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Manual de AB v04 PDF
Manual de AB v04 PDF
Sustentabilidade
Projecto-piloto para a conversão da agricultura
tradicional em modo de produção biológico
Manual de
Terras de Bouro
Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico
NOTA PRÉVIA
Terras de Bouro é um município de montanha onde a ruralidade começa a dar lugar a um
destino turístico preferido por muitos portugueses e alguns estrangeiros. O “coração” do
Parque Nacinal da Peneda-Gerês, as termas do Gerês, o santuário de São Bento da Porta
Aberta, as barragens de Vilarinho das Furnas e de Caniçada, a pousada de Juventude de
Vilarinho, a consagração da Geira (via romana) como património nacional e a preparação
da sua candidatura a património da UNESCO conferem a este concelho um potencial
turístico único na região e, até, no país.
Virada a página da emigração e o consequente abandono da agricultura de subsistência,
assistimos, hoje, a grandes investimentos em infra-estruturas e equipamentos de modo
a criar um produto turístico de excelência que promova a criação de emprego e fixe a
população, nomeadamente os mais jovens.
Além da beleza da sua paisagem e do património, Terras de Bouro tem outros atractivos
para oferecer, como o artesanato (bordados, cestaria, trabalhos em linho, madeira, etc.) e
a gastronomia.
Para aqueles que teimam em se manter arreigados à terra, quer a tempo inteiro, quer em
part time, a Câmara Municipal avançou com um projecto pioneiro denominado «Território
vs. Sustentabilidade: projecto-piloto para a conversão da agricultura tradicional em modo
de produção biológico», com o objectivo de combater o crescente abandono das terras e
criar uma mais-valia para aqueles que teimam em manter a sua ligação à terra. Partindo da
constatação que os métodos de cultivo utilizados pelos nossos agricultores estão muito
próximo dos da agricultura biológica, avançámos com uma campanha de sensibilização que
teve resultados muito positivos, pois lançaram-nos um desafio: «se tivermos quem nos
compre os produtos, nós produzimos!»
Perante esta realidade, implementámos este projecto cientes que a preocupação dos
portugueses com os produtos que ingerem, e que os leva a estarem dispostos a pagar mais
por um produto de melhor qualidade, levará, num futuro muito próximo, ao aumento da
procura dos produtos de origem biológica, aliás, Portugal importa uma grande quantidade
de produtos biológicos.
Para o município, esta iniciativa insere-se nos seus objectivos de valorização dos recursos
naturais e articula-se com outros projectos como a rede de trilhos pedestres na senda de
Miguel Torga e a recuperação do património construído ligado à agricultura (espigueiros,
moinhos, sequeiras, eiras, etc.) potenciador de um turismo rural em grande expansão.Além
disso, contribui para a conservação da paisagem evitando que o equilíbrio do ecossistema
seja posto em causa.
Por último, convém referir o papel fundamental que a agricultura biológica deverá ter na
área da gastronomia que, como sabemos, é um dos pilares de sustentação de um turismo
de excelência. Quantas pessoas não “abririam os cordões à bolsa” para comer um cabrito
das encostas de Brufe, do monte de Santa Isabel, da Ermida, ou para saborear o famoso mel
da serra do Gerês, já para não falar do famoso cozido de couves com feijão acompanhado
de um naco de pernil de porco criado em plena liberdade campestre?
Numa altura em que tanto se fala em preservação ambiental e em desenvolvimento
sustentável, Terras de Bouro passa das palavras à acção e procura, vencendo todas as
contrariedades inerentes a um município afastado dos grandes centros urbanos e
muitas vezes esquecido pelo poder central, implementar um verdadeiro processo de
desenvolvimento rural sustentado que coloque este município na rota dos destinos
turísticos por excelência.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a agricultura intensiva introduziu elevadas quantidades de pesticidas,
adubos, hormonas e outros produtos químicos de síntese, alterou os ecossistemas,
prejudicou a fertilidade dos solos e a qualidade da cadeia alimentar. Abandonaram-se
práticas como a fertilização orgânica dos solos com estrumes, o cultivo de variedades
agrícolas e hortícolas tradicionais, a utilização das raças autóctones e o maneio animal ao
ar livre, reconhecendo-se, actualmente, que as práticas agrícolas que se utilizam não são
sustentáveis.
A sustentabilidade da agricultura requer a salvaguarda do ambiente e da paisagem e, por
isso, deve ser remunerada também por esse serviço. A Agricultura Biológica é uma das
formas de actuar de forma construtiva e equilibrada nos sistemas agrícolas, inseridos nos
sistemas naturais, melhorando a fertilidade dos solos, promovendo o correcto uso da água
e preservando a biodiversidade, para além de produzir alimentos de elevada qualidade.
Em 1972 foi fundada a Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Biológica
(IFOAM), actualmente com sede na Alemanha. Em Portugal, a Associação Portuguesa de
Agricultura Biológica (AGROBIO) surgiu em 1985 e em 1991 a Comunidade Europeia
publicou o regulamento (CE) nº 2092/91, definindo as normas do modo de produção
biológico, incluindo o controlo e a rotulagem dos produtos vegetais. Em 1999, o modo de
produção biológico animal foi contemplado no regulamento CE nº 1804/99.
Segundo a IFOAM, a agricultura biológica engloba todos os sistemas que promovem a
produção de alimentos e fibras sãos sob um ponto de vista ambiental, social e económico.
Estes sistemas baseiam-se na fertilidade do solo a nível local como chave para uma produção
de sucesso.Ao respeitar a capacidade natural das plantas, animais e paisagem, visa optimizar
a qualidade em todos os aspectos da agricultura e do ambiente. A agricultura biológica
reduz substancialmente a utilização de factores de produção externos à exploração,
através da não utilização de fertilizantes e pesticidas químicos de síntese e de produtos
farmacêuticos.
A Câmara Municipal de Terras de Bouro deseja incentivar a agricultura no modo de
produção biológico, de modo a preservar os ecossistemas e a beleza paisagística do seu
território, através de várias acções, entre as quais a publicação do presente Manual de
Agricultura Biológica, que pretende colaborar para a tomada de decisão das culturas
agrícolas e das espécies animais que podem ser produzidas em Terras de Bouro.
As culturas aqui abordadas como a batata, a couve, a cebola e o milho ao ar livre e ainda
o feijão verde, como exemplo de uma cultura protegida, são conhecidas dos agricultores
locais. Estas culturas permitem desenvolver diferentes rotações culturais, para diferentes
condições locais, que possibilitam as melhores soluções em termos de utilização dos
nutrientes dos resíduos orgânicos restituídos ao solo, de menores riscos de incidência de
pragas e doenças e das oportunidades de mercado. As raças de bovinos e de pequenos
Os editores
ÍNDICE
NOTA PRÉVIA ------------------------------------------------------------------------------ 5
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 7
I -PRODUÇÃO VEGETAL --------------------------------------------------------------------- 11
1 .Batata --------------------------------------------------------------------------------13
2 .Cebola -------------------------------------------------------------------------------23
3 .Couve repolho ---------------------------------------------------------------------33
4 .Culturas protegidas - Feijão verde ----------------------------------------------43
5 .Milho ---------------------------------------------------------------------------------51
I
Produção Vegetal
Batata
(Solanum tuberosum L.)
CICLO CULTURAL
Plantação em Abril/Maio e colheita em Agosto/Setembro.
Exemplo:
15 Junho 1 Agosto
1 Maio 1 Junho 1 Julho Início da 1 Setembro
Início da
Plantação 50% emergência 50% Floração maturação dos Colheita
tuberização
tubérculos
ROTAÇÕES
A batateira deixa o terreno sem muiitas infestantes para a cultura seguinte. As culturas
anteriores favoráveis são aquelas que deixam no terreno uma grande quantidade de
resíduos da cultura.
A rotação recomendada para a cultura da batata é de, no mínimo, 4 anos.
Exemplos de rotações de culturas para diferentes zonas:
Zonas Abrigadas
1º Ano 2º Ano 3º Ano
Zonas de planalto
1º Ano 2º Ano 3º Ano
Mai-Ago Set-Abr Mai-Ago Set-Jul Ago-Abr
Couve Trevo+
Batata Feijão Centeio
galega azevém
4º Ano
Mai-Set Set-Mar
Milho Sideração
Proj. Agro 747
CRESCIMENTO
A cultura da batata é muito sensível às geadas.
As temperaturas de crescimento são as seguintes:
mínima: 6 a 8ºC;
máxima: 30ºC;
óptima: 15-18ºC.
VARIEDADES
As variedades a utilizar devem ser semi-tardias (100-120 dias, necessitando de uma
acumulação térmica de 2000 a 2500ºC) e devem ser pouco susceptíveis ao míldio.
SOLO
A batata é muito sensível à compactação e à má estrutura do solo. Os melhores solos
são de textura média, com os agregados homogéneos, arejado, rico em matéria orgânica e
moderadamente ácidos, preferindo valores de pH de 5,0 a 6,8.
Se for necessário aumentar o pH do solo, a calagem deve ser efectuada 1 a 2 anos antes
da cultura da batata, com calcário dolomítico, que também contém magnésio.
O solo deve ser trabalhado em profundidade, a lavoura para incorporação dos fertilizantes
orgânicos não deve ser inferior a 25 cm, seguida de uma escarificação.
A profundidade das raízes é de 45 a 60 cm.
FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 20 a 30 t/ha de batata é necessário cerca de 100-120 kg/ha de
azoto.
Aplicação de fundo:
Os compostos maduros devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 15 dias a 1
mês antes da plantação, na dose de 20 a 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).
O potássio é um elemento muito importante nesta cultura pois concede maior resistência
às doenças, aumenta o calibre e o poder de conservação dos tubérculos. A cultura não
tolera deficiências em magnésio.
Recomenda-se a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio se os valores de fósforo
e potássio do solo forem:
inferiores a 150 µg/g - aplicar 50 kg/ha de P2O5 e 70 kg/ha de K2O;
inferiores a 200 µg/g - aplicar 30 kg/ha de P2O5 e 60 kg/ha de K2O.
Aplicação em cobertura:
2-3 semanas após a plantação é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume
produzido em MPB ou realizar fertirrigação com um adubo orgânico (Anexo 1).
Proj. AGRO 747
PLANTAÇÃO
A data de plantação deve ser bem adaptada a cada região, pois no início da Primavera as
condições de humidade podem provocar infecções de míldio e mais tarde corre-se o risco
de ocorrência de duas gerações de escaravelho da batateira para a mesma cultura.
Cerca de 1 a 1,5 meses antes da plantação deve colocar-se a batata-semente num local
com iluminação indirecta, à temperatura de 10 a 15ºC e humidade relativa alta, para
estimular o grelamento.
A abertura de regos para a plantação pode ser realizada com um abre-regos. De preferência
deve plantar-se as batatas inteiras para evitar o seu apodrecimento no solo.
