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Eifitipt1 th‘ fttuttiwã**

Sttt*t'} visQo eH ium ui J. G u in s h u rg


A tx rx io ria etfiiortu! PEinio M a rtin s Filhei
Revixiitt Itip r id R j s í Eío c O íg a C a fo k c h io
Triittu\‘<io M a ria l*íiu la V. Z u ra w s k i.
J. G u m s h u rg . S érgio G t*tlh a c C ló v is G arviu
liutirr S a ndra M a n h a D o l ci%sky
CnfH* t- P ro je ta G ráfico A d ria n a G arcia
PriutifçtHt R ic a rd o W . Neves. A tinaria G aieia c Hcria M a ria Lopes
História Mundial
do Teatro
MARGOT BERTHOLD

EDITORA PfRSPtC TIV A


T

T ím lo do original cm alemiin i
WcUgpschictifv dçs T hciU a s

I% S hy Alfred Krõner Verlag 111 Siultgart

Dados Imcrnacúmais de C ataln^tçio na PuM icaçao íC IP)


(Câmara Urasi [eirado [.ivro. SP, R kisíí )

U criliold, Muvgot
iTistôria M undial Jti Teatrof M n rg tu B c rllm ld ;
[iradnçáo M aria Paula V. /.u ra u s k i, i. C uitisburg,
Sérgio Coelho e C lóvisG a rdn ], — Sã» P a u lo :
PurSpceliva, 2001.

Título original: V-rltgcsd lic h ie des Theaters


Bibliografia,
1SRN fí5-273-022fi'-l

1, Teatro- História I. T itu lo

0Í-3A 50 CT>D-7^2.li'J

índices fiara catálogo sistemático:


I . Teatro m undial: Arte d u n u iíica : H istória
79Z.UM

I*1 edição • l* reimpressão

D irei los reservados em língua portuguesa :i


E D IT O R A P E K 5 P E C T IV A S .A .
Av. Brigadeiro Luís AnitVnío, 3025
01401-000 - Sao Paulo - S P - B rasil
T cltfax; ( I I ) 3&S5-S3WK
w uw, ed iiora persisti va. un m ,br
20D]
Sumário

S o b k f í-s t .v E m ç Ã il - J . G u in s b t t r g . . K agura..................................................
G ig a kti.................................................. 78
Pr e f á c io ............................................................. B ugaku.............................. ...................
O T eatro P r im it iv o .....................................
Sarugaku e Dengakti. Precursores do
N ô . .................................................... 8*1
Ecnti E A ntigo OmENTl: .......................... 7 N ô ........................................................... 81
Introdução............................................ 7 K yo g r»..................................................
Egito....................................................... S O Teatro de B o n eco s........................... 87
M csopotâm iu....................................... 16 K a b u k i.................................................. 90
S h im p a.................................................. 99
As C ivilizações Islâm icas ........... .......... 19 àVihijçeJti................................................ 99
Introdução............................................ 19
G récia ...........................................................103
P érsia...................................... 20
Turquia............. ............................. 23 In trod u ção ................................ 105
T rag éd ia................................................104
As Civ iu/_Açons I.suo-P aciitc-v s ______ 29 C om édia..................................................118
Introdução..................................... 29 O Teatro H elenistico.............................130
índia......................................................... 32 O M im o .................................................. 136
Indonésia....................................... 44R om a .................................... 139
C hina............................................................. 53 In trod u ção ......................... 139
Os Ludi Romani, o Teatro da Res
Introdução.............................. 53
Publica................................................ 140
Origens e os "Cem Jo g o s "................... 54 Comedia Romana .................................144
Os Estudantes do Jardim das Peias . . 58 Do Tablado de Madeira ao Edifício
O Caminho pal a o D ra m a ................... 61 C ê n ic o ................................................)4jj
Drama dn Nnne e Drama do Sul . . . . (51
O Teatro na Roma im p erial............... 13 1
A Peça Musical do Período Ming . . . 66 O Anfiteatro: Pão e Circo....................| jç
A Concepção Artística da Ópera' de
A Fábula A telann................................... if,|
P ^ u i m .............................................. 66
Mimo e Pantom im a...............................[62
O Teatro Chinês Hoje ......................... 70
Mimo Cr isto ló g ico ................ ](,7
J apão.............
B izàntto...................................... ]7 j
Im rod iição in tro d u ção ..............................................171
H istória , i , : tio T e a tr o

Teatro sem D ra m a ............................. 172 Conmtedia deli'tine e Teatro


Teatro na A re n a ................................. 177 P o p u lar............................... 353
O Teatro na Igreja ............................. 178 O Teatro Barroco E sp an h o l................. 367
O Teatro na C orte............................... IK1 Os Atores A m bulantes.......................... 374

A Idade M iio ia ..................... ................. 185 A E ra da C i d a d a n ia Burguesa................. 381


Introdução.......................................... 185 Introdução .............................................. 381
Representações Religiosas...................186 O Iluminismo...................... 382
Autos Profanos....................................242 Classicismo A lem ão.............................. 413
Romantismo........................................... 429
A R enascença......................... 269 Realismo ..................................... 440
Introdução............................................ 269
O Teatro dos Humanistas.....................270 Dt) N ATURAI ISMO AO PRESENTE ..................451
Qs Festivais da C o rte...........................292 Introdução............................................451
O Drama E scolar................................. 300 O Naturalismo C én ico ..........................452
As Redertjkcrs ...................................... 304 A Experimentação de
Os Meisteminger ..................................308 Novas F o rm a s.............................. . 462
O Teatro Elizabcluno...........................312 O Teatro E ngajado................. 494
57/ua- Business na Bmadvvay...............513
O B arroco ....................... 323
O Teatro Como Experim ento...............519
Introdução............................................323 O Teatro em Crise ? .............................. 521
Opera e Singspiel..................................324 O Teatro e os Meios de Comunicação
O Bnllft tlc Com ................................. 330 de M a s s a ........................................... 523
Bastidores Deslizantes e Maquinaria O Teatro do D ire to r.............................. 529
de Palco .................................... 333
O Teatro Jesuíta . ..................................338 Biuliikirai i a ................................................541
França: Tragédia Clássica e Comédia
de C aracteres.................... 344 Í n iiic e .............. 553

VIII
Sobre esta Edi ção

Em principio, uma História do Teatro pode e nas ciên c ias. -Sob este ângulo, Margot
ler a amplitude da pesquisa e da redação que Berthoid realizou um trabalho notável com sua
seu autor lhe der. Compor uma crónica e uma História Mttiidial do Teatro, integrando, dc
análise do que foi o desenvolvimento da arte uma maneira que se poderia dizer primorosa,
dramática através do tempo, de seus momen­ a busca documental, o registro ocorrência! e o
tos mais significativos c de suas realizações poder de síntese escriturai. Na verdade, este
rnais dignas de permanência como memória volume c de uma abrangência surpreendente
de um passado, ou como atualidade de uma que faz um jogo muito bem equilibrado entre
função, poderia ocupar uma biblioteca de estética e história, indivíduo criador e socie­
A lexandria ou. como ocorre tam bém , um dade condicionante e recepcionante. de modo
resuminlto na Internei. O difícil é reunir num que, com u sua riquíssima iconografia, ela po­
só conjunto de algumas centenas de páginas, derá atender, sobretudo com respeito aos perío­
portanto, ao alcance de qualquer leitor inte­ dos mais representativos da evolução do tea­
ressado ou estudioso do lenta um apanhado que tro. ás necessidades de informação e discus­
dê conta, critica e historicamente, deste vasto são de seu leitor. Isto por si pareceu à Editora
universo de realizações c criações que se ins­ Perspectiva, que já seria um fator a recomen­
creve no histórico e no sentido do existir do dar plenamente sua publicação ent língua por­
homem neste mundo e de sua transcendência tuguesa e, apesar das dificuldades de sua tra­
em relação as condições e os requisitos mais dução e dos cuidados exigidos poi sua edição,
primários para o seu viver, isto é, o da sua ca­ o que importou em um longo trabalho de nos­
pacidade de criar objetos inexistentes na natu­ sa equipe, é com grande prazer que nos c per­
reza bruta e elaborar o Seu espírito em feições mitido dizer: Aqui está uma obra de importân­
cada vez mais novas, como é o caso do pape! cia para a biblioteca teatral brasileira.
de suas varias expressões na cultura, nas artes J Gttiivtlmrs
Prefáci o

Nuin;i das ti inJiciíinms cernis da Conunc- some a si mesmo no próprio alo de criai a luz.
dia (k'lt'une, um bufão aparece em cera e len­ Enquanto um quadro ou estátua possuem exis­
ta vender uma casa, elogiando-a grandenieiue. tência concreta uma vez terminado o atu de
descrevcndo-a com brilho c. para provar seu sua criação, um espetáculo teatral que termina
ponto de vista, apresenta uma li nica pedra da desaparece imediatumenle no passado.
construção. Etnhora o teatro não seja um museu, as
Da mesma forma, falar do teatro do mundo múltiplas formas contemporâneas de teatro
é apresentar uma única pedra c esperar que o constituem algo como um imiser iniagiimire:
leitor visualize a estrutura total a partir dela. O um tnii-iêV inm ginaire capaz de ser trans­
sucesso de unia tentativa como essa depende da formado em experiência imediata. Todas as
capacidade de persuadir do buluo, da força ex­ noites oferecem-se ao homem moderno dra­
pressiva da pedra e da imaginação do leitor. mas, encenações c métodos de direção que
Escrever um livro sobre o teatro do mun­ foram desenvolvidos ao longo dos séculos.
do é uma tarefa ousada. O esforço para desco­ E sses elem entos são adaptados ao gosto
brir. denlro do panorama heterogéneo, os deno contemporâneo: são estilizados, objetificadus.
minadores comuns que curacterizam o fenôme­ estilhaçados, rcliabalhados. Diretores e ato­
no do "teatro" através dos tempos representa res recriam-nos; os autores reformulam temas
um grande desafio. A estrutura necessariamen­ tradicionais cm adaptações modernas. Deter­
te restrita de um estudo como esse impõe minados reformadores quase destroem o tex­
seletividade, omissões, concisão, colocando to de certas peças, introduzindo efeitos agres­
assim fatores subjetivos em jogo. A própria sivos e criando o teatro lotai, improvisado.
natureza última do assunto (orna a objetivida­ Um esforço bem-sucedido enfeitiça o espec­
de difícil. Os problemas surgem tio logo é fei­ tador. cria resistência, provoca discussões e
ta uma tentativa de se ir além do que é pura- faz pensar.
menle fntual e apreender os traços que carac- Nenhuma forma teatral, nenhum antiteaim
terizam uma época. Contudo, é precisamente é tão novo que não leolta analogia tio passado.
nesse ponto que a fascinação pelo processo ar­ O teatro conto provocador .’ O teatro em crise?
tístico do teatro começa: o leitor c então colo­ Nenliiim:i dessas questões ou pmhiemas são
cado face a face com a exigência não expressa especifica mente modernos: todos surgiram nu
de prosseguir, por conta própria, nos assuntos passado. O teatro pulsa de vida e sempre foi
merameme tocados. vulnerável às enfermidades da vida. Mas não
0 mistério do teatro reside numa aparen­ há razão para se preocupar, ou para previsões
te contradição. Como uma vela, o lenlm con­ como as de Cassandiu. Enquanto o teatro for
H i f i ô r i n M u n t t i í i í ti o 7 \ - • r/; .

começado, combalido —e as mentes criticas placente. Mas um teatro que movimenta a


têm feito isSo sempre —, guardará seu signifi­ mente é uma membrana sensível, propensa à
cado. Um teatro de não-controvérsia poderia febre, um organismo vivo, E c assim que ele
ser um museu, uma instituição repetitiva, com­• deve ser.

• Xli
O Teatro Primi ti vo

O teatro é tão velho quanto a humanida­ triste nulidade da incapacidade humana. O sé­
de. Existem formas primitivas desde os pri­ culo XX pratica a arte da redução. Qualquer
mórdios do homem. A transformação numa coisa além dc uma gesiuahzação desamparada
outra pessoa é uma das formas arquetípicas da ou um ponto de luz tende a parecer excessiva.
expressão humana. O raio de ação do teatro, Os espetáculos solo do mímico Mareei
portanto, inclui a pantomima de caça dos po­ Marccau são um exemplo soberbo do teatro
vos da idade do gelo e as categorias dram áti­ atemporal, l-ornecem-nos vislumbres de pes­
cas diferenciadas dos tempos modernos. soas dc lodos os tenrpos e lugares, da dança e
O encanto mágico do teatro, num sentido do drama de culturas antigas, da pantomima
mais amplo, está na capacidade inexaurível de das culturas altamente desenvolvidas da Ásia,
apresenlar-se aos olhos do púhlico sem reve­ da mímica da A ntiguidade, da Commedia
lar seu segredo pessoal. O xamã que c o jiorta- deli'arte. Num trabalho intitulado "Juventu­
voz do deus, o dançarino mascarado que afas­ de, Maturidade, Velhice, Morte", alguns pou­
ta os demónios, o ator que Iraz a vida à obra cos minutos é tudo de que Marccau necessita
do poeta - todos obedecem ao mesmo coman­ para um retrato em alta velocidade da vida do
do, que ê a conjuração de uma outra realida­ homem, e nele atinge uma intensidade avas­
de, mais verdadeira. Converter essa conjura­ saladora de expressividade dramática elemen­
ção em "teatro1' pressupõe duas coisas: a ele­ tar. Como o próprio Marccl diz. a pantomima
vação do artista acima dos leis que governam é a "arte de identificar o homem com a nature­
a vida cotidiana, sua transformação no media­ za e com os elementos próximos de nós". Ele
dor de um vislumbre mais alto; e a presença continua, notando que a mímica pode "criar a
de espectadores preparados para receber a ilusão do tempo". O corpo do ator torna-se um
mensagem desse vislumbre. instrumento que substitui uma orquestra intei­
Do ponto de vista da evolução cultural, a ra. Uma modalidade para expressar a mais pes­
diferença essencial entre formas de teatro pri­ soal e, ao mesmo tempo, a mais universal men­
mitivas e mais avançadas é o numero de aces­ sagem.
sórios cênicos ã disposição do ator para ex­ O artista que necessita apenas de seu cor­
pressar sua mensagem. O artista de culturas po para evocar mundos inteiros e percorre a
primitivas e primevas arranja-se com um cho­ escala completa das emoções f representativo
calho de cabaça e uma pele de animal; a ópera da arte de expressão primitivado teatro. O pré-
barroca mobiliza toda a parafernália cênica de histórico e o moderno manifestam-se em sua
sua época. lonesco desordena o palco com ca­ pessoa. Discutindo o teatro das tribos primiti­
deiras e faz uma proclamação surda-muda da vas em seu livro Ceiuilorti. Oskar Eberle diz:
H i s t ó r i a M a n d iu l t i o T tU itro

O ícairo primitivo real é arte jncor[*HjuLi na forma religião, a etnologia e o folclore olerccem um
humana c abrangendo hhla& a$ fussibilUtodes do corpo material abundante sohre danças rituais e fes­
informado pelo cspíriht; ele c, simuluineamcnlc. a mais
primitiva o a mai& mulliforme, e de (|uak|tier maneira a tivais das mais diversas formas que carregam
liwis velha arte da humanidade Por essa razào ê ainda a cm si as sementes do teatro. Mas o desenvol­
maIS humana, a inais comoveme arte. Arlc imortal. vimento e a harmonização do drama c do tea­
tro demandam forças criativas que fomentem
Podemos aprender sobre o teatro primitivo seu crescimento; é também necessária uma
pesquisando três fontes: as tribos aborígines, que auto-afirmação urbana por parte do indivíduo,
têm pouco contato com o resto do inundo e cujo junto a uma superestrutura metafísica. Sem­
estilo de vida e pantomimas mágicas devem por­ pre que essas condições foram preenchidas
tanto ser próximos daquilo que nós presumimos seguiu-se uru florescimento do teatro. Quanto
ser o estágio primordial da humanidade; as pin­ ao teatro primitivo, o reverso do seu desen­
turas das cavernas pré-históricas e emalhes em volvimento implica que a satisfação do vis­
rochas e ossos; c a inesgotável riqueza de dan­ lumbre superior, em cada estágio, era conquis­
ças mímicas e costumes populares que sobrevi­ tada ãs custas de alguma parte de sua força
veram pelo mundo afora. original,
O lealro dos [xivos primitivos assenta-se E fascinante traçar esse desenvolvimemo
no amplo alicerce dos impulsos vitais, primá­ pelas várias regiões do mundo c ver como,
rios, retirando deles seus misteriosos poderes quando e sob que auspícios ele se deu. H;í cla­
de magia, conjuração, metamorfose - dos en­ ra evidencia de que o processo sempre seguiu
cantamentos de caça dos nómades da Idade da o mesmo curso, Hoje está completo em quase
Pedra, das danças de fertilidade e colheita dos toda pane. c os resultados são contraditórios.
primeiros lavradores dos campos, dos ritos de Nas poacas áreas intocadas, onde as tribos
iniciação, totemísmo c xanianismo e dos vários aborígines têm ainda de levar a cabo o proces­
cultos divinos. so, a civilização moderna provoca saltos er­
A forma e o conteúdo da expressão tea­ ráticos, mais do que um desenvolvimento equi­
tral são condicionados pelas necessidades da librado
vida e pelas concepções religiosas. Dessas con­ Para o historiador de lealro, um estudo das
cepções um indivíduo extrai as forças elemen­ formas pré-históricas revela paralelos sinó-
tares que transformam o homem em um ineio ticos que o seduzem a traçar o desenvolvimento
capaz de transcender-se c a seus semelhantes. da humanidade mediante o fenômeno do "tea­
O homem personificou os poderes da na­ tro". Conquanto nenhuma outra forma de arte
tureza. Transformou o Sol c a l.ua, o vento e o possa fazer essa reivindicação com mais pro­
mar cm criaturas vivas que brigam, disputam priedade, c também verdade que nenhuma
e lutam entre si e que podem scr influenciadas outra fornia de arte é Ião vulnerável ã contes­
a favorecer o homem por meio de sacrifícios, tação dessa reivindicação.
orações, cerimónias e danças. A forma de arte começa com a epifania
Não somente os festivais de Dioníso da do deus e. em lermos puramente utilitários,
antiga Atenas, mas a Pré-história, a história da com o esforço humano para angariar o favore­
ci mento e a ajuda do deus. Os ritos de fertili­
dade que hoje são comuns entre os índios
Cherokees quando semeiam e colhem seu mi­
lho têm seu contraponto nas festividades da
corte japonesa, mímica c musicalmcnte mais
sofisticadas, em honra do arroz: assemelliam-
se também ao antigo festival da espiga de tri-

1. PttiTLlru riu rocha nn [irc-rj dc ( i ç . L sul L - j .1


Espttnhu; , c r . de c.ir ,. ri- ;.:: Período P.ilc:: í'I,
£lltldo H Brcuil.
* 0 Te atru P r i m i t i v o

2. Pinnuy de cavptnj iu> s>i1 du hiun^a- n ‘'Fcilioci*


rd" de Truiu Frèiev PiTÍtwlr» PuJcolíiico, segundn H.

go dourada, celebrado anuutmente em Etêusis


pelas mulheres da Grécia.
Os mistérios de Elêusís são um caso limi­
te significativo. São a expressão de uma fase
final altarneme desenvolvida, que, embora p o
tencialmente teatral, não leva ao teatro. Como
os ritos secretos de iniciação masculinos, eles
carecem do segundo componente do teatro -
os espectadores. O drama tla Antiguidade nas­
ceria da ampla arena do Teatro de Dioniso em
Atenas, tmalmente ã vista dos cidadãos reuni­
dos, não no crepúsculo místico do santuário
de Deméter em Elêusis.
G teatro primitivo utilizava acessórios
exteriores, exatamente como seu sucessor al-
tamenle desenvolvido o faz. Máscaras e figu­
rinos. acessórios tle contra-regragem, cenários simbolicamente morta - ou o subsequente rito
c orquestras eram comuns, embora na mais dc expiação c as práticas dos xamãs. Medita­
simples forma concebível, Os caçadores da ção, drogas, dança, música c ruídos ensurde­
Idade do Gelo que sc reuniam na caverna de cedores causam o estado de transe no qual o
Monlespan cm torno de uma figura estática dc xamã estabelece um diálogo com deuses e de­
um urso estavam eles próprios mascarados mónios. Seu contato visionário com o outro
como ursos. Em um ritual alegórico-mágico, mundo lhe confere poder ‘'mágico'’ para cu­
matavam a imagem do urso para assegurar seu rar doenças, fazer chover, destruir o inimigo
sucesso na caçada. e fazer nascer o amor. Essa convicção do
A dança do urso da Idade da Pedra nas xamã, dc que ele pode fazer com que os espí­
cavernas rochosas da França, em Moiltespan ritos venham cm seu auxílio induzem-no a
ou Lascaux. tem seu paralelo nas festas do tro­ jogar com eles.
féu do urso da tribo Ainu do Japão pré-históri­
co. F.m nossa própria época, é encontrado en­ A lé m Un ii.in \c , o xamã m ili/. i M- do lo d o iL|-> d f
tre algumas tribos indígenas da América do m eios dc icp re sctitjçà o «tilislicos; ele c IreípiciilL-uieitic
Norte e tamhém nas florestas da África e da m u ito m ais um artista, e tlevc w r s itio iim du mais eui tem ­
pos ancestrais (Andrcas Lom m elj-
Austrália, por exemplo, nas danças dn búfalo
dos índios Mandaii, nas danças carrvlmree aus­
tralianas e nos rituais pantomtmicos do can­ A s raízes do xam anism o com o unia
guru. do emir ou da foca de várias tribos nati­ "técnica" psicológica particular das culturas
vas. Em cada nova versão e variadas roupagens caçadoras podem ser remontadas ao período
mitológicas, o primitivo ritual de caça sobrevi­ Magdaleniuno no sul da França, ou seja, apro-
ve na Europa Central; nas danças guerreiras ri­ ximadamente entre 15.000 e 800 a.C., e por­
tuais germânicas, nu dança da luta dc Odin com tanto aos exemplos de pantomimas de magia
o lobo Fenris (como aparece na insígnia de de caça retratadas nus pinturas em cavernas.
Torslunda do século VI), e em Iodas as personi­ C oncebido e representado em termos
ficações da “caçada selvagem" da baixa Idade zoomórficos, o panteão de espíritos das civili­
Média, indo desde o mesure Hclleqttm francês zações da caça sobrevive na máscara: naquela
ao Arlecchino da Commedu) dcWurte. do “espírito mensageiro” em forma de animal,
Existe uma estreita correlação entre a m á­ no totemismo e nas máscaras de demônios-bes-
gica que antecede a caçada - onde a presa é tas dos povos da Ásia Central e Setentrional, e

• 3
H i & tú ri a M u t i d i í J Í d o T e a tr o *

ilas tribos da indonésia, Micnmcsia e PulinésúL, Norte realizam sua dança da Grande Serpente
dos Lapps e dos índios noite-imiericanos. numa procissão cuidados ame me organizada de
Aquele que usa a máscara perde a idenli- acordo com modelo determinado. Com troncos
dade. Ele está preso - literal mente "possuído" e galhos constroem seis ou sete salões cerimo­
- p e lo espírito daquilo que personifica, e os niais (fíiiir) para as fases di si imas da dança. Exis­
espectadores participam dessa transfiguração. te até mesmo um "diretor de iluminação", que
O dançarino javanês do Djaram-Mpang, que apaga a pilha de lenlia ardente eni cada ktva tão
usa a máscara de um cavalo e pula de forma logo a procissão de dançarinos passa
grotesca, cavalgando uma vara de bambu, é Diversas cerimónias místicas e mágicas
alimentado com palha. estão envolvidas nos ritos de iniciação de mui­
Aromas inebriantes e ritmos estimulan­ tos povos primitivos, nos costumes que “ro­
tes reforçam os efeitos do teatro primitivo, uma deiam" a entrada da criança no convívio dos
arte ein que tanto aquele que atua como os adubos. Máscaras ancestrais são usadas numa
espectadores escapam de dentro de si mesmos. peça com mímica. Em sua primeira participa­
Oskar Eberle escreve: “O teatro primitivo é ção no cerimonial, o neófito aprende o signifi­
uma grande ópera". Uma grande ópera ao ar cado das máscaras, dos costumes, dos textos
livre, deveríamos acrescentar, que em muitos rituais e dos instrumentos musicais. Conlam-
casos í intensificada pela cena noturna irreal, Ihe que negligenciar o mais ínfimo detalhe
na qual a luz das fogueiras bruxuleia nos ros­ pode trazer incalculáveis desgraças à tribo in­
tos dos “demónios" dançarinos, O palco do teira. Na ilha de Gauu. nas Novas Hébridas, os
teatro primitivo é uma área aberta de terra anciãos assistem crilicamcntc à primeira dan­
batida. Seus equipamentos de palco podem in­ ça dos jovens iniciados. Se um deles comete
cluir um totem Qxo no centro, um feixe de lan­ um erro, é punido com uma flcchada.
ças espetadas no chão. um animal abatido, um Por outro lado. em todos OS lugares e épo­
monte de trigo, milho, arroz ou cana-de-açúcar cas o teatro incorporou tanto a bufonaria gro­
Da mesma forma, as nove mulheres da tesca quanto n severidade riluaf Podemos en­
pintura rupestre paleolítica de Cogul dançam contrar elementos farseseos nas formas mais
em tomo da figura de um homem; ou o povo primitivas. Danças e pantomimas de animais
dc Israel dançava em torno de bezm oóe ouro, possuem uma tendência a priori para o gro­
ou os índios mexicanos faziam sacrifícios, jo­ tesco. No momento em que o nó do cubo afrou­
gos e dançavam, invocando seus deuses: ou, xa. o instinto da mímica passa a provocar o
atua]mente, os dançarmos totêmicos australia­ riso. Situações e material são tirados da vida
nos se reúnem quando o espírito ancestral faz cotidiana. Quando o huseador de mel na peça
Sentir sua presença (quando soam os mugidos homónima das Filipinas se mete nos mais va­
do louro). Assim, também, vestígios do teatro riados infortúnios, é recompensado com gar­
primitivo sobrevivem nos costumes populares, galhadas tão persistentes quanto o são, tam­
na dança cm volta do mastro de maio nu da bém. os atores da pantomima parodistica "O
fogueira de São João. lí assim que o teatro oci­ Encontro com o Homem Branco", no bosque
dental começou, nas danças do templo de australiano. O nativo pinta seu rosto de ocre
Dioniso aos pés da Acrópole. brilhante, põe um chapéu de palha amarelo,
Além da dança coral e do teatro de arena, enrola juncos ao redor das pernas - e a ima­
o teatro primitivo também fez uso de procis­ gem do colono branco, calçado com polmnas,
sões para suas celebrações rituais de magia. está completa. O traje dá a chave para a im­
As visitas dos deuses egípcios envolviam cor­ provisação-um a remota, mas talvez nem tan­
tejos - os sacerdotes que realizavam o sacrifí­ to, pré-figuração da Cammedia deli 'arte.
cio guiavam procissões que incluíam cantores, À medida que as sociedades tribais torna-
bailarinase músicos; a estátua de Os íris era trans­ vam-sc cada vez mais organizadas, uma espé­
portada a Abidos numa barça. Os xiiias persas cie de atuação profissional desenvolveu-se
começavam a representação da paixão de entre várias sociedades primitivas. Entre os
Husscin com procissões de exorcismo. Todos os Areoi da Polinésia e os nativos da Nova
anos, em março, os índios Hopi dn America d« Pomerània. existiam iroupes itinerantes que
3, Pintura nu parede de u n i tú m u lo tcbanu; jovens mtisiciMas com
charam ela dupla. alaúde lo n g o e harpa. Da época do Am cnhoicp tl„ c'-
1*13(1 tt.C

•1. D ançarino —"p:issai o" maia. com chocalho e c^landunc. Pintura


na parede tio tem plo de Hdtiampak. M éxico, c. íííK> d.C.
H i a t ô r i t i M u n d i a l thi T e a t r o *

viajavam dc aldeia em aldeia e de ilha em ilha. sacrifício ronda o palco do século XX. Como
O teairo, enquanto compensação para a rotina se aflorasse do tronco da árvore, o curandeiro, Egi t o e Ant i go Oriente
da vida. pode ser encontrado onde quer que as de acordo com as instruções de 0 'N eill. bate os
pessoas se reúnam na esperança da magia que pés e inicia uma canção monótona.
as transportará para uma realidade mais eleva­
da. Isso é verdade independenteinetue de a ma­ G nntiuitin cnlc sua dança se Iransfounn numa nar­
rativa de pantom im a, sua ca «cão í um encantamento, u n u
gia acontecer num pedaço de tetra nua, numa
fnrm uta m ágica para apaziguar u fú ria dc algum a div rn -
cabana dc bambu, numa plataforma ou num dade que exige sa crifício . Etc escapa, está possuído por
moderno palácio multimídia de concreto e vi­ demónios, ele »e esconde... salta para a tnacgcm do lio .
dro. E verdade, mesmo se o efeito final for dc Ele estira os braços e chama p o r algum Deus dentm dc
uma desilusão brutal sua profundeza. Então, com eca a recuar vagarosamenle.
com os braços aind a para fora. A caheça enorm e de um
A mascara mais altiva e a mais impressio­ crocodilo aparece na m argem , c seus olhos verdes c b r i­
nante pompa não podem salvar o Imperador lhantes lixam -sc sobre Jones.
Jones, de 0'N eill, do pesadelo da autodestrui­
ção. Os antigos poderes xamânicos esmagam- Numa montagem de 1933, o cenógrafo
no numa lúgcbre noite de luar ao som de tam­ americano Jo Mielziner utilizou uma enorme
bores africanos. Nesta peça expressionista, cabeça de Olmeca para o primitivo altar de
0 ’Neill exalta os “pequenos medos sem forma”, pedra requerido pelo texto. Figurinos africa­
transformando-os no ameaçador frenesi do cu­ nos, caribenhos e pré-colom biano5 com bi­ Introdução próprio (firo havia prestado homenagens nas
randeiro do Congo, cujo chocalho de OSSOS mar­ nam-se num pesadelo do passado. O teatro tumbas dos grandes reis da Babilónia.
ca o tempo para o ribombar selvagem dos tam­ primitivo ressurge e age sobre nossos medos A história do Egito e do Antigo Oriente Durante muitos séculos, as fontes das
bores. Um eco estridente de ritos primitivos de existenciais modernos. Próximo nos proporciona o registro dos povos quais emergiu a imagem do antigo Oriente
que. nos três milénios anteriores a Cristo, lan­ Próximo estiveram limitadas a iilguns poucos
çaram as bases da civilização ocidental. Eram documentos: o Antigo Testamento, que falada
povos aluames nas regiões que iam desde o sabedoria e da vida luxuosa do Egito, e das
rio Nilo aos rios Tigre e EulTate.s e ao planalto narrativas dc alguns escritores da Antiguida­
iram ano, desde o Bósforo até n Golfo Pérsico. de, que culpavam uns aos outros por sua ‘ orien­
Nesta criativa cpoca da humanidade, o Egito tação notavelmente pobre". Mesmo Heródoto.
instituiu as artes plásticas, a Mesopotâmia, a o "pai da história”, que visitou o Egito e a
ciência e Israel, uma religião mundial. Mesopotâmia no século V a.C., c frequente-
A leste e a oeste do mar Vermelho, o rei- me ntc vago. Seu silêncio sobre os ‘‘jardins
deus do Egito era o único c iodo-poderoso le­ suspensos de Scmiramis" diminui o nosso co­
gislador. a mais alta autoridade e juiz na terra. nhecimento de unia das Sete Maravilhas do
A ele rendiam-se homenagens cm múltiplas mundo, c o fato de o pavilhão do festival do
fomtas de música, dança e diálogo dramático. Ano Novo de Nabucodonosor permanecer des­
Nas celebrações dos festivais, cm glorificação conhecido para ele priva os pesquisadores do
à vida neste mundo ou no além-mundo, era teatro dc valiosas chaves.
ele a figura central, c não se economizava pom­ Nesse meio tempo, arqueólogos escava­
pa no que concernia u sua pessoa. Esta era a ram as ruínas de vastos palácios, de edifícios
posição dos dinaslas do Egito, dos grandes le­ encrustados de mosaicos para o festival do Ano
gisladores sum ários. dos imperadores dos Novo. c até mesmo cidades inteiras. Historia­
acádios, dos reis deuses de Ur, dos governantes dores da lei c da religião decifraram o enge­
do império hititu c lambein tios reis da Síria e nhoso código das lubuinhas cunci formes, que
da Palestina. também proporcionaram algumas indicações
No Egito e por todo o antigo Oriente Pró­ sobre os espetáculos teatrais dc amigumente.
ximo, a religião e mistérios, todo pensa mento Sabem os do ritual m ágico-m ítico du
e ação eram determinados pela realeza, o úni­ ‘‘casamento sagrado" dos mesnpotâmios e te­
co princípio ordetuidor, Alexandre, sabia men­ mos fragmentos descobertos das disputas di­
te respeitoso, suhmetcu-se n ela em seu triun­ vinas dos sumét tos: somos agora capazes de
fante progresso. Visitou o túmulo de Ciro e lhe reconstruir a origem do diálogo na dança
prestou homenagem, da mesma forma qtte o egípcia tle Hator o a organização da paixão

■ fi
H i s t ó r ia A f n u d ia t tla T e a tr o •

de Osúris em Abidos. Sabemos que o mimo O solo pobre C castigado pelo sol do Egi­
c a farsa, também. tinham seu lugar reserva­ to c do Oriente Próximo, irrigado erraticamente
do. Havia O anão do faraó, que lançava seus por seus rios. assistiu à ascensão e à queda de
trocadilhos diante do trono e também repre­ muitas civilizações. Conheceu o puder dos
sentava o deus/gnomo B ei nas cerimónias faraós e testemunhou as invocações do culto
religiosas. Havia os atores mascarados que de Murduk e Mitra. Tremeu sob a marcha pe­
divertiam as cortes principescas do Oriente sada dos arqueiros assírios em suas procissões
Próximo antigo, parodiando os generais ini­ cerimoniais e sob os pés dos guerreiros macc-
migos e, mais tarde, na época do crepúsculo dónios. Viu a princesa aquemênida Roxana,
dos deuses, zombavam até mesmo dos seres adornada com os trajes nupciais e escoltada
sobrenaturais. por trinta jovens dançarinas, ao lado de Ale­
Ao lado dos textos que sobrevivem, as xandre, e ouviu os tambores, flautas e sinos
artes plásticas nos fornecem algumas evidên­ dos músicos partas e sassânidas. Suportou os
cias - que devem, entretanto, ser interpretadas mastros de madeira que prendiam as cordas
com cuidado - a respeito das origens do tea­ para os acrobatas e dançarinos, e silenciou so­
tro. As “máscaras" ornamentais do palácio bre as artes praticadas pela hetera quando o
pátrio em Hatra, as máscaras grotescas nas rei a convocava para dançar em seus aposen­
casas dos colonos fenícios em Tharros ou as tos íntimos.
representações das cabeças dos inimigos der­
rotados, pendendo de broches dourados c com
relevos de pedra - tudo isso dá testemunho de E g it o
concepções intima mente relacionadas: o po­
der primitivo da máscara continua a exercer Na história da humanidade, nada deu ori­
seu efeito mesmo quando ela se torna decora­ gem a monumentos mais duradouros do que a
tiva. Os motivos das máscaras antigas - a des­ demonstração da transilnriedade do homem -
peito de algumas interpretações coniradilúrias o culto aos mortos. Ele está manifestado tanto
- não impedem, fundamental mente, especu­ rtus túmulos pré-históricos como nas pirâmi­
lações a respeito de conexões teatrais, mas mais des e câmaras mortuárias do Egito. Os músi­
necessariamente permanecem como suposi­ cos e dançarinas, banquetes e procissões c as
ções no enigmático panorama do terceiro mi­ oferendas sacrificiais retratados nos murais dos
lénio a.C. lemplos dedicados aos mortos testemunham a

- S
2, Estandarte-m osaico cm U n banquete da v itó ria com canlures e harpistas. provavelm ente uma scqiuhicia rle cenas
das "N ú pcias Sagradas", Figuras de conchas e fragm entos tlc calcim o, cm ftm ilo Jc |;i|iiv h i2iÍLt, c. 27(Kl n.C. <Londres.
B ritish M uscuiu)-

1. M áscaras no palácio de Hatra, na p la iu u e d« Me-


sopotãmia scientrional. H aim foi fundada pelos panas, c ujo
ú ltim o rei. A n a h a n ií, o Atsácida. fni derrotado cm 226
d.C. p d o s a ^ á m tto Anaxcrxcs,
X. Rclcvn cm caleáríti da mmbu de f^afenemhuh' c c iu com um sacerdiHv nlrfccendu NJiCfiinJtn, um harpiila cego. mn
tocador de alaúde c dois flautistas. *, 4.C, (Lciden, Rijktfruiscumj.
* t if jii n i' AfiíigtP O r i r n t e

preocupação dos egípcios com um além-mun­ anligas sugeriram, enganosamente. um suposto


do onde nenhum prazer terreno poderia faltar. ‘'diálogo", de forma nenhuma endossado (re­
Ao poderoso pedido aos deuses, expresso las pesquisas mais recentes. Além disso, ãs
nas imagens pintadas e esculpidas, adiciona­ oferendas sacerdotais e aos apelos aos deuses
va-se a magia da palavra: invocações a Rá, o nas câmaras mortuárias falta o componente de­
deus do paraíso, ou u Osíris. o senhor dos cisivo do lealro: seu indispensável parceiro
mortos, suplicando para que aquele que partia criativo, o público.
fosse recebido em seus reinos e que os deuses Ele existe nas danças dramáticas cerimo­
o elevassem como seu semelhante. niais. nas lamentações e choros paniomíiuicos.
A fnrma dialogada dessas inscrições se­ c nas apresentações dos mistérios de Osíris em
pulcrais, os assim chamados lextos das pirâ­ Abidos, que são reminiscemes da peça de pai­
mides, deu origem a excitantes especulações. xão. Todos os anos, dezenas de milhares dc
Rermitiriain-nos os hieróglifos dc cinco mil peregrinos viajavam a Abidos, para participar
anos, cont seus fascinantes pictogramas, fazer dos grandes festivais religiosos. Aqui acredi­
inferências a respeito do estado do teatro no tava-se estar enterrada a cabeça de O síris:
Egito antigo? A questão foi respondida afir­ Abidos era a Meca dos egípcios. No mistério
ma! ivamente desde que o brilhante cgtptolo- do deus que se tornou homem - sobre a entra­
gista Gastun Maspero. em IKH2. chamou a da da emoção humana no reino do sobrenatu­
atenção para o caráter "dramático" dos textos ral. ou a descida d» deus às regiões dc sofri -
das pirâmides. Parece certo que as recitações menlo terreno - existe o conflito dramático e,
nas cerimónias de coroação e jubileus (Heb assim, a raiz do lealro.
SL’d a \ eram expressas em forma dramática. Osíris é o mais humano dc iodos os deuses
Mesmo n apresentação da deusa ísis. pronun­ no panteão egípcio. A lenda final mente trans­
ciando uma rórmuln magica para proteger seu formou o deus da fertilidade num ser de carne c
tilhinho Húrus dos efeitos faiais da picada de osso. Como o Cristo dos mistérios medievais,
um escorpião, parece ler sido dramaticamente Osíris sofre traição e morte - um destino huma­
concebida. no. Depois de terminado o seu martírio, as lá­
Um encantamento de caráter diferente foi grimas e lamentos dos prnnteadores São sua
decifrado na esteia de Mettcrmeb (assim cha­ justificativa diante dos deuses. Osíris ressusci­
mada por enconlrar-se preservada no Castelo ta e se toma o governador do reino dos mortos.
de Mettcrnich na Boémia), É um encantamen­ Os estágios do destino de Osíris consti­
to popular simples, como os que as mães egíp­ tuem as estações do grande mistério de Abidos.
cias pronunciam até boje quando seus filhos Os sacerdotes organizavam a peça e aluavam
são picados pelo escorpião: "Veneno dc Tefen. nela. O clero percebia quão vastas posxihilida-
que SC derrame tio cltão, que não avance para des dc sugestão das massas o mislério oferecia.
dentro deste corpo... '. Achados como esse e Testemunho dc sua perspicácia é o falo de que,
inscrições de cantos funerais c recitações não mesmo com toda e cada vez maior popularida­
nos dau chaves para as artes teatrais do Egito, de do culto a Osíris. com os crescentes recursos
mas. ao contrário, levam a alguma confusão. das fundações principescas t com a riqueza de
A mistura emrc a aprese mação na primei­ suas tumbas e capelas, continuavam a levar cm
ra pessoa e a forma tnvoculiva em traduções conta o homem do povo. Qualquer um que

■ l!
8. O jírflíw rtfragm enlw , Uc cerâmica) cmn ceou dc uma firtíeisiiJmcgipçia: a harca de Amou, carregada por sacerdotes,
c". 1200 a.C,: encontrada em Der cl-Medínr (Ucrlim, Smalhckic Muscen),
■ t - g i tn e A t f í i g o O f i e t i i v

deixasse unia pedra ou esteia memorial em do governo e favorito do rei, sem dúvida esta­
Abidos poderia estar seguro das bênçãos de va entre esses privilegiados, porque lemos em
Osíris e de que, após a morte, participaria, “trans­ sua inscrição: “ Repudiei aqueles que se rebe­
figurado", das cerimónias sagradas e dos ritos laram contra a barca Neschmei e combati os
no templo, coin sua família, exatamente como inimigos de Osíris".
havia feito cm vida. Após este prelúdio, seguia-se a “grande
Existe uma esteia de pedra, do oficial da partida" do deus, terminando com sua rtiorte.
corte Ikliernofret, que viveu durante o reinado A cena da morte provavelmente não acontecia
de Scsóstris III, na Época da décima segunda às vistas do público comunr, como a crucifixão
dinastia. A esteia traz gravadas as tarefas dc no Gólgota, mas em segredo. Porém, todos os
seu donatário, lkhemofret, concernentes ao participantes uniam-se em alta voz às lamen­
templo em Abidos. A parte superior da pedra tações da esposa de Osíris, ísis. Heródoto con­
comemorativa fala da obra de restauração e ta, a respeito da cerimónia dc Osíris em Busíris,
reforma do templo, levada a cabo por lkhcrno- que “muitas dezenas de milhares de pessoas
fret; a parte de baixo (linhas 17-23) referem- erguiam suas vozes em lamentos”; em Abidos,
se à celebração dos mislérios de Osíris. N ão é deveria haver muitas mais.
possível saber, a partir da inscrição, se as fases Na cena seguinte, o deus Tot chega num
distintas do mistério, retratando a vida. a mor­ navio para buscar o cadáver. Então são feitos os
te e a ressureição do deus, eram encenadas cm preparativos para o enterro. Morto, Osíris é en­
sucessão imediata, a intervalos de dias, ou até terrado em Peker, a pouco mais de um quiló­
mesmo de semanas. Heinrich Schãfer. o pri­ metro dc distância do templo de Osíris, contra
meiro a interpretar os hieróglifos da pedra, o pano de fundo da larga planície em forma de
conjeclurou que os mistérios de Osíris "se es­ crescente de Abidos. Numa grande batalha, os
tendiam durante uma parle do ano religioso, inimigos de Osíris são mortos por seu filho
como os nossos próprios festivais, indo desde Hóms. agora um jovem. Osíris, erguido para
o período do Advento até o Pentecostes, cons­ uma nova existência no reino da morte, reentra
tituindo um gnmde drama” , no templo como o governador dos mortos.
A pedra, entretanto, esclarece as princi­ Nada se conhece sobre a parte final dos
pais caraclevísticas dos mistérios de Osíris na mistérios, que acontecia entre “iniciados”, na
época do Médio Império (2000-1700 a.C,). O parte interna do templo de Abidos. Como os
relato começa com as palavras: ''Eu organizei mislérios de Eléu sis, esses ritos permaneceram
a partida de Wepwawer quando ele foi resga­ secretos para o público.
tar seu pai”. Parece claro, portanto, que « deus Os festivais do culto a Osíris também
Wcpwawet, na forma de um chacal, abria as aconteciam nos grandes templos das cidades
cerimónias. Imedi mamente após a figura de de Busíris. Hdiópolis, L.etópolis e Sais. O fes­
Wcpwawet “aparecia o deus Osíris, em toda a tival de Upuuui, deus dos mortos, emSiul, deve
sua majestade, e cm seguida a ele, os nove ter tido um processo dc procissão similar. Aqui.
deuses de seu séquito. Wcpwawet ia na fren­ também, a imagem ricumente coberta do deus
te, clareando o caminho para ele...” . Em triun­ era acompanhada numa procissão solene até
fo. Osíris navega em seu navio, n barca de seu túmulo.
Neschmei, acompanhado dos participantes das A cerimónia do ergui mento da coluna de
cerimónias dos mistérios. São os seus com pa­ Ded. instituída por Amenófis III e sempre ob­
nheiros de armas em sua lula contra seu ini­ servada solene mente nos aniversários de co ­
migo Set. roação, possuía também elementos teatrais
Se devemos conceber o navio de O sins definidos. O túm ulo dc Khcriuf em Assasi
como barca carregada por teiTa. então presu­ (Tcbas) fornece uma representação gráfica da
mivelmente os guerreiros marchavam ao lon­ ccna; Amenófis e sua esposa estão sentados
go dela. Se □ jornada era representada num em tronos no local do levantamento da colu­
harco real sobre o Nilo. um número de pes­ na. Suas filhas, as dezesseis princesas, tocam
soas privilegiadas subiriam a bordo para "lu­ música com chocalhos e sis Iras, enquanto sets
tar” ao lado de Osíris. ikhemofrel, alto oficial cantores louvam a Pui, o deus guardião do


9. Cena rJniinática dn m im (le f lír u K n deus-falcão Hórus, rei faiado nu barça. com o v iiu rio s o sohre seu irm ã o
Sei R eleve em e a k ilrio em Kdlu É p iv a dos flu lo n ie u s . c. 2W> a C.
• Exilo t Antiga OriVuff

império. A parte inferior do relevo de Kheríuf los dos deuses. Esse paciente apego à iradição
descreve a conclusão du cerimónia do festival: sufocou as sem entes do dram a. Para um
participantes lutando com bastões, numa cena florescimento das artes dramáticas teria sido
simbólica de combate ritual, no qual os habi­ necessário o desenvolvimento de uni indiví­
tantes da cidade também tomavam parte. duo livremcntc responsável que tivesse parti­
I leródoto. no segundo livro de sua histó­ cipação na vida da comunidade, tal como en­
ria. descreve uma cerimónia similar, observada corajado na democrática Atenas. O cidadão
em homenagem ao deus Ares. embora, a julgar da polis grega, que possuía voz em seu gover­
pelo contexto, o deus cm questão deva ter sido no, possuía também a possibilidade de um con­
Hórus. Essa observação, conservada em Pa- fronto pessoal com o Estado, com a história,
premis, envolve também o combate ritual: com os deuses.
l-altava ao egípcio o impulso para a rebe­
Em Papremjs. celebram-sc sacrifício» como em lião; não conhecia o conflito entre a vontade
qualquer lugar, mas quando o sol começa a se pôr. al­ do homem c a vontade dos deuses, de onde
guns sacerdotes ocupam-se da imagem do deus; todos os
outros sacerdotes, armados com bastões de madeira, fi­ brota a semente do drama. E, por isso, no anti­
am i porta do templo. Diante deles sc coloca uma mul­ go Egito, a dança, a música e as origens do
tidão de homens, mais de mil deles, também amiadus teatro permaneceram amarradas às tradições
com bastões, que tenham algum vou» a cumprir. A ima­ do cerimonial religioso e da corte. Por mais de
gem do deus permanece num pequem» relicário de madei­ três mil anos as artes plásticas do Egito flores­
ra adornado, e na véspera do festiva) ê, cunforme dizem,
transportada para outro templo. Os pouco» sacerdotes que ceram, mas o pleno poder do drama jam ais foi
ainda se ocupamda imagemcolocam-na. juntamente com despertado. (O teatro de sombras, que surgiu
o relicário, rum carro com quatro rodas e a levam para o no Egito durante o século XII d.C„ proporcio­
templo 0» outros sacerdotes, que permanecem 4 poria, nou estímulos para a representação de lendas
ímpedem-no^ de entrar, mas os devotos lutam an lado do populares e eventos históricos. Sua fornia c téc­
deus c atacam i>s adversários, KA uma Ima feroz, onde
cabeças sâu quebradas c não são poucos os que, acredito, nica íoram inspiradas pelo Orienle.j
morrem em consequência dos ferimentos. Os egípcios, Foi esta compulsão herdada para a obe­
porem, negavam que ocorressem quaisquer mortes. diência que finaímente subjugou Sinuhe, um
oficial do governo de Sesóstris ! que ousara
O fanatismo ritual que essa cena sugere fugir para o Oriente Próximo. “Uma procis­
recorda ns ferimentos auto-infligídos das pe­ são funeral será organizada para ti no dia do
ças xiitas Uo Hussein, na Pérsia, e os flagelanies teu enterro” , o faraó o informou: "o céu estará
da Europa medieval. sobre ti quando fores colocado sobre o esquife
Através das épocas do esplendor e declínio e os bois te levarem, e os cantores irão à lua
dos faraós, o egípcio permaneceu um vassalo frente quando a dança »m« for executada em
dócil. Aceitou as leis impostas peio rei e os teu túmulo..,”. Sinuhe regressou. A lei que ha­
preceit,)s do seu sacerdócio como mandamen- via governado o desempenho do seu ofício foi

)0. Bonecos de ic jtru de sombras egípcio do século a.C. fQ riírnhaeh am M ain. Dculschcs Ltderru uscuni).
H istória M u n d i a l tio T e a t r o ■

mais forte que a rebelião: o poder da tradição brado uma vez por ano nos maiores templos
esmagou a vontade do indivíduo. do império sumeriano. Sacerdotes e sacerdo­
tisas faziam os papéis dc rei e rainha, do deus
Assim não iJ indício. : na verdudc é Cívnra m: i !- e da deusa da cidade. Não se sabe onde foi
. j;in j : nbahilid.''!'. , que desde esse pom o pudesse . ' “ '.li.-
traçada a linha divisória entre o ritual e a reali­
se um a Irilh a mesmo api-osimudumcnre parecida com
aquela que. na llélade. a partir de uma m ije m sim ilar nu
dade, mas é certo que o tei Hamurabi (1728-
religião , levou aodesenvolviinciHcr da tragédia anca. Paru 1686 a.C.), o grande reformador da lei sume-
chegar a isso. o prim eiro degrau precisaria ler sido uma riana. riscou o festival do "casamento sagra­
extensão do m ito de m odo que contivesse o tiornem e. do" do calendário de sua corte. Hamurabi es­
depois, uni m odo particular de ser hum ano; nenhuma das
tabeleceu um novo ideal de realeza: descreveu
duas coisas foi encontrada no E£giro (S. Morena).
a si mesmo corno um “príncipe humilde, te­
mente aos deuses", como um "pastor do povo”
e “rei da justiça". Hamurabi nomeou Marduk.
M e s o p o t â m ia
até entâo o deus da cidade da Babilónia, deus
universal do império. Um diálogo sumério, que
No segundo milénio a.C.. enquanto os fiéis se acredita ter sido uma peça e intitulado A
do Egito faziam peregrinações a Ah idos e as­ Conversa de Hamurabi com uma Mulher, é de­
seguravam-se das graças divinas erigindo mo­ votado ao criador do Código de 1lamurabi e c
numentos comemorativos, o povo da Meso­ considerado pelos orientalisias um drama cor­
potâmia descobria que o perfil dc seus deuses tesão. Rei rata a astúcia feminina triunfando
severos e despóticos estava ficando mais sua­ sobre um homem brilhante, apaixonado, ain­
ve. Os homens começavam a creditar a eles da que envergue os esplêndidos trajes de um
jusiiça e a si mesmos, a capacidade dc obter a rei. É possível que o diálogo tenha sido ence­
benevolência dos deuses, listes estavam des­ nado em alguma corte real rival, ou. após a
cendo à leira, tornando-se participantes dos ri­ morte de Hamurabi. até mesmo no palácio na
tuais. F„ com a descida dos deuses, vem o co­ Babilónia. Outro famoso documento sumério.
meço do teatro. o poema épico cm forma dc diálogo. F.nmerkar
Um dos mais antigos mistérios da Meso- e o Senhor de A rala. pode também ter sido um
polâmia é baseado na lenda rima! do ‘■matri­ drama secular, apresentado na corte real do
mónio sagrado" - a timão do deus ao homem. período de lsin-Larsa.
Nos templos da Sumcrin, pantomima, encan­ É certo que na Mesopotâmia os músicos
tamento e música converteram a ttadicumal da corte, tanto homens quanto mulheres, des­
representação do hanquele parti o par divino c frutavam dos favores especiais dos soberanos.
humano num grande drama religioso. Os Nos templos, sacerdotes vocalistas, jovens can­
governantes de Ur e Isin fizeram derivar sna toras e instrumentistas de ambos os sexos exe­
realeza divina deste ‘‘casamento sagrado”, que cutavam a música ritual nas cerimónias e eram
o rei e a rainha (ou uma grã sacerdotisa dele­ tratados com grande respeito. Uma filha do
gada por comando divino) solenizavam após imperador acádio Naram-Sin é referida como
um hanquele ritual simbólico. "harpista da deusa lua". As artes plásticas da
De acordo com pesquisas recentes, o fa­ Mesopolâmia dão testemunho da riqueza mu­
moso estandarte-mosaico de Ur, do terceiro sical que exaltava “a majestade dos deuses"
milénio a.C., é urna das mais amigas repre­ nos grandes festivais. O fato de os artistas do
sentações do "casamento sagrado". Essa mag­ templo serem investidos de uma significação
nífica obra, com suas figuras compostas por mitológica especial é sugerido pelos musicistas
fragmentos de conchas e calcário incrustados com cabeças de animais sempre vistos em re­
num fundo de !ápis-lazúli, data de aproxima- levos, selos cilíndricos e mosaicos. Os meso-
damenie 2700 a.C. e provavelmente foi pane potâmios possuíam um senso de humor desen­
da caixa de ressonância de algum instrumento volvido. Um diálogo acádio. intitulado O Mes­
musical, mais do que um estandui le de guerra. tre e v Escravo. assemelha-se ao mimo e is
Do segundo milénio em diante, o "casa­ farsas atelanas, a Plautoe à Commcdia deli'ar­
mento sagrado" foi quase com certeza cele­ te. Os tn:vcadi lhos do servo expõem a vucuidu-

♦ 16
A £ /Vs/\ /i j ^
0>
• Egito e Antigo Oriente
!
i
de dos pretensos bons conselhos e a relativi­ plexas do que, por exemplo, aquelas existen­
] dade das decisões "bem consideradas” . Recen­ tes entre os conceitos mitológicos da Antigui­
temente, maís exemplos do teatro secular da dade e os do cristianismo primitivo.
Mesopotâmía vieram à luz. O erudito alemão No início do século X X, o erudito Peter
Harlmut Sclunokel, por exemplo, interpretou Jensett procurou estabelecei uma conexão en­
u assim chamada Carta de titii Dehj como uma tre Marduk e Cristo, mas não teve sucesso. A
brincadeira de um escriba, um outro texto que assim chamada controvérsia Bíblia-Babel fun­
soava corno religioso como um tipo de safira e damentou-se na suposta existência de um dra­
utn poema heroico como uma paródia grotesca ma ritual que celebrava a morte e a ressurrei­
As disputas dtvinas dos suméríox possuem ção dc Marduk. Porém, as últimas pesquisas
um caráter defiuitivamente teatral. Até agora provaram que a interpretação textual em que
foram descobertos sete diálogos desse tipo. To­ se assentava esta suposição é insustentável.
dos eles foram compostos durante o período em No reino de Nabucodonosor, o famoso
que a imagem dos deuses sumérios tomou-se festival do Ano Novo, em homenagem ao deus
humanizada, não tanto cm sua aparência exter­ da cidade da Babilónia, Marduk, cia celebra­
na quanto em suas supostas emoções. Este cri­ do com pompa espetacular. O clímax da ceri­
tério é crucial numa civilização: é a bifurcação mónia sacriilcial de doze dias cra a grande pro­
na estrada de onde se ramifica o caminho paru cissão. onde o cortejo colorido dc Marduk cra
o teatro —pois o drama se desenvolve a partir seguido pelas muitas im agens cultuais dos
do conflito simbolizado na ideia dos deuses grandes templos do país, simbolizando "uma
transposta para a psicologia humana. visita dos deuses", c pela longa fila dc sacer­
Em forma c conteúdo, os diálogos sum é­ dotes c fiéis. Em pontos predeterminados no
rios consistem na apresentação de cada perso­ caminho pavimentado de vermelho e branco
I nagem, a seu turno, exaltando seus próprios da procissão, ate a sede do festival do Ano
méritos e subestimando os do outro. Novo, a comitiva sc detinha para as recitações
Em um dos diálogos, a deusa do trigo. do epos da Criação e para as pantomimas. Este
Aschnan, c seu irmão, o deus pastor Unhar, dis­ grande espetáculo cerimonial homenageava os
cutem a respeito de qual dos dois é mais útil à deuses e o soberano, além de assombrar c emo­
humanidade. Em outro, o abrasador verão da cionar o povo. "Eia teatro no ambiente e no
Mesopotâmía tenta sobrepujar o brando inver­ garbo do culto religioso, c demonstra que os
no da Babilónia. Num terceiro, o deus Enki bri­ antigos mesopolãmios possuíam, pelo menos,
ga com a deusa mãe Ninmah. mas mostra ser um senso de poesia dramática; é preciso que
um salvador no grande tema fundamental da sc façam pesquisas mais amplas sobre o cul­
mitologia, o retomo dJÍWero. Num quarto diá­ to" ÍH. Schmókel).
logo. Inana, a deusa da fertilidade, banida para Durante o terceiro e- o segundu milénios
o mundo das sombras, poderá retomar à terra a.C., outras divindades do Oriente Próximo
se puder encontrar um substituto. Ela escolhe foram homenageadas de forma semelhante em
para este propósito o seu amor, o pastor real Ur, Uruk e Nippur: em Assur, Dilbat e Hartuti;
Dumuzí, que assim é apontado príncipe do in­ em Mari, Umma e Lagash. Persépolis, a anti­
ferno. Com a lenda de Inana e Dunw.i, o ciclo ga n acrópole e cidade palaciana persa, foi fun­
I
se encerra e termina no "casamento sagrado”. dada especial mente para a celebração do fes­
Inana e Dumuzi sao o par sagrado original. tival do Ano Novo, Aqui, no final do século VI
Mesmo os sacerdotes mais bem instruí­ a.C,, Dario ergueu o mais esplêndido dos palá­
dos do período não eram capazes de fazer um cios reais persas. E aqui Alexandre, sacrificou
conspecto do vasto panteão do antigo Oriente, a ídéia ocidental de hmumuias à sua^ebi iedade
com seus inumeráveis deuses principais e sub­ com a vitória; após a batalha de Arbela. dei
sidiários das muitas cidades-Estado separadas. xou que o palácio de Dario se consumisse nas
As relações mitológicas são muilo mais com- chamas.

* J a ^ j JL / ,-v ^ /l, íid. 2- / ií fJj o \j fi Au *

IrS - k .K SJ-D i ty /v d lM -1
As C i v i l i z a ç õ e s Isl âmi cas

In trodução
A divisão do Islã entre sunitas e xiitus,
como resultado da controvertida sucessão de
Nenhuma outra região na terra experimen­ Maomé. deu origem à taziyé, forma persa de
tou tantas metamorfoses políticas, espirituais paixão, uma das ruais impressionantes mani­
c intelectuais no curso da ascensão e queda de festações teatrais do mundo. A taz.iyé nunca
impérios poderosos quanto o Oriente Próxi­ viajou além do Irã. Não seguiu a marebu vito­
mo. Ele fui, alternadamente, o centro ou ponte riosa do Islã através da costa do Norte da Áfri­
entre civilizações, sementeira ou campo de ca para a Espanha, nem se propagou através
batalha de grandes conflitos históricos. No ano de Aliatólia. junto com as mesquitas e minare­
de 610, quando Maomé, mercador a serviço tes. ao Bósíoro e aos Bálcãs.
da rica viúva Khadija. recebeu a revelação do Contrariando os mandamentos do profe­
Islã no monte Hira, perto de Meca, alvoreceu ta. entretanto, além do Monte Ararat desen-
uma nova era para o Oriente Próximo. volveram-se tanto espetáculos populares quan­
A fc comum do Islã trouxe pela primeira to de sombras, de tipo folclórico, baseados no
vez aos povos do Oriente Próximo um senti­ mimo. Mediante o uso dos heróis-bonecos tur­
mento dc solidariedade. O Islã reformulou a cos Karagõz c Hadjciva! no teatro de sombras,
história dos povos do Oriente Próximo, do a proibição do Islã à representação das ima­
Norte da África e até mesmo da Península Ibé­ gens de seres humanos era astueiosamente lu­
rica. Talhou um novo estilo cultural, segundo dibriada. Esses heróis, corpori ficados em bo­
os preceitos do Alcorão. necos maravilhosos, eram feitos de couro de
O desenvolvimento do teatro e do drama camelo. Eram movimentados por meio de va­
foi asfixiado sob a proibição maometana dc ras e possuíam buracos em suas articulações
qualquer personificação de Deus. o que signifi­ através dos quais a luz brilhava - quem pode­
cou o sufoeamenio dos antigos germes do dra­ ria acusá-los de serem imagens de seres hu­
ma no Oriente Próximo. Todavia, escavações manos? Karagõz c Hadj eivai aproveitavam o
de teatros greco-romanos, como por exemplo privilégio para apimentar mais ainda suas pi­
cm Aspendus. mostram restaurações feitas na lhérias e deixar suas sombras abrir descarada-
época dos seldjticidas - uma indicação dc que mente o caminho, através da tela dc pano, para
os seguidores do Islã reviveram e apreciaram o o coração de seu público.
circo e o combate de gladiadores. Evidencia-sc A paixão e a farsa, associadas em contra­
que eles preservaram e restauraram edifícios tea­ ditória união nos mistérios europeus, perma­
trais da Antiguidade, c que apresentações como neceram como irmãos hostis sob a lei do Al­
essas devem ter sido toleradas, corão Todavia, ambas encontraram seu eiimi-
H i s t ó r i a M it tu it ai tio T v o t r o »

nho para o coração das pessoas. Ambas loma- Dramatizações desse evento, muito enfei­
ram-se teatro, encontrando uma plateia entre tadas por lendas, ainda são levadas no último
a gente comum. dia do festival do Muharram. Elas duram do
meio-dia até bem tarde da noite, e constituem
o clímax e a Finalização de dez dias de procis­
PÉRSIA sões religiosas {deste) iniciados ao alvorecer do
primeiro dia do mês maometano do Muharram.
Sir Lewis Pelly, que acompanhou a mis. O s fiéis, vestidos de branco como os fiage-
são diplomática inglesa à Pérsia e foi aí Resi- lantcs da Europa medieval, seguem pelas mas
deme {agente diplomático) de 1862 a 1873, com altos grilos de lamentações. Dois dias an­
não era dado a exagçros. Entretanto, escreveu tes, no oitavo do festival, bonecos de palha, re­
a respeito da titziyé que “se o sucesso de utn presentando os cadáveres dos mártires de Kcr-
drama pode ser medido pelo efeito que pro­ hela, são deitados em esquifes de madeira e
duz sobre as pessoas paju quem é feito, ou so­ carregados de um lado para outro entre lamen­
bre as plateias diante das quais é apresentado, tações intermináveis e extáticas. Os homens
nenhuma peça jamais ultrapassou a tragédia flagelam a si mesmos com os punhos e espe-
conhecida no mundo muçulmano como a de lain-se com espadas, fazendo sangrar O prõ-
Hassan e Hussein”. As apresentações anuais prio pciLo e cabeça. Aqueles que valorizam a
da taziyé vieram a ser de duradouro interesse própria pele mais do que o fervor da fé sem
para Pelly; graças à ajuda de um antigo pro­ dlívida dão um jeito com uma enganosa simu­
fessor e ponto dos atores, ele coletou 52 peças lação. Em 1812. o francês Ouseley, que viajou
e, em 1878, publicou 37 delas. através da Pérsia, observou ambos —ferimentos
O enredo da taziyé é composto de fatos his­ auto-infligidos por fanatismo genuíno, e ou­
tóricos adornados j>da lenda. Quando Maomé tros, pintados habilidosamente na pele.
morreu em 632, deixou um liarém de doze es­ Na manhã do décimo dia do Muharram.
posas, mas nenhum filho. De acordo com um os espectadores dirigem-se às pressas para o
pretenso Lestamento deixado pelo Profeta, a pálio da mesquita ou para a trkic (monusterio),
sucessão passaria à sua filha Fátima, esposa de onde um palco ao ar livre é montado para a
AU. Acendcu-sc uma disputa sangrenta entre taziyd. Se chove, ou se o sol está muito quen­
seus filhos Hassan e Hussein. tini 680, o imã te. é estendido uni toldo. O sekkaa. platafor­
Hussein recebeu dos habitantes de Kufa, na ma redonda ou quadrada, serve como palco.
Mesopotàmia, que suposta mente eram dedica­ Uma li na d'água representa o Eufrates, uma
dos a ele, um apelo para que se juntasse a eles e tenda, o acampamento em Kerbela, um esca­
assumisse, com sua ajuda, a liderança do Islã belo os céus, de onde desce o anjo Gabriel.
como o legítimo sucessor do Profeta. Hussein, Os intérpretes são amadores. Dão o texto
acompanhado de sua família e de setenta segui­ a partir de um roteiro, embora a maior parte
dores, viajou para a Mesopotàmia. Mas, cm vez seja representada em pantomima, enquanto um
da entronização, ele recebeu a ordem de sub­ sacerdote {mollati), que é ao mesmo tempo
meter-se incondicional mente ao califa Yazid e organizador e diretor, comenta a ação. Ele se
renunciar a todos os seus direitos. Hussein ten­ coloca num pódio, acima tios atores, c recita
tou resistira esta traição; porém, privado de toda também a introdução e os textos de conexão.
a ajuda e sem acesso às águas do Hufrales, ele e Papéis femininos são executados por ho­
seus fiéis seguidores pereceram nu planície de mens. Os figurinos são feitos de qualquer ma­
Kerbela, Enfraquecidos pela sede, caíram víti­ terial disponível. Em 1860, quando a legação
mas das iropas do califa Yazid, As mulheres fo­ da Prússia se encarregou de custear as despe­
ram levadas como prisioneiras, O único sobre­ sas da apresentação de uma taziyé, foram for­
vivente do massacre de Kerbela foi o filho de necidos uniformes e armas prussianos. Hoje,
Hussein, Zain al-Abidin. reconhecido pelos o anjo pode perfeiiamente descer do teto de
xiitas (em contraste â rejeição sunira à sucessão um indisíarçado automóvel e dirigir-se para o
de Fálima-Ali) como o quarto imã e sucessor palco, sem que os participantes fiquem pertur­
legítimo do profeta Maomé. bados por tais anacronismos. O que importa é

■ 20
Bonecos lurcns dc ícairo de sombras: o c a n io r Has;m íà esquerda!. e os dois personagens principais Karagòz e-
Hadjesvat, aos quais incum bem as faias no diálogo losco c grotesco íO ffeiibach am M a in , nenrschcs l.edcrm uscum e
coleção pnniculuO-

2. Grupo Jc itguras de í cairo de sombras luscas. A esquerda, cena <k diálogo; à Uireila. um cnm crctsm lc a iras de seu
balcão (Istam bul, coleção partieidar.k
3. Ta^iyé ao ar livre, encenada por dervixes em im ei, sévulo XÍX-

4. A presentação da ru-iyé persa de Husain, nn púiio (ta mesquita cm Rtrcictnabad. 1860 (exlraído tte H Bnigsch. Keisc
í/cr kíútigiichea Prvuxsichen GtsaudtKchafl n tn h h'rxi?n. l-eipzi” . 1X63»
r

* C iY iliz ttÇ õ fik Is tá t n ic n s

o conteúdo simbólico. Andar cm tom o do pal­ nas cidades um festival popular cada vez muis
co significa uma longa jornada. Introduzir um dispendioso desenvolveu-se a partir da taziyé.
cavalo ou camelo carregado de fardos de ba­ Bagdá. Teerã e Isfaan competiam umas com
gagem e utensílios de cozinha indica a chega­ as outras na apresentação e na riqueza narrati­
da de Hussein à planície de Kerbela. Um ator, va de suas peças. Até 1904, os espetáculos de
logo após ser morto, levanta-se e dirige-se si- taziyé no grande teatro de arena Tekie-i Da-
Icuciosamente para um lado do palco. Cada lauli em Teerã foram subsidiados pelo gover­
urn dos participantes mantém pranto um pu­ no. "Depois da revolução, porém", escreve
nhado de palha que, nos momentos de grande Mcdjid Rezvani, “este tealro enfrentou uma
tristeza ou desespero, despeja sobre a própria crise, porque os fundos necessários provenien­
cabeça. (Dc acordo com o antigo cosiume tes previamente de fontes particulares não eram
aquemênida. os pais de Dario derramaram mais obteníveis". E ele cita a observação de
areia sobre a própria cabeça quando a notícia seu colega russo Smimoff:
da morte do "Rei dos Reis” lhes foi dada.) A
paixão de Hussein é sempre precedida de uma Os m is té rio s peisac são tião menos mcrcccUorcs Jc
interesse ilo que a paixão <ie Oberammergau, na S acaria,
representação da história de José e seus irmãos,
visitada por turistas de todas as partes da Europa e da
que é apresentada no Alcorão por Maomé A u té iic a . E um a grande pena que. nnm a época etn qae as
como a “sura (capítulo) de José”. ligações fe rro v iá ria s estarão disponíveis não apena» para
Em ZeferJiim, outra taziyé, o rei dos jinn homens de negócio, mas lambém para ruristas, a Pérsia
aparece e oferece a Hussein o auxílio do seu deva perder esla curiosidade impai.

exército. Entretanto, o imã, pronto para sofrer


o martírio, recusa a assistência oferecida e des­ Hoje Teerã possui um moderno teatro esta­
pede o rei dos jinn com a adjuração de "cho­ dual. com todo tipo dc equipamento técnico. Seu
rar". O rei dos jinn e seus guerreiros vestem programa inclui obras clássicas e dc vanguarda
máscara; este é o único caso onde a máscara é do repertório internacional O mérito de ter tra­
usada na tradição da taziyé persa, zido Shakespeare paru o palco persa pela pri­
A paixão utziyé é pane intrínseca da tra­ meira vez pertence ao Teatro Zoroaslriano de
dição xiita. Desenvolveu-se a partir das lamen­ Teerã, fundado em 1927 e com capacidade para
tações épicas e líricas das assembleias de luto algo como quatrocentos espectadores.
pela morte de Hussein. Estes cantos de lamen­ O povo do campo, entretanto, apega-se
tações foram apresentados pela primeira vez como sempre aos espetáculos de danças tra­
em forma dramática no século IX. quando um dicionais, a apresentações de guerras acrobá­
sultão xiita da dinastia Buáiidn assumiu o caíi- ticas e mitológicas e aos personagens folcló­
íato. Dos palcos móveis, erguidos em carre­ ricos. Ele confirma que aquilo que Heródoto
tas, ressoava o chamado à penitência: "Arran­ disse ainda permanece verdade, quando ob­
cai os cabelos, torcei vossas mãos, reduzi vos­ servou que os haitianos possuem "em todas
sas roupas a trapos, golpeai vosso peito’” as épocas uma predileção notável pela dan­
É provável que a designação final de taziyé ça” . Essa predileção pttde ser traçada a partir
seja derivada da palavra equivalente ao toldo das representações das taças de prata sassâ-
Ua'kieh), estendido sobre os pátios das mes- ntdas da Antiguidade até os dervixes rodo-
quilns e praças de mercado. Testemunhos ocu­ piantes do século XX.
lares da taziyé de O leariu s, Taverniet,
Thévenol e os de Gobineau e Pelly - falam do
opressivo fanatismo dos espetáculos, não so- T urquia
brtTfílologia.
Conquanto os espetáculos da taziyé nas Para o estudioso da história da cultura se­
rem otas regiões m ontanhosas do mundo ria ao mesmo tempo aventuroso e revelador
islâmico e no Cáucaso tenham permanecido, traçar um paralelo entre Alexandre, u Grande
até hoje. uma ocorrência primitiva algumas e Gêngis Khan. A maneira imediata e direta
vezes representada por um dervixe a funcio­ com a qual Alexandre iransmiliu o espírito do
nar como um tipo de one-man shtnv extático Ocidente ao Oriente é balanceada pela iníluêiir
■«•i í. - í «. c o ílt- í i ri i 'lr />va '* h. £ iç ít ^ . 2/ IA Q
5. Cerim ónia teatral tlr recepção cm palácio lurcn, Ã c&|Utirda, m úsicos com instrumentos iradieionais; no centro,
mulher com vdu. M iniatura do |k .t ío i Jo otomano í Istambul, M useu do Palácio de Topkapi).

