética e ampliação do repertório artístico-cultural.

Palavras-chave: cidade; equipamentos culturais; construção do olhar;


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Mina Modelo Caetano Sônego ........................................................... 24

Figura 02 – Museu Augusto Casagrande ............................................................. 25

Figura 03 – Monumento ao Mineiro....................................................................... 27

Figura 04 – Memorial 20 de Novembro ................................................................. 28

Figura 05 – Praça do Congresso ........................................................................... 29

Figura 06 – Centro Cultural Jorge Zanatta ........................................................... 32

Figura 07 – Cinemas – Arco-íris Cinemas ............................................................ 33

Figura 08 – Praça da Chaminé............................................................................... 34

Figura 09 – Igreja Matriz São Paulo Apóstolo ...................................................... 37

Figura 10 – Memorial Dino Gorini.......................................................................... 39

Figura 11 – Teatro Municipal Elias Angeloni........................................................ 40

Figura 12 – Mostras de Arte no Espaço Cultural Unesc ..................................... 44

Figura 13 – Museu da Infância............................................................................... 46

Figura 14 – Monumento a Anistia.......................................................................... 47


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

CBCA – Companhia Brasileira Carbonífera Araranguá

CCU – Companhia Carbonífera de Urussanga

CEIC – Centro de Educação Infantil de Criciúma

CNP – Conselho Nacional do Petróleo

COCALIT – Empresa Coque Catarinense

CODEPLA – Companhia de Desenvolvimento e Planejamento Urbano

CSN – Carbonífera Siderúrgica Nacional

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral

FCC – Fundação Cultural de Criciúma

FUCRI – Fundação Educacional de Criciúma

GEDEST – Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Estética

MUESC – Museu Universitário do Extremo Sul Catarinense

ONG – Organização Não Governamental

PMC – Prefeitura Municipal de Criciúma

RFSSA – Rede Ferroviária Federal SA

SESC – Serviço Social do Comércio

UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura


SUMÁRIO

1 PENSAMENTOS INICIAIS... ................................................................................. 13

2 O INÍCIO DE TUDO ... A ORGANIZAÇÃO DAS CIDADES.................................. 16

2.1 Cidades e Equipamentos Culturais................................................................. 18

2.2 Conhecendo a Cidade de Criciúma e seus equipamentos culturais ........... 21

2.2.1 Histórico do município de Criciúma/SC ...................................................... 21

2.2.2 Mina Modelo Caetano Sonego...................................................................... 23

2.2.3 Museu Augusto Casagrande ........................................................................ 25

2.2.4 Monumento ao Mineiro ................................................................................. 26

2.2.5 Memorial 20 de Novembro ............................................................................ 28

2.2.6 Praça do Congresso...................................................................................... 28

2.2.7 Casa do Agente Ferroviário .......................................................................... 30

2.2.8 Casa da Cultura Neuza Nunes Vieira ........................................................... 30

2.2.9 Centro Cultural Jorge Zanatta ...................................................................... 31

2.2.10 Salas de Cinema .......................................................................................... 33

2.2.11 Praça da Chaminé........................................................................................ 33

2.2.12 Igreja Matriz Nossa Senhora da Salete ...................................................... 35

2.2.13 Igreja Matriz São Paulo Apóstolo ............................................................... 36

2.2.14 Paço Municipal............................................................................................. 37

2.2.15 Memorial Dino Gorini .................................................................................. 39

2.2.16 Centro Cultural Santos Guglielmi .............................................................. 40

2.2.17 Teatro Municipal Elias Angeloni................................................................. 40

2.2.18 Teatro de Arena ........................................................................................... 41

2.2.19 Biblioteca Pública Municipal Donatila Borba ............................................ 41

2.2.20 Pavilhão de Exposições José Jair Conti ................................................... 42

2.2.21 Espaço Cultural Unesc – Toque de Arte.................................................... 43


2.2.22 MUESC – Museu Universitário do Extremo Sul Catarinense ................... 44

2.2.23 Museu da Infância........................................................................................ 46

2.2.24 Monumento à Anistia .................................................................................. 47

3 APRENDENDO A OLHAR.................................................................................... 48

3.1 Construção do Olhar Sensível......................................................................... 51

3.2 Alguns pensamentos sobre a busca de definições sobre Arte.................... 55

3.3 Arte, Cidade e Formação Cultural ................................................................... 58

4 REUNINDO E TRANSCREVENDO INFORMAÇÕES E OLHARES SOBRE A

CIDADE DE CRICIÚMA ........................................................................................... 61

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 75

APÊNDICE ............................................................................................................... 78

APENDICE A – Questionário Aplicado a uma amostra da população de

Criciúma .................................................................................................................. 79

ANEXO..................................................................................................................... 80
13

1 PENSAMENTOS INICIAIS...

“Olha com atenção tudo o que pode ser visto:


fachadas, telhados, portas, janelas,
cartazes pregados nas paredes, letreiros comerciais,
luminosos ou não, buracos nas calçadas,
latas de lixo, bueiros, o chão que pisa,
passarinhos bebendo água nas poças,
veículos e principalmente pessoas.” (FONSECA 1994)

Desde 2001 moro na cidade de Criciúma e vivencio o dia-a-dia da cidade.

Vim de uma pequena cidade do interior de Santa Catarina com um pouco mais de

1.500 habitantes com o intuito de buscar qualificação no Curso de Graduação em

Artes Visuais da UNESC. Formado há pouco mais de um ano, concluo agora o

trabalho do Curso de Especialização em Ensino da Arte em busca de qualificação da

trajetória profissional e realização pessoal.

Sempre me integrei às propostas culturais existentes na cidade, ora como

espectador, ora como executor, e por assim ser inquieta-me saber como a

população de Criciúma percebe a Arte e os Espaços Culturais existentes na cidade,

sendo esta então a questão da pesquisa apresentada ao longo deste trabalho.

Buscarei, assim, perceber e analisar o olhar da população criciumense perante a

arte e seus equipamentos culturais.

Esta pesquisa apresentará e discutirá as obras de arte e os equipamentos

culturais desta cidade bem como a formação do olhar do público visitante que circula

nestes espaços cotidianamente muitas vezes sem se dar conta de apreciar,

contemplar e valorizar os espaços destinados a arte e a cultura na cidade.

A pesquisa contempla uma abordagem de cunho qualitativo, uma vez que

não pretende medir e comprovar fatos. É descritiva, pressupondo uma pesquisa de

campo através de questionário com perguntas semi-estruturadas aplicadas a um


14

público de aproximadamente quarenta pessoas que circulam dentro do campus

universitário, escolhido por abrigar uma grande variedade de olhares de diferentes

espaços da cidade e também de fora da cidade.

Para entendermos como é o olhar da população criciumense aos

equipamentos culturais e a arte precisaria compreender como se dá a construção do

olhar, sua qualificação. Como é a formação de uma cidade e a criação de seus

espaços culturais.

Meu trabalho será desenvolvido em quatro capítulos. Para compreender

os equipamentos culturais e a arte de uma cidade, no primeiro capítulo irei investigar

a origem das cidades, seguida pelo histórico da cidade de Criciúma. Abro então a

discussão sobre equipamentos culturais das cidades, sua formação, distribuição,

apresentando as dificuldades de se manter e organizá-los. No próximo título trato

dos equipamentos culturais da cidade de Criciúma, seus registros, sua história e

desenvolvimento com o passar dos anos, acompanhado de reflexões sobre sua

visitação, divulgação e conservação.

No segundo capítulo, falo da Construção do Olhar. Como se dá a

construção do olhar? Esse olhar pode ser qualificado, aprimorado? Como se olha

uma produção artística? Uma exposição, uma peça de teatro, um concerto musical,

um monumento em espaço público? Como se olha para a cidade? (Ou) Que olhar

temos para a cidade? Estes são alguns dos vários questionamentos que surgem

quando lemos sobre a construção e a ampliação do olhar estético. Mais então como

alguém pode “construir” um olhar? Fecho o capítulo falando sobre o olhar sensível.

No terceiro capítulo apresento a transcrição dos dados da pesquisa

realizada com quarenta pessoas e que traz o foco da questão da pesquisa que

busca perceber como a população de Criciúma olha para a arte e os equipamentos


15

culturais da cidade.

Finalmente, nas considerações faço uma análise dos dados colhidos pela

pesquisa apresentando questionamentos e caminhos para se refletir sobre nosso

olhar pela cidade e a necessidade de criação de políticas públicas que repensem e

ressignifiquem estes espaços.

Minha pesquisa não pretende, de maneira nenhuma, esgotar este tema,

mas servir como subsídio para a ampliação da discussão sobre Arte e Espaços

Culturais da cidade. Ao optar por discutir os espaços da cidade de Criciúma, estou

deixando de lado um imenso universo de possibilidades que temos fora da cidade ou

mesmo no país.
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2 O INÍCIO DE TUDO ... A ORGANIZAÇÃO DAS CIDADES

A eterna novidade do mundo

O meu olhar é nítido como um girassol


Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda...
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto.
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
(Alberto Caeiro/ Fernando Pessoa, 1914)

As cidades surgem a partir do momento em que se inicia a

sedentarização. Como nos diz, Rolnik (2004, p. 08):

“[...] a cidade é uma obra coletiva que desafia a natureza [...]. Ela nasce de
um processo de sedentarização e seu aparecimento delimita uma nova
relação homem/natureza: para fixar-se em um ponto para plantar é preciso
garantir o domínio permanente de um território”.

Balthazar (2001, p. 06), em sua dissertação, traz uma idéia sobre cidade:

A cidade é um espaço, a qual a sociedade que o usa e o habita, e que nele


vive, muda-o e transforma-o constantemente. Estas ações (de mutação)
advindas da sociedade, fazem com que o espaço cresça e se modifique de
uma forma genérica em diversos campos, seja no social e cultural, assim
como no político ideológico, entre outros. A sociedade tornou-se a principal
responsável pelas modificações que acontecem no espaço, apresentando
uma relação de interferência na sua estrutura, na sua cultura e na sua
história. Isto acontece na maioria das vezes, de uma forma inconsciente,
pois a sociedade age e atua gradualmente no seu dia-a-dia, metaforseando
o espaço e dominando-o, uma vez que é a sociedade que domina os
elementos principais que constituem o espaço.

Desta forma, a origem das cidades vai modificar a natureza, o ambiente e

conseqüentemente surgirá a organização da vida social e os gestores. É nas

cidades também que se criam vários ícones, como é o caso dos templos em que se
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adoravam dos deuses que se acreditava possibilitar ao ser humano o domínio do

território e a gestão coletiva.

Um dos primeiros dados que temos sobre o surgimento das cidades vem

dos zigurates, ou seja, templos que apareceram nas planícies da Mesopotâmia por

volta do terceiro milênio antes da era cristã. Com o plantio, cultivo e a colheita dos

alimentos criou-se uma relação mais íntima e permanente com o território ocupado.

A invenção do tijolo cozido – zigurate trás a possibilidade de unidade e

espacialidade.

Os templos, como já coloquei acima, eram centralizados e as casas foram

se agrupando em torno dos mesmos, lembrando o efeito de imã. Esta disposição

induziu a existência de um trabalho organizado, pensado e projetado. Rolnik (1994,

p. 19) diz:

Ao pensar a cidade [...] não paramos de relembrar que construir e morar em


cidades implica necessariamente viver de forma coletiva. Na cidade nunca
se está só, mesmo que o próximo ser humano esteja para além da parede
do apartamento vizinho ou num veículo de trânsito. O homem só no
apartamento ou o indíviduo dentro do automóvel é um fragmento de um
conjunto, parte de um coletivo.

De acordo com a autora, esta coletividade este conjunto faz surgir o

conceito de massa como “aglomeração densa de indivíduos cujos movimentos e

percursos são permanentemente dirigidos” (idem, p. 19).

Desde a organização urbana mais antiga até a mais contemporânea, da

maior até a menor, existe a necessidade de organização e apropriação que faz

surgir um “poder urbano”, uma autoridade político-administrativa.

