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HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA

SOCIAL NO BRASIL: DA
FILANTROPIA À POLÍTICA PÚBLICA

Professores:
Esp. Magda Yuriko Yonehara
Esp. Silviane Del Conte Curi
DIREÇÃO

Reitor Wilson de Matos Silva


Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
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NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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Qualidade Textual Ivy Mariel Valsecchi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a Distância; YONEHARA, Magda Yuriko Yonehara; CURI, Silviane Del
Conte.
A Política de Assistência Social e o SUAS. Magda Yuriko
Yonehara; Silviane Del Conte Curi.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018.


32 p.
“Pós-graduação Universo - EaD”.
1. Assistência Social. 2. Política. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 341


CIP - NBR 12899 - AACR/2

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sumário
01 6| O ASSISTENCIALISMO

02 8| FILANTROPIA X POLÍTICA PÚBLICA

03 14| A POLÍTICA PÚBLICA E A ASSISTÊNCIA SOCIAL


HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: DA
FILANTROPIA À POLÍTICA PÚBLICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Compreender o funcionamento do assistencialismo no séc. XIX.
•• Entender as razões das mudanças na Assistência Social.
•• Entender de que forma a Constituição Federal de 1988 melhorou a Assistência
Social

PLANO DE ESTUDO

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


•• O assistencialismo
•• Filantropia x política pública
•• A política pública e a assistência social
INTRODUÇÃO

A proposta deste estudo é para que você, aluno(a) possa, nessa primeira
unidade, conhecer um pouco da história da assistência social e sua evolução
até a Constituição Federal de 1988.
A assistência ao outro é prática antiga na humanidade, está na ajuda que se
guiou pela compreensão de que na humanidade haverá sempre os mais frágeis
e os menos favorecidos, que não conseguirão reverter a sua situação e carece-
rão de auxílio. Desde a Idade Média existem as instituições de caridade, tanto
pelas campanhas religiosas quanto pela caridade leiga.
Por iniciativa de grupos e facções de classes que se manifestam por intermé-
dio da Igreja Católica se deu a implantação do serviço social no Brasil. A busca
do rompimento da dependência marca a trajetória da profissão e lhe confere
uma face de compromisso com a justiça e a liberdade. Progressivamente, a
assistência começa a se configurar como uma esfera programática da ação
governamental para prestação de serviços, mecanismo político para amorte-
cimento de tensões sociais.
Na era do regime militar - instalado com o golpe de 1964, instala-se a era do
planejamento no serviço social brasileiro e assistência permanente rejeitada. A
saída da hegemonia pela racionalidade do planejamento e pela teorização cien-
tífica condicionou o serviço social a uma inserção no estado tecnocrático. Esse
Estado tecnocrático, usando do planejamento como técnico de consenso social
e do técnico como conhecedor das necessidades e interesses das classes subal-
ternizadas, torna-as objeto passivo dos “benefícios”. Assim, o modelo econômico
volta-se para os interesses do capitalismo transnacional, que provocou empo-
brecimento da população, com achatamento nos salários dos trabalhadores.
Na Era Vargas houve melhorias significativas, com a primeira grande insti-
tuição de assistência social, reconhecida como órgão de colaboração com o
Estado em 1942: a Legião Brasileira de Assistência.
Neste estudo, apresentaremos o histórico da assistência social, mostrando
sua longa e difícil caminhada para chegarmos ao patamar em que nos encon-
tramos hoje em dia. Bons estudos!