6. Cena de teatro popular turco. Velho corcunda, de tamancos c d a n a n d o num labiado diante de um grupo de cinco
pessoas À esquerda, músicos com insti umemos de sopro c percussão. M m ini uru do período otomano (Istam bul. M useu do
Palácio de Topkupi).
*■ A < C i v i l i z a ç O r i I s l â m i c a s

cia indireta de Gêttgis Khan sobre o mapa da Les inexauríveis e vitais de morivos e inspira­
Europa. Foi por causa da violenta investida dos ção na comédia improvisada turca.
mongóis contra o Extremo Oriente e suas leis Ao lado dos dançarinos e músicos, OS
rígidas que o chefe Suleimã, etn 1219. guiou mímicos ambulantes, que foram sempre cha­
seu povo do Turquestáo à região do Eu írates. mados “personificadores", nunca eslavani au­
O neto de Suleimã, Osman, tornou-se amigo sentes das ocasiões festivas. Eram abundantes
do sultão de Konya c, sucedendo-o no trono nas cortes e nos mercados, nos trens de baga­
em 128S, Osman lomou-se o fundador da di­ gem das campanhas militares e entre as mis­
nastia Osmanli (Otomana). Criou o império dos sões diplomáticas. Quando o imperador de
povos turcos, que se expandiu e cujos guerrei­ Bizâncio, Manuel II Paleólogo, visitou o sul­
ros conquistaram OS Bálcãs c avançaram atra­ tão otomano Bayezíd, admirou sua versátil
vés do Norte da África para a Espanha, levan­ trotipe de músicos, dançarinos c atores.
do consigo sua cultura de minaretes e mesqui­ Os principais personagens da comedia
tas. A Europa cxaurira-sc cm sua luta contra turca, Pischekare KavukJu, e os dois persona­
uma avalancha que se iniciara com Gêngis gens do teatro de sombras, Karagõ/ e Had-
Khan. Em 1922, com a extinção do sultanato, jeivat, viajaram com as missões diplomáticas
o império otomano oficial mente chegou ao fim, otomanas através da Grécia, e também a luga­
e um ano mais tarde foi proclamada a Repú­ res mais distantes como a Hungria e a Áustria.
blica da Turquia. Na Moidávia e Valáquia, tom aram-se os an­
Quatro fatos principais influenciaram o cestrais de uma nova e independente forma na­
desenvolvimento histórico e cultural da Tur­ tiva de teatro. Havia mímicos turcos, judeus,
quia c, portanto, Larobém do teatro turco. Fo­ arménios e gregos nessas iroupes, mas predo-
ram eles: primeiramente, os rituais xamãnicos c mituuucmcntc os ciganos, bem versados em
da vegetação trazidos da Ásia Central, que todo tipo de malabarismo e magia, danças c
eram. até certo ponto, misturados com o culto jogos acrobálicos.
frígio a Dioniso e que ainda permanecem vi­ Os que não conseguiam chegar ã corte
vos nas danças c jogos anatólius; em segundo apresentavam-se diante da gente simples, e
lugar, a influencia da Antiguidade, mais frc- assim desenvolveram o orla oywiu, forma tur­
qúentemente negada que francamente admiti­ ca caractcrística de teatro, que ainda pode ser
da: em terceiro, a rivalidade com Bizâncio: c, encontrada cm partes remotas de Anatólia.
cm quarto, iniciando-se com o século X, a in­ Orla oytttiu significa "jogo do meio”, ou "jogo
fluência decisiva tio Islã. do círculo", ou "jogo do anel". Não requer ne­
Konya, Bursa e. após 1453. a cidade con­ nhum equipamento particular, nem cenário ou
quistada de Bizâncio, hoje Istambul, fortim as figurino. (O historiador do teatro turco Melin
capitais do império otomano e. dessa forma, And aponta que. na Ásia Central, a palavra
os centros dn mundo islâmico a leste c a oeste nyitii designa também o ritual xamanisia do
do Bósforo. Na corte de Seljuk cm Konya, pa­ exorcismo.)
ródias eram encenadas e muito apreciadas. Uma marca oval traçada sobre a terra pla­
Anua Comnena, filha de um imperador bizan­ na é a área de atuação do vrta oyunu. Os aces­
tino, dá provas disto em sua obra histórica so­ sórios necessários são nada menos que um
bre A léxio C om neno 1 (1069-1118 a.C.). escabelo triangular e um biombo duplo, aos
Quando o imperador Aléxio, já idoso, foi aco­ quais se pode juntar um barril, uma cesta de
metido pela gota. e dessa forma impedido de mercado e alguns guarda-chuvas coloridos. Os
participar de suas campanhas contra os turcos, músicos, com oboé e tímpano, ficam acocora­
eram representadas farsas na corte do sultão dos no limite da área de atuação, e o público
em Konya, conforme relata francamente sua permanece em pé à volta. O administrador, di­
filha, nas quais Aléxio era satirizado como um retor. ator improvisado e protagonista é o per­
velhote covarde e chorão. sonagem Pischefcar. Com eloquência floreada
E ssa inform ação é valiosa. Indica a e uma matraca de madeira ele abre a apresen­
topicidade e a orientação temática da farsa tur­ tação. A ação e o elemento cómico da peça
ca. A personificação e o ridieulo eram as foit- baseiam-se na variedade de tipos étnicos re-

■ 25
H i s t o r i a Mtttitlittl c c J , . r . *

presentados, todos mal falando o turco, cada Istambul e chamou-o de “orta oyunu com unta
nmem seu modo particular-o mercador persa, cortina”, O círculo no chão, que havia come­
o ourives arménio, o mendigo árabe, o guar- çado como improvisação, chegara ao teatro
du-uoturno ctirtlo, o presunçoso coronel janí- com um palco e um auditório. Giilii Agop
zarn. o [evantino europeizado exibindo-se, a atraiu talentosos atores e escritores locais
mercadora briguenia {interpretada por um ho­ O orta oyitiui de Gedik Paxá tomou-se um
mem), o bêbado e a inequívoca preferência da centro de um movimento nacional de teatro
plateia rústica, o palhaço Kavuklu com suas turco. Em abril de 1873, apresentou a primei­
piadas c paspalhices, parente próximo de ra montagem do drama Vumu (Torrão Natal)
Karagôz. de Namik Kemal, A peça leve a mais entusiás­
A origem e antiguidade do orta oytaut é tica das recepções. O sultão, pressentindo pe­
discutida, Sua relação com o mimo da Antigui­ rigo. baniu o autor. Mas, após a revolução de
dade é tão óbvia quanto uma certa similarida­ julho de 1908, a estrela de Namik Kemal bri­
de com a Commedia deli 'arte. O mais extraor­ lhou mais intensameme; Vaian esteve durante
dinário de tudo, quer em relação aos tipos dos semanas em todos os teatros dopais.
personagens quer ao humor grotesco resultante, Hoje, nas cidades principais e especial
é o paralelo com Karagóz. Um manuscrito de mente em Ancara, os teatros oferecem um re-
1675 afirma que um gni[>o de atores, vestidos pertóriu que, somado aos dramaturgos e com­
como os personagens do teatro de sombras, fez positores turcos, é verdadeiramente interna­
uma upresenlaçâo na cone. cional em seus espetáculos de ópera, comédia
Até o século XIX o centro do orla oyitmt musical, halé e drama.
foi KadikiSy, unia pequena cidade na costa les­
te do mar de Màrmara, no setor asiático de Is­ O T e a tr o d e S o m b r a s de
tambul. Aqui também se situava a famosa tekke K a r ttjto z
(monasrério dervixe} onde. em certos dias da
semana, os “dervixes uivadures” executavam Karagôz é o herói do teatro dc sombras
seu ritual extático. Seus primos, os dervixes turco e árabe e dá nome ao espetáculo de som­
dançarinos, preferiam vagar através do país. pois bras. O espirituoso Karagóz, com sua retórica
era sempre fácil reunir um pequeno círculo de rápida c engenhosa, trocadilhos ásperos e jo ­
curiosos e. apôs a dança sagrada, coletar algu­ gos de palavras rústicos, viajou para muito
mas moedas como recompensa. Hoje as danças além de sua terra natal: sente-se em casa nu
dervixes tornaram-.se um negócio e surgem Grécia e nos Bálcãs, e cm lugares longínquos
como atração turística cm ilifihl-ctiibx dc Istam­ da Ásia. Todo um feixe dc lendas circunda n
bul. do Cairo, Áden ou Teerã. sua origem. Unia das mais populares atirma
O primeiro teatro turco com um fosso para que Karagôz - o nome significa “olho negro"
a orquestra e um cenário mecanicamente ope­ - e seu companheiro Hadjeivai realmente exis-
rado surgiu na primeira metade do século XIX. tirani no século XIV. na época em que a gran­
Organizado segundo o padrão francês e italia­ de mesquita dc Bursa estava sendo erguida.
no, apresentava peças de Molière e Goldoni, e Seus duelos verbais vivos e grotescos parali­
também o Fausto de Goethc e Nalan, o Sábio, saram as obras de construção da mesquita. Em
de Lessing. Malabaristas, mágicos, circenses, vez de trabalhar, os pedreiros punham seus ins­
entretanto, continuavam a reunir suas platéias trumentos de lado e ouviam os longos e diver­
em galpões de madeira c tendas. Mas nos ca­ tidos discursos de Karagôz e Iladjeivat. O sul­
fés e casas de chá, a centenária arte do meddha, tão soube de suas façanhas e ordenou que
o contador de histórias, continuava com sua ambos fossem enforcados. Mais tarde, quan­
velha popularidade. Durante o mês do Rumada, do reprovava amargamente a si mesmo por
porém, ele se retirava e deixava o campo aber­ isso, um dos cortcsãos do sultão teve a ideia
to para Karagôz. de trazer Karagôz e Hadjcivat novamcnlc à vida
Em novembro de 1867. durante o Rama­ na fornia de figuras de couro brilhantemenie
da, um arménio de nome Giillii Agop inaugu­ coloridas e translúcidas c sombras mima tela
rou um teatro turco Do bairro Gedik Paxá dc de linho: Karagti/ com seu nariz adunco, bar-

■ 26
7. K ara^òz com roupas dc m u lh e r C u nui cm qualquer lupar, cenas de disfaice eram poputarc* no leatro de sombras
tu rco (da coleção de <i. Jacob, /A m S rh u n M tiU ro tfr itt xeinv*' llh W rW íu tf vom M ftrK rn lu iv t :m n Ai*'/uJt<nni. Ito rlh u . 1'JIH ).
H i s t ó r i a SU nu\$ui tio T r v t r n *

ba negra, o Lhos astutos de botão e u mão direi- Os qtfce munipuium os bonecos cainhem os; fazem
ía liirT ou melhor, falam através deles. niUrtiendo-iC es­
ta gesticulando violentamente; e Hadjeivat
condidos e iimlando várias línguas com rodo tipo dc pia­
vestido de mercador, cauteloso e medi [ativo, das. Suas apresentações nada ruais são Joquc fareis inde­
de boa índole e sempre sendo enrolado. Uma centes e ocorrências obscenas entre honrem e m ulher com
relação de tipos pitorescos completavam o ge sinal idade Ião grosseira ao im itai essas si mações dc
elenco do teatro de sombras: Cclebi. o jovem luxúria, que rtúo poderiam ser piores nu ireça-íeiru "orda
dândi; a linda Messalina Zenne: Bebcmhi, de cnntaval do que são mim prostíbulo na terça-feira gor­
da durante o seu jejum.
anão ingénuo; o persa com sua pipa d'água, o
albanês, e outros personagens regionais; o vi­
ciado em ópio; o bêbado. Apesar de suas piadas grosseiras e fran­
Çleorg Jacob, um colecionador e estudio­ cas obscenidades, Karagõz ludibriava os g ri­
so do teatro de sombras orietiLal. atribui um lhões das autoridades religiosas. Os bonecos,
alegado epitáfio de Karagõz ent Bursa ao mes­ movidos por varas e recortados em couro ou
tre de bonecos Muslafá Tevfik, que se supõe pergaminho nos quais eram perfurados bura­
ler trabalhado nesse período. cos aqui e ali a fim dc permitir que a luz pas­
O teatro de sombras era a diversão predi­ sasse através deles, não poderiam ser facilmen­
leta tanto do povo quanto da Corte do sultão. te descritos como imagens de entes humanos,
Era apresentado em casamentos e circuncisões. e assim davam a volta na proibição do Alco­
Porém, o grande momento de Karagõz chega rão. O uso de tipos fixos oferecia campo para
com o início do Ramadã, o mês sagrado do a sátira e polémica, num disfarce de aparente
jejum, quando, ao entardecer, todos acorrem inocência. Não havia fraqueza humana, vai­
aos cafés. O viajante italiano Pietro delia Valle. dade de classe ou abuso tópico que Karagõz
que chegou a Istambul em 1614, fez uma nar­ não convertesse eiti motivo de riso.
rativa detalhada da peça de teatro de sombras Do Bósforo, Karagõz emigrou para o nor­
turca. Diz Delia Valle em Víaggi. publicada em te; estava em casa em qualquer parte do mun­
1650-1658, do islâmico. Ele sempre deu nome aos bois, e
era aplaudido mesmo quando o público mal
Na verdade. nestes albergues onde se bebe exisiem. conseguia entender as suas palavras, porque o
niesnio duram? a époc a de seu £r;i ikdc jejum, ceiios bu tôei significado do humor grotesco da ação não
c z t t u i i que divertem os convidudos com io d a a sorte d?
podia lhe escapar.
pilhérias c tolices. Entre o*> coísíls que fazem, vou forme
uu mesmo vi, CftlHo ns icpresenraçõe.N dc fantasma* e es- Quando Karagõz certa vez aludiu dc modo
píriios poi- detrás uni tecido ou J? papel pintado. á luz claro demais à corrupção da corte, em 187(1, sob
do tocha*. os quais sc movem, andam. eles fazem ioda o sultão Abdiilaziz. Foi proibido de se envolver
Liinu variedade de gciics cxutuineme da mesma íonlin que em qualquer ou Ira sáliirt política, mas então os
se fa/, em algumas apreseulações no juisso pais, Mas estas
fifiltras e bonecos não são mudosconuíos nossos; são fei-
jornalistas passaram a imitar seu espírito agres­
ros pum falar tal e qual os charlatães fazem nm cn«cios de sivo. E mesmo hoje um semanário político po­
Nápoles ou nu Pr«h?.An Navona em Rama,. pular na Turquia é chamado Karagõz-

* 2S
As C i v i l i z a ç õ e s I n do - P a c í f i c a s

In tro d u ç ã o da mentalidade a-histórica dos hindus que a


precisão dos aspectos mitológicos do drama
Na índia clássica a dança e o drama eram não tenham equivalente em sua prática de atua­
dois componentes igualmeme importantes de ção. O que se preservava não era a realidade
um só e grande credo: ambos serviam para ex­ terrestre, mas o espírito. E, por conseguinte, o
pressar homenagem aos deuses. Shiva, o se­ pesquisador do teatro precisa procurar pelas
nhor da morlc e do renascimento terrenos, era chaves abrindo caminho luboriosamenle atra­
representado como o Rei dos Dançarinos. Na vés do embrenhado dos ritos sacrificiais védi-
Irudiçâo da índia, o próprio Brahma. criador cos e invocações aos deuses, através dos can­
do universo, criou também a arte do drama, e tos rituais dos brâmanes e através dos ritos das
seus estreitos laços com a religião foram ex­ religiões jainista e budista, frutos do brama-
pressos durante muitos séculos na cerimónia nismo que se desenvolveram durante o primei­
inicial de bênção e purificação que precedia ro milénio a.C.
qualquer apresentação teatral. Desde a virada do milénio, os velhos deu­
As três grandes religiões da Índia - brama- ses védieos haviam sido eclipsados por Shiva,
nismo. jainismo e budismo emprestaram suas o príncipe dos dançarinos, pantomimicos e
formas especificas ao culto e sacrifício, à dan­ músicos, e por Vishnu e sua esposa Lakshmi.
ça, à pantomima exorcística e ã recitação dra­ cuja beleza se assemelha à da flor de lótus. A
mática. atividade religiosa foi determinada pelo culto
Nem as campanhas vitoriosas de Alexan­ dos templos e ídolos. O Ramayana, que relata
dre. o Grande, nem os ensinamentos de Maomé as aventuras do príncipe real Rama e sua es­
conseguiram minar a vigorosa força interna do posa Sita, e o segundo grande épico hindu, o
hinduísmo. Seus deuses e heróis dominam o Mahahbarata, com sua riqueza de sabedoria
palco do panteão celestial tanto quanto o pal­ mitológica e moral, tornaram-se a grande he­
co da realidade terrena. rança comum de todas as civilizações indo-pa-
A conceitnação antropomórfica dos deu­ cíftcas. O deus-macaco Hunutnan estabelece
ses proporcionou o primeiro impulso para o a conexão entre o budismo e a China e final-
drama. Sua origem e princípios estão registra­ mente com as peças wayaitg das ilhas indo­
dos nos máximos detalhes e com esmerada eru­ nésias.
dição pelo sábio Bharata em seu Naiyasttsira, Sob a dinastia Gupia. no século IV, o nor­
um manual das artes da dança c do teatro. Mas te da índia desfrutou de um hreve período de
u tradição não nos oferece fatos relacionados unidade política, o que resultou num floresci -
Com a prática dos espetáculos. E caraclerístiea mento das artes. NestE período. Kalidasa es-
r

3 n „ l l r i - d e s a lli,,,!™ .™ numa tiJaJc l.m.ln Homem c im,limam ...... sua a, lL- lL- acTulwln, malalxms.m ,
L',JU,l|h " s“ ' A es*J“ -'nL’ - "WS,C,K i, Jin-ila. c t r c c u t k w „ 1(Jí!1,|. ,é „ l< . X V III (HurJau, Sn,.„I k I,l M ii« ;i.l.
1

H isfòria M u ndia i d o T ctitro -

creveu seu drama Shakwtuila. (O mundo lite­ com o culto, dentro dos domínios do templo.
rário da Europa tomou conhecim ento de Os jardins dos templos, sempre imensos e dis­
Shakuntala em 1789, numa versão inglesa e, postos em terraços sobre encostas inteiras, in­
dois anos mais tarde, mima tradução alemã.) cluíam locais tradicionais para as danças e a
Durante o reinado de Harslta. que gover­ música religiosa. Havia uma assembléia c sala
nou o grande império indiano dc 606 a 647 de dança especial (natamandira) e, para objeti­
a.C., a cultura hindu e a doutrina budista espa­ vos mais gerais, uma "saia do celebração" (imm-
lharam-se por toda a Ásia Oriental e as ilhas tiapa) onde as dançarinas, tnúsicos e recitadores
indonésias, influenciando a arquitetura de tem­ apresentavam-se em homenagem aos deuses.
plos e palácios, a épica e o drama. Em alguns templos no sul da índia, como o tem­
A irrupção do Islã e, no século XIV, a plo Jagannath em Puri, ainda hoje existe o cos­
ascensão do império tnongol, com seu forte tume de as devadttsis, as jovens bailarinas do
poder centra] islâmico, mudaram apenas a apa­ templo, dançarem no cerimonial do culto ves­
rência externa da índia, não seu espírito con­ pertino.
servador. Os hindus apegaram-se firmemente Os historiadores do teatro hindu cunha­
às suas crenças, caráter e modo de pensar. Sem­ ram o termo “teatro templo”, que pode ser
pre existiu um contraste entre a passividade acompanhado arquitetural mente através dos
política dos hindus c seu forte vínculo interno séculos. Entre os templos do século IX recor­
coma tradição religiosa, Eles se agarraram for- tados nas cavernas dc Ellora destaca-se o lin­
lemente às suas convicções religiosas. Shiva. do teatto do templo Kailasantha. E há primo­
Vishnu, Krishna e Rama nunca foram destro­ rosas saias de festival e teatros nos jardins do
nados no drama hindu. Quando, cm 30 de janei­ tem plo G anthai, dn século XI. próxim o a
ro de 1948, Gandhi foi atingido pela bala do re­ Khajuraho. Outros podem ser encontrados no
vólver de seu assassino Naluram Godse, caiu complexo do templo de Gírnar, do século Xll.
no chão chamando pelo deus; ‘He, Rama". e no templo Vitlhala, dos governantes Vijaya-
nagar do século XIV.
Ao lado do “teatro templo", o teatro teve
ÍNDIA um outro precursor na altamente desenvolvi­
da fornia de entretenimento popular hindu,
A origem do teatro hindu está na ligação com suas danças e acrobacias. O bailarino era
estreita entre a dança e O culto no templo. A sempre mímico e ator, simultaneamente. Ain­
arte da dança agrada aos deuses; c uma ex­ da é chamado de nata, queé a palavra "prakril”.
pressão visível da homenagem dos homens aos vernacular, para ator (que procede da raiz
deuses e de seu poder sobre os homens. Ne­ sânscrita tirf). Enquanto os natas são. por um
nhuma outra religião glorificou a dança ritual lado, aparentados com os dançarinos c dança­
dc forma tão magnífica (e erótica). Imagens rinas rituais (nrnt). mencionados já no Rig
de pedra de deuses e deusas dançando abraça­ Veda. a forma vernacular prakril, nana, indica
dos. músicos celestiais, ninfas e tamborinistas $cu caráter popular.
em poses provocantes adornam as paredes, Pois. enquanto os dançarinos rituais hon­
colunas, arestas e podões dos templos hindus. ravam os deuses, houve em todas as épocas can­
Representações da dança podem ser encontra­ tores, dançarinos e mímicos ambulantes que en­
das ao longo de 3.500 anos dc escultura hindu, trelinham o povo com suas apresentações por
desde a famosa estatueta de bronze da “Dan­ urna gratificação modesta. O Ramayana men­
çarina", nas ruínas da cidade de Mohenjo- ciona nata. nanaka, nataka - ou seja, danças e
Daro, no baixo Indo, aos relevos nas colunas espetáculos tcalrais - nas cidades e palácios.
do templo hindu cm Chumbaram, exibem to­ Fala de festas e reuniões nas quais a diversão
das as 108 posições da dança clássica indiana era oferecida por atores e dançarinas.
de acordo com o Naryasastra de Uharata. A niJfi. dançarina da literatura hindu, es­
As dançarinas eram subordinadas à auto­ tava ali para todos. Era ela a bayadère. que
ridade dos sacerdotes do templo c exerciam Gocthc descreveu numa balada, a “ adorável
sua arte, na medida cm que esta tinha a ver criança perdida" que convidava hospilalctnuncn-
■U
,4 j C i v i t i z a ç f i r A I n d o P u t r i f i c a s

le o estranho: "Se solicitares descanso, diversão, O N a ty a s a s tra d e lih a r a ta


prazer / A todas as vossas ordens eu atenderei".
Patanjaii, o gramático hindu do século 11 Tudo o que sabemos a respeito do teatro
a.C., fala sobre uma dançarina (mui) que, em clássico da índia é derivado de uma única obra
cena, ao ser indagada ‘‘A quem pertences''", fundamental: o Natyasastra de Bharala. Todas
responde "Pertenço a vós". as trilhas do passado convergem para ele, e tudo
Os Dhannasaxtras. livros métricos da lei, o que vem depois é construído a partir dele,
proclamam explicilamente que o marido de Estudiosos do sânscrito acreditam que o autor
uma dançarina não precisa pagar as dívidas Bbarata, figura meio legendária, meio históri­
desta, porque esta possui "rendimentos" pró­ ca, viveu numa época entre 200 a.C. e 200 d,C.
prios, e que ela não precisa ser tratada com o E característico da falta de senso histórico dos
mesmo respeito que a esposa de outro homem. hindus que Bharatu. um de seus maiores c mais
No Kainostirra, o “livro do amor", a dançarina influentes sábios, não possa ser datado. Sua
{rtati} deve aceitar a posição mais baixa entre relação mitológica com os deuses está fora de
as cortesãs. dúv ida, mas, até agora, os eruditas podem ape­
Porém, eventual mente, ela adentra o dra­ nas conjecturar sobre os fatos de sua vida, Os
ma clássico através de uma porta traseira - estudiosos hoje aceitam, de maneira geral, que
como representante de Vidusaka, o arlequim Bharala tenha escrito numa época em que as
indiano. Nos prólogos teatrais para três pes­ formas primitivas de dança ritual, mimo e en­
soas, a dançarina, geral mente a esposa do em­ tretenimento popular começavam a amalga­
presário, pode ocasional mente fazer as vezes m ar-se na nova forma de arte do drama.
do Vidusaka. Todavia, a arte da dança desen­ Bharala assentou a pedra fundamental da arte
volveu-se independentemente do drama, e so­ do teatro hindu; dispôs todas as suas regras
breviveu até hoje em suas quatro formas ca- artísticas, sua linguagem e suas técnicas.
racterísticas: bharala n a n a m , ktuhakali. Conforme a história por ele relatada no
kalhak e mampurt. primeiro capítulo do Natyasastra, o drama
A bharala natyam é unia descendente di­ deve a sua origem ao deus Brahtna. o criador
reta da ane graciosa e flexível das dançarinas do universo. Bharala conta que um dia o deus
do templo. É praticada cspecialmcnte no sul Indra pediu a Brahma que inventasse uma for­
da Índia, em Madras, e tanto suas posições de ma de arte visível c audível e que pudesse ser
dança quanto seu nome são derivados do ma­ compreendida por homens de qualquer con­
nual da arte da dança e do teatro escrito por dição ou posição social. Então, Brahma con­
Bharala. o Natyasastra. A dança dramática e siderou O Conteúdo dos quatro Vedas, os li­
pantumiinica kaihakah. que se desenvolveu vros sagrados da sabedoria hindu, e tomou um
até sua atual forma em Mal abar, é de caráter componente de cada - a palavra falada do Rig
delinitivamentc masculino. Seus traços carac- Veda. o canto do Santa Veda, o mimo do Yajttr
lerísticos são máscaras exageradamente pin­ Veda. e a emoção do Atharva Veda. Todos es­
tadas. figurinos suntuosos e cheios de ondu­ ses cie combinou num quinto Veda, o Natya
lações, e o estilo grotesco de dança de suas Veda, que com unicou ao sábio hum ano.
personagens-deuses, heróis, macacos e mons­ Bharala. E Bharala. para o bem de toda a hu­
tros. A kathak é uma forma menos severa c manidade, escreveu as regras divinas da arte
mais variada de dança, onde a força masculi­ da dramaturgia no Natyasastra, o manual da
na e a graça feminina cntremesclam-se: desen- dança e do teatro.
vulvcu-se no norte da Índia, sob a influência De acordo com Bharala, o primeiro dra­
dos governantes mongóts. A mampnn, popu­ ma foi montado numa celebração celestial em
lar principal me u te nas montanhas de Assam, honra do deus Indra. Quando a peça se apro­
é uma dança de movimentos lentos, quase ximava de seu clímax, a vitória dos deuses
serpentinos. Tem origem no mundo mítico dos sobre os demónios, espíritos do mal não con­
deuses; a inaiiipitii era, segundo a lenda, a dan­ vidados paralisaram subitamente os gestos, a
ça que as pastoras executavam ao som da flau­ mímica, o discurso c a memória dos artistas.
ta de Krishna Muito irritado, o deus Indra ergueu o mastro

■ J3
4 . Hauras da Kairkakali ríranicmc vestidas (de K.
Bhamia lycr, Ktitftnl&fi.A D unço S tignuta d e Mfdttímr.
Lundres,
T

5. l>nnçu rie Kiislm a e Uns dou/cJas paslonis gm dos temas prediletos dn M om purí. N o a|[o, a esquerda. dois
m úsicos fcim m e s u ra s Ue animais. M iniatura dn secu n d a mciadtr do rúculo XVílJ (Novo i>clíii. A cadem ia LaJit kulai.
1

H i s t e r i a M u n d ia l da T r a ír a *

incrustado do sua bandeira (jarjuia) e a tacou sobrancelhas, seis de nariz, seis das bochechas,
os demónios. Os atores vollaram novnniente à nove do pescoço, sete do queixo, cinco do tó­
vida. E o deus Brahma prometeu à sua arte rax e 3f> dos olhos. Bharata não deixa lugar
validade eterna, que resistiria a qualquer riva­ para a espontaneidade intuitiva nesta arte; suas
lidade: '‘Porque lião há saber, habilidade, ciên­ regras assemelham-se a uma soma de valores
cia ou qualquer das belas-artes, nenbuma m e­ matemáticos. Para os pés do ator, ele lista 16
ditação religiosa e nenhuma ação sagrada que posições sobre o solo c 16 no ar - e um sem-
não possa ser encontrada no drama” . Desde número de maneiras específicas de andar, des­
então, os atores hindus têm carregado o estan­ tinadas a retratar vários tipos de personalida­
darte de Indra em suas bagagens como um de: a passo largo, miudinho, coxeando, amas­
talismã. Ele os tem acompanhado através dos iando os pés. Uma cortesã caminha com passo
tempos na forma de um modesto bastão de ondulante, uma dam a da corte com passinhos
bambu decorado com titas coloridas. Mas o miúdos; um bobo caminha com os dedões dos
deus Indra, o ousado domador de demónios e pés apontados para cima, um coitesãocom pas­
inalador de dragões, foi reduzido a um sujeito sos solenes, e um mendigo, arrastando os pés.
corado e bem alimentado, o equivalente hindu Aqui, a pena do teórico erudito Bharata
ao Orfeu no Inferno de OíTcnbacb. foi clarameme guiada pelo mimo postado por
A prevalência avassaladora atribuída à for­ trás dele - anónimo e desconhecido, mas eter-
ma exiema em todo o teatro do Extremo Ori­ nameme presente e seguro de sua arte da imi­
ente, à rigidamente definida arte expressiva do tação sem a necessidade de dogmática erudi­
corpo humano, é amplameme documentada no ta. O mimo. sempre c em qualquer lugar, apren­
Natyasaslra. Dança e atuação teatral são deu seus truques com a própria vida; utilizou-
conceituai mente uma só coisa. Bharata requer, os sem adornos, sem sofisticação literária e,
tanto do dançarino quanto do ator. concentra­ especial mente no Karagõz do Oriente Próxi­
ção extrema até as pomas dos dedos, de acor­ mo, com deliciosa obscenidade.
do com uma lista precisamenie detalhada. Seu O estrito código de gestos de Bharata é
manual arrola 24 variantes de posições para emparelhado por regras correspondentes para
os dedos, 13 movimentos de cabeça, sete das a linguagem - o sânscrilo para as classes

6 . Linguagem (U>s tlcdos i n a n ir a , i .1,, ;,|U: L|;| dança c da mlclpieiaç.ç. lundu. | . 1,1^ Uri. rn*|L\ 2 .11|L.!i" . , i . '
dtficmLtnaçãn; 4 alc^i ia: s. entircnuaçaa: á ivjeiçãu: 2 . irneniçãu; H, prupnsm; q. iti ilação, alliçãn; Kl UTTii.';

* 36
A s C iv iliz a ç iir s íntiu Petrifirtix

educadas, o prakrit para os incultos - pela de­ A famosa caverna Silabenga em Sirguja.
finição dos vários papeis típicos. figurinos e na parte nordeste dc Madhya Pradesh, sugere
máscaras, como também regras para a tonali­ uma outra explicação para a cortina de Bhurata;
dade da palavra falada e para o acompanha­ ela pode derivar de um outro tipo de anc tea­
mento musical. Dessa forma, seu código cul­ tral: o teatro de sombras. A caverna de Sitaben-
mina na classificação científica das espécies ga tem seu lugar na história tio teatro hindu. A
do drama. hipótese de que ela era uma espécie de casa de
No segundo e no terceiro capítulos do espetáculos “cm forma de uma caverna nas
Naryasastra. Bharaia discute os problemas da montanhas" parece ser amparada por passa­
técnica do teatro. Ele levanta a questão dos gens do Natyasaslra. As dimensões intemas tia
edifícios teatrais, suas dimensões e organiza­ caverna são de aproximadamente 13 m x 3 m.
ção. Bharala declara que, embora os espetácu­ com capacidade para mais ou menos trinta es­
los geralmente aconteçam nos templos e palá­ pectadores. Foram encontrados entalhes e ra­
cios, as seguintes regras deveriam, todavia, ser nhuras na entrada, que podem ter servido para
obedecidas ao projetar-se um teatro. Um ter­ prender uma cortina de pano. Isto significaria
reno retangular deverá ser dividido em duas qne a platéia - um pequeno número de inicia­
áreas: urn auditório c um palco. Quatro colu­ dos, mais propriamente do que uma cone prin­
nas sustentarão as vigus do teto. O esquema cipesca. no entender de Bharata - sentava-se
das cores deve seguir estritumente o simbolis­ no interior da gruta apinhada de geme. enquan­
mo tradicional: a coluna branca simboliza os to « lilereiro utilizava a luz do dia. lá fora. para
brâmanes; a vermelha, o rei e a nobreza; a projetar o mundo mitológico de seus bonecos
amarela, os cidadãos; as azuis-negras, a casta recortados em couro. Entretanto, a caverna de
dos artesãos, ladrões e operários. íG estas são Sirguja não cra um teatro, de acordo com as
as mesmas cores do bastão dc Indra.) prescrições de Bharata.
Na extremidade oriental do auditório em Embora <» erudito tratado cm verso de
degraus senta-se o rei em seu trono, rodeado Bharata não se refira expressumente ao teatro
por ministros, poetas e sábios, com as damas de somhrus, isto não impede que o conheça e
da corte à sua esquerda. O palco, assim como utilize - dado que a importância desse leatro
todo o edifício, c ricamcnte decorado com en­ para toda a cultura do Extremo Oriente é um
talhes de madeira e relevos dc cerâmica. Uma fato provado. E bastante concebível que tenha
cortina divide o palco em proscénio e bastido­ sido usado como tun efeito cénico no teatro
res. Os atores e dançarinos aluam no proscénio, clássico hindu.
enquanto seus cam arins ocupam os basti Nt> século II. o gramático Patanjali. em
dores, ocultos pela cortina divisória. As fontes seu com entário sobre Panini. fala dc pessoas
dc efeitos sonoros representando vozes divi­ que davam recitais de histórias diante dc fi­
nas, ti rumor de multidão c dc batalhas, fi­ guras pintadas que "mostravam os fatos".
cam também nos bastidores, invisíveis para o Presumivelmente estava se referindo ao tipo
público. de teatro dc sombras que se tornou enraeie-
Bhurata chama a cortina divisória de ríslico do Sião. Java, Bali e da China. Num
yavtinikti, e este termo desencadeou unia tor­ com entário posterior sobre o termo utiliza­
rente de teorias sobre a influencia grega no tea­ do por Patanjali para designar o ator. o escri­
tro indiano. Filologicamcnte c tentador esta­ tor Snmadevasuri explica, nn século X. em
belecer uma conexão com a palavra jm w rika, seu Nitivokxamrtu, que o xtiithh ika era um
que significa ' ‘grego" ou “dórico". mas com hontetn que “i noite tornava visíveis vários
referência à cortina do palco, c purameme hi­ personagens com a ajuda de uma cortina de
potético. Do ponto de vista da história da cul­ pano". A começar da segunda metade do pri­
tura, seria interessante investigar até que pon­ meiro milénio, cnconlramos também o ter­
to os teatros gregos da Ásia Menor, como cm mo chuytuuiltiko para o teatro de sombras;
Pcrgamo, Prienc ou Aspcndus. foram usados ele aparece primeiro no século VII num poe­
pui mm/if.! nãn-helètlicas dc atores c procurar ma didático xaki, provavelmente baseado em
possíveis influências dessa lonte na Imlia. fontes antigas.

« *7
H i s t ó r i a St m u i t u ! tio T e a t r o *

Qual surgiu primeiro, o te a iro de sombras mimo grego - de hom coração, mas se fazen­
indiano ou o chinês? Essa é ainda uma ques­ do de bobo um arlequim indiano que gosta
tão controvertida, na medida cm que existem de couiono e come muno, com óbvio prazer.
tão poucas fumes. A reivindicação da prima­ Em obras dramáticas posteriores, cie sc trans­
zia hindu é sustentada pela evidência de um forma num serviçal obsequioso e amigo fiel,
teatro de sombras já na caverna de Silabenga e que aplica a dose certa de descaramento e sen­
peio fato de que a influência cultural do teatro so prático ao retirar seu amo de enrascadas,
de sombras espalhou-se através do Extremo todas as vezes em que possa tirar da situação
Oriente. É muito possível que ela tenha segui­ alguma vantagem para si.
do o avanço do budismo através da Ásia Cen­ O drama clássico indiano traz Vidusaka
tral. ou da Indochina para a China. O Império para a ação. Ele já não c mais mu simples pa­
Central chinês, por outro lado. reivindica, numa lhaço improvisador, mas tim personagem na
de suas mais betas e melancólicas lendas, que peça. e. como tal. é definido pelo autor com
a conjuração dos espíritos sobre a tela de li­ precisão. Primciramente ele sobe ao palco na
nho seja sua invenção particular. cena introdutória, a tradicional p u n eircmga.
Participa da subseqíiente conversa entre três
O D ra m a C lá s s ic o personagens Urigaia), ao Indo do empresário
c de seu primeiro assistente. (O empresário,
O drama clássico indiano engloba toda a que é também o produtor, diretor e ator princi­
extensão da vida, na terra como no céu. Con­ pal. é chamado sulrudham, que significa, lite-
forme disse certa vez o poeta do século V, rrtlmente, “o que segura as cordas". 0 tentador
Kalídasa, ele “satisfaz simultaneamente as traçar aqui. também, uma ligação anterior com
mais diversas pessoas com os mais diversos o teatro dc bonecos ou sombras, t
gostos” . O drama clássico da índia é contemplativo.
A linhagem espiritual do drama clássico O autor situa suas personagens numa atmos­
hindu pode ser traçada nos diálogos do Kíjí fera de emoção, não na arena das paixões como
Veda, expressos em forma de baladas, que eram o fazem, digamos. Eurípedcs ou Racinc. O
recitados antifonicamente nos ritos sacrificiais dramaturgo indiano não impele os conflitos
sagrados. Seu conteúdo dramático - o amor espirituais até o pomo da autodestruição, nem
do rei humano Pururavas pela ninfa celestial é seu objetivo a catarse, no sentido aristotélico.
Urvasi. e o conflito com seus oponentes, os Ele está preocupado com o refina mento esti­
poderes obscuros e míticos, forneceram mate­ lizado dos sentimentos, com a estética do so­
rial infinito para o tratamento teatral, c na ver­ frimento. Neste plono. são postos em jogo
dade para a grande ópera. Os diálogos do Rig os dois aspectos da poesia indiana antiga: rasa,
Veda, embora eles próprios não consistissem a disposição ou atmosfera que a obra. enquan­
ainda nutri drama, tornaram-se os mais popu­ to prazer estético puro, despertará no especta­
lares temas de todo o drama indiano e por ele dor; e hhava, o estado afetivo e emoção —seja
influenciado. Na fornia transmitida a nós. re­ simpatia ou antipatia - criados e transmitidos
presentam um estágio altamente desenvolvi­ pelo ator competente. Encontramos uma defi­
do de sofisticada poesia, mas não textos ceri­ nição similar na obra de Zeami, o grande dra­
moniais visando a efeitos teatrais. maturgo. ator e teórico do teatro nó japonês
Partindo da recitação épica na época dos do século XV. Zeami define yiigcn. um con­
Vedas, dos primeiros manipuladores de bone­ ceito derivado da doutrina budista, como o
cos ou sombras, aos quais eram creditados po­ poder secreto que faz nascer a beleza, a beleza
deres mágicos, e dos mimos, que forneciam da felicidade como também a beleza do de­
um elemento vivificante, uni longo caminho sespero.
teve de ser percorrido até o drama feito para Tanto na Índia como no Japão, a arte do
ser encenado. ator culmina na perfeição da dança No Narvn-
O bufãu Vidusaka já pregava suas peças stislrn de BlutraUt. conceito de nalata (re­
entre os atores itinerantes. Com sua grande presentação pela dança) pertence igual men­
barriga e cabeça eareca, ele é um parente do te ao drama literário.
* 38
• ,4> CiriliTtiÇõcs tnito-Fm-ifiros

\*
7. r .tk o de tcuin» hnulu ma m itiíima clás»k’o. tk
iiainlo c«im d fshnynsftxtrtt dc R l m i a

Na cena de introdução (ptimirniigti), que


com sua solenidade religiosa remonta às ori­
gens rituais, o diretor volta ao passado, ao
mundo do mito. quando, seguido por dois
companheiros carregando um cântaro d'água
e o bastão de Indru. faz sua entrada no palco e
nele esparrama flores, crava o bastão num dos
lados e lava a si mesmo com a água do cân­
taro.
No tnálogo que se segue. Vidusaka pula
sobre o palco, [..emhra o diretor e seu assisten­
te de que a loucura deve ter seu lugar na vida e
também no palco, que tenciona ser o espelho
da vida.
A cena introdutória e ao triálogo segue-se
a ação, que c entremeada com cenas da vida
comum ou da corte contemporâneas à época
do autor (/iruAwufiiil. retratando as atividades mais liberal da primeira Firma do budismo
dos brâmanes, mercadores, oficiais da corte, muhayana. Na verdade, ele põe no palco o pró­
sacerdotes, ministros ou donos de caravanas prio Budu. "rodeado por um radiante círculo
num enredo livrenicnie imaginado. Aqui tam­ de luz", e num dos fragmentos que chegaram
bém Vidusaka faz sua aparição - nos trajes de até nós. até mesmo dá falas a ele - natural-
um brâm ane que, entretanto, não fala o mente, em sânscrito. Esle tipo de personifica­
sãnscrilo literário como deveria, mas o prakril ção teria sido inconcebível num período mais
vernacular. Ele decai dc sua alta posição e tor­ primitivo do budismo. Nos primeiros séculos
na-se um parasita miserável c maltratado, c é das artes plásticas indianas, um único símbolo
o alvo de ironias e alusões. À medida que o - a Roda da Lei ou a Árvore da Iluminação -
papel espiritual dos brâmanes se deteriorava e indicava a presença do Buda.
decaia na convenção, eles tiveram de suportai O recurso do teatro de sombras vem à lem­
muita zombaria. Mas. para Vidusaka. u papel brança quando consideram os as obras de
de um surrado brâmane lhe dava pretexto para Bbusa. que provavelmente datam do século II
palhaçadas numa paródia de autocompaixão. ao III. Em duas de suas peças, Dutarakya e
O teatro clássico indiano deriva seus efei­ Balactirilti. o autor exige que as armas mila­
tos realistas das variações do discurso, como. grosas dc Vishmi. sua moiitari.i e mesmo o
por exemplo, entre o nobre e o vulgar, o sâns- mitológico pássaro gigante Garuda apareçam
crito c o prakril, pessoas de posição c mem­ na peça como atores com falas. Sob as proibi­
bros das castas mais baixas. Mas este é um rea­ ções religiosas da Indin. como isso teria a pos
lismo allamenle estilizado. A vida real retlete- sthilidadc de ser feiio, a não ser por cima da
se apenas no modelo, não na sua aplicação no cortina de pano? E tentador pensar nas apari­
palco. ções do teatro de sombras.
Os Iragm eutos mais antigos do dram a O drama mais famoso dc Bhasa é Clui-
sânscrito hindu foram encontrados no Turques- rttdam. tima peça cuja umbientação podería­
tão. Foram escritos pelo grande poeta budista mos chamar de burguesa. Ela nos conta sobre
As vaghi isha (por vol la do anu 1(10). au loi iam - Canidata. um mercador empobrecido por causa
béin do famoso poema épico Biidltuciirila, que da própria generosidade e dc seu amor pela
c a historia da vida de Budu. As rubricas de nobre cortesã Vasanlasena. Os dois persona­
Asvaghosa são caraetcrístiCLis da abordagem gens voltam a aparecei na mais hem conheci-


9. Estatueta de h arro representando um dum; uri no
Tschaiu: Hushung. o B ik h h;imgud<>> cru um a figura uõ*
mica fsvontu J o drama-dum, u Lihcluno. SegumJo a lenda,
HrKhung. to m tu a s dnti trinas herêljeus, com profncltu u
ubm de conversão. mus |oi banido após ser derroindo n:i
disputa religiosa (Viunu. Muscuiu (ur Volkcrkumk'5,
- A s CiYtiiTMÇÕrs

da, ,-1 Carrocinha de Terracota, peça pos­ reunidos nu mu única palavra: pensai no nome
terior baseada no mesmo lema. Seu manus­ de Shakuutala; nada mais há a dizer".
crito foi encontrado em Travancore. um luga­ Quando, [x.>r volta do final do século XIX.
rejo perdido no sudoeste da índia. Com suas os simbolistas retiraram-se para os seus bosques
gradações efetivas de sânserito e de prakrit, sua simbólicos, (piando Maeterlinck escreveu seu
cuidadosa caracterização e exuberância emo­ drama dc amor lírico Pelléax et MéUsantle,
cional - Vasuntasena empilha todas as suas Shakttauiltt fez um breve retorno ao palco oci­
jóias na carrocinha de brinquedo do filhinhu dental. A peça de Kalidasa foi produzida em
de C arudala-, o drama oferece uni retraio co­ Berlim, Paris c Nova York. Porém, ao lado da
lorido da vida c dos costumes do passado da poesia simholixta. ela logo desapareceu mais uma
índia. A peça é atribuída ao rei Sudraka, que vez no tesouro da literatura de todos os tempos.
reinou nu terceiro e quarto séculos. Se a supo­ Não sabemos cont que recursos externos
sição for correta, A Carnuiiihci de Terracota ccom que meios teatrais os dramas de Kalidasa
poderia dar testemunho não apenas do gênio foram montados na Índia na cpoca cm que vi-
de seu autor, mas também da alta qualidade da veu. A intensa imagem poética do diálogo su­
arte dramática na corte real —não importando gere um cenário apoiado principalmente na
se foi escrita pelo próprio rei ou se foi ntera- palavra falada, no quu], como no drama inglês
menie dedicada a ele. clisabetano ou no drama clássico espanhol, era
Kotidasa, o mais bem conhecido drama­ a palavra que criava o cenário. O texto dramá­
turgo indiano e autor de Shakunuda, foi tam­ tico em si prescreve os adereços a serem utili­
bém um poeta da corte. Viveu no século V, na zados, com o o manto que Shakuntala deve
época da dinastia Cupla. Suas peças voltam aos vestir apressadamente, persuadida por suas
mitos sagrados: contam sobre poderes misterio­ duas companheiras de que é hora de partir:
sos, sobre como Urvasi é libertado pelo valor "Cubra-se agora com o manto. Shakuntala.
heroico e conm Shakuntala c salva, reconheci­ pois estamos prontas". A mesma enunciação
da por causa de unt anel. Mas. essenciaimcnte. plástica é usada por Shakcspcare, quando
Knlidnsa concebe as personagens das lendas Cleópatra, na sua grande cena de morte, diz:
védicas em lermos da própria maneira de vjver "Dai-me meu mamo, colocai minha coroa; sin­
da corte de sua época. Shaktmlnla é aprese ilía­ to cm mim desejos de imortalidade".
da como uma dama refinada e aristocrática, mais Em Sltakitiuaia. são sugeridas também
do que uma desinibida HIha da natureza: a aparições de teatro de sombras, eom o por
legendária companheira das gazelas e irmã vi­ exemplo no quarto alo. quando a ninfa Sanu-
gilante das árvores c times toma-se a criatura mais surge mima carruagem de nuvens. Em­
sensível de uma "naturalidade artificial", asse­ bora o diretor deva ter confiado bastante na
melhai! d o-se ãs personagens das peças pasto­ imaginação da plateia, talvez tenha também
rais da Europa do século XIX. utilizado recursos visuais. Tais interlúdios,
A entusiástica resposta despertada pela provavelmente, não eram iticomuns, A peça
lírica história de amor de Kalidasa cm Herder. dentro tla peça era muito popular no drama
Goclhe e nos românticos é explicada pela su clássico, e não raio com a presença do próprio
posta inocência e ingenuidade da vida eretní- autor. Na peça Priyadarsika, por exemplo, este
tica. uma inocência que. segundo julgavam. c unt tema central. Esta peça c atribuída ao im­
Shnkuntala encarnava - um estado ideal há perador Harslta, que na primeira metade do
muito tempo perdido para a Europa, e que século VII proporcionou ao Império hindu
Herder supunha sobreviver apenas no Oriente. unificado um breve período de glória.
Os românticos saudavam Kalidasa como sen Os diretores teatrais hindus eram muito
irmão espiritual, que "graciosa me me adorna­ conscienciosos nu montagem dc suas [teças,
ra a verdade com o véu mágico da poesia". conforme podemos deduzir de um fragmento
H erder comparava o estilo d ram ático de de cálculos referentes à produção de Rama vali.
Kalidasa com as regras aristolélieas, Goethe outra peça de Harslta. Estes cálculos datam do
louvou a pastora indiana num enlevado dístico reinado dc Juyapidu de Kashmir, no século
cm f>cr Westiiitliítie ÍJiraii: “O céu e a lena VIII. Suas estimativas de custos para uma

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H t s t ú r u t M u n d i a l d** T f t i i r u *

montagem de Rununaii listam lodos os itens nada lhe ficando a dever em matéria de datiblc
necessários para executar ;is indicações cêm- cuundrc.
cas do autor. A farsa e o burlesco (prahasana) também
Nus monastórins budistas d» Tihclc. o dra­ ocuparam um espaço próprio no palco india­
ma clássico indiano evoluiu em peças didáti­ no. Provavelmente desenvolveram-se baslim-
cas, transmitindo lições de morai. Ao lado dos te cedo. ao lado do drama clássico. Enquanto
bardos xamãnicos. que glorificavam os gran­ em Citrudmu e A Curmcinha de Terracota os
des feitos de Kesar, o herói de um poema épi­ brâmanes recebiam um bom quinhão de zom­
co libetano, encontramos os dramas libei anos barias. os autores de farsas satirizavam o fin­
seguindo de perto o modelo indiano. O drama gimento dos ascetas sivaítas e budistas, que dis­
Ziigiijirna serve de exemplo. Ele transmite a simulavam sua vida dissolvida sob um manto
história da rainha Ziignlima, que é expulsa do de piedade. A mais amiga obra deste tipo que
palácio por causa de falsas acusações e entre­ se conhece é MaitiviUixa-prahiísaita, atribuí­
gue nas maos dc seus executores. No furai, ela da ao rei Mahendra-Vikramnvarmiin. do sécu­
é salva, mediante sua fé. dos tormentos da alma lo VII. Com sátira grotesca e cortante, ela ata­
e do corpo. Ztigiíitnia reflete a influência dos ca os excessos do falso ascetismo e mostra,
missionários budistas no Tibel. O drama foi como promete o título, “as brincadeiras dos
escrito no século XI, mus suas raízes parecem bêbados”. Algumas outras farsas sobreviveram
estender-se a Shtikuntuln Tradições e temas do período entre o século X I1 e o XVE satiri­
do teatro indiano, há mui lo enfraquecidos e zam os comportamentos dos bordéis, os casos
ultrapassados na própria índia, sobreviveram entre os ascetas e sens discípulos c o sectaris­
no Tibete, onde dramas como Zngininui foram mo das cortes principescas. Os dramas poste­
montados em Eli asa até no scculo XX. riores em sânscrito. entretanto, foram exercí­
Por volta do anu 700, o dramaturgo india­ cios acadêmicos dc estilo, pálidos c sem vida.
no Bhavabhuti ressuscitou ;ts velhas lendas de sem relação com o palco e sem qualquer méri­
Rnma e levou-as a uma nova glória. A riqueza to literário, com valor apenas para os filólogos.
e intensidade de seu espectro de caracteriza­ Fui somente no inicio do século XX. gra­
ção. “até os derradeiros limites do amor”, o ças a kabindranath Tagore. que o drama india­
colocam ao lado de Kalidasa. a quem na ver­ no ganhou mais uma vez renome mundial. O
dade ultrapassa em espontaneidade emocional, poeta Tagore foi também um vigoroso drama­
mesmo que não consiga compelir com as suas turgo. ator e produtot. Ele provocou, tanto na
suhlimes elocuções. Bhavabhuti põe a força amiga tradição sânscrita quanto no moderno
do destitui à frente da graça expressiva. A jul­ drama ideológico, o desenvolvimento de um
gar pelo cerimonial de suas cenas de introdu­ estilo indiano novo e específico, que pode ser
ção, os dramas de Bhavabhuti foram concebi­ descrito como de enredo tecido livre mente,
dos para espetáculos em dias de festas religio­ carregado de simbolismo e expresso numa lin­
sas específicas. guagem lírica e romântica. Ele reviveu o pa­
Brâmane de uma família ortodoxa, li liava - pel do rapsodo, que comenta a ação represen­
hhuli eliminou o bufão de suas peças. Porém, tada na pantomima. A obra de Tagore convida
no final, seu zelo reformador foi reduzido a h comparação com o teatro épico de Bertolt
nada, porque, nesse ínterim, Vidusaka tomara Brecht c Thurntnu Wilder. As personagens dc
relevo independente. F.m Bhcimt, um monólo­ Tagore são sempre vagas e irreais, criaturas de
go humorístico de um ato, especial mente po­ tmia região intermediária entre a fantasia e a
pular no sul da índia, ele aparece no palco realidade, tornadas ainda mais intangíveis por
como ator solo. Encontrou um segundo cam­ suas melancólicas canções. Suas peças, ele
po de ação mis vithix (dc mui. ' homem do uma vez disse, pndcin ser compreendidas so­
mundo”), que eram um tipo de cabaré para um mente sc as ouvirmos como se ouviria a músi­
ator só. tratando de indiscrições entre corte- ca dc unta flauta.
sãos e cortesãs, dc brigas de galo e dn tirais Não necessitam de nenhum aparato exter­
eterno dos vícios, o amor venal. Vidusaka as­ no, raianieme de um acessório, e dc um cená­
sumiu a natureza de seu irmão kuen, Karugfiz. rio mínimo. Como barqueiros de um outro
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I

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!

10. A grande c<*rTi>:i[!cni dc Mahcud ninai li na procissão do Iestivai religioso temi-il em Knimandu, |9 ? 3 (de Tom
H jgen. Nrpt/I - K iim xreirh im /íútm laiu, 39<SO. {'oritísja dos editores. Ktinimi.-r]y e Frey, HeriuO.
H is t ó r ia M u nd ial d a T r a ír a ■

mundo, apelam à imaginação da pi até ia, que sombra (c. mais tarde, também espetáculo,
tanto pode ser o público da Bengala natal dc num sentido mais amplo); purba. ou punva,
Tagore quanto a audiência europeia do l-csti- significa antigo, pertencente a uma antiguida­
val Internacional de Teatro de Nova Pelhi. No de remota. O trcryang punva nunca se tomou
início de sua peça O Cirl/t da Primavera. mero entretenimento profano; até hoje não
Tagore diz. com poética auto-suficiência; "Não perdeu sua função mágica de mediador entre
necessitamos de cenário- O único pano de fun­ o homem e o mundo metafísico.
do do qual precisamos ê o da imaginação, so­ Nos primórdios do século XI, a literatura
bre o qual pintaremos um quadro com o pin­ javanesa menciona pela primeira vez o irayung
cel da música'* punva como uma forma dc arte muito difun­
dida. Por volta da metade do século XI. era
popular nas cortes de Kediri. Shingasari e
I n d o n é s ia Majapahit. Após as convulsões políticas dos
séculos XV c XVI. encontrou um novo lar no
Quando o hinduísmo, vindo da índia na famoso Krtuon. o palácio em Mataram, que se
esteira dos marinheiros, mercadores e sacer- transformou no centro cultural da ilha de Java.
duies indianos, estendeu seu domínio sobre os Os primeiros registros das figuras indo­
impérios das ilhas da Indonésia, desenvolveu- nésias wovnng feitas de couro datam do perío­
se em Java a mais bela e famosa das formas do do sultão Demak (cerca de 1430). Aqui.
teatrais do sudeste da Ásia, o teatro dc sombra também, se encontra a origem do termo wa-
ou wayang. Até hoje. suas quatro variantes yang kuiit (kutii quer dizer couro). As figuras
características podem ser encontradas por to­ habilmente cortadas e perfuradas são geral-
das as ilhas. Seus graciosos atores - as figuras mente feitas de couro de búfalo. O rosto é sem­
planas, recortadas em couro transparente, e os pre mostrado dc perfil, o corpo geralmente em
bonecos esculpidos em madeira, em relevo posição meio frontal: os pés apontam para os
inteiro ou semi-relevo, com seus olhos estrei­ luilos. seguindo a direção do rosto. A figura é
tos e enigmáticos - são hoje alta mente valori­ (irmentente montada sobre varetrts feitas de
zados pelos curadores dc museus c coleciona­ chifre de búfalo; seus ombros e cotovelos são
dores particulares. móveis e podem ser guiados com a ajuda de
As origens do wayang sem dúvida remon­ duas varetas finas. Desde épocas romutas, o
tam à época pré-hindu dos cultos ancestrais contorno e o desenho das figuras tmyaiig têm
javaneses. Algumas regras cerimoniais, como sido rigidamente codificados. Cada linha, cada
a exclusão inicial de mulheres da plateia e. mais Intço decorativo, cada eamcleríslica do corpo,
tarde c com frequência ainda hoje, sua separa­ cada variação ornamenta! possui seu signifi­
ção dos espectadores masculinos, sugerem cado definido, simbólico. Na verdade, o bnne-
uma estreita conexão com os rilos de inicia­ queim precisa ser tanto o mestre das regras
ção - conexão que. incidental mente, existe iconográficas quanto do esliletec do cinzel que
também no teatro de sombras turco. O Hviyang utiliza para confeccioná-los. Em primeiro lu­
adquiriu seus aspectos curacterísticos durante gar, sua personagem deve conformar-se às
o período áureo da civilização indiano-java­ especificações iconográficas. Então, com o
nesa. Absorveu os velhos mitos védicos dos estilete e õ cinzel, o honequeíro produz a deli­
deuses, o Rttmaytma e o Muhahhtiraia, e ab­ cada treliça dos figurinos e toucados, o capa­
sorveu a riqueza das personagens desses dois cete ou a coroa, A beleza estranha e sobrena­
grandes épicos indianos c seus conflitos na tural das figuras é encarecida pelo uso orna­
guerra e na paz. O utivuitj; é tão rico em repre­ mental de folhas de ouro. turquesa brilhante,
sentação descritiva quanto o são as figuras nas vermelho profundo e preto.
frisas dos templos hindus-javaneses, tis rele­ O iraymrg kuiit é em geral encenado à
vos nas paredes e pórticos de Prambanan. Lara noite (exceto na iignoror takon. uma cerimó­
Jang-grung, llurohodur ou Panaiaran. nia especial que simboliza o exorcismo dos
O termo uoyim.ç pitnvu testemunha a demónios). É projetado numa tela feita de
grande época do teatro llmmi.i; quer dizer linhaço estendida sobre uma moldura de ma-
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r

11, Citin^k.t ilc Icm cola &a corredia hindu: lipos Tcmini no c masculino, com» cm cosliuue na Uhníi;i. peva cm um ;iu*
[ de C ililo satírico c cabarciístico, sdculn X ÍX U'»oiui, Museu Arqueológico tl» l^cccaii ('ollcgci.

I
M a i o r i a M u t u i i u l tio T r o n o *

deira e iluminada pelo lume brando de uma com a ajuda de pequenos discos de madeira
lâmpada a óleo. A peça c apresentada pelo ou melai e presos às caixas onde ele guarda
dahmg (narrador), qne habilmente traz à vida seus bonecos. Se suas mãos não estiverem li­
seu numeroso elenco, vres, ele bate nos discos com os pés.
Numa caixa à sua esquerda, os represen­ A ação da peça é determinada pelo lakon,
tantes do mal aguardam a deixa para entrar: os uma espccie de exposição dos fatos, que esta­
demónios, traidores, espiões e animais selva­ belece um enredo específico, baseado em mo­
gens e, em outra caixa à sua direita, rainhas e delos tradicionais de natureza estrutural. Após
damas da nobreza, os fiéis ajudantes e irmãos a musica gamelan introdutória, o dalang pro­
de armas dos heróis esperam a sua vez de en­ fere o tradicional encantamento: “Silencio e
trar, Há os cinco Pandavas, os belicosos her­ fora, seres diabólicos - sur,nh tvp dttut p ita n a r
deiros do reino de Astinapura; seu bem-inten­ Antes do início da peça. o dalang apre­
cionado conselheiro K resna c o tirânico senta uma descrição detalhada do lugar e das
Werkudara, com seu caractei ístico polegar em personagens, e introduz a ação da peça como
garra: há Arjuna, o belo filho do rei, e seu her­ tal; as fases sucessivas durarão a noite toda.
deiro Abitnanyu, ambos com predileção por Das nove até a meia-noite o enredo se confi­
andar à procura de esposa e com frequência gura; da meia-noite às três da manhã ele se
acompanhados pelo velho e gordo Semar e intensifica; entre três e seis horas da madruga­
seus filhos, os bufões do wayang knlit. Mas da é resolvido. A peça termina ao amanhecer.
temos também o filho bastardo do rei Pandu, Geral mente, um espetáculo wayang é de­
Adipati Karna. e o perigoso maquinador, O votado a um lakon do ciclo completo da len­
primeiro-ministro Palih Sengkuni, os dois da. Às vezes, contudo, em grandes festivais
aguardando o momento da vingança. que duram muitos dias. todo um ciclo é exe­
De que forma o ilalang consegue movi­ cutado. Porém, o público javanês está tão fa­
mentar essa grande quantidade de figuras com miliarizado com as personagens e episódios
apenas duas mãos é seu segredo. Além do mais. do Ramayana e do Mahablmrata, que uma
ele também rege os músicos, dando-lhes as parle pode facilmente tomar o lugar do iodo.
deixas tamborilando-as com uma espécie de A tarefa de ator, narrador c comentarista
nrartelinho feito de madeira ou chifre. Se for do dalang exige o mais alto grau de concen­
preciso, o próprio dalnng pode acompanhar tração. Por horas a fio, ele permanece devota­
sua narrativa com efeitos sonoros produzidos damente absorto na proposiu e na atmosfera

J2 . Os hulÍHO do tciilru iivnvwc; : ' .1 ’ ,i . 1 ,-i .■ Semia. Garvii” , P eiriil ■ i,a R. I . M, V -i.,
Titrrrs Hinviai;. Amsiertlã. 0>5a.

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A .í ( ' i v i f i c a ç i l c *

da peça. A habilidade técnica necessária re­ de couro, mas é mais recente do que o wciytmg
quer muitos anos de treinamento. O dalang kuiil e originou-sc, segundo se crê, na época
deve trazei à vida dúzias de futuras diicremes, da invasão de Java pelo Islã. Seus temas hu-
cada uma individualmente caracterizada em seiam-se naquele período, c sua origem é atri­
cadência e entonação. Na peça sobre a lenda buída ao santo muçulmano Stman mg Giri.
Bltíiraisiyitíhlhíi dos pândavas e káuravas, por A forma tcrtVíiHg mais hnbitual hoje, e
exemplo, temos trinta e sete papéis principais, muito difundida, especial mente no centro e no
sem mencionar as figuras secundárias, os ani­ oesie de Java, é o iiínruig gofek {gatek quer
mais e o giimnigtin, a foliforme árvore do pa­ dizer redondo, plástico), com seus bonecos
raíso ou (cm Bali) em fornia de guarda-chuva. tridimensionais habilm ente esculpidos em
Uma velha norma diz que as maiores possibi­ madeira e ricamente pintados. Seu repertório
lidades de êxito do datang dar-se-ão se usar deriva principalmente da história do príncipe
exatamente 144 figuras em suas montagens; este Mcnak, um precursor do profeta Maomé. Os
número é considerado pelos místicos javaneses vitoriosos exércitos de Menak prepararam o
como correspondente aos 144 caracteres e pai­ mundo para o advento do Profeta, de acordo
xões humanos. com a lenda que remonta a fontes persas mas
As peças wnyang são apresentadas nos que, estranhamento, nunca se constituiu num
palácios dos nobres javaneses. Entre o pórtico tema para o drama na Pérsia, Na sua forma
frontal e os aposentos internos cone uma pas­ xiita na Pérsia, o Islã glorifica não os triunfos
sagem coberta iperinggilan, lugar de sombra), dos que vieram antes do Profeta, mas o martí­
e é neste espaço que armam, para o jogo de rio de seus sucessores, dramaticamente reence-
teatro de sombra, u sua tela. envolta por uma nados a cada ano como um testemunho reno­
moldura arniúde ricameme adornada e habili­ vado de fé.
dosamente entalhada, Como o trmwig tradi- Os bonecos do M.n./m,* gaíek são esculpi­
ciunalmente tem sido sempre uma atividade dos com o tronco curto e vestidos sunluosa-
masculina, os homens ainda setilani-se do lado inente. l icamenle bordados ou adornados com
"bom" da tela - ou seja, atrás do íl/ihing, de ornamentos de htnik. Os figurinos escondem
modo que possam ver os próprios bonecos. O com habilidade a mão com a qual o titereiro
lado do jogo das sombras c considerado corno segura seus bonecos. Os braços são articula­
de segunda ordem e, pela tradição, por toda dos mis ombros e cotovelos e, como todos os
Java. onde se sentam as mulheres. bonecos wayang. são movimentados por meio
Ein Bali. o protocolo artístico do teatm de finas varetas do madeira. Em 1931, a graça
wayang, e talvez ainda mais o social, é menos misteriosa das (sonecas wayang golek inspira­
estrito. O doUmg arma sua tela ao ar livre, e a ram o titereiro vienense K. Teschner a consti­
plateia senta-se informalmente no chão. To­ tuir seu Fignren.sfricgel Tlu-alrr, que trouxe o
davia. é em Bali que o caráter ritual permane­ wayang golrk e os conceitos do teatro de som­
ceu mais fone. Bali. a "Ilha dos Mil Templos", bras da Indonésia a entusiastas do teatro de
manteve-se mais fiel ao hiiiduísmo que Java. bonecos de toda a Europa.
onde o Islã ganhou terreno quando invadiu a Ainda outra forma de wayang è o iniyrmg
ilha, avançando a partir de Sumalra durante o krnchil ou kliilik (kcm ijtL klilik significa pe­
século XV. Até hoje. os dalang de Bali apre­ queno. delgado). Suas figuras são também fei­
sentam-se nos recintos do templo, e especial- tas de madeira, porém mais planas e equipa­
mente na entrada do primeiro pál io do tem­ das com braços dc couro. Tira seus temas do
plo. o assim cham ad o tjandi-beiuar. ou período entre o declínio de Majapahit 11520)
“portão dividido”. (No primeiro desses três e a ascensão do império islâmico de Demak.
pálios, ocorrem as popularíssimas brigas de Hoje está quase extinto. Apenas seu nome,
galo de Bali.) iioyr/iiA’ bchèr, sobreviveu, Fazia uso de um
Outras formas do teatro h « víi/i,i; desen­ grande rolo dc papel fibroso ou tecido de al­
volveram-se poste dormente, ao lado do im- godão. onde os personagens eram pintados. O
yang kitli!. Uma subespécie, o wayang çedoí, datang movimentava o rolo pela tela pintada,
também lançou mão dos costumeiros bonecos da mesma forma que um filme. O Museu

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13. Bontca do twiyang g o /? k do (cairo de .sombras da Indonésia, iava,
final do século X íX {Munique, Siudumiseum. Coleção dc Teatro de Bo­
necos).
lIÍ5 varela* patuna"'^'»-
d, de rc" "
H o deu ,nír\ * ° " X o U « Leden.us.und-
çr.0 io fte n ^ h:imMain*
15. Máscara de. demónio para a darrça tta r n n g indonésia. Q b o r r m g , um animal mítico, é carregado por dois dançarinos
A máscara c esculpida cm madeira e decorada com ctemenlos ornamcniais leiius de pergaminho dc búfalo dourado. Da
dha de BaJi (Offenbach am Main, Deulsehcs Ledemiuseum),

16, Friso c m rd c v o ix im ninfas dançantes (Apvnrn.vj, nnicroplo-tm M iastcriode 1'riíalikhan no Cam boja, f 'onstm ida por
jayavarman V l|, o ríliim o dos ^ntinjos reis do Khmcr. c. 3 IW,
* .1 ' C l. • : ^i>l í h l í l o ■ Fí trí fi C íl í !

Etnológico de Leiden e o Museu Pahemon nhadas tanto pela orquestra gamelan quanto
Radyapusiaka de Surakorta possuem cada qual por coros de homens e mulheres, atingiram
um bem -conservado rolo pintado wayang seu maior desenvolvimemo nas cortes de Java
bèbèr. central.
Hoje, nas cidades da Indonésia, o teatro Essas danças cerimoniais eram estritamen­
irciynug é tão comercializado quanto as danças te reservadas para apresentações na corte. Ain­
indígenas, as danças com máscaras do nvivong da no século XIX bastante adentrado a dança
lopeng, a famosa Dança das Ninfas (bedaja), a bedaja, com seu acompanhamento de canções
kipralt, dança acrobática de solo, ou a djaran melancólicas, só podia ser dançada nas cortes
képang, dançada em pares com bambus entre­ dos sultões de Java, diante de um público se­
laçados representando cavalos - e todas as nu­ leto. Ela é executada por um grupo de nove
merosas fornias de rvayaiig wong (wong quer m oças muito jovens envergando preciosas
dizer humano), o teatro do humano. mantos tecidos com relevos dourados e mo-
A música gamelan é um ingrediente cs vendo-sc com a graça perfeita da tradição da
sencial em todos os espetáculos tvayang da dança oriental. Cada gesto possui um signifi­
Indonésia. A orquestra consiste predominan- cado ritual, mágico, de acordo com o anidras
lemente em instrumentos de percussão (gamei hindu. Hoje a bedaja é dançada na cerimónia
é a palavra para martelo), gongos, tambores e que celebra o Garabeg, um festival muçulma­
xilofone, com alguns poucos instrumentos de no de sacrifício.
corda e sopro. O sistema de escalas gamelan c Pode-se julgar quão fortcmenie os indo­
construído sobre intervalos: suas melodias ba­ nésios ainda respondem ao encanto mágico do
seiam-se tanto na escala de cinco notas (xlen- teatro wayang por um poema escrito na déca­
dro) quanto na de sete (pelog). que recordam da de 20 peio escritor javanês Noto Suroto:
os tons maiores e menores da música ociden­
Senhor. deixai-me ser uni ivínvnig em vossas mãos.
tal. Pode ser considerada uma regra prática que
Posso ser um herói ou um demónio, mn rei uu um ho­
a slendra gamelan esteja geralmeme associa­ mem humilde, uma árvore, uma plaina, uin animal... mas
da com o trayuíjg p u m a e a pelog gamelan, deixai-me ser um .I.iv.inv ein vossas mãos... Anula nào
com seu tom menor, wayang gedok. lu[ cl minha balaElia ale a tim . t logo vos me levareis: eu
Uma orquestra gamelan também acom­ isndcrei descansar eoni os ouirns cuja peça esicja acaba­
da. listarei : escui idão com as miríades... tícnião. após
panha as danças cerimoniais apresentadas na centenas ou milhares dc anos. vossa mão mais uma vez
corte. Estas danças da corte, que são introdu­ me concederá n dom da vida c do movimentei... e eu.
zidas pelo dalang com recitações e acompa­ nnvamenre. [wderei Falar e Im u r. ho.i ima.

51
1
China

In t r o d u ç ã o na Ópera de Pequim, numa das mais atfamen-


le consumadas formas de leatro do mundo, a
Cinco mt] anos dc história medeiam nos­ arte dos acrobatas possui seu lugar de Itonrn.
so tempci e as fontes do teatro chinês. Impé­ No leatro chinês, a acrobacia, em sua nobre
rios c dinastias vieram e se foram desde os dias tradição, classifica-se como par da música.
primitivos das danças rituais da fertilidade e A lógica matemática de notas musicais re­
dus exorcismos xamânicos dos espíritos do presenta a ordem do mundo, as leis que gover­
mal. desde os primórdios da pantomima da nam o curso das estrelas e da vida na terra. A
corte e dos trocadilhos dos bufões. Milénios, interação entre costume e música culmina na
impérios e dinastias inteiros separam os dias furte tradição cerimonial sobre a qual o po­
do primeiro conservatório imperial de música der e a autoridade absoluta do maior Estado
daqueles que testemunharam, eventual mente, do mundo foram erigidos durante milhares de
a legitimação do drama chinês. Esse amadure­ anos. Exatamente da mesma forma como as
cimento foi levado a cabo pelo colapso do só­ pessoas comuns estavam sujeitas aos Senho­
lido edifício do poder de um império, á som­ res Tendais e os senhores feudais ao impera­
bra de Gêngis Khan. dor, também o imperador, por sua vez, estava
A mola propulsora íntima desse drama foi sujeito ao Senhor do Céu, a quem adorava cm
o protesto, a rebelião camuflada contra o do­ sua condição de Filho do Céu. Essa adoração
mínio inongólico. Assim, nos séculos XIII e expressava-se nas pantomimas sacras c nos ri­
XIV, o drama chinês celebrou seus triunfos tos sacrificiais, bem como nos sons da música
não no palco, mas nas colunas dos livros im­ radicada nos poderes cósmicos, música que.
pressos. Os dramaturgos eram eruditos, mé­ mediante suas leis, atrelava o sobrenatural a
dicos. literatos, cujos discípulos se reuniam um dever neste mundo. “Quem quer que en­
cm torno do mestre ao abrigo das salas parti­ tenda o significado dos grandes sacrifícios",
culares de recitais. Sua mensagem sediciosa disse uma vez Confúcio, “compreenderá a or­
era passada de mão em mão em livros de im ­ dem do mundo como se o estivesse segurando
pressão artesunal, ciegantem ente encader­ na palma da mão".
nados- A consequência dessa ordem do universo
O aplauso do povo, entrementes, perten­ é que a virtude é recompensada e o mal. puni­
cia aos malabaristas, acrobatas c mimos, Pelo do. A arle e a vida inovem-se dentro desses
precário balanço dos funambulislas. equili­ dois postulados. Seus fundamentos religiosos
bristas e prestidigitadores a herança teatral sempre estiveram ligados ao culto dos ances­
chinesa atravessou os milénios. Ainda hoje. trais e dos heróis - não obstante a intervenção
H istorio \Im n tn ft </u liu ttro »

do misticismo laoísta da natureza de Lau-tsé. dações, eclipses solares, os deuses da chuva e


a filosofia moral de Coníúeio, o advento do do vento, doenças e desgraças.
budismo e do cristianismo nesioriano, Essas danças xamãnicas w», suba* as quais
O heroísmo é a mais alta perfeição da vida o filósofo MoTt escreveu por volta de 400 a,C„
humana e, no palco, celebrou seus mais im­ foram de vital relevância durante o período
pressionantes triunfos tanto na forma de su­ Shang (até mais ou menos 1000 a.C.). No pe-
premo valor quanto na de humilde paciência. ríodu Chou que se seguiu, apareceram os pri­
Poetas e dramaturgos modernos devem meiros elementos profanos. Mimos e bufões
muito à tradição chinesa. Bertolt lirechl in­ proporcionavam diversão nos banquetes im­
corporou, em sua nova forma de drama épico, periais. Baladas e canções folclóricas eram
aquilo que chamou de “aspecto de exibição interpretadas numa “dança de louvor" panto-
do antigo teatro asiático''. Thornton Wilder, mímica (siiíig ira).
que passou os anos de sua juventude cm Hottg- Conta-se que cena vez Confiício ficou tão
Kong c Xangai, derivou a técnica de seu tea­ irritado com as momices desrespeitosas dos
tro primordial, sem qualquer tipo de ilusão, anões da corte, que ordenou ao governador
da arte da atuação chinesa. Paul Cluudel, que de Lu que executasse meia dúzia dos piores
viveu quinze anos na China como diplomata ofensores. Séculos mais tarde, isso ainda era
francês, recolheu os frutos de suas experiên­ apontado contra ele pelo cronista Ssu-rna
cias no Extremo Oriente em Lc Sou!ter de Sa- Ch'icn, cujo famoso Registro Histórico (Shih
tin. Estudou o teatro, o caráter e a lilosofta da Chi) comem um capitulo inteiro sobre u pro­
China e chegou à conclusão de que o enigma fissão de ator. Em contraste com o ensina­
da força C do poder deste populoso e gigan­ mento confucianu e sua rígida recomendação
tesco Estado poderia ser solucionado em de moderação e autodísciplina, Ssu-m aCh'ten
cinco palavras: "O indivíduo nunca está so­ declara: “Mas eu digo o seguinte: os cami­
zinho". nhos do mais elevado paraíso são por demais
incompreensivelmente sublimes: ao contrário
do que se pensa, é possível, mesmo falando
O r i g e n s e o s “ C e m J o g o s ’’ sobre coisas triviais, que alguém encontre o
caminho através do caos das confusões hu­
E natural para o senso inato de ordem dos manas".
chineses subordinar todas as coisas, deste e do Graças a esse velo. Ssu-ma Ch ien conver­
outro mundo, ao principio utilitário, seja no teu-se no advogado de todos os bufões e atores
domínio das idéias ou no da prática. Assim a da corte, explicjlamente nomeados por ele, que
música, o mediador que concilia o céu e a ter­ estavam entre a vanguarda do teatro chinês.
ra. também possui uma legítima missão edu­ Em primeiro lugar entre eles estava Yu-
cacional. A pcrcepção da utilidade da música, Meng, músico, bufão e mimo da corte do rei
segundo dizem, levou o mítico imperador ama­ Chuaug (613-601 a.C,) no reinado Chou. Esse
relo Huang Ti, fundador da nação chinesa (cer­ espirituoso anão não hesitava em atacar não
ca de 2700 a.C.), a injetar a magia dos sons apenas os excessos da vida da corte, mas tam­
nos propósitos da alta política. Acreditando que bém as injustiças do seu governante. Certa vez,
a música serve para manter a paz e a ordem, ele apareceu diante do rei nas vestes de utn
ele saudava seus visitantes oficiais com apre­ ministro recentemcnte falecido e lembrou-o
sentações musicais. de sua dívida dc gratidão para com a família
Mágicos e exorcislas eram responsáveis empobrecida do ministro: "Leal até a morte
pelo transcorrer seguro da vida rural, pelas boas foi o ministro Sun Shu-ao em Chou. Agora,
Colheitas c pela boa sorte na guerra, O xanta- sua família desamparada precisa carregar ma­
nismo era grandemente desenvolvido no norte deira para sobreviver. Alt, não vale a pena ser
e no centro da Ásia. onde seus praticantes for­ ministro em Chou!" O apelo mímico de Yu-
maram um grupo profissional distinto. Dan­ Meng foi um sucesso completo. O li lho do
ças rituais (mu u-ni eram apresentadas num falecido foi convocado à corte c investido de
estado de êxtase contra desastres naturais, inun­ um alto cargo.
■ ia
I. Cena itn A Esinth>fíiti <ln CttlutJc Di’^pniU'í;iiJíi. peça iln períodn CIiuli.

