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O Ql'E t TEO LO G I V?
IA DA TEOLOGIA CRISTÃ
H IST Ó RIC O DA TEOLOGIA
TEOLOGIA PROTESTANTE
ES DA TEOLOGIA C O NTEM POR ÂNEA
O QUE É
TEOLOGIA?
El i s a R o d r i g u e s
O r g a n i z a d o p o r V a l t a ir a . M i r a n d a
4L
M K Editora
Rio de Janeiro
2005
TODA COLEÇÃO: TEOLOGIA AO ALCANCE DE TODOS
O QUE É TEOLOGIA?
O que é Teologia ? Copyright © Elisa Rodrigues
O que é Hermenêutica? Publicado por M K Editora
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O que é Fé?
O selo M K Editora faz parte do
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O que é Profecia? As citações bíblicas constantes neste livro
sào de Almeida Revista e Atualizada da
SBB [ARA].
D a d o s I n t e r n a c io n a is d e C a t a l o g a ç ã o n a P u b l ic a ç ã o ( C I P )
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Rodrigues, íilisa, 1976-
() que e Teologia?
/ Elisa Rodrigues ; (organização Valtair Miranda]. Rio de Janeiro; MK, 2004
. -(Teologia ao alcance de todos)
Contém dados biográficos
Inclui bibliog rafia
1. Teologia
I. Título. II. Série
A TEOLOGIA PROTESTANTE...............................................................61
Martinho Lutero___________________ .......................--------- -----------64
João Calvino...................................................................... 66
PARA ENCERRAR............................................................................89
SUGESTÕES DE LEITURA.................................................................. 99
P r e f á c io
Um dos subprodutos do crescimento numérico dos
evangélicos no Brasil é o interesse pelos temas teológicos.
Não chegamos ao tempo, que já houve, em que a teologia
era tema de debate entre o açougueiro e o consumidor,
mas estamos perto. Os meios de comunicação destinados
aos evangélicos promovem temas, uns porque são relevan
tes e outros apenas porque parecem interessantes.
Todos sabemos que a vida coloca questões, vindas do con
vívio com não-cristãos (em que sentido Jesus Cristo é o úni
co caminho?), do desenvolvimento científico-tecnológico
(que é a alma naeradagenômica?) ou mesmo do sofrimento
(onde está Deus, que não responde?), que demandam res
postas claras e precisas. Essa é uma tarefa para a teologia.
Que não pode ser feita por poucos para quase nenhuns.
O cncastelamento dos teólogos torna dispensáveis os teó
logos, o que é um desserviço para a fé e para os crentes.
O objetivo da coleção TEOLOGIA AO ALCANCE DE
TODOS é desencastelar os teólogos. Por isso, ela reúne al
guns dos melhores (com exceção deste prefaciador e ide-
alizador da coleção) pensadores brasileiros que, individu
almente, esmiuçam temas antes reservados aos iniciados.
O resultado, confira, valeu a pena.
Quem tem perguntas teológicas - e todos os crentes
as têm - encontra nesta série cle livros um guia para sua
caminhada na elaboração de respostas pessoais que apre
sentem, para o outro e para si mesmo, a razão da esperan
ça cristã. Quem ler saberá.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
Palavras
I n ic ia is
Cada época fala sobre o numinoso (no sentido de di
vindade, poder celeste, gênio, influxo ou inspiração) de
acordo com as fontes que lhe são disponíveis. As fontes
que inspiram os discursos e os tratados são várias, mas to
das elas se originam do princípio da existência, que só
pode ser pensada pelo ser humano. Teologia, portanto, é
isso: pensar sobre Deus, e, até onde se sabe, somente os
humanos possuem essa capacidade.
No entanto, por mais esforços que se tenha empreen
dido ao longo da trajetória humana, o Sagrado permane
ce distante, inapreensível. A tarefa da teologia é se esme
rar dia a dia para alcançar o conhecimento de quem é a
divindade. Essa talvez seja uma busca ilógica. Mas não há
quem convença o (a) teólogo (a) disso.
