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Ambiência na Atenção Psicossocial Infanto-

Juvenil: um estudo no CAPSi1


Children-Adolescent Psychosocial Care ambience: a study
at CAPSi

Juliana Peterle Ronchi Resumo


Mestre em Psicologia. Psicóloga do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES). O Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil
Endereço: Rua Elizabeth Minete Perim, s/n, São Rafael, CEP 29375- (CAPSi) organiza-se como um ambulatório diário
000, Venda Nova do Imigrante, ES, Brasil. voltado para crianças e adolescentes com trans-
E-mail: peterleronchi@yahoo.com.br
tornos mentais graves, configurando-se como um
Luziane Zacché Avellar modelo de atenção pautado em bases territoriais e
Doutora em Psicologia Clínica. Professora do Departamento de comunitárias. Por ser um novo serviço direcionado
Psicologia Social e do Desenvolvimento (DPSD) e do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade Federal do
a crianças e adolescentes com transtornos mentais
Espírito Santo (UFES). graves e entendendo que a saúde engloba os aspectos
Endereço: Av. Fernando Ferrari, 514, CEP 29075-910, Vitória, ES, do ambiente, o objetivo deste trabalho foi conhecer e
Brasil. descrever a ambiência no atendimento de crianças
E-mail: luzianeavellar@yahoo.com.br e adolescentes com transtornos mentais graves no
1 O presente artigo faz parte da dissertação de mestrado apre-
CAPSi da cidade de Vitória, ES. Foram priorizados
sentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da os componentes expressos na forma da atenção
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) intitulada: Ambiên- dispensada ao usuário e da interação estabelecida
cia e saúde mental: um estudo no CAPSi de Vitória-ES. entre profissionais e usuários. Empregou-se a téc-
Apoio Financeiro: Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de nica de coleta de dados da observação participante.
Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Verificou-se, com base na teoria de Winnicott, que
a presença, a atenção aos objetos disponíveis nos
espaços, a sustentação e o manejo das atividades
são aspectos importantes na constituição da ambi-
ência na atenção psicossocial, pois podem facilitar
o oferecimento de um ambiente seguro e adequado
às necessidades das crianças e adolescentes que
sofrem com transtornos mentais graves.
Palavras-chave: Serviços de saúde mental; Crianças;
Adolescentes; Ambiente; Winnicott.

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Abstract Introdução
The Children and Youth Psychosocial Care Center No Sistema Único de Saúde (SUS), a política de hu-
(CAPSi) is configured as a daily outpatient clinic manização mostra-se um marco na consideração
for children and adolescents with severe mental di- do ambiente como promotor de saúde. Essa política
sorders. It is a healthcare model based on territorial tem como uma das orientações propiciar melhorias
and community bases. Because it is a new service na am­biência dos serviços, instituindo espaços de
intended for treating children and adolescents with conforto físico e subjetivo para intervenções mais
severe mental disorders, and taking into account efetivas, como mobílias apropriadas, agradável
that health care involves aspects of environment, comunicação visual, lugares adequados para mo-
this study aimed to understand and describ the mentos de conversas privativas entre usuários,
ambience of health care services for children and valorização da atenção integral à saúde e estímulo
adolescents with severe mental disorders at CAPSi aos atendimentos comprometidos com a produção
in the City of Vitória, ES, Brazil. It prioritized the de saúde e com a produção de sujeitos (Brasil, 2004).
components expressed in the form of care provi- Na literatura nacional vários estudos têm consi-
ded to users and interaction established between derado a importância da ambiência no planejamento
health professionals and users. The participant e na implementação de programas de saúde, de modo
observation data collection technique was used. a oferecer ao usuário confortabilidade, possibilidade
The study verified, based on Winnicott’s theory, de produção de subjetividade e instrumentos faci-
that the presence of and attention to available ma- litadores dos processos de trabalho (Cohen e col.,
terials in these spaces, as well as sustainability and 2007; Gaioso e Mishima, 2007; Olschowsky e col.,
handling of activities, are important aspects in the 2009; Schneider e col., 2009; Warschauer e D’Urso,
constitution of the ambience in psychosocial care 2009; Fontana, 2010).
because they can provide children and adolescents Gaioso e Mishima (2007) enfatizam que o cui-
who suffer from severe mental disorders with a safe dado em serviços de saúde pode ser manifesto na
environment, adequate to their needs. ambiência que se refere ao espaço físico e às relações
Keywords: Mental Health Services; Children; Ado- interpessoais. Dessa forma, destacam a importância
lescents; Environment; Winnicott. de se atentar aos ambientes dos serviços de saúde,
uma vez que produzem formas de cuidar.
Para Olschowsky e colaboradores (2009) a saúde
engloba os aspectos do ambiente que podem ser tera-
pêuticos. Saúde e ambiência não podem ser dissocia-
das, pois se correlacionam e são interdependentes.
As autoras afirmam que entender a ambiência na
saúde mental possibilita a qualificação dos ambien-
tes de saúde, proporcionando melhoria na qualidade
de vida dos usuários. Elas destacam que a estrutura
física, os recursos humanos e as relações sociais do
espaço de trabalho, aspectos que caracterizam o con-
forto, a subjetividade e o processo de trabalho, são
elementos que interferem no tratamento do usuário.
Franchini e Campos (2008) afirmam a neces-
sidade de se investigar fatores que influenciam o
trabalho realizado em centros de atenção psicosso-
cial. Utilizando-se do referencial winnicottiano as
autoras ratificam a necessidade de nesses serviços
se oferecer uma apropriada provisão ambiental, a

