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Território vs.

Sustentabilidade
Projecto-piloto para a conversão da agricultura
tradicional em modo de produção biológico

Manual de

Terras de Bouro
Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

NOTA PRÉVIA
Terras de Bouro é um município de montanha onde a ruralidade começa a dar lugar a um
destino turístico preferido por muitos portugueses e alguns estrangeiros. O “coração” do
Parque Nacinal da Peneda-Gerês, as termas do Gerês, o santuário de São Bento da Porta
Aberta, as barragens de Vilarinho das Furnas e de Caniçada, a pousada de Juventude de
Vilarinho, a consagração da Geira (via romana) como património nacional e a preparação
da sua candidatura a património da UNESCO conferem a este concelho um potencial
turístico único na região e, até, no país.
Virada a página da emigração e o consequente abandono da agricultura de subsistência,
assistimos, hoje, a grandes investimentos em infra-estruturas e equipamentos de modo
a criar um produto turístico de excelência que promova a criação de emprego e fixe a
população, nomeadamente os mais jovens.
Além da beleza da sua paisagem e do património, Terras de Bouro tem outros atractivos
para oferecer, como o artesanato (bordados, cestaria, trabalhos em linho, madeira, etc.) e
a gastronomia.
Para aqueles que teimam em se manter arreigados à terra, quer a tempo inteiro, quer em
part time, a Câmara Municipal avançou com um projecto pioneiro denominado «Território
vs. Sustentabilidade: projecto-piloto para a conversão da agricultura tradicional em modo
de produção biológico», com o objectivo de combater o crescente abandono das terras e
criar uma mais-valia para aqueles que teimam em manter a sua ligação à terra. Partindo da
constatação que os métodos de cultivo utilizados pelos nossos agricultores estão muito
próximo dos da agricultura biológica, avançámos com uma campanha de sensibilização que
teve resultados muito positivos, pois lançaram-nos um desafio: «se tivermos quem nos
compre os produtos, nós produzimos!»
Perante esta realidade, implementámos este projecto cientes que a preocupação dos
portugueses com os produtos que ingerem, e que os leva a estarem dispostos a pagar mais
por um produto de melhor qualidade, levará, num futuro muito próximo, ao aumento da
procura dos produtos de origem biológica, aliás, Portugal importa uma grande quantidade
de produtos biológicos.
Para o município, esta iniciativa insere-se nos seus objectivos de valorização dos recursos
naturais e articula-se com outros projectos como a rede de trilhos pedestres na senda de
Miguel Torga e a recuperação do património construído ligado à agricultura (espigueiros,
moinhos, sequeiras, eiras, etc.) potenciador de um turismo rural em grande expansão.Além
disso, contribui para a conservação da paisagem evitando que o equilíbrio do ecossistema
seja posto em causa.

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Por último, convém referir o papel fundamental que a agricultura biológica deverá ter na
área da gastronomia que, como sabemos, é um dos pilares de sustentação de um turismo
de excelência. Quantas pessoas não “abririam os cordões à bolsa” para comer um cabrito
das encostas de Brufe, do monte de Santa Isabel, da Ermida, ou para saborear o famoso mel
da serra do Gerês, já para não falar do famoso cozido de couves com feijão acompanhado
de um naco de pernil de porco criado em plena liberdade campestre?
Numa altura em que tanto se fala em preservação ambiental e em desenvolvimento
sustentável, Terras de Bouro passa das palavras à acção e procura, vencendo todas as
contrariedades inerentes a um município afastado dos grandes centros urbanos e
muitas vezes esquecido pelo poder central, implementar um verdadeiro processo de
desenvolvimento rural sustentado que coloque este município na rota dos destinos
turísticos por excelência.

O Presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro,

(António José Ferreira Afonso)

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INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a agricultura intensiva introduziu elevadas quantidades de pesticidas,
adubos, hormonas e outros produtos químicos de síntese, alterou os ecossistemas,
prejudicou a fertilidade dos solos e a qualidade da cadeia alimentar. Abandonaram-se
práticas como a fertilização orgânica dos solos com estrumes, o cultivo de variedades
agrícolas e hortícolas tradicionais, a utilização das raças autóctones e o maneio animal ao
ar livre, reconhecendo-se, actualmente, que as práticas agrícolas que se utilizam não são
sustentáveis.
A sustentabilidade da agricultura requer a salvaguarda do ambiente e da paisagem e, por
isso, deve ser remunerada também por esse serviço. A Agricultura Biológica é uma das
formas de actuar de forma construtiva e equilibrada nos sistemas agrícolas, inseridos nos
sistemas naturais, melhorando a fertilidade dos solos, promovendo o correcto uso da água
e preservando a biodiversidade, para além de produzir alimentos de elevada qualidade.
Em 1972 foi fundada a Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Biológica
(IFOAM), actualmente com sede na Alemanha. Em Portugal, a Associação Portuguesa de
Agricultura Biológica (AGROBIO) surgiu em 1985 e em 1991 a Comunidade Europeia
publicou o regulamento (CE) nº 2092/91, definindo as normas do modo de produção
biológico, incluindo o controlo e a rotulagem dos produtos vegetais. Em 1999, o modo de
produção biológico animal foi contemplado no regulamento CE nº 1804/99.
Segundo a IFOAM, a agricultura biológica engloba todos os sistemas que promovem a
produção de alimentos e fibras sãos sob um ponto de vista ambiental, social e económico.
Estes sistemas baseiam-se na fertilidade do solo a nível local como chave para uma produção
de sucesso.Ao respeitar a capacidade natural das plantas, animais e paisagem, visa optimizar
a qualidade em todos os aspectos da agricultura e do ambiente. A agricultura biológica
reduz substancialmente a utilização de factores de produção externos à exploração,
através da não utilização de fertilizantes e pesticidas químicos de síntese e de produtos
farmacêuticos.
A Câmara Municipal de Terras de Bouro deseja incentivar a agricultura no modo de
produção biológico, de modo a preservar os ecossistemas e a beleza paisagística do seu
território, através de várias acções, entre as quais a publicação do presente Manual de
Agricultura Biológica, que pretende colaborar para a tomada de decisão das culturas
agrícolas e das espécies animais que podem ser produzidas em Terras de Bouro.
As culturas aqui abordadas como a batata, a couve, a cebola e o milho ao ar livre e ainda
o feijão verde, como exemplo de uma cultura protegida, são conhecidas dos agricultores
locais. Estas culturas permitem desenvolver diferentes rotações culturais, para diferentes
condições locais, que possibilitam as melhores soluções em termos de utilização dos
nutrientes dos resíduos orgânicos restituídos ao solo, de menores riscos de incidência de
pragas e doenças e das oportunidades de mercado. As raças de bovinos e de pequenos

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ruminantes, de suínos e de aves de capoeira produzidas no modo de produção biológico


e referidas neste manual, são adaptadas ao meio ambiente de Terras de Bouro, podendo
ser produzidas em diferentes locais do seu território. A apicultura é outra actividade que
pode contribuir para a protecção ambiental e assumir importância, perante um mercado
alimentar cada vez mais exigente em produtos naturais ou produzidos no modo de
produção biológico. A fertilidade orgânica do solo, que é básica para a sustentabilidade do
modo de produção biológico, é referida neste manual com destaque para o processo de
compostagem, a qualidade do composto e a sua aplicação ao solo agrícola.

Os editores

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

ÍNDICE
NOTA PRÉVIA ------------------------------------------------------------------------------ 5
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 7
I -PRODUÇÃO VEGETAL --------------------------------------------------------------------- 11
1 .Batata --------------------------------------------------------------------------------13
2 .Cebola -------------------------------------------------------------------------------23
3 .Couve repolho ---------------------------------------------------------------------33
4 .Culturas protegidas - Feijão verde ----------------------------------------------43
5 .Milho ---------------------------------------------------------------------------------51

ANEXO (Lista de fertilizantes orgânicos) ------------------------------------------------------ 59


II -PRODUÇÃO ANIMAL -------------------------------------------------------------------- 63
1 .Bovinos ------------------------------------------------------------------------------65
2 .Pequenos ruminantes -------------------------------------------------------------75
3 .Aves de capoeira -------------------------------------------------------------------83
4 .Suínos --------------------------------------------------------------------------------93
5 .Apicultura ------------------------------------------------------------------------- 101

ANEXO (Matérias-primas e aditivos para alimentação animal e produtos para limpeza e


desinfecção) -------------------------------------------------------------------------------------- 109

BIBLIOGRAFIA E LEGISLAÇÃO --------------------------------------------------------115


III - COMPOSTAGEM PARA A AGRICULTURA BIOLÓGICA ----------------------------------------119
1 .Introdução ------------------------------------------------------------------------ 121
2 .O processo de compostagem ------------------------------------------------- 126
3 .Características do composto -------------------------------------------------- 130
4 .Utilização do composto -------------------------------------------------------- 133
Bibliografia --------------------------------------------------------------------------- 137

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I
Produção Vegetal

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BATATA (Solanum tuberosum L.)

Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747)


Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Batata
(Solanum tuberosum L.)

CICLO CULTURAL
Plantação em Abril/Maio e colheita em Agosto/Setembro.
Exemplo:

15 Junho 1 Agosto
1 Maio 1 Junho 1 Julho Início da 1 Setembro
Início da
Plantação 50% emergência 50% Floração maturação dos Colheita
tuberização
tubérculos

ROTAÇÕES
A batateira deixa o terreno sem muiitas infestantes para a cultura seguinte. As culturas
anteriores favoráveis são aquelas que deixam no terreno uma grande quantidade de
resíduos da cultura.
A rotação recomendada para a cultura da batata é de, no mínimo, 4 anos.
Exemplos de rotações de culturas para diferentes zonas:

Zonas Abrigadas
1º Ano 2º Ano 3º Ano

Mai-Ago Set-Mar Abr-Jul Set-Fev Mai-Jul Ago-Abr


Ervilha
Batata Nabo/Nabiça Alho francês Alface Trevo+azevém
grão/queb
4º Ano 5º Ano

Mai-Ago Set-Fev Abr-Jul Ago-Mar

Cebola Couve Feijão Sideração

Proj. Agro 747

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Território vs. Sustentabilidade

Zonas de planalto
1º Ano 2º Ano 3º Ano
Mai-Ago Set-Abr Mai-Ago Set-Jul Ago-Abr
Couve Trevo+
Batata Feijão Centeio
galega azevém
4º Ano

Mai-Set Set-Mar

Milho Sideração
Proj. Agro 747

CRESCIMENTO
A cultura da batata é muito sensível às geadas.
As temperaturas de crescimento são as seguintes:
mínima: 6 a 8ºC;
máxima: 30ºC;
óptima: 15-18ºC.

VARIEDADES
As variedades a utilizar devem ser semi-tardias (100-120 dias, necessitando de uma
acumulação térmica de 2000 a 2500ºC) e devem ser pouco susceptíveis ao míldio.

SOLO
A batata é muito sensível à compactação e à má estrutura do solo. Os melhores solos
são de textura média, com os agregados homogéneos, arejado, rico em matéria orgânica e
moderadamente ácidos, preferindo valores de pH de 5,0 a 6,8.
Se for necessário aumentar o pH do solo, a calagem deve ser efectuada 1 a 2 anos antes
da cultura da batata, com calcário dolomítico, que também contém magnésio.
O solo deve ser trabalhado em profundidade, a lavoura para incorporação dos fertilizantes
orgânicos não deve ser inferior a 25 cm, seguida de uma escarificação.
A profundidade das raízes é de 45 a 60 cm.

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FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 20 a 30 t/ha de batata é necessário cerca de 100-120 kg/ha de
azoto.
 Aplicação de fundo:
Os compostos maduros devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 15 dias a 1
mês antes da plantação, na dose de 20 a 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).
O potássio é um elemento muito importante nesta cultura pois concede maior resistência
às doenças, aumenta o calibre e o poder de conservação dos tubérculos. A cultura não
tolera deficiências em magnésio.
Recomenda-se a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio se os valores de fósforo
e potássio do solo forem:
inferiores a 150 µg/g - aplicar 50 kg/ha de P2O5 e 70 kg/ha de K2O;
inferiores a 200 µg/g - aplicar 30 kg/ha de P2O5 e 60 kg/ha de K2O.
Aplicação em cobertura:
2-3 semanas após a plantação é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume
produzido em MPB ou realizar fertirrigação com um adubo orgânico (Anexo 1).
Proj. AGRO 747

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PLANTAÇÃO
A data de plantação deve ser bem adaptada a cada região, pois no início da Primavera as
condições de humidade podem provocar infecções de míldio e mais tarde corre-se o risco
de ocorrência de duas gerações de escaravelho da batateira para a mesma cultura.
Cerca de 1 a 1,5 meses antes da plantação deve colocar-se a batata-semente num local
com iluminação indirecta, à temperatura de 10 a 15ºC e humidade relativa alta, para
estimular o grelamento.
A abertura de regos para a plantação pode ser realizada com um abre-regos. De preferência
deve plantar-se as batatas inteiras para evitar o seu apodrecimento no solo.
Distância de plantação:
Entre linhas: 70-75 cm;
Entre plantas na linha: 30 cm.
Profundidade de plantação: 8-10 cm.
Quantidade de batata-semente: 1500 a 2500 kg/ha.

SACHA E AMONTOA
A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo.
A amontoa deve ser feita quando as plantas têm cerca de 20 a 25 cm de altura. Em estado
mais avançado a amontoa é prejudicial devido à destruição das raízes.

REGA
A batateira é muito sensível aos excessos e às deficiências de água.
A primeira rega deve ocorrer antes do início da tuberização.
Durante o crescimento dos tubérculos (1,5 a 3 meses após a plantação) as plantas devem
dispor de água sem restrições.
Ao iniciar a maturação dos tubérculos a rega deve cessar pois o excesso de água atrasa a
maturação e provoca apodrecimento.

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Sistemas de rega:
Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão, gota-a-gota, por sulcos ou
alagamento.
A rega gota-a-gota não contribui para uma boa distribuição das raízes no solo, apesar de
ajudar na prevenção de doenças e de permitir a fertirrigação.

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PRAGAS
Escaravelho da batateira (Leptinotarsa decemlineata)
Os adultos em hibernação no solo emergem na Primavera efectuando a postura durante
cerca de 1 mês. Os ovos são de cor amarela que evolui para cor laranja forte, situam-se
na página inferior da folha e eclodem num período de aproximadamente uma semana. As
larvas alimentam-se das folhas da batateira durante 2 a 3 semanas e transformam-se em
ninfas no solo a 5-20 cm de profundidade. Os adultos emergem 1 a 2 semanas mais tarde
e hibernam no solo a 25-50 cm de profundidade.
Medidas culturais:
Realizar a rotação das culturas;
Utilizar plantas-armadilha. Plantar uma variedade de batata que se desenvolva
rapidamente em climas frios, no intervalo entre a cultura de batata do ano anterior e a
cultura actual. Destruir com uma chama de gás propano a população de adultos quando
estes estiverem em grande número.

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Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar a cultura ao aparecimento das primeiras larvas, alternativamente com:
Spinosad (*)
Neem (*) - Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 5
dias.
Bacillus thuringiensis var. tenebrionis (*) - Específico para esta praga.
Rotenona (*) - Utilizar apenas em último recurso devido à sua toxicidade. Deve ser
aplicada ao fim da tarde devido à degradação do produto pelos raios ultra-violetas.
Como norma não se deve aplicar o mesmo produto a duas gerações seguidas da mesma
espécie. Alternar com Spinosad ou Neem. Os insecticidas não se devem misturar.

Afídeos (Myzus persicae, Macrosiphum euphorbiae)


Ver “Medidas culturais” e “Tratamentos fitossanitários” para a cultura do Feijão.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

DOENÇAS
Míldio (Phytophthora infestans)
O desenvolvimento da doença ocorre quando a temperatura média do ar se situa entre
10 e 24 ºC e a humidade relativa for superior a 75% durante 2 ou mais dias. A chuva pode
arrastar esporos das folhas para o solo e infectar os tubérculos jovens. Os esporos apenas
hibernam em restos da cultura, normalmente em tubérculos deixados no solo.
As folhas apresentam-se amareladas na página superior com filamentos brancos na parte
inferior. As folhas da base são atacadas em primeiro lugar principalmente nos bordos.
Medidas culturais:
Não deixar tubérculos no solo.
Realizar rotações de culturas no mínimo de 4 anos.
Utilizar variedades menos sensíveis ao míldio.
Utilizar rega gota-a-gota para manter a folhagem seca ou rega por aspersão, aplicada
ao amanhecer de modo a que as plantas estejam secas durante o dia.
Proporcionar um bom arejamento da cultura, através do aumento da distância entre
plantas, da colocação das linhas de plantas paralelas à direcção predominante do vento
e evitar locais abrigados.
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No início da epidemia deve eliminar-se os primeiros focos, queimando as plantas.


Não fazer a colheita em tempo húmido.
Tratamentos fitossanitários:
Efectuar os primeiros tratamentos preventivamente quando as condições forem propícias
ao desenvolvimento da doença ou logo após a detecção dos primeiros focos com:
Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente
lavado pela chuva). Adicionar óleo de pinho como molhante.
Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 7 dias, se as condições
se mantiverem.

Sarna vulgar (Streptomyces scabies)


O inóculo de sarna sobrevive muitos anos no solo ou pode ser transmitido pela batata-
semente.
Medidas culturais:
Utilizar batata-semente isenta e variedades mais resistentes.
Evitar solos alcalinos (abaixo de pH 5,5 a doença não se manifesta). A aplicação de
calcário ao solo, quando necessária, não deve ser realizada antes da plantação.
Os compostos devem estar amadurecidos e devem ser aplicados com a antecedência
de pelo menos 15 dias a 1 mês antes da plantação.A sideração com plantas leguminosas,
especialmente trevo, deve ser realizada com a antecedência de pelo menos 1 mês
antes da plantação, pois o enterramento na altura da plantação pode provocar o
desenvolvimento da sarna.
Uma boa condução da rega, mantendo o solo à capacidade de campo, no período
crítico de cerca de 1,5 a 3 meses após a plantação, diminui a incidência da sarna vulgar.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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COLHEITA
Quando a rama inicia a secagem, os tubérculos encontram-se em completa maturação.
A colheita deve ser realizada nas horas mais frias do dia e com tempo seco.
Em caso de ataque de míldio o corte da parte aérea deve ser efectuado 2 semanas antes
da colheita.
Produtividade: 20 a 30 t/ha

ARMAZENAMENTO
Antes do armazenamento:
secagem: ao ar durante 1-2 dias.
fase de cura: 15ºC durante 1-2 semanas.
Armazenamento:
 Local arejado e com pouca luz.
 Condições óptimas de armazenamento: 7-10ºC; 90-95% de humidade relativa;
durante 5 a 10 meses.
Para evitar a traça da batata (Phtorimaea operculella) cobrir a batata com rama de
eucalipto e em caso de ataque severo polvilhar com rotenona em pó (*).
A rega por aspersão, com maior cobertura de água, proporciona uma menor abertura
de fendas à superfície do solo, impedindo o acesso da praga. No entanto, a rega deve
ser aplicada antes do amanhecer, de modo a que as plantas estejam secas durante o
dia.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

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CEBOLA (Allium cepa L.)

Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747)


Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

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Cebola
(Allium cepa L.)

CICLO CULTURAL
Plantação em Abril/Maio e colheita em Agosto/Setembro.
Ecemplo:

1 Junho 15 Julho 15 Agosto


1 Maio Área foliar máxima Folhas prostadas 1 Setembro
Plantas com 7 folhas
Plantação (1ª folha murcha) Início da formação Início da maturação Colheita
do bolbo do bolbo

ROTAÇÕES
A rotação recomendada para a cultura da cebola é de 5 anos.
Exemplo de uma rotação de culturas de 5 anos:

1º Ano 2º Ano 3º Ano

Mai-Ago Set-Fev Abr-Jul Ago-Mar Mai-Ago Set-Fev


Feijão Sideração Nabo/
Cebola Couve Batata Nabiça
4º Ano 5º Ano
Abr-Jul Set-Mar Abr-Jul Ago-Abr
Ervilha
Alho Francês grão/queb Alface Trevo+azevém

Proj. Agro 747

CRESCIMENTO
As temperaturas de crescimento são as seguintes:
mínima: 12ºC;
máxima: 25ºC;
óptima: 20ºC.
Para que o bolbo se desenvolva é necessário que o fotoperiodo seja superior a 14 horas
de luz para as cultivares precoces e 16 horas para as tardias.