Para o cumprimento de sua missão, o (a) teólogo (a),
como um investigador, se baseia em evidências a fim de for
mular suas hipóteses. Podemos aqui ressaltar duas delas: a
revelação natural de Deus - sua criação - e a revelação es
crita de Deus - a Bíblia. Ora, essas duas evidências exigem
profundo cuidado. Elas são amplas e complementares.
A criação dá pistas a respeito de Deus. Diz que é imen
so, poderoso, infinito, onisciente e pré-existente; mas, ao
mesmo tempo que fala tanto, parece nada dizer.
A segunda evidência, a Bíblia, é comumente chamada
Palavra de Deus. Trata-se da vontade dele comunicada aos
seres humanos. No entanto, por caprichos do Eterno, ela
foi escrita pela mão de terceiros que foram eleitos por Ele,
seus porta-vozes. Mais uma vez, os indícios para se chegar
até Deus são restritos, porque a linguagem dos autores bíbli
cos é limitada c não pode conter a “infinitude” cle Deus.
Mas, mesmo diante de circunstâncias que cerceiam o
trabalho do teólogo, ele continua a fazer teologia. Porque
fazer teologia é decifrar o oculto. É contemplar a criação,
é interpretar as palavras do criador.
O assunto deste livro é a teologia. Nossa pergunta inicial
é: O que é teologia? Na expectativa de esboçar uma respos
ta, traçamos o caminho clividindo-o em cinco partes.
Na primeira parte, falaremos a respeito das origens da
teologia: de onde veio o termo, quem foram os primeiros
a falar, a fazer, a desenvolvê-la, e por quais razões. Também
sublinharemos algumas cle suas especificidades tais como
objetivos, caracterizações, traços gerais e divisões. Preten
demos com isso elaborar um quadro geral de referências
sobre a teologia e, então, já familiarizados com algumas
categorias e nomes, passaremos para a segunda parte.
A segunda parte dessa introdução apresenta um breve
tratamento histórico sobre teologia. Basicamente foi no
período medieval que a teologia começou a ser produzi
da sistematicamente. Na época dos primeiros cristãos, os
relatos, as narrativas acerca das maravilhas de Deus e, pos
teriormente, ensinos de Jesus e seus milagres, existiram
sob a forma da tradição oral e foram transmitidos desse
modo até se tornarem relatos escritos, já na segunda me
tade do primeiro século.
Inicialmente esses documentos não foram escritos
para serem tratados ou discursos teológicos. E mais pro
vável que tenham sido escritos para que as memórias
de Deus fossem guardadas e para que detalhes impor
tantes de sua história fossem preservados. Somente na
Idade Média é que pessoas se dedicaram à teologia. Em
parte porque as tradições que foram escritas precisavam
ser compreendidas de modo mais adequado, e em parte,
também, porque os homens e as mulheres que testemu
nharam os inícios do cristianismo aos poucos eram ceifa
dos pela morte.
Diante da diversidade de opiniões e a pluralidade de
experiências do cristianismo dos primeiros tempos, foi
necessário produzir um conjunto literário para defender
a moral e a ética cristã. Esses autores foram chamados
de “Pais Apostólicos”, sendo seguidos pela produção dos
apologistas, dos concílios, da Escolástica e de vários ou
tros teólogos ou filósofos desse período.
Já na terceira parte, falaremos brevemente de outro
episódio da história da teologia. Trata-se da reflexão dos
reformadores, empreendida na época do Renascimento
(séculos XV e XVI). Esse período, que em particular mar
cou a história européia, pode ser caracterizado pelo sur
gimento de uma nova concepção acerca do ser humano e
da natureza, assim como o renovado entusiasmo pela cul
tura clássica. Neste momento, teólogos católicos se desta
caram pela crítica que desenvolveram à teologia e à insti
tuição de que faziam parte. Por causa dessa discordância,
alguns desses pensadores se desligaram do catolicismo e
foram chamados reformadores.
Esse capítulo da história nos conduz a outro. A chama
da Idade Contemporânea, época em que a teologia alçou
novos vôos e adquiriu novas e diferentes faces. A quarta
parte deste livro fala a respeito da teologia contemporâ
nea e o legado de seus pensadores ligados à história e às
tendências acadêmicas do período.