introdução
o assistencialismo
Pós-Universo 7

No século XIX, com a ascensão da burguesia, a exploração e abandono do proleta-


riado, a migração das áreas rurais para os grandes centros urbanos, a Igreja Católica
passa a assumir os cuidados dessa parcela da população que cresce e traz consigo
necessidades que não conseguem suprir por conta própria e ao mesmo tempo não
tem atenção do Estado - que entende que essa é uma atribuição da Igreja.
Segundo Martinelli (2001), a organização da prática da assistência como expres-
são de caridade cristã, além de ter integrado o tema de vários Concílios, foi objeto de
preocupação de muitos teólogos e membros destacados da Igreja, como São Paulo,
São Domingos, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Francisco, São Bernardo e São
Bento. A Igreja Católica direcionava os fiéis a terem práticas de ajuda ao próximo
como base da conduta cristã.
Sendo assim, as “damas de caridade”, em nome da humanidade cristã e em busca
da absolvição de seus pecados, assumiram a responsabilidade de aliviar as neces-
sidades básicas de alimentação, vestuário e remédios dessas pessoas. Além disso,
pregavam um pensamento moral que servia de controle, evitando, assim, possíveis
revoltas do proletariado.
Desde a era medieval até épocas mais recentes, incluindo o século XIX, a assistên-
cia era encarada como forma de controlar a pobreza e de ratificar a sujeição daqueles
que não tinham posses ou bens materiais. Assim, tanto na assistência prestada pela
burguesia quanto na realizada pelas instituições religiosas havia sempre outras inten-
ções além da prática da caridade. O que se buscava era perpetuar a servidão, ratificar
a submissão (MARTINELI, 2001).
Com base nessas ações de solidariedade surgem as raízes do que seriam as po-
líticas de Assistência Social.
filantropia x política
pública
Pós-Universo 9

No Brasil, segundo Mestriner (2008), no período da Primeira República (1989 – 1930)


a Igreja Católica efetivava as ações de assistência social de forma independente do
Estado - que não intervinha nas questões sociais por defender que isso não era sua
função.
Especificamente no Brasil, o reconhecimento de que o enfrentamento dessas pro-
blemáticas sociais era uma questão política e de responsabilidade do poder público
se deu por volta dos anos 30 (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).
O enfrentamento das questões sociais pelo poder público tornou-se eviden-
te e necessário devido ao cenário social que se compôs devido à hegemonia do
Capitalismo no Brasil, com o crescimento dos grandes centros urbanos, gerando no
país um forte e expressivo êxodo rural, superlotando as cidades assim como ocorreu
na Europa e Estados Unidos, reproduzindo o mesmo processo de urbanização e de-
terioração do proletariado.
Com isso, tornou-se necessário que o Estado repensasse o seu papel e assumisse
suas responsabilidades diante das questões sociais vigentes, pois cabe ao governo
brasileiro nesse cenário a responsabilidade de regular os excessos e promover uma
vida digna à população. “O Estado se vê na contingência de admitir sua responsa-
bilidade social para com os mais pobres, o que não estava na agenda liberal que
dominava o pensamento até então” (MESTRINER, 2008, p. 68).
A demanda por solucionar os problemas que surgiram com a necessidade de uma
população cada vez mais carente, oprimida e revoltada passou a ser uma questão
política a ser combatida pelo governo, a burguesia e a igreja, que se uniram para ofe-
recer algum tipo de assistência que pudesse dar a ideia e criar a ilusão ao povo de
que suas necessidades estariam sendo supridas. Com isso, a assistência começa a se
configurar como uma esfera programática da ação governamental para atender às
necessidades sociais por meio da prestação de serviços, que funciona como meca-
nismo político para o amortecimento de tensões sociais.
Em 1932 foi ministrado um curso de filantropia para moças ricas da sociedade,
promovido pelas cônegas de Santo Agostinho, no qual surgiu a ideia de se criar uma
organização que atendesse aos necessitados. Essas primeiras trabalhadoras sociais
desempenhavam seu papel segundo o que preconizava a igreja católica - seguindo
a ideia de que serviam por amor ao próximo- , sendo assim, não tinham uma visão
crítica e consciente do seu trabalho e de sua intervenção na sociedade e acabavam
por colaborar com a alienação da população.
10 Pós-Universo

Em 1935 foi criada a Lei n.º 2.497 para a formação do Departamento de Assistência
Social do Estado. O presidente da República neste período era Getúlio Vargas, que foi
considerado o “pai dos pobres”, responsável por criar leis em benefício aos trabalha-
dores, o que demonstrava seu foco em uma política social fortemente assistencialista.

