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ENSAIOS PEDAGÓGICOS

1 Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET


ISSN 2175-1773 – Junho de 2014

A MÚSICA NA ESCOLA

Erlene Teixeira de Lima Martins 1

RESUMO

Este artigo tem como objetivo discutir a importância da música na


escola, principalmente no Ensino Fundamental. Procura responder uma
importante questão: quais são as dificuldades para que o ensino
eficiente da música possa ser implantado de forma correta no Ensino
Fundamental? Como resposta, são mostradas inúmeras evidências do
valor do ensino da música nas escolas, os efeitos da música na criança
e sua relação com um desenvolvimento intelectual equilibrado. É
discutida também a noção de inteligência musical e seus
desdobramentos. São apresentadas as dificuldades da efetiva
educação musical no Ensino Fundamental, com enormes prejuízos à
uma educação integral dos alunos. Por fim, é tratada a questão da
vivencia musical na sala de aula, quando são apresentadas sugestões
de atividades musicais que podem ser desenvolvidas em sala de aula.

P ALAVRAS-CHAVE: Música. Educação Musical. Música na escola.

ABSTRACT
This article aims to discuss the importance of music in school,
especially in elementary school. Seeks to answer an important
question: what are the difficulties for the effective teaching of music
can be deployed correctly in Elementary Education? In response, are
shown abundant evidence of the value of music education in schools,
the effects of music on children and their relationship with a balanced
intellectual development. It also discussed the notion of musical
intelligence and its development. The difficulties of effective music
education in elementary school, with enormous damage to an integral
education of the students are presented. Finally, we address the issue
of musical experiences in the classroom, when suggestions of musical
activities that can be developed in the classroom are presented.

KEYWORDS: Music. Music Education. Music in school.

1
Licenciada em Pedagogia pela UFPR e em Música pela EMBAP; pós-graduada em Arte e
Educação; professora da Rede Municipal de Ensino de Curitiba e da Faculdade Cristã de Curitiba.
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INTRODUÇÃO

Ninguém, em sã consciência, há que negar a importância da


música na vida das pessoas, principalmente na vida dos alunos do
Ensino Fundamental. Porém, poucos conhecem as dificuldades para
que este importante instrumento possa efetivamente ser usado nas
salas de aula.
O ensino da linguagem musical já está garantido nos parâmetros
curriculares e nas diretrizes curriculares para a cidade de Curitiba, no
entanto, há poucas escolas onde de fato este ensino se dá. É muito
comum, principalmente nas séries iniciais, as crianças cantarem
música, sem, no entanto, estarem desenvolvendo habilidades musicais
ou aprendizagem musical. A música é muito utilizada como instrumento
de ajuda às outras disciplinas, e não como arte.
A música deveria estar incluída efetivamente nos currículos da
educação básica, não apenas pelo seu valor essencial, mas também
por ser parte importante na formação de um indivíduo. O ensino da
música abre possibilidades para a construção de conhecimentos tanto
quanto outras áreas de ensino, f avorecendo ao estudante várias
possibilidades de significados. Por estes motivos, pretendeu-se, com o
desenvolvimento desta pesquisa, mostrar as contribuições da
aprendizagem musical na formação dos cidadãos e a importância da
garantia, nas séries iniciais, do ensino da musica na sala de aula.
Embora garantida dentro da disciplina de artes, a Música tem sido
ignorada pela maioria dos professores que atuam nas escolas de
Ensino Fundamental, tanto nas séries iniciais, como nas mais
adiantadas. Aos alunos tem se furtado o direito de desenvolverem sua
inteligência musical, descrita por Gardner (ANTUNES, 1998), e de
poderem conhecer o universo musical construído pela sociedade,
compreendendo-o a partir de uma visão crítica, preparando o espírito
para seleção e assimilação de uma cultura musical rica e digna, não se
tornando escravos dos maneirismos mercenários e simplórios da
indústria cultural. Quais são as dificuldades encontradas para a
implantação do ensino da música nas séries iniciais? Quais as
contribuições do ensino da música para a formação do indivíduo e
quais habilidades desenvolvidas que contribuem para aquisição de
outros conhecimentos escolares?
O presente trabalho descreve a importância e a influência da
música para a humanidade, o fascínio que causa para a criança, a
descoberta da inteligência musical e a situação da Educação Musical
no ensino Fundamental no nosso país. Em seguida, mostra como a
vivência da música na sala de aula pode ser prazerosa.
Espera-se que este trabalho venha servir de incentivo para outros
professores e escolas que também desejam uma educação de
qualidade e que acreditam que a arte pode e faz transformações na
sociedade.
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1 A IMPORTÂNCI A DA MÚSICA

