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Sumário

EDITORIAL...............................................................................................................4
VARAL PEDAGÓGICO.............................................................................................4
ESPAÇO INOVAÇÃO
Revista Pedagógica FAZENDO HISTÓRIA...............................................................................................5
Publicação da ASSERS CONVERSANDO COM UMA PERSONALIDADE....................................................8
Associação dos Supervisores AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DO PAPEL DESENVOLVIDO PELA
de Educação do Estado do SUPERVISÃO ESCOLAR/EDUCACIONAL.................................................................. 9
Rio Grande do Sul Iara Márcia Tassinari Cabral
Nº 12 / agosto / 2014
COGNIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO MATEMÁTICO........... 19
ISSN 1807-0647
Ana Paula Ambrósio1
Direção Geral: Joelma Teresinha Gomes2
Yolanda Pereira Morel Janete Alves Vieira 3
Ma. Ivana Lima Lucchesi4
Diretoras Executivas: GÊNEROS TEXTUAIS: EM ESPECIAL A POESIA INFANTIL.................................. 22
Lúcia Elena Müller Ebling Dra. Cristiane Lumertz Klein Domingues*
Maria José Machado de Lima (DES)MOTIVAÇÃO NA APRENDIZAGEM ESCOLAR.............................................. 26
Isabel Cristina Oliveira Loureiro *
Conselho Editorial: IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO E ATENDIMENTOS AOS PORTADORES
Vanderlete Neves da Silva DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTADOS............................................................ 30
Valdemira de Freitas Carpenedo Nadiesca Pohlmann
Leci Teresinha da Costa
O DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO
Colaboradores: PROFISSIONAL..............................................................................................................35
Andrea Alves Lages Andrea Alves Lages1
Flávio Antônio Thiesen2
Angelita Vargas Brazil
José Antônio Oliveira dos Santos3
Cristiane Ferreira Abaide
Daniela Pedra Mattos A SÉTIMA ARTE A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO NA ESCOLA .................................. 37
Luciana Santos Pacheco Tatiana Tavares Leão*
Luciane Ghisleri Zachazeski PENSANDO UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA COERENTE COM AS CRIANÇAS
Maria José Machado de Lima E A ESCOLA CONTEMPORÂNEA............................................................................... 39
Orfelina Moraes Borba Ricardo Cristiane Ferreira Abaide
Yolanda Pereira Morel TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE EM CRIANÇAS
Zélia Dias Martins DA EDUCAÇÃO INFANTIL E O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO............... 44
Ana Paula Carvalho Ambrósio*
Revisão:
Lúcia Elena Müller Ebling UMA REFLEXÃO SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO......................... 49
Luciana Santos Machado Maria dos Anjos da Silva Trabulsi*
Maria José machado de Lima HISTÓRIAS DE VIDA............................................................................................ 52
Yolanda Pereira Morel Maria Paula Conte*
EDUCAÇÃO COM QUALIDADE................................................................................... 53
Projeto Gráfico e Editoração: Nei Alberto Pies*
marcon.brasil Comunicação Direta RETRATANDO POETAS....................................................................................... 54
(51) 3221.7878
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Impressão: Evangraf
E77 Espaço Inovação: Revista Pedagógica / Associação dos Supervisores
Endereço para correspondência: de Educação do Estado do Rio Grande do Sul. - Ano 1, n. 1 (ago.
Av. Borges de Medeiros, 308 sala 106 – 10º and. 2004) - ano 7, n.12 (ago.2014). - Porto Alegre : ASSERS, 2014- .
v. : il.
CEP 90020020 – Bairro Centro – POA – RS
Fones/fax (51) 3228.3498 – 3286.7634 ISSN : 1807-0647

Endereço eletrônico: 1. Educação - Periódicos. I. Associação dos Supervisores de


www.assers.org.br Educação do Estado do Rio Grande do Sul.
assers@assers.org.br
CDD 370

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 3


Editorial
Esta edição é a décima primeira. Desde 2004, esta revista, cação e de seus profissionais. Em
tem chamado a atenção de muitos leitores devido ao seu conteúdo respeito a esta parte que valoriza
sério e comprometido com a educação em termos gerais, apesar nosso trabalho é que mantemos
de ser uma revista pedagógica. Será a penúltima da gestão 2011- ativa esta revista colocando toda
2014. Neste ano, além da Copa do Mundo, das eleições oficiais nossa experiência e conhecimen-
civis, também a ASSERS terá seu pleito no final deste. Portanto, to à serviço de quem necessita. A
estamos em ritmo de festa. Aliás, o povo brasileiro é festeiro por socialização de saberes é impor-
natureza e a própria vida é uma eterna festa. Basta sabermos vi- tante porque o conhecimento não
vê-la. E sabendo vivê-la faremos, com certeza, as escolhas certas. pode ficar parado, acumulado nas
E a escolha certa deverá ser a favor da educação tão abandonada, cabeças, podendo ser útil a ou-
tão sucateada pelo poder público e por nós mesmos. Sim, não va- tros. Nesta edição teremos ideias
mos nos isentar de, também, ter responsabilidade por esta situa- inovadoras com a colaboração de pessoas que querem fazer a di-
ção. O comodismo, o medo de sair da zona de conforto faz-nos ferença. As publicações são ótimas. Esperamos que tenham uma
aplicar a velha metáfora “deixa estar para ver como é que fica” excelente leitura.
ou demonstrar possuir a síndrome da Gabriela “eu nasci assim,
sempre fui assim, não tenho porque mudar”. Ainda bem que não Prof.ª Ms. Yolanda Pereira Morel
são todos. Uma boa parte da população reconhece o valor da edu- Presidente da ASSERS

Varal Pedagógico
CURSO GESTÃO E INOVAÇÃO
EDUCACIONAL
Destinado a associados da ASSERS e aberto a não associados.

Investimento:
SÓCIOS DA ASSERS: R$ 125,00
NÃO SÓCIOS: R$ 150,00

INÍCIO: 14/agosto/14
HORÁRIO: das 8h30min às 12 (teórico-prático) e das 13h30min às 17h (workshop)
LOCAL: Sala da ASSERS

ASSESSORIA PERSONALIZADA NA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO


A ASSERS, com a experiência de quem há 41 anos promove seus ambientes, bem como a designação de profissionais com larga
ações em prol dos Supervisores Educacionais, também presta as- experiência na área específica da assessoria a ser desenvolvida.
sessoria especializada na formação de professores, coordenadores, Confira abaixo as nossas assessorias:
orientadores e gestores de escolas/empresas públicas ou privadas. - Educação Infantil
Para tanto desenvolvemos ações formativas que possibilitam o - Ensino Fundamental e Médio
aperfeiçoamento humano, bem como o processo pedagógico das - Educação Especial
instituições atendidas. - Educação de Jovens e Adultos
O nosso grande diferencial é a metodologia para a construção - Tecnologia Educacional
de cada assessoria, isto é, a elaboração de maneira personalizada, a - Planejamento e Gestão
partir das demandas discutidas com a instituição interessada, visan- - Assessoria Pedagógica a Empresas
do a consideração e a especificidade de cada instituição e como con- - Cursos de Extensão Comunidade Escolar
sequência possibilita a mudança efetiva da prática pedagógica de - Elaboração de Projetos Sociais

4 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


Fazendo História
INSTRUÇÕES AOS AUTORES – REVISTA ESPAÇO INOVAÇÃO
A Revista Pedagógica Espaço Inovação tem o objetivo de 3. Forma de Apresentação dos Artigos
publicar artigos científicos, comunicações científicas e artigos de 3.1. A Revista Espaço Inovação adota as normas de documen-
revisão (revisões bibliográficas) de autores variados. Esta revista tação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) atu-
tem como objetivo, socializar temas relacionados com a educa- alizadas e a norma de apresentação tabular do Instituto Brasileiro
ção, pedagogia, supervisão escolar e orientação educacional. de Geografia e Estatística (IBGE). Os artigos devem ser enca-
minhados em: cópia eletrônica (preferencialmente por e-mail):
1. Procedimentos para Aceitação dos Artigos: assersdigital@gmail.com, digitadas em editor de texto Word for
• Primeira Etapa: análise dos artigos segundo critério de rele- Windows 7.0 ou posterior, em espaço 1,5 linha, parágrafo 1,5, em
vância e adequação às normas editoriais. fonte tipo Arial ou Times New Roman tamanho 12 e o número de
• Segunda Etapa: parecer elaborado por pareceristas “ad hoc”. páginas apropriado à categoria do trabalho, em formato A4, com
Havendo três possibilidades: formatação de margens superior e esquerda (3 cm) e inferior e
a) aceitação integral; direita (2 cm).
b) aceitação com alterações; 3.2. A versão reformulada deverá ser encaminhada em via ele-
c) recusa integral. trônica (assersdigital@gmail.com)
Em qualquer dos casos, o autor receberá cópia do parecer do 3.3. Todo artigo encaminhado à revista deve ser acompanhado
consultor. de carta assinada pelo(s) autor(es), contendo autorização para a
1.1. Línguas: Serão aceitos trabalhos redigidos em português. publicação e a reformulação de linguagem, se necessária.
1.2. As opiniões e conceitos contidos nos artigos são de res- 3.4. A apresentação dos trabalhos deve seguir a seguinte or-
ponsabilidade exclusiva do(s) autor(es). dem:
3.4.1. Folha de rosto contendo:
2. Tipos de colaborações aceitas pela revista: serão aceitos tra- • Título, não devendo exceder 10 palavras;
balhos originais que se enquadrem nas seguintes categorias: • Nome e número de CPF de cada autor, seguido por afilia-
2.1. Artigos Científicos (máximo de 25 laudas): Apresentam, ção institucional e titulação por ocasião da submissão do traba-
geralmente, estudos teóricos ou práticos referentes à pesquisa e lho, Endereço completo para o envio de correspondência; e-mail
desenvolvimento que atingiram resultados significativos. Devem e telefone.
conter os seguintes tópicos: Título. Resumo; Palavras-chave; • Se necessário, parágrafo reconhecendo apoio financeiro e/
Abstract ou Resumen; Key-words ou Palabras Clave; Introdução; ou colaboração.
Justificativa; Metodologia; Resultados; Análise; Considerações • Resumo e Abstract/Resumem: mínimo 100 e máximo de
Finais e Referências. 250 palavras, redigido em parágrafo único, espaço simples e ali-
2.2 Comunicações Científicas e Divulgações (máximo de 5 nhamento justificado e Palavras-chave e key-words/palavras cla-
laudas): São textos mais curtos, nos quais se apresentam resulta- ve (mínimo 3 e máximo 5) para fins de indexação do trabalho.
dos preliminares, julgados relevantes, de uma pesquisa em curso. Devem ser escolhidas palavras que classifiquem o trabalho com
Devem conter os seguintes tópicos: Título. Resumo; Palavras- precisão adequada.
chave; Abstract ou Resumen; Key-words ou Palabras Clave; 3.4.2 Texto propriamente dito
Introdução; Justificativa; Metodologia; Resultados; Análise; po- • As citações bibliográficas devem ser feitas de acordo com
dendo conter tabelas ou ilustrações; e Referências. as normas da ABNT (NBR 10520 – 2002), adotando-se o sistema
2.3. Artigos de Revisão (máximo de 25 laudas): Apresentam autor-data. Ex.:
um breve resumo de trabalhos existentes, seguidos de uma ava- Barcellos et al. (1977) encontram...
liação das novas ideias, métodos, resultados e conclusões, e ... fatores de risco (MORAES; SILVA, 1988)...
uma bibliografia relacionando as publicações significativas so- ... com problemas urinários de suínos” (LIEBHOLD et al.,
bre o assunto. Devem conter: Título. Resumo; Palavras-chave; 1995, p. 20).
Abstract ou Resumen; Key-words ou Palabras Clave; Introdução; Segundo Barros (1990 apud ANTUNES, 1998, p. 10),...
Justificativa; Metodologia; Resultados; Análise; Considerações – Na lista das Referências, cada trabalho referenciado deve ser
Finais e Referências. separado do seguinte por 2 (dois) espaços. Apresentada em ordem
alfabética, não numerada.

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 5


• As notas não bibliográficas devem ser colocadas no rodapé, deverão ter permissão escrita do(s) autor(es).
ordenadas por algarismos arábicos e aparecer imediatamente após O(s) autor(es) deve(m) encaminhar junto com o artigo, Carta
o segmento do texto ao qual se refere a nota. de Autorização para Publicação (Anexo A) e Concessão de
• Os locais sugeridos para inserção de ilustrações e tabelas Direitos Autorais (Anexo B).
devem ser indicados no texto. 4.2. Reprodução parcial de outras publicações
• Ilustrações e tabelas, com as respectivas legendas, devem Artigos analisados que contiverem partes de texto extraídas
ser apresentadas em folhas separadas e, no caso de ilustrações, de outras publicações devem obedecer aos limites especificados
em arquivos gravados em extensão JPEG, em modo CMYK para para garantir originalidade do trabalho analisado. Recomenda-se
as coloridas e modo grayscale (tons de cinza) para as P&B, com evitar a reprodução de tabelas e ilustrações extraídas de outras
resolução de 600dpi. publicações.
3.4.3 Referências (NBR 6023 – Informação e Documentação O artigo que tiver reprodução de uma ou mais tabelas e/ou
- Referências - Elaboração / Ago. 2002) ilustrações de outras publicações só será encaminhado para aná-
Devem conter todos os dados necessários à identificação das lise se vier acompanhado de permissão escrita do detentor do di-
obras, dispostas em ordem alfabética. Para distinguir trabalhos reito autoral do trabalho original para a reprodução especificada
diferentes de mesma autoria, será levada em conta a ordem crono- na Espaço Inovação. A permissão deve ser endereçada ao autor do
lógica, segundo o ano da publicação. Se num mesmo ano houver trabalho analisado. Em nenhuma circunstância a Espaço Inovação
mais de um trabalho do(s) mesmo(s) autor(es), acrescentar uma e os autores dos trabalhos publicados nesta revista repassarão di-
letra ao ano (Ex. 1999a; 1999b). reitos assim obtidos.

4. Direitos Autorais 5. Os trabalhos, aceitos ou não aceitos para publicação, não se-
4.1. Artigos publicados na revista pedagógica Espaço Inovação rão devolvidos aos autores (serão incinerados). Todos os anexos
Os direitos autorais dos artigos publicados pertencem à revista se encontram no site da ASSERS (www.assers.org.br), na guia
pedagógica Espaço Inovação. A reprodução total dos artigos desta publicações, artigos e pesquisas.
revista em outras publicações, ou para qualquer outra utilidade,
está condicionada à autorização escrita do(s) Editor(es). Pessoas 6. Endereço para Encaminhamento:
interessadas em reproduzir parcialmente os artigos desta revista E-mail: assersdigital@gmail.com ou assers@assers.org.br
(partes do texto que excedam a 500 palavras, tabelas e ilustrações) Fones (051) 32867634/32283498/86060286

ANEXO A
MODELO DE CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO

Ao Conselho Editorial da revista Espaço Inovação

Área: ( ) Educação ( ) Pedagogia ( ) Supervisão Escolar ( ) Orientação Educacional

Título do Artigo: ______________________________________________________________


___________________________________________________________________


Nome(s) do(s) autor(es): ____________________________________________________________
___________________________________________________________________

O(s) autor(es) do presente trabalho se compromete(m) a cumprir as seguintes normas:

1) Todos os autores relacionados acima participaram do trabalho e responsabilizam-se publicamente por ele.
2) Todos os autores revisaram a forma final do trabalho e o aprova para publicação na revista Espaço Inovação.
3) O(s) autor(es) concordam em ceder os direitos autorais do artigo à revista Espaço Inovação e a reprodução total ou parcial do mesmo em outras
publicações requer a autorização por escrito da Diretoria Central, responsável pela revista.

Local/Data
Assinatura do Autor Responsável

6 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


ANEXO B
CONCESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
(Modelo de Autorização)
Esta autorização, devidamente preenchida, datada, assinada pelo autor principal, deverá ser entregue juntamente com a via eletrônica do artigo, e,
quando necessário, cópia do Consentimento Livre e Esclarecido assinado pela pessoa no caso de utilização de sua imagem.
Nome:....................................................................................endereço........................., RG........................CPF.......................... do(s) autor(es),
elaborou(aram) o original do artigo “........................................................................................”, e por ser(em) titular(es) da propriedade literária do mesmo
e em condições de autorizar(em) a edição de seu trabalho, concede(m) à Revista Espaço Inovação – Conselho Editorial permissão para comercializar,
editar e publicar o citado artigo no site da ASSERS, na “Revista Espaço Inovação”, em número e volume ainda a serem definidos pelo Conselho
Editorial da revista “Espaço Inovação”. Essa concessão não terá caráter de ônus algum para o Conselho Editorial da revista “Espaço Inovação”, ou
seja, não será necessário o pagamento em espécie alguma pela utilização do referido material, tendo o mesmo o caráter de colaboração. O(s) Autor(es)
compromete(m)-se a assegurar o uso e gozo da obra à revista Espaço Inovação – Conselho Editorial, que poderá explorá-la nas edições que fizer
e compromete(m)-se também a não autorizar(em) terceiros a transcreverem ou traduzirem parte ou totalidade da obra sem expressa autorização do
Conselho Editorial da revista Espaço Inovação, cabendo ao infrator as penas da legislação em vigor. O Conselho Editorial da revista Espaço Inovação
compromete-se a entregar duas revistas ao Autor Principal, caso o artigo seja publicado. O Autor tem ciência de que: 1. A publicação desta obra
poderá ser recusada caso o Corpo Editorial da “Espaço Inovação”, responsável pela análise dos artigos, não ache conveniente sua publicação, seja
qual for o motivo, sendo que este cancelamento não acarretará responsabilidade de espécie alguma e nem a qualquer título por parte do Conselho
Editorial da Espaço Inovação; 2. A Revista Espaço Inovação – Conselho Editorial reservam-se o direito de modificar o texto, quando necessário,
sem prejudicar seu conteúdo, com o objetivo de uniformizar a apresentação.
Data:
Nome do(s) Autor(es) e assinatura:

ANEXO C
CHECKLIST – ANTES DE ENVIAR O ARTIGO

Primeira análise
( ) Carta de encaminhamento, contendo assinatura e dados de todos os autores
( ) Concessão dos direitos autorais para a revista
( ) Compromisso de respeito a todos os aspectos éticos inerentes à realização de um trabalho científico
( ) Identificação da categoria na qual o artigo se enquadra
( ) Cópia eletrônica (por e-mail ou CD-ROM)
( ) Texto em espaço 1/5
( ) Folha de rosto com: Resumo e Abstract/Resumem; Palavras-chave e Key words/Palabras Clave
( ) Referências de acordo com as normas da ABNT de 2014 de Pedro Augusto Furasté
( ) Notas e anexos (se inevitáveis)
( ) Ilustrações (em JPEG, imagens em preto e branco (modo grayscale) e/ou coloridas (modo CMYK), com resolução de 600 dpi).

Artigo Reformulado
( ) Carta de encaminhamento especificando alterações feitas e justificando aquelas não efetuadas
( ) Cópia eletrônica

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Conversando com uma personalidade
A Revista pedagógica Espaço Inovação conver- cador, ele é imprescindível. Essa é a função
sou com o grande palestrante Luciano Pires. básica de um líder: garantir que os relaciona-
Nascido em Bauru, SP, em 1956, começou a mentos entre os vários agentes do processo
trabalhar em jornais ainda garoto como revi- aconteçam de forma suave, constante e
sor, cartunista e depois colunista. Formou-se positiva. O supervisor imprescindível é o que
em Comunicação em 1977 pela Universidade facilita as conexões entre as pessoas, o que
Mackenzie em São Paulo. Também cursou une as pontas, o que coloca as carências em
Marketing para Executivos na Fundação Getúlio contato com as ofertas. Aquele supervisor
Vargas; o Executive Development Program na que faz apenas o papel de policial, não é
University of Michigan Business School e o Six mais necessário. Ele só atravanca o processo
Sigma (Malcon Baldrige) Examiner Program e cria conflitos.
na Dana University (EUA). Foi executivo de
multinacional do segmento de autopeças por Como aproximar a educação que temos
26 anos, até tornar-se empreendedor à frente hoje da educação 3.0?
da fertilizadora cultural Café Brasil Editorial. Mantém hoje Revendo todo o sistema, valorizando os professores, ins-
um portal bastante popular (www.portalcafebrasil.com.br) tituindo a meritocracia em todos os níveis, desintoxicando
com enquetes, fórum, artigos, vídeos, rádio e uma variedade as escolas que forma professores de ideologias estra-
de conteúdos focados nas questões da educação e da luta nhas, profissionalizando as administrações das escolas,
contra o emburrecimento do Brasil. Escreveu seis livros e é etc., etc., etc. Olha só, essas duas linhas que acabo de
um dos mais requisitados palestrantes brasileiros. escrever provavelmente vão provocar uma greve de pro-
fessores e funcionários em algum lugar...
O que pensas sobre a educação brasileira hoje? Todos já sabem o que fazer, o problema é como fazer.
Luciano Pires: Penso que as mentes responsáveis pelo
pensamento estratégico da educação brasileira no longo Qual seu pensamento sobre escolas do século XIX,
prazo ou perderam a perspectiva ou morreram e não foram com professores do século XX, atendendo alunos do
repostas. Estamos amarrados a processos e programas século XXI?
antigos, implementados por gente sem competência e sem Não corre nenhum risco de dar certo. Veja só, temos três
capacidade de controlar o gigantesco volume de dinheiro problemas sérios: forma, conteúdo e relacionamento. No
aplicado no setor da educação. Junte-se a isso a pressão lado do conteúdo, temos um currículo ultrapassado que,
sindical de professores, funcionários e estudantes e temos mesmo que contenha conhecimento precioso, está em
o quadro de penúria no qual nos encontramos hoje. grande parte desconectado da vida das crianças. E é assim
há anos. No lado da forma, a escola hoje compete com
Como mudar a educação que está aí? os videogames, com a internet, com cérebros de crianças
Primeiro repensando o que queremos ser em 5, 10, 15 treinados a lidar com dezenas de coisas ao mesmo tempo,
e 50 anos. Para onde o Brasil quer ir, o que buscamos. com um imenso déficit de atenção. Convencer essa nova
Depois juntar um grupo capaz de pensar à frente, com criança a ficar sentada numa sala de aula, decorando
futurólogos, que apontem quais serão as carências futuras fórmulas ou lidando com matérias que ela imagina que não
e comecem a trabalhar num plano nacional de educação usará no futuro é um desafio sem precedentes. Os pro-
que contemple as competências que devem ter as crian- fessores têm que ser verdadeiros artistas para conseguir
ças que estarão á frente do país em 30 anos. capturar a atenção da garotada e colocar algo que preste
Essa é a ação de médio e longo prazo. em suas cabeças. E isso só tende a piorar, posto que os
Mas é necessária também uma ação imediata, que resol- conflitos de gerações estão cada vez mais presentes. No
va as carências do agora. Sou da opinião que temos que lado do relacionamento, os professores perderam ao pouco
buscar com quem sabe como fazer (tipo Instituto Ayrton a autoridade. Hoje são “amigões”, com todas as implica-
Senna) e transferir a essas entidades a responsabilidade ções que isso pode provocar no aprendizado dos preceitos
sobre grande parte do complexo sistema de educação morais que a sociedade precisa para funcionar. Respeito
brasileiro. É preciso diminuir a interferência do estado na com o semelhante, cuidado para com os mais velhos,
educação, fazendo com que seus esforços se concentrem valorização dos conselhos, valorização dos modelos nos
naquilo que realmente agrega valor: dar as condições quais se inspirar. O professor tem perdido espaço nessa
para que as pessoas ensinem e estudem. E isso não inclui área para as estrelas da mídia, para as celebridades, para
ser dono dos prédios onde funcionam as escolas. Mas há os heróis que a garotada valoriza. Essa me parece a ques-
um impedimento ideológico nessa premissa, que é outro tão mais complexa de todas, pois não pode ser resolvida
ranço que impede a evolução educacional do país. apenas com um aparato técnico, depende dos pais, da
formação dos valores morais da s crianças. Isso vai longe...
O supervisor escolar é importante na escola? Por quê? Há que se integrar a tecnologia ao aprendizado, o “público
Quando o papel do supervisor é o de facilitador e de edu- alvo” da escola mudou e ela precisa mudar com ele.

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AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DO PAPEL
DESENVOLVIDO PELA SUPERVISÃO ESCOLAR/
EDUCACIONAL
Iara Márcia Tassinari Cabral

RESUMO
Este estudo traz como objetivo geral investigar a importância da atuação da Supervisão Escolar/Educacional na Avalia-
ção da Educação Infantil nas Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIS) e Centro Municipal de Educação Básica
(CMEB), no município de Esteio/RS. Adotou-se a metodologia de pesquisa empírica e aplicada. A problemática do estudo
é de ordem qualitativa, onde se buscou compreender o papel da Supervisão Escolar/Educacional no processo avaliativo
na Educação Infantil. Sendo uma pesquisa do tipo descritiva, os instrumentos utilizados foram a observação, a entrevista
e o questionário com questões abertas, que articulados desvelaram as questões referentes a avaliação na Educação
Infantil e as contribuições da Supervisão Escolar/Educacional nessa etapa. Os sujeitos envolvidos na pesquisa foram
5 (cinco) supervisoras de 4 (quatro) EMEIS e 1 (um) CMEB da cidade de Esteio/RS. Trata-se de pesquisa bibliográfica
e documental, e os dados coletados foram analisados pelo seu conteúdo, a partir do referencial teórico, na intenção de
conhecer o papel desenvolvido pela Supervisão Escolar/Educacional no processo avaliativo da Educação Infantil, no mu-
nicípio de Esteio/RS. Algumas referências que embasaram o estudo foram: (HOFFMANN, 1996/1999), (LIBÂNEO, 1991),
(LDB 9.394/1996), (LIMA & MOREL, 2013). Constatou-se que as supervisoras são mediadoras, reflexivas e colaborativas,
conhecem suas atribuições profissionais, embora desempenhem outras funções no interior da escola. Ademais, enten-
dem e reconhecem a importância de seu papel no processo avaliativo da Educação Infantil, tendo a aprendizagem, a
criança e seu desenvolvimento como objeto de trabalho.
Palavras-chave: Supervisão. Educação. Avaliação. Infantil.

INTRODUÇÃO
Considerando a Educação Infan-
til, uma das etapas mais importantes da
Educação Básica, baseada em estudos e
consenso entre educadores e especialis-
tas, que os primeiros anos de vida são
os mais importantes para o aprendizado
humano, entende-se que as chances de
uma criança que teve uma boa educação
na primeira infância, venha a ser bem su-
cedida na vida adulta, são bem maiores.
Diante disto, e entendendo que o ensino
em creches e pré-escolas deveria ser
prioridade das políticas públicas do país,
faz-se necessário que estes estabeleci-
mentos tenham, além de infraestrutura,
também, planejamento pedagógico e
profissionais adequados e competentes,
capazes de entenderem seu papel na Edu-
cação Infantil, primando para que estes
locais, não acabem funcionando apenas
como verdadeiros depósitos de crianças.
A presente pesquisa tem a fina-
lidade de apresentar o processo teórico
através de estudos relacionado ao tema
Supervisão Escolar/Educacional: seu papel
diante da avaliação na Educação Infantil. Estes de Pós-Graduação em Supervisão Escolar/ (ASSERS).
estudos transcorreram no período que compre- Educacional, da Universidade Tuiuti do Pa- A razão da escolha do tema prendeu-se
endeu entre os meses de março a dezembro raná, em parceria com UNÍNTESE de Santo ao fato de que as experiências vividas na Gra-
de 2013. Esta atividade faz parte do trabalho Ângelo e com a Associação dos Supervisores duação em Pedagogia, mais precisamente no
de conclusão de curso apresentado ao Curso Educacionais do Estado do Rio Grande do Sul Estágio Curricular I – Educação Infantil, possi-

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bilitou a percepção da necessidade de existir um Definiram-se como objetivos: Inves- ticamente articulados, serviram para levantar
profissional articulador do processo educacional tigar a importância da atuação da Supervisão dados e informações por parte dos sujeitos
com as transformações sociais e políticas da Escolar/Educacional na Avaliação da Educação pesquisados, a fim de conhecer a opinião des-
atualidade. Um ser capaz de compartilhar o Infantil nas Escolas Municipais de Educação tes sobre os assuntos em estudo. Para coletar
processo pedagógico, capaz de responder pela Infantil (EMEIS) C.A., I.S., R.S., V.I. e Centro os dados, aplicou-se um questionário com as
articulação de projetos, entendendo os proces- Municipal de Educação Básica (CMEB) P.F., no supervisoras, composto por questões abertas
sos de ensino e aprendizagem da escola infantil, município de Esteio/RS. Verificar pontos de in- voltadas a avaliação na Educação Infantil para
objetivando alcançar o nível de qualidade que teresse da Supervisão Escolar/Educacional com posterior análise e considerações. As respostas
se espera, desta etapa tão importante da vida relação à avaliação na Educação Infantil; Iden- aos questionários não serão transcritas na ínte-
da criança, contribuindo para que a Educação tificar desafios e possibilidades da Supervisão gra e, sim, serão extraídos aspectos primordiais
Infantil adquira qualidade frente a outros níveis Escolar/Educacional na avaliação da Educação das mesmas para análise.
de ensino, tornando esta etapa valorizada pela Infantil; Investigar até que ponto a Supervisão Também é uma pesquisa bibliográfica
sua especificidade, auxiliando no coletivo e na Escolar/Educacional tem consciência de seu e documental, pois, utilizou-se de registros e
elaboração do processo avaliativo através de papel no processo avaliativo nas escolas de embasamentos já disponíveis, decorrentes de
um olhar diversificado. Educação infantil. pesquisas anteriores para análise da inves-
Estudos específicos nesta área, tam- O estudo está organizado em cinco tigação. Os dados serão analisados pelo seu
bém apontam para a perspectiva de avaliação itens sendo que, no primeiro, é apresentado o conteúdo que de acordo com Bardin
contínua, onde é possível destacar Hoffmann trabalho, o tema e o problema, os objetivos, as [...] visam iniciar um investigador iniciante na
(1999), que propõe o processo avaliativo a questões norteadoras e outros itens introdutó- tarefa seguinte: O jogo entre as hipóteses, entre
partir de um olhar sensível e reflexivo sobre rios. No segundo item, parte mais extensa e a ou as técnicas e a interpretação, isto porque a
a criança. Um profissional que tenha a “visão consistente do trabalho, estão apresentados a análise de conteúdos se faz pela prática, produ-
sobre” as transformações social-política e fundamentação teórica atinente ao tema Avalia- zindo sentido e significados na diversidade de
pedagógica da educação. Entende-se que este ção na Educação Infantil: do papel desenvolvido amostragens presentes no mundo acadêmico
profissional é o Especialista em Supervisão pela Supervisão Escolar/Educacional, além da (2009, p.51).
Escolar/Educacional. metodologia adotada para a realização da pes- O universo abordado nesta pesquisa
Para o desenvolvimento desta pesquisa, quisa, trazendo o tipo de pesquisa, a população, compreendeu as EMEIS C.A., I.S., R.S., V.I.
buscou-se junto a vários autores, fundamen- a amostra e a forma de apresentação de dados. e CMEB P.F., totalizando 5 (cinco) escolas no
tação teórica para os estudos em questão. A No terceiro item discorre-se sobre a município de Esteio/RS, determinando o nú-
proposta de trabalho consistiu em pesquisar a análise dos dados obtidos na pesquisa e apre- mero final de sujeitos que possuem as mesmas
respeito da Avaliação na Educação Infantil e do senta-se uma confrontação entre o referencial características definidas para certo tema. Já a
papel desenvolvido pela Supervisão Escolar/ teórico e a análise. No quarto item apresentam- amostra selecionada para o estudo, foi com-
Educacional nas Escolas Municipais de Educa- se as considerações finais, uma vez que não é posta por 5 (cinco) profissionais da Supervisão
ção Infantil (EMEIS) C.A., I.S., R.S. V.I. e no possível se chegar à uma conclusão quando Escolar/Educacional das escolas mencionadas,
Centro Municipal de Educação Básica (CMEB) tudo na vida não é finito, tudo é efêmero. Traz sendo realizadas observações e entrevistas com
P.F., escola de turno integral, onde também está também, a revisão sintética dos resultados e da as 5 (cinco) supervisoras.
contida a Educação Infantil, no município de discussão do estudo realizado e que tem como Importante ressaltar que, ao iniciar a
Esteio/RS. Este estudo conduziu a uma reflexão objetivo, destacar as principais questões acerca pesquisa, a população abordada foi de 5 (cinco)
sobre a importância da Supervisão Escolar/ do estudo desenvolvido. EMEIS e 1 (um) CMEB, com uma amostragem
Educacional na Avaliação da Educação Infantil. de 7 (sete) supervisoras. No entanto, não foi
Diante deste contexto definiu-se o pro- 1.1 METODOLOGIA possível contar com 2 (duas) profissionais, devi-
blema de pesquisa: Qual o papel da Supervisão Esta pesquisa foi desenvolvida dentro do a uma delas ter entrado em licença saúde no
Escolar/Educacional nas Escolas Municipais de uma perspectiva qualitativa, fazendo um decorrer da pesquisa e, a outra, julgar inviável
de Educação Infantil (EMEIS) C.A., I.S., R.S., delineamento integrado que pode combinar os sua participação naquele momento, excluindo
V.I. e no Centro Municipal de Educação Básica dados com o referencial teórico. A pesquisa sua escola do estudo.
(CMEB) P.F., no município de Esteio/RS? qualitativa trata da investigação de valores, Para garantir a privacidade das insti-
Elencaram-se como questões norteado- símbolos, atitudes, crenças, percepções e tuições, as mesmas passam a ser identificadas
ras do trabalho: O que é avaliação na Educação motivações do público pesquisado. Tem como como: Supervisora Escolar (SE) A, B, C, D,
Infantil? A avaliação na Educação Infantil é objetivo principal de compreendê-los em pro- E. Os questionários foram aplicados no mês
destinada a quem? Quais as contribuições da fundidade; não tendo preocupação estatística de agosto de 2013, pela pesquisadora, no
Supervisão Escolar/Educacional nas Escolas (MOREIRA, 2004). local de trabalho da amostragem pesquisada.
Municipais de Educação Infantil e Centro Mu- Sendo uma pesquisa do tipo descri- As respostas obtidas na pesquisa foram ana-
nicipal de Educação Básica quanto à avaliação tiva, foram utilizadas técnicas de pesquisa lisadas e interpretadas à luz das observações,
na Educação Infantil? Para que e para quem padronizadas de coleta de dados (observação, entrevistas e questionário, sendo apresentadas
serve a avaliação na Educação infantil? questionários e entrevistas), na qual sistema- posteriormente.