Distância de plantação:
Entre linhas: 70-75 cm;
Entre plantas na linha: 30 cm.
Profundidade de plantação: 8-10 cm.
Quantidade de batata-semente: 1500 a 2500 kg/ha.
SACHA E AMONTOA
A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo.
A amontoa deve ser feita quando as plantas têm cerca de 20 a 25 cm de altura. Em estado
mais avançado a amontoa é prejudicial devido à destruição das raízes.
REGA
A batateira é muito sensível aos excessos e às deficiências de água.
A primeira rega deve ocorrer antes do início da tuberização.
Durante o crescimento dos tubérculos (1,5 a 3 meses após a plantação) as plantas devem
dispor de água sem restrições.
Ao iniciar a maturação dos tubérculos a rega deve cessar pois o excesso de água atrasa a
maturação e provoca apodrecimento.
Sistemas de rega:
Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão, gota-a-gota, por sulcos ou
alagamento.
A rega gota-a-gota não contribui para uma boa distribuição das raízes no solo, apesar de
ajudar na prevenção de doenças e de permitir a fertirrigação.
PRAGAS
Escaravelho da batateira (Leptinotarsa decemlineata)
Os adultos em hibernação no solo emergem na Primavera efectuando a postura durante
cerca de 1 mês. Os ovos são de cor amarela que evolui para cor laranja forte, situam-se
na página inferior da folha e eclodem num período de aproximadamente uma semana. As
larvas alimentam-se das folhas da batateira durante 2 a 3 semanas e transformam-se em
ninfas no solo a 5-20 cm de profundidade. Os adultos emergem 1 a 2 semanas mais tarde
e hibernam no solo a 25-50 cm de profundidade.
Medidas culturais:
Realizar a rotação das culturas;
Utilizar plantas-armadilha. Plantar uma variedade de batata que se desenvolva
rapidamente em climas frios, no intervalo entre a cultura de batata do ano anterior e a
cultura actual. Destruir com uma chama de gás propano a população de adultos quando
estes estiverem em grande número.
Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar a cultura ao aparecimento das primeiras larvas, alternativamente com:
Spinosad (*)
Neem (*) - Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 5
dias.
Bacillus thuringiensis var. tenebrionis (*) - Específico para esta praga.
Rotenona (*) - Utilizar apenas em último recurso devido à sua toxicidade. Deve ser
aplicada ao fim da tarde devido à degradação do produto pelos raios ultra-violetas.
Como norma não se deve aplicar o mesmo produto a duas gerações seguidas da mesma
espécie. Alternar com Spinosad ou Neem. Os insecticidas não se devem misturar.
DOENÇAS
Míldio (Phytophthora infestans)
O desenvolvimento da doença ocorre quando a temperatura média do ar se situa entre
10 e 24 ºC e a humidade relativa for superior a 75% durante 2 ou mais dias. A chuva pode
arrastar esporos das folhas para o solo e infectar os tubérculos jovens. Os esporos apenas
hibernam em restos da cultura, normalmente em tubérculos deixados no solo.
As folhas apresentam-se amareladas na página superior com filamentos brancos na parte
inferior. As folhas da base são atacadas em primeiro lugar principalmente nos bordos.
Medidas culturais:
Não deixar tubérculos no solo.
Realizar rotações de culturas no mínimo de 4 anos.
Utilizar variedades menos sensíveis ao míldio.
Utilizar rega gota-a-gota para manter a folhagem seca ou rega por aspersão, aplicada
ao amanhecer de modo a que as plantas estejam secas durante o dia.
Proporcionar um bom arejamento da cultura, através do aumento da distância entre
plantas, da colocação das linhas de plantas paralelas à direcção predominante do vento
e evitar locais abrigados.
20 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro
Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico
COLHEITA
Quando a rama inicia a secagem, os tubérculos encontram-se em completa maturação.
A colheita deve ser realizada nas horas mais frias do dia e com tempo seco.
Em caso de ataque de míldio o corte da parte aérea deve ser efectuado 2 semanas antes
da colheita.
Produtividade: 20 a 30 t/ha
ARMAZENAMENTO
Antes do armazenamento:
secagem: ao ar durante 1-2 dias.
fase de cura: 15ºC durante 1-2 semanas.
Armazenamento:
Local arejado e com pouca luz.
Condições óptimas de armazenamento: 7-10ºC; 90-95% de humidade relativa;
durante 5 a 10 meses.
Para evitar a traça da batata (Phtorimaea operculella) cobrir a batata com rama de
eucalipto e em caso de ataque severo polvilhar com rotenona em pó (*).
A rega por aspersão, com maior cobertura de água, proporciona uma menor abertura
de fendas à superfície do solo, impedindo o acesso da praga. No entanto, a rega deve
ser aplicada antes do amanhecer, de modo a que as plantas estejam secas durante o
dia.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.
Cebola
(Allium cepa L.)
CICLO CULTURAL
Plantação em Abril/Maio e colheita em Agosto/Setembro.
Ecemplo:
ROTAÇÕES
A rotação recomendada para a cultura da cebola é de 5 anos.
Exemplo de uma rotação de culturas de 5 anos:
CRESCIMENTO
As temperaturas de crescimento são as seguintes:
mínima: 12ºC;
máxima: 25ºC;
óptima: 20ºC.
Para que o bolbo se desenvolva é necessário que o fotoperiodo seja superior a 14 horas
de luz para as cultivares precoces e 16 horas para as tardias.
CULTIVARES
As cultivares regionais com maior adaptação às condições de solo e clima devem ser
utilizadas. A cebola vermelha da Póvoa tem manifestado boas características de produção
na Região Norte.
SOLO
Os melhores solos são de textura média, com boa drenagem, ricos em matéria orgânica
e com valores de pH superiores a 5,8 de preferência entre 6,0 e 6,5. A cebola é muito
sensível à compactação e à má estrutura do solo.
Para solos com valores de pH inferiores a 6,0 a calagem deve ser efectuada. Para um
solo com pH de 5,0 deve aplicar-se 6 t/ha de calcário dolomítico, que também contém
magnésio.
Profundidade das raízes: 30 cm.
FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 20 a 30 t/ha de cebola é necessário cerca de 80-120 kg/ha de
azoto.
Aplicação de fundo:
Os compostos bem curtidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 1 mês,
na dose de 20 a 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).
O potássio é um elemento muito importante pois concede maior resistência às doenças
e maior poder de conservação dos bolbos.
Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 150 µg/g, recomenda-se a
aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 60 kg/ha de P2O5 e de K2O,
respectivamente.
Aplicação em cobertura:
2-3 semanas após a plantação é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume
produzido em MPB ou realizar fertirrigação com um adubo orgânico (Anexo 1).
PLANTAÇÃO
As plantas produzidas em viveiro, semeadas em tabuleiros de alvéolos ou em “cama
quente”, demoram cerca de 3 meses desde a sementeira até ao estado de 3-4 folhas, com
3 a 6 mm de diâmetro.
A plantação pode ser feita manualmente ou com o apoio de um plantador montado em
tractor. As plantas não devem ser plantadas a mais de 3 a 4 cm de profundidade.
Distância de plantação:
Entre linhas: 30 cm;
Entre plantas na linha: 10 cm.
SACHA
A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo. Pode ser realizada
manualmente ou com apoio mecânico. Entre as linhas a sacha pode ser executada com um
moto-cultivador ou com um sachador manual com cerca de 20 a 24 cm de largura e na
entre-linha a sacha é manual.
A sacha deve ser realizada quando as plantas infestantes têm 1 a 2 cm de altura para evitar
a concentração de humidade no interior da cultura.
A monda térmica (à pressão de 2 kg) pode também realizar-se logo após a germinação
das plantas infestantes.
REGA
A cebola é muito sensível aos excessos e às deficiências de água.
A primeira rega deve ser realizada a seguir à plantação. Desde a plantação para o
desenvolvimento das folhas e principalmente durante o período de formação dos bolbos
(2 a 3,5 meses após a plantação), as plantas devem dispor de água sem restrições.
Ao iniciar a maturação dos bolbos a rega deve cessar. O excesso de água provoca o
apodrecimento durante o armazenamento.
Sistemas de rega:
Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão, gota-a-gota ou alagamento.
A rega por aspersão deve ser efectuada de manhã para que as folhas sequem rapidamente,
de modo a diminuir a incidência de doenças.
PRAGAS
Mosca da cebola (Delia antiqua)
Os adultos em hibernação no solo emergem na Primavera, vivem cerca de 2 meses e põe
150-200 ovos, colocados em grupos de 15-20 na proximidade das plantas, junto ao colo
ou na axila das folhas. Os ovos alongados são de cor branca, e as larvas da mesma cor
medem cerca de 8 mm.
As larvas alimentam-se das raízes e dos bolbos de uma ou mais plantas, causando
o amarelecimento e posterior morte das folhas. As larvas vivem cerca de 45 dias à
temperatura do ar de 15ºC e 17 dias a 25-30ºC, enterrando-se em seguida no solo para
pupar.
Medidas culturais:
Não fertilizar com estrume fresco pois o cheiro atrai a praga.
Arrancar as plantas atacadas.
Método para evitar a postura:
Utilizar uma cobertura directa da cultura com plástico (filme de polipropileno, 17 g/m2),
desde a plantação e durante cerca de 1 a 1,5 meses. Acresce ainda as melhores condições
de crescimento das plantas, devido a aumentos da temperatura do ar e do solo.
Após a colheita destruir as cebolas atacadas para destruir as larvas das moscas
Tratamentos fitossanitários:
A rotenona (*) é eficaz apenas durante os primeiros dias de vida das larvas e deve ser
aplicada ao fim da tarde.
DOENÇAS
Míldio (Peronospora destructor)
O desenvolvimento da doença ocorre em condições de grande humidade do ar e a partir
de valores de temperatura média diária do ar de 10ºC, situando-se a temperatura óptima
em cerca de 15ºC. Se a temperatura do ar atingir valores superiores a 25ºC durante o dia,
a doença termina. Os esporos do fungo podem conservar-se no solo durante 4 a 5 anos.
As folhas amarelecem e acabam por secar e os bolbos podem também ser atacados.
Medidas culturais:
Praticar rotações de culturas de pelo menos 5 anos.
Tratamentos fitossanitários:
Efectuar os primeiros tratamentos preventivamente quando as condições forem propícias
ao desenvolvimento da doença ou logo após a detecção dos primeiros focos com:
Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente
lavado pela chuva).
Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 7 dias, se as condições
se mantiverem. Adicionar óleo de pinho como molhante.
Alternariose (Alternaria porri)
Desenvolvimento da doença: temperatura média do ar entre 6 e 34ºC (temperatura
óptima de 25ºC) e tempo húmido (90% de humidade relativa do ar).
Todas as partes da planta podem ser atacadas por este fungo que provoca manchas
deprimidas brancas com o centro de cor púrpura.