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CULTIVARES
As cultivares regionais com maior adaptação às condições de solo e clima devem ser
utilizadas. A cebola vermelha da Póvoa tem manifestado boas características de produção
na Região Norte.

SOLO
Os melhores solos são de textura média, com boa drenagem, ricos em matéria orgânica
e com valores de pH superiores a 5,8 de preferência entre 6,0 e 6,5. A cebola é muito
sensível à compactação e à má estrutura do solo.
Para solos com valores de pH inferiores a 6,0 a calagem deve ser efectuada. Para um
solo com pH de 5,0 deve aplicar-se 6 t/ha de calcário dolomítico, que também contém
magnésio.
Profundidade das raízes: 30 cm.

FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 20 a 30 t/ha de cebola é necessário cerca de 80-120 kg/ha de
azoto.
 Aplicação de fundo:
Os compostos bem curtidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 1 mês,
na dose de 20 a 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).
O potássio é um elemento muito importante pois concede maior resistência às doenças
e maior poder de conservação dos bolbos.
Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 150 µg/g, recomenda-se a
aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 60 kg/ha de P2O5 e de K2O,
respectivamente.
Aplicação em cobertura:
2-3 semanas após a plantação é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume
produzido em MPB ou realizar fertirrigação com um adubo orgânico (Anexo 1).

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PLANTAÇÃO
As plantas produzidas em viveiro, semeadas em tabuleiros de alvéolos ou em “cama
quente”, demoram cerca de 3 meses desde a sementeira até ao estado de 3-4 folhas, com
3 a 6 mm de diâmetro.
A plantação pode ser feita manualmente ou com o apoio de um plantador montado em
tractor. As plantas não devem ser plantadas a mais de 3 a 4 cm de profundidade.
Distância de plantação:
Entre linhas: 30 cm;
Entre plantas na linha: 10 cm.

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SACHA
A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo. Pode ser realizada
manualmente ou com apoio mecânico. Entre as linhas a sacha pode ser executada com um
moto-cultivador ou com um sachador manual com cerca de 20 a 24 cm de largura e na
entre-linha a sacha é manual.
A sacha deve ser realizada quando as plantas infestantes têm 1 a 2 cm de altura para evitar
a concentração de humidade no interior da cultura.
A monda térmica (à pressão de 2 kg) pode também realizar-se logo após a germinação
das plantas infestantes.

REGA
A cebola é muito sensível aos excessos e às deficiências de água.
A primeira rega deve ser realizada a seguir à plantação. Desde a plantação para o
desenvolvimento das folhas e principalmente durante o período de formação dos bolbos
(2 a 3,5 meses após a plantação), as plantas devem dispor de água sem restrições.
Ao iniciar a maturação dos bolbos a rega deve cessar. O excesso de água provoca o
apodrecimento durante o armazenamento.
Sistemas de rega:
Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão, gota-a-gota ou alagamento.
A rega por aspersão deve ser efectuada de manhã para que as folhas sequem rapidamente,
de modo a diminuir a incidência de doenças.

PRAGAS
Mosca da cebola (Delia antiqua)
Os adultos em hibernação no solo emergem na Primavera, vivem cerca de 2 meses e põe
150-200 ovos, colocados em grupos de 15-20 na proximidade das plantas, junto ao colo
ou na axila das folhas. Os ovos alongados são de cor branca, e as larvas da mesma cor
medem cerca de 8 mm.
As larvas alimentam-se das raízes e dos bolbos de uma ou mais plantas, causando
o amarelecimento e posterior morte das folhas. As larvas vivem cerca de 45 dias à
temperatura do ar de 15ºC e 17 dias a 25-30ºC, enterrando-se em seguida no solo para
pupar.

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Medidas culturais:
Não fertilizar com estrume fresco pois o cheiro atrai a praga.
Arrancar as plantas atacadas.
Método para evitar a postura:
Utilizar uma cobertura directa da cultura com plástico (filme de polipropileno, 17 g/m2),
desde a plantação e durante cerca de 1 a 1,5 meses. Acresce ainda as melhores condições
de crescimento das plantas, devido a aumentos da temperatura do ar e do solo.
Após a colheita destruir as cebolas atacadas para destruir as larvas das moscas
Tratamentos fitossanitários:
A rotenona (*) é eficaz apenas durante os primeiros dias de vida das larvas e deve ser
aplicada ao fim da tarde.

Tripes (Thrips tabaci)


O adulto tem entre 0,8 e 1,2 mm de comprimento é de cor amarelada e possui bandas
transversais no abdómen. Os ovos esbranquiçados têm forma elíptica e são colocados nos
tecidos da folha ou da flor, deixando uma ligeira saliência visível. Cada geração dura cerca
de 10-20 dias, podendo existir até 5 gerações por ano.
Os tripes instalam-se na página inferior das folhas mais jovens e alimentam-se das células,
deixando manchas prateadas nas folhas. Em consequência as folhas ficam distorcidas e
acabam por secar.
Esta praga ataca diversas culturas hortícolas incluindo as couves, alho francês, tomate,
batata e beterraba.
Medidas culturais:
Utilizar cultivares não susceptíveis à praga.
Evitar a proximidade de campos de trigo, aveia e luzerna ajuda a diminuir o potencial
de ataque.
Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar a cultura ao aparecimento das primeiras larvas com Spinosad (*)
Apesar de não ser sistémico, este produto penetra nas folhas apresentando bons resultados
no controle de tripes.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 29


Território vs. Sustentabilidade

DOENÇAS
Míldio (Peronospora destructor)
O desenvolvimento da doença ocorre em condições de grande humidade do ar e a partir
de valores de temperatura média diária do ar de 10ºC, situando-se a temperatura óptima
em cerca de 15ºC. Se a temperatura do ar atingir valores superiores a 25ºC durante o dia,
a doença termina. Os esporos do fungo podem conservar-se no solo durante 4 a 5 anos.
As folhas amarelecem e acabam por secar e os bolbos podem também ser atacados.
Medidas culturais:
Praticar rotações de culturas de pelo menos 5 anos.
Tratamentos fitossanitários:
Efectuar os primeiros tratamentos preventivamente quando as condições forem propícias
ao desenvolvimento da doença ou logo após a detecção dos primeiros focos com:
Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente
lavado pela chuva).
Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 7 dias, se as condições
se mantiverem. Adicionar óleo de pinho como molhante.
Alternariose (Alternaria porri)
Desenvolvimento da doença: temperatura média do ar entre 6 e 34ºC (temperatura
óptima de 25ºC) e tempo húmido (90% de humidade relativa do ar).
Todas as partes da planta podem ser atacadas por este fungo que provoca manchas
deprimidas brancas com o centro de cor púrpura.
Tratamentos fitossanitários:
Proceder de igual modo como para o míldio.
Ferrugem (Alternaria porri)
O desenvolvimento da doença ocorre quando a temperatura média do ar se situa entre
10 e 24ºC e com tempo húmido (90-100% de humidade relativa do ar).
As folhas apresentam pequenas pústulas alongadas de cor amarela-laranja, à volta das quais
o tecido da epiderme se pode elevar, tornando-se progressivamente negro.
Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar a cultura com enxofre ou argila.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

30 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

COLHEITA
Quando a rama amarelece os bolbos encontram-se amadurecidos, devendo torcer-se as
folhas junto ao bolbo para evitar a entrada de água e acelerar a sua maturação. Esta
operação pode ser realizada com a passagem de um rolo sobre a cultura.
A colheita manual ou com um arrancador mecânico realiza-se quando pelo menos 50%
das folhas se encontram prostradas
Produtividade: 20 a 30 t/ha

ARMAZENAMENTO
Antes do armazenamento:
Secagem ao ar por 1-2 semanas, ao abrigo da chuva e orvalho.
Armazenamento:
 Locar arejado e seco - até 6 meses.
 Armazém com ventilação: 0 a 5ºC; 70-75% humidade relativa; durante 4 a 8 meses.
 Armazém com refrigeração: -2 a 0ºC; 75-80% humidade relativa; durante 4 a 6
meses.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 31


Território vs. Sustentabilidade

32 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

COUVE REPOLHO (Brassica oleracea var. capitata L..)

Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747)


Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

Proj. AGRO 747

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 33


Território vs. Sustentabilidade

34 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Couve Repolho
(Brassica oleracea var. capitata L..)

CICLO CULTURAL
Plantação em Agosto/Setembro e colheita em Janeiro/Fevereiro.
Exemplo:

15 Outubro 1 Dezembro
1 Setembro 1 Janeiro
Início do Repolho
Plantação Colheita
fecho do repolho fechado

ROTAÇÕES
A rotação mínima recomendada para a cultura da couve é de 3 anos.
Exemplo de uma rotação de culturas de 5 anos:

1º Ano 2º Ano 3º Ano

Mai-Ago Set-Fev Abr-Jun Ago-Mar Mai-Ago Set-Fev


Feijão Sideração Nabo/
Cebola Couve* Batata Nabiça
4º Ano 5º Ano
Abr-Jun Set-Mar Abr-Jul Ago-Abr * No período de Setembro a Dezembro, para além
da couve repolho, pode plantar-se couve penca
Ervilha e couve brócolo, ou ainda a couve galega que
Alho Francês grão/queb Alface Trevo+azevém termina em Fevereiro.

Proj. Agro 747

CRESCIMENTO
As temperaturas de crescimento são as seguintes:
mínima: 5ºC;
óptima : 15-20ºC;
máxima: 25ºC.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 35


Território vs. Sustentabilidade

CULTIVARES
Devem ser utilizadas as cultivares regionais, com maior adaptação às condições de solo
e clima.
Das cultivares comerciais disponíveis, escolher as que apresentam melhor adaptação à
época do ano, às condições ambientais de produção e às preferências dos consumidores.

SOLO
Os melhores solos são de textura franco-argilosa, com elevada capacidade de retenção
de água, boa drenagem e com valores de pH de 6,0 a 6,8. Maior acidez do solo resulta em
ataques mais frequentes da doença potra da couve.
Para solos com valores de pH inferiores a 6,0 a calagem deve ser efectuada antes da
plantação ou de preferência no ano anterior. Para um solo com pH de 5,0 deve aplicar-se
6 t/ha de calcário dolomítico, que também contém magnésio.
Profundidade das raízes: 45 a 60 cm.

FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 30 a 40 t/ha de repolho é necessário cerca de 100-120 kg/ha
de azoto.
 Aplicação de fundo:
Os compostos amadurecidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 15 dias
a 1 mês, na dose de 20 a 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).
Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 150 µg/g, recomenda-se a
aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 60 kg/ha de P2O5 e de K2O,
respectivamente.
O boro, manganésio e enxofre são nutrientes que, apesar de normalmente existirem no
solo, também devem ser avaliados.
Aplicação em cobertura:
2-3 semanas após a plantação é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume
produzido em MPB ou realizar fertirrigação com um adubo orgânico (Anexo 1).

36 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

PLANTAÇÃO
As plantas produzidas em viveiro, semeadas em tabuleiros de alvéolos, demoram cerca de
2 meses desde a sementeira até ao estado de 3-4 folhas.
A plantação em camalhões pode ser feita manualmente ou com o apoio de um plantador
montado em tractor e as plantas devem ficar profundas de modo a estimular a formação
do sistema radicular.
Distância de plantação:
Entre linhas: 50-60 cm;
Entre plantas na linha: 40 cm.

SACHA E AMONTOA
A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo e pode ser realizada
manualmente ou com apoio mecânico.
Na linha, a sacha pode realizar-se através de uma amontoa que estimula o crescimento
das raízes.

REGA
A cultura necessita de um fornecimento regular de água desde a plantação até ao fecho do
repolho, período com taxas de crescimento mais elevadas.
Sistemas de rega:
Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão e gota-a-gota.
A rega por aspersão deve ser efectuada de manhã para que as folhas sequem rapidamente,
de modo a diminuir a incidência de doenças.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 37


Território vs. Sustentabilidade

PRAGAS
Mosca da couve (Delia radicum)
Este díptero passa o Inverno em forma de pupa, os primeiros adultos aparecem na
primavera e colocam os ovos no colo das plantas. As moscas adultas são cinzentas escuras
e cerca de metade do tamanho das moscas comuns. As fêmeas à temperatura de 20ºC
duram 12-15 dias e põe cerca de 150 ovos em pequenos grupos junto ao colo das plantas.
As larvas eclodem 3 a 8 dias após a postura e alimentam-se das raízes durante 3 a 4
semanas e depois transformam-se em pupas nas raízes ou no solo. Após 2 a 3 semanas
emerge o adulto.
Esta praga está activa de Abril a Outubro, podendo apresentar 3 a 4 gerações por ano, mas
a primeira originada pelas pupas hibernantes, é a maior. Acima de 30-35ºC as larvas ficam
inactivas e os ovos perdem viabilidade.
As larvas começam por destruir as raízes secundárias e depois penetram na raiz principal
escavando galerias, causando a murchidão e morte das plantas. As plantas jovens são mais
susceptíveis.
Medidas culturais:
Usar uma rede de 0,9 mm no viveiro.
Não fertilizar com estrume fresco pois o cheiro atrai a praga.
Os resíduos das culturas de couve ou nabo devem ser rapidamente enterrados no
solo, de modo a diminuir a população hibernante
Métodos para evitar a postura:
Utilizar uma cobertura directa da cultura com plástico (filme de polipropileno,
17 g/m2), desde a plantação e durante cerca de 1 a 1,5 meses. Acresce ainda as
melhores condições de crescimento das plantas, devido a aumentos da temperatura
do ar e do solo. A rotação evita que surjam moscas resultantes de pupas hibernante
no solo.
Cobrir o solo com círculos de plástico ou tecido à volta das plantas. Os círculos
devem ter cerca de 13 cm de diâmetro e no centro o ajuste deve ser chegado ao
colo da planta.
Tratamentos fitossanitários:
Antes da plantação, mergulhar os tabuleiros numa solução de rotenona (*).

38 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Rosca (Mamestra brassicae)


O adulto é uma borboleta nocturna. Os ovos são colocados em folhas ou caules junto
ao solo e as larvas penetram no solo e emergem ao anoitecer para se alimentarem,
provocando normalmente o corte das plantas ao nível do solo.
Medidas culturais:
Soltar galinhas no campo antes da plantação.
Manter a cultura livre de infestantes
Métodos de evitar a postura: os mesmos que para a mosca da couve
Tratamentos fitossanitários:
Se houver indícios de ataque deve espalhar-se e enterrar ligeiramente uma mistura de
farelo, açúcar e Bacillus thuringiensis (BT) antes da plantação.

Lagarta da couve (Pieris rapae,Tricholousia ni e Plutella xylostella)


As borboletas da Pieris são brancas com duas pintas pretas nas asas e põe os ovos amarelos
em grupos de 25 a 50 sobre as folhas. Hiberna como pupa nos resíduos das culturas e em
campos com infestantes.
Medidas culturais:
À plantação utilizar plantas isentas de pragas.
Controlar as plantas infestantes da família das Cruciferas (ex. saramago) na imediação
dos campos de cultura, pois estas actuam como locais de hibernação de lagartas vindas
do exterior e contribuem para tornar o ataque epidémico, de uma geração para a
outra, na mesma estação.
Verificar periodicamente a existência de lagartas jovens na página inferior das folhas,
especialmente antes do início do fecho do repolho. Deste modo é possível actuar antes
que os estragos se tornem significativos
Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar a cultura ao aparecimento das larvas, alternativamente com:
Spinosad (*)
Bacillus thuringiensis (Bt aizawi ou Bt kurstaki) (*) - Em culturas de Outono-Inverno,
deve pulverizar-se de manhã, num dia quente, quando as larvas estão activas

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 39


Território vs. Sustentabilidade

Neem (*) - Demora cerca de 3 a 7 dias após aplicação a ter o seu efeito máximo.
Deve molhar-se bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de cerca de
5 dias. Tem uma eficácia inferior aos insecticidas anteriores.
Como norma não se deve aplicar o mesmo produto a duas gerações seguidas da mesma
espécie. Alternar com Spinosad ou Neem. Os insecticidas não se devem misturar.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

DOENÇAS
Medidas culturais gerais:
À plantação utilizar plantas isentas de doenças.
As fontes de infecção estão associadas a sementes infectadas, resíduos de culturas e
plantas infestantes infectadas.
Míldio (Peronospora parasitica)
A temperatura óptima de desenvolvimento situa-se entre os 8 e os 16ºC durante a noite
e menos de 23ºC de dia. A presença de chuva ou orvalho nocturno é necessária.
Os esporos hibernam no solo ou em resíduos de culturas.
As plantas jovens são as mais sensíveis e é uma doença grave nos viveiros principalmente
no período de Outono/Inverno.
O míldio provoca manchas amareladas nas folhas e na página inferior um pó esbranquiçado.
A folha vai escurecendo e acaba por morrer.
Medidas culturais:
A rotação de culturas deve ser no mínimo de 3 anos sem culturas da família das
Crucíferas.
Evitar a rega por aspersão.
Proporcionar um bom arejamento da cultura através do aumento da distância entre
plantas, da colocação das linhas de plantas paralelas à direcção predominante do vento
e evitar locais abrigados.
Tratamentos fitossanitários:
Efectuar os primeiros tratamentos preventivamente quando as condições forem propícias
ao desenvolvimento da doença ou logo após a detecção dos primeiros focos da doença
com:

40 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente
lavado pela chuva).
Molhar bem as plantas e repetir se as condições se mantiverem e à medida que a cultura
cresce para assegurar uma protecção ao estabelecimento da doença. Adicionar óleo de
pinho como molhante.

Potra da couve (Plasmodiophora brassicae)


A doença desenvolve-se principalmente na Primavera e no Outono, em solos ácidos
(abaixo de pH 7,2), húmidos e com temperatura média do ar entre 12 e 27ºC.
Os tumores a princípio são lisos e da cor das raízes, depois escurecem e tornam-se
rugosos. A parte aérea das plantas apresenta desenvolvimento reduzido e as folhas
murcham durante as horas quentes do dia. Se as plantas atingidas forem dadas aos animais,
os esporos resistem ao processo digestivo e consequentemente a doença é disseminada.
Os esporos podem permanecer no solo 7 a 12 anos.
Medidas culturais:
Realizar rotações no mínimo de 7 anos.
Corrigir o pH do solo.
Plantar o repolho após a cebola ou o alho francês.
Eliminar as infestantes que pertençam à mesma família (mostarda, saramago, rábano
silvestre, etc.).
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.
Proj. AGRO 747

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 41


Território vs. Sustentabilidade

COLHEITA
A colheita manual é realizada quando o repolho se apresentar consistente.
Produtividade: 30-40 t/ha

PÓS-COLHEITA
Arrefecer os repolhos após a colheita, se necessário.
Comercialização imediata: manter a temperatura de 4ºC.
Armazenamento: 2 a 4 meses em câmaras a 0ºC e 95% de humidade relativa.

42 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

FEIJÃO VERDE (Phaseolus vulgaris L.)


(Culturas hortícolas protegidas)
Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747)
Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 43


Território vs. Sustentabilidade

44 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Feijão Verde
(Phaseolus vulgaris L.)
(Culturas hortícolas protegidas)

CICLO CULTURAL
Plantação em Março/Abril e final da colheita em Setembro.
Exemplo:
1Maio 1 Junho
1 Março 1 Setembro
Início da Início da
Sementeira Final da Colheita
floração Colheita

ROTAÇÕES
A rotação mínima para a cultura do feijão verde é de 3 anos.
Exemplo de uma rotação de culturas protegidas de 4 anos:
1º Ano 2º Ano

Mar-Set Out-Fev Abr-Set Out-Fev


Tomate Couve
Feijão Verde Alface
brócolo
3º Ano 4º Ano

Jul-Ago Set-Mar Abr-Ago Set-Mar


Ervilha Nabo/
Solarização grão/queb Meloa Nabiça
Proj. Agro 747

CRESCIMENTO
A cultura do feijoeiro é muito sensível às geadas.
Temperatura de germinação:
mínima: 12ºC;
máxima: 25-30ºC.
Temperatura de crescimento:
mínima: 10ºC;
óptima: 20-25ºC;
máxima: 30ºC.
Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 45
Território vs. Sustentabilidade

CULTIVARES
Devem ser utilizadas cultivares regionais de feijão verde de trepar, com maior adaptação
às condições de solo e clima.
As sementes são viáveis durante 3 anos e existem cerca de 2 a 4 sementes em 1 g.

