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GRUPO EDUCACIONAL UNINTER


PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA
COM ÊNFASE EM SAÚDE DA FAMÍLIA

AMPUTAÇÃO DE MEMBROS INFERIORES EM IDOSOS ATENDIDOS NO


SERVIÇO DE REABILITAÇÃO FÍSICA DE BAGÉ - RS

CRISTIANA KOVALSCKI BUENO

BAGÉ
JUNHO DE 2012
2

CRISTIANA KOVALSCKI BUENO

AMPUTAÇÃO DE MEMBROS INFERIORES EM IDOSOS ATENDIDOS NO


SERVIÇO DE REABILITAÇÃO FÍSICA DE BAGÉ - RS
ARTIGO

Artigo apresentado ao Curso de


Especialização, a nível de Pós-Graduação, do
Grupo Educacional Uninter, como requisito
parcial para obtenção do título de Especialista
Saúde Pública.

BAGÉ
JUNHO DE 2012
3

AMPUTAÇÃO DE MEMBROS INFERIORES EM IDOSOS ATENDIDOS NO


SERVIÇO DE REABILITAÇÃO FÍSICA DE BAGÉ - RS
Cristiana Kovalscki Bueno1
Profª. Lisiane Lange da Silva2
RESUMO
Este trabalho, que foi realizado com base em um estudo bibliográfico e descritivo,
utilizando inicialmente uma pesquisa exploratória e como complemento uma
pesquisa de campo, cujo objetivo foi destacar a importância do diabetes melito como
principal fator de risco para amputação de membros inferiores em idosos, tendo
como parâmetros os pacientes atendidos no Serviço de Reabilitação Física (SRF) de
Bagé, RS, no período de 2006 a 2010. Foram investigados 317 idosos com faixa
etária acima de 60 anos, cuja prevalência foi de pacientes na faixa de 60-70 anos,
seguindo-se a faixa etária de 71-80 anos, com maioria de sujeitos do sexo
masculino. De todos os pacientes amputados, 68 tiveram como causa da amputação
o diabetes. O nível de amputação mais encontrado foi no terço médio superior da
coxa, contrariando a maioria dos estudos consultados.
Palavras chave: Diabetes - Amputação - Doença vascular.

Introdução

O diabetes melito constitui um grave problema de Saúde Pública a nível


mundial, não só pela sua crescente incidência, como também pela elevada
morbidade e mortalidade associadas.Segundo dados da SBD (2009), no Brasil, o
diabetes melito atinge um nível estimado de 14% e encontra-se em um total de 350
milhões de pessoas no mundo todo. Aproximadamente 40% dos indivíduos
diabéticos podem desenvolver posteriormente complicações tardias da sua doença
(PERDIGÃO, ROSA e SOUZA, 2002).
Por outro lado, estima-se que cerca de 15% da população diabética tenha
condições favoráveis ao aparecimento de lesões nos pés, nomeadamente pela
presença de neuropatia sensitivo-motora e de doença vascular aterosclerótica.
Muitas vezes, esse quadro evolui para uma amputação (MATTOS, 2009).
Os programas de controle da doença, desenvolvidos em todo mundo, com
destaque o brasileiro (SANTOS-VIEIRA, 2008), têm como principal objetivo reduzir
ou atrasar o aparecimento das principais complicações da doença, contribuindo para
a redução do número de anos de vida perdidos por complicações do diabetes, tais
como as amputações não traumáticas acima dos tornozelos.
Estima-se ainda que, no Brasil, possam ocorrer anualmente milhares de
amputações não traumáticas dos membros inferiores, resultando num esforço
1
Fisioterapeuta do Estratégias Saúde da Família.
2
Professora Orientadora do TCC.
4

