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invalidar.

A não-inclusão de clausulas constantes depois da assinatura do aderente por ser de


conhecimento oficioso.

A inserção, no contrato singular, das cláusulas referenciadas no artigo 8º da LCCG, põe o


problema da sua subsistência.

O princípio básico, no domínio das ccg, é o do maior aproveitamento possível dos


contratos singulares: são relevantes e até vitais para os aderentes, os quais seriam mesmo
prejudicados quando o legislador, querendo pôr a cobro a injustiças, viesse multiplicar as
nulidades. O principio em causa aflora nos artigos 9 e 13.

O art 9 da LCCG determina que, quando se assista à não-inclusão de cgg nos contratos
singulares, por força do art 8, estes se mantenham, em principio. Nas áreas desguarnecidas pela
exclusão, haverá que recorrer, conforme os casos:

-às regras supletivas aplicáveis;

-às regras de integração dos negócios jurídicos;

Caso estas soluções sejam insuficientes ou conduzam a resultados contrários à boa fé, a
nulidade é inevitável, art 9/2. Resultados contrários à boa-fé ocorrem sempre que, na falta da
cláusula excluída, o contrato fique de tal modo desarticulado ou desequilibrado que perca o seu
sentido útil ou que origine uma grave perturbação no seu equilibro interno.

Interpretação e integração
O artigo 10º da LCCG dispõe sobre a interpretação e a integração das ccg, remetendo para o
artigo 236º e seguintes; este preceito releva dois níveis:

-impede as próprias ccg de engendrarem outras regras de interpretação- conteúdo


dispositivo próprio;

-remete para uma interpretação que tenha em conta apenas o contrato singular- cerce
uma dúvida bem conhecida da doutrina especializada e que se prende com o confronto entre as
tendências generalizadora e individualizadora da justiça:

generalizadora) exigiria que as ccg fossem interpretadas em si mesmas, sobretudo


quando surjam completas, de modo a obter soluções idênticas para todos os contratos
singulares que se venham a formar com base nelas;

individualizadora) abriria portas a uma interpretação singular de cada contrato em


si: as mesmas ccg poderias propiciar, conforme os casos, soluções diferentes;


O artigo 10º da LCCG aponta para a segunda solução. A prazo, isso deverá levar os utilizadores
de ccg deverão desenvolver ao pormenor os sues formulários, de modo a prevenir hiatos
interpretativos. É uma vantagem: tanto mais necessária quanto é certo que, havendo margens
interpretativas, não se torna possível tirar, das ccg, as vantagens generalizadoras que acarretam.

A necessidade de interpretar as ccg no âmbito de cada contrato em si e não no plano em que


elas se coloquem é contraditada por um certo apelo à objetivação da interpretação.Afigura-se,
hoje, necessári 5o distinguir, dentro das ccg, 3 situações básicas:

- cláusulas de negócios correntes, de execução instantânea;

- cláusulas de negócios duradouros onde não seja possível reconstruir a vontade real das
partes e os termos concretos da negociação, com exemplo na banca e nos seguros;

- cláusulas de negócios duradouros- altamente personalizados, como seguros inabituais a


grandes empresas.

O artigo 11º da LCCG precisa a temática das cláusulas ambíguas, remetendo, sem limitação,
para o entendimento do aderente normal. Esse preceito faz ainda correr, contra o utilizador, os
riscos particulares de uma ambiguidade insanável.

Os contratos singulares e as próprias cláusulas devem ser interpretadas à luz da LCCG, de modo
a evitar invalidades, em face de uma interpretação normativa integrada.

O recurso à regra contra stipulatorum, embora útil e legítimo, tende a ser matizado. Assim, só
haverá ambiguidade se as regras comuns dos artigos 236º e seguintes do CC não resolverem o
problema, de modo que elaseja efectiva. Na presença de matéria clara não há que recorrer ao art
11 da LCCG.

Controlo Interno
Generalidades
Ao aderir as ccg, o interessado faz uso da sua autonomia: é evidente que tal adesão traz,
em regra, vantagens imediatas: baixos custos de transação, rapidez e imediato desfrute de bens
e serviços. A tutela da liberdade de decisão inclui a da confiança, a ela ligada. Verifica-se que as
ccg dão vida a tipo contratuais básicos, que não tem sede legal: a vida bancária depende deles.
O seu controlo deve ser rigoroso sob pena de distorções.

As ccg não podem, todavia, ser pretexto dos valores que comportem, furtar-se à
sindicância do sistema que as reconhece e legitima. Pela sua natureza privada, elas escapam ao
controlo do público, legal e constitucional que recai sobre os diplomas do Estado. A maior
homenagem que se pode fazer ao seu relevo Econ-social é reservar para os tribunais a
ponderação do seu conteúdo. Os tribunais devem ter em conta a relação Dialética que se
estabelece entre o Dto comente e a autonomia privada, procurando um balanceamento entre os
valores em presença, tendo sempre presente 2 vertentes de justiça: individualizadora e
generalizadora. Mais, ha interesses válidos, ainda que contrapostos, os valores básicos do
ordenamento dão, sempre, a bitola de qualquer decisão. E quando a lei o diga, operam, como
pontos de referência, as regras supletivas legais que as ccg tenham pretendido pôr de lado.

Pergunta-se como ordenar o tipo de controlo confiado aos tribunais, no domínio das ccg. Trata-
se de um domínio da eficácia ou pela das LCCG da validade. Não está em causa qualquer
situação dos art 437, 280, 237, 239 e 334.

A nulidade

Facilitando os tribunais, a das LCCG veio proibir certas clausulas. O diploma de 1985,
reformado em 1995, começou por equacionar a situação das clausulas contratuais que acolham
ccg proibidas, onde no art 12 da LCCG se estabelece “as ccg proibidas por disposição deste
diploma são nulas nos termos nele previstos”. O próprio preceito indicia que não estamos
perante nulidade comuns, previstas no art 286: antes em face de um regime adaptado à realidade
em jogo.