10 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


os conceitos de socialização e endoculturação, que irão auxiliá-la na construção e na forma de
2 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO mas não se resume a estes. Sofre mudanças, organizar suas ideias. O ECA (BRASIL, 1990,
de acordo com o grupo ao qual ela se aplica, art., 2º), define “a criança como a pessoa até os
INFANTIL: O PAPEL e se ajusta a forma considerada padrão pela 12 (doze) anos de idade incompletos”. Desse
DESENVOLVIDO PELA sociedade. modo, significado genérico da infância está
SUPERVISÃO ESCOLAR/ diretamente ligado às transformações sociais,
EDUCACIONAL 2.2 EDUCAÇÃO INFANTIL: culturais, econômicas, da sociedade de um
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA determinado tempo e lugar, que possui seus
Quando se fala em avaliação, é preciso CRIANÇA E DA INFÂNCIA próprios sistemas de classes, de idades e seus
refletir nas inúmeras ações de todos os sujeitos A construção da identidade das creches sistemas de status e de papel social. É a fase
envolvidos na educação, principalmente o e pré-escolas, a partir do século XIX em nosso da vida que envolve e desenvolve os aspectos
Supervisor Escolar/Educacional. Este tem um país, insere-se no contexto da história das po- físico-motor, cognitivo e pessoal-social. Consti-
papel muito importante, pois, dele depende líticas de atendimento à infância, marcado por tui-se de forma diferenciada em cada momento
a eficácia deste procedimento de maneira a diferenciações em relação à classe social das histórico e, dependendo do valor que lhe é
auxiliar tanto o aluno quanto o sistema escolar crianças. O atendimento em creches e pré-esco- atribuído, à criança é dada a oportunidade de
nas instituições de ensino. las como um direito social das mesmas se con- viver determinadas experiências.
cretiza na CF de 1988, com o “reconhecimento É importante salientar que:
2.1 EDUCAÇÃO – PRIMEIRAS da Educação Infantil como dever do Estado com A infância é reinventada por cada sociedade.

PALAVRAS a Educação” (cap. III, seção I, art. 205). Cada sociedade pode criar a sua própria imagem

Antes mesmo de existirem escolas, a Um novo paradigma de atendimento do que são as crianças. Sendo a imagem uma
à infância, iniciado em 1959 com a Declara- convenção cultural, entende-se que existem
educação já era assunto de pensadores como muitas imagens possíveis. Entretanto, algumas
Sócrates, Platão e Aristóteles, que já discutiam ção Universal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, foi instituído no país pelo artigo focalizam mais as necessidades das crianças,
a educação como forma e conhecimento de em detrimento de suas capacidades e potenciais
mundo e de si mesmo. Educadores da atualidade 227 da CF de 1988 e pelo Estatuto da Criança
(GANDINI & EDWARDS, 2002, P. 76).
trabalham sob a influência desses, pois suas e do Adolescente (ECA), através da Lei Fe-
ideias foram incorporadas à prática pedagógica, deral Nº 8.069/90. Tornou-se referência para Sendo a infância inventada e rein-
à organização do sistema escolar, ao conteúdo os movimentos sociais de “luta por creche” e ventada em cada sociedade, subentende-se,
dos livros didáticos e ao currículo docente. orientou a transição do entendimento da creche que a infância é uma convenção/interpretação
De acordo com a lei maior, a Consti- e pré-escola, como um favor aos socialmente cultural. Consequentemente, uma questão sócio
tuição Federal (CF) de 1988, cap. III, Seção I, menos favorecidos, para a compreensão desses -política que permite ou não reconhecer certas
Art. 205: espaços como “um direito de todas as crianças qualidades: o que as crianças não podem ser ou
A educação, direito de todos e dever do Estado à educação, independentemente de seu grupo fazer, em vez do que elas podem ser ou fazer.
e da família, será promovida e incentivada com social” (Parecer CNE/CEB Nº 20/2009-MEC).
a colaboração da sociedade, visando ao pleno Ao falarmos de criança e infância, na 2.3 DESENVOLVIMENTO
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o perspectiva da Educação Infantil, devemos nos INFANTIL: ASPECTOS AFETIVOS,
exercício da cidadania e sua qualificação para remeter ao contexto na qual ela está inserida, e COGNITIVOS, FÍSICOS E SOCIAIS
o trabalho. a partir daí, desenvolver suas relações sociais Na atualidade, reconhece-se a impor-
nos aspectos econômico, histórico, cultural e tância do brincar com a finalidade de auxiliar
O conceito de Educação engloba o nível
político, que, por sua vez, mostram diferentes no desenvolvimento infantil. Por meio da brin-
de cortesia, delicadeza e civilidade demonstrada
infâncias coexistindo em um mesmo tempo e cadeira, a criança desenvolve saberes, resolve
por um indivíduo e a sua capacidade de socia-
lugar. A criança é um sujeito social e de direitos, conflitos, experimenta sensações, lida com
lização. O acesso ao ensino escolar formal faz
participante de uma organização familiar e está diferentes sentimentos e aprende a conviver e
parte do processo de educação dos indivíduos
inserida em uma sociedade. a cooperar com um grupo, sendo o brincar, uma
e é um direito fundamental do ser humano que
Dessa forma, a criança como ser po- linguagem natural da própria criança.
deve ser garantido pelo Estado.
lítico e social, é sujeito de seu próprio desen- O desenvolvimento da criança ocorre
De acordo com Haddad:
volvimento. É autônoma, com capacidades e simultaneamente nos aspectos físico, intelectu-
Conceber a educação como direito humano
liberdade de tomar decisões. É crítica e criativa, al, social, emocional e moral. A construção de
diz respeito a considerar que as pessoas se
diferenciam dos outros seres vivos por uma
observadora, questionadora, curiosa e inven- sua personalidade deve ser respeitada, sem, con-
característica inerente à sua espécie: a vocação tiva. É participativa, agindo com cooperação tudo, deixar de transmitir valores ou de colocar
de produzir conhecimento e, por meio dele, e reciprocidade. É um ser lúdico que faz suas a ela os limites necessários. É fundamental que
transformar a natureza, organizar-se socialmente próprias construções através do ato de brincar, a criança aprenda não só conteúdos escolares,
e elaborar cultura [...] (2004, p.14). do “faz-de-conta” [grifo da pesquisadora] e do mas que possa conviver em sociedade. Cabe a
imitar. Estabelece vínculos afetivos com adultos família e a escola conhecer e respeitar os passos
Nesse sentido, educação coincide com e com seus pares, criando situações prazerosas, do desenvolvimento infantil.

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 11


A Educação Infantil constitui-se em anos de idade. Metas que ainda persistem como cação Infantil, ou seja, o direito das crianças de
ação pedagógica intencional, caracterizada um grande desafio a ser enfrentado pelo país. 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade à matrícula
pela indissociabilidade entre cuidar e educar, Novos desafios foram colocados para a em escola pública (art.205), gratuita e de qua-
considerando as vivências socioculturais das Educação Infantil, exigindo assim, a reformula- lidade (art. 206, incisos IV e VI), igualdade de
crianças. Na perspectiva que integra o cuidado, ção e a atualização das Diretrizes. Destaca-se condições em relação às demais crianças para
educar não é apenas isto. Educar cuidando, a ampliação das matrículas, a regularização do acesso, permanência e pleno aproveitamento
inclui acolher, garantir segurança, mas também funcionamento das instituições, a diminuição de das oportunidades de aprendizagens propiciadas
alimentar a curiosidade, a ludicidade e a expres- docentes não habilitados na Educação Infantil e (art. 206, inciso I).
sividade infantil. o aumento da pressão pelo atendimento adequa- Na continuidade dessa definição, a
Para trabalhar o desenvolvimento do. Surgem novas demandas para a política de LDB afirma que:
integral da criança, é importante lidar com a Educação Infantil, pautando questões que dizem A educação abrange também, os processos
inteligência emocional, o que está intimamente respeito às propostas pedagógicas, aos saberes formativos que se desenvolvem na vida familiar,
ligado à autoestima saudável. É preciso, além e fazeres dos professores, às práticas e projetos na convivência humana, no trabalho, nas insti-
de conhecimento, saber acolher a criança, cotidianos desenvolvidos junto às crianças, ou tuições de ensino e pesquisa, nos movimentos
buscando identificar e trabalhar sentimentos e seja, às questões de orientação curricular. É sociais e organizações da sociedade civil e nas
interesses, enxergando-a como um ser humano essencial, para incorporar os avanços presentes manifestações culturais (LDB Nº 9.394/96,
em desenvolvimento, em processo, e procurar na política, na produção científica e nos movi- art. 1º).
tornar a aprendizagem significativa. mentos sociais da área. Constitui instrumento As instituições de Educação Infantil
Segundo Bock (2004, p. 261) “ao estratégico na consolidação do que se entende estão submetidas ao sistema de ensino em que
transmitir a cultura e, com ela, modelos sociais por uma Educação Infantil de qualidade, se encontram integradas, tendo sua forma de or-
de comportamento e valores morais, a escola [...] ao estimular o diálogo entre os elementos ganização variada, podendo constituir unidade
permite que a criança “humanize-se”, cultive- culturais de grupos marginalizados e a ciência, independente ou integrar instituição que cuida
se, socialize-se ou, numa palavra, eduque-se”. a tecnologia e a cultura dominantes, articulando da Educação Básica. Podem atender faixas
A criança, então, vai deixando de imitar os necessidades locais e ordem global, chamando etárias diversas nos termos da Lei Nº 9.394/96,
comportamentos adultos, para aos poucos, a atenção para uma maior sensibilidade para em jornada de, no mínimo, 7 horas diárias, ou
apropriar-se dos modelos e valores transmitidos o diverso e o plural, entre o relativismo e o
parciais de, no mínimo, 4 horas, seguindo o
pela escola, aumentando, assim, sua autoria e universalismo (MEC, 2009b).
proposto na Lei Nº 11.494/2007 (FUNDEB),
seu pertencimento ao grupo social. As Diretrizes Curriculares Nacionais sempre no período diurno, devendo o poder
para a Educação Infantil (DCNEI), de caráter público oferecer vagas próximo à residência
2.4 ASPECTOS LEGAIS mandatório, das crianças (ECA, Lei Nº 8.069/90, art. 53),
Do ponto de vista legal, expresso na [...] orientam a formulação de políticas, incluin- garantindo espaços de educação coletiva.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional do a de formação de professores e demais profis- Refletindo sobre a função sociopolítica
(LDBEN) nº 9.394/96, art. 29: sionais da Educação, e também o planejamento, e pedagógica da Educação Infantil, considera
A Educação Infantil, primeira etapa da educação desenvolvimento e avaliação das unidades de a Lei Federal Nº 9.394/96, em seu artigo 22,
básica tem como finalidade o desenvolvimento seu Projeto Político-Pedagógico e servem para que diz:
intelectual da criança de 0 (zero) a 5 (cinco) anos informar as famílias das crianças matriculadas A Educação Infantil é parte integrante
de idade, em seus aspectos físico, psicológico, na Educação Infantil sobre as perspectivas de da Educação Básica, cujas finalidades são
intelectual e social, complementando ação da trabalho pedagógico que podem ocorrer (2009).
desenvolver o educando, assegurar-lhe a forma-
família e da comunidade.
Isso significa considerar as formas ção comum indispensável para o exercício da
Essa Lei evidencia o estímulo à autono- como as crianças, nesse momento de suas vidas, cidadania e fornecer-lhe meios para progredir
mia nas unidades educacionais na organização vivenciam o mundo, constroem conhecimento, no trabalho e em estudos posteriores (LDB Nº
flexível de seu currículo e a pluralidade de expressam-se, interagem e manifestam desejos 9.394/96, art.22).
métodos pedagógicos. Desde que assegurem e curiosidades de modo bastante peculiares. A função das instituições de Educação
aprendizagem, reafirmando os artigos da CF O atendimento em creches e pré-escola Infantil, como primeiro espaço de educação
acerca do atendimento gratuito em creches e a crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade coletiva fora do contexto familiar, ainda se
pré-escolas. é definido na CF de 1988 como dever do Estado inscreve no projeto de sociedade democrática
Neste mesmo sentido, deve-se fazer re- em relação à educação, oferecido em regime de desenhado na CF de 1988 (art. 3º, inciso I),
ferência ao Plano Nacional de Educação (PNE), colaboração e organizado em sistemas de ensino com responsabilidades no desempenho de um
Lei Federal Nº 172/2001, que estabeleceu metas da União, dos Estados, do Distrito Federal e papel ativo na construção de uma sociedade
decenais para que no final do período de sua dos Municípios. A incorporação das creches livre, justa, solidária e socioambientalmente
vigência, 2011, a oferta da Educação Infantil e pré-escolas no capítulo da Educação na CF orientada. A redução das desigualdades sociais e
alcançasse a 50% das crianças de 0 (zero) a 3 (art. 208, inciso IV), impacta todas as outras regionais e a promoção do bem de todos (art.3º,
(três) anos e 80% das de 4 (quatro) e 5 (cinco) responsabilidades do Estado em relação à Edu- incisos II e IV da CF, 1988), são compromissos

12 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


a serem perseguidos pelos sistemas de ensino e de Educação Pré-escolar, exigida a frequência realidade e a sociedade. O Supervisor Escolar/
pelos professores também da Educação Infantil. mínima de 60% (sessenta por cento) do total Educacional necessita sonhar uma nova escola,
A LDB Nº 9.394/96, foi altera pela Lei de horas; V - expedição de documentação que uma nova prática, em busca de uma educação
Nº 12.796, de 04 de abril de 2013, que traz como permita atestar os processos de desenvolvimento de qualidade e uma escola melhor para todos.
novidade, o artigo 6º, tornando “dever dos pais e aprendizagem da criança. Tem a função de acompanhar e orientar
ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças Importante salientar que numa proposta os colegas docentes, o processo de ensinar,
na Educação Básica a partir dos 4 (quatro) anos inclusiva de Educação Infantil, o currículo e buscando a qualificação da aprendizagem
de idade”. Essa mesma Lei institui a Educação os objetivos gerais são os mesmos, tanto para através das várias tecnologias, na busca pela
Infantil, como uma das fases do Ensino Formal, alunos com necessidades educacionais espe- emancipação política e social dos educandos.
seguida pela Educação Fundamental e pelo ciais, quanto para os demais, não havendo, Dessa forma, “poderá o supervisor escolar/
Ensino Médio. Os pais que descumprirem a então, um currículo especial, mas sim, ajustes educacional, alcançar as metas educacionais
determinação, instituída em abril/2013, poderão e modificações. Neste caso, é possível envol- favorecendo o processo de fortalecimento
ser obrigados a pagarem uma multa de três a ver alguns objetivos específicos, conteúdos, das ações pedagógicas para a valorização dos
vinte salários mínimos. E ainda, de acordo, com procedimentos didáticos e metodológicos que educadores” (MOREL, 2013, p. 54). Sendo
o Código Penal, os responsáveis que abando- propiciem o avanço no processo de aprendiza- assim, é importante assinalar que a busca por
narem a educação dos filhos, poderão sofrer de gem desses alunos. uma educação de qualidade e emancipadora,
quinze dias a um mês de detenção. que contribua com a transformação social deve
Ainda sobre esta mesma Lei Federal 2.5 SUPERVISÃO ESCOLAR/ passar pela formação do Supervisor Escolar/
Nº 12.796, de 4 de Abril de 2013, segue as EDUCACIONAL Educacional.
seguintes alterações, no que se refere a Edu- Supervisão Escolar/Educacional é uma As atribuições do Supervisor Escolar/
cação Infantil: especialidade da Pedagogia, que pode ser obtida Educacional e a síntese de seus deveres estão
Art. 4o  - I Educação Básica obrigatória e gratuita através de cursos de habilitação, incorporada ou descritas no Projeto de Lei na Câmara - PLC Nº
dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, não à licenciatura ou através de curso em nível 132/2005 e na Lei Nº 132/1978. Segundo o PLC
organizada da seguinte forma: a) Pré-escola; II de pós-graduação/especialização, garantida, 132/2005, art. 4º, são atribuições do Supervisor
- Educação Infantil gratuita às crianças de até 5 nesta formação, a base comum nacional (LDB Escolar/Educacional:
(cinco) anos de idade; Art. 6º - É dever dos pais [...] coordenar o processo de construção coletiva
Nº 9.394/96, art. 64). A supervisão na educação
ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças e execução da Proposta Pedagógica, dos Planos
atua junto ao corpo docente das instituições de
na Educação Básica a partir dos 4 (quatro) anos de Estudo e dos Regimentos Escolares; planejar,
ensino, coordenando as práticas pedagógicas,
de idade; Art. 26 -  Os currículos da Educação orientar, acompanhar e avaliar o cumprimento
bem como acompanhando o desenvolvimento
Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino da legislação, diretrizes e normas educacionais
Médio devem ter base nacional comum, a ser
do currículo. O trabalho desenvolvido pela
e institucionais; implementar políticas públicas;
complementada, em cada sistema de ensino
Supervisão Escolar/Educacional envolve pro-
propor diretrizes e normas para o desenvolvi-
e em cada estabelecimento escolar, por uma fessores, diretoria, alunos e pais de alunos. O
mento do processo ensino e aprendizagem, a
parte diversificada, exigida pelas características profissional que deve atuar na supervisão da
partir de diagnósticos e indicadores; assegurar
regionais e locais da sociedade, da cultura, educação é o Supervisor Escolar/Educacional. processo de avaliação da aprendizagem escolar;
da economia e dos educandos; Art.29 -  A O Supervisor Escolar/Educacional é contribuir com a formação contínua de educa-
Educação Infantil, primeira etapa da Educação um profissional especializado que busca cons- dores; assessorar os sistemas educacionais e
Básica, tem como finalidade o desenvolvimento tantemente ser transformador, trabalhando em instituições públicas e privadas nos aspectos
integral da criança de até 5 (cinco) anos, em parceria, integrando a escola e a comunidade na concernentes à ação pedagógica; participar
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e qual se insere. “Sua atuação deve estar baseada de equipes de trabalho; orientar o desenvolvi-
social, complementando a ação da família e da nas áreas do planejamento, da formação conti- mento de atividades objetivando atingir metas
comunidade; II - pré-escolas, para as crianças nuada e da avaliação” (LIMA & MOREL, 2013, e prioridades para a melhoria da qualidade de
de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade; Art.31 p. 18). É o profissional da Educação, que por ensino; manter-se constantemente atualizado
-  A Educação Infantil será organizada de acordo longo tempo foi tido como fiscal do ensino, da com vistas a garantir padrões mais elevados de
com as seguintes regras comuns: I - avaliação escola, do professor e do aluno. Na atualidade, eficiência e de eficácia no desenvolvimento do
mediante acompanhamento e registro do de- “passa a ter uma perspectiva baseada na parti- processo, de melhoria curricular em função das
senvolvimento das crianças, sem o objetivo cipação, cooperação, integração e flexibilidade atividades que desempenha (PLC, nº 132/2005,
de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Lei nº 132/1978).
no ambiente escolar, atuando em parceria com
Fundamental; II - carga horária mínima anual
o professor” (MOREL, 2013, p. 53). A partir da promulgação da atual LDB,
de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um
A dimensão do trabalho do Supervisor o Supervisor Escolar/Educacional recebeu o
mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho
Escolar/Educacional necessita contribuir com grande compromisso de coordenar a elaboração
educacional; III - atendimento à criança de, no
mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno
um mundo mais humano, garantindo conteúdos e acompanhar a execução da proposta pedagógi-
parcial e de 7 (sete) horas para a jornada inte-
emancipatórios para formação de cidadãos críti- ca, com a participação da comunidade escolar. É
gral; IV - controle de frequência pela instituição cos, conscientes e capazes de transformarem a imprescindível que as atribuições do Supervisor

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 13


sejam planejadas em parceria com o Orientador a correspondência destes com os objetivos na Educação Infantil. Segundo esta mesma
Educacional, principalmente no aspecto de propostos e, daí, orientar a tomada de decisões Lei, Seção II art. 31, “na Educação Infantil a
articulação com a comunidade escolar. em relação às atividades didáticas seguintes. avaliação far-se-á mediante acompanhamento e
Sua realização não deve apenas culmi- registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo
2.6 O SUPERVISOR ESCOLAR/ nar com atribuição de notas aos alunos, devendo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino
EDUCACIONAL NA ESCOLA ser utilizada também como um instrumento de Fundamental” (LDB Nº 9.394/96, art.31).
INFANTIL coleta de dados sobre o aproveitamento dos De acordo com as Diretrizes Curri-
A Educação Infantil é a etapa da Educa- mesmos. Deve-se, também considerar não culares Nacionais para a Educação Infantil,
ção Básica onde começa a vida escolar dos su- apenas os aspectos cognitivos, mas também (DCNEI), Resolução nº 5/2009, art. 10:
jeitos. É o momento de investir, de desenvolver os afetivos e psicomotores, contemplando o As instituições de Educação Infantil devem
as capacidades, potencialidades e habilidades, aluno e o processo de aprendizagem na sua criar procedimentos para acompanhamento
inclusive do educador e do Supervisor Escolar/ integralidade. do trabalho pedagógico e para avaliação do
Educacional. desenvolvimento das crianças, sem objetivo de
Como agente de transformação, o pro- seleção, promoção ou classificação, garantindo:
2.8 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO
fissional em questão, deve ter uma visão ampla I – a observação crítica e criativa das atividades,
INFANTIL
do processo de aprendizagem, com a tarefa de das brincadeiras e interações das crianças no
A avaliação na Educação Infantil é tema cotidiano; II – utilização de múltiplos registros
planejar, acompanhar, avaliar, aperfeiçoar para presente na legislação e na política pública de realizados por adultos e crianças (relatórios,
qualificar a prática pedagógica. É necessário educação no Brasil desde 1996. Na prática fotografias, desenhos, álbuns, etc.); III – a con-
um olhar e escuta sensível, capaz de ver e ouvir pedagógica, ela é anterior, uma vez que, formal tinuidade dos processos de aprendizagens por
além do visível e do audível, assim deixar de ou informalmente, deliberada ou sem perceber, meio da criação de estratégias adequadas aos
ser um profissional controlador, mas sim, um sempre se avalia aquilo que se vê, experimenta diferentes momentos da transição vividos pela
sujeito que procura o crescimento pessoal, ou faz. criança (transição casa/instituição de Educação
profissional, social, político e pedagógico. A avaliação é um instrumento de Infantil, transição no interior da instituição,
O Supervisor Escolar/Educacional reflexão sobre a prática pedagógica na busca transição creche/pré-escola e transição pré-es-
na Educação Infantil necessita pensar diale- de melhores caminhos para orientar a apren- cola/Ensino Fundamental); IV – documentação
ticamente, fazendo intervenções na prática dizagem das crianças. Ela deve incidir sobre específica que permita às famílias conhecer o
docente e discente, refletindo as especificidades todo o contexto de aprendizagem: as atividades trabalho da instituição junto às crianças e os pro-
da Educação Infantil, assim como diz Medina propostas e o modo como foram realizadas; as cessos de desenvolvimento e aprendizagem da
(1995) que a prática não pode ser apropriada instruções e os apoios oferecidos às crianças criança na Educação Infantil; V – a não retenção
pelo sujeito, se ele não reflete sobre ela. Re- individualmente e ao coletivo; a forma como das crianças na Educação Infantil.
fletir sobre a prática significa pensar, avaliar, o professor responde às manifestações e às A avaliação se destina a obter infor-
agir e reavaliar, buscando sempre a qualidade interações das crianças; os agrupamentos que mações e subsídios capazes de favorecer o
da educação. as crianças formam; o material oferecido; o desenvolvimento das crianças e ampliação de
espaço e o tempo garantidos para a realização seus conhecimentos. Nesse sentido, avaliar não
2.7 AVALIAÇÃO das atividades. é apenas medir, comparar ou julgar.
A avaliação da educação vem se tor- Conforme Parecer nº 20, do Conselho
nando um assunto cada vez mais presente no Nacional de Educação (CNE/CEB Nº 20/2009), 2.9 FORMAS DE AVALIAR E
mundo todo, tanto no que se refere à aplicação no que se refere ao processo de avaliação, as INSTRUMENTOS
de testes quanto ao debate sobre as concepções, instituições de Educação Infantil, sob a ótica da Não só na Educação Infantil, mas
sua adequação ou inadequação, seus objetivos e garantia de direitos, “são responsáveis por criar também nos demais níveis do sistema escolar,
usos. A Educação Infantil não está imune a essa procedimentos para a avaliação do trabalho pe- o “objeto” [grifo da pesquisadora] de avaliação
onda de avaliação que vem tomando conta do dagógico e das conquistas das crianças” (CNE/ não deve ser somente o aluno. Nesse sentido,
ambiente social e educacional. CEB Nº 20/2009). Todos os esforços da equipe são objetos da avaliação: professores, equipe
A prática avaliativa é uma tarefa di- diretiva devem convergir para a estruturação de diretiva, pais e alunos. É necessário que a clás-
dática necessária e permanente no trabalho do condições que melhor contribuam para a apren- sica forma de avaliar, buscando os erros e os
professor, na qual deve acompanhar todos os dizagem e o desenvolvimento da criança, sem culpados seja substituída por uma dinâmica de
passos do processo de ensino e aprendizagem. A desligá-la de seus grupos de amizades. avaliação capaz de trazer elementos de crítica
avaliação insere-se não só nas funções didáticas, A avaliação, conforme estabelecido na e transformação ativa para o trabalho.
mas também na própria dinâmica e estrutura Lei Nº 9.394/96, “deve ter a finalidade de acom- Sendo a avaliação essencial à educação,
do processo. panhar e repensar o trabalho realizado”. Nunca é esta precisa estar vinculada no processo de cons-
Segundo Libâneo (1991, p.196): demais enfatizar que não devem existir práticas trução do conhecimento. Segundo Hoffmann:
A avaliação é como um componente do processo inadequadas de verificação da aprendizagem, As investigações sobre avaliação sugerem for-
de ensino que visa, através da verificação e nem mecanismos de retenção das crianças temente que a contradição entre o discurso e a
qualificação dos resultados obtidos, determinar

14 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


prática de alguns educadores e, principalmente, bre o seu desenvolvimento. A criança precisa ser se avaliar. É necessário refletir sobre o seu pró-
a ação classificatória e autoritária, exercida pela considerada o centro da ação avaliativa, assim prio trabalho, verificando seus procedimentos
maioria, encontra explicação na concepção de como toda e qualquer ação do educador. Enten- e, quando preciso, reestruturando sua prática,
avaliação do educador, reflexo de sua estória de de-se que a avaliação na Educação Infantil deve conforme cita Melchior:
vida como aluno e como professor. É necessária assegurar um clima sem tensões e limitações. A auto avaliação do aluno deve servir como mais
a tomada de consciência dessas influências um subsídio para a auto avaliação do professor.
para que a nossa prática avaliativa não pro-
2.10 IMPORTÂNCIA DA Também o professor deve comparar a sua per-
duza, inconscientemente, a arbitrariedade e o
SUPERVISÃO ESCOLAR/ cepção sobre si mesmo com a percepção que os
autoritarismo que contestamos pelos discursos outros têm dele. Ele pode pensar que está sendo
EDUCACIONAL NO PROCESSO
(1996, p. 12). muito claro em suas explicações. Mas o aluno
AVALIATIVO DA EDUCAÇÃO
Assim sendo, é preciso considerar todo INFANTIL é quem deve dizer se está entendendo ou não.
processo de ensino e aprendizagem dos educan- Este confronto é necessário, inclusive para se
A importância da Supervisão Escolar/
dos. Observar seu desenvolvimento ao longo constatar se os critérios considerados por ambos
Educacional no processo avaliativo da Edu-
são os mesmos (1994, p.122).
do processo da construção do conhecimento, cação Infantil, com base em seu objeto de
buscando uma conexão entre os saberes já trabalho, a aprendizagem e o desenvolvimento
construídos com o cotidiano vivido. “É um ato da criança, é justamente garantir a proposta Qualquer que seja o tipo de auto ava-
integrativo, inclusivo e acolhedor” (LUCKESI, pedagógica deste nível de ensino. Entre tantas liação escolhido, uma etapa não pode faltar:
1996, p. 172), devendo ser encarada como um funções, a de maior relevância é acompanhar o encaminhamento dado aos resultados das
sintonizador da vontade de melhorar sempre. o planejamento escolar, pois é ele que permite ações concretas mostrado neste ato. O que
Assim, possibilitando o crescimento e apon- traçar caminhos, avaliar e (re)planejar. fazer com estes dados, para que e para quem
tando os limites da ação e provocando novos Para garantir o êxito do processo são destinados? Assim, a auto avaliação cum-
posicionamentos e descobertas, tanto para o avaliativo na Educação Infantil, necessário pre seu papel, contando para o efetivo sucesso
educando quanto para o educador, servindo igualmente repensar o significado dos registros/ dessa atividade, o envolvimento de todos os
como revisão do planejamento. relatórios de avaliação, propondo aos educado- participantes da escola, com essencial destaque
Na LDB Nº 9.394/96, na seção II, re- res um exercício de reflexão sobre suas crian- para a Supervisão Escolar/Educacional, que irá,
ferente à Educação Infantil, art. 31, preconiza ças, cada uma em particular. Esses registros juntamente com o professor, analisar os dados
que: “[...] a avaliação far-se-á mediante o acom- devem resultar de anotações frequentes, sobre obtidos através deste instrumento avaliativo e
panhamento e registro do seu desenvolvimento, o cotidiano, de modo a subsidiar permanente- divulgar para todos os segmentos da escola,
sem o objetivo de promoção, mesmo para o mente o trabalho junto à criança, desvelando numa perspectiva pela busca da melhoria na
Ensino Fundamental”. Assim, a avaliação nessa caminhos ao educador para ajudá-la a ampliar qualidade da educação.
etapa deve ser processual e destinada a auxiliar suas conquistas.
o processo de aprendizagem, fortalecendo a au- 3 ANÁLISE DOS DADOS
toestima das crianças. Esse modelo de avaliação 2.11 AUTO AVALIAÇÃO
formativa visa garantir a evolução de todas as A auto avaliação é um instrumento de
COLETADOS
crianças, não tendo como pressuposto a punição Apresentam-se neste item os dados
avaliação, que se realiza em processo, assim
ou premiação. Prevê que as mesmas possuem coletados a fim de analisar as respostas das
como a avaliação, quando significativa. É o ato
ritmos e processos de aprendizagem diferentes. supervisoras. Procurou-se compreender a sua
de realizar uma apreciação sobre si mesmo ou
Quanto aos registros e formas de ava- concepção de avaliação na Educação Infantil e
sobre o próprio desempenho em determinada
liação na Educação Infantil, existem diversas o papel desenvolvido pela Supervisão Escolar/
atividade, buscando a evolução. Deve ser um
nomenclaturas: portfólio, dossiê, relatórios Educacional.
instrumento que ajude o aluno e o professor
de avaliação, coletânea, mas todas se referem Primeiramente, foi solicitada a descri-
a tornar-se reflexivo, e que este seja capaz de
no sentido básico a uma organização sobre a ção de seu trabalho como supervisora escolar/
conduzir, direcionar o seu aprendizado e a sua
aprendizagem da criança, numa perspectiva educacional da EMEI/CMEB, onde as cinco
prática, podendo ser aplicado desde a Educação
evolutiva do processo. É importante que a cada (5) profissionais tiveram respostas muito se-
Infantil.
dia, seja feito pelo menos um registro, possibi- melhantes do tipo: “[...] atividades variadas,
Nessa etapa, os momentos de reflexão
litando, assim, um passo a passo percorrido na planejamento pensado para cuidar e educar e
são basicamente realizados por meio da oralida-
construção das aprendizagens. Quanto ao dossiê substituição [...]”. Isso denota que conforme os
de, em rodas de conversa ou de combinados. A
ou portfólio, este precisa constituir-se em um relatos, atividades variadas significam àquelas
postura da criança, a organização do material e a
conjunto de dados que expresse avanços, mu- desenvolvidas no âmbito administrativo esco-
relação com os colegas são os principais pontos
danças conceituais, novos jeitos de pensar e de lar, necessárias para atender as demandas da
de discussão nessa idade, já que os pequenos
fazer, alusivo à progressão da criança. instituição, mesmo que não sejam propriamente
apenas começam a se reconhecer no papel de
Como proposta de avaliação na Edu- da “função de supervisão” [grifo da pesqui-
estudantes.
cação Infantil deve-se privilegiar a observação sadora]. Quanto à substituição, refere-se a
Nesse processo de avaliação, não se
atenta e curiosa sobre a criança e a reflexão so- cobrir a falta de professor que, repetidamente,
pode esquecer que o professor também deve

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 15


é feita pela supervisão. No que diz respeito ao truindo, expressando e comunicando significa- professoras com a Supervisora Escolar e com
planejamento pensado para o cuidar e educar dos e sentidos, através de diversas linguagens. a Orientadora Educacional”, a SE A esclareceu
possui embasamento no RCNEI que garante o Como diria Malaguzzi (1999), são capazes, de “[...] são as professoras com demais elementos
atendimento integral da criança, respeitando o um modo autônomo, de extrair significado de da ação pedagógica”, a SE C sustentou que
cuidar que abrange a alimentação, a higiene e suas experiências cotidianas, através de atos “[...] são todas as professoras que entram em
o brincar e, da mesma forma, destaca o educar, mentais envolvendo planejamento, coordenação turma” e a SE D defendeu que “[...] são os
no seu desenvolvimento sócio afetivo, físico e de ideias e abstração. educadores”. Desta maneira, pode-se observar
intelectual, sempre respeitando o caráter lúdico Foi questionado como a avaliação na que cada escola tem a sua maneira de avaliar,
das atividades (BRASIL, 1998). Educação Infantil é trabalhada pela supervisão distribuindo a responsabilidade a quem melhor
No entendimento das supervisoras so- e pelos profissionais da EMEI/CMEB. A SE A aprouver, de acordo com a sua PPP, Regimento
bre avaliação na escola de Educação Infantil, as respondeu que “[...] em reuniões, refletindo a Escolar ou orientações de sua mantenedora. Não
falas foram semelhantes: “[...] não tem objetivo trajetória da criança e a metodologia”; a SE B existe uma determinação legal que diga quem
de promoção e sim de acompanhamento e regis- disse “[...] na revisão do PPP e na construção realmente deve fazer a avaliação das crianças
tro”. Nesta questão, as SE fizeram referência à de pareceres”, a SE C defendeu “[...] em reuni- na Educação Infantil. Mesmo assim, seja quem
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ões de estudos e formações”, a SE D explicou for fazer a avaliação das crianças deve ter cons-
(LDB, Seção II, art. 31) “Na Educação Infantil a “[...] em processo, promovendo os direitos da ciência de que:
avaliação far-se-á mediante acompanhamento e criança” e a SE E esclareceu “[...] com base A educação infantil não pode assumir os mesmos
registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo na documentação legal, textos e reflexões”. contornos das outras modalidades da educação
de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Como é possível observar, para os pesquisados básica. “Por causa das características da faixa
Fundamental”. Significa dizer que desde a existe uma importância no que diz respeito à etária que atende e por ter como objetivo o
LDB/96 a avaliação das crianças na Educação avaliação na escola de Educação Infantil, sendo desenvolvimento integral da criança, ela não
Infantil não é classificatória, portanto, não po- essencial dar atenção às relações das crianças pode se organizar a partir de práticas adotadas
derá dar margem à exclusão, sendo efetivada no grupo e suas aprendizagens. Como se sabe, no ensino fundamental”, afirma Maria Thereza
Marcílio, membro do comitê gestor da Rede Na-
através do acompanhamento contínuo. a avaliação não deve estar centrada no aspecto
cional pela Primeira Infância (RNPI) (REVISTA
Quanto à relação do trabalho da super- individual da criança, nem enfatizar apenas
EDUCAÇÃO, 2013).
visão com a avaliação das crianças desenvolvida aspectos cognitivos. Precisa deter-se nos pro-
pela escola de Educação Infantil, as opiniões cessos e não nos resultados. As instituições de Outra questão indagada foi sobre quais
divergiram um pouco: a SE A respondeu que Educação Infantil, sob a ótica da garantia de são os instrumentos utilizados na avaliação
“[...] observa a ação educativa e seus efeitos”, direitos, “são responsáveis por criar procedi- das crianças da EMEI/CMEB. As SE A e E
a SE B, C e D justificaram que “[...] usam a mentos para a avaliação do trabalho pedagógico responderam que “[...] são as observações e
prática de estudos e questionamentos de refle- e das conquistas das crianças” (CNE/CEB Nº diferentes registros”, a SE B sustentou “[...] são
xão da prática”, e a SE E defendeu que “[...] 20/2009). Ainda é necessário que a avaliação as observações, registros da criança e das pro-
estimula a reflexão da prática a explorar todas não seja apenas da criança, mas, que também, fessoras e parecer da família”, a SE C explicou
as possibilidades da criança”. As falas dos pes- por meio de reflexões sistemáticas, com uso de que “[...] são através da pedagogia de projetos
quisados estão integradas, pois quando se fala ferramentas especificas, se avalie o trabalho com objetivos a serem alcançados” e a SE D
em observar a ação educativa, usar a prática de do professor e o da instituição, a colaboração e justificou que “[...] são os registros diversos e
estudos, questionamentos de reflexão da prática participação com as famílias e comunidade e a respeito à individualidade de cada criança”.
e explorar todas as possibilidades da criança, análise dos projetos desenvolvidos. Os instrumentos de avaliação da Educação In-
está intrínseca a justificativa de que o meio Quanto ao quando e por que as crianças fantil, em algumas situações são diferenciados
usado para tal reflexão é a ação-reflexão-ação, da Educação Infantil são avaliadas, as SE A daqueles utilizados nos demais níveis de ensino.
que nada mais é que o (re)planejamento oriundo e B responderam “[...] diariamente”, a SE C Desde a LDB/96, a avaliação das crianças na
da própria reflexão dessa prática. Isso significa esclareceu “[...] semestralmente”, as SE D e Educação Infantil não será classificatória nem
analisar, pensar, repensar e redimensionar as E citaram “[...] constantemente/continuamen- poderá dar margem à exclusão, mas será efe-
práticas pedagógicas cotidianas em torno de um te”. Entretanto, somente a SE A respondeu o tivada através de acompanhamento contínuo.
projeto educacional planejado e realizado por porquê – “[...] com objetivo de qualificar o Nesse sentido a observação, o registro – em suas
um grupo de pessoas reunidas em torno de um atendimento”. As demais SE defenderam de que diferentes modalidades - e o acompanhamento
interesse comum: oferecer educação de qualida- forma e não por que. Desta maneira, observa-se do desenvolvimento da criança são ferramentas
de às crianças pequenas. Partindo do princípio a resistência de algumas pessoas em justificar essenciais no processo avaliativo. Uma questão
que a criança é um ser social, capaz, dotado seu posicionamento, talvez por desconheci- importante a destacar em relação aos atos de
de virtudes, recursos e direitos intrínsecos, mento, ou timidez, ou por simplesmente não observar, registrar e documentar é que além de
explorar todas suas possibilidades é possibilitar desejar fazê-lo. configurarem instrumentos didáticos, também
sua vivência em comunidades, favorecendo Ao indagar sobre quem avalia as crian- configuram construções históricas dos modos
experiências que permitam apropriações e sua ças na/da Educação Infantil da EMEI/CMEB, de aprender, pensar e agir em nossa sociedade.
imersão em sua sociedade, produzindo, cons- as SE B e E responderam que “[...] são as Ao questionar como os familiares/