acrescido do membro remanescente (SBD, 2009), que iniciará problemas em


apenas um ano e meio, quer se tenha provido ou não de prótese o membro
amputado (MATTOS, 2009). Decorridos cinco anos sobre a primeira amputação,
mais de metade dos doentes já terão sofrido amputação contralateral (ORLOWSKI,
2007).
Os casos de amputação por qualquer tipo de causa são tratados, em Bagé-
RS, pelo Serviço de Reabilitação Física (SRF), serviço público ligado ao Poder
Público que viabiliza a protetização de amputados e o trabalho de reabilitação física.
No entanto, Mattos (2009) salienta que não apenas o tratamento da amputação é
importante, como a sua prevenção e, para isso, é necessário conhecer as
características dos amputados e destacar os fatores de risco que recorrem para as
amputações.
Sendo assim, o objetivo do estudo foi destacar a importância do diabetes
melito como principal fator de risco para amputação de membros inferiores em
idosos, tendo como parâmetros os pacientes atendidos no Serviço de Reabilitação
Física (SRF) de Bagé, RS, no período de 2006 a 2010.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2009), esta doença
atingiu, até 2004, aproximadamente 7,6% da população brasileira entre 30 e 69 anos
de idade, sendo que aproximadamente 50% dos portadores desconheciam o seu
diagnóstico e 24% dos conhecedores da sua patologia não realizavam qualquer tipo
de tratamento. Apesar de uma melhora nestes quadros, com ampliação dos serviços
públicos de assistência, ainda é grande o número de pacientes que só procura os
serviços de saúde em estágios avançados da patologia, sendo esta a maior causa
das amputações de membros inferiores por diabetes melito (MATTOS, 2009).

Revisão de Literatura

Bortoletto et al. (2009) descrevem o diabetes melito (DM) como uma síndrome
de etiologia múltipla decorrente da falta e/ou incapacidade de a insulina exercer
adequadamente seus efeitos, caracterizado por hiperglicemia crônica, com
distúrbios do metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. A sua crescente
prevalência é alarmante. Calcula-se que em 2.010 tenham existido cerca de 11
milhões de diabéticos no país (BRASIL, 2006), não havendo números preciso
5

porque muitos portadores da patologia não recorrem aos serviços de saúde


enquanto não há agravo da mesma.
A Enciclopédia Barsa (BARSA, 2008) conceitua o diabetes como uma doença
que impede o organismo de assimilar suficientemente a glicose fornecida pela
nutrição; desse modo, os níveis do açúcar no sangue se elevam acima dos limites
fisiológicos normais, com a conseqüente manifestação de sintomas mais ou menos
graves. Modernamente, diferenciam-se dois tipos de diabetes fundamentais: o
melittus, também chamado de diabetes sacarino, e o insípido, ao lado de algumas
variedades secundárias.Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 1999),
caracteriza-se por hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos
carboidratos, lipídeos e proteínas.
Para Soares (apud ORLOWSKI, 2007), o diabetes é uma doença que
preocupa, já que o tratamento depende do estilo de vida e cuidados adotados pelo
paciente para evitar complicações. Por outro lado, estudos referidos por Gamba et
al. (2004) indicam que a ulceração dos pés precede cerca de 85% das amputações
da extremidades inferiores (AEI).
O DM, segundo Gonçalves et al. (2006), é uma doença crônica e complexa,
cujo bom controle é fundamental para a qualidade de vida da pessoa e que
comprovadamente depende, para que isto ocorra, de um suporte social onde a boa
relação médico-paciente tem um papel de grande importância na adesão ao
tratamento. Representa, segundo Gross et al. (apud BORTOLETTO et al., 2009),
numa das principais causas clínicas de hospitalização no Brasil, o que implica altos
custos financeiros. Suas manifestações crônicas são causas frequentes de invalidez
precoce.
Segundo Gamba et al. (2004), pode atingir todas as pessoas, tendo neste
contexto o agravante de que o número de diabéticos não diagnosticados e os mal
controlados agem como coadjuvantes no aumento da morbimortalidade, em
decorrência do aparecimento precoce de suas complicações.
A causa da falência na produção ou no modo de atuação desse hormônio não
é conhecida, mas estão demonstradas implicações de caráter genético-hereditário.
Também influenciam o desenvolvimento desse processo patológico o exercício físico
e a qualidade da alimentação (SBD, 2009).
Estudos referidos por Gamba et al. (2004) indicam que a ulceração dos pés
precede cerca de 85% das amputações da extremidades inferiores (AEI). A longa
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duração da doença, a hiperglicemia prolongada, a dislipidemia, os hábitos de fumar


