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Prólogo 2

"Quando um homem decide seguir um objetivo, que julga ser maior e


mais importante que sua própria vida ou a dos que estão ao seu redor…
nada nem ninguém poderá impedi-lo."

*****

Uma figura montada em um cavalo se aproximava ao longe no horizonte. Uma silhueta negra, que
se aproximava aos poucos. Já era fim de tarde, e não demoraria muito para que o sol escondesse
seu brilho, e desse lugar a lua.
A figura se aproximava mais e mais… revelando agora sua vestimenta. Um homem na casa dos 30
anos, usando um grande chápeu acizentado. Sua jaqueta era velha e longa e sua calça parecia a
muito remendada. As botas que usava eram grossas e sujas de terra. Seu rosto era de alguém
sofrido e seus olhos cansados. Carregava um cigarro na boca, que de vez enquando dava uma
tragada.
O cavalo percorria a estrada calmamente, sem nenhuma pressa. O homem era levemente
balançado de um lado para o outro, como de embalado pelo movimento.
Sem nem perceber, fecheu seus olhos… e dá escuridão surgiu uma visão.
Viu uma família, um pai, uma mãe e três filhos. Ele conhecia aquela família muito bem. Sabia que o
nome do pai era Luther Filgar Calisto e a mãe se chamava Arla Hunter Calisto. Conhecia também
os três filhos, o mais velho, com 18 anos se chamava John Hunter Calisto, o do meio, com 16
anos, se chamava Jeras Hunter Calisto, e o mais novo de chamava Kain Hunter Calisto e tinha 13
anos.
Eram uma família de caçadores. O pai saia para caçar com os dois irmãos mais velhos, enquanto
o mais novo ficava em casa, ajudando a mãe. John e Jeras aprenderam a arte da caça, do
rastreamento e do abate.

*****

O homem abriu os olhos. A lembrança que percorrera sua mente ainda não havia se dissipado
completamente, e, de certa forma, ele não desejava que ela fosse emvora. Deu mais uma tragada
no cigarro e fechou novamente os olhos, sendo embalado pelo leve caminhar do cavalo.
Dessa vez, ele viu um mapa de um grande continente. Enormes porções de terra formavam ele,
cadeias montanhosas, florestas, pântanos, campos, tudo cercado por um imenso oceano.
Agora ele via um rasgo sendo feito na horizontal do mapa. Um corte que dividiá-o bem no meio. E
ele sabia o que significava aquele corte.
Dois reinos, dois povos, duas culturas.
Norte e Sul.
Esses eram os dois reinos do continente. Neles viviam milhares de pessoas, todas unidas sob a
coroa de um Rei. Os dois reinos viviam em intrigas, algumas mais sérias, outras nem tanto. A
cultura dos dois era muito diferente, e isso gerava pequenos confrontos. Mas nem um deles se
comparou a sangrenta Guerra Dourada.
Se existe algo que mexe com o coração dos homens é o dinheiro. Dinheiro é poder, e poder é o que
os reis almejam acima de tudo.
Quando foram descobertas uma quantidade incrível de jazidas de ouro, bem na região que dividia
os reinos Norte e Sul… eclofiu uma discussão.
Cada um dos lados reivindicava o ouro para si. Tentavam dividi-lo, chegar a um acordo, mas a
cobiça era muito grande, eles queriam tudo para si.
A guerra foi inevitável.

*****
Agora ele via um rei. Um rei subir em um palco de madeira e fazer várias declarações, insitar o
povo a ir a guerra, e promentendo grandes recompensas para aqueles que voltassem vivos e
trouxessem honra ao reino. Não foram muitos que cairam naquela conversa.
Então ele viu o mesmo rei subir no mesmo palco, agora mudando seu discursso. Dizendo que todo
homem acima dos 20 anos que se recusasse a lutar pelo seu reino deveriam ter vergonha da
própria vida, e que não a mereciam.
Todos que se recusassem a lutar deveriam ser mortos como traidores, morte por afogamento.
Então ele viu mulheres chorando, e pais se despedindo de seus filhos. Viu camponeses pegando
em espadas e arcos. E viu mais uma vez aquela família, Luther estava se despedindo dos filhos
com um longo e abraço, e dá mulher com um beijo… no fundo, ele sabia que aquela seria a última
vez que veria sua família. Sem ter como recusar, e temendo que fizessem algum mal a sua mulher
e seus filhos, Luther ingressou na batalha como arqueiro.
Ele nunca mais retornou…

