Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mais tarde (1921), surgiria a revista Seara Nova. Embora não houvesse participado no
projecto embrionário, é convidado a entrar para o corpo directivo, convite esse que aceita de
imediato. Esta revista não se limitava à dimensão político-social, como fora o caso de Pela
Grei. Brilhou e alcançou o sucesso que merecia exactamente pela sua vertente humanista,
literária e mais próxima da população. É nesta acção dinâmica que António Sérgio vai
difundindo as suas ideias, cruzando-se com outras e desenvolvendo um espírito aguçadamente
crítico, vigilante e prático.
A sua cultura, como ele próprio a descreveu, não é essencialmente literária mas sobretudo
científica, sociológica, filosófica e pedagógica. Existe, na verdade, uma linha de raciocínio
filosófico claramente revelada no tipo de linguagem que utiliza, e explicada pela influência
que recebeu de autores como Platão, Descartes ou Kant.
A sua obra mais conhecida e onde se encontra o essencial de todo o seu pensamento, são os
oito volumes de Ensaios. Aqui, exalta os valores do espírito científico ou crítico (que para ele
significam o mesmo), em detrimento da Ciência em si ou das doutrinas.
Para Sérgio, o saber culto é o saber que se insere na realidade do espírito, que é realidade
funcional, processo. “(...) Não é dizer coisas extravagantes, “originais”...é dizer coisas lúcidas,
coerentes, exactas, verdadeiras (...)”. O real interesse do país só lhe parecia compatível com a
neutralidade.
Na sua época, descreveu a Escola como “uma calamidade pública”; afirmava ser uma das
causas principais para o estado da nação. Simultaneamente, concluiu que seria impossível
reformar a Escola sem ao mesmo tempo ocorrerem profundas transformações no
funcionamento do aparelho social. Fundou a Biblioteca de Educação, revista que abordava
novas teorias educativas, e que foi uma das suas actividades mais reconhecidas e valorizadas.
Preconizou o cooperativismo, que a meu ver, é uma das suas bandeiras. A definição deste
conceito seria um plano geral pedagógico de educação autonomista do povo; ou seja, o grande
político, bem como o grande pedagogo, seria aquele que trabalha constantemente para se
tornar dispensável, que ensina o povo a governar-se a si mesmo, com o mínimo de
intervenção política ou do Estado. Outro grande princípio pedagógico que defendia era a
experiência prévia de trabalho profissional, como ponto de partida para a educação geral, já
que considerava absurda e infrutífera a teoria assimilada sem estar ligada a uma actividade
prática: “um instrumento inútil”.
Se a Escola não providencia condições para verdadeiros actos sociais, semelhantes aqueles
que em adulto, o aluno encontrará, o seu trabalho torna-se ineficaz e vazio, e por isso a Escola
deve reproduzir o melhor possível a estrutura da vida social adulta.
É importante referir a sua ligação à Biblioteca Nacional, enquanto foi seu director Jaime
Cortesão, já que durante essa época, este organismo foi considerado como um dos mais
activos e progressivos do mundo, pela dimensão da sua acção no contexto em que actuava.
O legado de António Sérgio é de um valor singular. A sua obra permanece actual, diria
mesmo que avançada ainda para os tempos que vivemos. A sua componente humana era a sua
verdadeira ferramenta de trabalho, que lhe permitiu viver um genuíno interesse pelas pessoas,
pela sociedade, pelo Mundo.