Nos primeiros “modelos” de cidades, este poder é definido como realeza,

ou seja, os reis e rainhas e sacerdotes. Muitas foram as mudanças ocorridas nas

cidades até a contemporaneidade, a industrialização, capitalismo.....


18

As cidades antigas tinham uma arquitetura fechada, ou seja, vigiada, com

o intuito de se defender de inimigos internos e externos. Já na cidade atual,

contemporânea, este fenômeno é inverso, pois nossas cidades estendem-se ao

infinito caracterizando a velocidade da circulação. Rolnik (1994, p. 09) nos aponta

esta diferença:

De Babel a Brasília, como surgiu e se transformou a cidade? O próprio


espaço urbano se encarrega de contar parte de sua história. A arquitetura,
esta natureza fabricada, na perenidade de seus materiais, tem esse dom de
durar, permanecer,ligam ao tempo os vestígios de sua existência. Por isso,
além de continente das experiências humanas, a cidade é também um
registro, uma escrita, materialização de sua própria história.

2.1 Cidades e Equipamentos Culturais

Equipamentos culturais são espaços de acolhimento e divulgação –

alguns momentos também de criação – de práticas, bens e produtos culturais como

os teatros, as salas de cinema, galerias de arte, museus e bibliotecas. Esses

espaços são gerenciados normalmente por governo federal, estadual ou municipal

ou pela iniciativa privada, bem como por Ong’s, associações comunitárias ou

culturais. (BOTELHO apud NUSSBAUMER, 2005).

Os equipamentos culturais de uma cidade são locais privilegiados de

consumo cultural, abrangendo uma diversidade de espectadores de diferentes níveis

sociais e com diferentes formas de apreciar/olhar as obras e produtos culturais.

Essas diversidades devem ser levadas em consideração, pois é “correlata

a uma pluralidade de padrões de cultura, que evidencia distintas possibilidades de

escolha, as quais devem ser levadas em conta para que políticas de democratização

da cultura deixem de se apoiar em premissas duvidosas, quase sempre não

explicitadas” (BOTELHO apud NUSSBAUMER, 2005, p.02).


19

Conhecer a política cultural de uma cidade é essencial para que se possa

desenvolver uma análise e reflexão dos seus equipamentos (NUSSBAUMER, 2005).

Coelho comenta sobre política cultural como “programa de intervenções realizadas

pelo Estado, entidades privadas ou grupos comunitários com o objetivo de satisfazer

as necessidades culturais da população e promover o desenvolvimento de suas

representações simbólicas” (COELHO apud NUSSBAUMER, 2005, p.02). Essas

necessidades não são pré-estabelecidas pela população, mas resultantes da

“compreensão que os segmentos atuantes no campo político e cultural têm dessas

necessidades e dos interesses envolvidos” (NUSSBAUMER, 2005, p.02).

Contudo, cabe ressaltar que “políticas culturais não são somente um

conjunto de valores, princípios, instrumentos e atitudes que guiam a ação do

governo na condução das ações culturais” (REIS apud NUSSBAUMER, 2005, p.03).

Sendo assim, trata-se de um “conjunto de valores, princípios, instrumentos e atitudes

que guiam as ações de todos aqueles que atuam, de alguma forma, na condução de

ações no campo da cultura, no mercado da cultura” (NUSSBAUMER, 2005, p.02).

Neste sentido todos os equipamentos culturais de uma cidade são parte

de “universo global por onde circulam, são produzidas e consumidas as obras de

cultura e arte” (COELHO apud NUSSBAUMER, 2005, p.02).

Ao analisarmos os equipamentos culturais da cidade de Criciúma,

percebo que a cidade não parece ser muito diferente de outras cidades brasileiras,

no que se refere distribuição espacial desigual e a falta de estudos, valorização e

conservação mais efetiva de seus equipamentos.

Isaura Botelho (apud Nussbaumer, 2003, p. 02), em um estudo sobre a

cidade de São Paulo, mostrou que existe “um desequílibrio e uma baixa
20

correspondência entre o crescimento urbano e a distribuição dos equipamentos

públicos e privados de cultura”. Conforme a autora:

São as áreas centrais e mais bem servidas em matéria de transporte público


que concentram a maioria dos equipamentos que se explica, sobretudo,
pelo papel da população que habita essas regiões – aquelas parcelas da
população que apresentam os índices mais altos de escolaridade e de
renda familiar [...] Pode-se dizer que a mobilidade territorial e o uso de
equipamentos culturais se convertem, cada vez mais, em direito e privilégio
das classes com maior poder aquisitivo (BOTELHO apud NUSSBAUMER,
2005, p.03).

Já na cidade do Rio de Janeiro, pode-se observar uma grande

concentração de equipamentos culturais em uma área central da cidade, ou seja,

grande parte dos bairros, favelas e periferias são apontados como “zonas sem

cultura”, resultado de um sistema que “estimula e acentua as desigualdades também

no que se refere as possibilidades de lazer e fruição de bens culturais” (JACQUES

apud NUSSBAUMER, 2005, p.03).

Em relação à Criciúma, são ainda mais raros e dispersos os estudos

realizados sobre os equipamentos culturais da cidade, assim como não existem

dados e informações sistematizadas que permitam avaliar o seu funcionamento, a

efetiva utilização e a importância dos mesmos no contexto em que se inserem. Não

existe até o presente sequer um mapeamento sistemático e completo desses

equipamentos. Encontrei apenas algumas informações em um guia de museus do

Estado de Santa Catarina, informações no arquivo histórico da cidade, e algumas

notas em um site de um simpósio que aconteceu na cidade e que lista apenas

alguns endereços da cidade com uma breve descrição dos mesmos – que, além de

desatualizados e algumas informações descompassadas no arquivo histórico do

município. Desta forma analisarei os principais equipamentos culturais e obras

públicas da cidade de Criciúma.


21

2.2 Conhecendo a Cidade de Criciúma e seus equipamentos culturais

2.2.1 Histórico do município de Criciúma/SC

Criciúma é uma cidade do sul do Brasil, que reforça as características do

seu Estado - Santa Catarina, considerado “um mosaico étnico-cultural” (SANTOS,

1995, p. 07). As várias etnias que deram origem a sua população fazendo coexistir

uma variada gama de costumes e atividades econômicas, são as responsáveis pela

“obra de arte” criada pela miscigenação.

Localizada 205km ao sul da capital do Estado, Florianópolis, Criciúma

possui aproximadamente 185.000 habitantes, em uma área de 209,8km2, 46m

acima do nível do mar, sob clima temperado e está próxima às cidades de

Araranguá, Içara, Morro da Fumaça, Urussanga, Siderópolis e Nova Veneza.

(SANTA CATARINA, 2006).

Fundada em 06 de janeiro de 1880 como Vila de São José de Cresciúma,

a atual Criciúma foi colonizada principalmente por italianos, alemães, poloneses,

portugueses e africanos, no final do século passado (SILVA, 2000; SANTA

CATARINA, 2006).

O território geográfico do município de Criciúma, antes da chegada dos

imigrantes europeus, era ocupado por populações de botocudos, denominados

pelos antropólogos de Xokleng (NUERNBERG apud ROSSO, 2004).

No ciclo da imigração européia do século XIX, chegaram a Criciúma 139

pessoas, vindas das regiões de Veneza e Treviso, na Itália. Esses imigrantes, a

exemplo do que acontecia no restante do país, desbravaram a região, passando por


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dificuldades advindas de fenômenos naturais e dos conflitos com os habitantes

nativos da região; estabeleceram moradia, construíram estradas e escolas e tinham

a agricultura como principal atividade econômica. A partir de 1890 chegam as

primeiras famílias de poloneses, seguidas de imigrantes alemães e dos

descendentes de portugueses vindos da região de Laguna (SANTA CATARINA,

2006).

O desenvolvimento econômico deu-se em torno da extração do carvão

mineral, seguido pelo setor de revestimento cerâmico setor no qual o município

ganhou destaque sendo o maior produtor nacional e, a região, uma das maiores

produtoras de pisos e azulejos do mundo (SILVA, 2000; SANTA CATARINA, 2006).

Assim, Criciúma é conhecida por ser a Capital Brasileira do Carvão e do

Revestimento Cerâmico. No seu subsolo abriga uma das maiores reservas minerais

do País (SANTA CATARINA, 2006, p. 01).

Em 1925, Criciúma é emancipada a partir de desmembramento do

município de Araranguá. (NUERNBERG apud ROSSO, 2004).

Com a política econômica de importação do carvão, em 1990 a economia

de Criciúma entrou em crise, com demissão de 70% dos operários (SILVA, 2000). A

crise do setor carbonífero, deu surgimento ao setor cerâmico, que tornou-se uma

grande potência, seguido pela confecção, iniciativa das mulheres, que agregou boa

parte dos desempregados e veio preencher uma lacuna provocada pela crise: a

confecção de roupas. (CARDOSO, 2006; SILVA, 2000). Atualmente, Criciúma

também se destaca como o terceiro maior pólo nacional na produção de jeans e o

maior pólo estadual do setor de confecções, além de ser forte na indústria da moda

e vestuário, de plásticos descartáveis, de tintas e de vernizes (SILVA, 2000). E ainda

metalúrgicas, mecânicas e material elétrico, embalagem de papel e papelão, editorial


23

e gráfico, alimentos e bebidas, madeira, móveis e construção civil. (RADARSUL,

2006). “Criciúma é a principal cidade da região e o pólo econômico do Sul do

Estado, como importante pólo de apoio ao turismo [...]”. (SILVA, 2000, p. 216).

A diversidade étnica instalada em Criciúma, sua história de lutas e

vitórias, trouxeram consigo vários aspectos econômicos e culturais, e isto pode ser

observado nos equipamentos culturais distribuídos pela cidade.

Com vistas a identificar as muitas possibilidades de que a cultura possa

ser vivenciada pelos criciumenses, a seguir, serão descritos os principais

equipamentos culturais da cidade.

2.2.2 Mina Modelo Caetano Sonego

Localização: Bairro Mina Brasil

Tida como uma das principais atrações turísticas da cidade, a Mina

Modelo Caetano Sonego (figura 01) é uma antiga mina desativada, restaurada pela

prefeitura municipal e aberta a visitação em 1984. (SILVA, 2000, p.102).

A Mina Modelo Caetano Sonego localiza-se no bairro Mina Brasil, em


Criciúma. Foi inaugurada em 04/12/1984. Até 1991, a manutenção e
funcionamento da mina eram de responsabilidade da Prefeitura Municipal. A
partir do ano citado, foi terceirizada pela firma pertencente a Nelcir Antônio
Gava. Segundo o Sr. Nelcir, a mina que se chamava “Mina Brasil”, pertencia
ao empresário Pedro Milanez. Aberta por volta de 1920, explorou o carvão
em torno de 37 anos.
24

Figura 01 – Mina Modelo Caetano Sônego

Fonte: disponível em www.radarsul.com.br/criciúma

Mais tarde, este empresário vendeu a concessão de exploração do

subsolo para a empresa Coque Catarinense – COCALIT, na pessoa de Edgar

Martins. A mina foi então reformada e reiniciou as atividades. Mas, seis meses após

o reinício, os trabalhos foram embargados pelos órgãos competentes de amparo ao

meio ambiente do município, por situar-se muito próxima ao centro da cidade.

A Prefeitura, então, obteve concessão em 1982 com objetivo de

transformar o local em lugar de visitação pública. As terras da superfície pertencem

a Valdir Darós. Para manter o funcionamento da mina é cobrado dos visitantes uma

taxa, sendo que, em média, visitam o lugar cerca de 50 pessoas diariamente

(ARQUIVO HISTÓRICO, 1998).

“A Mina Modelo Caetano Sonego, única mina de carvão aberta à visitação

pública no Brasil, permite uma visão da evolução histórica da riqueza extrativa da

cidade. Em seu interior há uma capela, um museu e um bar.” (SANTA CATARINA,

2006, p. 01).
25

Os dados apresentados a seguir foram retirados do Arquivo Histórico

Pedro Milanez, datado de 11 de setembro de 1998.