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fim de facilitar o processo de amadurecimento do um desenvolvimento emocional que promova a
paciente. integração do indivíduo (Winnicott, 1983d, 1994a,
Baseando-se em Winnicott, Franchini e Campos 1994c, 1997).
(2008) afirmam que no CAPS, muitas vezes, há gran- Acentuando a influência do ambiente na consti-
de número de pacientes psicóticos; assim, mostra-se tuição psíquica do sujeito, Winnicott (1983b) afirma
fundamental uma adequada provisão ambiental, a que um bebê não existe sem sua mãe, pois é através
fim de que sejam dispensados os cuidados necessá- do que ele denominou de “preocupação materna
rios para que esses pacientes possam experienciar primária” que a mãe pode prover adequadamente
o que não foi possível em um momento anterior no seu bebê dos cuidados necessários. A “preocupação
seu processo de desenvolvimento. materna primária” define-se para Winnicott (2000d)
Fundamentando-se na importância do ambiente como um estado psicológico especial da mãe, em que
como promotor de saúde, o objetivo deste estudo foi ela é capaz de se identificar consciente e inconscien-
conhecer e descrever a ambiência no atendimento temente com as necessidades do bebê. Esse estado
de crianças e adolescentes com transtornos mentais caracteriza-se como uma fase de sensibilidade exa-
graves no Centro de Atenção Psicossocial Infanto- cerbada no qual a mãe adapta-se às necessidades do
-Juvenil da cidade de Vitória, ES. Neste estudo foram bebê em seus primeiros momentos de vida. Quando
priorizados os componentes expressos na forma a mãe alcança esse estado, existe o que Winnicott
da atenção dispensada ao usuário e da interação (2000d) chama de “ambiente suficientemente bom”,
estabelecida entre profissionais e usuários, o que, que possibilita ao bebê caminhar plenamente em seu
de acordo com Brasil (2006), constituem os aspec- desenvolvimento, alcançando satisfações e lidando
tos afetivos expressos nas relações sociais, muito adequadamente com as reações ambientais, que
importantes na composição da ambiência. não se mostram intrusivas, mas adequadas à sua
Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, enfati- capacidade em cada etapa do seu desenvolvimento.
zou em seus escritos a importância do ambiente na Para Winnicott o bebê é, no início, totalmente
constituição da saúde psíquica do ser humano. Dessa dependente dos cuidados da mãe; aos poucos, com
forma, vamos considerar seus escritos a fim de agre- a provisão ambiental adequada o bebê consegue
gar maior possibilidade de reflexão sobre o conceito evoluir no processo maturacional, passando por
de ambiência apresentado pelo Brasil (2010). um momento de dependência relativa até alcançar
o estágio de independência (Winnicott, 1983a; Dias,
2003; Avellar, 2004).
Ambiente na teoria de Donald Mas, se essa provisão ambiental não for oferecida
Woods Winnicott ao bebê nesses estágios iniciais, ele não pode se cons-
Para Winnicott o ambiente tem papel fundamen- tituir enquanto pessoa, não conquista sua integração
tal no desenvolvimento da saúde do bebê – não há (Winnicott, 2000d). Para Abram (2000) aqui está
bebê sem um ambiente que o provê de cuidados. O um aspecto fundamental da teoria winnicottiana: a
ambiente pode ser danoso e levar à instabilidade, etiologia da psicose reside na estrutura ambiente-in-
gerando doença no desenvolvimento emocional; ou divíduo. A falha ambiental pode trazer consequências
pode ser facilitador, possibilitando crescimento e devastadoras para a saúde mental do bebê:
desenvolvimento saudáveis (Abram, 2000). No desenvolvimento inicial do ser humano o
A teoria do processo de amadurecimento humano ambiente que age de modo suficientemente bom
proposta por Winnicott tem por base a tendência permite que o crescimento pessoal tenha lugar. Os
inata e herdada do indivíduo em direção ao desen- processos do eu podem nesse caso permanecer ati-
volvimento. Doença significa lacuna no desenvol- vos, numa linha ininterrupta de crescimento vivo.
vimento e somente através de cuidados adequados Se o ambiente não se comporta de modo suficiente-
o bebê pode caminhar em direção à saúde. O autor mente bom, o indivíduo passa a reagir à intrusão, e
apresenta a importância de um ambiente que se os processos do eu são interrompidos (Winnicott,
adapte às necessidades do bebê, fundamental para 2000c, p. 389, grifo do autor).

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Para Winnicott (1994a) “o medo do colapso” de- tação), o “handling” (manipulação) e a “apresentação
corre de falhas na provisão ambiental do bebê, que de objeto” proveem condições para que o indivíduo
podem levar a quadros de: esquizofrenia infantil ou se desenvolva.
autismo; esquizofrenia latente; falsa autodefesa; Ao fornecer os cuidados iniciais de alimentação
e personalidade esquizóide (Winnicott, 1983c). O e higiene a mãe segura (“holding”) de maneira con-
autor afirma: fiável e manipula (“handling”) o corpo de seu bebê
a meu ver existem certos tipos de ansiedade no possibilitando a ele ser em totalidade, nesse ambien-
início da infância que podem ser evitados pelo cui- te em que é significado e sustentado o indivíduo se
dado suficientemente bom, e é possível estudá-los personaliza.
com bastante proveito. A meu ver, os estados que A “apresentação de objeto”, por sua vez, pro-
é possível prevenir com um bom cuidado do bebê porciona a apresentação do mundo ao bebê de
são aqueles que, quando encontrados num adulto, uma forma adequada, na qual, gradativamente, ele
seriam naturalmente agrupados sob o termo lou- possa lidar com os elementos do contexto em que
cura (Winnicott, 2000a, p. 165). está inserido. Assim, o bebê se movimenta e vai ao
encontro de um objeto que inicialmente é ele mesmo
Winnicott, portanto, estabelece em seu traba-
quem cria, e se, o ambiente pode criar essa ilusão
lho a importância do ambiente na condução do
no bebê, de que o que ele necessita estará à sua
tratamento do paciente, principalmente o paciente
disposição, então ele pode se desenvolver de modo
psicótico.
saudável, relacionando-se com os objetos do mundo
Para o autor, no trabalho analítico, é fundamen-
que o cerca, constituindo as separações eu/não-eu
tal proporcionar ao paciente reviver a situação da
(Winnicott, 1983c; Avellar, 2004).
falha em um ambiente que possa prover adequada-
Partindo dessa perspectiva teórica, um ambiente
mente suas necessidades, de modo que ele possa re-
tomar o processo de desenvolvimento em seu próprio terapêutico pode possibilitar que a falha que se pro-
ritmo. Para Winnicott (2000c) é importante, em um cessou no início do desenvolvimento do indivíduo
trabalho terapêutico, tanto a técnica utilizada pelo seja revivida e ressignificada. Desse modo, a descri-
profissional quanto o ambiente em que ela ocorre. ção e a discussão a seguir possibilitam refletir sobre
Winnicott (2000c) afirma claramente: a ambiência na atenção psicossocial infanto-juvenil,
utilizando-se da teoria de Winnicott a fim de que
a doença psicótica está relacionada a uma falha am- possamos compreender como diferentes elementos
biental num estágio primitivo do desenvolvimento do ambiente de um serviço de saúde podem facilitar
emocional. [...] O paciente e o contexto amalgamam- o trabalho terapêutico com crianças e adolescentes.
-se para criar a situação bem-sucedida original do
narcisismo primário. [...] Nesta medida, a doença
psicótica pode ser tratada apenas pelo forneci- Método
mento de um ambiente especializado acoplado à De caráter clínico-qualitativa, esta pesquisa foi rea-
regressão do paciente (p. 386-384). lizada no único CAPSi2 do estado do Espírito Santo,
Para Winnicott (1983c) o ambiente deve forne- localizado na capital Vitória. De acordo com Turato
cer cuidado e manejo adequados para que o bebê (2003), o método de pesquisa clínico-qualitativa é
caminhe em direção à integração, personalização e uma particularização e um refinamento do método
estabeleça relações de objetos. O “holding” (susten- qualitativo que guarda especificidades de vertentes