SOLO
Os melhores solos são de textura média, com boa drenagem, ricos em matéria orgânica e
com valores de pH de 6,0 a 6,5.
Muito sensível à salinidade do solo (acima de 1,0 dS/m).
Profundidade das raízes: 60 a 90 cm.

INOCULAÇÃO COM RIZÓBIO


A simbiose com o rizóbio (Rhizobium leguminosarum bv. phaseoli) provoca nódulos nas
raízes laterais e proporciona um aumento de azoto equivalente a 25-50 kg/ha, para valores
de pH do solo superiores a 5,5.
A inoculação com o rizóbio realiza-se misturando as sementes com o inóculo adquirido
comercialmente.

FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 1-2 kg/m2 (10-20 t/ha) de feijão verde é necessário cerca de
60-80 kg/ha de azoto.
 Aplicação de fundo:
Os compostos amadurecidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 1
mês, na dose de 20 a 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).
Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 120 µg/g, recomenda-se
a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 45 kg/ha de P2O5 e de
K2O, respectivamente.

46 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

SEMENTEIRA
A sementeira pode ser feita manualmente ou com um semeador.
Devem semear-se algumas plantas em vasos para substituição.
Distância de sementeira:
Entre linhas: 1 m; ou
Entre linhas pareadas: 50 cm entre linhas e 1 m entre pares de linhas.
Entre plantas na linha: 5-20 cm, ou 25-30 cm para 2 sementes em cada local.
Profundidade de sementeira: 2 cm

TUTORAMENTO
Após a emergência os fios de tutoragem devem ser atados no arame e enterrados no
solo.

SACHA E AMONTOA
A sacha elimina as infestantes e promove o arejamento do solo. Pode ser realizada
manualmente ou com apoio mecânico.
A sacha na linha pode ser realizada através de uma amontoa quando as plantas tiverem
cerca de 20 a 25 cm de altura.

REGA
Durante a germinação deve assegurar-se uma humidade não excessiva no solo, que permita
uma boa germinação das sementes. Normalmente é suficiente uma rega antes ou após a
sementeira.
As regas devem ser regulares desde o início do crescimento e durante todo o ciclo da
cultura. O período crítico ocorre na floração e início do vingamento, onde a falta de água
causa a queda de flores e vagens e o enrolamento das vagens.
Deve utilizar-se o sistema de rega gota-a-gota.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 47


Território vs. Sustentabilidade

PRAGAS
Afídeos (Aphis craccivora, Aphis fabae)
Os ovos passam o Inverno sobre as plantas hospedeiras. Na Primavera nascem as fêmeas
que por sua vez, através de reprodução vivípara, dão origem aos jovens afídeos sem
necessidade de fecundação (partenogénese). Estas jovens larvas demoram apenas 8 dias a
20ºC para atingir o estado adulto.
Desde a Primavera até ao Outono podem existir entre 13 a 16 gerações. As formas aladas
de afídeos formam novas colónias noutras espécies de plantas e aparecem no inicio de
Abril, dependendo das temperaturas de Fevereiro e Março.
Os afídeos provocam deformações nas folhas, inibem o crescimento e as plantas ficam
enfraquecidas pela existência da fumagina sobre as folhas e vagens. Os afídeos também
transmitem vírus. O vírus do Mosaico é transmitido pelo piolho preto (Aphis fabae). e pelo
iolho verde (Myzus persicae).
Os afídeos têm muitos inimigos naturais. Os predadores depositam um ovo no interior
do afídeo cuja larva se desenvolve e se alimenta, saindo posteriormente por um orifício.
Um afídeo parasitado apresenta uma cor acastanhada, dourada ou branca e um orifício de
saída do parasita.
Medidas culturais:
Usar redes de 0,5 mm nas estufas.
Favorecer a acção dos predadores e parasitas naturais, evitando a aplicação dos
insecticidas rotenona (*) e piretrinas (*) porque também eliminam insectos auxiliares,
podendo causar aumentos nas populações de afídeos.
Controlar as plantas infestantes que sobreviveram durante o Inverno.
Para actuação precoce, verificar 2 vezes por semana a existência de afídeos nas
plantas ou em placas amarelas colocadas nas estufas a cerca de 60 cm do solo.
Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar a cultura no início do ataque, alternativamente com:
Sabão de potássio ou de amoníaco - A aplicação deve atingir as zonas onde os afídeos
se encontram, como na página inferior das folhas. A aplicação deve ser feita com água
não alcalina, de preferência ao fim do dia para que a secagem seja lenta. Podem ocorrer
problemas de fitotoxidade.
Neem (*) - Demora cerca de 3 a 7 dias após aplicação a ter o seu efeito máximo.
Deve molhar-se bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 5 dias.

48 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

 Argila com óleo.A argila pode ser aplicada em mistura com sabões e outros pesticidas,
mas não com cobre ou enxofre. A aplicação deve ser feita com agitação periódica da
suspensão e de modo a cobrir todas as partes das plantas, de preferência em aplicação
de alto volume.
Óleo de verão (*) - A aplicação de óleos deve ser de modo a molhar bem as plantas
e deve ser repetida para assegurar o controle da praga. A aplicação deve ser feita em
dias com sol para evitar problemas de fitotoxidade que podem ocorrer se o produto
demorar a evaporar.

Moscas brancas (Trialeurodes vaporariorum, Bemisia tabaci)


A mosca branca reproduz-se e mantém-se em pequenas colónias que se expandem pela
estufa quando os valores de temperatura aumentam. A 26ºC cada geração dura cerca de
20 dias.
Medidas culturais:
Observar regularmente a estufa para localizar o aparecimento das pragas de modo a que
o tratamento possa ser localizado.
Tratamentos fitossanitários:
 Largada de Encarsia formosa que parasita os ovos.
 Pulverizar com piretrinas (*).
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 49


Território vs. Sustentabilidade

DOENÇAS
Podridão cinzenta (Botrytis cinerea)
Desenvolvimento da doença: humidade do ar elevada e valores de temperatura do ar
entre 15 e 20ºC.
Medidas culturais:
Aumentar o arejamento das estufas.
É aconselhável realizar a desfolha, removendo as folhas secas da base das plantas, para
melhorar as condições de arejamento.
Tratamentos fitossanitários:
Em caso de risco em plena floração, pulverizar com:
Sulfato de cobre (*) ou hidróxido de cobre (*) (em tempo seco pois este é mais facilmente
lavado pela chuva).
Molhar bem as plantas e efectuar 3-4 pulverizações em intervalos de 7 dias, se as condições
se mantiverem.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

COLHEITA
A colheita escalonada das vagens realiza-se durante cerca de 3 meses, quando as sementes
ainda não se desenvolveram significativamente e a vagem é de cor verde brilhante.
Produtividade: 1-2 kg/m2 (10 a 20 t/ha)

PÓS-COLHEITA
Imediatamente após a colheita o feijão verde deve ser arrefecido por água.
À temperatura de 5-7ºC e 95-100% de humidade relativa, conserva-se durante 10 dias.

50 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

MILHO (Zea mays L.)

Isabel Mourão (ESAPL/IPVC; Proj. Agro 747)


Rui Pinto (Quinta Casal de Matos)

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 51


Território vs. Sustentabilidade

52 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Milho
(Zea mays L..)

CICLO CULTURAL
Sementeira em Maio e colheita em finais de Setembro
Exemplo:

1 Maio 1 Junho 15 Julho 15 Agosto 15 Setembro


Milho Início da maturação
Sementeira Floração da espiga Colheita
“joelheiro”

ROTAÇÕES
A rotação recomendada para a cultura do milho é de 4 anos.
O milho consocia-se bem com o feijão e a abóbora.
Exemplo de uma rotação de culturas de 4 anos:

1º Ano 2º Ano

Mai-Set Set-Mar Mai-Ago Set-Abr


Batata Couve
Milho Sideração
galega
3º Ano 4º Ano

Mai-Ago Set-Jul Ago-Abr


Trevo+
Feijão Centeio azevém
Proj. Agro 747

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 53


Território vs. Sustentabilidade

CRESCIMENTO
A cultura do milho é muito sensível às geadas.
Temperatura de germinação:
mínima: 10-12ºC;
máxima: 20-25ºC.
Temperatura de crescimento:
mínima: 5-6ºC;
óptima: 20-24ºC;
máxima: 35ºC.

CULTIVARES
Devem ser utilizadas cultivares regionais de milho com maior adaptação às condições de
solo e clima. A duração das sementes é de 2 anos.
Para as condições climáticas do concelho de Terras de Bouro deve utilizar-se de preferência
variedades de ciclo curto (FAO 300-400; de 96 a 115 dias).

SOLO
Os melhores solos são profundos, com boa capacidade de armazenamento de água, boa
drenagem e com valores de pH de 6,0 a 7,0.
O solo deve ser trabalhado em profundidade, a lavoura para incorporação dos fertilizantes
orgânicos não deve ser inferior a 25 cm, seguida de uma escarificação ou gradagem,
realizando-se uma ou duas passagens até se obter uma boa cama para a sementeira.
Profundidade das raízes: 50 a 80 cm.

FERTILIZAÇÃO
Para uma produtividade de 3 a 5 t/ha de milho grão é necessário cerca de 70-120 kg/ha
de azoto.
 Aplicação de fundo:
Os compostos amadurecidos devem ser aplicados com a antecedência de cerca de 1
mês, na dose de 30 t/ha.
Como complemento podem utilizar-se fertilizantes orgânicos comerciais (Anexo 1).

54 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Se os valores de fósforo e potássio do solo forem inferiores a 150 µg/g, recomenda-se
a aplicação de fosfatos naturais e sais de potássio nas doses de 25 kg/ha de P2O5 e de
K2O, respectivamente.
 Aplicação em cobertura:
2-3 semanas após a sementeira é recomendável a aplicação de 20-25 t/ha de chorume
produzido em MPB ou aplicar um adubo orgânico (Anexo 1).

SEMENTEIRA
A sementeira é feita com um semeador.
Distância de sementeira:
Entre linhas: 70-90 cm
Entre plantas na linha: 15 a 20 cm.
Profundidade de sementeira: 3 a 6 cm.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 55


Território vs. Sustentabilidade

SACHA E AMONTOA
Na fase inicial, desde as 2-4 folhas (10 cm) até às 6-10 folhas (30-40 cm), devem evitar-se as
plantas infestantes que competem com o milho na utilização de água e nutrientes.
A sacha na entre-linha pode ser realizada com um sachador manual ou com um
motocultivador equipado com uma alfaia de dentes. O sachador manual consiste num
pequeno carro com uma roda dianteira possuindo uma lamina que corta as infestantes
ligeiramente abaixo do solo e uma alfaia com 3 dentes que remexe o solo.
A sacha na linha realiza-se através de uma amontoa quando o milho tem aproximadamente
25 cm de altura.
Se houver necessidade de efectuar o desbaste, este deverá ser efectuado quando as plantas
tiverem 20 a 25 cm de altura.

REGA
A cultura é particularmente sensível à falta de água cerca de 15 dias antes e 15 dias
após a floração masculina, mas a rega deve manter-se até ao estado de grão pastoso
(aproximadamente entre 2 e 3,5 meses após a sementeira).
Nos períodos de grande necessidade de água pode prever-se 25 a 30 mm de água por
semana.
 Sistemas de rega:
Podem utilizar-se os seguintes sistemas de rega: por aspersão ou por sulcos.
56 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro
Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

PRAGAS
Brocas (pirale: Ostrinia nubilalis e sesamia: Sesamia nonagrioides)
As borboletas da pirale aparecem no princípio do Verão e põem os ovos em conjuntos de
15 a 20 na página inferior das folhas. As lagartas começam por comer as folhas e depois
penetram na medula dos caules e mais tarde nas espigas. As lagartas hibernam nos últimos
15-20 cm do caule ou noutras plantas hospedeiras.
As borboletas da sesamia põem os ovos em grupos de 100 na base dos caules, onde as
lagartas penetram e cavam galerias.
Medidas culturais:
Não usar a palha na cama dos animais.
Após a colheita destroçar os caules e incorporar os resíduos com uma lavoura para
eliminar as lagartas hibernantes.
A mosca Lydella thompsoni parasita as larvas da pirale devendo, por isso, preservar-se
os seus hospedeiros naturais como as canas.
Tratamentos fitossanitários:
Pulverizar com:
Bacillus thurigiensis var. kurstaki (Bt) (*) – Pulverizar quando as lagartas começam a
penetrar o colmo ou as espigas. As aplicações devem ter início quando mais de 15%
das plantas apresentam lagartas jovens e os tratamentos devem ser repetidos pois a
acção do produto tem uma curta duração. Se existirem borboletas na fase inicial do
crescimento da espiga, é necessário pulverizar novamente, após a eclosão das lagartas.
Spinosad (*) - Como tem uma acção mais prolongada do que o Bt, necessita de um
menor número de aplicações.
Como norma não se deve aplicar o mesmo produto a duas gerações seguidas da mesma
espécie para evitar a resistência dos insectos. Alternar Bt com Spinosad.
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 57


Território vs. Sustentabilidade

COLHEITA
A colheita realiza-se quando a humidade do grão é de 25-35%.
A colheita não deve ser realizada em tempo húmido.
Produtividade: 3 a 5 t/ha

ARMAZENAMENTO
As caixas do milho devem ser desinfectadas com uma mecha de enxofre antes de colocar
o milho. Na Primavera, antes da postura das borboletas sobre os grãos, deve colocar-se
nas caixas recipientes de cor amarela, com óleo ou água para captura das borboletas. Se a
infestação for grande pulverizar com piretrinas (*).
(*) A utilização do produto requer autorização da entidade certificadora.

58 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Anexo

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 59


Território vs. Sustentabilidade

60 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

ANEXO - Lista de fertilizantes orgânicos considerados adubos (a)


Aplicação ao Solo
Adubos % de Materiais
Outros nutrientes Formulação Empresa
orgânicos azoto constituintes

N-P-K: 5-5-3,5 Estrume de galinha Granulado INTERADUBO


Quinta Monte Ruivo,
MgO: 0,8%; CaO: 12,0% Várzea - Apartado 521,
Biorgano 2001-906 Santarém
MO: 60%; H máx: 10% T. 243 359 100;
5 F. 243 359 119

N-P-K: 10-3-3 Hidrolizado de Granulado CRIMOLARA


penas, estrume de - Campo Grande,
Dix MO: 82% galinha e melaço nº 30, 8º H
de beterraba 1700- 093 Lisboa
10 T. 217 818 940;

N-P-K: 5-5-8 Estrume de galinha Granulado CRIMOLARA


e de aves marinhas
MgO: 2%; CaO: 4,3% (guano) e melaço
de beterraba
MO: 55%; C/N: 6/7

Ác. húm.: 3%; Ác. Fúlv.: 7%

Duetto 5 pH: 7,3; H máx: 11%

N-P-K: 6-4-0 Farinha de peixe Farinha Diversas

CaO: 7,0%
Farinha
de peixe 6 H máx: 11%

N-P-K: 6-15-3 Estrume de Granulado CRIMOLARA


galinha e de aves
MgO: 2%; CaO: 8% marinhas e vinhaça

MO: 57%; C/N: 6/6; C org.: 32%

Ác. húm: 3,5%; Ác. Fúlv.: 7,5%

Guanito 6,4 pH: 6,6; H máx: 8,8%

N-P-K: 4-4-3 Estrume de galinha Granulado CRIMOLARA

MgO: 1,5%

MO: 75%; C org.: 44%

Ác. húm.: 5%, Ác. fúlv.: 5%

Italpollina 4 pH: 7; H máx: 12%

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 61


Território vs. Sustentabilidade

N-P-K: 13-0-0 Vinhaça, melaços, Granulado ECOVEG


farinha de ossos e Pau Queimado
MgO: 0,2%; CaO: 1,2% farinha de penas Apartado 280
2874-908 Montijo
MO: 87%; C/N: 2 T. 212 326 220;
F. 212 326 227
Monterra 13 pH: 7; ; H máx: 10%

N-P-K: 6-8-15 Vinhaça Granulado CRIMOLARA


concentrada,
MgO: 2%; CaO: 4% guano e estrume
de galinha
MO: 56%; C/N: 4,6; C org.: 32%

Ác. húm.: 6%; Ác. fúlv.: 7%

Phenix 6 pH: 7,5; H máx: 8%

N-P-K: 5-7-15 Estrume de vaca Granulado NEOQUÍMICA


e de galinha Largo da Estação,
MO: 35% 2580-000 Carregado
Quimi- T. 263861010;
Organ 5 F. 263856210

(a) Norma Portuguesa 1048-2/1990 (teores mínimos em % peso comercial) - MO: 50%;
N-P-K (N-P2O5-K2O): 3-0-0, 2-2-2 (total=10%), 2-3-0 (total=6%), 3-0-6 (total=10%)

Aplicação foliar ou fertirrigação

Adubos % de Materiais
Outros nutrientes Formulação Empresa
orgânicos azoto constituintes

Goemar B: 2%; MgO: 4,8% Algas (aminoácidos, Pulverização PERMUTADORA


4,2 vitaminas e foliar Av. da Igreja, nº42,
BM 86
fitohormonas de 3º Esq.
SO3: 9,7%; Mo: 0,02% crescimento) 1700-036 Lisboa
T. 217 998 440
N-P-K: 2,5-0-5 Vinhaça de Fertirrigação RASP Estrada Nac.
beterraba (gota-a-gota) 109; Regueira de
MO: 43% PontesEstrada Nac.
Mol 2,5 109; Regueira de
Pontes - 2400-927
Leiria T. 244 860 210; F.
244 860 219

MO: 33%; C/N: 4 Grãos de Pulverização Agro-Nutrientes


leguminosas foliar Especiales, S.L.
C Org.: 18,1%
Myr N 5 Amin. liv: 22%; Ác. Hum: 6%

pH: 4,6; Dens.:1,15 kg/L

62 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

II
Produção Animal

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 63


Território vs. Sustentabilidade

64 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Bovinos
José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)
Jesus Cantalapiedra (Xunta de Galicia, Espanha)

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 65


Território vs. Sustentabilidade

66 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Bovinos
O número de vitelos criados por uma vaca de carne é um bom indicador da sua qualidade
como reprodutora. As melhores vacas são as que parem pela primeira vez a uma idade
jovem, apresentam uma longevidade produtiva elevada, desmamam vitelos pesados e
apresentam intervalo entre partos reduzidos (Preston e Willis, 1974).

ORIGEM DOS ANIMAIS E CICLO DE PRODUÇÃO


É recomendável utilizar-se raças autóctones, seleccionadas pela sua capacidade de adaptação
às condições locais de produção (ex. Barrosã e Minhota) e seus cruzamentos. Estas raças
apresentam como principal aptidão a produção de vitelos, geralmente comercializados
e abatidos entre os 5 e os 9 meses de idade. As vacas destas raças, revelam excelentes
características maternais e boa capacidade leiteira, conferindo rusticidade aos vitelos.
Acresce ainda, a sua elevada longevidade reprodutiva, idades ao primeiro parto entre os 2
e os 3 anos de idade, partos distribuídos durante todo o ano, e intervalos entre partos não
muito longos (13-16 meses) (Mendes et al., 2001; Araújo et al., 2003; Araújo, 2005).

CONVERSÃO DOS ANIMAIS E PRODUTOS ANIMAIS


Os bovinos devem proceder de explorações em pecuária biológica, podendo ser
convertidos os animais já existentes na exploração. O período de conversão dos bovinos é
de pelo menos 12 meses, devendo respeitar-se as normas do modo de produção biológico
(MPB).
Quando o efectivo for constituído pela primeira vez e se não existirem animais produzidos
segundo o MPB, podem adquirir-se vitelos destinados à reprodução, desde que sejam
criados, a partir do desmame, e em qualquer caso, com menos de seis meses em
explorações de agricultura convencional.
A renovação do efectivo pode ser autorizada quando não existirem animais criados
segundo o MPB, nas seguintes circunstâncias: Elevada mortalidade dos animais por doença
ou outras calamidades, ou inexistência de bovinos criados segundo o MPB.
A fim de completar o crescimento natural e garantir a renovação do efectivo, é admitida,
até ao limite máximo anual de 10% do efectivo adulto, a introdução de fêmeas (nulíparas),
provenientes de explorações que não praticam a agricultura biológica. Para explorações
com menos de 10 bovinos a renovação será limitada ao máximo de um animal por ano.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 67


Território vs. Sustentabilidade

ALIMENTAÇÃO
A água deve estar sempre à disposição, em quantidade e qualidade suficiente, para evitar o
contágio de agentes infecciosos e parasitários como fases larvares de parasitas.
Devem usar-se alimentos produzidos segundo o MPB, podendo fornecer-se até 5% da
matéria seca de alimentos convencionais, por período de 12 meses.
A alimentação deve basear-se nos recursos alimentares da própria exploração (pastagens
e forragens) ou dos terrenos baldios (vegetação espontânea), de acordo com as suas
disponibilidades nos diferentes períodos do ano.