Esse pode ser um episódio (rivial para cm o cantinho inverso? Ssu-ma CtFien é uma
contar o principio da história do teatro chi­ importante testemunha de sua existência, mas
nês, mas sua moral c sugestiva. A virtude pre­ não árbitro nessa questão.
valece, o que ou quem quer que seja respon­ Conforme a história contada por Ssu-ma
sável por sua viróna. Ssu-ma Ch'ien. campeão C lfien. um hoinetu chamado Shau Wong. do
da arte do mimo. pertenceu à curte do impe­ estado de T ‘si. veio diante do imperador Wu-li
rador Wu-li (140-N7 a.C.) e desfrutou, junta- em 121 a.C. para exibir sua habilidade enteo-
mente com numerosos eruditos e poetas, os municar-se com ns fantasmas e espíritos dos
favores desle governante amante das artes, Foi mortos. A consorte favorita do imperador,
ele quem, em HI4, fundou aquilo que é co­ Wang, havia acabado de morrei. Com o auxí­
nhecido como Gabinete Imperial tle Música. lio de sua arte, Shuo Wong fez com que as
Ele incorporou os novos instrumentos musi­ imagens dos mui tos e do deus dos lares apare­
cais, trazidos ao pais por equipes de constru­ cessem à noite. O imperador a via a uma certa
tores da Ásia Central, que haviam chegado à distância, atrás de uma cortina. Conferiu, en­
China para ajudar na construção da Grande tão, a Shau Wong. o título tle “Marechal do
Muralha, e autorizou a composição de novas Saber Perfeito", cumulou-o de presentes e con­
melodias para esses instrumentos. Desde en­ cedeu-lhe os ritos destinados aos convidados
tão o alaúde de quatro cordas ip ’i-p Vti com da cone. Quando, por fim. Shau Wong lormiti-
sua extensão de três oitavas, e a iHiize, uma se ambicioso tle ma is e falhou repetidas vezes
flauta com sets buracos c uma chave, lorna­ ao invocar os espíritos desejados, o Imperador
ram-se componentes bem-estabelecidos da tornou-se cético, c dois unos ntais tarde o pró­
orquestra chinesa dc palco. prio Sliao Wong foi sccretamenle despachado
De acordo com Ssu-ma CIFicn, os primór­ para o mundo dos espíritos.
dios do teatro dc sombras chinês remontam ao O lealm de sombras, entretanto - o qual,
período do imperador Wu-li. Mas essa infor­ de alguma fortna, Shao Wong parece ter usa­
mação ainda não decide a controvérsia corrente do - permaneceu uma forma favorita do teatro
entre estudiosos do século XX quanto â ori­ chinês. Os bonecos de Pequim o de Szechuan.
gem do teaU'0 de sombras: teria ele viajado da feitos dc couro transparente de burro oii búfa­
China, via índia e Indonésia, até a Turquia lo, transmitem uma impressão Ja imaginativa
2. Bonecos de teatro de sombras chinês da lendária "V iagem à Jndid",*quq o m onge peregrino Huan-Tsang em preen­
deu a fim de adq uirir escritos budistas. Ele cam inha à frente com feito s de livros, seguido por seu cavalo branco, o rei
macaco Sun W u -kTung, Chu Pa-isie, o cabeça de porco, e o monge Sha W u-tsing (C hicago, F ield Museum o f Nature
H w iory),

3. Figuras de teatro de sombras de Szcchwan: princesa no lom bo do cavalo faz prisio n e iro o jovem com quem deseja
sc casar, século X V II ! (Offenbach am M ain, Deutsche* Lcdcnnuseufll).
4, Cena de teatro de sombras: 4 princesa Kuun Yin no trono de lótus durnnlc umu recepção (Munique, Stadlmuscum,
Coleção de Títeres dc Teairo)-

5. Cena dc teatro de sombras: encontro im parque de animais do pagode (Munique. Stadtmuseum. Coleção <Je Tíicrcs
dc Teatro).
ifiltiiritl ‘ f . /. ■ I r;j' ru ■

(>. Títer e d _■ I :iir(i de s . - r h: .fs S I . O , 1


E, i' i. ■ '
A n g f u ii.

yang; porém, podemos apenas supor como ele


deve ter sido. Posto que os " Cem Jogos" en­
volviam prinetpalmeme pantoiuirruLs, dança e
apresentações acrobáticas, talvez estejamos cer-
los ao imaginar uma plataforma simples, ele­
vada, possivelmente coberta por um telhado e
limitada por uma parede de fundo. Os convida­
dos provavelmente assistiam ao espetáculo
sentados em seus palanquins, como era ainda
o costume das plateias do século XVI] das dan­
ças gifiakti (originalmente coreanas) do Japão.

O s Ií s t u dantus do J a rdim

das P eras

0 período da dinastia T ’ang (618-906)


assistiu ao nascimento do livro impresso e da
mnnulutura da porcelana, a um grande flores­
riqueza de ação c dos personagens épicos dns cimento da pintura c da poesia lírica e à intensi­
mitos folclóricos. ficação do comércio com a Arábia e a Pérsia.
A evocação visual dos “espíritos dos mor- Foi também durante este período que teve lu­
tos” , na época do imperador Wu-ti, reflete-se gar o inais famoso evento da história do teatro
hoje na terminologia do teatro chinês, onde as 11a China - a fundação do chamado Jardim das
duas portas —de entrada e de saída ã direita Peras, a academia teatral imperial da qual os
e à esquerda do palco, sempre foram conheci­ atores de hoje ainda linim sua designação poé­
das como as “portas das sombras" ou "portas tica de “estudantes do Jardim das Peras".
das almas". Mmg Huang. conhecido na história como
Ao lado da mtrsica da corte e das danças o imperador Hxuan-isting (712-755), foi o m i
xamânicas com máscaras de animais, os en­ xoteil chinês. Amava o esplendor e a fama.
tretenimentos teatrais da época do imperador li netas mulheres, cavalos puro-sangue, caçar e
Wu-ti incluíam também a alegre diversão dos jogai pólo, bale e música. Conta-se que foi ele
"Cem Jogos" das feiras e mercados, Fora do o primeiro a “coletar as flores dispersas da poe­
portão ocidental da capital, Lo-yang, havia um sia. música e dança e entrelaça-las 11a grinalda
recinto de feiras, onde mágicos e malabaris­ do drama”. Em 714, Ming Huatig fundou um
tas, engolidores de espadas e fogo, exibiam gabinete imperial para o desenvolvimento da
suas habilidades. música instrumental e da composição (Chião-
Au longo do período Suy (220-618 d.C) Fana ) e organizou 0 chamado Jardim das Pei as,
elementos ocidentais vieram na esteira dos a primeira escola de arte dramática da China.
mercadores através da Ásia Central, até o Mar No Jardim das Peras do imperador trezentos
Cáspio. Mercadores e embaixadores persas e jovens recebiam cuidadoso treinamento em
hindus chegaram ao país e, em 610, u impera­ dança, música instrumental e canto. Os inais
dor Yan-ti construiu o primeiro teatro com a talentosos podiam esperar por unia brilhante
proposta específica de entreter embaixadores carreira na cone. Todos os dias, Ming Huang
dc países estrangeiros. Sabemos que o teatro comparecia pessoal mente para verificar que
ficava do lado de fora do portão sul de l.n- progressos os jovens estavam fazendo; tinha

♦ 58
* Chtna

um interesse pessoal em julgar seu desem­ noite Ming Huang convidou sua bem-amada
penho. para uma taça de vinho no Pavilhão das Cem
No “Jardim da Primavera Perpétua", uma Flores. Ela espera por ele. vestida com suas
escola paralela ao Jardim das Peras, um grupo mais deslumbrantes roupas, quando fica saben­
de trezentas moças, escolhidas a dedo por Sua do que « Imperador foi para os braços de ou­
Majestade, eram treinadas para alcançar a per­ tra mulher. Ela se embriaga para afogar sua
feita praça e elegância do movimento e da dan­ tristeza, vergonha e ciúme.
ça. Conta-se que. para agradar à sua linda Na direção dada a esta cena - tratada com
concubina Yang Kuei-fci, o próprio imperador muita habilidade e com consciência dos pro­
ocasiona Intente vestia uma roupa de bobo e blemas estéticos que a representação da em ­
improvisava pequenas cenas com os atores. O briaguez pode trazer pura o ator os estudio­
“palco" podia ser uma varanda abena num dos sos da cullura chinesa encontram uma ponte
edifícios do palácio, um pavilhão ou algum que une o passado ao presente. No tema e no
local preparado no jardim do palácio. Para uma estilo desta cena vinuosislica do período T'ang,
locação pitoresca, poderia ser escolhido um e em sua harmoniosa combinação de música
grupo de árvores, ou um tanque com lírios, uma vocal e coreografia, os estudiosos vêem um
ponte, uma casa de chá. Havia canções, dança paralelo ao estilo da Ópera de Pequim atual.
c música onde e quando o Imperador assim O estiin, aqui, acentua o senso conceituai e
ordenasse - nas refeições, nas recepções ofe­ artístico da apresentação, a ação “intima",
recidas a convidados de honra, como diversão mais do que as técnicas específicas de repre­
durante um jogo de xadrez, ou durante acon­ sentação. O historiador do teatro chinês Huang
tecimentos cerimoniais da corte, que sempre hune explica que. “para chegar a uma aprecia­
duraram hnras. ção correta do teatro chinês, o europeu preci­
A história de Ming Huang c sua "Madame sa estar consciente de que o maior interesse
Pompaditur", Yang Kuei-íci, lomou-se tim dos não é tanto sublinhar a ação como tal. mas
temas favoritos da arte. música, poesia e dra­ deixar o público sentir a história, O acento está
ma chineses. Uma das mnis comoventes de nas possibilidades espirituais, mais do que nas
suas versões para o palco é o drama O Palácio físicas".
í!a Vttht Eterna, do final do século XVII. As Essa circunstância explica também o por­
falas desta peça, imortalizando o juramento quê de, no decorrei1 dc longos períodos, não
trocado entre o imperador e sua bem-amada - terem sido introduzidas m aiores inovações
“sempre voar lado a lado. como os pássaros cênicas no teatro chinês: tudo o que aconteceu
no céu e sobre a lerra, unidos como o galho é foi uma ampliação tios meios teatrais, do al­
tinido à árvore" são ião hem conhecidos na cance da expressão musical, do número dc atu­
China quanto o são, na Europa, as palavras da res a fazer pane do espetáculo.
Julicta dc Shakcspcare: “Eoi o rouxinol, e não Durante o período das Cinco Dinastias
a cotovia...”. (907-960). com sua agitação e instabilidade
As crónicas, romances c peças dc teatro política, o teatro não encontrou condições pro­
testemunham que Ming Hiutng manteve o seu pícias pura um desenvolvimento ulterior. Os
juramento. Quando Yang Knei-fei foi vitimada estudantes do Jardim das Peras tiveram dc es­
por um golpe revolucionário, seu Romeu im- perar que a dinastia Sung (960-1276) resta­
]teria! apressou-sc a segui-la ao Palácio da Lua, belecesse a paz e a prosperidade antes que tam­
onde habitam as almas abençoadas. Conta-se bém eles pudessem adentrar uma nova era
que, nos bons tempos, certa vez Ming Huang dourada.
rompeu com sua bela concubina. Este episódio Soh u imperador Chen-tsung (99b-1022)
é o tema da peça A Beleza Embriagada, ohra- as canções e danças tradicionais, embora já
prinui de virtuosismo histriónico, que durante variadameme marcadas e coreografadas, foram
muitos unos fez parte do mternacionalmcnte pela primeira vez intercaladas com represen­
aclamado repertório da Ópera de Pequim. tações de eventos históricos, lais como cenas
A peça pode ser descrita como um musi­ cortesãs, batalhas e cercos provenientes da his-
cal de alo único. Seu enredo conta como certa lória do famoso período dos T rê s Reinados"

• Sfl
H i x f ó r i t i Atiiiíditíf Tí'ttiro *

do século II [, Esies "xlunvs de variedades” Ium ao redor dos funambulistas. adivinhos e mala­
d ú i), com sua trama livre, mas com sequên­ baristas. ou visitavam as embarcações festivu-
cias de ação cada vez mais ricas, tomaram-se por mente decoradas perto do rio, no campo aber­
fim os precursores diretos do drama chinês. to. se erguia o teatro. Seu telhado dc madeira,
Numa descrição de um banquete imperial decorado com bandeiras coloridas, podia ser
no início do século XI, encontramos listados visto de longe, pois o tablado do palco, supor­
no programa dezenove números, incluindo tado por duas dúzias de sólidas colunas, fica­
dois "shows de variedades". Cada um deles va a uma distância maior do que a altura de
geralmente linha três personagens: um vene­ um homem acima da multidão. 0 chão do pal­
rável homem barbado, um robusto e determi­ co era coberlo por um tapete de grama. Unt
nado “cara-pintada” - um tipo cIoh-hcsío - e barracão de madeira adjacente servia de ca­
uma figura de imperioso comandante. Esses marim para os atores. Duranic o espetáculo, o
“shons de variedades” incluíam danças, poe­ público ficava em pé. ao redor do palco, num
sia c música, e cenas de farsa e récitas. Os semicírculo.
“shoivs de variedades" eram representados no O imperador Hui-tsttng (1101-1 125) in­
palácio ou no parque imperial, nas salas de cumbiu o mais famoso pintor de sua época.
recepção e cerimoniais dos senhores feudais, Chang Tse-tuan, de pintar o festival Ch'ing
e nas feiras, por ocasião dos grandes festivais Ming num magnífico pergaminho, que che­
populares. gou até nós - precioso legado de uma dinastia
O mais famoso pela variedade de suas condenada à ruína. Pouco (empo depois.
atrações era o festival anual da primavera Gêngis Khan e seus mongóis invadiram o país.
(Ch 'ing Ming) em Kaifeng. a capital da dinas­ Tornaram o imperador c seu filho prisionei­
tia Sung do Norte. Milhares e milhares de pes­ ros e incendiaram a capital Kaifeng. reduzin­
soas chegavam ao local do evento, às margens do-a a cinzas. Mas o pergaminho pintado, de
do rio Pien, ao norte de Kaifeng. Multidões aproximadamente onze melros de comprimen­
agrupavam-se nas longas fileiras de barracus. to por trinta centímetros' de largura, foi salvo

7. C e llii i k IIIIvi p i\:a liis liji ie:i d o p c iim ln ilu s l'i ês k o ó v u lo s . n V n lu 111 d.

* 60
• C hina

c levado para Hang-chow, a alguns quilóm e­ tistas e intelectuais chineses lhe dessem uma
tros ao sul de Kaifeng. Durame o século X VI11, visão íntima das ideias e da mentalidade do
artistas chineses o copiaram em infinitas, no­ povo conquistado. Porém, na China sob o do­
vas e individuais variações. Em 1736. por mínio dos mongóis, como tantas vezes na sua
exemplo, cinco dos pintores da corte do Im­ história, o drama tomou-se um centro de re­
perador Clvien Lung estavam trabalhando em sistência subterrânea,
lais cópias. Nos séculos X I11 e XIV, tanto no Norte,
A dinastia Sungdo Sul. exilada cm Hang- que estava nas mãos dos mongóis, quanto no
chow, sobreviveu por mais um século e fez lo­ Sul. que ainda desfrutava de uma vida cultural
dos os esforços para proporcionar ao povo um desagrilhoada, as duas formas caracterislicas
sentim ento de prosperidade e segurança, a do drama chinês desenvolveram-se mais ou
despeito da perda do Norte. Em Hang-chow, menos Simultaneamente: o drama do Norte é
como no passado no festival CVing Ming em o drama do Sul.
Kaifeng. as barrocas de espetáculo prolifera­ Os chineses comparam o drarna do Norte
ram novamente, talvez mais num erosas do ao esplendor da peônia, e o drama do Sul ao
que nunca. brilho sereno da tlor da ameixeira. Estas en­
Quando Marco Polo atingiu a China na cantadoras metáforas, sugerindo uma exten­
viliima parte do século XIII, deu ao pais o nome são que vai da força fulgurante à tênue flores­
pelo qual ele era conhecido pelos governantes cência, caracterizain tanto a escolha do mate­
turcos e rnongóis: Catai. As descrições de rial dramático quanto o tipo de tema. A escola
Cambalu, a “cidade de Khan", por Marco Polo, do Norte escreve sobre o valor e os deveres,
fizeram com que ela fosse vista durame muito nu guerra como nos assunlos amorosos - temas
tempo na Europa como a quintessSncia do es­ ditados pela ética eonfuciana com sua insis­
plendor principesco - na verdade, muito em tência no dever público e 11a piedade filial - ,
função do seu cerimonial teatral da corte. como a "origem de toda virtude”.
A escolado Sul é mais complacente. Deli­
cia-se com os semi mentos e aquelas pequenas
O C aminho para o D rama indiscrições, com o uma olhadela furtiva 11a
alcova de uma mulher, ou até mesmo num per­
Ao lidarmos com a emergência do drama fumado decote. Na Escola do Sul. uma moral
chinês enquanto forma literária, lemos de per­ mais flexível combina-se com um estilo mais
guntar por que a invasão mongol provocou informal.
nessa civilização milenar a crise cultural fun­ No drama do Norte, tudo - da rígida nor­
da mental que levaria a formas artísticas e cul­ ma dos quatro atos à meliculosatnente segui­
turais inteiramenle novas. da nomenclatura da rima e da música - vai de
Existe uma explicação bastante plausível: encontro â clareza de estilo. No drama do Sul,
o fiiu dos grandes exames estatais, sem os quais com sua vida alegre e turbulenta e música mais
nenhum estudioso seria previa mente admitido ruidosa, predominam os efeitos poéticos.
ao gabinete imperial, libertou forças intelec­ Foi em Hang-chow, a capita! da dinastia
tuais que agora se concentravam na tentativa Sung do Sul, que se desenvolveu, em contras­
d e e stim u la r a resistência interna às leis te com o “rígido” drama do Norte do período
mongóis, no aspecto aparente mente inofensi­ mongol. uma forma operística do drama Uum
vo da poesia. clt'it). Este foi um avanço importante no tea­
Na atmosfera de liberdade intelectual sob tro chinês.
o domínio de Gêngis Khan. os protestos eram
expressos contra a corrupção c venalidade dos
próprios chineses, contra os oportunistas c vira- Drama do Norte e D rama
easaeasque concordavam em servir aos aman­ doS ul
tes da música mongóis.
Clêngis Khan promovia as artes, porque Cronologicamente, o drama do Norte es­
esperava que o contato com os principais ar­ lava cerca de duas gerações à frente do teatro
- f>I
8. P a lc o c h in ê s <h ►sé cu lo X II . I F ia lh o de Mm rolo de scU.i p m lu d o . rc lra tim d o o fesh v al C h i n g M i n g c m K r ó le n ^ a
c a p iia l da d in a s lia S u n g d n N o rte - 1 ] 261. C ó p ia do o r ig in a l d e C h n n a . T s c -lu u n , íc it a c m I 7.16 p o r c in c o p in to re s d a
corte do im pe rad or { 'h ie ii [.un e n m iK ii, M useu).
• (V rtm j

do Sul. Ele pode reivindicar a descendência mínio mongol, sob Gêngis Khan e Ktiblai Klian
de Kuang Han-King (nascido em 1214. cm - foram alguma vez representadas no palco.
Tatsu), o “pai do drama chinês". Kuang Han- Quando Kao Ming, um «lida! influente de abas­
King foi Um alto oficial de Eslado da dinaslia tada ascendência, publicou sua famosa peça O
Kin antes de sua destruição e mais tarde, em Conto do Alaúde em 1367, o Sul também esta­
Pequim, um médico e expcrienle especialista va ameaçado pelos mongóis. Como a maioria
em psicologia feminina. Escreveu sessenta e dos membros da classe culta de sua época, Kao
cinco pegas - comédias de amor, peças cor­ Ming era um seguidor de Confúcio. Ele era con­
tesãs e dramas heroicos. Catorze dessas obras tra a corrupção e contra a desigualdade social,
chegaram até nós. Hoje, os chineses gostam e a lamentava quando sentimentos humanos
de colocá-lo ao lado do grande dramaturgo eram desconsiderados ao se deixar que as dife­
da Grécia clássica Esquilo c do moderno es­ renças entre os ricos e os pobres prevalecessem
critor de abordagem psicanalítica americano contra a voz do coração. Ao lado do Conto do
Tennessee Williams —uma demonstração per­ Alaúde, as obras mais conhecidas das dinastias
feita de quão fúteis tais comparações podem Yuan e Ming que chegaram até nós são O Pavi­
ser. Um de seus mais tristes enredos, uma peça lhão do Culto ò Lua, O Grampo, O Coelho
chamada A Permuta entre o Vento e a I a m - a Braaeo e O Ardil dos Cachortos Mortos. E de
história de uma jovem escrava que precisa ves­ se presumir que sua disseminação se deva
tir sua senhora, que está prestes a se casar com grandemente ao livro impresso.
o homem que ela própria ama - demonstra que Enquanto as multidões de pessoas comuns
Kuang Man-King não necessita de compara­ aplaudiam as peças musicais com conteúdo
ções. A fama de Kuang Han-King se iguala à histórico, representadas por rrottpes ambulan­
de seu contemporâneo Wang Shih-fu, para cujo tes num palco improvisado, o drama se desen­
famoso Romance da Câmara Ocidental ele volvia numa forma de arte separada e tornou-
escreveu um quiulo ato após a morte do autor. se matéria de crítica literária. Alguns desses
Esta peça, aliás, não apenas nos fascina pelo ensaios críticos nos foram transmitidos pelus
lirismo com o qual apresenta o romance entre eruditos e considerados dignos Je serem lega­
o estudante Chang Cliiin-jui e Ying-ving, a fi­ dos. Mas, embora falem do valor literário de
lha de um ministro da dinastia T'ang, como uma determinada peça. tais críticas não nos
também nos dá um vislumbre da importância contam nada a respeito do teatro Como um lu­
dos exames oficiais, que claramente eram não gar onde o drama é trazido ã vida. Este fato foi
apenas a chave para o privilegiado statns de destacado duzentos anos mais tarde pelo críti­
runcionário público, mas. como em A Câma­ co Ku Ch u lo, na época do renomado drama­
r a Ocidental, também um requisito para obter turgo T 'ang Hsten-tsu. Ku CIYuIu escreveu a
a mão da mulher amada. extraordinária sentença que se segue, minta
Outra peça. escrita poucas gerações mais recensão da famosa O Pavilhão das Pcânias,
tarde por Ki Kiun-siang de Pequim, teve seu dc T ' ang Hsien-tsu: "Logo que O Pavilhão das
caminho aberto para os palcos ocidentais gra­ Pcânias surgiu, todos se apressaram a lê-la e
ças à livre adaptação de Voltaire. É O Órfão falar sobre ela. o que tomou possível reduzir o
da China, encenada pela primeira vez em Pa­ valor de A Câmara Otidentaf'.
ris em 17.1? com a atriz Clairon no papel de O Pavilhão das Peôttias. ao que parece,
Idamé. num desempenho entusiasticamente não foi uma sensação teatral, mas literária.
aplaudido por Diderot. Goethe retomou o mes­ T 'a n g H sien-tsu. um co n tem p o rân eo de
mo tema em 1781. com seu fragmento Elpenar, Shukespeare, era um erudito, não um ator. Sua
mas o Extremo Oriente o derrotou: nesse caso. residência, conhecida como a Sala Yu-Ming.
ar» contrário de sua experiência com Ifigénia, onde seus alunos se reuniam, sugere sem dú­
ele não conseguiu reajustar o amigo modelo vida uma conexão com o teatro pela inclusão
ao espirito da htimaitiiits e. assim, absorvê-lo da palavra yit. “ator", mas, a julgar pelos re­
no drama clássico alemão. gistros históricos, as ambições do mestre como
Não se sabe se, e como. as obras-primas as dos discípulos eram de um tipo puramcnle
dramáticas do período Yuan - na época do do­ literário. Os “estudantes da Sala Yu-Ming" cs-
■ 6<
i

l> IIi k i r i í ;; m 1|í ;,|-1| , h |i . l, li;i O it„n tan, '.-tf'/ ( Yu mí i f f f h -iiinttuf. ilc W íim^í S h ili- h i In t u i J n s c c u li. \ U I nM jiin|iu o > loiitlu
tL mn.i ik' Mlu^rus hi.jxtK’ po' Mui Cli i iliH< <ifi>iu;i. M^-uih liii imlMliHmJ io kun^ii
10. Cena do drama musical chinês Fctn^micn-ho. Desenho em gii vermelho de A. laoovlev (tirado de fr ThtAfrc
Ciiitutix, Paris* 1922). 1

11 - Pigura em terracota de uma dançarina chinesa da


dinastia T'ang (6lH-'K>ííj: umexcmE>lo primitivo da "lin­
guagem das mangas” {J;rankJun am Main. Lichighuus).
li t b t õ r iu ‘• t u i U " Tcíilrt) .

tnvam interessados na critica do drama, não haviam levado n linguagem dos movimentos das
do espetáculo. Quando foi proposto a Tang mangas á perfeição da beleza transcendente.
Hsien-lsti que oferecesse leituras dramáticas. Como um meio de expressão teatral, a "lingua­
Cie respondeu com a inescrulahilidade da sa­ gem iLis mangas" vai da alegre concessão de
bedoria chinesa: "Estais talando da mente, mas um desejo às profundezas do desespero.
eu estou falando do amor".
M angas Imincas podem psirreei lào lum inosas qii;m -
m borboletas o ião depressivas quatiio morcegos: as mãos
podem parecer com o sendo dc alaUiMro. As palmas po­
A P e ç a M u s i c a l l>o
dem ser pmiadns de c o r dc rosa para as mulheres e os jo ­
P e r í o d o M jng vens lic rn is , flexíveis e maleáveis como *c não possuíssem
jum as. Causam iqipressão me&mo i d iM in c u Podem em o­
Enquanto os estudantes de propensão li­ cionar. encher de medo. cativar... { Kulvodová-Sis-Vim is).
terária reuniam-sc em Limo do dramaturgo
T an g Hsicn-lsu na Sala Yu-Ming, o músico Os movimentos das mangas são os res­
Wei Liang-fu desenvolvia, a partir dos elemen­ ponsáveis pela grande cena de loucura da jo ­
tos da música do Norte e do Sul, um novo es­ vem Ycn-jung em A Beleza Resiste 11 Tirania.
tilo musical baseado em sistemas tonais c rit­ Para escapar da ordem imperial, ela simula
mos fixos. Ele criou urna nova forma teatral, íi repentina loucura (este c também um tema fa­
pega musical (Ttiu-Wi '(7), Wei Liung-fu era vorito (las peças >tõ japonesas). Ela arremessa
professor de música na cidade de Soochow, suas longas mangas brancas numa movimen­
que SC tornou a capital cultural d o período tação agitada e febril e as deixa cair abrupta-
Ming e atraiu uma multidão de poetas, músi­ mente, estremece de tenor, destrói seu precio­
cos, estudiosos e lmit/x‘3 teatrais. so diadema dc coral, ri insanamenic por trás
As reformas musicais de Wei Uang-fu e de urn longo véu dc cabelos negros - e assim
os dramas líricos e poéticos do mestre da Yu- Yen-jurtg destrói a imagem de sua beleza e,
Ming, cujas quatro peças toais famosas são com ela, o desejo do imperador. O grande in­
conhecidas pelo título conjunto de Quatro So­ térprete de papeis femininos da Ópera de Pe-
nhos âa Soía Yrr-Afiiijç, estabeleceram os fun­ quim, Mei Lan-fang. costumava interpretar esta
damentos para a alta perfeição do estilo mo­ cena com força expressiva e pungente até a
derno da Opera de Pequim. Seus figurinos sun­ velhice (ele morreu cm 1061).
tuosos, seu cerimonial elegante, sua fascinan­
te precisão de linguagem gcstual e seu contro­
le artístico do corpo - tudo isso remonta à era A CON CEPÇÃ O ARTÍSTICA DA
dourada da ópera da dinastia Ming. Ó p e r a d e P e q u im
Num palco nu. destituído de cenário ou ele­
mentos decorativos, o ator - que em ao mesmo Por volta da metade do século XV)]]. du­
tempo cantor, recitadore dançarino - dava vida rante a dinastia Ching, a peça musical lírica e
u um mundo mágico, perfumado por pcônias. poética começou a se desenvolver na direção
flores de pêssego e roseiras; um mundo no qual de um novo estilo, acentuando um sentido de
amantes infelizes unem-se corno borboletas, realidade e exigindo um palco maior, "públi­
mas em que a espada flamejante da vingança co". O imperador Ch'ien Luiig (1736-I71J5)
lambem cobra seu tributo. A expressiva lingua­ tinha um grande interesse pelas troitpes tea­
gem dos gestos, os graciosos movimentos de trais da China e encontrava tempo, em suas
braços e mãos sob a fluida seda branca - tudo viagens, para visitar os teatros das províncias.
isso foi aperfeiçoado no período Ming. Assistia aienliimente à atuação, canto e dança
Uma das prescrições morais de Confúcio dos artistas. Os melhores deles eram enião
diz que o corpo precisa estar o rnais coberto chamados a Pequim.
possível. Este era urn de seus preceitos mo­ O nome, aliás, refere-se menimentc à ori­
rais, que ele pielcndia que fosse obedecido gem do novo estilo, não à sua localização sub­
especialmente pelas classes mais baixas. Mui­ sequente. O estilo da Ópera de Pequim com­
to tempo antes, no período T an g , as dançarinas bina os dois elementos dominantes do teatro
* 66
• íhn iti

-dlinês: a perfeição uniforme do conjunto e O mor alua num pule o vazio. Não conta
também o desempenho individual singular do cora nenhum acessório externo para ajudá-lo.
ator principal. Mci Lan-ftmg. delicado homen­ Tem de criar trulo unicamente por meio de seus
zinho com mna graça sem idade, que por mui­ movimentos - a ação simbólica, como lam-
tos anos retratou a heleza e o fascínio femini­ hém a ilusão espacial. É ele quem sugere o
nos, tornou-sc o ídolo iniei nacionalineiKc acla­ cenário e toma visíveis os acessórios cénicos
mado do teatro chinês. Seu mentor C1t'i Ju- inexistentes.
shan escreveu ou adaptou perto de quarenta O palco dlinês é o mesmo de séculos atrás,
peças para ele. Mei Lan-fang estrelou lotias uma simples plataforma com um fundo neu­
das. exibindo sua arte única e sutil. O texto tro por detrás. Nenhum bastidor, nern palco
literário era a Ida que Mei Lan-fang adornava giratório, praticável ou alçapão ajuda o ator;
com os intrincados e sutis ornamentos de suas ele próprio precisa criar todo o cenário.
variações histriónicas. Os únicos acessórios cênicos são uma
Supondo-se que uma mesma peça fosse mesa, uma cadeira, um divã coberto com um
apresentada em Pequim, Szcclian, Cantão ou precioso hrocadoou com um tecido cinza, Mas
Xangai, isto resultaria em quatro resultados esses objetos podem representar qualquer coi­
bastante diferentes não apenas no que diz res­ sa: um trono, uma montanha, uma caverna,
peito à produção como tal, mas lambem por­ uma corte de justiça, uma fonte, um pavilhãu.
que o texto ê tratado muito livrcmentc, poden­ Se o ator sobe na rnesa ou cadeira e cobre a
do ser alterado à vontade, às vezes até virando cabeça, significa que d e se loriuni invisível,
a ação às avessas para agradar o astro do espe­ que escapou de seus perseguidores. Se torna
táculo. Da mesma forma, a composição da or­ um chicote de montaria que lhe c entregue,
questra varia muito, pois os músicos aderem significa que d e está montando um eavalo; d e
fortemente à tradição musical local. desmonta ao devolver o chicote á um servo, e

• ti?
13, O (O nerai Ma Sou. jx-rsunapem da p c,., hislm ca ,1 H, l,rn,!„ ,!<■ K uu-lm *. t i^urin,,. m áscara c ec slm carnea* Mt
den, ao estlln da Opera de IVtgaim (cf. iluuraVão 17 na w qiicuciaj. K sum pa o .k .n d a de A Jacm les m rãdo de U
Çhmuix, Paris, 1922).
1

14. Teatro chinês em Xangai. O palco ê erguido num espaço semelhante a um salão, com galerias laterais para as
espectadores e musas que ucupam n rés-dn-ehão diante do palco - o equivalente ao m i L t ic U a ll do Extremo Oriente.
Desenho de M. Koening (du t .H U t ^ n u i r m de 2 1 de novemhro de 1K74* hiri&J.

15. £’ itiiu ra de máscara h iíh m itM h Á s ia O ric itia l l C o ­


lou ia. M useuin l in itttasiaiíschc KamMK
f i i s iò r iu M u n d ia l d o T r tu r o

quando o servo sai do palco com o chicote, está atar sobre o rosto uma máscara marcial para
levando o cavalo embola. Uma paisagem há­ amedrontar seus inimigos. Seus súditos, o povo
bil mente pintada numa tela suspensa represen­ de Ch‘i, não demoraram ã tirar partido desse
ta o muro de uma cidade com seu portão. Lima bicho-papão militar numa pantomima burlesca
bandeira com linhas horizontais negras signifi­ muito popular sobre a “falsa cara" de seu go­
ca tempestade, um guerreiro agitando bandei­ vernante, chamada O Rei de Lan-ling Vni à
ras, um exército inteiro. Duas flâmulas com ro­ Guerra.
das pintadas, carregadas tanl» pelo próprio he­ Mas, fosse o papel de um guerreiro ou de
rói como por dois coadjuvantes, indicam que uma linda c jovem concubina, seria sempre in­
ele viajou de carruagem. Um ator segurando urn terpretado por um homem, até o século XX.
remo é um barqueiro - ajuda sua dama a entrar Embora não houvesse nenhuma exclusão ca­
no barco, desatraca, reina contra a corrente, sal­ tegórica da atriz na China, como havia no Ja­
ta. com um grande pulo. para a outra margem. pão. até perto do fim da dinastia Ch'ing, no
A ilusão é completa, graças ao alcance expres­ início do século XX, era considerado incon­
sivo do corpo c dos movimentos do ator. Suas veniente para as mulheres aparecer no palco
mãos e gestos, o ritmo de seus movimentos, con­ juntameme com homens.
tam histórias completas, criam uma realidade O privilégio de interprelar papéis femini­
que outros podem vivenciar. nos. da '‘feminilidade" masculina altamente
Da mesma forma que Mareei Marceau estilizada, devia ser adquirido ao longo de anos
sobe numa escada de navio num palco nu, da de rigoroso treinamento, e isso era mais aprecia­
mesma forma que seu Monsieur Bip atravessa do que a própria condição natural. Durante o
todos os paraísos dc êxtase e todos os infernos domínio mongol c sob o governo do imperador
do desespero com nada alem de um chapéu de Ming i luang. as mulheres foram admitidas tem­
palha amarelo e um cravo vermelho, assim o porariamente no palco como parceiras iguais.
ator chinês pode nuiver montanhas, sondaras Mas Kublai Klian, igualando arte c venalidade
distâncias do espaço e riu tempo com um úni­ uum decreto datado dc 126.1, relegou as atrizes
co passo. Ele abre portas que não existem, atra­ indiscrmiinaditmeme no nível dc cortesãs, [slo
vessa soleiras invisíveis; ele aperta sua amada as colocava na quinta e mais haixa classe da
junto ao coração quando pára diante dela com população, junto com os escravos, servidores
os braços estendidos. pagos, trapaceiros c mendigos.
Para ajudado, possui apenas sua másca­ Nem o Gabinete imperial de Música, nem
ra, seu figurino. Ambos lâlam a herdada lin­ as reli nadas damas que escreviam dramas no
guagem dos símbolos: cada cor está ancorada período Yuan puderam mudar essa lei. Yau
na tradição cerimonial. O vermelho simboliza Kuei-fei estava sufi ciente mente segura de seus
valor, lealdade e retidão; o prelo simboliza a encantos e dos favores do seu senhor imperial
paixão; a maquiagem azul no rosto revela hru- para não se preocupar com problemas sociais,
taiidade e crueldade; o branco de giz. é u cor c as companheiras menos favorecidas de sua
dos trapaceiros e impostores. Lima mancha profissão sabiam como ser compenssidas no
branca na punia do nariz, talvez juntamenle palco ou na alcova - pela humilhação de se­
com o desenho de uma borboleta nas boche­ rem chamadas de "cintos-verdes". Elas usa­
chas, faz o palhaço, o iruãn, o bufão. Ele pode vam o cinto verde das cortesãs, de onde vi­
perfeitamenie chamar-se Grock, Oleg Pnpov, nham seus apelidos, com uma segurança não
ou Charlie Rivel - a máscara do palhaço, seu menor do que a das damas letradas da Europa
riso e suas lágrimas, não conhecem fronteiras. ao usar mais tarde suas meias azuis.
De acordo com a lenda chinesa, foi no pe­
ríodo T an g que as máscaras foram usadas pela
primeira vez para transformar, disfarçar ou O T e a t r o C h in ê s H o jl
metamorfosear o rosto humano. O rei de Lan-
liug. diz a lenda, era um herói na arte da guer­ Comparados com a primazia da tradição
ra, mas sua face era suave e feminina. Por essa artística local, os estilos teatrais do Ocidente
razão ele costumava, durante suas campanhas, tiveram pequeno impacto na Clima, Os mwih -
■ 70
Ifi. Gravuras chinesas de A lto Novo com umas tculrais. Eslampas coloridas desse iip o são vendidas cm grande* quan
I idades no Mercado da Rua das Flores cm Pequim anies da Icsia; não ião popa lares na C hina quanto, por exem plo, as
iutuycs à'ÊpinQÍ o são na França. Os dois exemplos procedem de uma impressão fejia o, 1920.

i
• c 'b in a

httlís e o teatro tle variedades dus grandes por­ no começo da década de 30 e que, devido ao
tos não constituíam padrão para a cultura tea­ incidente na Ponte de Marco Polo em 7 de ju­
tral chinesa. O estilo da Opera de Pequim re­ lho de 1937. levara ã guerra com o Japão. Jo­
vela inais da essência da arte chinesa de re­ vens entusiastas patrióticos fundaram um gran­
presentai' do que qualquer das espetaculares de número de grupos de teatro com repertó­
revistas de Hong-Kong. rios propagandísticos.
O drama falado de estilo ocidental surgiu Depois de 1945, a tradição da Ópcia de
pela primeira vez durante a revoltição de 1907, Pequim foi mantida ao lado do drama falado
quando os propagandistas políticos consegui­ moderno e atual. Mei Lan-fang. que havia re­
ram se apoderar do palco. Os mártires da revo­ cusado as ofertas japonesas para interpretar
lução, a revolta do povo e o orgulho nacional papeis femininos deixando crescer a barba,
eram os temas tópicos do novo drama falado voltou ao palco no papel da dama de beleza
ihua chii). Diálogos improvisados na lingua­ atemporal. Não obstante os conflitos políticos,
gem cofidiana e a atuação realística, igualmenle a Ópera de Pequim preservai'» seu estilo espe-
improvisada, preenchiam a trama da ação pre- ciftcamente chinês, mundialmcnte famoso.
viamente esboçada - num contraste evidente Hoje. cerca de quatrocentos estudantes passam
com a artisticamente estilizada Ópera de Pe­ por intensiva treinamento na Liscola Nacional
quim. Após 1919 uni "renascimento literário" em Pequim, embora recenieincnte tenha havi­
hrotou em círculos estudantis. As pessoas es­ do uma tendência clara de renovação do eslilo
tudavam dramaturgia, direção, cenografia, ilu­ tradicional.
minação e estilos de interpretação do teatro Em Tuiwan, nesse meio tempo, 0 governo
ocidental. Traduzidos para o chinês coloquial. da China Nacionalista também passou a incen­
Nano. de 7.ola. e O Inimigo do Povo. de Ibscn. tivara velha tradição da Ópera de Pequim con
foram apresentados na Universidade de Nakai juntamente com o dram a falado moderno.
em Tientsin e em Pequim. .4 Domo das Camé­ Duas escolas de teatro e um departamento de
lias, de Alexandre Dumas, e O Leque de Ludy Teatro e Cinema na Academia Nacional de
Windermrrc. de Oscar Wilde, foram aprecia­ Arte cm Panchiuo. peno da capital Taipei, ofe­
dos por seu tratamento dos problemas huma­ recem cursos dc história e prática tcairal. Des­
nos c sociais. Novos clubes e agências teatrais de I9f>2. <> então recém-fundado Comité dc
surgiram, convidando companhias estrangeiras, Produções Dramáticas para Apreciação tem se
e foi fundada uma academia nacional de tea­ esforçado para desenvolver o drama falado em
tro. Os jovens autores do país inspu aram-se algo que vá além de sua função de entreteni­
na revolução política e tilerária que se iniciara mento. numa fornia de arte.

■ 7)
Japão

I n t r o d u ç ã o são à história) determina seu som. Mas entre


as cordas há o silêncio, silêncio como con-
"E a poesia que movimenta sem esforço traenle do putltos e suã culminação última.
o céu c a terra, e desperta a compaixão dos "Considero que o/vifliux seja iiueirumente uma
deuses e demónios invisíveis, e é n;i dança que questão de contenção", escreveu o dramatur­
u poesia assume forma visível". Essas pala­ go japonês Cliikamatxu por volta de I 720:
vras constam da introdução da primeira cole­ "quando lodos os componentes da arte suo
tânea japonesa de poemas, Kokin.vhti, publicada dominados pela contenção, o resultado c mui­
no ano de 922. O teatro japonês pode ser des­ to comovente...".
crito como uma celebração solene, esiritanteule Os estilos distintos do teatro japonês cons­
formalizada, de emoções e sentimentos, indo tituem ao mesmo tempo um marco miliário.
da invocação pantomímica dos poderes da na­ Cada uni deles reflete as circunstâncias históri­
tureza às ma is sutis diferenciações da forma cas. sncjtilógicas e artísticas de stla origem. As
dramática aristocrática. Sua mula propulsora danças kiigttm dn primeiro milénio testemu­
está no poder sugestivo do movimento, doges nham o poder de exorcismo dos ritos mágicos
lo e da palavra falada. Dentro desses meios de primordiais. Os gigiikit c bugukii. peças dc más­
expressão, os japoneses desenvolveram uma caras, relictem a influência cios conceitos reli­
une teatral tão original c única que desafia com­ giosos budistas, emprestados da China nos sé­
parações, pois qualquer comparação será in­ culos VII o VIM. As peças nó dos séculos XIV e
variavelmente relevante para um só de seus XV glorificam o sihtis rio st tmu rui. As farsas
muitos aspectos. kyngfn, apresentadas como interlúdios grotes­
À primeira vista, a coexistência de mui­ cos e cómicos ealrc as peças w>. anunciam a
tos gêneros e formas complctameuie distintos crítica social popular. O kahuki do início do sé­
de lealro parece confusa. A arte teatral do Ja­ culo XVII foi encorajado pelo pixler crescente
pão moderno não c resultado de uma síntese; dos mercadores. No linal do século XIX, u
resulta de uni pluralismo mui li facetado, de shimpa. sob a influência ocidental, trouxe pela
séculos de desenvolvimento. Sim história não primeira vez temas aluais com uma tendência
é uma cadeia de estágios evolutivos que se su­ mu rendo nic me scnlim eillal ao palco. No
peram; assemelha-se muis a um inslmmento sltm gfkí do século XX, os jovens intelectuais
ao qual são acrescentadas novas cordas, em japoneses llnalmenle tomaram a palavra,
intervalos, cada uma paralela às outras. O com­ Todas essas formas básicas do teatro ja ­
primento de cada corda (para evocar uma alu­ ponês - incluindo lambem o hiimiikii, teatro
f li sl ô i -ú t M t u u l i i i l *t<* T e a t r o •

dc bonecos de Osaku - permanecem vivas ate mundo. O significado mitológico da dança de


hoje. simultaneamente e lado a lado. Cada qual Uzume. que provoca o retorno do sol. sobre­
tem seu público próprio e especifico, seu pró­ vive até hoje no costume de executaras peças
prio teatro, seu valor atemporal. fajgara durante toda n noite até a aurora, até o
primeiro canto do galo.
O segundo mito diz respeito á rixa entre
K AGORA dois irmãos e a intervenção do deus do Mar. O
rei das marés concede ao irmão mais novo.
No universo insular do Japão, como em Yamahiko, que a princípio é derrotado, poder
qualquer outro lugar, o teatro começou com os sobre as cheias e vazantes. O irmão mais ve­
deuses, coin o conflito dos poderes sobrenatu­ lho. Umihiko, percebe o perigo que isso signi­
rais. Os dois grandes mitos das divindades do fica para si c decide propiciar Yamahiko. Para
mar e do sol contêm não apenas o germe da tal fim, espalha terra vermelha sobre o rosto c
dança sagrada primitiva do Japão, mas, mais as mãos e executa uniu pantomima de afoga
do que isso, os primeiros elementos da trans­ mento, representando, por meio da dança,
formação dramática, que é a essência da for­ como as ondas lambem primeiramcnlc apenas
ma teatral. As duas mais antigas crónicas japo­ seus pés, como a agua aumenta mais e mais
nesas, Kojiki e Niliongi. lotam ambas escritas até quase atingir seu pescoço. Com as pala­
cni ideogramas chineses no início do século vras "Dc agora ein diante e até o final dos tem­
VIII para a corte imperial japonesa. Relatam pos eu serei o seu bufão e criado", Umihiko
as representações pantomímícus dos dois mi­ submete-se ao mando do irmão. E destarte o
tos que nos dias de hoje são uma fonte impor­ teatro japonês encontra seu primeiro "ator pro­
tante para as danças du Asía Oriental. Sobrevi­ fissional", embora no domínio da mitologia c
vem no Vietnã, Camboja e Laos, na Tailândia, mais conto ficção do que fato. A esta saga di­
Asam, Birmânia (Miaiimai) c no sul da China. vina. que aliás lem largas ramificações pelo
O primeiro desses mitos baseia-se no cul­ Extremo Orieoic. prende-se nimbem a lendá­
to ao sol e relata a história da deusa do Sol. ria filiação do primeiro imperador japonês.
Amatcrasu. Após urna briga com seu irmãu. Jitlimii, que descenderia dc um dragão. A más­
Amaterasu esconde-sc numa caverna, inaces­ cara do dragão, símbolo da divindade dl) inur,
sível a qualquer suplica. O céu c a terra ficam ainda possui uni papel proeminente nas dan­
imersos na escuridão noturna - um dos gran­ ças kagurti.
des terrores da humanidade, que nu Japão se Essas duas pantomimas mitológicas são
origina da ocorrência histórica dc um eclipse importantes para a história do teatro por outra
solar. As "oitocentas miríades dc deuses" rio razão ainda. Elas inauguram o uso dos dois
panleão japonês concordam em atrair a deusa mais importantes recursos cênicos simbólicos
zangada para Tora dc seu esconderijo por meio que permaneceram c;u aclerísticos do teatro
de uma dança. A deusa virgem Ama nu Uzume japonês: a cana dc bambu, ornamento para a
cabeça e espelho nu dança de Uzume; e a terra
|...| lixou em sua mito uma puIscíiiL terni de ticupòdio vermelha no rosto e nas mãos dc Umihiko. pre­
cclcstutl da inoiuanlia d ivin a Ktçtu. coroou sua cabeça nunciando o tipo de maquilagem que. portodu
cont um toucado dc folhas do evôninio celestial e atou a Ásia Oriental, é ainda um meio essencial de
um ramalhete com folltas de bambu da montanha divttia
transformação teatral.
Kagu- Então, cotocoo ntua prancha acústica na entrada
da habitação rochosa da deusa e golpeou-a com os pés Todtis as diversas danças e ritos sacrificiais
para fazer uni grunhe barulho, simulando o êxtase da ins­ representados cont o propósito de ganhar os
piração divina | . |. favores dos poderes sobrenaturais, por meio
da ntagia da pantomima e da máscara, são tra-
E assim. Uziinic desperta a curiosidade da dicionalm ente incluídas na categ o ria de
deusa do Sol. Amaterasu caminha para fora kagurit. O significado etimológico da palavra
da caverna, c. num espelho que os deuses se­ é conltovertido - é varindainentc inlerpretadu
guram para ela. vê sua própria imagem radian­ como "morada dos deuses" ou "divertimento
te refletida. Os galos cantam. A luz volta ao dos deuses” - . mas o conceito ecrtaniente é
• 76
]. XiEopravura do (JLisJitjze: o lc a lio Lhmrjku de O snka, r, |H80. Cada um dos irís honecos no palco c manipulado por
dois tiiereiros: cm i\idn par. ttio deles está vesti mio roupas prcins. A d imita, o lecilador: p erlo d d c . o to c ad o rd c xumi.wn.
n ija prosvnvii ê indicada nvcranicEUc por sua iiiàu c polo instrum ento tMimÍL|ue, S iadim useum , ('olc^ao dc Teatro dc
Bonecos í.
H t s t ô r u t Mutiiiittl <i<* T c tU r a

anterior aos ideogramas chineses que o repre­ de Estado. Era apresentado diante dos templos
sentam ainda hoje. Para o estudioso isso prova por todo o país, a Cada ano nas duas grandes
que o kíígura remonta à época dos hahiianles festividades religiosas, o aniversário de Brida
originais do Japão e, com certeza, precede a e o dia dos mortos. Então, o palco ainda não
introdução da escrita e da língua chinesas no era conhecido no Japão: os dançarinos se mo­
Japão. vimentavam ao nível do solo. acompanhados
O termo kagura descreve não somente as por tambores, címbalns e flautas.
dãnças rituais mitológicas, mas também as in­ Uma descrição do gigaku, que logo foi
vocações xamânicas de demónios e animais, absorvido por uma nova forma de dança da
originariameme pré-históricas, tais como os corte, o bngaku, pode ser colhida num tratado
encantamentos de mágica de caça que se ex­ muito posterior, o Kynkunsho, escrito de for­
pressam nas danças do veado e do javali c so­ ma retrospectiva em 1233 pelo dançarino
brevivem na dança do leão (shisliimai). Da Koma no Chikazane. À procissão inicial de
m esm a forma são também consideradas bailarinos e músicos seguiam-se pantomimas,
kagura as cerimónias da corte que celebram representadas com grotescas máscaras de elmo
Mikagura. um festival de inverno (datado de com grandes narizes de rapina, poderosas man­
1002) derivado da dança da deusa Uzume, e díbulas e globos oculares salientes.
todas as farsas populares pró e antimitológi- O falo de as peças dançadas por Mimaslli
cas, informalmente improvisadas, apresenta­ e seu grupo conterem original mente cenas
das por comediantes, truões e acrobatas em ho­ fálicas leva à suposição de uma conexão com
menagem às divindades ximoístas. o posterior i»ínr»jr romano. Muito mais con­
O conceito moderno kagura de aldeia vincente. entretanto, é a suposição de que o
(saio-kagitrd) originou-se no século XVII. Sua ritual fálico não se originou na Grécia, mas
conexão com a mitologia e o ritual xamânico. nas (erras montanhosas da Ásia Central, e que
a invocação dos espíritos benevolentes e o exor­ sua influência fluiu na direção contrária.
cismo dos maus espíritos sobreviveu até o sé­ As máscaras gigaku demonstram que for­
culo XX em ritos supersticiosos. Em 1916. tes correntes de amigos conceitos xamímicos
durante a epidemia de cólera que devastou o alíngirani o Japão vindas do Tibete e do norte
Japão, organizaram -se apresentações de da China, via Coreia, As máscaras gigaku re­
kagura na esperança de banir a praga. manescentes (ainda existem em tomo de du­
zentas) estão entre os mais amigos e valiosos
registros dos cultos primitivos da Ásia Orien­
G IG AK V tal. Muitas dessas máscaras estão cm Nara, na
casa do tesouro Ishoso-iii) do imperador Tenji.
Quando a teologia do budismo alcançou e algumas oulras cm poucos templos.
as ilhas do Japão, proveniente da China, em
meados do século VI. trouxe consigo as pri­
meiras danças e canções budistas. Sua intro­ B v tíA K U
dução é creditada a um imigrante coreano,
Mirnastii de Kudara. que chegou com uma No decorrer do século Vlll, a nova dança
troupe ambulante à antiga capital de Nara, em chamada bngaku ganhou predominância. A
612, O príncipe regente Shotoku Taishi (572- música era a ponte entre o bngaku e o gigaku
621). um patrono das artes e zeloso pioneiro primitivo - a música instrumental da corte co­
do budismo no Japão, dcleilou-se com as dan­ nhecida como gagaku. que era intimainente
ças e peças dos artistas estrangeiros. Ele per­ aparentada com a música chinesa du período
suadiu Mimaslli a estabelecer-se em Sukurai, Tang, O nome bngaku. "dança e música", dá
não longe de Nara, c ali instruir jovens alunos uma idéia do seu caráter. O bngaku exigia dois
selecionados na arte da nova dança, Conla-se grupos de bailarinos: "os Dançarinos da M ú­
que o próprio imperador escolheu o nome da sica i Direita" e "os Dançarinos da Música à
dança: chamou-a gigaku - "música arteira'1. E Esquerda". Os Dançarinos da Música à Direi­
logo o gigakti tornou-se parte do cerimonial ta entravam no palco pela direita, e seus músi-

• 7#
r

I
t

M áscara bu#(tku, pcrít*}» Hcrian, 1185 íN aral,


flint<iriit M m u l i f i f tf ti Totitrtt »

cos ficavam postados no lado direi lo do pal­ gagtiht, muna grande variedade de danças fol­
co. Dc forma correspondente, os Dançarinos clóricas japonesas.
da Música i Esquerda faziam sua entrada pela
esquerda, e seus músicos ficavam postados à
esquerda. Sarvg aku e Deng aku .
O palco í«igaku era uma plataforma qua­ Precursores do N n
drada suspensa, rodeada de grades, com esca­
das de acesso do lado direito c esquerdo. O Os movimentos majestosos e controlados
conjunto niusieal à esquerda consistia predo- de dança, os passos cerimoniais, o significati­
minamemente em instrumentos de sopro. No vo erguer e abaixar da cabeça, o súbito imobi­
conjunto da direita, os instrumentos dc percus­ lizar-se cm pose silente, após um violento ar­
são dominavam e marcavam o padrão rítmico remeter-se - lodos esses elementos básicos da
para os dançarinos da direita. O espetáculo era arte teatral clássica japonesa podem ser reme­
precedido pelo embu, uma dança cerimonial tidos as duas formas de “peça"-dança da qual.
de purificação de origem cultual. (A cena por fim, a grande arte du nó se desenvolveu: o
introdutória do drama clássico hindu, a purra- xamgaku e o dengaku.
ranga, começa com um rito estreitamente apa­ Nas grandes cidades de Nara. Kyoto e
rentado com o embu.) Então, os grupos da es­ Yedo (depois Tóquio), onde havia templos, as
querda e da direita começam a dançar, parte artes da mímica, dança, acrobacia e canto sem­
em ritmos imponentes e parle em ritmos vi­ pre haviam prosperado. As ennen-mai, peças
vos. Os dois grupos eram Ião rignrosamente original mente representadas por monges bu­
distintos quanto os "Azuis" e os "Verdes1' na distas. vieram a ser diversificadas por atrações
enigmática peça de Natal dos "Bárbaros”, que seculares. Acrohatas. malabaristas, andadores
era encenada na corte imperial dc Bizâncio. de pernas de pau e litereiros dirigiam-se em
Os dançarinos entram no palco alternadamente bandos aos templos, e o povo os aclamava,
pela esquerda e pela direita, e sempre em pa grato pela oportunidade de comhjnnr o ceri­
res; os que dançam a música da esquerda, ins­ monial solene em honra dos deuses com um
pirada por fomes chinesas e hindus, usam fi­ espetáculo agradável aos olhos e ouvidos. No
gurinos nos quais predomina o vermelho, en­ período Heian {794--11KS), a palavra sarttgakit
quanto o verde distingue os Dançarinos da liuviii sido usada para definir toda a rica varie­
Música ã Direita. Esta. por sua vez. é dc origem dade de entretenimentos populares, O rermo
coreana e da Mancharia o adaptada ao gosto derivava da antiga fonna de mlc \angnkti Iquc
japonês. O biigtikn termina amaJmentc. como provavelmente significava "música desorde­
sempre o fizera, com a composição clíagci.\hi nada"), que teve uma longa e ativa história na
de Minamoio no Hiromasa (<) I lJ-9tíO). China untes dc chegar ao Japão, mats ou me­
Durante o período Heian {por volta de nos ao mesmo tempo que o hngnkn da eorte.
K20). o bttgukit foi a dança cerimonial exclu­ O ideograma chinês "m acaco", usado para
siva da corte imperial. Até hoje. o bngakn c snru. levou os eruditos a definir sontgttkit como
apresentado na corte, e o privilégio de atuar "música de macaco”, em contraste com o ideo­
nele c passado de geração a geração iuls famí­ grama nativo deiigakn, "música de campos dc
lias de artistas biignku. Uma ou duas vezes ao arroz”. A derivação de sn m teria implicações
ano, geral mente em homenagem a algum visi­ interessantes para o historiador da cultura. Na
tante importante, as danças higtikn são apre­ China, o ‘'macaco com o barrete de oficial"
sentadas na corte imperial diante dc uma pla­ havia conqtustudu seu lugar no palco como um
teia exclusiva. O caráter tradicional do httgaktt critico dos acontecimentos contemporâneos
foi preservado inalterado 11a dança e na músi­ em trajes de i/cmvi, e no Rainnyana hindu e no
ca, embora os figurinos e máscaras tenham teatro de sombras da Indonésia o rei-macaco
mudado. Versões populares e folclóricas do />«• Hununnm ajuda Rama. o filho dos deuses, a
gafar. independentes do cerimonial da cone. vencer o rei demónio do Ceilão. O culto, a len­
sobrevivem em muitos pequenos templos xm- da, o conto folclórico, a teoria moral e. da mes­
toíslas. jimtamenle com elementos da música ma maneira, o teatro, atribuem importantes
• 80
» Jtipà

fundões ao macaco, desde o julgamento dos classe aristocrática cujo palme ínio faria do tea­
mortos no Egito à ópera í) Pequeno tjonie, de tro «õ a epílome e o espelho da sua época. A
Hans Werner Henze. casta aristocrática guerreira dos samurais ti­
Tanto o xarugakn quanto o drngaku asse­ nha orgulho dc descender das grandes famí­
melham-se aos divertimentos populares de Car­ lias de heróis, trazendo nomes como Genji.
naval do Ocidente. Na crónica Rakityo dengti- Heike ou Isc. O poder dos principais chefes
kn-ki, de Oe-no-Masnfusa ( 109(>), encontramos feudais, os daimios. crisfalizou-sc no cargo
menção de danças e procissões desenfreadas, de xógum, pelo titulo ‘'regente", mas. na ver­
nas quais Ioda a população da capital tomava dade, o autocrata do Japão. Da mesma forma
parte - os velhos e os jovens, os ricos e os po­ que o ideal europeu da Cavalaria fui exaltado
bres; até mesmo os funcionários do Estado par­ na poesia cortesã da Idade Média, na Canção
ticipavam, usando máscaras e figurinos cómi­ de Rolando, nu ciclo urturiano e nu Cid, tam­
cos c carregando enormes leques. bém os épicos japoneses exaltaram o inundo
O dengakn tem sua origem nas danças do samurai. Seu código não escrito de honra
rurais da colheita, e no decorrer do século XIV exigia deles as virtudes do heroísmo, magna­
desenvolveu-se em algo que ia muito alem do nimidade. lealdade até a mone ao senhor feu­
mero entretenimento popular. Absorveu ele­ dal, defesa abnegada dos direitos dos fracos e
mentos corlesãos do gigaku e. levada, por e s­ o menosprezo à covardia, avareza e traição.
colas dengaku de Nara e Kyoto, foi elaborada Esses ideais derivavam das doutrinas do zen-
na sofisticada forma dc arte conhecida como budismn, a busca da "iluminação" e da expe­
dengakn-no-no. riência espiritual intuitiva do absoluto. A
Existem no Japão lamflias ou guildas dt- força para dominai as larefas deste mundo
artistas. os chamados zfí, que remontam ao ini­ era proveniente da observação de períodos
cio du período Muromachi <1392-1568). (Zn diários dc intensa meditação que. fora da es­
é, ainda, a palavra japonesa para lealro.) Os fera puiiimentc religiosa, se tornou a mola
desfrutavam da proteção dos templos budis­ propulsora de toda arte criativa. "Nada c
tas. Seus membros eram dispensados das ta­ real” , diz o Coro falando pela poetisa Koma-
xas pesadas e de obrigações de trabalho, e pos­ cln. a protagonista dc Sotoba Komachi (Koma-
suíam o monopólio das apresentações no d is­ chi no Sepulcro), uma das maiores peças nó
trito específico do seu templo. inspiradas pelo zen-budismo. "Entre Buda e
O anonimato geral dos atores profissio­ o Homem / Não há distinção, mas uma apa­
nais japoneses chegou ao fim no início do sé­ rência de distinção / estipulada / para o hem
culo XIV, quando os nomes de interpretes in­ dos humildes, dos incultos. ! a quem ele pro­
dividuais foram registrados pela primeira vez. meteu salvar".
Entre eles estava o nome do ator sarugakn Como a delicada intensidade da aquarela
Krvaiiami e de seu filho Zeami. a quem o tea­ ou a imagistica comida do verso haicai, a arte
tro japonês deve sua forma de arte mais fasci­ Ioda do nô é enformada pelo místico chiarox-
nante eprofunda. Tanto Kcvaiiami quantoZea- curo do zcn-budismo.
mi inauguraram e interpretaram o novo estilo Com os refinados dcngukn e sarugakn, os
que criaram. atores e os oficiais do templo responsáveis pe­
los espetáculos haviam satisfeito os padrões
elevados c obtido os favores da exigente no­
NÔ breza; mas agora, com a ascensão das peças
nô, a convergência da arte e do paironato anun­
Enquanto na Europa a cra dos cavaleiros ciavam a era dourada do teatro japonês. Em
- quando imperador c príncipes se reuniam 1.174, o xógum Yoshimilsu assistiu a uma apre­
para as Cruzadas - chegava ao fim. floresceu sentação do ator dc sarttgaku Kwananú c Seu
no Japão a civilização cortesã dos sainurais. filho Zcami. O jovem governante ficou tão im­
A atmosfera dc esplendor na residência pressionado com a atuação do pai e com a he-
imperial, os palácios dos nobres e o culto es­ lezu de Zcami, então com 11 anos de idade,
teticamente refinado dos templos criou uma que vinculou ambos á sua cone.
,S 1 -
4 . M ulher com rede de pescar, próxima da loucu­
ra por causa d a m orte dc sua úuica filha, i|tie aparece
à direita, âo fundo, sentada à direita de um bonzo,
eum um mnnio com capuz. Cena de um a peça nó.
Gravura colorida, r . 1400.

5. Máscara n ó de uma m ulher jo ve m , período


Murumachi. século XV ÍTtiquio),

6. Anciã ajoc Ilíada, lendo uni escrito: provavel­


mente. u poetisa Komadn Cctiadetitna peçaífó. Gra*
vum colonda. r 1400.
- Jnpno

Kxvanami (sob o nome de Kiyotsugu, que tragédia grega. Existem real mente algumas
usava quando jovem) traçou para seu filho analogias, em aspectos tais com o origem
Zeami o caminho para o enriquecer constante cultual, participação de um coro c distinção
de suas próprias formas dc expressão cênico- nítida entre o protagonista e os personagens
dramáticas, e assim remodelar o padrão dra­ secundários. Mas nada disso conta diante do
mático na peça nõ. O trahalho dc Zeami foi espírito e da abordagem inteiramente diferen­
grandemente influenciado pela famosa peça de tes das duas espécies dramáticas. Enquanto
seu pai. Kwanaun, sobre o destino da poetisa Antígona se opõe ã ordem dc Creoule e desa­
Soioba (Sotoba Komaehi). E Zeami Motokiyo fia o destino e os deuses, Komaehi pratica a
sabia como tirar partido da proteção do xógurn paciência silenciosa, c os sacerdotes, “curvan­
para promover a causa do teatro. Seu objetivo do a cabeça até o chão, prestam homenagem
era dbplo; queria ser reconhecido tanto pela três vezes diante dela" com as palavras, “ Uma
arre de atuar como pelo drama enquanto tal. santa, esta alma frágil c proscrita é a de uma
Tornou-se um consumado ator, dramaturgo e santa."
diretor. Com seu senso infalível do que podia O significado profundo do conteúdo do
tocar uma platéia. observava os grandes intér­ nô não é a rebeldia mas a afirmação, a afirma­
pretes de sua época. Estudou as técnicas dos ção dc uma beleza que culmina na aflição.
famosos atores de dengakti Itchu e Zoami. do Zeami procurou ilustrar esta “beleza tão fasci­
bailarino de kuse-mai Otsuro, do ator de and- nante e surpreendente em sua contradição”
xantgaku Kenu e do ator Kolaro, da escola mediante a comparação poética, como cm seu
Komperu. Assim Zeami aperfeiçoou seu esti­ tratado Kytti: "Em Shiragi. o sol é brilhante ã
lo próprio. Escreveu o texto e a música para m eia-noite". Talvez seja em termos desse
aproximadamente cem peças nâ nus quais ele exemplo que possamos melhor explicar o sig­
próprio interpretava o papel principal, Um dos nificada do termo yftgen que. de acordo com
pontos altos de sua carreira foi sua famosa atua­ Zeami, constitui a culminação da apreciaçfio
ção em A Estrela dc Zeami diante do impera­ estética da peça nò Yiigcn, originalmente o
dor Go-Konlalsu em 140Í4. cometido oculto da doutrina biidisln. c um po­
Após a morte de seu patrono Ynshintitsn der secreto em que n beleza está envolvida
e a perda de seu filho Motomasa. Zeami reti­ como a semente da qual a ilor (liana) há de
rou-se da corte. Ele se esforçou em expor por florescer em seguida.
meto da escrita o espirito e o significado do O firme fundamento espiritual das ]teças
nâ. que quer dizer, lileralmenle. “talento”. Gra­ nii corresponde a seu padrão drama lúrgtco
ças a seus três grandes tratados teóricos, liana prefixado. Existem cinco categorias dc peças
kagtmti. Kwadensho c Kytti, Zeami lornou-se nõ, todas representadas até hoje ito programa
o Arislóteles do teatro japonês. Mas esse tes­ dc qualquer espetáculo uri. O primeiro grupo
tamento artístico permaneceu desconhecido trata dos deusest o segando, das batalhas
para sua própria época. Não foi escrito para (mais frequememente da glorificação de al­
publicação, mas exclusivamente para a trans­ gum samurai bcróico); o reteeiro grupo é co­
missão secreta de sua arte dentro de sua pró­ nhecido como o das “peças das perucas** ou
pria Família. "peças de mulheres’", porque o ator principal
Em 1434, Zeami foi exilado por razões que usa uma peruca e interpreta o papel de uma
desconhecemos - talvez por ter se recusado a mulher; a quarta categoria, dramaticamente
passar seu código secreto da arte nò a seu sobri­ mais forte, retrata o destino dc uma mulher
nho Ottami. que era o favorito do novo xógurn. com o coração partido, amiúde levada à lou­
A história silencia sobre este pomo. Após a mor­ cura pela perda de seu amante on filho; a quin­
te desse xógurn, Zeami retomou do exílio e en­ ta categoria, que encerra o programa, conta
tão transmitiu sua herança artística, não a seu uma lenda.
sobrinho Onanii. mas a seu genro Zenchiku, com O protagonista e líder iicinoio) dc uma
quem passou os últimos anos de soa vida. companhia nõ é o shite. seu parceiro e princi­
A peça hõ, por sua modelar construção pal ator secundário c o « aki. Cada um deles é
dramática, foi frequememente comparada ã acom panhado por um cortejo - atores que

«3 •
ííiilõ riu M undiot 1'vatro *

representam servos ou acompanhantes - e há A arte do nó exige concentração extrema.


um coro. noniiulnieiile de oito homens, que Por horas a fio o ator, etlt seu figurino de des­
cantam. Todos os membros do coro usam rou­ lumbrante brocado, precisa conduzir a si mes­
pas escuras c sentam-se no chão no início da mo de modo que seus gestos c movimentos
peça. Eles comentam n ação, mas não inter­ nunca contradigam sua máscara. Seu raio de
vêm nela, da mesma forma que o coro da tra­ ação é precisamente medido em passos, cada
gédia grega. O shile usa uma máscara que, dc passo que ele dá para a frente ou para os lados
acordo com o seu papel, pode representar um tem sua prescrita medida.
valente herói, um velho barbado, uma jovem O palco nô tradicional é uma plataforma
noiva ou uma anciã atormentada. quadrada de cedro, polida e brilhante, de apro-
Os japoneses não véem nada de estranho ximadamente 5,5 m de largura, com três lados
no fato de um homem expressar os sentimen­ abertos. Possui um telhado semelhante ao dos
tos dc uma mulher, sua felicidade ou desespe­ templos, sustentado por quatro pilares. O pla­
ro. Ao contrário, consideram a máscara como no de fundo é sempre o mesmo: um grande e
a expressão literal de uma verdade superior. nodoso pinheiro pintado nas tábuas da parede
A máscara confere iki ator uma forma de vida de trás como símbolo da vida elema, Três de­
mais elevada e quíntcssencial. As máscaras graus levam ao palco, que se ergue a mais ou
entalhadas dos atores nô são, por si próprias, menos 90 cm do solo; getalmcme ele se en­
obras dc arte dc alta qualidade, simbolizam a contra no pálio de um templo. A peça nò ainda
personagem em sua forma mais pura, limpa está estreilameme conectada com a cerimónia
de qualquer imperfeição. O poeta Yeats ob­ religiosa e as festividades dos templos santos.
servou que "uma máscara [„.| não importa a Um dos mais antigos palcos nô existentes lo­
distância de onde seja contemplada, é ainda cal iza-se no recinto do templo de Kyoto. É de­
unia obra de arte'". Quando, em I9!S, em sua dicado a Shinrun Shotim. fundador da seita
procura por "uma forniu de drama distinta, Shin. De acordo com uma inscrição, data do
indireta e simbólica", ele encontrou as peças ano de 1591. Todos os anus, no dia 21 de maio
itâ, acreditou ler achado uma forma de insu­ - aniversário de Shinran - , é o cenário de so­
flar vida nova às lendas irlandesas: ele sentia lenes espetáculos nô.
que nada era perdido "ao deter-se o movimen­ Por sua vitalidade criativa c harmonia in­
to das feições do rosto, pois o sentimento pro­ trínseca com os iraços fundamentais do cará-
fundo é expresso por um movimento do cor­ ter japonês, as peças nô sobreviveram inlactas
po lodo" desde o século XIV. Algumas modificações

• M
li. l*:ilco m ‘i hd rft inh) ilu u-tuplo Je iikiiNlrntilu cfii e dcdi^nUí *m hiiuLithic ito si^in Sliiu, fthinrau Slmmii,
ttijo im iv c rtãrilm ri 21 iltr txuio t nutiritux^uf*] am uthiiculi4o m i cspcUfiila.s mV <> p i r i t e LVtlrtpj,1 íJu iiiiik K u iib tic^m cii
t f |X i UJ< 11 tu in u } i t t if i !ht i n ti i jic Itio.
riíilciu c paJc<f íijí viL7.i' js : o T c u im K u v;< rizc-k ji-w cm T ó q u io , l% t l
* JufKtn

na ênfase podem fer causado pequenas mu­ para evitar que Irapaceicm Porém, a des­
danças na estrutura dramática, mas nenhuma peito da precaução, conseguem roubar vinho
em sua essência. E\isiem , por exemplo, al­ de arroz. Há uma cena parecida na Cmnmcrfiti
gumas peças nô - como Raslu»nou ou Fnna- tic W arte, em que dois sei vilo ri amarrados
lienket - nas quais a figura dominante não é de forma sem elhante servem-se do macar­
o shitc. mas o waki; isso se explica pelo fato rão que lhes c negado.
de que, por volta de 1500. seu autor, o ator e As farsas kyagen não são amargas, mas
poeta Kwanze Kujiro Nobumitsue, ler inter­ alegres. Praticam a crítica social sem mortos
pretado o waki durante muitos anos num gru­ nem feudos. Qualquer ambiguidade grosseira
po nô. Bastante compreensivefinente, escre­ é ri goros a mente excluída, pois, conforme Zea-
veu o melhor papel para o segundo ator - ele mi nos diz, palavras ou gestos vulgares não
próprio. devem ser apresentados em nenhum caso, por
O ritmo atual uni tanto mais majestoso das mais cómicos que possam ser.
peças nô, as sutilezas instrumentais em seu Quase nada se sabe a respeito dos auto­
acompanhamento musical (flauta, tambores, res dos aproxim adam ente duzentos textos
tamborins) e o esplendor dos brocados doura­ kyagen ainda em uso hoje. Um dos mais ami­
dos remontam todos à metade do século XVlll. gos textos transmitidos pela tradição data tio
Porém, nada enfraqueceu a validade do que século XIV e é atribuído ao sacerdote Kitaba-
Zenchiku. genro e herdeiro artístico de Zeanti. take Gene Honi. do monuslério Hicizan. É di­
disse sobre a arte da diferenciação cênico-dra­ fícil, porém, encontrar pistas de autorias pos­
mática du nô: teriores. Uma coisa parece certa: uma suces­
são protegida com muito ciúme deve ter sido
T u d o o qm- é s u p é rflu o é e lim in a d o . a h e lc / a d o a regra no kw g en , como era em todo o nô -
e s> e n íia ] c to la] m ente ctq n in itia . É a in c \ | H 'im ív d M c Z i i
os textos foram mantidos rigorosamente em
fio n ã o E a zim c iu n l- c o m o a m ú s ic a d a c h u v a cíclica*
du n o s poucos, gatluns tjue re s im ii this c c lc h r c s v elh a s CC’
segredo e legados de pai para filho, exalamente
tic Y o s lú n o . C I jji -u e O s h in : c o b e rta s J c m u sg o, como na tradição do arlequim e do Hanswnrsl
cons a ljim t K K poucas. flo re s ;il]lu e a l i |...|. do teaim europeu.
Os atores Apogeu em geral não usam más­
caras, exceto quando interpretam um certo
Kyogen número de tipos especiais, como o macaquinho
em Utsttbozant. Da mesma forma qne o nô, o
Os kytigcii. componentes tradicionais das kyagen possui sua hierarquia tradicional de ato­
peças nô. são provavelmente tão antigos quanto res. ou seja, um protagonista e líder (auto), e
estas, se não mais, São farsas que estabelecem um segundo ator itulo). O kyagen reagrupou
interlúdios de contraste cómico com as con­ os vestígios esparsos de formas teatrais popu­
venções solenes e formais do nô. Satirizam de lares que foram rejeitadas, da mesma forma
maneira suave e indulgente as fraquezas hu­ que u sutnigctkti foi aprimorado no nô. Várias
manas e serviram oulroru para introduzir os gerações mais larde, essas formas se lornaram
primeiros aspectos da crítica social no auio- a fonte para os elementos realistas do kabuki
eonlinnle mundo do síimurui. primitivo.
Criados astutos enganam seu patrão so­
vina, impostores são apanhados em sua pró­
pria armadilha, monges hipócritas são desmas­ O T ea tro dl Bonecos
carados. um macaquinho brincalhão salva a
vida ameaçada e, com e!a, o mais precioso A arte dos espetáculos de bonecos perpas­
bem de seu lamentoso dono. Algumas das sa como um fio vermelho todo o teatro do
bufonarias e piadas dos kyogen lembiain a Extremo Oriente. A marionete manipulada por
Cnmmedia deiVartc europeia: existe, na ver­ fios ou arames; o títere trrivíing javanês, sun-
dade. um exemplo de im pressionante coin­ luosamenie vestido, o boneco rústico, escul­
cidência. No interlúdio kyogen, Bashiburi. pido à mão, du ilha de Awají - lodos eles. ao
dois servos são amarrados juntos pelas mãos. lado do bardo e do contador de histórias, sem-
X? ■
1