2 O Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) da cidade de Vitória é o único serviço do tipo no estado do Espírito Santo.
Inaugurado em setembro de 2007, está vinculado à Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Vitória e funciona em
uma casa alugada. O CAPSi é um serviço substitutivo aos hospitais psiquiátricos, constituindo-se, dessa forma, como um ambulatório
diário para crianças e adolescentes com transtornos mentais graves, configurando o seu atendimento nos moldes do local em que está
inserido. A equipe do CAPSi é composta por profissionais de níveis superior, médio e técnico. Na época da pesquisa o serviço contava com
4 psicólogos, 1 médico pediatra, 2 assistentes sociais; 2 arteterapeutas, 2 terapeutas ocupacionais, 1 musicoterapeuta, 2 enfermeiros, 4
técnicos de enfermagem, 1 educador físico, 2 assistentes administrativos, 4 vigilantes patrimoniais e 2 auxiliares de serviços gerais. O
horário de funcionamento era das 7 às 19 horas.

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clínico-psicológicas, sendo adequado para descre- mento essencial para o pesquisador que utiliza a
ver e compreender fenômenos constituídos nos observação participante. O registro das informações
ambientes dos serviços de saúde. Nesta pesquisa, foi feito logo após as observações realizadas, no
pretendemos apresentar elementos da ambiência próprio CAPSi, em locais onde não havia atividades.
de um serviço de saúde mental para crianças e
adolescentes.
Procedimento de análise de dados
Para a análise de dados utilizou-se uma particu-
Procedimento de coleta de dados larização e refinamento da técnica de análise de
Como procedimento de coleta de dados utilizou-se a conteúdo, como propõe Turato (2003), visando às
técnica da observação participante, que consiste na características do método clínico-qualitativo.
presença de um observador em contato direto com o Em um primeiro momento, Turato (2003) afirma
fenômeno observado, a fim de colher dados do con- que se deve organizar as informações coletadas. Em
texto, na realidade em que ocorre, para a realização nosso caso, à medida que a pesquisa se realizava
de uma investigação científica (Minayo, 1994). nosso material se configurava, uma vez que a cada
Como indica Becker (1997), o observador parti- dia, logo após a observação, no próprio CAPSi, o
cipante, além de observar as situações no contexto registro das observações era realizado. Assim, no úl-
em que elas ocorrem, estabelece conversações com timo dia de coleta de dados o diário de campo estava
os participantes destas situações, descobrindo as constituído, em sua íntegra, de forma organizada. No
interpretações sobre os acontecimentos observados. segundo momento, realizou-se a leitura flutuante
Assim, os resultados apresentados e discutidos do diário de campo, a fim de o pesquisador se fami-
neste estudo levam em consideração os sentidos da- liarizar com os dados coletados como um todo. No
dos pelos participantes nas conversas estabelecidas terceiro momento, organizou-se o material coletado,
durante as observações, o que possibilitou descrição selecionando dos dados originais os elementos mais
mais detalhada do fenômeno investigado. As obser- relevantes para responder aos objetivos do estudo.
vações seguiram um roteiro abrangendo aspectos do Finalizando, realizou-se a redação do trabalho com
conceito de ambiência apresentado pelo Ministério descrições do fenômeno investigado, de acordo com
da Saúde (Brasil, 2006, 2010). Neste estudo foram os dados coletados, bem como a sua interpretação,
considerados os componentes expressos nas formas: o que acrescentou à descrição elementos teóricos
da atenção dispensada aos pacientes; das atividades que possibilitaram maior reflexão sobre o material
oferecidas para os usuários; e da interação entre os organizado.
usuários e profissionais. Como afirma Avellar (2009), a seleção do mate-
As visitas foram diárias, com duração de aproxi- rial de pesquisa impõe:
madamente duas horas, intercaladas entre: um dia [...] uma certa descontinuidade, certos recortes e
na parte da manhã e um dia na parte da tarde. Isso espaços vazios que, certamente, possuem seus sig-
porque se verificou que a rotina era diferente em nificados, pelos quais, muitas vezes, passa-se por
função dos pacientes e da equipe, que se distinguia cima, a fim de realizar uma redução dos elementos
por dias e turnos. Desse modo, pretendeu-se obser- apresentados. Em alguns casos, há perdas difíceis
var diversos contextos da ambiência do CAPSi. Foi de serem reparadas. É um risco que se corre (p. 16).
utilizado o critério de saturação das informações, D’Allones (2004), baseando-se em Levi-Strauss,
de modo que ao final de três meses verificou-se um afirma que em muitos casos não se trata de perda
grau de repetição nas observações, indicando que do material coletado, mas da construção do objeto
os dados coletados mostravam-se suficientes para de estudo de modo mais compreensivo. Recorrendo
os propósitos da pesquisa. Assim, foram 143 horas à bricolagem, D’Allones (2004) cita Levi-Strauss,
de observação, de março a junho de 2011. para quem o termo está desprovido de qualquer co-
Todas as observações realizadas na instituição notação pejorativa, uma vez que um problema pode
foram registradas, gerando diário de campo, ele- ter várias soluções. A bricolagem, nesse sentido,