Inverno Estival
Pastoreio diurno – Terrenos Bovinos permanentemente na
privados e no baldio (localizado na Serra até Setembro, ou alternância
proximidade da exploração agrícola). diária entre as cortes e a Serra.
Fonte: Câmara Municipal de Terras de Bouro (2005)

Como exemplos de alimentos, indicam-se as forragens verdes ou ensiladas, as palhas de


cereais (milho), os fenos de consociação gramíneas x leguminosas ou de erva espontânea,
o milho em grão ou em farinha e as sementes de outros cereais. As forragens grosseiras,
frescas, secas ou ensiladas, devem constituir pelos menos 60% da matéria seca que compõe
a ração diária.
O aleitamento dos vitelos deve efectuar-se até idades superiores aos 5 meses, situação que
normalmente ocorre nas raças autóctones. Segundo o MPB os vitelos devem ingerir leite
natural durante um período mínimo de três meses. É essencial que os vitelos ingiram, nas
primeiras horas de vida, o colostro da mãe, pelas suas propriedades nutritivas, hormonais
e de protecção contra doenças.
O uso de plantas aromáticas e medicinais na alimentação de bovinos é benéfico para a
saúde do efectivo e na melhoria da eficiência na conversão dos alimentos em carne e/ou
leite, pois apresentam factores antimicrobianos e reguladores metabólicos (Garcia et al.,
2003).
Recomenda-se a exposição ao sol dos animais estabulados para que possam sintetizar a
Vit. D. Quando necessário podem ser fornecidos complementos vitamínicos de origem
natural, como os cereais germinados (Vit. A e E), o óleo de fígado de pescado (Vit. E e D2)
e a levedura de cerveja (Vit. complexo B), complementos minerais ricos em sódio (sal
marinho), fósforo e cálcio., referidos no anexo (parte C, ponto 3 e parte D, ponto1).
Proíbe-se o uso de alimentos obtidos a partir de organismos geneticamente modificados
ou de produtos derivados destes.

68 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

MANEIO DAS PASTAGENS


Os bovinos não têm que alimentar-se exclusivamente das pastagens, sendo permitidos
sistemas de produção em semi-estabulação, com fornecimento de alimentos à manjedoura,
sempre que se garanta o acesso a parques de exercício ao ar livre.
O pastoreio proporciona uma dieta de qualidade insubstituível, variada e rica em vitaminas
e minerais, suficiente para cobrir as necessidades de manutenção e de produção, resultando
mais económica. Quando a qualidade das pastagens diminui ou quando os animais se
encontram num período de máxima produção, devem suplementar-se com forragens
(verdes, fenadas ou ensiladas), palha, raízes, tubérculos e/ou concentrados biológicos.
Os encabeçamentos deverão “ser suficientemente baixos para evitar a erosão do solo e/ou
se destruírem pastos por excesso de sobre-pastoreio”. O sobre-pastoreio favorece ainda
o desenvolvimento de muitos ciclos biológicos de agentes patogénicos (ex. parasitas) que
prejudicam o estado sanitário dos bovinos, sendo aconselhado o pastoreio rotacional.
Para evitar a contaminação do subsolo pelos dejectos dos bovinos, os terrenos segundo
o MPB, não deverão receber mais de 170 kg de azoto por hectare de superfície agrícola
utilizada, equivalendo no gado bovino aos valores do quadro 1.

Quadro 1 - Número máximo de bovinos por ha


Classe de bovinos Nº
Com menos de 1 ano 5
De 1 a 2 anos 3,3
Machos com mais de 2 anos 2
Novilhas de recria 2,5
Outras vacas 2,5
Fonte: Anexo VII do Regulamento CE nº 1804/1999

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 69


Território vs. Sustentabilidade

ALOJAMENTOS E EQUIPAMENTOS
Os animais devem dispor de fácil acesso à alimentação e água.
É proibido o alojamento de vitelos em boxes individuais após a sua primeira semana de
vida.
As instalações podem ser muito simples, uma vez que os bovinos se adaptam a condições
meteorológicas adversas. No entanto devem apresentar isolamento e ventilação adequadas,
com luz abundante e natural. Somente as correntes de ar e/ou as mudanças bruscas de
humidade e/ou temperatura podem afectá-los negativamente. Os vitelos necessitam de
uma maior protecção, uma vez que o seu sistema termo regulador e imunológico pode
não estar completamente desenvolvido.
Para garantir o bem-estar dos animais, as superfícies mínimas para estabulação e as zonas
de exercício, devem ser as indicadas no quadro 2.

Quadro 2 - Superfície mínima (m2/animal) interior e exterior para bovinos aleitantes.


Zona coberta (superfície
Zona de exercício ao ar
Peso vivo (kg) líquida disponível Total
livre (excepto de pasto)
para os animais)
Até 100 1,5 1,1 2,6
101-200 2,5 1,9 4,4
201-350 4,0 3,0 7,0
5 com um mínimo 3,7 com um mínimo 8,8 com um mínimo
> 350
de 1 m2/100 kg PV de 0,75 m2/100 kg PV de 1,75 m2/100 kg PV
Touros reprodutores 10 30
Fonte: (Anexo VIII do Regulamento CE nº 1804/1999

É obrigatório que os bovinos tenham acesso aos pastos ou às zonas abertas de exercício,
sempre que o permitam as condições fisiológicas dos animais, as condições atmosféricas
e o estado do solo.
A fase final da recria dos bovinos para produção de carne pode ser realizada em estabulação,
desde que esse período não exceda um quinto do tempo de vida do animal e, de qualquer
forma, o prazo de três meses.
Os pavimentos dos edifícios devem ser lisos mas não derrapantes. Pelo menos metade da
superfície dos pavimentos deve ser sólida, isto é, não ser ripada nem engradada.
Os alojamentos devem dispor de uma zona cómoda, limpa e seca para repouso
suficientemente grande. A zona de descanso deve possuir camas secas, utilizando-se
palhas ou carqueja (Chamaespartium tridentatum), urzes (Erica arbórea L., Erica umbellata
L.), tojos (Ulex minor) e fetos, entre outros. Esta prática contribui para a gestão das áreas

70 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

de pastagens naturais e, mais tarde, para a fertilização dos terrenos agrícolas (estrume
proveniente das camas).
As instalações deverão facilitar a evacuação frequente e retirada dos dejectos, o mais
longe possível, para transformação em húmus. O maneio deficiente dos dejectos origina
problemas ambientais, sendo um factor de risco sanitário para o gado, ao constituir um
substrato para a multiplicação e disseminação de parasitas, microrganismos, etc.

MANEIO
Sistema de cobrição recomendado – cobrição natural para partos fáceis, sendo permitida
a inseminação artificial, mas sem a administração de hormonas ou de substâncias similares
para controlar a ovulação (ex. indução ou sincronização do cio).
Para se minimizarem problemas sanitários, não é recomendável a introdução de animais
de outras explorações. Contudo, para melhorar geneticamente o efectivo e evitar a
consanguinidade aconselha-se a introdução pontual de um reprodutor masculino e/ou
novilhas provenientes de explorações em MPB.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 71


Território vs. Sustentabilidade

PROFILAXIA E ASSISTÊNCIA VETERINÁRIA


No MPB de bovinos é fundamental a prevenção das enfermidades mediante:
Utilização das raças mais adaptadas (raças anteriormente referidas);
 Alimentação adequada e de boa qualidade;
Exercício e acesso regular às pastagens (com o objectivo de estimular as defesas
imunológicas naturais);
Manutenção de um encabeçamento adequado por forma a evitar excesso de animais
por unidade de superfície..
No tratamento dos animais podem utilizar-se, preferencialmente, produtos fitoterapêuticos
como extractos (com exclusão dos antibióticos) e essências de plantas, e homeopáticos
(por exemplo, substâncias vegetais, animais ou minerais), os oligoelementos e outros
produtos em anexo (parte C do Regulamento CE nº 1804/1999). Entre as substâncias
terapêuticas naturais com acção sobre o aparelho digestivo podem enunciar-se o Tomilho
(Thymus vulgaris), a Menta (Mentha x Piperita), o extracto de alho (Allium vulgare) e a Malva
(Malva sylvestris) e sobre o aparelho respiratório o Tomilho (Thymus vulgaris), o Eucalipto
(Eucalyptus spp), e a essência de pinho (Pinus spp) (Garcia et al., 2003).
Se os produtos anteriormente referidos não se revelarem eficazes, poderão recorrer-se a
medicamentos veterinários alopáticos de síntese química (“convencionais”) ou antibióticos,
somente como tratamento curativo. Este far-se-á sob a responsabilidade de um veterinário,
identificando-se individualmente os animais tratados. A utilização de medicamentos
deve ser registada, mencionando o tipo de produto (indicação das substâncias activas),
o diagnóstico, a posologia, o método de administração, a duração do tratamento e o
intervalo legal de segurança. Essas informações são obrigatoriamente comunicadas ao
organismo de controlo antes dos bovinos ou seus produtos serem comercializados como
provenientes do MPB.
O tempo de espera entre a última administração de um medicamento “convencional”
a um animal nas condições normais de utilização e a obtenção de alimentos biológicos
provenientes do referido animal, deve ser o dobro do intervalo legal de segurança, ou se
esse período não estiver especificado, será de 48 horas.
Com excepção das vacinas e dos desparasitantes, assim como de quaisquer planos de
erradicação obrigatórios, se forem administrados a um ou mais bovinos, mais de dois ou
um máximo de três tratamentos com medicamentos “convencionais” ou antibióticos no
prazo de um ano (ou mais de um tratamento se o seu ciclo de vida produtivo for inferior a
um ano), os animais em questão, ou os produtos deles derivados, não poderão ser vendidos
sob a designação de produtos segundo o MPB, devendo os animais ser submetidos aos
períodos de conversão referidos anteriormente.

72 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

É proibida a utilização de medicamentos “convencionais” e de antibióticos como


preventivos de doenças, a utilização de substâncias para estimular o crescimento ou a
produção (antibióticos, coccidiostáticos e outras substâncias artificiais indutoras de
crescimento) e a utilização de hormonas ou substâncias similares para melhorar os
parâmetros reprodutivos (por exemplo, indução ou sincronização do cio) ou para outras
finalidades. No entanto, é autorizada a administração de hormonas como tratamento
veterinário terapêutico a um determinado animal
Autorizam-se os tratamentos veterinários, bem como as desinfecções dos edifícios, do
equipamento e das instalações, obrigatórios ao abrigo da legislação, incluindo a utilização
de medicamentos veterinários imunológicos caso seja reconhecida a presença de uma
doença na zona específica em que se situa a exploração.
Limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos: É autorizada a utilização dos
produtos mencionados em anexo (parte E do Regulamento CE nº 1804/1999).

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 73


Território vs. Sustentabilidade

74 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Pequenos Ruminantes
Luís Filipe Pacheco (DRAEDM)
José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 75


Território vs. Sustentabilidade

76 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Pequenos Ruminantes
A União Europeia estabeleceu as exigências mínimas relativas ao modo de produção
biológico (MPB) de produtos agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nos
géneros alimentícios.
Aconselha-se o recurso a animais de raças autóctones, como garantia de adaptação às
condições locais, vitalidade e resistência às doenças. As condições de alojamento têm
também um tratamento especial, concedendo-se especial importância ao espaço mínimo
por animal e ao maneio dos estrumes. A alimentação constitui outra matéria de vital
importância nestes sistemas de produção. O predomínio dos alimentos fibrosos na dieta é
um dos aspectos chave. Finalmente, a aplicação de medidas para reforçar a resistência inata
dos animais, sem a utilização de produtos químicos, é outro aspecto importante do MPB.
Em suma, o MPB não dispensa o cumprimento de práticas fundamentais da criação de
caprinos e de ovinos, antes o reforça.
Como tal, passaremos em revista neste texto as principais práticas e técnicas a aplicar
pelos criadores de caprinos e de ovinos, para conseguirem melhorar os resultados técnico-
económicos da criação daqueles animais.

CONDIÇÕES PRELIMINARES A TER EM CONTA


Ao pretender-se converter ou instalar uma exploração de ovinos e/ou de caprinos em MPB
deverão ser tomados em consideração aspectos fundamentais. Entre estes, salientamos
que:
A exploração deverá estar situada em zona de montanha, ou numa zona não sujeita a
fontes de contaminação ambientais;
A exploração terá de possuir uma área forrageira para os caprinos ou ovinos de, pelo
menos, 7,6 ha por cada 100 cabeças; tratando-se de zonas de montanha, recomenda-se
cerca de 20 ha por cada 100 cabeças;
É possível utilizar áreas de baldio para alimentar o rebanho, mas não pode haver
contacto com animais em modo de produção convencional;
Os alojamentos deverão garantir uma área coberta de 1,5 m2 por cada ovelha ou
cabra, mais 0,35 m2 por cada anho ou cabrito; por outro lado, os animais não poderão estar
permanentemente estabulados;

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 77


Território vs. Sustentabilidade

O período de conversão de uma exploração está compreendido entre dois e três


anos; mas, dependendo dos antecedentes, este período pode ser reduzido;
O período de conversão dos caprinos e ovinos é, normalmente, de seis meses;
Todo o sistema é supervisionado por organismos independentes acreditados, para
certificar a autenticidade e qualidade diferenciada dos produtos;
A União Europeia tem vindo a atribuir ajudas financeiras aos operadores em MPB.

MANEIO
A sustentabilidade da criação de caprinos e ovinos em MPB requer a adopção de um
maneio integrador (Caballero et al., 2004), que responda às suas principais necessidades
fisiológicas, controle as doenças mais frequentes e proporcione aos animais as desejáveis
condições de conforto e bem-estar. Trata-se, essencialmente, de aplicar um conjunto de
medidas que tenham como finalidade:
Reforçar os mecanismos de defesa;
Evitar o stress e outras condições que favorecem o aparecimento de doenças;
Encontrar um equilíbrio entre a actividade microbiana e a fisiologia animal.

AS CARACTERÍSTICAS DOS ANIMAIS


Os animais a utilizar deverão estar adaptados às principais condições ambientais do meio
(temperatura, pluviosidade, vegetação, topografia do terreno, etc.) e demonstrar uma boa
resistência sanitária.
As raças autóctones (como por exemplo a raça caprina Bravia e a raça ovina Bordaleira de
Entre Douro e Minho) têm um papel de relevo neste domínio. Em condições normalmente
difíceis, mostram diversas qualidades: reduzida sazonalidade reprodutiva; boas aptidões
maternais (facilidade de parto, instinto maternal, capacidade leiteira coerente com a
alimentação…); facilidade de mobilização de reconstituição das reservas corporais,
acompanhando a oscilação da oferta alimentar pastoril ao longo do ano. Poderá, no
entanto, recorrer-se também a programas de cruzamentos, usando as raças autóctones
como linha maternal. Mas esta é uma prática que tem de ser bem pensada, tendo em conta
os aspectos técnicos e económicos.
Devem sair da exploração os animais com maus aprumos, cabeças baixas e com uma
conformação desadequada. O mesmo deverá suceder em relação às cabras ou ovelhas que
revelarem frequentemente problemas sanitários.

78 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

ALIMENTAÇÃO
Normalmente, as cabras e ovelhas pastam diariamente em superfícies de baldio (Brás
et al., 2005). Aproveitam alimentos espontâneos que, em circunstâncias normais, seriam
desperdiçados e até poderiam constituir uma ameaça. Os reduzidos custos alimentares e
a diminuição da vegetação potencialmente combustível são, pois, vantagens importantes da
criação destes animais. Mas há mais benefícios.
O pastoreio em superfícies semi-naturais proporciona uma dieta variada, melhorando o
consumo alimentar e o fornecimento de diversos minerais e vitaminas. No entanto, podem
existir, mesmo assim, carências de selénio na Primavera, com consequências nas fibras
musculares dos animais jovens. Também se poderão revelar défices de cobalto e cobre
em animais jovens com aleitamento deficiente, podendo surgir uma deficiente resposta
imunitária aos parasitas.
A prática tradicional do pastoreio de percurso permite cumprir, sem qualquer transtorno
para os criadores, duas regras fundamentais do MPB:
Utilização de alimentos biológicos, cultivados sem emprego de fertilizantes, herbicidas
ou fitofármacos, nem sementes transgénicas (os baldios não têm qualquer intervenção
humana directa, para além do fogo);

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 79


Território vs. Sustentabilidade

O uso de concentrados terá de ser inferior a 40% da matéria seca da dieta (os
criadores de cabras e de ovelhas aleitante sempre puseram em prática esta norma).
O pastoreio bem organizado é um valioso instrumento para o controlo dos parasitas,
visto permitir atenuar o risco de contaminação das pastagens por larvas infectantes e/
ou hospedeiros intermediários e/ou populações de carraças. O controlo da carga animal
constitui uma outra via de evitar reinfestações e infecções. Apesar das normas do MPB
permitirem até 13,3 ovelhas ou cabras por ha, a carga animal recomendada para as nossas
condições de montanha é claramente inferior àquele valor: entre 5 a 9 cabeças por ha.
O pastoreio alternante de ovinos ou caprinos com bovinos, combinando áreas de pastagem
é uma outra forma de controlo parasitário. Com efeito, os pequenos ruminantes são
afectados por parasitas distintos dos bovinos (apesar de haver algumas excepções).
As necessidades alimentares das ovelhas e cabras variam ao longo do seu ciclo produtivo
(cobrição, gestação, aleitamento).
Na época de cobrição, e até às quinze semanas de gestação, as necessidades alimentares
são normais.
Porém, as últimas seis semanas de gestação são críticas (Pacheco, 1986). E por várias
razões:
A maior parte do crescimento da(s) futura(s) cria(s) ocorre nesta fase;
A ingestão (apetite) da fêmea gestante diminui;
O consumo alimentar em pastoreio é menor, porque há menos tempo de pastoreio,
maiores dificuldades em comer por causa da chuva e menor produção das pastagens;
Uma alimentação deficiente neste período provoca uma diminuição do peso da cria à
nascença, menor capacidade de sobrevivência, menor instinto maternal e menor produção
leiteira.
A partir das seis semanas antes do parto, recomenda-se a utilização de uma pastagem
melhorada e/ou fornecer entre 200 a 400 g de concentrado biológico por fêmea e por dia.
Tratando-se de grãos de cereais, deverão ser fornecidos esmagados.
No início da lactação, as necessidades alimentares aumentam ainda mais. As fêmeas paridas
devem ter à disposição pastagens de melhor qualidade e/ou alimentos concentrados
biológicos: cerca 400 g de concentrado biológico por fêmea e por dia.
O maneio alimentar é determinante para assegurar a defesa dos animais contra os agentes
vivos que estão presentes no meio. E estes cuidados iniciam-se com o nascimento do
animal.
No dia do parto, é aconselhável verificar se o recém-nascido mama o colostro. Se tal não
suceder, devem retirar-se uns jactos, para remover as sujidades que possa ainda haver
80 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro
Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

dentro e fora do teto e facilitar o corrimento de colostro. Quer o colostro quer o leite
maternal possuem propriedades que reduzem a possibilidade de aparecimento de diversos
distúrbios digestivos e doenças infecciosas. Mas o colostro deve ser consumido o mais
brevemente possível, porque após as primeiras 24 horas de vida, a sua absorção intestinal
vai baixando. O aleitamento maternal deverá ser de, pelo menos, 45 dias.
Para reforçar os laços entre a mãe e as crias nas primeiras horas de vida (que são vitais) e
facilitar a vigilância dos recém-nascidos, é conveniente instalar nos alojamentos pequenos
cubículos (com cerca de 1 m2). Estes acessórios poderão ser painéis amovíveis, que se
montam e desmontam de acordo com as necessidades.
A partir da terceira semana de vida as crias devem ter acesso a feno biológico de boa
qualidade e concentrado biológico.
Independentemente, do período do ciclo produtivo, há um conjunto de normas de maneio
alimentar a ter em conta:
Evitar mudanças bruscas da alimentação, estabelecendo períodos de adaptação
quando se introduzem novos alimentos;
No início da Primavera e Outono, quando surgem as plantas mais tenras, limitar o
consumo destes alimentos, obrigando o rebanho a uma passagem rápida e/ou fornecendo
feno;
Evitar o consumo de alimentos frios ou gelados, retardando a saída do rebanho para
a pastagem;
Melhorar o aleitamento das crias (anhos e cabritos). Para além desta condição, é
fundamental permitir que ele se realize em vários momentos do dia. Isto porque, quando as
crias são aleitadas unicamente após o regresso das mães do monte, mamam intensamente
podendo surgir diversos problemas digestivos (timpanismo, indigestões, diarreias, etc.).
A melhoria do aleitamento requer, por isso, uma alimentação cuidada (para que as mães
produzam leite em quantidade suficiente, podendo então aleitar as crias durante a noite e
início da manhã) e alojamentos adaptados (para fortalecer a relação mãe/filho).

