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SOCIAL NO BRASIL: DA
FILANTROPIA À POLÍTICA PÚBLICA
Professores:
Esp. Magda Yuriko Yonehara
Esp. Silviane Del Conte Curi
DIREÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Compreender o funcionamento do assistencialismo no séc. XIX.
•• Entender as razões das mudanças na Assistência Social.
•• Entender de que forma a Constituição Federal de 1988 melhorou a Assistência
Social
PLANO DE ESTUDO
A proposta deste estudo é para que você, aluno(a) possa, nessa primeira
unidade, conhecer um pouco da história da assistência social e sua evolução
até a Constituição Federal de 1988.
A assistência ao outro é prática antiga na humanidade, está na ajuda que se
guiou pela compreensão de que na humanidade haverá sempre os mais frágeis
e os menos favorecidos, que não conseguirão reverter a sua situação e carece-
rão de auxílio. Desde a Idade Média existem as instituições de caridade, tanto
pelas campanhas religiosas quanto pela caridade leiga.
Por iniciativa de grupos e facções de classes que se manifestam por intermé-
dio da Igreja Católica se deu a implantação do serviço social no Brasil. A busca
do rompimento da dependência marca a trajetória da profissão e lhe confere
uma face de compromisso com a justiça e a liberdade. Progressivamente, a
assistência começa a se configurar como uma esfera programática da ação
governamental para prestação de serviços, mecanismo político para amorte-
cimento de tensões sociais.
Na era do regime militar - instalado com o golpe de 1964, instala-se a era do
planejamento no serviço social brasileiro e assistência permanente rejeitada. A
saída da hegemonia pela racionalidade do planejamento e pela teorização cien-
tífica condicionou o serviço social a uma inserção no estado tecnocrático. Esse
Estado tecnocrático, usando do planejamento como técnico de consenso social
e do técnico como conhecedor das necessidades e interesses das classes subal-
ternizadas, torna-as objeto passivo dos “benefícios”. Assim, o modelo econômico
volta-se para os interesses do capitalismo transnacional, que provocou empo-
brecimento da população, com achatamento nos salários dos trabalhadores.
Na Era Vargas houve melhorias significativas, com a primeira grande insti-
tuição de assistência social, reconhecida como órgão de colaboração com o
Estado em 1942: a Legião Brasileira de Assistência.
Neste estudo, apresentaremos o histórico da assistência social, mostrando
sua longa e difícil caminhada para chegarmos ao patamar em que nos encon-
tramos hoje em dia. Bons estudos!
introdução
o assistencialismo
Pós-Universo 7
Em 1935 foi criada a Lei n.º 2.497 para a formação do Departamento de Assistência
Social do Estado. O presidente da República neste período era Getúlio Vargas, que foi
considerado o “pai dos pobres”, responsável por criar leis em benefício aos trabalha-
dores, o que demonstrava seu foco em uma política social fortemente assistencialista.
saiba mais
Com o objetivo de dar maior visibilidade à sua política, Vargas passou a atuar
fortemente no campo previdenciário, estimulando, primeiramente, a expan-
são das Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s) e fez com que surgissem,
em 1933, os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP’s) que abrangia ca-
tegorias de trabalhadores mais organizados, como os marítimos (IAPM), os
Bancários (IAPB), os Industriários (IAPI) e os Servidores do Estado (IPASE).
Os Institutos, para dar conta das demandas dos seus trabalhadores filiados,
conforme seu potencial de recursos criaram benefícios diferenciados de um
instituto para outro e bastante diferenciados das caixas, que continuaram a
existir até 1953, para as categorias de menor força organizativa e financeira.
organizações filantrópicas, com apoio da igreja católica, as ações relativas aos pro-
blemas sociais.
Em 1945 foi realizado o Congresso Pan Americano, no qual foram discutidos os
rumos do Serviço Social no continente.