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apresenta a possibilidade de se reunir diferentes em um serviço de saúde mental para crianças e ado-
recortes sem rigidez alguma, produzindo um novo lescentes, que serão apresentados pelos seguintes
objeto de forma livre. temas: a chegada das crianças e dos adolescentes
Nesta pesquisa, diante de uma grande quantida- ao CAPSi, em que se reflete sobre a atenção dos
de de anotações, correu-se o risco de selecionar as profissionais aos usuários na chegada ao serviço;
que possibilitariam, ante a leitura do pesquisador, a rotina das crianças e dos adolescentes no CAPSi,
a compreensão da ambiência em um CAPSi. Apre- em que se discute como os profissionais interagem
senta-se, assim, pela configuração de uma bricola- entre si e como tal interação reflete na atenção aos
gem o que se pensou, se refletiu e se viveu em uma usuários; e, por fim, as atividades desenvolvidas
experiência de pesquisa que articula a interação pelos profissionais e pacientes no CAPSi, que visa
pesquisador-pesquisados. discutir sobre as interações entre profissionais e
Para a interpretação dos dados utilizou-se o pacientes nas atividades desenvolvidas no serviço.
referencial da teoria de Donald Woods Winnicott,
A chegada das crianças e dos adolescentes ao
para quem, como apresentamos anteriormente, o
ambiente tem papel fundamental na saúde psíquica CAPSi
da pessoa. A recepção a quem chega é feita pelo vigilante pa-
trimonial, que permanece no portão ou próximo a
ele. Algumas crianças e adolescentes apresentam
Aspectos éticos bastante proximidade com esse funcionário, o que
O projeto de pesquisa foi apresentado à Secretaria muitas vezes mostra-se importante para a efetiva
Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Vi- entrada no serviço, pois, por meio da conversa esta-
tória, ES, à diretora e à equipe do Centro de Atenção belecida no portão, podem demonstrar seu interesse
Psicossocial Infanto-Juvenil da cidade de Vitória, em entrar.
ES, com a finalidade de informar-lhes acerca dos Após a chegada as crianças e os adolescentes
objetivos da pesquisa e de obter o consentimento podem ficar na recepção aguardando serem con-
para a sua realização. Foi informado ainda que os vidados a participar de atividades, como oficinas
resultados obtidos seriam apresentados em con- e atendimentos individuais. Enquanto aguardam,
gressos e artigos científicos, sendo resguardada a utilizam os brinquedos disponíveis na recepção.
confiabilidade dos mesmos. Esclareceu-se que não Ou eles mesmos entram pelo serviço, procurando
haveria divulgação de dados que pudessem identifi- alguém para conversar, brincar e algo para fazer.
car os usuários envolvidos no estudo (Brasil, 1996). Essa liberdade de utilização do ambiente do CAPSi
Uma vez cumprida todas as exigências, obtivemos possibilita encontros ocasionais com outros pacien-
o consentimento para sua realização. A presente tes e profissionais.
pesquisa obteve aprovação (n.º 226/10) no Comitê de Como evidencia Souza (2003), a nova organi-
Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde zação dos serviços de saúde mental contrapõe-se
da Universidade Federal do Espírito Santo. aos grandes hospitais psiquiátricos, o que provoca
mudanças na relação entre usuários e profissionais
na instituição. Para o autor os espaços informais
Resultados e discussão da instituição, lugar em que nenhuma atividade
Considerando os componentes expressos na forma programada acontece, por exemplo, a sala de espe-
da atenção dispensada aos usuários e da interação ra e o portão, podem trazer ricas possibilidades de
entre profissionais e usuários, aspectos do concei- intervenção.
to de ambiência apresentados pelo Ministério da No CAPS investigado por Souza (2003) a reflexão
Saúde (Brasil, 2006), e ainda com base na teoria de sobre a intervenção nos espaços informais do ser-
Winnicott, para quem o ambiente facilita o desenvol- viço levou a equipe à prática da atividade que deno-
vimento psíquico da pessoa, seguem os resultados minaram de ambiência. Ou seja, os profissionais se
e as discussões, que possibilitam refletir sobre os organizavam para estar nesses espaços informais, o
diferentes aspectos que podem compor a ambiência que permitia conhecer melhor o usuário do serviço e,