Tratamentos fitossanitários:
Proceder de igual modo como para o míldio.
Ferrugem (Alternaria porri)
O desenvolvimento da doença ocorre quando a temperatura média do ar se situa entre
10 e 24ºC e com tempo húmido (90-100% de humidade relativa do ar).
As folhas apresentam pequenas pústulas alongadas de cor amarela-laranja, à volta das quais
o tecido da epiderme se pode elevar, tornando-se progressivamente negro.
Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar a cultura com enxofre ou argila.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.
COLHEITA
Quando a rama amarelece os bolbos encontram-se amadurecidos, devendo torcer-se as
folhas junto ao bolbo para evitar a entrada de água e acelerar a sua maturação. Esta
operação pode ser realizada com a passagem de um rolo sobre a cultura.
A colheita manual ou com um arrancador mecânico realiza-se quando pelo menos 50%
das folhas se encontram prostradas
Produtividade: 20 a 30 t/ha
ARMAZENAMENTO
Antes do armazenamento:
Secagem ao ar por 1-2 semanas, ao abrigo da chuva e orvalho.
Armazenamento:
Locar arejado e seco - até 6 meses.
Armazém com ventilação: 0 a 5ºC; 70-75% humidade relativa; durante 4 a 8 meses.
Armazém com refrigeração: -2 a 0ºC; 75-80% humidade relativa; durante 4 a 6
meses.
Couve Repolho
(Brassica oleracea var. capitata L..)
CICLO CULTURAL
Plantação em Agosto/Setembro e colheita em Janeiro/Fevereiro.
Exemplo:
15 Outubro 1 Dezembro
1 Setembro 1 Janeiro
Início do Repolho
Plantação Colheita
fecho do repolho fechado
ROTAÇÕES
A rotação mínima recomendada para a cultura da couve é de 3 anos.
Exemplo de uma rotação de culturas de 5 anos:
CRESCIMENTO
As temperaturas de crescimento são as seguintes:
mínima: 5ºC;
óptima : 15-20ºC;
máxima: 25ºC.
CULTIVARES
Devem ser utilizadas as cultivares regionais, com maior adaptação às condições de solo
e clima.
Das cultivares comerciais disponíveis, escolher as que apresentam melhor adaptação à
época do ano, às condições ambientais de produção e às preferências dos consumidores.
SOLO
Os melhores solos são de textura franco-argilosa, com elevada capacidade de retenção
de água, boa drenagem e com valores de pH de 6,0 a 6,8. Maior acidez do solo resulta em
ataques mais frequentes da doença potra da couve.
Para solos com valores de pH inferiores a 6,0 a calagem deve ser efectuada antes da
plantação ou de preferência no ano anterior. Para um solo com pH de 5,0 deve aplicar-se
6 t/ha de calcário dolomítico, que também contém magnésio.
Profundidade das raízes: 45 a 60 cm.
FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 30 a 40 t/ha de repolho é necessário cerca de 100-120 kg/ha
de azoto.
Aplicação de fundo:
Os compostos amadurecidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 15 dias
a 1 mês, na dose de 20 a 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).
Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 150 µg/g, recomenda-se a
aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 60 kg/ha de P2O5 e de K2O,
respectivamente.
O boro, manganésio e enxofre são nutrientes que, apesar de normalmente existirem no
solo, também devem ser avaliados.
Aplicação em cobertura:
2-3 semanas após a plantação é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume
produzido em MPB ou realizar fertirrigação com um adubo orgânico (Anexo 1).
PLANTAÇÃO
As plantas produzidas em viveiro, semeadas em tabuleiros de alvéolos, demoram cerca de
2 meses desde a sementeira até ao estado de 3-4 folhas.
A plantação em camalhões pode ser feita manualmente ou com o apoio de um plantador
montado em tractor e as plantas devem ficar profundas de modo a estimular a formação
do sistema radicular.
Distância de plantação:
Entre linhas: 50-60 cm;
Entre plantas na linha: 40 cm.
SACHA E AMONTOA
A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo e pode ser realizada
manualmente ou com apoio mecânico.
Na linha, a sacha pode realizar-se através de uma amontoa que estimula o crescimento
das raízes.
REGA
A cultura necessita de um fornecimento regular de água desde a plantação até ao fecho do
repolho, período com taxas de crescimento mais elevadas.
Sistemas de rega:
Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão e gota-a-gota.
A rega por aspersão deve ser efectuada de manhã para que as folhas sequem rapidamente,
de modo a diminuir a incidência de doenças.
PRAGAS
Mosca da couve (Delia radicum)
Este díptero passa o Inverno em forma de pupa, os primeiros adultos aparecem na
primavera e colocam os ovos no colo das plantas. As moscas adultas são cinzentas escuras
e cerca de metade do tamanho das moscas comuns. As fêmeas à temperatura de 20ºC
duram 12-15 dias e põe cerca de 150 ovos em pequenos grupos junto ao colo das plantas.
As larvas eclodem 3 a 8 dias após a postura e alimentam-se das raízes durante 3 a 4
semanas e depois transformam-se em pupas nas raízes ou no solo. Após 2 a 3 semanas
emerge o adulto.
Esta praga está activa de Abril a Outubro, podendo apresentar 3 a 4 gerações por ano, mas
a primeira originada pelas pupas hibernantes, é a maior. Acima de 30-35ºC as larvas ficam
inactivas e os ovos perdem viabilidade.
As larvas começam por destruir as raízes secundárias e depois penetram na raiz principal
escavando galerias, causando a murchidão e morte das plantas. As plantas jovens são mais
susceptíveis.
Medidas culturais:
Usar uma rede de 0,9 mm no viveiro.
Não fertilizar com estrume fresco pois o cheiro atrai a praga.
Os resíduos das culturas de couve ou nabo devem ser rapidamente enterrados no
solo, de modo a diminuir a população hibernante
Métodos para evitar a postura:
Utilizar uma cobertura directa da cultura com plástico (filme de polipropileno,
17 g/m2), desde a plantação e durante cerca de 1 a 1,5 meses. Acresce ainda as
melhores condições de crescimento das plantas, devido a aumentos da temperatura
do ar e do solo. A rotação evita que surjam moscas resultantes de pupas hibernante
no solo.
Cobrir o solo com círculos de plástico ou tecido à volta das plantas. Os círculos
devem ter cerca de 13 cm de diâmetro e no centro o ajuste deve ser chegado ao
colo da planta.
Tratamentos fitossanitários:
Antes da plantação, mergulhar os tabuleiros numa solução de rotenona (*).
Neem (*) - Demora cerca de 3 a 7 dias após aplicação a ter o seu efeito máximo.
Deve molhar-se bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de cerca de
5 dias. Tem uma eficácia inferior aos insecticidas anteriores.
Como norma não se deve aplicar o mesmo produto a duas gerações seguidas da mesma
espécie. Alternar com Spinosad ou Neem. Os insecticidas não se devem misturar.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.
DOENÇAS
Medidas culturais gerais:
À plantação utilizar plantas isentas de doenças.
As fontes de infecção estão associadas a sementes infectadas, resíduos de culturas e
plantas infestantes infectadas.
Míldio (Peronospora parasitica)
A temperatura óptima de desenvolvimento situa-se entre os 8 e os 16ºC durante a noite
e menos de 23ºC de dia. A presença de chuva ou orvalho nocturno é necessária.
Os esporos hibernam no solo ou em resíduos de culturas.
As plantas jovens são as mais sensíveis e é uma doença grave nos viveiros principalmente
no período de Outono/Inverno.
O míldio provoca manchas amareladas nas folhas e na página inferior um pó esbranquiçado.
A folha vai escurecendo e acaba por morrer.
Medidas culturais:
A rotação de culturas deve ser no mínimo de 3 anos sem culturas da família das
Crucíferas.
Evitar a rega por aspersão.
Proporcionar um bom arejamento da cultura através do aumento da distância entre
plantas, da colocação das linhas de plantas paralelas à direcção predominante do vento
e evitar locais abrigados.
Tratamentos fitossanitários:
Efectuar os primeiros tratamentos preventivamente quando as condições forem propícias
ao desenvolvimento da doença ou logo após a detecção dos primeiros focos da doença
com:
Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente
lavado pela chuva).
Molhar bem as plantas e repetir se as condições se mantiverem e à medida que a cultura
cresce para assegurar uma protecção ao estabelecimento da doença. Adicionar óleo de
pinho como molhante.
COLHEITA
A colheita manual é realizada quando o repolho se apresentar consistente.
Produtividade: 30-40 t/ha
PÓS-COLHEITA
Arrefecer os repolhos após a colheita, se necessário.
Comercialização imediata: manter a temperatura de 4ºC.
Armazenamento: 2 a 4 meses em câmaras a 0ºC e 95% de humidade relativa.
Feijão Verde
(Phaseolus vulgaris L.)
(Culturas hortícolas protegidas)
CICLO CULTURAL
Plantação em Março/Abril e final da colheita em Setembro.
Exemplo:
1Maio 1 Junho
1 Março 1 Setembro
Início da Início da
Sementeira Final da Colheita
floração Colheita
ROTAÇÕES
A rotação mínima para a cultura do feijão verde é de 3 anos.
Exemplo de uma rotação de culturas protegidas de 4 anos:
1º Ano 2º Ano
CRESCIMENTO
A cultura do feijoeiro é muito sensível às geadas.
Temperatura de germinação:
mínima: 12ºC;
máxima: 25-30ºC.
Temperatura de crescimento:
mínima: 10ºC;
óptima: 20-25ºC;
máxima: 30ºC.
Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 45
Território vs. Sustentabilidade
CULTIVARES
Devem ser utilizadas cultivares regionais de feijão verde de trepar, com maior adaptação
às condições de solo e clima.
As sementes são viáveis durante 3 anos e existem cerca de 2 a 4 sementes em 1 g.
SOLO
Os melhores solos são de textura média, com boa drenagem, ricos em matéria orgânica e
com valores de pH de 6,0 a 6,5.
Muito sensível à salinidade do solo (acima de 1,0 dS/m).
Profundidade das raízes: 60 a 90 cm.
FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 1-2 kg/m2 (10-20 t/ha) de feijão verde é necessário cerca de
60-80 kg/ha de azoto.
Aplicação de fundo:
Os compostos amadurecidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 1
mês, na dose de 20 a 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).
Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 120 µg/g, recomenda-se
a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 45 kg/ha de P2O5 e de
K2O, respectivamente.
SEMENTEIRA
A sementeira pode ser feita manualmente ou com um semeador.
Devem semear-se algumas plantas em vasos para substituição.
Distância de sementeira:
Entre linhas: 1 m; ou
Entre linhas pareadas: 50 cm entre linhas e 1 m entre pares de linhas.
Entre plantas na linha: 5-20 cm, ou 25-30 cm para 2 sementes em cada local.