10 Cena com macaco executando passos de daiv


çn, que iembra a peça ainda hoje popular K y o g e n
U t s tf b o : a n t, kvada pelo elenco do Kwanze-kai-Fió dr
Tóquio, cm l% ft, em sua Lume pela Europa. Gravura
colorida, c* 1900.
* Jntu~m

pre encontraram, em ioda pane, seu pequeno centro comercial de Osaka. Mercadores ricos
e grande público. financiaram um teatro de bonecos e, sob sua
Quanto ao Japão, os bonecos são mencio­ influência, a tônica temática deslocou-se do
nados pela primeira vez. no século VIII. Quer mundo cortesão dos samurais para as casas co­
dizer que, nas apresentações do xangaku (até merciais e para o universo sentimental da classe
então influenciado pela China) também se dos mercadores.
empregavam bonecos como co-atuames. A peça de bonecos foi alçada a um alto
Durante o período Heian (794-1185), os nível artístico por ler obtido acesso ãs obras-
espetáculos de bonecos viajaram através de primas do grande dramaturgo japonês Chika-
todo o pais com as troupes ambulantes. Seu maisu Monzaemon (1655-1725). O "Shakes-
“teatro” era uma caixa retangular, aberta na pearc do Japão” escreveu seus mais refinados
frente. O titereiro a carregava com a ajuda de trabalhos não para atores humanos, mas para
uma correía no pescoço. Durante o espetácu­ títeres esculpidos em madeira. Quando as obras
lo, ele movimentava seus bonecos, que eram de Chikamatsu são encenadas com perícia, os
feitos dc pedaços de madeira e trapo, através bonecos, animados de forma misteriosa, tor­
de buracos abertos no fundo e nos lados da nam-se o veículo de emoções e paixões que
caixa. Esta forma primitiva c atemporal de tea­ desconhecem fronteiras. O títere nunca corre
tro de bonecos é comum ainda hoje em algu­ o risco de sair dos trilhos, e sua gestualidade
mas regiões remotas do Japão. patética £ sempre esteticamente bela e nunca
Porém, a arle allamente esliliznda dos embaraçosa.
bonecos animados de Osaka deve sua inspira­ A brilhante observação de Kieist em seu
ção e desenvolvimento ã fusão da arte dos bo­ estudo “Sobre o Teatro de Marionetes”, de
necos com as recitações dos cantores c conta­ “que pode haver mais graça numa artieulação
dores de histórias. Na época em que os xcholars mecânica do que no corpo humano”, é apli­
errantes da Europa estavam cantando as proe­ cável também aos títeres de Osaka. Mesmo
zas de Carlos Magno nas chansons de geste. na época de Chikamatsu, os bonecos originais,
os monges cegos japoneses sentavam-$e dian­ que eram movimentados com as mãos. foram
te dos portões dos templos e recitavam cenas aperfeiçoados cm figuras de construção ela­
dos épicos dos samurais. com o acompanha­ borada, que possuíam notável destreza para
mento do somisen. um alaúde de três a cinco andar, dançar e até mesmo para mexer os olhos
cordas. Uma das mais conhecidas baladas con­ e franzir a testa. Acredita-se que já cm 1727
ta a triste história de Joruri. que procura eter- existissem dispositivos que conferiam aos tí­
numente o seu amado e, quando o encontra, teres possibilidades engenhosas. Primeiramen-
perde-o mais uma vez. Perto do tinal do sécu­ ie. havia pequenos alçapões para figuras indi­
lo XVI, a famosa balada de Joruri terminou viduais ou parles do cenário e, mais tarde, o
por dar seu nome a uma reeém-surgida forma artifício de plataformas maiores que também
de arte, a peça de títeres (ningyo. que quer di­ podiam ser usadas pura elevar o chão do pal­
zer "boneco de mão”), que ficou conhecida co em três níveis diferentes. Ao trabalhar com
como ningyoJoruri. Ela deve sua origem a dois tais inventos cênicos do teatro de bonecos,
manipuladores itinerantes, o mestre titereiro Nantiki Shozo, o inventor do palco giratório
Hikila Awaji-no-jo e o cantor de baladas de japonês para o teatro kabuki, teve, segundo se
joruri e locador dc samisen Menukiya Choza- relata, sua primeira experiência técnica. No
buro, que um dia decidiram fazer um trabalho Japão, conta-se que o palco giratório foi usa­
juntos. Hikita manipulou os bonecos de acor­ do de inicio no teatro de bonecos Kndo-za em
do com a história contada por seu parceiro, e Osaka.
ambos foram aplaudidos largamente. O impe­ O palco do ningyo joruri consiste numa
rador convocou-os à cone. e logo o seu exem­ ponte de madeira sobre a qual os bonecos
plo era seguido por outros grupos de cantores atuam, enquanto o mestre titereiro que os ma­
e Itleren os. nipula fica numa espécie de fosso. Ele perma­
Em pouco tempo, O ningyo joruri tom ou- nece à vista dos espectadores, sem destruir com
se grandecnentc popular sobretudo no grande isso a ilusão; se os bonecos são grandes, ele

jw -
H iír n r ii i M untlial tio T e a tro *

pode até mesmo sentar-se ou estar em pé mi templo fora da cidade, incendiou-se em 192b.
próprio palco. Usa lim p a s escuras e um capu^, Hoje. os famosos bonecos de Osaka têm como
misturando-se assim au pano ile fundo. en­ abrigo o moderno e decorado edifício Axuhi-za.
quanto comunica aos bonecos. siimuosailieii- que faz parte do grande conglomerado teatral
te vestidos com seus figurinos brilhantes, a ca­ pertencente ã sociedade anónima Shochiku.
pacidade de amar e odiar, sofrer c resistir, lu­ Nos últimos cem anos, o nome Bunraku pas­
tar e morrer­ sou u fazer pane do vocabulário internacional,
ei narrador senla-se à direita do palco, por evocando em iodos os lugares a arte rematada
trás de tuna estante de laca ricameine decora­ do leutro de marionetes japonês de Osaka
da que sustenta seu texto, perto dele senla-se
o tocador de somisen. O número de oradores e
músicos depende do npo e da complexidade Ka b u k í
da peça.
As dificuldades de prover os requisitos Os primeiros anos do século XVII, mar­
técnicos - como. por exemplo, a necessidade cado na F-uropà pelo esplendor do barroco,
de três titereiros para manipular um único bo­ trouxe afinal a paz ao Japão, depois de uma
neco - jimmmenle com a competição com o serie de comendas de família e guerras civis.
teatro ktibitki causaram o declínio gradeai do Porém, foi também uma época de novos con­
joruri no deeoner do século XV111, Entre 1780 flitos, gerados pela primeira intrusão de um
e 1870 não havia um único lealro joruri ttrlis- mundo externo, distante e estranho. Mercado­
ticamente competente em lodo o Japão. res portugueses estavam levando ao Japão os
O jtm tri veiíi a ser revivido por uni mes­ artigos de sua terra, c os missionários jesuítas
tre titereiro da ilha de Awaji, berço tradicional dc São Fraeisco Xavier propagavam sua fé. Os
de espetáculos populares de bonecos. Em extratos burgueses começavam u decidir seu
1871, Uemuro Btlnrakuken fundou o Teatro destino e o destino do Estado.
Llunrakti de Osaka. que leva seu uouic. e loi Enquanto as solenes danças bugaktt ha­
ali que a arte do ningvojtiruti reviveu cm nova viam encontrado seu lugar no cerimonial da
glória. O edifício, que Ficava no recinto de um corte imperial c o nó se encaixara imeirameii-

I 2. U-aliu . . I. ni ni; 1
J a . j w a il . .i ..;.r i:i 1-kulli. cl i Kvoto. f . 11' ' ' i
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* -/«»/>«!'

te nsi estética samurai baseada i*k > ^en-budis- Okuni está pranteando seu amado c. con­
mo, uma nova forma de teairo compreendia jurado pelo fervor Uc sua dança, seu espírito
agora Indu u extensão da realidade social. Era aparece diante dela. O fantasma é interpreta­
o kobuki. Os três caracteres chineses que ex­ do por uma jovem atriz c entra uo palco vindo
pressam hoje a palavra kobuki significam mú­ do meio do público. Com isso se anuncia um
sica. dança e habilidade artística. desenvolvimento que sc tornou um princípio
A origem do kobuki é airihuída à bailari­ da encenação do kulmki. Fantasmas, deuses e
na O kuní. antiga sacerdotisa do santuário heróis em ação fazem sua entrada por uma pas­
xintoísta em Izumo. Por valia de 1600. Okuni sarela de madeira, através da platéia, rum» ao
dava recitais dc dança e música em diversos palco, isto é, sobre o huruimichi. a "estrada de
locais da capitat Kyoto, a fim de recolher dona­ flores". Conta-se que o público depositava ali
tivos para a reconstrução do seu santuário em flores aos pés deles - uma bela. porém não
Izumo. destruído pelo fogo. E por certo, apre­ comprovada imeipretução.
sentava a uentbutsuotinri, dança ritual em ho­ Em 1624, o fundador da linhagem de ato­
menagem a Buda. conhecida desde o século X res chamada Nakamura, uma das mais rcmiroa-
e difundida por monges errantes. das das dinastias kobuki. construiu o primeiro
O sucesso dc sua campanha para arreca­ teatro kobuki permanente em Ycdo. Cinco anos
dar fundos levou Okuni. por iniciativa própria mais tarde, o oima-kubuki foi proibido. Dora­
ou instigação dc alguém com faro para negó­ vante a nenhuma mulher seria permitido apa­
cios. a trocar o caráter religioso de sua arte recer no kobuki. Os papéis das damas banidas
por oúiro, eomercialmenie mais útil. Ela trei­ foram assumidos por atores adolescentes, bem
nou algumas juvens, ensaiou cnm elas peque­ como suas outras obrigações. Eles logo inspi­
nas danças e cenas de diálogo, e começou a raram rivalidades não menos violentas do que
aparecer com seu conjunto c unia orquestra as provocadas pelas damas da profissão. |xiis
de flautas, tambores e tamborins no parque os piazeres do palco e dos bastidores eram
de diversões dc verão em Kytno, no leito seco igualmcntc requestados pelos mercadores ri­
do rio Karnn, unde numerosos pequenos res­ cos. os shtmins, e membros da classe dos samu-
taurantes, casas de chá e tnm pes de dança rais. Em 1652. as autoridades puseram fim
montavam suas hatracas todos os anos na es­ também ao waka-xhu-kabuki. interpretado por
tação seca. garotos.
Em I(i07, Okuni levou suas jovens a Ycdo. Porém, dois anos mais tarde, veio a modi­
hoje Tóquio, onde novaineiHC atraiu grandes ficação decisiva, quando foi obtida » permissão
plateias. Donos dc casa de chá espertos come­ dc se continuar com as apresentações teatrais,
çaram a anexar um jardim-teatro kabiiki a seus com a condição de que os atores atuassem com
esiabelecimcrios. As jovens dançarinas eram a cabeça raspada, conforme era costume entre
muito atraentes, em todos os sentidos; porém, os homens, e que não fossem incluídas cenas
conforme seus princípios de condula iam re­ eróticas ou danças provocantes.
laxando. sua reputação rapidamente decresceu. A partir de então, o desenvolvimento do
Vinte anos mais (arde, um edito imperial proi­ kobuki traz a marca da entranhada tendência
biu o ointukubuki e o aparecimento de mu­ japonesa para a cstilizaçã» c para os "asilos"
lheres {ontia) no palco. da cena. Assim, logo sc delinearam quatro ca­
Um documento da cpnca primitiva do tegorias distintas de peças, que ainda hoje cons­
Okitni kobuki. o Kimijo kobuki ekotoba. escri­ tituem os programas kobuki. O primeiro tipo è
to aproximíidantenie entre 1604 e 1630. que o drama histórico, jitiaimono. que glorifica o
hoje está preservado na biblioteca da universi­ xamurui e suas virtudes tradicionais - lealda­
dade de Kyoto, nos oferece um vivido quadro de e amor filial. 0 segundo, é o seniumm o,
desse período. Suas ilustrações mostram como um drama doméstico situado no mundo dos
as antigas caractcrisfic3$ da dança ritual com- mercadores, comerciantes e artesãos. A lerecira
binavam -se com os elem entos do nò c do categoria, aragoto. o drama do homem forte,
kyogrii. Ele registra o seguinte enredo de uma apresenta um herói sobre-humano, caracieri-
das peças-danças de Okuni: zado por uma pesada maquiagem e pelo dis-

v/ •
H iJtârttt M u m tia t d o T rtitro

13. Tealii' itibuh dc nieninin em Kyotn. r. 164(1

curso melodramático, A quarta. shosagoto. c Com profunda compreensão daquilo que


uma espécie de drama dançado acompanhado movimentava os seus contemporâneos. Tojuro
por tamborins, grandes tambores, flautas c declarava que a própria vida cra o grande mes­
shamisen, e também por mn coro cantando a tre da sua arte. "A arte do mimo", disse ele
balada relativa à história e aos cvcnlos lírico» certa vez. “é como o bornal dc um mendigo,
da trama. que tem de conter tudo, importante ou insigni­
Qualru nomes (arnosos estão inlimamen­ ficante, Se encontramos algo que não pode ser
te associados com o teatro kubuki da segunda usad o jm ediatam ente, a co isa a lazer é
metade do século XVII: os dos três atores conservá-lo e guarda-lo paru uma ocasião fu­
Tojuro. Danjuro e Ayame. e o do grande dra­ tura. Um verdadeiro ator deveria aprender o
maturgo Chikamatsu, cujo nome está estrei- ofício do batedor dc carteiras".
tamente ligado ao teatro de bonecos. Sua arte O grande rival de Tojuro nos palcos de
e sua vida refletem a situação social de sua Yedo foi Icliifcawa D anjuro (1660-17041.
época. Quando adolescente, havia sido membro de
Sakata Tojuro (1647-1709), famoso pelo uma tnm pe ambulante. Ao se apresentar pela
papel do terno amante nas peças cortesãs, do­ primeira vez em Yedo, ein 1673, cobriu o ros­
minava o palco em Kyoio c Osaka. Quando to com uma espessa camada dc pintura verme­
menino, no palco ruí dc seu pai. ajoelhado ao lha e branca para desempenhar o papel de um
fundo da cena, ele lut via locado o tambor. Mais herói aragoto. Foi o nascimento da máscara
tarde, como famoso astro kahuki e autor de kabttki. Danjuro assumiu o estilo declamatório
peças de sucesso, levava a vida de um prínci­ do teatro de bonecos, cujo rapsodisla Lzumidayu,
pe. Tojuro é um representante típico do mun­ em Yedo, ele admirava grandemente e tomara
do genrvku, no qual OS mercadores se fizeram como modelo. Danjuro cra um homem baixi­
ricos e os samurais empobreceram, no qual as nho c atarracado, de espantosa força física e
zonas de meretrício floresceram c os cidadãos poder vocal. que. segundo relatam os cronistas,
eram impelidos por suas ambições. faziti tremer não apenas o palco, mas Também
■ 92
14. Duas xilogravuras c m cores dc ShnraJcu. c. 1790, À esquerda. os ai ores Jt/i/wAri Sawnmura Yodogaro c Bando Zcnji;
à direito, Segasva Tbmi&abura 11 e Nakamura M am yo. desempenhado o papel de a n u e criada.

JfcfrJS
1

l í - Xilogravura em to rci de Shijicharu: dois olurcs 16. X ilogravura em co res de Turii KiyonajMi cetiu dc
mim duelo do sjmurais. (cairo com recíladoius c u m locador do samisen.
JttjUt"

a$ porcelanas nas lojas próximas. Quando abria fontes - a estreita conexão com o ningyo juntri
todas as comportas lia emoção ao interpretar e a influência do ator Tojuro em Osaka. Tanto
um papel aragoio, sua voz de trovão podia ser a arte de Tojuro quanto a de Cliikamittsii esta­
ouvida n quilómetros de distância. O ideal de vam en raizadas no melodrama dom éstico
Danjuro era o herói do mundo santurai. Como (.tcuariiorii)), no conflito trágico e sem saída
Tojttro, ele próprio escreveu pelo menos algu­ entre os impulsos do coração e as leis rígidas
mas de suas peças ou adaptou-as a partir de da ordem social feudal.
textos nô, como o famoso Ktijincho. Por uma Há uma velha máxima teatral no Japão que
ironia da história, este herói invencível foi as­ diz: ”0 teatro é sabedoria para o povo. Cum­
sassinado pela espada de um ator rival durante pre-lhe ensinar a trilha do dever por meio de
uma briga no camarim do Teatro Ichimura-zn exemplos c modelos". Chikamatsu coloca seus
eni Yedo. heróis e heroínas no conflito entre a natureza
O terceiro dos astros dos primórdios do humana e a lei moral. Faz com que eles resis-
kabuki foi Yoshtziuva Ay ame (nascido em larn a todas as tentações com uma conduta
1673), Era um intérprete de papéis femininos exemplar e leva-os a encontrar a melhor saída
e levou o seu estilo tão a sério que terminou possível, a mais justificada eticamente.
desenvolvendo um narcisismo quase hermafro­ D urante a prim eira metade do século
dita. Mesmo fora do teatro, usava sempre rou­ XVIII. o kabuki e n teatro de bonecos com ­
pas femininas, bem como uma altíssima c ela­ petiam com probabilidades quase idênticas
borada peruca e cosméticos, transpondo sua pelos favores do público. Graças a adaptações
imagem cênica para a sua vida privada. Ale­ dos grandes temas épicos e com a ajuda das
gava que um ator de papeis femininos nunca excelentes peças de Chikamatsu, o kabuki ul­
devia - mesmo depois do espetáculo, no ca­ trapassou seu rival. Isso incentivou também
marim, ou nas ruas - “sair da personagem”. A o culto lios astros. Cada cidade tinha os seus
absurda fixação de Ay ame em transformar a ídolos. Os melhores expoentes da xilogravura
oanogala numa cortesã, até mesmo na vida co- colorida captaram-nos cm poses impressivas*
tidiana. introduziu uma rigidez convencional e estudos de retrato. A$ séries de atores dc
no kulmki que não auxiliou seu desenvolvimen­ Sharaku, que fora antes um ator uô a serviço
to artístico subsequente. do príncipe de Awa. mostra os favoritos de
O homem a quem o kabuki deve seu mais Yedo com uma grandiosidade impressionan­
poderoso impulso é o grande dramaturgo ja­ te. Os esboços de teatro de Hokusai captu­
ponês Chikamalsii Monzaemon 1165.3-1725). ram a graça evaneseeme do movimento da
Seu nome verdadeiro era Sugimori Nobnmori. dança. Q uando, em 1793. o empresário tea­
mas era uma prática comum na vida teatral ja­ tral Mivuko Dennai assumiu o falido Naku-
ponesa um ator tomar, como nome artístico, o mura-za em Yedo. pós em circulação uma
nome de um artista que reconhecia como mo­ xilogravura de Sharaku, moslrundo-o numa
delo. Neste caminho, gerações de Tojuros e pose decorativa no palco, segurando um per­
Danjuros sucederam-se umas às outras (uma gaminho - uma prova um tanto dispendiosa
xilogravura de Kunisada. de 1858, mostra dc sua reputação empresarial. Na mesma épo­
Danjuro VII). sem terem nada em comum com ca, Sharaku foi encarregado de fazer dese­
seu ancestral, além da ambição artística. nhos dos atores dos três principais teatros de
Ninguém, entretanto, ousou tomar o nome Yedo. Suas grandes xilogravuras coloridas em
artístico de Chikamatsu Monzaemon depois que se vê someitlo a cabeça dos artistas sobre
dele. Desde os dezenove anos ele viveu em um fundo de mien cinza-pratendn, todas fei-
Kvoto, a serviço de um nobre da corte chama­ las entre 1793 e 1796. encoutram-se hoje en ­
do Ogimachi, que escrevia peças jiin tri. Foi tre os mais preciosos testemunhos pictóricos
aliqiie Chikamatsu entrou cm contato pela pri­ do leatro japonês.
meira vez com o teatro de bonecos, ao qual
devotou suas mais excelentes obras. Peno de
a T o m u c m iJ iiitU ' o u jH irtiiLiik b p o r I f c ir o K iisíifui
vinte peças de Chikamatsu chegaram alé os tu O s itttU íiílvU f h s ib iilu : n tu u V im titu
dias aluais, e a força de traias elas brota de duas Suo Tntilo, lV-rs|iu.‘l[V;i. IW.V

VÍ -
17, Xilogravura cm rores de Kiinisada: vista geral do S h m tu m i-ia enfJY<juiii, IKK1. A esquerda, n grandecantinhodas
flores {hanamichiJ que leva ao palco kafatki. ã direita, o pequeno cam m lio das llorcs i Muoupk-, Mosco do TeatroI.
18. Xilogravura em cores de Kunisada: visla dc um ipaifo kflbuki. No palco. uma cena dc batalha: à CSijUerdu, ao
Caminho das flores. Parijuro V il com um parceiro. Impressão única. 185$.

I<). X ilo g ra vu ra e m cores de f loku^ai. da serie l-iigi»** Fttm osos <ic Wuio. T « iu io , I 81HP. 1' íí I h i c plaiéia c m w vislos
pelos músicos, que aparecem sentado* — arum m io* - ao fum lo da Cena.
/Íf if íir ir l M uaitiat J f í Teatro •

Um dos mais famosos dramas kalntkt. Conforme t> número de atores crescia c o
Ktmahedtm Chtt-sbin^ttia. dc Takeda l/.umo programa se expandia, o teatro kttbuki come­
c Numiki Sosuke, é ainda regularmoiue apre­ çou a precisar de uma espécie de estrutura in­
sentado todos os anos. poi inteiro ou em algu­ terna pintada, equipada com uma cortina cor­
mas cenas, Ele conta a história dos quarenta e rediça e vários letões de fundo. No palco
sete nobres (triii/u) que exigem cruel vingança kabuki ampliado, alguns objetos cênicos ea-
dc sangue devido a uni crime dc morte come­ racterísticos indicam a cena da ação - biom­
tido por fidelidade de vassalo. Eles obedecem bos pintados dc dourado, por exemplo, fazem
ao código de ética dos samurnis à custa de sua parte do cenário do palácio nas peças jirhti-
própria vida. O episódio histórico subjacente mona, que por essa razão são ãs vezes chama­
a esta peça, a história dos 47 ronin, i um dos das de peças dos biombos dourados.
temas nm s populares da literatura japonesa. Já em 1753, o dramaturgo e técnico de
O palco kctbtiki. originalmenle emprestado cenografia Naniiki Sliozo havia construído um
do nô, era uma plataforma quadrada sem de­ mecanismo que erguia e abaixava o assoalho
coração. No início, era erguido onde fosse con­ do palco. Em 1758. inventou utn palco girató­
veniente e ao ar livre, mais tarde num recinto rio. operado por um sistema de cilindros. Este
circunscrito c, linalmcnle, foi transportado para palco giratório foi poste ri orm ente aperfeiçoa­
um edifício teatral permanente. A plateia sen­ do em 1793 por Jukichi, no Nakamura-za de
tava-se em bancos de madeira. Os grandes tea­ Yedo. O Japão estava, assim, um século intei­
tros tinham galerias e fileiras ao longo das pa­ ro à Irenie da F.uropa. que não teve sua pri­
redes larerais, sempre divididas em comparti­ meira experiência prática do palco giratório até
mentos - como também eram organizados os 18%. quando Karl Lautenschláger o utilizou
lugares ao nível do solo. O preço do ingresso no Nalionallhealcr cm Munique. (Isso. entre­
pago na entrada dependia da categoria do lu­ tanto. se deixarmos dc lado os esboços de Leo­
gar desejado pelo frequentador nardo da Vmci paru uma alegoria que seria
Atual mente, o caminho das ilores Uitimt- apresentada em Milão em 1490, c o palco gi­
inichi) é um dos componentes mais caraete- ratório duplo que Inigo Joncs desenhou em
ríslicos do kttbitki. Ele Uca à altura da cabeça 1608 para The Masque ojlieauty, ein Londres.)
do público na plaléia, que ocupa o plano do Duas vezes, em 1841 ecm 1855, grandes
solo, e vai dc unia pequena poria na parede incêndios devastaram a eidade de Yedo C des­
do fundo do auditório até um dos lados do tra iram todos os seus teatros. Eles foram
palco. Teatros grandes Ireqiiememente pos­ reconstruídos, e os novos teatros consistiram
suem unta segunda passarela dc entrada, me­ em versões maiores c mais espaçosas de seus
nor. que segue paralela ao hanainichi ate o predecessores. Não importa quantas crises in­
outro lado do palco. (Quando Mas Retnliardi ternas e externas tenham cercado o kabaki. ele
montou a pantomima Sritiurnin em 1AI10 para é ainda a mais popuiar forma dc teatro do Ja­
n Berliner Kainmerspielc. inspirada por mo­ pão. Iluminação ullramudema e técnicas cê­
tivos orientais, usou também um caminho dus nicas, poltronas c assentos dobráveis, um foyer
flores.) e carta/es mululíngties conferiram, nesse meio
tempo, um brilho internacional ao kabitki.
Atualmeutc, há no Japão cerca de trezen­
tos e cinquenta atores kabitki, empregados pela
grande corporação dc teatro Shochiku-Kaisha.
que possui um rico acervo de vestimentas c
acessórios históricos. O esplendor de um es­
petáculo ktibitki depende hoje, como amiga-
mente, dos figurinos suntuosos - pesados hro-

2(1. kileo giratorii] kaimki, opciailo por tules, como


cracosiuiiK' ;i fKiiln tlc 17V.T no N:ik;nmjra-zj ilo Ycilo.
■ Jttjuht

cados ricamenie adornados e guarnecidos de A tendência shintpu para contrabalançai


ouro. "Os efeitos são pummeme externos” , a rigidez formal excessiva das categorias tea­
escreve o estudioso do teatro Beníto Oriolatii, trais tradicionais teve importante influência mi
“e isto feva muitos críticos a duvidar da vitali­ desenvolvimento do teatro japonês, Resultou
dade deste género, mas quem procura pelas numa tendência para o drama de situações ro­
fontes do misterioso fascínio de uma remota e mânticas, uma espécie de Madamc Bmterfly
grande civilização encontrará ik> kahiiki uma barato, de corte burguês. Com isto o shimpu
chave indispensável de compreensão e apro­ levou a sua força de impulso a um beco sem
fundamento”. saída, e seu sucesso sc concentrou por um cur­
to período em Osaka e Tóquio, mais ou menos
de 1904 a 1909.
SH/Aí/VV Após a Segunda Guerra Mundial, Bénito
Ortntani - que então era professor na Univer­
As revoltas políticas e sociais do século sidade Sophia dc Tóquio - diz:
XIX também tiveram seu impaeto no teatro. A
restauração do Meiji eni 1868 e o tratado co­ Furam Ic ita s len iiitiv n s nu seitm i» Uc u.rn sloi m,u
mercial com os Estados Unidos acabou com o o .diiniprt num dram a p o p u la r s im ila r ía lw k i. r* c o n ­
quistai uma p la te ia m a io r através dc m n:t seleção m ais
isolamento secular do Japão. Ao mesmo tem­
cuidadosa de peças e Jielíl inclusão dc afores jo v e n s c
po. foram abolidas numerosas restrições inter­ talentosos, lis ta m udança inteligente dc direção asse­
nas. c o teatro foi um dos beneficiários. Uni gurou um luga r, no teatro japonês m oderno, para um a
certo número de teatros puderam ser novamen­ espécie que sobreviveu em iatga m edida ã sua 1unção
te erguidos em qualquer lugar, por iniciativa do ponte entre a tra d iç ã o kabaki e o teatro m oderno.
M as isso e x p lic a tam bém p o r que a gente de te a tro e
privada. Os rígidos regulamentos que diziam
cinem a de boje. ao fa la i do estilo s/nur/iu ou de tragé­
respeito à indumentária dos atores foram sua­ dias do lip n */lim pa. tem s-tll mente espetáculos se n ti­
vizados c. peia primeira vez desde 1629. p^rmi- m entais. in m à n ttc o s nn nis-lndram àlicns. e p o r que a
tíu-se que as mulheres aparecessem no palco. m aioria sins especialistas não vècm no nenhu­
Mas esta nova e liberal tendência teve conse­ ma base fiaTu o fn tn ro do teatro japonês.

quências questionáveis do ponto de vista ar­


tístico. O afrouxamento do estilo kabitki, con­
forme concebido pelo ator Jchikawu Dnnjuro S hikgeki
IX (1838-1903). mostrou-se msis nocivo do
que ent iquecedor. Sub a influência européia, Uni outro movimento de reforma, cuja
surgiram os grupos de entusiastas do teatro que, influência continuou até os anos 30 deste sé­
com o nome de shiiiipa l "Movimento da Es culo. foi iniciado pelo dramaturgo e estudioso
cola Nova"), queriam reformar o teatro japo­ do teatro Tstthouchi Shoyo <1859-1935), Além
nês segundo modelos europeus. Um dc seus de suas próprias peças, como pni exemplo a
fundadores, Sudo Sadanori, introduziu no pal­ popular Kiri Hito Ha (A Folha da Árvore Kiri),
co a representação politicamente engajada e Tsubouclii Shoyo apresentou Shakespenre no
provocou celeuma em 1888 com sua estreia palco japonês. Ele passou décadas traduz indo
no Shintoniiza, em Osaka. Kaw.ikanu Olojii o, virtualmcnte todas as peças de Shakespenre,
que se apresentou ju n to com su a esposa Como primeira amostra, montou a cena da cor­
5adayakko na Feira Mundial dc Paris cin 1900, te de O Mercador de Veneza tio Kabuki-zn em
linha em mira o sentimento e a sensação c che­ Tóquio, como interlúdio entre dois atos katnikí.
gou a servir de epítome da arte dramática japo­ A isto seguiram-se logo depois peças comple­
nesa na Europa. Após seu retomo ao Japão, fez tas de Shakespeare, como também de Ibsen.
sua maior contribuição ao palco mpônien. Apre­ Strindherg, Gerhart Hauptmann e outras da
sentou peças europeias, traduzidas para o japo­ escola naturalista européia. Tsuhouchi Shoyo
nês. encenai ido-as de acordo com conceitos oci - fundou uma sociedade de literatura e arte,
dentais. Sua imaginação fértil, aliás, levou-o a Bimgei Kyokai. e tamhém o museu de teatro
fazer Hamlet entrar no palco percorrendo o ca­ na Universidade Wascda de Tóquio, que se
minho das flores thiiiiamk liiI de bicicleta. tornou um dos centros da moderna pesquisa

W *
21. Cena k ú tm k i pescadora c honzo, perto de u«i val^neiru. tX-scnho cotirrido de Sahqrn K a n d o . Tótpti». 1917.

22. Ator represe mando um satitorai. fio drama G o d u i 23. XiU^mvuradascrtcMftjrr.rrjfj /Vf/ro. de Tíiynktuii:
mJ f u n s i n i t 1, 17K2
l e n j t A fitx tifit MusalMiyu.
I tiS lõ ria M t í i t Ifitírfl

teatral japonesa. Às mesmas propostas serve Tsukiji-Shogekijo, por causa do bairroTsukiji,


o Instituto de Teatro da Universidade Sopina de Tóquio.
de Tóquio, cujas publicações, conferências e De outra parte, o shmgcki ("novo teatro")
mostras fizeram muito para promover o co­ que se separou Uo Tsukiji-Shitgekijo c imeint-
nhecimento da arte teatral do Japão no Oei- mente internacional em sua concepção. Tomou-
denle. se um conceito de convergência das aspirações
A Teigeki, ou Sociedade Teatral Imperial, sociais dos jovens intelectuais japoneses. De­
formada em 1911, teve vida efémera. Foi ab­ pois de décadas de adesão exclusiva ao méto­
sorvida poucos anos maís tarde pela corpora­ do Stanislávski, passou agora a utilizar outros
ção Shochiku, que possui o monopólio de toda métodos individuais dc direção teatral para a
a indústria teatral japonesa, incluindo a ópera, produção de montagens.
o cinema e o teatro de variedades de estilo inter­ Hoje. o shingeki dos grupos teatrais mo­
nacional. Hoje, o Teatro Imperial é um cine­ dernos é um lugar de experimentação, dc critica
ma que exibe filmes estrangeiros. social engajada.de apresentação de sucessos in­
O último fruto do shiiigekt foi o "Peque­ ternacionais e de discussão com as grandes cor­
no Teatro", fundado em 1924 e chamado rentes do teatro mundial.

■ 1(12
Grécia

In t r o d u ç ã o Muitas correntes de forças da Mesopo-


lãnna. Creia c Mi cenas confluíram para a |>e-
A história do teatro europeu começa aos llínsula da Ática, hanhada pelo mar. e lá en­
pés du Acrópole, em Atenas, sob o luminoso contraram seu auge histórico na /mlis. a cidu-
céu azul-violeta da Grécia. A Ática é o berço de-Estado de Atenas. A política de poder e utnu
de uma forma de arte dramática cujos valores deliberada c sagazmente conduzida intensifi­
estéticos e criativos não perderam nada da sua cação da vida religiosa levaram ao pomposo
eficácia depois de um período de 2.5ÍX) anos. programa festivo da Panatenéia. a glorificação
Suas origens encontram-se nas ações recipro da deusa da cidade. Palas Atena. Do século VI
cas de dar c receber que. em todos os tempos a.C. em diante. Atena passou também a home­
e lugares, prendem os homens aos deuses c os nagear Dioniso na grande Dionisacitadina, que
deuses ao homem: elas estão nos rituais de durava vários dias e incluía represe inações dra­
sacrifício, dança e culto. Para a Grécia ho­ máticas.
mérica isso significava os sagrados festivais O teatro é uma obra de arte social e comu­
báquicos, menádicos. em homenagem a Dioni- nal: nunca isso foi tnais verdadeito do que na
so, o deus do vinho, da vegetação e do cresci­ Grécia antiga, lini nenhum outro lugar, por­
mento, da procriação e da vida exuhenintc. tanto, pôde alcançar tanta importância como
Seu séquito é composto por Sileno, sátiros e na Grécia. A multidão reunida 110 ihcatron não
bacantes. Os festivais rurais da prensagem do
vinho, em dezembro, c as festas das flores de
Atenas, em fevereiro e março, eram dedica­
dos a ele. As orgias desenfreadas dos vinha­
teiros áticos honravam-no, assifll como as vo­
zes alternadas dos ditirambos e das canções
báquiens atenienses. Quando os ritos dioni-
síacos se desenvolveram e resultaram 11a tra­
gédia c na comedia, ele se tornou o deus do
teatro.

t. Javtíns d a n ç jn n a s ilj época II r v 1:1II , . 1VI


.'iiir,' p rim itiv o .
H i s t o r i a Mnri tfi nt tiit T c n l r n -

era meramente espectadora, mas participante, burilo cego de Homero, Demódoc». que entoa­
no sentido mais liteml. O público participava va seus cânticos sobre os favores c a ira dos
ativamente do ritual teatral, religioso, inseria- deuses para com Os heróis em banquete, pois
se na esfera dos deuses e compartilhava o co­ "quando seu apelite e sede estavam satisfei­
nhecimento das grandes conexões mitológicas. tos. u Musa inspirava o bardo a cantar os fei­
Do mundo conceptual religioso comum e da tos de homens famosos” [Odisseia. VI11).
célebre herança dos heróis homéricos surgi­ Duas comentes foram combinadas, dan­
ram OSJogos Olímpicos, ístmicosc Nemeanos, do à luz a tragédia; uma delas provém do le­
assim como as celebrações cultuais do santuá­ gendário menestrel da Antiguidade remota, a
rio de Apoio de Delfos —todos eventos que outra dos ri los de fertilidade dos sátiros dan­
preservavam uma solidariedade que sobrepu­ çantes. De acordo com Heródoio. os coros dc
java as facções políticas. cantorcs com máscaras de bode existiam des­
A despeito dessa solidariedade inerenle, de o século VI a.C. Esses coros origmnlmcntc
existiam confliios perenes - entre Espana e cantavam cm homenagem ao herói Adrasto, o
Atenas, e entre todos os ambiciosos pequenos mui celebrado rei de Argos. e Sícion, que ins­
centros de poder do continente, o Peloponeso tigou a expedição dos Sete contra Tchax. Por
e as ilhas do arquipélago Egeu - conflitos que razões políticas, Clístenes, tirano de Sícion
podem ser considerados, nas palavras de Jacob desde 59b a.C.. transferiu tais coros de bodes
Burckhardi. como “uma febre imerna desic para o culto a Dioniso, o deus favorito do povo
organismo altamenle privilegiado". As mui da Ática.
citadas palavras de Heráclito, “o conflito é o Dioniso. u encarnação da embriaguez e d»
pai de todas as coisas”, são válidas não apenas arrebatamento, é o espírito selvagem do con­
para a inquietação política do final do século traste. a contradição extática da bem-aventu­
VI a.C., quando eie as escreveu em Efeso, mas rança e do horror. Ele c a fonte da sensualida­
também para as sombrias emoções do drama, de e da crueldade, da vida procriadora c da
as paixões do ódio nascidas da "fúria radical destruição letal. Essa dupla naturcz.a do deus.
docoração”. Quando Thassilo von Schcfferdiz um atributo mitológico, encontrou expressão
que /runianífftc é uma palavra dificilmente apli­ fundamental na tragédia grega.
cável aos gregos antigos, não destrói com isso O caminho que vai do bardo homérico
a nossa concepção ideal destes, mas acrescen­ Demódoco ã tragédia nos conduz a um de seus
ta o tão importante reverso, sem o qual seu tea­ sucessores, Arion de Lesbos. que viveu por
tro - como outros aspectos da Antiguidade volta de 600 a.C. na corte tio tirano Perinndro
grega —escaparia à nossa compreensão. dc Corinto. Com o apoio e a amizade desse
governante amante das artes. Arion encarre-
gou-se de orientar para a via poética os cultos
T r a g é d ia ã vegetação da população rural. Organizou os
bodes dançarinos dos coros de sátiros para um
D o C u h o ao T e a tr o acom panham ento m im etico de seus d iti­
rambos. Assim, ele encontrou uma forma de
Para honrar os deuses, “em cujas mãos arte que. originada na poesia, incorporou o
impiedosas estão o céu e o inferno”, o povo canto c a dança, e que duas gerações mais tar­
reunia-se no grande semicírculo do teatro. Com de levou, em Atenas, ã tragédia e ao teatro.
cantos ritmados, o coro rodeava n orchesim: Psísiralo. o sagaz tirano de Atenas que pro­
“Vem, 6 Musa, unir-se ao coro sagrado! Deixa moveu 0 comércio e as artes c foi o fundador
uosso cântico agradar-te e vê a multidão aqui das Panatenéias e das Grandes Dionisiacas, es­
sentada!” Estes hinos em forma de verso são forçou-se para emprestar esplendor a essas fes­
de As Rãs, de Aristófanes. Precisamente de, o tividades públicas. Em março do ano de 534
“zombador incorrigível", invocou novamente. a.C.. trouxe de Icária para Atenas o ntorTéspis,
em sua últintu comédia, o poder da tragédia e ordenou que ele participasse da Grande
grega clássica, cuja idade de ouro durou apru- Dinntsiaca. Tcspis teve uma nova e criativa
ximadamenie um século. Seu precursor foi o ideia que faria história. Ele se colocou ã parte
• 104
* C ffn n

2. Dançarinos cimíuI iíin da tie Arion h m u ia d í um íia ^ o c o iiiu iti, século VI ;i.C.

do coro como sulisl;it e assim criou o papel do las ondas do mar, dentro de uma arca. Enquanto
hypokrites frespondedor" e, muis tarde, ator ), elemento procriador que abriga o mistério pri­
que apresentava o espetáculo e se envolvia ntnn mordial da vida. a água sempre foi um ingre­
diálogo com o condutor do coro. Essa inova­ diente importante dos cultos de qualquer povo;
ção. priniciranientc não muis do que um em­ são testemunhos disso o culto de Osíris do
brião dentro do rito do s:un t írio. se desenvol­ antigo Egito, o Moiscs bíblico e o pescador
veria mais tarde na tragédia, ctimologicumente. divino da dança fatgirm japonesa.
tragai ("hode”) e ode (“canto- ). O deus - ou o ator - no carro-barca sema-
Nenhum dos presentes mi Dionisíaca de se entre dois sátiros 11autistas c segura folhas
514 a.C. poderia sonhar com o alcance das de videira nas mãos. conforme os pintores de
implicações que este acréscimo inovador de vasos do inicio do século VI a.C. mostraram
diálogo ao rito iraria para a história da civili­ cm imiineras variantes. Assim, sem duvida,
zação e, menos ainda, o próprio Tcspis. Ate Téspis se apresentou na Dionisíaca de Atenas,
então, cie perambulara pela zona rural com usando uma máscara de linho com os traços
uma pequena de dançarmos e ca mores de um rostu humano, visível a distância por
e. nos Festivais rurais diomsúicos, havia ofere­ destacar-se do coro de sátiros, com suas lan­
cido aos camponeses da Ática apresentações gas felpudas e cauda de cavalo.
de ditirambos e danças de sátiros no estilo de O local da Dionisíaca de Atenas era a en­
Arion. Supõe-se qne viajasse muna carroça de costa da colina do santuário de Dioniso, ao sul
quatro vudus, o " cuito de Tcspis", mas esta c da Acrópole. Ali erguia se o templo com a ve­
apenas uma das nten adiçáveis e graciosas ilu­ lha imagem de madeira do deus, irazida dc
sões que o uso lingiiístico perpetuou, O culpa­ Elcutera: um pouco muis abaixo ficava o cír­
do nesse caso foi I lorácio, que nus conta que culo da dança, e então, num lerraço plano, a
Téspis “levava seus poemas num carro". Mas orcheslra. Em seu centro, sohre um pedcsial
essa informação diz respeito somente à sua haixo, erguia-se o altar sacrificial (wiic/r). A
participnção na Dionisíaca. e não a algo como presença do deus tornava-se real paia os es­
uma carniça-palco ambulante. O ritual da dan­ pectadores: Dioniso estava ali com todos eles,
ça coral c do teatro era precedido por urna pro­ centro e animador de uma cerimónia solene,
cissão solene, que vinha da cidade, e termina­ religiosa, teatral. Conto todas as grandes pe­
va na orquestra, dentro do recinto -sagrado de ças cultuais do mundo, esta começou com um
Diomso. O clímax dessa procissão era o cano sacrifício de purificação.
festivo do deus puxado por dois sátiros, urna
espécie de barca sohre rodas li íim u Httvitiis), T r ó p i c o s P r e c u r s o r e s ile
que carregava a imagem do deus ou, em seu Esquilo
lugar, um ator coroado de folhas de videira, O
carro-barca recorda as aventuras marítimas do Entre a primeira apresentação de Téspis e
deus. pois. de acordo com o mito, Dioniso, o primeiro êxito teatral de Esquilo passaram-
quando criança, fora depositado na praia pe­ se sessenta anos. Foram anos de violentas dis-

• 105
r

3. Dioniso cm seu carro naval. Pintura sohre skypoi cm vaso iiico, c. 500 a.C. íB olonha)

h <5 a i í * o í - iO * v f Oí M A P <V A f

4. C o rlcjo bacánticn Hcfesio* cum u nutricln de ferreiro. D ioniso c a Musa da C oithSí í u eu»t tirsis e cantam: Mãrsias
com flauta duplo Desenho de A-1- M illin i IKlW i. sepUkJn um vaso fiyurado. cm verm elho, dn tapuvrc. cm Paris.
p Grei-ut

putas políticas que puseram um fim ao dom í­ de Dionisíuca cm 500 a.C. com fttralogias, a
nio dos Tiranos, levaram à intervenção dos unidade obrigatória dc três tragédias e uma
guerreiros íla Maratona ua formulação dos as­ peça satírica concludente Os registros não nos
suntas públicos e. com Oístenes. ã fundação contam que trabalhos ele inscreveu no concur­
da República de Atenas. Porém, independen­ so quando foi denotado por Pratinas e Coérilo;
temente das revoltas políticas, a nova forma urda a sua obra anterior a 472 a.C., quando Os
de arte da rragoriia ganhou terreno, aperfei­ Persas foi encenada pela primeira vez., está
çoou-se e tornou-se a matéria de uma com pe­ perdida. De acordo com cronistas antigos,
tição teatral (agon) nas Dionisíacas. Ésquilo escreveu ao todo noventa tragédias;
Para leia mente, porém talvez mais reino- destas, setenta c nove títulos chegaram até nós,
tas em suas origens, as peças satíricas desen­ mas dentre eles conservaram-se apenas sete
volve ram-sc como uma espécie independen­ peças.
te. Vieram do Pcloponeso, e seu pioneiro lite­ Em Os Persas, Ésquilo dedicou-se a um
rário foi Pratinas de Fieio. A sálira, lida como tema local que havia sido tratado, quatro anos
“a mais difícil tarefa do decoro", uniu-se à tra­ antes, por Frínico em sua famosa As Fenícias.
gédia, atreveu-se a zombar dos sentimentos Deliberadamente convidava à comparação
sublimes, dandâ-lhes um estilo grotesco. Como com a obra anterior ao começar Os Persas com
parte integrante das Diomsíacas, representava o primeiro verso de As Penteias, Com essa
u anticlímax, o retorno reiaxante ãs planícies trilogia, seguida pela peça satírica Prometeu,
do demasiado humano. Quão abrupta essa des­ o Portador tio Fogo, Ésquilo ganhou o pri­
cida deveria ser. ficava a critério da discrição e meiro prémio. A Pcricles. então com vime e
da auto-ironia do poeta trágico, pois ele pró­ cinco anos, coube a honrosa tarefa de premiar
prio escrevia a sátira como um epílogo para a o coro.
trilogia trágica que inscrevia no concurso. Os componentes dramáticos da tragédia
Frínico de Atemt.s, que foi discípulo de arcaica eram ttill prólugt i que explicava a histó­
Téspis. ampliou a função do ' ‘respondedor” ria prévia, o cântico de entrada do coro. o relato
:/<vjiak/ riv!.). jnvestindo-o de um duplo papel dos mensageiros na trágica virada do destino e
e fazendo-o aparecer com uma máscara m as­ o lamento das vítimas. Esquilo seguia essa es­
culina e feminina, alternadamente, isto signi­ trutura. A princípio, ele antepunha ao coro dois
ficava que o ator devia fazer várias entradas e atores e, mais tarde, como Sófocles. três.
saídas, e a troca de figurino e de máscara su- O plano tlc fundo intelectual de O.r Persas
hlinhavu mna organização cênica introduzida c a glorificação da jovem cidade-Estailo de Ate­
no decorrer dos cânticos. Um outro passo á nas, tal como é vista da corte real da Pérsia,
frente foi dado. da declamação para a "ação" que fora derrotada em Saiam ina. Q uando
Atossa pergunta ao corifeu; "Quem rege os gre­
Esqttilo gos, quem os governa?’’, a resposta expressa o
orgulho do autor pela polis ateniense; "Eles
É a Esquilo que a tragédia grega antiga não são escravos, não têm senhor".
deve a perfeição artística e formal, que perina- O que Atossa, Anlígona, Orestcs ou Pro­
neeeria uni padrão para lodo o futuro. Conto meteu sofrem não é um destino individual.
seu pai pertencesse à nobreza proprietário dc Sua sorte representa uma situação exccpcio-
terras dc Elêusis, Esquilo tinha acesso direto à nal, o conflito entre o poder dos deuses e a
vida cultural dc Atenas. Em 4Ú0 a,C. partici­ vontade humana, a im potência do homem
pou da batalha de Maratona, e foi um dos que contra os deuses, amplificada num aconteci­
abraçaram apatxouadamctileo conceito demo mento monstruoso, isto irrompe em sua for­
ciático da polis. Sua lápide louva a bravura dele ça mais elementar em Prometeu Acorrentoilo.
na batalha. mas nada diz a respeito de seus mé­ O filho dos Tilas, que roubou o fogo dos céus
ritos como dramaturgo. e o trouxe para os mortais, eleva o seu lamen-
Esquilo ganhou os louros da vitória nu lo 11a “abóbada resplandecente'’ sobre a arena
agon teatral somente após diversas tentai ivas. do teatro: “Eu te invoco, ó venerável Mac Ter­
íinhe-se que ele começou a compelir ua G ran­• ra, e invoco u ti. círculo de chamas nnividcnle:

• la 7
■ (7 r r r itt

1. comi em êjHfCii ii/uiicu. De um vau> novo pnm uivo,

vê o que eu sofro, eu próprio um deus. iuls mãos amigos, c até o momento em que Esquilo dei­
dos deuses!” xou Atenas, dividiram igualmente tis louros da
O gtitu Je tormento proferido pelo Pro­ tragédia. Sófoeles ganhou dezoito prémios
meteu de Esquilo erglic-se ;ieimíi dtis forças dramáticos. Dos cento e vinte três dramas que
primordiais da amiga religião da natureza: ‘A escreveu, e que até o século II a.C,, ainda se
mim, que me apiedei dos mortais, não me foi conservavam na Biblioteca de Alexandria, co­
mostrada nenhuma piedade". Dois mil e qui­ nhecemos cento cotize títulos, mas apenas sete
nhentos anos mais tarde. Cari OrfT u conver­ tragédias e os restos de uma sátira chegaram
teu no herói principal de um drama musical até nós.
exótico, quase arcaico, que confronta u pai­ Sófoeles era um admirador de Eídias qnc,
xão divina com a paixão humana. Historiado­ na mesma época, criava em mármore, bronze
res da religião estabeleceram uma conexão c marfim a imagem do homem semelhante aos
entre o sofrimento primordial do Titã e a revol- tleuses. Da mesma forma que Fidias deu uma
ni de Liiciler até a Redenção do Cristo - um alma ã estatuária arcaica, assim Sófoeles deu
exemplo que mais uma vez. demonstra aquilo alma às personagens em suas tragédias. Etc os
que tão frcqiienietnenle (em sido expresso no despiu da arcaica vestimenta tipificante c tres­
teatro: "os pressentimento', pagãos munas ve­ passou a concha de sua capacidade individual
zes penetram com estonteante profundidade e para o sofrimento. Pôs em cena personalidades
certeza na realidade histórica ulterior" (Joseph que se atrevem - como a pequena Antígona,
Bemhan >. cuja figura cresce por força das obrigações as­
sumidas poi vontade própria - a desafiai o di­
Sófoeles tame do.s mais fortes: "Não vim p ari eneini­
trar-vos no ódio, mas no amor".
Quatro anos depois de ler ganho o pré­ Os deuses submetem o rebelde ao "sofri­
mio com Os P asus. Esquilo enfrentou pela mento sem saída". Amontoam sobre ele ta­
primeira vez. no concurso anual de tragédias, manha carga que apenas no tormento conse­
um rival cuja fama estava crescendo meteó­ gue ele preservar a sua dignidade. O homem
rica mente: Sófoeles, então com vinte c nove tem consciência dessa ameaça, mas por suas
anos dc idade, filho de uma rica família ate­ ações força os deuses á iruic os extremos. Para
niense, que ainda menino liderara o com de o homem de Sófoeles, o sofrimento ê a dura
jovens nas celebrações da vitória após a ba­ mas enohreeedora escola do ‘‘(amhece-lc a li
talha dc Sslamina. m esm o” . Enganado pur oráculos cruéis, à
Os dois rivais inscreveram suas letralogias mercê de destinos enigmáticos, mergulhado na
para a Dionisincu dc 4óK a .t’. Ambas foram loucura fatal, levado a más ações sem o que­
aceitas c apresentadas. Esquilo obteve um rer. entrega-se por suas próprias m ãos às
sitieis ti'i \iinu\ mas o prémio coube n Sófo- hrínias. as vingadoras dos ínferos. e à "Justi­
cles. trinta anos mais novo. Os dois poetas eram ça” que corrige, o braço da lei. Ajax m nne [tela

■ itn
H is tó r ia M u n d i a l do Teatro ■

própria espada; o rei Édipo cega a si mesmo; xou a providência divina ao poder cego do
EJectra, Djanira, Joca st a. Euridice e Antígona acaso. “Pnis sob o mamo da noite o nosso
buscam a morte. destino impende", lemos em Ifigênia em Tátt-
Sófocles, o cético devoto, dá aos deuses a ride.
vitória, o triunfo integral, por sobre o destino Eurípedes. filho de um proprietário de ter­
leiTesire. sobre lodos os abismos do ódio, ar­ ras, nasceu em Salamina e foi instruído pelos
rebatamento. vingança, violência e sacrifício. solistas de Atenas. Ele era um cético que du­
O significado do sofrimento reside em sua apa­ vidava da existência da verdade absoluta, e
rente falta de significado. Pois “ein tudo isso como tal se opunha a qualquer idealismo palia­
não existe nada que não venha de Zeus”, diz tivo. Estava interessado nas contradições e am­
ele ao furai de As Tmqnínias. biguidades. no princípio da decepção, na rela-
Foi da natureza inalterável do conceito de tivização dos valores éticos. O pronunciamen­
destino sofocl iano que Aristóleles derivou a sua to divino não era a verdade absoluta para ele e
famosa definição de tragédia, cuja interpreta­ não lhe oferecia nenhuma solução conciliató­
ção lern sido debatida ao longo dos séculos. O ria final. “A necessidade natural e a mente hu­
crítico e dramaturgo alemão Lcssing a enten­ mana uão são formas representativas de um
de como a purificação das paixões pelo medo único modo de existência, mas dc possibilida­
e pela compaixão, ao passo que atiiidmente é des alternativas: a partir daí, nada mais está
inlerpretado por Wolfgang Scliadcwaldt. um além da comparação, o ponto de referência
estudioso contemporâneo, como “o alívio único para todas as coisas tornou-se invisível
praxeroso do horror c da aflição". Na qualida­ há muito tempo, a mudança rege o momento"
de de peça cultual, como toda tragédia genuí­ iWalter Jens).
na o é, ela também não c feita para melhorar, Em contradição com a doutrina socrática
purificar ou educar. dc que o conhecimento é expresso direlamen-
Schadewaldt escreve; te na ação. Eurípedes concede a suas persona­
gens o direito dc hesitar, de duvidar. Descorti­
A' com ove (''.'M a ‘..[ií:.i:c o , oi.^-êo. .i(|.ie na toda a extensão dos instintos e paixões, das
o fax irmViCenUci' (peto deleite primevo com o horrível -
intrigas e conspirações. Sua minuciosa explo­
semblante do mri.i verdade - c com n Inaicnruçdo) ate o
prazer calêuico da libertação ahvi.,1o n Tendo a ' i: es­
ração dos pontos fracos na tradição mitológi­
sência inteira mente orientada para oatro objetivo, a tm- ca lhe valeu agudas críticas dc seus contem­
gertia logra, [ror isso mesmo, atingir eventualmeiitc por porâneos. Acusaram-no de ateísmo e da per­
comoçiio 0 iniago dc uma pessoa, qne pudera sair trans- versão sofisla dos conceitos morais e éticos.
tortnatla deste contato vuni a verdade do real.
"Foi a língua qne jurou em falso, não o cora­
ção”, diz Hipólito. De suas setenta e oito tra­
Eurípedes gédias (das quais restam dezessete. e uma sá-
tirai apenas quatro lhe valeram um prémio en­
Com Eurípedes teve início o teatro psico­ quanto estava vivo, sendo a primeira delas A.v
lógico do Ocidente. “Eu represento os homens Peliades, em 455 a.C.
como devem ser, Eurípedes os representa como Quando, em 408 a.C., o rei macedõnio
eles são", Sófocles disse uma vez. O terceiro Arquelau o convidou para a sua corte em Pela.
dos grandes poetas trágicos da Antiguidade Eurípedes deu as costas a Atenas sem arrepen­
partiu de Um nível inteiramente novo de con­ dimento. Em Pela, escreveu um drama corte­
flito. Ele exemplificou o dito de Protágoras a são chamado Arquelau, em homenagem a seu
respeito di> “homem como a medida de todas real patrono, do qual nada sabemos além do
as coisas". título, bem como duas obras cuja vitória pós­
Enquanto Esquilo via a tentação do he­ tuma foi obtida por seu filho: As Bacantes, um
rói trágico para a hybrts como um engano que retomo à sensualidade arcaica e mística sob o
condenava a si mesmo pelos próprios exces­ haslão sagrado de Dioniso, o Urso: e [figêiih
sos, e enquanto Sófocles havia superposto o em Atdis, o elogio do humanismo. (Racinc e
destino da malevolência divina á disposição Gerhart Hauptmann, em suas peças homóni­
humana para o sofrimento. Eurípedes rebai­ mas. glorificam de maneira similar o huma-

• 110
&. Cena de Os Persas de Esquilo: o fantasma de Dario aparece a An*sa enquanto ela lha oferece sacrifício, Pi rum a em
vasa (jarro) ático (Roma. Museu da Vaticano k
l) O assassinam de fcçisTO por O rtsles. Vqso da C am pnia, c. ^20 a ,C (B erlim ).
Mm

10. A piiriticní/ílci d í <írthilCfi, T ata do sul da há lia nu eslilo da ir^ d d iu curipidíana (l^ ris. Louvre).
* Crrrut

nismo sereno.) Eurípedes morreu em Pela. em local c eram pulrocinadas de /ter si pelos dife­
março tio ano de 406 ;i,C. rentes ilemas da Ática, Atenas ostentava todo
Quando a notícia chegou u Sófocles. em o brilho represenlativo de capital nas Grandes
Atenas, ele vestiu luto c fez com que o coro se Dionisíacas. de seis diaxdc duração. Especial-
apresentasse sem as costumeiras coroas de tio mente depois da fundação da confederação
res na Grande Dionisiaca. então em plena ati­ naval ática, embaixadores, comerciantes c tri-
vidade. Poucos meses mais tarde. Sófocles binários afluíam a Atenas nesta época de toda
também morreu. Agora, o trono dos grandes a Ásia menor e das Ilhas do Egeu.
poetas trágicos eslava vazio. O s preparativos dos concursos dramáti­
A comedia As Rãs. de Aristõfanes, escri­ cos eram responsabilidade do arconte, que,
ta nesse período, pode ler funcionado como as na condição de mais alto oficial do Estado,
exéquias da tragédia ática. No festival das decidia tanto as questões artísticas quanto as
Lencias de 40S a.C.. os juízes deram o prémio organizacionais. As tragédias inscritas no con­
a esta peça mordaz, embora eles próprios fos­ curso eram submetidas a ele. que seleciona­
sem alvo de algumas das estocadas sarcásti­ va três lelralogias que competiriam no miou.
cas. Em As" Rãs. Aristõfanes presta testemu­ concurso do qual apenas uma sairia como
nho das tensões artísticas e políticas do final vencedora. Finaltiiente, o arconte indicava a
do século V. dos conflitos internos da jiotis cada poeta um turega. algum cidadão a-
fragmentada e do reconhecimento de que o pe­ leniense rico que pudesse financiar um espe­
ríodo clássico da arte dá tragédia havia se con­ táculo, cobrindo não apenas os custos de en­
vertido em história. saiar c vestir o coro, mas também os honorá­
Nesta peça. Dioniso. o deus do teatru. ava­ rios do diretor do coro (corits diiluscttltis) e
liará os méritos concernentes a Esquilo e o s custos com a manutenção de lodos os en­
Eurípedes, mas ele sc revela tão indeciso, va­ volvidos.
cilante c suscetível quanto o público e os juízes Ter ajudado alguma telralogia trágica a
na competição. Visto no espelho grosseiro e vencer como seu corega era um dos mais al­
distorcido da comédia, o deus. de má vontade, tos méritos que um homem poderia conseguir
força-se a tomar uma decisão: "E fui assim que na competição das artes. O prémio concedido
eu acuhci pesando feito queijo a arte dos gran­ era uma coroa dc louros e uma quantia em
des poetas,.,". dinheiro nada desprezível (como compensa­
A era dc ouro da tragédia antiga estava ção pelos gastos anteriores), e a imortalidade
irrevogável incute acuhadu. A arte da Iragédia nos arquivos do Estado. Esses registros '■</'-
desintegrou-se como o modo dc vida das ci­ iliisfaihi). que o rm w iií1 mandava preparai
dades-Estado e o podei unificador da cultura após cada ui;mi dramático, listam o nome rios
O nnhre ateniense Crílias, uni inimigo inflexí­ coregns tios dramaturgos vencedores de pré­
vel da democracia e, cm 404 a.C'.. um dos mau mios, lunlumente com os nomes das tetra tugias
cruéis dos Trinta Tiranos, escreveu uma sáiira vencedoras do concurso final. Taís registros
nn qual Sísifo descreve a religião como a "in representam a documentação mais valiosa de
venção dc uni pedagogo convencido". O espí­ uma glória du qual apenas poucos raios recaí­
rito da tragédia e a democracia ateniense ha­ ram sobre nós - poucos, de qualquer manei­
viam perecido juntos. ra, comparados com a criativa abundância do
teatro da Antiguidade.
A .t Grandes D ion isíac as Imciulmente, o poeta era o seu próprio
corcga. diretor do coro c ator principal. Tan­
Com origem na época de Pevides, as to Esquilo qnanio Eurípedes apareceram ire-
Grandes Dionisíacas ou Dionisfacas Urbanas qiientcincuic no palco. Sófocles atuou cm
constituíam um ponto culminante c festivo na sutis próprias peças apenas duas vezes quan­
vida religiosa, inlelectual e artística da cidu- do jovem, tuna como Nausicau e outra coiuu
de-Kstudo de Atenas, Enquanto as mais mo­ Tainha.
destas Dionisíacas rurais, que aconteciam em Embora mais tarde, no período helenís
dezembro, possuíam um caráter puramenie * tico. losse perfeitamente possível que se re-

* ll.i
H is tó r ia M u n d i a l da T eatro .

montasse uma peça apresentada anterior men­ tes. Por sua vez, a máscara - geral mente feita
te, os concursos dramáticos do século V exi­ de linho revestido de estuque, prensada em mol­
giam novas obras a cada festival. As Grandes des de terracota - amplificava o poder da voz,
Dionisíacas, em março, eram a princípio re­ conferindo tanto ao rosto como Is palavras um
servadas exclusivamente para a tragédia, en­ efeito distanciador. Graças ao poder das pala­
quanto os escritores de comedias competiam vras. não importava se o cenário parecesse pe­
nas Lcnéias, em janeiro. Porém, nu época de queno - por exemplo, as rochas Is quais Pro­
Aristófanes, os dois tipos de peças eram meteu era acorrentado. O plano visual era me­
qualificáveis para ambos os festivais. nos importante do que a moldura humana para
Ao entrar no auditório, cada espectador re­ os sofrimentos do herói; o coro. que participa­
cebia um pequeno ingresso de metal (symbolon), va dos acontecimentos como comentador, in­
com o número do assento gravado. Não pre­ formante, conselheiro e observador.
cisava pagar nada. Pé rides havia assegurado As exigências cenográficas de Esquilo ain­
com isso o favor do povo, ao fazer com que o da eram bastante modestas. Estruturas simples
erário não só remunerasse a participação nos c rústicas de madeira, decoradas com panos co­
tribunais e nas assembléias populares, como loridos. serviam de montanhas, casas, palácios,
também a frequência nos espetáculos teatrais. acampamentos ou muros de cidade. Essas cons­
Nas fileiras mais baixas, logo na frente, lu­ truções de madeira, que também abrigavam um
gares de honra (jtroedría) esperavam o sa­ camarim para os atores, são a origem do termo
cerdote de Diuniso, as autoridades e convi­ skenc (cabana ou banaca). que se manteve, des­
dados especiais. Aqui também ficavam os de esses expedientes primitivos, através da sun­
juízes, os coregas e os autores. Uma seção tuosa arquitetura da akette do teatro helenístíeo
separada era reservada aos homens jovens e romano, até o conceito atual de cena.
(efebos), e as mulheres sentavam-se nas filei- Porém, nãn obstante a modéstia desses
tas mais acima. pri meiros tempos, o pintor dos cenários cra um
Vestido com o branco ritual, o público homem digno dc menção, mesmo na cpoca de
chegava em grande número Is primeiras ho­ Ésquilo, com quem. segundo sc relata, um “ce­
ras da manhã e começava a ocupar as fileiras nógrafo” chamado Agatarco teria colaborado.
semicirculares, terraceadas, do teatro. “Um en­ Ele foi, sem dúvida, o responsável pelo proje­
xame branco", é como o chama Esquilo, Ao to e pintura dos galpões de madeira e pela pin­
lado dos cidadãos livres, também era permiti­ tara de suas decorações de pano. Vitrúvio, a
da a presença de escravos, na medida etn que autoridade romana em arquitetura, atribuiu
seus amos lhes dessem licença. A aprovação ígualmenlc a Agatarco um tratado a respeito
era indicada por estrepitosas salvas de palmas, daxfcefte, que se supõe ler surgido em 430a.C,,
e o desagrado, por batidas com os pés »u asso­ mas ter se [>erdido mais tarde. Outros pintores
bios. A liberdade de expressar sua opinião foi de cenário do teatro grego antigo, cujos no­
algo de que o antigo frequentador de teatro mes sobreviveram até hoje, são o ateniense
fez uso amplo e irrestrito, considerando a si Apolodoro e seu contemporâneo Temócrito.
próprio, desde o mais remoto início, um dos Arislóleles credita a Súfocles a invenção
elementos criativos do teatro. Ortega y Gasset do cenário pintado. A amizade entre Ésquilo e
lembra; Súfocles durante os anos de 468 a 45Ó a.C.
explica a coincidência dc inovações cênicas c
Não pudemos nus esquecer de que a tragédia ami­ histriónicas. Ao lado das possibilidades de
ga em Atenas era uma ação ritual c, por essa rarita, acon­
"mascarar" a skenc e de introduzir acessórios
tecia não lantu no palco quantu na mente das pessoas. O
teatro e o ptlblicu eram circundados por uma atmosfera móveis como os carros (para exposição c ba­
cMrapoélica. s reli CMC'. talha), os cenógrafos tiniram à sua disposição
os chamados "degraus de Caronte", uma esca­
A condição necessária para essa expe­ daria subterrânea que levava I skenc, facilitan­
riência comunitária era a magnífica acústica do as aparições vindas do mundo inferior de
do teatro ao ar livre da Antiguidade. O menor Caronte. Em Os Persas, por exemplo. Durio é
sussurro era levado aos assentos mais distan­ conjurado pela fumaça do sacrifício e aparece
• 114
t ]. Kckvo <Je EurípctJe-s: à esquerda, o poeta entrega uma máscara trágica à personificação da s k tft if ; à direita. uma
estátua de Ditmiso (Klnmbul),

12. Intírpretc de tragédia no pape] de Cliicmneslra.


Estatueta de marfim romana do período tardio. provem*
ente de Rieli (Paris, Louvrej.
13, Pintura em laça espiraluda; D ioiuso c Ariadne íao alio. no sentrc». rodeados por atoces dc pc<,a saiirira, c. 4 2 0 a.C.
{Nápoles, Musen Naziouale*.

14, M o s a ic o de Pom péin: e n s a io d e (iin c o m de sâlirn s (N á p o le s . M u s c o N u /ic m a le i,


. O r r c ia

para sua esposa Alossa e para o coro dos anciãos mundo ocidental: deus ex tnachina, o deus
persas. Os mec/umapoioí, ou técnicos, eram res­ descido da máquina.
ponsáveis por efeitos como o barulho de trovões, Esta "máquina voadora" era uni elemen­
tumultos ou terremotos, produzidos pelo rolar to cênico dc surpresa, um dispositivo mecâni­
de pedras ein tambores de metal nu madeira. co que vinha em auxilio do poeta quando este
Uma Iroca de máscara e figurino dava aos precisava resolver um conflito humano apa-
três locutores individuais a possibilidade de in­ rentcmcnlc insolúvel por intermédio do pro­
terpretar vários papéis na mesma peça. Podiam nunciamento divino "vindo de cima". Consis­
ser um general, um mensageiro, uma deusa, tia em um guindaste que fazia descer uma ces­
rainha ou uma ninfa do oceano —e o eram, ta do teto do teatro. Nesta cesta, sentava-se o
graças à magia da máscara deus ou o herói cuja ordem fazia com que a
Foi Esquilo quem introduziu as máscaras ação dram ática voltasse a correr pelas trilhas
de planos largos e solenes. A impressão heroi­ mitológicas obrigatórias quando ficava em­
ca era intensificada pelo toucado alto, de for­ perrada. O fato de o deus ex machina ter-se
ma triangular (onkos), sobre a testa. O traje do tornado imprescindível a Eurípedes explica-
ator trágico consistia geralmentc no quitem - se pelo espírito de suas tragédias. Suas perso­
túnica jónica ou dórica, usada na Grécia anti­ nagens agem com determinação individual c,
ga - e um manto, e do caracterfstico cothurnits, dessa forma, transgridem os limites traçados
uma bota alta com cadarço e sola grossa. por uma mitologia que não mais podia ser acei­
Com Sófocles, a qualidade arcaica, linear, ta sem queslionamento; Eleclra. Antígona e
da máscara começou a suavixar-se. Os olhos e Medéia seguem o comando de seu próprio ódio
a boca, bem como a cor e a estrutura da peru­ e amor, c Ioda cs$a voluntariosa paixão é, ao
ca eram usados para indicar a idade e o tipo final, domada pelo deus /' v machiuti.
da personagem representada. Com a maior in­ Porém , antes desse ponto ser atingido,
dividualização das máscaras. Eurípedes exi­ outro dispositivo cênico da amiga mediano-
gia, também, contrastes im pactanles entre poioi, essencial para a tragédia, entrou em
vestimentas e ambientes. "Seus reis andam em ação: o eciclcma. uma pequena plataforma
farrapos", apenas para tocar a corda sensível rolante e quase sempre elevada, sobre a qual
do povo. zombava Arislófanes, seu implacá­ um cenário era movido desde as portas de uma
vel adversário. casa ou palácio. O eciclema traz à vista todas
O que parecia particutarmenle ridículo as atrocidades que foram perpetradas por Irás
para Aristófaiies. e entrava como risonha pa­ da cena: o assassinato de uma mãe. irmão ou
ródia cm suas comédias, era a predileção de criança. Exibe o sangue, o (errar e o desespero
Eurípedes por um expediente do teatro amigo de um mundo despedaçado, como na Orestía-
que se tomou pane do vocabulário em todo o da. em Agamenon. Hipálito e em Medeia.