Em 1946 foram criadas a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS),
e a Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS) o que proporcionou o início da
mudança da visão dos assistentes sociais sobre seu trabalho: eles ampliaram seus ho-
rizontes, abandonando a concepção assistencialista de sua atuação e implementando
políticas públicas de bem-estar da população excluída e às margens da sociedade.
Em 1947 foi realizado em São Paulo o I Congresso Brasileiro de Serviço Social, que
definiu o Serviço Social como sendo:
““
atividade destinada a estabelecer, por processos científicos e técnicos, o bem-
-estar social da pessoa humana, individualmente ou em grupo, e constitui
o recurso indispensável à solução cristã e verdadeira dos problemas sociais.
(VIEIRA, 1977, p. 143).
““
[...] formado por figuras ilustres da sociedade cultural e filantrópica e subs-
tituindo o governante na decisão quanto às quais organizações auxiliar.
Transita, pois, nessa decisão, o gesto benemérito do governante por uma ra-
cionalidade nova, que não chega a ser tipicamente estatal, visto que atribui
ao Conselho certa autonomia. Nesse momento, selam-se as relações entre
o Estado e segmentos da elite: homens (e senhoras) bons, como no hábito
colonial e do império, vão avaliar o mérito do Estado em conceder auxílios e
subvenções a organizações da sociedade civil (MESTRINER, 2008, p. 58).
““
Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternida-
de e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição
(BRASIL, 1988).
atenção
Os direitos não são uma dádiva, nem uma concessão. Foram ‘arrancados’
por lutas e operações políticas complexas [...] não são uma doação dos po-
derosos, mas um recurso com o qual os poderosos se adaptam às novas
circunstâncias histórico-sociais, dobrando-se, com isso, contraditoriamen-
te, às exigências e pressões em favor de mais vida civilizada.
““
[...] graças à mobilização da sociedade, as políticas sociais tornaram-se cen-
trais, nessa década, na agenda de reformas institucionais que culminou com
a promulgação da Constituição Federal de 1988. Nesta Constituição, a refor-
mulação formal do sistema de proteção social incorporou valores e critérios
que, não obstante antigos no estrangeiro, soaram, no Brasil como inovação
semântica, conceitual e política. Os conceitos de “direitos sociais”, “seguridade
social”, “universalização”, “equidade”, “descentralização político-administrativa”,
“controle democrático”, “mínimos sociais”, dentre outros, passaram, de fato, a
constituir categorias-chaves norteadoras da constituição de um novo padrão
de política social a ser adotado no país (PEREIRA, 2008, p. 152).
Conforme explica Paulo Netto (1999) a Constituição de 1988 abriu espaço para a
construção de uma nova realidade brasileira com a estruturação de um sistema de
proteção social na busca de um Estado de bem-estar social, priorizando os direitos
sociais e colocando o arcabouço jurídico-político para implantar uma política social
com as exigências de justiça social, equidade e universalidade.
““
As reivindicações e pressões organizadas pelos trabalhadores na década de
1980, em período de redemocratização no país, provocam a incorporação,
pela Constituição Federal (CF), de muitas demandas sociais de expansão
dos direitos sociais e políticos. Um dos maiores avanços dessa Constituição,
em termos de política social, foi a adoção do conceito de seguridade social,
englobando em um mesmo sistema as políticas de saúde, previdência e as-
sistência social [...] (BOSCHETTI; SALVADOR, 2009, p. 52).
““
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
reflita
Visto que ainda faltam componentes para que os cidadãos tenham seus
direitos preservados e suas necessidades suprimidas, de forma a garantir a
dignidade da pessoa humana, o que, no seu modo de ver, poderia ser com-
plementado na Constituição e no Sistema de Seguridade Social para que
essa garantia se consolidasse?
atividades de estudo
1. No séc. XIX, a Igreja Católica passa a assumir os cuidados com a parcela da popu-
lação que cresce e traz consigo necessidades que não consegue suprir por conta
própria e que, ao mesmo tempo, não tem a atenção do Estado - que entende que
essa é uma atribuição da Igreja. Nesse contexto, quais destas características não per-
tencem à Igreja? Assinale a alternativa correta:
2. Analise as afirmativas.
II. A CF de 1988 abriu espaço para construção de uma nova realidade brasileira com
a estruturação de um sistema de proteção social na busca de um Estado de bem-
-estar social, priorizando os direitos sociais.