saiba mais
Com o objetivo de dar maior visibilidade à sua política, Vargas passou a atuar
fortemente no campo previdenciário, estimulando, primeiramente, a expan-
são das Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s) e fez com que surgissem,
em 1933, os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP’s) que abrangia ca-
tegorias de trabalhadores mais organizados, como os marítimos (IAPM), os
Bancários (IAPB), os Industriários (IAPI) e os Servidores do Estado (IPASE).
Os Institutos, para dar conta das demandas dos seus trabalhadores filiados,
conforme seu potencial de recursos criaram benefícios diferenciados de um
instituto para outro e bastante diferenciados das caixas, que continuaram a
existir até 1953, para as categorias de menor força organizativa e financeira.

Fonte: COUTO (2010).

No ano seguinte foi criado o Departamento de Assistência Social do Estado de São


Paulo. Em 1937, no Rio Janeiro, houve a criação do Instituto de Educação Familiar e
Social, pois a questão social passou por uma transição - de caso de polícia para uma
questão política. No Rio de Janeiro, criou-se a Escola Técnica de Serviço Social com
um convênio firmado entre o CEAS e o departamento de Serviço Social do Estado
em 1939, organizando os centros familiares. Em 1940 foi realizado o curso de prepa-
ração em trabalho social, visando melhor treinar, orientar e nortear os trabalhadores
sociais da época.
No ano de 1942, o governo Vargas, buscando legitimidade junto à população pobre
criou a Legião Brasileira da Assistência (LBA), que tinha como objetivo atender à po-
pulação pobre. A LBA representou o braço assistencialista do governo, que centrou
na figura da primeira-dama Darcy Vargas a coordenação da instituição e acabou por
vincular definitivamente o social à figura da primeira-dama. Este traço clientelista
e vinculado à benemerência persistiu por muitos anos na política assistencial bra-
sileira (COUTO, 2010). Sendo assim, o Estado deixa a cargo da primeira-dama e das
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organizações filantrópicas, com apoio da igreja católica, as ações relativas aos pro-
blemas sociais.
Em 1945 foi realizado o Congresso Pan Americano, no qual foram discutidos os
rumos do Serviço Social no continente.
Em 1946 foram criadas a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS),
e a Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS) o que proporcionou o início da
mudança da visão dos assistentes sociais sobre seu trabalho: eles ampliaram seus ho-
rizontes, abandonando a concepção assistencialista de sua atuação e implementando
políticas públicas de bem-estar da população excluída e às margens da sociedade.
Em 1947 foi realizado em São Paulo o I Congresso Brasileiro de Serviço Social, que
definiu o Serviço Social como sendo:

““
atividade destinada a estabelecer, por processos científicos e técnicos, o bem-
-estar social da pessoa humana, individualmente ou em grupo, e constitui
o recurso indispensável à solução cristã e verdadeira dos problemas sociais.
(VIEIRA, 1977, p. 143).

Já em 1949, no Rio de Janeiro, foi realizado o II Congresso Pan Americano de Serviço


Social, considerado, pela sua magnitude, um marco importante para o Serviço Social.
Esse congresso trouxe ideais americanos e franceses, reafirmando e destacando uma
característica paternalista e não de direito ao acesso e obtenção aos benefícios - visão
que perdura até os dias atuais no Brasil, evidenciada por programas como Bolsa-
família e suas variadas vertentes.
Nesse momento, o papel esperado da assistência social era o de corrigir uma
condição de “anormalidade”, não gerada por problemas e distorções sociais, mas
por dificuldades individuais que poderiam ser superadas por meio do trabalho, que
constava na Constituição de 1937 em seu artigo 136º, como um dever de todos,
tratando o não-trabalho como um crime. Sendo assim, o foco da assistência social
nesse momento era ajustar o indivíduo ao meio sem nenhum tipo de olhar crítico
com relação aos mecanismos criados pelo sistema social e econômico responsáveis
por gerar esse tipo de condição.
Desta forma, o Estado se posicionava defendendo que aquele que não trabalhava
não merecia nenhuma atenção do governo. Partindo desta lógica, o Estado incentiva
práticas marginais de atenção, baseadas na lógica do clientelismo e do favor. Assim,
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a assistência social se afasta de qualquer possibilidade de ser efetivada enquanto um