É difícil pensar na história da humanidade sem música, pois esta


sempre esteve presente de alguma forma influenciando e fluindo do
homem, como fenômeno físico e psicológico. Hoje já se têm à
disposição avançadas pesquisas científicas que consideram a música
como uma força fisiopsicológica, uma ferramenta auxiliar da educação,
de tratamentos recuperativos, integrando programas de
desenvolvimento de condições físicas e mentais do indivíduo.
Papiros médicos egípcios datados de 1500 anos a.C., já se
referiam acerca da ação da música sobre o homem, retratando o
encantamento da música sobre as mulheres, estimulando sua
fertilidade. A Bíblia relata sua aplicação terapêutica, quando narra, no
livro de Samuel, a história do rei Saul que quando atormentado por um
espírito mal, chamava o músico Davi, que tocando sua harpa, afastava
o tal espírito de Saul, acalmando-o.
A arte musical era muito valorizada na cultura grega, filósofos
como Platão e outros pensadores, foram os primeiros a ter uma “visão
científica”, pesquisando a música sem um caráter místico. Para a
cultura grega a música “era ordem, equilíbrio, harmonia, fruto da razão
e da ordem intelectual que procuravam encontrar no mundo, usando
entre outras coisas, para a catarse de emoções, contribuindo para o
bem estar do indivíduo” (SEKEFF, 2002, p.93). Acreditavam que a
música desempenhava papel importantíssimo na recuperação do
indivíduo, para curar, para prevenir doenças físicas e mentais, para
educar e também para aquietar o erotismo das mulheres cujos maridos
estivessem na guerra.
Com o Renascimento, o estudo da música como um recurso de
saúde e comunicação toma um caráter racional, e desde então muito se
tem descoberto sobre ela.

No dec or r er dos s é c u los , f i lós of os , m éd ic os , ps ic ó lo g os ,


te ór ic os , t en t ar am ex p lic ar o m ec a n is m o d e n os s as r es p os tas
à m ús ic a , c o ns ta t an d o- s e s em pr e qu ã o d i f íc i l é d is s oc i ar ,
nes s as r es pos t as , os ef e it os f is i o l óg ic os d os ps ic o l óg ic os ( e
v ic e- ver s a) .O s p es qu i s ad or es os c i l am e ntr e d u as t eor i as : a
pr im eir a af ir m a q u e a m ús ic a af et a p r im or d i a lm ent e as
em oç ões e des p er t a es t a dos d e â n im o q u e ac a bam at u an d o
s obr e o c or po ; o u s e j a, o m o vim e nt o v a i do ps ic o l ó gic o a o
f is i o ló g ic o. A s e g u nd a d ef e nd e o pr oc es s o i n ver s o , em qu e o
m ovim en t o va i d o f is i ol ó g ic o a o ps ic o l óg i c o. Es ta s e g un d a
te or ia é c om par t i lh a da pe l a f i l ós of a c on t em por ân e a S us an
La n ge r , par a qu em a ex c i t aç ã o ner v os a o r i gi n a a em oç ã o.
( S E K EF F , 2 00 2, p. 10 8 )