15. A c.[iiuur:i lnicL.il do ic.itLLi de K ic I ylli. ILJiade Kuhéia, século X" .1 ( . KcciuistiLi,,.111 dc E. F ie d ik r,

1!7
H i s t ó r i a t l íi u u l if í t Trtilru

16, Tc;iti'.' ttc 1>:o 1.1' i c m Atenas. .Viçar. '.C£'."i!u IV ]1 Ií>jc:o Uc ÍVircies C tim ln içã o iiitcíjlIu 4 . 100 n.C. Rccm isnu
(ãn tle E Fievhirt

Eventual meu te, i>teto da própnn skeiw eia económicas atenienses t\ por fim, desapareceu
usado, como em Pesagem das AInui\ de compleiamcnle por cerca do final do século IV,
Esquilo, ou cm /I Mj.’, de Aristúfimes. Como. Nenhum dos três grandes trágicos, nem
naturalmenlc, eram os deuses que cm geral Aristófanes, viveram para ver o novo edifício
apareciam em alturas etéreas, essa plataforma leatral acahudo. Na segunda tnetade do sécu­
no teto tornou-se conhecida na Grécia como lo IV. quando Licurgo cru o encarregado das
theologeitm. o lugar de onde os deuses falam. finanças de Atenas Í33X-326 a.C.), a nova e
A "máquina voadora”, o cciclcma e o magnífica estrutura final mente fieou pronla;
iheologeum pressupunham um edifício leatral mas. nessa época, a grande e criativa era da
lirmemente construído, como o que se desen­ Iragédia antiga já havia se tomado história.
volveu em Atenas no final do século V a.C.,
baseado em projetos que remontavam a
Pérides, Quando as obras pura o embeleza­ C o m é d ia
mento de ioda a Acrópole sc iniciaram, por
volta de 4(15 a.C.. u teatro de Dioniso não foi A.v O r i g e n s d a C í j /h ííí / ííi
esquecido Conla-se que os bancos de madeira
do auditório foram substituídos por assentos A comédia grega, ao contrário da tragé­
terraceados em pedra já cm 5(X) a.C.. quando dia. não lem um ponto culminante, tuas dois,
as arquibancadas de madeira lotadas se que­ O primeiro se deve a Aristófanes. e acompa­
braram sob o peso das pessoas. Esta dma, en­ nha o cimo da tragédia nas últimas décadas
tretanto. é contradilada por biógrafos de Esqui­ dos grandes trágicos Sófocles e Eu rípedes; o
lo, que sustentam que um segundo colapso das segundo pico da comedia grega ocorreu no
arquibancadas o levou a de is ar Ale nas. desgos­ período hcleníslico com Menandro. que no­
toso, e a instalar-se na corte de Hieron em va mente deu a ela importância histórica. A
Siraeusa, onde morreu em 45íi a.C. comédia sempre foi uma forma dc arte inte­
tf projeto da sketie de Pcricles proveu um lectual e formal indcjxrndente. Deixando dc
palco monumental com duas grandes jHirtas lado as peças satíricas, nenhum dos poetas
laterais, o o parasíenin. Deve ter sitio executa­ trágicos da Grécia aventurou-se na comédia,
do entre 420 e 400 a.C., na época em que o como nenhum dos poetas cómicos escreveu
auditório cresceu e a orquestra diminuiu de uma tragédia.
tamanho. A razão para esta mudança foi odes- Platão, em seu Bnnc/iute {Symposium). em
locamenlo intencional da ação da ordsesua vão defendeu uma união dos dois grandes ra­
para a ski ue. Essa inovação mostrou scr ainda mos da arte. dramática. Ele concluiu com a in­
mais justificada pos ter iGemente, quando o coro formação de que Sócrates, certa vez, tentou
situado rui unhestra. que ainda contava com até tarde da noite persuadir Ágaton e Aristó­
doze a quinze pessoas na tragédia clássica, foi fanes de que "o mesmo homem podia ser ca­
gradativameme reduzido no curso das medidas• paz de escrever comedia c tragédia”, e de que

• tts
Í7. Mãsc;iru de iiiíin m jit' de itm;i heroína da ira ^ c d ia ift. Máscara dç mn jo v e m , encontrada em Samsun
anlipa (N ú jio k s , M usco N fiiio n a k » . (A m is o h Turquia. século III a.C. (M unique, S u m lic h c
Anlikemanmilurigl

Jd. M;isc;ira de um escravo, suiculo III a.C. (Mihun, 20, M is tu ra nu mau de uma esuitua de m .im iurc. u
Museu T cairjle ullu Scalaj. qual se julpa reprcscnlar C eres ÍPuris. L.ouvrcl.
H t s i õ r i a Muníiitti í to Teatro •
1

um “verdadeiro poeta trágico é também uni farrões c aduladores, parasitas e alcoviteiras,


poeta cómico". Os dois outros admitiram isso, bêbados e maridus enganados - que sobrevi­
mas “não seguiram com muita atenção, por veram até a época da Cammedia dcU aric e
estarem com sono. Aristófanes foi dormir mesmo até Molicre. Epicarmo gostava particu­
primeiro e, em seguida, quando o dia estava larmente de ridicularizar os deuses e heróis:
nascendo, também Agaton” . Hércules como um glutão, não mais atraído por
É evidente que nem mesmo os famosos feitos heroicos, mas apenas pelo aroma da car­
poderes persuasivos de Sócrates poderiam ler ne assada; Ares e Hefestos, disputando com
conseguido tornar palalável para Aristófanes, despeito e malícia a liberação de Hera, presa a
o irascível avocatus dtabati da tragédia, uma seu próprio trono; ou as sete Musas, que surgem
união pessoa! das duas artes. Houvesse con­ como as filhas “rechonchudas e bem alimen­
cordado com Sócrates à noite, com certeza te­ tadas” do Pai Pançudo e da Mãe Barriguda.
ria mudado de ideia á luz do dia: tal união seria, É uma questão controvertida se a comé­
para ele, como uma ducha fria, Aristófanes dia proveio realmente de Mégara Hyblaia, na
gostava de dirigir sua habilidade artística paia Sicília, ou de Mégara, a antiga cidade dórica
a política corrente; adorava terçar armas com entre A tenas e Corinto, famosa por seus
os grandes homens de sua época, crivando de farsistus. Aristófanes diz em As Vespas: “Não
flechas venenosas, como que num j/iou- de podeis esperar muito dc nós, apenas zomba­
gracejos maliciosos num cabaré, seus calca­ rias roubadas de Mégara". Aristóteles resolve
nhares de Aquiles. As obscenidades com as a questão citando ambas com salomôniea sa­
quais o “impudente favorito das Graças" em­ bedoria: “A comédia é reivindicada pelos
preendia seu trabalho de “castigar o povo e os megnriunos. tanto pelos do continente, sob a
homens poderosos", as rudes piadas fálicas, alegação de que ela surgiu em sua democra­
os coros de pássaros, rãs e nuvens - tu do vale- cia. como pelos da Sicília, porque c dali que
se da herança cultual das desenfreadas orgias veio Epicarmo, muito antes de Quiônides e
satíricas, das danças animais e das festas de Magnes”.
colheita.
A origem da comédia, de acordo com a A C o m é d i a A nt ig a
Poética de Aristóleles, reside nas cerimónias
fálicas e canções que, em sua época, eram ain­ O escritor Quiônides, citado por Aristó-
da comuns em muitas cidades. A palavra “co­ teles, venceu um concurso de Comedias em
média" é derivada dos kntitns. orgias noturnas Atenas em 486 a.C. Magnes. igualmente men­
nas quais tis cavalheiros da sociedade ática sc cionado, é conhecido por ler ganho o primeiro
despojavam de toda a sua dignidade pm al­ prémio onze vezes, a primeira delas em 472
guns dias. em nome de Dioniso, c saciavam a.C., provavelmente nas Lenéiasatenienses, no
toda a sua sede de bebida, dança e ítmor. O ano em que Os Persas, de Esquilo, fui apre­
grande festival dos komasts era celebrado em sentada em Siracusa. Nenhuma das peças de
janeiro (mais tarde a época do concurso de Magnes conseguiu sobreviver, nem sequer até
comédias) nas Lenéias, um tipo ruidoso dc a época alexandrina.
carnaval que não dispensava a palhaçada gros­ O concurso de comédias, que acontecia
seira e o humor licencioso. em parle no festival das Lenéias e em parte na
Ao Jnwnru ático juntaram-se, no século V, Grande Dionisíaca de Atenas, não era, como o
os truões e os comediantes dórieos, com Talos concurso trágico, unia prova de força pacífi­
c enormes barrigas falsas, que eram mestres ca. Era um tilintante cruzar de espadas, em que
da farsa improvisada. Eles haviam recebido um cada autor afiava a sua lâmina no sucesso do
impulso literário, por volta dc 500 a.C,. de outro. Atores tornavam-se autores, autores es­
Epicarmo de Mégara, na Sicília. Suas cenas condiam-se por trás de atores. Quando Aristó­
bonachonas e de comicidade grosseira e as fanes inscreveu Os Banqueieadores, em 427
caricaturas dos mitos lotam a fome da comé­ a.C.. ele o fez sob o pseudónimo de Filonides.
dia dórica e siciliana. Epicarmo estabeleceu nome de um ator seu amigo (possivelmente
uma variada escala de personagens - os fan­ porque era muito jovem para com petir no
• 120
• f.rrecitt

agon) e o mesmo Filonides emprestou-lhe o que tinha "ajudado o tareca A tistófanes a


nome outra vez, vinte e cinco anos mais tarde, cscrevê-la e a havia presenteado a ele".
para As Rãs. Por sua vez, Cratino, um homem famoso
A comédia ática "antiga" é um precursor por sua sede e suas copiosas libações em ho­
hrilhante daquilo que viria a ser. muitos anos menagem a Dioniso, também teve a sua vin­
depois, caricatura política, charivari e cabaré. gança. Aos noventa c nove anos, mantinha os
Nenhum poli tico, funcionário ou colega autor ridentes ao seu lado. Em sua comédia A Gar­
estava a salvo de seus ataques. Até mesmo os rafa, descreve eomo duas damas competem en ­
esplêndidos novos edifícios de Péricles foram tre si por seus favores - sua esposa legítima.
motivo de escárnio. Num fragmento conser­ Madanrte Garrafa, e sua amante, Mademoiselle
vado de Cralino, um ator entra no palco usan­ Frasco. Com uma piscadela, ele se livra do apu­
do um molde do Odeon na cabeça, como uma ro com o morro dos artistas dionisíacos: "Aque­
máscara grotesca. Os outros atores o saúdam: le que bebe água não chega a lugar algum”.
"Eis Péricles, o Zeus de Atenas! Onde terá con­ Aristófanes teve de engolir a pílula am ar­
seguido esse toucado? Um novo penteado em ga; o “velho beberrão” . na verdade, ainda des­
estilo Odeon, terrivelmente descabelado pela frutava dos favores do público c dos juízes.
tempestade das críticas!’’. Em 423 a.C-, Cratino ganhou o primeiro pré­
Os quatro grandes rivais em polêmica e mio com A Garrafa, contra <4.v Nuvens, de
veneno, da com édia antiga, eram todos Aristófanes, que ficou em terceiro lugar. A res­
atenienses: Crates, Cratino, Eupólide e, sobre- peito desta mesma obra. As Nuvens - famosa,
1u zi n do a todos os ou tro s e m fama, gê ni o, pers ■ ou fam igerada, por seus ferozes ataques a
picácia e malícia. Aristófanes. Sócrutes (que foram subseqúentemeote suavi­
Crates, no início protagonista das peças zados) - Platão relata que. na opinião de
de Cratino, começou a escrever suas próprias Sóc rates, ela havia influenciado o júri na oca­
peças em 449 a.C- Suas obras são comédias sião de seu julgamento.
agradáveis, adequadas ao deslfute familiar, que O teatro era o fórum onde eram travadas
tratam de maneira relativamente inofensiva de as mais veementes controvérsias. Aristófanes
nssuntos como 0 desmascaramento de fanfar­ via a si mesmo como o defensor dos deuses —
rões ingénuos, amantes brigados e bêbados pro­ “pois foram os deuses de nossos pais que lhes
féticos. Quando seu mestre Crutmo, então com deram u fama" - c como o acusador das ten­
noventa e seis anos, e o jovem Aristófanes, de dências subversivas e demagógicas na políti­
vinte e um. envolve rum-se pela primeira vez em ca e na filosofia de Atenas. Ele acusava os fi­
bataiha teatral abe na. Crates já estava mono. lósofos de "arrogante desprezo pelo povo" e
Aristófanes. em Os Cavaleiros (cujo títu­ os denunciava como ateus obscurantistas - lo­
lo grego é Hipes, que significa mais precisa- dos eles. e especial mente Sócrales.
mente "tratadores de cavalos’’), apresentada em Pouco se sabe sobre a formação e a vida
424 a.C.. houve por bem implicar com o ve­ de Aristófanes. Parece ter nascido por volta de
lho Cratino, acusando-o publicamente de se­ 445 a.C. e ler vindo do fiemos ático de Cida-
nilidade e elogiando os m éritos do alegre tena. Viveu em Atenas durante Ioda a sua vida
Crates. Cratino havia provocado este insulto, criativa, ou seja, da época em que escreveu sua
descrevendo Aristófanes. em cena. como um primeira peça. Os Banqueteadores (427). até
imitador de Eupólide. o ano em que escreveu a última, .4 ftii/ueza
Eupólide. que ganhou o primeiro prémio (Plutus, 3SÍK). Das quarenta comédias que sa­
sete vezes, tinha a mesma idade de Aristófanes bemos terem sido compostas |«>r ele. conser­
e foi. no início, seu amigo intimo. Na época varam-se apenas onze. Cada uma de suas pe­
de sua amizade, os dois sempre trabalhavam ças é porta-voz de uma idéia apaixonada, pela
em conjunto, porém mais tarde ambos acusa­ qual o autor batalha com impetuosa militância.
ram-se mutuamenle de plágio. Brigas, no do­ Na obra dc Aristófanes, passagens de agressivi­
mínio da comédia, ciam um constante ponto de dade crua alternai u-se com estrofes corais da
partida; falando sobre Os Cavaleiros. Eupólide mais alta beleza lírica. Subjacente à sua ironia
declarou mais tarde, cm uma de suas comédias. mordaz e às suas alfinetadas de escárnio havia

n t
21 Fteutjsta c coro fomasiailo. representando catiikm os e acu:» cavalos, motivo tjoe reaparece m ais tarde cm Oj Casa-
trinxf> de Aristnianes, Vato figurado, cm negrn (Berlim, Slíintlithc Musecn).

22- Atores ciiiaderirjnio^ como pássaras. sohre um vaso figurado, cm negro, dc aproximndamciuc seicniu anos antes
da ftírêi». cm 414 3.C., dc í * í\ix.%ítros, dc AiistiífjmM toRdrcs. BriKsh Moscum)-
* í/r r C íf i

uma preocupação premente com a democra­ Os Acartmutos, A.v Nuvrits e em A Paz Quando
cia. Ele sustentava que o seu destino somente Trigeu voa até o eéu cm seu besouro com a aju­
poderia scr confiado a pessoas de inteligência da do guindaste, ele pede ansiosamente ao ma­
superior e de integridade moral. De maneira quinista: "por favor, tenha cuidado comigo". A
similar, fez pressão para que a guerra fratricida cena seguinte, com Hermes diante do palácio
entre Atenas e (asparia chegasse ao fim. Em .d de Zeus. acontece no ihealogeian, enquanto a
Paz, o lavrador Trigeu voa até os céus no dor­ subsequente libertação da deusa da paz da ca­
so de um enorme bexouro-dc-estere o a fim de verna onde está encenada é deslocada novamen-
pedir aos deuses que libertem a deusa da paz, te para o palco usual do proskenion.
prisioneira em uma caverna. Na terra-cueo- As máscaras da Comédia Antiga vão des­
nuvem" de Os Pássaros, ele parodia as fra­ de as grotescas cabeças de animais alé os re­
quezas da democracia e de uma religião popu­ tintos caricaturais. Quando houve necessidade
lar utilitária. Em Lisístrata, apresenta as mu­ de uma máscara de Cléon para Os Cavaleiros,
lheres de Atenas e Esparta resolvidas a ofto se conta-se que nenhum artesão quis fazer uma.
entregar tios belicosos maridos alé que estes Pela primeira vez, ao que parecia, o medo da
finalmente estejam prontos a fazer a paz. cólera da vítima projetava u sua sombra sobre
Não apenas um ator individual, mas tam­ a Uberdade democrática do teatro. O ator que
bém o coro, podiam dirigir-se diretamente à interpretava Cléon surgiu sem máscara, com o
plateia. Com essa finalidade, a comédia antiga rosto simplesmente pintado de vermelho. Pen­
desenvolvera a parabasis. um expediente for­ sa-se que o próprio Aristófanes tenha feito o
mal específico de que Ansiófanes fez uso m a­ papel - possivelmente uma razão a mais para
gistral. No final do primeiro ato, o curti deve­ a surra que recebeu logo depois.
ria tirar suas máscaras e caminhar até a freme, Figuras grotescas de animais já haviam
na extremidade da orchestra, para dirigir-se à sido usadas no palco pelos contemporâneos
platéia. “Mas vós, fastidiosos jnizes de todos mais amigos de Aristófanes. Ele próprio men­
os dons das Musas, emprestai vossos gracio­ ciona. em Os Cavaleiros, uma comédia sobre
sos ouvidos à nossa festiva e anapéstica can­ pássaros, de Magnes. Bicos, cristãs, tufos dc
ção!" Scguia-se. então, uma polêmica versão cabelos c tranças, garras c penachos de pássa
das opiniões do autor a respeito de aconteci­ tos. junlamente com coletes cobertos de plu­
mentos locais, controvérsias políticas e pessoais mas produziam um efeito grotesco, conforme
e. não menos importante, uma tentativa de cap­ pode scr visto nas pinturas em vasos do século
tar a simpatia do público por sua obra. A V em diante, e que ainda divertem as plaléias
jjaraltasrí podia ser iguahnenle usada para jus­ do século XX em montagens modernas de Os
tificar, desmentir ou retratar algum aconteci - Pássaros. Era difícil, evtdenícmente. obter plu­
mento rcccntcnieme ocorrido. Depois de Clcun magens suficientes para os figurinos dos ato­
conseguir vingar-se por ler sidn satirizado cm res em Os Pássaros, com o bem o sabia Aristó-
Os Cavaleiras, fazendo Aristófanes aparecer fanes; "os pássaros estão na muda" explicava
como personagem numa peça teatral cm que c ele na peça.
surrado, o poeta referiu-se ao incidente na Coino as máscaras dc animais, também
parabasis dc Aí Vespas: "Quando os golpes as danças da Comédia Amiga tinham origem
caíram sobre mim. bem que os espectadores ri­ cultuais. "Destranquem os portões, pois agora
ram"; ele. então, admitiu haver tentado um pou­ a dança vai começar", exclama Filoeléon em
co captar a simpatia dc Cléon. por razões diplo­ Aí Vespas, seguindo-se então o kardax. uma
máticas. mas afirmou lê-lo feito apenas para barulhenta dança fálica cujas origens possivel­
atacá-lo tanto nuns mordazmente no futuro mente remontam no Oriente antigo. Mesmo
Os espetáculos da Comédia Antiga aconte­ fontes amigas dcscrcvem-na como tão lieen-
ciam no edifício teatral, com suas paredes dc cinsamentc obscena que dançá-la sem másca­
tnadeíra pintadas e painéis de tecido, enquanto ras era lido como vergonhoso. Esta pode ler
o com. como na tragédia clássica, ficava na sido uma das razões pelas quais as mulheres
orchestra ('tira cenas de "transporte aéreo", usa­ foram excluídas durante muito tempo das re­
va-se o teto da skene. como. por exemplo, em presentações de comédias.
H is t ó r ia M u n d ial do Teatro •

Em A Assembleia das Mulheres. Aristófa- próprios historiadores da literatura na Antigiii-


nes faz seus atores, que interpretam as mulhe­ dade já haviam percebido quão grande era o
res de Atenas marchando para a Assembleia, declive entre as comédias dc Arislófanes e as
“disfarçarem-se” de homens, com barbas fal­ de seus sucessores, e traçaram uma nítida li­
sas e pesadas botas espartanas, paru reivindi­ nha divisória, atribuindo tudo o que veio de­
car a entrega do poder do Estado ã$ mulheres. pois de Arislófanes, até o reinado dc Alexan­
Isso é visto como o clímax da ambiguidade dre, o Grande, a uma nova categoria - a “Co­
descaradamenre grotesca. Efeitos de iravesti- média Media” (meíc)
mento, completa falLa de reservas no tocante a Comprovam-na cerca de quarenta nomes
gestos, figurinos e imitação c, por fim. a expo­ de autores, bem com o um grande número dc
sição do falo, são traços característicos do es­ títulos e fragmentos. Conta-se que Antífanes,
tilo de atuação da Comédia Antiga. o mais prolífico desses “deligentes confec-
Na época de Cléon havia uma razão muito cionadorcs de peças teatrais”, escreveu duzen­
concreta e política para que as comedias fossem tos e oitenta comédias, e seu contemporâneo
levadas principal mente no festival das Lcncias. Anaxandridesdc Rudes compôs sessenta c cin­
Poucos navios desafiavam o tempestuoso inver­ co: outros escritores, cujos nomes chegaram
no, e somente cm março traziam um influxo de até nossos dias são Áubulo, Aléxis c Timoclcs.
visitantes estrangeiros a Atenas para as Grandes Anaxandridcs, que ganhou o primeiro pré­
Dionisíacas. Como c facilmente compreensível, mio na Dionisíaca dc 367 a.C., foi convidado
Cléon estava ansioso por manter o desniascaranie pelo rei Filipe para a corte da (vfacedônia, onde
duelo de comédias reservado “aos atenienses contribuiu com uma de suas comédias para as
entre si". Aristófanes, por sua vez, considerava celebrações da vitória dc Glinto. Sua partida
que era um esplêndido bastão para espancar “o dc Atenas é uma indicação do lado para o qual
filho de um curtidor de couro, desencaininhador os ventos políticos sopravam então: a Macedõ-
do povo", conforme testemunha a seguinte pas­ nia aspirava ã hegemonia na Grécia e a glória
sagem de Os Acamianeis: de Atenas se extinguia.
A comediu agora reliruva-sc das alturas
Num mcbiuu Clérci p:'jç ruprwnder-mc aguri
da sdtira política para o menos arriscado cam­
Por Eur difuinndn o Esuido eJ ie i iu c d c c.-,li.infi-ir:js
Estamos entre nós nessa ocasião. po da vida cotidianu. Em vez dc deuses, ge­
Os estrangeiros não vieram are agora, os tributários nerais, filósofos e dc chefes dc governo, ela
Não chegaram, nossos uonícórrados nao estão aqui. satirizava pequenos funcionários gabolus, ci­
Somns aqui o mais puro grão ático. dadãos bem dc vida. peixeiros, cortesãs famo­
Não liã palha entro nós, nem colonos escravrts.
sas e alcoviteiros. Recorria ao repertório de
Nestas linhas. Arislófanes escondia lambem Epicarnio, cujas inofensivas sátiras dos mitos
um triunfo pessoal. Um ano antes, Cléon havia serviam agora de modelo para mais unta espé­
movido uma tição contra ele, acusnndo-o do in­ cie dc epígonos. Por volta dc 350 a.C., cm
sulto às autoridades c de denegrir o Estado diante Turento, na colónia grega de Taras, ao sul da
de estrangeiros, por causa de Os Babilónias, Itália, Ri mão desenvolveu uma forma de co­
média que parodiava a tragédia (hilaros, que
Porém, a democracia ateniense fez justiça ao
demos, a decisão do povo: a queixa de Cléon foi
rejeitada, e a arte da comédia triunfou.

A Co mé d i a Mé d i a

Com a morte de Arislófanes, a era de ouro


da comedia política antiga chegou ao fim. Os

23. A Ijouí itm de Hércules. Cena n o c ^ lilii da hiU iro


lO£édu>. Vaso (fc Asicas. stSculn IV a.C. (M:ulrí)

■ 124
24. iM cnandio relevo dn jvoelii segurando um a máscara: ã direita, Glieeru nu tn lv c * uma p c rs o iiiíltrt^ a i) da ,tA;^>írj . to m o
hn relevo de Im npcdes* stÍLUln III i C . íR m u». M u>eo Luterano)

25. Vaso do ycncni jr filw íit s lespeeie de hnhm urm . nu de paródia de peça tn i^a ra i enm m ia de eomcdia* M‘m »
ajudando Q iim o ii a .u ih ira o pa ko . A direita: A q uilev. Unas ninfas velhas an ;d k iv scvulci [V u.C.,. enciwiii';ntn em A p ulm .
Iinltu i Londres* hritish Museuml.
26. Figuríi de bufuniiheir'.]» tjue lembra XântiasTper- 27. D ois velho* embriagados (FierSim, SUiailiclw
sou qge m de A j R à s sde Arisiõl uires (M un jq iie, SiaJilig lie Mn seen I.
Antikensamjnlung f.

RsiaCuctn* cm terracota rt-j>test?(Tiu.cids3 itersonagens de corruidm grega >sricolo IV a.C


28, Alcoviwíra, personagem iíptc:i <jn Comediu Nova 29. Hnm cni e mulliL-r conversando, como. lalvvz.
(Munique. Stiiuílichc AnTikcii^ammlunj!), Praxãgora c M c piro cm ,■! A s s e m b i t i u t i w M u H u - tv y dc
Arisk'if;iiies (Wúrzburg. Martin-vou-Wagner Mnseimu.
* tirévin

significa alegre, engraçado), mas tudo o que tnente. e u ação se desenrola com consistência
dela sabemos, baseia-se mernmenle em frag­ plausível.
mentos e em pinturas em vasos. Nem a Co­ O gramático Aristófanes de Bizâncio. do
média Média, nem a /u/oiwíragodrà apresenta­ século II a.C., que foi bibliotecário-chefe cm
ram quaisquer inovações no que diz respeito a Alexandria e que nos legou numerosas cita­
técnicas cênicas e cenografia. Ambas parecem ções das peças de Menandro. expressou sua
ler utilizado o pavimenta superior do edifício profunda e incisiva admiração pelo poeta: "Ó
cênico (fipàkenianY, com concessões à conve­ Menandro, e tu. Vida. qual dos dois imitou o
niência que. em suas máscaras, amortece o gro­ outro?”
tesco. elas trazem a primeira pincelada do sen­ Apesar das m uitas ofertas tentadoras,
timental. Menandro nunca deixou Atenas e sua villa no
Pneu. onde vivia com sua amante Glicera.
A C o m é d i a No v a Declinou de um convite para ir ao Egito, feito
pelo rei Ptolonieu. embora não sem soirir prc-
Das planícies artísticas da Comédia M e­ viamenle ante a idéia dá aprovação recebida,
dia, no final do século IV a.C., ergueu-se de em nome de “Dioniso e suas folhas de báquien
novo um mestre: Menandm. Ele assinala um hera, com as quais (irefiro ser coroado, em vez
segundo ápice, da comédia da Antiguidade: a de dos diademas de Ptolomeu, na presença de
tiro ("nova" comedia), cuja força reside no ca­ minha Glicera, sentada no teatro". Um famo­
racterização. no motivação das mudanças inter­ so relevo de Menandro mostra o poeta senta­
nas, na avaliação cuidadosa do bem c do mal, do num tamborete baixo, com a máscara de
du certo e do errado. Meuandro, filho de uma uni adolescente nas mãos, e, numa mesu dian­
rica fainítia ateniense, que nasceu por volto de te de st, as máscaras de unia cortesã e de um
343 a.C.. ntoldava carateres, e pardo dos ca­ ancião. Um tanto desrespeitosamente, o roma­
rateres como portadores da ação. A personagem, no Manílio uma vez. descreveu o repertório de
conforme ele diz em sua comédia .4 Arbitra­ personagens de Menandro como cunstiluído
gem, é o fator essencial no desenvolvimento de "adolescentes fervorosa mente apaixonados,
humano c portanto também no curso da ação. donzelas raptadas por amor. anciãos ridicula­
De suas cento e cinco peças, apenas oito rizados e escravos que enfrentam quaisquer
lhe valeram prémios - três nas (.enéias e cinco situações". Menandro era bastante confiante
na Cirande Dionisíaco de Atenas Esse pequeno em si mesmo para não se importar quando os
número de vitórias, porém, não diminuiu em volúveis juízes do concurso de comédias da­
nada seu renome em vida. item sua fama poste vam preferência a seu rival Filennm de .Siracu-
nor. Meuandro viria a exercer grande influên­ sa. De acordo com uma anedota. Menandro
cia sobre os eomediógrafos rumanos Plauto e certa vez o cumprimenta, encontrando-o na
Teicncio. que viveram da substância de sua obra. rua, com as palavras: "Desculpe-me. Pilemon,
Ao lado do acervo de citações transmitidas, es­ mas, diga-me. quando você me vence, não fica
ses dois poetas romanos foram, até o s p ri­ ruborizado?"
mórdios do século XX. as únicas testemunhas O Coro. que já na Comédia Média havia
dos escritos de Menandrn. Só cm 1907, sua co­ sido posto de lado. desapareceu eninpielamentc
media .4 Arbitragem foi reconstituída a partir nas obras de Menandro. Como os atores não
de papiros e. em 1959. que foram descobertos nrais entravam vindos da orquestra, a forma
fír.vtWm (O Mal-humorado). Com u Dysroíus tio palco Toi alterada As cenas tnais importan­
(cujo subtítulo. misnnlhroixis, anuncia para além tes eram agora apresentadas no iageion, urna pla­
da obra terenciaua, o antropófago molieresco). taforma diante da skene de dois andares. A co­
Menandrn, então com 24 anos. conquista cm média de caracteres, com suas intrigas e nuanças
317 a.C. seu primeiro triunfo teatral. individuais do diálogo, exigia a atuação conjun­
Mesmo neste primeiro trabalho, Mcnnn- ta mais concentrada dos atores, bem como um
dro demonstrava sua índole humana c arlísti- contato mais estreito entie o palco e a plateia.
ca. Todas as personagens são cuidadosumeme Menandro foi « único dos grandes dra­
delineadas: a tensão vai crescendo gradua I- maturgos da Antiguidade que viveu para ver o

■ />v
Hi mitiíifl A■lutitfiaf dn Tv<um *

teatro de Dioniso terminado. Pois. cm Atenas, em Atenas, outro teatro era erigido em Epi-
como novamente em Roma trezentos unos mais ilauro. Construído pelo arquiteto Policleto, o
tarde, a história pregou uma estranha peça no Jovem, por volta de 350 a.C., no recinto sa­
teauo: a estrutura externa atingiu seu esplen­ grado de Ascléplio, ficou em breve famoso por
dor mais suntuoso apenas numa época em que sua beleza e harmonia. Hoje, é o mais bem
o grande e criativo florescimento <la arte dra­ preservado tealro da Antiguidade grega. Seu
mática chegava ao fim. A glória da arquitetura auditório assemelha-$e a uma concha gigante
teatral antiga l<u concluída na época dos incrustada na encosta da colina. Do alto da se­
epígonos: os magníficos teatros somente pu­ xagésima fila, tem-se uma vista abetta das ruí­
deram refletir um pálido vislumbre do antigo nas da skent' e da planície arborizada que se
esplendor. estende além. Um dia em Epidauro leva à ex­
periência do tealro antigo, sem que seja preci­
so haver um espetáculo; Esquilo. Sófocles e
O TH ATRO H tL tN ÍS T ÍC O Eurípedcs voltam à vida. É difícil imaginar que
nenhum deles jamais viu uma de suas tragé­
Quando Eicurgo finalizou as obras da dias representadas num desses magníficos lo­
construção do teatro de pedra de Dioniso, en­ cais; nenhum deles chegou a utilizar os gran­
quanto exercia o cargo de administrador dos des teatros de Epidauro, Atenas, Delos, Prieno,
finanças de Atenas (.138-327 a.C’.), estava cons­ Pérgamo ou Éfeso. Na época em que os es­
ciente de que sua tarefa cru a de um epígono, pectadores se reuniam diante da skttne, ador­
tile não apenas mandou reunir as obras dos nada de colunatas, do teatro hclenístico, o con­
poetas trágicos clássicos, mas também man­ curso de dramaturgos havia há muito se torna­
dou esculpir esplêndidas estátuas de mármore do uma com petição de atores. Até mesmo
com suas imagens c as dispôs nofoyer do novo Arislóteles já se queixava na Poético de que o
teatro, numa colunata aberta junto à parede de virtuosismo regia o palco, “pois os atores têm
fundo da xkenr. O tealro em si consistia cm atualmcntc mais poder do que os poetas".
um palco espaçoso com três entradas e basti­ Enquanto no século V. na grande era do
dores (jiaraskeiiia) que se projetavam à esquer­ drama clássico, os poetas haviam sido os fa­
da e à direita, oferecendo duas entradas adicio voritos declarados e confidentes de reis, prín­
liais dos camarins para o palco. Aberturas ao cipes e chefes de Estado, no século IV foram
longo da parede de fundo sugerem que talvez substituídos pelos atores. É verdade que Fili­
tenham sido usadas para fixar postes destina­ pe da Macedônia convidou o poeta Anaxan-
dos a sustentar um andar superior temporário drides para a sua corte; ele concedeu, porém,
lepiskenwn) no alto do pixatcnion. lai como honras maiores ao ator Aristodemo. Seu filho
exigia sobretudo a encenação das comédias. Alexandre, o Grande, discípulo de Aristóleles,
O auditório se erguia em terraços, e suas incumbiu o ator Tessalo de uma missão di­
três fileiras podiam receber quinze mil ou mes­ plomática: como os atores, eram não apenas
mo vinte mil espectadores, um número que dispensados do serviço militar, mas. na quali­
correspondia aproximadamente à população de dade de servidores de Dioniso, possuíam sal­
Atenas na época helenística. Alguns dos luga­ vo-conduto em território inimigo mesmo em
res para os convidados de honra (pmedria). época de guerra, sendo pois agentes políticos
feitos de mármore do Pentélieo, resistem até especial mente convenientes.
hoje. Entre eles fica a cadeira especial do sa­ Durante o século IV, os atores se junta­
cerdote, decorada com relevos, que ostenta a ram em grêntios de “artistas dionisíacos". en­
inscrição: “Propriedade do sacerdote de Dio- cabeçados por um protagonista (ator princi­
niso Elemério". Os outros assentos oficiais são pal) ou músico, que era ao mesmo tempo um
mais simples, mas também possuem um res­ sacerdote de Dioniso. Essas uniões de artistas
paldo curvo: dois ou três deles são talhados também organizavam espetáculos, que cm ge­
mim único bloco de mármore. ral eram remontagens de tragédias e comédias
Mais ou menos na mesma época em que clássicas, nos pequenos teatros da Ática e do
Licurgo completava o novo teatro de Dioniso Pclnponeso.
• 130
W r '

33. Teatro dc Gpjdauro, Construído por Policltio» o Jovem* 350 a.C, Vista das fileiras do assentos mais alios sobre n
circular. Ao fundo, as montanhas Arachnaeon; na extremidade da o r c h c s ir a * ruínas da
( tr i-h o tlr a ò CMjuerda o
portão p a n f d o v reconstruído.
54. Planta de íc a iro dc Epidaum . que podia acolher cerca de 14.000 e&peciadores.
36. Fragmento dc vaso de Tarcnla à esquerda. ala da cena, p a r a s k f u t tm , c n z a cncablamcmo heamentc decorado,
susienlado por colunas esguias, século IV a.C. iW úrzbtirg, Maitin-von-Wagner Mu&euml,
H is tó r ia MutuHai d a T e a tro *

37. Teatio de Oiup». Ática, século II a.C. Sktrnc. Reconstrução dc E. Eicclucr.

As obras mais populares nessa época eram para o “espetáculo", levou-os a remodelar e
as de Eurípedes. Plutarco relata que os ate­ reeslruiurar os teatros gregos. Os proscénio,
nienses aprisionados e escravizados durante 3 decorados cotn relevos e estátuas, salientavam-
desastrosa expedição à Sicília cm 413 a.C. se agora em frente à estrutura do palco, a
eram libertados pelos siracusanos, se pudes­ orchestra foi cercada de parapeitos e transfor­
sem recitar passagens dos diurnas em ipidianos mada em eonistra. tuna arena para o combale
de cor. Pois Eurípedes havia profetizado, na dos gladiadores e as carnificinas das feras. No
sua advertência cm As Troianas, que os teatro de Dioniso em Atenas, além dessas in­
atenienses seriam denotados e que a fortuna dignidades. 0 imperador Nem prorunou o sart-
da guerra sorriria para Siracusa. Isto talvez taário, dedicando-o “conjuntamente ao deus e
possa explicar tamlrém a predileção que os dra­ ao imperador" —conforme testemunha até hoje
maturgos romanos sentiriam, mais tarde, por uma inscrição na arquitrave.
Eurípedes. No prólogo de As Troianas, que fni As ruínas do teatro de Dioniso em Atenas
apresentada com a sátira Sísifo na Dionisíaca refletem “o desenvolvimento não apenas da
de Atenas cm 415 a.C., Possêidon sai de cena poesia dramática, mas de toda a cultura da
com estas palavras sinistras; Antiguidade; primeiro, as danças do coro; ao
lado destas, na área da grande orchestra, as
Oh, mio é o honremque arruine a cidade c. o templo. cenas dos grandes dramas e. numa orchestra
Devasta a sagrada habitação dos morros c
seus túm ulos, pois está condenado a perecer no (Inal.
ntenor. cenas de uma variedade de peças. No
proskenion, representações com cenários típi­
Roma sempre olhou o teatro grego como cos e permanentes; e finalmente, na eonistra,
o seu grande modelo, mesmo depois que o cercada por parapeitos, os brutais jogos do
inundo romano irrompeu na Grécia após o seu circus” (Margarete Biebcr).
declínio. A marcante tendência teatral dos con­ As palavras dos grandes poetas, pais do
quistadores romanos para a sensação verista, learro europeu, podem ser ouvidas todos os
3X. Teatru de Dionisíi em Atenas, como era por volta de 1900, mostrando o canat romano escavado ç o irarapeito de
mármore construído pelos romanos paru os jogos com aniruais. O pedestal a esquerda data também de época mmutia. As
tile iras de assentos de pedia que compõem o auditório são tle urrgem grega, século IV a.CT.
H i M ó r i t i M i t u t l i t i f iln T v u ir ti •

anos em grego clássico. m> Teatro He rodes (da qual existem apenas fragmentos}, um ator,
Ático, em Alcnos, quando no festival de verão que está interpretando o papel de tmt burro, fala
com seu programa de tragédias e comédias sobre o seu modo de '‘mastigar cardos".
clássicas - um eco do que outrora, há dois mil Tanto no reino animal quanto na vida hu­
e quinhentos anos, soava aos pés da Acrópole mana a pane que a sorte reserva a cada um
em louvor ao deus Dioniso. não c distribuída segundo o mérito, e assim o
quinhão principal da zombaria bem-humorada
foi zelosamente dirigido, já na Antiguidade,
O M im o ao mais modesto e fiel companheiro do cam­
pónio da montanha. Danças e farsas grotescas
Desde tempos imemoriais, bandos de sal­ asinais. passando pelo burlesco romano, che­
timbancos vagavam pelas terras da Grécia c gam até os gracejos de mimo na Eesta do Asno
do Oriente. Dançarinos, acrobatas e malaba­ ijcsiunt asínoritm), com a qual o clero francês
ristas, flautistas e contadores dc histórias apre­ do século XII comemorava u l-uga para o Egi­
sentavam-se em mercados e cones, diante de to dc uma forma um tanto pagã e antiga, na
camponeses e príncipes, entre acampamentos verdade quase indecente.
de guerra e inesas de banquete. À arte pura A arte do muno não foi impedida por bar­
unia-se o grotesco, a imitação de tipos e a ca­ reiras geográficas. Do sul da Itália, caminhou
ricatura de homens e animais, de seus movi­ em direção ao norte com os atores ambulan­
mentos e gestos. tes, e onde quer que fosse assimilava todo o
O chiste verbal, somado a essas proezas tipo de atos histriónicos populares, farsescos e
sem palavras, físicas, levou às primeiras e bre­ mais ou menos improvisados.
ves cenas improvisadas. Era o início do mimo O palco clássico da Anligiiidadc excluíra
primitivo- Seu alvo era a imitação “fiel â natu­ as mulheres, mas o mimo deu ampla oportuni­
reza” de tipos aotenticametue vivos, ou, num dade à exihição do charme c do talento femi­
sentido mais amplo, a arte da aiuoiransfor- ninos. Xcnofontc. o escritor, agricultor e es­
mação, da mimes is. portista ateniense do século IV a.C. fala, em
Enquanlo o épico homérico e o drama seu Syiuposiim, de um ator de Sirucusaque se
clássico haviam glorificado os deuses e os he­ apresentou nutri banquete na casa do rico
róis. o mimo (mimusí prestava atenção no povo Cálins, cm Atenas, com sua imttpe da qual Fa­
anónimo, comum, que vivia à sombra dos gran­ ziam parte um menino e duas garotas (uma
des, e nos trapaceiros, velhacos e ladrões, flautista e uma dançarina).
estalajadeiros, alcoviteiras e cortesãs. Cada A pedido de Sócrates. que eslava entre os
região supria o mimo de suas próprias figuras convidados, os mimos apresentaram a Instória
caracteríslicas e conceitos locais. Em Esparla. de Dioniso e Ariadne. na qual o jovem deus
o mimo, viajando e apresentando-se sozinho, salva a filha de Minos, que c abandonada em
era visto como um representante da embria­ Naxos, e se casa com ela. O pedido de Sóera-
guez díonísíaca e era chamado dcikclo.t (bê­ tes pôde ser facilmente atendido, sem nenhu­
bado), e assim a farsa rústica primitiva dc ma preparação especial, o que demonstra que
Esparla se chamou dciketon. Em Tebas. os os mimos gregos estavam tão familiarizados
comediantes de mintos e farsas, cujo tema fa­ com a herança dos ternas míticos quanto ha­
vorito era a paródia do culto beócio a Cabiro. viam estado seus antecessores, nas margens do
eram chamados de "voluntários”. Eufrales e do Nilo e estariam também seus
O mimo desenvolveu-se original mente lia sucessores, nas margens do Tigre e no Bós-
Sicília, Era uma farsa burlesca rústica, à qual foro.
Sófrondeu forma literária pela primeira vez por Numerosas pinturas em vasos áticos mos­
volta de 430 a.C, Suas personagens são pessoas tram uma variedade de acrobatas, comediantes
comuns e, no sentido mais amplo da mimesc, e equilibristas; garotas fazendo malabarismos
animais antropomórficos. Sófrou criou o ances­ com pratose taças, dançarinas com instrumen­
tral do Botlom de Sltakespeare, no Sonho dc tos musicais. A arte dessas jovens era obvia-
Uma Noile dc Verão. Nunia das peças de Sófmn• momo muitíssimo popular entre os gregos.
• U6
* ttrè fiti

39. U csi-m peiih,m tes dc lepieAinita^ocíb rm fulio'*.


p o n aiilo cafouça?i d c asno. F ragm ento de aficv cu dc

sobretudo em círculos privados. Numa hydria


do século [V, originária de Nola (hoje no
Museo Nazionale de Nápoles), pode-se ver
quatro grupos trein an d o várias façanhas
acrobáticas. Uma jovem nua lemoeoipo arquea­
do em ponte, sustentando-,se nos cotovelos, ao
mesmo tempo que empurra um tyíi.r, com os
pés, na direção de sua boca: amarrada cm tor­ e. ao lado de doutores, charlatães, adivinhos e
no das panturrilhas, ela traz uma fita. a a/io- mendigos, seu alvo predileto de zombaria era
tmpeion, própria das artistas" de mimos. Unta o bobo de Abdera. ou Sidon ou alguma outra
outra garota é mostrada dançando entre espa­ "cidade dos tolos".
das fincadas verticalmente no chão, enquanto Os mimujmbos do poeta Hcrottdas de Cós"
uma terceira pratica o pyrrhic, dança dc guer­ (aproxmiadamente 250 a.C.) constituem va­
ra mitológica, usando utu capacete e seguran­ riantes poéticas especiais do mimo grego. São
do um escudo e uma lança. breves textos mímicos, compostos ent lambos.
Dc acordo com uma lenda ática, a deusa cujos enredos tratam das revelações secretas
Atcna inventou o pxrrhic e O dançou para ce­ de garotas perdidas de amor. dos castigos aos
lebrar sua vitória sobre os gigantes, embirra estudantes malcriados, das artes persuasivas
em E spana se c re d ite essa invenção aos dc casamenteiras astutas e dc toda sorlc de in­
Dtóseuros, A dança aparece novameiite no sé­ confidências nem sempre edificantes.
culo II. quando Apuleio, eni 0 Asno de Ouro É bem provável que esses mimiambos dc
descreve um bale mitológico que os romanos He rondas, da mesma forma que a bem mais
montaram em Corinto. Após o bale, conta decente poesia lírica dos mimos bucólicos de
Apuleio, o povo tentou fazer com que Lúcio, Teócrito, tenham sido concebidos para serem
vestido de tisno, participasse de um "mimo obs­ lidos ou recitados por um único mimo com
ceno": Lúcios, porém, fugiu. uma grande extensão vocal,
A maioria dos textos dos mimos cia cm Somente na época helentsúcn o num» gre­
prosa, mas alguns, os chamados tuimritlai. go teve acesso ao palco dos grandes teatros
eram cantados - os precursores dos coplas dc públicos. A Grécia nunca concedeu a ele a
imtsicluill- Seu repertório de tipos c o mesmo importância que ganharia sob os imperar!(ires
que Filogelu usou certa vez para suas pilhérias em Roma e Rizáneío.

* 137
Roma

Introdução Os J.udi Romani, as mais primitivas das


festividades religiosas oficiais onde se apre­
O império romano foi nm Estado militar. sentavam espetáculos, também eram consagra­
Ames de Augusto, os romanos eram guerrei­ dos à tríade Júpiter, Juno e Minerva. O pró­
ros, depois de Augusto, governaram o mundo. prio nome indica que a adoração aos deuses
D caminho desde a legendária fundação da Ci­ tinha de dividir as honras com a glorificação
dade das Sete Colinas cm 753 a.C. ate o impé­ da cidade dcsabrochame, a urbs iviim im . Como
rio mundial romano é uma sucessão de guer­ disse Cícero, o segredo da dominação romana
ras dc conquista e. ao mesmo tempo, a legiti­ residia em "nossa piedade, nossos costumes
mação de um nacionalismo fundamentado, religiosos e cm nossa sábia crença em que o
desde os primórdios, no poder da autoridade. espírito dos deuses governa todas as coisas”.
Até mesmo os deuses estavam sujeitos A religião do Estado havia se apossado
aos ditames do Estado. A localização de seus dn hierarquia dos deuses olímpicos da Grécia,
principais santuários era determinada não pela com poucas mudanças de nomes, mas nenhu­
tradição, mas pela m publica. Antes das le­ ma modificação maior de caráter. As margens
giões romanas capturarem nma cidade inimi­ do Tibre, como à sombra da Acrópole em Ate­
ga, seus deuses eram requisitados numa ceri­ nas. Tália, a musa da comédia, c Eulérpia, a
mónia religiosa, a evocalio (chamado), para musa da flauta e do coro trágico, eram as deu­
que abandonassem as cidades sitiadas e se sas padroeiras do teatro.
mudassem paru Ruma. onde poderiam con­ Este povo racional, técnica e organizada-
tar com templos mais grandiosos e maior res­ mente tão liem dotado, deve ter achado bastante
peito. Desse modo, o santuário dc Diana foi natural aplicar aos arranjos de suas cerimónias
deslocado da cidade latina de A rícia para o religiosas a mesma resoluta determinação que
Aventino, c n Juno Regina dos etruscos foi distinguia suas expedições militares. O teatro
"recolocada” no Capitólio, vinda de Veio. Da de Roma fundamentava-se no mote político
mesm a fornia, Minerva, uma sucessora da panem et cifcmse.r - pão e circo - que os esta­
Palas Aleita grega venerada na cidade etmsca distas astutos têm sempre tentado seguir.
dc Falério, chegou a Roma, onde se juntou a Tanto em suas caractcrístieas dramáticas
Júpiter e J imo como o terceiro membro da mais quanto arquitetónicas, o teatro romano é her­
alta tríade de deuses romanos na colina do deiro do grego. Quando Lívio e Horácio de­
Capitólio. Roma ainda ho je a recorda, na Igre­ clararam que as origens do teatro romano de­
ja dc Santa Maria sopra Minerva, edificada viam ser procuradas nas fesceninas - os satíri­
no século VIII. cos e sugestivos diálogos carnavalescos com
I t í x í l i f i o Mtitttiítii th* T a t t r o *

origem na cidade etnisca de Fescênin - cria­ 10. aos povos conquistados, da oportunidade
vam empenhados, peio visto, em tomar conto de promover seus talentos e manter boas rela­
ponto de orientação as origens do teatro ções com seus próprios deuses. Os romanos
helcnístico. F. a comparação e tanto mais váli­ anexaram a propriedade espiritual, tanto quan­
da quando localiza a época do florescimento to a terrena, daqueles que conquistaram, jun-
do teatro romano. Como antes, em Atenas, esta tameme com o direito de exibi-la em público,
era divide-se em um período de atividade dra­ para o prazer de todos e para maior glória da
mático-literária e cm outro, no qual as gera­ res publica. Dessa forma, o teatro romano tam­
ções seguintes esforçaram-se para criar uma bém era um instrumento de poder do Estado,
moldura arquitetônica digna. No que diz res­ dirigido pelas autoridades. Assim como em
peito ao florescimento da literatura dramática Atenas a arte da tragédia e da comédia desen-
de Roma. este período corresponde aos sécu­ volvera-se a partir do programa das festivida­
los 111 e II a.C,, quando prosperaram as peças des das Dionisíacas e das Lenéías, Roma apo­
históricas c as comedias (em palcos temporá­ ia procurou organizar a arre do drama, com
rios de madeira), e, rui tocante ao período áu­ hase no programa de suas festividades,
reo da glorificação arquitetural da uléiade tea­ A moldura externa dada foram os Ludi
tro, os séculos 1 e II d.C. Romani, instituídos ein 387 a.C. e desde então
0 anfiteatro não pertencia aos poetas. Ser­ Celebrados anual mente em setembro, com qua­
via de palco aos jogos dc gladiadores e às la­ tro dias de espetáculos teatrais. Mais tarde,
tas dc animais, para comhates navais, espetá­ iuslil n íram-se outros jogos dedicados aos deu­
culos acrobáticos e de variedades. Quando a ses (bfí/i), tais como os Ludi Pleheii em no­
perseguição aos cristão s se iniciou com vembro, os Ludi Cereales e Megalenses (em
Domiciano. o sangue humano correu aos bor­ homenagem ã mãe dos deuses) cin abril, e os
botões no Coliseu, no mesmo local onde mul­ Ludi Apollinares em julho-
tidões de cinquenta mil pessoas aplaudiam os Essas celebrações festivas deviam milito
atletas campeões ou os atores de mimos e de ã família dos Cipíõcs. que ajudaram a fortale­
pantomimas. Seu tealio era o espelho do cer o renome mundial de Konta não apenas
iiitpenum rumam»u - para melhor ou para pior. em assuntos militares, mas também culturais.
e era muito mais um .v/ion- husiitcus organiza­ Nos séculos 111 e II a.C., os Cipiões pratica­
do do que um lugar dedicado às artes. ram a espécie de patronato das artes que. mais
tarde, na época de Augusto, seria associada ao
nome do nobre Mecenas.
O s L u di R u m a m , o T e a t r o A ambiciosa metrópole às margens cín
da R e s R im u v a Tibre esmerou-xc em promover os talemos,
especialmeme os das regiões conquistadas,
Durante a mesma década em que Arisló- que eram o berço da inteligência e da educa­
tcles descreveu a então inteirainente desen­ ção gregas. Os romanos, na verdade, devem
volvida tragédia grega. Roma assistia a seus seu primeiro dramaturgo - Lívio Andrónico -
primeiros lutli st acntci (jogos cénicos), mo­ à cidade de Tarcnlo, uma das maiores e mais
destos espetáculos de mimo dc uma rroi/pe ricas das antigas colónias gregas no sul dn
etrusca. Estes incluíam danças e canções, Itália. Lívin Andrónico foi trazido a Roma.
acompanhadas de flauta, e também invoca­ conm escravo, para a rica casa dos Livios. Gra­
ções religiosas dos deuses nn espírito da mis­ ças a seu dom da linguagem, o jovem grego
teriosa e Sobrenatural fé tios ctruseos, que lago foi promovido de professor particular a
outrora haviam dominado Roma. Nessa épo­ cotisellicito educacional e culturaI. Traduzáii
ca. a preocupação dos atores c ria plateia era a OtHsscia dc Homero para o latim, em ver­
aplacar os poderes da viria e da mime, já que sos saturninos, para o uso cm escolas roma­
se estava no ano de 304 a.C. e a peste se alas­ nas. c compôs hinos em latiu) a mando do
trava pelo país. Senado.
Desde o mais remoto início, « habilidade Etn 240 a.C., pelas eelehvações qne se se­
política de líoma se expressou nu oferecitncu-• guira tn à vitória da primeira Guerra Mímica.
• MU
* Rontfí

Lívio Andrônico - provavelmente mais unia comédias. Foi preso e exilado, e morreu por
vez por ordens oficiais -escreveu suas primei­ volta de 20 i a.C. em Utica, o velho centro co­
ras adaptações de peças gregas, Uma tragédia mercial fenício que Cipião Africano Maior ha­
e uma comédia foram representadas, nas quais via sitiado três anos ames, sem sucesso.
o próprio Lívio Andrônico participou como Em 2(W a.C., provavelmente na esteira dos
ator, cantor e encenador, na melhor tradição exércitos dc Cipião, que retomavam, n terceiro
ateniense. pioneiro do teatro romano surgiu na capital:
O exemplo de Lívio Andrônico logo trou­ Quinto Ênio dc Rudia, ua Calábria, então com
xe à cena o primeiro dramaturgo latino, Gncu trinta e cinco anos. Como soldado na segunda
Névio. da Cainpânia —um esctitor espirituo­ Guerra Púnica, admirou, quando da derrota dos
so, com agudo senso crítico, que se apresen­ romanos diante de Aníbal, a boa conduta dos
tou com obras próprias, pela primeira vez, nos legionários e seus generais, fato cuja ausência
l.udi Romani, cinco unos mais tarde. Segundo na vitória de Névio havia deplorado tão critica-
Theodor Mommseit. o grande historiador clás­ mente. Em vez disso, o que Éiiio viu foi “a ina-
sico alemão do século XIX, Ncvio foi "o pri­ halável fé dos romanos em seu Estado, bem
meiro romano que mereceu ser chamado de como sua compreensão profunda do equilíbrio
poeta e, ao que tudo indica, um dos mais no­ real do poder”, que. na derrota, somente forta­
táveis e excelentes talentos da literatura ro­ leceram neles a fé na sua missão militar.
mana” . Quinto Ênio. que também crescera e fora
Ncvio também fora soldado. Havia luta­ educado na tradição cultural grega, teve a boa
do na primeira Guerra Púnica, e conhecera por sorte de merecer a amizade dos mais respeita­
experiência própria, de vida. não apenas a vi­ dos homens de Roma. Obteve fama com sua
tória das legiões romanas mas também as de­ obra mais importante, um epos nacional inti­
ficiências dos comandos militares. Suas obras tulado Anais, e também por suas adaptações
refletem sua fé entusiasmada na República, dc tragédias e comédias gregas para o público
embora também sua aguda crítica a seus ele­ romano. Escreveu, segundo o nu ide lo de Eurí-
mentos corruptos. Ncvio Foi o criador do drama pedes, peças como Aquiles e Alexandre, além
romano, a fabula pracuxia (assim nomeada dc outra sobre o tema das Eumcnidas. Nas
por causa da vestimenta oficial dos pretores, Subi nas, dramatiza um tema proveniente do
os mais altos funcionários e servidores da Re­ âmbito da saga romana, no qual o teatro tem
pública, que eram seus personagens c heróis dupla participação: durante um festival em
centrais). No domínio da comédia, a distinção Roma, Ròmulu faz com que as Sabinas presen­
que se estabelece é entre o modelo grego da tes sejam raptadas, porque na cidade guerreira
fabula piilliatii. cujos intérpretes vestiam o litllam mulheres. Em conseqiicncta, quando o
patliuiu grego, e a fabula lagala, brotada do exercito sahinu avançou sobre as Sete Coli­
culorid» local romano, em que os atores por­ nas. as beldades disputadas, sob a liderança
tavam no palco a toga nativa. da própria esposa de Rômulo. cmpenliaram-
A glorificação dramática da história de se cm estabelecer a paz. Foi feito um acordo,
Roma por Ncvio. cspecialmenic em Roiaulus. no qual Rômulo e TitoTãcio, o rei dos Sabinos.
sua peça mais famosa - que retrata a lendária deveriam governar Roma juntos.
fundação de Roma - trouxe grandes honrarias Ênio. o “arauto dos bem-nascidos e heleni­
ao autor. Ele, porem, arriscou Iodas elas com zados” , teve o cuidado de evitar assuntos con­
suas comédias, nas quais se aventurava no cam­ troversos durante toda a sua vida. Era popular
po das polêmicas locais c, fiel ao exemplo dc tanto junto ao povo quanto aos aristocratas. Sun
Arislnfancs, atacava os políticos e nobres de escolha de temas dramáticos mostra o quão
sua época. prudenteniente ele mantinha sua posição no
Mas Roma não era Atenas. Os homens do cabo-de-guerra da existência dc um favorito.
Senado não eram como Cléon, que se conten­ Sempre escolhia assuntos que. em geral com
tara em retaliar com Lima boa surra n desres­ algum aspecto didático, podiam ser suavcinen-
peitosa franqueza dc Arislófunes, Névio leve tc transpostos para a visão de mundo racional
de pagar caro pela militância expressa cm suas rios romanos.
2. Piruura ein parede cm Hcrculuno: aior trágico vitorioso após o term in o do agon. À direita, sua máscara d e b u ta ; a
m ulher ajoelhada proco,Jc á inscrição da dedicatória comemorativa (Nápoles, M useo Nazíonatc).
H i s t ó r i a Mtitt ií it ti tio T t t i l r n *

O século ![ a.C. gerou uma rica saíra de foram as obras da Comedia Nova ática, espe-
produções dram áticas, ao longo da linha cjalmemc as de Menandro. Quem quer que ti­
preestabelecida da fabula praetexia e da a- vesse a si mesmo em alguma conta em Roma
Uaplação de lenias gregos. No domínio da tra­ eonhccia não apenas o nome do famoso ate­
gédia, a corrente de escritores iniciada por niense, mas podia citar pelo menos alguns de
Quinto Enio, e que passa por seu sobrinho e seus elegantes epigramas. E quão inais pro­
discípulo M. Pacúvio. oriundo de Briudisium missor em exilo devia parecer a exibição em
c por Lúcio Áeio - a quem Rrutos favoreceu - toda a sua plenitude dos tesouros desta conte-
vai até Asínio Pólio, o ator considerado “dig­ diografia!
no do coturno" (a bota alta da tragédia grega, Plauto possuía suficiente prática teatral
agora possivelmente com uma sola que a ele­ para selecionar as cenas mais eficazes de seus
vava algumas polegadas), na época do impe­ modelos. Ao fazê-lo, não hesitava em encai­
rador Augusto, chegando por hm, na era cris­ xar os temas de várias peças, se isso ajudasse
tã, a Aneu Séneca - cujas nove tragédias re­ a realçar o efeito. Trabalhou não menos com
manescentes, entretanto, não foram jamais perícia do que com sorte no principio da "con­
encenadas no palco da Roma antiga. taminação", em que seria igualado, uma gera­
ção mais tarde, por Terêncio - o segundo gran­
de poeta cómico romano.
C o m é d ia R o m a n a Mas onde Plauto, o ator da Úmhria. ad­
quiriu lodo esse conhecimento da literatura
Embora a tragédia e a comédia hajam ini­ grega e todas as suas outras qualificações, ao
ciado juntas sua carreira nos palcos de Roma lado de sua inteligência natural, para atingir
e originalmente tenham sido escritas pelos status mundial como autor-1Conta-se que, com
mesmos amores, Tália logo começou a se o pé-dc-mcia de minto na bagagem, ter-se-ia
emancipar. O primeiro grande poera cómico dedicado aos negócios de mercador viajante;
de Roma alimentou a comédia romana não mas no fim teria sofrido um naufrágio finan­
apenas com a sua própria obra. mas também ceiro com suas especulações comerciais. Sem
dúvida, sua odisseia comercial rendeu-lhe um
com a influência revigorante do mimo folcló­
rico popular. conhecimento soberano de todas as classes de
Plauto (c. 254-184 a.C.). nascido em pessoas, das baixas, médias e altas camadas, e
Sarsina, não era um homem de muito estudo, o ajudou em sua arte de caracterização precisa
mas conta-se que no decorrer de uma juventu­ e em sua habilidade de coordenar personagens
de cheia de aventuras ele perambulou pelo país e situações.
com uma irotipe atei anã. Seu segundo nome, Plauto transpôs a refinada iirhanidadc de
Maccius, parece confirmar essa experiência, seu modelo Menandro parti tuna comédia de
pois “Maccus" era um dos tipos fixados da situações robusta, na qual predominavam ele­
farsa ateiam - o guloso e ao mesmo tempo mentos faisescos e chistes burlescos. Persona­
gens cómicas, identidades trocadas, intriga e
finório paleta, que sempre ddumjeitoparaque
sentimenlalismo burguês alimentam o meca-
seus comparsas de jogo tenham no fim de fi­
car com o ónus tanto dos prejuízos quanto do
escárnio.
Deixando para trás o despretensioso re­
pertório de sua experiência teatral anterior,
Plauto aterrou com um salto na literatura mun­
dial. Os modelos dramáticos de suas comédias

>. Qtici.il fanfarrão c parasita Pintura mn pnneifa ('rinje


tlcstnudu) na Cara ileIJa Fontana Grande, Pompcta. sé-
cuto I. d.C.
• 144
Relevo em m fimiorc.com uma cena Ljpicada Coméiii;i Nova: um pai funusn vai ao cncouiro do filh o , 411c retoma de
um iuitqucLc amparado por um escravo (Nápoles Musoo Na/.ionak-).
* R om a

nismo que conduz harmoniosamente suas co­ Enquanto Planto prestava menção à con­
médias. A inserção de canções com acompa­ versa do povo e se apoiava forte mente no con­
nhamento musical ícantica) confere a elas um traste entre ricos e pobres para suas situações
toque de opereta. Planto fez muito sucesso com cómicas. Terêncio procurava imitar o discurso
suas primeiras três comédias, que foram re­ cultivado da nobreza romana. "Nessa peça, o
presentadas quando ele linha aproximadamen- discurso é puro", diz ele no prólogo de A que­
te cinquenta anos. As datas registradas tlc suas le que Castiga a Si Próprio, acrescentando ex-
estreias são 204 a.C. ÍMiles Glorioíus), 201 pressamente que é "uma peça de caráter, sem
iCisiellaria), 200 (Srirhtw) e 191 (Pseudolus). muito barulho".
Ao lodo, vinte peças completas de Piauto Terêncio ficou terrivelmente perturbado
1
subsistem. Sjgnificaiivamente, refletem não eom o desafortunado acidente que ocorreu com
apenas o repertório de enredos e personagens sua Hecira. Quando a peça foi encenada pela
da Comédia Nova ática, mas, cm seu eficiente primeira vez, uma troupe de funâmbulos, ali
engrossamento teatral, a mentalidade de seu perto, eslava tentando ruidosamente chamar a
autor e do público para » qual escrevia. Elas atenção do público, c a comédia dc Terêncio
também se tomaram a fonte inesgotável da co­ foi um fracasso porque, conforme o poeta quei­
média européia. O Amphimio de PI auto sobre­ xou-se amarganiente, "ninguém pódc vê-la,
vive no Anfitrião de Moliérc e no de Kletsl. quanto mais conhecê-la”.
sem falar nas versões m odernas de ie a n O refinamento urbano e perfeição formal
Anouilh e Peter E-iacks-. os Menaechmi (Os de seus diálogos, as personagens cuidadosa-
Gêmeos) ganharam segunda imortalidade na mente desenhadas c seu desenvolvimento no
Comedia dos Erros de Shakespeare. O herói curso da ação - tais eram as coisas que Terêncio
de Afiles Gloriosos, Bramarhas, tornou-se o desejava ver apreciadas com a devida atenção.
epitome do pseudo-heroísmo vanglorioso. Em Seguiu meticulosamente os modelos gregos c
Aulularia (O Pote de Ouro ou Comédia da fazia o máxim o paru não exceder a plausi­
Panela). Flauto criou uiti protótipo de avareza bilidade da fábula. Mas fazê-lo não era Uc todo
ingénua, que Molière, em O Avarento, mais fácil, porque Terêncio. como Plaulo. amiúde
tarde envolvei) no brilhante manto da haure "contaminava" sua obra com duas ou até três
comedie francesa. peças já existentes. Os hábeis entreeruzamen-
PubliusTerentius Afer. hoje mais conhe­ tos de pessoas reconhecidas ou confundidas,
cido como Terêncio (c. 190-159 a.C,), o se­ perdidas e de novo encontradas, não tornava
gundo dos grandes poetas cómicos de Roma, fácil para o espectador descobrir a intrincada
chegou à capita] vindo de Cartago. a orgu­ teci lura da ação. O Eunuco, por exemplo, ba-
lhosa cidade balida. Bárbaro de nascimento, seia-sc cm duas comédias de Menandro. e Os
foi trazido a Roma como escravo, da mesma Adelfos numa comédia de Menandro e numa
forma que Livio Andróuico. Seu senhor re­ de Dífdos,
conheceu os (alentos do jovem e o emanci­ Os Adelfos estreou, jmilamente eom uma
pou, No círculo de Cipião Africano Menor, remontagem de Hecira, por ocasião dos jogos
ele encontrou am istoso reconhecim ento e fúnebres em honra de Lúcio Emílio Paulo, que
apoio. foram organizados por Cipião Africano M e­
Suas seis comedias traem já nos tírulos nor, filho do homenageado c filho adotivo da
aquilo que Terêncio buscava - o estudo de ca­ família Cipião. E bastante possível que haja
ráter; o de um auto-atormentador em Aquele uma conexão entre o conteúdo da peça e a his­
que Cartigu a Si Próprio {Heautimtintoru- tória pessoal de Cipião Africano, Conta-se até
inrntis), o de um parasita em o Fnrmião mesmo que este último teria ajudado a escre­
(Phomúo). o de uma sogra em Hecira íHccyra) ver as comédias de Terêncio - acusação com a
e o de um eunuco em Eitiuuhus. Todas as seis qual o autor lida bastante diplomaticamente no
peças de Terêncio pertencem ao período entre prólogo de Os Adelfos:
I6(i a.C. - quando ele estreou com A nd ri o
IAndria} nos Ludi Megalenses — e 159 a.C.. Q uiinlii jio que t li/ citsd geuir mulévnU.
ano presumível de sua morte. que Itnmcn* ihiMítrs n ajudu»

- 14 ?
H is tó ria M Ítntiiai títt Te atr a •

c atviiwioicmc ocn -vcm com i lc. te não nas questões organizacionais, terreno
toitu como Imnor supremo em que os romanos foram sempre mestres, mas
o que esses tais cousiderum q u ec uma ilijii! u iru i
vcl...*' no tocante ao provimento do plano de fundo
arquitetural para o espetáculo.
Pouco tempo depois da apresentarão de A responsabilidade pelo lealro em Roma
Os Adt-l/os, Terêncio parliu para uma viagem cahia aos cnni/e aecliles, dois altos oficiais, que
à Grécia e à Ásia Menor, da qual nunca retor­ no início eram sempre patrícios, embora mais
nou. Desapareceu em circunstâncias desconhe­ tarde o cargo lenha sido aberto a plebeus. En­
cidas no momento em que tentava remontar o carregavam-se do policiamento, da arquitetura
caminho seguido pelos dramaturgos gregos e das obras de construção, da supervisão de edi­
que tanto admirava. fícios e vias públicas e respondiam pelo decur­
As comédias de Terêncio. entretanto, vi­ so harmonioso dos jogos, os Ittrlt e os cirreraes.
vem no teatro do mundo. Suas finezas draina- Os edis pagavam um subsídio público ao
túrgicas, cena de escuta bisbilhoteira, apartes, diretor do teatro (domimts gregis) para cobrir
táticas de ocultação e revelação de persona­ as despesas com atores e indumentária. Ini­
gens e motivos tornaram -se exemplares. cialmente, o palco ent si dava poucas despesas.
Hrotsvitha von Gandersheim, Shakespeare. Consistia em uma plataforma retangular de
Tirso de Mnlina e Lope de Vega. e os drama­ madeira, cerca de um melro acima do chão, cujo
turgos clássicos franceses e alemães adotaram acesso era feilo por escadas de madeira laterais
as técnicas de Terêncio. Em sua Dramaturgia c com uma cortina que o delimitava ao fundo.
íhf Hamburgo, Lessing, o dramaturgo alemão Era o mesmo tipo improvisado de armação para
do século XV111, discute, em considerável ex­ o jogo de ator que os ;jhvakcs do sul da Itália e
tensão, os méritos dc Terêncio e sua influen­ os mimos e interpretes da farsa aielana monta­
cia no teatro posterior. vam onde quer que esperassem atrair especta­
Em sua edição Ja obra eie Terêncio, a dores para ganhar algumas moedas.
htimanisia francesa Amie Lefcvrc Dacier. tra­ Lívio Andrõnieo e seus contemporâneos
dutora e adaptadora dos clássicos, declarou e sucessores tinham de arranjar-se com esses
entusiasticamente no final do século XVII: recursos primitivos; os atores, porém, precisa­
"Pode-se dizer que em todo o mundo latino vam ser tunlo mais talentosos e versáteis. Não
não há nada com tanta nobreza c simplicida­ usavam máscaras e se distinguiam apenas pe­
de, graça e refinamento quanto em Terêncio. c las pênicas, especialmente em papeis femini­
nada comparável a seu diálogo". nos, Era importune que suas vozes fossem chi­
tas e tivessem brim alcance. Conla sc que l.ívto
Andrõnieo certa vez teve suas falas dubladas
D o T a b l a d o d e M a d e ir a por um locutor escondido, fazendo apenas a
"mímica"'.
ao E d if íc io C ê n ic o
O público ficava em semicírculo ao tedor
da plataforma. Até l ãt) a.C.. pelo menos, ain­
O teatro romano cresceu sobre o tablado
da era proibido sentar-se durante um espetá­
de madeira dos atores ambulantes da farsa po­
culo teatral. Quando Cipião Africano Menor
pular. Durante dois séculos, o palco não Ibi
sugeriu que poderiam ser colocadas cadeiras
nada mais do que uma estrutura temporária,
parti os senadores e funcionários do Estudo, a
erguida por pouco tempo para uma ocasião c
proposta desse privilégio irritou o povo.
desmontada de novo. Embora os dramaturgos
Gradtuilmente, o palco primitivo foi sc
romanos tenham alcançado rapidamente seus
tomando mais hem adaptado às necessidades
modelos gregos, pelo menos em rermus quan­
da arte dramática. Primciramenlc. a cortina di­
titativos de sua produção, as condições exter­
fundo (sipurium) deu lugar a um galpão de
nas do teatro ficavam muito airãs - ubviamen
madeira, que servia de camarim para os ato­
res. Na frente do palco, onde por liai a scaeitar
■ Tradução ctv AiinrutiilKi Ua S iim . ii» ,- frrms romana tomaria o lugar da skrite grega,
}{■•■|C:<i. ' ■a ( . ’i/\ /'n ! R . A1 : 11: II>■> ! ' I Mli: uma eMnilura de madeira coberta, com pare-
10. iis ta íitc ilc máscara?- {Jir/m ji/ir,! para y comédia f-àrittio. de T crcncio, Do cm ma-
[insLriíLi de Tcrcncio, drj século IX. C otte.n Vu/irtfnu.f ÍM iu u tx . 3868,

-1 * . ; - . ríM iíii-L í-^^fo irrrr*. -


M r.jp-tír?^- —iinnll .V
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P 7f V i'jw .r -;j.ir f i: \^ r Ar:-?çr— ■ * i .- rJE,if ' VfCtT* ■<T.>»dl<l4f
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i~ v \} A i A

-'úfjzxcc .'■-íTrt^ufti-ír.
* A dfiífJ.i, uc.*í’ií í o-*iofr .1 1- dicz-xrn t m ..
11, Cena dâ com édia ,4 n j/rííí, de Terêncin: Shflu chama ts c fiz in h e iro .Sdsiaí- e macula clois ouirds servos entrarem nu
casa. (W r.i / ^ jíjíjí.s, 78d9 (Paris, HiUtiotiicquc Naiionalc).
Í h M < tn r t Mtíiut ií jt ilo Tc u n o *

des laterais. foi desenvolvida na época de caso de Os Gêmeos, havia treze máscaras, cor­
Plauto para atender às exigências cênicas. Três respondentes ao núntero de personagens da
portas davam acesso ao palco frontal por uma peça, mas provavelmente algum ator faz.ia vá­
parede de madeira - uma central (poria regia I rios papéis menores.
e outras duas laterais, num nivel mais baixo Cinco anos após a morte de Terêncio. em
(portae hospitaliaeY, mais tarde, foram acres­ 155 a.C., o censor Cássio Longino construiu o
centadas outras duas entradas. Esse expedien­ primeiro teatro com colunas decorando a
te permitia aos atores entrar em cena vindos sraenae frons, mas, depois de terminados os
de cinco “casas", solução essencial para as híf/i, elas foram derrubadas por ordem do Se­
cenas de rua de Plauto e Terêncio. Quanto nado. O mesmo aconteceu com a caríssima
menor era o palco, mais próximas urnas das estrutura de madeira erguida em 145 a.C., por
outras ficavam as portas. (No século XVI. in­ Lúcio Miímio. o conquistador de Corinto, para
clusive. ele atingiu compressão extrema no suas peças triunfais; este teatro completo foi o
palco "cabine de banho”, reconslrução feita pe­ primeiro a ter assentos para os espectadores, mas
los humanistas alemães para uso escolar.) —conforme relata Tácito nos /tirai,v (XIV:21) -
Cabe supor que Plauto. com sua experiên­ foi demolido após o final dos jogos.
cia atelana atrás dc si. também tomou parte Mesmo tardiamente, em 58 a.C., o edil
pessoalmente na encenação de suas comédias. Emílio Scauro leve dc curvar-se ã lei que proi­
Terêncio, porém, teve bastante sorte de encon­ bia a construção de teatros permanentes. Eie
trar um produtor influente, que levou todas as havia construído um grandioso edifício, com
suas peças: o diretor leatral Lúcio Ambivius uma scaenae frons organizada plasticamente,
Túrpio. A troupe dc Túrpio tinha boa repu­ com trezentos e sessenta colunas e um auditó­
tação j unto aos cnriile aetiiles. c como damirna rio que, segundo se alega, abrigava oitenta mil
gregis sabia de que maneira conduzir ao su­ pessoas: poicm. como os edificados por seus
cesso as comédias por ele recomendadas. O predecessores, teve de ser demolido.
acompan liame mo musical de suas produções, ObviumenIC. havia um limite ao poder do
com arran jo para várias flautas, era composto edil, sentado em cadeira curul. Mesmo os po­
pelo escravo Flácio. derosos edis. por um período de dois séculos,
Como o palco era montado próximo ao não puderam mudar o caráter provisório do
ciruis e muitas vez.es linha de competir com teatro romano antigo.
corridas de bigas, lutadores, dançarinas e Não se sabe ao certo se e dc que maneira
gladiadores, isto implicava amiúde pesadas eram utilizadas as decorações pintadas. Dc
Il ustrações para os poetas - como aconteceu acordo com Livv, o edil Caio Cláudio Pulehcr
Coni Terêncio no caso de iiecim. Mesmo quan­ foi n primeiro, em 99 a.C., a decorar a parede
do a peça foi remontada, Tcrênciu calculou o do palco com pinturas naturalistas. Por meio
risco de um acidente similar, pois escreveu al­ de registros, sabemos que essas paredes foram
gumas linhas para Túrpio no prólogo: ‘Haven­ pintadas cm painéis de madeira móveis, com
do o rumor de que há gladiadores por perto, a uma divisão central, o que possibilitava o seu
multidão vem correndo. Gritam, apressam-se deslocam ento para os dois lados da cena.
e brigam por um lugar", Vitrúvio, o famoso teórico da arquitetura, conta
Contrariam ente ao costume da época, pa­ que as pinturas laterais foram introduzidas em
rece que Túrpio, ao encenar O.t Gêmeos em 19 a.C., pelos irmãos Lúcin e Marco Lúculo,
160 a.C.. pôs máscaras nos atores, a julgar por desenvolvcndo-se m ais tarde no sistem a
um testeinunho do gramático Donato. Os imi­ penaktoi, um conjunto de bastidores em for­
tadores medievais de Terêncio não nutriam ma de prisma triangular, ordenados em sequên­
dúvidas a esse respeito; possuíam um estoque cia perspectiva e que giravam cm tomo de um
completo de máscaras para cada peça (prova­ eixo. de modo que, com um terço de rotação,
velmente baseadas em algum modelo comum, as decorações harmonizavam-se mini cenário
hoje perdido), e maminham-nas cuidadosa diferente. (O mesmo sistema foi novamente uti­
mente amimadas em prateleiras, ua ordem lizado no século XVII pelo arquitelode lealro
exata da entruda em cena de seus usuários. No* alemão Joscpli Fu rt te chuchem seu palco teiarí.

* ISO
« JifrtWlit

um desenvolvimento posterior do projeto tle ra ninito com os teatros gregos durante suas
reconstrução doperiaktoi amigo, publicado por várias cam panhas m arítim as e terrestres.
Vignola e Dami cm 1583.) Lcshos lhe parecia um modelo ideal quando,
Em certa ocasião, Virgílio descreveu como durante seu consulado em 55 a.C., obteve
as paredes da scavnae sc dividiam e, ao mesmo permissão das autoridades em Roma para
tempo, o periaktoi girava. As portas nas laterais edificar um tealro dc pedra. Usando dc um
do periaktoi tinham uma significação fixa, com inteligente estratagema, ele afastou o perigo
a qual todos os espectadores estavam familiari­ de o tealro ser demolido depois dos jogos:
zados; as pessoas que entravam pela esquerda acima da última fileira do anfiteatro semicir­
vinham do exterior, as que entravam pela direi­ cular, ergueu um templo para Vénus Victrix.
ta vinham da cidade. Nos primórdios, um altar a deusa da vitória. Os assentos de pedra —ele
era erguido no lado esquerdo do palco, com a argumentou - eram o lance de escadas que
estátua do deus em cuja honra a peça era apre­ levavam ao santuário.
sentada. e que, nos jogos fúnebres, era substi­ Pompcu venceu, e assim Roma teve o seu
tuída pela estátua do falecido. primeiro leatro permanente, situado na extremi­
O uso do guindaste como dispositivo de dade sul do Campus Manias (ainda é pussível
vôo—que entrara ein desuso na Grécia na épo­ ver suas ruínas junto ao Palazzu Pio). Recons ■
ca da Ciomédia Média - como também de ou­ truções mostram que sua planta tomou-se, sub-
tras máquinas de movimentação, era reserva­ seqiientemente. earacterísticada construção do
do em Roma para os jogos circenses nu arena leulro romano. A parede do palco é decorada
e nu anfiteatro. Um novo invento, que desde com colunas e o auditório, de formato semi­
então se tornou parte de qualquer teatro do circular. é dividido cm fileiras por dois gran­
mundo, foi discrelamente introduzido em 56 des corredores e em seções em forma de cu­
a.C., à margem do desenvolvimento literário e nha por escadas radiais ascendentes. No alto.
técnica do teatro romano: o pano de boca. o auditório era fechado por uma galeria colu­
Seu predecessor em terras romanas foi o nada e ornamentada com estátuas.
siparium branco, que os mimos costumavam Dominando todo o teatro como uma igre­
baixai para esconder a scaeiiac fioits nos inter­ ja medieval fortificada, ergue n tsc as íngremes
valos das tragédias e comédias, e diante do qual empenas do lemplo de Vénus Victrix oposto à
representavam seus diálogos farsescos e bufos. scaenae fm ns. A presença dos deuses, que no
Conforme os cenários iam se enriquecen­ teatro de Dioniso em Atenas havia sido a con­
do, surgiu a tendência natural para apresentá- dição de um culto religioso, (ornou-se um pre-
los ao público como uma surpresa. Contraria- lexto iliplomálico no tealro de Pumpeu, em
mente ao costume moderno, a cortina caia no Roma. Para Pom peu. sobrepujar o iiim le
início da peça. Os painéis dc tecido móveis ucililex e o Senado fora uma questão de prestí­
eram fixados na beirada dianteira do teto da gio; sete anos mais tarde, etc prõpriu foi eclip­
scaenae fntns, sendo baixados para dentro de sado por um homem mais forte, a quem o
um fosso estreito ã frente do palco. Este fosso populacho havia vaiado pouco tempo untes,
ainda pode ser visto claramente nos teatros de quando ele aparecera nos jogos dos gladiado­
pedra romanos, como por exemplo em Orange, res: Júlio César.
no sul da França. O teatro europeu adotou esse Nessa época, as celebrações dos Ludi
sistema do pano de boca íaittaeuiu) na época Romani eslendiam-se por quinze ou dezesseis
do Renascimento. dias. Por ordem dc César, Brutos viajou a Ná­
poles a fim de recrutar "artistas dionisíucos"
para os espetáculos teatrais grcco-rumanos que
O T e a t r o na R o m a I m p e r ia l aconteceriam em todos os distritos urbanos dc
Roma. Ames de ser mono aos pés da estátua
O primeiro teatro de pedra romano deve de Pompeu. em 15 de março do ano de 44 a.C.,
sua sobrevivência a um ardil. Foi conslruído Júlio César autorizara a construção de um novo
por Pompcu, aliado e posterior mente adver­ teatro tle pedra, abaixo do Capitólio, nas pro­
sário de Júlio César. Pumpeu se impressiona­ ximidades do Tíbre.