A proibição pode ser de 2 tipos:

• Derivada da aplicação dos art 15 a 23 da LCCG, preceitos esses que definem


em abstrato as clausulas vedadas, diretamente no contrato singular onde o
problema se ponha

• Ocasionada pela previa proibição judicial feita independentemente de


situações concretas, por via e uma ação inibitória, prevista no art 25

A nulidade das ccg pode ser invocada por qualquer interessado, nos termos do art 286, e
pelo mesmo preceito deve ser declarada oficiosamente pelo tribunal?

• À partida, cada um decide se lhe convém invocar determinada invalidada

• Com efeito, a presença num contrato singular, de ccg nulas pode ser
indiferente, para o aderente: basta, por exemplo, que se trate de clausulas
previstas para eventualidades que de todo ele não saiba que vai ocorrer. Em
compensação, a invocação vitoriosa de invalidades obriga a uma
recomposição do contrato singular: operação sempre incerta e com custos de
transação. Mais, subjacente ao contrato singular, pode haver uma relação de
confiança que o particular tenha interesse em manter. Pela natureza das
coisas, se houver intervenção judicial, essa relação vai ser afectada.

• Sucede ainda que a cgg deixará de o ser se o aderente a (re)confirmar,


individualizadamente e no âmbito de uma negociação livremente consentida.
Passa de nula a válida, por mera decisão de um particular?

• A teoria clássica das invalidades não foi pensada para situações deste
tipo: carece de adaptações.

O art 12 LCCG deve ser interpretado com algum cuidado, o seu “gémeo”, o §307 do BGB, não
fala em nulidade, mas tão só em ineficácia: figura + ampla e flexível.

Aquando da sua elaboração, há 30 anos, o legislador pretendeu vincar o desvaler das ccg
proibidas, abrindo as portes às ações inibitórias; agora, há que reconstruir o pensamento
legislativo, em termos actualistas e de acordo com os elementos sistemático e teológico da
interpretação.

O art 12 da LCCG dispõe que as ccg proibida são nulas: são visadas as próprias clausulas,
independentemente de qualquer inclusão num contrato singular. Feita a interpretação, a questão
é diversa: já n se trata de cgg, mas de uma comum. Ora, esta fica na disponibilidade do aderente:
se ele podia aceitar previamente a mm clausula, com toda a validade, desde que não o fizesse
por adesão, tb a poderá consolidar à posteriori.

A conclusão é simples: as ccg proibidas são nulas, art 12. As ccsingulares provenientes de
subscrição são inválidas, mas invalidada sui generis, diferente de nulidade. Resta fixar as
especificidades dessa situação:

1ª lugar, entendemos que é anulabilidade: cabe ao aderente decidir se quer ou n impugnar


a clausula, já inserta no contrato singular. Pelas razões expostas, se pode “confirmá-la” ex ante,
acolhendo-a por negociação, também poderá fazê-lo ex post, LCCG art 13/1. No art 13/2 temos
um regime especial, onde temos 2 situações possíveis:

• Estamos em face de um contrato que integre um tipo legal, cujas regras supletivas
viessem a ser afastadas pelas ccg: tais regras retomam aplicação

• Contrato equivale a um mero tipo social, reconhecido pela prática mas ausente da lei:
faltam aí regras legais, pelo que queda recorrer à integração da lacuna negocial, art
239, interpretação complementadora, para suprir o espaço em branco resultante da
queda da clausula viciada

Estamos perante um regime claramente diferente do da nulidade comum. Justifica-se


considerá-lo sui generis.

A redução; a “redução convalidante”


O art 14 vem complementar o quadro das consequências derivadas da nulidade das ccg.
A parte aderente, confrontada com ccg inválidas, pode não optar nem por deixar a matéria
intocada, nem pela nulidade total do contrato, nem pela sua manutenção com recurso, em vez
das clausulas viciadas, ao Dto supletivo afastado, com eventual recurso às regras de integração
dos negócios. Além disso, pode ainda suceder que esta última opção, a ser feito, conduza a
desequilíbrios inexigíveis, em tais situação determina o art 14 (ver).

Em suma: nas circunstancias descritas, perante a invalidada de ccg, pode a parte


aderente optar pela redução: pela vigência do contrato sem as clausulas viciadas. A mesma
redução opera caso a substituição das clausulas vedadas por regras legais supletivas ou pelo
produto da integração negocial conduzam a “um desequilíbrio de prestações gravemente
atentatório da boa-fé”.

A redução não é fatal. A lei manda aplicar o regime ide redução dos negócios jurídicos.
Ora essa regime, previsto no art 229: “exclui a mesma (..) quando se mostre que este (negócio)
não teria sido concluído sem a parte viciada” : o utilizador de ccg, confrontado com o art 14 pode
sempre provocar a nulidade total demostrando que o negócio não seria concluído sem a parte
viciada. Este ponto é importante, para uma interpretação consequente ao art 14, prevê:

- o aderente, invocando a invalidada opte por não apelar à aplicação de regras supletivas
ou à integração negocial

- tais soluções provoquem um desequilíbrio gravemente contrário à boa fé

Há ainda a hipótese de o aderente invocar a nulidade proveniente do acolhimento de ccg


e não ser, de todo possível colmatar a lacuna daí derivada, o que pode resultar da invocação da
nulidade, uma indeterminarão insuprível de aspectos essenciais do negócio. Nessa altura, o
negócio caí in totum.

Sistema de proibições

Na proibição de certas ccg, a Lei, na redação dada pelo DL nº220/95 de 31 de Agosto,


seguiu o seguinte sistema:

• Art 15 + 16

• Adoptou um esquema diversificado de proibições concretas

A lei distinguiu, para efeitos de proibição e para além da proibição geral das clausulas
contrário à boa fé, art 15 e 16:

• art 17 e 20

A distinção tem um duplo relevo. Por um lado, permite facultar, a essas 2 categorias, uma
proteção diferenciada, com maior adaptação à sua natureza. Por outro, deixa claro que a lei
portuguesa dispensa uma proteção geral, assim se distingue da alemã.