Profundidade de sementeira: 2 cm
TUTORAMENTO
Após a emergência os fios de tutoragem devem ser atados no arame e enterrados no
solo.
SACHA E AMONTOA
A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo. Pode ser realizada
manualmente ou com apoio mecânico.
A sacha na linha pode ser realizada através de uma amontoa quando as plantas tiverem
cerca de 20 a 25 cm de altura.
REGA
Durante a germinação deve assegurar-se uma humidade não excessiva no solo, que permita
uma boa germinação das sementes. Normalmente é suficiente uma rega antes ou após a
sementeira.
As regas devem ser regulares desde o início do crescimento e durante todo o ciclo da
cultura. O período crítico ocorre na floração e início do vingamento, onde a falta de água
causa a queda de flores e vagens e o enrolamento das vagens.
Deve utilizar-se o sistema de rega gota-a-gota.
PRAGAS
Afídeos (Aphis craccivora, Aphis fabae)
Os ovos passam o Inverno sobre as plantas hospedeiras. Na Primavera nascem as fêmeas
que por sua vez, através de reprodução vivípara, dão origem aos jovens afídeos sem
necessidade de fecundação (partenogénese). Estas jovens larvas demoram apenas 8 dias a
20ºC para atingir o estado adulto.
Desde a Primavera até ao Outono podem existir entre 13 a 16 gerações. As formas aladas
de afídeos formam novas colónias noutras espécies de plantas e aparecem no inicio de
Abril, dependendo das temperaturas de Fevereiro e Março.
Os afídeos provocam deformações nas folhas, inibem o crescimento e as plantas ficam
enfraquecidas pela existência da fumagina sobre as folhas e vagens. Os afídeos também
transmitem vírus. O vírus do Mosaico é transmitido pelo piolho preto (Aphis fabae). e pelo
iolho verde (Myzus persicae).
Os afídeos têm muitos inimigos naturais. Os predadores depositam um ovo no interior
do afídeo cuja larva se desenvolve e se alimenta, saindo posteriormente por um orifício.
Um afídeo parasitado apresenta uma cor acastanhada, dourada ou branca e um orifício de
saída do parasita.
Medidas culturais:
Usar redes de 0,5 mm nas estufas.
Favorecer a acção dos predadores e parasitas naturais, evitando a aplicação dos
insecticidas rotenona (*) e piretrinas (*) porque também eliminam insectos auxiliares,
podendo causar aumentos nas populações de afídeos.
Controlar as plantas infestantes que sobreviveram durante o Inverno.
Para actuação precoce, verificar 2 vezes por semana a existência de afídeos nas
plantas ou em placas amarelas colocadas nas estufas a cerca de 60 cm do solo.
Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar a cultura no início do ataque, alternativamente com:
Sabão de potássio ou de amoníaco - A aplicação deve atingir as zonas onde os afídeos
se encontram, como na página inferior das folhas. A aplicação deve ser feita com água
não alcalina, de preferência ao fim do dia para que a secagem seja lenta. Podem ocorrer
problemas de fitotoxidade.
Neem (*) - Demora cerca de 3 a 7 dias após aplicação a ter o seu efeito máximo.
Deve molhar-se bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 5 dias.
Argila com óleo.A argila pode ser aplicada em mistura com sabões e outros pesticidas,
mas não com cobre ou enxofre. A aplicação deve ser feita com agitação periódica da
suspensão e de modo a cobrir todas as partes das plantas, de preferência em aplicação
de alto volume.
Óleo de verão (*) - A aplicação de óleos deve ser de modo a molhar bem as plantas
e deve ser repetida para assegurar o controle da praga. A aplicação deve ser feita em
dias com sol para evitar problemas de fitotoxidade que podem ocorrer se o produto
demorar a evaporar.
DOENÇAS
Podridão cinzenta (Botrytis cinerea)
Desenvolvimento da doença: humidade do ar elevada e valores de temperatura do ar
entre 15 e 20ºC.
Medidas culturais:
Aumentar o arejamento das estufas.
É aconselhável realizar a desfolha, removendo as folhas secas da base das plantas, para
melhorar as condições de arejamento.
Tratamentos fitossanitários:
Em caso de risco em plena floração, pulverizar com:
Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente
lavado pela chuva).
Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 7 dias, se as condições
se mantiverem.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.
COLHEITA
A colheita escalonada das vagens realiza-se durante cerca de 3 meses, quando as sementes
ainda não se desenvolveram significativamente e a vagem é de cor verde brilhante.
Produtividade: 1-2 kg/m2 (10 a 20 t/ha)
PÓS-COLHEITA
Imediatamente após a colheita o feijão verde deve ser arrefecido por água.
À temperatura de 5-7ºC e 95-100% de humidade relativa, conserva-se durante 10 dias.
Milho
(Zea mays L..)
CICLO CULTURAL
Sementeira em Maio e colheita em finais de Setembro
Exemplo:
ROTAÇÕES
A rotação recomendada para a cultura do milho é de 4 anos.
O milho consocia-se bem com o feijão e a abóbora.
Exemplo de uma rotação de culturas de 4 anos:
1º Ano 2º Ano
CRESCIMENTO
A cultura do milho é muito sensível às geadas.
Temperatura de germinação:
mínima: 10-12ºC;
máxima: 20-25ºC.
Temperatura de crescimento:
mínima: 5-6ºC;
óptima: 20-24ºC;
máxima: 35ºC.
CULTIVARES
Devem ser utilizadas cultivares regionais de milho com maior adaptação às condições de
solo e clima. A duração das sementes é de 2 anos.
Para as condições climáticas do concelho de Terras de Bouro deve utilizar-se de preferência
variedades de ciclo curto (FAO 300-400; de 96 a 115 dias).
SOLO
Os melhores solos são profundos, com boa capacidade de armazenamento de água, boa
drenagem e com valores de pH de 6,0 a 7,0.
O solo deve ser trabalhado em profundidade, a lavoura para incorporação dos fertilizantes
orgânicos não deve ser inferior a 25 cm, seguida de uma escarificação ou gradagem,
realizando-se uma ou duas passagens até se obter uma boa cama para a sementeira.
Profundidade das raízes: 50 a 80 cm.
FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 3 a 5 t/ha de milho grão é necessário cerca de 70-120 kg/ha
de azoto.
Aplicação de fundo:
Os compostos amadurecidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 1
mês, na dose de 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).
Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 150 µg/g, recomenda-se
a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 25 kg/ha de P2O5 e de
K2O, respectivamente.
Aplicação em cobertura:
2-3 semanas após a sementeira é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume
produzido em MPB ou aplicar um adubo orgânico (Anexo 1).
SEMENTEIRA
A sementeira é feita com um semeador.
Distância de sementeira:
Entre linhas: 70-90 cm
Entre plantas na linha: 15 a 20 cm.
Profundidade de sementeira: 3 a 6 cm.
SACHA E AMONTOA
Na fase inicial, desde as 2-4 folhas (10 cm) até às 6-10 folhas (30-40 cm), devem evitar-se as
plantas infestantes que competem com o milho na utilização de água e nutrientes.
A sacha na entre-linha pode ser realizada com um sachador manual ou com um
motocultivador equipado com uma alfaia de dentes. O sachador manual consiste num
pequeno carro com uma roda dianteira possuindo uma lamina que corta as infestantes
ligeiramente abaixo do solo e uma alfaia com 3 dentes que remexe o solo.
A sacha na linha realiza-se através de uma amontoa quando o milho tem aproximadamente
25 cm de altura.
Se houver necessidade de efectuar o desbaste, este deverá ser efectuado quando as plantas
tiverem 20 a 25 cm de altura.
REGA
A cultura é particularmente sensível à falta de água cerca de 15 dias antes e 15 dias
após a floração masculina, mas a rega deve manter-se até ao estado de grão pastoso
(aproximadamente entre 2 e 3,5 meses após a sementeira).
Nos períodos de grande necessidade de água pode prever-se 25 a 30 mm de água por
semana.
Sistemas de rega:
Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão ou por sulcos.
56 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro
Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico
PRAGAS
Brocas (pirale: Ostrinia nubilalis e sesamia: Sesamia nonagrioides)
As borboletas da pirale aparecem no princípio do Verão e põem os ovos em conjuntos de
15 a 20 na página inferior das folhas. As lagartas começam por comer as folhas e depois
penetram na medula dos caules e mais tarde nas espigas. As lagartas hibernam nos últimos
15-20 cm do caule ou noutras plantas hospedeiras.
As borboletas da sesamia põem os ovos em grupos de 100 na base dos caules, onde as
lagartas penetram e cavam galerias.
Medidas culturais:
Não usar a palha na cama dos animais.
Após a colheita destroçar os caules e incorporar os resíduos com uma lavoura para
eliminar as lagartas hibernantes.
A mosca Lydella thompsoni parasita as larvas da pirale devendo, por isso, preservar-se
os seus hospedeiros naturais como as canas.
Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar com:
Bacillus thurigiensis var. kurstaki (Bt) (*) – Pulverizar quando as lagartas começam a
penetrar o colmo ou as espigas. As aplicações devem ter início quando mais de 15%
das plantas apresentam lagartas jovens e os tratamentos devem ser repetidos pois a
acção do produto tem uma curta duração. Se existirem borboletas na fase inicial do
crescimento da espiga, é necessário pulverizar novamente, após a eclosão das lagartas.
Spinosad (*) - Como tem uma acção mais prolongada do que o Bt, necessita de um
menor número de aplicações.
Como norma não se deve aplicar o mesmo produto a duas gerações seguidas da mesma
espécie para evitar a resistência dos insectos. Alternar Bt com Spinosad.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.
COLHEITA
A colheita realiza-se quando a humidade do grão é de 25-35%.
A colheita não deve ser realizada em tempo húmido.
Produtividade: 3 a 5 t/ha
ARMAZENAMENTO
As caixas do milho devem ser desinfectadas com uma mecha de enxofre antes de colocar
o milho. Na Primavera, antes da postura das borboletas sobre os grãos, deve colocar-se
nas caixas recipientes de cor amarela, com óleo ou água para captura das borboletas. Se a
infestação for grande pulverizar com piretrinas (*).
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.
Anexo
CaO: 7,0%
Farinha
de peixe 6 H máx: 11%
MgO: 1,5%
(a) Norma Portuguesa 1048-2/1990 (teores mínimos em % peso comercial) - MO: 50%;
N-P-K (N-P2O5-K2O): 3-0-0, 2-2-2 (total=10%), 2-3-0 (total=6%), 3-0-6 (total=10%)
Adubos % de Materiais
Outros nutrientes Formulação Empresa
orgânicos azoto constituintes
II
Produção Animal
Bovinos
José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)
Jesus Cantalapiedra (Xunta de Galicia, Espanha)
Bovinos
O número de vitelos criados por uma vaca de carne é um bom indicador da sua qualidade
como reprodutora. As melhores vacas são as que parem pela primeira vez a uma idade
jovem, apresentam uma longevidade produtiva elevada, desmamam vitelos pesados e
apresentam intervalo entre partos reduzidos (Preston e Willis, 1974).