2.2.3 Museu Augusto Casagrande

Localização: Bairro Comerciário

O prédio que comporta o museu (figura 02) foi idealizado e construído por

Augusto Casagrande em torno de 1920. Na época de sua construção não havia

residência no lugar, e o local ficou conhecido por “casarão”.

Figura 02 – Museu Augusto Casagrande

FONTE: disponível em www.satc.edu.br

A família Joaci Casagrande, herdeiros de Augusto Casagrande, doou o

prédio em19/05/1978, com o compromisso da administração municipal construir um


26

museu para a cidade. A restauração do prédio foi iniciada em 1978, mantendo todas

as características da época de sua construção, inclusive as pinturas internas. A

inauguração do museu deu-se em 09/01/1980, nas comemorações do centenário da

cidade.

O museu abriga um grande acervo: móveis, utensílios, roupas, armas,

documentos, fotografias, objetos de uso pessoal e doméstico, peças de arte sacra e

numismática. Além dessas peças, encontramos também objetos que rememoram a

mineração e algumas peças indígenas.

2.2.4 Monumento ao Mineiro

Localização: Praça Nereu Ramos – Centro

A inauguração do monumento deu-se em 29 de dezembro de 1946, na

Praça Nereu Ramos, em frente à Igreja São José, durante a realização do

Congresso Eucarístico, ocorrido na cidade nos dias 25 a 29 de dezembro do mesmo

ano.

De acordo com registros encontrados no Livro da História de Criciúma,

editado em 1974, a construção do monumento (figura 04) teve por objetivo marcar

os 33 anos da “implantação no sul catarinense, da indústria carbonífera”. A figura

esculpida representa o operário Manoel Costa, trabalhador da Companhia

Carbonífera de Araranguá.
27

Figura 03 – Monumento ao Mineiro

FONTE: Arquivos do Pesquisador

FONTE: Arquivos do Pesquisador

Em 1971, o monumento foi transferido da Praça Nereu Ramos para a

Praça Etelvina Luz e seu registro temporal da extração do carvão foi adulterado. No

local em que estava “Criciúma aos Homens do carvão 1913 – 1971” posteriormente

buscou-se registrar a primeira inscrição como data histórica da inauguração do

monumento, presente atualmente junto ao memorial.

O mineiro de bronze em uma das praças da cidade estimula, no

imaginários de quem passa, a memória do trabalho da mineração.


28

2.2.5 Memorial 20 de Novembro

Localização: Praça Nereu Ramos

Este monumento (figura 05) foi reivindicação de grupos étnicos afro

descendentes e foi construído em 1996.

Figura 04 – Memorial 20 de Novembro

FONTE: Arquivos do Pesquisador

2.2.6 Praça do Congresso

Localização: Centro

A Praça do Congresso (figura 07) é contornada pelas ruas Engenheiro

Fiúza Rocha, Santo Antônio, Lauro Müller e Barão do Rio Branco. O local onde está
29

inserida pertencia a Pedro Benedet e era uma área muito baixa e úmida. Em 1946, a

cidade sediou o Congresso Eucarístico Nacional. Após este evento, a população

passou a chamá-la de “Praça do Congresso”.

Figura 05 – Praça do Congresso

FONTE: Arquivos do Pesquisador

No governo de 1966-1970, o logradouro foi drenado, pavimentado e

ajardinado. Também foi construído um parque infantil e um lago artificial. Atualmente

quem visita a praça encontra algumas obras, como o busto do ex-prefeito da cidade

Addo Caldas Faraco, colocado ali em 1984 e o busto do Sr. Aníbal Alves Bastos,

instalado no local em 1952.


30

É neste local que se realiza o Espaço Criativo, uma feira de artesanato no

2º Domingo de cada mês.

2.2.7 Casa do Agente Ferroviário

Localização: Ao lado do terminal central de ônibus

A Casa do Agente Ferroviário está ligada a construção da Estrada de

Ferro D. Tereza Cristina em Criciúma. A casa foi erguida na década de 1920 e tinha

por objetivo abrigar o Agente Ferroviário da Estação Ferroviária e sua família. Vários

agentes moraram neste local até a década de 1970. Na década de 1980 funcionou

no lugar um restaurante vegetariano. Em 1995 foi demolida durante a construção do

novo terminal urbano da cidade. Alguns setores entraram com ações na justiça e o

juiz decretou que a construtora responsável pela demolição reconstruísse a casa,

fato que se consolidou em 2001. A casa do agente representa um memorial da

história do transporte ferroviário na cidade de Criciúma. Atualmente a Casa do

Agente Ferroviário conserva um acervo de imagens da ferrovia, documentos que

mantém acesa a memória da cidade.

2.2.8 Casa da Cultura Neuza Nunes Vieira

Localização: Praça Nereu Ramos

O prédio que abrigou a Casa da Cultura Prof. Neuza Nunes Vieira até o

mês de fevereiro de 1999 foi construído na década de 1940 para funcionar a sede

da Prefeitura Municipal, inaugurada em 1943. Em seguida funcionaram ali o Foro


31

(1944) e a Câmara Municipal (1946), e a administração da FUCRI – Fundação

Educacional de Criciúma, de 1972 até o início da década de 1980.

Em 1984 o prédio foi readquirido pela Prefeitura Municipal de Criciúma,

quando então, foi colocado o revestimento em granito nas paredes externas para

abrigar a sede da Casa da Cultura sendo tombada como patrimônio histórico da

cidade pelo decreto nº AS/137/85.

Até fevereiro de 1999, circularam por este estabelecimento várias

atividades comprometidas em divulgar e construir a cultura da cidade: a diretoria de

turismo, a escola de línguas estrangeiras, escola de jardinagem envolvendo

menores carentes, escola de música, a extensão da biblioteca pública municipal que

mantinha um acervo diversificado no local.

Atualmente, a companhia de Desenvolvimento Econômico e

Planejamento Urbano – CODEPLA, utiliza-se deste espaço para o funcionamento de

suas atividades. Neste local também são realizadas algumas exposições de arte.

2.2.9 Centro Cultural Jorge Zanatta

Localização: Rua Coronel Pedro Benedet – Centro

O Edifício que abriga o Centro Cultural Jorge Zanatta (figura 09) foi

construído na década de 1940 para o funcionamento do Departamento Nacional de

Produção Mineral – DNPM.

O DNPM foi criado no Brasil em 1932 e foi instalado na cidade de

Criciúma em 1942 para supervisionar a Indústria Carbonífera. Neste local foi

instalado o primeiro serviço de água tratada da região.


32

Figura 06 – Centro Cultural Jorge Zanatta

FONTE: Arquivos do Pesquisador

Em 1962, o prédio passou a ser administrado pela CEPCAN – Comissão

Executiva do Plano do Carvão Nacional. E, em 1964, foi utilizado como cárcere da

ditadura militar. Depois o CNP – Conselho Nacional do Petróleo tomou conta do

casarão que passou a ser conhecido como “prédio do CNP”.

Em 1993, a Fundação Cultural de Criciúma “tomou posse” da ala direita,

criando o Centro Cultural Jorge Zanatta. A restauração do prédio deu-se a partir de

1996 quando todo o prédio passou a ser administrado pela Fundação Cultural de

Criciúma. Hoje, o prédio abriga a Galeria de Arte da FCC onde mensalmente

realizam-se exposições de arte contemporânea; o Galpão de Arte, onde ocorrem

várias apresentações teatrais, bem como oficinas de música, dança e teatro.


33

2.2.10 Salas de Cinema

A cidade possui atualmente quatro salas de cinema, duas no Criciúma

Shopping e duas no Shopping Della Giustina e tem como perfil principal a exibição

de filmes em lançamento. Os cinemas (figura 10) pertencem a Arcoíris Cinemas,

uma empresa que atua no setor de exibição cinematográfica desde 1961.

Figura 07 – Cinemas – Arco-íris Cinemas

FONTE: disponível emhttp://www.arcoiriscinemas.com.br/arcoiris.php?

O padrão Arcoplex Stadium, do Grupo Arcoíris, é uma proposta de salas no


formato stadium, num padrão de qualidade, conforto e tecnologia sem igual.
São salas que contam com Som Dolby Digital, poltronas especialmente
projetadas, tela gigante, informatização e agilidade nas bilheterias e
bomboniere (www.arcoiriscinema.com.br, 2006).

2.2.11 Praça da Chaminé

Localização: Bairro Próspera


34

A praça da chaminé (figura 11) está localizada junto à rua General

Osvaldo Pinto da Veiga. Esta praça foi inaugurada em 1984 e recebeu este nome

devido a permanência, no local, da chaminé da usina elétrica, pertencente à

Carbonífera Próspera S.A.

A usina foi inaugurada no dia 01 de maio de 1943. Para funcionar

utilizava-se a água de um açude local, lugar em que as mulheres lavavam roupas e

as crianças pescavam.

A energia produzida pela usina era utilizada para a manutenção da

carbonífera durante os finais de semana, pois nestes dias o gerador localizado em

Capivari/Tubarão era desligado.

Figura 08 – Praça da Chaminé

FONTE: Arquivos do Pesquisador


35

Segundo o historiador Mário Belolli (Dados do Arquivo Histórico), esta

usina foi uma das primeiras usinas elétricas da cidade de Criciúma. Desta forma, a

permanência da chaminé constitui-se como um grande indício da chegada da

modernidade ao cenário da cidade.

2.2.12 Igreja Matriz Nossa Senhora da Salete

Localização: Bairro Próspera

O prédio da igreja matriz Nossa Senhora da Salete situa-se atualmente à

rua General Osvaldo Pinto da Veiga no bairro Próspera. Mas, a primeira capela de

madeira situava-se próximo ao atual colégio Estadual Heriberto Hulse. Em 1950, a

comunidade transferiu a capela para o local em que a igreja encontra-se atualmente.

A construção do novo prédio de alvenaria deu-se em torno da capela de

madeira, permanecendo esta última dentro da outra por algum tempo. O anteprojeto

da construção foi elaborado pelo arquiteto Fernando Carneiro em 1956, composto

por paredes em forma triangular que representam a Santíssima Trindade. A pedra

fundamental foi colocada em fevereiro de 1957 e os alicerces foram inaugurados em

outubro do mesmo ano, sendo que a construção efetiva iniciou-se em fevereiro de

1958 com ajuda da empresa Carbonífera Próspera S. A. A empresa cedeu o

terreno, doou todos os eucaliptos para o andaime, alcatrão, as tesouras e uma soma

significativa de dinheiro, de acordo com registros encontrados no livro tombo da

Catedral São José de Criciúma, aberto em 1933.

Além da ajuda da empresa, o empreendimento contou com a colaboração

financeira dos trabalhadores mineiros que tiveram, de suas folhas de pagamento,


36

descontadas contribuições para a construção e ainda foram realizadas festas e

promoções.

Em 1959 a capela de madeira foi derrubada. No interior da igreja

encontram-se quadros da Via Sacra, feitos em têmpera sobre papel pelo artista

plástico catarinense Willy Zumblik, em 1964.

Sua arquitetura destaca-se no cenário do Bairro Próspera, pela cor bordô

de suas paredes, seus vitrais coloridos e sua forma triangular.

Atualmente a igreja está sendo reconstruída após desabamento da

estrutura em uma tempestade.

A Igreja Nossa Senhora da Salete está pontuada nos equipamentos

culturais da cidade por ser tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional como

arquitetura a ser conservada e também por abrigar obras de Arte de reconhecido

artista plástico da região o que oportuniza a ampliação do repertório artístico-cultural

da população.

2.2.13 Igreja Matriz São Paulo Apóstolo

Localização: Bairro Michel

O templo que possui o formato da arca da salvação teve sua construção

iniciada em 1982 e ainda não está totalmente concluída. Além do formato e

arquitetura, se destaca pelos vitrais decorados com pinturas de passagens bíblicas,

esculturas de madeira e uma cruz em madeira, cerâmica, ferro e vidro, esculpida

pela artista plástica criciumense Jussara Guimarães (figura 12).