III. Um dos maiores avanços dessa Constituição, em termos de política social, foi a
adoção do conceito de voluntariado, englobando em um mesmo sistema as políti-
cas de saúde, educação e assistência social.
3. Analise as afirmativas.
I. A organização da sociedade por meio das entidades e das organizações não go-
vernamentais (ONGs) e sindicatos ocorreu no período de 2010.
II. A política social teve sua evolução, porém de maneira tecnocrática e conservado-
ra, na ditadura militar.
III. O governo cria o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) e, desta forma, além
de incentivar a benemerência e a solidariedade, torna-se responsável pela assistên-
cia social, em julho de 1938.
Neste estudo, vimos que a Assistência Social percorreu um longo caminho, desde o séc.
XIX, até chegarmos aos dias de hoje, ainda com muitas falhas. A igreja católica deixa de ser
a única instituição no auxílio aos necessitados. O crescimento dos grandes centros urbanos,
mais a pressão oferecida pela população, fez o Estado assumir a sua responsabilidade social,
em uma demanda cada dia mais crescente.
Desde o período Vargas - o pai dos pobres, até a CF de 1988, foram criadas muitas leis para
garantir o princípio da Dignidade e Cidadania. Temos que reconhecer que houve uma evo-
lução na garantia dos direitos sociais no Brasil, porém sabemos que nem sempre, de fato,
o Direito se apresenta de forma material e real na vida das pessoas. Sendo assim, a exis-
tência de garantias legais na Constituição e a criação de um Sistema de Seguridade Social
não são suficientes para que os cidadãos tenham seus direitos preservados e suas neces-
sidades suprimidas de forma a garantir a dignidade da pessoa humana, fato esse que só
passa a ser realidade por meio de movimentos e reivindicações sociais para terem reco-
nhecidos seus interesses.
material complementar
Sinopse: este livro tem como foco de análise a assistência social, bus-
cando apreendê-la no movimento da constituição de direitos no Brasil. A
autora estuda as Constituições Federais promulgadas entre 1930 e 1985, analisando a relação
existente entre esses estatutos legais e os diferentes contextos e eventos da realidade do país.
referências
MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. 7. ed. São Paulo: Cortez,
2001.
MESTRINER, Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. 3. ed. São
Paulo: Cortez, 2008.
NOGUEIRA, Maria Alice. Os direitos de cidadania como causa cívica: o desafio de construir e
consolidar direitos no mundo globalizado. In: Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, XI
e Encontro Nacional de Serviço Social e Seguridade, III, 2004, Fortaleza. Anais.... Fortaleza:
CFESS, 2004.
PAULO NETTO, José. FHC e a política social: um desastre para as massas trabalhadoras. In:
LESBAUPIN, Ivo (org.). O desmonte da nação: balanço do governo FHC. Petrópolis: Vozes,
1999.
PEREIRA, Potyara Amazoneida Pereira. Política social: temas e questões. São Paulo: Cortez,
2008.
VIEIRA, Balbina Ottoni. História do Serviço Social: Contribuição para a construção de sua
teoria. Rio de Janeiro: Agir, 1977.
YAZBEK, Maria Carmelita. A política social brasileira nos anos 90: refilantropização da questão
social. Cadernos Abong, São Paulo, n. 11, out. 1995.
resolução de exercícios
1. c. Assim, tanto na assistência prestada pela burguesia quanto naquela realizada pelas
instituições religiosas, havia sempre outras intenções além da prática da caridade. O
que se buscava era tornar vitalício o poder da igreja e do Estado.