16 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


responsáveis tem acesso às avaliações das çoada. Nessa mesma linha de pensamentos está todo um trabalho construído coletivamente na
crianças apresentadas pela escola e o que é feito a Gestão Escolar Democrática, uma forma de escola e são entregues aos pais/responsáveis
com essas informações, as SE A, B, C, D e E gerir uma instituição de maneira que possibilite semestralmente.
responderam que “[...] as famílias/responsáveis a autonomia, participação, transparência e de- Entende-se que esse modelo de avalia-
tem acesso às avaliações das crianças através mocracia. Traduz-se pelo diálogo, pelo trabalho ção adotado pela Supervisão Escolar/Educacio-
de reuniões e entrega de relatórios, pareceres coletivo e compartilhado e tem como objetivo nal nas EMEIS C.A., I.S., R.S., V.I. e CMEB
descritivos e portfólios, semestralmente”. É final a aprendizagem efetiva e significativa dos P.F. no município de Esteio/RS está articulado
importante dar acesso às avaliações das crianças educandos. com os objetivos e finalidades da Educação
por que é através desse instrumento que as fa- Finalizando, indagou-se sobre quais as Infantil. Justifica-se a avaliação, como acompa-
mílias têm uma visão geral do desenvolvimento atribuições da Supervisão Escolar/Educacional nhamento e oportunidade ao desenvolvimento
de seus filhos e da construção de seus saberes: na EMEI/CMEB? As SE A e B responderam máximo possível de cada criança, assegurando
seu modo de agir, sentir e pensar, e também, “[...] muitas, e todas ligadas à prática pedagó- o elo entre as ações educativas e o cotidiano
para que possam compreender as transições, gica”, a SE C sustentou “[...] muitas, adminis- vivido, descrevendo-a ao invés de compará-la.
as descobertas e as aprendizagens desta bonita trativas e pedagógicas”, a SE D explicou “[...] A partir das respostas aos questionários,
fase de suas vidas. muitas, parceria com Orientadora Educacional, das escutas e interpretações às entrevistas e
A questão que indaga se a escola faz administrativas e acompanhar os docentes” e das análises das observações sistematizadas,
uso da auto avaliação e qual a importância dessa a SE E justificou “[...] muitas, administrativas chegou-se ao entendimento que as Supervisoras
atividade, teve como resposta que “[...] sim, e garantir o processo ensino aprendizagem”. Escolar/Educacionais das EMEIS C.A., I.S.,
processo pequeno com vistas à gestão democrá- As afirmativas das supervisoras se sustentaram R.S., V.I. e CMEB P.F., possuem organização,
tica”, a SE B justificou “[...] sim, criança capaz justamente na garantia da proposta pedagógica clareza, postura, liderança e mediação quanto
e tem direito de opinar sobre a aprendizagem”, deste nível de ensino, dando relevância ao ao seu fazer pedagógico. Assim, frente às dis-
a SE C explicou “[...] não, com aluno não”, a acompanhamento do planejamento escolar e a cussões e enfrentamentos junto aos variados
SE D esclareceu “[...] sim, realizada conforme articulação escola/família (embora não tenham grupos dentro da escola, são colaborativas e
faixa etária com diversos instrumentos” e a SE discriminado as atribuições). Este profissional reflexivas, objetivando a solução dos problemas
E fundamentou “[...] sim, com professoras para é o guia pedagógico no aperfeiçoamento do que se apresentam no cotidiano escolar.
melhorar o atendimento ao aluno”. Através das trabalho junto à criança da Educação Infantil. Compreende-se, que as Supervisoras
respostas das SE, entende-se a importância dos Realiza estudos e pesquisas, favorece a socia- Escolar/Educacionais têm conhecimento da im-
registros de avaliação. O acompanhamento, lização de experiências profissionais, aprende portância de seu papel dentro da equipe diretiva,
o desenvolvimento e a avaliação da criança e ensina com atitudes participativas, com enquanto gestão escolar democrática e partici-
da escola de Educação Infantil são realizados trabalhos coletivos e compartilhados. Realiza pativa, articulando o processo educacional com
através da observação pedagógica intencional processos de avaliação institucional interna e as políticas públicas. Também desempenham
e atenta ao grupo da qual a criança participa: externa, para verificar a qualidade do ensino outras funções, além daquelas pertinentes ao
suas relações, criações, culturas. Devem ser oferecido e a partir daí estabelecer propostas de seu cargo, transitando entre todos os segmentos
realizados registros que possam gerar reflexões intervenções viáveis para melhoria do processo da escola, tendo a aprendizagem, a criança e
ao serem retomados individualmente ou de ma- ensino-aprendizagem. seu desenvolvimento, como objeto de trabalho.
neira coletiva. Neste processo, o grande desafio Percebe-se, também, que as Supervi-
da documentação pedagógica, é dar visibilidade CONSIDERAÇÕES FINAIS soras Escolar/Educacionais conhecem a impor-
aos registros diários de reflexão dos professores Na avaliação de uma criança da Edu- tância de seu trabalho no processo avaliativo da
sobre suas práticas, advindas do atendimento cação Infantil, cabe ao educador, junto com o Educação Infantil, sendo o que papel da Super-
individual e da busca por identificar e traduzir Supervisor Escolar/Educacional - responsável visão Escolar/Educacional é o de permear todas
os sinais das crianças no cotidiano. Assim, para pelo desenvolvimento da Pedagogia na escola as instâncias do pensar e do fazer pedagógico,
o planejamento, acompanhamento e a avaliação - um olhar atento e reflexivo sobre cada uma desde o seu planejamento até a sua avaliação,
das ações educativas com as crianças pequenas, das crianças. Perceber sua individualidade, no processo avaliativo na Educação Infantil nas
a observação, o registro e a documentação po- com suas limitações e suas habilidades, dando EMEIS C.A., I.S., R.S., V.I. e CMEB P.F., no
tencializam a ação do docente. Nesse sentido, ênfase a suas qualidades e ao seu crescimento município de Esteio/RS.
acontece a auto avaliação: atividade de grande no decorrer do tempo em que passa na escola, Em últimas palavras, entende-se que a
importância, pois contribui para que o educador tornando sua experiência educativa mais efetiva Supervisão Escolar/Educacional na avaliação da
reflita efetivamente, sobre a sua prática pedagó- e prazerosa. Educação Infantil, precisa conhecer a criança,
gica. Paulo Freire (1997) enfatiza características A forma mais usada para avaliar as ter claro o que deseja avaliar, o que deseja para
essenciais que devem estar presentes no proces- crianças nas escolas de Educação Infantil no o futuro delas. Precisa ter um olhar sensível e
so de auto avaliação do professor: ação-reflexão município de Esteio/RS, conforme resultados audível, buscar inovar a prática com diferentes
-ação. Isso significa que toda ação desenvolvida da pesquisa é o portfólio e o parecer descriti- formações, na busca por uma educação de qua-
pelo educador precisa ser analisada, refletida de vo. Estes documentos pedagógicos denotam lidade e uma escola melhor para todos.
forma que esta venha a ser melhorada e aperfei-

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 17


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ABSTRACT
This study brings is to investigate the importance of the role of School Supervision / Educational Assessment in Early
Childhood Education in Municipal Schools Early Childhood Education (EMEIS) and Municipal Basic Education Center
(MCEC) , in the municipality of Esteio/RS. We adopted the methodology of empirical and applied research. The problem
of the study is qualitative order, which sought to understand the role of School / Educational Supervision in the evaluation
process in Early Childhood Education. Being a descriptive research, the instruments used were observation, interview and
questionnaire with open questions, which unveiled articulated the issues of assessment in kindergarten and the contribu-
tions of School Supervision / Educational this stage. The subjects involved in the study were five (5) supervisors of four (4)
EMEIS and one (1) MGEC City Esteio/RS. It is literature and documents, and the data collected were analyzed for their
content, from the theoretical framework, in order to ascertain the role played by the School / Educational Supervision in
the evaluation process of early childhood education in the municipality of Esteio/RS. Some references that supported the
study were: (HOFFMANN, 1996/ 1999), (LIBÂNEO, 1991), (LDB 9.394/1996) (LIMA & Morel, 2013). It was found that the
supervisory mediate, reflective, collaborative, professional know their assignments, although other roles within the school.
Furthermore, understand and acknowledge the importance of their role in the evaluation process of early childhood educa-
tion, and learning, the child and his development as a job object.
Keywords: Supervision. Education. Review. Kids.

18 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


COGNIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO
MATEMÁTICO
Ana Paula Ambrósio1
Joelma Teresinha Gomes2
Janete Alves Vieira 3
Ma. Ivana Lima Lucchesi4

RESUMO
Este artigo é produto de uma construção coletiva entre alunas do curso de Pós Graduação em Psicopedagogia  Clinica e
Institucional da Universidade Tuiuti do Paraná na disciplina de Cognição e Desenvolvimento do Pensamento Matemático.
Tem como objetivo discorrer sobre o processo de  cognição e o desenvolvimento do pensamento matemático utilizando
para isso as principais ideias da teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget (1971) e dos estudos referente a se-
miótica de Charles Sanders Peirce ( 1999). Surgiu da necessidade de embasar a construção do conhecimento matemáti-
co por meio  interação entre sujeito e objeto. Conclui-se que a simbolização assume relevância fundamental no processo
de generalização do desenvolvimento do pensamento matemático.
Palavras-chave: Cognição. Semiótica. Aprendizagem.

INTRODUÇÃO estrutura para encaixar o estímulo, ou seja, uma signos e representações sob o ponto de vista
Uma das grandes questões relacionadas mudança qualitativa de conhecimentos. de  Charles Sanders Peirce.
às dificuldades de aprendizagem apresentadas Nesta mesma linha de pensamento, Este artigo divide-se em dois capítulos
pelos alunos em todos os anos da educação Peirce (1999) em seus estudos permeados por sejam eles: teoria cognitiva abordando-se os
básica refere-se a compreensão dos conheci- uma forte confluência com a lógica  encontra estágios  do pensamento cognitivo e, ainda,
mentos matemáticos. a origem do pensamento na experiência e a  aprendizagem por meio do pensamento sim-
No entanto, desde o nascimento até a que todo esse movimento é imbricado por bólico: a semiótica.
fase adulta, o conhecimento é construído pelo um processo de simbolização denominado de
indivíduo, sendo os esquemas dos adultos Semiótica. A TEORIA COGNITIVA
construídos a partir de esquemas da criança. O presente artigo aborda esta temáti-
Neste ínterim, Piaget (1971) em seus ca, discorrendo sobre os aspectos teóricos  e “Não existe estrutura sem gênese, nem gênese
estudos sobre o desenvolvimento cognitivo, epistemológicos do processo de cognição e sem estrutura” (Piaget)
identificou dois tipos de movimentos do desenvolvimento da matemática enfatizando-se,
para isso, o estudos destes dois teóricos supra-  
organismo: movimento de assimilação e o A teoria de Jean Piaget (1896 – 1980)
movimento de acomodação. No processo de citados: Jean Piaget e Charles Sanders Peirce.
Na teoria cognitiva de Jean Piaget denominada Epistemologia Genética explica
assimilação  o organismo encaixa os estímulos como se desenvolve a inteligência nos seres
à estrutura já existente, ou seja , uma mudança revisa-se a literatura  sobre o que caracteriza
um símbolo no processo de desenvolvimento humanos e os mecanismos do aumento dos
quantitativa de conhecimentos, enquanto que no conhecimentos.
processo de acomodação o organismo muda a cognitivo agregando-se a este, a relação entre
Segundo Piaget (1971) a cognição é

1
Licenciada em Pedagogia, habilitação em Supervisão Escolar e Orientação Educacional, Pós- Graduada em Psicopedagogia Clinica e Institucional.
2
Licenciada em Pedagogia, habilitação em Magistério das matérias pedagógicas e Orientação Educacional, Pós-Graduação em Psicopedagogia Clinica
e Institucional.
3
Pós-Graduação em Psicopedagogia Clinica e Institucional.
4
Psicopedagoga Clínica e Institucional- Mestre em Educação em Ciências e Matemática- Especialista em metodologia do Ensino da
matemática e Especialista em Mídias Educacionais.

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a um novo mundo que deverá conhecer e
compreender.

Período pré-operatório (2 a 7 anos)


A passagem do período sensório-motor
para o pré-operatório é marcada pelo apareci-
mento da função simbólica ou semiótica, po-
demos dizer que é a emergência da linguagem.
Nessa etapa a criança é egocêntrica,
pois considera seu ponto de vista como o único
possível ou seja, é incapaz de se colocar no lugar
do outro. A linguagem acarreta modificações
construída pelo indivíduo por meio da superpo- importantes nos aspectos cognitivos, afetivos
sição de esquemas. Estes esquemas cognitivos e sociais do indivíduo, fornecendo, principal-
ou esquemas mentais codificam nosso conhe- mente, a capacidade de representar e atribuir
cimento sobre diversas categorias de objetos e significados à realidade.
armazenam as informações da nossa memória.
A teoria do desenvolvimento cognitivo A APRENDIZAGEM POR MEIO
Período das operações concretas (7
comprova que os seres humanos passam por a 11, 12 anos)
DA DIMENSÃO SIMBÓLICA:
uma série de mudanças previsíveis e ordena- Nesse período o indivíduo apresenta a SEMIÓTICA
das. As pessoas tendem a vivenciar todos os capacidade de estabelecer relações e coordenar
estágios na mesma sequência, porém podem pontos de vista diferentes, é capaz de realizar “A linguagem seria o signo, a escrita e a fala
ocorrer variações devido ao meio social em que operações mentalmente e não mais apenas seriam os objetos, e as várias teorias sobre a
estão inseridos. através de ações físicas. linguagem seriam a interpretação”
Piaget (1971) diferencia o processo Aos poucos vai estabelecendo maior
cognitivo inteligente em aprendizagem e desen- contato com a realidade, apresentando mais No século XIX, o filósofo, físico e
volvimento. A aprendizagem ocorre em função objetividade e o pensamento direcionado para matemático, C.S. Peirce iniciou a doutrina geral
da experiência, obtida de forma sistematizada fora de si. As aprendizagens adquiridas nesse dos signos ao formular a teoria peirceana. Ao
ou não, enquanto que o desenvolvimento é período contemplam as cultura dos pais, escola longo dos seus estudos, a integrou como sendo
a própria aprendizagem  e responsável pelo e demais culturas. uma teoria geral de todos os tipos possíveis
conhecimento.
de signo emergindo então, uma teoria lógica,
A aprendizagem se dá por meio dos Período das operações formais (12 filosófica e científica da linguagem, denomi-
processos de assimilação, acomodação e os es- anos em diante) nando-a como Semiótica.
quemas. Tais processos ocorrem por todo o ciclo Nesta fase a criança, amplia as capaci- O pensamento de Peirce (1999), dentro
evolutivo da espécie humana vida, caracterizada dades conquistadas na fase anterior, raciocina de uma perspectiva Semiótica, fundamenta-se
pelos seguintes  estágios de desenvolvimento: sobre hipóteses na medida em que ela é capaz na defesa, de que a lógica como atividade in-
-- Sensório-motor - 0 a 2 anos de formar esquemas conceituais abstratos e, por terpretativa, pode também ser entendida como
-- Pré-operatório - 2 a 7 anos meio deles executa operações mentais dentro o uso auto reflexivo dos signos, tornando-se
-- Operações concretas - 7 a 11 ou 12 anos de princípios da lógica formal. Dessa forma o dessa maneira a teoria dos signos, coextensiva
-- Operações formais - 11 ou 12 anos em indivíduo passa a buscar autonomia e equilíbrio, e sinônima da própria semiótica.
diante alcançando o padrão intelectual que persistirá Para Peirce (1977) signos são obje-
Essas fases caracterizam-se pelas durante a idade adulta. tos  que representam alguma coisa para alguém.
diversas formas de organização mental que Portanto, a forma como Piaget concebe Segundo o autor:
possibilitam diferentes maneiras do indivíduo a inteligência deixa evidente que ela modifica-se Um signo, ou ‘representâmen’, é aquilo que,
relacionar-se com o meio que o cerca. Aborda- à medida que a criança desenvolve-se, partindo sob certo aspecto ou modo, representa algo
se, a seguir, as principais características de cada de uma inteligência sensório-motora até alcan- para alguém. Dirige-se a alguém, um signo
um dos períodos. çar o estágio  da inteligência propriamente dita. mais desenvolvido. Ao signo assim criado
Isto significa dizer, que a inteligência denomino ‘interpretante’ do primeiro signo.
Período Sensório-motor (0 a 2 anos) não é algo inato do sujeito, nem que ela acontece O signo representa alguma coisa, seu ‘objeto’.
No recém nascido, as funções mentais num dado momento do desenvolvimento men- Representa esse objeto não em todos os seus
limitam-se ao exercício dos aparelhos reflexos tal, mas é continuidade dos hábitos e reflexos aspectos, mas com referência a um tipo de ideia
inatos, conquistado mediante a percepção e inatos com as experiências adquiridas com o que eu, por vezes, denominei ‘fundamento’ do
movimentos, como por exemplo, de sucção meio, mediante a ação do sujeito. representânem (PEIRCE, 1977, p.46).
e movimento dos olhos. adaptando-se assim,
Para o autor, o signo se caracteriza  por

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ser essencialmente um objeto, uma ideia e um a ideia do símbolo mental deve ser construída despertar o desejo em aprender, por meio desta
meio de interpretação que objetiva a media- a partir da construção simbólica de quantida- escuta do educador. É importante, portanto, o
ção  e que apresentam três características  in- de  10.  A ideia de quantidade é uma simbologia favorecimento da superação de limites decor-
dispensáveis ao raciocínio: a ser construída para a posterior generalização rentes de déficits cognitivos, físicos ou afetivos,
[...}  o primeiro é signo diagramático ou ícone, de quantidades. considerar os estágios de desenvolvimento
que ostenta uma   semelhança ou analogia com humano e , ainda, a abstração simbólica , para
o sujeito do discurso; os segundo é o índice Exemplos: que o conhecimento seja interiorizado.
que, tal como um pronome demonstrativo ou 16                    22                 25 O desenvolvimento e potencial cogniti-
relativo, atrai a atenção para o objeto particular - 9                -8               +19 vo dar-se mediante as interações do cotidiano.
que estamos visando sem descrevê-lo; o terceiro -----               -------             ------ No início a criança age por instinto de sobre-
(ou símbolo) é o nome geral ou descrição que   7                    14               36 vivência e essas ações ou interações o fazem
significa seu objeto por meio de uma associação
conhecer o mundo. É o trabalho real da criança
de ideias ou conexão habitual entre o nome e o
O signo sozinho é uma ideia abstrata, sobre os objetos em cada fase do seu desenvol-
caráter significado (PEIRCE, 1990, p.10)
singular que  necessita da interação do indi- vimento, mediados e estimulados pelos adultos
Para Duval (1995) especificamente em viduo, que vai dar significado a este signo. que são responsáveis por suas aprendizagens e
Matemática, é necessário entender a Semiótica, Representa uma generalidade que carrega  as desenvolvimento.
ciência que estuda os signos, entender a lin- características do objeto ou do conceito a que Deste modo, o que se pode e deve fazer
guagem matemática, pois um modelo comum está associado. é colocar a criança em contato com desafios
para se adquirir conhecimentos matemáticos Deste modo, não existe pensamento apropriados, os fazendo lidar sobre objetos, e,
ou não matemáticos é inviável no que concerne sem representação e esta representação é a os fazendo lidar sobre o resultado retirado da
o ensino e aprendizagem em Matemática e os terceira categoria básica. A primeira que temos interação com o objeto – isto é, refletir sobre
problemas que lhe são inerentes, pois tem como é nossa intuição a segunda e a atividade do ob- o produto de sua própria interação, pois este
uma das principais características, a diversidade jeto que resiste nossos esforços e a terceira e o contato fará ter uma percepção do mundo e dar
de registros de representação semiótica. conhecimento em termos de uma representação. significado a ele.
Duval (2003), em sua teoria de repre- Desde modo, as atividades sobre o
sentação semiótica trata do funcionamento símbolo devem oferecer ao indivíduo possibili- REFERÊNCIAS
cognitivo, pois as representações fazem um dades de abstrair o significado, formar conceitos DUVAL. R. Registros de Representação
Semióticas e Funcionamento Cognitivo
intercambio comunicativo entre o sujeito a e utilizá-los em experiências futuras, fazendo da Compreensão em Matemática. IN:
atividade cognitiva do pensamento, gerando conexão com seus processos mentais. Machado, Silvia Dias Alcântara (org.)
Aprendizagem em Matemática: registros
diferentes formas de registro de representação A simbolização é um elemento essen- de representação semiótica, Campinas,
do objeto. cial  para o processo de construção do conhe- São Paulo: Papirus, 2003, pp.11
Sendo assim, ele destaca que não é cimento matemático que partindo da abstração ____________. Sémiosis et pensée hu-
possível estudar os fenômenos associados ao , forma conceitos e novas conexões mentais. maine, Perter Lang, Paris, 1995.
conhecimento sem recorrer a noção de repre- Peirce (1977) denomina  esse processo de PIAGET, Jean.  A Formação do Símbolo
sentação uma vez que o conhecimento só poderá “abstração hipostática” . na Criança: Imitação, jogo e sonho, ima-
gem e representação. Trad. Alvaro Cabral.
ser mobilizado através de uma representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
A dimensão lógica se dá através da lin- CONSIDERAÇÕES FINAIS PEIRCE, C. (1999). Semiótica. Trad.
guagem simbólica, um exemplo é a construção O processo de ensino exige, portanto, José Teixeira Coelho Neto. 3aed São
do número. uma escuta do aluno, um olhar especial. É pos- Paulo: Editora Perspectiva. Tradução de:
The Collected Paper sof Charles Sanders
A criança necessita visualizar, tocar, o sível fazer a leitura do pensamento da criança Peirce.
objeto para interiorizar o simbolismo. Portanto, e elaborar estratégias que contribuam para

ABSTRACT
This article is the product of a collective construction between students from the Graduate in Educational Psychology
Clinic and the Institutional University Tuiuti in the discipline of Cognition and Development of Mathematical Thinking. Aims
to discuss the process of cognition and development of mathematical thinking using it for the main ideas of the theory of
cognitive development: Jean Piaget (1971) and related studies semiotics of Charles Sanders Peirce (1999). Arose from
the need to base the construction of mathematical knowledge through interaction between subject and object. We conclu-
de that symbolization is of fundamental importance in the development of generalization of mathematical thought process.
Keywords: Cognition. Semiotics. Learning.

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GÊNEROS TEXTUAIS: EM ESPECIAL A POESIA INFANTIL
Dra. Cristiane Lumertz Klein Domingues*

RESUMO
O presente trabalho aborda as práticas de leitura com os gêneros textuais diversificados e de estratégias de leitura que
promovam a formação de leitores capazes de dar sentido às leituras que circulam socialmente de forma mais competen-
te. Sabe-se da importância que tem propor atividades significativas de leitura e de escrita nas práticas de sala de aula,
para a formação de leitores críticos, atuantes na sociedade e que possam ter acesso aos bens culturais de forma mais
justa e igualitária. Para tentar auxiliar o trabalho do professor são citados possíveis trabalhos com os gêneros textuais e
em especial um trabalho com o gênero poético para aplicar nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Palavras-chave: Estratégias de Leitura. Gêneros textuais. Leitura. Poesia Infantil.

INTRODUÇÃO as hipóteses que o leitor antecipa antes mesmo crita e para motivar o desejo de aprender a ler”.
A sociedade letrada exige conhecimen- de conhecer o conteúdo do texto. No momento (Teberosky e Colomer, 2003, p. 145).
tos de escrita e de leitura que vão além de co- que o individuo começa a leitura ele compara Existe um repertório enorme de textos
dificar e decodificar signos linguísticos, assim, com o conteúdo, com as antecipações prévias que podem ser trabalhados nos diferentes gê-
não basta à escola ensinar a ler e a escrever, é feitas antecipadamente. Portanto, quanto mais neros em sala de aula: Contos, mitos, fábulas,
preciso ensinar a utilizar os conhecimentos da gêneros textuais o individuo conhecer mais re- lendas populares, folhetos de cordel; poemas,
língua nas práticas sociais de leitura e de escrita. pertório para antecipação ele terá. Num segundo canções, quadrinhas, parlendas, adivinhas,
No cotidiano em sala de aula, as atividades que momento a autora aborda a questão da seleção, trava-línguas, piadas; saudações, instruções,
envolvem o trabalho com a linguagem oral e que se apresenta por ações que permitem o recados, relatos; entrevistas, notícias, anúncios;
escrita e, consequentemente, a aprendizagem leitor selecionar apenas aqueles aspectos mais seminários, palestras, entrevistas; receitas,
da leitura, precisam ser pensadas de forma a interessantes da leitura, seria uma visão geral do instruções de uso, lista; textos de embalagens,
tornar a aula significativa e criativa. texto, quando ele percebe os aspectos que mais rótulos, calendários; cartas, bilhetes, postais,
A utilização dos gêneros textuais na interessam naquele momento para compreender cartões, convites, diários; histórias em quadri-
escola apresenta-se como excelente forma de o texto. Já na inferência a autora afirma que o nhos, reportagens, notícias, jornais; anúncios,
inserir o aluno no mundo letrado. Todos os gê- leitor ativa seus conhecimentos prévios para folhetos, cartazes; relatos históricos, textos
neros contribuem para formação leitora do alu- tentar entender as informações que não estão enciclopédicos, verbetes; figuras, ilustrações,
no, em especial o gênero poético, que por meio claramente ditas, sem deixar de perceber o con- telas, esculturas, pinturas, charge e textos de
dos sons encontrados na poesia proporciona a texto em que o texto está inserido, porque isso teatro.
identificação da criança com a leitura, porque fornece muitas pistas para total compreensão. E, O ideal apresenta-se como uma prática
ela percebe o poema como uma brincadeira por último ela aborda o aspecto da verificação, pedagógica que privilegia durante a semana
proporcionada pela organização das palavras quando o leitor confirma as hipóteses que ele um trabalho com os diversos gêneros textuais,
nos versos, e quando lidas criam um mundo levantou inicialmente, o que o leva a repensar as para que o repertório do aluno seja ampliado de
de fantasia possível de ser imaginado por ela. primeiras ideias, retomar algumas partes e fazer forma significativa na escola. “Cabe, portanto, à
as correções necessárias para o entendimento. escola viabilizar o acesso do aluno ao universo
Sole (2003) aborda algumas estratégias dos textos que circulam socialmente, ensinar a
2. PRÁTICAS DE LEITURA que o leitor utiliza para interpretar o texto, as produzi-los e a interpretá-los” (BRASIL, 2001,
COM OS GÊNEROS quais foram descritas acima, afirmando que o p. 30). Também, apresenta-se como uma prática
TEXTUAIS aluno para tentar uma leitura eficiente buscará positiva o contato do aluno com o texto, ou seja,
Ao ler o leitor coloca em ação uma a aplicação delas ao ler. Nesse caso, o professor ele precisa ter em suas mãos o texto que irá ser
variedade de pensamentos quando aos poucos deverá privilegiar em seu planejamento a diver- lido. Consta nos PCNs (BRASIL, 2001, p.15):
vai se apropriando do assunto do texto. Dentre sidade de gêneros textuais, e levar em conta os O domínio da língua, oral e escrita, é funda-
eles segundo Solé (2003): antecipação; seleção; diferentes níveis de compreensão dos alunos. mental para a participação social e efetiva, por
inferência e verificação. “Prover o espaço das crianças com histórias, é por meio dela que o homem se comunica, tem
Segundo Solé (2003), a antecipação são poemas ou livros informativos é uma condição acesso à informação, expressa e defende pontos
essencial para favorecer o acesso à língua es- de vista, partilha ou constrói visões de mundo,

*Possui Doutorado(2011) e Mestrado(2008) em Letras, área de concentração em Teoria da Literatura Infantil, pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Graduação em Pedagogia (1993) e Especialização em Leirura: teoria e práxis, pela Faculdade Porto-
Alegrense, onde leciona, nos níveis de especialização e graduação, as disciplinas de Teoria e Prática Metodológica de Leitura e Escrita
I e II, Prática Educativa nos Anos Iniciais e Construção da Linguagem Escrita. Alfabetizadora por 15 anos, experiência no Ensino
Fundamental e Educação Infantil. Desenvolve estudos nas áreas da alfabetização, Linguagem, Literatura Infantil e formação docente.
E-mail: cristianedomingues@fapa.com.br

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produz conhecimentos. Por isso, ao ensiná-la, manuscritos, de circulação familiar, feitos
a escola tem a responsabilidades de garantir
3 POESIA: UM GÊNERO por pai ou mãe para os filhos, ou escritos em
a todos os seus alunos o acesso aos saberes álbuns de meninas e moças. Dos poemas, um
linguísticos, necessários para o exercício da PRÓPRIO PARA O PEQUENO dos mais antigos é um soneto de Alvarenga
cidadania, direito inalienável de todos. LEITOR Peixoto (1744-1792) dedicado à filha Maria
Segundo KAUFMAN (2005) o traba- Sabe-se da importância do trabalho Efigênia quando ela completou 7 anos (em
lho na sala de aula com a diversidade de gêneros com os diversos gêneros textuais na sala de torno de 1786). A obra apresenta um traço que
textuais oportuniza que o aluno tenha acesso aula, especialmente o gênero poético quando permaneceu na poesia infantil até meados do
aos textos que circulam no mundo letrado, por se deseja atingir o leitor criança, por entender século XX: a presença de um eu lírico adulto
isso conhecer a estrutura composicional e o que ele ainda é pouco praticado na escola, e que se dirige a um leitor mirim para incutir a
estilo de cada texto facilita as antecipações do também porque a poesia agrada a criança ao educação moral apropriada. O acervo do poeta
aluno, como já discutido em outro momento. lembrar uma brincadeira quando o poema é lido. não passava de 33 poemas. O de sua esposa
A autora fala sobre os textos práticos como A criança quando faz a leitura do poema brinca Bárbara Eliodora (1759-1819), por sua vez, era
aqueles que são utilizados no cotidiano, e que com as palavras e incentiva seu poder inventivo composto por apenas um poema, “Conselhos a
melhoram o entendimento entre as pessoas, ao criar as imagens daquilo que está lendo na meus filhos” como se pode observar, pelo título
cita como exemplo alguns gêneros e as suas mente, por meio da fantasia que se estabelece revela-se o teor do texto:
finalidades de leitura: Os textos informativos entre ela e os versos lidos. Meninos, eu vou ditar
os quais trazem informações, conhecimentos, As regras do bem viver;
descobertas, conclusões, quando o leitor ao 3.1 O SURGIMENTO DA POESIA
ler aprende algo, como nos jornais, revistas. INFANTIL Não basta somente ler,

Os textos não verbais que utilizam códigos A poesia infantil brasileira, segundo É preciso ponderar,
não linguísticos e vão além do verbal, como Camargo (2000), surge no final do século
XVIII e início do século XIX. A produção Que a lição não faz saber,
em pinturas, esculturas. E, por fim os textos
literários, o leitor entra num mundo de fantasia, poética nasce atrelada à história da narrativa, Quem faz
aparece à leitura por prazer, encontrada em repetindo o mesmo desenvolvimento. O que
Sábios é o pensar.
contos, romances, crônicas e poesias. foi produzido anteriormente eram poemas
[…]