Na proibição das clausulas, a lei, na redação dada pelo DL nº220/95 de 31 de Agosto,


adotou o seguinte sistema:

• Isolou as disposições comuns por natureza, aplicáveis a todas as relações

• Elenco determinadas proibições relativas às relações entre empresários ou


entidades equiparadas

• Passando às relações com consumidores finais, a lei determinou a aplicação


de todas as proibições já cominadas para as relações entre empresário e, além
disso, prescreveu novas proibições.

Temos, assim, um principio comum, assente na boa fé. Além disso, o dispositivo relativo
aos empresários funciona como um mínimo aplicável em todas as circunstâncias: posto o que,
tratando-se de relações com consumidores finais ou de situações não redutíveis às 1ª. Ex:
relações entre particulares, haverá aplicar várias outras proibições. No geral:

• Nas relações entre empresários deixa-se, ás partes, a maior autonomia, apesar


se prevenindo, nesse domínio, que Eças se exonerem da responsabilidade
que, porventura, lhes caiba.

• Nas relações com consumidores finais, houve que ir + longe: para além da
intangibilidade da responsabilidade, foram assegurados outros dispositivos de
proteção.

A estrutura das ccg proibidas assenta numa contraposição entre cláusulas:

• Absolutamente proibidas, art 18 e 20 da LCCG

• Relativamente proibidas, art 19 e 22 da LCCG - a referência ao “quadro


negocial padronizado” pretende explicitar que a concretização das proibições
relativas deve operar perante as clausulas em si, no seu conjunto e segundo os
padrões em jogo.

Proibição da contrariedade à boa fé


• Explicito no art 15 e concretizado no art 16 da LCCG

A remissão para a boa-fé equivale a delegar, no juíz, o poder de, perante cada clausula,
concretizar os valores gerais do sistema. Este sistema remonta à criação pretoriana dos bonde
fidei iudicia e, no campo das ccg, acolhe a experiência alemã.

No campo contratual, torna-se inviável imaginar todas as ccg que possam surgir como
inaceitáveis, perante os valores básicos do Dto. Havia, por isso, que prever uma referência geral,
com vias de concretização, que não pusessem em risco a futura evolução da matéria.

• As alíneas a) e b) configuram 2 grandes vias de concretização da boa fé: a tutela da


confiança e a primazia da materialidade subjacente, considera-se que houve aqui um
ganho perante a Lei alemã, que acentua + vincadamente este 2º aspeto. Porém, é de
sublinhar que em jogo temos sempre a procura de soluções justificadas e controladas
pelo Dto e não algo que se aproxime do arbítrio ou de uma equidade informe, no
sentido da denomina justiça do caso concreto.

Ex de clausulas inválidas por contrariedade à boa fé:

• A clausula que determine um arrendamento, para cima, da taxa de juros bancários

• A clausula que impunha um vencimento antecipado de várias obrigações, por falha


numa prestação

Articulação de proibições

O sistema geral desenvolveu-se, depois, em catálogos de proibições especificas. Das


combinações dos diversos parâmetros resultam as 4 hipóteses básicas contempladas na lei:

• Clausulas absolutamente proibidas entre empresários e equiparados, art 18

• Clausulas relativamente proibidas entre empresários e equiparados, art 19

• Clausulas absolutamente proibidas nas relações com consumidores finais, art 21

• Clausulas relativamente proibidas nas relações com consumidores finais, art 21

Proibições entre empresários


Proibições absolutas
O art 18 da LCCG nas alíneas a), b), c) e d) começa por proibir as chamadas clausulas de
exclusão ou da limitação da responsabilidade. As 4 alíneas, no seu conjunto: o legislador
pretendeu deixar, entre empresários, dominar uma autonomia privada alargada, mas com a
responsabilidade inerente aos danos causados. Boa parte das regras agora firmadas transcende
o domínio das ccg, aplicando-se a todos os contratos, independentemente do seu modo de
celebração, art 809. De todo o modo, a jurisprudência não considerou contrárias a essas
proibições as clausulas que presumam não haver culpa do banqueiro, quando se avarie uma
máquina ATM, Já são nuas as clausulas que exoneram o banqueiro de responsabilidades por uso
abusivo subsequente a furto ou a extravio: o dinheiro depositado pertence ao banqueiro.

A alínea e) - procura conseguir, por via interpretativa, aquilo que as partes não podem
diretamente alcançar. Anote-se que esta regra tem que ver com a interpretação de qualquer
preceito, provenha ele, ou não, de adesão de clausulas predipostas.

A alíneas f), g) h) e i) têm que ver com os institutos de exceção de não cumprimento de
contratos, art 428, da resolução por incumprimento, art 432, do direito de retenção, art 754, e das
faculdades de compensação, art 847 e de consignação em depósito, art 841. Trata-se de
institutos que garantem ou reforçam o cumprimento das obrigações.

A alínea j) visa evitar obrigações perpétuas ou obrigações cuja duração ficasse apenas
dependente de quem recorra às clausulas contratuais gerais. Pode sustentar-se que só são
viáveis obrigações perpétuas quando a lei o permite ou o impunha: de outro modo, as partes
estariam a despojar-se da sua liberdade.

A alínea l) pretendeu prevenir que a coberto de esquemas de transmissão do contrato, se


venha a limitar, de facto, a responsabilidade. Bastaria, na verdade, transferir a posição para uma
entidade que não tenha adequada cobertura patrimonial para, na prática, esvaziar o conteúdo de
qualquer imputação de danos.

Proibições relativas, art 19 da LCCG reporta-se a proibições relativas entre empresários.

As alíneas a) e b) têm que ver com prazos de contratos. No decurso desses prazos, uma
disparates fica submetida à vontade de outra. Em concreto, pode compreender-se que assim
deva ou possa ser. A justificação, contudo, desaparece quando os prazos sejam demasiados
alongados. O quantum admissível depende, como é claro, de cada tipo negocial em jogo.

A alínea c) proíbe clausulas penais desproporcionadas as danos a ressarcir. O art 812 já


permitia a sua redução segundo juízos de equidade. Essa solução não é imaginável perante o
tráfego negocial de massas; aí, a pura e simples nulidade das clausulas com o recurso
subsequente às regras legais supletivas permite uma solução direta, clara, fácil e justa, em cada
situação. Trata-se de uma proibição muito aplicada perante contratos de locação financeira.