e ingerir bebida alcoólica, a presença de neuropatia, de doença vascular periférica e
de lesões ulcerativas prévias são alguns dos fatores de risco para AEI em pessoas
com (DM).
As complicações crônicas incluem a nefropatia, com possível evolução para
insuficiência renal, a retinopatia, com a possibilidade de cegueira e/ou neuropatia,
com risco de úlceras nos pés, amputações, artropatia de Charcot e manifestações
de disfunção autonômica, incluindo disfunção sexual. Pessoas com diabetes
apresentam risco maior de doença vascular aterosclerótica, como doença
coronariana, doença arterial periférica e doença vascular cerebral (SBD, 2001).
A SBD (2001) sugere os seguintes fatores de risco para o DM: idade > 45
anos; história familiar de DM (pais, filhos e irmãos); excesso de peso (IMC
>25kg/m2); sedentarismo; HDL-c baixo ou triglicérides elevados; hipertensão arterial;
DM gestacional prévio; macrossomia ou história de abortos de repetição ou
mortalidade perinatal; uso de medicação hiperglicemiante.
Neto e Nery (2005) ainda acrescentam como fatores de risco a doença
coronariana antes dos 50 anos, a síndrome de ovário policístico e o baixo peso ao
nascer, diminuindo o patamar da idade para >40 anos. Os critérios diagnósticos
estão baseados nas novas recomendações e incluem valores de glicemia de jejum
medidos no soro ou plasma (MELLO, 1999). Valores de glicose plasmática 2h após
75g de glicose oral acima dos limites normais de 140mg/dl e particularmente acima
de 200mg/dl constituem um fator de risco importante para o desenvolvimento de
eventos cardiovasculares mesmo em indivíduos com glicose plasmática em jejum
dentro dos limites normais (<110mg/dl). Esta situação é relativamente freqüente em
indivíduos com mais de 60 anos (ZAVALA e BRAVER, 2008).
Estudos evidenciam que o consumo de derivados do tabaco causa cerca de
50 doenças diferentes, principalmente as doenças cardiovasculares (SBD, 2003). O
sedentarismo tem sido apontado por vários autores como causa de várias doenças,
especialmente as ligadas ao aparelho cardiocirculatório (LOPES et al., 2004).
Segundo Robbins et al. (2005), são: diabetes melito insulino-dependente
(DMID) ou tipo I: ocorre mais freqüentemente entre os jovens. Caracteriza-se por
ausência absoluta, grave de insulina; diabetes melito não insulino-dependente
(DMNID) ou tipo II: é mais comum atingindo os adultos, pessoas com antecedentes
familiares de diabetes ou com excesso de peso. Caracteriza-se por secreção
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comprometida de insulina, resistência à insulina dos tecidos periféricos. A DM


gestacional é a diminuição da tolerância à glicose, de magnitude variável,
diagnosticada, pela primeira vez, na gestação, podendo ou não persistir após o parto
(SDB, 2001).
Gonçalves et al. (2006), aponta a arteriosclerose como complicação
macrovascular prevalente no diabetes melito, que envolve as artérias cerebrais e
grandes artérias periféricas das extremidades inferiores. Dentre as patologias
vasculares, podem ser citadas as doenças arteriais, venosas ou linfáticas. As
doenças arteriais são as mais comuns, como a arteriosclerose obliterante periférica
e a tromboangeíte obliterante (BORTOLETTO et al., 2009).
O pé diabético tem características fisiopatológicas multifacetadas, decorrente
da combinação da neuropatia sensitivo-motora e autonômica periférica crônica,
associada à doença vascular periférica e com as alterações biomecânicas que
conduzem à pressão plantar anormal (KOZAK, apud BORTOLETTO et al., 2009).
Fidelis (apud GAMBA et al., 2004) conceitua “pé diabético" como a infecção,
ulceração e/ou destruição de tecidos profundos associados com anormalidades
neurológicas e vários graus de doença vascular periférica no membro inferior.
Fowler (apud CAIAFA, 2005) destaca o pé diabético como um a patologia muito
mais comum entre diabéticos do tipo 2 (não insulino-dependentes), mas o autor
salienta que qualquer diabético, seja do tipo 1 ou não, está sujeito ao
desenvolvimento de úlcera nos pés, com posterior necessidade, por agravamento,
de amputação.
Assim, uma das consequencias mais graves do diabetes é a amputação de
membros decorrente do avanço da doença. Spichler (apud CARVALHO et al., 2005)
estima que, no Brasil, a incidência de amputações seja de 13,9 por 100000
habitantes/ano. Acredita-se em que, dentre todas as amputações, as de membros
inferiores ocorre em 85% dos casos (BRITO et al., 2005).
Segundo dados epidemiológicos referidos pelo Ministério da Saúde (BRASIL,
2006), o pé diabético é responsável por 50% a 70% das amputações não
traumáticas em membros inferiores e 15 vezes mais frequentes entre os diabéticos,
concorrendo com 50% das internações hospitalares.
As transformações pela mutilação, proveniente de uma amputação, são
percebidas em âmbito global na medida em que os indivíduos se vêem de alguma
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forma menos independentes; podendo provocar ou aumentar as dificuldades que


