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António Sérgio foi um pilar fundamental na luta pelo progresso económico, social e moral de

Portugal, na primeira metade do séc. XX.


Nasceu a 3 de Setembro de 1983, na Índia Portuguesa, contexto que naturalmente criou
condições de acesso a outras culturas, mentalidades e comportamentos, e que terá
influenciado a sua visão progressista e humanista.
Resumir a sua vida e obra é uma tarefa ingrata. Parecem infinitas as áreas nas quais interveio,
bem como a complexidade do seu pensamento... Mas na verdade, todas essas áreas se
entrecruzam no âmbito da intervenção social, e muitos afirmam que António Sérgio deve ser
visto essencialmente como político, pela acção prática, pelo dinamismo, pelo contacto directo
com as realidades e problemáticas sociais e humanas.

O seu envolvimento com a vida político-social inicia-se aquando da implantação da Primeira


República . Nesta altura, abandonou a Armada, o que lhe valeu acusações de “anti-
parlamentarista” e “monárquico”. Nunca aparentou sentir grande preocupação em relação às
mesmas... A sua defesa era a sua convicção “ (...) o que cumpria que realizássemos em
Portugal era um certo número de reformas concretas (...) não vi jamais na existência de um
Rei (...) o obstáculo verdadeiro a tais reformas...”
Interessava-lhe a democracia social, sem que o conceito estivesse obrigatoriamente associado
a um regime político. A sua participação na vida de um Portugal a fervilhar de contradições e
controvérsias foi fundamental, ainda que certamente limitada pelas ideologias dominantes,
falando da era salazarista.
É na colaboração com a revista Águia que dá arranque a uma militância fervorosa da
intervenção escrita. É também aqui que estabelece uma relação profunda, embora por vezes
difícil, com Álvaro Pinto, seu fundador, e considerado por muitos como o impulsionador mais
dinâmico da Renascença Portuguesa.
Membro activo deste movimento que visava proporcionar um carácter renovador à República,
ele próprio criou uma revista, Pela Grei, que apesar da sua efemeridade, provocou alguma
agitação nas mentes, formulou esboço do que seria o pensar colectivo de organização e
apresentou alternativas concretas às ideologias vagas, dispersas e desconexas que existiam e
lutavam entre si.

Mais tarde (1921), surgiria a revista Seara Nova. Embora não houvesse participado no
projecto embrionário, é convidado a entrar para o corpo directivo, convite esse que aceita de
imediato. Esta revista não se limitava à dimensão político-social, como fora o caso de Pela
Grei. Brilhou e alcançou o sucesso que merecia exactamente pela sua vertente humanista,
literária e mais próxima da população. É nesta acção dinâmica que António Sérgio vai
difundindo as suas ideias, cruzando-se com outras e desenvolvendo um espírito aguçadamente
crítico, vigilante e prático.
A sua cultura, como ele próprio a descreveu, não é essencialmente literária mas sobretudo
científica, sociológica, filosófica e pedagógica. Existe, na verdade, uma linha de raciocínio
filosófico claramente revelada no tipo de linguagem que utiliza, e explicada pela influência
que recebeu de autores como Platão, Descartes ou Kant.
A sua obra mais conhecida e onde se encontra o essencial de todo o seu pensamento, são os
oito volumes de Ensaios. Aqui, exalta os valores do espírito científico ou crítico (que para ele
significam o mesmo), em detrimento da Ciência em si ou das doutrinas.
Para Sérgio, o saber culto é o saber que se insere na realidade do espírito, que é realidade
funcional, processo. “(...) Não é dizer coisas extravagantes, “originais”...é dizer coisas lúcidas,
coerentes, exactas, verdadeiras (...)”. O real interesse do país só lhe parecia compatível com a
neutralidade.

Na Educação, foi um pedagogo activo; chegou a afirmar-se como “pedagogista”.


Pretendia que fossem dadas aos indivíduos as capacidades de um contínuo desenvolvimento
pessoal que lhes permitisse aperfeiçoar a sociedade em que se inserissem: a escola deveria
ajudar o aluno a escolher o seu papel na sociedade e a exercê-lo o melhor possível, afastando-
se do interesse meramente individual e aproximando-se de uma perspectiva de progresso da
comunidade. Preparar uma pessoa para melhorar a sociedade seria fazê-la considerar o
exercício da sua profissão não como um meio para atingir interesses individuais em exclusivo,
mas fundamentalmente como um meio para atingir fins sociais; a Educação não teria como
objectivo manter a estrutura social existente, mas sim transformá-la.

Na sua época, descreveu a Escola como “uma calamidade pública”; afirmava ser uma das
causas principais para o estado da nação. Simultaneamente, concluiu que seria impossível
reformar a Escola sem ao mesmo tempo ocorrerem profundas transformações no
funcionamento do aparelho social. Fundou a Biblioteca de Educação, revista que abordava
novas teorias educativas, e que foi uma das suas actividades mais reconhecidas e valorizadas.
Preconizou o cooperativismo, que a meu ver, é uma das suas bandeiras. A definição deste
conceito seria um plano geral pedagógico de educação autonomista do povo; ou seja, o grande
político, bem como o grande pedagogo, seria aquele que trabalha constantemente para se
tornar dispensável, que ensina o povo a governar-se a si mesmo, com o mínimo de
intervenção política ou do Estado. Outro grande princípio pedagógico que defendia era a
experiência prévia de trabalho profissional, como ponto de partida para a educação geral, já
que considerava absurda e infrutífera a teoria assimilada sem estar ligada a uma actividade
prática: “um instrumento inútil”.
Se a Escola não providencia condições para verdadeiros actos sociais, semelhantes aqueles
que em adulto, o aluno encontrará, o seu trabalho torna-se ineficaz e vazio, e por isso a Escola
deve reproduzir o melhor possível a estrutura da vida social adulta.
É importante referir a sua ligação à Biblioteca Nacional, enquanto foi seu director Jaime
Cortesão, já que durante essa época, este organismo foi considerado como um dos mais
activos e progressivos do mundo, pela dimensão da sua acção no contexto em que actuava.

O legado de António Sérgio é de um valor singular. A sua obra permanece actual, diria
mesmo que avançada ainda para os tempos que vivemos. A sua componente humana era a sua
verdadeira ferramenta de trabalho, que lhe permitiu viver um genuíno interesse pelas pessoas,
pela sociedade, pelo Mundo.

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