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:: O risco Genro

Alguém já ouviu um marxista ou ex-marxista falar dos crimes do stalinismo? Ou


mesmo um petista? Duvido. Quando se referem aos colossais massacres de Stalin,
falam em “desvios do comunismo”. Isto é, a doutrina era boa, houve apenas um
pequeno desvio. Se esse desvio custou 20 milhões de cadáveres, bom, não se faz
omelete sem quebrar os ovos. Verdade que o marxismo só produziu ovos quebrados e
nada de omelete. “Não estamos falamos de números, falamos de desvios”. Quem
gostava muito de falar dos desvios era o atual presidente do PT, Tarso Genro. Que,
certa vez, em um artigo para o caderno MAIS!, da Folha de São Paulo, em um
momento de extraordinária coragem intelectual, comentou as “venturas do
stalinismo”. Este é o homem que pretende salvar o PT do naufrágio iminente.
Pescando em águas turvas, prepara sua candidatura à Presidência da República.
Nunca se sabe quem fará o papel de Kerenski no Brasil. Será Lula?

A linhagem marxista do PT está presente na própria linguagem dos petistas. Os


crimes eleitorais e financeiros do partido se acumulam a olhos vistos, à medida que as
CPIs avançam em suas investigações. Formação de quadrilha, tráfico de influência,
compra de deputados, evasão de divisas, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro,
assassinato. Alguém ouviu algum petista falar em crimes do PT? Nenhum. O máximo
que os petistas balbuciam é “erros do PT”. Até mesmo o homem mais ético da nação
não ousa pronunciar a palavrinha. Crime é coisa de criminosos. Ora, petista algum é
criminoso. Logo, erros. Que mais não seja, crime pode dar cadeia. Erro exige, no
máximo, desculpas. Mais um pouco e as lideranças petistas sobreviventes estarão
qualificando como erro deplorável o assassinato de Celso Daniel.

Vivemos dias de eufemismos. Caixa 2 virou “recursos não contabilizados”. Caftina é


“promotora de eventos”. Doleiro é “alocador de recursos no mercado financeiro”.
Líder comunista, depois da cartilha do Nilmário, virou líder socialista. Esta nova
formulação é a súmula de uma longa campanha feita pela imprensa a partir do
momento em que a palavra comunista deixou de ser título para virar palavrão. Os
países comunistas se associaram na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Estava dado o mote para associar comunismo a socialismo. Como na Europa livre
existiam as democracias socialistas, a imprensa assumiu a palavra socialismo para
designar tanto os sistemas do Leste como do Oeste. Assim sendo, Olof Palme, Felipe
González ou François Mitterrand eram socialistas ao mesmo título que Brejnev,
Ceaucescu ou Envers Hodja. Com este sofisma, ficava claro – pelo menos para o
Terceiro Mundo desinformado – que o mundo todo rumava ao socialismo.

O cineasta argentino Garcia Videla, que está produzindo no México um filme sobre
Trotsky, é mais prudente que Tarso Genro. Jamais ousaria falar em ventura stalinista:
"Deve-se evitar que o comunismo e o marxismo se identifiquem com o stalinismo, ou
seja, com uma crueldade absoluta e uma destruição total dos princípios humanistas
do socialismo". Observe o leitor a falácia do argumento. Primeiro, dissocia stalinismo
de comunismo e marxismo, como se Stalin não fosse o grande líder dos comunistas e
marxistas do século passado. Segundo, na mesma frase pula para os “princípios
humanistas do socialismo”, naturalmente identificados com o comunismo e o

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marxismo. As grandes mentiras morrem sempre devagar.