Finalmente, a quinta parte, já na conclusão, é um con
junto de considerações finais, intempestivas. E mais um
convite à reflexão, que parece ser a face mais delicada da
teologia.
Procuramos elaborar este texto de modo simples, po
rém, com zelo cuidadoso. Definir teologia é uma tarefa
árdua e injusta, pois, como se perceberá, ela é fluida e
dinâmica: um saber sempre inacabado e, por isso, tão in
teressante e vívido.
A fim de que o leitor possa tirar suas próprias conclu
sões, indicamos alguns caminhos, fizemos algumas per
guntas e lançamos algumas informações históricas para
auxiliá-lo nesse intento.
Nosso objetivo é proporcionar ao leitor certo panora
ma a respeito da teologia, sua trajetória em momentos
cruciais e de que modo se relacionou à existência huma
na. Aliás, é desse ponto que partimos: da relação entre
teologia e existência humana, porque sem vida (sem pul
sação) não haveria a teologia.
T r a je t ó r ia
da T e o lo g ia
__________ C r i s t ã
Quais os objetivos da teologia?
■
A teologia pode ser chamada de ciência?
■
Traços da teologia
■
Divisões da teologia
A trajetória da teologia cristã *ás 21
Por isso, volta-se para si mesma com olhar atento a fim de ve
rificar possíveis lapsos e refazê-los na expectativa do aceito.
A criticidade é, portanto, movimento que se dá de den
tro para fora. No caso do (a) teólogo (a) cristão (ã), busca-
se compreender determinadas doutrinas à luz do exame
de toda a Escritura e, se possível, com olhar neutro, a fim
de que sejam detetados lapsos, acréscimos 011 deturpações
do sentido original do texto bíblico.
Sistematicidade. A teologia, como outras ciências, tem
determinado conjunto de saberes estruturados para dar
forma a certa arquitetura teórica coerente. Além disso, ela
lida com a fé, elemento da subjetividade humana. Portan
to, em resumo, deve ser colocada em termos coerentes,
considerando conjuntamente os saberes e a fé. A função
principal do método teológico cristão é arrumar os dados
em sistemas que dêem conta, tanto quanto possível, dos
conhecimentos sobre o Sagrado e a fé.
A sistematicidade é a qualidade que paradoxalmente
menos convém à teologia, porque por mais amplas e orgâ
nicas que sejam as sínteses teológicas, nunca se consegue
encerrar a revelação. Ela escapa por todas as direções. Por
isso, as sínteses teológicas, mesmo as mais prestigiadas,
acabam sempre “morrendo na praia”.
Dinamicidade. Todas as ciências possuem, como tra
ço fundante, a dinamicidade, de onde provém a idéia de
progresso. Mas é importante notar que a dinâmica que
está por trás da teologia não despreza conhecimentos
anteriores, antes sempre os coloca em debate para que
sejam reformulados. Esse desenvolvimento pode se dar
em dois níveis: em extensão, quando consegue explicar
mais uma parte ou fragmento de seu objeto teórico; e em
compreensão, quando aprofunda um conhecimento ou
compreende mais um segmento do mesmo objeto.
A trajetória da teologia cristã 33
0 PROBLEMA CRISTOLÓGICO
Fundamentalmente poderíamos dizer que cristologia
é a doutrina cla pessoa e da obra de Cristo. Mas antes de
se formular tal definição, houve uma pergunta que foi
fundamental para o surgimento da cristologia. Como o
logos de Deus, Cristo, que é uma só substância com o Pai,
pôde aparecer em forma humana? Para resolver esse pro
blema, muitos teólogos se debruçaram sobre as Escrituras
a fim de encontrar uma resposta satisfatória.
O teólogo Apolinário acreditava que o corpo de Cristo
não foi formado por Maria. Cristo teria trazido um corpo
celestial até o ventre de Maria que, assim, serviu apenas
como local de passagem. Desse modo, Jesus Cristo possuía
apenas a natureza divina. Em contrapartida, seus oposito
res afirmavam que Cristo não somente tinha corpo hu
mano como também alma. Afinal corpo e alma formam a
essência humana.