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 81


Território vs. Sustentabilidade

SANIDADE
A higiene dos alojamentos e utensílios do rebanho é outra prática fundamental. Os
alojamentos devem ser limpos e desinfectados pelo menos duas vezes por ano com
produtos autorizados, como por exemplo cal viva.
A higiene das instalações obriga também ao controlo dos roedores (com jaulas-tampa)
assim como à sanidade dos cães e gatos, visto poderem transmitir diversas doenças ao
homem e aos pequenos ruminantes.
No MPB é proibida a utilização de medicamentos veterinários alopáticos de síntese
química ou antibióticos nos tratamentos preventivos. Deve-se recorrer aos produtos
fitoterapêuticos e homeopáticos, os oligoelementos e os produtos constantes no anexo
(parte C, ponto 3 do Regulamento (CE) 1804/1999), desde que os seus efeitos terapêuticos
sejam eficazes para a espécie animal e para o problema a que o tratamento se destina. Se,
por razões sanitárias e de bem-estar, os produtos prescritos não forem eficazes, podem
usar-se medicamentos veterinários alopáticos. Mas se forem administrados mais de dois
tratamentos antiparasitários ou antibióticos por ano (ou mais de um em ciclos produtivos
inferiores a 12 meses), os animais ou os produtos derivados não podem ser vendidos
como MPB.
Em consequência, o período de espera entre a última administração do medicamento
alopático ao animal e a obtenção de produtos alimentares biológicos que procedam desse
animal será o dobro do tempo legalmente estabelecido para o medicamento, com um
mínimo de 48 horas para os produtos que não especifiquem o período.
Os tratamentos biológicos com vacinas, realizados no âmbito de campanhas obrigatórias,
são autorizados.

82 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Aves de Capoeira
Jerónimo Santos (DRAEDM)
José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 83


Território vs. Sustentabilidade

84 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Aves de Capoeira
A produção animal em modo biológico (MPB) é um sistema de criação onde o objectivo
é dar todas as condições de vida aos animais respeitando os princípios básicos do seu
comportamento inapto (Vaarst, 2003).
A criação de aves, pode revelar-se uma actividade rentável, devido ao curto ciclo de produção,
fácil maneio e reduzidos custos de implementação e manutenção da exploração.

ORIGEM DOS ANIMAIS


A escolha das estirpes de aves deve ter em conta a capacidade de adaptação às condições
locais onde vão ser criadas, pelo que se deverá dar preferência às raças autóctones (Pedrês
Portuguesa, Preta Lusitânica e Amarela).

CONVERSÃO
O processo de conversão para o modo de produção biológico (MPB) pode ser em
separado para as terras onde se vão cultivar os alimentos para as aves ou só para os
animais, mas também pode ser em simultâneo, ou seja, para toda a exploração.
Para que as aves de capoeira possam ser vendidas como produto biológico, devem ser
criadas segundo as normas do MPB durante pelo menos 10 semanas e desde os três dias
de idade se destinadas para a produção de carne, ou durante 6 semanas se para a produção
de ovos.

ALIMENTAÇÃO
Os animais devem ser alimentados com alimentos produzidos segundo o MPB e de
preferência provenientes da própria exploração, devendo ter água limpa e potável sempre
disponível.
É autorizada a incorporação de alimentos em conversão na ração alimentar, em média, até
um máximo de 30% da matéria seca da dieta no caso dos alimentos serem adquiridos, ou
até 60% se forem provenientes da própria exploração.
As matérias-primas convencionais, de origem vegetal e animal, mineral, oligoelementos,
vitaminas e pró-vitaminas, permitidas para alimentação animal em MPB estão enumeradas
em anexo (parte C e D no anexo II do Regulamento 1804/1999).
Como alimentos principais podem indicar-se os grãos de cereais (milho, aveia, trigo, ou
cevada) de leguminosas (feijões, ervilhas, tremoço, ervilhaca) e o fornecimento de uma
Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 85
Território vs. Sustentabilidade

refeição húmida constituída por farelos misturados com couves ou abóbora. Apesar de
não ser obrigatório, aconselha-se que as dietas das aves contenham, pelo menos, 65%
de cereais ou seus subprodutos acrescidos de forragens grosseiras, frescas, secas ou
ensiladas.
A existência de prados com uma mistura de gramíneas e leguminosas é fundamental para
incrementar a saúde e o bem-estar dos galináceos.
É proibido o uso de alimentos obtidos a partir de organismos geneticamente modificados
ou de produtos derivados destes. Os antibióticos, coccidiostáticos, produtos medicinais,
promotores do crescimento ou outras substâncias destinadas a estimular o crescimento
ou a produção não são autorizados na alimentação de aves.

ALIMENTAÇÃO DOS PINTOS E FRANGOS


A dieta para os pintos até às 3 semanas de idade deve ser rica em proteína bruta, cerca de
21% (Sousa, 2003). Ela poderá ser à base de grão de trigo sarraceno, milho painço, sêmola
de trigo e de cevada e flocos de aveia. Segundo a mesma autora podem utilizar-se os
seguintes produtos:
O chá de camomila, de urtiga e de menta fazem bem aos intestinos e poderão
substituir a água;
A partir do 5º dia incluem-se na dieta, ervas jovens picadas, urtigas e outras ervas
medicinais que ajudam na digestão;
Ao fim de 2 semanas o grão poderá ser moído mais grosseiramente, eliminam-se os
flocos de aveia e pode-se juntar grãos de arroz;
A partir do 1 mês de idade, as aves podem começar a frequentar a pastagem (período
em que a plumagem está completamente formada);
A partir da 5º ou 6º semana, as aves começam a ingerir grão inteiro (dieta normal
de adulto).
Gradualmente, à medida que os pintos crescem, é importante aumentar os espaços e
acrescentar os equipamentos definitivos.
O criador deverá observar se os pintos se estão a alimentar e a beber normalmente.

86 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

ALIMENTAÇÃO DOS ADULTOS


Partículas de alimento com maiores dimensões são mais facilmente reconhecidas e
apreciadas; do mesmo modo as cores claras são preferidas em detrimento das cores mais
escuras.
As aves consomem mais alimentos na época de Inverno, pois necessitam de mais energia
para manter a temperatura corporal.
Na prática, o teor de energia pode ser alterado, fornecendo mais grão de cereais,
especialmente o milho.
Se o criador estiver impossibilitado de obter alimentos produzidos em MPB, pode utilizar
até 15% da matéria seca de alimentos convencionais (até 31/12/2007).

INSTALAÇÕES
As instalações devem ter espaço compatível com o número de aves a serem criadas,
situarem-se em local afastado de outras explorações; dando preferência a locais secos,
arejados e protegidos dos ventos fortes dominantes.
As instalações devem ser construídas de maneira a facilitar a recepção dos pintos,
abastecimento de água e alimento, bem como a retirada de animais adultos e da cama, para
utilização como fertilizante.
As aves de capoeira não podem ser mantidas em gaiolas devendo ter acesso a parques
ao ar livre quando as condições meteorológicas o permitam e, pelo menos durante uma
terça parte da sua vida. É aconselhável que os parques sejam dotados de zonas de sombra
(árvores existentes ou a plantar). Na ausência destas, deverão ser providenciados abrigos
artificiais. Estas zonas de sombra devem ser aproveitadas para se instalarem bebedouros
ou comedouros.
A área total utilizável das instalações destinadas às aves de capoeira numa única unidade de
produção não deve exceder 1600 m2 devendo satisfazer as seguintes condições mínimas:
Possuírem aberturas de entrada e saída com uma dimensão adequada às características
das aves, devendo estas aberturas terem um comprimento total de pelo menos de
4m/100m2 de superfície de que as aves dispõem;
Pelo menos um terço da superfície do solo deve ser uma construção sólida, isto é, não
ser ripada nem engradada, e ser coberta por material de cama (palha, aparas de madeiras
ou areia). A cama tem como função o isolamento térmico entre o piso e as patas dos
animais, a diminuição da humidade, o conforto dos animais (descanso) e a prevenção de
problemas sanitários. Com uma espessura entre 5 a 10 cm, a cama deve ser posta com o
chão da instalação limpo e desinfectado, só sendo removida após a saída do lote das aves;

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 87


Território vs. Sustentabilidade

O galinheiro deve possuir poleiros (cm de poleiro/animal): 18 cm por galinha poedeira;


20 cm apenas para as pintadas. Deverá existir um ninho para cada 8 galinhas poedeira ou
no caso do ninho ser comum, 120 cm2 por cada ave.
Tipos de alojamentos: existem 2 tipos de alojamento:
 Alojamento fixo – encontra-se fixo no terreno;
Alojamento móvel - amovível para que se possa movimentar na pastagem, permitindo
instalar-se em diferentes zonas.
Os alojamentos devem respeitar as dimensões indicadas no quadro 1.

Quadro 1 - Superfície mínima interior e exterior para os diferentes tipos de produção


de aves.

Área interior (superfície líquida


disponível para os animais) Área exterior (m2 de superfície
Categoria
disponível em rotação/cabeça)
Número de animais/m2

Galinhas poedeiras 6 4

4 por cada frango de

engorda e pintada
Aves de engorda (em 10, com um máximo de 21 kg de
alojamento fixo) peso vivo/m2 4,5 por cada pato

10 por cada peru


15 por cada ganso
Aves de engorda (em 16 (*), em capoeiras móveis com um
alojamento móvel) máximo de 30 kg de peso vivo/m2 2,5

(*) só no caso de alojamentos móveis com uma superfície não superior a 150 m2 que
permaneçam abertos durante a noite.
Fonte: Anexo VIII do Regulamento CE nº 1804/1999

As aves aquáticas devem ter acesso a um rego, charco ou lago, sempre que as condições
meteorológicas o permitam.

88 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

EQUIPAMENTOS BÁSICOS
Salientam-se como exemplos: as lâmpadas (fornecem calor aos pintos e iluminam o
alojamento à noite); os comedouros – infantis (tubular infantil, até 5 kg de ração); bandejas
(de plástico, alumínio, ferro, madeira ou tampas das caixas dos pintos); comedouros para
concentrado (tubulares com capacidade para 20 kg), suspensos a altura adequada, de
acordo com o desenvolvimento das aves; e os bebedouros.

CONDUÇÃO DOS ANIMAIS


A reprodução das aves deve ser feita por métodos naturais. Deve ter-se sempre em
consideração o comportamento biológico das aves, possibilitando a expressão dos seus
hábitos naturais (esgravatar no chão, espojar-se na terra e procurar alimento livremente),
o arejamento das camas e a diminuição dos fenómenos de picacismo e canibalismo.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 89


Território vs. Sustentabilidade

PRÁTICAS DE PRODUÇÃO
Pintos / Frangos - Antes da recepção de um novo lote de animais realizar o vazio sanitário
das instalações.
Nos primeiros dias de vida, os pintos como são muito sensíveis às mudanças de temperatura,
devem ser mantidos próximos de uma fonte de calor (lâmpada), dos bebedouros, e da
ração, separando-os em lotes menores, usando-se uma chapa delimitadora. Esta facilita o
trabalho, a inspecção diária do tratador, evitando as correntes de ar. As chapas para formar
o círculo de protecção com uma altura de 0,60m, podem ser de folhas de papelão grosso,
metal galvanizado ou chapas finas. O diâmetro do círculo depende da quantidade de aves
no alojamento.
A temperatura ideal na primeira semana, medindo com termómetro a 15 cm da borda da
lâmpada e a 5 cm da cama, é de 32 ºC. Para a segunda semana deverá ficar em 29 ºC, na
terceira em torno de 26 ºC. A partir desta idade os animais já adquiriram resistência para
se adaptarem à temperatura ambiente.
Nas galinhas poedeiras, a luz natural pode ser complementada artificialmente para garantir
um máximo de 16 horas diárias de luminosidade, com um período nocturno contínuo sem
luz artificial de pelo menos 8 horas.
A observação constante das aves é um requisito essencial para a obtenção de bons
resultados da exploração. O período privilegiado para esta observação é no final do
dia, quando as aves estão mais calmas, preparando-se para a noite. Esta rotina permite
conhecer melhor as aves, o seu desenvolvimento ou detectar em tempo útil possíveis
anomalias e doenças. Salienta-se a atenção para a ocorrência de qualquer tipo de espirro
ou rouquidão.
Outro procedimento a ter em conta será a palpação de algumas aves, procurando verificar
se estão com boa quantidade de alimento no papo ou se o peso é satisfatório para a
idade.
A idade mínima de abate das aves de capoeira será de 81 dias para os frangos, 150 dias
para os capões, 140 dias para os perus e gansos, 94 dias para as pintadas e entre os 49 e
os 92 dias consoante a estirpe de pato.
De modo a assegurar o bom nível de azoto no solo e a evitar o aumento do teor de azoto
das toalhas freáticas através da lixiviação, é limitado a um número máximo de 580 frangos
para carne ou a 230 galinhas poedeiras por hectare.
Deve estar assegurada a identificação das aves e seus produtos em todas as fases da
produção, preparação, transporte e comercialização.

90 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

HIGIENE E SANIDADE ANIMAL


A prevenção de doenças baseia-se no fornecimento de alimentação de qualidade, exercício
regular e encabeçamento adequado.
As fezes, a urina e os alimentos não consumidos ou desperdiçados devem ser eliminados
com a frequência necessária para minimizar os maus cheiros e evitar atrair insectos ou
roedores.
Por razões sanitárias, as instalações devem ser esvaziadas de animais entre dois períodos
de criação de aves. Neste intervalo de tempo deve ser feita a desinfecção do edifício e dos
respectivos acessórios.
Remoção dos equipamentos e utensílios - Visa efectuar uma completa lavagem para
remover toda a poeira e crostas antes de serem desinfectados. Todos estes materiais
devem ser colocados ao sol para secar, o que servirá ainda como a primeira desinfecção.
A desinfecção definitiva será realizada usando produtos que se encontram descritos em
anexo, tendo o cuidado de evitar a corrosão dos equipamentos e preservar a saúde do
responsável pela desinfecção.
Remoção da cama da instalação - Realizada quando as aves deixam a exploração. Os
dejectos devem ficar distantes e amontoados para desencadear a fermentação e assim
eliminar todos os organismos patogénicos que possam existir. Após a fermentação, os
dejectos poderão ser distribuídos pelas áreas agrícolas da exploração, respeitando a carga
de azoto/ha/ano (170 kg).
Limpeza e desinfecção da instalação - Limpeza completa no interior, raspando o piso e
paredes, e fora do edifício limpar as paredes e locais que tenham restos de fezes. Afim de
remover a restante sujidade, lavar com bomba de alta pressão, toda as partes da instalação.
Depois de tudo limpo, inicia-se a desinfecção utilizando os produtos mencionados em
anexo (parte E do Regulamento CE nº 1804/1999).
No final do período de criação de cada grupo de aves de capoeira, os parques devem
ser desocupados para permitir que a vegetação torne a crescer e por razões sanitárias.
Estes requisitos não se aplicarão a pequenos números de aves de capoeira que não sejam
mantidas em parques e possam andar à solta ao longo do dia.
Os problemas sanitários, devem ser controlados, essencialmente, por meio de acções
preventivas (Sousa, 2004). Caso seja necessária a administração de medicamentos
veterinários:
Esta só deve ocorrer com prescrição do Veterinário e após realização de diagnóstico
adequado;

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 91


Território vs. Sustentabilidade

O diagnóstico, o produto e a posologia deverão ser registados e respeitada a duração


do tratamento. O intervalo de segurança da aplicação de um medicamento veterinário
alopático deve ser o dobro do intervalo legal de segurança. Caso este intervalo não esteja
especificado deve ser de 48 horas.
As vacinas e anti parasitários são autorizados assim como as medidas inerentes aos planos
de erradicação obrigatórios implementados pelo Estado.
É proibida a utilização de medicamentos veterinários alopáticos de síntese química,
antibióticos, hormonas e outras substâncias para estimular o crescimento e a produção.
A fim de facilitar a gestão do efectivo, os animais devem ser identificados por lotes.

92 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Suínos
João Santos e Silva (DRAEDM)
José Pedro Araújo (ESAPL/IPVC)

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 93


Território vs. Sustentabilidade

94 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Suínos
A exploração de suínos em modo de Produção Biológico (MPB) deve ser encarada como
unidade poli-cultural, comportando a produção de diversas culturas em MPB, destinadas à
alimentação dos suínos.
O MPB de suínos deve contribuir para o equilíbrio económico e ambiental da exploração,
através da reciclagem natural dos nutrientes e de uma menor carga sobre o ambiente,
produzindo alimentos em segurança e de elevada qualidade. As condições de bem-estar
animal devem ser superiores ao das explorações convencionais.
A regulamentação do MPB de suínos impõe um sistema produtivo que possibilite ao
agricultor o direito de rotular a carne como alimento biológico.

CICLO DE PRODUÇÃO DOS SUÍNOS


A produção de suínos engloba várias fases fisiológicas: reprodução (gestação, lactação,
emparelhamento), e de crescimento (cria, recria, engorda e acabamento), às quais
correspondem necessidades nutricionais e de acondicionamento ambiental muito diversas,
que implicam o estabelecimento de um plano racional de produção anual, face aos recursos
alimentares existentes na exploração.
Outra variável que deverá definir o ciclo de produção dos suínos é o mercado. A produção
de carne fresca deve ser realizada durante todo o ano, e no caso do fabrico de produtos de
salsicharia, deve ser dada preferência ao acabamento dos suínos na época mais apropriada
à transformação – Novembro a Março. Contudo, os produtos transformados podem
igualmente ser produzidos durante todo o ano.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 95


Território vs. Sustentabilidade

ORIGEM DOS ANIMAIS


A escolha das raças deve ser realizada tendo em conta a adaptação dos animais ao meio
ambiente e a produção de carne de elevada qualidade. Por isso deve dar-se preferência às
raças autóctones (no norte do país à raça Bísara) e aos seus cruzamentos.
Outras características genéticas podem ser igualmente consideradas, como sejam, os
animais estarem livres do gene da susceptibilidade ao stress (gene Halotano), o que está
associado à quebra da qualidade da carne. Uma análise laboratorial, ou o conhecimento
genealógico dos ascendentes poderão fornecer essa informação.

CONVERSÃO
Os suínos devem ser provenientes de unidades de pecuária biológica, mas podem ser
convertidos os animais já existentes na exploração. Podem adquirir-se leitões até 35 kg em
explorações de agricultura convencional, caso não existam animais produzidos segundo
o MPB.
O período de conversão dos animais é de 6 meses, devendo respeitar-se as normas do
MPB.

96 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

ALIMENTAÇÃO
Os alimentos devem ser produzidos ou cultivados na própria exploração, respeitando o
MPB, devendo corresponder à diversidade das variedades utilizadas tradicionalmente na
região de produção.
Os concentrados utilizados são obrigatoriamente provenientes de matérias-primas
obtidas em MPB, sendo proibidos alimentos obtidos a partir de organismos geneticamente
modificados ou derivados destes.
Os alimentos são produzidos em MPB, sendo admitido 5% da matéria seca de alimentos
convencionais.
A alimentação deverá ser planeada em função do estado fisiológico em que o animal
se encontra e do seu peso vivo, de modo a não ocorrer carência nutritiva ao longo do
ciclo produtivo, e a não comprometer o bem-estar, a produtividade e a qualidade dos
produtos.
Os alimentos mais utilizados na alimentação de suínos, em sistema tradicional do norte de
Portugal, e que devem ser utilizados em MPB estão representados no quadro 1.