O que nos interessa, no entanto, é compreender que a música


exerce uma influência no ser humano tanto por sua condição de
vibração sonora (fisiológica), quanto por seu caráter de influência no
estado de ânimo das pessoas.
O som e o ritmo movem o ser humano desde sua fase intra-
uterina. Vários pesquisadores comprovaram que a música atua em
nossas funções orgânicas, influenciando o nosso metabolismo. Seus
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estímulos conseguem interferir na respiração, circulação, digestão,


oxigenação, dinamismo nervoso e humoral, marcha das operações
mentais; induz a reações positivas e negativas e cria a consciência do
movimento (como Dalcroze assinala). Tem ação em nossa capacidade
de trabalho, estimula ou enfraquece nossa energia muscular, reduz e
retarda a fadiga, favorece o tônus muscular (como pesquisou a
fisiologista Fere). Segundo Susan Langer, há relações entre música e
ritmo humano, pulso e tempo musical.
Ouvindo música pode-se experimentar a sensação de estar
executando movimentos rítmicos, ou seja, a música pode estimular em
nossa mente imagens sinestésicas, imagens de movimentos que
parecem reais.
A música alimenta nosso poder de atenção e também se constitui
num recurso contra o medo e a ansiedade. Ela abaixa nosso limiar à
dor e à tensão pré-operatória, assunto discutido no II Simpósio
Internacional sobre o uso da Música na Medicina, em Lüdenscheid,
quando aproximadamente duzentos especialistas apresentaram
trabalhos mostrando as vantagens da música na minoração de dores,
angústias e em seu uso em salas de operação, quando penetrando
fundo nos centros inferiores do cérebro, acaba por tranqüilizar os
pacientes.
A música satisfaz algumas necessidades, permitindo ao indivíduo
viver uma experiência que envolve fantasia e realidade, como é o caso
da identificação do adolescente com o rock. Ela é também um ótimo
recurso de catarse, favorecendo a liberação de emoções e sentimentos
que são difíceis de expressar verbalmente, e ao mesmo tempo ela age
como facilitadora de comunicação, por meio do qual o indivíduo
consegue falar de si e de suas emoções.
A música estimula a criatividade, e nas pessoas criativas a
sinestesia tende a ser mais intensa. Ao mesmo tempo, acredita-se que
um elevado potencial sinestésico parece desenvolver maior capacidade
de memorização. A música estimula a inteligência de nosso “cérebro
emocional”, do “cérebro racional” (neocórtex) e do “cérebro
sentimental” (sistema límbico), todos integrantes do córtex, com
funções diferentes. Além disso, sua prática estimula nosso equilíbrio
afetivo emocional, propiciando um sentimento de bem estar, de calma e
relaxamento. O indivíduo que faz, escuta, canta, vivencia a música, é
sempre beneficiado.

2. A CRI ANÇA E A MÚSICA

É muito difícil, quase impossível, uma criança não gostar de


música. Para Jeandot, “a receptividade à música é um fenômeno
corporal” (JEANDOT, 1990, p.18). A música impressiona o indivíduo
desde sua vida intra-uterina, e este percebe os sons de seu mundo
fetal (batidas cardíacas, ruídos intestinais, movimentos musculares,
etc), e os sons do ambiente que o circunda (palavras, ruídos, melodias,
timbres, etc).
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O f eto n ã o r e a ge s ó aos m o v im ent os r ítm ic o- s o n or os d es s e


s eu p ar a ís o ut er i no , m as tam b ém a a l gu n s s o ns do m un d o
ex t er io r q ue , d a d a s ua i nt e ns i d ad e , c h e g ar iam de a lg um a
f or m a a té e le , a br a nd a dos p el o tr aj et o p er c or r i do , c om o
ens i n a o d ou to r Ro l an do Be n e zo n . ( S E K EF F , 20 0 2, p . 69)

O estímulo musical é captado pelo recém-nascido já na segunda


ou terceira hora de vida, embora sua reação proceda em virtude da
intensidade do som. É interessante observar que o bebê é capaz de
cantar e balbuciar, emitir sons individuais. Segundo alguns
pesquisadores,
...j á a p ar t ir d os do is m es es os b eb ês s ã o c ap a ze s de i g ua l ar
a lt ur a , vo l um e e c o n to r no m e ló d ic o d as c a n ç ões e nt oa d as p or
s uas m ã es , e a p a r ti r d os qu a tr o m es es j á c o ns e g u em
ad e qu ar - s e à es tr u tur a r ítm ic a d as c anç õ es ou v i d as .
( S E K EF F , 2 00 2, p. 72 )