37

Figura 09 – Igreja Matriz São Paulo Apóstolo

FONTE: Arquivos do Pesquisador

2.2.14 Paço Municipal

Localização: Bairro Santa Bárbara

O Paço Municipal faz parte do Parque Centenário, composto por várias

edificaçãos: Paço Municipal Marcos Rovaris, Memorial Dino Gorini, Centro Cultural

Santos Guglielmi e Centro Esportivo Olavo Sartori.


38

O Paço Municipal foi inaugurado em 1880, durante as comemorações do

centenário de Criciúma. Neste local situa-se a Administração Municipal.


39

2.2.15 Memorial Dino Gorini

Localiação: Bairro São Luiz

Localizado junto ao Parque Centenário, o Memorial (figura 13) foi

inaugurado em 06/01/1981, pela passagem do aniversário de 100 anos da chegada

dos primeiros imigrantes europeus à Criciúma.

Projetado pelo arquiteto Manoel Coelho, é uma obra de alto valor

arquitetônico que inspirou a programação dos festejos do centenário da cidade e

marca presença das cinco etnias formadoras do município (MATERIAL

INFORMATIVO, s/d).

No subsolo existe um museu com painéis das cinco primeiras etnias

formadoras da cidade: italiana, alemã, polonesa, negra e portuguesa. Estes painéis

foram elaborados pelos artistas plásticos Gilberto Pegoraro, Jussara Guimarães,

Vilmar Kastering e colocados no museu em 1995.

Figura 10 – Memorial Dino Gorini

FONTE: disponível em www.satc.edu.br


40

2.2.16 Centro Cultural Santos Guglielmi

Localização: Bairro São Luiz

Localizado no Parque Centenário, sua construção deu-se em 1983. A

arquitetura congrega: Teatro Municipal Elias Angeloni, A Galeria de Artes Octávia

Gaidzinski, a Biblioteca Pública Municipal Donatila Borba, o Arquivo Histórico Pedro

Milanez e um Teatro de Arena.

2.2.17 Teatro Municipal Elias Angeloni

Localização: Bairro São Luiz

O Teatro Municipal Elias Angeloni (figura 14) foi inaugurado durante a

administração Altair Ghidi/Mário Sonego em 30 de janeiro de 1983. (MATERIAL

INFORMATIVO, s/d).

Figura 11 – Teatro Municipal Elias Angeloni

FONTE: disponível em www.radarsul.com.br


41

Localizado no Paço Municipal Marcos Rovaris e fazendo parte do Centro

Cultural Santos Guglielmi, tem capacidade para 749 lugares, 04 cabines de tradução

simultânea, atingindo 70 poltronas, equipamentos de som completos, 06 camarins e

um espaço anexo para dança.

O Teatro Municipal Elias Angeloni é a única sala de espetáculos do sul do

Estado, onde são realizadas peças de teatro, apresentações musicais, balé,

palestras, seminários e encontros (SANTA CATARINA, 2006).

2.2.18 Teatro de Arena

Localização: Bairro São Luiz

Ao ar livre, também no Paço Municipal Marcos Rovaris, com capacidade

para 250 pessoas, possui sistema de iluminação central (MATERIAL

INFORMATIVO, s/d – acervo da Biblioteca Pública Municipal)

2.2.19 Biblioteca Pública Municipal Donatila Borba

Localização: Bairro São Luiz

Criada pelo Decreto-Lei nº 76, de 29 de novembro de 1944, por iniciativa

do prefeito Elias Angeloni, denominava-se Biblioteca Municipal Pereira e Oliveira, em

homenagem ao Coronel Antônio Pereira da Silva Oliveira, ex-govergador de Santa

Catarina, que promulgou a emancipação política do Município de Criciúma em 11 de

abril de 1925.
42

Instalada no dia 02 de dezembro de 1944, no gabinete do Prefeito, com a

doação do acervo do Clube Recreativo Mampituba, pelas senhoras Dozola Rovaris e

Professora Gerda Becker, quando foi criado o Conselho de Amigos da Biblioteca.

Em 1960 a biblioteca foi instalada numa sala maior, na rua Santo Antônio,

nº 51, Centro, quando passou efetivamente a atender o público em geral.

Funcionou ainda durante muitos anos no prédio que foi sede da primeira

Prefeitura Municipal de Criciúma, onde está instalada, atualmente, a Casa da

Cultura.

No período de 1974 a 1982 a biblioteca ocupou uma sala junto a segunda

sede da prefeitura municipal, na rua Anita Garibaldi.

Em 1983, o acervo, estimado em 4000 volumes, foi transferido para as

novas instalações da biblioteca junto ao Centro Cultural Santos Guglielmi e através

da Lei nº 1884, de 15 de dezembro de 1982, passou a denominar-se Biblioteca

Pública Municipal Donatila Borba, em homenagem à poetisa, charadista, artista e

colunista que foi a primeira diretora do estabelecimento.

Em junho de 1985 o Prefeito Municipal José Augusto Hülse inaugurou o

atual imobiliário, registrado no Instituto Nacional do Livro sob o nº 1961 (MATERIAL

INFORMATIVO, s/d – acervo da Biblioteca Pública Municipal)

2.2.20 Pavilhão de Exposições José Jair Conti

Localização: Bairro São Luiz

O Pavilhão de Exposições José Ijair Conti é parte integrante do Centro de


Eventos Maximiliano Gaidzinski e foi inaugurado em julho de 2006.Localiza-
se no Parque Centenário, onde hoje está localizada a Prefeitura. O projeto
orçado em R$ 8 milhões foi realizado pela Prefeitura Municipal de Criciúma,
na gestão Anderlei Antonelli/Gelson Fernandes, em parceria com iniciativa
privada e o governo estadual. Além da construção de uma arena multiuso
para 12 mil pessoas, o projeto também conta com a recuperação do ginásio
municipal (em andamento) e do teatro Elias Angeloni (concluído). Além de
um estacionamento para 2 mil carros”. (A NOTÍCIA, 2005, s/p.).
43

O Pavilhão de Exposições congrega a realização de espetáculos de

música, teatro e dança além de feiras e exposições. A possibilidade de participar de

shows musicais é uma das alternativas para a apreciação das diversas lingagens

artísticas.

2.2.21 Espaço Cultural Unesc – Toque de Arte

O Espaço Cultural da Unesc está localizado na Universidade do Extremo

Sul Catarinense e realiza anualmente uma média de 10 exposições de artistas da

cidade e também de fora da cidade. O Espaço Cultural Unesc – Projeto Toque de

Arte surgiu em agosto de 2000. Neste local são expressas diversas linguagens

artístico-culturais existentes.

Este espaço é dedicado a exposições temporárias de produções artísticas

(nas modalidades de pintura, escultura, desenho, fotografia, instalações), visando a

contribuir para a dinamização das atividades culturais da Universidade, consolidando

seu papel como centro de formação, reflexão e referência sobre arte para a

comunidade acadêmica e regional (Edital 013/2006).

De acordo com o site www.unesc.net, um dos objetivos do Espaço

Cultural é estimular a produção e a difusão das artes, oportunizando o intercâmbio

entre a Universidade e a comunidade.


44

Figura 12 – Mostras de Arte no Espaço Cultural Unesc

Fonte: Arquivos do Pesquisador

2.2.22 MUESC – Museu Universitário do Extremo Sul Catarinense

O Museu Universitário tem sede na Universidade do Extremo Sul

Catarinense (Unesc) e está em atividade desde 1997 atendendo o público por meio

de cinco unidades museológicas de Arqueologia, Documentação, Etnografia e

Cultura Popular, Herbário e Zoologia onde se concentram riquezas regionais

importantes da memória de um povo e de suas responsabilidades com o meio

ambiente. As unidades de Zoologia e o Herbário estão localizadas no campus. As

outras três permanecem junto ao Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas

(IPAT) da Universidade.

O acervo da Unidade de Zoologia inclui animais taxidermizados

(empalhados), entre eles o tamanduá mirim, sagüis, leões marinhos, macaco-prego,

bugio e algumas aves e insetos. Em 2006 foi incluído ao acervo a coleção óssea de

animais marinhos como baleias, golfinhos, tartarugas e leões marinhos. O trabalho é


45

realizado em parceria com a Polícia Ambiental (10º Pelotão de Polícia Militar de

Proteção Ambiental).

Com 10 anos de existência, a Unidade de etnografia e Cultura Popular

busca resgatar e aproximar as histórias que acompanharam gerações, que foram

contadas de pai para filho e que se tornaram em vários casos a única fonte de

identificação do modo de pensar de um povo, do que acreditavam ou dos medos

que sentiam – que atravessaram anos e permaneceram até hoje norteando vidas e

maneiras de agir. Além dessas histórias que preservam a memória dos povos, da

cultura popular e de suas raízes, também há aqueles que se encontram

materializados por meio dos instrumentos de trabalho, do artesanato, dos pratos

típicos, que podem unir laços familiares e universais, vistos em outros lugares e

incorporados à região.

No Centro de Documentação tem-se a responsabilidade de preservar e

organizar esses materiais que marcam épocas e contam a história através de

imagens fotográficas, filmes, mapas, atas, jornais e processos judiciais, os quais

enriquecem os interesses por este povo e as fortunas construídas até os dias de

hoje.

A Unidade de Botânica do Muesc é a designação dada ao Herbário Pe.

Dr. Raulino Reitz (CRI), fundado em 21 de junho de 1992. Sua função é identificar

plantas para fins de pesquisa em vários projetos destacando os da área de

Educação Ambiental e Ecodesenvolvimento além de ser uma coleção botânica de

referência para o sul catarinense.

A unidade de Arqueologia desenvolve projetos de levantamento e

salvamento arqueológico nos Estados de SC e RS, resultando em coletas

qualificadas de acervo. O acervo é compost de esqueletos humanos, utensílios de


46

pedra polida e lascada, urnas funerárias, pontas de flecha, vasos cerâmicos, dentre

outros objetos. As peças são coletadas em trabalhos de salvamento dos sítios

arqueológicos da região (locais onde moravam os povos antigos) – (FONTE:

www.unesc.net)

Figura 13 – MUESC – Unidade de Zoologia

Fonte: disponível em www.unesc.net

2.2.23 Museu da Infância

De acordo com o site www.unesc.net:

O Museu da Infância é um espaço de preservação, produção e circulação


da produção científica e artístico-cultural para, sobre e da infância. Visa
contribuir para ampliação de repertório artístico-cultural de crianças e
adultos, na reformulação dos processos de formação de professores, nos
projetos de ação pedagógica das escolas e demais instâncias culturais,
dando subsídios para pesquisadores da infância e para políticas públicas
de educação e de acesso à cultura.

Figura 13 – Museu da Infância


47

Fonte: disponível em www.unesc.net


2.2.24 Monumento à Anistia

Não foram encontrados registros sobre esta obra no município de

Criciúma.

Figura 14 – Monumento a Anistia

FONTE: Arquivos do Pesquisador


48

3 APRENDENDO A OLHAR

A viagem real da descoberta não consiste


em buscar novas paisagens, mas, sim,
em olhar com novos olhos.
Marcel Proust

O olho vê o mundo e o que


falta ao mundo para ser quadro e
o que falta ao quadro para ser ele
mesmo (olho) e na palheta a cor
que o quadro aguarda e, uma vez
feito, vê o quadro que responde a
todas essas faltas e vê o quadro
dos outros, as respostas outras
e outras faltas.
Merleau Ponty

Muitas são as linguagens — verbais e não verbais — que fazem parte de

nossos códigos de comunicação, e através das quais o mundo se manifesta aos

nossos sentidos. As artes, em geral, têm o poder de nos penetrar em profundidade,

despertando reflexões que às vezes não teríamos se dependêssemos somente do

estímulo da razão. Podemos ler e interpretar os fatos da vida através de muitas

formas artísticas como literatura, cinema, teatro, fotografia, pintura, música etc.