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 23


No Brasil, a poesia infantil emerge explorou versos regulares, numa combinação tempos. Eles dedicaram-se aos haicais, gênero
primeiramente com produções manuscritas de diferentes metros, verso livre e jogos de sons. pouco comum na tradição da literatura infantil
por familiares e com textos ligados à escola; Os poemas infantis de Vinicius de Mo- brasileira. O escritor paulista José Paulo Paes
ambos tinham intenções de ensinar. Nas escolas, raes circulavam desde 1960, mas, somente em (1926-1998) é o principal poeta dos anos 1980
os professores da época escreviam textos em 1970, foram reunidos no livro A arca de Noé, e 1990 dentre aqueles dedicados à criança. O
prosa e verso para utilizar nas aulas de leitura. a mais conhecida obra no Brasil na segunda poeta tem sua produção voltada para o público
O primeiro professor a organizar uma antologia metade do século XX. Como escrevem Aguiar infantil desde 1984 e assumiu a ideia de uma
foi João Rodrigues da Fonseca Jordão que, em e Ceccantini (2009), a popularidade do poeta poesia essencialmente lúdica. A obra Poemas
1874, publicou o Florilégio brasileiro da infân- é justificada pela presença de jogo sonoro, para brincar (1990) apresenta-se como emble-
cia, reunindo poemas que, originalmente, não perspectiva infantil, humor, aproveitamento da mática e capaz de despertar empatia e cativar
haviam sido feitos para o leitor mirim. Outras poesia oral, tais como a quadra e a redondilha, leitores iniciantes.
obras também foram publicadas, tais como rima e tratamento de temas de animais, ao Muitas obras do século passado ain-
Aos Anos de uma Menina, de Sousa Caldas agrado da criança. Outro motivo que reforça a da circulam atualmente através de edições
(1762-1814), A uma menina no dia em que popularidade justifica-se pelo fato dos seus poe- renovadas e que tentam se reajustar ao gosto
fazia 15 anos, de Domingos Borges de Barros mas “A casa” e “O pato” terem sido musicados dos novos tempos. A poesia infantil é, pois,
(1780-1855) e Preces da infância, de Gonçal- por artistas famosos. um gênero que esteve ao longo dos anos em
ves de Magalhães (1811-1882). Esses poemas, Dos poetas do final do século XX e ascensão, demonstrando que cresceu na quali-
contudo, conservavam uma perspectiva adulta, que seguem produzindo até o século XXI, o dade de suas produções e na preocupação com
visando à educação moral. paulista Ricardo Azevedo (1949) foi o que mais o leitor mirim. O poema infantil, na literatura
Olavo Bilac (1865-1918) escreveu suas se aproveitou do legado de Henriqueta Lisboa, brasileira contemporânea, alcançou um espaço
Poesias infantis, editadas no Rio de Janeiro, em no que se refere ao aproveitamento do folclore. mais expressivo quando comparado a pouca
1904 e deixou clara a ideia de que a poesia era O escritor exercita-se em múltiplos gêneros e produção dos anos de 1980, mas ainda precisa
para educar. Seu trabalho servia para instrução subgêneros (narrativas longas, contos, ensaios, ser reforçada sua entrada nas escolas.
primária, por ser composto por versos sem teses acadêmicas, poemas), sobressaindo-se nas
dificuldade, de linguagem e assuntos simples. compilações de variadas formas de tradição oral 3.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA COM
Bilac queria contribuir com a educação moral (contos populares, adivinhas, trava-línguas, A POESIA INFANTIL
da criança do seu país, conforme reforçam as frases feitas, quadras populares, ditos, “brin- A prática pedagógica com o poema
palavras de Aguiar e Ceccantini: “A partir das cadeiras”, entre outras). de Mário Quintana foi aplicada no projeto de
lições de Olavo Bilac, a produção poética para A carioca Roseana Murray (1956) co- pesquisa para formação de leitores desenvol-
infância desenvolve-se no Brasil, entretanto, meçou sua produção em meados da década de vido pela PUCRS, no ano de 2009 e atingiu
ainda enfatizando principalmente os interesses 1980 e avançou para o século XXI. Sua poesia resultados exitosos ao seu final. A pesquisa
do ensino, que se vale dos versos como um veí- apresentou uma vertente intuitiva e de expressão privilegiou os poemas de Mário Quintana,
culo agradável para a transmissão de lições mo- emotiva, fazendo-se presente um subjetivismo num total de quinze encontros, com crianças
rais e conteúdos disciplinares” (2009, p. 197). acentuado, que prezou o respeito pela criança: de uma vila carente de Porto Alegre, porém
Com Henriqueta Lisboa (1901-1985), [...] na Roseana Murray, é possível verificar, abaixo será transcrito apenas uma das oficinas
a poesia infantil brasileira é valorizada pelo portanto, um trabalho poético que respeita a desenvolvidas.
caráter literário e pela influência do Moder- criança e o jovem leitor, distanciando-se plena- Com a intenção de dar suporte ao traba-
nismo, com duas décadas de atraso. Seu livro mente do utilitarismo que caracterizou a leitura lho do professor na sala de aula sugere-se o tra-
O menino Poeta, editado no Rio de Janeiro, de muitos escritores do século passado... (Aguiar balho com o livro Quintana, Mário. Pé de pilão.
em 1943, rompeu com o pedagogismo da li- & Ceccantini, 2009, p.196). São Paulo: Editora Ática, 1999. A motivação
teratura para infância e valorizou o lirismo, ao Segundo Aguiar e Ceccantini (2009), inicia com a escrita dos versos numa cartolina,
usar metáforas, ritmo breve e investimento nas também na produção de poetas de gerações ler e comentar “O pato ganhou um sapato,/ foi
brincadeiras onomatopaicas. Henriqueta Lisboa mais recentes, a preocupação com o apuro logo tirar retrato.// O macaco retratista./ Era
aproveitou também o folclore, que se tornou formal e a busca pela sintonia com o universo mesmo um grande artista” (QUINTANA, 1999,
uma das tendências marcantes da poesia infantil do leitor iniciante têm sido marcantes. É o P.3). Depois de entendido o conceito de retrato
brasileira, ainda utilizado criativamente por po- caso, por exemplo, de Lalau (1954), Ricardo olhar um álbum de fotografias, para oportunizar
etas contemporâneos, como Ricardo Azevedo. Silvestrin (1963) ou Fabrício Corsaletti (1978) um diálogo sobre a infância de cada um. O fe-
Segundo Aguiar e Ceccantini (2009), – poetas que, pouco a pouco, vêm ganhando chamento da etapa é a confecção de um mural
o paradigma estético é consolidado por dois voz no cenário da produção atual para criança. com desenhos da fotografia deles. Depois de
poetas modernistas brasileiros: Cecília Meireles Os paulistas Lalau e Corsaletti, respectivamente concluir a motivação para leitura, ler o livro
(1901-1964) e Vinícius de Moraes (1913-1980). em Japonesinha (2008) e Zôo (2005), apre- para turma, e em seguida promover um diálogo
Cecília Meireles foi uma das principais vozes sentam coletâneas sobre animais, assunto que com o grupo sobre as questões: O que o pato
femininas da poesia brasileira. Ela trouxe para agrada o público infantil desde os mais remotos ganhou? Para que o pato ganhou sapato? Quem
sua criação infantil a musicalidade, quando era o retratista? O que o retratista disse ao pato?

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Como ficou o pato para tirar foto? O que ele cabendo a escola despertar nos alunos, desde a para que eles possam unir manchete a repor-
viu sair da máquina? O que o passarinho tinha educação infantil, o gosto pela leitura. Portanto, tagem, e por fim ler todas as reportagens com
em cada peninha? O que o passarinho disse ao contar histórias para os pequenos prepara o suas respectivas manchetes. Os poemas podem
pousar no bico do pato? Da gritaria dos bichos futuro ouvinte para leitura, e assim formam-se ser musicados pela turma, que vai compor uma
quem apareceu? Quem era a polícia? Quem era de fato leitores. banda, confeccionar os instrumento e fazer uma
a vó do pato? Como era a vó do pato? Quem O texto literário infantil é, antes de apresentação para turma.
mora na floresta encantada? Por que ninguém tudo, literatura. Então, mesmo quando destinada Considerando que a criança é puramen-
conhece a fada mascarada? Por que a fada aos pequenos, pode agradar e encantar o adul- te lúdica e que a poesia infantil facilita o contato
mudava de aparência? O que acontecia com to, da mesma forma como faz com a criança. com o ludismo, deseja-se que o professor possa
o espelho quando ela se olhava? E com o rio? Muitas vezes, a obra produzida para a criança escolher um poema para ler com a turma, sem
Como era o nome da vó do pato? Por onde an- não agrada o pequeno, por ser muito elementar pensar em uma obra didático-pedagógica, ou
dava sozinha Alice? O que a fada dá a Matias? e pobre, por ter textos curtos, de poucas frases, porque tem intenção de ensinar conteúdos, ou
Depois de comer o doce o que acontece com e por se preocupar em evitar sílabas complexas, deseja doutrinar a criança segundo padrões so-
Matias? O que a fada fez com Alice? Depois o que demonstra que o escritor subestima a ciais, com objetivo de incutir comportamentos
de transformados o que acontece com ambos? capacidade infantil. As chances desse tipo de adequados. Ao contrário, que ele possa privile-
Aonde o pato chegou quando saiu da floresta? leitura ser divertida, comover e levar à fruição giar uma obra que respeite a perspectiva infantil,
Quem pega o pato? O que Rosa dá ao pato? estética são remotas. Como afirma Góes (1984), a temática do cotidiano dos pequenos, as figuras
Como é o nome do professor de Rosa? Quando a literatura infantil não deve ter tom moraliza- de linguagem, os jogos sonoros e, principalmen-
o professor ergue o dedo o que acontece com dor, a partir do qual a virtude é sempre recom- te, o aspecto lúdico, pois, assim, o professor terá
Rosa? Quem responde a pergunta sobre tabuada pensada e o vício castigado. A criança percebe maiores chances de formar leitores.
no lugar de Rosa? Quem chega pela tarde no essa intenção e, como resultado, muitas vezes
jardim? Como era o nome da andorinha? O que perde o interesse pelo texto. Outro ponto que REFERÊNCIAS
a andorinha viu do alto? O que o pato pede para pode desagradar o leitor mirim é a linguagem AGUIAR, Vera Teixeira; CECCANTINI,
João Luís. Poesia brasileira para crian-
andorinha levar? Qual a ordem que os bichos carregada em diminutivos, com tom adocicado ças: Uma ciranda sem fim. In: RECHOU,
vão para prisão? Eles ganharam comida? Onde e falsa simplicidade. Outro pecado é o didatis- Blanca-Ana Roig; LÓPEZ, Isabel Soto;
RODRÍGUEZ, Marta Neira. A poesia in-
fica a prisão? O que acontece com a pança? O mo, que aparece quando o texto quer passar fantil no século XXI (2000-2008). Galícia:
que acontece enfim? Quando a turma segue lições e ensinamentos específicos, disfarçados Xerais de Galícia, 2009.
o que acontece com a estrada? Como era a de recreativos. BRASIL. Secretaria de Educação do
cascavel? O que era ouvido quando ela estava Os alunos precisam enxergar a leitura Ensino Fundamental. Parâmetros Curri-
no galho? Quem viu a cobra primeiro? O que o como algo interessante e desafiador, nada mais culares Nacionais: Língua Portuguesa.
Ministério da Educação. Secretaria da
macaco faz com a cobra? O que o macaco pega estimulante do que os trava-língua, parlendas, Educação Fundamental 3.ed. Brasília: A
no bolso? O que o macaco fez com o cavalo da adivinhas, piadas, poesias etc, porque favorece Secretaria, 2001.
polícia? O que acontece com os animais quando além da leitura a fácil memorização, o que pode CAMARGO, Luis. A poesia infantil no
o céu escurece? Onde foram deitar os bichos na ser um excelente recurso para iniciar a criança Brasil. Disponível em: <www.blocosonli-
ne.com.br/literatura/prosa> Acesso em 27
capela? O que a velha faz ao entrar na capela? no mundo da leitura. O professor pode solicitar de agos. 2013.
Durante a noite o que acontece com Matias e a leitura de um dos textos apresentados fazendo GÓES, Lúcia Pimentel. Introdução à
com sua avó? Quando todos os assuntos sobre com que os alunos o memorizem, para depois literatura infantil e juvenil. São Paulo:
o poema forem esgotados, os alunos podem desafiar seus colegas. Trazer em cartazes diver- Pioneira, 1984.
circular palavras desconhecidas, discutir com sas adivinhas, para serem lidas e respondidas KAUFMAN, Ana María; RODRÍGUEZ,  Ma-
o grupo o significado e procurar no dicionário. pelos alunos, as respostas podem ser discutidas ría Helena. Escola, leitura e produção
de textos. Porto Alegre: Artmed, 2005.
Em seguida, confeccionar em grupo um jogo de em grande grupo até que se chegue ao consenso
QUINTANA, Mário. Pé de pilão. São
dominó com as palavras do poema: sapato-retra- sobre a resposta correta. Para abordar a leitura Paulo: Editora Ática, 1999.
to; retratista-artista; mexa-queixa; graça-massa; de lendas em sala de aula o professor pode
SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura.
direitinho-passarinho; saiu-viu; topete-sete; levar diversas lendas e ler trechos delas para Porto Alegre: Artmed, 1998.
tinha-peninha; barulho-engulho; pato-retrato; que a turma tente adivinhar a qual ela faz cor- TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa.
só-vó; parava-gritava; polícia-delícia; vento- respondência. Depois disso a turma poderá ler Aprender a ler e a escrever – uma
momento; meia-cadeia. A conclusão do trabalho as diversas lendas trazidas pela professora. As proposta construtivista. Porto Alegre:
Artmed, 2003.
será escrever um poema sobre infância. fábulas podem ser lidas sem ser dito seu título
para que a turma tente adivinhar ao final da
CONSIDERAÇÕES FINAIS leitura. Para ler notícias de jornal com a turma o
Formar leitores apresenta-se como ta- professor pode levar somente as manchetes para
refa anterior a criança aprender a ler e escrever, que a turma manuseie depois ler as reportagens

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 25


(DES)MOTIVAÇÃO NA APRENDIZAGEM ESCOLAR
Isabel Cristina Oliveira Loureiro *

RESUMO
O presente trabalho tem como tema resgatar a vontade de aprender no espaço escolar da Escola Estadual de Ensino
Fundamental BEG. Através de entrevista estruturada e qualitativa, todos os alunos, funcionários e professores participa-
ram da pesquisa. Tem como objetivo possibilitar, a geração de conhecimento e, assim, solucionar o problema apresen-
tado. Em busca de possibilidades reais de uma mudança rápida de paradigmas instituídos e criados nesta comunidade a
pesquisa mostra um caminho que envolveu todos os segmentos desta escola, numa proposta pedagógica que atenda as
necessidades previamente questionadas para o resgate da motivação no aprender e ensinar.
Palavras chave: Motivação. Desmotivação. Aprender. Mudança.

1 INTRODUÇÃO contexto, que a fome saciada é a do alimento Quais os fatores geradores de desmotivação dos
Sabe-se que a humanidade vive e so- físico. Constatação triste! alunos da Escola Estadual de Ensino Funda-
brevive sob motivação. Alunos e professores vivem um mo- mental Brigadeiro Eduardo Gomes, no processo
Motivação move o mundo, portanto, mento de crise, onde a falta de políticas públicas ensino aprendizagem dos primeiros anos?
também move a aprendizagem, a efetivação para a sustentação de um trabalho efetivo e com Para as questões de pesquisa foram
da aprendizagem necessita de motivação, pois qualidade tornasse mais distante. O presente tra- pensadas as seguintes perguntas:
aprender é viver, ação contínua, constante que balho pretende mostrar formas e ou possibilida- Qual é o perfil da escola?
através da motivação acontece de forma praze- des de resgatar a vontade de aprender no espaço Qual é o perfil de cada segmento
rosa e podemos dizer eficaz. escolar, da Escola Brigadeiro Eduardo Gomes, escolar?
Podemos classificar a falta de motiva- pensando em contribuir com a provocação de Por que os alunos vão para a escola?
ção como um entrave do sucesso escolar, alunos mudanças no fazer pedagógico, buscando tornar Por que os professores estão trabalhan-
apáticos quanto às possibilidades de aprendi- a escola em um lugar para ser feliz! do nesta escola?
zagem e a aquisição de novos conhecimentos Justifica-se a escolha por este tema da Qual é a importância da motivação?
dentro da escola, é constante a pergunta, porque seguinte forma: Que é autoestima e autoconhecimen-
tenho que estudar, aprender.... Isto novamente?! Constatamos que a humanidade cami- to? E qual sua influência no processo ensino
A velocidade do mundo globalizado, nha em passos largos, mas difíceis. A vida mo- aprendizagem?
fora dos muros da escola, segrega os alunos derna trouxe muitos benefícios mas, também, O currículo atende as necessidades da
e, porque não, também os professores a um novas necessidades, novos conflitos. As dife- demanda?
mundo medieval. Sabemos que a escola pouco rentes realidades dentro do mesmo e pequeno Como é feita a avalição?
ou nada evoluiu. Sabemos que a vida fora da espaço da Escola Brigadeiro Eduardo Gomes Que metodologia é utilizada?
escola, aos olhos da criança, é uma festa, e, na é gritante, pois, existe muita diversidade, num Como são as relações interpessoais?
escola, o cárcere é uma condição. É constante a emaranhado de dificuldades onde não há falta É claro que não poderia faltar algu-
afirmação da falta de prazer na escola. de material e que fez nascer um desafio: a busca mas hipóteses para dar um bom recheio neste
Mesmo com o advento das tecnologias de possibilidades de um novo caminho tanto trabalho.
e das comunicações, o trabalho pedagógico pedagógico como administrativo, minimizando -- Os alunos estão desmotivados porque
continua o mesmo de décadas atrás, aulas assim obstáculos, enfrentando o processo ensino os professores não gostam deles.
monótonas baseadas em quadro e giz, copias aprendizagem desta unidade escolar. Sendo -- Os alunos estão desmotivados porque a
sem sentido, dificultando o processo ensino integrante do quadro docente desta escola, pre- escola não é interessante.
aprendizagem. Temos também a construção ocupa-me e, por vezes, me angustia a situação -- Os alunos estão desmotivados porque o
da autoestima e autoconhecimento, tão impor- de apatia dos integrantes deste local. currículo não é significativo.
tantes nos primeiros anos escolares. Falemos Um desafio mais que necessário, pois -- Os alunos estão desmotivados porque a
um pouco de classes menos favorecidas ou acredito, que neste enfrentamento do problema, avalição é inadequada.
ditas baixas, onde a escolarização deveria ser que é a elaboração do projeto e a própria pes- -- Os alunos estão desmotivados porque
um trampolim para ascensão sócio econômica. quisa, constitui-se numa tentativa de direcionar não acreditam que são capazes de aprender.
Nessas populações a escola pública é seu refú- a escola de forma ampla para o crescimento e -- Os alunos estão desmotivados porque a
gio, e, em inúmeras vezes, local para saciar desenvolvimento de seus alunos e seu sucesso escola não tem um projeto político pedagógico
uma fome não intelectual, pois os alunos não escolar. bem estruturado, inovado e participativo.
vêm em busca do saber. Mas observamos no Elencamos, então o seguinte problema: -- Os alunos estão desmotivados porque

*Licenciada em Pedagogia, habilitação em Magistério da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental,
Pós-Graduada em Supervisão Escolar.

26 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


a escola não tem um ambiente agradável e
acolhedor.
Este trabalho tem por objetivo geral
resgatar a vontade de ensinar e aprender. Por
objetivos específicos temos:
-- Identificar fatores geradores de desmo-
tivação nos sujeitos envolvidos, no processo
ensino aprendizagem da escola.
-- Possibilitar e potencializar, ações efeti-
vas para a melhoria nos aspecto físico, pedagó-
gico, pessoal e afetivo da escola.
-- Oportunizar a melhoria das relações pes-
soais entre os docentes e funcionários da escola.

2 EM BUSCA DA MOTIVAÇÃO
Acredita-se que o fator motivação
dentro da escola possa ser o reflexo do atual
momento histórico, pelo qual passamos por-
que a sociedade vive uma rotina em busca de da escola, não poderá ser delegada somente nascemos ignorantes (2000, p. 55).
valores que possam compensar sentimentos e ao aluno, existem pessoas envolvidas nesse
relações significativas. A ignorância tão bem observada por
processo e o fato aprender requer o princípio. Arroyo, acredita-se encaixar-se com muita
O medo de não conseguirmos alcançar nossos
Acredita-se na falta motivadora por parte dos veracidade na escola, pois falta um saber, des-
objetivos, de sermos incapazes de executar
professores e, porque não, dos familiares destes tes professores, da cultura social e condições
determinadas tarefas, de não correspondermos
alunos. Nas últimas décadas algumas bandeiras de seus alunos. Arrisca-se afirmar que lhes
as expectativa da empresa, de não agradarmos à
pessoa amada... tudo pode se tornar um terrível
foram erguidas pelos profissionais de educação falta a sensibilização para despertar o poder da
empecilho, atravancando nosso sucesso (SCHI-
do estado do Rio Grande do Sul. A gestão curiosidade no aprendiz, fazer vir à tona o brilho
MITT, 2009, p.11). Democrática pode ser citada como uma destas no olhar, aquela mola impulsionadora que leva
que, conforme afirma Arroyo, “...ameaça a para um campo em que aprender e prazer se
Sim, a falta de auto estima, o medo de centralidade da categoria e do peso das decisões enlaçam, como uma ação única. Observa-se que
falhar, toma conta das pessoas, que por muitas coletivas de mestres das artes de ensinar e de os professores também por condições pessoais
vezes, preferem viver na nuvem do “não consi- educar” (2000, p.21). Assim, a participação de ou profissionais também perderam esta fração
go” [grifo nosso] do que lutar para a realização todos deveria garantir uma forma efetiva para a curiosa e aprendente, que seria a renovação
de ações positivas que os levem ao sucesso. escola ser um lugar onde a sociedade tivesse voz constantes de seu fazer pedagógico. Fazer
Ter sucesso em qualquer área ou situ- e vez. Mas a falta de preparo efetivo para estas pedagógico que envolvesse todos em torno da
ação requer esforço e aprendizado. Observa-se ações, em inúmeras vezes, só vem ao encontro vontade de desvendar mistérios, um conhe-
uma crescente onda desmotivadora dentro das de um ambiente desmotivador e um lugar sem cimento novo que os transportariam para um
paredes escolares, talvez pela crescente situ- coordenação, um campo onde todos atuam sem novo campo de fazeres e seres com perspectivas
ação política do país e a própria banalização um objetivo definido e comum. sociais e intelectuais melhores.
da aprendizagem, visto que a mídia constante- Um campo minado, onde todos sabem- As políticas públicas, a família e a
mente divulga o sucesso de pessoas que não ne- se falhos, com um amplo poder de mudanças, mídia não são parcerias da escola. É possível
cessariamente estiveram nos bancos escolares. mas sem motivação, sem um olhar esperançoso contestar esta afirmação... Será? Talvez devês-
O grande mestre Rubem Alves, afirma: para a construção de novos saberes. Como semos sair de nossas confortáveis cadeiras de
“Para as crianças o mundo é um vasto parque professor, Arroyo afirma: acomodação e buscar olhares mais abrangentes,
de diversões. As coisas são fascinantes, provo- Aprendemos disciplinas sobre que conhecimen-
trazendo a família para dentro da escola, lhes
cações ao olhar. Cada coisa um convite” (2004, tos da natureza e da sociedade ensinar e com que
oferecendo oportunidades de aprender sem o
p.10). Então, observa-se que os muros escolares metodologias, porém não entra nos currículos de
ranço de tarefas de ajuda ou reuniões intermi-
escondem este fascínio, privando a criança com formação como ensinar-aprender a sermos hu-
náveis para discutir disciplina. Falamos aqui
seus programas e objetivos rígidos. Há neces- manos. Falta-nos a matriz pedagógica fundante.
de oportunidades de uma participação com
sidade de mostrar um novo fazer pedagógico Nosso perfil fica truncado. E mais descuidados
um viés que encontre também as necessidades
que não seja podador da curiosidade. A vontade uma das curiosidades mais próprias de nossa
desta comunidade escolar. Usar as mídias e
de conhecer, o instigante prazer do novo deve condição humana, a curiosidade por aprender
tecnologias dentro da escola como fonte de
permanecer apesar das cercas escolares. a ser, por entender os significados, por apro-
priar-nos da cultura. Nesses complexos saberes busca e pesquisa de conteúdos próximos de
Contudo, a ação motivadora dentro
suas realidades. Políticas públicas devem ser

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 27


um fator propulsor para os fazeres dentro da Com as palavras de Freire pode-se obrigando os alunos a busca em outra escola
escola, pois nos oferecem oportunidades de refletir: para a conclusão de sua formação básica, seja
sistematizar nossas práticas, sem gesso, já que A minha abertura ao querer bem significa a um dos fatores para este agravante. Soma-se
a boa bandeira da gestão Democrática oferece minha disponibilidade à alegria de viver. Justa a problemática localização geográfica onde a
caminhos legais para isto. alegria de viver, que assumida plenamente, não escola se situa no bairro onde as residências
Celso Antunes relata em um artigo que permite que me transforme num ser “adocicado” diminuem a medida que as indústrias aumen-
dos saberes e mudanças que a escola precisa um nem tampouco num ser arestoso e amargo (1996, tam, cortado pela única linha de trem da cidade
seria sobre amizade: p. 160). (o que dificulta seu acesso), e com um número
Chega-se, assim, a confluência dessas mudan- A escola surgiu com um papel transfor- consideradamente pequeno de moradores em
ças: uma escola com algum tempo que antes não mador e deve ser transformada, para cumprir idade escolar. Contudo a qualidade do ensino
sobrava e com uma necessidade imperiosa que sua missão, seus atores (alunos e professores), somada a falta de atrativos para aprender e
anteriormente seria até possível descartar. Pa- necessitam de uma motivação para percorrer ensinar são observados, o que leva a realização
rece que chega o momento de a escola “ensinar da pesquisa na escola.
este caminho que não os tornem dóceis a acei-
amizade”, relacionando-a com a cultura e com
tação de tudo mas, também, não pode-se cair no
a sociedade. Porém, se essa necessidade parece
indiscutível, surge o desafio. É possível ensinar
abismo da fatal morte. Há que haver luta para 3 ANÁLISE DOS DADOS
a busca de um caminho onde a aprendizagem COLETADOS
amizade? (2009, p. 46).
seja ponto de partida e chegada para alunos e Os alunos não apresentaram estudo
Ensinar amizade, ensinar e aprender um professores. como uma motivação para suas vidas. As
fazer de relacionamentos, onde o diálogo com Esta pesquisa foi realizada na Escola respostas ficaram em torno das brincadeiras e
a curiosidade seja claro e efetivo. Onde haja Estadual de Ensino Fundamental BEG, situada atividades de lazer fora da escola como mola
compromisso com o ensinar na avenida JV, no bairro A. na cidade de Porto motriz para um bem viver. Jogos como vide-
dentro da escola para além de seus Alegre. A escola possui cinquenta e quatro ogames atuais foram citados entre os meninos.
muros. Ensinar e motivar a aprender, motivar- alunos, três professoras, quatro funcionárias. As meninas ficaram entre brincar, desenhar
se para ensinar a falta de diálogo e tempo, pois Todas participam da pesquisa através de uma e desfilar. Poucas citaram estudar como uma
já vão longe os tempos das rodas de histórias entrevista estruturada. Quanto a natureza desta motivação na vida. Contudo a grande maioria
e conversas familiares, as relações pessoais se pesquisa, é aplicada para possibilitar, a geração colocou que se sente motivado para estudar,
tornam distantes e a interpessoal sofre a mesma de conhecimento e, assim, solucionar o proble- embora sem clareza em suas justificativas, pois
dor. A globalização ou a aldeia global onde fatos ma apresentado. o fato de estarem dentro dos muros escolares já
ocorrem e são divulgados simultaneamente Quanto ao problema abordado, a lhes basta como justificativa para esta ação. As-
pelas atuais vias de comunicação tornam as pesquisa é qualitativa, uma vez que não será sim a eles basta o corpo estar dentro da escola,
pessoas ilhas em si mesmas. adotado nenhum método estatístico. para configurar a ação de aprender, o que não
A escola e sua função social tem uma dialética Os objetivos elaborados da pesquisa
diferente de tempos passados, pois não basta ler
foge à realidade pois o simples ato de existir no
descritiva, salienta as características das pessoas mundo já se faz do ser um aprendente.
a que se ler um mundo de programas de vidas envolvidas entre outros aspectos utilizados.
e de diferentes estágios nesta aldeia mundial. Quanto a autoestima, não apresentaram
Como procedimentos técnicos será utilizado resposta muito significativas pois todos tem a
Saraiva diz: A escola assume a responsabilidade
um referencial teórico de peso, documentos e de visão de si mesmos em seus ambientes fami-
de iniciar a criança no processo de alfabetização
ação. Com a intenção de fazer uma intervenção liares em suas casas, nas vilas correndo com
e de, paulatinamente aperfeiçoar sua leitura, de
na situação atual desta escala a pesquisa visará liberdade. Os fracassos ficaram bem ligados
modo a garantir-lhe o domínio de uma prática
a compreensão dos fatos e, assim, possibilitar as atividades físicas e acidentes ocorridos na
cuja finalidade não se esgote em si mesma
(2001, p. 23).
uma intervenção na situação atual, para contri- comunidade. Alguns poucos citaram estudar
buir em sua transformação. Assim sendo, será como um fracasso relevante em suas vidas.
Acreditasse em mais, muito mais. A feita a descrição de algumas características Para as disciplinas desenvolvidas dentro da sala
escola, hoje, tem como compromisso resgatar desta comunidade escolar. consideram bons ou adequados, contudo acham
os indivíduos para uma alfabetização do pensar, Nos últimos anos como em todas as o período dentro da asa de aula enfadonho. O
de novos paradigmas culturais e sociais, pois escolas públicas do estado do Rio Grande do pátio é o melhor local para se ter aula e artes
não há espaço para compactuar com a morte Sul, verificasse o aumento da taxa de evasão dos foi a disciplina preferida.
ao nosso lado sem um questionamento. Sim , a alunos. Na Escola Estadual de Ensino Funda- A maneira como os professores os
escola agoniza, beira seu fim. Mas há que existir mental Brigadeiro Eduardo Gomes observasse avaliam foi considerado chato e muito chato
um espaço de questionamento e de renovação, um crescente número de alunos infrequentes sendo a maneira que os professores ensinam,
talvez ao morrer venha a nascer uma nova gerando este fenômeno. classificada como não apropriada para suas
instituição que valorize os seres respeitando Acreditasse que o fato da escola não necessidades.
suas individualidades diversas, suas propostas oferecer a formação completa do ensino fun- As relações dentro da escola foram
de saberes e assim encontrem motivação para damental, pois só funciona do 1º ao 5º ano, classificadas com ruins e más, citando que
ensinar e aprender.

28 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


a escola é um ambiente de brigas e relações dicotomia pois querem a rigidez dos professores caminha em passos largos para sua desativação.
confusas. mas não querem elaborar estratégias para que o A falta de motivação é apenas o reflexo
Assim observa-se que os alunos não respeito e educação seja prioridade nas relações desta situação triste, pois a escola que deveria
encontram na escola um ambiente acolhedor dentro da escola. ser um campo de alegres conquistas tornasse
e propício a convivência fraterna, o processo Entre funcionárias e professoras a um local estagnado.
inicial de aprendizagem não lhes é convidativo motivação fica bem restrita a vida familiar e Alunos desmotivados e professores
ao aprender e segue no processo de avaliação as relações pessoais fora da escola e a vida sem expectativa de crescimento profissional,
onde se sentem excluídos. Algumas das hipóte- profissional não foi citada, embora se sintam reconhecem a necessidade de uma mudança
ses parecem encontrar eco na realidade descrita motivadas para ensinar, por acreditarem que de paradigma, contudo não apresentam uma
pelos alunos. O Projeto Político Pedagógico através da educação poderão mudar as pessoas. vontade ativa e concreta para que isso se faça.
da escola se faz defasado para sua clientela Suas visões pessoais são de pessoas Possibilidades para motivar um proces-
que, desmotivada, permanece dentro da escola positivas com atitudes de coragem e alegria so de ensino e aprendizagem neste ambiente,
mais por questões de obrigações sociais do que de viver. seria realizar um milagre. Mas ser um profissio-
afetivas ou pessoais, que seria aprender para um Os fracassos se relacionam com as nal da educação não seria crer em impossíveis.
futuro promissor na sociedades atual. atividades profissionais com não concluir al- A busca de novas propostas e projetos que
Entre os pais, a motivação não é assunto guns projetos mas, contudo, enfrentados como envolvam todos num mesmo caminho ainda
de importância para sua promoção social. A luta normais diante da trajetória de vida de cada um. é um sonho.
pelo pão na mesa é o bastante para viver o hoje Entendem o currículo como básico, mas A pesquisa que se propôs a um estudo
e o amanhã. “Quem sabe professora”, foram dinâmico através de suas próprias ações. Não com o objetivo de resgatar a motivação na
falas como estas que basearam as conclusões. apresentam uma visão positiva do processo de Escola Estadual de Ensino Fundamental BEG,
Apelação dos filhos com a escola é de obriga- avaliação pois consideram as orientações da que deverá construir seu Projeto Político
toriedade pois o número de faltas resulta na mantenedora muito rígidas para isso. Algumas Pedagógico com a participação de todos para
diminuição de sua renda familiar. consideram que o processo deveria ter a parti- que possam fazer questionamentos de sua rea-
Os fracassos são bem relacionados com cipação de todos os envolvidos, mas na prática, lidade encontrar soluções possíveis que não só
a escolarização, pois a grande maioria sente-se isso torna-se inviável. resgatem a motivação para ensinar e aprender
fracassada por não ter estudado mais. As relações interpessoais vão de como a motivação para sonhar e realizar seus
Não apresentam uma compreensão do péssimas à ruim e chegam até a alegação da sonhos. Sonhos de saberes, de mudanças e de
que seja currículo escolar, acreditam que se é necessidade de trabalhos para motivar o grupo. crescimento pessoal.
ensinado deve ser aprendido por seus filhos. Observa-se inúmeras dicotomias nas
A avaliação é bem questionada à me- respostas de todos os entrevistados. As respos- REFERÊNCIAS
dida que alegam falta de compreensão deste tas denotam a falta de motivação para a atuação ANTUNES, Celso. Aulas de Amizade –
Pátio Revista Pedagógica. Porto Alegre:
processo, “como pode passar se não sabem ler dentro desta escola, que embora apresente um Artmed, 2009.
professora?”, é uma pergunta constante sobre a bom aspecto físico, variedades de material con- ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre:
progressão continuada nos anos iniciais. creto, não consegue atingir os objetivos básicos imagens e autoimagens. Petrópolis, RJ:
A maneira como os professores ensi- para uma escolarização de sucessos. Vozes, 2000.
nam também é questionada, pois acreditam que FREIRE, Paulo. Pedagogia da Auto-
nomia Saberes necessários à prática
a falta de disciplina na escola é uma constante CONSIDERAÇÕES FINAIS educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
e, isso, afeta todo o processo. Afirmam que A escola pública estadual agoniza, e a SARAIVA, Juracy Assmann. Literatura e
as professoras devem ser mais rígidas com Escola Estadual de Ensino Fundamental Briga- alfabetização do plano do choro ao pla-
alguns alunos. deiro Eduardo Gomes, morre, com um número no da ação: Porto Alegre, Artmed, 2001.
As relações são consideradas boas até de alunos que não configura duas turmas de SCHMITT, Carlos Afonso. O gosto das
chegar aos conflitos de seus filhos, pois não ano/série, com duas classes multiseriadas. Sem pequenas vitórias como vencer os
medos que nos afligem diariamente.
querem ser chamadas na escola para ouvir recla- um Projeto Político Pedagógico que atenda São Paulo: Paulinas, 2009.
mações sobre atos de indisciplina. Cria-se uma as condições de aprendizagem destes alunos,

RESUMEN
El presente trabajo tiene como tema redimir la voluntad de aprender en la escuela, la Escuela Primaria Estado BEG. A
través estructurado, entrevista cualitativa, todos los estudiantes, personal y profesores participaron. Su objetivo es per-
mitir la generación de conocimiento y así resolver el problema presentado. En la búsqueda de posibilidades reales para
un rápido cambio de paradigmas en el lugar y creado esta investigación comunitaria muestra un camino que involucró a
todos los segmentos de esta escuela, una propuesta pedagógica que responde a las necesidades planteadas previamen-
te por un rescate de la motivación en el aprendizaje y la enseñanza.
Palabras clave: Motivación. La desmotivación. Aprender. Cambio.