Quadro 1 - Alimentos tradicionais utilizados durante o ano, na


alimentação de suínos (produzidos segundo o MPB)
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Batata X X X X X X X X X X X X
Frutas (várias) X X X X X X X
Abóbora X X X X X X X X X X
Couves X X X X X X X X X X X X
Beterrabas X X X X X X X X X X X X
Nabos X X X X X X X X X
Pastagens X X X X X X X X X X X X
Castanha X X X
Landes carvalho X X X
Grão de cereais:
Centeio X X X X X X X X X X X X
Milho X X X X X X X X X X X X
Farinhas de cereais:
Cevada X X X X X X X X X X X X
Centeio X X X X X X X X X X X X
Trigo X X X X X X X X X X X X
Milho X X X X X X X X X X X X
Fonte: AGRO 339 (2006)

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 97


Território vs. Sustentabilidade

SISTEMA DE PRODUÇÃO, ALOJAMENTOS E MANEIO


Os animais devem ter a possibilidade de exprimir o seu comportamento natural.
A inovação tecnológica dos sistemas de produção, aplicando novos conhecimentos e novos
processos produtivos inspirados nos sistemas tradicionais, deve ser preconizada na MPB.
Por exemplo, os sistemas de exploração de suínos ao Ar Livre, podem ser uma opção, para
quem deseje aumentar a produção com menos investimento, respeitando o bem-estar e o
ambiente, garantindo aos olhos dos consumidores produtos de superior qualidade.
Nesta base as instalações tradicionais dos suínos devem ser melhoradas, adoptando-se
sistemas de produção alternativos. Nomeadamente, ao Ar Livre, semi – Ar livre, semi-
intensivo ou extensivo são reconhecidas algumas vantagens:
Económicas
Baixo investimento/capital inicial
Rentabilidade agrícola
Diversificação da produção
Incremento da produção da exploração
Ocupação de terrenos abandonados
Ecológicas
Diminuição de resíduos e contaminação ambiental
Melhorar níveis de bem – estar animal
Maneio
Permite aumentar o efectivo e melhorar performances
Mobilidade e flexibilidade de instalações e maneio
Atingir diferentes nichos de mercado
Melhor crescimento, tenrura, flavour, cor, fibras musculares, melhoria da qualidade
Os consumidores acreditam que qualidade é melhor mesmo que esta não seja
perceptível
Quando a exploração é implementada ao Ar Livre, as parcelas destinadas aos suínos devem
entrar em rotação com outras culturas, por um período de 3 a 4 anos. O encabeçamento
e a rotação dos animais na área da exploração devem ser respeitados, de modo a evitar
problemas de poluição ambiental, pois a matéria orgânica produzida pelos animais é

98 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

naturalmente incorporada e degrada no solo, contribuindo para um aumento da sua


fertilidade.
Por questões de conforto e de necessidades de termo-regulação, os suínos gostam de
tomar banho de lama e repousar no meio da palha, pelo que deve ser facultada palha nos
alojamentos e charcos de água/lama.
As porcas devem ser mantidas em grupo, separadas em função do estado fisiológico
(gestantes, lactantes e vazias).
O desmame dos leitões deve efectuar-se aos 40 dias no mínimo, sendo proibido mantê-los
em gaiolas.
Aos animais deve ser disponibilizado fácil acesso aos pontos de alimentação e de
abeberamento, de modo a evitar stress comportamentos agressivos ou privações
nutricionais.
A área das instalações deve proporcionar conforto e bem-estar aos suínos, estando
previstas no regulamento do MPB, as seguintes densidades de animais (quadros 2 e 3).

Quadro 2 - Superfície mínima (interior e no exterior) para suínos (m2/animal).

Zona coberta (superfície


Zona de exercício ao ar
Categoria líquida disponível para os
livre (excepto de pasto)
animais)

Porcas reprodutoras com


leitões até aos 40 dias 7,5 2,5

Leitões acima de 40 dias e


até 30 kg 0,6 0,4

Porcos de engorda:

- Até 50 kg 0,8 0,6

- Até 85 kg 1,1 0,8

- Até 110 kg 1,3 1,0

Porcos de criação:

- Fêmea 2,5 1,9

- Macho 6,0 8,0


Fonte: Anexo VIII do Regulamento CE nº 1804/1999

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 99


Território vs. Sustentabilidade

Quadro 3 - Encabeçamento para porcos em pastoreio.


Número máximo de animais por hectare.

Categoria de suínos Nº máximo

Porcas reprodutoras 6,5

Leitões 74

Suínos p/ engorda 14

Outros suínos 14
Fonte: Anexo VII do Regulamento CE nº 1804/1999

HIGIENE E SANIDADE
A prevenção de doenças baseia-se no fornecimento de uma alimentação equilibrada,
exercício regular e encabeçamento adequado.
É privilegiada a utilização de produtos fito-terapêuticos, homeopáticos e minerais. Contudo
se estes se revelarem ineficazes, podem ser utilizados medicamentos veterinários de
síntese sob a responsabilidade de um veterinário.
É proibida a utilização de medicamentos veterinários de síntese química e outras substâncias
para estimular o crescimento e a produção. No entanto é autorizada a administração de
hormonas como tratamento veterinário terapêutico a um determinado animal.
São autorizadas as desinfecções dos edifícios, do equipamento e das instalações ao abrigo
da legislação nacional e comunitária.
As vacinas e anti-parasitários são autorizados, assim como, as medidas inerentes aos planos
de erradicação obrigatórios implementados pelo Estado.
São autorizados para limpeza e desinfecção de instalações, equipamentos e utensílios os
produtos descritos em anexo (parte E do Regulamento CE nº1804/1999).

100 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Apicultura
José Manuel Pires (ESAPL/IPVC)
Joaquim Cerqueira (ESAPL/IPVC)

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 101


Território vs. Sustentabilidade

102 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Apicultura
A apicultura é uma importante actividade para a produção agrícola e florestal, contribuindo
para a protecção do meio-ambiente. Pela diversidade dos produtos obtidos: mel, pólen,
geleia real, propólis, cera, veneno da abelha e a criação de abelhas e rainhas, representa um
papel significativo na economia das explorações agrárias.
A qualificação dos produtos da apicultura como resultantes do modo de produção
biológico está estreitamente ligada às características dos tratamentos efectuados nas
colmeias como à qualidade do meio-ambiente. As condições de extracção, tratamento
e armazenagem dos produtos da apicultura são atributos a considerar neste modo de
produção. A filosofia de vida ecológica e naturalista, difundida principalmente na Europa,
tem incrementado a procura e o recurso a produtos e técnicas naturais, nomeadamente
os de origem apícola, designados como “produtos naturais”.

ORIGEM DAS ABELHAS


Na escolha das raças, dever-se-á ter em conta a capacidade das abelhas se adaptarem
às condições locais, a sua vitalidade e a resistência às doenças (Ritter, 2001). Será dada
preferência à utilização de raças europeias de Apis mellifera e aos seus ecotipos locais.
Este modo de produção é uma actividade ligada à terra, devendo as abelhas dispor de
uma área de movimentação livre isenta de qualquer tipo de contaminação, devendo o
número de colmeias estar em equilíbrio com a dimensão da exploração, as produções
vegetais e respeitar a localização de outros apiários. A prevenção de doenças deve basear-
se nos princípios de selecção das raças ou estirpes de animais adequadas à exploração,
fomentando uma elevada resistência às doenças e prevenção de infecções. Os apiários
devem ser constituídos por divisão de colónias ou aquisição de enxames ou de colmeias,
provenientes de unidades que satisfaçam o Modo de Produção Biológico (MPB).
A reconstituição dos apiários será autorizada pelo organismo ou autoridade de controlo,
sempre que não estejam disponíveis apiários que satisfaçam o MPB, como no caso de
elevada mortalidade das abelhas causada por motivos sanitários ou por catástrofes, desde
que se respeite o período de conversão.
Na renovação dos apiários, 10% ao ano, das abelhas-mestras e dos enxames a incorporar na
unidade que pratica a agricultura biológica poderão não satisfazer as regras estabelecidas
no MPB, desde que sejam colocados em colmeias com favos ou folhas de cera provenientes
de unidades que praticam a agricultura biológica. Nesse caso, não se aplica o período de
conversão.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 103


Território vs. Sustentabilidade

PERÍODO DE CONVERSÃO
Existe um período de conversão de cerca de um ano, para que os produtos apícolas
possam ser comercializados com referência ao MPB. Nesse período deve ser utilizada cera
produzida em MPB. No caso de novas instalações ou durante o período de conversão,
a utilização de ceras que não provenham de unidades em MPB pode ser autorizada
pelo organismo ou autoridade de controlo em circunstâncias excepcionais, desde que
não estejam disponíveis no mercado ceras produzidas segundo o MPB e na condição de
provirem dos opérculos.

LOCALIZAÇÃO DOS APIÁRIOS


O apicultor deverá fornecer ao organismo ou autoridade de controlo um inventário
cartográfico, à escala adequada dos locais de implantação das colmeias, com uma descrição
completa da unidade e indicação dos locais de armazenagem e de produção, bem como
das parcelas e/ou das áreas de colheita e, se for caso disso, os lugares onde se efectuam
determinadas operações de transformação e/ou acondicionamento.
Os apiários deverão localizar-se em áreas com fontes de néctar, melada e pólen naturais
em quantidades suficientes, dispondo de água num raio de 3 Km em redor do apiário.
Nestes locais, a maioria das culturas deve respeitar o MPB e/ou de vegetação espontânea,
ou ainda culturas submetidas a tratamentos de baixo impacto ambiental, como as descritas
nos programas desenvolvidos ao abrigo do regulamento CE nº 2078/92, que não possam
afectar significativamente a qualificação da produção apícola como resultante do MPB. Os
apiários deverão estar afastados e localizados a suficiente distância de quaisquer fontes
de produção não agrícola susceptíveis de causar contaminação, como centros urbanos,
auto-estradas, zonas industriais, aterros e incineradores de lixos, devendo os organismos
ou autoridades de controlo estipular as medidas que garantam o cumprimento deste
requisito. A zona onde se localiza o apiário deve estar assinalada, com identificação das
colmeias.

ALIMENTAÇÃO
No final da época produtiva, devem deixar-se nas colmeias reservas suficientemente
abundantes de mel e de pólen, para o período invernal (Paixão, 1985) e a alimentação,
em casos de necessidade, deve ser feita com mel produzido segundo o MPB. É autorizada
a alimentação artificial das colónias quando, por rigores climáticos, esteja em risco a
sobrevivência das colmeias. Nesta situação, devem registar-se o tipo de produtos utilizados,
datas, quantidades e colónias beneficiadas. No caso de ocorrer a cristalização do mel, é
autorizada a alimentação artificial com xarope de açúcar ou melaços de açúcar, produzidos

104 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

ALOJAMENTOS E EQUIPAMENTOS
Os apiários são o equipamento produtivo mais importante da exploração apícola. São
constituídos pelas colmeias, os enxames de abelhas seleccionadas e todos os materiais
inerentes à sua instalação no terreno. As colmeias devem ser feitas de materiais naturais
que não apresentem qualquer risco de contaminação para o ambiente ou para os produtos
da apicultura e no seu interior só poderão ser utilizados produtos naturais, tais como
própole, cera e óleos vegetais. Aconselha-se a utilização de colmeias, que possuam as
seguintes características:
Segurança, oferecendo estanquicidade e resistência, pois vão estar expostas às condições
atmosféricas;
Ligeiras para tornar o seu manuseamento mais fácil;
Bem acabadas em termos construtivos para que as abelhas não tenham dificuldades em
se movimentar e executar todo o seu ciclo produtivo;
De longa duração, sem grandes exigências de manutenção, versátil e completa em termos
das suas componentes internas, confortáveis para as abelhas e bem ventiladas.

PRÁTICAS DE PRODUÇÃO
A abordagem ao apiário deverá fazer-se de uma forma cuidada e silenciosa, sempre pela
parte de trás da colmeia para não perturbar a actividade das abelhas (Beneditti e Pieralli,
1990). É proibido o uso de repelentes químicos de síntese durante as operações de
extracção de mel. As ceras necessárias para o fabrico de novas folhas de cera devem ser
provenientes de unidades de produção que praticam a agricultura biológica.
É proibida a destruição das abelhas nos favos como método associado à colheita dos
produtos da apicultura.
São proibidas as mutilações, como o corte das asas das rainhas.
Pode fazer-se a substituição da rainha com a supressão da antiga.
A prática da supressão dos zangões só é autorizada como meio de contenção da infestação
por Varroa jacobsoni.
O organismo ou autoridade de controlo deve ser informado da deslocação dos apiários
num prazo acordado com o mesmo.
Deve ser tomado especial cuidado para assegurar a adequada extracção, tratamento
e armazenagem dos produtos da apicultura. Todas as medidas tomadas deverão ser
registadas.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 105


Território vs. Sustentabilidade

As operações de remoção das alças e da extracção do mel devem constar do registo do


apiário.
É proibida a extracção de mel a partir de favos que contenham ovos ou larvas.
As tarefas apícolas diversificam-se ao longo do ano. Nos primeiros meses, os trabalhos
orientam-se principalmente para a colmeia e abelhas. No início do Verão procede-se à
recolha dos produtos, terminando-se o calendário apícola com a comercialização do mel e
manutenção dos equipamentos. Ainda neste período, o apicultor deverá fazer um balanço
da sua actividade apícola, definir objectivos e conceber projectos, com vista à melhoria da
próxima campanha apícola (Gallego e Portela, 2003).
No quadro 1 indicam-se as operações mais importantes para a actividade apícola.

Quadro 1 - Calendário de operações em apicultura


Operação Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mel X X
Pólen X X
Própolis X X X
Geleia Real X X
Rainhas X X
Núcleos X X X X
Tratamentos X X X X
Acondicionamento X X
Alimentação X X X
Fabrico de cera X X X
Preparar material X X
Comercialização X X X X X X X X
Avaliar Rainha X X
Substituir Rainha X
Substituir colmeias X
Conservar ceras X

Nota: O calendário de operações pode variar em função das condições climáticas, de relevo
e de vegetação.

106 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

PROFILAXIA, HIGIENE E SANIDADE


A profilaxia é um dos instrumentos de maior importância para o apicultor, baseando-se no
maneio correcto dos apiários, concretizando-se na aplicação de meios preventivos para
evitar doenças e pragas.
Deve basear-se nos seguintes princípios:
Selecção de raças resistentes às principais doenças e pragas;
Aplicação de práticas que desenvolvam uma forte resistência às doenças e à prevenção
de infecções, tais como: renovação periódica das abelhas mestras, inspecção sistemática
das colmeias para identificação de anomalias sanitárias, controlo dos machos nas colmeias,
desinfecção periódica dos materiais e do equipamento, destruição de material ou fontes
contaminados, renovação periódica da cera e garantia de reservas suficientes de pólen e
de mel nas colmeias.
O apicultor deverá ter sempre o máximo cuidado higiénico quando manuseia as colmeias
ou seus produtos, desinfectando sempre as mãos e usando vestuário próprio e limpo. Por
sua vez o espaço onde se encontram as colmeias deve estar sempre limpo, possibilitando
a observação da existência de abelhas mortas, que nesse caso devem recolher-se para
análise.
As colmeias que forem identificadas como doentes poderão ser isoladas e imediatamente
tratadas em apiários isolados, sendo autorizados os tratamentos obrigatórios ao abrigo da
legislação nacional e comunitária.
Devem ser preferidos os produtos fitoterapêuticos e homeopáticos aos produtos
alopáticos de síntese química. Estes últimos apenas poderão ser utilizados quando haja
ameaça de destruição das colónias e desde que sob a responsabilidade de um veterinário
ou de pessoas autorizadas pelo Estado – Membro.
Em tratamentos preventivos é proibida a utilização de medicamentos alopáticos de síntese.
Em caso de infestação por Varroa jacobsoni, podem ser usados os ácidos fórmico, láctico,
acético e oxálico e as seguintes substâncias: mentol, timol, eucaliptol e cânfora. Sempre que
por necessidade se aplique um tratamento com produtos alopáticos de síntese química,
as colónias deverão ser colocadas em apiários de isolamento e toda a cera deverá ser
substituída. Estas colónias serão submetidas a um período de conversão de um ano. Estes
requisitos não são aplicáveis aos produtos já referidos no tratamento da Varroa jacobsoni.
Os medicamentos veterinários que forem utilizados deverão ser registados e declarados
ao organismo ou autoridade de controlo, antes da comercialização dos produtos fazendo-
se referência ao MPB, ao tipo de medicamento (incluindo a indicação da substância
farmacológica activa) juntamente com a indicação da posologia, da forma de administração,
da duração do tratamento e do intervalo legal de segurança.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 107


Território vs. Sustentabilidade

São permitidos os tratamentos físicos, como o vapor de água e a chama directa.


Ainda são autorizadas as desinfecções dos edifícios, do equipamento e das instalações ao
abrigo da legislação Nacional e Comunitária., nomeadmenete as referidas em anexo (parte
E do Regulamento CE nº1804/1999).

108 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

(Adaptado do Anexo II do Reg CE nº 1804/1999 modificado)


Anexo

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 109


Território vs. Sustentabilidade

110 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

ANEXO (Adaptado do Anexo II do Reg CE nº 1804/1999 modificado)


C. MATÉRIAS-PRIMAS PARA ALIMENTAÇÃO ANIMAL
1. Matérias-primas de origem vegetal (produtos e subprodutos)
1.1. Grãos de cereais: Aveia em grão, flocos, sêmea, cascas e sêmea grosseira; cevada em
grão, proteína e sêmea; germe de arroz obtido por pressão; milho painço em grão; centeio
em grão e sêmea; sorgo em grão; trigo em grão, sêmea, sêmea grosseira, farinha forrageira
com glúten, glúten e gérmen; espelta em grão; triticale em grão; milho em grão, farinha
forrageira, sêmea grosseira, bagaço de gérmen obtido por pressão e glúten; radículas de
malte; “drèches” de cerveja.
1.2. Sementes e frutos oleaginosos: Sementes de colza, bagaço obtido por pressão e cascas;
sementes de soja torrada, bagaço obtido por pressão e cascas; sementes de girassol;
sementes de algodão e bagaço obtido por pressão; sementes de linho e bagaço obtido por
pressão; bagaço de sementes de sésamo obtido por pressão; bagaço de palmista obtido
por pressão; bagaço de sementes de abóbora obtido por pressão; azeitonas, polpa de
azeitona; óleos vegetais (de extracção física).
1.3. Sementes de leguminosas: Sementes de grão-de-bico, farinha forrageira e sêmea
grosseira; sementes de ervilha-de-pomba, farinha forrageira e sêmea grosseira; sementes
de chícharo comum submetidas a um tratamento térmico, farinha forrageira e sêmea
grosseira; sementes de ervilha, farinha forrageira e sêmea grosseira; sementes de fava,
farinha forrageira e sêmea grosseira; sementes de fava forrageira, farinha forrageira e
sêmea grosseira; sementes de ervilhaca, farinha forrageira e sêmea grosseira e sementes
de tremoço, farinha forrageira e sêmea grosseira.
1.4. Tubérculos e raízes: Polpa de beterraba sacarina, batata, tubérculos de batata-doce,
polpa de batata (subproduto da extracção da fécula de batata), proteína de batata e
mandioca.
1.5. Outras sementes e frutos: Alfarroba, vagem de alfarroba e farinha destes produtos,
abóbora, polpa de citrinos, maçã, marmelo, pêra, figo, uvas e respectivas polpas; castanhas,
bagaços de nozes e avelãs obtidos por pressão; película de cacau e bagaços de cacau
obtidos por pressão; bolotas.
1.6. Forragens e outros alimentos grosseiros: Luzerna, farinha de luzerna, trevo, farinha
de trevo, erva (de plantas forrageiras), farinha de erva, feno, ensilagem, palha de cereais e
raízes leguminosas para forragem.
1.7. Outras plantas: Melaços, farinha de algas (obtida por secagem e esmagamento das algas,
seguida de lavagem para reduzir o teor de iodo), pós e extractos de vegetais, extractos de
proteínas vegetais (destinados unicamente a animais jovens), especiarias e condimentos.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 111


Território vs. Sustentabilidade

2. Matérias-primas de origem animal


2.1. Leite e produtos lácteos: Leite cru, leite em pó, leite desnatado, leite desnatado em pó,
leitelho, leitelho em pó, soro de leite, soro de leite em pó (lacto-soro), soro de leite em pó
com baixo teor de açúcar, proteína de soro de leite em pó (extraída através de tratamento
físico), caseína em pó e lactose em pó, requeijão ou leite acidificado ou coalhado.
2.2. Peixes, outros animais marinhos, respectivos produtos e subprodutos: Peixe, óleo de
peixe e óleo de fígado de bacalhau não refinados; autolisatos, hidrolisatos e proteolisatos
de peixe, moluscos ou crustáceos obtidos por via enzimática, sob forma solúvel ou não
(unicamente para animais jovens); farinha de peixe.
2.3. Ovos e ovoprodutos para alimentação de aves de capoeira, de preferência provenientes
da própria exploração.