serão proporcionais às suas limitações (EPHRAIM et al., apud DIOGO, 2003).
Dessa maneira, as amputações de extremidades inferiores se constituem num
problema de saúde pública, devido à sua alta frequência e principalmente, pela
incapacidade que provoca, tempo de hospitalização com tratamento oneroso,
gerando repercussões de ordem social e psicológica para os pacientes, podendo
trazer muitas alterações em relação à qualidade de vida destas pessoas e seus
familiares (SANTOS, VIEIRA, 2008).
Os níveis de amputações de MMII, segundo Azevedo e Fonseca (apud
MATTOS, 2009) são: parcial dos dedos do pé; desarticulação do dedo do pé;
transmetatársica; Symes; abaixo do joelho - longa; abaixo do joelho - curta;
desarticulação do joelho; acima do joelho - longa; acima do joelho - curta;
desarticulação coxofemoral; hemipelvectomia; hemicorporectomia (dificilmente
utilizado).

Metodologia

Pesquisa transversal, de caráter descritivo, cujo procedimento de ação


desenvolveu-se através de um levantamento dos prontuários dos pacientes e
posterior descrição dos dados. O objeto de estudo foi a relação do diabetes melito
com a amputação de membros inferiores em idosos atendidos no SRF de Bagé-RS,
no período de 2006 a 2010.
A população-alvo da pesquisa foram os indivíduos amputados assistidos no
SRF de Bagé – RS. Destes, 138 foram amputados de membros inferiores por
diversas causas. A amostra, portanto, foi composta por 138 sujeitos, de idades
diversas e ambos os sexos, escolhidos de forma intencional, contemplando todos os
indivíduos idosos amputados assistidos pelo SRF no período de 2006 a 2010,
sendo, portanto, a totalidade dos indivíduos. A coleta de dados junto ao SRF de
Bagé-RS, a partir dos prontuários de pacientes do Serviço atendidos no período da
pesquisa foi realizada entre os meses de novembro e dezembro de 2011.
Para a realização da pesquisa foi solicitada autorização da direção do SRF,
com o comprometimento da pesquisadora de não divulgar dados pessoais de
pacientes, considerando-se os preceitos éticos de pesquisa.
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Os dados dos pacientes foram anotados em uma planilha de dados elaborada


pela pesquisadora, com base nos trabalhos de Santos-Vieira (2008), contendo o
primeiro nome, idade, sexo, cidade de origem, patologia que levou à amputação,
nível de amputação, uso de álcool e tabaco.

Resultados

O Centro de Reabilitação Física (SRF) de Bagé-RS é um dos cinco existentes


no Rio Grande do Sul, e, de acordo com Cury (2008), o centro realiza doações
durante todo o ano. Os pacientes investigados neste estudo são provenientes de 40
municípios atendidos pelo SRF, sendo realizados 2.158 atendimentos no período da
pesquisa. Com relação a idosos a partir de 60 anos, foram encontrados 317
indivíduos (Gráfico 1 e 2). Destes, 138 sofreram amputações de membros inferiores
em diversos níveis (Gráfico 3), como consequência de trauma, osteomielite,
distúrbios circulatórios e diabetes, sendo 106 do sexo masculino e 32 do sexo
feminino (Gráfico 4), dos quais 68 sofreram amputação, tendo como causa diabetes.
A pesquisa, portanto, foi realizada com 318 pacientes atendidos no SRF, no
período de janeiro de 2006 a dezembro de 2010, cujas características de sexo e
idade são apresentadas nos gráficos 1 e 2.

Idade
175
200
108
150
100 31
50 4
0

Gráfico 1. Perfil da amostra quanto à idade.