Podemos também nos expressar utilizando as escritas que são próprias dessas

linguagens. Aprender a olhar para o mundo através de novos pontos de vista, novas

perspectivas, uma condição fundamental para ver mais e além do horizonte

conhecido. (OSTROWER, 1990).

Concordo com Ostrower (1990, p.09), quando fala:

Um ato tão corriqueiro como atravessar a rua – é impregando de formas.


Observar as pessoas e as coisas, notar a claridade do dia, o calor, reflexos
cores, sons, cheiros e lembrar-se de que se tencionava fazer, de
compromissos a cumprir, gostando ou detestando o preciso instante e
ainda associando – o a outros – tudo isto são formas em que as coisas se
configuram para nós. De inúmeros estímulos que recebemos a cada
instante, relacionamos alguns e os percebemos em relacionamentos que
se tornam ordenações, “composições”.
49

Mas então, como se dá a construção do olhar? Esse olhar pode ser

qualificado, aprimorado? Como se olha uma produção artística? Uma exposição,

uma peça de teatro, um concerto musical, um monumento em espaço público?

Como se olha para a cidade? (Ou) que olhar temos para a cidade? Estes são alguns

dos vários questionamentos que surgem quando lemos sobre a construção e a

ampliação do olhar estético. Mas então como alguém pode “construir” um olhar?

E ainda vou mais além. A cidade nos possibilita experiências visuais

infinitas e táteis. Então pergunto: o que vemos em Criciúma? O que Criciúma

oferece para formação cultural de seus moradores? Nosso olhar se constitui a

medida em que vemos coisas diferentes. As imagens demandam nossa atenção

diferenciada. Na pressa que caracteriza a contemporaneidade, na qual tudo é

descartável e fugidio, cotidianamente olhamos sem ver e vemos sem olhar.

Concordo com Leite (2004) quando diz que ampliar o repertório de

crianças é vislumbrar uma sociedade mais respeitosa com as diferenças e favorecer

uma geração mais autônoma, crítica e autoral – participativa. Para isso, diz ela, é

necessário a formação também de nosso professores e, sobretudo que o

instiguemos a ver, ouvir e movimentar-se na cidade, a partir dos convites que esta

lhes faz.

A visão nos impregna com emoções desde os primeiros momentos de

vida pós-uterina, quando aprendemos a reconhecer o afeto no sorriso materno;

quando reconhecemos objetos. Assim, tudo que vemos acaba, mais cedo ou mais

tarde, se transformando em "vivência", ou "referência de aprendizado". Não

precisamos estar dentro de um prédio em chamas para compreendermos — e nos

desesperarmos com — um incêndio, mas essa compreensão é muito mais fácil se já


50

assistimos, ainda que em filmes ou fotos, às cenas do fogo consumindo matéria,

labaredas ao vento, golfadas de fumaça e vapor.

Da mesma forma, uma pessoa nascida nas montanhas, que jamais tenha

visto mais água do que no chafariz da cidade — ou no pequeno riacho sob o

pontilhão — por mais que tenha lido O velho e o mar, Moby Dick ou a Odisséia,

como poderá compreender a imensidão azul do oceano?

O olhar nos ajuda a construir nossas referências de vida e de mundo. Por

isso somos induzidos a acreditar no que vemos de forma tão contundente: uma

imagem, como dizem os chineses, vale por mil palavras.

Os olhos são chamados de "janelas da alma" porque revelam o nosso

interior. É por eles que vivenciamos experiências, que retratamos paisagens,

imagens, formas, cores, movimentos, composições... é a partir de nossa vivência

que vamos ampliando nosso olhar. Quando olhamos para uma cidade percebemos

que ela é formada por inúmeros elementos que a compõem. A riqueza de

informações é algo fantástico e muitas vezes na correria do dia a dia, todos estes

detalhes passam despercebidos por nosso olhar corriqueiro.

Um olhar atento pode não nos levar longe, mas fará uma enorme

diferença. Alguns dos grandes avanços do conhecimento humano foram frutos de

observações casuais, como a de Galileu Galilei contemplando um pêndulo dentro de

uma igreja, ou Isaac Newton deitado debaixo de uma macieira. É claro que esses

olhares atentos estavam instrumentados por filtro poderoso: informação. Informação

faz a diferença. Não só a informação técnica que embasa todo conhecimento

científico, mas informação de qualquer espécie.

"Construir o olhar", portanto, é emprestar juízo de valor às coisas que

vemos. E não deixa de ser interessante o fato de que, exatamente porque podemos
51

"ler" em outras superfícies além dos códigos alfabéticos, também possamos

"escrever" através delas. Lembro-me imediatamente, por exemplo, dos velhos filmes

de Tarzan, quando, do nada, um tum-tum, tum-tum ia logo anunciando encrenca.

Não era às vistas, mas era aos ouvidos.

A partir do momento que começarmos a observar objetos simples do nosso

dia a dia como, uma fotografia; um edifício; um outdoor; uma cidade inteira...

aprenderemos a ser seres mais sensíveis ao olhar, com uma informação mais

compenetrada. Estas simples ações de observar as coisas que nos cercam em

nosso dia a dia é um importante caminho para a construção de nosso olhar, para a

atribuição de significados e ampliação de nossas percepções.

Contudo, não há dúvidas que o aprimoramento do olhar estético se dá com a

visitação e o contato com a Arte. Quanto mais freqüentamos um ambiente com

experiências estéticas, mais nos aprofundamos nos chamados estágios da

compreensão estética.

3.1 Construção do Olhar Sensível

Experimente ver pela primeira vez o que você


vê todo dia, sem ver (...).
O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem.
Mas há sempre o que ver.
Gente, coisas e bichos.
E vemos?
Não não vemos (...)
Nossos olhos se gastam no dia-a-dia opacos.
Otto Lara Resende

Ter um olhar sensível para a Arte e para as mais diversas manifestações

artísticas é ter um olhar curioso, especulativo e descobridor, que olha além da

imagem, que busca ver além.


52

A sensibilização do olhar requer um exercício constante que necessita de

uma percepção, a esmiuçar o objeto, buscando desvendá-lo, buscando o belo sem a

preocupação de ser bonito, mas de saber identificá-lo. O belo está em toda parte,

desde nossos objetos do cotidiano, nas ruas, na urbanização da cidade, nas praças,

na fisionomia das pessoas, no cinema, nos teatros, nas galerias e museus, nas

obras públicas, nas manifestações de artistas reconhecidos e nos artistas

desconhecidos. A sensibilização e a ampliação do olhar “as coisas” ao nosso redor.

Buscar o belo significa desprender-se do bonito ou feio, mais sim de vivenciar,

apreciar, refletir, abrir-se às sensações.

A partir desse nosso olhar individual, compartilhamos nossas impressões

e leituras com outras pessoas, contribuindo para que elas também possam perceber

aquele objeto, descobrindo características até então ignoradas, aumentando assim o

repertório de todos. Encontrar as pessoas, partilhar nossos olhares, olhar, olhar de

novo são relações que certamente são muito significativas ao nosso processo de

construção. Muitas vezes entendemos que somente visitando grandes Galerias e

Museus é que vamos ter um olhar qualificado. Sem dúvida eles contribuem muito

para nosso aprendizado e repertório imagético, mas e a nossa cidade? Será que ela

também não nos oferece subsídio para ampliação do olhar? Será que estamos

vivenciando nossa cidade? Visitando praças, visitando o Museu Histórico Augusto

Casagrande; A Galeria da Fundação Cultural de Criciúma; Os cinemas da cidade; os

memoriais e obras públicas otimizados pela cidade; temos ido ao teatro apreciar

trabalhos de teatro, de música, de dança? Será que estamos aproveitando o que a

cidade tem a nos oferecer ou somente criticamos, sendo meros espectadores

acomodados em nossas casas?


53

Precisamos viver a cidade! E ela será vivenciada a partir do momento que

nos propusermos a observar todas as coisas que nos cercam. Ao compartilharmos

nosso olhar, assumido por palavras, assumimo-nos como indivíduos, semelhantes e

diferentes dos outros, mostrando a diversidade que existe em cada ser humano,

como ser único dotado de potencial e criatividade. “É preciso conhecer mais para

compreender mais” (LEITE, 1997, p.07). É desta forma que ampliamos nosso olhar,

que identificamos e trazemos novas informações como possibilidade de ampliação

de conhecimentos, entendimento e novas interpretações.

De acordo com Aranha e Martins (1993, p.347):

A educação em arte só pode propor um caminho: o da convivência com as


obras de arte. Aquelas que estão assim rotuladas em museus e galerias, as
que estão em praças públicas, as que estão em bancos, em repartições do
governo, nas casas de amigos e conhecidos. Também aquelas, anônimas,
que encontramos às vezes numa vitrina, numa feira, nas mãos de um
artesão. As que estão em alguns cinemas, teatros, na televisão e no rádio.
As que estão nas ruas: certos edifícios, casas, jardins, túmulos. Passamos
por muitas delas, todos os dias, sem vê-las. Por isso, é preciso uma
determinada intenção de procurá-las, de percebê-las.

Conforme já coloquei anteriormente e reforço com o pensamento de

Aranha, precisamos nos dedicar a olhar. A apreciar. Conhecer a cidade em que

vivemos e também visitar outras descobrindo que equipamentos culturais elas têm a

nos oferecer fará com que nosso olhar seja educado e qualificado.

Existem distinções claras entre “ver” e “olhar” para compreender o mundo

externo. “Ver, verbo passivo, provoca um prazer ou uma dor de caráter sensual.

Olhar, verbo ativo, supõe um ato deliberado, uma além do simples ato físico,

envolvendo capacidades de percepções sensíveis e cognitivas”. (POCHET apud

CAMPOS, 2002, p.109). Sendo assim o processo de aprender a olhar desenvolve

potencialidades, sistematiza experiências visuais, estéticas sensíveis e críticas. É


54

necessário querer olhar, e praticar o exercício do “o que olhar” ou “parar para olhar”

o que propiciará contatos fantásticos com as experiências estéticas e desenvolve as

capacidades perceptivas. De acordo com Campos “o exercício do olhar para o

contexto pode levar o apreciador a compreender cada fenômeno como parte de um

padrão de referência maior, compreensão que o leva a estabelecer relações,

aprendendo as inter-relações do todo e das partes”. (2002, p.109).

Ao buscarmos apreciar, contemplar, olhar estas obras de diferentes

formas iremos ampliando o nosso olhar sensível, o olhar que consegue estar livre de

esteriótipos, que se abre ao novo, ao diferente. Concordo com Aranha e Martins

(1993, p. 348):

Quanto mais ampla for essa convivência com os tipos de arte, os estilos, as
épocas e os artistas, melhor. É só através desse contato aberto e eclético
que podemos afinar a nossa sensibilidade para as nuances e sutilezas de
cada obra, sem querer impor-lhe o nosso gosto e os nossos padrões
subjetivos, que são marcados historicamente pela época e pelo lugar em
que vivemos, bem como pela classe social a que pertencemos.
Lembraremos, ainda, que é na frequentação da obra que a
intersubjetividade pode se dar. É através dela que podemos encontrar com
o autor, sua época e também com nossos semelhantes [...] precisamos
aprender a sentir. E na nossa sociedade, dada a importância atribuída à
racionalidade e à palavra, não é raro tentarmos, sempre, enquadrar a arte
dentro desse tipo de perspectiva. Assumimos, então, tal distância da obra
que não é possível recebê-la através do sentimento [...] chorar ao assistir a
um drama ou a ouvir uma música não é sinal de que estejamos acolhendo a
obra através do sentimento.

Contudo vale ressaltar que de acordo com Aranha e Martins (1993), para

ampliarmos nosso olhar e nosso conhecimento estético, precisamos em um primeiro

momento olhar, sem emitir juízos de gosto ou valor, mas sim de apreciar e buscar

compreender as intenções do artista em seu ato criador e o seu momento sensível.

Quando nos propomos a sentir a obra sem estar ligado/preso a conceitos, faremos a

fruição do trabalho artístico e entenderemos que a Arte e os bens culturais em geral

não são para serem explicados, justificados, mas sim para serem sentidos!