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ainda, oferecer uma presença constante e frequente A rotina das crianças e dos adolescentes no CAPSi
aos usuários na instituição, possibilitando uma Dentro do serviço do CAPSi as crianças e os adoles-
relação de confiança em momentos de imprevistos. centes são atendidos por diferentes profissionais,
No CAPSi investigado neste trabalho não se dependendo do dia de atendimento, do turno ou do
observou uma sistematização dos profissionais em que a equipe entende como adequado para seu trata-
circular pelos ambientes do serviço, mas verificou-se mento, de acordo com o Plano Terapêutico Singular3.
que alguns deles, em função de sua compreensão de Observamos que, de forma geral, os profissionais
clínica, circulavam pelos diferentes ambientes do que constituíam a equipe do turno da manhã prio-
CAPSi, possibilitando presença, escuta e acolhimen- rizavam a privacidade nos atendimentos e o uso de
to aos pacientes nos momentos em que nenhuma espaços específicos de forma individual, enquanto
atividade programada acontecia. os que constituíam o turno da tarde valorizavam
Em Winnicott, como afirma Dias (1999), a mais os atendimentos em grupo e com vários pro-
característica central do ambiente facilitador do fissionais atuando em conjunto.
amadurecimento humano é aquela que possibilita As diferenças que se colocam nas intervenções
experienciar confiabilidade, pois haverá alguém que das equipes dos turnos do CAPSi apresentam o de-
cuidará para que o ambiente se mantenha regular, safio da interação entre diferentes profissionais, o
monótono, ou seja, previsível. Como esclarece a auto- que, de acordo com o Ministério da Saúde (Brasil,
ra: “o bebê só pode retirar-se para descansar porque 2006, 2010), influencia a ambiência nos serviços
começa a confiar, pela repetição da experiência, que de saúde. Em alguns momentos foram observadas
o mundo continua vivo e permanece lá assim que ele dificuldades de articulação das intervenções, prin-
precisar” (Dias, 1999, p. 294). cipalmente tendo em vista as diferentes formações
Observou-se que a circulação de profissionais dos profissionais, que os levava a priorizar distintos
nos espaços de um serviço de saúde mental infanto- aspectos do trabalho terapêutico.
-juvenil pode ser enriquecedora para o trabalho Verificou-se que as diversas condutas técnico-
terapêutico, pois pode possibilitar conhecer melhor -teóricas utilizadas pelos profissionais podem
o paciente e criar vínculos, além de permitir às interferir na ambiência oferecida em um serviço de
crianças e aos adolescentes experienciar confiança saúde mental, pois as ações se dirigem para focos
em um ambiente que pode acolher necessidades distintos em função da formação e da abordagem de
inesperadas, pela presença constante de alguém que cada profissional. Como aponta Maalouf (1998), a
poderá cuidar dele. heterogeneidade da equipe de trabalho em relação às
O Ministério da Saúde (Brasil, 2006) afirma, na abordagens teóricas e técnicas, em períodos difíceis
definição de ambiência, que o componente afetivo de relacionamento, produzem discordâncias entre
expresso no acolhimento e na atenção dispensados profissionais, resultando em “[...] um ‘corpo’ técnico-
aos usuários em um serviço de saúde é fundamental -teórico despedaçado, refletindo o que se encontra
na constituição da ambiência. Dessa forma, verifi- na psicose” (Maalouf, 1998, p. 4).
cou-se neste estudo que a afetividade nas relações Como afirma Winnicott (1983c), a integração do
entre usuários e profissionais pode ser expressa por ego de um ser humano só acontece sob condições
meio de uma figura constante e presente, pois pode ambientais favoráveis; e quando o ambiente não
facilitar aos pacientes experienciar uma situação de satisfaz adequadamente às necessidades do bebê, a
previsibilidade no ambiente, e, ainda, comunicações psicose pode se configurar como uma reação a um
que em um momento de grupo ou oficina talvez não ambiente que falhou em facilitar o amadurecimento
surjam. Muitas vezes, os pacientes comunicavam humano.
suas experiências no portão ou por meio dos mate- Partindo dessa perspectiva teórica, as diferen-
riais oferecidos na sala de espera, que se mostravam ças que se colocam na intervenção das equipes dos
boas oportunidades para intervenção. turnos do CAPSi – uma privilegiando ações mais

3 O PTS refere-se às atividades desenvolvidas regularmente por cada usuário do serviço do CAPSi.

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individuais e outra valorizando mais as intervenções que manifestaram emoções de forma quase pueril”
em conjunto – poderiam facilitar a compreensão da (Schlichting e col., 2007, p. 387, grifo do autor).
complexidade do sofrimento psíquico, tendo em Assim, os autores afirmam que o profissional, ao
vista a integração dos diferentes saberes e práticas preparar o local e organizar o ritual alimentar do
em um corpo teórico-técnico unitário. No entanto, tal grupo, levando em consideração as especificidades
diferença é motivo de conflitos internos, consideran- dos sujeitos que o compõe, se dispõe ao cuidado in-
do os entendimentos de clínica que cada profissional tegral daquele grupo, disposição fundamental para
apresenta, o que pode produzir uma organização a formação do vínculo entre profissional e cliente.
da equipe de modo partido, cindido, não integrado. No caso do CAPSi, o fato de o lanche ser servido
Assim, o que poderia ser usado a favor do trata- em um determinado horário, pré-fixado e com uma
mento – diferentes espaços e intervenções compondo alimentação padronizada pode dificultar, em muitos
um todo ampliado de atendimento às necessidades casos, a disponibilidade do profissional em atender
dos usuários – mostra-se, em muitos momentos, um necessidades particulares de cada paciente, pois
desafio. Os espaços, muitas vezes, não se delineiam se pressupõem de antemão necessidades de uma
a partir das necessidades dos pacientes, mas em fun- coletividade. E a comunicação que poderia surgir no
ção da organização dos profissionais, que parecem momento da alimentação, por meio de um ambiente
não usar suas diferentes habilidades para diversifi- adequado às necessidades específicas de cada crian-
car as intervenções destinadas aos pacientes. ça e adolescente, pode se perder pela uniformidade
No que diz respeito à rotina do CAPSi, observou- da organização do momento do lanche.
-se ainda que muitas crianças e adolescentes pare- É importante, desse modo, como coloca o Minis-
ciam procurar o serviço para poderem se alimentar. tério da Saúde (Brasil, 2006, 2010), a atenção dis-
Quando chegavam ao CAPSi para atividades em pensada aos usuários, por exemplo, estar atenta aos
grupo elas recebiam lanche, que em geral, no pe- espaços utilizados pelos pacientes de modo geral,
ríodo da manhã, marcava o início do trabalho dos pois, como relatado no momento do lanche, grandes
profissionais. Normalmente, nesse momento, os possibilidades de intervenção se colocavam, uma vez
profissionais saudavam os usuários e ofereciam as que a nutrição não necessariamente se materializa
atividades. No período da tarde, de modo geral, o no alimento, mas também em uma ambiência que
lanche marcava a finalização do trabalho. forneça as condições de atenção, escuta e acolhi-
Percebe-se que no CAPSi o lanche sinaliza uma mento adequadas para atender as necessidades de
rotina para os pacientes. Para Winnicott (1994c) cada sujeito de modo particular.
precisamos estar atentos à comunicação que acom-
panha o processo de alimentação: a necessidade de As atividades desenvolvidas pelos profissionais e
alimentação de um bebê precisa ser compreendida pacientes no CAPSi
pela mãe que possa o prover. O comportamento Às crianças e aos adolescentes são oferecidas dife-
adaptativo da mãe torna possível ao bebê encontrar rentes atividades, como atendimento individual, em
no ambiente aquilo que é necessário e esperado. Es- grupos e oficinas. Em alguns momentos também são
perar, por exemplo, o movimento do bebê em direção disponibilizados materiais como papel, lápis, tinta,
ao seio mostra-se importante, pois possibilita a ele bola, fantoches, instrumentos musicais, brinquedos
encontrar o objeto de sua necessidade no ambiente. e fantasias.
Schlichting e colaboradores (2007), com o obje- De acordo com Khan (1984), é importante estar
tivo de estudar e discutir a experiência do almoço atento ao setting oferecido ao paciente, que se
como momento terapêutico em um centro de refe- caracteriza pela ambiência física proporcionada
rência e informação em alcoolismo e drogadição, pelo analista, sendo a configuração adequada às
afirmam que a preparação de um ambiente de almo- necessidades do paciente, como a mobília, a luz, a
ço adequado para mulheres alcoolistas fez emergir sala, e a presença do analista, pois pode possibilitar
temas de trabalho no grupo: “o setting do almoço a emergência de necessidades que em um momento
trouxe à tona necessidades sentidas pelas mulheres anterior do desenvolvimento não foram satisfeitas.