Sexo
178
200 140
150
100
50
0
Masculino Feminino

Gráfico 2. Perfil da amostra quanto ao sexo.


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Amputações de MMII

318
400
300
138
200
100
0
Total Amputações

Gráfico 3. Indivíduos idosos x Idosos amputados.

Amputações de acordo com o sexo

150 106
100
32
50
0
Masculino Feminino

Gráfico 4. Indivíduos idosos amputados conforme o sexo

Quanto à idade, a prevalência está na faixa de 60-70 anos, seguindo-se a


faixa etária de 71-80 anos. Esses dados são coincidentes com os estudos de
Bortoletto et al. (2009) e Santos-Vieira (2009) que investigaram a prevalência de pé
diabético e sua relação com amputações em pacientes idosos.
A prevalência do diabetes é em indivíduos acima dos 40 anos (DIOGO, 2003),
sendo que o avanço da idade se torna um dos fatores de risco (NUNES, 2006),
aliados à alimentação (ORLOWSKI, 2007) e aos hábitos errados e vícios, além da
falta de uma atividade física regular (PEDRINELLI e TEIXEIRA, 2005). A SBD (2001)
salienta a idade acima dos 45 anos como fator de risco para o diabetes, aliada a
outros componentes.
Quanto ao sexo, a prevalência de indivíduos do sexo masculino também foi
relatada nos trabalhos de Gonçalves et al. (2006) e Mattos (2009), que relacionaram
o maior consumo de álcool e tabaco pelos homens em relação às mulheres nesta
faixa etária. Milman et al. (apud GIRASOL, 2008) comentam fatores como idade,
problemas no coração e rim, assim como o consumo de álcool e tabaco como
favorecedores do desenvolvimento da patologia e o agravamento da sintomatologia
do diabetes melito.
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As doenças prevalentes nos pacientes encaminhados ao SRF (Gráfico 5) são


diabetes (23,02%), AVC (21,45%), doenças vasculares (12,74%) e patologias
relacionadas à coluna (9,15%) e outras causas (44,64%). A maioria dos pacientes
provém de Bagé (51,10%), seguida de Pelotas (11,36%) e Rio Grande (5,68%),
entre outras.

85 Patologia
100 78
80 58 52 45
60
40
20
0
AVC Diabetes Trauma Coluna Vascular

Gráfico 5. Patologias prevalentes em pacientes do SRF.

Segundo Krause et al. (2005), o portador de DM é susceptível a uma série de


complicações causadoras de mortalidade e/ou morbidade prematuras. Alguns
pacientes podem nunca desenvolver estes problemas, mas outros notam o início
precoce; na maioria dos casos, estas complicações levam 15 a 20 anos para se
manifestar.
O diabetes tem se constituído numa das principais doenças no contexto da
saúde pública, tendo em vista sua prevalência e consequências do não tratamento
adequado. De acordo com Santos-Vieira (2008), é comum seu aparecimento a partir
dos 45 anos, mas é muito prevalente depois dos 60. Em muitos casos, o acidente
vascular cerebral (AVC) e as doenças vasculares em geral, especialmente as
relacionadas aos membros inferiores, têm origem no diabetes ou a ele estão
associadas (MATTOS, 2009).
Augusto et al. (2002) apontam como principais complicações imediatas do DM
a Cetoacidose metabólica, causada pela carência de insulina absoluta ou relativa,
quando as necessidades de insulina aumentam. O catabolismo dos lipídeos
(triglicerídeos) é responsável pela produção de corpos cetônicos, que levam a uma
acidose metabólica. Clinicamente, a cetoacidose se manifesta por anorexia, náuseas
e vômitos, taquipnéia, associados a um aumento da diurese com conseqüente
desidratação. Pode haver dor abdominal e, se não for tratada, podendo levar ao
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coma; o Coma hiperosmolar: ocorre geralmente no DM1 e se caracteriza por


desidratação profunda, hiperglicemia acentuada, ausência de acidose metabólica e
alterações do nível de consciência, podendo chegar também ao coma.
Complicações importantes no DM, de acordo com Mattos (2009), são a
doença coronariana, doença vascular periférica e doença cerebrovascular, muito
comuns, ocorrendo em uma idade precoce e tendendo a ser mais intensa e severa
nos pacientes diabéticos. Muitas resultam de intervenção de diabetes,
hipercolesterolemia, hipertensão e fumo.
Quanto aos níveis de amputação nos casos de diabetes, constatou-se que a
prevalência é no terço médio inferior da coxa, sendo considerável o índice de
amputação ao nível inferior médio da tíbia (Tab. 1).