Apreciados! Contemplados! Refletidos! Caso contrário não seriam expressos em


55

telas, instalações, esculturas, monumentos, teatros, musicais, óperas, danças e sim

escritos verbalmente.

3.2 Alguns pensamentos sobre a busca de definições sobre Arte

Ver é esquecer o nome das coisas que vemos.


Robert Irwin

O conceito de arte é extremamente subjetivo e varia de acordo com a

cultura a ser analisada, período histórico ou até mesmo indivíduo em questão. Não

se trata de um conceito simples, e vários artistas e pensadores já se debruçaram

sobre ele.

Por um lado, parece ser possível a conceitualização da arte uma vez que

este objeto existe, nós o identificamos e nomeamos como arte e, enfim, existem os

artistas. Por outro lado, em arte, nenhum conceito até agora se sustentou, pois a

arte não é uma ciência exata, ao contrário, nela tudo muda e, ao mesmo tempo,

nada muda.

O novo dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, em duas de suas

definições da palavra arte, assim se expressa:

Atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, de


caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo
suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação [...] a
capacidade criadora do artista de expressar ou transmitir tais sensações ou
sentimentos. (FERREIRA, 2000, p.100).

Posso aqui abrir espaço de diálogo com alguns teóricos que, enraizados

em seus discursos, buscam sempre e constantemente uma aproximação da arte,

com seu esclarecimento e definições.

Gullar faz um paralelo de arte com a ciência e assim a define:


56

A obra de arte está dentro ali fora. É isto que faz dela um objeto especial –
um ser novo que o homem acrescenta ao mundo material, para torna-lo
mais humano. A arte não seria uma tentativa de explicação do mundo, mas
de assimilação de seu enigma. Se a ciência e a filosofia pretendem
explicação do mundo, esse não é o propósito da música, da poesia ou da
pintura. A arte, abrindo mão das explicações, nos induz ao convívio com o
mundo inexplicado, transformando sua estranheza em fascínio. (GULLAR
apud MORAIS, 1998, p.41).

Segundo Jorge Coli (1990 apud Leite, 2005, p.25), “a arte são certas

manifestações da atividade humana onde o nosso sentimento diante dela é

considerado como admirativo, ou seja, nossa cultura possui uma noção que

denomina solidamente algumas de suas atividades e as privilegia”. Adiante, o autor

diz que o sentido mais profundo da arte é “o de instrumento de fazer cultural de

riqueza inesgotável” (Idem, p.104) e que “as obras, em sua fecundidade concreta,

são sempre mais do que nos dizem pretensas definições” (Ibidem, p.35). Sua

definição passa a ser mais complexa do que a do sentimento admirativo, colocado

anteriormente. Agora, as reflexões se alicerçam diante do discurso do objeto artístico

a partir do local específico que se manifesta à expressão, ou seja, as estruturas se

organizam em críticos de arte e artistas que dividem objetos não artísticos de

artísticos, definindo o que é, e o que não é arte.

Leite (2005, p. 04) também define arte como:

Sistema de manifestação de códigos que se interpretam e recodificam a


cada momento, uma forma peculiar de ver e expressar o mundo, atuando
como uma reação emocional e conceitual à vida. A linguagem artística
busca resolver o problema artístico no qual encontra o artista e dá a ele a
possibilidade de pensar e expressar a si e a sua época, por imagens –
sonoras, visuais, corporais, poéticas. O que vigora, hoje na arte, não é
apenas o conhecimento sensível ou mesmo a beleza – mas a inteireza, a
significação. É um campo privilegiado da experiência estética.

Quando falamos de arte, conseqüentemente falamos do artista e, assim

como na arte, as opiniões teóricas se divergem surgindo várias convicções.


57

O artista como essencial precursor heróico:

A arte é criada por indivíduos e isso é algo que nunca devemos esquecer, o
objeto de investigação deve ser sempre os artistas e suas obras, não os
estilos, os movimentos ou tendências que somente devem ser concebidos
como hipóteses do trabalho, destinadas a facilitar a investigação.
(BIALOSTOCKI apud MORAIS, 1998, p.59).

Marcel Duchamp, em entrevista a Pierre Cabanne (1987, p. 02),

estabelece a idéia do artista como um homem comum, ironizando a concepção

heróica:

Ele é um homem como qualquer outro. É sua ocupação fazer coisas, mas o
homem de negócios também faz certas coisas, entende? Por outro lado, a
palavra ‘arte’ me interessa muito. Se ela vem do Sânscrito, como ouvi
dizer, ela significa ‘fazer’. Agora todo mundo faz alguma coisa e aqueles
que fazem coisas em tela, com uma moldura, são chamados de artistas.

Mas o problema não termina aí. Como já disse, as opiniões ora divergem,

ora caminham juntas. Importante é afirmar que o entendimento de arte não se

fundamenta somente como manifestação de sentimentos, vai muito mais além; ela é

mais do que isto. A técnica tem junção com a expressão e a arte torna-se social. O

próprio artista também é espectador de sua obra, ela deixa de estar pronta para

interagir com o público relacionado-se ao conhecimento.

A arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos como portas de

entrada para uma compreensão mais significativa das questões sociais, valores que

governam os diferentes tipos de relações entre indivíduos na sociedade. Segundo os

Parâmetros Curriculares Nacionais, a arte é assim vista:

O conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma


compreensão do mundo no qual a dimensão poética esteja presente: a arte
ensina que é possível transformar continuamente a existência, que é
preciso mudar referências a cada momento, ser flexível. Isso quer dizer
que criar e conhecer são indissociáveis e flexibilidade é condição
fundamental para aprender. (PCN, 1997, p. 20 e 21).
58

Robert Willian parece concordar com os PCN’S. Aponta que o ensino da

arte nos museus é um componente para a arte-educação, ou seja, a partir disto à

arte é vista como conhecimento: “A arte pode assumir diversos significados em suas

várias dimensões, mas como conhecimento proporciona meios para a compreensão

do pensamento e das expressões de uma cultura” (WILLIAN apud OTT, 1997, p.

111).

Assim, vão se estabelecendo paradigmas em relação à arte; vamos

percebendo as relações que ela vai proporcionando a quem a aprecia.

É fundamental a presença da arte em nosso meio e, independente da

dificuldade de sua definição do que seja arte, o fato é que ela está sempre presente

na história humana. Aliás, fazer arte é um dos fatores que diferencia o ser humano

dos demais seres vivos.

A arte é um modo de ver e dizer de si e do mundo. Constituída de imagens


– sonoras, visuais, poéticas, corporais... ela mobiliza afeto, pesquisas,
cognição, intuição, percepção, reflexão; ela abraça o feio, o bonito, prazer,
desprazer, inveja, medo, egoísmo, alegria, estranhamento, portanto, é
repleta de emoções e contradições. A obra de arte se abre para o outro, e a
possibilidade de participar dela dá ao sujeito, a chance de ver-se como ser
integral. O contato com a arte transforma, faz ligação, constrói. Como
linguagem, ela opera através das cores, formas, linhas, volumes, sons,
movimentos... e precisa de um tempo e de espaços próprios; é cheia de
mistérios que revela, desvela e oculta. (GEDEST, 2004, p. 5 e 6).
Além disso, a produção artística pode ser de grande ajuda para o estudo

de um período ou de uma cultura particular, por revelar valores do meio em que é

produzida.

3.3 Arte, Cidade e Formação Cultural

A Arte está presente na vida do homem desde o início da humanidade.


Conforme registros, o homem pré-histórico ao desenhar códigos e símbolos
nas paredes das cavernas elaborava e precisava aprender a construir um
conhecimento em virtude de difundir esta prática através das impressões
deixadas no tempo. (PCN, 1997, p.85).
59

Desta forma, com a evolução da humanidade, após muitos anos, surgiram

as cidades, conforme descrito no capítulo anterior. Com esta nova organização

humana e urbana, as cidades começam a abrigar as produções artísticas produzidas

pelo homem. Essas produções são evidenciadas, ou pelo menos deveriam ser, em

espaços públicos como museus, galerias, praças, teatros, palácios.

De acordo com Romão, em seus estudos sobre Cidade Educadora,

vemos “que a cidade sempre exerceu uma espécie de fascinação sobre os seres

humanos, ainda que a trajetória civilizacional tenha se iniciado no campo”. E ainda,

que “as grandes transformações humanas e coletivas só foram possíveis quando as

pessoas concentraram-se nos mesmos espaços desencadeando a troca de

sentimentos e serviços” (ROMÃO apud BECKER, 2005, p. 21).

Ainda sobre o Projeto Cidade Educadora abraçado também pela

UNESCO desde 1970, que se debruça na “perspectiva de educação dos e nos

espaços públicos” e que trata da questão “da diversidade versus singularidade”.

Leite (2006, p. 02) nos aponta:

Toda cidade é como um grande espaço de educação, com personalidade


própria e integrada ao seu estado, região, país. Um espaço que, mesmo
com suas fronteiras é permeável às relações com o entorno. Neste projeto é
entendida como um local que possibilita expressões diversas fruto de uma
política que prioriza investimentos culturais, uma vez que reconhece,
exercita e desenvolve a promoção, formação e desenvolvimento de seus
habitantes, em especial, crianças e jovens.

Pensando a cidade como formadora, educadora, vamos olhar para a

cidade em que vivemos. Ela educa? Forma? Como é nossa cidade? Como estão

distribuídos e otimizados os bens culturais que possuímos? São visitados?

Utilizados?

Ainda com o pensamento de cidade educadora trago também a fala de

Lynch (1997, p. 01):


60

Olhar para as cidades pode ser um prazer especial, por mais comum que
possa parecer o panorama. Como obra arquitetônica, a cidade é uma
construção no espaço, mas uma construção em grande escala; uma coisa
só percebida no decorrer de longos períodos de tempo.

Ao analisarmos a cidade atual, em que momentos podemos afirmar que

ela é uma cidade educadora? Considerando os investimentos realizados aos bens

culturais, será que a cidade de Criciúma está possibilitando o acesso a Arte e a

Cultura? Os bens culturais da cidade estão bem distribuídos e divulgados nos meios

de comunicação?

Estes e tantos outros questionamentos estão inclusos nas políticas

públicas sobre os equipamentos culturais das cidades e devem servir de reflexões

para pesquisas e aperfeiçoamento. A cidade pode e deve ser vista e analisada

segundo diferentes dimensões que se interpretam. A dimensão cultural é uma delas

e, por seu intermédio, amplia-se a compreensão da sociedade e suas relações

sociais, econômicas e políticas.


61

4 REUNINDO E TRANSCREVENDO INFORMAÇÕES E OLHARES SOBRE A

CIDADE DE CRICIÚMA

O essencial é saber ver


Saber ver sem estar a pensar
Saber ver quando se vê
E nem ver quando se pensa
Mas isto! Triste de nós que trazemos a alma vestida!
Isso exige uma aprendizagem profunda
Uma aprendizagem do desaprender.
(Alberto Caeiro/ Fernando Pessoa)

A pesquisa contempla uma abordagem de cunho qualitativo, uma vez que

não pretende medir e comprovar fatos. É descritiva, pressupondo uma pesquisa de

campo através de questionários com perguntas semi-estruturadas formuladas a um

público de aproximadamente quarenta pessoas que circulam dentro do campus

universitário, escolhido por abrigar uma grande variedade de olhares de diferentes

espaços da cidade e também de fora da cidade, caracterizando-se assim como um

estudo de caso.

O questionário utilizado está disponível nos anexos e apresenta todas as

perguntas formuladas para a coleta de dados para a pesquisa.

Reunir informações que contemplam vários aspectos ligados ao olhar da

comunidade de Criciúma, sobre a arte e os espaços Culturais da cidade, tendo como

clientela alunos, professores, funcionários e visitantes da Universidade do Extremo

Sul Catarinense, foi o propósito do questionário aplicado a 40 moradores e visitantes

de Criciúma, considerando a universidade um espaço que concentra uma variedade

de pessoas com costumes, culturas e olhares diferentes.