ALIMENTAÇÃO
A água deve estar sempre à disposição, em quantidade e qualidade suficiente, para evitar o
contágio de agentes infecciosos e parasitários como fases larvares de parasitas.
Devem usar-se alimentos produzidos segundo o MPB, podendo fornecer-se até 5% da
matéria seca de alimentos convencionais, por período de 12 meses.
A alimentação deve basear-se nos recursos alimentares da própria exploração (pastagens
e forragens) ou dos terrenos baldios (vegetação espontânea), de acordo com as suas
disponibilidades nos diferentes períodos do ano.
Inverno Estival
Pastoreio diurno – Terrenos Bovinos permanentemente na
privados e no baldio (localizado na Serra até Setembro, ou alternância
proximidade da exploração agrícola). diária entre as cortes e a Serra.
Fonte: Câmara Municipal de Terras de Bouro (2005)
ALOJAMENTOS E EQUIPAMENTOS
Os animais devem dispor de fácil acesso à alimentação e água.
É proibido o alojamento de vitelos em boxes individuais após a sua primeira semana de
vida.
As instalações podem ser muito simples, uma vez que os bovinos se adaptam a condições
meteorológicas adversas. No entanto devem apresentar isolamento e ventilação adequadas,
com luz abundante e natural. Somente as correntes de ar e/ou as mudanças bruscas de
humidade e/ou temperatura podem afectá-los negativamente. Os vitelos necessitam de
uma maior protecção, uma vez que o seu sistema termo regulador e imunológico pode
não estar completamente desenvolvido.
Para garantir o bem-estar dos animais, as superfícies mínimas para estabulação e as zonas
de exercício, devem ser as indicadas no quadro 2.
É obrigatório que os bovinos tenham acesso aos pastos ou às zonas abertas de exercício,
sempre que o permitam as condições fisiológicas dos animais, as condições atmosféricas
e o estado do solo.
A fase final da recria dos bovinos para produção de carne pode ser realizada em estabulação,
desde que esse período não exceda um quinto do tempo de vida do animal e, de qualquer
forma, o prazo de três meses.
Os pavimentos dos edifícios devem ser lisos mas não derrapantes. Pelo menos metade da
superfície dos pavimentos deve ser sólida, isto é, não ser ripada nem engradada.
Os alojamentos devem dispor de uma zona cómoda, limpa e seca para repouso
suficientemente grande. A zona de descanso deve possuir camas secas, utilizando-se
palhas ou carqueja (Chamaespartium tridentatum), urzes (Erica arbórea L., Erica umbellata
L.), tojos (Ulex minor) e fetos, entre outros. Esta prática contribui para a gestão das áreas
de pastagens naturais e, mais tarde, para a fertilização dos terrenos agrícolas (estrume
proveniente das camas).
As instalações deverão facilitar a evacuação frequente e retirada dos dejectos, o mais
longe possível, para transformação em húmus. O maneio deficiente dos dejectos origina
problemas ambientais, sendo um factor de risco sanitário para o gado, ao constituir um
substrato para a multiplicação e disseminação de parasitas, microrganismos, etc.
MANEIO
Sistema de cobrição recomendado – cobrição natural para partos fáceis, sendo permitida
a inseminação artificial, mas sem a administração de hormonas ou de substâncias similares
para controlar a ovulação (ex. indução ou sincronização do cio).
Para se minimizarem problemas sanitários, não é recomendável a introdução de animais
de outras explorações. Contudo, para melhorar geneticamente o efectivo e evitar a
consanguinidade aconselha-se a introdução pontual de um reprodutor masculino e/ou
novilhas provenientes de explorações em MPB.
Pequenos Ruminantes
Luís Filipe Pacheco (DRAEDM)
José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)
Pequenos Ruminantes
A União Europeia estabeleceu as exigências mínimas relativas ao modo de produção
biológico (MPB) de produtos agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nos
géneros alimentícios.
Aconselha-se o recurso a animais de raças autóctones, como garantia de adaptação às
condições locais, vitalidade e resistência às doenças. As condições de alojamento têm
também um tratamento especial, concedendo-se especial importância ao espaço mínimo
por animal e ao maneio dos estrumes. A alimentação constitui outra matéria de vital
importância nestes sistemas de produção. O predomínio dos alimentos fibrosos na dieta é
um dos aspectos chave. Finalmente, a aplicação de medidas para reforçar a resistência inata
dos animais, sem a utilização de produtos químicos, é outro aspecto importante do MPB.
Em suma, o MPB não dispensa o cumprimento de práticas fundamentais da criação de
caprinos e de ovinos, antes o reforça.
Como tal, passaremos em revista neste texto as principais práticas e técnicas a aplicar
pelos criadores de caprinos e de ovinos, para conseguirem melhorar os resultados técnico-
económicos da criação daqueles animais.
MANEIO
A sustentabilidade da criação de caprinos e ovinos em MPB requer a adopção de um
maneio integrador (Caballero et al., 2004), que responda às suas principais necessidades
fisiológicas, controle as doenças mais frequentes e proporcione aos animais as desejáveis
condições de conforto e bem-estar. Trata-se, essencialmente, de aplicar um conjunto de
medidas que tenham como finalidade:
Reforçar os mecanismos de defesa;
Evitar o stress e outras condições que favorecem o aparecimento de doenças;
Encontrar um equilíbrio entre a actividade microbiana e a fisiologia animal.
ALIMENTAÇÃO
Normalmente, as cabras e ovelhas pastam diariamente em superfícies de baldio (Brás
et al., 2005). Aproveitam alimentos espontâneos que, em circunstâncias normais, seriam
desperdiçados e até poderiam constituir uma ameaça. Os reduzidos custos alimentares e
a diminuição da vegetação potencialmente combustível são, pois, vantagens importantes da
criação destes animais. Mas há mais benefícios.
O pastoreio em superfícies semi-naturais proporciona uma dieta variada, melhorando o
consumo alimentar e o fornecimento de diversos minerais e vitaminas. No entanto, podem
existir, mesmo assim, carências de selénio na Primavera, com consequências nas fibras
musculares dos animais jovens. Também se poderão revelar défices de cobalto e cobre
em animais jovens com aleitamento deficiente, podendo surgir uma deficiente resposta
imunitária aos parasitas.
A prática tradicional do pastoreio de percurso permite cumprir, sem qualquer transtorno
para os criadores, duas regras fundamentais do MPB:
Utilização de alimentos biológicos, cultivados sem emprego de fertilizantes, herbicidas
ou fitofármacos, nem sementes transgénicas (os baldios não têm qualquer intervenção
humana directa, para além do fogo);
O uso de concentrados terá de ser inferior a 40% da matéria seca da dieta (os
criadores de cabras e de ovelhas aleitante sempre puseram em prática esta norma).
O pastoreio bem organizado é um valioso instrumento para o controlo dos parasitas,
visto permitir atenuar o risco de contaminação das pastagens por larvas infectantes e/
ou hospedeiros intermediários e/ou populações de carraças. O controlo da carga animal
constitui uma outra via de evitar reinfestações e infecções. Apesar das normas do MPB
permitirem até 13,3 ovelhas ou cabras por ha, a carga animal recomendada para as nossas
condições de montanha é claramente inferior àquele valor: entre 5 a 9 cabeças por ha.
O pastoreio alternante de ovinos ou caprinos com bovinos, combinando áreas de pastagem
é uma outra forma de controlo parasitário. Com efeito, os pequenos ruminantes são
afectados por parasitas distintos dos bovinos (apesar de haver algumas excepções).
As necessidades alimentares das ovelhas e cabras variam ao longo do seu ciclo produtivo
(cobrição, gestação, aleitamento).
Na época de cobrição, e até às quinze semanas de gestação, as necessidades alimentares
são normais.
Porém, as últimas seis semanas de gestação são críticas (Pacheco, 1986). E por várias
razões:
A maior parte do crescimento da(s) futura(s) cria(s) ocorre nesta fase;
A ingestão (apetite) da fêmea gestante diminui;
O consumo alimentar em pastoreio é menor, porque há menos tempo de pastoreio,
maiores dificuldades em comer por causa da chuva e menor produção das pastagens;
Uma alimentação deficiente neste período provoca uma diminuição do peso da cria à
nascença, menor capacidade de sobrevivência, menor instinto maternal e menor produção
leiteira.
A partir das seis semanas antes do parto, recomenda-se a utilização de uma pastagem
melhorada e/ou fornecer entre 200 a 400 g de concentrado biológico por fêmea e por dia.
Tratando-se de grãos de cereais, deverão ser fornecidos esmagados.
No início da lactação, as necessidades alimentares aumentam ainda mais. As fêmeas paridas
devem ter à disposição pastagens de melhor qualidade e/ou alimentos concentrados
biológicos: cerca 400 g de concentrado biológico por fêmea e por dia.
O maneio alimentar é determinante para assegurar a defesa dos animais contra os agentes
vivos que estão presentes no meio. E estes cuidados iniciam-se com o nascimento do
animal.
No dia do parto, é aconselhável verificar se o recém-nascido mama o colostro. Se tal não
suceder, devem retirar-se uns jactos, para remover as sujidades que possa ainda haver
80 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro
Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico
dentro e fora do teto e facilitar o corrimento de colostro. Quer o colostro quer o leite
maternal possuem propriedades que reduzem a possibilidade de aparecimento de diversos
distúrbios digestivos e doenças infecciosas. Mas o colostro deve ser consumido o mais
brevemente possível, porque após as primeiras 24 horas de vida, a sua absorção intestinal
vai baixando. O aleitamento maternal deverá ser de, pelo menos, 45 dias.
Para reforçar os laços entre a mãe e as crias nas primeiras horas de vida (que são vitais) e
facilitar a vigilância dos recém-nascidos, é conveniente instalar nos alojamentos pequenos
cubículos (com cerca de 1 m2). Estes acessórios poderão ser painéis amovíveis, que se
montam e desmontam de acordo com as necessidades.
A partir da terceira semana de vida as crias devem ter acesso a feno biológico de boa
qualidade e concentrado biológico.
Independentemente, do período do ciclo produtivo, há um conjunto de normas de maneio
alimentar a ter em conta:
Evitar mudanças bruscas da alimentação, estabelecendo períodos de adaptação
quando se introduzem novos alimentos;
No início da Primavera e Outono, quando surgem as plantas mais tenras, limitar o
consumo destes alimentos, obrigando o rebanho a uma passagem rápida e/ou fornecendo
feno;
Evitar o consumo de alimentos frios ou gelados, retardando a saída do rebanho para
a pastagem;
Melhorar o aleitamento das crias (anhos e cabritos). Para além desta condição, é
fundamental permitir que ele se realize em vários momentos do dia. Isto porque, quando as
crias são aleitadas unicamente após o regresso das mães do monte, mamam intensamente
podendo surgir diversos problemas digestivos (timpanismo, indigestões, diarreias, etc.).