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Pensando no paradigma da mãe que cuida do Mais uma vez, destaca-se a importância apresen-
seu bebê, os elementos que configuram a ambiência tada pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2006, 2010)
podem facilitar o estabelecimento das primeiras da atenção dispensada ao usuário, pois apenas
relações objetais, uma vez que o bebê pode começar dessa forma pode-se perceber os objetos com que
a se relacionar com o mundo externo através da os pacientes fazem vínculo, a fim de se oferecer um
apresentação de objetos. Como esclarece Winnicott ambiente adequado às suas necessidades.
(1983c): Avellar (2004) afirma que, muitas vezes, em
o padrão é o seguinte: o bebê desenvolve a expec- atividades lúdicas pode-se promover um setting ade-
tativa vaga que se origina em uma necessidade quado às necessidades de crianças e adolescentes.
não-formulada. A mãe, em se adaptando, apresenta Uma vez que esses pacientes apresentam uma forma
um objeto ou uma manipulação que satisfaz as ne- peculiar de comunicar seu sofrimento psíquico, a
cessidades do bebê, de modo que o bebê começa a intervenção verbal nem sempre é o instrumento
necessitar exatamente o que a mãe apresenta. Deste mais eficaz. Para a autora, o trabalho com crianças
modo o bebê começa a se sentir confiante em ser requer do analista uma disponibilidade lúdica, per-
capaz de criar objetos e criar o mundo real (p. 60). mitindo que o material do paciente surja de forma
espontânea, baseado na relação de confiança que
Dessa maneira, as atividades e os materiais for- se estabelece em função dos cuidados oferecidos
necidos no ambiente do CAPSi podem possibilitar pelo analista e dos objetos disponíveis no ambiente.
às crianças e aos adolescentes encontrar objetos de Ainda, no conjunto de atividades oferecidas às
necessidade. Assim, é importante que os profissio- crianças e aos adolescentes apresentam-se as ofici-
nais estejam atentos ao que é disponibilizado aos nas que podem ser: de culinária, de artes, de histó-
pacientes, pois, na perspectiva de Winnicott (1983c), rias e de criatividade, além de grupos de expressão
se é fornecido ao bebê o objeto necessitado, no lugar e grupos com adolescentes. Alguns profissionais
em que ele esperava algo, ele pode criar o que estava tentam definir as atividades dos grupos e oficinas di-
ali para ser encontrado. zendo que não são sem direção, mas que apresentam
Portanto, observar a necessidade do paciente e os especificidades de tarefas de acordo com o grupo que
materiais com que ele faz vínculo e consegue se ex- se forma. Segundo eles, em algumas oficinas não
pressar mostra-se fundamental para comunicações há nada estruturado previamente, mas afirmam:
significativas. Em certa ocasião, por exemplo, uma as crianças e os adolescentes fazem alguma coisa.
criança que normalmente não gostava de conversar Atender à demanda dos pacientes a cada dia de
e apresentava comportamento bastante desafiador, trabalho, levando em consideração as especificida-
engajou-se em uma atividade com instrumentos des de cada sujeito que compõe o grupo, mostra-se
musicais. um trabalho que valoriza a individualidade. Porém,
Entretanto, alguns profissionais o retiraram des- a falta de regras de funcionamento das oficinas pode
sa atividade para realizar um jogo da memória com o prejudicar o engajamento de alguns usuários, uma
nome dos pacientes. O jogo da memória, naquele mo- vez que, de acordo com Maalouf (1998), normas e
mento, trouxe um caos para os atendimentos, pois regras podem funcionar como organizadores que
os usuários não se engajaram, parecendo atender a estabelecem limites aos pacientes, possibilitando
uma necessidade dos profissionais por fazer alguma o estabelecimento de um enquadre mínimo para a
intervenção, marcadamente associada à educação e atividade realizada e seus participantes. Segundo o
aos ensinamentos formais. autor, as oficinas devem oferecer a possibilidade de
Com esse episódio pode-se destacar a impor- criação de vínculo, intervenção, escuta, acolhimento
tância de se atentar aos materiais oferecidos aos e cuidado. Os recursos utilizados nas oficinas têm
pacientes em um serviço de saúde mental, pois eles por objetivo construir uma ambiência entre os pro-
podem possibilitar às crianças e aos adolescentes o fissionais e as crianças, através da sustentação, do
encontro de objetos que satisfaçam suas necessida- “holding”.
des, contemplando o ato de criar a realidade. Para Winnicott (1983b) o “holding”consiste não