- lil
12. O prim eiro teairo permanente de Roma, construído cm 55 a.C. por Pompeu com o um e d ifíc io de múltiplas
serventias. <jue incluía um rcroplo de Vénus (reconstrução dc L im o n g e llij.

13. Águy-tortc dc fira n c s i (c, 175<1>: vista exterior do Teatro de M arcelo eto Roma. term inado em 13 a.C\, no
b in a d o dc AtiCtisin.
M. Teairo rom ano na Á sia M enor: Gcrusíi i ícraxh. Jordânia), construído no sdculn II d.C.,. ik> reinado de Adriann.
H i s t ó r i ú Mutu tia i do Ttruiro •

O edifício foi terminado no remado de cm Atenas foi enriquecido, durante o reinado


Augusto e, em 13 a C , dedicado ã memória de Nero, com uma scaenae fn m s em estilo ro­
de seu jovem sobrinho, Marcelo. Pouco tem­ mano. decorada com relevos. Alguns metros
po antes, os romanos haviam testemunhado a alem, na encosta sudoeste da Acrópole, o rico
inauguração de mais um teatro de pedra, cons­ orador Herodes Ático construiu um otieum no
truído por Lúcio Cornélio Balbo, amigo de estilo romano em 161 d.C,, em memória de
Pornpeu. Desta obra restam apenas algumas sua falecida esposa. Regila. O auditório
poucas ruínas dispersas, preservadas na Via de! icavea) é de formato tipicamente semicircu­
Pi auto, perto do Palazzo Ccnci. lar. como são igualmente típicas as pilasiras
No entanto, as paredes externas do Teatro nas paredes do palco, cujas alas laterais se
de Marcelo - capaz de abrigar cerca de vinte projetam, formando uma conexão com a cavea
mil espectadores e, por isso, o maior dos tris - e criando, assim, uma unidade fechada e har­
ainda resistem. Emhora não tenha sido usado moniosa. O teatro foi originalmentc chamado
para a sua proposta original durante séculos, odeum por ser usado principalmente para es­
ainda Itoje o edifício transmite a impressão do petáculos musicais: mais recentemente, tem
majestoso esplendor de sua arquitetura. A pre­ sediado o Festival de Verão de Atenas.
dominância do ‘'classicismo angu st iano'' refle­ Um dos mais bem preservados teatros ro­
te-se na sequência didática das formas estilís­ manos fora da Europa é o de Aspcndus. na Ásia
ticas emprestadas da Grécia, um modelo que Menor, que foi desenhado pelo arquiteto Zeno
seria repetido numa escala ainda maior oiten­ durante o reinado de Marco Aurélio (161-ISO
ta anos mais tarde, no Coliseu. Aqui as ar­ d.C ). O auditório, parle do qual é edificado
cadas altas, abobadadas, são articuladas por sobre a encosta da colina, forma uma unidade
colunas embutidas de estilo dóvíco no primei­ fechada com o palco, atrás do qual há um cor­
ro pavimento e de estilo jónico no segundo, ao redor estreito de onde cinco portas permitem
passo que as colunas de estilo corínlio do tercei­ o acesso a ele (pulpinu«>; duas outras entradas
ro pavimento não se preservaram. Ao esboço in­ levam ao palco a partir das paraskenia, em
terno do Coliseu correspondia a estrutura da ambos os lados. A suntuosa fachada da scaenae
fachada. Primenamente, havia o semicírculo fnm.\ era protegida por um leio, como o que
inferior de assentos, subdividido em seis se­ existia também no odeum de Herodes Ático e
ções; acima, o semicírculo superior, subdivi­ no teatro do século I de Orange.
dido proporcional mente em doze seções; e, so­ Os ro m an o s acrescen taram novas e
bre a fileira mais alta de assentos, havia uma magnificentes fachadas, ou pelo menos pedes­
galeria coberta, sustentada por colunas coríntias. tais de proskenium coin decorações em rele­
Esse modelo básico reaparece, com mui­ vo, a muitos teatros gregos da Ásia Menor —
tas variantes, em todas as casas teatrais roma­ como por exemplo em Pérgamo, Priena, Éfeso,
nas, tal como nas bem menores de Herculano, Termesso, Sagalasso, Patara, Mira e lasso. Isso
Aosta, Falério e Ferenlo, que mostram, sem servia também para baixar a posição do pal­
exceção, influência romana direta. Os mesmos co, de acordo com a prática romana. O teatro
princípios se aplicam, em menor escala, aos de Mileto foi reconstruído a partir do final do
teatros da costa norte da África, como por século 1 c completado na época do reinado de
exemplo em Djemila (EI Djcm), Leptis Mag­ Adriano. As construções em Mileto devem ler
na ou Timgad, uma cidade construída por sido m agníficas, a ju lg ar pelo im ponente
Traja rui para veteranos de guerra. Quase to­ portão do mercado, hoje reconstruído no M u­
dos esses foram construídos durante o século seu de Pérgamo, em Berlim. A nova scaenae
II d.C. c usados largamente para o entreteni­ frons do teatro foi, sem dúvida, erigida na
mento das guarnições romanas. mesma magnífica escala. Nos dias imperiais,
Com a expansão do Império Romano, o bastidores pintados, de madeira ou pano, pro­
princípio dos conquistadores sempre foi esten­ vavelmente não mais eram usados, porém a
dei às novas lenas não apenas um sistema de combinação de vários pisos, sustentados por
governo central, mas também as realizações colunas e com relevo em perspectiva. propor­
de sua civilização imperial. O teatro de Dionisu cionava ao palco da comédia unia variada
154
■ ffofrtrl

gama de terraços, janelas e balcões para as dc honra apenas alguns anos antes dc assistir
entradas (los atores. ao incêndio da cidade do alto de seu palácio.
A fusão de elementos helenísticos e ro­
manos, tanto no sul da llália quanto na Grécia,
durante muito (empo fez com que espaços tea­ O A N FITEA TR O : PÃO E CIRCO
trais separados por grandes distâncias geográ­
ficas e temporais usassem ao mesmo tempo os Os dois traços caraclerísticos do Império
tlois tipos dc sistemas etnográficos - as deco­ Romano, tanto em questões de arte quanto de
rações pintadas e as paramente arquiteturais. organização, eram a síntese e o exagero, que
Enquanto no grande teatro de Eompéia. em podem também ser encontrados nas formas
Roma. o fundo de cena ornamentado, esculpi­ específicas do teatro romano. O drama sozi­
do e arquitetural provavelmente dominou su­ nho não oferecia campo suficiente para a exi­
premo mesmo depois do início da era cristã, bição do poder e esplendor. O teatro da Roma
os diretores de teatro romano em Corinto, no imperial queria impressionar. Na verdade, ele
século II d.C., ainda estavam iraballiando com precisava im p ressio n ar num im pério que
cenários de madeira praticáveis e mecanismos ahrangia desde o extremo norte da Germània
de fosso. até as costas da África e a Ásia Menor. Onde
Apuleio, o autor dc O Asna de Oura c um quer que as legiões romanas pisassem, eram
homem tão apaixonado por viagens quanto seguidas por “jogos'’ que forneciam diversões
peio ridículo, nos deixou a descrição de uma e sensações de todo tipo, para manter o moral
apresentação do balé P ók Víj em Corinto? o nas fileiras romanas e entre os povos conquis­
cenário, de madeira, mostrava todo o Monte Ida, tados.
cheio de animais, plantas e fontes —fontes reais, Dentro dos territórios periféricos da civi­
das quais jorrava água. Arvores e arbustos vi­ lização lieicnística. os romanos aderiram com-
vos também faziam parte do cenário. Contra pletainente á tradição do teatro skene, simples­
esse fundo, o Julgamento de Páris era dança­ mente adaptando-a às exigências dos açula-
do por um belo adolescente e mulheres ■'divi­ mentos de anim ais, jogos de gladiadores e
nas”. Vénus surgia nua. salvo por uma estreita naumachiai (batalhas navais); no coração do
faixa de seda em tomo dos quadris, rodeada império, ao contrário, construíram o anfitea­
de C upidos dançarinos. H oras e G raças. tro cspecilicamentc romano, desenhado para
Minerva era acompanhada por horríveis de­ espetáculos de massa, bsle combinava os re­
mónios. Juno por Castor e Pólux. c Páris por quisitos da arena do tircus com o princípio da
seu rebanho. Ao final do balé. uma fome emer­ unidade teatral contida cm si mesma, numa
gia do cume do Monte Ida e perfumava o ar. e solução de imponente grandeza.
depois dessa cena a montanha era abaixada A predileção pelo circo, que o satirista c
com a ajuda de uma máquina. Tudo isso soa poeta Juvenal atribuiu tão insolentemcnte a
como a descrição da época do teatro barroco, seus contemporâneos no poço de iniquidades
com seus aparatos mecânicos. que era Roma remonta, na verdade, aos pri­
Montanhas que explodem, erupções vul­ meiros colonos às margens do Tibrc. A enor­
cânicas e palácios que desabatn sempre foram me arena do Circus Maximus datava, ao que
efeitos cénicos populares. {Quando a Ópera de sc dizia, já da época de Tarquínio. Os etruscos,
Paris apresentou, em 1952. a reconstrução das cm seus jogos funerais, haviam desenvolvido
Índias G alantes, de Rameuu. com toda a lutas dc gladiadores e competições muito tem­
parafernália ccnica do barroco e com cenários po antes dc os romanos as terem introduzido.
tfe Wakhcvitch. Carcov. M oulène e Fost e O Circus Maximus foi repelidaiticnte aumen­
Cliapelain-M idy. teve casa lotada durante tado e melhorado sob o governo de Júlio César,
ailos.) Numa fabula lagata de Lúcio Aíràiuo. Augusto. Vcspasiano. Tito, Trajano c Cons-
chamada Casa em Chamas, uma casa rcalmen- lanltno, de onde jamais pode se concluir que
tc foi incendiada no palco. O espetáculo rece­ perdera sua importância em lodos esses sécu­
beu aplausos entusiásticos, c. ironicamente, o los, nem mesmo na época cm que os cidadãos
imperador Neto assistiu sentado cm seu lugar da res />«/>/« it anuíam , em mais dc e t nt dias

* 155
16. Portàú do mercado de M ik io , provavelmente um c.vempto iln u s li lo arquitetônico <Lt casa palco do teatro de M i loto,
cuja reconstrução fo i terminada no reinado de Adriano iH c rlim , Stoulhchc M u^cen, lJergamonmoseum.>.

17. Á g it.v frjiie d c PiraitcM (c ]7 5 íli: o Coliseu em Kmntt, cmiM ru íd o soh o rciiuuki do im p i-ru jo r lla v ia iu i, Venpiwiaiio,
terminado em HiJ tí.C.
* fítttmt

do ano, ao mais grandioso teatro dos impera­ ilium elevado, na primeira galeria ficavam os
dores flavianos - o Coliseu. lugares de honra dos senadores e oficiais, sa­
O Coliseu teve dois predecessores bastante cerdotes e veslais. A segunda galeria acomo­
dispares. Um deles foi o anfiteatro de Pompéia, dava a nobreza e os oficiais, a terceira os patrí­
construído por volta dc 50 u.C . justantenie ao cios romanos, e a quana galeria, os plebeus.
lado da palaesim, mas que ainda não dispu­ Parece lambem ter havido uma colunata reser­
nha de nenhuma suln subterrânea para abrigar vada às iiiulheres.
as jaulas de animais ou a maquinaria necessá­ O auditório podia ser coberto por toldos
ria para erguer feras, cenários e acessórios. O de linho, a fim dc protegê-lo contra o sol e a
segundo foi Uma curiosidade teatral, erigida chuva. Ao longo da cornija superior dos mu­
por Escribôrio Cúrio em Roma, em 52 a.C,, ros externos encontram-se, a intervalos breves
para os funerais de seu pai. presumivelmente e regulares, suportes nos quais se encaixavam
por ordem de César. Consistia em dois teatros os duzentos c quarenta mastros que sustenta­
semicirculares de madeira, situados de costas vam os toldos, içados por marinheiros da es­
um para o outro. Pela manhã, era apresentada quadra imperial. Embaixo da arena fieavam os
uma peça diferente em cada palco; à tarde, os túneis com as celas para as jaulas dos animais,
dois teatros eram virados para que. juntos, for­ maquinaria para o manejo de decorações e mu­
massem um anfiteatro. Em sua arena fechada, danças de cenário, como também os encanamen­
apresentavam-se lutas de gladiadores, como se­ tos necessários para inundar a arena quando os
gunda parte do espetáculo. O milagre técnico, espetáculos dc batalhas navais (ntut-machia?)
segundo se conta, ei a realizado sein que os es­ estavam no programa.
pectadores dos dois auditórios precisassem Com toda a certeza, nenhum drama de
deixar seus lugares. qualquer mérito literário foi jam ais apresenta­
O Coliseu, prim eiram ente conhecido do no Coliseu Seus muros abrigaram tudo o
como Anfiteatro Flaviano, foi erguido no lo­ que correspondia oo show e ao espetáculo no
cal que Nero incendiara, no declive que ele sentido ntais antplo da palavra. Na época de
havia enchido com água, a fim de formar o Augusto, a ênfase na programação teatral já
lago em cuja margem construíra seu palácio, a havia passado tão radicalmcute do drama fa­
Casa Dourada. A construção do Coliseu foi ini­ lado para o show de variedades que atores
ciada em 72 d.C., pelo sucessor de Nero, o im­ atelanos. mimos e atures de pantomima tinham
perador flaviano Vespasiano, e terminada em pouco a temer na competição com atores dra­
RO d.C. Nas cerimónias inaugurais do novo máticos. Esqueies curtos, palhaçadas, canções
Anfiteatro Flaviano. que se estenderam por do tipo imisir hnll, revistas, acrobacias, inter-
cem dias, aproximadameute cinquenta mil pes­ iiu-ztí aquáticos, núnteros equestres e espetácu­
soas lotaram o auditório para as lutas dc gla­ los com animais eram montados para divertir
diadores e o açulamento e matança de animais. um público que vinha ao teatro com nenhuma
Cinco mil animais selvagens foram mortos outra qualificação que não fosse a dc ser con­
nessa ocasião. sumidor.
A memória de Nero, indireiameme, sobre­ Sob o governo de Domicinno, o sangue
vive no nome popular pelo qual a majestosa cristão correu no anfiteauo. Sua tentativa de
construção ficou conhecida desde a Idade M é­ instituir as Capitolia como um contraponto aos
dia. É chamada de Coliseu (Cotossawt) por Jogos Olímpicos gregos não limpa a sua figu­
causa da colossal estátua de Nero, dc 25 metros ra. As competições nacionais de esportes e rea­
de altura, fundida por Zeuodoro cm bronze lizações intelectuais de Domicinno escorreram
dourado, representando o imperador como o na areia da arena.
deus do sol. Nessa época, os romanos não queriam ter
A construção externa sc ergue em quatro nenhuma experiência intelectual marcante no
poderosos pavimentos, com colunas de estilo teatro. Queriam o.v/irnr. Aplaudiam aqueles que
Uórico, jónico e eorínlio. alternadamente: den­ tentavam ganhar popularidade no anfiteatro
tro, quatro galerias acomodavam os especta­ com grupos espieiaeuiares dc artistas, belos
dores, Alem do camarote imperial, num po- animais, solistas espirituosos, músicos e hu-

IÍ7
r

IX 1'inlura cm parede de Rompei;.: o anlilcaln. .consum ido L-m XO a.C\) e t> espciáculn de uma com petição e.u seu
im enor em 59 a.C .Nápoles. M usa. N a nou alei
19 , R c Ic v í í dc um sarcófago cm mármore: corrida de biga nu Cim o M áxim o, cm Rom a. Final do século III d.C.
(Foligno, M useu Civien),

2i). Relevo cm m arfim ; n^ulam enlo do anim ais na arena. De um d íptico do cônsul Anastácio, 517 d.C. (Paris, C abinel
des McduilJcs, rcibhollrèijuc N aiioim lci.
21 Relevo cm terracota: eena <le gladiadores c leões. À esquerda, espectadores cm seus camarotes; u d irei ca, a estátua
de urn deus (Roma, coleção dn antigo M useo KjrclicrianoJ.

22, M riscura da aiclans romana, período tardio, com o


nariz to rto e a típica vem iga na testa, aqui exagerada. Em
terracota (Tarento, Museo N a zjonak;.
• Ro m a

toes. A popularidade de um novo cônsul cres­ dade L'Slã cheni de inimigos. Nao iiconicce mais na fumo­

cia ou decaía com os espetáculos teatrais que sa cidade de Trier. porque ela jnz em ru ín as depois de
quádrupla destruição, Mijo aconiecc m ais c h i limitas das
organizava ao tomar posse do cargo na época cidndc.s da Gália c da lispauha
do Ano Novo. Nu me ri ano e Cari no, em 284
a.C., ainda se contentaram em contrapor um Salviano, cie próprio provavelmente nas­
urso como comparsa do mimo - ou possivel­ cido em Trier, acusava seus conterrâneos de
mente um homem disfarçado de urso, já que o haver pedido ao imperador que restabelecesse
Ano Novo romano era celebrado por lodo o os jogos de circo “como o melhor remédio para
povo com mascaradas de animais, mesmo fora a cidade arruinada”: “Eu acreditava que, na
da arena, Mánlio Tcodoro, porém, em 39Í) d.C,. derrota, havíeis perdido apenas vossos bens e
organizou um programa bem mais ambicioso posses, mas eu não sabia que havíeis perdido
para os jogos que financiou a fim de celebrar a também vosso juízo e bom senso, É teatro que
inauguração do seu mandato oficial. Nessa oca­ quereis, é circo que exigis do governo?” Como
sião, a parte grandiosa do espetáculo consistia teriam sido gratificanles essas palavras para
cm lutas entre homens e animais selvagens, Juvenal!
que sofriam ou causavam derramamento de
sangue. O cenário do espetáculo era o Coliseu.
Não existia mais uma linguagem comum A FA rula Atblana
para o heterogéneo mosaico do Império. O dra­
ma romano exaurira sua eficácia teatral com O declínio do drama romano e a extinção
Planto e Terêncio. As comédias e tragédias de da comédia abriram as portas do teatro estatal
seus sucessores eram artigos válidos apenas romano para uma espécie rústica de farsa co­
para o dia, ou, como nas obras de Sêneca, se nhecida como fábula atelana. Já no século I]
achavam a quilómetros de distância do gosto a.C., os atores da farsa popular da cidade os-
de um público imeiramenie sintonizado com cana de Ateia, na Canipânia, haviam se enca­
corridas de bigas, jogos na arena, incitamento minhado em bandos, para o norle, na direção
de animais e bufões. de Roma. pela Via Appia. À ruslicidadc de suas
O que o teatro romano do período impe­ m áscaras grotescas correspondia a robusta
rial ganhou em extensão geográfica precisou irreverência de seus diálogos improvisados.
ser pago com a perda lotai do caráter nacio­ Seu repertório modesto sc apoiava em meia
nal. Converteu-se num instrumento a ser loca­ dúzia de lipos, com oo malicioso Maccus. que
do em qualquer partitura, cora qualquer par­ compensava seu desajeitamento com unia alia­
ceiro. Quando Teodorico, o Cirande, tornou-se da argúcia; o roliço e simplório Bucco. sempre
senhor da Itália, no inicio do século VI, pen­ derrotado: o bondoso Velho Pappus. cuja senili­
sou que não poderia oferecer nada melhor para dade era objeto das mais cruéis mordacidades; e
reconciliar os orgulitosos romanos com um rei o filósofo giutão e corcunda Dossenus, alvo Ih-
germânico do que a mais variada seleção de voriío das gozações dos camponeses iletrados.
jogos de circo e pantomimas. O s alores atelanos, aos quais se juntaram
Mas o declínio do poder imperial romano mais tarde tamlrém OS intérpretes romanos pro­
havia diminuído o brilho do seu teatro. Embo­ fissionais, tinham sua própria função nos fes-
ra a Igreja cristã tivesse repelidamente repro­ livais de teatro estatais. Como as peças satíricas
vado o povo por "negligenciar os altares e ado­ da Grécia, davam um final cómico, grotesco
rar o teatro”, Salviano, por volta do século V, (exodium) às apresentações de peças históri­
escrevendo de Marselha, pôde acrescentar com cas sérias e às tragédias nos Ltidi Roinani, uma
razão uma reserva: retaguarda alegre, conforme coloca um dos
escoliostns de Juvenal, “para ajudar os espec­
Mas a r-espos.cn j e.ss-ci acusação é lalvcz c|ue enl faro tadores a secar as lágrimas”. As alelanas tive­
não acontece em iodn< na cutadcs comunas. Isto c verclu- ram seu período áureo no século I a.C., quan­
dc. Eu poderiii íj uíjkLi suai* lemee e dizer que isso não
do os dramaturgos romanos Pornpônio e Nóvio
acontece agora omie acontecia sempre no passado. Não
ftCCmTcce mais eni M ninz. porque n cidade está aiTuiiudii resolveram dar forma métrica à farsa rústica e
e destruída. Nilo ucomece mn3\ cin C o lúnitt. porque a c i­ repleta de obscenidades. Não obstante, conscr-
■ 161
b h a t ò r ú t M tn u lm f th\ T r a ír a ■

-3 - X.i.KM, ' c !!' O slo . S ju liill yo i.■I!■ ,!. iik -.i


r*tftiue>:i tty I-irii li k - Í I II .1do vysii o>ea ||' r |\S J 11.1
fiiílCt ■'!C i.111;i i ; , -iu | | (

varam o dialeto dos camponesas latinos, jun-


lamenie com sua expressividade rústica - como
por exemplo, quando alguém pergunta: "O que
c o dinheiro?" e recebe a pitoresca resposta:
"Uma felicidade passageira, um queijo da S ar­
denha fou seja, que se derrete rapidamente)".
Embora haja sobrevivido à tragédia e ã co­
média, a farsa atclana perdeu terreno para o
niímiu na época dos útlimos imperadores.

Mus da pendi d li Icuias as pn^incias do Imjiéno lio mcontesle de apresentação. A partir dc 173
Rcihjihj c provavelmente conservou os principais H]Hj% a.C.. os Ludi Florales, um festival de primave­
fixos da ííirsn da Cuiiipilinu, Uso é s u r d id o . em (n n u c i- ra que durava vários dias. tornaram-se uma
iv> In^nr fVlu cncLinsi.liicia dc qiiL* as fuãscaras tk* (odoc
as pnriCs Ji.i mundo, dc <.'irtu. \'ct escmpk\ a T.nvnti* e
ocasião para a arte teatral “íntima'*. Enquanto
á Guimámsi. são eM iw rd n iiu in H iç m e parecidas. Um sc- no Circos Maxirmis, bem próximo ao templo
gwudo J(,tyai', h.i fi deuilhc de que em lodus ess<i> de Flora, hodes e lebres eram incitados em hon­
iíis se repete sempre upui vcriuy.» iu lesia, Tal excres­ ra da deusa, em vez de feras, o mimo a honra­
cência iornou-se conhecida, na AnUyuóJyJc. cotnu a
va a seu modo. com bufonarias Táticas e gro­
doençn da Canipâniu.. O falo dc as mtascara lurscscas
[OinailHS rcpíOsluí irem essa Jinaillluitdudr, lida como
tescas. e com o atraente encanto feminino -
cuimcii. prova ao mcsnio tempo qiiu si lursn mmaiui bai­ porque o mimo foi. desde o princípio, o único
xa foi iutlOkillCMda jx*to mmio uimei.sal mente popnlai1 género teatral em que a participação da mu­
rM B icU-m lher não era um tabu. A muna e dançarina que
exibia sua flexibilidade acrobática na Florália.
que podia - e rinha de poder - atrcver-sc a ho­
M im o e P a n t o m im a menagear a deusa da natureza em flor despin­
do suas vesles, é a irmã de todas aquelas que
Ao contrário dos atores ntelanos. os m i­ têm exercidtm atemporal ofício de agradamos
mos romanos não usuvnm máscaras. O mimo homens. Ela é a irmã da dançarina hindu que
lião necessitar a de nada mais do que de st pró­ responde à pergunta do estranho: "A quem per­
prio, sua versatilidade e sua arte da iimizçún - tences?" com a seguinte franqueza: ‘'Pertenço
em resumo, de sua ntiitiesís. Mesmo o discur­ a li" E ela é. também, uma irmã da atriz do
so era apenas um acessório, Scnmioiies, cal d e i­ mimo de Bizãneio, com quem o imperador
ros. era como os romanos chamavam os mi­ Justiniano dividiu seu trono e a quem fez
mos, uni apelido que parece ter sobrevivido im/icrairix He lodo o Império Romano.
no Zanuí, o folgazão da Commedia deWartc. Os mimos representavam â beira da esi ra­
"Pode haver algo mais ridículo do qnc o da, na arena, numa plataforma de tábuas nu na
Sannio", <li sse Cícero depreciai ivameme. "que scaenae fn m x do teatro. Usavam as roupas
ri com a boca, o rosto, os gestos zombeteiros, comuns dos homens e mulheres das ruas - far­
com a voz, e até mesmo com todo o seu coqm?" rapos. como os das pessoas que representavam,
Era a essa arte de rirc provocar o riso que como eles próprios o eram - uu seda e broca­
o mimo devia a sua popularidade em Roma. dos, quando conseguiam os favores de algum
Nos Ludi Romuni, ele tinha permissão para patrono rico. O bobo vestia uma roupa de re­
estender sua cor li lut branca isiptinuni) através talhos coloridos {c?ntiiiiinlus), como a usada
da cena e apresentar suas pilhérias nos inter­ ainda hoje pelo Arlequim, e utn chapéu pon­
valos entre as tragédias c sis comédias. Na ver­ tudo (íj/v .v; dai a expressão poste ri nr, ápitin-
dade, nas Floral ias, dispunha de um monopó­ Aii.sl. O mimo usava apenas uma sandália leve
■ 162
■ Routu

nos pés, que diferia do citthiinius do ator trá­ efígies e estátuas erguidas em praças públicas,
gico c dasorrrrx lio comediante; essa sandália no circo c no anfiteatro, mas que tratá-los cm
lhe valeu, cm Roma, a alcunha de phuiipedes. pé de igualdade só podia ser perdoado a um
O gramático Donulo. porém, teto uma expli­ imperador, nunca porém a um nobre.
cação menos bondosa: de acordo com ele. o O diretor e ator principal de uma iroitpe
mimus cru chamado de phwipc/iia porque seus dc atures e atrizes de mimos era chamado de
lemas ciam tão vis e seus atores tão baixos, an himitiius. Era ele quem supervisionava a
que só podia agradar a libertinos e adúlteros. peça e determinava seu desenvolvimento, se
Ccsar pensava de outra forma. F.m sua épo­ ela seguiria uni texto literário ou se seria im­
ca, o mimo c a pantomima, seguros da proteção provisada. No século VI d.C., Coricio de Gaza
imperial, superaram todas as outras formas tea­ escreveu que o mimo precisava ter mna hoa
trais. Dois homens de classes e origens eoiupie- memória paru não esquecer seu pape! c con­
tameme diferentes salientaram-se em Roma fundir-se no palco. A improvisação exigia um
como escritores dc "textos" para o mimo: o no­ equilíbrio muito preciso no fio afiado da pala­
bre Décimo Lahérut e o ator Piiblio Siro. vra. espccialmente na época dos imperadores
Um incidente tragicõmtcn que ocorreu a e das competições por xcus favores.
Labério exemplifica tanto a glória quanto a m i­ O arquimimo Favor sabia que teria o pú­
séria do mimo. Lubério era um homem de e s­ blico ao seu lado quando, tios funerais do im­
pírito e educação, que se divertia escrevendo perador Vespnsiano em 7!! d.C., an iscou uma
textos para os atores dn mimo: mmctL teria so­ piada que parodiava um dos muís bem conhe­
nhado. porém, em subir, d c próprio, no palco. cidos traços do falecido: a prudente c calcula­
Mas ele vivia sob o governo de César, e César da economia, que havia lhe valido a reputação
entendeu certa vez que devia obrigar o velho dc mesquinho. C otiuicra costume nas cerimó­
Lahério. então com sessenta anos, a tomar parte nias fúnebres. Favor interpretou o papel do
num concurso de interpretação contra Públio mono, querendo saber quanto havia custado o
Siro. Para o ancião, isso constituía uma vergo­ funeral. A resposta foi: "Dez m ilhões de
nha pública, mas César divertiu-se vendo o sestércios". Diante disso, Favor, nu papel do
conceituado nobre suportar as piadas grossei­ falecido Vespas ia no, gracejou que seria melhor
ras. à maneira dos mimos. ecunomizar toda essa quantia, dar-lhe cem mil
Não foi de grande ajuda para Lahério, no sestércios e jogá-lo na Tíbre.
papel de um escravo castigado, ter exclamado A arte do teatro havia se transformado na
reprovadoramcnlc "Ai de nós, romanos!, nos­ habilidade do intérprete- Divorciada da obra
sa liberdade sc Ira!” c. apontando ainda mnis dramática do poeta, foi deixada un critério do
diretantenlc para César: "Quem é temido por ator individual. Aproxiillava-se a grande era
muitos, há dc temer a muitos!" César riu mui­ das pantomimas, que sempre florescem lá onde
to e deu o prémio a Públio Siro. as fronteiras da linguagem c os desertos da co­
Quando Labério, após o amargo Csiietá- municação verbal precisam ser transpostos, e
culo. quis tomar dc novo o seu lugar entre os elementos nativos, reconciliados com elemen­
nobres, nenhum deles sc mexeu para dar-lhe tos estrangeiros. A pantomima foi a estrela tea­
espaço, nem mesmo Cícero. "Eu ficaria feliz tral das resplandecentes festividades do Egito
se pudesse oferecer-te tim lugar junto de mim. sob o governo dos Ptolontcus. e a favorita dos
se eu mesmo não estivesse tão apertado aqui", Césares e do povo romano.
tentou desculpar-se. Porém, se u honra dc Quando o imperador Augusto baniu dc
Labério havia sofrido, o mesmo não aconte­ Roma o pantomimo Piladex, houve tamanho
cera a sua presença de espírilu; assim, eic re­ pmleslo popular que ele foi obrigado a logo
plicou: "E estranho que estejas sentado numa revogai a sentença e chama-lo de volta do exí­
posição tão apertada, já que sempre consegues lio. Piladcs era grego, oriundo da Alicia. 11,1
semar-le em duas cadeiras de uma vez". Ásia Menor. Especializou-se na pantomima
Esse incidente c indicativo das distinções trágica, e foi exaltado por seus contem po­
sociais dentro do teatro, tile caracteriza uma râneos como 'sublime, patético, muliifiice-
classe dc artistas que são homenageados com tadu” . heu papel mats brilhante era o de Aga-

■ Itt 3
M t s ià r ia M u n tU a i tio T r tu r tt *

menon. Foi graças a Pilades que, a partir de 22 namento do leatro romano”, leve de pagar pe­
a.C.. as pantomimas passaram regularntentc a los favores da jovem imperatiz com u própria
ter o acompanhamento musical de uma orques­ vida. quando o enciumado imperador Dumi-
tra de muitos instrumentos. Ele fundou uma ciano um dia o desafiou na rua. esfaqueandoo
escola de dança e pantomima e supõe-se que com as próprias mãos.
tenha escrito os princípios de sua arte num tra­ Quintiliano, o grande orador da época de
tado teórico que, entretanto, se perdeu. Donúciano. escreveu a apologia artística da
Não menos popular que Pilades foi seu pantomima. Os panlomimos. disse Quintiliano.
contemporâneo Batilo. a quem Mecenas, o podiam falar com OS braços e mãos:
patrono romano das artes, auxiliou em seu ca­
m inho para a fama na pantom im a. Batilo F,k<h pod em lalfir, SttpKcw. prometer, d iintur. recu-
também era grego, nascido em Alexandria, e siu, •iniLNrçàr c implorai:; cxprrssani iiv n sào . nicilo, d ú v i­
da. K cti»L aJcgrii), aflição, hesitação, reconhecim ento,
veio para a casa de Mecenas como escravo.
rvnuiisci, m oderação c excesso, m taic to e tem po. N àd são
Tomou-se o ídolo das damas romanas —um c b capazes d e e x a la r, Acalmar, suplicar, aprnvur, ad m i­
jovem sensível, de graça feminina, cujo nu­ rar, m ostrar vcw ortha? N ão servem, com o o s p m n m u es e
mero solo “Leda e o Cisne" era entusiastica­ advérbios, para designar ki^orcs c pes&oub'’
mente aplaudido por sua extasiada plateia fe­
minina. Essas sentenças poderiam muito bem ter
Sêneca - que viu a pantomima prosperar sido tiradas do Nnnaxaslru, o manual didáti­
sob três imperadores. A ugusto, Tibério r co da dança e do teatro hindus, de um comen­
Calígula, c que certa vez mandou açoitar al­ tário dc Mei Lan-fang, o astro da Ópera de
guns espectadores por perturbarem uma apre­ Pequim, ou dc uma resenha do pantomimo
sentação do pantomimo Mnestcr - descreveu moderno francês. Mareei Marceau. A arte da
desdenhosamenie os jovens nobres romanos pantomima é universal. Suas leis são as mes­
como escravos particulares dos panlomtmos. mas em todos os lugares e em qualquer época.
A situação geral do tealro romano nessa épo­ Sua linguagem sem palavras fala aos olhos. É
ca talvez seja a melhor explicação para u cir­ por isso que a une da pantomima se espalhou
cunstância eternnmenle intrigante de que de Roma parti todas as regiões do império.
Sêneca, famoso na posteridade como o dra­ Uma forma de entretenimento qtte gozou
maturgo da tragédia romana, nunca tenha vis­ de popularidade particular entre os romanos,
to nenhuma de suas obras encenadas. Erudito tanto no Impcrio Ocidental quanto mais Itirde
e moralista, Sêneca não poderia (cr nenhuma no Império Bizantino do Oriente, foi ti dos balés
relação cotn o rfenr business brulo, barato e e jogos aquáticos. Esses shous aconteciam em
artificial, como lhe parecia o teatro romano. piscinas ou em teatros gregos no Oriente, refor­
Mas na mesma cidade de Roma. onde o leumi mados de modo u comportar a água. Marcial
o desdenhara na época em que era vivo - ou. (c. 40-it)2 d.C.) menciona um espetáculo aquá­
de acordo com as pesquisas mais recentes, fora tico cm seu L iM Iu f spectinitlorimi. descre­
por etc desdenhado-, Sêneca ressuscitou pura vendo-o como um balé aquático com nereidas
a glória no final do século XV, graças aos es­ c um mimo, no qual Leandro iileralmcnte atra­
forços do humanista Pompônio Laetus (Giulio vessava as águas a nado até Hero
Pomponio Leto). O famoso piso de mosaicos da vil la ro­
Um astro da pantomima podia, entretan­ mana tardia na Piazza Armerina. na Sicília, ofe­
to, perder sua popularidade da noite para o dia, rece uma imagem muitas vezes reproduzida
A roleta do aplauso e da fama podia trazer o do encanto das ninfas aquáticas, O mosaico,
triunfo ou o aniquilamento. Quando Nero se elaborado provavelmente por volta de 300 d.C.,
deu conta de que o pantomimo e dançarino para o imperador Maximiniuno Hércules, mos­
Páris, o Velho, seu favorito e confidente ínti­ tra dez jovens de biquínis verme lho-azuis, pu­
mo, era mais popular junto ao público do que lando, correndo e tocando tamborins no estilo
ele próprio, mandou decapitá-lo sem cerimó­ dos espeláculos de variedades comuns por lodo
nias. O filho da vítima de Nero, Páris, o Jovem, o Império Romano. O OuiUílmll A-firscuiu de
não teve melhor sorte. Ele. “o esplendido or­ Londres exibiu, em l‘J5ó. uma parte de um des-
'fljodti_L ap çrqi-f ‘u u itftj uia opE jiuuju a " J P
(IOl j waiuinl Einn « U opiMiilt; 0!*ui ojpuupLicl s.u.ipnípciâ op ,>3ul ..rn upmnunsajdjj M m , lurl np ^ |E13a -gZ 1
- Kítnto

ses biquínis antigos; er3m feitos de couro, cor­ de forma visível a conversão ao cristianismo,
tados numa só peça e guarnecidos com tirinhas era um tema. Parodiava-se aquilo que não se
de couro para amarrá-los dos dois lados dos conseguia entender. Zombava-se daquilo que.
quadris. Foi encontrado num poço romano em outros aspectos, estava além da compreen­
descoberto durante escavações em Londres, na são da massa.
hoje Q uecifs Street. Entretanto, outros obje­ Hermann Reich. especialista em mimits.
tos descobertos no mesmo local, como uma sugere até mesmo que o martírio de Cristo, a
taça de porcelana sigilata. uma grande chave flagelação e o E rre homo sejam uma deriva­
de ferro, uma colher e um fuso de madeira ção direta do mi inms. Os soldados que colo­
sugerem que esta excitante pecinha íntima do cam a coroa de espinhos na cabeça do Rei
século 1 d.C.. pertenceu mais provavelmente a dos Judeus, diz ele. estavam representando
uma escrava do que a uma cortesã. uma cena típica d e derrisão d o repertório do
Atores e atrizes de mimo foram celebrados mimo, popular entre os exércitos romanos e
e cortejados. Mais tarde, porém, tamhém eles que incluía tanto o rei quanto os judeus como
ficaram sujeitos ao anátema da Igreja Cristã tipos fixos. Um papiro egípcio, encontrado,
nascente. O presbítero cartaginês Tertuliano, parece apoiar esta consideração, assim como
o combativo oponente "de todas as perversi­ uma vista d'olhos sobre os hálitos dos autos
dades pagãs do mundo corrompido", negou da Paixão medievais. Também aqui o mimo.
tanto ao mimo quanto â pantomima qualquer o ioculator e malejicits ambulante, tem a fun­
direito à redenção cristã cm seu livro Dv ção de colaborar com elementos rústicos c
speclactilis. E em 305 d.C., dez anos antes do grotescos, e sobretudo de assumir o papel dos
reconhecimento do cristianismo como a reli­ soldados, apresentado num padrão de áspero
gião oficial do Estado romano, o Sínodo pro­ realismo.
vincial de liíberis (EIvira), cm Granada, d e­ Sob o reinado do imperador Flávio Do-
clarou: "Se os mimos c pantomimas desejam miciano. o primeiro a derramar sangue cristão
se tornar cristãos, deverão pnmeiramente aban­ no Coliseu, ocorreu o seguinte incidente: o im­
donar sua profissão". perador julgou ífiic a costumeira representação
do minto do chefe dos bandidos, Laureolus,
que era crucificado no final, estava fraca de­
M im o C r is t o l ó g ic o mais. Ele ordenou então que o pape! título fosse
dado a um criminoso condenado. A peça ter­
A severidade com a qual a igreja Cristã se minou cm horrível seriedade: Domiciiino fez
opôs a iodas as formas de spcctacuhttn por mil com que o crucificado fosse despedaçado por
anos —até criar uma nova forma de teatro pró­ animais selvagens.
pria - baseou-se em circunstâncias históricas Um singular registro pictórico, descoberto
bastante reais. Desde seus primeiros dias, o nas paredes de uma casa na Colina Palatina, for­
cristianismo não havia sido apenas persegui­ nece provas das conexões entre o mimo e o mar­
do pelos imperadores romanos, mas ridicula­ tírio, o ridículo e ;i fé. Essa garatuja primitiva,
rizado pelos mimos, no palco. que data do século II ou III, representa a paródia
Urna religião cujo Redentor sofrera, sem de uma crucificação. Uma figura com máscara
reclamar, a nume mais ignominiosa, destina­ de asno está na cruz. à esquerda um homem er­
da aos criminosos comuns, estava de qualquer gue seu braço mima saudação, e abaixo lê-sc a
maneira destinada ao escárnio da população, inscrição: “Aiexamettos adora seu Deus".
já que não era protegida pelo Estado. O mimo Cabe conjeoturar que Alcxamenos era uni
adulava igualmeiuc os governantes e o povo. escravo a quem os outros ridicularizavam por
O que podia ser mais tentador do que incorpo­ ser cristão. A máscara do asno. símbolo da sá-
rar a figura do "cristão" à lista de tipos tradi­ tiru cómica desde a mais primitiva Antiguida­
cionais? O mimo não razia diferença entre pa­ de. sugere que o graffilo seja baseado num
rodiar os deuses antigos e expor ao ridículo os mimo cristológico, no qual o interprete de Cris­
seguidores de uma nova fé. O batismo, com to lenha tido que usar uma máscara como sím­
seu cerimonial caraetcrísticu. que expressava • bolo evidente de escárnio.
• /< í 7
28. Acrobatas aquáticas. Mosaico nu Piazza Armerina. Sicília, c. 300 d.C-

29. Cena du n u com saltimbancos Columbdrio {destruído) da V illa tln n a Puiuphili, Roma

30. Jo^oS com a nim ai*. l>o d ip lic o do cônsul


Aicnhindo. ^Ofi d .( \ íl-cningraUo. Hcrmiuipcl.
« ff ff MJli

Jl CilkiIu |i .m K l i j i l u (ir.itiic n.ip.irciU'.k1IIIIo


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tvi^inal em Ruma. M usisi N j 2 í. :i . V R i u jii;} i

tarde, também em alguma cidade da Ásia Me­


nor. O caso mais famoso dessas conversões foi
o do ator Genésio, que se converteu em Roma
no ano de 31)5, no reinado de Diocleciano e na
época das ntais severas e cruéis perseguições
aos cristãos. Gencsio foi vítima dessa perse­
guição, c a Igreja fez dele o santo padroeiro
dos atores.
Mas os mimos se aferravam obstinada-
mente a temas cristológicos, como comprovam
decisões dos concílios da Igreja que. já rio de­
correr do segundo milénio após a expansão do
cristianismo no inundo ocidental, proibia que
Este desenho primitivo é a primeira re­ os mimos entrassem no palco como padres,
presentação subsistente da crucificação. Há monges ou frciras.
boas razões para crer que tenha sido inspira­ O niimux c como uma linha que vai dos
da pelo miimis. A adoração apaixonada c os primórdios da Antiguidade, através de Roma
grilos de "Crucifiquem-no!” sempre foram vi­ e Bizâncio, até a Idade Média. Era tão familiar
zinhos próximos. Foi assim que o eleito tea­ ao homem da rua quanto ao erudito cm sua
tral do mimo cri st o lógico se ira ns formou de mesa de estudo. 0 escritor cristão latino i.ac-
súbito em martírio deliheradamente escolhi­ tãncio o julgou digno de uma sublime compa­
do. Mimos trocistas convertiam-se à nova fé. ração: a doutrina de Pitâgoras. dc acordo com
Em 275. o mimo Porfírio tornou-se cristão a qual as almas dos homens transmiaram para
convertido em Cesáreia. na Capadócia, e o corpos de animais—ele escreveu - era ridícula
mesnu* se diz do mimo Ardálto. um ano mais e lembrava as invenções do mimo.

• Mv
Bi z â n c i o

Introdução mentas esplêndidas, suas aclamações e cân­


ticos antífona is".
Quando em 330 Conslantino, o Grande, As radiações da magnificência imperial,
tomou a cidade de Bizâncio, no Bósforo, a transmitidas para o Ocidente nos séculos se­
nova capital do im péno romano e lhe deu o guintes, portavam o selo de Bizâncio. A seve­
seu nome, o esplendor de Roma empalide­ ridade hierática, o esp len d o r purpúreo, a
cia. As contínuas batalhas nas fronteiras ha­ estilização solene que foram as marcas do ce­
viam minado a força da urbs romana. Nessa rimonial da corte e da arte religiosa dc Bi­
época, deu-se o triunfo do cristianismo. O zâncio. tornaram-se um modelo para o mundo
Edito de M ilão assegurou liberdade de culto ocidental. Por lodo o Ocidente, eram solicita­
à nova religião. Com a transferência da resi­ dos artistas bizantinos, o luxo bizantino era «
dência imperial pura Bizâncio, surgiria um padrão de gosto e cultura, princesas bizantinas
segundo centro do cristianismo, tão fascinante eram trazidas por seus pretendentes principes­
quanto exótico. cos para as corles do Ocidente.
Já não seria a Capitólio, mas a Igreja de O patriarca de Constantinopla teve o atre­
Hagia Sophia, que resplandeceria nos séculos vimento de chamar o papa romano dc herege,
vindouros como o símbolo do poder divino e e desse modo veio a iniciar-se o decisivo cis­
terreno. Para a sua reconstrução, o imperador ma que terminaria por levar ao trágico conflito
Jusimiano fez com que os mais preciosos m a­ entre as Igrejas oriental e ocidental. As Cruza­
teriais fossem procurados por todas as provín­ das terminaram no saque de Constantinopla.
cias do império bizantino. Colunas e outros Os "latinos", liderados pelo velho doge Dando-
elementos arquitetônicos de Éfeso, Baalbek. lo, haviam exigido o reconhecimento do papa­
Egito, Atenas e da ilha de Delos foram reuni­ do como a força central do cristianismo. Bizân­
dos para a glória da “Sabedoria Divina". cio recusou. Em 9 de maio, o Conde Buidwin
O imperador e a Igreja eram os dois pila­ de Flandres foi coro tido imperador latino de
res do Império Romano do Oriente, Hrum o Bizâncio pelo legado papal.
tema e o veículo de toda atividade de estilo A sequência ininterrupta de conflitos mi­
teatral que se desenvolveu em Bizâncio. C on­ litares a que se entregaram os posteriores im­
forme escreveu Franz Dotger, "as necessida­ peradores da dinastia grega dos Palcólogos
des teatrais da população da capital eram sa­ minou os poderes de resistência internos e ex­
tisfeitas pelas deslumbrantes cerimónias da ternos da cidade. Em 139!, o sultão otomano
corte imperial c pela rica e elaborada liturgia Bayzcid obrigou a cidade a pagar um tributo.
da Hagia Sophia, com suas procissões, vesti­ Sessenta anos mais tarde, em 29 de maio dc
H i s t A r i u M u i u t i u t tirt ' V c u i r r> «

1453, elíi sucumbiu «os exércitos dt> Sullãu deles ficava próximo ao palácio imperial, per­
Mohammed 11. O unpérui bizantino deixar» to da igreja de Santa Irene tlroje parte do re­
de existir. Seu ultimo imperador, o décimo pri­ cinto de Saruy). Em Bizãncio, como em ou­
meiro a levar o célebre nome de Coiisiamino. tras cidades importantes do império romano
perdeu a vida na batalba. Das ruínas da capital do Oriente, havia teatros espaçosos, que em
devastada de Constaniino nasceu Istambul, a pane remontavam aos tempos helenísticos e
capital do império otomano. em parte aos primeiros tempos da dominação
Durante mil anos, Bizãncio havia sido o romana. A cidade de Antioquia - sede do go­
centro de trocas culturais entre o Oriente c o verno romano da Síria, residência do patriarca
Ocidente, a ponte, em questões de fé, entre a c sede de uma universidade teológica —pos­
Antiguidade e a Idade Média. e. em questões suía quatro amplos teatros de pedra. De acor­
de teatro, a ponte entre o coração dionisiaco' do com Paládio, as comédias de Menandro ain­
do drama ático e o Te Demii da representação da eram encenadas ali no século V d.C., até
cristã na igreja. que o rei persa Cosroes destruiu a antiga cida­
de, em 538 d_C-
O grande enigma do teatro bizantino resi­
T e a t r o sem D ra m a de no fato de nunca ter produzido um drama
próprio. Contentava-se com o caleidoscópio
Um dos primeiros atos oficiais imperiais colorido das variedades, da revista, e com es­
com o qual Constamitio cativou os bizantinos petáculos de solistas que já vinham prontos e
foi a inauguração do Hipódromo, O edifício com extratos de diálogos e peças líricas que
remontava ã época de Sepiimo Severo, que o eram recitados no palco por dcelamudores em
construiu em 124 d.C., segundo o modelo do “atitude trágica".
Circus Maximus de Roma, Era uni campo de Os estudiosos de Bizãncio têm se ocupa­
corridas longo e estreito, com um muro divisor do cuidadosamente desse fenômeno singular.
baixo (spiiia) entre as duas pistas, sobre o qual Franz Dõlger comenta:
eram colocados estátuas, obeliscos, placas
memoriais e monumentos aos corredores vi­ FicquosumiMitc tem sc estabelecido uniu c o m p n -
Vão :icm ad;i com n s iirtes pJó>ncas. isto c . que a uru:
toriosos.
l'i/;mnna líinihem não pivduzm nenhuma o c u lliird dieiKi
O Hipódromo.com seus assentos de már­ de meneio e que (amo nas artes plásticas quanto na Iticm-
more para oitenta mil espectadores, era deco­ luia tios hicmniUiN falta* poiuntu. uma “ilin ie r ts V A ra­
rado com ricos entalhes e as itiais celebradas zão tli n*»m é Ixtstante cFai u Já pur volta do siiuilt i H l d.i
(raçixtias e CúmêiÍMs fnmplctav ceur raianienic rcprcvcn-
ohras de arte de lodo o mundo Durante um
Milus no In i perto Komano 0> pantommius- nviiavaiu ain­
milénio, seria o palco de amargos conflitos da u ijim s f n p w w c H íinens e prmcipalmciiic oechos ex-
históricos, niais do que o esplendido local de l nu ilos <tus c ú h iia x corei* IV nrsio, o m i t m i s . uma ope-
espetáculos de teatro e circo a que havia sido cie d : csquctc tle <>|>acia cem uma grande qmiiuidadc dc
destinado. Nele tiveram lugar corridas de bigrt tip i* cspei acu lares {tcralmenlc d c contemlo mais picam e,
íiuTut de Irô muiio iiipiunidn n gnsto das jnassis o, n tio
e combates entre gladiadores, nele a impera­
peito d;is proibições dos impecadores AiKlslueio í e
triz Eudiixm viu ser erigida a sua própria eslã- Jitsiiutano {cm (1C.1, deve ler prosseguido cUitidcsú-
tua de prata, acompanhada por festividades Ião iiiimcnic al<;i\és de iodo o período biz;mnm>.
provocativas que Crisóstomo, predicando na
Hagia Sophia, empalideceu de raiva. Nele eram O drama d;t paixão Ch rislos fíttsrlum, com
descarregadas as paixões das duas facções de Irequenciu citado, que durante muito tempo foi
corredores de bigas, os “Verdes” e os "Azuis", incorretamente atribuído ao bispo São Gregó-
como também o entusiasmo do povo. Nele, o rio de Naziniiz.o. não data do século IV. mas,
sangue de trinta mil pessoas manchou a areia sim. do século XI ou XII. Isso é o que se cha­
quando Belisário, em 532 d.C.. esmagou a re­ ma de um tciito, uma reunião emdita de várias
volta de N.ka e reduziu a cinzas grandes par­ citações sem nenhuma conexão provável com
tes da cidade. o teatro amante - um complemento intelectu­
Conia-se que Coustimtmo. o Cirande, al à alegre colcha de retalhos do r o n u m e u iu s
construiu muilos teatros. Acredita-se que um dos mimos.

* 172
UiTtlHtUt

I O HiixWromi) »le CrmstLmrmopb. X il^unkvun úc Onuplirius Panvminx. V eroiu, |4$o.

Um dos coniptmenies eficazes justapôs- tipo de espetáculo, qne oferecia diversão tea­
tos no Clirístos Puschflit, é a imitação de um tral não apenas nas festividades oficiais do Fs
hino de Sexta-Feiru Sama do poeta «rego reli­ tudo:
gioso Romano. que viveu cm Constantinopla
no século V] - no passo que Gregórin de f-.m [>lviin tliy. varliiiav vão |v n fti« ;« k a <’ suh - i- mu
ç in tu lz iiiiu v K iilc a m u s iiu s v ir a j is . P m il.-les la z o filo-
Nazinii/o. o alegado atitoi da Paxcltmi. mor­
' - ■’Hi | i.ihIl> 11 - m csmii v-lvja Isc-iii tanvc d isso : num i
reu em 390 d.C. inlrr|t|rM u ivi um irru-iiu, u nuvli, - - «iiihora rvi i uilu-
í) que é fasvmunie no estrimlio conglo­ e n v l « m u -m c is-ln ii ,i]i- um igium m lv luz 11 Irnk-VM>[
merado do Chiiunx A oc/ioii é a conjugação 1-.(l--. i v j u l--.v i i i .iiil « - - L|',|.: , ã o | , f O l i l o v n l o m i

d;i Paixão crislã superposta :io drama «rego. 1


« v pi ii 1.1 .i ili>, 11-- - 1 \ ,. 1v I-i - .1,- -i .■ 11K r ' . v-11,-
Tuiuls-ui. - - ' ■'l l.■- n ...i , uia V■•I.:.I.! I I . .I' a u la -
Uma boa terça pane dos 3fv.it versos, L|iie co­ rm uim vnla , ■ i -
meçam eom o eaminlio até o Ciólgoln c termi­
nam eom a ressurreição de Cristo, são pará­ O próprio loin dessa descrição muno
frases de versos de Fu ri pedes. Tanto a Christos simpiilieada mdiea ii agudo declínio. A aila-
P íiS ílm n <giaiito as trezentos e vinte e cinco meme desenvolvida arie do drama amigo ha­
citações das tragédias de F.iii ipedes que se en­ via se convertido nessa primitiva versão dia­
contram na ohra do Arcebispo l.-usláeio de Sa- logada de "unta velha história". Sua degra­
loníca (falecido em I TU» demonstram quão dação nao deve ser atribuída à malévola de­
intenso era o interesse devotado em Biznncio preciação de um Crisóstomo beligerante, que
nos dramaturgos da Amigiiidadc - no tocante em outros lugares troveja violeniameiite c o n ­
ao estudo. tra a "imoralidade" do muro: ela é mn fato
lim contraste com o cultivo erudito da he­ histórico.
rança cultural grega, a prática teatral era tão Uma descrição "do que acontece no tea­
ingénua quanto a das primeiras troupcx alc- tro". que concorda quase literal mente com
lanas lo n ia iia s. São João Crisóstomo 1337 -407 Crisóstomo, foi feita no final do.século IV pelo
d.C.j. patriarca de Constantinopla, em certa antigo prolossor de retórica São Gregório de
ocasião faiou evlcnsaiiieute a respeito desse Nissa:

• 171
2. Poeta cóm ico c musa com uma máscara i'C|)rcsL, n b n ó í I filia. Fragmento tlc mu surcóla^o do nordeste do império
bizantino, ç, 250 d.C,
Um mito ou uma velha lenda serve de tema parti :i Oriente e outras que prenunciavam a Alta Ida­
repteseMação. e é reproduzido por imitação diante dos de Média ocidental. Crisóstomo fala das man­
nossos olhos. O que corresponde ;i história é representa­
do da seguinte mruicua: os atores usam figtiiinOS t más­ gas exageradamente longas dos trágicos, por
caras. Na orquestra, penduram-se cortinas que represem meio das quais eles enfatizavam os movimen­
iam uma cidade e a coisa toda é tão ítcl á natureza que o tos de seus braços e mãos, e critica a vaidade
público pensn irjrtyr*&c de um milagre. das damas, que lião tiveram dúvida em colocá-
las em moda.
Nesse nível, o d ruma clássico da A nti­ Por trás da manga “dramática" do trágico
guidade não poderia ser uma fonie de inspira­ bizantino vislumbrameis imagens remotas, mas
ção para Bizâncio. lai como a tragédia grega o sem dúvida com ela aparentadas: a dançarina
para o drama nacional dos romanos, ou Menan- sassânida, a aristocrática dama chinesa do pe­
dro para Plaulo e Terêncio. Além disso, corno ríodo T ’ang. as jovens estudantes do Jardim
poderiam o governo e a Igreja adequar as di­ das Peras e. no âmbito da arte cristã, a bailari­
vindades do Olimpo ao povo. como poderiam na Salomé, epílome de todos os vícios. Todas
Zeus ou Júpiter, Alena ou Juno e, principal- essas imagens tinham o seu “jogo" baseado
mente. como poderia Dioniso, a quem os pa­ no poder expressivo das longas mangas que
dres da Igreja consideravam uina abominação, pendiam sobre as mãos hábeis do ator.
o demónio encarnado, se reconciliar com a Os monges dos tcriptaria medievais de­
doutrina cristã da salvação? A sabedoria com vem algo ao furioso desprezo que os Padres
que os homens da Igreja apreciavam o espírito da igreja bizantina vertiam sobre as sedutoras
e o juízo da literatura antiga não era algo a se artes das dançarinas e mimos femininos: a vi­
pressupor no grande público. vacidade com que eram capazes de retratar a
A consequência desse ponto de vista vie­ pecadora Salomé.
ram a sentir de maneira bastante precisa os “Elas surgem com a cabeça descoberta e
mimos e pantomimos, “os últimos sacerdotes não se incomodam com o que deixam à mos-
do paganismo'’, como os chamou Hermann lra Penteiam-se com a maior extravagância
Reieh. Eles pagaram sua fidelidade ao antigo possível, pintam o rosto, seus olhos brilham
e comprovado repertório, transmitido de ge­ de volúpia." Assim eram descritas as mimas
ração em geração, com a exclusão da salva­ do teatro bizantino, e é como Salomé dança
ção trazida pela nova fé, porque no teatro no Códice Otomano de Aachen. do século X -
bizantino mimas e pantomimas recorriam ao com os seios e braços nus, os cabelos iouros
espírito e ao "antiespírilo” da Antiguidade. O sollos até os joelhos.
repertório de seu programa teatral ei a forma­ "Elas brilham em ouro e pérolas, e usam
do de temas das mitologias grega e romana, os mais suntuosos trajes. Dançam, riem e can­
de fragmentos de fomes fenícias, assírias e tam com vozes doces, sedutoras", assim pros­
egípcias — na verdade, de tudo o que havia segue a descrição das mimas. Essa imagem
sido tratado pelos poetas trágicos desde também foi preservada na dança de Salomé
Homero e Hesíodo. no Evangelho de Oto III, que está entre os te­
Em tudo isso, o mimoe a pantomima eram souros da catedral de Bamberg.
acompanhados - mesmo no período bizantino Crisóstomo nunca esqueceu de realçar
primitivo - [rolo trágico, um solista que. cal­ perante sua congregação, com insistência sem­
çado com um alto coturno de madeira, tentava pre renovada, o fato de que certa vez teve su­
alcançar o esplendor da amiga arte dramática cesso em resgatar das ganas do demónio uma
com extravagantes solos declamatórios. Libã- dessas “filhas corruptas do homem", uma
mo, o sofista e orador do século IV, cujas vá­ numa que se exibia diante de todo mundo em
rias ocupações o levaram a numerosas cidades trajes excitantes e que havia amimado a mais
do Império Romano do Oriente, encontrou de um rico e enganado a mais de um sábio...
esses trágicos em Antioquia, Atenas, Constan­ Essa predileção por dançarinos e mimos, que
tinopla e Nicomédia. Ci isóstomo criticava furiosa mente na impera­
A ligm a e a indumentária do trágico con­ triz Eudúxiu. levaria Justiniano a buscar sua
tinha caraclcrísticas que evocavam o Extremo consorte imperial na arena, ccnioe cinquenta

• 17S
4. A Dança de Satomc Evattgdhíi do mípcritiJor O ío lll íM unitjH c. S u a K h ih lio th c k }.
anus inais tarde. Os encantos que Teodora ha­ rozes lais como leões e panteras, qnc satisfa­
via exibido com tanta liberalidade em seus dias ziam o desejo de sangue do público.
de mima foram m etam orfoseados, quando A documentação pictórica desses jogos na
convertida cm imperatriz em qualidades im­ arena é encontrada nos dípticos consulares em
periais não menos espantosas. M as mesmo marfim, muitos dos quais estão conservados.
Tcodora não poderia mudar o desprezo geral A primeira amostra remonta a 406 d.C., e a
por sua ocupação anterior. Conforme estabe­ última, a 5 4 1. Eram um presente de Ano Novo
lece o Códice Teodosiano. os atures foram in­ obrigatório do cônsul a seus amigos, in d i­
cluídos entre as personae inhanestue, aquelas vidual mente autografada, como os brindes
que não possuíam honra nem direitos, que anuais dos industriais modernos. O relevo fron­
eram excluídas tanto dos direitos civis quanto tal mostra o doador em toda a glória de sua
da salvação da Igreja. Aquele que sc atreves­ nova dignidade, por exemplo como' patrono
se a desposar um mimo, ator ou iuctúator, era dos jogos. Senta-se num trono ricamente escul­
expulso da comunidade cristã. Somente um pida. lendo o cetro na mão esquerda e o mappa,
imperador podia atrever-se a ignorar esse man­ um pano branco, na direita, com o qual é dada a
damento. largada das competições. Sob esse relevo apa­
rece sempre gravada uma cena teatral, com ato­
res e animais. Atores, no traje da tragédia, com
T e a t r o na A rena máscaras e penteados altos (ohAo j ). grupos de
comediantes e mimos carecas testemunham
Mimos, pantomimos, cantores, dançarinos que os descendentes do teatro antigo tinham
e trágicos participavam igual mente dos espe­ seu quinhão no festivo programa circense.
táculos do teatro bizantino, mas não eram seus O s pequenos e práticos dípticos de mar­
representantes primordiais. A principal atra­ fim, cuja superfície interior era recoberta com
ção nos ‘‘deleites para os olhos e ouvidos" ofe­ cera e servia de tablete para escrita, viajaram
recidos no Hipódromo e nos anfiteatros do para Ião longe quanto os mimos. Utn díptico
Império consistia em combates de animais e do cônsul Areobindo chegou à Espanha, onde
jogos de gladiadores, especiulinenle nas festi­ um entalhador do século IX tomou-o como
vidades oficiais de Ano Novo, que duravam modelo para o frontispício da igreja da vi la de
muitos dias. Seus organizadores eram os côn­ San Miguel dc Lillo. Desde então, os olhos dos
sules recém-eleitos, que precisavam celebrar fiéis que enlrum nesta casa de Deus de parai n-
seu ingresso na função de maneira dispendiosa. se com uma cena do circo bizantino. Sob uma
Esse já era o costume cm Roma. mas em Bizãn- figura primitiva e estilizada do cônsul em seu
cio. a cidadela do cerimonia] cortesão, lais jo ­ trono, que apenas ergue a mão para que os jo ­
gos se transformaram numa aparatosa celebra­ gos comecem, um acrobata se equilibra com
ção. cujo curso era mmuciosamente definido as mãos sobre uma barra em cuja direção um
pela ordem imperial. leão salta, mas é mantido preso por um ho­
Uma das novelhii- de Justiniano, escrita mem brandindo um chicote.
em 5% , expõe a sequência precisa das ceri­ O que teria impelido o entalhador a esco­
mónias com que o novo cônsul deveria se apre­ lher esse motivo de origem Ião remota? E que
sentar ao imperador e ao povo, desde a procis­ considerações poderiam ter levado o fundador
são cerimonial na cone (pmcesstts) aos vários da igreja a permitir que ele o fizesse? Seria
iuiii circenses na arena. A abertura era a Uma última advertência à congregação para que
"vetiutio domeslieado" (açulamenlo de ani­ deixasse atnis de si todos os pensam entos
mais), jogos de habilidades com animais en­ mundanos, para que pensasse em sua entrada
graçados, não necessariamente perigosos, lais tla igreja como unia libertação tla farsa terrena?
como artistas e ursos perseguindo uns aos ou­ A arre românica é notável pelo fato de que suas
tros sobre uma barra, atrás de grades móveis, muitas imagens em pedra, da dança e da mú­
como mmi carrossel. Essas brincadeiras avi­ sica, dos mimos e atores, resultam da interpre­
vam a excitação da plateia. Em seguida vinham tação do portal da igreja como um muro sepa­
as 'vriintio selvagens", lutas com animais fe­ rando o céu e a terra.