direito e uma ação de proteção social, e passa a receber cada vez mais o incentivo
para ser realizada por meio de benesses particulares (MESTRINER, 2008).
Portanto, a tarefa da assistência social se centrava em prestar assistência material
para as famílias operárias, conseguindo empregos, abrigos provisórios, trabalhan-
do para a formação moral e criação de cadastros dos assistidos para que a visita e o
auxílio não se repetissem, na ilusão de que essas ações proporcionariam mudança
na vida destas famílias. O que na verdade servia apenas como forma de manter o
controle sobre essa parte da população e colaborava para reforçar a cultura de que
“para pobre basta qualquer coisa pobre” (MESTRINER, 2008, p. 107).
Neste contexto, o governo cria por meio do Decreto-lei n. 525 de 01/07/1938
o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) e, desta forma, além de incentivar a
benemerência e a solidariedade, torna-se responsável pela assistência social, com a
intenção de controlar suas ações por meio de regulações específicas que controla-
vam as subvenções destinadas a essa área. Funcionando juntamente com o Ministério
da Educação e Saúde, o CNSS se torna responsável pela concessão de auxílios e sub-
venções às organizações da sociedade civil:

““
[...] formado por figuras ilustres da sociedade cultural e filantrópica e subs-
tituindo o governante na decisão quanto às quais organizações auxiliar.
Transita, pois, nessa decisão, o gesto benemérito do governante por uma ra-
cionalidade nova, que não chega a ser tipicamente estatal, visto que atribui
ao Conselho certa autonomia. Nesse momento, selam-se as relações entre
o Estado e segmentos da elite: homens (e senhoras) bons, como no hábito
colonial e do império, vão avaliar o mérito do Estado em conceder auxílios e
subvenções a organizações da sociedade civil (MESTRINER, 2008, p. 58).

No fim do governo de Vargas o cenário nacional e mundial já apresentava mudan-


ças que se manifestava nos movimentos populares e operários que adquiriam força,
gerando diversas reivindicações.
Em 1946, o Presidente Eurico Gaspar Dutra promulga a nova Constituição Federal
e na busca de uma nova relação com a sociedade leva para o Estado a responsabili-
dade sobre o social. “Não bastam as organizações de benemerência e ação voluntária
do primeiro-damismo. É preciso um novo aparato social aliançado com a elite indus-
trial emergente” (MESTRINER, 2008, p. 117).
Pós-Universo 13

Sendo assim, podemos perceber que a assistência social começa a abandonar


as características de filantropia pregada e defendida pela igreja católica até então,
para buscar se estruturar como política pública, investindo na melhoria da rede de
abrangência dos serviços públicos e dos programas institucionais por meio da for-
mulação de novas propostas de políticas institucionais e passando a se caracterizar
como Serviço Social.
Embora no governo de Dutra tenham sido criados programas e projetos visando
o atendimento à população por meio da qualificação no Serviço Nacional de
Aprendizagem do comércio (SENAC), Serviço Social do Comércio (SESC) e o Serviço
social da Indústria (SESI), não houve a criação de uma política social propriamente dita.
Nesse período, diante de um cenário político conturbado, a política social teve
poucos avanços, com lenta expansão de direitos e dificuldade em propor a criação
de uma política social em sua totalidade, mantendo-se, portanto, o formato corpo-
rativista e fragmentado do governo de Vargas (BEHRING; BOSCHETTI, 2007).
Durante a ditadura militar, com a expansão da economia - o dito Milagre Brasileiro
-, a política social teve sua evolução, porém de maneira tecnocrática e conservadora,
regime que, a partir de 1974, devido aos reflexos da economia internacional, começa
a se esgotar e leva o país a um grande período de crise econômica.
a política pública e a
assistência social
Pós-Universo 15

