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Crime x Patrimônio

Clara Moura Masiero


Furto: tipo objetivo e subjetivo (Art. 155)
• Subtrair (tirar, diminuir);
• Coisa alheia (comprovação de que pertence a alguém);
• Móvel (economicamente apreciável – redução do patrimônio alheio: valor monetário + utilidade);
• Finalidade de dispor da coisa, com animus definitivo (furto de uso é atípico. Para fuga = típico = não há intenção de devolver);
• Elemento subjetivo: dolo com fim específico de apossar-se da coisa.
• Pena de 1 a 4 anos e multa.

• Consumação: posse tranquila x inversão da posse


• Aplicação do princípio da insignificância/bagatela se a coisa furtada for insignificante para a vítima. Extinção da tipicidade
material. Portanto, a conduta será atípica, portanto não há crime, portanto, haverá absolvição.
• (furto privilegiado)§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o
juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a pena de multa. Parágrafo de difícil aplicação prática desde que o
princípio da insignificância tornou-se pacífico na jurisprudência.
• Arrependimento posterior (16, CP) = redução da pena (1/3 – 2/3) se o sujeito devolver a coisa até o recebimento da
denúncia.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra
que tenha valor econômico.

Gato de energia elétrica (desvio de energia) = furto.

Alteração do medidor = estelionato.

Prevalece na juris que gato de NET não configura furto de energia


elétrica, sendo tal conduta enquadrada no crime de estelionato.
Furto qualificado - § 4º (2 a 8 anos)
I – Destruição ou rompimento de obstáculo
II - Abuso de confiança (a), fraude (b), escalada ou destreza (c):
(a) vínculo subjetivo, não basta relação de emprego;
(b) forma especial de abuso de confiança, ludibria o outro para induzi-lo ou mantê-lo em erro,
com intuito de reduzir sua vigilância sobre a coisa;
(c) sujeito possuidor de habilidade especial que evita que a vítima perceba o ato – a prisão em
flagrante afasta a qualificadora.
III - Chave falsa: Chave “mixa” (micha) configura (STJ) quando for usada para acessar o bem e não
para ligar o carro, por exemplo. Chave verdadeira não se enquadra.
IV - Concurso de duas ou mais pessoas
• João e Maria subtraem o vinho mais caro do supermercado.
• Prova = imagens da câmera de segurança
• João devolve o vinho após intimação da polícia para prestar
depoimento.
• Supermercado fornece recibo da devolução.
• MP denuncia por furto qualificado (2 a 8 anos).

1) Princ. Insignificância
2) Arrependimento posterior (pena mínima = 8 meses)
Furto qualificado - § § 4º-A, 5º, 6º e 7º
§ 4º-A (4 – 10 anos) emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (2018).
§ 5º (3 a 8 anos) subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para
o exterior. A qualificadora só se consuma quando veículo ingressa em outro Estado ou em outro país. Por
isso, não há esta forma tentada. Há furto consumado, sem a qualificadora, quando o indivíduo é preso ainda
no mesmo Estado.
§ 6º (abigeato = 2 a 5 anos): subtração de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido
em partes no local da subtração.
§ 7º (4 a 10 anos): subtração de substâncias explosivas ou de acessórios que possibilitem sua fabricação,
montagem ou emprego.
(* Art. 32. Praticar ato de
abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem
recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.)
Furto de coisa comum
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para
outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível
[consumível/substituível], cujo valor não excede a quota a que tem direito
o agente.
Roubo

Roubo próprio
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante (i) grave ameaça
ou (ii) violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, (iii) reduzido à
impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Roubo impróprio
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência
contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
detenção da coisa para si ou para terceiro.
Roubo
• Roubo próprio: é o fato de o sujeito subtrair coisa móvel alheia, para ele ou para terceiro, mediante
grave ameaça ou violência a pessoa, ou redução da resistência da vítima (caput).
• Roubo impróprio: ocorre quando o sujeito, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para ele
ou para terceiro (§ 1º).
• Se o sujeito, meia hora depois de subtraído o objeto material, vem a ser surpreendido pela polícia e reage,
não se trata de roubo impróprio, mas de furto consumado em concurso material com o delito contra a
pessoa (contra os policiais).