3. Matérias-primas de origem mineral


Sódio: sal marinho não refinado, sal-gema de mina, sulfato de sódio, carbonato de sódio,
bicarbonato de sódio e cloreto de sódio.
Potássio: cloreto de potássio.
Cálcio: lithotamnion e “maërl”, conchas de animais aquáticos (incluindo ossos de chocos),
carbonato de cálcio, lactato de cálcio, gluconato de cálcio.
Fósforo: fosfato bicálcico desfluorado, fosfato monocálcico desfluorado, fosfato
monossódico, fosfato de cálcio e de magnésio, fosfato de cálcio e de sódio.
Magnésio: óxido de magnésio (magnésio anidro), sulfato de magnésio, cloreto de magnésio,
carbonato de magnésio, fosfato de magnésio.
Enxofre: sulfato de sódio.

D. ADITIVOS PARA A ALIMENTAÇÃO ANIMAL, CERTAS SUBSTÂNCIAS UTILIZADAS


NA ALIMENTAÇÃO DOS ANIMAIS
Directiva 82/471/CEE e auxiliares tecnológicos utilizados nos alimentos para animais

1. Aditivos para a alimentação animal


1.1. Oligoelementos.
E 1 Ferro: carbonato ferroso (II), sulfato ferroso (II) mono-hidratado e/ou hepta-hidratado,
óxido férrico (III).
E 2 Iodo: iodato de cálcio anidro, iodato de cálcio hexa-hidratado, iodeto de sódio.

112 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

E 3 Cobalto: sulfato de cobalto (II) mono-hidratado e/ou hepta-hidratado, carbonato


básico de cobalto (II) mono-hidratado.
E 4 Cobre: óxido cúprico (II), carbonato básico de cobre (II) mono-hidratado, sulfato de
cobre (II) penta-hidratado.
E 5 Manganês: carbonato manganoso (II), óxido manganoso e óxido mangânico sulfato
manganoso (II) mono e/ou tetra-hidratado.
E 6 Zinco: carbonato de zinco, óxido de zinco, sulfato de zinco mono e/ou hepta-
hidratado.
E 7 Molibdénio: molibdato de amónio, molibdato de sódio.
E 8 Selénio: selenato de sódio selenito de sódio.
1.2.Vitaminas, pró-vitaminas e substâncias com efeito análogo quimicamente bem definidas:
Vitaminas autorizadas nos termos do Regulamento (CE) nº 1831/2003:
- vitaminas derivadas de matérias-primas existentes naturalmente nos alimentos para
animais;
- vitaminas de síntese idênticas às vitaminas naturais, apenas para os animais
monogástricos;
- vitaminas de síntese A, D e E idênticas às vitaminas naturais, para os ruminantes, mediante
autorização prévia da autoridade competente do Estado-membro.
1.3. Enzimas autorizadas nos termos da Directiva 70/524/CEE. Ex. � e � amilases, glucanases,
celulases, hemicelulaleses, estereases, xilanases, etc, (Caballero et al., 2003).
1.4. Microrganismos autorizados nos termos da Directiva 70/524/CEE. Ex. probióticos
como Lactobacillus spp., Streptococcus spp., Enterococcus spp., Propionibacterium spp.,
Bacillus spp., Aspergillus spp., (Caballero et al., 2003).
1.5. Conservantes: E 200 Ácido sórbico, E 236 Ácido fórmico, E 260 Ácido acético, E
270 Ácido láctico, E 280 Ácido propiónico, E 330 Ácido cítrico. O uso dos ácidos láctico,
fórmico, propiónico e acético só pode ser autorizado na ensilagem se as condições
meteorológicas não permitirem a fermentação adequada.
1.6. Agentes aglutinantes, antiaglomerantes e coagulantes: E 470 Estearato de cálcio de
origem natural, E 551b Sílica coloidal, E 551c Diatomite, E 558 Bentonite, E 559 Argilas
cauliníticas, E 560 Misturais naturais de esteatite e de clorite, E561 Vermiculite, E 553
Sepiolite, E 599 Perlite.
1.7. Substâncias antioxidantes: E 306 Extractos naturais ricos em tocoferóis.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 113


Território vs. Sustentabilidade

1.8. Aditivos antioxidantes: A partir de 19 de Outubro de 2004, enzimas, leveduras e


bactérias autorizadas pelo Regulamento (CE) nº 1831/2003 relativo aos aditivos destinados
à alimentação animal

2. Certos produtos utilizados na alimentação dos animais: Leveduras de cerveja


3. Auxiliares tecnológicos utilizados nos alimentos para animais
3.1. Auxiliares tecnológicos para ensilagem: Sal marinho, sal-gema, soro do leite, açúcar,
polpa de beterraba sacarina, farinhas de cereais e melaços.

E. PRODUTOS AUTORIZADOS PARA LIMPEZA E DESINFECÇÃO DOS LOCAIS E


INSTALAÇÕES DE PECUÁRIA (POR EXEMPLO, EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS)
Sabão de potássio e de sódio, Água e vapor, Leite de cal, Cal, Cal viva, Hipoclorito de sódio
(por ex., como lixívia líquida), Soda cáustica, Potassa cáustica, Peróxido de hidrogénio,
Essências naturais de plantas, Ácidos cítrico, peracético, fórmico, láctico, oxálico e acético,
Álcool, Formaldeído, Carbonato de sódio.

114 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Bibliografia e Legislação

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 115


Território vs. Sustentabilidade

116 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

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Sousa, S. (2003). Modo de Produção Biológico de Galinhas Poedeiras – Parte I –
Alimentação. O Segredo da Terra, 3: 7-10.
Sousa, S. (2004). Modo de Produção Biológico de Galinhas Poedeiras – Parte II –
Sanidade e Profilaxia de Doenças. O Segredo da Terra, 3: 23-26.

LEGISLAÇÃO
Portaria 1275/95 de 26 de Outubro. Regulamento do licenciamento e classificação das
explorações de suínos em regime intensivo ao ar livre.
Portaria 1276/95 de 26 de Outubro. Regulamento do licenciamento e classificação das
explorações de suínos em regime extensivo
Decreto-lei nº 339/99, referente ao registo, autorização para exercício da actividade de
classificação e titulação, implementação e funcionamento das explorações suinícolas.
Regulamento (CE) nº 1804/1999 do Conselho de 19 de Julho de 1999 que completa, no
que diz respeito à produção animal, o Regulamento (CE) nº 2092/91 relativo ao modo de
produção biológico de produtos agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nos
géneros alimentícios. JOC (222): 1-28.

118 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

III
Compostagem
para a Agricultura
Biológica

L. Miguel Brito
Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. /IPVC

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 119


Território vs. Sustentabilidade

120 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

COMPOSTAGEM PARA A AGRICULTURA BIOLÓGICA


1 – INTRODUÇÃO
1.1 – Definição e objectivos da compostagem
A compostagem é o processo biológico de tratamento dos resíduos orgânicos, através
do qual o material orgânico é transformado, pela acção de microrganismos, em material
estabilizado e utilizável na preparação de correctivos orgânicos do solo e de substratos
para as culturas. Durante a compostagem liberta-se, principalmente, dióxido de carbono,
vapor de água, mas também amoníaco e outros gases que podem ser prejudiciais para
o ambiente. O termo composto orgânico pode ser aplicado ao produto compostado,
estabilizado e higiénico, que é benéfico para a produção vegetal.
O objectivo da compostagem é converter o material orgânico que não está em condições
de ser incorporado no solo num material que é admissível para misturar com o solo.
Outra função da compostagem é destruir a viabilidade das sementes de infestantes e os
microrganismos patogénicos. A compostagem pode também ser utilizada para reduzir e
estabilizar a matéria orgânica que se destina para outros fins, como a recuperação de
zonas degradas ou o encerramento dos aterros sanitários.

1.2 – Sistemas de compostagem


A compostagem pode ser conduzida de diversas formas: em grandes instalações
centralizadas com matéria orgânica recolhida selectivamente; em explorações agrícolas ou
agro-pecuárias; e em pequenas unidades de carácter familiar (compostagem doméstica).
Existem muitos sistemas para a preparação do composto mas, normalmente, podem
agrupar-se em dois tipos: fermentação (digestão aeróbia ou compostagem) em pilhas ou
em digestores ou câmaras fechadas. Estes sistemas são, frequentemente considerados em
quatro categorias, designadamente, pilhas longas (windrow) com volteio, pilhas estáticas,
pilhas estáticas com arejamento forçado, e recipientes ou reactores abertos ou fechados.
No sistema de pilhas longas estas são geralmente reviradas na fase da compostagem que
requer mais oxigénio e em que se produz mais calor, enquanto que as pilhas estáticas não
são reviradas (fig. 1 e 2).

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 121


Território vs. Sustentabilidade

Figura 1 – Pilha estática com tojo e dejectos de cavalo (ESAPL).

Figura 2 – Pilha longa com mistura de dejectos animais e palha no início da composta-
gem (Proj. Agro 747).

122 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

1.3 – Materiais para compostagem


Características dos materiais para compostagem
Os materiais utilizados para a compostagem podem ser divididos em duas classes, a dos
materiais ricos em carbono e a dos materiais ricos em azoto. Entre os materiais ricos em
carbono podemos considerar os materiais lenhosos como a casca de árvores, as aparas
de madeira e o serrim, as podas dos jardins, folhas e agulhas das árvores, palhas e fenos,
e papel. Entre os materiais azotados incluem-se as folhas verdes, estrumes animais, urinas,
restos de plantas hortícolas, erva, etc. A relação C/N de diversos materiais orgânicos
encontra-se por exemplo no Anexo 10 do Código das Boas Práticas Agrícolas (CBPA,
MADRP).
Os materiais para compostagem não devem conter vidros, plásticos, tintas, óleos, metais,
pedras ou outros materiais inorgânicos. Não devem conter um excesso de gorduras,
ossos inteiros, ou outras substâncias que prejudiquem o processo de compostagem. A
carne deve ser evitada nas pilhas de compostagem porque pode atrair animais. O papel
pode ser utilizado mas não deve exceder 10% da pilha. O papel encerado deve ser evitado
por ser de difícil decomposição e o papel de cor tem que ser evitado pois contem metais
pesados.
Outra característica que é fundamental para o processo de compostagem é a dimensão
das partículas dos materiais. As partículas devem ter entre 2 cm e 8 cm. Abaixo deste
tamanho seria necessário utilizar sistemas de ar forçado, enquanto que os valores
superiores podem ser bons para pilhas mais estáticas e sem arejamento forçado. Quanto
menor for o tamanho das partículas mais fácil é o ataque microbiano porque a superfície
específica aumenta mas, em contrapartida, aumentam os riscos de compactação e de falta
de oxigénio.
Mistura de materiais
Na construção de uma pilha de compostagem é frequente utilizar uma mistura de
materiais ricos em carbono com outros ricos em azoto. Os materiais ricos em carbono
fornecem a matéria orgânica e a energia para a compostagem e os materiais azotados
aceleram o processo de compostagem, porque o azoto é necessário para o crescimento
dos microrganismos (fig. 3).

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 123


Território vs. Sustentabilidade

Figura 3 – Construção de pilha de compostagem com dejectos animais e palha. A pilha


foi construída com o espalhador de estrume ao qual foram introduzidas duas abas late-
rais (Proj. Agro 747).

A relação C/N (peso em peso) ideal para a compostagem é frequentemente considerada


como 30. Para relações C/N inferiores o azoto ficará em excesso e poderá ser perdido
como amoníaco causando odores desagradáveis. Para relações C/N mais elevadas a falta
de azoto irá limitar o crescimento microbiano resultando numa compostagem mais lenta.
Para calcular a relação C/N da mistura de materiais (material 1, material 2, etc.) é necessário
determinar a percentagem de humidade de azoto e de matéria orgânica dos materiais, ou
utilizar a razão C/N da tabela do CBPA no caso de materiais orgânicos semelhantes aos
referidos nessa tabela, e pode ser utilizada a seguinte fórmula:
C/N final
= P1 [C1 (100-H1)] + P2 [C2 (100-H2)] +… / P1 [N1 (100-H1)] + P2 [N2 (100-H2)]
+…
Sendo, P o peso, H a humidade, C a % de carbono e N a % de azoto nesse material (p/p).
Considera-se % C = % MO / 1,8 (sendo MO a matéria orgânica).
Exemplo: 20 t do material 1, com 5 t do material 2.
Material 1 – Fracção sólida do chorume: 70% H; 90% MO (=> 50% C) e 2% de N
Material 2 – Palha: 30% H; 96% MO => (53% C) e 0,5% N
C/N final = 20 [50 (100-70)] + 5 [53 (100-30)] / 20 [2 (100-70)] + 5 [0,5 (100-30)] = 35

124 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Deve-se evitar a utilização de substâncias com carácter alcalinizante, como o calcário ou


a cinza, porque aumentam o pH, o que contribui para as potenciais perdas de azoto por
volatilização do amoníaco.
O solo ajuda a manter a estabilidade da pilha e pode ser utilizado como inoculo de
microrganismos responsáveis pela compostagem. A quantidade de solo a utilizar numa
pilha de compostagem não deve exceder 5% da pilha, pois demasiado solo torna a pilha
pesada para revolver e pode criar condições de anaerobiose se a humidade for elevada.

1.4 – Construção das pilhas de compostagem


Local e volume da pilha de compostagem
A pilha de compostagem não deve ficar exposta directamente ao sol ou ao vento, para
que não seque, nem à chuva, para não ficar sujeita à lixiviação de nutrientes. Um local
levemente ensombrado e com cortinas contra o vento é conveniente para não deixar
secar demasiado a pilha. O local escolhido para a compostagem deve ser próximo daquele
em que o composto irá ser utilizado. Poderá ser necessário ter água para humedecer a
pilha convenientemente caso a percentagem de humidade da pilha seja inferior a 40%. As
pilhas devem ser cobertas preferencialmente com um filme de fibras de polipropileno
(tipo Geotextil da Toptex) que permite a entrada de ar mas não de água, porque os filmes
de polietileno não permitem as trocas gasosas e podem resultar em excesso de humidade
nas pilhas (fig. 4).

FFigura 4 – A pilha foi coberta com tecido de polipropileno durante a compostagem


(Proj. Agro 747).

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 125


Território vs. Sustentabilidade

A forma e o tamanho da pilha de compostagem também influenciam a velocidade da


compostagem, designadamente pelo efeito que têm sobre o arejamento e a dissipação
do calor da pilha. O tamanho ideal da pilha pode ser variável. O volume de 1,5 m x 1,5
m x 1,5 m poderá ser considerado bom para a generalidade dos materiais. No caso de
se proceder à compostagem em pilhas baixas e longas então a altura deverá ser menor
e o comprimento maior, como por exemplo, de 3 m de largura, 1 m de altura e 10 m
de comprimento. No entanto, em países frios a altura deve ser superior a 1 metro (por
exemplo: 1,5 m) para que o aquecimento seja possível, e o comprimento pode ser aquele
que mais se apropriar à quantidade de material a compostar.
A rega
O processo de compostagem tende a ser um processo de secagem, devido à evaporação
de água, por isso, é conveniente iniciar o processo de compostagem com valores de
humidade superiores a 55%.
A humidade de cada material pode ser estimada com base na perda de peso do material
fresco, por exemplo, 10 a 100 g, quando sujeito a temperaturas da ordem dos 105-
110°C durante 24 horas, ou temperaturas inferiores mas por períodos de tempo mais
prolongados.

2 – O PROCESSO DE COMPOSTAGEM
O processo de compostagem envolve a escolha dos materiais, a selecção do local, e a
selecção do sistema de compostagem. O processo de compostagem pode depender dos
materiais existentes e do tempo disponível para a compostagem desses materiais.
A compostagem ocorre quando existe água, oxigénio, carbono orgânico e nutrientes para
estimular o crescimento microbiano. No processo de compostagem os microrganismos
decompõem a matéria orgânica e produzem dióxido de carbono, água, calor e húmus. O
processo de compostagem mais comum na agricultura biológica é conduzido em pilhas
estáticas (ou com um volteio após 3 a 4 semanas de compostagem), por um período de 3
meses, seguido por um período de maturação de mais 3 meses.

2.1 – Biologia
Diferentes comunidades de microrganismos (incluindo bactérias, actinomicetas, leveduras
e fungos) predominam em diferentes fases da compostagem. Com temperaturas superiores
a 40°C começam a predominar os microrganismos termófilos. Com temperaturas
superiores de 55°C muitos dos microrganismos patogénicos para os humanos ou para as
plantas são destruídos. No entanto, não é conveniente deixar ultrapassar os 65 °C pois a
maioria dos microrganismos são destruídos, incluindo aqueles que são responsáveis pela
compostagem. As sementes de infestantes podem perder a viabilidade a temperaturas de
40-60°C no interior da pilha. As sementes que se localizam no exterior da pilha podem,

126 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

contudo, não perder a viabilidade por as temperaturas não atingirem aí valores necessários
para esse efeito. As infestantes podem ser impedidas de germinar no exterior da pilha
utilizando uma cobertura escura.

2.2 – Física
Temperatura
A produção de calor depende da velocidade a que a decomposição se processa ou seja da
velocidade a que os microrganismos crescem e actuam. A decomposição depende: (i) do
teor de humidade, arejamento e relação C/N da mistura dos materiais; (ii) das dimensões
e tipo de cobertura da pilha de compostagem e (iii) da temperatura exterior à pilha.
A temperatura deve alcançar os 40 a 50 °C em dois ou três dias e quanto mais depressa
o material for decomposto mais cedo a temperatura começará a descer. A compostagem
pode ser dividida em duas partes. A primeira é mais activa e caracteriza-se por uma forte
actividade microbiana e pelo aumento de temperatura dos materiais em decomposição. A
segunda parte caracteriza-se por taxas metabólicas muito mais reduzidas e é conhecida
por fase de arrefecimento e maturação, durante a qual o material se torna estável, escuro,
amorfo, com aspecto de húmus e um cheiro a terra (Witter & Lopez-Real, 1987).
A decomposição ocorre mais rapidamente na primeira parte da compostagem com
temperaturas da ordem dos 40-60°C, e pode demorar semanas ou mesmo meses,
dependendo do tamanho e da composição da pilha de compostagem. Neste período
devem ser destruídos os organismos patogénicos e as sementes de infestantes. Quando a
temperatura atingir os 65ºC é conveniente revirar a pilha para que o calor se dissipe e a
temperatura diminua. A fase mais activa da compostagem está terminada quando, após o
volteio da pilha, os valores de temperatura não aumentam significativamente, seguindo-se
um período mais longo de amadurecimento do composto.
Humidade
Um teor de humidade de 50 a 60% é considerado indicado para a compostagem. Abaixo
de 35-40% de humidade a decomposição da matéria orgânica é fortemente reduzida e
abaixo de 30% de humidade é praticamente interrompida. Uma humidade superior a 65%
retarda a decomposição, para além de se provocar maus odores em zonas de anaerobiose
localizadas no interior da pilha de compostagem.
O teste da esponja é um teste expedito para verificar se a humidade do material é
apropriada e consiste em pegar numa mão cheia de composto e apertar; não devendo
escorrer água (pode pingar algumas gotas) mas ficando humidade na mão. Idealmente a
pilha deve encontrar-se próxima da capacidade de campo.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 127


Território vs. Sustentabilidade

Arejamento
O arejamento da pilha favorece a oxigenação, a secagem e o arrefecimento no seu interior.
Isto é, fornece o oxigénio para a actividade biológica, remove humidade e calor diminuindo a
temperatura da massa em compostagem. O oxigénio é necessário para os microrganismos
obterem energia resultante da oxidação do carbono orgânico resultando a libertação de
dióxido de carbono. A falta de oxigénio causa um ambiente redutor, resultando compostos
incompletamente oxidados como ácidos voláteis e metano (CH4).
O número de vezes que o material deve ser revirado depende de diversos factores
podendo ser necessário revirar uma ou duas vezes no primeiro mês e, eventualmente,
mais uma vez no segundo mês (fig. 5 a 8). Algum azoto poderá ser perdido quando se
revira a pilha de compostagem.