• 177
H i s t ó r i u K t m u t i u l th* T c t u r o *

O T eatro na Ig r e j a crito por um dos últimos sicoplatónicos signi­


ficativos, o bispo Proelo, que nasceu em Cons­
Apesar da decisão do imperador Teodósto tantinopla em 4 11) e foi educado cm Atenas.
II, no Concílio de Cartngo. de que todos os Os fragmentos retinidos desse manuscrito pro­
espetáculos teatrais deveriam ser proibidos nos porcionam 0 esquema de uma peça completa.
feriados santos, a instrumentação da liturgia A um hino glorificando a virgindade da Mãe
dentro da própria Igreja Bizantina ganhou cada dc Deus segue-sc uma conversa entre u Anjo
vez ma is ressonância. Gabriel e Maria, interrompida por um monó­
0 esplendor da liturgia na Plagia Sophiu. logo em que a Virgem expõe suas dúvidas, ter­
as aclamações dramáticas, evocações dos pro­ minando enm u voz de Deus proclamando o
fetas e cantos antifonais, a riqueza colorida das mistério da Encarnação.
vestimentas eclesiásticas, as procissões sole­ Depois dessa representação do sobrenatu­
nes - todos esses elementos procuravam, por ral. vem um diálogo do mais cm naturalismo.
meios inteiramente teatrais, satisfazer a neces­ José. acusa Maria de ter se comportado como
sidade de espetáculo da massa. uma prostituta e de o haver “ traído com um
A Celebração da Páscoa, que cinco sécu­ amante'1. Maria declara não ter possibilidade de
los mais tarde se tornou o embrião do drama jusfilicar-se. Propõe a José que leia os Profetas
cristão da Igreja, era em Bízâncio a ocasião de paru compreender que ela recebeu sua criança
um cerimonial que, de uma igreja a muni, ser­ de Deus. Esse contraste entre o decreto divino e
penteava pelas ruas da cidade num cortejo so­ a realidade terrena não poderia ser mais teatral.
lene. Os hinos pascais Christus tines te, que os O ciumento marido de cabelos brancos e
cantores começavam a cantar no púlpito da a suposta infidelidade de sua jovem esposa
llagia Sopltia, era repetido nas outras igrejas: constituíam uma receita bem comprovada de
a procissão pelas mas era encabeçada peto sucesso, retirada do repertório de tipos do
mcsiir iinpena) dc cerimonias, que servia ao iniinn.s, que manteve a sua popularidade por
mesmo icmjxi de cuidador. séculos, até a representação dos mistérios da
Desde o início, a liturgia da Igreja Orien­ Baixa Idade Média. O tem a reaparece num
tal assumiu um caráter dramático, com suas fragmento de diálogo atribuído ao patriarca
recitações alternadas, hinos cantados por um Germano de Constantinopla (r. 634-733 d.C.J.
solista e coros respondentes, sermões dos dias Ê encontrado amamente num manuscrito com
festivos e diálogos intercalados. Já no século iluminuras de uma coleção de homilias do
IV, os grandes oradores faziam dc suas predicas monge Tiago dc Kokkinobuphos. da primeira
um exercício da arte retórica Aplicavam as metade do século XII, As imagens desta cole­
regras dos oradores e dramaturgos gregos e de­ ção foram aceitas como provas do teatro reli­
senvolviam sua exegese da Bíblia peto uso do gioso em Bízâncio mesmo por um crítico tão
diálogo e uma intensa dialética dc prós e con­ cética quanto o cardeal Giovanni Mercati. bi­
tras em suas interpretações. bliotecário do Vaticano falecido cm 1957. O
A tradição de Bízâncio não significa sim tema surge outra vez, de forma quase idêntica
plesmenle a concentrada serenidade dos à do fragmento dc Germano, muna cena das
ícones. Significa tamisem a riqueza narrativa C om ifry PUtys inglesas do scculu XV: o Ltuins
de um inesgotável tesouro dc lendas, cuja abun­ Covi-ntriae (O Retomo de José). Por toda a
dância se aproxima apenas reimilamemc do sua vivacidade retórica, o diálogo teatral in­
drama da paixão da Baixa Idade Média, que cluído no serviço da Igreja Bizantina não ca­
durava vários dias recia da dignidade aprojsriada. Os episódios
Os textos dialogados dos sermões (homi­ livremente tratados estavam dentro do padrão
lias), que foram preservados cm diversos ma­ dc estilo ponderado dc representação contem­
nuscritos, principal mente de origem síria, con­ porânea, conforme nos luz crer o manuscrito
têm uma vasta eflorescéncia de detalhes de Tiago de Kokkínobaphos. do qual se con­
episódicos, sobretudo relacionados à Virgem servam duas eópias.
Maria. Uin desses manuscritos conservados, 0 por culpa dos iconoclastas que faltam
uma "Glorificação da Virgem Mana", toi es­ evidências pictóricas do período primitivo do
■ Í7.V
5. U dcvo cm iiiarOm represem ando uma aicna e cenas leaírjis, Acima, cavai os conduzido* i*>r amazonas, aba iro,
ccns de tnúiíuí IcviOctd emente uma paródia da curo de um cegol e grupo irãptco Del adie de um diplíco consular de
AnasLicio. Constantinopla. 51? d .(\ iJVris. Cabinci des Médaillcs),
r

7, Relevo no obelisco de Tcí»dó$in rio I lipôdrum o, O m sLinrjnopln: o im perador T e n d id o , patrono dos jogo s circenses,
entre seus dois filhos, Hotiório e A i vadio, no cnmriíore real. c. SsK) d . ( ‘

H. Relevo em nui fim de um díptico consular: moí


irigicocom máscara removi ila. provavelmente depois
de recitar um monólogo de Medeia, c. 500d.C. (São
Petcrs burgo, llenniiap.ej,
teatro bizantino. Milhares de ícones e manus­ as chamadas máquinas voadoras, não haviam
crito*; com iluminuras foram perdidos como sido mleirametue esquecidos em Bizãncio.
resultado da destruição oficial de mia yens na
época do imperador Leão III. que simpatizava
com a civilização árabe e com o Islã. O T e a t r o na C orte
Não se sahe até que pomo o movimento
iconoclasta (72(1-843) afetou a dramatização D ezenove anos mais (arde, em 968.
do Evangelho dentro da estrutura do serviço Líulpiando de Cremona escreveu sobre sua se­
da Igreja. Durante esse período de crise, a pró­ gunda visita a Constantinopla. Esse segnndu
pria Igreja esteve dividida, particularmente no registro truta dos espetáculos teatrais que ocor­
Concílio de Nice ia em 787, entre iconúdulos e riam na corte cm ocasiões festivas. Em 7 de
iconoclastas. Ambos os grupos se Justificavam junho dc 968, o imperador ofereceu um gran­
a partir dc argumentos bíblicos e da tradição. de banquete oficial. A refeição foi seguida por
Já em 370, São Basílio, o Grande, sábio pre­ números dc dança e acrobacias e por um es­
gador e bispo de Ccsaréia, havia dito que o petáculo aguardado com especial imetesse:
respeito demonstrado pelo fiel à imagem não homens usando máscaras terríveis e vestidos
se referia á obra das mãos humanas, mas àquilo com peles de animais representaiam o cha
que ela representava - a imagem primordial nlado xoflukoii, um tipo dc pantomima cul­
o ícone). São Teoduru. o Erudito, de­ tual. acompanhada de gestos selvagens c grilos
clarara que “se o sobrenatural não pode tam­ bárbaros.
bém sc tomar visível ao olho dos sentidos, pela A descrição de LiUlprando corresponde ao
representação pictórica, então ele permanece enigmático "Auto Gótico de Natal ”, que c in-
escondido para o olho do espírito'". eluído pelo imperador Consiamino Porfirogê-
Ao lado da imagem pintada, essa declara­ ntto (9 12-959) no Uvn> tki.i Cerimónias, entre
ção justifica a imagem viva, islo c, a represen­ os espetáculos que sc organizavam em home­
tação teatral da história sagrada, indicando o nagem ao nascimento de Cristo. Somente a
que a Igreja em Bizãncio já considerava tarefa data da representação é diferente: l.iuipiando
do teatro cristão: ser unia fíiblia Pimprruin assistiu ao giubíkun em junho. Corno ao bail
(Bíblia dos Pobres) viva. exatamente como as quete estiveram presentes muitos outros convi­
grandes séries dc afrescos e miniaturas medie­ dados de países que mantinham relações amis­
vais viriam a sê-lo. tosas com Bizãncio - e, na verdade. I uilpiamlo
Mas para a cristandade do Ocidente no se queixa de seu lugar à uicsa —, parece natural
século X esse sentimento pela imagem viva do que o imperador tenha querido honrar ocasião
espetáculo teatral era ainda estranho, a julgar Ião especial com uma diversão especial.
por um dos mais perspicazes observadores do Os atores do gothiktm eram soldados da
teatro bizantino, o arcebispo Liutprundo de Guarda Góliea de Constantinopla, composta
Cremona. que veio a Constantinopla como por sele mil homens, que estavam a serviço
enviado de Oto I e registrou suas impressões particular do imperador Tais atores eram es­
cm dois relatos. Em '>49, ele testemunhou com colhidos pelas delegações dos "Verdes ' e dos
assombro e desprazer duas rcj.iresenrações na "Azuis", as duas celebradas e famosas lacções
1lagia Suphia, que culminavam com a subida do circo. Usando máscaras e peles de animais,
do profeta Elias ao céu, os homens entravam em cena aos pares, cor­
A ascensão de Elias na carruagem de fogo rendo Gritando "Tull! Tuli!" golpeavam os
ó um tema comum nas pinturas murais bizan­ escudos com sitas lanças. Depois de entoar
tinas. executadas com grande imaginação e ri­ diversos cânticos para celebrar a data, com os
queza de colorido. O fato de Uutpnmdu ter “Azuis" à esquerda e os "Verdes" à direita,
assistido a sua representação tetilral prova a num sem icírculo, e depois da exatluçao de
persistência dos sermões dramáticos dos pri­ Ezequiits, que na guerra contra os assírios de­
mitivos bizantinos, relativos aos Profetas, e su­ positara ioda a sua confiança em Deus, ven­
gere também que os inventos técnicos do tea­ cendo assim os pagãos, o imperador cru ho­
tro da Antigliidiide, lais como os guindastes e menageado como Irenfeiior ria humanidade o
• /-S7
H h u t r i u M m t t h r t l tto T f a t r o *

defensor do império. Ao final, os dois ban­ vassalagem eram tão rigorosamcnle regulados
dos, “Azuis" e "Verdes". cada qual com sons quanto os rituais litúrgicos em honra de Deus.
rudes [rodos, saíam dançando do salão pelas A tradição do reino divino, derivada do Egito
duas porias opostas. e do amigo Oriente, encontrou sua última gran­
Essa curiosa representação parece dever de glorificação no cerimonial da corte de Bi-
muito às práticas natalinas e danças cultuais záncio. O alteado trono do soberano secular
de guerra dos povos germânicos e aos costu­ estabeleceu o modelo para o altar cristão que.
mes de Ano Novo dos varangos. Se a interpre­ "cm sua localização espacial, sua significação
tação está correta í O texto é de origem gótica, no culto e seu sobtecéti com o cibório corres­
subseqiientemente latinizada, com insertos ponde ao trono imperial" (O Treilingcr).
greco-cristãos no estilo das cerimónias da corte O falo dc os mimos e alores que exibiam
bizantinas, o goiítikon é provavelmente nrais suas artes diante do imperador devessem Ser
uma prova da mescla de elementos pagãos e todos sem exceção condenados pela igreja re­
cristãos, que pode ser repeiidamentc observa­ vela uma falta de consistência lógica. O escri­
da no tealro primitivo do Ocidente. tor Zonaras empenhou-se em corrigir essa in­
Assim, ninguém poderia considerar uma congruência. Em sua interpretação do quadra­
profanação indecente <1 associação de costumes gésimo químo cânon do Concílio de Cartagn.
festivos dc caráter religioso e circense em lu­ que condenava igualtnenle lodos os artistas e
gares sagrados, Na escadaria da Hagia Soptiiu “amantes ilu tealro", ele explicou que era pre­
em Kiev, que Iarnslav, o Sábio, começou a ciso traçar uma distinção entre atores, que re­
construir em 1037. há uma série de afrescos presentavam diante de personalidades impe­
que nos dá uma demonstração pictórica da es­ riais e desfrutavam de todos os direitos civis, e
sência do teatro bizantino, O imperador e a im­ os “desrespeitosos bufões que se metiam em
peratriz são retratados como espectadores dos brigas nos festivais campestres’'.
circenses, no Hipódromo. Acrobatas exibem Em Constantinopla, sua cidade natal.
suas habilidades; uma orquestra, entre cujos Zonaras foi um impou ame oficial da cone e
membros há uma mulher, acompanha u dança do Esladn no reinado do imperador Aléxio I
dc alguns personagens pouco vestidos; um Coiiinem*. Quando escreveu sua defesa dos
grupo de mimos aguarda sua entrada em cena. alores da corte, não podia suspeitar que seu
No teto abobadado da escadaria de Kíev próprio senhor imperial iria transformar-sc em
estão postados guerreiros armados encarando alvo de comediantes áulicos - na cone dos
uns nos outros. Alguns deles usam máscaras seldjiícidas. em Konia. Neste caso. talvez tives­
dc pássaros. Um dos homens empunha uni es­ se revogado sua boa opinião Porém, quando a
cudo e um machado, armas dos varangos. a filha do imperador. Arma Comncna. comentou
respeito dos quais O Livro das Ceniiiôititis co­ « incidente na Alc.sindo. Zonaras eslava entre­
menta que "na sua língua materna desejam-se gue ã composição de seu próprio Chrnnictni.
mutuameme vida longa, cruzando seus macha­ Num primeiro período em Bizãncio. ima­
dos ao dizê-lo". Aqui existe um paralelo ób­ gens e estátuas de mimos eram erigidas em
vio com o g o t h i k o n . hipótese muito sedutora praças e edifícios públicos. Como resultado
para a história do teatro, embora questionada desse costume, incluiu-sc uma passagem no
por alguns eruditos. Não há dúvida, entretan­ Códice Teodosiano. determinando que monu­
to, de que os afrescos dc Kícv fornecem evi­ mentos aos mimos fossem permitidos somente
dências significativas de representações teatrais ti» teatro e não eni locais onde se erguessem
na Igreja do Oriente. estátuas de homens públicos. Porém, apesar
O cerimoniai da corte era umn demons­ dessa proibição, placas de mármore e frag­
tração do poder e da exclusividade do impera­ mentos encontrados sugerem que os monu­
dor: uma cortina vermelha partia-se para mentos de imperadores, cônsules e comedian­
revclá-lo sentado mim trono como numa cena tes freqúcntemenio desfrutavam de harmonio­
teatral e o curso do cerimoniai rendei ido-lhe so convívio,

• 1X2
*J. Pi ii lura mural na escadaria da Iludia Snphia, cm Kicv; m im os. músicos c acrobatas. M etade do nccuIo M

10, D etalhe do te |o na escadaria da Haju.i Soplna. e.m Kicv; hom em segurando um a t.iiu^a.om i a caheçn cohciai
uma mascam de jmtm, c cucrreno e<>m escudo c machado. M etade d o sccido Xt
r
A Idade Mé d i a

Introdução numa nova forma de arte: a representação nas


igrejas. Seu ponto de partida foi o serviço di­
O teatro da Idade Média é tão colorido, vino das duas mais importantes festas cristãs,
variado c cheio de vida e contrastes quanto os a Páscoa e o Natal. O altar tomou-se o cenário
séculos que acompanha. Dialoga com Deus e do drama. O coro, o Lransepto e o cruzeiro
o diabo, apoia seu paraíso sobre quatro singe­ emolduravam a peça litúrgica a expandir-se
los pilares e move todo o universo com um cada vez mais e devolviam o eco das antífonas
simples molinete. Carrega a herança da Anti­ solenes provenientes das alturas imaginárias
guidade na bagagem corno vi ático, tem o ãs quais se dirigiam.
mimo como companheiro e truz. nos pés um Fizeram-se necessários cinco séculos para
rebrilho do ouro bizantino. Provocou e igno­ que a cerimónia pascal da adoração da cruz
rou as proibições da Igreja e atingiu seu es­ levasse aos mistérios da Paixão, estendendo-
plendor sob os arcos abobadados dessa mes­ se por muitos dias. e para que as "boas novas"
ma Igreja. anunciadas aos pastores se desenvolvessem nos
Assim como a Idade Média não foi mais ciclos do Natal e dos Profetas com seus nu­
"escura" do que qualquer outra época, tampou­ m erosos elencos. Durante esses séculos, a
co seu teatro foi cinzento c monótono. Mas Ecclesia tnimpltaiis estendeu sua autoridade
suas formas de expressão não foram as mes­ para além da casa de Deus. projetando a para
mas da Antiguidade c. pelos padrões desta, as cidades e aldeias, e analogamente a repre­
foram “não clássicas". Sua dinâmica desafiou sentação litúrgica saiu do espaço eclesial dian­
a disciplina das proporções harmoniosas e pre­ te do portal para o pátio da igreja e a praça do
feriu a exuberância completa. E por isso que o mercado. O teatro somente ganhou em cores e
teatro medieval é ião difícil de ser estudado, e originalidade ao ser assim colocado no meio
é por isso que frcqUcntcmcnle ocupa uni lugar da vida colidiana.
inferior no certame das formas rivais do teatro Em locais especialmcntc preparados, er­
mundial. guiam-se plataformas e tablados de madeira,
A cristianização da Europa Ocidental cul­ tublenttí i/ivmí.v eram carregados cm procis­
tivara florestas e almas. Elementos do "teatro sões e encenados em estações predetermina­
primitivo" sobreviventes nos costumes popu­ das. Enquanto os cidadãos atenienses abasta­
lares, o instinto congénito da representação e dos e os ambiciosos cônsules romanos haviam
a força não sccularizadu da nova fé combina- compelido pela honra de financiar espetácu­
ram-se, perto do final do milénio, para conju­ los teatrais, na comunidade do tardo Medievo
gar os vestígios esparsos do teatro europeu seu lugar foi ocupado pelos grémios e corpo­
H n i e r o í M n r ii l /i / t tíi* T r a t m -

rações. A» lado do Evangelho. descobriram e conflitos e guerras campearam 110 redor do edi­
exploraram as inesgotáveis reservas dn iniino, fício construído sobre o Cjúlgota. Aqui, na Igre­
da arte do aloi cm Iodas as suas polencia! idades ja do Santo Sepulcro, cm Jerusalém . as raízes
- n Carnaval \h\istiuu JiíwpiW) e a represenui- da fé crislã aprofundam-se até os eventos his­
çâo camponesa, a farsa, a uittir. a alrgoria c a tóricos sob Põncio Pi latos. Aqui. 110 século IV.
moralidade. O prolilema artístico do leatro a Ailoratio CriK ts foi celebrada pela primeira
medieval, confotnie disse uma vez o filólogo vez - a adoração pascal da cruz. que seis sécu­
e historiador alemão Karl Vóssler. não foi o los inais tarde se tornaria o germe da repre­
conflito trágico entre Deus e o mundo, mas sentação cristã na igreja.
antes a submissão do mundo a Deus. Sob a cúpula dessa igreja, erguida origi ■
nalmenie porConstantino, o entardecer parece
Subvcmicnlcm^im'. um;i uv i|iie «>inumlo c^iivã colocar dois milénios tangível mente ao alcan­
scyiiio cm lerniu itc i£ii;|a< *rfc [o |'HohIejijn.| se dcslncuu ce do espectador, por meio da fundação co­
mais c «WIN pj)ii u f)ueMiiii tlu fniitul
Ciuwo cw;iicr «IcMiMui». titu.d c mum da fé c da variedade de seu ritual. O cis­
cipui í acréscimos e imcLÍLnt(Os pmfanoc {'m to\ln l>mim- ma entre a Igreja Oriental c a Igreja Latina,
do ocidental. :i I iim óhj il:i ic p iv^iila çiiii tclisitM i ê ;i de que selou a decadência de Bizâncio e que. ape­
unia |i|M^ie>!iiv;i «Jiuiijiili/a^in teatral dn S.ici;iinonu. sar dos muitos esforços dc reconciliação, ain­
Assim. vonm rcsuliailo. n quIco ilivorvmu-M: ito olefinin da complica a situação legal da Igreja do San­
f» divillO C ti*nhMl-vf in lfiid iiV llU ' IVItOlldl ijUiri Csm
caminho lcvoá«<.', como Ma fmlui. a unia resultam^ lintu o
lo Sepulcro, também fez com que as represen­
melodramática. ou como nu E>|.unh;i. a mna J«: carúlci tações religiosas do inicio da Idade Média se
luicion alista c iiuhfar ou lundu, como n;< f iiiii\'j. a um d desenvolvessem em duas linhas distintas.
iiJl'i’ cmí.1 (IíiUUhM um 4 miia divers/n* diicdii<K'd Em toda A partir da metade do primeiro milénio,
l>nrk\ ii ooluij-jt.i tcinm u c*nn um cspeiacuJij ami>lo. es-
houve um impulso perceptivel para encorajar
e ikl iilciiiii c v ilic k iite | mívi i*mc.uii| w ruJa a n*
ijiuva rio* interesse s c "v <lu nnuido, as plosinações cénicas das antífonas litúrgieas
na Igreja Bizantina. o qual não encontrou, no
entanto, resposta significativa nos países balcâ­
nicos. Tais configurações influenciaram, na
R EPR FSE N T A Ç Õ L S R E L IG IO S A S
verdade, detalhes do processo que levou, nas
igrejas, da cerimónia purameme cultual ao de­
C e l e b r a ç õ e s C ê n i c a s no Al ta r senvolvimento da representação dramática -
mas islo ocorreu quando a própria Igreja Lati­
Nas tardes de sábado, a Igieja do Santo na já havia dado um passo considerável nesse
Sepulcro em Jerusalém e o cenário de utn es­ sentido, e o processo verificou-se quase simul-
petáculo único e inesquecível: a adoração ao inncamente em todo o mundo católico roma­
Senhor em vor-ús das mais diversas línguas. no durante os séculos IX e X.
O visitante encontrará a Missa Maior, a Di­ O pontn dc partida era a celebração da
vina Liturgia e a procissão; verá os fraitcis- Páscoa, a reprodução em atos da crucificação
canos em seus hábitos manom-esenros cami­ e da Ressurreição e. ordenada nos termos da
nhando da Capela da Aparição ao Catholiuon. grande significação atemporal de iodos os cul­
escutará o t-rr.vtridd do K\rir dos arménios, tos religiosos, a vitória da lu / divina sobre os
que avançam pela Rotunda até que seu canto poderes das trevas. Quanto mais proeminên­
se extinga nas protimdczas da Capela Helena. cia a cruz ganhava no cânon dos símbolos re­
E o forte odor de incenso que sobe das abó­ ligiosos, tanto mais enfaticamente devia tor­
badas mistura-se com os cânticos de rogação nar-se visível para os lieis o ato da redenção
que os fiéis ortodoxos gregos e católicos ro­ do qual cra ela o instrumento.
manos entoavam na elevada Capela do Cal­ A sequência da adoração pascal da cruz
vário. acompanhava os passos da Paixão. Depois dn
A Igreja do Santo Sepulcro, o iocal cris­ Atltir/itio Crucia, 11a manhã da Sexta-Feira San­
tão titais sagrado da Terra .Santa. icslenitinJi.i a ta. segue-se. à tarde, a Depnsuio Cnicis, a co­
opulência e a variedade da Cristandade, mas locação da cmz coberta sobre o altar. Os sinos
também sua di\ isãn. Ror mil c qiiinhenlos anos. petmanecem em silêncio até a manhã dc Pás-
I. As Três M anas i tshum o hmiulo do Senhor no D om inpo ilc IMscua v sàn a v e hi das pelo A njo. A esquerda. os
guarda* adonnccjduv. Miriiimira do ItcnediLOonal de St_ Eihidw oltl. kscola de W nicheskf. M7(.l íC n leção do Duipic de
líe^Miishin-i
X Cena ao ar livre da visitam^ com o Sepulcro cir­
cundado i>or um muro. Mini atura, Escola de St. GaU.
século X (Basíléia. Biblioteca da Universidade)

3. DiaJopo de ftíiscua entre os ires Marias c o Anjo.


M iniatura de um P saltrtium N ocm m um si leviano, t'
124ÍI ÍRrcskiu. KtautshthliolUek}.
.4 i d a d e M é d ia

coa. A Etevatio Crucis, » clcvaç-ãu óa cruz, obra contém instruções precisas sobre a repre­
anuncia u lodos a Ressurreição. sentação dramática da Yisitatio Sepulchri c
O uso do simbolismo da cruz remonta ao mostra que, exata mente em meio às noites ne­
século V lli, Durante o século IX. o seu largo bulosas e tristes da Inglaterra e da Irlanda, a
emprego trouxe a primeira interpretação grá­ ênfase missionaria na luz e na salvação foi das
fica da história do Evangelho. Quase ao mes­ mais fortes
mo tempo, a liturgia se expandiu. Sequências A Regiilaris C.oncordia de Winchester, que
adicionais em latim foram inseridas nas parti­ remonta ao século VII e C um dos pilares mais
turas musicais e poéticas das matinas pascais, antigos da Igreja anglo-saxã, é também —no
atribuídas com certeza ao monge de São Galo, sentido estrito da história do teatro - o primei­
Nolker Balbulo, o Gago <840-912), Seu ami­ ro exemplo de "direção teatral" para a repre­
go, o monge Ttitilo (e. 850-915). deu um pas­ sentação medieval na Igreja, muito embora não
so alem e inseriu diálogos em prosa na liturgia vd aléns da solenidade cerimunial da celebra­
da M issa. Os chamados tropos são cantos ção litúrgica. A hora e o lugar é a das matinas
unti fanais que conduzem ao hino da Ressur­ do domingo de Páscoa e o altar representa o
reição, Santo Sepulcro,
As primeiras testemunhas bíblicas da Res­ “Dum tertia recital ar lectio, qsuiiorfrturex
surreição são as três Marias, na manhã de Pás­ induant se..." - é dessa forma que começam as
coa (Vi.siratio Sepulchri). Elas se põem a ca­ instruções cênicas de Winchester, O texto com­
minho com uma angustiante pergunta: “Quem pleto traduzido diz:
moverá a pedra do sepulcro para nós?" Mas o
sepulcro está aberto. Um anjo acha-se sentado Enquanto st; recita a terccnu leitura. quairo irmãos
sobre o sarcófago vazio, que contem apenas deverão preparar-se. Um Udcsdeve vestir uma uiva c tliri-
gir-xe cm segredo ao lugar do sepulcro onde permanecerá
os lençóis de linho branco, e decorre o seguinte sentado cm silêncio com urna palina ti.is mãos Quando o
diálogo entre o anjo e as mulheres alarmadas: tercciio res|tonsói’io for cantado, os uimos três avança­
rão .1I<I o local do sepulcro, vestidos coiti ntanuii f poi-
{iuent tfuiíerííts m xvfwichnKo cfirt.tiicotiic? Lindii Urribtilos com incenso, caminhando va^irosnncn*
Jvsum N axtim utm crucifi.íimt, o a tr iito itu . te como quem procura iil^tmiâ çojsu. Vé-se (|uc çssa c
N tw e.vl litr, wrrexit, \irut p tv id ix c ra f. uma miilação dus nmlhcrcs que chegam com especiarias
ítc. itttniiatt', ijttttí Mtm.úr tir .WfttiUimK para ungir o corpo de Jesus Quando em seeuiria o união
untado junto ao sepulcro, que represema o anjo, vê o*
[A quem buscais no sepulcro, ô cristãos? três íc aproximando, como que vagando à prncuia dc
Jesus rtc Nuzaré crucificado. ó cchcoluv aipo. deve começar a cantar nu111a voz nwlulutla c i!<wc
Nõ<> csu) oqu», rcsKiiciiou, como tinha pi edito Qiffui f/Hfnrró. Ao tinal. os três resporiileião em uiiísmi-
Ide. ammcini que rtssii.sciUHi do sepulcro J luv íftcxtitn iVortvifim. O anpo Jhcs replica: ,Vi«t cm hu :
íTrad. Paulo Sérgio dc Vasconcellosj sutrexii -\Hiii /iRiri/irprut. itc mnilutlv qiim \ur*VAV *t
nsurtutx- A w comando. ohMêsdeverão voltai-se para o
Esta antiga forma de tropo de Páscoa en­ coro. cantando: Altctaúc. irswrcxii dontuius. Depois dis­
so, o anjo que permaneceu no sepulcro os chamara «k*
contra-se num manuscrito de São Galo. de 950, volta, comando a antífona U/i/fc tt vuitlcic h*t am. e ao
cm conexão imediata com os tropos de Tutilo soar dessas palavras ele sc levanta, remove n véu c lhes
e com n versão de Limoges, na França, do ser­ moMiii que tio lujiii da cruz coínma restaram apemis os
viço pascal. véus que a envolviam. Depois de ler visto isso. o\ três
Embora seja muito fácil traçar uma linho devem depositar o* incensórios mi scpuJeni, tomar o mi
dário e estende-lo djunic do curo para mostrar que o Se­
de ligação de São Galo, um mosteiro aberto nhor ressuscitou c que nan mais está envolvido por cie. i?
ao inundo c empenhado em um vivo intercâm­ então devemcomeçar a cantar a antifoiin.S>íf wiV^om/n/i.s;
bio cultural, com o ritual da missa dialogada dc sepufetuv, depositanJr> os véus mortuários sobre as
da Igreja Oriental, digamos, com o Chrístus toalhas de linho do aliai, Quando a unijTnuj leiTiUíuir. o
Prior iniciará o 3tino Tc th'um Lnudwnas, ic^o^ijaitdu o
aueste da procissão da segunda-feira da Pás­
rríimtb do Nosso Senhor por ter vencido a morte c les-
coa bizantina, ainda assim, precisam ente na suscitado. Quando o hum começar, lodos ns sinos deve­
liturgia pascal, aparecem influências inequí­ rão ser locados*.
vocas do Norte. A Reguloris Cottconlio, escri­
ta por volta dc 970 por Etelvoldo, bispo de * Ki.LiJ.iu d iy iji. Júijfhxh fichai,na af riu1 MiiUc
Winchester, demonstra essas influências. Essa A.vcr, OsrmU, l*JM. p. tló

ttiV
4. Pedro e Inuii no Sepulcro: Maria M fa le n a observa por dcirfc d;i colina. M iniaiurj
do cvungdiário do imperador Oto, século X {Auchen, Tesouro da Catedral).

b m fA m o d o -d o n c c d ic tn f l i e n e d i

5. Corrida dos discípulos ao Sepulcro, P aln t i frente. M iniauira d e uni Ijv ro de Pencnpes. C lm . 15713. ííscnla dc
Ri^ensbmp, t \ 1330 {Munique. SfuaishiWioihck»,
• .-1 líindt' ' i ' 11

É dessa t o ; q n . - a Regularòs Coneoriiia peça. Ele aborda as mulheres a caminho do


estabeleciu o padrão básico da dramatização sepulcro e lhes oferece seus produtos com
latina da celebração da Páscoa pura o conjun­ muita gesticulação. Uma mesa com uma ba­
to do mundo ocidental. O Te De uru LnttdiiHtttx, lança. caixas de perfumes e potes de unguen­
mn dos rtvtis antigos hinos corais, c ainda hoje tos marcam o cenário desse primeiro interlúdio
cantado em iodas as igrejas cristãs. Era origi- "mundano".
nariameme cham ado "hino amhrosíano" e No início do século XI, o íluininador do
atribuído a Santo Ambrósio, mas é provável Evangelho de Uln, em Rcgensburgo, conside­
que lenha sido escrito por Njectas deTrier por rou a cena da coinpra dos perfumes bastante
volta tle 535. Por lodos os países e em iodas as importante para retratá-la num medalhão or­
épocas, o Te Deum entoado em coro consti­ namental do Evangelho de São Marcos. Nas
tuiu a conclusão de iodas as celebrações da esculturas das catedrais francesas de Beaucaire
Páscoa que proliferaram a partir da Viíitcllio e St.-Gilles, o boticário aparece ao lado de sua
original. esposa. Mas havia ainda um longo caminho n
Os acréscimos subseqílcntes ã represen­ percorrer até a pilhéria deslavada que envol­
tação cênica seguiam estritameme o texto dos veria a compra dos perfumes nas Paixões pos­
Evangelhos, Pedro e João, lendo ouvido as teriores. O Mereaior do Sepulcro Pascal em
Imas novas das mulheres que retomam, cor­ Consiança não sugere nada nesse sentido,
rem nu sepulcro. A Torça simbólica da ação Usando o capuz dos eruditos e portando sua
não é de maneira alguma diminuída por essa lente de aumento, mantém os olhos baixos e
"corrida ao túmulo", preconizando os primei­ silenciosamente Iritnra os ingredientes de seus
ros elementos grotescos do espetáculo teatral. unguentos cm seu almofariz de holicário, Se
Pedro, o inais velho dos dois discípulos, man­ esse honrado Hipócrnles tivesse alguma fala.
ca e ofega atrás de João, Mas João, lógica esta só poderia serem solene e pausado latim.
mente, o deixa entrar primeiro no sepulcro. Um texlo de Praga do século Xlll de fato lhe
Gestos amplos, compreensíveis para todos, in­ concede algumas linhus:
terpretam o texto solene-mente cantado. Aqui
lemos a primeira cena de pantomima na igreja / W tt> vtrht\ uuiitwntn ofttinM,
w lv u fu m iríiçhfrB' vuhífra.
- especialmcnte quando o coro canta as antí­
frm a tí
fonas, como mostra » códice de São lilás de r t ttumirti f r â \ <t*t ifiortitnt
Brunswick, do século XII, e os dois apóstolos
[Os iiic ILkhw * Lm£UsrnT<t* lhes durei.
entoam fcrre Ítiiuíimutti ate que os véus de li­
Itu ii li ii ^ ir iix Ft;i'id;i'< J n SalvaUiH',
nho lhes sejam revelados. C l l l IlItTIK ifU I l l f S c II M ^ H lI liL I lK lltt)
Enquanto isso. as Ires mulheres saiam de c p .n :ia ■jló ii;i do Seu nom e.]
cena. excelo quando lhes era permitido per­
manecer por perto e assistir à corrida por de­ O salto até a cena do mercador dc Erlau.
trás do sepulcro, conforme nos mostra uma mi­ do scculo XV, é enorme. Nela, Medicus ainda
niatura de um manuscrito otomano de Aachen. discursa num mal falado latim. mas. apoiado
datado do século X. por sua esposa Medica e seus assistentes Rubin
Possibilidades bem maiores de enrique e Pusterhalk. solta uma enxurrada de invecti-
cimento cénico foram oferecidas pela cena do vits, que deixam as três Marias atónitas. Nada
Me reator, introduzida pela primeira vez por poderia ser niais sincero do que sua ameaça
volta de 1100. De acordo com São Marcos, de que deveriam parar de chorar e se recom­
Maria Madalena, Maria Salomé, mãe de Tiago, por, senão "vou lhes dar lima no nariz". No
e Maria Cleofas haviam comprado doces fra­ final, o próprio Medicus começa a questionar
grâncias a caminho do sepulcro, e esta afir­ sc elec seus companheiros não leriam ido lon­
mação abriu a porta para um dos caraclercs ge demais, e volta-se. apologético, para o pú­
fixos tradicionais do teatro popular: o Merca- blico. "Talvez os tenhamos aborrecido com
ro r- boticário, curandeiro, me d íc astro e pilu- nossa gritaria", ele sugere, e anuncia que vai
leiro do burlesco e do mimo Náu foi preciso retirar-se e deixar que as M anas sigam seu
inventã-Io, mas simplesmente introduzi-lo na caminho.
IV )
r

íí. 1) u :ls M;<ri;is tui LOiiiprjidtKilsjiimi)*. A m;us n n iij^ i


\
7 O iTk.Ti ;uíi ir L- feílsimu in i*oi ilt i tri iJ ili >, cí im i >pi 1úo fL-pirsieniii^Ja e\isu -n tc iltiw a cena tcatruí t m iluMJ jçfu>
tlf c >i Jufvi. Intui ;i du fris:i ilfnlro *ki K;uiwi Ncpul- Jv lii. r« ( iin mctkilhãir] d li pú^in;i ortrnnrcmjd do Uvan^c-
l t íi n:i ( ‘a jv fa dc S:in M liuhcío. ía k - d íjil %\c t\> iM íir k i;i. llio ik- Sfm M irto s , no lA m ig e lh o da A I i ;h Jcsis;i I >l;i tic
Kl‘jicm hm p . . i ‘. 11>2TH M imu|in‘. S ilut.shíI >i11>lhc k >,
f f o í t i r t í j M t u i i t i i i t t/t> í t r u i r t i •

Os anjos gritam o sou "xilewV, e a pri­ monge-pintor Dionysos do Monte Atos. for­
meira das três Marias entoa i>“Hett Nnbis" em nece as seguintes instruções para a “corrida à
latim. O tosco interlúdio do Mertaror vai dan­ tumba"; "Pedro permanece inclinado dentro
do lugar aos lamentos solcncmcuiL- recitados, da tumba e toca o sudário. João está do lado
parte em alemão e parte em latim. de fora e assiste a tudo. atónito. Maria Mada­
Mits o Meraitor, juntamente com sua es­ lena permanece ao seu lado, chorando". Essa
posa e assistentes, não tem direito à salvação. 6 a descrição da cena teatral. Bizâncio codifi­
Bertoldo dc Regensburgo condenou-os cate­ cou a representação, que o mimiiturisia du
goricamente em seus sermões no século XIII: códice otomano dc Aachen havia antecipado
até mesmo os nomes de seus assistentes, Pus- cinco séculos antes (ver ilustrações página 190),
terbalk e Lasterbalk, eram traiçoeiros e repul­ A questão da relação entre as artes visuais
sivos o suficiente, dois nomes de demónios que c u teatro na Idade Média é tão fascinante quan­
os bons cristãos costumavam atribuir aos ato­ to controvertida Desde que Eniile Mãle pro­
res, Essa aguda censura reside num fato da pôs, em 1904, a audaciosa hipótese de igic te­
história do teatro. O vendedor de ungiremos c ria havido "uma renovação da arte por meio
sua parentela palradora e abusada foram os pri­ da representação dos mistérios", seguiu-se uma
meiros a falar nova mente com a voz do minto série ininterrupta de observações cm pane con­
imortal. Quando, dessa forma, o mimo soltou cordantes e em parte discordantes. Estudiosos
de novo à vida, teve necessariamente de fazê- especialistas n» período bizantino assentaram
lo em latim, mas isso u ligou tanto mais a seus marcos confiáveis. Eles mostraram haver uma
antigos predecessores. concordância eontprovável entre a jovialida­
As 224 dramatizações pertencentes ao ser­ de narrativa dos testemunhos textuais e os re­
viço pascal, recolhidas por toda a Europa e gistros pictóricos subsistentes, e levaram em
publicadas por Car) Latige em 1887. provam consideração influências teatrais. Relações si­
o quanto o dcscnvol vintento da liturgia, no que milares podem ser constatadas na Europa Cen­
diz respeito ã representação dramática, foi tral. como por exemplo no ciclo da Epifania
universal no conjunto do Ocidente. de Eambach, no Saltério de Santo Albano de
O diálogo do "quem qiwerilis" entre o anjo H ildcslieim , ou no E vangelho de Uta dc
c as Marias podia ser ouvido no Domingo de Regensburgo.
Páscoa cm São Galo e cm Viena, cm Estras­ Qualquer suposta relação constitui uma
burgo e cm Praga, no monastério italiano dc tentativa de extrair do passado imagens que.
Sutri eem Pádua. na Catedral de Lilebfield na apesar de lodo o cuidado e preocupação na in­
Inglaterra, no mosteiro espanhol de Silos, em terpretação. podem ler sido pensadas de ma­
Linkôping na Suécia e sob os arcos góticos da neira bastante diferente daquela em que hoje a
Catedral de Crucóvia. concebemos. Coinessa ressalva, cabe invocar
A corrida dos apóstolos ao sepulcro, se­ também para o teatro testemunhos pictóricos
gundo se sabe, nos é transmitida pelos regis­ que não lem a ver com o teatro, mus que refle­
tros do monastério de São Marcial em Límo- tem o espírito de uma época em que elemen­
ges. em Zurique e em São Galo, no murtaslério tos teatrais primitivos estavam presentes. Otm
de São Flori ano na Áustria, em Helmstcdl. no Paechl. que seguiu os rastos fascinantes das
norte da Alemanha, e também em Dublin. De influencias teatrais, sem no entanto prescindir
Dublin, existe inclusive uma descrição dc do mais frio ceticismo, concluiu cm 1962 que.
como os apóstolos deveriam estar paramen­ na Idade Média, o que "estimulava a imagina­
tados: descalços, vestidos em "atbin sitie ção do artista cm primeiro lugar não ora a ex­
jjtintris cm:i tnnicis João tistmdo uma túnica periência visual", mas que “o impulso criativo
branca e carregando tuna palma, e Pedro, uma primário parece ler vindo do mundo da fala",
vermelha, segurando as chaves do Paraíso. de acordo com uma frase aln buída por PIu(arco
A cena em si corresponde exaiamcnlc às a Simonuies. de que a poesia é uma pintura
regras estabelecidas nos manuais de pintura da falada, e a pintura, um poema silencioso.
Igreja bizantina como guias pura os pintores Todas essas primitivas celebrações dra­
de ícones. O mais famoso deles, o livro do máticas da Páscoa respeitavam o lempo de-
■ 194
* .4 td a titr

terminado na Regida ris Coneardiu. ou seja, anual da Páscoa. Unidos exemplos muis belos
aconteciam durante as matinas no domingo de é o Santo Sepulcro na Capela dc São Maurí­
Páscoa, após o terceiro responsório. Posterior - cio. 11a Catedral de Constança. Essa capela foi
meme. esse horário para as representações construída pelo bispo Conrado de Constança
dramáticas da liturgia foi mantido mesmo quan­ (934-975). c conla-se que nela “ele adornava
do os autos da Paixão e os mistérios, cada vc/. o túmulo do Senhor com obras maravilhosas".
inais numerosos, já haviam de há muito se Ele visitara a Palestina três vezes a fim de ver
emancipado da Igreja c iransfcrirain-se para a a “Jerusalém terrena" O atual Sagrado Sepul­
praça do mercado e para as salas do teatro, sen­ cro de Constança - que reproduz 11a forma o
do encenadas durante os meses do verão. No dc Jerusalém - e suas interessantes esculturas
século XV, ensaiar o “de verloottigen va» de dtuam de 1280. Ele estabelece uma ponte en­
opslanding des Heeren" para o serviço matu­ tre as Cruzadas c o cenário da cerimónia da
tino de Páscoa na Catedral de Utrecht era ain­ Páscoa. Os Cruzados não apenas retornaram
da uma das atrihuições do supervisor da Esco­ com um conhecimento pessoal do modelo de
la Capitular de Ul redil Na Catedral de Gemna. Jerusalém e com o desejo de reproduzi-lo o
conforme nos informa um códice litúrgico do ntais fiel mente possível em sua terra nata):
século XIV, a responsabilidade de representar aqueles que eram afortunados o suficiente para
o auto das três Marias cabia aos “jovens có­ regressar a salvo também tinham Iodas as ra­
negos". zões para celebrar sua volta com generosos
Para o serviço da Sexta-Feira Santa, o fu­ donativos.
moso lamento latino “planeias atue néscia" Walbntn, prebosre da Catedral de Eich-
evoluiu já no início da Idade Media para o la­ stiill. regressou das Cruzadas em 1147 com
mento cie Maria, que fui mnis tarde ampliado uma lasca da Santa Cruzent sua bagagem, jun­
para um diálogo entre Maria e João. Esta c a tamente com as medidas exatas do Santo Se­
primeira vez em que se pode perceber o pró­ pulcro. Fundou utn pequeno monasícno fora
prio Cristo, embora apenas no recitatívo e não da cidade e o ofereceu a um grupo de frades
realmeme visível. irlandeses e escoceses dados a peregrinações.
Um manuscrito de Zurique, do final do Dedicou a igreja à "Santa Cruz e ao Santo Se­
século Xll. traz um diálogo profundaineme to­ pulcro" e. em 1160, construiu dentro dela uma
cante, apesar de sua brevidade. H um grito su­ cópia liei em lodos os aspectos à de Jerusa­
focado de pesar da míie para seu filho, prega­ lém. Hoje esse monumento romanesco está na
do 11a cruz por causa tios pecados dos homens; Igreja dos Capuchinhos dc Eichstatt. Exem­
"Mater: filt' Christus: M ater1. Marer: deus es\ plos similares são a cripta do Santo Sepulcro
C h r is tu s : vim i! Mater: cu r i ta pendes? Christus: de Ciemrode, nas m ontanhas Harz. o San
ite gentis hunitinimi letuiat ml inieriíum". Exa­ Sepulcro em Bolonha, São Miguel em Fu Ida e
ta mente as mesmas palavras foram encontra­ Saint-Beniguc em Dijon.
das ninn candelabro instalado no mosteiro de Totlas essas cópias mais ou menos’ fiéis do
Santo Emerão de Regensburgo em 1250, da- Siuuo Sepulcro tomaiítm-se o centro espiritual
rante o contlito entre a focção papal e a dos c cênico da cerimonia da Páscoa. O texto do
Hohenstaufen. O bispo de Regensburgo o lia- serviço era o ntesmo em Jerusalém c no Oci­
via oferecido como expiação por um atentado dente, A Biblioteca do Vaticano possui um raro
contra a vida do Rei Conrado IV, um incidente documento,"Ordin adtisum Hierasolyinittiinim
pelo qual não se sentia inocente. itnni 1J60“ (MS. Barbeiam lat. fi59t, que con­
A extensão em que se operava a transfor­ tém 0 texto de tuna cerimónia dramática dc Pás­
mação do altar 110 Santo Sepulcro para a ceri­ coa representada, em latim, cm 1160 no Santo
mónia da Páscoa era deixada a critério de cada Sepulcro original, cm Jerusalém. O texto cor­
monastérto. A Regidaris Concoidiri se contenta responde iiteralmentc aos tmpos de Páscoa de
com um "asshnilatiti sepnichri vclumtfue". Ripoll e Silos, aos textos das representações de
Porém, já no século X ll. estruturas tumulares Hcsunçon. Chálons-sur-Mame e Fleury. e aos
especiais eram erguidas nas igrejas, numa ten­ textos dram áticos lilúrgicos, da Sicília à
tativa de criar um cenário digno da celebração Escandinávia, da costa dt> Atlantic» ao Vístula.

• /Vá
H is t ó r ia M u nd ial tlu T r a tm «

O século XIII fui também a Era da Cava­ Agora, cenas retratando Pilatos e envol­
laria, dos cavaleiros, dos nobres c dos prínci­ vendo os soldados da guarda precedem as da
pes que se orgulhavam de oferecer sua patro- Visitado e das Irês Marias comprando as fra­
nagem especial iiarte da cerimonia dramática. grâncias, Os soldados romanos montando
O papel do patrono das artes, agradável aos guarda no sepulcro agora discutem sobre seu
olhos de Deus, sempre continha a promessa soldo. A ressurreição, original mente indicada
de recompensa neste e no outro inundo. As­ simplesmente pelo salto assustado dos solda­
sim Lipoldo, o ndvocaius (protetor) da Abadia dos, tem agora uma consequência, numa cena
de St. Moritz, em Htldesheim, doou à igreja em que Pilatos acusa os homens de negligen­
local, em 1230. uma prebenda que pagaria a- ciar suas responsabilidades. Uma viva lingua­
nualmente os custos de uma representarão dra­ gem gcstual interrompe aqui a solenidade rí­
mática da Assumptio Chrisli na festa da As­ gida da representação.
censão. Da mesma forma, em 1268, o Conde A introdução do papel de Jesus abre ca­
lleinrich der Bogener de Wildeshausen trans­ minho para a representação dos acontecimen­
feriu uma soma considerável ao Alexandemift tos posteriores à Páscoa: sua aparição a Maria
local, para ser usada ‘‘numa solene celebração Madalena como jardineiro (“Noii me langere"),
do scpultamcnto de Nosso Senhor na Sexta- ao incrédulo Tomé, aos discípulos no cam i­
Feira Santa". nho de Emaús (auto dos Peregrinas), ao gnipo
Por sua vez, o auto pascal de Murí. o inais dos apóstolos em Jerusalém e. finalmente,
antigo existente em alemão - c numa lingua­ como tema de infinitas possibilidades, a des­
gem muito refinada, claraniente moldada na cida ao Inferno e a libertação de Adão e F.va
poesia épica das cortes - parece sugerir um do limbo, primeiro ato de salvação.
patrono principesco. Porém, esse auto prova­ Com esse acréscimo de novas cenas, o
velmente não foi representado na igreja. espaço destinado à dramatização teve de ser
Eduard Hunl. responsável por uma nova edi­ proporcionalmenie ampliado. Enquanto o en­
ção do texto em JlJ37. sugere que em "inn dos contro de Jesus e Maria Madalena ainda podia
grandes castelos da Suíça, por volta de 1230. acontecer junto ao aliar ou ao Santo Sepulcro,
o auto deve ter sido montado sob a direção do a viagem a Emaús exigia necessariamente um
capelão particular, um homem de educação intervalo espacial. No auto de Páscoa do sécu­
cortesã, para a edificação cristã de seus mora­ lo Xlll de St.-Bciioit-sur-Loire (Fleury). E-
dores". A total omissão de hinos latinos, a ên ­ maús situa-se na parte ocidental da igreja, c a
fase reconhecível no sentimento de classe dos mexa da ceia. no centro da nave; Jerusalém fica
cavaleiros e a inirodução de ti curas de servos no coro. A cena interior, ent F.maús, é marca­
- tudo sugere um esforço para apresentar a da por uma niysn com vinho, um pedaço de
história da Páscoa ao senhor do castelo e seus pão e três hóstias fruas. Antes do início da cena
hóspedes num meio social adequado. Assim, da ceia, Iraz-sc água para a lavagem das mãos.
do oratório eclesiástico saiu o primeiro drama Todos os espaços necessários à represen
falado nas terras do norte do Ocidente, e sua lação eram especificados no início e identifi­
encenação se deve a um patrnno nobre. cados por cenários e acessórios apropriados.
A simultaneidade da ação c as áreas utilizadas

O A itfn P a s c a l n a Ig r e ja determinaram o futuro palco de lodo o teatro


medieval - seja em forma de uma disposição
O século XI1i trouxe consigo duas inova­ espacial sobre uma superfície inteira reserva
ções de grande importância para o desenvol­ da à representação, seja de uma justaposição
vimento do teatro ocidental. Cristo, que até ao longo de uma passarela estreita. Os espetá­
então havia estadu presente apenas como "sím­ culos eclesiais desfilam os eventos bíblicos aos
bolo", agora aparece em pessoa como parcei­ olhos do espectador com a mesma justaposi­
ro qne fala e alaa. e a linguagem vernácula ção simultânea de um painel pintado. As duas
traz vida aos rígidos textos litúrgicos. A ceri­ grandes obras do pintor Hans Memling, Os
mónia dramática ampliou-se para representa­ Sete Go;o\ <ic Maria e A s Srte ÍJonr.v de Mo-
ção adaptada liviemeiiic- riu. com sua abundância de cenas a estender-
■ I9fi
'J. Ciclo L'S|tunhijl da Puixàu. cuja riqucttt n arrama r Lvai i^:i com a das cenas dos umos da Mais no. Acima, o beijo de ludus
e us soldadas levando Jesil*. Ao ccnrrii, o CViIgoln com a crucifixão e os tadrões,' abaixo, d descuiu du cruz. á esquerda. Judas
enlorca-se mmiu irvorc. Mafiau de nu munira cru tuna J íiN tn StíCttt dc Ávila. r. t IDd (Mudei, lliblmiccu Nacional),
H t j f ti r it t \ t t ti tt t ii t i it o T c t U f o «

se largaineute pela paisagem, surgiram de uma conformada ao âmbito físico do cenário da


experiência iilêntica à que originou a simulta­ igreja. Nos ciclos da Paixão dos séculos XV e
neidade cênica do palco medieval. XVI. entretanto, que frcqúentemenle tinham a
Paraíso c Inferno. G et.sê muni e Gúlgota, duração de vários dias, o Inferno assumiu um
Satã e os Bem-Aventurados são tão didatica- papel mais importante e provocativo, muitas
mente confrontados tio tealro quanto no sermão. vezes beirando a violência crua. Ntt relraiação
Odramaeclesial medieval sempre leve uma ina­ do Inferno, o teatro tentou superai a arte pic­
ção pedagógica, mesmo quando passou a ser tórica. O inundo pecador deveria contemplar
apresentado na praça do meneado e passou a plenautenle o abismo do qual se aproximava.
preocupar-se com o conjunto dos cidadãos. A O poder do Inferno, que aguardava imperado­
palavra latina putpitum ainda abrange as diver­ res e reis da mesma forma que sacerdotes in­
gentes formas de representação, pois pode sig­ dignos, usurários, prostitutas, assassinos e al­
nificar tanto o púlpito quanto o tablado. coviteiros, era assim reconhecido. Urna vez que
A descida de Cristo ao Inferno estabelece o auto do Juízo Final sc desvinculara do cená­
uma ponte entre a Redenção do Novo Testa­ rio da igreja, foi necessário somente um passo
mento e a história da Criação no Velho Tes­ a mais para chegar às sátiras seculares das cor­
tamento. Para os iniciadores do drama na igreja porações e para as representações profanas da
ela trouxe um deslocamento efetivo do lugar Dança da Morte. De acordo com velhas Cren­
da ação. Os atores Caminham em pmcissãoao ças populares sobre as orgias noturnas dóS
redor da igreja até o pórtico, que simboliza os mortos, no Banquete dos Mortos e na Dança
portões do limbo. Cristo, representado por UUl dos Mortos, a Morte personificada força os
clérigo escolhido, hate energicamente diver­ vivos a segui-la em seu séquito, independen-
sas vezes. Dentro. Satã. personificado por um lemente de idade, sexo ou condição social —
diácono vestido parti o papei, procura impedir tanto o papa quanto o velho mendigo, a res­
a entrada do Redentor, mus por fun tem de abrir peitável burguesa quanto o devasso menestrel.
os "portões do Inferno" e libertar as pobres A Daíiza de M itene espanhola, a Ditnce
iil mas prisioneiras de Adão e Evaedos Patriar­ Mitcuhre francesa, as danças da Morte ingle­
cas. Nesse momento, o pórtico da igreja reas­ sas, eslavas e alemãs do século XV, com seu
sume o papel tão ricamente documentado nas didático despertar de consciências, encontra­
decorações esculturais: o de encruzilhada onde ram expressão efetiva na escultura e 11a pintu­
se dá a separação entre o mundo do pecado e a ra. Estranhamcme, porém, tiveram pequeno
salvação eicnta. Agora, lodos os que partici­ impacto 110 teatro. (Hugo von llofmannsthal
param da representação entram juntos na igre­ adota este tema cm seu drama lírico Der Tor
ja, seguidos pela congregação. tmd der Tod - O Louco e a Morte I.
Nenhuma outra concepção bíblica fasci­ Enquanto os espetáculos religiosos primi­
nou tanto os artistas medievais quanto a do tivos eram escritos e organizados exclusiva­
Inferno, o contraste entre a (lunação e a salva­ mente pelo clero regular e secular, mais tarde
ção. Dramatizações teatrais competiram coin os professores das escolas de latim encarrega­
a imaginação de escultores, pintores, entalha- ram-se dessas montagens, dirigindo seus alunos
dores e gravadores. Em breve a simbolização nas representações da Páscoa. Pentecostes e
do Inferno iria para hem mais além do simples do Natal. O período de transição produziu
batente do pórtico da igreja, convertendo-se manuscritos etn latim comovedoramente im­
nas mandíbulas abertas de uma fera, soltando perfeito. que ainda assim tentava sobreviver
fumaça e li>go- ou. interpretada lileralmenle como um vestígio erudito, ao lado dc passa­
como a própria boca aberta do Inferno, mos­ gens vernáculas. Do século XIV em diante, por
trando entre suas presas umn multidão de de­ lim. os wvmtlering scholars, erudilos eiTantes,
mónios horríveis e grotescos, que maltratam conseguem colaborar nos dramas religiosos -
as pobres almas com tridentes e cimentes de e quem poderia proibi-los de inserir, ocasio-
ferro. iialineme, unta palavra em causa própria'.' No
O auto pascal do século XII1 e XIV era auto pascal de liinsbruck. o apóstolo João, en­
ainda uma ação ritual modesta c imaginativa. quanto cede a Pedru a precedência na entrada
• Jy.v
• A Ulade M éJttí

<ki Santo Sepulcro, recita urna espécie de epí­ não baseada nutna representação dramática. Se
logo, em que a quiutaesséneia do tema da peça c, antecipa em alto grau desenvolvimentos pos­
combina-xc com um pedido aos espectadores teriores. Poderia também ajudar a iluminar o
para que pensem nos "pobres eruditos" e de­ "crepúsculo teatral" que envolve a criativa e
monstrem sua gratidão, oferecendo-lhes uma prolífica escritora Hrotsvitha, cujos dramas em
boa refeição: latim, escritos à maneira de Tcréneio. são
alternadamente considerados muito importan­
Ouch htíllt1 icil Hiirh \'officsxrtr, tes ou toiulmente insignificantes para a história
ttv actniívr nichi c:u vssea! do teatro. Pode ser também que o marfim de
w e r yi\ yt‘hit itc frr m v tt,
(ieti w it ,v<it (m i? i t m í u t iu n i u K v h r t h ‘rri t m ,
Crauderscheim não signifique mais Jo que a in­
w t f v n ftc fo t n r v ttu le n . tenção do artista de prestar homenagem espe­
ilc n wH g o l ttt tfa ? h y i t í i u f í i i t i u : t m l c » cial a suas protetoras, mostrando Maria vestida
[A lém do m uis . cu I v i v i a n n > e .x q iiL Y Í d n :
como uma venerável canonisa.
úí pohrvs eiudilOh iú o lèm lu d íi [xsva conter! Embora a corrente do teatro medieval pos­
Se lhe* oferece tíI l"* um p u u c o d o vnuso assjiln. sa, de modo geral, parecer uniforme no que
IX mjí vo:» pn n c^ciá c tiutniú sempre; diz respeito a suas raízes, suas aspirações, pos­
S c Itic s o f e i v c e f d c j ; u m p o ilc o tlc pA o.
sibilidades de representação e sobretudo em
D e u s v o s l e v a i ú |> i i i n n C é u . ]
suas origens 11a fé cristã, ele se divide em múl­
A perspectiva de ganhar uni lugar no Pa­ tiplas correntes no delta de seu desenvolvi­
raíso, graças a um pedaço dc carne assada e mento posterior. Tomou-se incrível mente mais
uma fatia dc pão, deve ter feito o público con­ natural, graças ao uso não apenas de diferen­
siderar que valia a pena oferecer uma refeição tes línguas vernáculas, mas também dc dife­
aos padres e eruditos. rentes figurinos e acessórios cénicos. Na cena
Até o século XV. os papéis femininos, do Niili me tangem. C ristoé um jardineiro com
mesmo na lamentação de Maria aos pés da um grande chapéu c uma pá. como que para
cruz, eram desempenhados por clérigos e eru­ tornar bastante claro aos espectadores por que
ditos. Na Idade Média, da mesma forma que Maria Madalena não poderia reconhecer o
na Antigiiidade, no amigo Oriente Próximo e Senhor tcssimeclo "in \pecie horltilimi''. Além
no teatro do Extremo Oriente, a plateia não disso. Jesus se dirige a eia com palavras áspe­
via nenhuma incongruência na interpretação ras, críticas:
de om papel feminino por um ator. Parece que
I s t tfttr .eater banc/J j , , M.
até em comentos de fieiras os clérigos faziam
-fír," u nmUílitU'11 al. <A t.n, riu
os papéis femininos. No amo pascal de Praga, •.tt \n tiesa n (iu o , n '
montado no convento das freiras de S. Jorge, »rr fim/it in nuiít-N
apenas a cantora íctitnrix) é especificada como
fE coirela t|iu- luh.i mutht-i do
uma participante do sexo feminino, que repre­ pciíimbuk- .0111 n roiaçdo tevt
senta o coro dos apóstolos. Pedro e João são iiL-roc jimltui Cíwio os sirn-fis?
descritos como duo prcsfnw ri. O tcxlo não A l|.k '.!I OlICOilliio'-1]
esclarece se os papéis das três Marias são de­
sempenhados por freiras. A abadessa tinha o Maria Madalena linha toda a razão de per-
privilégio de beijar o livro de orações no iní­ guntar-lhe. espantada: "Por que gritais comi­
cio e no final do Te Dciuv, go'.’’' Ela informa ao rude jardineiro que está
Um entalhe em marfim, remanescente de procurando pelo "santo homem" e pergunta
Gandcrscheim. o convénio da dranialurga se este pode informar-lhe algo sobre ele. Mais
Hmlsvilha, pode talvez ser mais bem interpre­ tarde, 110 auto pascal de Intisbmek te 110 de Er-
tado em termos do auto pascal dc Praga. Repre­ lau. Ivm mais grosseiro, mus para o qua! muitos
senta uma Anunciação. Maria é retratada como paralelismos textuais apontam), o reconheci­
uma caimnisn da época de Hrotsvitha. no coro mento culmina 110 velhoptniictiis latino, Dnlor
da igreja do convento de Ganderscheim, Essa O o c d'. O monologo de Maria Madalena co­
pequena preciosidade entalhada data da segun­ bre o tempo que o intérprete do Cristo neces­
da metade do século X. A questão é se ela é ou sita para iroear de roupa.
* 1'rJ
MwuiíAtf í | í) Tfutrt* -

Na viagcnl a Etnaus. Jesus usa um capuz do reações de uniformidade dificilmente recor­


de feltro. um bornat dc peregrino e uni bas­ rentes no mundo ocidental. Na França, Espa­
tão. A peças, na verdade, o mostra como <> nha. Itália c nos países de língua alemã, como
mesmo Peregrinas ijue apareceu já no século também nos países escandinavos e eslavos, os
XII nos vitrais de Chames, no Saltério inglês organizadores de espetáculos encontraram uma
de St. Albans e num baixo-relevo do monas- resposta que. se não encorajava seus esforços,
tério espanhol de Silos. O mesmo motivo é pelo inenos não os desencorajava.
adornado com muitos detalhes em pinturas cm Os aspectos organizacionais do teatro
painéis. medieval desenvolveram-sc sobre o mesmo
O aspecto timidamente grotesco que ocor­ plano que sua superestrutura teológica e didá­
rera pela primeira vez no “Currebam doo si- tica. -Embora o clero haja perdido o controle
nuif' da "corrida ao sepulcro" desenvolve-se sobre as cada vez maís numerosas representa­
numa paródia carinhosa dos anciãos, na qual ções profanas, os flagelantes e as corporações
Pedro é dado à garrafa e se fortifica com um religiosas tinham ambições similares.
bom gole antes de vir a perceber o milagre da Na Itália, a Confralernità dei Battitti em
Ressurreição. Anleriomiente ainda, no século Treviso. desde 1261. e a Confralernità del
X, os menestréis faziam troça benévola com a Gonfaione, fundada em Roma em 1264, pro­
figura do velho dc barbas brancas, que tinha duziram, em esplêndidas encenações, a forma
caractenstieas demasiado humanas - mesmo tipicamente italiana dc espetáculo religioso, a
sendo a legendária "pedra sobre a qual eu cons­ sacra rappresetuazione. Santos locais e na­
truirei minha igreja". Deram-lhe o papel de co­ cionais eram postos a serviço da propaganda
zinheiro no banquete dos bem-aventurados, teatral religiosa. As confrarias de atores, como
discutindo até que ponto essa atribuição era iniciadoras das representações dialogadas cha­
compatível com sua função de porteiro do madas landes draniaticae. gravavam orgulho
Paraíso, o que abriu caminho para o tratamen­ saincnte em seus escudos a designação tocida-
to afetuoso e humorístico dos santos, que maís tares Doniini t"menestréis do Senhor").
tarde se refletiria em inúmeras formas, tanto No âmbito da língua francesa, as repre­
no teatro quanto nas artes visuais. sentações religiosas eram de responsabilida­
Os menestréis têm sua vez, e o mimo tam­ de das Canfrérics de la Passion (Irmandades
bém, quando se exige que 0 Mercam: e o ven- da Paixão), fundadas espccrulmente para esse
dedor de unguentos sejam carecas. O m in u t s propósito. Essas irm andades existiam eni
calvas da Antiguidade sc introduzira no drama Limoges (cenário das mais antigas celebrações
religioso, arrastando consigo ioda a soa paren­ pascais), Roiicii. N antes. Amicns. Arras.
tela - mascarados, malabaristas e bobos Um Angers, Bouiges, Vai eucie mies e. natural men­
afresco da Igreja de Evn, na Dinamarca, mostra te, em Paris. A Cnnfrei /c dc laPassitm de Paris
um bobo com chapéu de guizos à frente da pro­ era famosa por volta de 1400, e, em 1402. su­
cissão em que Cristo carrega a cruz. Nos afres­ perou i o d a s as companhias teatrais européias
cos na Igreja de São Jorge em Staro Nagoricino. similares: a ela foi dado o monopólio absolu­
na lugoslávia, mimos e menestréis participam to cm Paris, conservado até o século XVI. O
de unta dança tumultuosa e blasfemam aos pés clero niio apenas empreendia e montava os es­
da cruz. Dois deles usam um traje com as cu- petáculos. mas participava deles, escrevia o
ractejísticas mangas longas e largas, que lhes roteiro cm. em alguns casos especiais, os fi­
cobrem as mãos. c que desempenham papd im­ nanciava.
portante na linguagem gestual de tantas civili­ 0 estoque ele acessórios e figurinos, cui­
zações - sublinhando expressão da dor c pa­ dados a mente guardado durante duzentos anos
rodiando-a. No bom oo no mau sentido, furam pelas igrejas e monastérios, de uma tempora­
elas, durante muito letnpo. o símbolo da condi­ da teatral a mitra, passava agora as mãos dos
ção do ator na China, no antigo Oriente e em burgueses e artesãos, pois, a partir do momen­
tíizânciu. to em que os grémios e corporações se encar­
Em meio a [orla a sua heterogeneidade, o regaram do financiamento dos espetáculos,
público do teatro medieval deve ter apresenta­ reclamaram também o direito de organizá-los

• 200
10 Bc.it::i d o l u lc n io com AtLão. livtt c i i s I~<u:c luicral tk1 u m c:id ciral «,1o o i a i ih: ViilcnócfiiWíi. sc ^ u lo XIV.
J I . Juízo Finai com [toca do Inferno, Parle do tímpano subre o portal sul da Catedral dc Ulm, <\ 1360-1370.

12. Boca do Inferno de uma peça cnitológica baj-roca, apresentada num c a n o alegórico do Préstito dos D entes cm
Drcsden. I<j95* com a participação da conc. fcLstmçn para gravação cm eohic íDrcsden. Kiipfersiiclikahmt.il t.
• \ Itftíííc i l í / i f í í l

a seu mudo. de distribuir os gastos e escolher falso Messias enviado por Satã surgiria e reu­
0 elenco. O caminho da celebração tiuírgíca niria todos OS poderes do ttud no mundo para
ao espetáculo teatral, que a Igreja havia ence­ lutar contra a Igreja Cristã; no final, porém,
tado e incentivado, fundia-sc agora com o da seria vencido pelo verdadeiro Messias.
ascendente população urbana europeia, que, No texto da peça de Tegernsee, as cenas
nos séculos seguintes, determinaria o curso da que mostram os acontecimentos diretamente
história e, dessa forma, lambem o aspecto do ligados ao Anticristo são precedidas por cenas
teatro ocidental. que tratam do declínio do império romano e
do triunfo do im pério germ ânico. O Rex
4 S e p a r a ç ã o d a I g r e j a : (i TeMonicus subjuga todos os reis do Ocidente.
P eç a de L e n d a s Os governantes da Grécia e da França e. no
final, o Rex Bahitoniae. príncipe dos pagãos,
Os textos dos Evangelhos foram realmente são derrotados na batalha. Então, o imperador
uma importante fonte de material para as germânico deposita sua insígnia imperial dian­
dramatizações religiosas, mas não a única. A te do altar, no Templo de Jerusalém. Coroa e
"irrupção do mundo*' manifestou-se não ape­ cetro abrem caminho para um poder ainda
nas num estilo muis realista de representação, m aior A peça reflete o apogeu do espírito das
mas nos figurinos e no surgimento de elemen­ Cruzadas na época de Barbarossa. Sugere-se
tos farsescos e grotescos dentro da dramatiza­ que tenha sido escrita em conexão com a Die­
ção na igreja, revelando-se também em refe­ ta de Mainz em 1184, quando Barbarossa se
rências tópicas e na crítica de acontecimentos recusou a ocupar o trono, dizendu que este
contemporâneos, que se tomaram um elemento pertencia somente a Cristo.
do teatro europeu no século XII. Isso invalidaria a dala dc I 160. Por outro
As Cruzadas eram a principut preocupa­ lado. Gerhoh dc Reichei sberg refere-se clara-
ção da época, A ideia de Jerusalém e as no­ mente ao Ludiis dc Anlichiislo de Tegernsee
ções correntes a respeito do milénio, que in­ em 1162.
fluenciavam grundemente a política da Igreja, A primeira parte do texto, alia mente pa­
também inspiraram um dos tfiais magníficos triótica e tópica, segue-se o verdadeiro auio
textos do século XII conservados ■o Anii- do Anlicristo. Logo que o imperador germâni­
ehri.itn de Tegernsec. Seu auloré desconheci­ co deposita sua coroa e cetro, o falso Messias
do. embora se suponha que ele tenha sido um aparece. Apoiado pela Hipocrisia e pela He­
membro do m onaslério de Tegernsee. na resia. toma o poder, cm parte por meio do ler-
Ba vária, fiel ao imperador. Na época, essa pi­ ror c em parte por meio de subornos, O Rcx
toresca abadia beneditina vivia um período de Ti tuoiticus resiste, mas até mesmo ele é fmal-
glande florescimento cultural. A reputação de mente convencido por falsas curas milagro­
seus escribas e minianiristas comparava-se à sas. A SyriagOfiti também se submete ao Anti-
influência política de seus abades No Anti- cristo.
christti de ! 160, proclamavam sua lealdade ao Quando o Anticristo, porém, torna-se sufi­
imperadi >r. cientemente audacioso, no auge dc seu |x>der,
De acordo com fontes conservadas, o paru se atrever a anunciar *'/xu et xecuritas".
Líííãí.t d c A n tu h ri.u o , cia representado por clé­ Deus o fulmina com um raio. A E a lesici recu­
rigos. Seu texto é escrito cm latim e, apesar de pera as honras que llte são devidas. A frente
suas preocupações cl aram ente políticas, pre­ dc lodos os participantes, que incluem até
serva intciranicnte o caráter oratório da repre­ mesmo os Profetas, ela entra pelas portas aher
sentação eclesiástica tas da igreja ao som dos sinos e do canto co­
0 modelo literário do Ludus de Tegernsee munitário do Ti1Detiiit.
é o Libelhts de A n tii liriíiti, escrito no século Não se conservou nenhum plano de cená­
X pelo abade lotaríngio Adso de Toul, o qual, rio do Tegernsee, mas presume-se que a peça
por sua vez, se apoia numa noção que rcmon­ era representada no espaço aberto e meio ova­
ta aos primeiros tempos do cristianismo, de lado na parte ocidental da abadia, |xníodolngo
que. logo após a Segunda Vinda de Cristo, um Seu ponto culminante - o lugar onde ficava o
• 2<>.<
fh s t it r it i M u iu íiu i tU* T rttln t

jLTVtyrpe

[3, o V i : i . . | , | . \ sctin /iiu lii os T iis Keis com presentes. M m ijtu ru rio H iM iriu riu m tlc M crnui de L m iík tic fg .
século X II.

altar, flanqueado pela E cclctia e pela Syiutgoxa Os temas do A ntitfm sto de Tegernsee fo­
- era o poria) da igreja, uma disposição lógica ram retomados por vários sucessores, desde
Correspondente ao conteúdo religioso do amo. as cenas de batalha do auto dos Profetas "tu
Assim, se a ala norte fosse ocupada pda i/ic tt nwdut Riga" ( 1204). que Tanln assustou os pa­
dos reis ocidentais e a ala sul pelo pódio do rei gãos chamados á conversão, fazendo com que
da Babilónia, lodo o centro permanecia livre fugissem, até o auto suíço de Carnaval. En-
como um espaço neutro de atuação, para ser ikrist (1445). Passagens inteiras do diálogo
usado e interpretado conforme se exigisse. foram incorporadas á peça de Natal da abadia
Poderia ser o mar Mediterrâneo, a ser cruzado beneditina de Betiien - nuns uma prova da es­
na jornada à Terra Prometida, ou poderia ser tima que mesmo a posteridade imediata tinha
um campo dc combale onde os adversários cru­ pelo valor literário o pela eficiência teatral do
zassem suas espadas A representação de ba­ Lutiiis de A m k hrhui. Na época da Reforma, a
talhas era um ingrediente popular das peças figura do Anticnsto ainda íomccia aos protes­
medievais, que os atores de Tegernsee eertti- tantes uma imagem útil em sua luta contra o
inente não negligenciaram. papado. O inflamado polemista aufi-Romu e
Uma montagem do auto do Anlh lnisio, luterano Nuogeorgus, aliás Thomas Kirch-
feita na Alemanha por estudantes du Delphisehe mayer de Straubing. declarou cm seu drama
Institui de Mainz. cm 1954. diante do portal ftmimttíhUis (15.1b) que o Amicristo não era
da ala norte da Catedral de Eichstátt, demons­ outro senão o próprio papa. Naogeorgus dedicou
trou a atemporalidade dc sua força artística e sua peça ao arcebispo Cramner dc Cambridge
dramática. Como lom de cada atuante fortim - onde foi encenada em 1545 por estudantes
usadas pequenas plataformas de madeira sem no Chrisfs College - ofendendu bastante o
nenhum adorno. O único acessório cónico era bispo Gardiitcr. Chanceler da Universidade, o
uni altar de madeira com a cruz Os atores eram que resultou numa correspondência que che­
identificados pelos figurinos, barbas, coroa e gou ato nós.
espada. Tudo o inais era deixado a cargo do O público dos séculos X I11e XIV era, por
texto e da arte declamatória dos interpretes. enquanto, rnais proittamenie impressionavel
No final da peça. quando t ., icsui sai dc cena. pela lula de espadas do que pela sutileza dos
desaparecendo dentro da catedral à frente do argumentos. As guerras religiosas no próprio
elenco que se retira, o público permaneceu país por sorte ainda pertenciam a um futuro
imóvel durante vános minutos. distante. Quanto nuns a habilidade na esgrima
• 204
• A tduiíe Mètilti

dos heróis seculares se convertia no ponto cul­ forma salvou uma vida cristã. Para Jean Bodel.
minante das representações - como. por exem­ porem, a lenda é mcranienle a moldura para
plo, em 1308 e 1224, no I.ikIus etmt Cigí/n- as alegres cenas do seu gênero - a batalha dos
libux, em Pádua - mais o efeiLo das cenas de Cruzados contra os pagãos no Oriente Próxi­
torneio ia encobrindo o conteúdo religioso da mo e /<?viVjoyeuse ("a vida alegre” ) na taverna
peça. Temas de danças de espadas rituais, há­ e no bordel, em versos que antecipam o sabor
bitos cam poneses e lendas da Cavalaria se do argol francês.
mesclavam enire si. No auto de Peniecostes As representações de lendas, alegorias e
de Magdeburgo. Roiandsreiien, ou na Táw la milagres muito cedo deixaram o interior das
Redonda de 1235. a tradição pagãé mais forte igrejas. Pretenderam e alcançaram efeitos que
e evidente que o matiz cristão. Mas os cavalei­ necessitavam dc uma área não restrita que per­
ros e menestréis tinham uma importante fun­ mitisse lazer soar o fragor da batalha e —como
ção nos espetáculos encenados fora das igre­ no caso de Jean Bodel - o estrépito das garga­
jas. no século XIII: proporcionavam colorido lhadas. Quando os espectadores que assistiam
à fábula c ã representação. Davam à lingua­ ao auto dos Profetas dc Riga fugiram tomados
gem a sua marca e eram vistos - ou viant a si de terror, o cronista pôde desculpar o fato atri­
próprios - tanto no espelho da exaltação quanto buindo-o à sua “ignorância” Mas quando Fre­
no da paródia. Os Carmina tíurana, escritos derico o Temerário, margrave da Turíngia, vol­
na abadia beneditina de Beuren. por volta de tou as costas eom desprezo a um auto sobre as
1230. são um dos mais conhecidos testemu­ Virgens Prudentes e as Virgens Insensatas, re­
nhos não adulterados do prazer sensual medie­ presentado em Etsenadi, o conjunto da cate­
val. Algumas dessas canções de letrados er­ quese cristã da salvação viu-se abalada.
rantes, os go li ar dos. devem tanto à arte poéti­ "O que é a fé cristã, se o pecador não re­
ca de Ovídio e Catulo quanto ao gosto desses cebe misericórdia pela intercessão da Virgem
poetas pelo amor e pelo vinho. Os poemas po­ e dos Santos?”, exclamou o margrave, cons­
líticos e religiosos mostram aquela atitude iró­ ternado, e foi-se embora, deixando atrás de si
nica diante da autoridade que. setn dúvida, se corlesãos desconcertados, uma plateia perplexa
expressava mesmo na Idade Média, de forma e uma não menos perplexa classe dc estudan­
mais frequente e forte do que se aceita nor- tes ginasianos, para não falar de seu professor,
malmcntc. Os elementos rítmicos e teatrais em que havia envidado o melhor de seus esforços
algumas dessas canções latinas inspiraram as para apoiar com sua peça uma indulgência con­
obras para coral de Cari Orfl, Carmina Rnrami cedida pela Igreja. A súhíta revoila do margrave
0937) e CautUi Carmina í 1943), demonslra a profundidade da impressão que o
Jean Bodel, um cruzado, funcionário pú­ teatro medieval podia causar com seus temas
blico da cidade de Arras, membro da Conjrèríc e representação, ainda que seu nível artístico
des Janglettre. e autor dc um auto de São não Tosse muito superior ao de grupos amado­
Nicolau (por volta de I 200), oferece uma ima­ res cheios de boa vontade. A lenda conta que.
gem viva c colorida dos cavaleiros, cidadãos e
camponeses de sua época. Um contemporâ­
neo mais velho dc Bodel. o erudito errante in­
glês Hilário, que viera à França em I 125, tam­
bém devotara um auto dc m ilagre a São
Nicolau, Le Jc-u de fiaint-Nicolax (O Auto de
São Nicolau) dc Jean Bodel c conslruído em
tomo dos feitos piedosos do santo, file ajudou
um rei pagão a recuperar seus lesouros c dessa

]*1. B LLiiqLiei c tlo urccbis |u> B a y ui no iie Tric r. Mirim-


luni rciianii, século XIV.

■ 21)5
I
i.

I 5, As Virgorui Sáhj.j.s. c as Virgens lotas. Pintura mU’


lai no ctiro d.i capela tloi-asleln., Hocheppan« sul liuTim l.
século X II.
16, Cena da legenda de Tcõfilo, o Fausto medieval que
fu?, um pncln com n demónio. M iniatura do I.ih e r
hftttuTttialis dc Conrad von Schevcrn, cometo tio século
X III (Munique, SlaatftbiHiuthckt.

17. Lena j> cfr^rim : Cristo com cmbornnl de pcirgri-


n» c os apóstolos na esimda pum Lmaõs. miniulura do
saltei ro tnjlês de Santo A lha no, século XIJ fHt1d«hem>,
Alcmanhui.
H i s n i f i f t Muuif in l tit* T r a í n t

após o choque da alegoria sem perdão, o Nesses dois últimos exemplos, encontra­
margrave Frederick sofreu utn colapso e mor­ mos os primórdios da personagem e da ação
reu dois anos mais larde. A alegoria das Virgens dramática. Tanto Teófilo quanto Frau Jutta têm
Prudentes e das Virgens Insensatas - retratada a oportunidade de uma decisão livre e indivi­
pelos artistas dos manuscritos medievais anti­ dual - e lanm um quanto a outra não se arre­
gos, do C oí/c.i Rtissa-nensis, do Cenesis de pendem até ficítr face a face com a danação
Viena c nos portais das igrejas de Estrasburgo. eterna. Dessa forma, presenteiam o teatro com
Magdeburgo. Triere Nurembcrg- trouxe à tona a esplêndida oportunidade de dispor do visto­
uma impressão inteira mente nova e surpreen­ so aparato do Inferno e dos demónios, para
dente no teatro. não falar dos alados mensageiros angélicos, de
Não apenas os grandes mistérios e os au­ Deus-Pai em toda a Sua glória, dos santos dc
tos do Juízo Final, mas todas as representações barbas brancas e das pobres almas no mais pro­
de tendas e milagres por todo OOcidente apro­ fundo desalento.
veitaram fortemente o contraste entre a dana­ A primeira peça de teatro no teatro ocorre
ção e a redenção. O mundanismo, a ambição, no auto de milagre holandês Marieken vmt
o orgulho e atividades profanas são confron­ Niewneghen (Marieken de Nieumeghen), es­
tadas com a danação etema. como também com crito entre 1485 e 1510 por um aulor anóni­
a redenção que aguarda o pecador arrependido. mo. A heroína, tão bela qtianlo apreciadora dos
Mas o demónio, o tentador, que c a mais fre­ prazeres da vida. vende sua alma ao demónio
quente personificação do mal no teatro medie­ por sete anos. A apresentação de uma peça re­
val, deve ser enganado no final. ligiosa - num palco á parte, montado numa
Assim Teófilo, que se vende ao demónio carreça - é o que faz com que se arrependa.
por amor aos bens terrenos, obtém a graça di­ Ela pede ao papa que a perdoe de seus peca­
vina por intercessão de Maria. Le Mirade th- dos e. num paralelismo medieval com a mima
Théophiie (O Milagre de Teóíilo), escrito pelo da Antiguidade, Pelágia, termina sua vida num
íroiivrVe parisiense Riuebeuf, antecipa, sob a convento em Maaslrichl.
roupagem da lenda cristã, a qaintessência do
Fansio, de Goethe; "O eterno feminino nos E s t aç õ es , P r o c i s s õ e s e Teatro
conduz às alturas", em C a r r o s
Spid vttií Frau Jitlum (0 Auio da Senhora
Jutta) termina com a mesma solução de perdão, Sem dúvida, o auto holandês Marieken
Essa peça, escrita por volta dc 14R0 pelo sacer­ vim Nieumeghen, como tantos nutros desse
dote Dietneh Scliemberg de Muhlltausen. na período, foi encenado num espaço ao ar livre
Turíngia.é baseada na lenda da "Papisa Joana", na cidade; porém, o estratagema da peça den­
uma mulher que supôs lamente subiu ao irono tro da peça pressupõe uma outra forma de en­
papal em 855 como João VIII, Disfarçada com cenação tipicamente medieval, ou seja, o pal­
roupas masculinas, Joana vai estudar com os co montado numa carroça ou o carro-palco,
grandes eruditos cm Paris, jimiamente com seu comum em procissões na Espanha, Itália. In­
amante Cléricus, Mais tiude, no meio de uma glaterra, Alemanha, Tirol e Países Baixos,
procissão papal, a Morte se aproxima dela c a As origens do carro-palco remontam a
alaca. Logo em seguida, ela dá à luz uma crian­ 1264, quandu o papa Urbano IV instituiu a
ça e é desmascarada - não mais o Papa João, festa de Corpus Chrisri. que foi depois cele­
mas a "Papisa Joana"-agora como Frau Jutta, brada com procissões solenes por toda a Eu­
eru vergonha c desonra. Ela morre, e os demó­ ropa ocidental. A peça freqúenlemente deri­
nios levam sua alma para o Inferno. Frau Jutta vava da procissão tealralmente plasmada. Além
ora a São Nicolau para que interceda por ela, c de sua origem no ensejo religioso cerimonial,
Deus envia São Miguel para trazer a pecadora a peça de teatro possui também raízes secula­
arrependida ao Paraíso. A cena dos demónios, res nos torneios e nos cortejos de rua, que se
santos e arcanjos, representando simbolicamen­ organizavam em homenagem aos soberanos c
te a doutrina cristã da redenção, c vivificada pela que foram os precursores dos grandes trionfi
riqueza imugética da linguagem.• alegóricos da Renascença.
• m
* A fthftiv M è fl i u

|8. Gliillde piOCist.Jiii UITSEAinshwgO [rt nuiis antigii


rcprestriHa^io gráfic.i U;i Caicdrjh Xilogravura tio
(í^cJiú-ftíC iVifr Htix<’uhitdis. dc Cunruriu!» Pícwshdm,
Estrasburgo,. 1477,

O desenvolv imento do palco processional


e do palco sobre carros deu-se de maneira inde­
pendente da literatura dramática. Sua natureza
móvel oferecia duas possibilidades: os especta­
dores podiam movimentar-se de um local dc
ação para outro, assistindo à sequência das
cenas à medida que alteravam a própria posi­
ção: ou então as próprias cenas, montadas em
cenários sobre os carros, eram levadas pelas
ruas e representadas em estações predetermi­
nadas.
Na Espanha, o cerimonial da procissão dc
Corpus Christi se transformou no ouro sarra-
tnental e na fiesta dei Corpus, duas ocasiões sional de canos-palco num auto sobre os Reis
para a demonstração de fervor religioso. É Magos. A cidade de Florença utilizou, cm 1439
revelador da aguda violência da luta religiosa, e 1454. nas festividades em homenagem a São
primeiro contra a infiltração do Islã c mais tar­ João Batista, vinte e dois cenários, que foram
de contra a Reforma. O fato de que o aulo sa­ transportados pela cidade em plataformas mó­
cramental tenha encontrado a sua conlraparte veis (edifizi) - um anlegosto dos suntuosos cor­
no anta-de-féi o espetáculo da execução dos tejos teatrais que iriam ser vistos mais larde.
heréticos sob a Inquisição. soh os príncipes Mediei.
As cenas eram apresentadas na Inmosa Conforme testemunham os registros, nos
mea, carregada em procissão de uma estação Países Baixos, especialmeutc em Flandres, o
a outra. Nos arquivos da Catedral cie Sevilha, Wagenxpiel religioso foi apresentado em 1450
ela c descrita como uma plataforma transpor­ e 1483. Os Ciescttcx vou de Speie. associações
tada por doze homens e sobre a qual o cená­ teatrais de artesãos em Bruxelas e Bruges, acon­
rio era organizado como um tabieatt. Quando selhavam suas plaiéius. das plataformas df seus
a procissão chegava ao local apropriado, o palcos móveis cm miniatura, a uieular para sua
tableau ganhava vida com a representação tea­ consciência e examinai seus modos de vida.
tral. Nos dois lados dos Pireneus, conformo Na pequena cidade de Nvmwegen, seu 1bem
os cenários se tomavam mais elaborados e o intencionado epigrama” abriu caminho alc o
elenco maior, o pequeno tablado da repre­ coração da Mariekcn da peça tealral. la/taido
sentação processional passou a ser construído com que ela se arrependesse, No dia de Coqms
sobre um carro. A idéia do carro-palco espa­ Christi. um carro-palco entrava na praça do
nhol sobrevive ate hoje, na expressão fiesta mercado, onde se representava um julgamen­
de los corras. to no qual a Virgem Maria intercedia pela hu­
Origínalmeme as represe mações eram es­ manidade pecadora e arrancava do demónio
tritamente associadas ã celebrações de Corpus as pobres almas que haviam caído em seu po­
Christi. com a simples recitação dc textos ra der. A peça dentro da peça em Marieken u m
zoavel mente curtos, relacionados ao mistério Nimmegheii reuni na com um piedoso desejo:
do Sacramento; logo, porém, esse tablado mó­ "Que isto vos conduza ao Paraíso"
vel para as representações passou a sei utiliza­ A principal caraeterística dc iodas essas
do em vários países e também na celebração peças era lazer parte de unta procissão - quer
de outras festividades. Os monges dominicanos fossem dedicadas aos Profetas, como em
dc Milão adaptaram, um 1336. a forma proces­ Imisbruck, em 1391. ou it Paixão, c o m o em
- _’fw
19 M a r ifk e » v o n N w w u e fth e ti. Dc um a edição Ue xilogravuras, c, 1518.