A alínea d) a rapidez do tráfego de massas justifica que, por vezes, se dispensem formais
declarações de vontades, substituindo-as por outros indícios. Os comportamentos concludentes
têm aqui particular relevo, mas a situação torna-se inadmissível quando se recorra a factos
insuficientes para alicerçar a autonomia privada. Caso a caso será necessário indagar dessa
suficiência.

A alínea e) a garantia das qualidades da coisa cedida ou de serviços prestados pode ser
posta na dependência do recuso a 3º, no entanto, tal sujeição apenas irá equivaler a uma meio
oblíquo de limitar a responsabilidade. Caso a caso, haverá que o demonstrar

A alínea f) trata da denuncia: da faculdade de, unilateralmente e sem necessidade de


justificação, se pôr termo a uma situação duradoura. Essa faculdade, quando a outra parte tenha
feito investimentos ainda não amortizados, pode colocá-la nas mãos da 1ª. Assim, quando seja
injusta é nula. A jurisprudência entende que não é esse o caso perante clausulas bancárias que
permitam ao banqueiro, como proprietário dos cartões de crédito, exigir a sua restituição, em
caso de abuso abusivo/indevido. Já no campo dos seguros, foi julgada nula a clausula que
permita a denúncia sem um pré-aviso proporcionado.

O estabelecimento de um tribuna compete que envolva graves inconvenientes para uma


das partes, em razão da distância ou da língua, por exemplo, deve ser justificado por
equivalentes interesses da outra parte. Quando tão n suceda, a competente clausula é nula, nos
termos da A alínea g). MTS: tal clausula é extensiva aos tribunais arbitrais.

Em todos estes casos deve entende-se que, perante a sua concretização, toda a clausula em
jogo é afetada. Não há, pois, qualquer hipótese de se reduzir as clausulas aos máximos
admitidos pela lei das ccg: isto iria dar luar a enormes dúvidas de aplicação, nunca se podendo
conhecer de antemão o dto aplicável.

Proibições com consumidores


Proibições absolutas
Nas relações com os consumidores finais, aplicam-se as proibições acima referenciadas
e, ainda, as constantes dos art 21 e 22, com as alterações introduzidas pelo DL nº220/95 de 31
de Agosto.

As proibições das alíneas a), b) c) e d) do art 21 visam assegurar que os bens/serviços


pretendidos pelo consumidor final são de facto o que ele vai alcançar. As alíneas e), f), g) e h)
pretendem garantir a manutenção eficaz de uma tutela adequada, prevenindo a possibilidade de
recuso a vias obliquas para defraudar a lei. Particularmente visadas nas proibições judicias são
as clausulas que relativamente aos cartões bancários, alteram o art 21/f) ou estabeleçam a
veracidade dos extratos emitidos pela máquina.

Proibições relativas
Nas relações com consumidores finais não se trata apenas, de negar a exclusão de
responsabilidade: há que, pela positiva, assegurar a própria obtenção do bem, já que a obtenção
de uma indemnização é, aqui, problemática. As diversas alíneas especificam pontos nos quais,
segundo a experiência, os consumidores + facilmente podem ver em perigo a sua posição.
Assim, é nula a clausula inserida em condições gerais bancárias e que permita ao banqueiro, sem
pré-aviso, cancelar um cartão de crédito, art 22/1/b)

Isenções Legais
A LCCG compreende algumas regras especificamente financeiras. Tratam-se de regras
que visam permitir uma maior liberdade de ação à banca e às seguradoras: pressupõe-se que os
perigos acrescidos que, daí, resultam para os particulares são contrabalançados pelos poderes
de supervisão que a ei confere ao Banco de Portugal e ao instituo de seguros de Portugal.

O art 22/1 da LCCG, nas suas alíneas c) e d) considera relativamente proibidas as


clausulas (Ver)

Neste seguimento, o nº2 do mm art, ressalva, em derrogação da alínea c), em causa (ver)

Esta última isenção opera perante a atividade bancária e em face de determinados


seguros. Há, contudo, que assegurar a informação prévia.

Por seu turno, o art 22/3 da LCCG ressalva, em derrogação das alíneas c) e d) do nº1
(Ver). Num e noutro caso, trata-se de realidades cujas flutuações o adquirente pode querer
assumir. A normalização do tráfego financeiro e a rapidez requerida pelos atos aí em causa
justificam que, para o efeito, se possa recorrer a ccg.

Finalmente, o art 22/4 resala clausulas de indexação, quando o seu emprego se mostre
copatvel com o tipo contratual onde se encontrem inseridas e o mecanismo de variação do preço
esteja explicitamente descrito. Compreende-se que o sentido da derrogação: tal como nas
hipóteses acima examinadas temos, aqui, uma sobreposição de necessidades de tipo econ. Em
todos estes casos, o legislador pressupõe sempre que não deixa de haver algum controlo.
Simplesmente, tal controlo será levado a cabo por outras normas que não as referenciada no art
22/1 c) e d). Em última instancia, conserva-se sempre operacional, a nulidade das cláusulas
contrárias à boa fé.

CAPÍTULO X – APROVEITAMENTO DE NEGÓCIOS INVÁLIDOS

Secção I – A redução e a conversão

§ 79.º A redução e a conversão

A redução
A invalidação do negócio jurídicos não impede a produção de efeitos – ou de alguns efeitos – nas
hipóteses de redução ou conversão – 292º e 293º. Estes preceitos devem ser trabalhados em
conjunto com os 236º e 239º.

Requisitos:

1. nulidade ou anulação meramente parcial – Na base desta fórmula, algumas doutrinas


têm admitido a regra de divisibilidade dos negócios. De modo algum: o que a lei diz é que a
nulidade ou anulação (quando seja) parcial não determina a invalidade do conjunto. Teremos de,
pela interpretação e em momento logicamente anterior, determinar o alcance de qualquer
invalidade.