A melhoria do aleitamento requer, por isso, uma alimentação cuidada (para que as mães
produzam leite em quantidade suficiente, podendo então aleitar as crias durante a noite e
início da manhã) e alojamentos adaptados (para fortalecer a relação mãe/filho).
SANIDADE
A higiene dos alojamentos e utensílios do rebanho é outra prática fundamental. Os
alojamentos devem ser limpos e desinfectados pelo menos duas vezes por ano com
produtos autorizados, como por exemplo cal viva.
A higiene das instalações obriga também ao controlo dos roedores (com jaulas-tampa)
assim como à sanidade dos cães e gatos, visto poderem transmitir diversas doenças ao
homem e aos pequenos ruminantes.
No MPB é proibida a utilização de medicamentos veterinários alopáticos de síntese
química ou antibióticos nos tratamentos preventivos. Deve-se recorrer aos produtos
fitoterapêuticos e homeopáticos, os oligoelementos e os produtos constantes no anexo
(parte C, ponto 3 do Regulamento (CE) 1804/1999), desde que os seus efeitos terapêuticos
sejam eficazes para a espécie animal e para o problema a que o tratamento se destina. Se,
por razões sanitárias e de bem-estar, os produtos prescritos não forem eficazes, podem
usar-se medicamentos veterinários alopáticos. Mas se forem administrados mais de dois
tratamentos antiparasitários ou antibióticos por ano (ou mais de um em ciclos produtivos
inferiores a 12 meses), os animais ou os produtos derivados não podem ser vendidos
como MPB.
Em consequência, o período de espera entre a última administração do medicamento
alopático ao animal e a obtenção de produtos alimentares biológicos que procedam desse
animal será o dobro do tempo legalmente estabelecido para o medicamento, com um
mínimo de 48 horas para os produtos que não especifiquem o período.
Os tratamentos biológicos com vacinas, realizados no âmbito de campanhas obrigatórias,
são autorizados.
Aves de Capoeira
Jerónimo Santos (DRAEDM)
José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)
Aves de Capoeira
A produção animal em modo biológico (MPB) é um sistema de criação onde o objectivo
é dar todas as condições de vida aos animais respeitando os princípios básicos do seu
comportamento inapto (Vaarst, 2003).
A criação de aves, pode revelar-se uma actividade rentável, devido ao curto ciclo de produção,
fácil maneio e reduzidos custos de implementação e manutenção da exploração.
CONVERSÃO
O processo de conversão para o modo de produção biológico (MPB) pode ser em
separado para as terras onde se vão cultivar os alimentos para as aves ou só para os
animais, mas também pode ser em simultâneo, ou seja, para toda a exploração.
Para que as aves de capoeira possam ser vendidas como produto biológico, devem ser
criadas segundo as normas do MPB durante pelo menos 10 semanas e desde os três dias
de idade se destinadas para a produção de carne, ou durante 6 semanas se para a produção
de ovos.
ALIMENTAÇÃO
Os animais devem ser alimentados com alimentos produzidos segundo o MPB e de
preferência provenientes da própria exploração, devendo ter água limpa e potável sempre
disponível.
É autorizada a incorporação de alimentos em conversão na ração alimentar, em média, até
um máximo de 30% da matéria seca da dieta no caso dos alimentos serem adquiridos, ou
até 60% se forem provenientes da própria exploração.
As matérias-primas convencionais, de origem vegetal e animal, mineral, oligoelementos,
vitaminas e pró-vitaminas, permitidas para alimentação animal em MPB estão enumeradas
em anexo (parte C e D no anexo II do Regulamento 1804/1999).
Como alimentos principais podem indicar-se os grãos de cereais (milho, aveia, trigo, ou
cevada) de leguminosas (feijões, ervilhas, tremoço, ervilhaca) e o fornecimento de uma
Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 85
Território vs. Sustentabilidade
refeição húmida constituída por farelos misturados com couves ou abóbora. Apesar de
não ser obrigatório, aconselha-se que as dietas das aves contenham, pelo menos, 65%
de cereais ou seus subprodutos acrescidos de forragens grosseiras, frescas, secas ou
ensiladas.
A existência de prados com uma mistura de gramíneas e leguminosas é fundamental para
incrementar a saúde e o bem-estar dos galináceos.
É proibido o uso de alimentos obtidos a partir de organismos geneticamente modificados
ou de produtos derivados destes. Os antibióticos, coccidiostáticos, produtos medicinais,
promotores do crescimento ou outras substâncias destinadas a estimular o crescimento
ou a produção não são autorizados na alimentação de aves.
INSTALAÇÕES
As instalações devem ter espaço compatível com o número de aves a serem criadas,
situarem-se em local afastado de outras explorações; dando preferência a locais secos,
arejados e protegidos dos ventos fortes dominantes.
As instalações devem ser construídas de maneira a facilitar a recepção dos pintos,
abastecimento de água e alimento, bem como a retirada de animais adultos e da cama, para
utilização como fertilizante.
As aves de capoeira não podem ser mantidas em gaiolas devendo ter acesso a parques
ao ar livre quando as condições meteorológicas o permitam e, pelo menos durante uma
terça parte da sua vida. É aconselhável que os parques sejam dotados de zonas de sombra
(árvores existentes ou a plantar). Na ausência destas, deverão ser providenciados abrigos
artificiais. Estas zonas de sombra devem ser aproveitadas para se instalarem bebedouros
ou comedouros.
A área total utilizável das instalações destinadas às aves de capoeira numa única unidade de
produção não deve exceder 1600 m2 devendo satisfazer as seguintes condições mínimas:
Possuírem aberturas de entrada e saída com uma dimensão adequada às características
das aves, devendo estas aberturas terem um comprimento total de pelo menos de
4m/100m2 de superfície de que as aves dispõem;
Pelo menos um terço da superfície do solo deve ser uma construção sólida, isto é, não
ser ripada nem engradada, e ser coberta por material de cama (palha, aparas de madeiras
ou areia). A cama tem como função o isolamento térmico entre o piso e as patas dos
animais, a diminuição da humidade, o conforto dos animais (descanso) e a prevenção de
problemas sanitários. Com uma espessura entre 5 a 10 cm, a cama deve ser posta com o
chão da instalação limpo e desinfectado, só sendo removida após a saída do lote das aves;
Galinhas poedeiras 6 4
engorda e pintada
Aves de engorda (em 10, com um máximo de 21 kg de
alojamento fixo) peso vivo/m2 4,5 por cada pato
(*) só no caso de alojamentos móveis com uma superfície não superior a 150 m2 que
permaneçam abertos durante a noite.
Fonte: Anexo VIII do Regulamento CE nº 1804/1999
As aves aquáticas devem ter acesso a um rego, charco ou lago, sempre que as condições
meteorológicas o permitam.
EQUIPAMENTOS BÁSICOS
Salientam-se como exemplos: as lâmpadas (fornecem calor aos pintos e iluminam o
alojamento à noite); os comedouros – infantis (tubular infantil, até 5 kg de ração); bandejas
(de plástico, alumínio, ferro, madeira ou tampas das caixas dos pintos); comedouros para
concentrado (tubulares com capacidade para 20 kg), suspensos a altura adequada, de
acordo com o desenvolvimento das aves; e os bebedouros.
PRÁTICAS DE PRODUÇÃO
Pintos / Frangos - Antes da recepção de um novo lote de animais realizar o vazio sanitário
das instalações.
Nos primeiros dias de vida, os pintos como são muito sensíveis às mudanças de temperatura,
devem ser mantidos próximos de uma fonte de calor (lâmpada), dos bebedouros, e da
ração, separando-os em lotes menores, usando-se uma chapa delimitadora. Esta facilita o
trabalho, a inspecção diária do tratador, evitando as correntes de ar. As chapas para formar
o círculo de protecção com uma altura de 0,60m, podem ser de folhas de papelão grosso,
metal galvanizado ou chapas finas. O diâmetro do círculo depende da quantidade de aves
no alojamento.
A temperatura ideal na primeira semana, medindo com termómetro a 15 cm da borda da
lâmpada e a 5 cm da cama, é de 32 ºC. Para a segunda semana deverá ficar em 29 ºC, na
terceira em torno de 26 ºC. A partir desta idade os animais já adquiriram resistência para
se adaptarem à temperatura ambiente.
Nas galinhas poedeiras, a luz natural pode ser complementada artificialmente para garantir
um máximo de 16 horas diárias de luminosidade, com um período nocturno contínuo sem
luz artificial de pelo menos 8 horas.
A observação constante das aves é um requisito essencial para a obtenção de bons
resultados da exploração. O período privilegiado para esta observação é no final do
dia, quando as aves estão mais calmas, preparando-se para a noite. Esta rotina permite
conhecer melhor as aves, o seu desenvolvimento ou detectar em tempo útil possíveis
anomalias e doenças. Salienta-se a atenção para a ocorrência de qualquer tipo de espirro
ou rouquidão.
Outro procedimento a ter em conta será a palpação de algumas aves, procurando verificar
se estão com boa quantidade de alimento no papo ou se o peso é satisfatório para a
idade.
A idade mínima de abate das aves de capoeira será de 81 dias para os frangos, 150 dias
para os capões, 140 dias para os perus e gansos, 94 dias para as pintadas e entre os 49 e
os 92 dias consoante a estirpe de pato.
De modo a assegurar o bom nível de azoto no solo e a evitar o aumento do teor de azoto
das toalhas freáticas através da lixiviação, é limitado a um número máximo de 580 frangos
para carne ou a 230 galinhas poedeiras por hectare.
Deve estar assegurada a identificação das aves e seus produtos em todas as fases da
produção, preparação, transporte e comercialização.
Suínos
João Santos e Silva (DRAEDM)
José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)
Suínos
A exploração de suínos em modo de Produção Biológico (MPB) deve ser encarada como
unidade poli-cultural, comportando a produção de diversas culturas em MPB, destinadas à
alimentação dos suínos.
O MPB de suínos deve contribuir para o equilíbrio económico e ambiental da exploração,
através da reciclagem natural dos nutrientes e de uma menor carga sobre o ambiente,
produzindo alimentos em segurança e de elevada qualidade. As condições de bem-estar
animal devem ser superiores ao das explorações convencionais.
A regulamentação do MPB de suínos impõe um sistema produtivo que possibilite ao
agricultor o direito de rotular a carne como alimento biológico.
CONVERSÃO
Os suínos devem ser provenientes de unidades de pecuária biológica, mas podem ser
convertidos os animais já existentes na exploração. Podem adquirir-se leitões até 35 kg em
explorações de agricultura convencional, caso não existam animais produzidos segundo
o MPB.
O período de conversão dos animais é de 6 meses, devendo respeitar-se as normas do
MPB.