A partir das respostas obtidas existe a possibilidade de analisar em um

sentido bem mais profundo os conceitos, as dúvidas e as opiniões perante a

realidade atual.
62

Ao todo foram oito questões e todas tiveram um roteiro pré-estabelecido,

conforme consta nos anexos. Os questionamentos formulados vêm ao encontro das

respostas necessárias para a discussão da formação/construção do olhar.

Buscando compreender o que o cidadão criciumense observa quando

anda pelas ruas da cidade, estabeleci a seguinte pergunta: O que você costuma

olhar quando passeia pelas ruas da cidade? As repostas foram bem ecléticas. Dos

entrevistados, trinta responderam que costumam olhar os outdoors espalhados no

espaço urbano, suas cores, formas, mensagens e imagens. Onze entrevistados

acrescentam, além dos outdoors, a fisionomia das pessoas, como se comportam,

como se vestem, como andam pelas ruas. A Arquitetura da cidade também é um

dado visível nas entrevistas. Como a cidade está organizada, assim como as cores e

fachadas dos prédios e lojas são apontados por três entrevistados. Um aspecto

bastante notável nas repostas é no que se refere às vitrines das lojas: dos quarenta

entrevistados, trinta e cinco apontam esta característica. Alguns vão mais a fundo,

destacando em sua resposta o item “composição das vitrines” cores, formas,

manequins... Uma entrevistada traz em sua resposta que observa a roupa das

pessoas e o movimento delas na rua. A marca dos carros também é um dado que

aparece no questionário de dois entrevistados. Oito questionários trazem o item

beleza e limpeza da cidade - ruas, calçadas, jardins. A iluminação, durante a noite,

também é uma característica citada por um entrevistado, que complementa citando a

arborização, falta de jardins bem cuidados, a sujeira das ruas, construções

abandonadas e em andamento. Um entrevistado destaca que seu maior prazer é

observar a beleza das mulheres criciumenses. Outro traz a preocupação com o

desmatamento e o crescimento desordenado da cidade, aumento de áreas

invadidas e crescimento de favelas. Um entrevistado aponta como item a cultura das


63

pessoas que circulam nas ruas. Um aponta que gosta de andar pelas ruas e

observar os desenhos das calçadas, as fachadas de mosaico dos prédios e

monumentos, mas que não o faz por falta de tempo. Outra entrevistada também

comenta das calçadas e acrescenta a Igreja Matriz, os sons criados pelo movimento

das pessoas, do vento dos carros e das lojas.

Buscando aprofundar a investigação, acrescentou-se a pergunta “Você

conhece os Espaços Culturais da Cidade? Quais?”. A partir dessa questão obtive as

seguintes respostas:

Dois dos quarenta entrevistados destacam que não conhecem nenhum

espaço cultural na cidade de Criciúma. Um fala que não consegue identificar o que

é um espaço cultural.

Já trinta e oito dos entrevistados responderam que conhecem o Espaço

Cultural da Universidade. O Teatro Municipal Elias Angeloni também apareceu em

vinte questionários, embora muitos não o registram pelo nome oficial, colocando

somente “teatro”.

Cinco entrevistados registraram a Mina Modelo como mais um Espaço de

Cultura da cidade. A Galeria de Arte da Fundação Cultural de Criciúma (FCC),

apareceu em somente quatro dos quarenta entrevistados. O Espaço Cultural do

SESC foi citado em 02 questionários.

O Museu Augusto Casagrande, único museu histórico da cidade, foi

citado em quatro questionários. A Casa Ferroviária foi apontada em um. Outro dado

novo foi a Biblioteca Municipal, também destacada uma vez. Dois entrevistados

relatam em suas respostas os Cinemas da cidade, localizados nos dois shoppings.

E uma, destaca o Ginásio de Esportes.


64

A maioria aponta em média dois espaços de cultura da cidade descritos

acima.

Com o objetivo de investigar o olhar dos entrevistados sobre os

monumentos de arte da cidade, questionei: “Você lembra de ter visto alguma obra de

arte na cidade? Qual? Onde?” As repostas foram surpreendentes:

Dos quarenta entrevistados, quinze responderam que desconhecem

obras de Arte na cidade e que muitos nem sabem o que é uma obra de Arte. Dez

indicam que as obras de arte que viram na cidade até hoje foram em exposições no

Espaço Cultural da Universidade. Treze dizem que a única obra de que têm

conhecimento é o Monumento as Etnias, localizado no Paço Municipal.

Em três questionários observamos o destaque para o “Trenzinho”

instalado em uma praça no Bairro Pinheirinho. Dois entrevistados apontaram a

presença de painéis, mosaicos nos terminais urbanos do Centro, Próspera e

Pinheirinho.

Um entrevistado aponta o monumento localizado ao lado do terminal do

Pinheirinho, e ainda destaca a má conservação e o abandono do mesmo o que

talvez seja motivo de pouca valorização e apreciação.

Uma entrevistada coloca que o único lugar que viu obras de arte foi no

Shopping Criciúma, em exposições no hall de entrada.

O Monumento a Bíblia e o Monumento ao Mineiro também foram

destacados no questionário de três entrevistados.

A chaminé do bairro Próspera também foi apontado em um questionário.

Uma entrevistada coloca dados novos em suas repostas, não apontados

até o momento, como: painéis na Forauto Veículos; Esculturas na Fundação

Cultural de Criciúma; Altar da Igreja Matriz; e Monumentos na Avenida Centenário.


65

Em resumo, são estas as obras de arte citadas nos questionários

respondidos. O interessante é que na maioria dos questionários, quando os

entrevistados conheciam alguma obra, eram citadas em média de duas a três.

Não se observa uma grande variedade de obras apontadas nos

questionários e de todas as perguntas estas são as que oferecem respostas mais

vazias e com poucas informações, foram as questões que os entrevistados

apresentaram mais dificuldades na hora de responderem.

Diante dos Espaços Culturais existentes na cidade e com o intuito de

perceber se os entrevistados, representando a população de Criciúma, freqüentam e

visitam os mesmos perguntei: “Onde costuma ir quando não está trabalhando?”.

E as respostas foram bastante diversas. A maioria dos entrevistados

dizem que visitam parentes ou ficam em casa. Outros apontam que gostam de

freqüentar cinemas, shoppings da cidade, restaurantes e bares. Grande parcela

também coloca que gosta de ir a festas e boates da cidade e região.

Dois entrevistados colocam que gostam de freqüentar a Praça do

Congresso e a Praça Nereu Ramos aos sábados pela manhã.

Dois entrevistados dizem que em seus tempos vagos adoram freqüentar

espetáculos de Teatro e Dança.

Alguns entrevistados também destacam que gostam de ir a Igreja e fazer

compras.

O questionário procura ainda traçar o perfil dos entrevistados. No que se

refere a escolaridade, dos quarenta questionários, três entrevistados tinham até as

séries iniciais (1ª a 4ª série). Cinco questionários trazem dados de pessoas

formadas no Ensino Médio. Quinze entrevistados estão cursando os curso de

graduação nas mais diversas modalidades (Psicologia, Matemática, Pedagogia,


66

Artes Visuais, Ciências Biológicas, Engenharia de Materiais, Engenharia Ambiental,

Direito entre outros).

Sete questionários são de Especialistas nas áreas de Educação e

Empresarial. Já formados ou em fase de conclusão de monografia. Outros sete são

de alunos que estão cursando Mestrado em Ciências Ambientais, Educação e

Saúde, alguns em fase de construção do trabalho dissertativo e outros iniciando os

cursos. Dois são de mestres na área de Psicologia e Educação. Um questionário é

de um professor com doutorado na área de Educação.

De todos os entrevistados, vinte são do sexo masculino na faixa etária de

vinte a quarenta e quatro anos. Estes entrevistados possuem profissões diversas:

existem seis professores formados, outros cursando graduação sem profissão

estabelecida. Alguns são vendedores, empregados de indústria, estudantes e outros

desempregados.

Já dentre as vinte mulheres entrevistadas, a faixa etária varia dos dezoito

aos quarenta e seis anos. São estudantes, professoras, copeiras, engenheira

ambiental, bióloga, fisioterapeuta, secretárias e vendedoras.

Outro item que compôs o questionário foi sobre o local e o tempo que o

entrevistado morava ou não na cidade. De todos os entrevistados, vinte e um moram

na cidade de seis meses a quarenta e quatro anos. Os outros dezenove visitam a

cidade, moram em cidades vizinhas, ou são estudantes que freqüentam a cidade

durante o ano letivo.

O questionário pedia o nome dos entrevistados, não que este seja um

dado essencial para a função da pesquisa, mas a torna mais pessoal, única. Busca

uma aproximação com o entrevistado uma vez que as perguntas não o trazem a

uma exposição ou a um constrangimento. Diante disto, todos os entrevistados se


67

predisporam a dizer seus nomes, o que tornou a formulação do questionário ainda

mais atrativa e rica ao pesquisador.

Estes foram os dados obtidos com a junção das respostas de todos os

entrevistados. Procuro dar ênfase na transcrição dos três primeiros questionamentos

descritos no início do texto que apresentam a visão dos entrevistados, e logo a visão

da população criciumense sobre o que olham ao andar nas ruas da cidade. O

conhecimento dos mesmos sobre os equipamentos e espaços culturais, bem como

as obras de arte existentes no espaço urbano de Criciúma. Estas perguntas

recebem, então, uma análise mais densa que vem ao encontro das discussões

sobre a construção do Olhar, a formação estética e o olhar sensível.


68

5 REFLETINDO, QUESTIONANDO E SUGERINDO CAMINHOS

A realização deste trabalho, além de trazer maior conhecimento sobre

arte, espaços culturais e construção do olhar, possibilitou um olhar mais

particularizado para a cidade de Criciúma, passando por seu histórico singular, seus

aspectos políticos-administrativos e, especificamente, sobre os equipamentos

culturais e as possibilidades de arte e cultura oferecidas pela cidade.

Olhar e redescobrir a cidade em que vivemos com “um olhar viajante e

investigativo” (LEITE, 2006, p.03) permite reflexões e nos torna cidadãos mais

críticos, pensantes, que participam do dia-a-dia da cidade. Associar as concepções

de cidadania com a percepção dos elementos que constituem a cidade faz parte da

educação como um todo.

Diante de todos o dados observados é interessante perceber como as

pessoas olham para a cidade. O dia-a-dia frenético faz com que não contemplemos

as pequenas coisas, passando muitos detalhes despercebidos.

De acordo com a pesquisa, há quem não saiba distinguir o que é um

espaço cultural, tampouco identificar uma obra de arte em um espaço público da

cidade. Citam os mais divulgados. Será que as políticas públicas de Criciúma estão

privilegiando seus espaços? Ao buscar dados, pesquisas, publicações, sites que

falassem dos equipamentos culturais e de arte da cidade, percebo que há uma

dificuldade de localizá-los e as informações são restritas e incompletas. Como

podemos querer que as pessoas visitem e circulem nestes espaços se as

informações são incompletas e desatualizadas? Será que os poderes públicos não

poderiam pensar em uma forma de divulgação mais extensa, intensa e eficaz que
69

valorizasse seus equipamentos?

A dificuldade de definir um espaço cultural ou os equipamentos culturais

da cidade passa por uma questão anterior: o que é uma obra de arte na cidade?

Respostas: “não sei definir o que é obra de arte”. “Não lembro de ter visto obra de

arte”. Concordo com Leite (2005), Aranha (1993), Buoro (1996) quando falam da

importância e da necessidade de se visitar espaços. Não há como falar de museus,

galerias, cinemas, teatros, obras de arte sem visitá-los, experienciá-los.

Ao debruçar-me na pesquisa sobre os equipamentos culturais, obras de

arte e monumentos da cidade, percebi uma grande desatualização de informações.

Quando se trata da Mina Modelo, por exemplo, as fontes apontam a existência de

um bar, um museu, livres para visitação, seguro. Será que a Mina oferece estas

opções no dia-a-dia da cidade? São informações atualizadas? Precisas?