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apenas o segurar físico de um bebê, mas toda a de limites dificultavam as atuações dos profissio-
provisão ambiental oferecida a ele, que possibilita nais, atrapalhando o estabelecimento de manejo
experiências totais de começo, meio e fim. Assim, e “holding” adequados. Esse contexto reduzia as
as oficinas podem oferecer um contorno, uma sen- intervenções ao disciplinamento e à ordem.
sação de ser sustentado em um ambiente seguro, o Certa vez, tendo em vista a agitação das crianças,
que para o autor possibilita ao bebê desenvolver-se os profissionais mencionaram que iriam ver qual
com a confiança de que o ambiente irá prover suas a lua do dia. Tal fato também foi mencionado por
necessidades. Maalouf (1998):
As oficinas possibilitam não apenas o “holding”, Quando dizíamos, nos dias em que as crianças esta-
sustentação de experiências, mas também manejo vam muito agitadas: ‘as bruxas estão soltas’, ‘hoje
(“handling”), através de uma adaptação ambiental é dia de lua cheia’, na realidade não era isto que se
adequada às necessidades do paciente. Winnicott processava, é claro, mas eram os momentos de caos
(1994d) salienta a importância de quem fornece os e de fragmentação da equipe que se refletiam no tra-
cuidados ao bebê atentar tanto para os aspectos físi- balho e vice versa. A contratransferência psicótica
cos, manejando o corpo do bebê, quanto aos aspectos fisgava a equipe ou parte dela e as capacidades de
psíquicos, lidando com as necessidades do bebê pensar, de ser terapeuta, cuidar, sustentar ficavam
como pessoa. Estar confiavelmente à disposição, perdidas. A não-integração das crianças propiciava
na hora certa, ou ainda preocupar-se em manter o momentos muito fragmentados, o que desorgani-
espaço físico com temperatura adequada implica zava os profissionais. Operávamos ainda com um
uma comunicação que pode atender às necessidades referencial causalista, determinista, explicativo,
básicas da pessoa de quem se cuida. quando muitas vezes não havia uma ou várias
A sustentação (“holding”) e o manejo (“handling”) causas para a situação caótica ou aflitiva, se não
possibilitam não apenas uma ambiência adequada o próprio momento de vida e de existência que as
às necessidades do paciente em seus aspectos físicos crianças viviam (p. 84).
e psíquicos, mas também possibilitam a integração.
A falta desses cuidados primários no desenvolvimen- Como coloca Maalouf (1998), muitas vezes os
to de um bebê leva a uma organização defensiva, o profissionais são “engolidos” pela desorganização
que está relacionado a um meio ambiente facilitador dos pacientes, pela fragmentação que a psicose
ineficiente, o que para Winnicott (1994a) ocorre na apresenta, incapacitando-os de pensar e intervir.
doença psicótica: As intervenções em saúde mental para crianças
e adolescentes mostram-se desafiadoras e difíceis,
através do cuidado suficientemente bom, através seja pela falta de parâmetros na atenção psicossocial
das técnicas, da sustentação e do manejo geral, a ou pela complexidade no lidar com a loucura, que,
casca passa a ser gradualmente conquistada, e o muitas vezes, como assinala Winnicott (2000b),
cerne (que até então nos dava a impressão de ser captura o ambiente.
um bebê humano) pode começar a tornar-se um Uma intervenção adequada pode ocorrer através
indivíduo (Winnicott, 2000a, p. 166). da presença e disponibilidade de escuta do profis-
Assim, nas oficinas, preparar a ambiência sional. Certa vez, um profissional conversou com
relaciona-se a oferecer um ambiente físico adequa- um adolescente, dizendo que achava que ele deveria
do à atividade proposta, de modo que se possibilite falar de si, de sua casa, seus problemas, pois frequen-
sustentação em um tempo e espaço organizados, tava muito o CAPSi, mas passava por ali e ia embora.
com a presença de uma pessoa disponível para O profissional esclareceu ao adolescente que o espa-
comunicar-se com os pacientes, de maneira que os ço do serviço deveria servir para ajudá-lo de alguma
cuidados iniciais, que foram deficientes, possam forma, acrescentando que estaria à disposição para
ser oferecidos de forma adequada, permitindo um ouvi-lo. O adolescente saiu por alguns minutos do
desenvolver-se sobre bases saudáveis. serviço, depois voltou e solicitou a conversa com o
Contudo, observou-se que em algumas oficinas profissional.
o caos, a agitação motora, a agressividade e a falta Nesse caso observa-se que o profissional fez um