ALIMENTAÇÃO
Os alimentos devem ser produzidos ou cultivados na própria exploração, respeitando o
MPB, devendo corresponder à diversidade das variedades utilizadas tradicionalmente na
região de produção.
Os concentrados utilizados são obrigatoriamente provenientes de matérias-primas
obtidas em MPB, sendo proibidos alimentos obtidos a partir de organismos geneticamente
modificados ou derivados destes.
Os alimentos são produzidos em MPB, sendo admitido 5% da matéria seca de alimentos
convencionais.
A alimentação deverá ser planeada em função do estado fisiológico em que o animal
se encontra e do seu peso vivo, de modo a não ocorrer carência nutritiva ao longo do
ciclo produtivo, e a não comprometer o bem-estar, a produtividade e a qualidade dos
produtos.
Os alimentos mais utilizados na alimentação de suínos, em sistema tradicional do norte de
Portugal, e que devem ser utilizados em MPB estão representados no quadro 1.
Porcos de engorda:
Porcos de criação:
Leitões 74
Suínos p/ engorda 14
Outros suínos 14
Fonte: Anexo VII do Regulamento CE nº 1804/1999
HIGIENE E SANIDADE
A prevenção de doenças baseia-se no fornecimento de uma alimentação equilibrada,
exercício regular e encabeçamento adequado.
É privilegiada a utilização de produtos fito-terapêuticos, homeopáticos e minerais. Contudo
se estes se revelarem ineficazes, podem ser utilizados medicamentos veterinários de
síntese sob a responsabilidade de um veterinário.
É proibida a utilização de medicamentos veterinários de síntese química e outras substâncias
para estimular o crescimento e a produção. No entanto é autorizada a administração de
hormonas como tratamento veterinário terapêutico a um determinado animal.
São autorizadas as desinfecções dos edifícios, do equipamento e das instalações ao abrigo
da legislação nacional e comunitária.
As vacinas e anti-parasitários são autorizados, assim como, as medidas inerentes aos planos
de erradicação obrigatórios implementados pelo Estado.
São autorizados para limpeza e desinfecção de instalações, equipamentos e utensílios os
produtos descritos em anexo (parte E do Regulamento CE nº1804/1999).
Apicultura
José Manuel Pires (ESAPL/IPVC)
Joaquim Cerqueira (ESAPL/IPVC)
Apicultura
A apicultura é uma importante actividade para a produção agrícola e florestal, contribuindo
para a protecção do meio-ambiente. Pela diversidade dos produtos obtidos: mel, pólen,
geleia real, propólis, cera, veneno da abelha e a criação de abelhas e rainhas, representa um
papel significativo na economia das explorações agrárias.
A qualificação dos produtos da apicultura como resultantes do modo de produção
biológico está estreitamente ligada às características dos tratamentos efectuados nas
colmeias como à qualidade do meio-ambiente. As condições de extracção, tratamento
e armazenagem dos produtos da apicultura são atributos a considerar neste modo de
produção. A filosofia de vida ecológica e naturalista, difundida principalmente na Europa,
tem incrementado a procura e o recurso a produtos e técnicas naturais, nomeadamente
os de origem apícola, designados como “produtos naturais”.
PERÍODO DE CONVERSÃO
Existe um período de conversão de cerca de um ano, para que os produtos apícolas
possam ser comercializados com referência ao MPB. Nesse período deve ser utilizada cera
produzida em MPB. No caso de novas instalações ou durante o período de conversão,
a utilização de ceras que não provenham de unidades em MPB pode ser autorizada
pelo organismo ou autoridade de controlo em circunstâncias excepcionais, desde que
não estejam disponíveis no mercado ceras produzidas segundo o MPB e na condição de
provirem dos opérculos.
ALIMENTAÇÃO
No final da época produtiva, devem deixar-se nas colmeias reservas suficientemente
abundantes de mel e de pólen, para o período invernal (Paixão, 1985) e a alimentação,
em casos de necessidade, deve ser feita com mel produzido segundo o MPB. É autorizada
a alimentação artificial das colónias quando, por rigores climáticos, esteja em risco a
sobrevivência das colmeias. Nesta situação, devem registar-se o tipo de produtos utilizados,
datas, quantidades e colónias beneficiadas. No caso de ocorrer a cristalização do mel, é
autorizada a alimentação artificial com xarope de açúcar ou melaços de açúcar, produzidos
ALOJAMENTOS E EQUIPAMENTOS
Os apiários são o equipamento produtivo mais importante da exploração apícola. São
constituídos pelas colmeias, os enxames de abelhas seleccionadas e todos os materiais
inerentes à sua instalação no terreno. As colmeias devem ser feitas de materiais naturais
que não apresentem qualquer risco de contaminação para o ambiente ou para os produtos
da apicultura e no seu interior só poderão ser utilizados produtos naturais, tais como
própole, cera e óleos vegetais. Aconselha-se a utilização de colmeias, que possuam as
seguintes características:
Segurança, oferecendo estanquicidade e resistência, pois vão estar expostas às condições
atmosféricas;
Ligeiras para tornar o seu manuseamento mais fácil;
Bem acabadas em termos construtivos para que as abelhas não tenham dificuldades em
se movimentar e executar todo o seu ciclo produtivo;
De longa duração, sem grandes exigências de manutenção, versátil e completa em termos
das suas componentes internas, confortáveis para as abelhas e bem ventiladas.
PRÁTICAS DE PRODUÇÃO
A abordagem ao apiário deverá fazer-se de uma forma cuidada e silenciosa, sempre pela
parte de trás da colmeia para não perturbar a actividade das abelhas (Beneditti e Pieralli,
1990). É proibido o uso de repelentes químicos de síntese durante as operações de
extracção de mel. As ceras necessárias para o fabrico de novas folhas de cera devem ser
provenientes de unidades de produção que praticam a agricultura biológica.
É proibida a destruição das abelhas nos favos como método associado à colheita dos
produtos da apicultura.
São proibidas as mutilações, como o corte das asas das rainhas.
Pode fazer-se a substituição da rainha com a supressão da antiga.
A prática da supressão dos zangões só é autorizada como meio de contenção da infestação
por Varroa jacobsoni.
O organismo ou autoridade de controlo deve ser informado da deslocação dos apiários
num prazo acordado com o mesmo.
Deve ser tomado especial cuidado para assegurar a adequada extracção, tratamento
e armazenagem dos produtos da apicultura. Todas as medidas tomadas deverão ser
registadas.
Nota: O calendário de operações pode variar em função das condições climáticas, de relevo
e de vegetação.
Bibliografia e Legislação
BIBLIOGRAFIA
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Brás, A., Marques, C., Pacheco, F. e Moreira, D. (2005). Plano de acção para a
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de Ovinos, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro: 43-56.
LEGISLAÇÃO
Portaria 1275/95 de 26 de Outubro. Regulamento do licenciamento e classificação das
explorações de suínos em regime intensivo ao ar livre.
Portaria 1276/95 de 26 de Outubro. Regulamento do licenciamento e classificação das
explorações de suínos em regime extensivo
Decreto-lei nº 339/99, referente ao registo, autorização para exercício da actividade de
classificação e titulação, implementação e funcionamento das explorações suinícolas.
Regulamento (CE) nº 1804/1999 do Conselho de 19 de Julho de 1999 que completa, no
que diz respeito à produção animal, o Regulamento (CE) nº 2092/91 relativo ao modo de
produção biológico de produtos agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nos
géneros alimentícios. JOC (222): 1-28.
III
Compostagem
para a Agricultura
Biológica
L. Miguel Brito
Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. /IPVC
Figura 2 – Pilha longa com mistura de dejectos animais e palha no início da composta-
gem (Proj. Agro 747).
2 – O PROCESSO DE COMPOSTAGEM
O processo de compostagem envolve a escolha dos materiais, a selecção do local, e a
selecção do sistema de compostagem. O processo de compostagem pode depender dos
materiais existentes e do tempo disponível para a compostagem desses materiais.
A compostagem ocorre quando existe água, oxigénio, carbono orgânico e nutrientes para
estimular o crescimento microbiano. No processo de compostagem os microrganismos
decompõem a matéria orgânica e produzem dióxido de carbono, água, calor e húmus. O
processo de compostagem mais comum na agricultura biológica é conduzido em pilhas
estáticas (ou com um volteio após 3 a 4 semanas de compostagem), por um período de 3
meses, seguido por um período de maturação de mais 3 meses.
2.1 – Biologia
Diferentes comunidades de microrganismos (incluindo bactérias, actinomicetas, leveduras
e fungos) predominam em diferentes fases da compostagem. Com temperaturas superiores
a 40°C começam a predominar os microrganismos termófilos. Com temperaturas
superiores de 55°C muitos dos microrganismos patogénicos para os humanos ou para as
plantas são destruídos. No entanto, não é conveniente deixar ultrapassar os 65 °C pois a
maioria dos microrganismos são destruídos, incluindo aqueles que são responsáveis pela
compostagem. As sementes de infestantes podem perder a viabilidade a temperaturas de
40-60°C no interior da pilha. As sementes que se localizam no exterior da pilha podem,
contudo, não perder a viabilidade por as temperaturas não atingirem aí valores necessários
para esse efeito. As infestantes podem ser impedidas de germinar no exterior da pilha
utilizando uma cobertura escura.
2.2 – Física
Temperatura
A produção de calor depende da velocidade a que a decomposição se processa ou seja da
velocidade a que os microrganismos crescem e actuam. A decomposição depende: (i) do
teor de humidade, arejamento e relação C/N da mistura dos materiais; (ii) das dimensões
e tipo de cobertura da pilha de compostagem e (iii) da temperatura exterior à pilha.
A temperatura deve alcançar os 40 a 50 °C em dois ou três dias e quanto mais depressa
o material for decomposto mais cedo a temperatura começará a descer. A compostagem
pode ser dividida em duas partes. A primeira é mais activa e caracteriza-se por uma forte
actividade microbiana e pelo aumento de temperatura dos materiais em decomposição. A
segunda parte caracteriza-se por taxas metabólicas muito mais reduzidas e é conhecida
por fase de arrefecimento e maturação, durante a qual o material se torna estável, escuro,
amorfo, com aspecto de húmus e um cheiro a terra (Witter & Lopez-Real, 1987).
A decomposição ocorre mais rapidamente na primeira parte da compostagem com
temperaturas da ordem dos 40-60°C, e pode demorar semanas ou mesmo meses,
dependendo do tamanho e da composição da pilha de compostagem. Neste período
devem ser destruídos os organismos patogénicos e as sementes de infestantes. Quando a
temperatura atingir os 65ºC é conveniente revirar a pilha para que o calor se dissipe e a
temperatura diminua. A fase mais activa da compostagem está terminada quando, após o
volteio da pilha, os valores de temperatura não aumentam significativamente, seguindo-se
um período mais longo de amadurecimento do composto.