*****

Agora ele via os dois irmãos saindo para caçar toda a tarde, a mãe, saia para trabalhar na cidade,
limpando barracas no comércio, Kain, o filho mais novo, passava o dia em casa, cuidando,
arrumando e preparando a comida para quando voltassem. Ele via os meses se passando e a
situação piorando. Via roubos acontecendo toda semana. Via pessoas passando fome… e via o rei
continuar com sua guerra insana por ouro, sacrificando os recursos do povo (e o próprio povo)
para conseguir alguma vantagem na batalha.
Já fazia um ano que a guerra começara, e o povo estava arrasado. Os guardas viviam bêbados
pelas ruas, e bandidos espreitavam em cada beco.
Os dias eram confusos e barulhentos.
As noites silenciosas e sombrias.
Pelo menos a família de John estava um pouco mais segura, já que moravam bem distante do
centro urbano e nem um bando de saqueadores viria tão longe apenas para roubar uma simples
família.
Assim pensavam…
Em mais uma tarde os dois irmão sairam para caçar cervos e coelhos, a mãe saiu para a cidade e
Kain, o mais novo, ficou sozinho cuidando da casa.
Aquela tarde foi vazia, parecia que todos os animais haviam se escondido ou nem saido da toca.
Mas algo cortou o vazio daquela tarde. Os dois irmãos avistaram uma coluna de fumaça negra se
elevando além da floresta. Eles ficaram observando aquela cena, mais curiosos do que assustado.
Então, de repente, Jeras soltou um grito de horror, John, confuso, perguntou a ele o que havia
acontecido.
-Jo…John -guaguejou- Aquela fumaça vem na direção da nossa casa!!!
Percebendo isso John também se alarmou, os dois dispararam desesperados, se rasgando em
galhos no meio do caminho, tentando chegar o mais rápido possível na casa.
Quando finalmente saidam da floresta, a cena que viam era assombrosa. Chamas consumiam
toda a casa, destruindo tudo, desde a base até o teto. John tentou se aproximar, gritando o nome
do irmão Kain. Mas as chamas o empurraram, e ele caiu para trás. Ninguém respondeu ao
chamado.
Ali, sentado, John sentiu um sentimento que nunca havia sentido antes. Um sentimento que não
sabia, mas seguiria ele por muito tempo. Sentiu como se sua alma ardesse em brasas também,
sentiu tristeza, raiva, ódio, tudo misturado. Passaram o resto da tarde procurando o irmão pelas
redondezas, mas algo dentro deles gritava que era inútil.
E assim foi… eles não encontraram nada.
O choque de Arla foi tremendo ao saber da notícia. Sem ter onde morar, ele ficaram alojados na
casa de um amigo, em uma aldeia próxima a cidade. John caiu em profunda tristeza, foi obrigado
a trabalhar nos campos de trigo para sustentar a mãe e o irmão. Arla, trabalhava limpando casas
na aldeia. Ela chorava todos os dias a noite. Jeras, apesar da insistência da mãe e do irmão John,
nunca desistiu da ideia que o irmão estava vivo (pois seu corpo nunca foi encontrado). Passou
semanas incansávelmente procurando informações pela cidade, questionou, criticou e incomodou
cada guarda, foi em cada posto de vigia afim de boas novas. Em uma dessas criticas ele se
envolveu em uma briga com um grupo de guardas, e acabou ferindo um. O resultado foi a sua
prisão.
Após isso… nunca mais se ouviram notícias de Jeras.
Ao saber da possível morte de mais um filho, Arla caiu em profunda depressão. Passava os dias
trancanda em seu quarto, chorando, comendo nada ou muito pouco. Até que em uma noite… ela
fugiu.
John apenas percebeu cedo pela manhã, e foi atrás dela. De um jeito estranho… meio que sabia o
primeiro lugar que devia procurar. A antiga casa da família.
Só restavam cinzas e destroços do lugar, mas, ao procurar na floresta próxima, John encontrou a
mãe.
Ou o que sobrou dela.
No meio da noite, Arla em um delírio fugiu para a floresta… e lá encontrou seu fim. Lobos.
Agora ele via John cavando uma cova em uma floresta. Em seguida enterrando a mãe. Ajeitando
cuidadosamente algumas pedras e fincando uma lápide.
Ele viu o jovem parado em frente ao túmulo. Suas lágrimas desciam como gotas de chuva. Sua
família inteira estava morta e ele jazia sozinho naquele mundo.
Ele sentia algo no peito, um sentimento, um sentimento horrível que não o abandova, um vazio que
o perseguia a todo instante.
De algum modo, sabia, aquele sentimento nunca o deixaria.

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