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 29


IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO E ATENDIMENTOS AOS
PORTADORES DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTADOS
Nadiesca Pohlmann*

RESUMO
Este estudo traz como temática a importância da identificação e atendimento aos portadores de altas habilidades/super-
dotados. Para tanto, buscou-se verificar o histórico das altas habilidades/superdotados, a legislação que ampara e dá
orientações de como atender o crescente número de pessoas cada vez mais com essa necessidade educacional . Este
artigo tem por objetivo oportunizar a convivência entre os portadores de altas habilidades/ superdotados, a importância de
identificar e atender essa clientela, orientados por um professor / facilitador capacitado para catalisar todos os recursos
materiais e humanos, existentes na escola ou fora dela, e sobre esta base atender cada criança de acordo com seus inte-
resses e potencialidades. Com esta abordagem, serão levantadas questões específicas dos portadores de altas habilida-
des/superdotados, como podemos promover uma aprendizagem significativa e prazerosa, identificação dos pontos fortes
e limitações do aluno. A importância de ser oportunizado atividades desafiadoras e intrinsecamente motivadoras para
ao aluno com altas habilidade e organizar na escolas o currículo escolar, ele deve ter o conteúdo integrado, complexo,
aprofundado.
Palavras-chave: Educação inclusiva. Identificação. Altas habilidades/superdotados.

INTRODUÇÃO aprofundar as discussões. No ano seguinte, A LDB - Lei de Diretrizes e Bases da


Desde a antiguidade, a educação do o Plano Setorial de Educação e Cultura dava Educação (Lei 9394/96) de novembro de 1996
portador de altas habilidades/superdotado vem maior prioridade à Educação Especial. Apesar reconhece o portador de altas habilidades/su-
despertando o interesse de vários grupos em de se ter concretizado apenas timidamente, perdotado e talentoso em seus artigos 58 e 59
diferentes partes do mundo. Entretanto, muitos a iniciativa foi importante porque chamou a e recomenda estratégias de atendimento (Ver
são os problemas que têm limitado o progresso atenção para o problema. Item 1 a seguir).
na área. O Centro Nacional de Educação Espe- Apesar destes e outros dispositivos
A falta de aplicação das pesquisas na cial traça os rumos de sua atuação, procurando legais ainda não temos ações concretas que
prática educacional, a falta de vontade política apontar alternativas de ações educativas que atendam a demanda existente, mas as Salas
dos governos, os mitos que rodeiam o portador pudessem favorecer a expansão e o aprimo- de recursos são muito importantes para o
de altas habilidades/superdotado e talentoso e ramento dos serviços prestados também aos desenvolvimento e crescimento dessa área da
a carência de investimentos no atendimento superdotados. Educação Especial.
dessa pessoa são alguns dos obstáculos a serem O direito dos superdotados a um Os alunos com altas habilidades estão
superados. atendimento adequado fundamenta-se no prin- em todos os lugares, em todas as escolas, preci-
No Brasil o atendimento ao portador cípio de que “todos os indivíduos devem ter sam ser identificados para serem tratados como
de altas habilidades/superdotado e talentoso oportunidade de desenvolver ao máximo suas realmente necessitam.
começou na década de 20, com a professora potencialidades”. Dessa forma, o Estado tem
Helena Antipoff, que recebia grupos dos então de garantir meios educacionais eficientes para AMPARO LEGAL PARA
favorecer o seu desenvolvimento e participação
chamados bem-dotados, oriundos dos colégios
ativa na comunidade.
O ATENDIMENTO AO
da Zona Sul do Rio de Janeiro, em uma fazenda
onde desenvolvia atividades multidisciplinares Em meados da década de oitenta, o PORTADOR DE ALTAS
durante as férias escolares. Conselho Federal de Educação nomeava uma HABILIDADES
Ela entendia que os portadores de altas Comissão Especial para propor subsídios que A questão dos direitos da pessoa por-
habilidades/superdotados e talentosos necessita- permitissem aos Conselhos Estaduais o incen- tadora de altas habilidades está respaldada por
vam de consideração especial no lar, na escola tivo a ações de atendimento aos portadores de princípios legais que fundamentam as ações
e na sociedade, tanto quanto os portadores de altas habilidades/superdotados e talentosos. desenvolvidas na área.
deficiência. O Rio Grande do sul foi pioneiro, ao A Declaração Universal dos Direitos
Em 1967, o MEC criava uma Comis- garantir em sua Constituição Estadual, em do Homem prevê que “... todo ser humano é
são encarregada de estabelecer critérios para 1989, o direito assegurando ao implementação elemento valioso qualquer que seja a idade,
a identificação e atendimento do superdotado. de programas governamentais de atendimento sexo, idade mental, condições emocionais e
O Seminário sobre o tema, promovido em integral às pessoas portadoras de altas habili- antecedentes culturais ou grupo étnico, nível
1971, reuniu especialistas de todo o País para dades/superdotadas e talentosas. social e credo” (MEC/SEESP, 1995a, p.7).

*Pedagoga, Capacitação na área das Altas Habilidades/ Supedotação UFRGS, Especialista em Psicopedagogia Institucional e Educação a
Distância, Mestre em Política e Gestão Educacional. E-mail: nadiesca.coordenacao@domalberto.edu.br

30 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


A Constituição Brasileira (1988) e Coordenaria Regional de Educação serem aten- - sendo esses grupamentos habilidades gerais e/
a Política Nacional de Educação Especial didas em uma Sala de Recursos que atenderá ou específicas acima da média, elevados níveis
(MEC,1994) sugerem que, sempre que possível, Pessoas com Altas Habilidades /Superdotados. de comprometimento com a tarefa e elevados
a pessoa com necessidades educativas especiais níveis de criatividade. As crianças superdotadas
e talentosas são aquelas que possuem ou são
seja integrada ao ensino regular. A Educação, ONDE SE ENCONTRAM capazes de desenvolver este conjunto de traços
como um todo, e a Educação Especial, em
particular, devem promover situações para o
OS PORTADORES e que os aplicam a qualquer área potencialmente

desenvolvimento integral do ser humano, ob- ALTAS HABILIDADES/ valiosa do desempenho humano.

jetivando condições para uma vida produtiva SUPERDOTADOS Os três traços que compõem os com-
na sociedade, através do equilíbrio da indivi- O número de Pessoas Portadoras de portamentos de superdotação são:
dualidade de cada aluno e as regras de vida nos Altas Habilidades, também chamado de Su-
grupos sociais. perdotados ou Talentoso, é estimado, segundo a) Capacidade acima da média
O direito à educação de cada indivíduo, a Organização Mundial de Saúde - OMS, em Termo utilizado para descrever o po-
também é assegurado na Declaração de Sala- 3 a 5 % da população; porém, estes números tencial de desempenho representativamente
manca (1994). Neste documento são definidas consideram apenas aquelas pessoas com QI superior em qualquer área determinada do
as linhas de ação para a Educação Especial, superior a 140, identificadas através de testes esforço humano e que pode ser caracterizada
adotando como princípio orientador que todas de inteligência que, geralmente, avaliam as por dois aspectos:
as escolas devem receber todas as crianças. habilidades das pessoas nas áreas linguística, -- habilidade geral: que consiste na capaci-
Também é de fundamental importância espacial e lógico-matemática, deixando de dade de processar as informações, integrar ex-
citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - verificar outras como as habilidades artísticas, periências que resultem em respostas adequadas
LDB (Lei 9394/96) que, no Capítulo V, Artigo psicomotoras e de liderança, restringindo a e adaptadas a novas situações e a capacidade de
58, define Educação Especial como a modali- concepção de potencial humano. envolver-se no pensamento abstrato.
dade de educação oferecida preferencialmente Considerando que a população do -- habilidades específicas: que consistem
na rede regular de ensino. No artigo 59 assegura Rio Grande do Sul é de 9.971.910 habitantes1, nas habilidades de adquirir conhecimento e
aos alunos portadores de altas habilidades: podemos estimar que existem 299.157 Pessoas destreza numa ou mais áreas específicas.
I- Currículos, métodos, técnicas, recursos Portadoras de Altas Habilidades, sendo que,
educativos e organização específica às suas desse número, 52.757 são alunos do ensino b) Envolvimento/comprometimento
necessidades; fundamental e médio2, tendo em vista os nú- com a tarefa
II - [...] aceleração para concluir em menor meros de matrícula fornecidos pela Secretaria É o expressivo interesse que o sujeito
tempo o programa escolar para os superdotados; Estadual de Educação. apresenta em relação a uma determinada tarefa,
A pessoa portadora de altas habilida- problema ou área específica do desempenho,
III - professores com qualificação para um
des apresenta características próprias na sua e que caracteriza-se especialmente pela mo-
atendimento especializado;
interação com o mundo, representadas por uma tivação, persistência e empenho pessoal nesta
IV - acesso ao trabalho mediante a articulação forma peculiar de agir, questionar e organizar tarefa.
com os órgãos oficiais para os que apresentam seus pensamentos e suas potencialidades, [...]
habilidades superior nas áreas artísticas, intelec- destacando-se sempre de uma maneira original c) Criatividade
tual ou psicomotora; e e criativa com a que resolve um problema ou Constitui o terceiro grupo de traços
V - acesso igualitário aos programas sociais situação, seja acadêmica, prática ou social. característicos a todas as pessoas consideradas
suplementares disponíveis para o respectivo (Mettrau, 1995, p.70) como portadoras de altas habilidades e define-se
nível de ensino regular. Renzulli e Reis (1986, p. 11/12), a partir pela capacidade de juntar diferentes informa-
de uma análise de diferentes pesquisas com ções para encontrar novas soluções. Caracteri-
A Constituição do Estado do Rio
estes sujeitos, constataram que za-se pela fluência, flexibilidade, sensibilidade,
Grande do Sul (1989) foi pioneira no Brasil
[...] o comportamento superdotado consiste nos originalidade, capacidade de elaboração e
a garantir e determinar a implementação do
comportamentos que refletem uma interação en- pensamento divergente, dentre outros.
atendimento integral às Pessoas Portadoras de
tre três grupamentos básicos dos traços humanos
Altas Habilidades, nos seus Artigos 199 e 214.
Estes três traços podem ser representa-
É proposta do Governo de Estado do
dos graficamente da seguinte forma (gráfico 1
Rio Grande do Sul estabelecer uma Política
1 IBGE - estimativa realizada em na página seguinte).
Pública Estadual para Pessoas Portadoras de
01/07/99. Este gráfico dos três anéis tem recebido
Deficiência e Pessoas Portadoras de Altas Ha-
2 Matrícula inicial de 1.758.557 alunos, críticas por não atender adequadamente o desen-
bilidades, instituída pelo Decreto 39.678, de 23
durante o ano de 1999, segundo a volvimento do comportamento de superdotação.
de Agosto de 1999.
Secretaria de Educação do Estado do Por este motivo, os autores realizaram uma
O Estado do Rio Grande do Sul está
Rio Grande do Sul. modificação no modelo original, inserindo uma
oportunizando as pessoas de abrangência da 6ª

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 31


rede que serve de suporte para os gem, no entanto, são mais frequentes e desta-
três anéis. A interação entre os cadas (Novaes, 1992; Brasil, 1995b), como:
três anéis ainda é a caracterís- -- Rapidez e facilidade para aprender;
tica mais importante, porém as -- Facilidade para abstração, associações,
influências do ambiente também análise e síntese, generalizações;
são relevantes para que a pessoa -- Flexibilidade de pensamento;
com altas habilidades possa de- -- Produção criativa;
senvolver seu potencial de forma -- Capacidade de julgamento;
harmônica, sendo extremamente -- Habilidade para resolver problemas;
necessário o envolvimento da -- Memória e compreensão incomuns das
família, da escola e da sociedade situações vivenciadas;
para tal. -- Independência de pensamento;
-- Talentos específicos, como esportes,
TIPOS DE ALTAS música, artes, dança, informática;
--Nos aspectos comportamentais e sociais,
HABILIDADES Gráfico 1 percebem-se:
Diversos autores têm
--Muita curiosidade;
pesquisado os diferentes tipos de aptidões que atendam às expectativas da escola. --Senso crítico exacerbado;
superdotação. Joseph Renzulli (1986) diferen- O Ministério de Educação e Cultura e a -- Senso de humor desenvolvido;
cia dois tipos básicos: o acadêmico, aquele Secretaria de Educação Especial, nos Subsídios -- Sensibilidade;
aluno que se destaca nas diferentes disciplinas, para a organização e funcionamento de serviços -- Investimento nas atividades de sua área
apresentando um rendimento escolar superior de educação especial: Área e Altas Habilidades. de interesse e descuido com as demais;
ao de seus colegas. Suas habilidades normal- Brasília: MEC/SEESP, 1995, especifica os -- Comportamento cooperativo;
mente concentram-se nas áreas linguística ou seguintes tipos: -- Habilidade no trato com as pessoas;
lógico-matemática (que são também as mais [...] tipo intelectual, que apresenta flexibilidade,
-- Liderança;
valorizadas na escola). O seu desenvolvimento independência e fluência de pensamento, produ-
-- Capacidade de analisar e propor solu-
tende a enfatizar a aprendizagem dedutiva, o ção intelectual, julgamento crítico e habilidade
ções para problemas sociais;
treinamento estruturado no desenvolvimento para resolver problemas; o tipo social, que
-- Aborrecimento com a rotina;
dos processos de pensamento e a aquisição, revela capacidade de liderança, sensibilidade
interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade
-- Conduta irrequieta.
armazenamento e recuperação das informa-
ções. “A pesquisa nos mostra que os alunos expressiva, poder de persuasão e influência no
que apresentam escores altos nos testes de QI grupo; o tipo acadêmico, com capacidade de NÚCLEO DE ATENDIMENTO
provavelmente também terão notas altas na atenção, concentração, memória, interesse e mo- ÀS PESSOAS COM ALTAS
tivação pelas tarefas acadêmicas e capacidade de
escola.”(Renzulli, 1986, p. 4); e o produtivo- HABILIDADES - NAPPAH/
produção; o tipo criativo, com capacidade de
criativo, que coloca suas habilidades “a servi-
ço” da criatividade, trabalhando nos problemas
encontrar soluções diferentes e inovadoras, faci- FADERS - PORTO ALEGRE
lidade de auto expressão, fluência, originalidade Altas habilidades/superdotação refe-
e áreas de estudo que têm relevância pessoal
e flexibilidade; o tipo psicomotricinestésico, rem-se aos comportamentos observados e/ou
para ele. O Portador de Altas Habilidades pro- que se destaca por sua habilidade e interesse por relatados que confirmam a expressão de “traços
dutivo-criativo geralmente destaca-se por ser atividades físicas e psicomotoras, agilidade, for- consistentemente superiores” em relação a
mais questionador; extremamente imaginativo ça e resistência, controle e coordenação motoras; uma média (por exemplo: idade, produção ou
e inventivo e dispersivo, quando a tarefa não finalmente, o tipo dos talentos especiais, que série escolar) em qualquer campo do saber ou
lhe interessa, não apreciando a rotina e tendo pode se destacar nas artes plásticas, musicais, fazer. São indivíduos que, por suas habilidades
modos originais de abordar e resolver os literárias e dramáticas, revelando capacidade
evidentes, são capazes de alto desempenho, têm
problemas, pelo que muitas vezes tem baixo especial e alto desempenho em tais atividades.
capacidade e potencial para desenvolver esse
desempenho e falta de motivação. Os testes (SEESP/MEC, 1995).
conjunto de traços e usá-los em qualquer área
tradicionais de QI não conseguem avaliar este
tipo de superdotação totalmente porque a ca- COMO É O PORTADOR DE potencialmente valiosa da realização humana,
em qualquer grupo social (SEESP/MEC, 1995).
racterística principal destes alunos é o elevado ALTAS HABILIDADES A implantação da política educacio-
nível de criatividade, que não pode ser avaliado O PAH não apresenta um perfil homo-
nal visa garantir o desenvolvimento de ações
por instrumentos padronizados. Ele usa mais gêneo, o que tem gerado muitos levantamentos
sistemáticas e permanentes que assegurem o
o pensamento divergente e isto dificulta sua de traços, que variam de acordo com o contexto
exercício dos direitos e cidadania das pessoas
adaptação em sala de aula e sua avaliação que, sociocultural, com a etapa de desenvolvimento
com altas habilidades/superdotação, a partir
quando feita dentro dos padrões tradicionais e também de indivíduo para indivíduo.
dos seguintes princípios: O aluno portador de
de ensino, geralmente não consegue perceber Algumas características de aprendiza-
altas habilidades deve frequentar uma escola

32 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


com proposta inclusiva; O atendimento deve apresentam características semelhantes, os seus RIA da ESCOLA com Universidades e Facul-
integrar o aluno, a família e a escola; As Altas desejos, suas preocupações e a conquista de ati- dades de Ensino Superior no Município para
Habilidades precisam estar constantemente nas vidades que oportunizem um desenvolvimento realização e direcionamento de Pesquisa. A
pautas de discussão de todas as instâncias da mais harmônico. conceituação de crianças e jovens bem dotados
escola; A aceleração somente é recomendada Dentro da Filosofia da Inclusão toda realça e enfatiza suas necessidades educativas
em casos muito especiais;- O que é “bom” para e qualquer política educacional é pensada ao especiais, exigindo provisão acima do que é
o aluno com altas habilidades/superdotados é redor e a partir do trabalho da escola regular. normalmente oferecido na escola regular.
“bom” para todos os demais; As indicações dos Para Educação dos mais capazes aponta-se: Essa forma de Educação Especial tem
alunos com altas habilidades/superdotados, nas que ser apoiada numa base sólida, formada por
escolas, devem ser feitas pelos professores; A COMPROMETIMENTO DA profissionais competentes e bem preparados,
Educação deve desenvolver ações continuadas famílias bem informadas, e as próprias crianças
e sistemáticas com outras áreas.
DIREÇÃO DA ESCOLA PARA envolvidas. Porém não se deve esperar que um
DESENVOLVER “LIDERANÇA estilo particular de atendimento possa atender a
O NAPPAH TEM COMO DA ESCOLA” todas as necessidades de todos os estudantes ca-
PROPOSTA Mais que boas intenções apenas, a pazes e talentosos. A evidência existente aponta
- Identificação e acompanhamento da pes- direção precisa disponibilizar algum tipo de para os benefícios de se focalizar em provisões
soa com altas habilidades/superdotação; apoio concreto na distribuição dos recursos específicas para os mais capazes. Nem variações
- Compreensão da subjetividade singu- de aprendizagem. Os professores devem estar curriculares, formas variadas de enriquecimento
lar desses sujeitos para seu autoconheci- conscientes de suas próprias atitudes para com geral, ou aceleração simples seriam adequados
mento e uma melhor relação com o meio; os alunos mais capazes, e serem ajudados a como medidas gerais. Entretanto, na maioria
- Formação de grupos de crianças, adolescentes compreender porque pensam que essas crianças das situações, o potencial de alto nível pode
e adultos com objetivo de trocas vivenciais, ex- não precisam de assistência e podem cuidar de si ser desenvolvido nas escolas, através de duas
pressões do pensamento e experiências criativas; próprios. O clima da escola precisa ser favorável vias: Diferenciação - implicando na adequação
- Atendimento às famílias e às escolas, potencia- e propicio à busca da excelência, no esforço de entre trabalho escolar, conteúdo das matérias,
lizando-as no reconhecimento e uso de seus re- todos os seus alunos, estendendo e avançando e características dos alunos mais capazes e
cursos no processo de educar seus filhos/alunos; onde for possível, e reconhecendo tudo o que Individualização - em que o aluno tem a
- Ações que viabilizem sensibilizar a co- for produzido a bom nível de qualidade, por maior responsabilidade pelo conteúdo e ritmo
munidade, despertando-a para um processo exemplo, com demonstrações, exposições e de desenvolvimento de seu próprio progresso
reflexivo e esclarecedor nas questões perti- mostras públicas. em Educação, levando os alunos a monitorar e
nentes à pessoa com altas habilidades/super- regular a própria aprendizagem.
dotação e sua integração educacional e social; INTERAÇÃO COM A
- Capacitação de profissionais nas altas habi-
COMUNIDADE SUGESTÕES DE
lidades/superdotação, instrumentalizando-os
para atendimento educacional, aprofundamento Uma política de provisão educacional PROJETOS PARA SEREM
e/ou enriquecimento curricular, flexibiliza- para os estudantes mais capazes deve ser enrai- DESENVOLVIDOS NA SALA
zada na comunidade, no estudo e utilização de
ção de currículos, adaptação de metodolo- DE RECURSOS
gias e avaliação, numa proposta inclusiva; seus recursos, pontos fortes e referenciais, e em
- Pesquisa nas altas habilidades/superdotação consonância com suas necessidades, valores,
MODELO DE ENRIQUECIMENTO
com objetivo de ampliação do conhecimento preferências e expectativas.
CURRICULAR (SEM)
na área, possibilitando uma constante interface Embora tenha que haver uma política
Trata-se de um plano que se apoia em
entre a teoria e a prática. nacional abrangente, apontando horizontes
vários anos de investigação destinado a identi-
maiores, e também alguma forma de provisão
ficar altos níveis de potencial nas habilidades,
em plano estadual, consonante com o projeto
ATENDIMENTO ESPECÍFICO educacional da sociedade, tudo indica que é no
interesses e estilos de aprendizagem dos alunos,
O portador de altas habilidades além da estimulação de tais potencialidades.
âmbito do Município, integrado ao contexto da
necessita de encorajamento, apoio e incentivo Compõe-se de três dimensões em
comunidade, como parte da vida local aconte-
como todas as outras pessoas. Porém, devido às interação: componentes organizacionais, com-
cendo, que as políticas educacionais têm que
carências atuais dos sistemas de ensino regular, ponentes de prestação de serviços e estruturas
ser desenvolvidas e levadas a termo ao nível
fazem-se necessárias alternativas diferenciadas escolares.
da ação.
para o atendimento desta pessoa.
Os grupos de atendimento ao potencial CENTRO DE DESENVOLVIMENTO
possibilitam a ele conhecer-se melhor, entender DIREÇÕES EDUCACIONAIS DO POTENCIAL E DO TALENTO
seus anseios e oferecer um espaço privilegiado DE PESQUISA Será um espaço de apoio, complemen-
em que possa dividir com outros que também Para essa ação será realizada PARCE- tação e suplementação educacional ao aluno
com altas habilidades, matriculado em escolas

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 33


públicas ou particulares. Seu projeto educativo, entre os alunos portadores de altas habilidades, máximo talentos e habilidades dos alunos, for-
objetiva desenvolver o autoconceito, cultivar sempre orientados por um professor ou um talecendo um autoconceito positivo, ampliando
a sensibilidade e o respeito aos outros. Suas facilitador capacitado para catalisar todos os as áreas de experiência para despertar novos
ações voltam-se para a identificação e recruta- recursos materiais e humanos, existentes na talentos em todas as áreas.
mento dos alunos, peça observação direta dos escola ou fora dela, e sobre esta base atender
professores, reavaliação pelas equipes técnicas cada criança de acordo com seus interesses e REFERÊNCIAS
da escola e da sala de recursos, bem como potencial. BRASIL, MEC, SEESP, Subsídios para
organização e funcionamento de servi-
atendimento especializado. Não é possível haver Educação apro- ços de educação especial, Área de Altas
priada para os mais capazes sem uma provisão Habilidades, v. 9, 1998 ( Série Diretrizes )
ATIVIDADES DE ESTIMULAÇÃO suficiente, e mesmo generosa, de materiais de BRASIL. Secretaria de Educação Es-
DE ALUNOS aprendizagem e ensino, tanto para alunos como pecial. Política nacional de educação
especial: livro 1. Brasília: MEC/SEESP,
Importante que sejam organizadas ati- para assistir aos professores, particularmente 1994.
vidades de acordo com o Livro: A Construção para alunos que não têm acesso a facilidades CLARK, Bárbara. Otimização do apren-
de práticas Educacionais para Alunos com Altas educacionais, encorajamento e estimulação dizado: identificação, planejamento e
Habilidades/Superdotação Volume 2 “ ATIVI- fora da escola. recursos para jovens superdotados
e talentosos, Anais do Congresso In-
DADES DE ESTIMULAÇÃO DE ALUNOS”. A preocupação atual dominante na ternacional sobre Superdotação ,Brasil :
Atividades desenvolvidas nessa Pro- pesquisa em Educação dos mais capazes é a Brasília, 1998
posta: interação entre o potencial próprio da criança GALLAGHER, James J. Issues in educa-
-- Estratégias de promoção da Criativi- e as provisões para desenvolvê-lo, presentes tion for the gifted in The gifted and Tal-
ented: their education and development,
dade; no ambiente. Sem aquele elemento dinâmico - Universidad de Chicago, Illinois, 1979
-- Desenvolvimento do autoconceito; interação - vamos retornar às velhas ideias de
GARDNER, Howard. Mentes que mu-
-- Modelo de Enriquecimento Escolar; capacidades fixas herdadas, principalmente no dam: a arte e a ciência de mudar as
-- Desenvolvimento de Projetos de Pes- âmbito da inteligência. nossas mentes e a dos outros, Porto
quisa; Nos países mais bem aquinhoados Alegre : Artmed/Bookman, 2005

-- Grupos de Enriquecimento. economicamente a maior parte do que é mate- GUENTNER,Zenita C. Desenvolver ca-
pacidades e talentos - um conceito de
rialmente necessário para desenvolver o poten- inclusão, Petrópolis: Vozes, 2000
CONSIDERAÇÕES FINAIS cial de todas as crianças, já está disponível na
RENZULLI, J.S. Os fatores da excepcio-
Após o desenvolvimento deste estudo, comunidade, de uma forma ou de outra. Outros nalidade, in Anais do XIV Congresso Mun-
é importante realizar considerações finais sobre países, como o Brasil, ainda tem pela frente uma dial de Superdotação e Talento, Espanha:
Barcelona, 2001
o que foi constatado com relação ao portador longa caminhada, antes de chegar a um ponto
de altas habilidades/ superdotado. É importante satisfatório de provisões. ______ & FLEITH, D.S. O modelo de en-
riquecimento escolar ,Portugal, Braga,
que aconteça conscientização do público em Pensar, discutir, planejar, preocupando Sobredotação : ANEIS, v. 3 , no. 2, 2002
geral, educadores, responsáveis pelas políticas mais em conhecer as características, feições,
Secretaria de Educação Especial. Subsí-
públicas, pais, gestores. recursos e necessidades locais de cada comuni- dios para a organização e funcionamen-
O docente que atua com os alunos dade, e menos em reproduzir o que esta “dando to de serviços de educação especial:
Área de Altas Habilidades. Brasília:
com altas habilidades deve formar alianças certo” em outros lugares. Conhecer o que se MEC/SEESP, 1995
temporárias e permanentes com instituições que faz, em outros lugares pode ser um manancial
______.Diretrizes gerais para o atendi-
apoiam a educação do superdotado e trabalhar de ideias, mas também pode se revelar uma mento dos alunos portadores de altas
na defesa dos direitos deste grupo: ampliação, prisão, quando se tenta o transplante de uma habilidades, superdotação e talento.
Brasília: MEC/SEESP, 1996.
fortalecimento e renovação da legislação vi- medida que se provou boa em uma situação,
gente; realização de congressos, seminários. para outra situação, mesmo que os objetivos _______.Programa de capacitação de
recursos humanos do ensino funda-
Com este estudo percebeu-se a im- sejam idênticos. mental: superdotação e talento vols.1
portância de oportunizar a convivência entre, É de grande relevância desenvolver ao e 2. Brasília: MEC/SEESP,1999.

ABSTRACT
This study has as its theme the importance of identification and care to individuals with high ability/gifted. That way, we at-
tempted to check the history of high skill, legislation that supports and gives orientation on how to meet the growing num-
ber of people increasingly with this educational need. This article aims to nurture the coexistence among people of high
ability/gifted, the importance of identifying and addressing these clients, guided by a teacher facilitator able to catalyze all
the existing human and material resources in the school or outside school, and on this basis meet each child according to
their interests and capabilities. With this approach, specific questions of those with high ability /gifted will be raised, how
can we promote meaningful and enjoyable learning, identifying the strengths and limitations of the student. The importan-
ce of being challenging and intrinsically motivating activities for the students with high ability and organizing the curriculum
in schools , it must have the embedded content, complex depth.
Keywords: Inclusive education. Identification. Learning. High ability/gifted.

34 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


O DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL
Andrea Alves Lages1
Flávio Antônio Thiesen2
José Antônio Oliveira dos Santos3
RESUMO
Este trabalho apresenta a metodologia do desenvolvimento das Competências como uma estratégia de melhoria da qualida-
de da Educação Profissional. Esta estratégia visa atender a mudanças nos padrões de gestão organizacional, que deman-
dam profissionais que mobilizem seus conhecimentos, habilidades e atitudes no ambiente de trabalho. Esta metodologia
colabora para uma formação do educando que procura inserção no mercado de trabalho, bem como sua permanência nele.
A metodologia apresentada requer o engajamento da instituição educacional como um todo. Direção, equipe técnico-pe-
dagógica e docentes afinados e recursos materiais e financeiros que deem suporte a sua aplicação. Quanto aos docentes,
estes representam o ponto principal de todo o processo. Esta metodologia requer a mudança de visão do docente, o deslo-
camento do ensinar por ensinar, apenas para cumprir currículo, para o ensinar com o foco no aprender do aluno.
Palavras-chave: Educação profissional. Desenvolvimento das competências. Mobilização do conhecimento.

INTRODUÇÃO uma inter-relação funcional com um propósito Na intencionalidade de desafiar o aluno,


Não é de hoje que o termo Ensino por específico, pois ela além de levar a pesquisa e à o professor media a situações de aprendizagem
Competências está nos círculos de professo- descoberta acarreta mudanças provocando no- que ganham significância, quando o aluno
res, debates, seminários, palestras. Aliás, este vos problemas que devem ser resolvidos, reco- mobiliza seus saberes, se instrumentaliza para
assunto já foi muito discutido e trabalhado nos meçando o ciclo. Também nesta ótica, temos a a realização de hipóteses até a conclusão do
meios acadêmicos, principalmente, nos cursos pesquisa que nos leva a descoberta, que provoca problema. Nesta concepção de educação, o
de pedagogia. Ganha seu espaço a partir do mudança no homem e na sociedade. Podemos docente ultrapassa o papel de “locutor” em aulas
momento em que é assumida a responsabilidade assim dizer que a educação realimenta todo o expositivas. Assume a posição de instigador e
de preparar o aluno para as mais diversas ne- sistema social introduzindo na sociedade novos incentivador dos alunos pela busca de conhe-
cessidades da vida escolar, social e profissional. problemas e novos resultados, recomeçando e cimento. O termo mais usado na atualidade é o
Buscando fundamentação na ideia de que o que cada vez mais leva o homem a estudar, sen- de mediador, mas deve ser entendido em toda
indivíduo constrói conhecimento a partir dos do assim um fenômeno próprio do ser humano. a extensão do seu significado para a educação:
resultados de suas vivências e experimentações O conhecimento, como fator de com- aquele que se interpõe, intencionalmente, entre
e que esta aprendizagem é fruto de processos petitividade e gerador de produtividade, sendo o que se aprende e o aluno, com o objetivo de
de desconstrução e reconstrução de conheci- os principais objetivos empresariais nos novos potencializar as discussões, instigar e fomentar
mentos. Percebe-se que é imprescindível uma esquemas de gestão organizacional e todo os processos cognitivos e por consequência
mudança de papéis dos atores deste processo. avanço tecnológico trazido pela moderniza- ampliar a aprendizagem.
Muitas vezes será o aluno que estará na frente ção, gera uma nova concepção de educação, Esta postura do docente exige mudança.
da sala repassando aos demais colegas seus principalmente a educação profissional que Não basta só expor os conteúdos formativos, é
saberes. Será ele o protagonista de sua constru- realimenta o mercado de trabalho. Constata-se, necessário que se crie a necessidade nos alunos
ção. Neste processo é de grande importância a então, que acerca das reflexões sobre a educação para aquele conhecimento. O conteúdo é meio
compreensão da intencionalidade do professor profissional, o modelo, que melhor desenvol- e não fim. Só se justifica se ampliar os aspectos
ao ensinar sendo recíproco, buscando os signifi- veria um profissional qualificado pronto para cognitivos dos alunos e se forem aplicados por
cados do que está aprendendo e transcendendo o enfrentamento deste novo universo organi- estes. Para tanto, cabe ao docente propor aos
o que aprende para outros contextos. Desta zacional, seria a educação profissional com alunos pesquisa, estudos de casos, problemas,
forma o professor precisa colocar o aluno em base no desenvolvimento das competências. projetos. Juntamente com o conhecimento
situações desafiadoras para que possa mobilizar Tal educação remete a um novo olhar sobre aprendido e a sua aplicação, observar-se a
seus conhecimentos, habilidades e atitudes e o trabalho pedagógico, as metodologias que forma como o aprendente se comporta perante
desenvolver as capacidades que sustentam as privilegiem o sujeito e suas ações na aquisição as situações novas, inusitadas e até de conflito
competências requeridas. do conhecimento, que desencadeiem tomadas que poderão aparecer no decorrer da proposta.
A educação para Buscaglia é um de decisões e ações instigadas por desafios, Mesmo com longos períodos de estu-
conjunto de elementos que mantém entre si projetos o mais próximo de problemas reais. dos e capacitações, buscando levar os docentes

1.Licenciada em Pedagogia - Especialista em Gestão e Supervisão Educacional/Faculdades Portal.


2.Graduado e Ciência da Computação/ UNILASALLE, Especialista em Mediação da Aprendizagem/CDCP e Mestre em Educação-
Formação Docente/UNILASALLE.
3.Licenciado em Pedagogia/UNISINOS, Especialista em Supervisão Educacional e Mestre em Educação-Formação Docente/UNILASALLE.