Tabela 1.
Níveis de amputação por diabetes em pacientes atendidos no SRF
Nível de amputação Número de casos Percentual (%)
1/3 superior médio da coxa 8 11,76
1/3 inferior médio da coxa 22 32,35
1/3 superior médio da tíbia/perna 14 20,59
1/3 inferior médio da tíbia/perna 15 22,06
Bilateral 6 8,82
Pé 3 4,41
Total 68 100,00

Os dados do estudo mostram que a maioria dos pacientes sofreu amputação


ao nível inferior médio da coxa, coincidindo com os estudos realizados por Carvalho
et al. (2005), Gamba et al. (2004), e Girasol (2008). Neste último, o percentual
levantado entre 2006 e 2008 chegou a 42,58%. O nível mais proximal aceito para
esta amputação é de um coto ósseo de 8cm abaixo do trocanter menor, mantendo
preservada a inserção do músculo ilíaco, Os cotos mais distais apresentam uma
alavanca maior e, consequentemente, maior controle sobre a prótese (DIOGO,
2003). Pinto (apud GIRASOL, 2008) refere que os amputados transfemurais
apresentam durante a marcha um gasto energético 65% maior que os cidadãos não
amputados.
No entanto, os estudos de Pastre et al. (2005), dentre os níveis de
amputação, a mais frequente é a transtibial. Neste caso, a amputação é realizada
entre a desarticulação tibiotársica e a do joelho, devendo ser considerada, para cada
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nível (terço proximal, médio e distal), a importância funcional da articulação do joelho


na reabilitação e na deambulação dos pacientes amputados (GIRASOL, 2008).
Gamba et al. (2004) referem as amputações transfemurais nos seguintes
níveis: acima do joelho - longa - retira-se mais de 60% do comprimento do fêmur;
acima do joelho - curta - retira-se menos de 35% do comprimento do fêmur;
desarticulação Coxofemoral - retira-se totalmente o fêmur.
Bortoletto et al. (2009), salientam que as amputações a nível proximal de tíbia
e proximal ou distal da coxa, em geral, já têm precedentes de amputações. Estas
começam pelos dedos, pé e vão progredindo, até chegar ao nível da coxa. Dentre as
vantagens das amputações transtibiais quando comparadas a amputações mais
altas, Carvalho (2003) cita a manutenção da articulação do joelho, menor gasto
energético durante a marcha, facilidade para colocação/remoção de prótese e
marcha mais fisiológica.
Dentre os 138 indivíduos com patologias que foram submetidos à amputação,
o diabetes aparece como a principal causa (49,27%) seguida dos problemas
vasculares, trauma, além de outras causas (Gráfico 6).

Determinantes da amputação
68
80
60 31
40 18 12
9
20
0

Gráfico 6. Causas determinantes da amputação de MMII.

Os dados mostram que o diabetes, como causa determinante da amputação


de membros inferiores (49,27%), tem prevalência sobre as demais, seguida dos
problemas vasculares (22,41%), trauma (13,04%), causas infecciosas (6,52%), e
sem causa definida (8,70%).
Conforme May (apud GIRASOL, 2008), a principal causa de amputações de
membro inferior é a doença vascular periférica (DVP), particularmente quando está
associada ao tabagismo, alcoolismo e diabetes. Dados referidos pela SDB (2003;
2009), dão conta de que em praticamente todos os países desenvolvidos, o diabetes
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é uma das principais causas de cegueira, falência renal e amputações de membros