Em todas as civilizações costuma-se acalentar os bebês com


cantos e movimentos. Uma melodia acompanhada de movimentação
rítmica (balanço) é capaz de acalmar até o bebê mais novinho.
Observando crianças pequenas podemos notá-las cantarolando e
ao mesmo tempo balançando o corpo ou fazendo qualquer movimento
corporal. Acompanhar músicas com movimentos do corpo é algo natural
e imediato para a criança. “A criança é um ser ”rítmico-mímico”, que
usa espontaneamente os gestos ao sabor da sensação que eles
despertam”. (JEANDOT, 1990, p.19)
A música se constitui numa possibilidade expressiva privilegiada
para a criança, pois atinge diretamente sua sensibilidade afetiva e
sensorial, colaborando para a formação de sua personalidade,
despertando as faculdades de criação, estimulando o desenvolvimento
de sua emotividade e estados afetivos.

3. DESENVOLVENDO A INTELIGÊNCI A MUSICAL

A partir de descobertas neurológicas, mudaram-se as linhas de


conhecimento neurológico sobre a mente humana e colocaram-se em
questão processos anteriormente descritos para explicar sistemas
neurais que envolviam: a memória, a aprendizagem, a consciência, as
emoções e as inteligências em geral.
Para Daniel Goleman a fórmula para o sucesso na vida depende
de: “uma boa combinação de inteligência matemática razoável, boa
inteligência verbal, satisfatório desempenho corporal, musical,
espacial, com controle e autoconhecimento emocional’”. (ANTUNES,
2001, p.37)
A Inteligência sonora ou musical associa-se à percepção do som
por sua unidade e linguagem e não como um componente do ambiente.
Além dos “gênios”, pessoas comuns também percebem o som através
da singularidade específica de suas muitas nuanças e linguagens:
produzir e apreciar ritmos, tons, timbres e identificar diferentes formas
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de expressividade na música ou nos sons em geral. Ao que tudo indica,


esta é a Inteligência humana que mais precocemente se desenvolve,
por isso deveria se constituir em estímulo que acompanhasse todos os
níveis de escolaridade e todas as disciplinas curriculares.
T oda p es s o a n as c e c om pe lo m enos 9 I nt e l ig ê nc i as , m as
ac a b a e ntr a nd o em um a es c o l a q u e v a l o r i za a pe n as d u as
( l in g üís t ic a e ló g i c o- m atem át ic a) f ic a nd o c om o qu e
“ em par ed a do” por es s es v a lor es . ( A NT UN E S , 20 0 , p. 2 5)

A teoria das inteligências múltiplas traz novas linhas de


procedimento para que as escolas convencionais acrescentem em suas
funções instrucional, socializadora e preparadora para o mundo do
trabalho uma outra, voltada ao estímulo e educação cerebral e assim,
progressivamente, possa ir se transformando em um centro estimulador
de Inteligências. Dessa forma poderemos compreender a
aprendizagem, desenvolver estímulos às inteligências e cuidar de
distúrbios ligados à atenção, criatividade e memorização.
É preciso que haja uma transformação de paradigmas da escola e
conseqüentemente do ato pedagógico. O ser humano precisa perceber-
se com acentuada amplitude lingüística, lógico-matemática, criativa,
sonora, sinestésicas, naturalista e, principalmente, emocional. Só
estaremos dando oportunidades de uma formação completa aos nossos
alunos se puderem desenvolver suas inteligências desde o momento
que iniciarem sua educação formal.