2. tem a ver com a vontade das partes, no tocante ao ponto da redução – esta não opera
quando se mostre que o negócio não teria sido concluído, sem a parte viciada.

a. Basta provar, pelas circunstâncias objetivas ou pela vontade real de uma das
partes, conhecida e aceite pela outra – 236º - ou pela sua vontade hipotética e pela boa fé – 239º
- que, sem a parte viciada, aquele negócio concreto não teria visto a luz.

Em temos de ónus de prova:

a. O interessado na salvaguarda do negócio deverá invocar e provar os factos de onde


decorra a natureza meramente parcial da invalidade e, portanto, a divisibilidade do negócio em
causa, a qual não é regra – 763º - e não se presume.

b. Ao seu opositor caberá invocar e provar os factos de onde se infira que,

sem a parte viciada, não teria havido negócio.

Mais três adicionais (mc) – o 292º não os diz:

• Respeito pela boa-fé – 239º - não há redução quando ela atente contra a confiança legítima
das partes ou contra a materialidade subjacente. Esta última é claramente perceptível quando
o negócio reduzido não permita prosseguir os fins ou as funções vertidas, pelas partes, no
negócio inválido.

• Respeito pelas regras formais – 238º e 239º - não pode, pela redução, chegar-se a um tipo
negocial com exigências de forma não satisfeitas no negócio a reduzir.

Exemplo: uma doação de coisa móvel com clausula de tradição simbólica é válida
verbalmente; sendo esta cláusula anulada, a doação exigiria forma escrita – 947º/2 – pelo só há
redução se tal forma tiver sido seguida no negócio a reduzir.

• respeito por outras normas imperativas.

Na área negocial, domina a autonomia privada. Esta regra deve prevalecer sobre uma regra de
favor negotii. Quando as partes celebrem um negócio, querem-no no seu todo. Sobrevindo uma
invalidade, deve entender-se, na dúvida, que as partes pretendem que todo o negócio seja
afetado e isso mesmo quando (o que não se presume) ele seja divisível. A redução, quando não
haja acordo das partes, pressupõe, sempre, uma especial iniciativa da interessada e uma cuidada
sindicância do tribunal.

Mas a boa-fé e a autonomia privada podem jogar, em concreto, no sentido da redução. Fazer

soçobrar um negócio, por uma pequena invalidade, que não comprometa o plano desenhado

pelas partes, fica fora de causa. Além disso, a confiança de quem seja surpreendido por uma

invalidade parcial deve ser tutelada.

O problema do contrato-promessa; os contratos coligados:

O contrato-promessa pode ser:

1. Bilateral – bivinculante – quando ambas as partes fiquem adstritas a celebrar o contrato


definitivo

2. Unilateral – monovinculante – quando apenas uma parte fique obrigada ao definitivo: a


outra é livre de decidir.

O contrato-promessa relativo a contrato formal exige forma escrita; todavia, sendo o contrato

monovinculante, admite-se que baste a assinatura da pessoa que ficará obrigada – 410º/2,
depois alterado (?)

Quid iuris se um contrato-promessa bivinculante surgir assinado apenas por uma das partes?

a. O contrato-promessa bilateral de compra e venda exarado em documento assinado


apenas por um dos contraentes é nulo, mas pode considerar-se válido como contrato- promessa
unilateral, desde que essa tivesse sido a vontade das partes.

Mc: sempre temos preconizado uma interpretação-aplicação conjunta dos dois preceitos, a que
acrescentamos ainda, pelo menos, o 239º, com o seu apelo à boa-fé, devidamente concretizado.

De todo o modo e no tocante ao contrato-promessa: uma promessa monovinculante é


visceralmente diferente a bivinculante: na 1ª, surge uma parte sujeita ao livre arbítrio de outra, o
que não sucede na 2ª. Não há, aqui, um mero problema de “invalidade parcial”: o ponto é tão
importante que todo o contrato fica atingido. Apenas a conversão podia salvá-lo. Só que,
surpreendentemente, a redução poderá, in concreto, salvaguardar melhor os interesses do
contratante vinculado, dadas as facilidades probatórias. Donde a importância do papel da boa-fé,
para assegurar o predomínio da solução mais justa. As regras da redução podem ter aplicação
aos contratos coligados – situações nas quais as partes celebrem dois ou mais contratos
formalmente distintos, mas genética ou funcionalemnete unidos. Nessa altura, a invalidade de um
dos contratos coligados poderá acarretar a do outro (ou outros), salvo a aplicação das regras da
redução. Apenas haverá uma diferente distribuição do ónus da prova:

a. A situação de coligação deve ser invocada e provada por quem delas se queira

prevalecer.

A conversão
Pela conversão, um negócio nulo ou anulado pode aproveitar-se, como negócio diverso, desde

que verificados determinados requisitos legais.

Tese monista: apenas há um negócio; simplesmente, verificada uma falha que impeça a
sua validade e eficácia plenas, impõe-se pela interpretação um conteúdo que não suscite tais

óbices. A conversão exprime, no fundo, uma interpretação melhorada do negócio, de modo a,


dele fazer uma leitura sistemática e cientificamente correta. No fundo, não há qualquer conversão
de negócios: convertem-se meras declarações.

Condicionalismos legais – resultam do 293º:

a. Manutenção dos requisitos essenciais de substância e forma – este requisito deve ser
integrado com os elementos a retirar dos 236º/2 e 238º/2: não faria sentido, pela simples
interpretação, obter, de declarações negociais, negócios inatingíveis pela conversão. Os
requisitos essenciais terão de ser imputáveis à vontade comum das partes, antes e depois da
conversão, enquanto a forma deve ser aferida de acordo com as suas razões determinantes.

b. Respeito pela vontade hipotética das partes – leva-nos à integração. A vontade


hipotética aqui dominante – e que constitui o motor da conversão – deve ser aferida segundo a
boa-fé e os demais elementos atendíveis exigindo uma valoração objetiva. Trata-se de uma
questão de direito. Todavia, os elementos fáticos de que ela se depreenda têm de ser invocados
e provados pelos interessados, nos termos gerais. A vontade é o grande motor de todos os
institutos privados: sem ela, não se põe a hipótese de alterar qualquer negócio, mesmo anómalo.