inferiores, assim como de morte, devido aos seus efeitos sobre as doenças
cardiovasculares (70-80% das pessoas com diabetes morrem de doenças
cardiovasculares).
Segundo a SBD (2001), as consequências do DM a longo prazo decorrem de
alterações micro e macrovasculares que levam a disfunção, dano ou falência de vá-
rios órgãos. Nunes et al. (2006) relatam casos de complicações crônicas, como a
nefropatia, com possível evolução para insuficiência renal, a retinopatia, com a
possibilidade de cegueira e/ou neuropatia, com risco de úlceras nos pés e
amputações. Pessoas com diabetes apresentam risco maior de doença vascular
aterosclerótica, como doença coronariana, doença arterial periférica e doença
vascular cerebral (GIRASOL, 2008), podendo-se inferir uma relação dos casos de
AVC e trombose descritos neste estudo como associados ao diabetes e que levaram
também à amputação.
A doença vascular periférica, uma das causas de amputação nos pacientes
deste estudo, é mais frequente em pessoas idosas (LOPES et al., 2004). As causas
de insuficiência circulatória mais comuns, neste caso, que levam a uma amputação
são diabetes, arteriosclerose, embolias, tromboses arteriais maciças e aneurismas
arteriovenosos (GIRASOL, 2008). Segundo o National Commissionon Diabetes, “5 a
15 % dos diabéticos realizarão alguma forma de amputação no decorrer de suas
vidas” (LOPES et al., 2004, p. 4).
De acordo com Gonçalves et al. (2006), a doença vascular associada ao DM
pode ser inespecífica (macrovascular) ou específica (microangiopatia). A primeira
envolve, principalmente, grandes vasos, enquanto a última se localiza em pequenos
vasos e pode ser vista em pacientes de todas as idades.
O diabetes exige muito do sistema vascular, do início ao decorrer de 10 a 15
anos de doença, e a maioria dos diabéticos desenvolve significativas anormalidades
vasculares (MATTOS, 2009). São afetados vasos de todos os tamanhos, desde a
aorta até as menores arteríolas e capilares.
Gonçalves et al. (2006) referem provavelmente a arteriosclerose no DM como
a complicação macrovascular, que envolve as artérias cerebrais e grandes artérias
periféricas das extremidades inferiores, sendo as mais comuns a arteriosclerose
obliterante periférica e a tromboangeíte obliterante. Dessa forma, os casos de
doença vascular relatadas como causas de amputações, podem ter relação ainda
15

com o diabetes, apesar de não ter sido considerada esta patologia como o principal
indicativo do processo.
Atualmente, o número de amputações causadas pelo diabetes é muito alto,
pois conforme dados da Associação Nacional dos Diabetes (ORLOWSKI, 2007), a
cada 30 segundos ocorre uma amputação de membros inferiores em consequência
da doença e cerca de 40% a 70% de todas as amputações de membros inferiores
são decorrentes do diabetes. Segundo Girasol (2008), a prevenção e o diagnóstico
são de suma importância e o cuidado adequado com os pés reduz significativamente
o risco de amputação. A grande maioria desse tipo de complicação é precedida por
úlceras nos pés.

Conclusão

Sendo o diabetes uma doença que atinge cerca de cinco milhões de


indivíduos no Brasil hoje, segundo dados do Ministério da Saúde (2006), e levando-
se em consideração que metade não sabe que é portador da doença, esta patologia
torna-se um sério problema de saúde pública e sua evolução, às vezes, traz
consequências sérias ao paciente, evoluindo na maioria dos casos para processos
de amputação de membros.
Por isso, o trabalho do SRF de Bagé, através de sua equipe de reabilitação,
procura readaptar os amputados no trabalho de deambulação e forma de encarar a
vida com melhores oportunidades e perspectivas. Pode-se considerar que o trabalho
desenvolvido no SRF é de grande interesse e amplitude, atingindo uma parcela
significativa de indivíduos e se constituindo em centro de referência no Estado.
Atendendo ao objetivo deste estudo, tendo como base no levantamento dos
prontuários de pacientes atendidos neste serviço durante o período de 2006 a 2010,
constatou-se que o diabetes a patologia mais prevalente na indicação de amputação
de membros inferiores em idosos a partir dos 60 anos, constituindo-se em
importante problema de saúde pública. O estudo mostrou ainda que muitos casos de
doenças vascular podem ter relação direta com o diabetes e que o nível de
amputação mais incidente é no terço medial da coxa, contrariando a maioria dos
dados constantes na literatura.
Neste contexto, conclui-se que sendo o diabetes a principal causa de
amputação de membros inferiores, individualmente ou associada a outro agravo, a
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prevenção e o controle são fundamentais para evitar consequências maiores,


especialmente em pacientes idosos.

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