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 35


o mais próximo possível desse novo perfil de necessidade de aprender. O aluno nesta proposta com ética e responsabilidade, em toda sua
trabalho, ainda encontram-se professores com de educação por competências, exposto os complexidade social.
dificuldades em trabalhar no desenvolvimento de desafios propostos em aula, se posiciona criti- Este docente não nasce a partir de de-
competências. Ainda tem dificuldade em trabalhar camente, integra equipes, busca informações e creto ou mudança de regimento da escola. Deve
atividades, situações, projetos e avaliações nesta questiona os processos e procedimentos, sempre ser preparado, requer formação que também ne-
perspectiva. Tudo requer um novo olhar. Até mes- que necessário. cessita ser diferenciada. Perrenoud nos propõe
mo seus planejamentos de aula e registros nesta Quando se entende o conceito de com- em seu livro “Dez novas Competências para
nova formatação do ensinar. Como nos propõe petência como sendo a “mobilização de conhe- Ensinar: convite à viagem”, 10 competências
Tardif, quando afirma em seus textos que os cimentos, habilidades e atitudes”, percebe-se necessárias aos docentes, que são: organizar e
saberes e concepções dos docentes “são oriundos que estão envolvidos nesse processo o saber, dirigir situações de aprendizagem; administrar
da trajetória profissional, da sua historicidade, o fazer e o como se portar frente aos desafios. a progressão das aprendizagens; conceber e
adquirido na condição de aluno na sua trajetória Assim chegando a outro ponto de suma impor- fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
pré-profissional, no contato como aluno com o tância ainda na formação por competências que envolver os alunos em suas aprendizagens e em
saber-fazer e saber-ser do docente” (TARDIF, é a avaliação. Não se pode avaliar competência seu trabalho; trabalhar em equipe; participar da
2012, p. 20). São crenças que permanecem, que somente com uma avaliação de conteúdo. Existe administração da escola; informar e envolver os
reforçam a postura adotada em sala de aula. a necessidade de desenvolver uma proposta de pais; utilizar novas tecnologias; enfrentar os de-
Realmente, acreditar nesta metodologia avaliação que leve a um produto, bem ou serviço veres e dilemas éticos da profissão e administrar
sem alcançar primeiramente o docente, será que seja passível de avaliação. Também não se sua própria formação contínua.
como começar uma batalha perdida. O profes- deve desconsiderar a postura do aluno durante o O Ensino pensado na descoberta e
sor precisa ressignificar a forma de aprender e processo de avaliação, nem o próprio processo potencialização das competências deve ter este
ensinar, a sua ‘doutrina’ por longos anos em sua de desenvolvimento da atividade. foco de preparar o aluno para ser um cidadão
caminhada escolar. A teoria sócio interacionista Com base nessas observações, acredita- completo. Mas também no docente para que
defendida por Vygotsky também afirma que o se que a melhor forma de trabalhar a formação saiba que seu compromisso parte do ensinar.
sujeito se apresenta no mundo por parte de as- e avaliação por competências é através de Ensinar é ponto de partida e não de chegada.
pectos genéticos, que lhe provém características projetos educacionais. Cabe, aqui, salientar que Sua missão como professor é proporcionar en-
e predisposições, e parte por influências do seu em nenhum momento foi proposto que não se sinamentos aos seus alunos que o auxiliarão a
entorno, ou seja, são as vivências, experiências aplique mais avaliações escritas ou se deixe agir com autonomia e segurança seja no campo
e conhecimentos que dão a forma ao indivíduo de dar aulas expositivas. Acontece que para profissional ou no social.
ao longo do seu desenvolvimento. verificar se um aluno detém uma determinada
A partir deste viés de formação do ser, competência é necessário que este demonstre REFERÊNCIAS
é que a aprendizagem que leve ao desenvol- o seu desempenho desenvolvendo atividades. PERRENOUD, Philippe. Construir as
competências desde a escola. Porto
vimento de competências, torna-se cada vez Estas atividades devem ser coerentes com os Alegre: Artmed, 1999.
mais necessária ao perfil de aluno que esteja conhecimentos de quem está em avaliação. Os RANGEL; Mary. Nove olhares sobre a
preparado para o exercício profissional. Perfil resultados são avaliados de acordo com padrões Supervisão. São Paulo: Papirus, 1997.
este que estará pautado no desenvolvimento do ou parâmetros pré-estabelecidos. SAVIANI; D. Escola e Democracia: te-
ser humano como um todo e no exercício da A escola que ao avaliar os alunos pro- orias da educação, curvatura da vara,
onze teses sobre educação e política.
cidadania. Com esta proposta de ensino pautada põe momentos de auto avaliação prepara estes Campinas: Autores Associados, 2000.t
na aprendizagem, o aluno tem clareza do que se alunos para que assumam sua autonomia. Sabe
SENAI. Departamento Nacional. Meto-
aprende, sabe ‘quando, como e por que’ utiliza que irão avaliar e ser avaliados no convívio em dologias SENAI para formação pro-
seus saberes com coerência e coesão. sociedade. Está assim construindo sua criticida- fissional com base em competências:
Para o aluno, a mudança de postura de. Prepara-os para o uso do raciocínio lógico norteador da prática pedagógica. 3. ed.
Brasília: 2009.
também é relativamente grande. Ele passa da e inferencial, buscando alternativas de solução
WOLFF; C.T. Supervisão Pedagógica.
condição de receptor de conhecimento que deve de problemas aos desafios propostos. Vai além Indaial: ASSELVI, 2007.
ser preenchido com o saber do docente para uma das aptidões técnicas, trabalha a liderança com
condição de indivíduo proativo e consciente da a tomada de decisões, a pró-ativamente, o agir

ABSTRACT
This paper presents the methodology of developing skills as a strategy for improving the quality of Vocational Education. This
strategy aims to meet the changing patterns of organizational management, requiring professionals to mobilize their knowle-
dge, skills and attitudes in the workplace. This methodology contributes to a formation of the student seeking entry into the la-
bor market, as well as their stay in it. The presented methodology requires the engagement of the educational institution as a
whole. Direction, technical and pedagogical staff and teachers and honed material and financial resources that support your
application. As for teachers, they represent the main point of the whole process. This methodology requires a change of view
of the teacher, the displacement of teaching by teaching, just to meet curriculum to teach with a focus on student learning.
Keywords: Vocational education. Skills development. Mobilizing knowledge.

36 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


A SÉTIMA ARTE A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO NA ESCOLA
Tatiana Tavares Leão*

RESUMO
Considerando de suma importância a sétima arte, presente no fazer pedagógico na escola, este artigo, visa incentivar
o ensino-aprendizagem com o objetivo de estimular e dinamizar os fazeres dos educandos, objetivando o cinema para
entretenimento e aprendizagem. Ao lado da televisão e dos novos meios, o cinema também é um dos elementos do am-
biente simbólico das novas gerações. “À luz das novas teorias interacionistas, o cinema e os meios em geral, constituem
campos de interação simbólica em que os sujeitos constroem e compartilham significados” (RIVOLTELLA, 2005, p.75).
Para tal, é preciso pensar em um trabalho com cinema na escola que envolva tais momentos de saber, fazer e refletir, a
partir de uma concepção integrada. Para tal, é preciso pensar em um trabalho com cinema na escola que envolva tais
momentos de saber, fazer e refletir, a partir de uma concepção integrada. Tal concepção de mídia-educação implica a
relação do cinema com outras linguagens.
Palavras-chave: Escola. Cinema. Professores.

INTRODUÇÃO das diversas experiências escolares da esfera gens que são, ao mesmo tempo que as vemos
O mundo passa por transformações do particular e individual e as tornando, cada como reais, expressão de coisas e pessoas com
sociais profundas, ancoradas em conquistas vez mais, parte de uma experiência pública e as quais convivemos em nossas lembranças. E
tecnológicas cotidianas, transformando os coletiva, além de disponibilizar aos educadores as lembranças têm origem em muitos lugares e
meios audiovisuais nas principais formas de uma ferramenta alternativa para a produção de situações: nas histórias que ouvimos em casa,
comunicação e expressão, um instrumento atividades didáticas, possibilitando a criação nas experiências pessoais de cada um, na tele-
formador de opinião e de comportamento. Nos de um acervo de imagens que também favo- visão, nos filmes. Também por isso gosto da
meios audiovisuais hoje incluímos o cinema, rece a percepção histórica dos acontecimentos ideia de que o cinema é uma arte da memória.
o vídeo, a TV, a internet, os jogos eletrônicos, escolares. As cenas que vemos estampadas nas telas não
a vídeo arte e os múltiplos usos da fotografia. dizem somente daquelas personagens cuja
O cinema nasceu no final do século CONTEXTUALIZAÇÃO história se desenvolve à nossa frente, no tempo
XIX, à princípio por uma curiosidade cientí- Alguns dos objetivos são estimular a que durar a projeção, mas remetem a todas as
fica, somente passou a ser considerado Arte imaginação, a criatividade do educador e do outras histórias e personagens que habitam as
na segunda na segunda década do século XIX, educando, além de criar novas formas de dina- nossas lembranças. O cinema, com alguns dos
quando foi então chamado de sétima arte. mizar o espaço escolar, quebrando a monotonia seus filmes, nos faz até mesmo sentir saudade
Atualmente tem sido cada vez mais fre- da transmissão-recepção de conhecimento, de lugares aonde nunca pisamos e de pessoas
quente o uso do registro em vídeo no cotidiano tornando assim mais interativo e envolvente o com as quais jamais estivemos, e o faz em
escolar, principalmente porque possibilitam trabalho pedagógico. E, a partir dessa prática, realidade e ficção.
ferramentas que favorecem o debate e a reflexão procurar romper paradigmas tradicionais de No cinema, são os ambientes que (re)-
sobre o fazer pedagógico, cria formas e espaços ensino, explorando mais a criação e a autono- conhecemos claramente que sugerem ações,
para a socialização das experiências vivenciadas mia do aluno. comportamentos, atitudes que podem, além
entre os educadores, garantindo assim a retirada O que faz o cinema, então? Cria ima- de nos fazer olhar para o filme, olhar também

*Pedagoga, psicopedagoga, supervisora e coordenadora de ensino médio, mestranda em Políticas e Administración de la Educación –
Buenos Aires, integrante do Coral Municipal Caçapavano, tendo cursos em regência coral, membro da diretoria da ASSERS – Associação
de Supervisores do RS, membro do ECC – Encontro de Casais com Cristo pertencente à Igreja Matriz Nossa Senhora da Assunção, co-
autora de livros de poemas e projetos em educação.

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 37


para os lugares onde vivemos e, igualmente, curso espaço-temporal sem ser interrompido. nema contempla é a própria escola. Inúmeros
para a vida que levamos em casa, na cidade, na Ainda que o espectador possa levantar e sair da filmes tratam dela. Assim, direta ou indireta-
escola. Disse (re)-conhecemos, porque embora sala, o filme prossegue, a menos que falte luz. mente, os filmes nos ajudam a construir nossa
possamos estar vendo os lugares ficcionados Professores e alunos podem utilizar imagem de escola, de professores, de alunos e,
que o cinema apresenta, pela primeira vez, filmes por muitos motivos: para enriquecer o até mesmo, da forma como a educação escola-
os mecanismos de construção da linguagem conteúdo das matérias, para introduzir novas rizada se insere ou deve se inserir na sociedade.
cinematográfica ativam as lembranças e assim, linguagens à experiência escolar, para motivar Preparar o espectador para a visualiza-
vemos as imagens na tela não somente com o os alunos para certo tipo de aprendizagem, para ção de obras que requerem uma análise cuida-
que objetivamente nos mostram, mas também o desempenho de determinada função, para en- dosa, é uma interpretação é uma interpretação
em reminiscências. Por meio da linguagem do tretenimento. Não que o cinema chegue à escola profunda, é o papel dos professores que, de
cinema, é possível ver tudo o que as imagens sem conflitos. Talvez o cinema na escola deva alguma forma, influenciam a vida e os gostos
nos sugerem. No momento da projeção, acon- mesmo se constituir em oportunidades para a daqueles com quem detectam. A necessidade
tece sempre um jogo entre a objetividade das explicitação dos conflitos com os quais a escola de formação desses professores associa-se a
imagens e a subjetividade das lembranças de e a educação têm de lidar. dificuldade de transposição de burocracia e
cada um dos espectadores. Milton José de Almeida diz que “o fil- preconceitos instituídos que continuam a con-
Por isso o cinema na escola pode ser tão me é produzido dentro de um projeto artístico, dicionar a introdução do cinema nos programas
rico. Mais do que os conteúdos que cada filme cultural e de mercado - um objeto da cultura de ensino fundamental e médio.
possa trazer, a presença do cinema na escola para ser consumido dentro da liberdade maior O cinema em perspectiva formativa, é
pode se constituir em momentos de reflexão ou menor do mercado. Porém, quando é apre- capaz de transmitir valores culturais, sociais e
que transcendam os próprios filmes e incluam sentado na escola, a primeira pergunta que se educativos que potenciam o desenvolvimento
o olhar de cada um à narrativa que o diretor faz é: adequado para que ano, que disciplina, humano e a melhoria do comportamento social.
propôs e nos ofereceu, em imagens e sons. que idade etc.? Às vezes ouvimos dizer que
Quando vamos ao cinema, às salas escuras de um filme não pode ser passado para o 6º ano, REFERÊNCIAS
projeção, ao final, as imagens, as histórias, os por exemplo, e no entanto ele é assistido em BERGALA. L’ hypahèse e cinema. Petit
traité de transmission du cinema à
personagens nos acompanham, solitárias, para casa pelo alunos, juntamente com seus pais. l’ecole et ailleurs. Paris, cahiers du
além do filme, às vezes, para sempre. Na escola, (...) [A escola] está presa àquela pergunta sobre cinema, 2002.
quando o filme termina, é possível conversar a adequação, à ideia de fases, ao currículo, ao DUARTE, Rosélia. Cinema e Educação.
sobre ele e construir outra história ou quantas programa. Parece que a escola está em constante Belo Horizonte, Autêntica, 2002.
histórias cada pessoa que viu quiser acrescentar. desatualização, que é sublinhada pela separação FANTIN, Monica. Produção cultural para
crianças e o cinema na escola. Anais da
São muitas as razões que justificam o cinema entre a cultura e a educação. 26ª reunião anual da ANPED, Poços de
na escola. Caldas, 2003.
A sala de aula não é uma sala de cinema. CONSIDERAÇÕES FINAIS FESQUET, Adriana. Cinema para ler e re-
Talvez por isso mesmo possa se constituir em A cultura localizada num saber-fazer ler o mundo. Artigo publicado pela Revista
outro ambiente, que não é nem um nem outro, Pátio. Ano IX. nº 33, ler e reler o mundo
e a escola num saber-usar, e nesse saber-usar de 2005, Fórum de Artes, fevereiro a abril.
nem a simples soma dos dois. Pode se trans- restrito desqualifica-se o educador, que vai FONTOURA, Amaral. A escola viva. Edi-
formar em algo novo, tão ou mais rico em pos- ser sempre um instrumentista desatualizado. tora Aurora, Rio de Janeiro, 1971.
sibilidades expressivas e reflexivas: os filmes, Entende-se a provocação proposta o cinema na LUCAS, Ana Victoria – Tradução. Era
na escola, são projetados em telas de tevê e o escola como um desafio a todos os educadores uma vez o cinema. Melhoramentos, São
videocassete proporciona outras formas de ver. que estão nas escolas e encontram nos filmes e Paulo, 1999.
Pode-se parar o filme, voltar a ver novamente. na linguagem cinematográfica uma forma de ver SILVA, Roseli Pereira. Cinema e Educa-
Acontece outra relação com os filmes que, no o mundo em seus múltiplos cenários.
ção, São Paulo, Cortez, 2007.
cinema, uma vez iniciados, seguem certo per- Um dos múltiplos cenários que o ci-

RESUMEN
Considerando de suma importância una sétima arte, presente no pedagógico hacer una escuela, artigo este, visa incen-
tivar o enseño -aprendizaje con lo Objetivo de estimular e dinamizar os faz eres dos educandos, objetivando o entrete-
nimiento cine párrafo e aprendizaje. A Lado da Televisión e dos nuevos medios, o el cine también es un dos elementos
do ambiente simbólico das novas ceraciones. “Das Luz las nuevas teorías interaccionistas, o el cine e medios os en
yeral, constituye campos de intercalo simbólica en Que os sujetos construyen e compartirían significados “(RIVOLTELLA,
2005, p.75). Tal Pará, é Preciso Pensar en un trabajo con cine la escuela Que envolvía thais Momentos de sable, hacer e
refletar, un partir de una concepción Integrada. Tal Pará, é Preciso Pensar en un trabajo cine con la escuela Que envolvía
thais Momentos de sable, hacer e refletar, un partir de una concepción Integrada. Tal concepción de mídia -educación
implicaciones a relación hacer cine con otras Lenguajes.
Palabras clave: Escuela. Cine. Profesores.

38 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


PENSANDO UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA COERENTE COM
AS CRIANÇAS E A ESCOLA CONTEMPORÂNEA
Cristiane Ferreira Abaide*

Com essa reflexão, pretende-se analisar Assim, a história da criança contada por também em grande número devido às precárias
através de um estudo bibliográfico, o conceito Ariès (1981), destaca que as crianças mal ad- condições de higiene e saúde onde não se fazia
de criança, que foi historicamente sendo cons- quiriam condições físicas de mover-se já eram nada para preservar ou salvar as crianças.
truído, desde o tempo da idade média até os dias misturadas aos adultos, de criança pequena Não existia nenhum sentimento ou
atuais, e uma proposta pedagógica coerente com tornavam-se logo em homens jovens, “... assim apego, a família era social e não sentimental, na
as crianças que frequentam hoje, as escolas de que a criança tinha condições de viver sem a qual o sentimento de amor materno não existia,
educação infantil. Para suporte teórico sobre os solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, “A passagem da criança pela família e pela so-
conceitos de infância, optou-se como referência ela ingressava na sociedade dos adultos e não ciedade era muito breve e muito insignificante
a obra do pesquisador francês Philippe Ariès, se distinguia mais destes.” (Ariès, 1981, p.156). para que tivesse tempo ou razão de forçar a
publicada em 1960: “História Social da Criança A família Medieval era composta por memória e tocar a sensibilidade.” (Ariès, 1981,
e da Família”. Para pesquisar sobre a proposta muitas pessoas que geralmente moravam na p.10). As crianças eram substituídas na intenção
pedagógica e postura de um educador demo- mesma casa, cujo espaço físico, não era orga- de conseguir outra mais saudável e mais forte,
crático, optou-se por autores como: Wallon, nizado, não existiam quartos separados para as que correspondesse às expectativas dos pais e
Vygotsky, Morin, Freire, dentre outros, os quais crianças, adultos e empregados. de uma sociedade organizada em torno dessa
nos dão suporte para refletir sobre uma educação A preocupação com a individualidade perspectiva utilitária da infância.
significativa e coerente com a realidade em que das crianças era inexistente, isto ocorria porque As mesmas eram enterradas no fundo
nos encontramos, colaborando para a formação não acreditavam na possibilidade da existência do pátio e substituídas em seguida por outra
de sujeitos críticos e atuantes. de uma inocência pueril, ou na diferença de criança. As mais sadias eram mantidas por
Primeiramente, contextualizaremos a características entre adultos e crianças. questões de necessidade, porém, a mortalidade
história social da criança em relação à família, Em relação à vida em sociedade, as era algo aceito com bastante naturalidade.
sociedade e escola no decorrer do século XIV ao crianças participavam de reuniões, jogos de Nos primeiros anos de vida, enquanto a
século XX. Nos séculos XIV e XV, a criança azar, festas e danças, os adultos relacionavam-se criança era engraçadinha, existia um sentimento
era considerada um adulto em miniatura, tendo com as crianças sem discriminações, falavam superficial, onde os adultos divertiam-se com
sua infância negada. A partir dos séculos XVI vulgaridades, tudo era permitido, realizado e as crianças, como se fossem animaizinhos onde
e XVII, surgiu à criança como filho, aluno e a discutido na sua presença, inclusive a partici- foi chamado de “paparicação”, com a imagem
criança institucionalizada. pação em jogos sexuais. da criança como inocente, frágil, como fonte de
No decorrer do trabalho, falaremos As crianças foram tratadas como adul- diversão com atitudes graciosas e encantadoras.
sobre a criança dos dias atuais, e abordaremos tos em miniatura em diferentes aspectos, reali- Assim, os gracejos das crianças eram mostrados
ações necessárias para a construção de uma zavam os mesmos gestos e utilizavam o mesmo a outros adultos, fazendo da criança uma espécie
proposta pedagógica coerente e criativa para vestuário, diferenciavam-se dos adultos apenas de distração, na concepção de Ariès (1981): “....
essa criança. pelo tamanho. Nessa realidade Áries (1981) sa- ela fala de um modo engraçado: e titota, tetita y
lienta: “...o traje da época comprova o quanto a totata..... e (..). eu a amo muito. (...) ela faz cem
CRIANÇA SÉCULO XIV - XV infância era então pouco particularizada na vida pequenas coisinhas: faz carinhos, bate, faz o sinal
Áries (1981) utilizou-se das artes e da real. Assim que a criança deixava os cueiros, ou da cruz, pede desculpas, faz reverência, beija a
literatura para ilustrar sua pesquisa e, nos coloca seja, a faixa de tecido que era enrolada em torno mão, sacode os ombros, dança, agrada, segura o
que as crianças eram desenhadas e representa- do seu corpo, ela era vestida como os outros queixo: enfim, ela é bonita em tudo o que faz.
das nas obras de arte como um adulto, com as homens e mulheres de sua condição. (p.69). Distraio-me com ela horas a fio..... “(p. 68).
mesmas feições e características, somente em Segundo Ariès (1981), um dos fatores Após a passagem pelo período de
tamanho menor. Nessa linha de pensamento, predominantes neste período era o infanticídio, “paparicarão”, quando a criança conseguia
Áries (1981) afirma que: “Até por volta do século onde as crianças morriam em larga escala, de- superar o período de perigo, aproximando-se
XII, à arte medieval desconhecia a infância ou vido às condições insalubres em que viviam. dos seus sete anos de idade, era inserida no
não tentava representá-la. É difícil crer que sua Essa prática não era aceita, no entanto, ocorria mundo adulto e tornava-se útil na economia
ausência se devesse a incompetência ou a falta em segredo, camuflado em forma de acidente, familiar, sendo vista como um ser utilitário
de habilidade. É mais provável que não houvesse era comum que, por exemplo, as crianças mor- para a sociedade. Como afirma Áries (1981):
lugar para a infância nesse mundo.” (p. 50). ressem asfixiadas na cama dos pais, morriam “Assim que a criança superava esse período de

* Pedagoga, Especialista em Supervisão Escolar, Mestranda em Política e Administração da Educação pela UNTREF – Buenos Aires/Argentina,
Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil, Professora da Rede Estadual do Rio Grande do Sul, Diretora da 14º CRASSERS/Santo Ângelo.

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 39


alto nível de mortalidade, em que sua sobrevi- rizado pela “paparicação” – surgiu no meio A criança saiu do anonimato, a família
vência era improvável, ela se confundia com os familiar, na companhia de criancinhas peque- começou a se organizar em torno da mesma,
adultos.” (p.157). nas. O segundo, ao contrário, proveio de uma algo que não existia até então. Os pais co-
Os valores, bem como a aprendizagem, fonte exterior à família: dos eclesiásticos ou dos meçaram acompanhar e a se interessar pelos
ocorriam da convivência com os adultos, aju- homens da lei, raros até o século XVI, e de um estudos dos filhos, assim, “A substituição da
dando-os a fazer determinadas tarefas. Assim, maior número de moralistas no século XVII, aprendizagem pela escola exprime também
preocupados com a disciplina e a racionalidade
as crianças eram submetidas e preparadas para uma aproximação da família e das crianças, do
dos costumes. Esses moralistas haviam-se torna-
suas funções dentro da organização social. sentimento da família e do sentimento da infân-
do sensíveis ao fenômeno outrora negligenciado
cia, outrora separados.” (Ariès, 1981, p.232).
da infância, mas recusavam-se a considerar as
CRIANÇA SÉCULO XVI - XVII crianças como brinquedos encantadores, pois
Assim, com a distinção entre infância
A reforma desses costumes foi modi- viram nelas frágeis criaturas de Deus que era
e o mundo adulto, e com a percepção da parti-
ficada no século XVII, onde ocorreu à inter- preciso ao mesmo tempo preservar e disciplinar.
cularidade da infância, durante os séculos XVI
ferência dos poderes públicos e a preocupação Esse sentimento, por sua vez, passou a vida e XVII, surgiram diversos pensadores (Locke,
da igreja, não aceitando passivamente o infan- familiar. (pp.163-164). Rousseau, Froebel, Decroly, Montessori, Piaget,
ticídio tolerado, uma das medidas adotadas foi Freinet), que dedicaram-se, a refletir e pesquisar
A aprendizagem tradicional foi substi- sobre a criança.
fazer com que os batismos fossem realizados o tuída pela escola. Isso quer dizer que a criança
mais cedo possível, criando um respeito mais A partir destes estudos, foram-se
deixou de ser misturada e de aprender com o disseminando teorias, surgiram diferentes
exigente pela vida da criança. contato direto com os adultos. Ela foi separada
A renovação religiosa e moral motiva- concepções acerca da infância, que motivaram
dos familiares próximos e mantida enclausu- inúmeras mudanças na pedagogia e nas áreas
ram a consideração da criança como um ser sem rada na escola. Nessa linha de pensamento,
pecados, que necessitava de cuidados para que como a psicologia, sociologia e biologia, na
Áries (1981) enfatiza: “A escola confinou uma busca de um maior conhecimento sobre as
sua pureza e decência fossem mantidas. infância outrora livre num regime disciplinar
Uma das características que marcou crianças. A psicologia, por exemplo, pesqui-
cada vez mais rigoroso, que, nos séculos XVIII sou sobre o comportamento, pensamento e
esse período foi que as crianças ganharam e XIX, resultou no enclausuramento total do
roupas específicas que as diferenciavam dos desenvolvimento infantil, norteando as ações
internato” (p. 277). e intervenções educativas.
adultos, principalmente nas camadas sociais Com a evolução nas relações sociais
superiores, provando uma mudança de atitudes que se estabeleceram na Idade Moderna, com
em relação a elas. Nesse aspecto, Áries (1981) a mudança na família, escola e necessidades CRIANÇA DE HOJE
diz: “No século XVII, entretanto, a criança, ou da sociedade com a ascensão das indústrias Com o estudo acima, percebe-se que
ao menos a criança de boa família, quer fosse e burguesia, foi atribuído à escola o dever de a concepção de criança é uma noção historica-
nobre ou burguesa, não era mais vestida como trabalhar valores morais, éticos e instrucionais, mente construída ao longo dos anos, manten-
os adultos. Ela agora tinha um traje reservado à sendo caracterizado como “...instrumento de do-se em contínua transformação. Atualmente,
sua idade, que a distinguia dos adultos”. (p. 70). disciplina severa, protegida pela justiça e pela pode-se dizer que existem diferenças sociais e
No final do século XVII, as famílias política.” (Ariès, 1981, p.277). culturais dentro de uma mesma sociedade, sen-
passaram a estruturar-se num modelo familiar A infância torna-se o centro do interesse do que, “A educação tem variado infinitamente,
nuclear, composto por pai, mãe e filhos. Assim educativo dos adultos, junto com a Revolução com o tempo e o meio. Nas cidades gregas
como os espaços físicos das casas, reorganiza- Industrial, há uma mudança da posição da e latinas, a educação conduzia o indivíduo
ram-se de forma a respeitar a individualidade família na sociedade. A nova percepção e a subordinar-se cegamente à coletividade, a
dos pais e filhos. organização social fizeram com que os laços tornar-se uma coisa da sociedade. Hoje, esfor-
A partir dessa nova visão sobre as crian- entre adultos e crianças, pais e filhos, fossem ça-se em fazer dele personalidade autônoma.”
ças, surge um sentimento de infância, ou seja, fortalecidos em sentimentos de afetividade, cui- (Durkheim, 1978, p. 35).
uma percepção das necessidades das crianças dados, continuidade da família..., essa afeição A criança de hoje é estimulada desde
em relação aos adultos. se exprimiu, sobretudo através da importância seu primeiro contato com o mundo, diferen-
Foi nessa época, também, que o senti- que se passou a atribuir a educação. Para ilustrar temente da Idade Medieval, onde as crianças
mento de infância pode ser melhor percebido, essa ideia, trazemos a seguinte citação: serviam apenas como objetos de entretenimen-
devido a alguns moralistas e educadores consi- Os pais não se contentavam mais em pôr filhos
to, comparadas a “bichinhos”. Os cuidados e
derarem insuportável a atenção que se dispunha no mundo, em estabelecer apenas alguns deles, afetos hoje dispensados as crianças, não eram
as crianças, ocorrendo assim, uma manifestação desinteressando-se por outros. A moral da época necessários ao equilíbrio das relações familiares
da sociedade contra a “paparicação” da criança, lhes impunha proporcionar a todos os filhos, e não e em sociedade naquela época.
propondo separá-la do adulto para educá- la apenas ao mais velho – e, no fim do século XVII, Hoje, desde os primeiros dias de vida,
nos costumes e na disciplina, dentro de uma até mesmo às meninas – uma preparação para a as crianças recebem todo o estímulo necessário
visão mais racional. Reforçamos essa ideia nas vida. Ficou convencionado que essa preparação para o seu desenvolvimento e a sua inserção
palavras de Áries (1981): fosse assegurada pela escola. (Ariès, 1981, p. 277). social, absorvendo papéis e atitudes daqueles
O primeiro sentimento de infância – caracte- que lhe são significativos. Chamamos de so-
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cialização primária essa primeira fase, a qual o gógica que venha reforçando as ideologias É necessário pensar uma proposta
indivíduo experimenta na sua infância. É com predominantes em nossa sociedade, onde os pedagógica que contemple a criança como su-
a família que a criança aprende as primeiras no- educadores trabalham reforçando as desigual- jeito principal, oferecendo condições para seu
ções da vida em sociedade, conceito de cultura, dades e contribuindo com a “violência simbó- crescimento físico, emocional e social, sendo
afeto, carinho e de exemplos a serem seguidos. lica” (conceito de Bourdieu). Não serve mais a a mesma, agente da construção de sua história,
Como afirma Del Percio (2010) “Una vez que mera reprodução de conteúdos e exigência de partindo da realidade de seus conhecimentos,
se produce dicha identificación, el individuo comportamentos ditos “adequados”. Como nos incentivando-as a ampliar as suas potencialida-
acepta los roles y actitudes que observan en coloca Freire (2001): “Do ponto de vista dos des. “Pensemos um pouco na identidade cultural
sus mayores, internalizándolos y apropiándose interesses dominantes, não há dúvida de que a dos educandos e do necessário respeito que de-
de ellos.” (p. 42). educação deve ser uma prática imobilizadora e vemos a ela em nossa prática educativa. (Freire,
A aprendizagem é o processo através ocultadora de verdades” (p. 111). 2010b, p. 100). Sendo assim, cabe ao professor
do qual a criança se apropria da experiência Precisamos pensar uma proposta coe- repensar sua prática pedagógica, contemplando
vivenciada com o contato do seu grupo social. rente com a realidade de nossos educandos, que ações educativas que estejam de acordo com os
Nas inúmeras situações que experimenta desde respeite seus conhecimentos prévios, sua sub- interesses e necessidades dos educandos, para
o seu nascimento, a criança vai gradativamente jetividade, construída a partir de suas vivências que a partir desses conhecimentos prévios,
ampliando sua forma de lidar com o mundo e vai nos mais deferentes espaços sociais, porém, é possa conduzir a um conhecimento científico,
construindo significados para suas experiências. urgente pensarmos também, uma proposta que colaborando para que o aluno interprete criti-
Segundo Dewey (1978) educação é, “processo contemple a formação de sujeitos, questionado- camente a sociedade em que vive, saindo do
de reconstrução e reorganização da experiência, res, críticos e atuantes no meio em que vivem, a conhecimento prévio (senso comum), seguindo
pelo qual lhe percebemos mais agudamente o fim de construirmos uma sociedade mais justa, direção ao conhecimento crítico e epistemo-
sentido, e com isso nos habilitamos a melhor diri- humana e igualitária. lógico, o que Freire chama de “doxa”, para o
gir o curso de nossas experiências futuras” (p.17) É necessário pensarmos uma prática “logos”, para isso será necessário conhecer a
Uma vez bem elaborada a socialização pedagógica que contemple os interesses e realidade dos educandos. Reforçamos essa fala,
primária, o indivíduo, no caso a criança, tem necessidades dessa criança que temos hoje em na ideia de Freire (2010b):
condições de internalizar a socialização secun- nossos espaços escolares. Como afirma, Del [...] que a educadora seja cada vez mais compe-
dária, onde geralmente, ocorre numa instituição Percio (2010), “Por esto es que el maestro debe tente cientificamente, o que faz saber o quanto é
educacional. Segundo Cury (1988) “a família procurar que los contenidos que enseña sean importante conhecer o mundo concreto em que
não dá conta das inúmeras formas de vivência vívidos... relevantes... e interesantes... para seus alunos vivem. A cultura em que se acha em
de que todo o cidadão participa e há de partici- que fije su interés en elementos cognoscitivos ação sua linguagem, sua sintaxe, sua semântica,
par para além dessa primeira socialização”, daí artificiales como si tuvieran la naturalidad de sua prosódia, em que se vêm formando certos
a importância da escola para a formação social los que aprehende en la vida cotidiana.”(p. 53). hábitos, certos gostos, certas crenças, certos
medos, certos desejos[...] (p101).
da criança, aqui exemplificada como sendo a Faz-se necessário a elaboração de uma
escola de educação infantil. Ao ingressar na proposta pedagógica coerente e significativa A escola deverá oportunizar atividades
escola a criança agrega novos esquemas de com a realidade dos alunos, considerando os em que a criança possa vivenciar as mais diver-
percepção do mundo social. Como nos coloca conhecimentos, e bagagem cultural adquirida sas experiências, fazer escolhas, socializar con-
Del Percio (2010): “De hecho, parte importante anteriormente a sua inserção no espaço esco- quistas e descobertas, tomar decisões, utilizando
de la socialización secundaria está a cargo de lar. Conforme Freire (2010b) “As educadoras instrumentos mediadores como: linguagem,
agentes institucionales a quienes se encomienda precisam saber o que se passa no mundo das pensamento, desenho, mímica, que servem para
la tarea específica de transmitir determinadas crianças com quem trabalham. O universo de coordenar ideias, ações e solucionar problemas.
pautas y conocimientos.” (p. 52-53). seus sonhos, a linguagem com que se defendem, A criança é um ser social, que necessita
Como proceder então, dentro de um manhosamente, da agressividade de seu mundo. interagir com outras crianças e adultos, apren-
espaço escolar com crianças que desde a mais O que sabem e como sabem independentemente dendo com os vínculos que são estabelecidos.
tenra idade já são estimuladas e desenvolvidas, da escola.” (p. 102). A socialização possibilita com que a criança
seja pela família, sociedade, cultura, mídia, Deve-se considerar que a criança é um estabeleça relações envolvendo os aspectos:
tecnologia e brinquedos eletrônicos? sujeito social e histórico, que ao nascer, encontra- afetivos, cognitivos e sociais, permitindo o seu
Sabemos que hoje, a escola não é a se inserida num contexto familiar que possuí suas desenvolvimento de forma integral. Como ex-
única detentora de conhecimentos, eles estão vivências, culturas, crenças e valores que lhe pro- plica Dewey (1978): “No processo educativo, o
no mundo, em diferentes estâncias sociais, porcionaram aprendizagens. Para ilustrar melhor indivíduo e o meio social são, portanto, dois fa-
em diferentes espaços, mesmo que de forma esta ideia acrescentamos Morin (1996) “Cada tores harmônicos e ajustados. O meio social ou
simbólica, nas músicas que as crianças escu- indivíduo numa sociedade é uma parte de um o meio escolar, se bem compreendidos, devem
tam, nas diferentes mídias, televisão, internet, todo que é a sociedade, mas esta intervém, desde fornecer as condições pelas quais o indivíduo
fruto do desenvolvimento social e científico da o nascimento do indivíduo, com sua linguagem, liberte e realize a sua própria personalidade
humanidade. suas normas, suas proibições, sua cultura, seu (pp. 27-28).
Não é aceitável uma proposta peda- saber; outra vez o todo está na parte.” (p. 275). Por desenvolvimento cognitivo, en-