* Diferença entre roubo e furto qualificado pela violência: Neste, a violência é praticada contra a
coisa; naquele, contra a pessoa.
Causas de aumento - § 2º (+1/3 – 1/2)
II - Concurso de pessoas (= furto)
III - serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior (= furto);
V - mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade (30 min – segundo entendimento do STJ,
sob pena de sequestro/cárcere privado);
VI – subtração de substâncias explosivas ou de acessórios que possibilitem sua fabricação (= furto).
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca (pacote anticrime);
** Até 2020, a arma branca não era causa de aumento de pena no roubo. Aplica-se esta regra para fatos
anteriores à vigência desta lei? Não, por ser uma reformatio legis in pejus, aplica-se a regra da
irretroabilidade absoluta.
Causas de aumento - § 2Aº (+2/3)
I) Emprego de arma de fogo
a) absolutamente ineficaz para o disparo: configura a grave ameaça, mas não a causa de aumento;
b) relativamente capaz de efetuar disparos: incide o aumento .

II) destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que
cause perigo comum.

§ 2º-B (Pacote anticrime). Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma
de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
artigo (qualificadora).
Roubo preterdoloso (§ 3º) = Qualificado
• I - Se resulta lesão corporal grave = 7 a 18 anos
• Lesão pode ser produzida no titular do direito de propriedade ou num terceiro que venha a sofrer a
violência física.
• Produzindo lesão corporal de natureza leve, é absorvida pelo roubo, subsumida na elementar violência.
• II – Se resulta morte = latrocínio (hediondo) = 20 a 30 anos

• Se o resultado consuma, considera-se consumado independente se houve subtração de coisa


(STF: 610).

a) Morte (c) + subtração da moto (c) = latrocínio consumado


b) Morte (c) + não leva a moto (t) = latrocínio consumado
c) Atira, mas não mata (t) + leva a moto (c) = latrocínio tentado
d) Atira, mas não mata (t) + não leva a moto (t) = latrocínio tentado
Furto de uso não é típico. É típico roubo de uso? É típico, pois há violência ou
grave ameaça.

Pode aplicar insignificância no crime de roubo? Entendimento do STJ é de que


não.
Como defender o cara que bateu na mulher para furtando R$3,00, já que não
poderia aplicar a insignificância em função da violência?
Roubo = 4 a 10 anos e multa
Roubo complexo = Furto + violência
= 3,00* + lesão corporal (3m a 1 ano ou 2 a 8 anos)
= crime x pessoa
Questão fixação
O roubo:
a) Qualificado pela morte é considerado hediondo apenas quando
consumado;
b) Será qualificado pela morte, se a violência for intencional
provocando a morte (dolosa ou culposamente);
c) Poderá ser qualificado pela morte, se a violência não for intencional
e o resultado for culposo;
d) Impróprio admite que a violência seja executada durante a
subtração;
e) Qualificado por lesões graves é considerado hediondo.
3 estágios para a consumação da
extorsão:
1º. O agente constrange a vítima, valendo-se de violência ou grave ameaça; (tentativa)
2º. a vítima age, por conta disso, fazendo, tolerando que se faça ou deixando de fazer alguma coisa;
(consumação)
3º. O agente obtém a vantagem econômica almejada. (exaurimento)
Súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem
indevida”.
Diferença entre Extorsão e Exercício Arbitrário das Próprias Razões: na extorsão o agente visa a
uma vantagem patrimonial indevida, enquanto no exercício arbitrário das próprias razões a
vantagem é devida (art. 345 do CP).
Causas de Aumento da Pena
• O § 1.º do art. 158 do Código Penal dispõe que a pena é aumentada de um terço a
metade (1/3 a 1/2) se o crime é cometido por duas ou mais pessoas ou com o emprego
de arma.

Extorsão Qualificada
• § 2.º, = as regras e penas do roubo qualificado pela lesão grave ou morte.
• § 3º = mediante restrição da liberdade da vítima (≠ sequestro)
Extorsão mediante sequestro (hediondo)
• Sequestrar > restringir a liberdade
• Para obter vantagem como condição ou preço do resgate.
• Formas qualificadas
a) o sequestro dura mais de 24 horas;
b) a vítima tem menos de 18 anos ou mais de 60;
a) menor de 14 anos aplica o art. 9.º da Lei n. 8.072/1990 = acrescer a pena de metade
c) o crime é praticado por quadrilha
d)Se resulta lesão grave
e)Se resulta morte
* Delação eficaz: Concorrente que denunciar à autoridade = - 1/3
Estelionato
❑Conceito: No estelionato encontramos 4 elementos. Se ausente qualquer um deles,
descaracteriza-se a figura penal:
❑(1) vantagem ilícita;
❑(2) por meio de fraude ou ardil;
❑(3) prejuízo;
❑(4) erro (falsa percepção da realidade) da vítima.