Na década de 80, devido ao grande envolvimento da sociedade nos movimentos


sociais e na política, se iniciou a transição do Regime Militar para a Democracia.
Segundo Couto (2010), essa foi uma década de muitos movimentos sociais, re-
sultado da organização da sociedade por meio das entidades e das Organizações
não Governamentais (ONGs) e sindicatos - o que culminou na construção de uma
nova Constituição, que pela primeira vez teve a participação popular e com o ob-
jetivo de construir um Estado Democrático. Promulgada em 5 de outubro de 1988,
a “Constituição Cidadã”, foi um marco para as políticas sociais, pois veio para garan-
tir direitos individuais e sociais, assegurando como valores supremos a liberdade, a
igualdade e a justiça social.
A Constituição garante em seu texto o princípio da Dignidade e o princípio da ci-
dadania, o que valoriza de forma efetiva os Direitos Fundamentais da pessoa humana.
Tais como são apresentadas no Art. 6°:

““
Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternida-
de e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição
(BRASIL, 1988).

Entende-se que os avanços nos direitos conseguidos na nova Constituição foram


adquiridos pela luta na busca de atendimento às necessidades e demandas sociais,
não podendo ser vistos como concessões dos detentores do poder político e eco-
nômico, e sim advindas de uma evolução histórico-social.

atenção
Os direitos não são uma dádiva, nem uma concessão. Foram ‘arrancados’
por lutas e operações políticas complexas [...] não são uma doação dos po-
derosos, mas um recurso com o qual os poderosos se adaptam às novas
circunstâncias histórico-sociais, dobrando-se, com isso, contraditoriamen-
te, às exigências e pressões em favor de mais vida civilizada.

Fonte: (NOGUEIRA, 2004).


16 Pós-Universo

Os direitos, portanto, são resultado de mobilizações sociais, na busca pelo reconhe-


cimento legal das necessidades sociais por um mundo com menos desigualdades,
exclusões e injustiças. Foram essas mobilizações que possibilitaram que a Constituição
fosse elaborada de forma a propiciar a cidadania e o bem-estar a todos os cidadãos
por meio da garantia do atendimento das necessidades básicas para uma vida digna.

““
[...] graças à mobilização da sociedade, as políticas sociais tornaram-se cen-
trais, nessa década, na agenda de reformas institucionais que culminou com
a promulgação da Constituição Federal de 1988. Nesta Constituição, a refor-
mulação formal do sistema de proteção social incorporou valores e critérios
que, não obstante antigos no estrangeiro, soaram, no Brasil como inovação
semântica, conceitual e política. Os conceitos de “direitos sociais”, “seguridade
social”, “universalização”, “equidade”, “descentralização político-administrativa”,
“controle democrático”, “mínimos sociais”, dentre outros, passaram, de fato, a
constituir categorias-chaves norteadoras da constituição de um novo padrão
de política social a ser adotado no país (PEREIRA, 2008, p. 152).

Conforme explica Paulo Netto (1999) a Constituição de 1988 abriu espaço para a
construção de uma nova realidade brasileira com a estruturação de um sistema de
proteção social na busca de um Estado de bem-estar social, priorizando os direitos
sociais e colocando o arcabouço jurídico-político para implantar uma política social
com as exigências de justiça social, equidade e universalidade.

““
As reivindicações e pressões organizadas pelos trabalhadores na década de
1980, em período de redemocratização no país, provocam a incorporação,
pela Constituição Federal (CF), de muitas demandas sociais de expansão
dos direitos sociais e políticos. Um dos maiores avanços dessa Constituição,
em termos de política social, foi a adoção do conceito de seguridade social,
englobando em um mesmo sistema as políticas de saúde, previdência e as-
sistência social [...] (BOSCHETTI; SALVADOR, 2009, p. 52).