O último eufemismo a ser empunhado pelos petistas é republicano. As reformas do


governo petista não são mais de esquerda. Parece que esta palavra – da mesma forma
que suas congêneres, comunismo e socialismo – está sumindo pelo ralo. Salvo engano
meu, a nova grife foi enunciada pela primeira vez pelo mago das palavras, Tarso
Genro, quando anunciou como “democrático e republicano” o projeto de reforma
universitária proposto por seu ministério. O governo parece ter gostado do adjetivo e
hoje não passa dia sem que algum áulico do Planalto não encha a boca com a
palavrinha. Mas ela parece não ter muito futuro pela frente. Começa associada ao
mais colossal esquema de corrupção já denunciado nos países ocidentais. Salvo nos
regimes socialistas soviéticos, onde o PC exercia poderes absolutos e a corrupção era
norma, não tenho lembrança de uma rede assim abrangente. Na atual Rússia, por
exemplo, a corrupção não surpreende ninguém, afinal não faz parte do sistema. É o
próprio sistema. E para lá estávamos seguindo, não fosse a denúncia de Roberto
Jefferson. Nunca uma nação deveu tanto a um canalha.

Lula, por sua vez, tenta comparar-se aos nomes que um dia ocuparam a Suprema
Magistratura da nação. Comparou-se primeiro a Getúlio Vargas e depois a Juscelino
Kubitschek. Desastradas comparações. Se tivesse um dia se debruçado sobre algum
livro de História do Brasil, saberia que Getúlio derrotou os comunistas na Intentona
de 35, quando Stalin enviou seus agentes assessorando Prestes, o assassino de Elza
Fernandes, para fazer deste país mais uma republiqueta soviética. Lula, por sua vez,
preencheu seu ministério com bolcheviques históricos, criminosos de longa folha
corrida, transfigurados em heróis pelo trabalho de desinformação do PT.

Juscelino, como Lula, nasceu pobre. Mas deu-se ao trabalho de estudar e formou-se
em Medicina, ao contrário do Supremo Apedeuta, diplomado em demagogia barata
nas escolas do sindicalismo. Em verdade, tem algo em comum com Lula. Foi em seu
governo que os comunistas, a começar por Niemeyer, começaram a tomar pé em
Brasília. Lula evita, por um mecanismo psicológico perfeitamente compreensível, o
único paralelo pertinente: sua biografia está, hoje, intimamente ligada à de Fernando
Collor de Mello.

Hélio Bicudo, um dos vultos históricos do PT, acaba de declarar que Lula “é mestre
em esconder a sujeira debaixo do tapete. Sempre agiu dessa forma”. Se sempre agiu
assim, Bicudo sabia disto desde sempre. Por que só conta agora, quando o Líder
Máximo de seu partido está naufragando? Tivesse nos contado antes, nos teria
poupado este desastre nacional.

Falei em Kerenski. Para ilustração dos mais jovens, Aleksander Kerenski foi o chefe
do Governo Provisório, instalado em julho de 1917 na Rússia, que precedeu a tomada
definitiva do poder por Lênin e Trotsky, em novembro do mesmo ano. Quando evoca-
se Kerenski, quer-se sinalizar a instalação próximo de uma ditadura comunista. A
bem da verdade – e discordando de muitos articulistas deste jornal – não consigo ver
esta ameaça pela frente. O Brasil de hoje não admitiria médicos ou professores
universitários ganhando 15 dólares por mês, nem médicas ou engenheiras tendo de
vender o próprio corpo para arredondar as contas de fim de mês.

Ditadura aos moldes soviéticos, não acredito. Mas as ditaduras têm muitas faces.
Quem está pintando como candidato a tiranete é o atual presidente do PT, cuja
primeira proposta ao tomar posse do cargo foi a de que todos os ministros a ele
prestassem contas de seus atos. Seria o caso de perguntar-se para que serve então o
presidente da República. Tarso Genro tem ambições presidenciais e está aplainando o

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campo para sua candidatura. Pelo que saibamos, jamais repudiou a “ventura
stalinista”. Há quem tema, em caso de impeachment, um governo de Severino. Ora,
Severino é um simplório “coroné” nordestino, sem preparo algum para gerir o que
quer que seja, muito menos uma ditadura. Não é o caso de Tarso, o último stalinista
impenitente a tentar estancar a sangria de um partido que nasceu totalitário e ora
agoniza num mar de lama. Como neste país basta um marqueteiro de talento para
fazer um presidente, o risco existe.

São Paulo, agosto de 2005.

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