Humidade
Um teor de humidade de 50 a 60% é considerado indicado para a compostagem. Abaixo
de 35-40% de humidade a decomposição da matéria orgânica é fortemente reduzida e
abaixo de 30% de humidade é praticamente interrompida. Uma humidade superior a 65%
retarda a decomposição, para além de se provocar maus odores em zonas de anaerobiose
localizadas no interior da pilha de compostagem.
O teste da esponja é um teste expedito para verificar se a humidade do material é
apropriada e consiste em pegar numa mão cheia de composto e apertar; não devendo
escorrer água (pode pingar algumas gotas) mas ficando humidade na mão. Idealmente a
pilha deve encontrar-se próxima da capacidade de campo.
Arejamento
O arejamento da pilha favorece a oxigenação, a secagem e o arrefecimento no seu interior.
Isto é, fornece o oxigénio para a actividade biológica, remove humidade e calor diminuindo a
temperatura da massa em compostagem. O oxigénio é necessário para os microrganismos
obterem energia resultante da oxidação do carbono orgânico resultando a libertação de
dióxido de carbono. A falta de oxigénio causa um ambiente redutor, resultando compostos
incompletamente oxidados como ácidos voláteis e metano (CH4).
O número de vezes que o material deve ser revirado depende de diversos factores
podendo ser necessário revirar uma ou duas vezes no primeiro mês e, eventualmente,
mais uma vez no segundo mês (fig. 5 a 8). Algum azoto poderá ser perdido quando se
revira a pilha de compostagem.
Figura 5 Figura 6
Figura 7 Figura 8
Figura 5 a 8 - Volteio mecânico da pilha, ao fim de 1 mês de compostagem. O material foi
introduzido no distribuidor de estrume para reconstituição da pilha (Proj. Agro 747).
Odores
O excesso de humidade, a falta de porosidade, a rápida degradação do substrato e o
tamanho excessivo da pilha, podem criar condições de anaerobiose no interior da pilha
de compostagem. Estas condições resultam na formação de compostos que provocam
odores desagradáveis quando se volatilizam. Estes odores provêm de vários compostos
orgânicos incompletamente oxidados, designadamente, ácidos gordos voláteis de baixo
peso molecular, compostos de enxofre, como o ácido sulfídrico, compostos aromáticos,
e aminas. No entanto, o amoníaco é o composto que mais frequentemente contribui,
quer em aerobiose quer em anaerobiose para os odores desagradáveis. O odor intenso e
desagradável dos resíduos orgânicos normalmente vai diminuindo durante a fase inicial da
compostagem e praticamente desaparece no final do processo de compostagem.
2.3 – Química
Carbono e azoto
Nos materiais orgânicos o azoto encontra-se principalmente na forma orgânica. O azoto
mineral existente encontra-se principalmente como azoto amoniacal durante a fase
termófila da compostagem e na forma nítrica no composto maduro. Se o azoto existir em
excesso, e os microrganismos não o utilizarem, por falta de carbono disponível, o azoto
pode acumular-se e perder-se por volatilização na forma de amoníaco ou por lixiviação
de azoto nítrico.
A relação C/N = 30 é desejável para o processo de compostagem, durante o qual, quase
todo o azoto orgânico está disponível para ser utilizado pelos microrganismos, mas o
mesmo não se verifica relativamente ao carbono de determinados materiais, por se
encontrar em formas resistentes à degradação biológica. Por exemplo, os jornais são mais
resistentes que outros papéis pois são constituídos por fibras celulósicas lenhificadas,
sendo a lenhina um composto muito resistente à decomposição. Neste tipo de materiais,
incluindo caules de milho e palha de cereais, deve ser considerada uma relação C/N mais
elevada para iniciar a compostagem. Assim, a relação C/N da mistura a compostar tem que
ser ajustada em função da disponibilidade do carbono e do azoto nos materiais.
Durante a compostagem metade ou mais de metade do volume da pilha será perdido com
a decomposição dos materiais. O carbono é perdido mais rapidamente que o azoto e,
por isso, a relação C/N diminui durante a compostagem. A relação C/N pode diminuir de
valores superiores a 30 para valores inferiores a15.
Outros nutrientes
Os outros nutrientes essenciais para o metabolismo dos microrganismos encontram-se
geralmente em quantidades suficientes relativamente ao azoto, nos materiais orgânicos
originais utilizados na compostagem. No entanto, em alguns casos poderá ser aconselhável
3 – CARACTERÍSTICAS DO COMPOSTO
3.1 – Quantidade de composto produzido
Durante a compostagem o volume da pilha reduz-se para metade ou menos de metade
Esta diminuição de peso e volume resulta num aumento da concentração de nutrientes e
reduz a necessidade em espaço para armazenamento e transporte.
Corrente (1)
Composto: Ecológico (2) Biológico (3)
Até 2009* Após 2009
Câdmio (mg/kg) 5 1,5 1 0.7
Chumbo (mg/kg) 400 150 100 25
Cobre (mg/kg) 500 200 100 45
Crómio (mg/kg) 400 150 100 70
Mercúrio (mg/kg) 5 1,5 1 0,4
Níquel (mg/kg) 200 100 50 25
Zinco (mg/kg) 1500 500 300 200
Materiais inertes antropogénicos (%) 2 1 0,5
Salmonella spp.Ausente em (g) 25 25 50
Escherichia coli (NMP/g) 1000 1000 1000
(1) Proposta de regulamentação sobre qualidade do composto para utilização na agricultura, de M. S. Gonçalves e
M. Baptista, do MADRP / INIA / LQARS, de Abri de 2001, (*) Os compostos que cumpram os requisitos correspon-
dentes ao período anterior a 2009, poderão ser utilizados depois de 2009 apenas em solos onde não se implantem
culturas destinadas à alimentação humana ou animal.
(2) Decisão da Comissão n.º 2001/688/CE de 28 de Agosto, que estabelece os critérios ecológicos para atribuição
do rótulo ecológico comunitário aos correctivos de solos e aos suportes de cultura.
(3) Regulamento (CEE) n.º 2092/91 do Conselho de 24 de Junho, que estabelece os princípios do modo de produ-
ção biológico de produtos agrícolas.
Entre as restrições à utilização das substâncias referidas no Regulamento (CEE) n.º 2092/91,
destacam-se: os estrumes não podem ser provenientes da pecuária intensiva sem terra;
os estrumes secos e os excrementos de aves de capoeira não podem ser provenientes da
pecuária sem terra; os excrementos líquidos dos animais (chorume e urina) não podem
ser provenientes da pecuária sem terra; os resíduos domésticos orgânicos têm de ser
separados na origem e com um sistema de recolha fechado e controlado pelo Estado-
membro, e só podem ser utilizados por um período de tempo limitado.
Entre os produtos de origem animal, desde que autorizados pela entidade de controlo,
podem utilizar-se as seguintes farinhas: sangue, cascos, chifres, ossos, peixe, carne, e penas.
Pode utilizar-se também farinha de bagaço de oleaginosas, casca de cacau e radículas de
malte, bem como, algas e produtos de algas desde que sejam obtidos directamente por
processos físicos, por extracção com água ou soluções aquosas, ou por fermentação.
A serradura, as aparas de madeira e os compostos de casca de árvore não podem ter
tido tratamento químico após o abate. O fosfato natural moído não pode ultrapassar um
teor de cádmio de 90 mg/kg. Vinhaça e extractos de vinhaça podem ser utilizados com
excepção das vinhaças amoniacais.
3.3. – Estado de maturação do composto
Os métodos desenvolvidos para avaliar a maturação dos compostos orgânicos baseiam-se
em ensaios físicos, químicos e/ou biológicos. Um composto estará maduro quando a sua
temperatura se mantém constante durante a movimentação do material. O pH próximo
do neutro, a capacidade de troca catiónica superior a 60 meq por 100 g de composto e
quantidades apreciáveis de nitratos são, também, indicadores de que o composto está
aceitavelmente amadurecido.
4 – UTILIZAÇÃO DO COMPOSTO
4.1 – Aplicação ao solo agrícola
As principais características a considerar para os compostos orgânicos a aplicar ao solo
(fig. 9) são os seguintes:
Na generalidade dos países União Europeia a dose máxima admissível de azoto que se
pode aplicar ao solo varia entre 170 kg/ha e 250 kg/ha por ano. Em Portugal não se
deve exceder o primeiro valor nas Zonas Vulneráveis à lixiviação de nitratos de origem
agrícola. Na Áustria, por exemplo, não pode ser ultrapassada a dose de 170 kg/ha de N
com origem em fertilizantes orgânicos, em agricultura biológica, e assume-se que 25% do
N dos compostos frescos fica disponível, após a aplicação ao solo, durante o primeiro
ano. Na Dinamarca sugere-se que a disponibilidade do N dos compostos de resíduos de
suínos ou de bovinos no segundo ano é de 10% (Danish Plant Directorate, 1997).Verdonck
(1998) referiu que a disponibilidade de N no primeiro ano baseada em aplicações de 30
t/ha seria de 10% a 15%, enquanto Amlinger, et al. (2003) referem variações entre 5% e
15% no primeiro ano e entre 3% e 8% nos anos seguintes. Contudo, em Portugal, devido
às elevadas temperaturas, em comparação com os países do norte da Europa, é provável
que estes valores sejam superiores. Por outro lado, as taxas de mineralização são muito
variáveis porque dependem da natureza dos compostos e das condições em que são
utilizados, e variam com os métodos através dos quais são estimadas.
BIBLIOGRAFIA
Amlinger, F., Gotz, B., Dreher, P., Geszti & Weissteiner, C. (2003). Nitrogen in
biowaste and yard compost: dynamics of mobilisation and availability – a review. Eur. J. Soil Biol.
39, 107-116.
Lampkin N. (1992). Organic Farming. Farming Press, UK
Lairon D, Spitz N, Termine E, Ribaud P, Lafont H & Hauton J (1984). Effect of
organic and mineral nitrogen fertilization on yield and nutritive value of butterhead lettuce. Qual.
Plant Foods Hum. Nutr. 34:97-108.
Morel J L, Colin F, Germon J G, Godin P & Juste C (1985). Methods for the evaluation
of the maturity of municipal refuse compost. In Composting of agricultural and other wastes,
J.K.R. Gasser (ed). Elsevier Applied Science, London, pp.56-72.
Witter E & Lopez-Real J M (1987). Monitoring the composting process using parameters
of compost stability. In: Compost: production, quality and use. M de Bertoldi, M.P. Ferranti,
P.L’Hermite, F.Zucconi (eds). London, pp.351-358.
Verdonck, O. (1998). Compost specifications. Acta Hort., 469:169-178.
FICHA TÉCNICA
Título: Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro
Editores: Isabel Mourão, José Pedro Araújo e Miguel Brito (Escola Superior Agrária
de Ponte de Lima - ESAPL / IPVC)
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