Nesse cenário, a Constituição Federal possibilitou a efetivação da Assistência Social


enquanto política pública, proporcionando aparato legal para que se consolidasse
como tal e desvinculando-a das ações assistencialistas que caracterizavam a assis-
tência social no Brasil. A partir disso, a assistência se encontra inserida no campo
Pós-Universo 17

dos direitos, da universalização de acesso, da responsabilidade estatal, da defesa e


atenção dos interesses dos segmentos mais carentes da sociedade. (YAZBEK, 1995).
O que marcou o início da busca pela implementação desses direitos foi a inclusão
da Assistência Social no sistema de Seguridade Social.

Art.194 º. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de inicia-


tiva dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos
à saúde, à previdência e à assistência social.

““
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I – universalidade da cobertura e do atendimento;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações


urbanas e rurais;

III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;

V – equidade na forma de participação no custeio;

VI – diversidade da base de financiamento;

VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão


quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos
aposentados e do Governo nos órgãos colegiados (BRASIL, 1988).

reflita
Visto que ainda faltam componentes para que os cidadãos tenham seus
direitos preservados e suas necessidades suprimidas, de forma a garantir a
dignidade da pessoa humana, o que, no seu modo de ver, poderia ser com-
plementado na Constituição e no Sistema de Seguridade Social para que
essa garantia se consolidasse?
atividades de estudo

1. No séc. XIX, a Igreja Católica passa a assumir os cuidados com a parcela da popu-
lação que cresce e traz consigo necessidades que não consegue suprir por conta
própria e que, ao mesmo tempo, não tem a atenção do Estado - que entende que
essa é uma atribuição da Igreja. Nesse contexto, quais destas características não per-
tencem à Igreja? Assinale a alternativa correta:

a) Foi objeto de preocupação de muitos teólogos e membros destacados da Igreja,


como São Paulo, São Domingos, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Francisco,
São Bernardo e São Bento.
b) Efetivava as ações de assistência social de forma independente do Estado.
c) Assim, tanto na assistência prestada pela burguesia quanto naquela realizada pelas
instituições religiosas, havia sempre outras intenções além da prática da carida-
de. O que se buscava era tornar vitalício o poder da igreja e do Estado.
d) Foi ministrado um curso de filantropia para moças ricas da sociedade, promovi-
do pelas cônegas de Santo Agostinho.
e) A organização da prática da assistência como expressão de caridade cristã, além
de ter integrado o tema de vários Concílios.

2. Analise as afirmativas.

I. A Constituição foi elaborada de forma a propiciar a cidadania e o bem-estar a todos


os cidadãos, devido as mobilizações sociais;

II. A CF de 1988 abriu espaço para construção de uma nova realidade brasileira com
a estruturação de um sistema de proteção social na busca de um Estado de bem-
-estar social, priorizando os direitos sociais.

III. Um dos maiores avanços dessa Constituição, em termos de política social, foi a
adoção do conceito de voluntariado, englobando em um mesmo sistema as políti-
cas de saúde, educação e assistência social.

IV. Os conceitos de “direitos sociais”, “seguridade social”, “universalização”, “equidade”,


“descentralização político-administrativa”, “controle democrático”, “mínimos sociais”,
dentre outros, passaram, de fato, a constituir categorias-chaves norteadoras da cons-
tituição de um novo padrão de política social a ser adotado no país.
atividades de estudo

V. A CF possibilitou a efetivação da Assistência Social enquanto política pública pro-


porcionando aparato legal para que se consolidasse como tal, desvinculando-a dos
sindicalistas que caracterizavam a assistência social nas áreas industriais do Brasil.

Assinale a alternativa correta:


a) Estão incorretas as afirmativas II e V.
b) Estão corretas as afirmativas I, III e IV.
c) Estão incorretas as afirmativas I, III e V.
d) Estão corretas as afirmativas I, II e IV.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

3. Analise as afirmativas.

I. A organização da sociedade por meio das entidades e das organizações não go-
vernamentais (ONGs) e sindicatos ocorreu no período de 2010.