O funcionamento prático da conversão tem sido entravado por pressupostos legalistas e

conceptuais. Também a exacerba o aspeto conceptual da forma: a conversão poderia levar à


frustração do fim da lei ao sujeitar certos negócios a escritura pública. Não é assim: se o
“negócio” resultante da conversão não estiver sujeito a escritura, nada haverá a objetar. A
vontade hipotética ou conjetural tem sido sublinhada.

O direito reconhece hipóteses de conversão legal: perante certas desconformidades, indica, de

imediato, qual o destino dos negócios atingidos. Caso a caso deveremos verificar, pela
interpretação se é possível bloquear a “conversão legal” pela não correspondência dos requisitos
previstos no 293º. À partida a resposta é positivo: estamos no direito civil.

Secção IIA confirmação

80º a dogmática geral da confirmação

Ideia básica
A confirmação equivale ao ato pelo qual, numa situação de anulabilidade, o titular do direito
potestativo de proceder à impugnação opta, antes, pela validação do negócio atingido. – 288º cc

A confirmação compete à pessoa a quem pertencer o direito à anulação (288º/2, 1ª parte).


Lógico: só assim se explica o efeito que ela assume de sanar anulabilidades. De outra forma, ela
surgiria expropriativa. Tem interesse relevar a locução legislativa “direito à anulação”: estamos
perante um verdadeiro direito potestativo, com toda a carga jurídico-científica que isso implica.

Fechamos o círculo: a confirmação só pode respeitar a negócios anuláveis, uma vez que só

nestes surge um direito à anulação.

Requisitos objetivos e subjetivos; ineficácia


A confirmação só é eficaz – 288º/2, 2ª parte – cumulativamente:

a. quando for posterior à cessação do vicio quer serve de fundamento à anulabilidade – o


vicio que originou a anulabilidade deve cessar: de outro modo, conserva-se a causa eficiente da
invalidade, não havendo como suprimi-la. – Requisito objetivo.

b. quando o seu autor tiver conhecimento do vicio – Requisito subjetivo. *

c. e do seu direito potestativo à anulação – Requisito subjetivo. *

*com efeito, a cessação superveniente do vicio não poderia apagar a sua ocorrência, no
momento em que foi emitida a declaração de vontade. Caberá agora ao confirmante ponderar os
seus interesses e decidir se quer ou não aproveitar o direito à anulação. Para tanto, ele deve
conhecer tudo quanto seja relevante e, designadamente: o vicio e o direito à anulação.

Até onde deve ir esse conhecimento?

O conhecimento do vicio é, simplesmente, a consciência dos factos que o originaram: o


erro, o dolo ou a coação, como exemplos. Não se exige que a apreensão das particularidades
jurídicas inerentes a esses fenómenos. Por seu turno, o conhecimento do “direito à anulação” –
um direito potestativo de construção delicada – é, apenas, o ter presente a possibilidade de,
mercê do vicio, pôr termo ao negócio, sob pena de o confirmante nem ter conhecimento do ato
que vai levar a cabo.

Na falta de algum destes requisitos, a confirmação “não é eficaz”. A não-eficácia será,


aqui, uma nulidade. Com efeito:

a. a nulidade é a ineficácia comum, que ocorre sempre que a lei não predisponha a

anulabilidade – aqui a lei nada explicita.

b. Os valores subjacentes dizem-nos que uma “confirmação falsa” deve


poder ser invocada por terceiros, uma vez que a verdadeira confirmação lhes é oponível.

c. A eventualidade de “confirmações anuláveis” (e, logo, confirmáveis) iria constituir


um intolerável fator de suplementar complexidade, sem vantagens perceptíveis.

Confirmação expressa e tácita; dispensa de forma


A confirmação pode ser expressa ou tácita – 288º/3, 1ª parte – regra que emerge do 217º/1. Nos
termos gerais, a confirmação tácita ocorre:

a. perante comportamentos que, com toda a probabilidade, revelem a intenção de

consolidar o negócio.

b. Quando o interessado prescinda de invocar a anulabilidade.

c. Quando decorra um comportamento concludente, com esse conteúdo.

A natureza tácita da confirmação não dispensa o conjunto dos seus elementos subjetivos e
objetivos: cessação do vicio e conhecimento quer do vicio, quer do direito à anulação. Tudo

isso deverá inferir-se seja dos próprios factos que, “com toda a probabilidade”, revelem a
vontade tácita, seja de elementos circundantes razoáveis.

Hipótese mais frequente – quando o interessado, depois de ter manifestado o conhecimento de


um vicio já cessado e de se ter dado conta do direito à anulação, optar por executar o negócio.

Seria de esperar que, para a confirmação, se exigisse precisamente a mesma forma requerida

para o negócio a confirmar. Entende a lei que, tendo a forma sido observada no negócio
meramente) anulável, os seus objetivos já haviam sido alcançados. Com efeito, a não ser
impugnado nos prazos legais, o negócio anulável convalidar-se-ia, pelo decurso do tempo, sem

que, jamais, lhe pudessem ser contrapostos óbices formais. Não haveria, pois, que exigir “forma”
para a confirmação, sob pena de, no final, se chegar a um plus de formalismo.

O direito à anulação pareceria constituir uma posição jurídica autónoma. Como dispor dela,
pondo-lhe cobro, pela confirmação, sem ingressar na lógica do comércio jurídico? Intervém, aqui,
uma autónoma valoração legal. O facto de se tratar de mera anulabilidade e de estar em causa
apenas o interesse do confirmante, somando, ao favor negotii subjacente ao instituto, leva à
desformalização da confirmação.

A (aparente) eficácia retroativa


O 288º/4 prescreve uma eficácia retroativa para a confirmação: mesmo em relação a terceiros.

A afirmação de retroatividade pressupõe que um quid, em princípio apto, ex natura, para


produzir efeitos in futurum, mercê de um aditivo, os viesse a produzir, também no passado. Será
essa a ideia de uma lei retroativa.

A ideia de agir no passado não é possível. Quando se fala em “eficácia retroativa”


pretende-se, naturalmente, dizer que, no presente e para o futuro, tudo se passará como se, no
passado, se tivessem iniciado determinados efeitos jurídicos – pretensa retroatividade da
confirmação.