4 A EDUCAÇÃO MUSICAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

Há décadas a educação musical está ausente nas escolas


brasileiras, e sua ausência nos currículos se explica por vários fatores.
A educação musical perdeu sua identidade como disciplina, e isto se
deu com a incorporação da música como um dos componentes da
disciplina educação artística, na década de 70. Isto acabou trazendo
consequências, pois

Há v i nt e a n os o Br as i l n ã o t em m ais a d i s c i pl i n a E d uc aç ã o
Mus ic a l nas es c o las . Um a ge r aç ã o j á s e f o r m ou s em ter t id o
op or tu n i da d e d e f a ze r m ús ic a, q u e f i c ou r es tr it a a os
c ons er v at ór i os e es c o las d e m ús ic a. A es s a g er aç ã o f o i
v ed a do o ac es s o à pr á tic a m us ic al . A m ús ic a f o i c o l oc a d a n um
pe d es t a l in ac es s í v e l, s ó a lc a nç a d o p e los e s pec i a lm ent e bem
do t ad os . ( SC H AF E R, 1 99 2 , P. 11)

Dentre os vários problemas enfrentados pela área de educação


musical, “a falta de sistematização do ensino de música nas escolas de
ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical
como disciplina integrante do currículo escolar” são considerados os de
maior relevância para a professora Alicia Maria A. Loureiro.
A arte, desde sempre, é elemento essencial de integração do
homem na sociedade, e se ajusta como um instrumento de
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desenvolvimento da personalidade. A música tem implicações


estéticas, psicológicas, históricas, culturais e sociais na vida dos
indivíduos. O desenvolvimento da sociologia, da psicologia, da
etnomusicologia e da filosofia contribuiu para esclarecer o porquê de a
educação musical ser importante e do porquê ela deveria se constituir
como disciplina do currículo escolar. Assim, a educação musical
deveria ser vista

...c om o m ei o q ue t em a f u nç ã o d e des e n vo l v er a
per s o n al i d ad e do j o v em c om o um t o do , de d es p er tar e
des e n vo l v er f ac u l da d es in d is pe ns á ve is a o pr of is s io n al d e
qu a l qu er á r e a d e a ti v i d ad e, ou s ej a , por ex em plo , as
f ac u ld a des d e p er c ep ç ão , as f ac u l da d es d e c om un ic aç ão , as
f ac u ld a des d e c o nc e n tr aç ã o ( au to d is c i pl i n a ) , d e tr ab a lh o em
eq u i pe ( .. .) as f ac u ld a des d e d is c er n im en t o, an á l is e e s í nt es e,
des em bar aç o e au to c onf ia nç a, ( . ..) , o d es e n v o l vim e nt o de
c r i at i v id a d e, d o s e ns o c r ít ic o, d o s ens o de r es p o ns ab i l id a de ,
da s e ns i b il i d ad e d e v a l or es qu a nt it a ti v o s e d a m em ór i a,
pr inc i p alm en t e, o d es en v o l v im ent o do p r oc es s o de
c ons c i e nt i za ç ã o d e t u do , b as e es s e nc i al d o r ac ioc í n io e da
r ef l ex ã o . ( . ..) T r at a- s e de um ti p o d e e du c aç ã o m us ic a l q ue
ac e i ta c om o f u nç ão d a ed uc aç ã o m us ic a l n as es c o l as a t ar ef a
de tr a ns f or m ar c r i t ér i os e i d é ias ar t ís t ic as em um a n o va
r ea l i d ad e, r es u lt an t e de m ud a nç as s oc i a is . O hom em c om o
obj et o d a e duc aç ã o m us ic a l .” ( LO UR E IRO , 2 00 3)