II. A política social teve sua evolução, porém de maneira tecnocrática e conservado-
ra, na ditadura militar.

III. O governo cria o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) e, desta forma, além
de incentivar a benemerência e a solidariedade, torna-se responsável pela assistên-
cia social, em julho de 1938.

Assinale a alternativa correta:


a) Apenas I e II estão incorretas.
b) Apenas a I está correta.
c) Apenas II e III estão corretas.
d) Apenas a II está incorreta.
e) Todas estão corretas.
resumo

Neste estudo, vimos que a Assistência Social percorreu um longo caminho, desde o séc.
XIX, até chegarmos aos dias de hoje, ainda com muitas falhas. A igreja católica deixa de ser
a única instituição no auxílio aos necessitados. O crescimento dos grandes centros urbanos,
mais a pressão oferecida pela população, fez o Estado assumir a sua responsabilidade social,
em uma demanda cada dia mais crescente.

Desde o período Vargas - o pai dos pobres, até a CF de 1988, foram criadas muitas leis para
garantir o princípio da Dignidade e Cidadania. Temos que reconhecer que houve uma evo-
lução na garantia dos direitos sociais no Brasil, porém sabemos que nem sempre, de fato,
o Direito se apresenta de forma material e real na vida das pessoas. Sendo assim, a exis-
tência de garantias legais na Constituição e a criação de um Sistema de Seguridade Social
não são suficientes para que os cidadãos tenham seus direitos preservados e suas neces-
sidades suprimidas de forma a garantir a dignidade da pessoa humana, fato esse que só
passa a ser realidade por meio de movimentos e reivindicações sociais para terem reco-
nhecidos seus interesses.
material complementar

História Social Dos Direitos Humanos


Autor: Trindade, José Damião de Lima
Editora: Peirópolis

Sinopse: escrito com leveza e profundidade, este livro conduz o leitor


leigo à compreensão da conquista dos direitos humanos como processo
histórico e social, destacando o embate dos explorados pela igualdade
em diferentes modos de produção. Trata-se de uma obra fundamental para a compreensão
do potencial transformador da luta pelos direitos humanos.

O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira - Uma


Equação Possível?
Autor: Berenice Rojas Couto
Editora: CORTEZ

Sinopse: este livro tem como foco de análise a assistência social, bus-
cando apreendê-la no movimento da constituição de direitos no Brasil. A
autora estuda as Constituições Federais promulgadas entre 1930 e 1985, analisando a relação
existente entre esses estatutos legais e os diferentes contextos e eventos da realidade do país.
referências

BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. 3.


ed. São Paulo: Cortez, 2007.

BOSCHETTI, Ivanete; SALVADOR, Evilásio. O financiamento da Seguridade Social no Brasil


no Período 1999 a 2004: Quem paga a Conta? IN: MOTA. et al. Serviço Social e Saúde:
Formação e Trabalho Profissional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília:


Senado, 1988.

COUTO, Berenice Rojas. O direito social e a assistência social na sociedade brasilei-


ra: uma equação possível? 4. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. 7. ed. São Paulo: Cortez,
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MESTRINER, Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. 3. ed. São
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NOGUEIRA, Maria Alice. Os direitos de cidadania como causa cívica: o desafio de construir e
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PAULO NETTO, José. FHC e a política social: um desastre para as massas trabalhadoras. In:
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VIEIRA, Balbina Ottoni. História do Serviço Social: Contribuição para a construção de sua
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YAZBEK, Maria Carmelita. A política social brasileira nos anos 90: refilantropização da questão
social. Cadernos Abong, São Paulo, n. 11, out. 1995.
resolução de exercícios

1. c. Assim, tanto na assistência prestada pela burguesia quanto naquela realizada pelas
instituições religiosas, havia sempre outras intenções além da prática da caridade. O
que se buscava era tornar vitalício o poder da igreja e do Estado.

2. d. Estão corretas as afirmativas I, II e IV.

3. e. Todas estão corretas.

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