Poderia a confirmação não ser “retroativa?

Um negócio anulável é eficaz e deve ser plenamente cumprido pelas partes. Apenas com um
senão: um dos intervenientes tem o direito potestativo de promover a sua anulação. Se não o
fizer – ou enquanto não o fizer – o negócio tem, por si, forças suficientes para produzir os seus
efeitos.

Sobrevindo a anulação esta tem, salvo exceções, eficácia retroativa (289º/1): o negócio será
tratado, no presente, como se, no passado, ele não tivesse existido.

Perante isto, a confirmação mão tem, em rigor, eficácia retroativa. De facto, quando ela ocorra, o
negócio será tratado como se, ab initio, fosse válido. Mas na falta de confirmação e amenos que
sobreviesse uma anulação, o negócio sempre funcionaria, ab initio, como válido. A confirmação
nada acrescenta.

A confirmação não é propriamente retroativa, no sentido de comportar um aditivo capaz de lhe


dar uma projeção para o passado que, em si, ela não teria. A confirmação é, muito simplesmente.
E sendo-o, ela impede que, no futuro, ocorra qualquer anulação que, essa sim, teria efeitos no
passado.

A confirmação, pelo que é, sana negócios anuláveis. A retroatividade surge apenas por

contaminação vocabular com a retroatividade de uma hipotética anulação. Não há

retroatividade, até porque nem existe alternativa lógica.

Por isso, se compreende que a confirmação seja “eficaz” perante terceiros. Em rigor, não o é,

nem o poderia ser. Eficaz perante terceiros é o negócio confirmado.

“Animus confirmandi”
Perante o mapa do regime da confirmação, exige-se, no confirmante, uma especifica intenção

de sanar o negócio: Um animus confirmandi? O sujeito confirmante deve, como elemento


autónomo, patentear uma especial vontade de confirmar?

A confirmação é autonomizada pelas contingências da linguagem humana. De facto, a

confirmação inscreve-se como dado de um processo cabal e mais dinâmico: o negócio a que ela
se reporta. Apenas este releva, em termos humanos. O confirmante quer, muito singelamente, o
negócio em jogo e a sua execução. Haverá uma animus negotii: sempre o haveria, ou faleceriam
as declarações de vontade, declarações essas nas quais, de resto, o tal animus negotii se
dissolve. Mas não há, como autónomo nem, muito menos, como necessário, um animus
confirmandi.

§81Delimitações e natureza da confirmação

Ratificação e aprovação
A ratificação – 268º - é um ato jurídico unilateral que estabelece, a posteriori, um vínculo de
representação. Esta exige:

a. uma atuação nomine alieno

b. por conta dele

c. com poderes

A ratificação vem, supervenientemente ou após conclusão do negócio, conferir os poderes em

causa.

Estruturalmente, a ratificação configura-se como um ato que vem conferir eficácia a um negócio
que, de outra forma, dela careceria. Materialmente, ela inscreve-se no poder genérico que todos
os sujeitos do direito têm de constituir representantes voluntários.

A ratificação:

a. está sujeita à forma da procuração – 268º/2 – a qual equivale à forma exigida para o

negócio a realizar – 262º/2

b. tem eficácia retroativa – 268º/2, in medio – uma vez que obriga a tratar o negócio
ratificado como se, ab initio, houvesse poderes de representação.

c. Mas respeitando os direitos de terceiros – 268º/2, in fine – justamente porque aqui – e


ao contrário da confirmação – há verdadeira eficácia retroativa.

A aprovação – 469º - é um ato próprio do dono do negócio, perante a gestão. Por essa via, o

dominus:

a. Renuncia a quaisquer direitos que pudesse ter contra o gestor.

b. Reconhece o direito do gestor a reembolsos e a indemnizações.

Trata-se do exercício de um direito potestativo. Não se prende, de modo especifico, com

qualquer ato isoladamente tomado.

Validação, reductio, convalidação, convalescença e perdão


a. Validação – 248º - é o ato pelo qual, perante um negócio anulável por erro, o
interessado evita a anulação aceitando o negócio tal como o declarante incurso no erro o
pretendia. Tecnicamente, surge como uma aceitação de proposta equivalente à (má)
representação real do declarante errado.

b. Reductio ad aequitatem – 283º - é uma validação especialmente adaptada aos


negócios usurários. Desta feita, o negócio usurário é válido, desde que reconvertido a proporções
justas. Subjacentes estão as inerentes propostas, que os interessados irão aceitar.

c. Convalidação – equivale à sanação automática de um negócio inválido (quiçá, nulo)


pelo desaparecimento superveniente dos vícios que o afetavam. Só é possível ope legis – a
convalidação ope legis é excecional: depende sempre de um preceito legal, devidamente
apoiado na lógica do sistema (sob pena de inconstitucionalidade), que a prescreva.

d. Convalescença – é uma modalidade de convalidação, aplicável a certas vendas


anuláveis – 906º/1. Como especialidade: constitui objeto de um dever do vendedor – 907º/1, o
qual deve fazer cessar os ónus ou limitações relativos à coisa vendida e que provocavam a
anulabilidade. Trata-se do produto de um dever legal acessório.

e. Perdão – traduz um ato unilateral pelo qual o doador releva o donatário ingrato da sua

falta. Com isso põe-se termo à revogabilidade da doação por ingratidão – 975º c). equivale a um
direito potestativo mais vasto.

Todas estas realidades têm, em comum, o repescar um negócio ferido de invalidade ou de


revogabilidade. Simplesmente, em vez de traduzirem um ato voluntário que sana um negócio
anulável, os institutos apontados:

a. Ora conduzem a um negócio diferente do inicial – validação e reductio.

b. Ora equivalem a uma intervenção legislativa empenhada em fazer cessar certas


invalidades – convalidação e convalescença.

c. Ora traduzem o relevar de certas faltas – perdão.

Uma clivagem importante separa as voluntárias (validação, reductio e perdão) das legais ou

obrigatórias (convalidação e convalescença).