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tende-se o desenvolvimento de estruturas de contexto social não há seres humanos.” (p. 26). consciente, comprometido, pronto a intervir na
pensamento, ou seja, a capacidade de formar Nesta linha de raciocínio, a interação realidade para muda-lá. (p. 35).
conceitos, generalizar, selecionar, classificar, social é uma das estratégias mais importantes do A autonomia significa ser capaz de
recordar, raciocinar com lógica e logo construir professor para a construção de aprendizagens pe- situar-se diante de pontos de vista e conflitos da
conhecimentos, relacionando assim com o pro- las crianças. A intervenção pedagógica provoca sociedade. Segundo Cullen (2007) “Autonomia
cesso de aprendizagem. Para isto, é necessário avanços que não ocorreriam espontaneamente, é potencia de actuar, es decir, ser agentes y no
priorizar os conhecimentos que a criança traz por isso cabe ao professor favorecer situações de quedar sometidos al mero juego de casualidades
e a partir daí criar situações de aprendizagem. diálogo, de brincadeiras e de ensino, orientadas exteriores” (p.108). A autonomia intelectual
“Por outras palavras, ensinar bem é ensinar ape- de tal forma, que garantam a socialização entre as surge ao aluno quando há liberdade nas expe-
lando para capacidades que o aluno já possui, crianças. Segundo Cullen (2004): “la mediación riências, tentativas e erros.
dando-lhe, do mesmo passo, tanto material novo pedagógica consiste en poner en contacto las A identidade nos distingue e individu-
quanto seja necessário para que ele reconstrua inteligencias mismas del maestro y del discípulo, aliza como pessoa. Neste aspecto, o nome tem
aquelas capacidades em nova direção, recons- aprendiendo a discriminar las verdades esencia- papel relevante em todo o contexto escolar,
trução que exige pensamento, isto é, esforço les de las apariencias mundanas, el fin último de principalmente nas classes de educação infantil.
inteligente”. (Dewey, 1978, p. 93). los medios subordinados.” (p.21). Ele é a identidade que nos faz sujeito enquanto
O desenvolvimento social origina-se do É necessário romper com relações ser social. O nome, juntamente com as carac-
meio sociocultural e não pode ser extraído apenas verticais de aprendizagem, e criar espaço para terísticas físicas, modos de agir e a história
da ação sobre o ambiente, necessita de interação a curiosidade, respeito às diferentes ideias, pessoal, vão construindo juntamente com as
com pessoas, nas mais diversas situações, propi- onde crianças e adultos compartilhem suas ex- interações sociais a diferenciação com o outro.
ciando momentos de conversas, brincadeiras em periências de viver e construam aprendizagens Como nos colocam Berger e Peter (1985) “A
grupo, onde seja necessária a troca. O trabalho de significativas, dentro de uma relação dialógica criança aprende que é aquilo que é chamada.
socialização pode ser construído através de ações crítica, de forma horizontal. Como nos coloca Todo nome implica uma nomenclatura, que
que exijam atitudes de respeito e colaboração Freire (2010a) “O antidiálogo que implica por sua vez implica uma localização social
com o outro, podendo ser favorecido através de numa relação vertical de A sobre B, é o oposto determinada.” (p. 177).
jogos com regras, simbólicos e dramatizações, a tudo isso. É desamoroso. É acrítico e não gera Uma sala de aula típica de Educação
dentre outras atividades que oportunizem situa- criticidade, exatamente porque desamoroso. Infantil, da às crianças a oportunidade de
ções de troca e interação com o outro. Não é humilde. É desesperançoso. Arrogante. usarem suas habilidades de linguagem de
A escola deve proporcionar um espaço Auto-suficiente.”(p.116). várias maneiras. No coletivo, as crianças têm
para que os alunos possam realizar brincadei- A partir de Vygotsky e Wallon, defen- a oportunidade de falarem sobre si mesmas e
ras que auxiliem o desenvolvimento da sua de-se que a afetividade que se manifesta, na sobre as diferentes atividades de sala de aula.
criatividade, a construção de conhecimentos, relação professor e aluno, constitui-se como A dramatização, fantoches, música, teatro, a
oportunizando interação entre criança-criança e elemento inseparável do processo de construção hora do conto, o recanto da leitura, a rodinha
criança – adulto, favorecendo a vivência afetiva do conhecimento. Além disso, a qualidade da de novidades são exemplos de atividades que
e a socialização. Ilustramos essa fala na citação interação pedagógica vai conferir um sentido oportunizam a exploração das habilidades de
de Winnicott (1975): afetivo para o objeto de conhecimento, a partir linguagem, que é a base para a organização do
É no brincar, e talvez apenas no brincar, que das experiências vividas. Fernandez (1991), pensamento. Como afirma Freire (2010b) “Nin-
a criança ou o adulto fluem sua liberdade de nos coloca que “ para aprender, necessitam-se guém rigorosamente ensina ninguém a falar. A
criação.... É no brincar e somente no brincar dois personagens (ensinante e aprendente) e gente aprende no mundo, na casa da gente, na
que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser um vínculo que se estabelece entre ambos.(...) sociedade, na rua, no bairro, na escola. A fala,
criativo e utilizar sua personalidade integral, e é Não aprendemos de qualquer um, aprendemos a linguagem da gente, é uma aquisição. A gente
somente sendo criativo que o indivíduo descobre daquele a que outorgamos confiança e direito
o eu. (pp. 79 -80).
adquire a fala socialmente.” (p.113).
de ensinar.” ( p.47 - 52). Não se trata apenas de dar voz as crian-
Vygotsky tem como um dos pressupos- O trabalho na escola de educação ças, mas sim, de escutá-las com atenção, na
tos básicos de sua teoria a ideia de que o ser infantil deve proporcionar situações em que a intenção de compreender o que pensam sobre o
humano constitui-se como tal na sua relação criança construa a sua autonomia e a sua iden- que lhes rodeia, o que acontece na sua vida, suas
com o outro social. Para o autor, a aprendizagem tidade, partindo de si mesmo, do seu corpo, do ideias, considerando suas opiniões, compreen-
desperta processos internos de desenvolvimento seu nome, da sua família e da realidade onde dendo as interpretações que estão fazendo do
que só podem ocorrer quando o indivíduo inte- esta inserida, partindo dessas experiências para mundo e da sociedade. Segundo Freire (2010b):
rage com outras pessoas, crianças ou adultos, o conhecimento global e científico. Como nos “As educadoras precisam saber o que se passa
pois não há socialização sem convívio social. coloca Freire (1980): no mundo das crianças com quem trabalham. O
Segundo Duarte Junior (2002) “Aprendemos a O homem chega a ser sujeito por uma reflexão universo de seus sonhos, a linguagem com que
ser humanos: perceber e a vivenciar o mundo sobre sua situação, sobre seu ambiente concreto.
se defendem, manhosamente, da agressividade
dos homens, através da comunidade. Fora de um Quanto mais refletir sobre a realidade, sobre sua
de seu mundo. O que sabem e como sabem
situação concreta, mais emerge, plenamente

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independentemente da escola.” (p. 102). mais a aprendizagem somente da convivência respeito às concepções da condição da criança
Nessa prática dialógica, é possível cons- e permanecia com os adultos, mas um espaço enquanto sujeito ativo, ser social; uma criança
truir uma proposta de trabalho que contemple institucionalizado. que ocupa um lugar na história através de
a criança, como sujeito do processo de ensino Com a revolução industrial, ocorreu relações sociais que se estruturam a cada dia.
-aprendizagem, valorizando suas experiências também à mudança da posição da família na
culturais, transformando as perguntas e curiosi- sociedade e, consequentemente, a infância REFERÊNCIAS
dades como um norte/rumo a uma aprendizagem tornou-se o centro do interesse dos adultos. Du- ARIÈS, Philippe. História Social da
criança e da Família. Rio de Janeiro:
significativa e coerente com suas necessidades. rante os séculos XVI e XVII, surgiram diversos LTC, 1981.
Como explica Durkheim (1978): “Se a criança pensadores que colaboraram com estudos sobre BERGER, PETER L.; LUCKMANN,
percebe o lugar e a função que tem aquilo que vai a individualidade das crianças. THOMAS. A construção social da realida-
aprender, seu intento de aprender dá-lhe impulso Hoje sabemos que as crianças já nas- de, tratado de sociologia do conhecimento.
PETRÓPOLIS, VOZES, 1985.
para todos os “exercícios” necessários.” (p. 37). cem em ambientes que favorecem sua aprendi-
BOURDIEU, P. A. O poder simbólico.
É preciso libertar-se de propostas en- zagem e recebem inúmeros estímulos, passando Tradução Fernando Tomaz, 7. ed. Rio de
gessadas, vazias de significados, que impedem o pela socialização primária e secundária. A esco- Janeiro: Bertrand, Brasil, 2004.
professor de realizar um trabalho criativo e pra- la colabora para a formação social da criança, CULLEN, C.A. (compilador): Filosofia,
zeroso. Agindo assim, é possível contribuir para colaborando com diferentes e novos esquemas cultura y racionalidad crítica. Bs. As La
a formação de sujeitos críticos e autônomos, que para a percepção do mundo social. Como afirma Crujía. 2004.

exerçam participação ativa no seu meio social. Freire (2010b): “Nenhuma sociedade se afirma _______. Resistir com Inteligência,
México, Pueblo Libre-Casa de La Cultura
O professor precisa ter clareza de que o sem o aprimoramento de sua cultura, da ciência, Del Maestro mexicano, 2007
conhecimento não é algo pronto e acabado, mas da pesquisa, da tecnologia, do ensino. E tudo
CURY, C.R.J. Ideologia e educação bra-
que se encontra em permanente construção nas isso começa com a pré-escola.” (p. 57). sileira: católicos e liberais. São Paulo:
relações sociais, nas vivências diárias, nas rela- Por isso, cabe às escolas e educadores, Cortez e Associados, 1988.
ções cotidianas. Como nos ilustra Del Percio buscar uma proposta pedagógica coerente com DEL PERCIO, Enrique M. La condición
(2010): “De todas maneras, por más simple que as crianças e sociedade em que nos encon- social: Consumo, poder y represen-
tación en el capitalismo tardío. 2º ed.
sea la cultura en la que el individuo desarrolla tramos. É necessário também, que tenhamos Buenos Aires: Altamira, 2010.
su existencia, siempre van a quedar elementos consciência de que somos seres inconclusos, e
DEWEY, John. Vida e educação. 10. ed.
no incorporados. De hecho, la socialización es necessitamos estar em eterna busca, de novos São Paulo: Melhoramentos, 1978.
un proceso que recién termina con la muerte conceitos, aprendizagens, refletindo e buscando DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia.
del sujeto.” (p. 47). É necessário trabalhar essa sempre uma nova visão, para que possamos 11. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
consciência junto dos alunos, para que cons- compreender as transformações que ocorrem MORIN. Edgar. Epistemologia da Com-
cientes do inacabamento tornem-se sujeitos em nosso mundo, sociedade e, principalmente plexidade. In: SCHMITMANN, Dra Frud
(org). Novos paradigmas, cultura e subje-
curiosos, em busca de novos conhecimentos, na escola. Como educadores, possamos estar tividade. Porto Alegre: Vozes, 1996.
num movimento permanente de aprender cada sempre preparados para olhar nossas crianças
FERNADÉZ,A. A Inteligência Aprisiona-
vez mais, tornando-se críticos, participativos, como sujeitos históricos. da. Porto Alegre: Artes Médicas. (1991).
sentindo-se como sujeitos da história e fazendo Precisamos olhar para as crianças
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria
sua própria história. como sujeitos que fazem história, que possuem e prática da libertação: uma introdução
interesses, opiniões, que chegam até os bancos ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed.
São Paulo: Cortez & Moraes, 1980.
CONSIDERAÇÕES FINAIS escolares com uma bagagem de conhecimentos,
No decorrer da pesquisa teórica reali- de conceitos e ideias. _______.Pedagogia da autonomia: sa-
beres necessários à prática educativa.
zada para embasar o trabalho, percebe-se que A função da escola é oportunizar espaço São Paulo: Paz e Terra, 2001.
o conceito de infância e criança foram sendo e voz para esses alunos, com relações dialógi- _______. Educação como prática da liber-
historicamente construídos. cas, para que possa perceber esses conceitos e dade. 33ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Paz e
A partir do estudo de ARIÈS, percebe- organizá-los de modo que colabore para a for- Terra; 2010.

se que o sentimento de infância surge somente mação de sujeitos críticos e atuantes no meio em _______.Professora Sim, Tia Não, Car-
que vivem. Só iremos conseguir isso, através de tas para quem gosta de ensinar. 22º Ed.
no século XVII, com a interferência da igreja São Paulo- Olho D’Água. 2010b
e dos poderes públicos, contra o infanticídio. uma proposta pedagógica sólida e consistente,
JUNIOR, João Francisco Duarte. Porque
Antes disso parecia não ter espaço para a in- que expresse o sujeito, e a sociedade que se Arte-Educação. São Paulo: Papirus, 2002
fância neste mundo. deseja formar.
VYGOSTKY,L.S. A Formação Social da
A partir do olhar de eclesiásticos, mo- Para isso, é necessário que os professo- Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
ralistas e alguns pensadores, surgiu a historia res estejam em busca permanente de atualiza- _______. Pensamento e Linguagem.
social da criança com espaço neste mundo, ção, buscando teorias e pesquisas que possam São Paulo: Martins Fontes, 1993.
com um olhar social, saindo do anonimato. auxiliar sua prática cotidiana, aprofundando e WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade.
Surgiu então, o espaço escolar, não ocorrendo elucidando as questões da infância e as suas Rio de Janeiro: Imagro Editora Ltda,1975.
transformações, principalmente, no que diz

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TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
EM CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL E O DIAGNÓSTICO
PSICOPEDAGÓGICO
Ana Paula Carvalho Ambrósio*
RESUMO
A presente pesquisa apresenta um estudo de caso aliado à revisão bibliográfica com objetivo de compreender o diagnós-
tico psicopedagógico do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH – na Educação Infantil. Normalmente,
o processo de identificação de sintomas do TDAH, tanto no ambiente escolar quanto no familiar, é tardio em razão da de-
sinformação e incompreensão, resultando na estigmatização da criança. No entanto, situações como esta podem ser ate-
nuadas através de cursos ou formação de professores. Tendo em vista que o TDAH é um transtorno, e que os sintomas
como agressividade, desatenção, desobediência e impulsividade fazem parte do quadro, somente o professor capacitado
pode contribuir para um processo de ensino e aprendizagem mais eficaz ao desenvolver atividades que contemplem as
necessidades do discente. Sendo assim, a interação entre a escola, a família e os profissionais da equipe multidisciplinar
que realizam o atendimento do discente é fundamental para se obter bons resultados.
Palavras-chave: TDAH. Diagnóstico. Aprendizagem. Psicopedagogo.

INTRODUÇAO caso. São apresentadas as técnicas utilizadas diente certamente será considerado hiperativo
A presente pesquisa bibliográfica, na avaliação: Entrevista Operativa Centrada sem ao menos averiguar o real motivo de sua
também apresenta um estudo de caso e tem na Aprendizagem-EOCA, Provas Operatórias inquietude. Muitas vezes, a impulsividade, a
como objetivo compreender o diagnóstico e Técnicas Projetivas. Portanto, é de suma inquietação e/ou desobediência estão ligados a
psicopedagógico do Transtorno do Déficit de importância o entendimento do TDAH, pois fatores emocionais como: separação dos pais,
Atenção e Hiperatividade-TDAH na Educação a cada dia mais crianças são diagnosticadas e mudança de moradia ou escola, nascimento de
Infantil. Cada vez mais cedo crianças dessa necessitam de apoio para avançar no processo irmão/a ou perdas.
faixa etária apresentam suspeita de TDAH e de aprendizagem. O psicopedagogo, além Para Freitas (2011), o TDAH é uma
a escola ainda desconhece a forma de como realizar o trabalho com o aluno, também irá síndrome ligada ao desenvolvimento neuro-
trabalhar com esses alunos. Os pais sentem-se ajudar a escola no que diz respeito ao ensino e biológico, interferindo no comportamento e
impotentes diante dos sintomas apresentados aprendizagem dessa criança, informando como causando desequilíbrio nos mecanismos de
pela criança e por falta de informação acredi- ela aprende e que estilo de atividades contem- atenção e memória. O TDHA é uma das causas
tam que a criança seja inquieta, desobediente plam melhor suas necessidades. do fracasso escolar, o aluno que frequentemente
e acabam por solicitação da escola buscando o é taxado de preguiçoso, desatento, desobedien-
auxílio de um psicopedagogo. 2 TRANSTORNO DO te, inquieto, entre tantos outros rótulos, com o
passar do tempo acaba por aceitar esse lugar de
Durante este trabalho são apresentados DÉFICIT DE ATENÇÃO fracasso e não se permite avançar na aprendiza-
os sintomas e o conceito de TDAH, bem como
as dificuldades da escola em trabalhar com
E HIPERATIVIDADE EM gem, sendo assim, internaliza que não é capaz
esses alunos, a importância do diagnóstico psi- CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO de superar suas dificuldades.
copedagógico realizado com a parceria de uma INFANTIL E O DIAGNÓSTICO A falta de informação do corpo docente
equipe multidisciplinar. Na sequência faz alusão é outro fator que deve ser considerado, pois o
PSICOPEDAGÓGICO professor ao desconhecer o transtorno acaba
ao desenvolvimento infantil na faixa etária de
0 a 5 anos, ressaltando o quanto o brincar é por rotular o aluno fadando-o ao fracasso.
2.1 CONCEITO DE TDHA Quando a professora busca informações sobre
necessário para o processo de aprendizagem A cada dia surgem mais alunos/as com
da criança. O brincar quando empobrecido o comportamento do aluno e a escola oferece
suspeita de Transtorno de Déficit de Atenção formação continuada é possível ficar atento aos
contribui para o surgimento das dificuldades de e Hiperatividade-TDAH, para isso, basta a
aprendizagem que se tornam mais evidentes no sintomas do TDAH e repassar as informações
criança não seguir os padrões estabelecidos pela aos familiares. Devido a suspeita de TDAH, a
Ensino Fundamental, quando são exigidos nos escola e sua família. Conforme a Associação
anos iniciais a escrita e o cálculo. família é solicitada a comparecer na instituição,
Brasileira do Déficit de Atenção, o TDAH é um sendo informada da necessidade de acompanha-
Por fim, se discute o diagnóstico psi- transtorno neurobiológico de causas genéticas,
copedagógico clínico pelo viés da Educação mento médico realizado por um neuropediatra
que aparece na infância e perdura por toda ou neurologista que realizará o diagnóstico.
Infantil, onde é contextualizado o estudo de a sua vida. O aluno mais agitado e desobe-

*Graduada em Pedagogia Orientação Educacional e Supervisão Escolar na Faculdades Integradas São Judas Tadeu em 2010 e em
Pedagogia Anos Iniciais do Ensino Fundamental; Pós-Graduada em Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela
Universidade Tuiuti do Paraná em 2014.

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Segundo Muszkat (2012), tanto os pais quanto Educação Infantil, período onde é mais suas necessidades, aos três anos a maioria das
os professores, pedagogos, psicólogos, psicope- comum detectá-lo, pois os sintomas são mais crianças apresentam a fala bem desenvolvida,
dagogos, podem suspeitar do TDAH e solicitar evidentes, sendo mais fácil ajudar a criança a passando a comunicar-se com outras pessoas.
o encaminhamento médico. lidar com o transtorno. Na faixa etária dos três aos cinco anos apresenta
Geralmente o médico conta com a mudanças físicas, aumento do vocabulário,
parceria de uma equipe multidisciplinar, con- 3 O DESENVOLVIMENTO amadurecimento neurológico, aquisição de
siderando que o diagnóstico do TDAH não é habilidade e está mais sociável.
algo simples, uma vez que apoia-se na obser-
INFANTIL DE O A 5 ANOS Ao final desse período espera-se que
3.1 DESENVOLVIMENTO E
vação, análise dos dados clínicos e sintomas a criança tenha adquirido os conhecimentos
APRENDIZAGEM
comportamentais, envolvendo toda a equipe básicos e seja capaz de vestir-se e alimentar-se
A gravidez traz mudanças para a família
de profissionais especializados. sozinha estando apta para deixar a Educação
que se prepara para a chegada de um novo ser. A
A tríade sintomática envolve os se- Infantil e ingressar no Ensino Fundamental.
mãe passa a fantasiar sua relação com o bebê e
guintes fatores: desatenção, hiperatividade e Segundo Bassols, Dieder e Valenti (2001), a
criar expectativas referente ao seu desenvolvi-
impulsividade. De acordo com Freitas (2011), criança nesse período é curiosa e questionadora,
mento, de forma inconsciente os pais traçam um
esse conjunto de sintomas deve permanecer no começa a ter consciência da genitália e das dife-
destino para o filho, desejando um determinado
mínimo por 6 meses e manifestar-se em diversos renças entre os sexos, elabora respostas longas
perfil de criança.
ambientes frequentados pela criança, reforça- e sua motricidade está mais refinada.
De acordo com Manfro, Maltz e Isolam
se a necessidade de uma avaliação cuidadosa, Através da motricidade é possível de-
(2001), o bebê muito antes de nascer, já possui
aprofundando o diagnóstico, levando em conta tectar precocemente distúrbios neurológiogicos
audição, paladar, visão e olfato. Desde os pri-
que o sintoma mais comum é a hiperatividade, e pequenos desvios da normalidade, prevenindo
meiros dias de vida, é perceptivo a informações
sendo considerado o fator de maior ênfase. alterações duradouras ou mais graves. Durante
visuais e reconhece a voz da sua mãe virando a
Outro fator importante é o déficit, crianças com o brincar a criança aprimora a motricidade,
cabeça, o olhar estabelece e fortalece os víncu-
esse sintoma tendem a não terminar as tarefas pois essa atividade envolve interação física
los. A motricidade mais conhecida nessa fase é
que iniciam, não se organizam, não prestam e social, situações que permitam trabalhar a
o reflexo de sucção e o fechamento da mão, os
atenção nos detalhes, esquecem materiais e de coordenação, equilíbrio, espaço são também
demais movimentos do corpo não apresentam
realizar tarefas do cotidiano. Necessitam ser são essenciais para o seu desenvolvimento. Aos
coordenação aparente.
lembrados de suas atividades com frequência, as cinco anos a criança prefere atividades desafia-
A partir do terceiro mês o bebê começa
informações e solicitações devem ser pausadas e doras, histórias longas, anda alternado os pés,
a brincar com o seu corpo e a controlar seus
uma de cada vez para que possam ser realizadas, pula num pé só, orgulha-se de suas conquistas,
movimentos, abre e fecha os olhos na procura
caso contrário serão esquecidas. nessa fase a persistência motora se intensifica.
de objetos, produz sons e tenta repetir, gosta
Conforme Muszkat (2012), é impor-
de brinquedos com som e quando joga seus
tante delimitar a idade em que aparecem os 3.2 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
brinquedos no chão espera que alguém lhe
sintomas, pois, por serem de ordem neurobioló- PARA A APRENDIZAGEM
devolva. Essa ação é importante para que a
gica estão ocorrendo cada vez mais cedo (antes É através do brincar que a criança
criança experimente a sensação de perder e
dos 6 anos). Muitos pais não percebem esses aprende e internaliza o conhecimento, brincan-
recuperar. Entre o quarto e o sexto mês o bebê é
sintomas, geralmente a queixa parte da escola do também revela segredos e situações agradá-
capaz de sentar e a partir desse momento muda
que solicita apoio da família, que na maioria das veis ou desagradáveis que tenha vivido. Muitas
sua relação com os objetos que o cercam, passa
vezes é muito resistente a situação da criança, vezes essa ação não recebe o devido valor por
então a esconder e achar objetos, além de pegar
recusando-se a comparecer. A criança com falta de conhecimento dos pais e professores
o que deseja.
TDAH percebe-se diferente dos demais e sente- que acreditam ser apenas uma brincadeira e
Conforme Manfro, Maltz e Isolam
se frustrada em suas ações, geralmente prefere não percebem o que não é dito com palavras e
(2001), a criança de um a três anos se aventura
brincar sozinha ou acaba por ser excluída do sim com ações.
constantemente e não reconhece o perigo, ten-
grupo, devido ao seu comportamento agitado Segundo Cunha (2005), o brincar é
do seus cuidadores que estar sempre atentos.
e quase sempre agressivo. indispensável e contribui para a saúde física,
Nessa fase aprende a comer sozinha, a controlar
Conforme Muszkat (2012), o TDAH mental e intelectual da criança, é considerado
esfíncter e a falar. Os acontecimentos mais
não tratado, ao longo da vida pode causar baixo um dom natural, e tem dois aspectos: auto
marcantes desse período estão centrados no
rendimento escolar, problemas de conduta, expressão e auto realização. São consideradas
desenvolvimento neuropsicomotor, cognitivo,
problemas de relacionamento e dificuldades como atividades de auto expressão, as ativi-
linguístico, emocional e social. A criança passa
em permanecer no mesmo emprego por muito dades livres, de construções, dramatizações,
a caminhar sem ajuda e a explorar os ambientes
tempo. O ideal é detectar o transtorno em fases música, artes, e outras. A auto realização ocorre
e materiais como barro, argila, água, acentuando
precoces, quando a progressão tende a ser mais no que costumamos chamar de brinquedo or-
a necessidade de jogos e brincadeiras.
lenta e as complicações menos prováveis. O ganizado, pois tem um objetivo definido ara o
Quanto ao desenvolvimento linguís-
diagnóstico clínico do TDHA deve ser iniciado desempenho da atividade.
tico, começa a nomear objetos e a vocalizar
na

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O ato de brincar é um convite ao desafio assim, o início da representação mental, por são realizadas provas de conservação, classifi-
a motivação, pois ao ver o brinquedo sua imagi- isso os brinquedos ofertados na faixa etária cação, seriação espaço e pensamento formal,
nação e habilidade se desenvolvem, nesse mo- dos 2 anos devem satisfazer sua necessidade ressalta-se que é preciso levar em conta a idade
mento experimenta, reinventa, analisa, compara de movimentação, permitindo puxar, empurrar, e o que se espera que ela seja capaz de fazer em
e cria. As situações problemas criadas em uma escorregar, entrar e sair, subir e descer. Dos dois cada fase do desenvolvimento humano.
brincadeira levam a criança a aprender fazendo, aos quatro anos a criança começa a perguntar e Conforme Paín (1992), as provas
pois exige que o aluno busque soluções, uma a argumentar, interessa-se por livros e começa projetivas demonstram o vínculo que o sujeito
atividade bem planejada e com objetivos pre- a interpretar as figuras, desenvolvendo ainda estabelece com a escola, família e com ele
viamente estabelecidos torna-se muito rica para mais a sua linguagem. mesmo, esse instrumento impõe ao indivíduo
o desenvolvimento de linguagem e psicomotor. uma situação que terá que resolver através de
É nesse momento que surgem palavras novas 4 DIAGNÓSTICO uma construção relacionada com a imagem ou
contribuindo para o aumento do vocabulário. assimilação simbólica, lúdica e verbal. Nessa
Brincando, a criança desenvolve seu sendo de
PSICOPEDAGÓGICO sessão será avaliada a capacidade do pensamen-
companheirismo; jogando com companheiros CLÍNICO to para construir através do relato ou desenho
aprende a conviver, ganhando ou perdendo, 4.1 O OLHAR CLÍNICO NA uma organização coerente. É preciso estar aten-
procurando entender regras e conseguir uma EDUCAÇÃO INFANTIL to a situações onde o que não é dito também é
participação satisfatória (CUNHA, 2005). É na Educação Infantil que percebemos revelado por meio do desenho ou ações. Faz-se
Observa-se o quanto o ato de brincar é o quanto as crianças são diferentes umas das necessário observar o tamanho total do desenho,
importante e contribui para o desenvolvimento outras, embora o professor procure “moldar” e tamanho dos personagens, quem não aparece no
da criança, essa ação é fundamental para uma colocar todas no mesmo ritmo não respeitando desenho e posição da folha. A seguir as técnicas
aprendizagem significativa, pois é durante o suas individualidades. Uma criança que não projetivas mais utilizadas, sempre levando em
brincar que a criança demostra o que sabe o esteja dentro dos padrões estabelecidos pela consideração a idade do sujeito.
aquilo por qual nutre interesse. É também um escola e que não atenda as expectativas dos -- Vínculo escolar: eu e meus companhei-
momento de socialização, onde a família deve pais é considerada diferente, principalmente ros, par educativo, a planta da sala de aula;
participar, sem dúvidas uma oportunidade de se essa for agitada, inquieta, desobediente e ou -- Vínculo familiar: a planta da minha casa,
aproximação de pais e filhos, atualmente dis- impulsiva, logo será considerada hiperativa. O os quatro momentos do dia, família educativa;
tante pela correria do mundo moderno. diagnóstico psicopedagógico busca identificar -- Vínculo consigo mesmo: o dia do meu
O jogo também deve ser inserido por as causas que levam as dificuldades de apren- aniversário, minhas férias, fazendo aquilo que
proporcionar interação com o outro e respeito às dizagem e meios para que sejam superadas ou mais gosta, desenho em episódios.
regras, é um exercício onde são trabalhos fatores amenizadas. Para cada sessão o psicopedagogo deve
como, aguardar a vez, perda, ganho, raciocínio, Para Sampaio (2012), esse diagnóstico selecionar os materiais que julgar mais adequa-
linguagem, frustrações e motivação. Atividades clínico, não está pautado apenas no uso de testes do, que lhe permitam uma avaliação ampla,
como essas são de suma importância para vida e provas, implica também em outras medidas possibilitando conhecer melhor a criança. Se-
social, pois a criança que aprende a brincar em como técnicas de avaliação, investigação, aná- gundo Sampaio (2012), não existe um padrão o
grupos e a respeitar regras, certamente quando lise e síntese dos dados. É preciso ter muito psicopedagogo através da observação irá criar o
adulto consciente e capaz desempenhar ativida- cuidado ao interpretar os dados coletados e seu próprio para cada caso, nunca se esquecendo
des que necessitem de um trabalho em equipe. confirmar as hipóteses, o ideal é sempre bus- de levar em consideração a idade da criança e
No período sensório motor assim car trabalhar em conjunto com uma equipe o contexto no qual está inserida.
descrito por Piaget, as primeiras atividades multidisciplinar. Na avaliação são utilizados os Para Fernández (1991), o centro do
lúdicas são exploratórias e ocorrem quando seguintes meios: Entrevista Operativa Centrada diagnóstico é a criança, ainda que sejam in-
o bebê começa a explorar o próprio corpo, na Aprendizagem-EOCA, Provas Operatórias e cluídos os pais, esses devem participar apenas
experimentando movimentos, sons, espaço e Técnicas Projetivas. como informantes, mas o trabalho principal
formas de comunicação. Ao receber estímulos A EOCA tem por objetivo investigar tem que ser realizado com a criança. O psico-
a criança vai avançando e por volta dos seis os vínculos que a criança possui com a apren- pedagogo não deve ser deixar contaminar pela
meses já é capaz de esconder e procurar objetos, dizagem, nessa sessão serão observadas suas queixa dos pais, que geralmente informam que
adquirindo a noção de permanência do objeto. defesas, condutas evitativas e forma como tudo começou quando o/a irmão/a nasceu ou a
No primeiro ano de vida é importante que se enfrenta novos desafios. O importante nesse criança não teve uma boa professora, são falas
comece a oferecer brinquedos pedagógicos que primeiro momento perceber o que a criança bem comuns. Oferecer um espaço de fala para
permitam encaixar, empilhar, apertar botões, sabe fazer. As Provas Operatórias permitem a professora também é algo importante, pois
emitem sons e contribuindo para a imaginação conhecer o funcionamento e o desenvolvimento através dela podemos observar como se da o
e aprendizagem, conforme Cunha (2005). das funções lógicas da criança, dessa forma se processo de ensino e aprendizagem da criança
Através da imitação a criança inicia o torna possível investigar o nível cognitivo em o que auxiliará na composição do diagnóstico.
jogo simbólico, ou seja, o faz de conta, tendo que se encontra e se apresenta defasagem em
relação a sua idade cronológica. Nessas sessões

46 Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014


5 ANÁLISE DOS DADOS relação a sua idade, faz apenas círculos e não de atividades curtas e que permitam explorar sua
pinta. Em uma das sessões desenhou a mãe, criatividade, precisa de limites e muito carinho.
COLETADOS
representada por um enorme círculo, os olhos Sugiro atividades que permitam mexer-se mais,
5.1 ESTUDO DE CASO
são dois círculos pequenos feitos com lápis bem circuito motor é uma delas, tarefas realizadas
A cada dia surgem mais alunos/as com
fraco. Conforme Di Leo (1991), o comentário ao ar livre, explorando os espaços da escola.
suspeita de Transtorno de Déficit de Atenção
da criança sobre seu desenho pode ser um in- Na devolução para a mãe comentei que
e Hiperatividade-TDAH, para isso, basta a
dício de atitudes, pensamentos ou sentimentos, o menino precisa muito de sua presença, deve
criança não seguir os padrões estabelecidos pela
o ideal é perguntar a criança o que desenhou, conversar com ele, pois está muito confuso
escola e sua família. Conforme a Associação
pois o desenho nem sempre tem a forma do que com a situação e a mudança de endereço, antes
Brasileira do Déficit de Atenção, o TDAH é um
a criança deseja representar. moravam em um espaço maior e, agora, estão
transtorno neurobiológico de causas genéticas,
Para Freitas (2011), a falta de infor- morando em uma kitnet (a mãe, ele e a irmã de 9
que aparece na infância e perdura por toda
mação dos professores dificulta a identificação anos). Quanto a suspeita de TDAH deve obser-
a sua vida. O aluno mais agitado e desobe-
precoce, dando lugar a perdas significativas var se os sintomas irão persistir e então buscar
diente certamente será considerado hiperativo
na vida escolar. É o que ocorre com R., pois, ajuda de outros profissionais: psicólogos, mé-
sem ao menos averiguar o real motivo de sua
essas situações não foram observadas com dicos, pedagogos, psicopedagogos, lembrando
inquietude. Muitas vezes, a impulsividade, a
antecedência pelos pais e pela professora, que que alguns atendimentos a escola disponibiliza.
inquietação e/ou desobediência estão ligados a
não procuram entender o que se passa com ele É preciso que haja um trabalho cuidadoso, pois,
fatores emocionais como: separação dos pais,
e não acreditam que, também, se trata de uma muitas crianças não são diagnosticadas com
mudança de moradia ou escola, nascimento de
criança sem limites. TDAH e sofrem sendo rotuladas como desaten-
irmão/a ou perdas.
Ao realizar o inventário da caixa lúdica, tas, inquietas, desobedientes, quando na verdade
O menino analisado, durante todas as
interessou logo em seguida pelo quadrado de faltou um olhar mais atendo da professora e de
sessões, mostrou-se muito inquieto, no EOCA
isopor e a tesoura, iniciou recortando o isopor e sua família. Uma família atenda percebe que
trocou várias vezes de materiais, levantando
colocando os pedaços em cima. Procurou a cola, algo não vai bem e começa a observar as ati-
com frequência para buscar materiais na es-
mas antes experimentou colar com fita durex, tudes da criança. A segunda pessoa a perceber
tante, hora usava a mesa, ora utilizava o chão.
retirou todos os materiais da caixa deixando-os os sintomas do TDAH é a professora, e que
Durante a Entrevista Operativa Centrada na
espalhados pelo chão. Reclamou do lápis que geralmente não tem informações sobre esse
Aprendizagem-EOCA trouxe assuntos que não
não tinha ponta, dizendo que estava estragado Transtorno e acaba rotulando o aluno.
faziam parte da atividade o que demonstra difi-
e jogando longe, decidiu então desenhar com R. não é uma criança carinhosa, os
culdade em se concentrar. Conforme Sampaio
caneta hidrocor, espalhando todas no chão. Ao colegas não gostam de brincar com ele, porque
(2012), através da EOCA é possível observar
terminar jogou os materiais na caixa e saiu me geralmente são empurrados ou levam tapas. A
a modalidade de aprendizagem do aluno, no
puxando em direção ao refeitório, pois já estava professora diz não saber o que fazer com ele,
caso de R. hiperassimilativa, onde a criança traz
quase na hora da janta. Realizou a refeição e pois não para quieto. Durante as atividades
vários assuntos durante a atividade, fez diver-
saiu correndo da mesa em direção ao banheiro levanta, corre, fala alto, bate, cria a maior con-
sas perguntas mas, não aguardou as respostas,
para fazer a higiene. Em sala de aula, ao entrar, fusão. Penso que R. precisa de muita atenção e
pegou outros materiais e fez novas perguntas.
e vendo que o lugar que escolheu para sentar já deve ser chamado para auxiliar nas atividades
Nas sessões com jogos, apresentou dificuldades
estava ocupado empurrou a colega jogando-se por mais complicado que seja. Necessita de
em aguardar a vez e cumprir as regras do jogo,
em cima dele. rotina para aprender a se organizar, as ativida-
mudava constantemente de jogos.
Conforme Freitas (2011), o professor des sempre que possível devem proporcionar
O menino reconhece apenas uma letra
tem um papel muito importante na comprovação se movimentar.
do seu nome a letra “R” não identifica nenhuma
ou não das hipóteses, deve ficar atento aos sinto- Discorda-se quando os professores con-
outra letra do alfabeto e nem números de 0 a
mas, mas não cabe à ele realizar o diagnóstico. sideram prejudicial modificar sua metodologia
10. Recusou jogos que apresentavam números,
Na devolução para a professora, expliquei que para contemplar alunos com TDAH. Não há
apresentou dificuldades para recortar, pintar e
R. necessita de atenção, pois, está passando prejuízos na aprendizagem, pois todos gostam
até desenhar, fazendo uso constante de borracha
por um momento muito delicado. Seus pais de atividades lúdicas. R, necessita de tarefas
e agitando-se quando não conseguia apagar. Em
estão separados e a guarda é compartilhada. R curtas, precisa aprender a brincar em grupo,
uma determinada sessão desenhou com caneta
fica alguns dias com o pai e outros com a mãe. cabe a professora proporcionar esses momentos
hidrocor dessa forma, não foi possível apagar
Ele demonstra essa situação em seus desenhos de interação e mediar as relações interpessoais.
o desenho e R. ficou muito irritado, jogando a
quando não desenha a família, pois não conse- Para isso, é preciso entender que uma criança
folha no chão e pedindo outra.
gue enxergar essa família, sentindo-se abando- com TDAH tem um funcionamento diferente,
Nas provas operatórias classificou por
nado e perdido. O menino desenha sempre dois escola e família precisam ser parceiras nessa
tamanho, cor e formas e nas técnicas projetivas
R. pois, como em alguns momentos está com caminhada para que ocorra a aprendizagem e a
não desenhou a família em nenhum momento,
o pai e em outros com a mãe, vive duas casas. criança não seja excluída. Ressalta-se a impor-
desenha sempre dois meninos que diz ser ele
Em seus desenhos a irmã também não aparece. tância da qualificação profissional, da formação
“dois R.”. Seu desenho é bastante precário em
Quanto à sua aprendizagem, necessita de professores, cursos, palestras, pois é dessa