Foi a escola de Antioquia que combateu Apolinário
e, para isso, enfatizou que a natureza humana de Cristo,
durante seu ministério e obra, passou por certo processo
que o uniu cada vez mais à divindade. Esse processo foi
concluído por ocasião da ressurreição.
A teologia desse período foi marcada por grandes dis
cussões entre grupos que formavam as escolas de pensa
mento teológico. Ha\ia duas grandes escolas nesse tem
po: a de Antioquia (que enfatizava o aspecto histórico do
Cristo humano) e a de Alexandria (que enfatizava a com
preensão metafísica enraizada na filosofia grega).
Como representante da escola de Antioquia, apresenta
mos Nestório. E comum ele ser acusado de ter ensinado a
doutrina segundo a qual haveria dois Cristos: um divino e
um humano. Contudo, é provável que seu opositor, Cirilo,
50 TEOLOGIA AO ALCANCE DE TODOS | O que è teologia?
0 PERÍODO MEDIEVAL
Neste período, os germanos ascenderam ao domínio
político e os líderes da Igreja davam cada vez menos aten
ção às questões teológicas. A seguir, alguns acontecimen
tos que merecem destaque:
- Boécio traduziu algumas obras de Aristóteles que fo
ram utilizadas na Idade Média;
- Dionísio, o Areopagita, expôs a cosmovisão e a reli
gião neoplatônicas;
- Cassiodoro apresenta-se como colecionador e enci
clopedista;
- Isidoro de Sevilha reuniu o conhecimento científico
e teológico daquela época, o que tornou acessível o saber
teológico às gerações seguintes.
Em Roma, o ex-prefeito Gregório assumiu o papado
e passou a ser considerado divisor de águas entre Anti
güidade e Idade Média. Ele aceitava a doutrina da graça
de Agostinho, entretanto, acrescentou que a finalidade
da graça era produzir boas obras que pudessem ser re
compensadas. Essa idéia permeou toda a Idade Média.
Segundo essa teologia, Cristo era o exemplo de entrega,
abnegação e sacrifício necessários a todo ser humano e a
ceia simbolizava o novo sacrifício.
Entre escritos desse teólogo destaca-se o comentário
ao livro de Jó. Nesta obra, lançou idéias norteadoras para
a ética medieval, especialmente, sobre o asceticismo.
Além disso, concedeu destaque aos milagres realizados
por santos homens e que influenciaram toda a Idade Mé
dia. Ele foi capaz de combinar tradição teológica e pie
dade popular.
56 TEOLOGIA AO ALCANCE DE TODOS | 0 que é teologia?
AS TEOLOGIAS RECENTES
Atualmente, a reflexão teológica cresce cada vez mais,
assim como as ferramentas metodológicas para desenvol-
vê-la. Seja nos círculos acadêmicos ou entre populares,
nas igrejas, nas comunidades ou nas casas, a teologia assu
me contornos de ciência, mas permanece ao alcance de
todas as pessoas.
Além disso, pode-se dizer com tranqüilidade que a pes
quisa teológica em países latino-americanos é tão quali
ficada quanto no Norte da América e na Europa. Ainda
há falta de recursos e de incentivo; contudo, essas dificul
dades não têm constituído grandes empecilhos para que
o interesse pela teologia, pela religião e pelo Sagrado se
esvazie.
O século XX testemunhou grande oferta de teologias.
Cada uma delas buscava cercar um aspecto pontual sobre
o qual se julgava não ter havido muita ênfase e que, des
ta forma, poderia ser mais bem explicitada. Dentre elas,
conhecemos a teologia dialética, a teologia existencial, a
teologia hermenêutica, a teologia da cultura, a teologia
da história, a teologia das religiões, e muitas outras.
Nesse sentido, já que a teologia contemporânea pro
porcionou mais possibilidades de diálogo e cooperou
para que alguns dogmas cristalizados fossem revistos, a
abertura favoreceu o surgimento de várias outras teolo
gias que poderão ser conhecidas pelo(a) leitor(a) através
das sugestões de leitura no final deste livro.
Vejamos brevemente dois exemplos de teologias sur
gidas recentemente no Brasil e que encontram forte ex
pressão nas igrejas, embora nos meios acadêmicos rece
bam tratamento diferenciado.
As faces da teologia contemporânea 87
&