Caducidade, prescrição e renúncia ao direito de anular


O direito de anular um negócio jurídico é, tecnicamente, um direito potestativo. Mas é um direito:
uma posição jurídica ativa, assente numa permissão normativa de desencadear certos efeitos
jurídicos. Esse direito é prejudica pela confirmação. Mas ele pode também cessar por outras vias:

a. Pela sobrevinda de um facto a que a lei associe a sua extinção: a caducidade. Esta
decorre pelo decurso do prazo de um ano após o conhecimento do vício que baseia a
anulabilidade – 287º/1. Esta não envolve nenhum ato voluntário embora, summo rigore, dependa
da vontade do titular do direito à anulação. Regime: 328º e seguintes.

b. Independentemente de se iniciar o prazo de caducidade, o direito á anulação sujeita-

se à prescrição – 298º/1: nenhuma disposição legal proclama uma posição imprescritível.

Mais complicada parece ser a figura da renúncia ao direito de anular o negócio:

a. A confirmação visa o negócio anulável, sanando-o.

b. A renúncia dirige-se ao direito de anular ou impugnar o negócio, extinguindo-o.

Perante este quadro, os requisitos são distintos:

a. enquanto a confirmação exige a cessação do vicio e o conhecimento deste e do direito


de anular.

b. a renúncia a este último requer apenas que ele seja disponível.

Não é possível confirmar um negócio antes de estar claramente determinada a anulabilidade que
o vicie. Quanto a renunciar previamente à invocação de qualquer anulabilidade: depende do tipo
de negócio em causa. Se é possível doar o que ele represente, também será possível a renuncia
a invocar eventuais anulabilidades. Todavia, a renuncia não pode ser aleatória. Ou seja: não é
possível renunciar a hipotéticas anulabilidades, sejam elas quais forem. Mas em situações mais
delimitadas a renuncia será possível. Mas não a confirmação.

Confirmação de negócios nulos?


Em rigor, os negócios nulos não podem ser confirmados: a não ser que se use “confirmação”
num sentido amplo, de modo a abranger a sanação, a renovação do contrato e, ainda, outras
figuras.

Não obstante, o CC e outros diplomas reportam confirmações de atos nulos:

1. atos gratuitos: confirmação de doações nulas – 968º; e do testamento – 2309º;

2. direito da familia: confirmação de atos nulos do tutor – 939º/2;

3. direito das sociedades: deliberações nulas podem ser renovadas – 62º csc; a própria
nulidade do contrato de sociedade é, em certos casos, sanável – 42º;

4. a nulidade de venda de bens alheios pode ser convalidada – 895º.

Podemos extrapolar uma categoria geral de confirmação de atos nulos, inspirada no 288º e daí

aplicá-la às diversas nulidades? É possível (mas não desejável) construir, por abstração, um

conceito amplo de confirmação que inclua diversas formas de reaproveitamento de negócios

inválidos: mas isso obrigaria a subdistinções que desamparariam os avanços conseguidos.

1. nos atos gratuitos, a “confirmação” veda, a certas pessoas, a possibilidade de invocar

as nulidades (obviamente relativas) aí em causa;

2. no Direito da família, estamos próximos da anulabilidade: se o ato vedado for, in


concreto, benéfico para o pupilo, porque não permitir a este aproveitá-lo?

3. As recuperações de (certas) deliberações nulas e do próprio contrato de sociedade têm


a ver com o círculo de pessoas protegidas.

Em suma: nada disto é generalizável, cabendo, caso a caso, ver o seu exato campo de

aplicação. E se perante uma nulidade comum, cessando a causa da invalidade, designadamente


por alteração da lei, uma das partes “confirmar” o ato, quid iuris? Não vemos como aplicar o
288º:

a. a “confirmação” não poderia ser unilateral: exigir-se-iam, sempre, novas declarações

de ambas as partes; quando muito, poder-se-ia construir uma relação de confiança equivalente,
na base da boa-fé, mas já com pressupostos diferentes dos do negócio e dos da confirmação.

b. A “confirmação” não poderia ser retroativa: enquanto foi vedado por lei, o negócio é

mesmo nulo. Nada impede que o 288º possa ser aplicado, por analogia, fora da sua terra de
origem. Tudo depende de uma verificação, a efetuar no caso concreto, com tranquila objetividade
científica.

A natureza
Trata-se de um ato jurídico unilateral, stricto sensu, assente numa declaração de vontade não-

recipienda. Vamos decompor:

a. Ato jurídico – corresponde a uma livre conformação da vontade humana, com efeitos

jurídicos.

b. Unilateral – depende de uma única pessoa**

c. Stricto sensu – há liberdade de celebração, mas não de estipulação*. Quando se


pretendesse introduzir “clausulas” na conformação, já estaríamos perante algo diferente do
previsto no 288º.

d. Assente numa declaração de vontade não-recipienda – é eficaz logo que denote a


vontade do interessado; não se exige que a contraparte a receba ou dela tenha

conhecimento.

*a confirmação visa levantar a dúvida da anulabilidade. Poder-se-á imaginar uma confirmação


onerosa, condicionada ou inserida num negócio mais vasto? Não: qualquer destas
eventualidades iria tornar mais onerosa a posição da contraparte. Esta teria, pois, de aceitar. Com
isso, a confirmação deixaria de ser um ato stricto sensu, passando a negócio. Mas seria,
igualmente, um contrato.

**enquanto ato unilateral, a confirmação visa o negócio jurídico a que se reporta. A vontade do
confirmante é a de que o negócio em questão fique consolidado, pondo cobro à incerteza
existente. Não se trata apenas de não exercer o direito de anulação: para isso bastaria nada
fazer, aguardando o decurso do prazo de caducidade do direito de impugnar. Antes se procura,
desde logo, evitar que, sobre o negócio, se mantenham quaisquer dúvidas. A confirmação
inscreve-se num direito potestativo mais vasto que assiste ao beneficiário de uma anulabilidade.
Esse direito envolve:

a. A possibilidade de anular

b. A possibilidade de não cumprir, invocando a anulabilidade como exceção – 287º/2 in


fine

c. A possibilidade de confirmar

A renuncia à anulação apenas traduz um modo de exercício do poder a esta correspondente.

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