A música tem seu valor social, e deve interagir com um mundo


globalizado tornando-o mais próximo do homem. A educação musical
proporciona ao indivíduo a capacidade de sintetizar forma e conteúdo,
como uma resposta criativa ao mundo contemporâneo, além de uma
prática artística que possibilita as vivências que enriquecem a
imaginação e a formação global da personalidade.
A escola deve garantir a igualdade de oportunidades, isto é,
proporcionar a cada criança os meios necessários de acesso à cultura
existente. ”Desenvolver no indivíduo o interesse pela criação e pela
apreciação estética, compreendendo-a e até mesmo contestando-a, ao
mesmo tempo em que busca desenvolver sua imaginação e disposição
para novas atividades artísticas”. (LOUREIRO, 2003).
Para Snyders, o ensino da música deve ser algo prazeroso e
interessante para o aluno. É importante considerar o interesse do
aluno, abrir espaço para que possa se expressar sem medo de que uma
emoção estética vivida possa subestimá-lo, e ao contrário disso, sentir
que pode colaborar com o crescimento do grupo. O professor não deve
estar preocupado com a utilidade da educação musical para o futuro do
aluno, mas para o presente. “O ensino de música tem, então um papel
exemplar: precisamente porque não visa ao futuro, ao sucesso futuro,
só existe e se justifica pela alegria cultural que oferece aos alunos em
sua vida de alunos”. (SNYDERS, 1992, p.133).
A escola tem um papel fundamental no estudo da cultura musical,
pois é no seu interior que acontece as mediações, as trocas de
experiências pessoais, intuitivas e dif erenciadas. É preciso estar atento
às práticas musicais e a movimentos sociais e culturais que estão além
dos muros da escola, mas que se refletem no seu interior. A educação
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musical deve mostrar o multiculturalismo existente no nosso país,


tentando evitar o isolamento de subculturas ou a imposição de uma
cultura dominante.
Pensando no papel da música como disciplina, dentro do contexto
do ensino fundamental, não se pode deixar de lado seu caráter
psicopedagógico, pois “ela age sobre a capacidade de atenção do
educando, estimulando-o até níveis insuspeitados” (SEKEFF, 2002,
p.78), e do seu caráter interdisciplinar, ajudando as demais disciplinas
como a matemática, na qual se relaciona em razão da dimensão
concreta e quantitativa de que é dotada. As representações sonoras
possibilitam o desenvolvimento do pensamento lógico de que ambas,
música e matemática, compartilham. Também auxilia a maturação
intelectual, a memória, a linguagem.

5. VIVÊNCI A MUSICAL EM S AL A DE AULA

A c r i a nç a , na es c o l a, é um po te nc i al d e q ua l id a des e d ef e i tos
i ner e nt es a c a da s er hum an o e i nf l u enc i á v e l p or es tím u los
am bi en t ais . Aj u d a- la a c r es c e r c o ns is t e em f ac i l it ar a ec l os ã o
e e v o luç ã o d es t as q u a l id a des c o ns i d er ad as bo as e n eu tr a l i za r
e a n ul ar as m ás te n dê nc ias ( .. .) C om pet e ao pr of es s or e v it ar a
d is p er s ão des s a en er g ia e, apr o v e it an d o o pr a ze r qu e em a na
de to d a es s a a t i vi d a d e, c oor d en ar e d is c i pl i nar , c om pr o v e it o ,
por m ei o d a M ús ic a . ( J AN NI B E L LI , 19 8 0, p .2 7)

Vivenciar música em sala de aula, para Murray Schafer, em seu


livro ”O Ouvido Pensante” é, antes de tudo, um trabalho de
alfabetização sonora. As aulas devem estimular o desenvolvimento de
habilidades para ouvir, criar, sentir, repensar os sons de hoje e de
amanhã. O trabalho do professor é ajudar o aluno a repensar nos sons
do seu cotidiano, sensibilizando o ouvido para entender o mundo e
viver de forma a construir uma sonorização valorizando a estética e o
prazer cultural.
Para Snyders, a música deve proporcionar experiências de
beleza, e que a beleza existe para dar alegria, a alegria estética, que é
uma alegria especifica (diferente dos prazeres de que habitualmente
desfrutamos, e que constitui um dos aspectos da alegria cultural). A
vivência musical em sala de aula deve ser prazerosa, lembrando
sempre que ela não visa formar futuros músicos, mas sim a formar a
criança do presente.
É im por t an te n ã o c onf un d ir es t im u laç ã o pr ec oc e , j an e l as
ab er tas pa r a a m ús ic a ( as s im c om o p ar a q ua l q uer ár ea) c om
tr e i nam e nt o m ec an ic i s ta ou s is t em at i za ç ã o f or m al pr ec oc e,
qu e v is am a r es u l ta d os q u e n em s em pr e s ão os qu e m ais
im por tam e i n ter es s am à c r ia nç a. ( BR IT O , 20 03)