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 47


forma que é possível obter as informações experiência, isentar-se da tarefa não é solução. refinado sobre a situação problema.
necessárias para melhorar o ensino e auxiliar Percebe-se que uma criança com sus- Conclui-se que um bom diagnóstico
o aluno no processo de aprendizagem, como peita de TDAH necessita de atividades que lhe conta com a parceria de uma equipe multidis-
também, em sua vida familiar e social oportu- permitam explorar sua energia e criatividade, ciplinar, e que a melhora da qualidade de vida
nizando qualidade de vida. essas atividades devem ser curtas e despertar do indivíduo depende muito do estímulo que
sua curiosidade. A professora deve estar atenta recebe, sendo preciso entender que o psicope-
CONSIDERAÇÕES FINAIS aos sintomas e informar os profissionais espe- dagogo não dará conta do todo, mas parte dele.
O desenvolvimento humano é algo cializados da escola, bem como, os pais que
surpreendente, todos passam por experiências também devem observar se a criança apresenta
parecidas, aprendendo a lidar com perdas e os sintomas outros ambientes. A busca por um REFERÊNCIAS
psicopedagogo deve ocorrer ainda na infância, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT
ganhos, as frustrações são necessárias para que DE ATENÇÃO. Disponível em: http://www.
se possa amadurecer e seguir. As pessoas ten- pois um diagnóstico precoce evita/ameniza tdah.org.br/br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.
dem a criar padrões e tudo aquilo que foge do prejuízos na aprendizagem. html Acesso em: 08 mai.2014.

esperado é considerado inapropriado e excluído. Tanto a professora quanto a família BASSOLS, Ana Margareth Siqueira;
Crianças com suspeita de TDAH exercem um papel fundamental na vida da DIEDER, Ana Lúcia; VALENTI, Michele
Dorneles. A criança pré-escolar. In: EIZI-
sofrem com essa exclusão, na escola não são criança que deve ser compreendida e receber RICK, Cláudio Laks; KAPCZINSKI, Flávio;
aceitos por serem inquietos, desobedientes, auxílio, deixando de ser vista como alguém BASSOLS, Ana Margareth Siqueira. (Org).
desobediente e que está sempre “aprontando”. O ciclo da vida Humana: uma perspecti-
impulsivos e às vezes agressivos, o que faz va psicodonâmica. Porto Alegre: Artmed,
com que os coleguinhas se afastem. A escola O psicopedagogo irá auxiliar na organização e 2001. p. 91-104.
não está prepara para receber esses alunos, na busca de informações referente ao processo CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedos
falta informação e vontade de mudar, é preciso de aprendizagem da criança. Através de técnicas desafios e descobertas. Porto Alegre:

abandonar o modelo de escola do passado, onde como entrevistas, provas e testes será possível Vozes, 2005.

o professor ensina e o aluno aprende. Nota-se analisar como a situação ocorre e descobrir a FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência apri-
sionada: abordagem psicopedagógica
que as professoras que lecionam na Educação melhor maneira de intervir e como auxiliar a clínica da criança e sua família. Porto
Infantil não buscam qualificar-se, o discurso é criança, família e a escola. Alegre: Artes Médicas, 1991.
muito diferente do que de fato ocorre na prática. Considera-se essencial estabelecer MANFRO, Gisele Gus; Maltz, Sandra;
A Escola de Educação Infantil ainda é parceria com a escola, principalmente com a Isolan, Luciano. A criança de 0 a 3 anos.
professora, é importante observar a criança In: EIZIRICK, Cláudio Laks; KAPCZINSKI,
vista como um local para deixar os filhos e não Flávio; BASSOLS, Ana Margareth Siquei-
como lugar de ensino e aprendizagem, a família em diversos espaços de escola, como realiza ra. (Org). O ciclo da vida Humana: uma
precisa participar mais da rotina da criança e a as atividades, se relaciona com os colegas e perspectiva psicodonâmica. Porto Alegre:
Artmed, 2001. p. 73-90.
escola oferecer um serviço de qualidade com professora e demais funcionários. A criação do
profissionais qualificados e comprometidos com vínculo é outro fator importante, pois somente MUSZKAT, Mauro. TDAH e interdiscipli-
naridade: intervenção e reabilitação. São
o processo. A escola cabe oferecer formação após sentir-se segura a criança começa a con- Paulo: All Print, 2012.
continuada e ao professor buscar informações versar e explorar os materiais. Entende-se que PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento
sobre as situações que ocorrem na sala de aula, a observação nesse espaço muito contribui para dos problemas de aprendizagem. Porto
a cada ano novos casos de inclusão chegarão à um diagnóstico mais preciso, estar inserido no Alegre: Artes Médicas, 1985.

escola e será preciso aprender a lidar com a nova contexto da criança possibilita um olhar mais

ABSTRACT
This present work is a studie case with a bibliograph revision with objective to comprehend the attention deficit hyperacti-
vity disorder – ADHD – diagnose in childhood education. Usually, the process of identification of the symptons in scholar
environment and household environment are delayed, because of misinformation and lack of knowledge of the teachers
and parents, resulting in stigmatization of the child. However, situations like that can be attenuated with courses and for-
mation of professors. Given that ADHD is a disorder, and symptoms such as aggression, inattention, impulsivity and diso-
bedience are part of the picture, and only the trained teacher may contribute to the process of teaching and learning more
effective developing activities that contemplate the needs of the student. Thus, the interaction between school, family and
multidisciplinary team of professionals who realize the attendance of the student is essential for obtaining good results.
Keywords: ADHD. Diagnose. Learning. Psychopedagogist.

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UMA REFLEXÃO SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO
Maria dos Anjos da Silva Trabulsi*
RESUMO
O presente trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica em que diferentes autores abordam o tema da
educação especial, diversidade cultural, a questão da segregação das pessoas portadoras de necessidades especiais, e
a falta de políticas públicas de inclusão, e tendo como parâmetros as situações que acontecem nas escolas hoje. O texto
aborda ainda inquietações e dúvidas dos professores diante de uma realidade que se chama inclusão. Condições de tra-
balho dos profissionais envolvidos neste processo educativo também é uma abordagem temática, neste ensaio, que traz
ainda um breve relato das conquistas alcançadas e dos direitos conquistados de uma classe que durante muito tempo foi
ignorada e vivia às margens da sociedade.
Palavras-chave: Educação Especial. Inclusão. Respeito. Diversidade. Direitos.

INTRODUÇÃO avanço, um tipo de assistência e de certa forma mental, no âmbito nacional. Segundo Mazzotta
Este artigo científico tem como obje- um apoio às famílias necessitadas. A sociedade, A inclusão da “educação de deficientes”, da
tivo fazer uma reflexão acerca da proposta de o poder público começa a se preocupar em “educação dos excepcionais” ou da “educação

inclusão e as inquietações que enfrentamos atender este público que até então era ignorado. especial” na política educacional brasileira vem
As pessoas que passavam por estas situações a ocorrer somente no final dos anos cinquenta
no cotidiano escolar, deixando claro que isso
eram totalmente desprovidas de qualquer tipo e início da década de sessenta do século XX.
é apenas um recorte de algumas realidades e
de assistência. (p.27)
tomando como base algumas escolas públicas
no município de Porto Alegre. As primeiras escolas especiais no Com o surgimento das escolas e ou
Podemos dizer que já houve grandes Brasil, porém, atendiam apenas dois tipos de classes especiais, as crianças com qualquer tipo
conquistas e progressos com relação a esta públicos: os cegos e os mudos, o “Instituto de problema, que não estivessem de acordo o
questão. As famílias já reivindicam seus direitos dos Meninos Cegos” (hoje “Instituto Benja- modelo considerado “normal” deveriam ser
e buscam até mesmo através do poder público min Constant”) em 1854, e do “Instituto dos encaminhados a estes locais, Carvalho deixa
fazer com que seus direitos sejam cumpridos. Surdos-Mudos” (hoje, “Instituto Nacional de isto bem claro quando faz a seguinte afirmação.
Para entender melhor a questão da inclusão Educação de Surdos – INES”) em 1857, ambos Há ainda aqueles que apresentam distúrbios
faz-se necessário entendermos um pouco mais, na cidade do Rio de Janeiro, por iniciativa do de aprendizagem, sem serem deficientes e
desta caminhada até a atualidade. governo Imperial (JANNUZZI, 1992; BUENO, que, também, acabam excluídos, rotulados e
1993; MAZZOTTA, 1996). encaminhados para a educação especial, como
Em 1954, surgiu o movimento que cul- deficientes mentais, predominantemente (alguns
PESSOAS PORTADORAS DE minou na implantação das APAES (Associação autores, como Mantoan – 1996 a eles se referem
NECESSIDADES ESPECIAIS de Pais e Amigos dos Excepcionais), estas asso- como deficientes circunstanciais) (2000, p.23).
As pessoas portadoras de necessida- ciações recebiam as crianças consideradas ex- Um dos grandes marcos da Educação
des especiais eram totalmente segregadas. Os cepcionais e, portanto, incapazes de frequentar Inclusiva foi a Declaração de Salamanca,
indivíduos que tinham algum distúrbio mental as escolas regulares. De acordo com Mazzotta na Espanha, em 1994. Foi uma Conferência
chegavam até mesmo a serem internadas em sa- os pais tiveram um papel fundamental nesta luta Mundial organizada pelo governo espanhol,
natórios psiquiátricos, como se fossem loucos, para que as pessoas portadoras de necessidades onde estavam representantes de noventa e dois
pois eram incapazes ou não tinham condições especiais tivessem seus direitos reconhecidos. governos e vinte e cinco organizações interna-
de viver na sociedade dita “normal”. Não havia Historicamente, os pais têm sido uma impor- cionais. Deste encontro surgiu o documento,
nenhum tipo de política pública de inclusão. tante força para as mudanças no atendimento
numa declaração que passou a nortear várias
Mazzotta faz a seguinte afirmação. aos portadores de deficiência. Os grupos de
experiências e políticas educacionais, mostran-
Buscando na história da Educação informações pressão por eles organizados têm seu poder
do o quanto é importante se pensar em políticas
significativas sobre o atendimento educacional político concretizado na obtenção de serviços
públicas, que atenda as necessidades de todos,
dos portadores de deficiência, pode-se constatar e recursos especiais para grupos de deficientes,
que, até o século XVIII, as nações a respeito da
sem discriminação.
particularmente para deficientes mentais e
deficiência eram basicamente ligadas a misti- deficientes auditivos. (1996, p.64)
A (Lei de Diretrizes e Base) LDB
cismo e ocultismo, não havendo base científica 9394⁄96, capítulo V, que trata da educação es-
Só a partir de 1957, é que começam pecial, vai legitimar o direito de todos aqueles
para o desenvolvimento de noções realísticas.
O conceito de diferenças individuais não era
a surgir às escolas especiais que vão prestar que sejam portadores de necessidades especiais,
compreendido ou avaliado. (1996, p.16)
atendimento educacional aos indivíduos que que estejam preferencialmente incluídos na
apresentam algum tipo deficiência e ou distúrbio rede regular de ensino. Art. 58. Entende-se
As escolas especiais surgem como um

*Professora de Séries Iniciais na Rede Municipal de Porto Alegre – RS. Graduada em Letras pela UNI de Belo Horizonte – MG.
Especialização Língua Portuguesa – Lato-Sensu e Alfabetização E Letramento. anjostrabulsi@gmail.com

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 49


por educação especial, para efeitos desta Lei, se sintam acolhidos e capazes dentro das suas cultural na sala de aula, principalmente nas sé-
a modalidade de educação escolar, oferecida diversidades, e se reconheçam como membros, ries iniciais é importante que o professor regente
preferencialmente na rede regular de ensino, parte integrante da sociedade. Para Rego (2006) tenha condições de realizar um bom trabalho,
para educandos portadores de necessidades quando se fala de inclusão não se trata apenas tendo recursos humanos, materiais, condição de
especiais. naqueles que têm alguma “deficiência”, mas estudar, pesquisar, ter a parceria da família, de
É direito garantido em lei que as pesso- de todos aqueles que de alguma forma são outras redes que possam auxiliar neste processo,
as portadoras de necessidades especiais sejam excluídos do sistema: e acreditar que a inclusão é possível. De acordo
inseridas em classes regulares, isto, já está A partir disso, é necessário destacar que quando com Medeiros.
acontecendo, porém, é necessário pensarmos se ressalta a importância da escola, assumir a Pensar–se a inclusão a partir da perspectiva da
o que realmente significa o termo inclusão. inclusão como princípio, não está se tratando educação na diversidade é reconhecer as dife-
De acordo com (Rego, 2006, p.134), “incluir somente da inserção de crianças, jovens e adul- renças individuais; é reconhecer a existência de
significa abranger, compreender, envolver”. tos portadores de necessidades educativas espe- limitações que criam barreiras que precisam ser
Será que é isto mesmo que vem acontecendo na ciais, mas também daqueles que se encontram removidas, sem considerá-las como obstáculos
prática, dentro das salas de aula? De acordo com marginalizados social e culturalmente, aqueles intransponíveis (2008, p. 28).
que podemos denominar como os pobres, feios,
Ferreira, para considerar uma proposta de escola As turmas que possuem alunos de
sujos e malvados, ou, ainda, como outsider1 da
inclusiva, é preciso pensar como os professo- inclusão deveriam ter um número reduzido de
instituição escolar. (2006, p.130)
res devem ser efetivamente capacitados para alunos, o que já é previsto no Parecer 56 CEED
transformar sua prática. (Ferreira 2003, p.118) Já existem algumas ações para auxilia- Regras da Educação Especial, mas nem sempre
Sabemos que não é uma tarefa fácil. rem e darem suporte aos alunos portadores de acontece na prática. Outra questão importante
Tudo que tira nossa “estabilidade” gera medo, necessidades especiais e aos professores que seria a docência compartilhada, ou pelo menos
angústia, sofrimento, e leva tempo para uma trabalham com este alunado, como é o caso um monitor para auxiliar, não só aquele aluno
nova acomodação. O que se percebe são esco- da rede municipal de Porto Alegre em que há especial, mas, também a turma como um todo.
las com turmas de vinte e cinco, ou até mesmo a SIR (Sala de Integração e Recursos). A nível A escola é, para muitos, o primeiro e
trinta alunos, nas séries iniciais, com um ou estadual já existe em alguns estados as Salas único espaço de convivência social fora da fa-
dois alunos de inclusão, e espaços físicos sem Multifuncionais. Nos dois casos, há o professor mília. Conviver socialmente com as diferenças
nenhum tipo de acessibilidade. Baptista faz a especialista que faz um trabalho com os alunos rompe a barreira do preconceito, desenvolve
seguinte afirmação. individualmente ou em pequenos grupos, e o senso de solidariedade e o respeito mútuo.
Em face da alteridade, produz-se um estranha- presta assistência aos docentes. Porém, este Para Souza “A inclusão escolar vista como
mento, que desassossega, espanta, pois enfrenta profissional geralmente não consegue atender um processo social e dinâmico, constitui-se
a sede totalitária que absorve, localiza, fixa e a demanda e, além disso, nem todas as escolas um permanente desafio na vida de todas essas
banaliza o conhecimento. Todavia, no mesmo possuem tal suporte. pessoas, uma vez que permeia sua existência
movimento também podemos, face ao temor que Existem também outros tipos de pro- como sujeito do mundo e da sua própria histó-
acompanha o golpe no modelo identitário, em jeto de inclusão em andamento. Um deles é o ria”(2008, p.61).
que ficamos sem respostas, desamparados, órfão PTE (Preparação para o Trabalho Educativo) o A inclusão vai além de simplesmente
de conhecimentos e certezas que até então nos objetivo deste projeto é preparar os alunos de in- colocar indivíduos com necessidades especiais
davam suporte, quem sabe podemos aproveitar o
clusão, a partir dos quinze anos, para o mercado dentro de salas regulares, sem que haja um olhar
espanto, a perplexidade, a admiração, o fascínio
de trabalho, são parcerias do município (Porto e um trabalho diferenciado, isto não significa
pelo novo – sentimento que deram origem a todo
Alegre) com algumas instituições públicas e que este sujeito esteja incluído, só pelo fato de
conhecimento -, como motores para pensar e
privadas, que preparam o jovem para inclusão frequentar aquele ambiente. Para Medeiros.
inventar uma educação inclusiva? (2006, p.41)
do mesmo, fora dos muros da escola, e para Pensar-se a inclusão na escola a partir das
Muitos professores têm se sentindo que ele se torne cada vez mais independente. diferenças é oferecer uma rede de apoio aos pro-
impotentes, sem saber como lidar com esta Estas ações são importantes, mas, não o fessores, funcionários, famílias e aos próprios
“nova” realidade, uma vez que os cursos para suficiente para que se possa realizar um trabalho aprendizes de modo que possam usufruir da
formação de professores nem os Sistemas de de qualidade, onde todos tenham o direito de igualdade de direitos e aprender e de participar,
ensino os preparam para tal. Deixando claro que aprender com as diferenças, respeitando os efetivamente, sem o faz de conta de que estão
só nos preparamos para determinadas situações limites e o tempo de cada um. incluídos, apenas porque estão fisicamente
quando nos deparamos com as mesmas, pois Para que haja um ambiente de aprendi- presentes! (2008, p.28)
cada situação é única e vai exigir interferências zagem e integração com toda esta diversidade
múltiplas, portanto, precisamos repensar e re-
construir nossas práticas diariamente. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sala de aula já é um “mundo” de 1 O termo outsiders, trazido da obra Devemos buscar maneiras, formas de
diversidades com os ditos “normais”. Trabalhar de Norbert Elias significa os não trabalhar com este público que durante muito
então, com os considerados “diferentes” requer membros da boa sociedade, os que tempo foi segredado. Aprender como tratar
uma série de fatores, para que todos realmente estão fora dela. pedagogicamente os indivíduos que a escola

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recebe é um desafio para todos, é resgatar especial brasileira: integração/segre- MADEIROS, Isabel Letícia, Salete Cam-
gação do aluno diferente. São Paulo: pos de Moraes, Magali Dias de Souza
o papel sociopolítico do cidadão. É preciso EDUC, 1993. (Orgs.). Inclusão Escolar – Práticas & Te-
construir com eles experiências ricas e signi- orias. Porto Alegre: Redes Editora, 2008.
CARVALHO, Rosita Edler, Removendo
ficativas, e acreditar que todos são capazes de barreiras para a aprendizagem – edu- Parecer 56⁄2006 CEED Regras da Edu-
aprender, e para que isto aconteça é preciso cação inclusiva. Porto Alegre: Mediação, cação Especial, Comissão Especial de
2000. Educação Especial.
que se pense em numa nova estruturação no
sistema educacional. FERREIRA, Maria Elisa & Marly Guima- SOUZA, Olga Solange Herval. Itinerários
rães. Educação Inclusiva, Rio de Janeiro: da Inclusão Escolar Múltiplos Olhares,
DP&A, 2003. Saberes e Práticas. Porto Alegre: Ulbra,
REFERÊNCIAS 2006.
BAPTISTA, Claudio Roberto (org.) Inclu- Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
são E Escolarização – Múltiplas Pers- UNESCO. Declaração de Salamanca
MAZZOTTA, Marcos J. S. Educação e Linha de Ação sobre Necessidades
pectivas. Porto Alegre: Mediação, 2006. Especial no Brasil. Histórias e Políticas Educativas Especiais. Brasília: Corde,
BUENO, José Geraldo Silveira Educação Públicas. São Paulo: Cortez, 1996. 1994.

RESUMEN
Este documento ha sido desarrollado a partir de una literatura en la que diferentes autores abordan el tema de la educa-
ción especial, la diversidad cultural, la cuestión de la segregación de las personas con discapacidad, y la falta de políticas
públicas de inclusión, y tomando como parámetros las situaciones sucediendo en las escuelas de hoy. El texto también
aborda las preocupaciones y preguntas de los profesores se enfrentan a una realidad que se llama inclusión. Las condi-
ciones de trabajo de los profesionales que intervienen en este proceso educativo es también un enfoque temático en este
ensayo que todavía trae una breve reseña de los logros y derechos ganado una clase que siempre había sido ignorado y
ha vivido en los márgenes de la sociedad.
Palabras clave: Educación Especial. Inclusión. Respeto. Diversidad. Derechos.

Espaço Inovação - Revista Pedagógica - N o 12, agosto, 2014 51


Histórias de vida
QUEM SOU EU? COMO CHEGUEI A SER QUEM SOU HOJE? O QUE ME
LEVOU A ESTUDAR LICENCIATURA?
Maria Paula Conte*

Existem várias maneiras de dizer quem sou eu, principalmen- integrando com alunos de psicologia da UFRGS e surpreendendo
te sob o enfoque profissional, porque como todos tenho muitas os professores.
habilidades que poderiam e que até são postas em funcionamento Formei-me e comecei a trabalhar em clínica e na escola onde
para produzir. eu havia estudado (Colégio Bom Conselho, Porto Alegre), primei-
Ideias é o que mais tenho. Na maioria das vezes, dentro de ro como professora de psicologia do Curso Normal e depois como
um grupo de trabalho, estudo ou mesmo informal, minha maior psicóloga escolar do Ensino Fundamental, durante dezenove anos.
função é dar ideias, interpretar, criar, esquematizar e desdobrar. Como o caminho dá suas voltas!
A partir de agora, passo a digitar este texto que escrevi de Ingressei nesta escola trabalhando no curso normal e, nos
madrugada. São cinco horas da manhã, acordada desde as quatro últimos anos, retornei ali, onde retomei o contato direto com as
horas para trabalhar, enquanto a família dorme, fico brava porque didáticas, estagiários, escolas públicas e supervisão pedagógica.
o computador não responde aos meus cliques – mesmo sendo an- Também, neste interim, fiz concurso público para psicólogo e pro-
tigo, ainda há muita coisa nele que eu não sei como resolver. fessor de séries iniciais.
Vendo o tempo passar, decido escrever à mão como meus alu- Em 2003, saí do Colégio Bom Conselho e entrei num processo
nos da terceira série do Ensino Fundamental da rede municipal. de reformulação geral, revisão de valores, relacionamentos, pa-
Lembranças de infância e adolescência quase todas são de escola péis. Abriu-se o espaço, já em demasia, que estava sendo absorvi-
ou férias, cuja referência continua sendo a mesma... amigos, famí- do pela escola, enquanto instituição particular e eu estabeleci nova
lia, sempre existe qualquer coisa relacionada com escola. rotina com meu marido e três filhos com oito, seis e dois anos
No Ensino Médio, fiz o curso normal, fiz estágio, adorei, até de idade, comigo mais presente. Conheci um pessoal novo ligado
hoje levo muito jeito com crianças e livros. Adolescente alegre e a uma escola de filosofia chamada Nova Acrópole e comecei a
expansiva, também parava para pensar e sempre fui muito sensí- estudar com eles, resgatando antigas preferências por história e
vel às questões sociais e muito ligada em histórias (de todo tipo filosofia.
mesmo). Era alguém começar a contar uma, que o mundo parava Em 2005, quando estava bem acostumada e adorando a nova
para eu escutar. rotina de vida familiar, livre das pressões desgastantes do traba-
Comecei muito cedo escutar histórias dos meus pais, dos meus lho, chamaram-me no município. Este modo ingênuo de me refe-
avós imigrantes italianos, histórias dos meus irmãos mais velhos, rir ao meu próprio destino tem a ver com a ambivalência com que
histórias das minhas amigas, histórias do padre, histórias das pro- compareci à nomeação.
fessoras. Muito enredo, muita emoção, muito conteúdo, atenta Entrei na Escola Municipal Victor Issler e peguei uma turma
mesmo quando pareciam triviais. de progressão de segundo ciclo, uma classe especial formada por
Por ocasião do vestibular, precisei descartar um a um dentre alunos com idade mais avançada e dificuldades de diferentes or-
os cursos de psicologia, sociologia, pedagogia, história, filosofia. dens. Entrei direto em contato com o aluno mais pobre, e despro-
Optar inclui a exclusão. Eliminei até chegar à psicologia e socio- tegido da sociedade.
logia. Formei-me em psicologia e quanto à sociologia, até hoje Uma diferença enorme com o que eu vinha convivendo até
está meu número de matrícula em Ciências Sociais na UFRGS então. Diferentes situações socioeconômicas tão marcantes que
de 1980. exigiram-me “urgentemente” uma adaptação e mudança de para-
Tinha paixão por história, mas na época estava muito envolvi- digmas. Eu que sempre me considerava revolucionária, destemi-
da com a terapia familiar e com início da minha própria análise. da, ousada... Curso Normal, Bacharelado em Psicologia, pós-gra-
Cursei psicologia na PUCRS e de lá pra cá, sempre trabalhei duação na área de educação, dois idiomas!!! E era eu e o Sócrates
na área da educação, mesmo tendo, no início, demonstrado grande “só sei que nada sei”. Simplesmente eu não sabia o que fazer com
tendência e interesse pela clínica. Como aluna da faculdade, fiz meus alunos e tive que descobrir.
parte de uma geração de alunos da psicologia da PUCRS que ino- Depois de um mês em estado de choque, comecei a encon-
vou o comportamento tradicional, através da formação de grupos trar o meu jeito de trabalhar, admirando-me comigo mesma e me
de estudos com psicólogos e psicanalistas de fora da universidade, apaixonando pelos meus alunos. Minhas ideias voltaram e eu, a

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ser eu mesma: “atenção...luz...ação!” dando. Depois de quase vinte anos de psicologia escolar, assumir
Naturalmente, estou levando ideias e sugestões para a reunião a tarefa como educadora dentro da sala de aula, estudar é o re-
de professores para um trabalho integrado com as turmas e bus- curso.
cando novas formas de viabilizar o trabalho da escola pública. A licenciatura me habilita a fazer mais pela educação, amplia
Há muita coisa a ser feita pelos alunos não só no nível da edu- do Ensino Fundamental ao Ensino Médio, informa, estimula e
cação, mas enquanto rede municipal com serviços comunitários a chama mais trabalho. Chamar não é vocação? Educação é vo-
serem utilizados pela educação. Conheço quase nada da estrutura cação! Não rejeito o sacerdócio, porque sacerdócio é, acima de
municipal e, por isso mesmo, estou pesquisando, buscando, estu- qualquer coisa, fazer com a alma. E estou aqui, de coração!

*Professora, Psicóloga, Pedagoga, Supervisora Escolar.

Educação e Educadores
EDUCAÇÃO COM QUALIDADE
Nei Alberto Pies*

Qualidade é um substantivo inerente ao “Viemos ao mundo para dar nome pessoas e a vida do país, deve ser a área mais
ser humano e a seus afazeres. O ofício de às coisas: dessa forma nos tornamos rigorosamente testada e é preciso que seja ex-
educar, dentre outros, pressupõe qualidade. A senhores delas ou servos de quem as celente. Entretanto, é aquela em que os testes
qualidade é gerada na satisfação pela conquis- batizar antes de nós”. são mais difíceis e as avaliações, vestibulares
(Lya Luft, escritora)
ta de aprendizagens, protagonizadas por edu- e provões quase nada significam: nada garan-
cadores e educandos. O prazer nas relações de te que a qualidade, medida por critérios aca-
ensino-aprendizagem está na construção do conhecimento como dêmicos numéricos consiga passar os testes que a vida impõe”.
algo útil, agradável e capaz de desencadear alegria e realização. O Alves afirma que as avaliações escolares sempre são anun-
educador é um dos maiores interessados em qualidade na educa- ciadas com a intenção de “consertar a máquina” (a estrutura dos
ção; a escola carrega potenciais de sua satisfação, uma vez que o sistemas de ensino). E logo responde: “eu, ao contrário, acho que
fracasso dos educandos também representa o seu próprio fracasso. não há nada de errado com a máquina. Não há o que consertar.
Quem ganha com a desqualificação da educação pública? Acontece que os alunos, mais precisamente os corpos dos alunos
Quem ganha quando os professores e professoras não são tratados – tem também seus mecanismos de “controle de qualidade”. Se
com a dignidade que merecem? Quem goza de alguma vantagem eles não aprendem é porque os seus corpos reprovam a máquina.
quando os alunos de nossas escolas saem das mesmas sem con- Seus corpos vomitam o que a máquina lhes enfia goela abaixo. O
dições de ler e interpretar o mundo, para melhor inserir-se nele? resultado do “examão” seria a prova disso”. E pondera ainda que
Ninguém, muito menos os professores ou os alunos, ou a socie- nosso corpo só aprende dois tipos de conteúdos: os que dão prazer
dade. e os que levam ao objeto de prazer (aqueles com razões para se-
É um avanço que a sociedade queira discutir qualidade na edu- rem aprendidos). “A máquina funciona como deve. O problema é
cação. É, no entanto, injusto e leviano supor que o insucesso da que a comida que ela serve é imprópria para a inteligência”.
escola pública recaia unicamente sobre os professores e profes- Faz bom tempo que os educadores/as reclamam qualidade.
soras, usando-se para tanto a meritocracia como uma forma de Faz tempo que apontam impróprio o tratamento que os governos
punição e seleção dos professores. Os professores e a comunidade lhes dispensam. Todo este contexto pressiona seu ambiente de tra-
escolar sabem do seu maior mérito: a resistência e a sobrevivência balho, fere suas inteligências e limita imensamente o seu prazer de
da escola pública, durante as últimas décadas. ensinar. Há que se considerar ainda que todo tratamento impositi-
Existem razões suficientes para querermos uma escola públi- vo se torna indigesto e que os muitos jeitos de fazer educação só
ca e de qualidade. No entanto, questiona-se a legitimidade das merecem reconhecimento se ajudarem as pessoas a viver melhor
avaliações de seu desempenho sem uma ampla discussão e parti- no mundo, exercendo sua cidadania e sendo mais felizes. O resto,
cipação dos maiores interessados e sem uma ampla discussão na pouco ou nada tem a ver com qualidade.
sociedade sobre o papel da educação no atual contexto histórico.
Rubem Alves, quando discute “Qualidade em educação”, *Professor e ativista de direitos humanos
lembra que “a educação, na medida em que lida com a vida das
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Retratando Poetas
PRÓLOGO CASALADA
Já é tarde...a noite transita. a casa é pequenina
mas tem uma vela gigantesca
É hora de dormir, mas...cadê o sono?
diferente do que se imagina
A mente fervilha com mil ideias, não há memória que a esqueça
milhares de desejos, de esperanças.
Amanhã será outro dia. ninguém sabe de onde veio
Não tem melhor e maior conselheiro nem para onde ela irá
do que o travesseiro se chegou já está de partida
macio... aconchegante... se partiu não vai voltar
e o livro de cabeceira?
das inóspitas regiões geladas
está me esperando aos desertos de areia e sal
para que suas páginas sejam abertas nunca faz sua pousada
que meus olhos percorram suas linhas duas vezes no mesmo local
que eu ria e que chore
pelas histórias ali contidas. pé na estrada em travessias
E a revista? faça chuva ou faça sol
tempestade, calmaria
Está no computador
brisa breve, temporal
esperando pelo encerramento das atividades.
Ora... ainda faltam três artigos e tromba d’água, chuva fina
amanhã os terei para finalizar tufão, garoa, vendaval
Esta edição está bem recheada ao sul o sol da meia noite
de belas histórias, ao norte a aurora boreal
de trabalhos científicos inovadores
a casa vive um sonho alado
de ideias criativas,
por onde quer que a casa ande
de desejos ocultos à leste o Kilimanjaro
numa demonstração de múltiplas inteligências, à oeste a cordilheira dos Andes
de tentativas
de auxiliar aquele que possui grandes dificuldades de aprendi- da alvorada até o crepúsculo
zagem do início ao fim do ano
daqueles que tem direito à inclusão já deu muita volta ao mundo
no lombo do vento aragano
se deliciando com o bate-papo com personalidades
figuras que sabem tudo e não sabem nada ao mesmo tempo voa bem alto casa à vela
porque sabemos que nada sabemos muito além do infinito
que nossa sabedoria é uma eterna busca leva contigo os nossos sonhos
que a aprendizagem não se esgota aqui e agora que nós sonhamos contigo
porque ela é eterna
seja nesta ou em outras vidas Alexandre Brito*
e tantas quantas teremos que ter
para atingir a plenitude da evolução espiritual *(AUTOR DAS POESIAS DA PÁGINA SEGUINTE)
obrigado por vocês existirem
e fazerem parte da nossa história! *Autor de Museu Desmiolado (Prêmio Os 30 Melhores Livros Infantis do
Ano - Revista Crescer, selecionado
pela FNLIJ para o Catálogo Brasileiro da Feira Internacional do Livro Infantil
Yolanda Pereira Morel* e Juvenil de Bolonha/2012),
Circo Mágico (adotado pelo PNBE - MEC, indicado ao Prêmio Açorianos de
Literatura), Uakti e Uiara - duas
*Presidente da ASSERS lendas da Amazônia, entre outros.

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