São inúmeros os espaços documentados, ainda que com dados

desatualizados e incompletos no arquivo histórico e em outros espeços que

registram a história da cidade. Muitos deles são pouco conhecidos, mas que têm

muita história e merecem ser lembrados. Procuro destacar os equipamentos que vão

de acordo com o conceito de equipamentos culturais de uma cidade. Desta forma as

duas Igrejas são citadas por abrigarem obras de Arte de reconhecidos artistas desta

região, o que possibilita um espaço para a Arte uma vez que os entrevistados foram

indagados no sentido de conhecer obras públicas pela cidade.

Outro ponto bastante relevante são os horários de visitação do Museu

Augusto Casagrande e da Galeria de Arte da Fundação Cultural que são reduzidos,

e, ao meu ver, insuficientes. Como podemos querer ampliar e construir um olhar

crítico nas pessoas se não o favorecemos? Como estimular os educadores a

trazerem seus alunos ao museu e à galeria se temos um horário curto de


70

atendimento?

No que se refere ao Paço Municipal, que congrega vários equipamentos

culturais da cidade, chama-me a atenção nas informações sobre a Arena existente.

Há quanto tempo não temos um espetáculo neste equipamento? Como está sua

manutenção, divulgação, apropriação? O mesmo ocorre com o próprio Teatro

Municipal que abriga muito mais formaturas, congressos e seminários do que

propriamente apresentações de teatro, música ou dança. Como pensar na formação

cultural da população se há poucos estímulos dos poderes públicos e

“gerenciadores” de cultura em fomentar apresentações locais e externas?

Diante disto, qual será o perfil da população da cidade? O que será que

desejam assistir, contemplar? Estes são alguns questionamentos que servem para

futuras pesquisas.

Quando falamos em cinema, podemos verificar a existência de quatro

salas na cidade. É um número bastante expressivo se comparado a população da

cidade e que possibilita o contato com esta importante linguagem artística. Há

também o Projeto Central de Cinema desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa, Ensino

e Extensão e Educação Estética - GEDEST, que não foi citado nas entrevistas, mas

que é responsável pela exibição de várias sessões gratuitamente dentro do campus

Universitário e também nas escolas, acompanhado de discussões/reflexões sobre os

olhares dos apreciadores em relação a questões apresentadas.

Dentre os espaços destacados no primeiro capítulo desta produção,

percebo que muitos, nem eu mesmo conhecia até propor este levantamento. São

muitos locais que mantém viva a memória da cidade e que contam parte de sua

história. Alguns dos apresentados anteriormente são citados e descritos neste

trabalho, mas existem espaços citados que não localizei registros.


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Como pensar formas de acesso aos equipamentos, obras de arte

públicas, monumentos históricos que sejam atualizados e que possibilitem precisão

nas informações? Como evidenciá-los? Como levar ao conhecimento da população

todas estas possibilidades de ampliação e formação cultural fazendo as pessoas

entenderem e respeitarem as manifestações artístico-culturais?

Ao observar e fotografar os bustos de pessoas que fizeram parte da

história da cidade, percebo que muitos estão pixados e danificados. A agressão aos

monumentos públicos está muito presente no dia-a-dia das cidades. É necessário

conscientizar e educar o olhar da sociedade para valorizar e respeitar sua história. A

população precisa vivenciar sua arte e seus equipamentos culturais. Muitas destas

obras estão situadas na Praça do Congresso descrita anteriormente, que além de

abrigar alguns monumentos públicos é carregada de outros fatos interessantes na

política de formação das cidades, ou seja, noto que na dinâmica de formação das

cidades, incluindo o próprio nome dado a lugares, ruas, bairros, é dado pelo usos e

costumes da população que a habita, assim após a realização de um Congresso

Religioso, a população passa chamar o espaço como Praça do Congresso.

A partir dos dados colhidos pelo questionário, pude perceber que as

pessoas com maior nível de escolaridade, e principalmente professores, freqüentam

e identificam com maior facilidade os espaços culturais e obras artísticas da cidade.

Isto requer um estímulo dos próprios professores para que instiguem em seus

alunos o despertar do olhar, a vivência da Arte e da cultura nas cidades. Somos

responsáveis por despertar em nosso educando a curiosidade em questionar,

dialogar e experimentar os equipamentos culturais, visitando exposições,

monumentos, peças de teatro, música, dança e cinema.

Diante de todos os entrevistados percebo uma grande diversidade de


72

“olhares” que perpassam dos outdoors, vitrines, carros, pessoas às obras de arte e

espaços culturais da cidade. São muito poucos que destacam em suas entrevistas

as obras de arte da cidade e conseqüentemente desconhecem os artistas que as

criaram. Desta forma, como podemos despertar o olhar do cidadão criciumense e

visitante as possibilidades de arte e cultura da cidade? Como otimizar os espaços

que abrigam estas obras convidando o espectador a olhar?

Não há dúvidas que um dos caminhos seja a valorização da Arte e da

Cultura das cidades pelos órgãos públicos, pelas escolas, universidades... formando

um cidadão que “olha” e não apenas “vê”, e que cuida de sua cidade tornando-a

humanizada e recheada de possibilidades artístico-culturais. Entendendo sobretudo,

que o patrimônio público é de todos em contraposição à visão corrente de que o que

é público não tem dono, não é de ninguém.

De acordo com Lynch, “o espaço urbano é suporte de visualidades

estranhamente díspares” (1997, p.58). A intervenção da arte é um meio de gerar

conhecimentos que alteram ou enriquecem a percepção do cotidiano, ou de marcar

a paisagem urbana com a referência do enigma que faz da cidade também um

abrigo de imagens poéticas.

Para se defender da ameaça do tempo e sustentar uma demanda de

eternidade, o homem inventa, com a arte e a cultura, símbolos secretos que

atravessam gerações e os depositam em outros compartimentos no espaço urbano.

As ruas e praças são incorporadas de significações singulares (imagens subjetivas),

que revertem à banalização da imagem urbana desenhada por um planejamento

que desconhece ou desconsidera as fantasias e devaneios de seus usuários

(CALVINO, 1990).

Diante disto, precisamos entender a cidade como um espaço que abriga


73

todas as nossas produções, nossas mensagens, nossa memória, nossa história e,

sendo assim, é necessário conservá-la e humanizá-la na tentativa de integrar velhos

e novos códigos, definindo valores em função da cultura como um instrumento de

conscientização da vida urbana na busca de despertar olhares e construir

conhecimentos. Talvez este possa ser um dos segredos para a convivência entre

tantos estranhos se encontrando e caminhando no espaço público.

Segundo Le Corbousier (1979), a cidade não é apenas um lugar para

trabalhar, circular e habitar. Os espaços livres, dizia o arquiteto, devem ser lugares

para as atividades coletivas da juventude e proporcionar um espaço favorável para

as distrações, passeios ou atividades nas horas de descanso. Um espaço que

convida para o apreciar, que insira monumentos e obras de arte públicas, enfim,

uma cidade verdadeiramente humanizada.

Ao findar este trabalho percebo que de acordo com os estudos de Leite

(2006), é necessário que a cidade seja formadora e educadora. Que convide o ser

humano a passear pelas ruas, apreciar as fachadas, prédios, paisagens, contemplar

os monumentos e obras e vivenciar seus equipamentos culturais.

A cidade de Criciúma, de acordo com os dados colhidos na pesquisa de

campo e nos arquivos históricos da cidade, possui vários espaços que contam a

história e mostram o trabalho dos artistas. O que quase não existe é a apropriação

destes espaços, bem como a vivência dos mesmos. A maioria das pessoas

desconhece a existência do Teatro, da Fundação Cultural de cidade sem falar nos

monumentos artísticos e históricos distribuídos no espaço urbano.

Esta apropriação só se dará quando o olhar das pessoas for despertado

para a visitação e o contato com a Arte e a Cultura. Precisamos, na correria do dia-

a-dia, reservar um tempo para olhar os pequenos detalhes que passam


74

despercebidos aos nossos olhos e posteriormente visitar e ampliar nosso repertório

nos espaços culturais que a cidade de Criciúma nos oferece.

Com o aumento da visitação, os gestores olharão a Arte e a Cultura com

maior atenção, investindo e mantendo os espaços existentes e possivelmente

construindo e incentivando a produção de outros.

A população precisa ser provocada com as manifestações artísticas. A

arte precisa deixar de ser elitizada e alcançar as camadas populares, assim como

aconteceu na Pop Art1. É preciso que se pense uma arte para o povo na tentativa de

despertar o olhar para as questões culturais.

Não podemos culpar a população de não vivenciar os espaços artísticos

da cidade uma vez que a cidade não incentive e convide a este olhar. Outro aspecto

relevante é a correria e a comodidade do mundo moderno. A televisão, os DVDs, a

internet, os vídeo games... são convites sedutores a nos tornarmos pessoas

fechadas em nossas casas e que não vivenciam e circulam no espaço urbano. A

violência e a insegurança das cidades também faz com que as pessoas se isolem

em seus mundos particulares deixando de experimentar as possibilidades estéticas.

Contudo, finalizo reforçando que para podermos trocar e interagir com os

espectadores precisamos nos reconhecer como produtores e consumidores críticos

de cultura; precisamos nos perceber como tal e usufruir museus, teatros e cinemas.

1
“Pop Art” é a abreviação do termo inglês “popular art” (arte popular). Não significa arte feita pelo povo, mas produzida para o consumo de
massa. Surgiu na Inglaterra em meados dos anos 50, mas realizou todo seu potencial na Nova York dos anos 60, quando dividiu com o
minimalismo as atenções do mundo artístico. Trata-se de um estilo artístico baseado no reprocessamento de imagens populares e de consumo.
Neste movimento artístico o épico foi substituído pelo cotidiano e o que se produzia em massa recebeu a mesma importância do era único
e irreproduzível; a distinção entre “arte elevada” e “arte vulgar” foi assim desaparecendo.
75

REFERÊNCIAS

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Centenário, estão na reta final. Sessão Obras, 23/06, 16h37min. Endereço
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em 04/09/2006.

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Introdução a Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.

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Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis: 2001.

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76

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77

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SILVA, Eunice Assine da. Conhecendo Santa Catarina: Opções Turísticas. Itajaí:
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www.an.com.br. Jornal A Notícia. 25/06/2005 às 04h18 acessado em 07/06/2006.

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Bibliografia Complementar:
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dos cidadãos. 2005. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Artes
Visuais. Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma. (mimeo).

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Práticas Sociais e constituição do sujeito. 2004. Dissertação (Mestrado em
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DIAS, Karina Sperle. Formação Estética: em busca do olhar sensível.


Monografia. Departamento de Educação. Rio de Janeiro: 1998 (mimeo).

FELDHAUS, Marcelo. Espaço Cultural Unesc/Projeto Toque de Arte: um estudo


de caso. 2004. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Artes Visuais).
Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma. (mimeo).

FRANZ, Terezinha S. Educação para a compreensão da arte. Museu Victor


Meirelles. Florianópolis: Insular, 2001.
78

APÊNDICE
79

APENDICE A – Questionário Aplicado a uma amostra da população de


Criciúma
Questionário

O questionário tem o objetivo de reunir informações para uma pesquisa de campo, que
contemplará vários aspectos ligados ao olhar da população de Criciúma, sobre a arte e os
Espaços Culturais da cidade, e é parte da Monografia do Curso de Especialização em
Ensino da Arte da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

Pesquisador: Marcelo Feldhaus

Qual o seu nome completo e sua idade?

........................................................................................................................................
.......................................................................................................................................

Você estudou? Até que série?


........................................................................................................................................

Você tem profissão? Qual?


........................................................................................................................................

Mora na cidade? Quanto tempo?


........................................................................................................................................

Onde costuma ir quando não está trabalhando?


........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................

O que você costuma olhar quando passeia pelas ruas da cidade?


........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................

Você conhece os Espaços Culturais da cidade? Quais?


........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
80

ANEXO

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