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A dura lição de governança corporativa

A cultura corporativa do Japão, baseada numa tradição milenar de


lealdade, prioriza as regras hierárquicas e os subordinados não são
capazes de discutir ou oferecer qualquer tipo de resistência às ordens de
seus superiores. O relatório da auditoria independente realizada na
Toshiba, segundo a BBC, faz referência a uma cultura corporativa em
que “ninguém pode agir contra os desejos dos seus superiores”.

Portanto, quando um chefe apresentava ‘desafios’, todos os funcionários


em cargos hierarquicamente inferiores se sentiam obrigados a executar
a ordem, “mesmo que de forma inapropriada, utilizando práticas de
contabilidade pouco ortodoxas, mas que garantissem os objetivos
traçados pelos seus superiores”.

Loizos Heracleous, professor da Warwick Business School, em entrevista


para a BBC, explica que “estes valores combinados com as pressões do
mercado podem muitas vezes incentivar os executivos a optar por
atalhos, e podem também dificultar a tarefa dos funcionários de colocar
questões embaraçosas e inquiridoras aos executivos”.

O escândalo da Toshiba já é considerado o maior do Japão, desde que a


Olympus Corp. admitiu ter ocultado cerca de 1,7 bilhões de dólares de
prejuízo, em 2011. O caso da Olympus motivou a elaboração de
um festejado código de governança corporativa, que foi adotado pelo
Japão há menos de dois meses e tem o objetivo de, justamente,
melhorar a transparência das empresas.

Shuichi
Takayama, presidente da Olynpus em 2011. Reverência em em sinal de desculpas
(Yoshikazu Tsuno/AFP).
Taro Aso, Ministro das Finanças, declarou que as irregularidades nas
contas da Toshiba são lamentáveis e podem minar a confiança no setor
empresarial de todo o país.
Com escândalos dessa natureza, o Japão se vê forçado ao
enfrentamento de questões que têm suas raízes fincadas na tradição. A
governança corporativa hierárquica, a subordinação incondicional de
todo o staff  às ordens superiores, o hermetismo cultural que não
permite o arejamento e a transparência das práticas corporativas, atrasa
o desenvolvimento empresarial do Japão, que já vem perdendo terreno
para os chineses e coreanos.

Para Kunio Ito, considerado o grande nome por trás do novo modelo
corporativo no Japão, “os investidores estrangeiros dizem que há uma
revolução acontecendo no Japão e que o DNA do país está mudando”,
disse o professor da Universidade Hitotsubashi de Tóquio, que se
prepara para escrever um livro sobre as mudanças corporativas no
Japão.

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