Todos os educadores musicais que dedicaram e dedicam atenção


a crianças pequenas destacam a importância da experiência musical
como passo anterior à utilização do código convencional da música
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(notação tradicional). A criança brincando, faz música, pois esta é a


forma pela qual ela se relaciona com a música.
François Delalande relacionou as formas de atividades lúdicas
infantis propostas por Piaget a três dimensões presentes na música: 1-
Jogo Sensório Motor – exploração do som e do gesto; 2- Jogo
Simbólico – vinculado ao valor expressivo e à significação do discurso
musical; 3- Jogo com Regras – vinculado à organização e a
estruturação da linguagem musical. O fazer musical dentro da sala de
aula deve respeitar as fases de desenvolvimento da criança.
No livro “Música na Educação Infantil” (BRITO, 2003), encontram-
se várias sugestões para educação musical com crianças pequenas,
mostrando a importância do lúdico nas fases iniciais, da utilização de
canções do cancioneiro infantil tradicional, da música popular
brasileira, regional e de outros povos, da utilização dos acalantos,
brincos e parlendas, dos brinquedos de roda. A autora também salienta
a importância da exploração e construção de instrumentos musicais e
da importância da criação, da invenção.
As sugestões de FERREIRA (2002) e LOUREIRO (2003) para o
trabalho com as crianças maiores partem do respeito àquilo que as
crianças trazem de conhecimento musical, do seu interesse, para o
novo, sempre fazendo as relações necessárias e explorações
possíveis. Jogos e brincadeiras devem ser usados sempre, explorando
a linguagem musical. Deve-se também promover a exploração e
construção de instrumentos musicais.
As crianças maiores já conseguem organizar e sistematizar
alguns conceitos fazendo relações com o contexto em que vivem, por
isso não se deve negligenciar a história da arte. Para Snyders,
conhecer certos aspectos da vida do compositor e da época da obra
contribuem para que se aprecie melhor a obra.
Há muitas possibilidades para um trabalho dinâmico e
significativo de educação musical em sala de aula. Cabe ao professor,
buscar sempre o aperfeiçoamento, e estar constantemente
questionando e refletindo sobre sua prática docente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir este trabalho, ficou evidente que a Educação musical


na escola é viável, desde que haja primeiramente um comprometimento
do coletivo da escola, isto é, docentes, equipe pedagógico-
administrativa e comunidade, e também profissionais capacitados na
área. Todas as crianças, independentemente de freqüentarem uma
escola pública ou privada, deveriam ter direito à cultura musical rica e
digna, podendo com isso se libertar da imposição da indústria cultural.
Falta vontade política para tornar isto uma realidade, pois não basta
estar no currículo o ensino da arte musical, há que se dar condições
físicas para que cada escola tenha profissionais formados na área e
material necessário para execução do trabalho. Curitiba é uma cidade
rica em se tratando de música, possui três escolas que formam
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anualmente educadores musicais e não seria dif ícil concretizar este


sonho, bastaria abrir concursos específicos para este tipo de
profissional.
Ficou evidente também que a música vai muito além de ser
somente um conhecimento construído e disponível à sociedade, ela tem
poder de mudar comportamentos, de ampliar horizontes e ajudar na
formação integral do indivíduo. Foi observado na escola em questão,
que muitos alunos se sentiram mais motivados a freqüentar a escola
devido à oportunidade que ela proporcionou de se desenvolverem nesta
área, outros melhoraram seu potencial de comunicação, sua linguagem
oral, outros estabeleceram vínculos sociais e condutas mais amigáveis
através das aulas e dos trabalhos coletivos promovidos.
Este trabalho representou uma oportunidade de crescimento
intelectual, através das leituras e discussões realizadas, e crescimento
profissional, através dos questionamentos sobre a qualidade e sobre o
tipo de educação que se almeja para o Brasil.

REFERÊNCI AS

ANTUNES, Celso. Como desenvolver conteúdos explorando as


inteligências múltiplas. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

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