Figura 5 Figura 6

Figura 7 Figura 8
Figura 5 a 8 - Volteio mecânico da pilha, ao fim de 1 mês de compostagem. O material foi
introduzido no distribuidor de estrume para reconstituição da pilha (Proj. Agro 747).

128 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Odores
O excesso de humidade, a falta de porosidade, a rápida degradação do substrato e o
tamanho excessivo da pilha, podem criar condições de anaerobiose no interior da pilha
de compostagem. Estas condições resultam na formação de compostos que provocam
odores desagradáveis quando se volatilizam. Estes odores provêm de vários compostos
orgânicos incompletamente oxidados, designadamente, ácidos gordos voláteis de baixo
peso molecular, compostos de enxofre, como o ácido sulfídrico, compostos aromáticos,
e aminas. No entanto, o amoníaco é o composto que mais frequentemente contribui,
quer em aerobiose quer em anaerobiose para os odores desagradáveis. O odor intenso e
desagradável dos resíduos orgânicos normalmente vai diminuindo durante a fase inicial da
compostagem e praticamente desaparece no final do processo de compostagem.

2.3 – Química
Carbono e azoto
Nos materiais orgânicos o azoto encontra-se principalmente na forma orgânica. O azoto
mineral existente encontra-se principalmente como azoto amoniacal durante a fase
termófila da compostagem e na forma nítrica no composto maduro. Se o azoto existir em
excesso, e os microrganismos não o utilizarem, por falta de carbono disponível, o azoto
pode acumular-se e perder-se por volatilização na forma de amoníaco ou por lixiviação
de azoto nítrico.
A relação C/N = 30 é desejável para o processo de compostagem, durante o qual, quase
todo o azoto orgânico está disponível para ser utilizado pelos microrganismos, mas o
mesmo não se verifica relativamente ao carbono de determinados materiais, por se
encontrar em formas resistentes à degradação biológica. Por exemplo, os jornais são mais
resistentes que outros papéis pois são constituídos por fibras celulósicas lenhificadas,
sendo a lenhina um composto muito resistente à decomposição. Neste tipo de materiais,
incluindo caules de milho e palha de cereais, deve ser considerada uma relação C/N mais
elevada para iniciar a compostagem. Assim, a relação C/N da mistura a compostar tem que
ser ajustada em função da disponibilidade do carbono e do azoto nos materiais.
Durante a compostagem metade ou mais de metade do volume da pilha será perdido com
a decomposição dos materiais. O carbono é perdido mais rapidamente que o azoto e,
por isso, a relação C/N diminui durante a compostagem. A relação C/N pode diminuir de
valores superiores a 30 para valores inferiores a15.
Outros nutrientes
Os outros nutrientes essenciais para o metabolismo dos microrganismos encontram-se
geralmente em quantidades suficientes relativamente ao azoto, nos materiais orgânicos
originais utilizados na compostagem. No entanto, em alguns casos poderá ser aconselhável

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 129


Território vs. Sustentabilidade

aplicar fósforo (1 kg a 2 kg por tonelada de mistura) que, ao contrário do potássio, não se


perde das pilhas por lixiviação.
pH
O pH do composto pode ser indicativo do estado de compostagem dos resíduos orgânicos.
Jimenez e Garcia (1989) indicaram que durante as primeiras horas de compostagem, o pH
decresce até valores de aproximadamente 5 e posteriormente, aumenta gradualmente
com a evolução do processo de compostagem, alcançando, finalmente, valores entre 7 e
8. À medida que os fungos e as bactérias digerem a matéria orgânica, libertam-se ácidos
que se acumulam e acidificam o meio. Este abaixamento do pH favorece o crescimento
de fungos e a decomposição da celulose e da lenhina. Posteriormente estes ácidos são
decompostos até serem completamente oxidados.
A adição de calcário, ou de outras substâncias alcalinizantes, como as cinzas, pode ser
prejudicial, porque o aumento de pH causa a formação de amoníaco (NH3) em detrimento
do ião amoniacal (NH4+) que pode ser volatilizado, contribuindo assim para os odores
desagradáveis e para a diminuição de azoto disponível para a nutrição das plantas.

3 – CARACTERÍSTICAS DO COMPOSTO
3.1 – Quantidade de composto produzido
Durante a compostagem o volume da pilha reduz-se para metade ou menos de metade
Esta diminuição de peso e volume resulta num aumento da concentração de nutrientes e
reduz a necessidade em espaço para armazenamento e transporte.

3.2 – Qualidade do composto


Existem critérios para a classificação dos compostos em corrente, ecológico e biológico,
designadamente aqueles que constam no quadro 1. No entanto, são necessárias
especificações padronizadas de métodos analíticos e agronómicos que definam a qualidade
do produto final da compostagem – o composto.

130 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Quadro 1 – Valores máximos admissíveis para os teores totais de metais pesados e


materiais inertes antropogénicos (incluem vidro, metais, plásticos, etc, cujas partículas
apresentem uma granulometria superior a 2 mm) no composto (valores reportados à
matéria seca) bem como os relativos à concentração em microrganismos patogénicos
(valores reportados ao produto tal como é comercializado).

Corrente (1)
Composto: Ecológico (2) Biológico (3)
Até 2009* Após 2009
Câdmio (mg/kg) 5 1,5 1 0.7
Chumbo (mg/kg) 400 150 100 25
Cobre (mg/kg) 500 200 100 45
Crómio (mg/kg) 400 150 100 70
Mercúrio (mg/kg) 5 1,5 1 0,4
Níquel (mg/kg) 200 100 50 25
Zinco (mg/kg) 1500 500 300 200
Materiais inertes antropogénicos (%) 2 1 0,5
Salmonella spp.Ausente em (g) 25 25 50
Escherichia coli (NMP/g) 1000 1000 1000
(1) Proposta de regulamentação sobre qualidade do composto para utilização na agricultura, de M. S. Gonçalves e
M. Baptista, do MADRP / INIA / LQARS, de Abri de 2001, (*) Os compostos que cumpram os requisitos correspon-
dentes ao período anterior a 2009, poderão ser utilizados depois de 2009 apenas em solos onde não se implantem
culturas destinadas à alimentação humana ou animal.
(2) Decisão da Comissão n.º 2001/688/CE de 28 de Agosto, que estabelece os critérios ecológicos para atribuição
do rótulo ecológico comunitário aos correctivos de solos e aos suportes de cultura.
(3) Regulamento (CEE) n.º 2092/91 do Conselho de 24 de Junho, que estabelece os princípios do modo de produ-
ção biológico de produtos agrícolas.

O Regulamento n.º 2381/94 da Comissão Europeia de 30 de Setembro, modificado


pelos Regulamentos n.º 1488/97, n.º 1073/00 e n.º 436/01, introduz a necessidade do
reconhecimento pelo organismo de controlo, e da autorização excepcional e temporária
sobre a utilização de algumas substâncias exteriores às explorações, porque o agricultor
biológico deve dar prioridade às práticas culturais com produtos e recursos da própria
exploração.
O Regulamento (CEE) n.º 2092/91 do Conselho de 24 de Junho, que estabelece os
princípios do modo de produção biológico de produtos agrícolas, estabelece um conjunto
de materiais que podem ser utilizados como fertilizantes e correctivos dos solos. Entre
estas substâncias, poderão ser utilizadas na produção do composto biológico: estrume de
animais e de aves de capoeira; chorume ou urina; palha; resíduos domésticos orgânicos;
detritos vegetais; produtos animais transformados; subprodutos orgânicos de alimentos e
de industrias têxteis; algas e produtos à base de algas; serradura, cascas e desperdícios de
madeira; rocha fosfatada natural e argila.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 131


Território vs. Sustentabilidade

Entre as restrições à utilização das substâncias referidas no Regulamento (CEE) n.º 2092/91,
destacam-se: os estrumes não podem ser provenientes da pecuária intensiva sem terra;
os estrumes secos e os excrementos de aves de capoeira não podem ser provenientes da
pecuária sem terra; os excrementos líquidos dos animais (chorume e urina) não podem
ser provenientes da pecuária sem terra; os resíduos domésticos orgânicos têm de ser
separados na origem e com um sistema de recolha fechado e controlado pelo Estado-
membro, e só podem ser utilizados por um período de tempo limitado.
Entre os produtos de origem animal, desde que autorizados pela entidade de controlo,
podem utilizar-se as seguintes farinhas: sangue, cascos, chifres, ossos, peixe, carne, e penas.
Pode utilizar-se também farinha de bagaço de oleaginosas, casca de cacau e radículas de
malte, bem como, algas e produtos de algas desde que sejam obtidos directamente por
processos físicos, por extracção com água ou soluções aquosas, ou por fermentação.
A serradura, as aparas de madeira e os compostos de casca de árvore não podem ter
tido tratamento químico após o abate. O fosfato natural moído não pode ultrapassar um
teor de cádmio de 90 mg/kg. Vinhaça e extractos de vinhaça podem ser utilizados com
excepção das vinhaças amoniacais.
3.3. – Estado de maturação do composto
Os métodos desenvolvidos para avaliar a maturação dos compostos orgânicos baseiam-se
em ensaios físicos, químicos e/ou biológicos. Um composto estará maduro quando a sua
temperatura se mantém constante durante a movimentação do material. O pH próximo
do neutro, a capacidade de troca catiónica superior a 60 meq por 100 g de composto e
quantidades apreciáveis de nitratos são, também, indicadores de que o composto está
aceitavelmente amadurecido.

132 Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro


Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

4 – UTILIZAÇÃO DO COMPOSTO
4.1 – Aplicação ao solo agrícola
As principais características a considerar para os compostos orgânicos a aplicar ao solo
(fig. 9) são os seguintes:

Figura 9 – Aplicação de composto ao solo (Quinta Casal de Matos).

(i) características físicas – facilidade de manuseamento, baixa humidade, temperatura


idêntica à do ambiente, odor a terra e cor escura, entre outras;
(ii) características químicas – elevada percentagem de matéria orgânica, baixa relação
carbono/azoto, pH neutro ou ligeiramente alcalino, elevada capacidade de troca catiónica,
baixa condutividade eléctrica, maior concentração de azoto nítrico do que amoniacal,
elevada concentração de nutrientes, baixa concentração de metais pesados, e ausência de
poluentes orgânicos;
(iii) características biológicas – efeitos positivos na germinação das sementes, no
crescimento e composição vegetal, e na capacidade de melhorar a fertilidade biológica
do solo.
Em acréscimo, os compostos orgânicos comerciais, utilizados como correctivos do solo, não
devem conter materiais aguçados perigosos para o homem ou os animais, plásticos, metais
ou pedras de dimensão perceptível à vista desarmada, sementes viáveis de infestantes,

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 133


Território vs. Sustentabilidade

organismos patogénicos (como Salmonela, Ténia, ou vírus) ou outros organismos em


quantidade que possam causar efeitos nefastos à saúde humana por ingestão, inalação ou
contacto com a pele.

4.2 – Imobilização do azoto


Uma das causas mais frequentes dos efeitos adversos ocasionalmente observados após a
aplicação de correctivos orgânicos ao solo provém da falta de maturação dos compostos
nos quais se procedeu a uma incompleta mineralização e incompleta humificação. A
disponibilidade de azoto e de outros nutrientes está intimamente relacionada com a
maturação dos materiais orgânicos. Se os compostos estão imaturos, com relações C/
N superiores a 30, terão falta de azoto para maximizar as suas taxas de decomposição
quando aplicados ao solo. Neste caso, o azoto mineral do solo pode tornar-se indisponível
para as plantas por ser intensamente utilizado para o crescimento da microflora do
solo (imobilizado pelos decompositores). Com o prosseguimento da decomposição da
matéria orgânica dos compostos introduzidos no solo, muito do carbono mineralizado
liberta-se na forma de CO2. Por este facto, a relação C/N da matéria orgânica (incluindo
microrganismos) diminui porque pouco azoto é perdido enquanto muito carbono se
escapa para a atmosfera. Após algum tempo, a actividade biológica e a relação C/N do
solo tendem para um equilíbrio, o que permite o progresso normal do processo de
mineralização que regula a disponibilidade de azoto assimilável no solo.

4.3 – Mineralização do azoto


É geralmente aceite que os materiais orgânicos fornecem azoto mineral com mais
consistência e por períodos de tempo mais longos do que os fertilizantes minerais
azotados e, em consequência, não permitem uma nutrição de luxo para as plantas nem
que estas se desenvolvam com tecidos de suporte deficientes. Lairon et al. (1984), por
exemplo, consideraram que uma fertilização orgânica apropriada poderia resultar em
produtividades de alface semelhantes às obtidas com fertilizantes minerais, tendo no
entanto menor concentração de nitratos nas folhas.
Lampkin (1992) considerou que o objectivo da agricultura biológica é o aumento, no longo
prazo, dos teores de matéria orgânica no solo, e que isso é conseguido com materiais bem
compostados e não com materiais mais frescos. No entanto, o contributo dos compostos
orgânicos para a matéria orgânica do solo, no longo prazo, não depende exclusivamente do
processo de compostagem e do seu grau de amadurecimento, mas também, dos materiais
originais que os constituíam. Por exemplo, uma pilha mal compostada de materiais com
muita lenhina podem ter uma fracção reduzida de azoto facilmente mineralizavel, e um
material bem compostado de resíduos verdes e dejectos animais pode ter demasiada
quantidade de azoto facilmente mineralizavel, ou mesmo azoto já mineralizado caso ainda
não tenha sido perdido.

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

Na generalidade dos países União Europeia a dose máxima admissível de azoto que se
pode aplicar ao solo varia entre 170 kg/ha e 250 kg/ha por ano. Em Portugal não se
deve exceder o primeiro valor nas Zonas Vulneráveis à lixiviação de nitratos de origem
agrícola. Na Áustria, por exemplo, não pode ser ultrapassada a dose de 170 kg/ha de N
com origem em fertilizantes orgânicos, em agricultura biológica, e assume-se que 25% do
N dos compostos frescos fica disponível, após a aplicação ao solo, durante o primeiro
ano. Na Dinamarca sugere-se que a disponibilidade do N dos compostos de resíduos de
suínos ou de bovinos no segundo ano é de 10% (Danish Plant Directorate, 1997).Verdonck
(1998) referiu que a disponibilidade de N no primeiro ano baseada em aplicações de 30
t/ha seria de 10% a 15%, enquanto Amlinger, et al. (2003) referem variações entre 5% e
15% no primeiro ano e entre 3% e 8% nos anos seguintes. Contudo, em Portugal, devido
às elevadas temperaturas, em comparação com os países do norte da Europa, é provável
que estes valores sejam superiores. Por outro lado, as taxas de mineralização são muito
variáveis porque dependem da natureza dos compostos e das condições em que são
utilizados, e variam com os métodos através dos quais são estimadas.

4.4 – Utilização do azoto no modo de produção biológico


A dinâmica do N dos compostos no solo varia com os materiais utilizados na compostagem,
com as condições e a duração compostagem, com as condições climáticas, as propriedades
do solo e com as práticas culturais. No entanto, a fracção de N disponível para as plantas é
sempre baixa, porque a maioria do N total dos compostos encontra-se na forma orgânica.
Por isso, a fertilização orgânica tem de considerar a dinâmica da mineralização do N
orgânico no curto, e no longo prazo, para cada região.
A disponibilidade de N resultante da aplicação de compostos ao solo inclui o N mineral
já existente nos compostos (N-NH4+ e N-NO3-) e o N orgânico que se mineraliza após
a sua incorporação no solo. O N orgânico é constituído por uma fracção facilmente
mineralizável, e por outra resistente à decomposição que pode demorar meses ou anos
a ser mineralizada. A primeira contribuirá para a nutrição das culturas no curto prazo,
pelo contrário, a segunda contribuirá para o aumento da fertilidade do solo no longo
prazo. A imobilização do N mineral no solo é mais provável que ocorra com compostos
pouco maduros e/ou com elevada razão C/N, porque nos compostos maduros a
imobilização temporária do N ocorreu durante o próprio processo de compostagem e de
amadurecimento dos compostos.
Detritos vegetais de leguminosas, e de outras plantas que possuam baixa relação C/N,
e os dejectos dos animais, podem contribuir para uma mais rápida disponibilidade do
N no solo. Entre os dejectos animais, os das aves por exemplo, contribuem para uma
maior disponibilidade de N no curto prazo, quando comparados com os dos bovinos. Pelo
contrário, materiais como palha e feno podem contribuir para o processo de humificação
porque carecem de N orgânico facilmente minerálizavel.

Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro 135


Território vs. Sustentabilidade

As diferentes formas como os estrumes, sólidos e líquidos, se comportam no solo podem


ser aproveitadas para exercer uma gestão do azoto adequada às rotações culturais.
Por exemplo, estrumes bem compostados podem ser utilizados antes das culturas que
não sejam muito exigentes em azoto no inicio da cultura, e estrumes mais frescos e
estrumes líquidos podem ser utilizados para disponibilizar azoto no curto prazo às
culturas. Sobretudo, é indispensável sincronizar o azoto mineral disponível no solo com
as exigências das plantas como forma de aproveitamento do azoto que se mineraliza e,
simultaneamente, impedir que os nitratos sejam lixiviados para as águas subterrâneas.
Para além de permitir ao solo cumprir as suas funções ambientais, a elevada fertilidade
orgânica do solo, no caso da agricultura biológica, em que não é permitida a aplicação
de adubos minerais é, também, indispensável para obter elevadas produções vegetais. A
maioria das culturas em agricultura biológica carece de azoto mineral, logo que emergem
do solo e, principalmente, quando estas se encontram em fase de rápido crescimento
vegetativo. Por isso, é difícil alcançar os níveis de produtividade na agricultura biológica que
se verificam na agricultura convencional.
O fornecimento dos nutrientes necessários às culturas unicamente através da mineralização
dos materiais orgânicos incorporados no solo no próprio ano é difícil, e se fosse possível
conduziria, como os fertilizantes inorgânicos, à lixiviação de nutrientes. Por isso, o aumento
da fertilidade do solo, muitas vezes necessário para a transição da agricultura convencional
para a agricultura biológica, pode requerer vários anos, ao longo dos quais o agricultor
deve aumentar, gradualmente, a concentração de matéria orgânica do solo de modo a
garantir a disponibilidade de nutrientes para as culturas.

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

BIBLIOGRAFIA
Amlinger, F., Gotz, B., Dreher, P., Geszti & Weissteiner, C. (2003). Nitrogen in
biowaste and yard compost: dynamics of mobilisation and availability – a review. Eur. J. Soil Biol.
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Lampkin N. (1992). Organic Farming. Farming Press, UK
Lairon D, Spitz N, Termine E, Ribaud P, Lafont H & Hauton J (1984). Effect of
organic and mineral nitrogen fertilization on yield and nutritive value of butterhead lettuce. Qual.
Plant Foods Hum. Nutr. 34:97-108.
Morel J L, Colin F, Germon J G, Godin P & Juste C (1985). Methods for the evaluation
of the maturity of municipal refuse compost. In Composting of agricultural and other wastes,
J.K.R. Gasser (ed). Elsevier Applied Science, London, pp.56-72.
Witter E & Lopez-Real J M (1987). Monitoring the composting process using parameters
of compost stability. In: Compost: production, quality and use. M de Bertoldi, M.P. Ferranti,
P.L’Hermite, F.Zucconi (eds). London, pp.351-358.
Verdonck, O. (1998). Compost specifications. Acta Hort., 469:169-178.

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Território vs. Sustentabilidade

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Projecto-Piloto para a Conversão da Agricultura Tradicional em Modo de Produção Biológico

FICHA TÉCNICA
Título: Manual de Agricultura Biológica - Terras de Bouro

Entidade Promotora: Município de Terras de Bouro

Coordenação geral do projecto: Jerónimo Correia

Coordenação geral da execução: Nuno Antunes

Editores: Isabel Mourão, José Pedro Araújo e Miguel Brito (Escola Superior Agrária
de Ponte de Lima - ESAPL / IPVC)

Design Gráfico: Inforverde, Lda

Propiedade e Edição: Câmara Municipal de Terras de Bouro


4840-100 Terras de Bouro
Telefone: 253 351 010 | Fax: 253 352 631 | www.cm-terrasdebouro.pt

Impressão: Gráfica Vilaverdense artes gráficas

Tiragem: 100 exemplares

Depósito legal:

ISBN:

Ano de Edição: 2006

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