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movimento no sentido de acolher e escutar a comu- vidades e os materiais fornecidos no ambiente do
nicação do paciente, e após sinalizar sua disponi- CAPSi e os materiais com os quais os pacientes
bilidade e sua presença, aguardou o movimento do fazem vínculo, pois podem possibilitar às crianças e
adolescente. Como no Jogo do Rabisco, apresentado aos adolescentes encontrar objetos de necessidade,
por Winnicott (1984), é preciso criar meios de se fundamentais para a expressão de comunicações
conseguir entrar em contato com o paciente. No Jogo significativas que por outras vias seriam de difícil
do Rabisco o analista faz um rabisco e espera que a expressão.
criança se movimente no sentido de construir algo Neste estudo observou-se que a ambiência na
com aquele rabisco, a fim de comunicar elementos atenção psicossocial infanto-juvenil não se constitui
de sua experiência. Para tanto, a disponibilidade do apenas pelo ambiente físico adequado à atividade
analista é fundamental, pois faz um gesto e aguarda proposta aos usuários, mas também se compõe na
o gesto do paciente, esperando que o material comu- sustentação fornecida pelo profissional à atividade,
nicado possa ser utilizado no trabalho terapêutico. em um tempo e espaço, e no manejo fornecido por
Para alguns pacientes os cuidados oferecidos meio de uma adaptação ambiental adequada às
pelo profissional, como a provisão e a manutenção necessidades dos pacientes.
do setting, são mais importantes do que o trabalho
interpretativo. Nesses casos o ambiente terapêutico
deve possibilitar a regressão a necessidades que não
Considerações finais
foram satisfeitas no início de seu desenvolvimen- O Ministério da Saúde, ao instituir a ambiência
to, para que agora sejam providas e significadas como um dos aspectos da política de humanização
(Winnicott, 1994b). Assim, é preciso estar atento ao do SUS, apresenta a importância de se considerar o
setting que se traduz nos cuidados de preparação ambiente como promotor de saúde. Na área da saúde
das atividades no CAPSi, pois podem facilitar o mental, nos novos serviços substitutivos ao modelo
estabelecimento de comunicação. psiquiátrico, a ambiência destaca os espaços do
Crianças e adolescentes com transtornos men- serviço como facilitadores do processo terapêutico,
tais graves ainda estão historicamente associados uma vez que pode influenciar a construção das ações
a padrões de intervenção da assistência social e da de cuidado.
educação que pressupõem tutela e disciplina. Entre- Nessa perspectiva a teoria de Donald Woods
tanto, os novos serviços de saúde mental colocam em Winnicott pode facilitar a compreensão da função
questionamento tais intervenções, exigindo novas do ambiente no desenvolvimento psíquico da pes-
formas de atuação. soa, possibilitando a discussão sobre elementos
A ambiência, como tema deste trabalho, apre- que constituem uma ambiência apropriada em um
senta a possibilidade de se pensar nas intervenções trabalho terapêutico. A presença, a atenção aos
constituídas nesses novos espaços de atenção à objetos disponíveis nos espaços, a sustentação e o
saúde mental, evidenciando que a organização do manejo das atividades, por exemplo, são aspectos
ambiente do serviço de saúde pode apresentar ele- importantes na constituição da ambiência na aten-
mentos facilitadores ao trabalho terapêutico, tais ção psicossocial.
como: a presença constante e frequente de alguém O CAPSi, como um novo serviço de saúde men-
que poderá cuidar do ambiente acolhendo necessida- tal, permite a circulação de modo mais livre dos
des inesperadas; a interação entre os profissionais, usuários pelos espaços do serviço, o que apresenta
uma vez que as intervenções podem se delinear em novas possibilidades de interação entre usuários
função da organização dos seus diferentes conheci- e profissionais. A liberdade na utilização dos es-
mentos; a atenção aos espaços utilizados pelos pa- paços pode trazer ao paciente e a seus familiares
cientes, a fim de se constituir um setting adequado maior confiança de que as suas necessidades serão
às necessidades dos usuários, em que experiências atendidas, uma vez que o acesso facilitado a dife-
significativas possam ser comunicadas. rentes elementos do ambiente podem possibilitar a
Ainda, mostrou-se importante observar as ati- compreensão da significação que o sujeito faz de si

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mesmo e do mundo, promovendo a comunicação de -se possível, quando se observa as necessidades
estados psíquicos por meio da utilização de objetos que as crianças e os adolescentes apresentam e
do ambiente, que de outro modo seriam de difícil os materiais com que fazem vínculo e conseguem
articulação. se expressar, possibilitando a comunicação de
Além disso, considerando as interações constitu- experiências a partir da presença e da escuta do
ídas entre profissionais e pacientes, uma presença profissional, facilitando o desenvolvimento de um
constante dos profissionais nos espaços do serviço, trabalho terapêutico.
com disponibilidade de escuta, mostra-se importan-
te para pacientes com quadros psicóticos, pois traz
Referências
a possibilidade de experimentarem um ambiente
previsível e confiável, em que há alguém para cui- ABRAM, J. A linguagem de Winnicott: dicionário
dar do ambiente, mesmo nos imprevistos, diferente das palavras e expressões utilizadas por Donald
daquele ambiente que falhou no provimento das W. Winnicott. Rio de Janeiro: Revinter, 2000.
necessidades iniciais. AVELLAR, L. Z. Jogando na análise de crianças:
Constatou-se ainda que a ambiência em um ser- intervir-interpretar na abordagem winnicottiana.
viço de saúde pode ser influenciada pelos diferentes São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
profissionais que a estruturam e pela interação que
AVELLAR, L. Z. A pesquisa em psicologia clínica:
estabelecem, tendo em vista seus diferentes objetos
reflexões a partir da leitura da obra de Winnicott.
de estudo e intervenção. Assim, uma equipe formada
Contextos Clínicos, São Leopoldo, v. 2, n. 1, p. 11-17,
por vários profissionais deve priorizar um trabalho
2009.
integrado, de modo que os diferentes conhecimentos
possam facilitar a compreensão sobre os processos BECKER, H. S. Métodos de pesquisa em ciências
de adoecimento do ser humano, visando constituir sociais. São Paulo: Hucitec, 1997.
um ambiente adequado ao processo terapêutico, di- BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução
ficultando a reprodução, nas relações profissionais, nº 196, de 10 de outubro de 1996. Diretrizes
da fragmentação constitutiva da psicose. e normas regulamentadoras de pesquisas
As atividades desenvolvidas no CAPSi devem envolvendo seres humanos. Diário Oficial da
visar à estruturação de um ambiente seguro e con- República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16
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sentação de objeto os profissionais podem fornecer gov.br/docs/Resolucoes/Reso196.doc>. Acesso em:
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às necessidades das crianças e dos adolescentes.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-
Dessa forma, as oficinas e os atendimentos indivi-
Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de
duais devem ser oferecidos pelos profissionais como Humanização. Humaniza SUS: Política Nacional
possibilidade de sustentação de uma situação em de Humanização: a humanização como eixo
que se possam comunicar experiências e vivenciar norteador das práticas de atenção e gestão em
novos ambientes. todas as instâncias do SUS. Brasília, DF, 2004.
Para Winnicott a possibilidade de intervenção
está em um setting que permite ao paciente regre- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
dir ao momento de seu desenvolvimento em que o Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política
ambiente falhou em atender adequadamente suas Nacional de Humanização. Humaniza SUS:
necessidades, para que sejam cuidadas e possam documento base para gestores e trabalhadores do
dar possibilidade de existência com significação. SUS. Brasília, DF, 2006.
Dessa forma, a sua teoria nos permite refletir sobre BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
a constituição da ambiência na atenção psicossocial Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política
infanto-juvenil, tornando claro que oferecer uma Nacional de Humanização. Ambiência. Brasília,
ambiência adequada nos serviços de saúde mostra- DF, 2010.

1056 Saúde Soc. São Paulo, v.22, n.4, p.1045-1058, 2013


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Recebido em: 21/04/2012


Reapresentado em: 18/12/2012
Aprovado em: 05/03/2013

1058 Saúde Soc. São Paulo, v.22, n.4, p.1045-1058, 2013

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