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Pedro: Em sua biografia, você menciona que foi químico especialista em biologia
antes de ser palhaço. O que deu de errado nesse percurso que o tirou de um
caminho promissor?
Avner: No ensino médio eu era um nerd de matemática e ciência. Minha
graduação, quando estava na faculdade, era biologia e química, e eu achei que
trabalharia com animais, talvez como veterinários de animais selvagens. Cobras
eram um interesse especial.
Quando fui pego por uma tempestade, o prédio no qual me abriguei acabou sendo
o de teatro. Eu encontrei um amigo que estava fazendo um teste para uma peça,
então acompanhei ele e acabei conseguindo o papel. A peça era Machiavelli and
the Mandrake, uma versão de Mandrágora por Machavelli. Está sendo um
maravilhoso “escorregão” desde então.
Pedro: Como foi que seus pais o “forçaram” a ser artista? Qual foi a participação
da sua família em sua escolha profissional?
Avner: Era para ser entendido como uma piada. Eles sempre me apoiaram.
Pedro: Nos anos 70, você foi preso em Paris por “cometer” bufonaria em público.
Como isso aconteceu? Por que a bufonaria era considerada crime? Ainda é?
Avner: Em 1972, um amigo e eu montamos um pequeno show de rua enquanto
estudávamos na Lecoq School of Gestural Theater (Escola Lecoq de Movimentação
Teatral) em Paris. Era um belo dia de primavera e nós fomos à fonte abaixo do
Palais de Chaillot para performar e passar o chapéu. De repente, nós fomos
cercados pela polícia e empurrados para a viatura enquanto a plateia gritava “Não,
não, não!”
Ficamos detidos por várias horas e, eventualmente, liberados com uma citação nos
acusando de “Bufonaria em Público”. Com esse incentivo oficial, continuei a minha
jornada.
Pedro: Por que você decidiu partir para o encontro com Jaques Lecoq? Como essa
experiência mudou o entendimento que você já tinha do que é ser palhaço?
Avner: Eu me formei em Teatro. Eu estava interessado em continuar minha
carreira em mímica, e inicialmente gostaria de estudar com Marceau em Paris, mas
não consegui achar seu endereço. Eu tinha visto uma palestra/demonstração de
Jacques Lecoq em Nova York, onde estudei técnica de teatro e design por um ano.
Então, eu me candidatei e fui aceito em um processo de 3 meses de teste com a
intenção de me concentrar em mímica. Clown era só um curso de um mês na
escola. Eu fui pego por isso e incorporei todas as minhas habilidades performáticas
que eu vinha aprimorando. Eu mantive a mímica por longos anos, mas
eventualmente parei de fazê-la em favor do show.
Pedro: Como foi lecionar na Dell’Art School em plenos anos 70, enquanto o
mundo vivia o movimento da contracultura, justamente surgido na Califórnia? O
que significava ser palhaço nesse contexto?
Avner: Eu nunca me identifiquei enquanto Clown. Eu tinha retornado
recentemente de meus estudos na França e estava explorando possíveis formatos
para show solo enquanto lecionava. Foi nesse período, apesar de não saber
naquele tempo, que comecei a minha pesquisa sobre a relação entre performer e
plateia.