• Dolo específico = vontade de obter vantagem patrimonial indevida.


➢Crime Impossível: inidoneidade da fraude for absoluta.

• Se o meio fraudulento empregado pelo agente era apto, em tese, a induzir a erro
outras pessoas, mas não conseguiu enganar a vítima, sua inidoneidade é relativa,
configurando-se tentativa de estelionato, e não crime impossível.

➢Reparação do dano: não afasta a configuração do crime. É apenas circunstância


atenuante.
➢Estelionato e falsificação de documento: Reconhecido o fato de o crime de
falsificação do documento ser delito-meio para atingir o crime-fim de
estelionato, este absorverá o primeiro.
• Súmula 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato é por este absorvido.”
➢Estelionato e Moeda Falsa: sendo grosseira a falsificação das cédulas, não há
cogitar-se de delito de moeda falsa, mas sim estelionato.
• Súmula 73 do STJ: “A utilização de papel de moeda falsa grosseiramente falsificado,
configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.”
➢Estelionato privilegiado – art. 171, § 1º, CP
• réu primário e for de pequeno valor o prejuízo.
➢ Art. 171, , § 2º, CP – Nas mesmas penas incorre quem:
I. Disposição de coisa alheia como própria
II. Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
III. Defraudação de penhor (alienar bem penhorado)
IV. Fraude na entrega da coisa
V. Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
VI. Fraude no pagamento por meio de cheque
I. Exige-se dolo. STF: 246: comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão
de cheque sem fundos.
II. STF: 554: o pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia,
não obsta ao prosseguimento da ação penal.
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime é cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita
Receptação – Art. 180, CP
❑Receptação simples (caput) - há duas condutas autonomamente puníveis:
a) Receptação própria: aplicação alternativa dos verbos adquirir (obter, comprar), receber (aceitar
em pagamento ou simplesmente aceitar), transportar (levar de um lugar para o outro), conduzir,
ocultar coisa produto de crime.
• Crime material: exige diminuição do patrimônio da vítima.
b) Receptação imprópria: influir (inspirar ou inflamar) alguém de boa-fé a adquirir (obter ou
comprar), receber (aceitar em pagamento ou aceitar) ou ocultar (encobrir ou disfarçar) coisa
produto de crime.
• Crime formal, não exigindo o resultado naturalístico para sua consumação.
➢Receptação qualificada: atividade criminal.
➢Forma culposa - § 3º: “desproporção entre valor e preço - pela sua natureza, deve
presumir-se obtida por meio criminoso.”
➢A expressão “deve presumir-se” é indicativo de culpa na modalidade imprudência.

➢Receptação punível autonomamente - § 4º:


• receptação não depende de anterior condenação do autor do crime anterior.
• O autor do delito anterior pode ser inclusive desconhecido.
• É necessário evidenciar-se a existência do crime anterior.
➢Perdão judicial - § 5º, 1ª parte: Aplicável apenas à receptação culposa. A jurisprudência entende
que, além de primário, a coisa objeto de receptação deve ser de pequeno valor e o agente deve
ter bons antecedentes.
➢Forma privilegiada - § 5º, 2ª parte: Aplica-se o disposto ao art. 155, § 2º, CP. Entende-se
aplicável à figura do caput e à do § 1º(dolo direto e dolo eventual).
➢Causa de aumento § 6º: Quando o produto de crime pertencer à União, Estado, Município,
empresa de serviços públicos ou sociedade de economia mista. Exige-se que o agente tenha
conhecimento disso.
• Ação Penal é pública incondicionada, exceto nas hipóteses do art. 182, CP.
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime é cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave
ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos.
Atentado contra a liberdade de trabalho
Art. 197 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça:
I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar
durante certo período ou em determinados dias:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência;
II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de
atividade econômica:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta
Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de
trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto
industrial ou agrícola:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Atentado contra a liberdade de associação
Art. 199 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de
participar de determinado sindicato ou associação profissional:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem
Art. 200 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, praticando violência contra
pessoa ou contra coisa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único - Para que se considere cletivo o abandono de trabalho é indispensável o concurso
de, pelo menos, três empregados.

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