20, R udj dn Fortuna c íreepçiui a!í >s arcebispos pelo impenulrir C artas V cm Bruxelas,
1515
• 1 IttiUtV htèlilti

Bolzauo e Freiburg ini Bresguu, quer anula camarim", como aponta GlynneWickhaiu, seu
abrangessem desde :i Criação ao Juízo Final, palco era o mundo.
como em Kiinzclsau, em 1479, Essas procis­ O termo pageanl. em geral associado ao
sões provocavam um \mpacio no público, mes­ carro-palco inglês, nriginalmeiitc se referia
mo que sc desenrolassem com o um simples aos locais preparados nas várias partes da c i­
espetáculo silencioso. A descrição de Diijci. dade para os festivais ou para as representa­
da grande procissão que testemunhou cm An­ ções festivas. Tanto um evento profano quan­
tuérpia, em 19 de agosto dc 1520 - “quando to uma festividade religiosa podiam ser mo­
toda a cidade eslava reunida, todos os atl íliees tivo de tais representações. A alegoria que
e mercadores, cm seus melhores trajes de acor­ John Lvdgalc compôs para acolher o jovem
do com suas posições" - deixa aberta a ques- rei Henrique VI cm Londres foi apresentada
tão dc se os "carros" e a “peça” eram simples­ em seis cortejos separados, em pontos signi­
mente levados de um lado para outro ou se ficativos da cidade. Isso aconteceu em 1432.
constituíam lambem ocasião para representa­ um exemplo prematuro dos tritmfi da Renas­
ções dramáticas, Dúicr relata no diário dc sua cença.
viagem aos Países Baixos: O primeiro cimejo esperava o jovem so-
lieiano no portão da margem sul da Ponte de
VmU' pesMwis >i V ir-iuli M aim o Londres. Ali, ele foi informado, em palavras
N m sbo S c d Ihm J e s u s Oci n iiils \ u n [ i u i s ;i cFegLiJiciu c m hou*
bem escolhidas, dti que a cidade esperava de
i.i d c D in lv i ; iiCSaii p u v i> > fio h o u v e í i i m t j s c o is a s
dáveis, c csplciidiJumcnlL’cihiecbÉikis. L)eln seu novo rei e Criais vhwnpioun. Os cortejos
muitos c u r r o s , r e p re h c n litv u m -s e o h i a> M ih re l i a r e i s e u u - subsequentes recordavam-no da lealdade ade­
II o s b a lu iiití.v Entre f i e s j;i 4 lio s ic Ui*. P r o f e t j s im l o r quada a seu alto cargo. Na tone da ponte tevu-
Jc-m fji.>noUV,gic;i. e , d e p o i s i t e l n . n N o v o T r s u m e i u o . iliça, niítynificamenle guarnecida de seda. ve­
tomo pn n;t <lo A«fo, l- os T ris Reis
ludo e brocado dourado, as figuras alegóricas
M ;m o s c u v ;i|^ ,a u d o ç n m k k b C iu liçto * l* n t u n r s e s tr.m lio s ç
iiiii;iCiiTusi>s iiiu m a is p ro ln s a in c iiC e jn lo rn a íio .s , c I íin i I íõju da Fortuna. Natureza e Graça representavam
w íu^n dc Nossu Senhora pmn o Egilu. *?m atiunlc immo os atributos necessários a um rei glorioso. Sele
k lv v o ia; L1 o u t r a s c o i s a s n q u i o i i h l i i l a s p» u 1. 1 11,1 d c donzelas corporifieavain os dons du F.spírilo
espaço. No final dc nulo. tiiilui um giautlc ilia p n , o«i- Santo e outras sete os dons terrenos que lhe
Unzulo | kh‘ Snulii Miiiiiai i«b c stiiis tU m /clas por iiiiki te
seriam concedidos. Lm Conihill. a procissão
iK ‘,1 p .i i ti t u j a r m e n lu 3 is io s ;i. A c l n v ç u i u - s c S a n J o r g e
v iim .s e u s c ,u j l c i r o s . jiii c o u r a c c t o m m l o fo r m o s o . F encontrou a Dama Sabedoria. acompanhada
e m n i f u > j l-nsíi n i i i l h i l ; t i ) t .) v .i l ; : n .i m I. m ii Jv m i i i k i iu i o > c por Ai islólcles, Eucltdcsc Boceio. Na sesta e
nviii»«i>. u *mi*Ji> d:i iiMiieim mais ei.u. h m c e>[*U*inlulu. li!Illlla cslaçãodo cortejo, no Condiuo de Cnr-
•lc* acordo com u i h k ciohniics <|.i lejjum . no Ih<mi ilos
nliill. a Clemência convocava Davi e Salomão
itru T v i' %aiiiiis tvsii pu n tNsái ». anlcs ilc ler p a ^ :d < c«mj-
pletarncnlc diante dc iim s i casa, demo.....nuns dc «luas
sum o testemunhas da autoridade adequada -
lio r a s . I 10 m u l o a o mente aplicada:

Na Inglaterra surgiu um estilo espoeijico u u tu y itff i ti riV'j'T m tu w w stUl.


lIl‘ palco processionu] e dc cano-palco, As ce­ lf( r invnhj Um th njitvh - >ttu! ttia,
lebrações dc Corpus Cluisii. que se desenvol­ |"A JHMiril Jlíis. >L'iJLIUlk> *| 3'iSilo Jll ÍVCIIM»
vei ;im de 1.111 em diante com uma cenografia Çommn.
cada vez mais rica. eneoniraiam um contra­ Lasf:i viu iiiiuii ;i uqimf.ulc c clitcin i-*'|

ponto formal nas estações dos eiclos dc misté­


rios, Enquanto os cenários múltiplos se torna- O con junto era mais uin panegírico intcli
vam comuns em Ioda parte, no palco ao ar li­ gentememe orientado do que um acontecimen­
vre das regiões alemãs e no palco-plataforma to icaíra 1 c, na verdade. Lydgale o havia |>la
da França, os diretores ingleses trabalhavam nejado assim: porém, isso demonstra como o
110 interior do estreito cenário do carru-palco - princípio da procissão toi variadaiiientc apli­
o qual. entretanto, não era Ião reduzido quanto cado. desde o começo. Serviam tanto a fins
até agora sc considerava Difeienteniente das profanos quanto religiosos. A estrutura exter­
personagens do teatro posterior, as do teatro na da representação em estações podia ser
de cortejo não ficavam ' aprisionadas em seu preenchida lauto por alegorias que homeiia-
• lll
fli.stòrm .WiHuítttf iftt •

geassem alguém como por uiinnrro sncmuifii- Viena, por volta dc 140(1, em sua Lectitra súper
tal. Podia servir paru a glorificação da Virgem Sa!ri- Regiuu. “que esses espetáculos teatrais
Maria ou do deus egípcio Osíris. Mais do que sobre Pustcrhalk e seus desenfreados compa­
toda a sua dependência do tempo, o teatro nheiros, encenados por certos clérigos ua Pás­
mostra que é atemporal, pela consistência com coa, são ímpios e deveriam ser banidos dos
a qual preserva seus modelos básicos ao longo lugares sagrados. Tais representações leriam
dos milénios e latitudes. provocado ofensa mesmo em outros tempos,
nos teatros e espetáculos dos pagãos” .
A P ai xã o tio P a l c o Porém, por trás dessa dura repressão, per­
S i m ul tâ ne o em E s p a ço Aberro cebe-se que, mesmo soh as asas do clero, toda
sorte de condutas ímpias de há muito já se in­
A medida que a língua vulgar foi se es­ sinuava dentro das peças religiosas.
tendendo. até mesmo o auto pascal rompeu sua Os dramas da Paixão de Frankfurt-nin-
estreita ligação com a liturgia. A solenidade Mam, no mercado de vinhos de Lucema, na
dos eventos atemporais abriu caminho para a Viena da Baixa Idade Média, nu praça do mer­
multiplicidade do presente e a linguagem cor­ cado de Antuérpia ou em Valenciennes - cuja
rente, trajes e gestos espalharam seu colorido apresentação se estendia por vános dias - são
pela história bíblica. exemplos de um desenvolvimento colorido,
Quando a Igreja abriu suas portas e dei­ inventivo, irrestrita e de incontida exuberância,
xou o drama escapar para a confusão c a ani­ A próspera e livre cidade-emporium de
mação da cidade, o fato significou mais do que Fiankfurt-am-Mairi pôde produzir um drama
um simples aumento de espaço. A próspera dc Paixão que durava dois dias, já em 1350.
população da cidade apoderou-se com dedi­ Sun conteúdo abarcava desde o batismo de
cado fervor do drama, esta nova forma de aulo- Cristo no Rio Jordão até a Ascensão. A estru­
expressão agradável a Deus e que crescia de tura didática era fornecida pelas disputas en­
forma cada vez mais exuberante. Patrícios, hur tre teclesm e Synagoyti e entre profetas e ju­
gueses e artesãos tinham a liberdade de apre­ deus. 1iaviu também alusões tópicas, como, por
sentar as verdades da fé de acordo com sua exemplo, à peste que assolara a cidade em 1349
própria interpretação da vida. Uma das pare­ e ao fanatismo do movimento dos flagelanles.
des da nave da Catedral de Limhurgo exihia O porta-voz da verdadeira fé era Santo Agos­
uma tentadora loira, .simbolizando a Luxúria: tinho. de quem. nu ma impressionante lição fi­
os orgulhosos cidadãos locais, num de seus nal. dez judeus recebiam o batismo
dramas ao ar livre, transformaram Maria A documentação dc Ftuiikíurl relativa n
Madalena numa linda cortesã, a quem era per­ essa representação é um exemplo earacteristi-
mitido levar a mais alegre das vidas munda­ eo da direção cénica medieval. Conhecido
nas. cantar uma toada profana claraniemc ins­ como o DirigierroUc (Pergaminho do Diretor)
pirada em poemas da corte, sentar-se à mesa de Frunkfurl. trata-se de nm rolo de aproxinia-
com José para uma partida de xadrez e tocar dumenle 4.4(1 m de comprimento, trazendo um
alaúde. Depois disso, a mesma Maria Mada­ roteiro no lugar da música geral mente escrita
lena cantava uma das mais tocantes seqiiên- nos jierganiinhos (rottili) e utilizada por can­
cias pascais, a Victt/mw Pasclmli. Os contras­ tores e menestréis. Os diálogos são registrados
tes não entravam em conflito, mas intensiftea- apenas por palavras chave, com indicações cla­
vam-se um ao outro. Formas sofisticadas de ras das “deixas” dos atores. Mais explícitas,
expressão podiam ser seguidas das mais rudes no entanto, são as indicações cénicas. Foram
vulgaridades, passagens dc poética ternura, dc especialmenle anotadas com tinta vermelha
sequências completas de obscenidades. Lavra­ pel o escriba do D irittirn u llr de Frankfiin,
dores, servos e demónios competiam entre si Baldemar vou Peienveil. cânone na Abadia de
na invenção de tesouros de blasfêmias c in- São Barlolumeu em Fratikfun. A partir desse
vectivas. pergaminho. Juliux Peiersen. num esmerado
"Isso vem mostrai escreveu reprovu- estudo, reconstruiu as cenas e u sequência do
doramente o dominicano Franz vou Per/, de espetáculo,
■ 212
21. Aum «Jll P;iixuo< ;<p<cremado na praça do niercm io de Antmjjyia: ce n a tio rr<r hwm>p in u t f a poi íiiliis MosiíierJ, v.
I5Í0 <A n iu c r p ia , Koitmklijk Mu*eum vonr schnne K u n x ic n j.

7.2. U p jm lc <’i i r tumut. (iKivu^án cm cobre Jc l.ucas 'iiu LcyUc». l í 1(1.


23 Cena do (■[<■<■hm PH.. 1'jincl ivntral ik- um aliar ila Calfilral do U n in s m tk . de um rn o ln - da Sa sônia, I5*»t
(Bninvivu-k. líer7«c-í\(Hiii> U liifli
* A I d o li < M e d ia

Conforme se pode deduzir a partir de uma diam trocar de roupa. Os laços do teatro com a
descrição contemporânea da cidade, escrita Igreja de modo algum foram rompidos pelo
pelo próprio Baldcmar. a peça foi apresentada fau* de esle ter deixado matenalmenie seu re­
no monte Samydagis Sancií Nicolai, hoje cha­ cinto. Freqiieniementc as representações da
mado Rõmerhcrg. A praça inclinada é fecha­ Paixão se iniciavam ou tenninavam pelo ser­
da ao su! pela Igreja de São Ntvolau (Nikotai- viço divino. Com certeza, os cantos latinos, a
kirche), que era submetida ao capítulo da Ca­ música c as passagens corais logo demm lugar
tedral e também à Abadia de São Bartolomeu, a um prazer desenfreado na linguagem e nu
anexa. Dessa forma. Baldemur tinha ã sua dis­ representação, não limitado por qualquer te­
posição um terreno conhecido para sua ence­ mor piedoso. O cru realismo observado nos
nação e para a construção dos cenários indivi­ painéis pintados du fim da Idade Média ga­
duais da obra. Fura esse o local onde, um ano nhou terreno também nas peças. Os verdugos
ames. os cidadãos haviam prestado homena­ que pregavam Cristo na cruz deviam ter a apa­
gem ao Imperador Carlos IV. rência horrível, brutal, desprezível, com a face
No plano óptico. havia uma vantagem na distorcida.
inclinação da praça onde a Paixão seria revi­ A Paixão de Alsfcld, com seus 8.095 ver­
vida. pois as três cruzes poderiam ser erigidas sos, o inais longo exemplo da região francônio-
nu parte inais elevada e. assim, vistas a dis­ hessiuna. mostra a Crucifixão como uma hor­
tância. A leste das cruzes, foi erguido o Trono rível cena de tortura. Os executores gntam uns
do Céu, apoiado firtncmentc nas antigas e aos outros: "An hende ntid an fu sz tiyiukr cm
elegantes residências patrícias (que sobrevi­ xlrcnge und recket e» nach des cruezes leogc"
veram até o século XX), e a seus pés ficava o ("Amarrem-no fortemente pelas mãos c pés, e
Jardim do Getsêmani. Assim, o anjo com o estiquem-no ao longo da cruz” ). Eles demons­
cálice de fel tinha que dar apenas um passo à tram o esforço que precisam efetuar a fim de
frente para surgir acima do interprete do Cris­ esticar o corpo de Cristo ao longo da cruz, para
to ajoelhado. Os mestres cênicos medievais que consigam pregar os cravos nos buracos
ciam realmente habilidosos nos truques da previamenlc abertos nos lenhos.
sua profissão. Do ator que representava Cristo exigiam-
Num espaço oval de aproximadamenle se esforços físicos tremendos. Ele tinha de se
36.5 m. o loe ti dos vários atores e cenas seguiam- deixar puxar, empunrar. arrastar e bater, e so­
se um ao outro; a casa de Maria, M ana e frer uma violência não muito menor do que
Lázaro, a casa de Sinião. o C orrer e o Carinriu cra comum mima execução em seu próprio sé­
de Herodes. o Pulatimn e o Ptetoriínn de culo, XIV ou XV. O pequeno degrau de ma­
Pi latos: na extremidade oeste, inferior, da pra­ deira que lhe deram na cruz para apoiar os pés
ça. ficava o portão do Inferno (tornando pos­ (xnppedam-iim) era uma pequena compensa­
sível a entrada de Satã que emergia do Wasser- ção pelos maus-tratos recebidos unlcrioimen-
graboi, o velho fosso): aqui também ficava a te. de modo a impedir que o papel acabasse
fonte meio coberta usada parti as cenas de ba­ matando o ator. (O suporte dos pés junto à cruz.
tismo. A mesa para a Última Ceia (uiejixa), o muitas vezes encontrado nas representações da
Templo e a coluna com o galo, cujo canto pro­ Crucifixão nas artes plásticas, não deriva dos
clamava a negação de Pedro - tudo isso ficava autos da Paixão, mas de princípios iconográfi-
situado no meio do espaço aberto. O público cos. É um último lembrete do fato de que a
assistia tanto da rua quanto das janelas das ca­ arte cristã primitiva lenlou preservar a imagem
sas próximas. Como ocorre em lodos os cená­ do rei entronizado mesmo na figura do Filho
rios simultâneos dispostos em espaço aherto. de Deus sofredor. Terra, a terra, ou Adão, a joe­
os diversos loca individuais eram plataformas lhado, seguram o Cristo crucificado, erguido
baixas, se necessário cobertas por um balda- sohre o pequeno degrau.)
qtiino leve animado ent pilares de madeira, o que "Robusto e sensual prazer, combinado com
não impedia a visibilidade de nenhum dos lados uma forte piedade" - essas eram as característi-
Pclersen presume que us atores entravam cas das grandes Paixões cívicas nas regiões dc
pela Igreja de São Nicolati. onde também po­ língita alemã. Ao lado dos sítios da região


í / l x f á r i í l I fÍi‘I(íií>I ítn 7 > H |ro *

renano-hessiana, onde essas peças eram apre­ dos do século XV. Luccrna. na região de dia-
sentadas desde muito cedo. elas eram comuns ielos aleinâuicos, tomou-se um centro de repre­
especial mente ao redor de Viena, nas áreas sentações suntuosas. Aqui. também, as peças
alemâmcns no sul do Tirai (Bozen). em St. Gall eram produzidas pelas irmandades religiosas
e Lucerna. de cidadãos. As representações da Paixão dc
O auto pascal vienense “ivm der besu- Luccma continuaram até o século XVI. Numa
clntnge dei grabix und von dir ofirslendunge época em que o espírito da Renascença há
golii" (“da Visita ao Sepulcro até a Ressurrei­ muito rompera com as velhas tradições, os ci­
ção de Deus"), que pode ser datado de 1472 c dadãos de Lucerna ainda se reuniam no Mer­
procede de um mosteiro de eremitas agostinia- cado de Vinhos da cidade para devotar dois
nos, começa somente após a Crucifixão. Ele dias inteiros, da madrugada ao cair da noite, a
mostra "« v Chrisr isi enlanden von dei tildes reviver a Paixão de Cristo, com todas as suas
bandin, und ha! dy heiligyn veter irtosl von prefigurações e atos subsequentes de Reden­
der bittern hellin roxt" f'com o Cristo escapou ção. O cronista da cidade. Rcnwurd Cysat, pre­
dos laços da morte c libertou os Santos Padres parava e editava os libretos, ensaiava o elenco,
das chamas do Inferno"), istn é, a Ressurrei­ dirigia o espetáculo, negociava com os artesãos
ção e a descida ao Inferno. Aparecem Abraão encanegados da construção das plataformas e
e Isaac. o arcanjo Gabriel e Adão e Eva implo­ interpretava o papel da Virgem Ele também
rando a salvação. A linguagem e os sentimen­ projetou, com detalhes meticulosos, o palco
tos estão imbuídos da cordialidade do povo em dois planos. A isso se deve o nosso conhe­
simples e, nas cenas do Mercuior, transfor- cimento da montagem da grande Paixão de
mam-seem farsa desenfreada, infimamente re­ Luccma de 1583. No pri meiru dia, o rio Jordão,
lacionada com as peças carnavalescas. Em ter­ cenário do batismo de Jesus, cruzava diagonal­
ras da Boémia, o vendedor de unguentos, n mente a área de representação; a "Haas zur
Masltekar, seguiu o mesmo caminho - o do Stmne" t“Casa Frente ao Sol"), situada na parle
herói grotesco e profano das pequenas farsas mais alta e estreita da (traça, representava o
independentes. Céu. e. diante dela. no segundo dia. ergueram-
O desenvolvimento da Paixão vienense se as Irés cruzes do Gólgota. Os loca dos dis­
culmina com o nome de um mestre famoso, cípulos. das santas m ulheres, dc José de
que alcançou grande reputação cunto escultor Arimatéia e dc Herodcs ficavam ao norte, os
e como diretor teatral. Wilhclm Rollinger. Foi do Templo de Jerusalém e da Sviusgogu, ao
d e quem. no período de I4R6 a 1495. criou os su I, e a Boca do Inferno dc Lúcífcr e dos "al­
painéis em relevo dos famosos "assentos do tos demónios" ficava aberta a oeste, juntn da
velho coro" na Catedral de Santo Estêvão, em manjedoura da Natividade no primeiro dia. e
Viena. (Eles foram destruídos pelo fogo em da coluna dos flagelos, no segundo.
1945.) Do total de quntenta e seis cenas, trinta A mesma distribuição fica evidente lio
e oito eram sobre a história da Páscoa, come­ chamado plano cénico de Donuueschingen. O
çando com o Domingo de Ramos e terminan­ Paraíso, o Getsémani c o Gólgota estão na ex­
do com a descida dc Cristo ao inferno. Embo­ tremidade leste do espaço cênico, enquanto
ra não fossem uma cópia das cenas realmcnte os representantes do mal e das irevas ficam a
apresentadas na peça. os painéis refletiam seu oeste, cm frente ao põr-do-sol. Entretanto, pes­
espírito. Willielm Rollmgcr era um membro quisas rceemes provaram defínitivantente que
da irmandade de Corpus Christi de Viena, que o plano, ao contrário (loque sugere a denomi­
respondia pela representação anual da Paixão nação peta qual o conhecemos, não se refere
e pelo auto de Corpus Christi. Em 1505. ã Paixão de Donaueschingen de 1485. mas.
Rollmcei supervisionou a produção completa tanto no que diz respeito ao conjunto quanto
e a direção artística de um espetáculo que, com aos detalhes cênicos, ao segundo dia da Pai­
seu elenco de mais de duzentas pessoas, foi o xão apresentada em 2 1 c 29 de março de U>4fi
clímax e - à luz da Reforma iminente e ilo cer­ em Villingen. na Floresta Negra. Essa retifi­
co turco - também o canto do cisne da tradi­ cação, que devemos a A M. Naglcr. não des­
ção dos autos medievais em Viena. Em mea­ carta a possibilidade de que um esquema anã-

■ 216
2 4 , 11 Mercado de VmhosuJe Loei-ma, vista oeste, no primeiro dia do auto pascal de I5X.V A frieira de casas à esquerda
é mostrada, apenas cm planta baixa com as indicações dos nomes de seus prupriciános iui época. No fundo., à d irei ia, a
ftocaduínfcmo, í-sbo^o ilc reconsmiçáodcA. ain Rhvn (do livro de OskarEbcrle, T to m u r-g iw h ich ir tjf’r ittrjrrn Schweiz,
Kdnigsbeiv. 1929),

blick - mach -w e s t e n *
AVFÇE RV^TET FVR OEN ERSTENTAÍJ
OES 0£>TER£iP( EL5 VON
25. Piam» cênica <ie kcn w a fd Cysal p .in o auiodn Paixão dc Lucerna (p rim e ira dia), represeinuidocm
.'I l i t a i l r M i d i »

logo tenha sido usado para a riqueza das ce­ O espetáculo de sele dias foi dirigido pelo
nas grotescas e cruéis ilc Donuiieschingen. em pintor Vigtl Raber de Slerzing, artista inuilo
que. antes da flagelação, a cadeira de Cristo c solicitado no Tirol como dramaturgo, cenógra­
puxada c. depois de sua inevitável queda, cie fo. figurinisia, diretor e ator. Hoje existe um
c novamente posto cm pé - pelos cabelos. Po­ esquete de Vigtl Raber para o prólogo da Pai­
demos presumir que disposições cênicas se­ xão dc Bozen, que não foi apresentado na pra­
melhantes tenham existido nos grandes autos ça do merendo, mas no conjunto gótico da igre­
da Páscoa e da Paixão, que duravam vários ja paroquial. Os atores entravam em procissão
dias. ein Erlau, na Hungria; na praça do mer­ solene, pela porta principal, a p u n a magna. À
cado de Egcr; ou na cidade hanseálica de esquerda, distribuídos peia nave e pelo iran-
Liibeck (que muito provavelmente era tam­ septo, ficavam os / im o de Caifás e Anãs. c a
bém o cenário do amo pascal do Redentor, da casa de Siinfio, o leproso: à direita, o Monte
Baixa Alemanha). das Oliveiras c, junto ao coro. o estrado da Si­
Conhecemos com muis precisão a tradi­ nagoga; do lado oposto, o Inferno, e. no circu­
ção cênica da Paixão do Tiro] do Sul thoje a lo do coro, o Céu e os angeli ctuii xitete.
província italiana de Bolzano), que foi desen­ Fora um longo caminho através dos sécu­
volvida tanto pelas ambições dos camponeses los, desde os primórdios do auto da Paixão até
da região quanto pela dos cidadãos. Os ciclos a Paixão de Bozen. Em termos de história do
(ie peças ainplamente planejados, que eram teatro, o desenvolvimento era igualmente con­
apresentados por prósperas cidades comerciais sistente. tanto em seus aspectos intelectuais
como Bozen (Bolzano), B nxen (Brésciu) e quanto nos cénicos. A igreja c a praça do mer­
Stelzing, tiravam proveito de uma tendência cado eram o local da representação, o clero e
nativa para o drama e para a orgulhosa exibi­ os cidadãos, seus protagonistas O princípio
ção cívica. Cada vez mais. cenas foram adicio­ do cenário simultâneo se diversificava cm mo­
nadas no eid o dc peças até que, como num dificações elaboradas, governadas pelas neces­
clímax, cm lã 14 a representação da Paixão de sidades práticas e pelos efeitos visuais. Cada
Bozen <Bolzaun) durou nada menos do que participante tinha sua posição predetermina­
sete dias. Começava com um prólogo no Do­ da. seu Itigar. variadatnente descrito como
mingo de Ramos (entrada de Cristo cm Jeru­ lutas, mansão, sedes, casa. ou sletliiige. Quan­
salém), continuava na Quinta-Feira Santa, com do seu papel o exigia, ele descia de seu prati­
a Ultima Ceia e as cenas do Monte dusOlivei cável para o espaço central de representação,
tas, e apresentava a flagelação c a Crucifixão ou recebia os outros atores cm seu próprio "lu­
na Sexta-Feira Santa. O lamento das Marias e gar" quando o fcxtn os fazia ir até ele.
um auto dos Profetas eram apresentados no sá­ A disposição dos cenários podia ser topo­
bado. a Ressurreição no Domingo de Páscoa gráfica. como no mercado de vinhos de Lucer-
e. na segunda-feira, a viagem a Entalis. O ci­ na; nu podia seguir a sequência cronológica
clo terminava com a glorificação dc Cristo no dos eventos, como na Paixão de Donauesehin-
dia da Ascensão. gen/VilImgeii; podia decorrer de considerações

20. f1.mo eênica J.i Piuxun J i- 11. 11 pi .. j . i i.-i u , p . n .- v p i 1ii,]i1 .1 .i Ul- i . p u -,v .l.iv ">1!-■ 11-I:: L-m
V illin e m

- 7 ! ‘>
F

2 1 . O auio da Paixão de 1583 represe niado «o Mercado <le Vinhos de Luccrna. M aqude de rcconstniçãn de Albert
Kòsier, segundo planos cênicos doctonfcta de Luccrna, Renwartl Cysai. Na pane frontal, a *ila u s zurSonnc HCa&afrcnic
ao Sol), com o Céu enirc suas duas sacadas, acessível por utna escada; diante dela. as irês crw es do Gòlgoia. Noccwm, ã
esquerda, a árvore ná qual Iodas se enforca, c à sua direita, o Teniplo representado por uni bsildaquino suijetUado por
quatro colunas. Na plataforma erguida no primeiro plano, a fome. cuja coluna foi usada para o flagelo (Munique. Theaicr
Museum)
• A Itifid e

28, P]am> cênico dc Vigil RubcF para o uuto cln P eú-


x5o ctâ Bozen (Bufciino). representado eui 13 14 na igreja
da paróquia da cidade. Os atores entrovotii (>eJa poria
tm p w , ** porta] principal. Os Ingiires dc Cai fite, Anãs e
Simão> u Lfipsoso ficavam à esquerda; o 1nitrou, o C’éu
MJlgrN cim i .'ii lc t e i e o legai do SvvHijíi>j<f encontravam-
se na cabeceira: o Monte das Oliveiras situas a-sc a direi­
ta e o Templo de Salomão no centro.

estilísticas, como em Aisfeld; ou ainda, cias


circunstâncias locais, como na igreja de Bozen.
Os cenários obedeciam ii regra inevitável
do palco em espaço aberto, onde a visão livre
de todos os lados não poderia ser impedida poi
nenhum muro. As casas dc Pi latos, Caifás e
Anas. bem como o Templo de Jerusalém, ti­
nham de ser Testas apenas com um telo apoia­
do em quatro pilares. Um modesto elemento
de surpresa era ãs vezes introduzido por meio
de cortinas, que o ator - por exemplo, repre­
sentando Hercules em seu trono —abria na sua
vez de entrar cm ccna,
O espetáculo era anunciado e comentado
pelo p r a e c i t r s o r , que pronunciava os versos
introtiulórios e, freqLicntemente, dava explica­ casas que se abriam para a praça, podia des­
ções didáticas durante a peça, resumindo os cortinar de uma janela lodo o espaço da re-
eventos. “I l u t i t n d t r e t m r r t m s d t m uejjc. d a s prescnlaçãO-
ich itiv y n c zachr vor lege!" (“Atenção, venham Scnipre que se anunciava uma represen­
a mim dos cam in h o s, que eu vos co m e tação. o povo das aldeias próximas vinha reu­
Izminhas coisas!”) —assim cie abre o amo de nir-se aos cidadãos, e mercadores, menestréis
Páscoa de Viena, com uni apelo ao bom com­ e lei nulos erranies chegavam de terras longín­
portamento e à atenção da assislência. Pede quas. Os artesãos fechavam suas lojas e a guar­
silêncio aos “itlrfeii JUuteruischin'. pois "ir/r da interrompia o acesso à cidade, fechando os
ii'eiiin haben cyn osterspiel. das istfralieb uiid portões. Todo o trabalho se paralisava quando
kastitieht n7” f“mantenham-se calados, velhos soava a ordem: "Nu síviget ulle still!" ("Silên­
tagarelas, pois vamos assistir a um auto pascal, cio. lodos!"). A fórmula latina "Silete. siíeie,
que é alegre e não custa muito"), embora a silentiiu» habcle" sobreviveu como um últi­
"alegria", neste caso, claiamente não devesse mo vestígio na Jrasticidadc vernacular da lin­
ser entendida como “terrena", mas. sim, de um guagem dos autos da Paixão do tardo Medievo
lipo espiritual, mais saudável. adentro. Em numerosas representações, o ter­
Os espectadores se distribuíam ao redor mo silete veio a ser usado tanto para marear o
de todo o espaço da representação ou senia- final como para conectar as cenas individuais.
vam-se em cadeiras dobráveis que levavam Introduzia a próxima fase da ação e acalmava
consigo e, se a multidão não fosse muito den­ distúrbios ocasionais entre o público, especial-
sa, acompanhavam a ação. quando esta se mo­ mente na medida em que este se movia para
via de um lugar a outro. É claro que mal havia acompanhar a ação. No caso de representações
essa possibilidade nas peças representadas que se estendessem por vários dias, o silete
dentro das igrejas e nos palcos da praça cio assinalava u cesura para uma possível inter­
mercado do fim da Idade Média. Porém, quem rupção. até a próxima vez. Amiúde, entretan­
fosse afortunado o suficiente para ser um vi­ to. a apresentação de cada dia terminava com
sitante de honra da cidade, ou habitar uma das uma nota deliheradamentc didática ou utilitá-
■ 22!
W jH ii n # ila n tlia i W f ! t\/1 >, ■

ria, como quando os pusilânimes c os céticos táculo religioso. Isso levou cada vez mais à
eram concitados a se deixar converter de sua inclusão de partes do Velho Testamento, as
couipaxsto a uma nova promissioi ou. nimi pla­ predições dos Profetas e, finalmcnte. de toda a
no mais profano, quando eram solieilados a história da Criação. A Paixão como tal foi subs-
recompensar os "pobres eruditos" com comi­ UHilda pelo Mysièrc dc la Passiait (O Mistério
da e bebida por seu esforço 11a (teça: ou. ainda, da Paixão), um espetáculo originado no servi­
quando era dado o anúncio, bastante agrádavel, ço divino e, ao mesmo tempo, firmemcnie
de que era tempo de parar "para uma boa cer­ apoiado na interpretação teológica, com o Céu
veja". e o Inferno conslanlemente presentes em cada
Desde que a peça abandonara o recinto palavra c imagem.
da igreja, sua direção c organização haviam Isso não significava, entretanto, que o es­
passado cada vez mu is is mãos dos cidadãos. paço das representações estivesse alado ao in­
Escrivães da cidade, professores de latim e fi­ terior da igreja. Ao contrário, o mais antigo
nalmente “artistas livres" contribuíram muiro dos dram as religiosos existentes cm língua
para seeularizar cada vez ma is as peças. Esse francesa, o Mystèrc tl / W . J / U , da metade do sé­
desenvolvi mento começou logo que os desem­ culo Xll, iá se realizava fora do portal da Ca­
penhos nas representações foram confiados a tedral. Ein três grandes ciclos lemálicos. ele
seminaristas, estudantes dc latim, letrados er­ trata do pecado e da redenção prometida à hu­
rantes e. por fim, aos mimos que ofereciam manidade: a Queda, n assassinato de Abel por
seus serviços em todos os lugares. Os suces­ Caim e os Profetas. As rubricas sugerem o uso
sores dos antigos joculatorcs aceitaram, com de uma armação de madeira adequada mente
alegria e com a experiência de seu ofício, os decorada, que se apoiava na Inchada da igreja
papéis de demónios, de Judas e de verdugos - - como no espetáculo atual do Jcilernumn.
todos representantes do mal. que davam mui­ diante da Catedral dc Saizburgo. O pórtico era
to campo para a comédia, mas com os quais a Porta do Céu. De um lado ficava o Pniuíso.
um burguês respeitável e estabelecido reluta­ Sobre um tablado elevado: do outro, mais abai­
ria em identificar-se. xo. a Boca do Inferno.
É â inclusão do mimo que a paixão da Bai­ A palavra falada, os cânticos solenes (com
xa Idade Média deve muito de sua exuberân­ as partes do coro ainda em latim) e a animada
cia e da visão terra-a-terra. assim comn uma ação panlomímica (Evae a serpente) integra -
vivência realista do estilo de rcpresenlaçào que vam-se numa experiência teatral que devo ler
nunca teria podido se desenvolver dentro dos deixado uma impressão profunda e duradoura
limites dos círculos laicos. nos espectadores. Um contraponto moderno é
o Mistério t k Elcltc realizado lodos os anos
O s M is té r io s co m C e n á r io s em 15 de agosto, na Espanha, na cidade dc
S im u ltâ n e o s no Elche, famosa por suas tamareiras. O clímax
P a lc o -P la ta fo r m a da peça. que é uma combinação dc coro e pan­
tomima. dá-se no momento em que um grupo
O grande mistério da Paixão do drama­ de crianças, vestidas de anjos, desce —exnln-
turgo e teólogo francês Arnoul Grcbult con­ mente como se fazia no século XIV da cúpula
tém uma cena muito significativa. Como fun­ da Igreja de Suma Maria até o coro, radiante-
do para a agonia tio Horto, há uma discussão mente iluminado por milhares de círios. E o
entre Deus-Pai e Juxtitia sobre a necessidade mesmo acúmulo de elementos decorativos e
do sofrimento de Cristo. A idéia eseatológica psicológicos que encontra uma expressão es
começa a atingir, além da vida humana de Cris­ lonreanie na une das catedrais espanholas.
to, as premissas do ato da Redenção. Os mistérios franceses, igualados às ve­
Para a mente racionalisla francesa, era zes, mas nunca ultrapassados em perfeição tea­
algo natural (untar a história do Evangelho, o tral pelas mislcry phiys inglesas, tiveram seu
aqui e agora da Paixão, c o m o o centro da his­ máximo florescimento nos séculos XV e XVI
tória do mundo, não só nas disputas eruditas O Mystcrc i/e la Passinir de Arnoul Gréban.
dos teólogos, mas também m> palco do espe­ eoilla q u a s e trinta e cinco mil Versos, e sua re-

■ 222
.4 1,1,1.I.- M ê t l it í

presentação exigia quatro Jias. Com uma efi­ nhosa tarefa. Em seu lugar, entretanto, a mu­
ciente alternância de cenas serias e patéticas e lher do ferreiro - Hédroit - pegou o martelo, a
fortemente grotescas, conta :i história de Adão, tenaz e o lerro e foi para a bigorna.
a vida de Jesus na terra e ;t Sua Paixão e Res­ Jean Michel incorporou esta cena ã sua
surreição. terminando com o milagre de Pen­ Paixão. Existem paralelos interessantes na es­
tecostes. O amor maternal de Maria por seu cultura, nas iluminuras dos livros c nas pintu­
li lho é confrontado com o amor divino de Cris­ ras murais. No tímpano do pórtico central da
to pela humanidade. O manuscrito inclui mi­ ala ocidental da Catedral de Estrasburgo (1280-
niaturas que dão uma ideia da riqueza de ce­ 1290). uma jovem segura três longos pregos
nas e personagens e de sua adaptação teatral nas mãos, abraçando a cruz de Cristo: num
ultumente funcional. manuscrito inglês de 1300, ela c vista na bi­
Um contemporâneo rnais jovem e suces­ gorna, mun velha agitando vigorosameme o
sor de Gréban, o médico e dramaturgo Jean braço; e, num afresco no mosteiro Zenien, na
M icltel. am pliou e m odificou o texto de Macedônia, um grupo inteiro de pessoas está
Gréban, produzindo uma nova versão em sua reunido em volta da forja.
cidade natal, Angers, em 1486, com o título O bufão, com seu repertório inesgotável
de iVív.vrêre de la Passitm de noxire Satdveur de histórias, muito querido e ao mesmo tempo
Jhexiurixí (Mistério da Paixão de Nosso Sal­ vilipendiado, conseguiu achar uma estreita
vador Jesus Cristo), porta dos tuildos para sua eslimulautc entra­
A peça contem uma cena que é altamente da, mesmo lá aonde as autoridades estavam cer­
relevante para a controvertida questão da in­ tas de ler conseguido bani-io. Escondido nas
fluencia recíproca da pintura e do teatro na entrelinhas da tradição comumenie aceita, cie
Idade Media. Uma mulher, a "jèvresxc Hé- espera, junto aos seus semelhantes, para des­
droil". forja os pregos para a Crucifixão. O mentir os velhos clichés que se referem ãx Ire-
diretor de cena c tniniatuiista Jean Fouquel a vas da Idade Média.
retratou, por volla de 1460. nas Heures Etn 1547, os habitantes de Valenciennes
d ’Li!iciwe Clievuliei, como também havia fei­ se reuniram paraenlrcgar-se ao grande Myxtère
to o iluminadorde um manuscrito mais antiga de la Paxsicin durante vinte e cinco dias. Dian­
lia Paixão de Mercadc. Jean Michel designa a te de seus olhos distribuíam-se as cenas, su­
mulher Hédroit como a "cunaille de Jerusa­ cessivamente. ao longo de um eixo longitudi­
lém". mas a Bíblia não a menciona De acordo nal, com o na seaenne frons da Anligtiidade.
com uma lenda, obviamente muito conhecida Gs princípios cénicos da Renascença têm li­
na Idade Média, essa ‘'févrexxe Hédroit'1. uma gação com o palco de plataformas com cená­
serva na casa do sumo sacerdote Anãs e cu­ rios simultâneos das peças francesas do línal
nhada de Malcluis. carregou a lanterna por da Idade Média. Os modos dc pensamento c
ocasião da traição no Geiscmani. Ela é retra­ representação de outrora são assimilados nas
tada nos relevos em mármore do século XIV. IVtrmas renovadas do porvir.
Mas como leria chegado ;i forjar pregos na Com toda a riqueza de seus cenários e
Paixão de Angers'.1 Parece que devemos recor­ duração dos espetáculos, Valenciennes encon­
rer aos bufões, aos jneiiUiituex, para uma ex- trava rivais nos ciclos dos Apóstolos e do Ve­
plicnçãti. A figura de Hédroit aparece muna lho Testamento de Paris, dilatados de forma
PassitHi des Jminteurs. do séculu X11. e tam­ gigantesca (1541 c 1542), e nos dramas de
bém no poema narrativo inglês 77ic Story o f qtiarentatliasdosAp0stoIos.de Bourges- acu­
lhe Hnly Rood t.A História do Crucifixo Sa­ mulações inigualáveis na história do teatro
grado. Harleian Libvavy. Ms. 41% ). O que se mundial. Se esses monstruosos ciclos ainda
segue i narrado como lendo acontecido ao permitiam um efeito coerente c a concenlra­
entardecer do dia tla Crucifixão. etn Jerusa­ ção no espetáculo, e cm que extensão, é algo
lém: três homens foram ao ferreiro c lhe enco­ que pcmianece duvidoso. Unta miniatura de
mendaram os pregos. O homem, porém, era Huberl Cuilleau retrata o palco-plataforma de
um seguidor secreto do Nazareno e simulou Vaieilciennes, com seus cenários múltiplos,
uma mão machucada para se livrar da vergo­ seus ItH ti, huldaquinos, Ironns, pódios e inle-
Jeâus ú levado ã cidade conio pnsHKicmt.

J? 'tlIm iJtk-ii.d J.iLOrnliItsInml.irt-l,. in p .c n a l>H5], | in » L*nit-i,k- ,l.< iln u l tl» (X-iíudii jc itjro .
HiiCuEcdiid ik- 1' síl+v :'h m 1l- V, c » ít. i Lm:dh(.'* d . U V I. i d:. fu K ú » . n n 4 6 tvn.i.%. rcjli/iid n s ^ ,- n lt i.r t d iM n r lc.HI.,1
VSilhcJm Kh IIíii^ lt, uciire 1-lNfic- I W .
Jesus e enviado a lltro d ex por PiIaios,
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V

.10. W í i i U «fc» le»m «• n uiu nta us * , ,ifv,m y ,.,/,. /« « ^ x s lm d t A m n u l ( liv K in A represem»; ãn du auin. ix>m quase
55.000 versns. estendeu. >c pnt i|uj[rn tli.is Aqui sãu llmMfiHt.j'.<iiriN J j 1n !;ru 1.111e Jcsu e ■ ! l V J <i')M1>. Flihltnthéí|ue
I* Arsenal).
p 1 1 í h l l t l' A t c t l i t l

riores acorri nados. Na extrema esquerda, en- dos. sematn-se abaixo do nível dos tablados, em -
conira-se Deus-Pai enlronado com uma auréo­ bora alguns personagens privi legiados. e videti-
la. como o símbolo do Paraíso, e nu extrema lemenie. ocupem lugares inais allos, entre os
direita está o inferno, cercado por fogo c re­ atores.
pleto de demónios gesticulando selvagcinenle. Essa miniatura, amiúde reproduzida, é
Além das tradicionais mandíbulas de animal, possivelmente responsável pela noção errónea
aqui o luferno possui uma caracleríslica cspc- do "palco de mistério em três níveis" Otto
cittcamente francesa - uma torre fortificada, Dcvrienr concluiu, a partir das rubricas do
complementada por um poço, onde Satã é ati­ mistério francês - que prescreve um Paraíso
rado depois de Cristo ter aberto os portões do “en hauteitr", no alto - que o Inferno, a Terra
Inferno. e o Céu estavam dispostos em três diferentes
Os'dramaturgos e encenadores dos misté­ níveis ou andares, e. em 1876. montou o fausto
rios do fim da Idade Média francesa pndiant. num palco com o este, que ele supunha ser o
com c e r te z a , contar com técnicas cênicas de dos mistérios medievais. Quatro anos depois,
alto padrão. Os cvnditcteurx de secret {condu­ estudiosos provaram que essa conclusão era
tores de segredo), os mágicos da produção tea­ falsa, mas a noção equívoca do "palco dc mis­
tral. nada ficavam a dever aos mechanopoíoi tério em três níveis” ainda persiste leintosa-
da Antiguidade. Faziam com que praticáveis mente.
envoltos em nuvens baixassem flutuando para A duração das representações C a riqueza
trazer Deus-Pai à terra, ou conduzir Cristo para dos cenários por si já exigiam um espaço aberto
o Céu. Atinaram até com um truque, por meio de grandes dimensões - em Rouen, o palco
do qual o Espírito Santo se tornava visível, ver- linha cerea de 55 m de comprimento, c e m
tendo-se sobre a cabeça dos Apóstolos, por Mons. na Bélgica, 37 m dc comprimento por
meio de línguas dc fogo. acesas "aitificialmen- 7 m de profundidade. Mas. além disso, sobre­
le, com a ajuda de conhaque". Jean Miehcl ha­ tudo em Paris, desde muito cedo há a tendên­
via insistido especial mente nessa representa­ cia de transferir o espetáculo para um teatro
ção visual do milagre dc Pentecostes para a fechado. O princípio do palco-plataforma com
representação de 1491 do seu Mystèrc de la cenários simultâneos era relativamcme fácil de
Réssurectiim. ser transposto paru uma sala de extensão e
Para a Boca do Inferno, não bastavam so­ amplitude semelhantes, e no teatro ao ar livre
mente punas praticáveis de madeira: as pró­ já haviam sido construídas li leiras elevadas dc
prias mandíbulas monstruosas precisavam abrir assemos.
e fechar-se segundo as necessidades. “Enfer A Conficrie tle la Passinn, de Pm is. re­
ftiil eu mnnicre d ‘ime glande fttteitlc .se ciouant presentava desde o ano de 141 I em interiores
et oimemr qitand hesain en est" (‘ Inferno fei­ - a principio no Hòpilal de la Tnnité. depois
to à maneira de uma grande goela se abrindo e no Hôtel de Flandre e, finalmeme, no 1lótcl de
fechando quando for necessário'11, é o que le­ Bourgogne. onde o teatro francês mais tarde
mos nas rubricas do Mvsléte de rincantatioii lançou as hases de sua brilhante carreira com
apresentado cm 1474, em Rouen. Molicre e a Comedir Itulicnuc,
Fssa mostra de perfeição técnica corres- As despesas da peçae a responsabilidade
pundia ao estilo realista do espetáculo. A suges­ por sua produção eram divididas entre a
tiva drasticidade exibida nas torturas de Santa c o n f r e n t ' . o conselho da cidade e os partici­
Apolònia rivalizava com a dos verdugos do pantes, Dos ensaios em si ocupava-se o menetir
auto da Paixão dc Alsfeld, A cena é representa­ úejeu, que - conto no conjunto do teatro medi
da numa miniatura de Jean Fouquet, datada en­ cval - em geral também declamava o prólogo e
tre I452e I4ó0. Atrás da área cênica ao ar livre, as passagens de ligação ou de esclarecimento,
em primeiro plano, as plataformas-palcos estão mantendo u unidade dc ação, Até meados do
dispnsiasnumsemicírculohorizomal no alto. século XV, a difícil tarefa de "dirigir" o grupo
à esquerda, Deus-Pai enlronado e rodeado de heterogéneo formado de artesãos, estudantes,
anjcts e músicos; em baixo, à direita, a Boca do letrados e viajantes que trabalhavam muna
Inferno. Os espectadores, densamente amontoa­ peça era geialmenle realizada por clérigos e.
ft ist ó rit t M i i m í i f í l th‘ T e a tr o •

às vezes, por académicos ou patrícios ambi­ ção dc Adão e Eva. A determinação de Lúcifer
ciosos. em se vingar, como o lexto especifica, deve
A miniatura de Apolônia. de ican Fouqueu saltar como uma Faísca para o carro seguinte,
mostra um clérigo como rnagmcr htdens. usan- que começa então a funcionar. Adão e Eva, ten­
do um chapéu vemtelho aito c uma longa túni­ tados pela serpente, são suas primeiras vítimas.
ca azul com bordas brancas. Em sua mão direi­ O s mistérios de C hcstcr c York, bem
ta erguida, segura um bastão, e na esquerda, o com o o s de Townelcy. ap resen tad o s em
libreto abeito. O diretor cénico de Hubert von Wakefield, exibem um senso de humor auda­
Cailleau usa um barrete chato e uma beca roxa cioso e em parte altamente original, que se
sobre calções curtos e largos, e segura o rollci, uiribui a uma revisão do começo do século
oti o rolo do texto, E como podemos imaginar XV, feita por um monge do vizinho mosteiro
que fean Bouchct - promotor público por pro­ de Woodkirk. Eles contêm uma cena magis­
fissão, e ]>or inclinação encenador de mistérios tral de diálogo, no episódio da Arca de Noc.
e autor de agressivas sotties - tenha aparecido Reclamando feito uma megera, a mulher de
como merteur de jeu. Quando enfrentou o pú­ Noé se recusa lerminanlemenle a entrar na
blico conio narrador do prólogo, Jeart Botichet Arca: devia ter sido avisada do plano previa-
exigiu dc si a mesma rigorosa clareza de dicção nienlc e, além do mais, por que não salvar
que solicitava de seu elenco de leigos Dialetos lambem suas comadres? Somente quando a
eram proibidos, bem como expressões impró­ água realmente a alcança é que eja se deixa
prias ou barbarismos. Uma dicção cultivada foi levar para dentro da Arca. Fazer essa cera
desde sempre uma regra da grande escola tea­ deve ler exigido muito dos atores, mas tam­
tral de Paris e seus cidadãos, com sua orgulho­ bém da capacidade do público para aceitá-la.
sa consciência nacional. As indicações para os carros-palcos conten­
tam-se em ordenar que a Arca “seja demar­
Os Pa g ca n t C a r t e o T h e a t e r in cada por um círculo cm redor c o mundo ani­
the R o u n d A p r e s e n i a m a mal reunido à beira esteja pintado".
O problema de como era possível repre­
Hi s t ór i a da C r i a ç ã o
sentar com coerência, num espaço retangular
de pouco mais de 3 m por 6 m, a bistória do
Na Inglaterra, o modelo formal dos mis­ mundo e do Evangelho, subdividida em vinte
térios encontrou uma expressão muito menos ou até mesmo quarenta peças de um alo, des­
rigorosa do que na França. O principio de re­ de a Criação até a Ressurreição dc Cristo, é
presentação em estações, utilizado para as ce­ algo inexplicável para quem não pôde estar lá
lebrações de Corpus Christi, foi adotado para para ver. Dos relatos de testemunhas oculares,
os grandes cicios de mistérios do século XV. entretanto, fazem isso parecer bastante fácil.
Isto significava dividir o texto numa série de Uma descrição do século XVI do arquidiácono
pequenas sequências dramáticas, ou em peças Roherl Rogers dc Chcster recapitula nssim a
teatrais de um só ato dc igual duração. mecânica de uma representação pageanr.
O ciclo dc mistérios dc York, conservado
num manuscrito proveniente muis ou menos Iniciavam nos portões da abadia, o quando o p ri­
de 1430, contém mais de trinta dessas peças, m eiro cano-tablado sc havia apresentado, era levado paru
cada qual montada em seu próprio carro, or­ a c r u / alta d) ante do burgo mestre, e d a í por iodas ruas;
c assim (us pessoas em ] iodas as ruas tinham im t cano se
ganizados como numa fileira de dominó. Em­
aprese mando diante delas cm algum m ornem ot attf que
bora cada uma das peças devesse ser dramati­ trutas as íiprescnlnçõcscm cai ms marcadas píim o dia fos­
camente concisa, havia uma certa repetição, a se Ml feitas: f ...| u indus as mas linhaiu seus canos diuuic
fim de que a linha da ação não fosse interrom­ dc si. todos elos sc apresem ando ao m esm o tempo,
pida. O ciclo de York, que mostra sinais claros
de revisões e adições feitas por várias mãos, C«ida peça dispunha, portanto, dc seu pró­
gasta centoe sessenta versos para cobrira cria­ prio curro. E assim, em cada ponto da cidade,
ção do Universo, a revolta e a queda de Lúciler, uma sucessão dc carros chegava, um após o
a confirmação da onipnlência divina e a cria­ ou iro, para representar as peças separadas.
• 228
31. Nairaiioi do |tfòlogo.

Miniulurus du P a s s u t t t t V A r r t í s , por Eusisichc


Mcrcaiiê, Primeira mciudc do século XV,
33. Aulo de mistério, rcpresuntatido o manírio Uc Sania Apoloma. À direita. u m a g is ttr Inricns envergando «ma ftmgn
batina e segurando n'a mão esquerda <1 iibreto abertn e na direita a biiiula de rege me. A o íundo. u Céii com im u escada
encostada e dois ai\jo& sentados nos degraus mats ailos; à direita. Uoca do liderou povoada de demónios. Mmiaiura de
Jcan FouqtKi, c . I4ft0, paru o L i v r o rin s H o r n x de Rticmw C íiei a k r (Chamilly, Musce Condói.

>4. Plano cênico A) M y s t h t d e L t H t s s i o n de Valencienncs. [547-As e s ^ ç ^ s individuais de atuação «in enfileiradas


num plano: à esquerda, o Paraíso com Deus lJ:n einólnrioli.t; ik difeila, ao fundo, o Inferno com Uooadt» bifei no c Torre do
fortaleza. e em primeiro piano urna hacia cimi ãj-ini f i a mer"l para » pesca de l*tdm (Paris. liihliotiièijiJC Naiionale).
■ ^ Id a d e M e d ia

numa sequência ininterrupta - o que. enireian ■ o verdadeiro palco da ação. onde agora us ato­
to, pressupõe que todas as ren as durassem res entram e no qual dispõem dc espaço para
aproxi muda mente o mesmo tempo, para pre­ se mover, geslieulare exibir sua habilidade dra­
venir qualquer atraso. Durante a proeissão, os mática. como não poderia ocorrer no inevita­
atores permaneciam nos seus próprios carros- velmente exíguo /tageani cari.
tablados, em atitude estática, até a prós ima pa­ A engenhosa combinação de Wiekham do
rada, onde entravam em ação novutncnte. Cada ftageant cari com o scnffoid cari (os scctffoltls
um litiha seu lugar determinado, onde ficava sempre forinn considerados apenas armações cê­
em |)é ou sentado. Poucos ohjelos pessoais e nicas complementares) explica até mesmo como
cênicos constituíam o cenário. A Boca do In­ Noc pode ter discutido com sua obstinaria mu­
ferno, provávelmertlc, era a parte inferior do lher no palco da frente e, ao final, tê-la posto a
carro, escondida por panos - de qualquer ma­ salvo na Arca. sobre u carro principal,
neira. é conto a descreve David Rogers, filho À frente da tila de canos, a cavalo ou a
do arqukliácono Rogers. Mas Glynne Wick- pé, vinha o expositor, que informava ao públi­
Jrant provou que David Rogers era, sob mui- co reunido nas diferentes estações cênicas o
los aspectos, um cronista não muito conliável. significado c o curso da apresentação que ocor­
As reflexões de Wiekham acerca da relação reria. As representações eram dirigidas pelo
entre as exigências cênicas condicionadas ao chamado rrNivrvar (condutor), que dava o si­
texto c as dimensões limitadas do ptígcuM nal para o inicio da peça. atuava como ponto
»-íigí)/> o levaram a uma reconstituição dos c, no final, fazia com que seu carro seguisse
palcos ambulantes ingleses, c esse modelo nos adiante, dc acordo com o programa. Em geral,
esclarece muito, o convfYtii cra um mernbro da corporação que
O carro-palco reconstruído por Wiekham havia financiado a encenação e os atores de
é aberto cm três lados. Ao longo da parede de um cortejo específico. Constituía um ponto dc
fundo, de tábuas, ele insere uma tiriHg hoasc honra pura cada classe de artesãos participar
(camarim) estreita, ocultada por umu cortina: dos autos dos mistérios de sua cidade. O di­
h sua freme, ficam »s /oco. com os atores ndc- nheiro coreia solto, c nenhuma economia era
qnadamente agrupados durante o trajeto de feita. Sc os carpinteiros se encarregavam da
uma estação à outra. Um segundo carro, o Arca de Nué. os ourives do carro dos Magos e
.«-affoUI f/irt, ê levado ãs estações onde as re­ os comerciantes dc tecidos da aparência digna
presentações acontecem e colocado em posi­ dos Profetas, então o público podia esperar não
ção intedialarnenle contígua ao anterior. Esse só ouvir, como também assistir a coisas me­
segundo carro contem simplesmente um pódio moráveis. O preparo inadequado de um carm-
vazio, da mesma altura que o pagetmt curl. E pateo dc uma coqroração podia acareei ar uma

IV ,i .1 ! ■>' .!■ . | - ' i : n - ■i, I ,iu ' V : : !1 l' . I , ' ! , I [ , K ( . ! ■ I r - V. I . m


Mttitrlitii ito ft'nít- 1»

séria reprovarão dos vereadores, e até uma M a wv.' T h h f h i l d e i s j p k i t i v x t t t u l \ttU K


Joni v ii ; G íiífiívs t h i l d f t h o u /y a í m f u y
pesada multa, l-oi o que aconteceu ao g i ê m i u
O<*tí d e d e n c v y t J t t f t e w w itit t n a v
dos pintores de Bcverley em 1520, "porque sua A n d I rum « m frfw t dorr ir*7 .w i
peça l-..] íoi mal c coufusamcnte representa­ M U s o n y h d it f a n i r t
da. ein desrespeito a toda a comunidade, dian­ t u a vir / .tfi’ n A m ir f í n h í f i s i l a \ .

te de muitos estrangeiros". M ar -i : G i h J t f y s a n d y m u e I s * y i ivv.i,


Embora os textos estivessem estabelecidos Josi pm K j \ a a i t u h l r m a r t t u r n c r u k c t v n i
a n d u c t i d v l f i n u i W j f i a n o fcvWJW U v.vr
há tempos, sempre precisavam ser revisados e f l u o ia ti w e m li h c m v u
adaptados aos grupos particulares de atores. f<h d t / u t e a n d d r e d e t t t i t i x w y r h w n v
Além da rivalidade entre as diferentes corpo­ A l a s a t a s m y t t a m e is x i w n t

rações, as cidades estavam frequente mente ten­ a U m e n n u t v s H f i t o w d y A f> y x f


t o n f sevn i>lde y n k w r d t f l h i t » o r ít f r i n t
tando superar umas às outras com suas peças.
mJir/v n o » a f i y r f h e f w t v i i h v ^v,çr.
Os elaboradores de textos podiam brilhar por
sua erudição ou. melhor ainda, pela originali­ Jnsrt: Oiw, qurrii é u jvii tlcssc nwwnn?
dade das grotescas adições dc sua autoria. Foi M amia: Ewve menino è «Jc Deu* a é teu
Jusi;; í ilho ilc Deuà! Ni) vurdi±di.\ ÍM m ciiícs. Ddus ouikij
assim que o monge de Woodkirk, que fez acrés­
me €ofisiiU'nri;i lào louca, c utou d izer que eu nun­
cimos ao ciclo de Tnwncley, leve a idéia dc ca estive iAí,im iào pedi1 <ie Li. c por ímmp fé ptiguu-
inserir, antes da Adoração dos Pastores, uma to: de quem í « s e Rseiúno?
farsa que pode tranquila mente ser comparada rdbu de Deus e (cu íilttn. eu h íi com toda u
às de Haas Sachs. O pastor Mak, astuto e pati­ celieza.
Jí>M: S ií)i. sim 1 Que loiins 014 vekhos sejam pK*vei)idn>i
fe. rouba um carneiro dos outros pastores e o
dc casar-sc debsn in.moii u. cjiiC ;i n iim ít>i coiltutkta
leva para casa, para n mulher. Por mdo Lsso, u n u riopiula p ji:i fa 7ci-iu c. sem nenhum medo mi
ela o repreende ruidosa mente. embrulha o ani­ dúvula. esse serviço. A i. ;u. meu noihc e s tj dcMm-
mal (clarameme treinado para o palco), colo­ r.ido1 Todos os homens p«*l*iti u p n a «Icsprerar
ca-o nu berço, deita-se ela própria na cama e, U>o e d i m velho conuuli). p iiisarn uvtc ;< perna,
corno eji/cm os Iranccscs.
quando os companheiros pastores dc Mak che­
gam e revistam a casa com desconfiança, ela Conquanto o cairo-palco fosse uma forma
lhes pede silêncio, em consideração a si mes­ assaz earacterística dos mistérios ingleses, não
ma e ao novo bebé. Mas quando um deles le­ cia a única. Na região da Cornuatlra. os cená­
vanta a coberta do “bebè". a fraude é desco­ rios múltiplos, simultâneos, eram também uti­
berta, c Mak apanha. Exaustos, todos caem em lizados no século XV. tanto num palco circular,
sono profundo, para serem despertados pelo que acomodava os toca ao nível do chão (cumo
Gloriu in exeelsis dos anjos. 11a moralidade The Caxtle a f Perseverante - O
As fontes da coleção dc peças de I46K. Castelo da Perseverança), ou num arco niais
Liidus Coventriae - embora pareça não haver amplo, remanescente do anfiteatro da Antigui­
nenhuma conexãocom Covenlry tCraig as atri­ dade. O texto das chamadas comixh p io \s in­
bui ao condado de Lincoln) - remontam a clui diagramas que assinalam, dentro dc dois
Bizâncju- Uma dc suas cenas de maior efeito. círculos concêntricos, os foco dos atores, desde
"A Volta dc José", coincide quase liicralmentc a Criação até a Ascensão de Cristo, c terminan­
com o fragmento de um diálogo atribuído ao do. não com o solene Te Dcinii. mas com uma
Patriarca Germano de Constantinopla. A Igreja exortação aos menestréis para tocar c aos ato­
Oriental e o carro-palco se encontram, ao lon­ res c espectadores para participar da dança.
go dos séculos, na expressão dos sentimentos Dois desses teatros circulares ou cornish
demasiado humanos de São José. dos quais roiiwív existem ainda hoje um em Sl. Jusi,
fontes sírias llnham falado abe Mamente e so­ em Penwiih. c o outro cm Perranzabuloc, na
bre os quais os interpretes ocidentais haviam Corntialha. Ambos são palcos medievais ao ar
solicitamcnte estendido o manto da Imaculada livre, de mais ou menos ig m n 43 m diâme­
Conceição. José acusa Maria de tct-flie posto tro, adaptações do anfiteatro da Antiguidade
chifres e cnvcigcmhudo seu nome: construídas nas tempestuosas lenas do Norte.
Willium Bnrlase. um antiquário que publicou,
Josfih: Si'v mr Mtitv dós fudrr fio i ém I74S, suas Ohxerwtians tm theAntiitiiilie.s
* A /timtf Hfêitirt

Historical tmd Monumental (tf Cnrnwali (Ob­ I ta1■! ou v i r o h mgi >arg umc nu 1 de 1ml 1a \ il ó p ra i |utf aira
servações sobre as Antiguidades Históricas e 'o s a ra iiula a repiesciiUtçãn
Monumentais da Comualha), assim os descre­
ve: “Nesses nmtuis. círculos completos, ou an­ A infinha amplitude da tem i e do tnar de­
fiteatros de pedra (nâo interrompidos como os sempenhava seu papel, assim como o céu azul
circos de pedra), os britânicos costumavam de Atenas, ainda que, em lugar da claridade
reunir-se para ouvir peças representadas*’, e grega, nuvens cinzentas e tempestuosas ser­
acrescenta que “o monumento mais notável vissem de abóbada para o Juízo Final nessas
desse tipo fica perlo da Igre ja de St. Just, em lerras do Norle.
Pemvjth'\ O fascínio do lugar manieve-se até
hoje - em m ontagens retrospeetivas. niuilo O Auto de N a ta l
distantes de todos os estereótipos de festivais,
Richard Southern cila um espectador do sécu­ O tempo todo as Paixões, os mistérios e as
lo XX que assistiu aí a uma representação: representações das lendas foram acompanhados
pelos of ícios e ciclos relacionados com o Natal.
Sn o plann em graniu» cie Si Jusi. à x i^ tii d ii cabo O riginaram -se do m esm o Quem quueritis
C’ rti ntt all c do ucearlo I f.iiisp rue ntc que hate eom ra .ique- oratorial que é o gemie do auto pascal. “A quem
le m jtgnjfiuo prom ontório . jã senu uni luairu p e rfe ít» para buscais?", era a pergunta dirigida tanto às três
a ex,ihlçrio t - . | (iu gram lc H is tó ria óa Criaçao. d>\ Qityrfn
Marias, no domingo de Páscoa, como aos pas­
a da Rcdcnçfio do H o m em | , ,J O cm uiue aflu x u Uc pes­
soas viiut;is d? longe qiinse não im iectu uma im iJiidão
tores que chegavam à manjedoura, 11a noite de
íiussa icr^iãn erma, onde n jid it c ifs v e qiic Limite a visão, Natal.
.Mija dc que l.ido for Tutilo de St. Gall foi u primeiro a incluir
uma passagem dialogada 110 seu tropo de Na­
Southern acrescenta, com referência à$ tal Hodie Cantandus. A cena presra-se por si à
“influencias menuiis da expectatjva e da reli­ imediata dramatização. O s pastores que se
gião", que os espectadores originais eram aproximam são saudados por dois diáconos
com longas e largas dalináticas. Eles represen­
“cnlcdocainpoou d.t?. odudes inrcnoi4mj1s.de uma época tam as mulheres que, de acordo com o evan­
iigrknla, imensa por qiM)L|ttei' divciw, reunida tm imil-
gelho apócrifo de Tiago, ou Fnitevangelium,
lidão cm íocit} h um ;ilcpi<? jopo «Ic vfstiiwma.s, culrc
colinas e hundcirus. com um fosso c uniii barreira xc|ia- assistiram Maria no parto. Além disso, incum­
rundo-u Jo mmido do midiunn dc tuitmllio [. .] Devota be-lhes a tarefa adicional Uc serem testemu­
im «ãn. ism>dp|vndui Jv l\ kÍj um. m.<s a mutiulão vmiiuj nhas da imaculada concepção e parlenogcnese
um iodo jx-ficncii» *■unia éjKiça dc furmaio religioso do- - um duplo papel que a ane medieval lhes con­
inuuiik': c a>Mm sendo. |tenso cu. cia otana picparada fiou muito cedo, especial mente nos inoiumicn-
io s bizantinos. Como obstetriees (parteiras),

ocupam-sc da Mac c do Menino e banham o


recém-nascido em baetas e cálices dc ouro.
Nas versões m ais antigas do officium
pasto rum, as quasi obstetriees agem vicaria-
menie em lugar da Sagrada Família. As infor­
mações mais antigas sobre a •■encenação" des­
sas celebrações de Natal estão nos tropos do
século XI. Um deles é de Sl.-M arlial, cm
L.ímoges. c o outro, de origem desconhecida,
encontra-se hojeem Oxford. A pergunta intro­
dutória, "Quem quareritts ia presepe, pasto­
res, tlhirc" ("A quem procurais na ntanjedou-

ífi O lcatn x jca n -h il 1 õ '" i m H ii l tm lí ilc rv-lTUIl/.lbll


Inc. Ci.linulliil diiM il. ilti -seuiilo X V . (iiavnra ile I7SK.

• 2 - í .t
H i s t ó r ia M u nd ial do T ealra •

ra, 6 pastores?'’) c a subsequente adoração são igreja da Abadia de l.ambach. no Danúbio,


seguidas, enquanto transição para o Aleluia da que foram com plelunicnte resgatadas em
Missa, pela ordem: “Et titmcnmtes dicitequia 1967, são provavelmente um reflexo plástico
natus esc" ('"Ide c dizei a todo o povo que Ele do Officium Slclltie de Lumbach. um auto dos
nasceu"). O lexto do officium é ainda muito Magos também conservado em latim. As três
próximo do texto do Evangelho. mulheres ao redor da Madona entronada são
Por volta do século XI, a cena foi enrique­ as obsirtriccs. as primeiras a receber os Ma­
cida com a inclusão de novas personagens. Ao gos quando estes chegam à manjedoura. Karl
retomar, os pastores encontram os três Reis M. Swoboda, em 1927, foi o primeiro a afir­
Magos que, escutando as boas novas, por sua mar que o pintor do afresco deve ter se inspi­
vez se aproximam do Menino, oferceendu-lhe rado nas figuras do auto (atino dos Magos.
respeitosamente seus presentes. Nessas antigas A cena foi posleriormente ampliado, com
representações, eles não se ajoelham. Na arte a inclusão dos anjos anunciando, das alturas,
antiga tal como na do Medievo inicial, o ge- as boas novas (como em Orléans). As galerias
nuflexio não era uma expressão de veneração, em arcos das igrejas românicas e os trifórios
porém de suplica por misericórdia. A primeira das catedrais góticas proporcionavam os im a
representação que mostra um dos Reis Magos ideais para esse fim.
ajoelhado aparece no Aiuepentliitm de Kloster- O officium liuírgico transformou-se em
ncuburg. de Nicho las de Verdun (1 181), que teatro no momento em que aparece um anta­
sugere, com o vívido impacto de suas numero­ gonista: o rei Herodes, a personificação do mal.
sas cenas, uma conexão com as peças represen­ Sobre ele e sua corte, os compiladores de tex­
tadas em Klostemeuburg, perto de Viena. Os três tos medievais concentraram livre mente toda a
Reis Magos Lambém só ostentam coroa a partir sua riqueza imaginativa. Sentado em seu tro-
de meados do século XII; antes, apresenlam-se im púrpura e rodeado de escribas. Herodes re­
"sábios", como magos usando o capuz trígio. cebe os Magos, depois de um mensageiro ter
Até o século XIU. a própria Madona apa­ anunciado os visitantes orientais. No ato de
recia como imagem esculpida, geralmcnte Natal de Orléans, o filho de Herodes. Arquelau,
como a Virgem entronada com o Menino, no está ao seu lado. Encolerizado com as revela­
altar decorado para representar a manjedoura. ções dos escribas. Herodes joga ao chão o li­
O Menino Jesus, prenunciando o futuro Panto- vro dos Profetas. Ein sanha pantomímica. os
crator, levanta a mão direita, em atitude de atores retratam a fúria do pai e do filho bran­
bênção A sua volta estão as numerosas perso­ dindo suas espadas contra a estrela - pendente
nagens dos ciclos da Epifania. As pinturas de corda, ela é puxada ao longo da igreja -
murais românicas, do antigo coro oeste da que anuncia ti Rei recém-nascido.

il. C iclo cpiíànicu com as pecamagens do amo tilrs M .íjins Cópia de m iu pintura mural no antigo coro oeste ila
igreja da Abadia dc Lamlucb, janiu no tiahóliin, alta Áustria, sevulu XI
• A h h u l r M t- ífu i

Acessos de cólera c ameaças violentas, em le dos autos, o ordo Rachelis faz parte, de qual­
contraste com a credulidade e a confiança ino­ quer modo, da liturgia de 28 de dezembro, o
cente. sempre furam um tema de efeito teatral. dia dos Santos Inocentes.)
Os autos de Natal sãu um outro exemplo da Herodes sente o seu fim aproximar-se. En­
antiga intromissão, desde muito cedo. do mimo trega a coroa a seu filho Aiquelau, cai morto
na solenidade da igreja. Por volta de 1170, a do trono, "consumido por vermes", e é levado
abadessa Herrad de Landsbcrg reclamou da pelos demónios em júbilo selvagem. Um anjo
bufonaria que havia se propagado desm e- aparece a José cm sonho e lhe ordena que fuja
didamenle. em especial nas cenas de Herodes. para o Egito. Ele o faz. com Maria e o Meni­
Para mostrar a maneira adequada de tratá-las. no. A isso se segue um Litdus de Rege Aegypli,
apresenta, em seu Honus Delitiitrum (destruí­ ' que fala da chegada da Sagrada Família ao
do num incêndio cm Estrasburgo, cm 1870). Egito e da queda dos deuses do império do
Herodes entronado com toda a dignidade. Nilo - e partes desse diálogo são (iradas do
As peças, nesse meio tempo, seguiam seus Anlichnsto dc Tegemsee.
próprios caminhos, em parte condenadas pela E assim vários episódios cobrem, de for­
Igreja, em parte promovidas pelo clero. As ce­ ma abrangente, cada aspecto dogmático da his­
nas básicas eram cada vez inais enriquecidas tória do Natal, com todos os seus antecedentes
com detalhes episódicos, embora ao mesmo c ramificações. Com alguns detalhes a mais ou
tempo nenhum esforço fosse poupado para apre­ a menos aqui e ali, podemos encontrar parale­
sentar provas teológicas do milagre do Natal. los nas peças de Natividade dc Nevers (1060),
O auto de Natal da abadia beneditina de Compiègne. Metz. Montpellier c Orléans, no
Beuren. incluído nos Carmina Bíinina do sécu­ mosteiro dc Einsiedeln na Suíça, no mosteiro
lo XIH, começa corri uma disptna dos Profetas. belga de Btlscn e. na Espanha, com O Auto de
Aparecem Balaâo c seu asno. Santo Agostinho tos Reyes Afogos, da Catedral de Toledo.
e um ipiscopuspuerontm. O Bispo Criança, que Com a expansão dos idiomas vernáculos,
na Festa dos Loucos francesa e na Festum o caráter dogmático das peças foi gradualmente
Asinnnun preside uma grande quantidade de perdendo te rre n o p ara cenas p o p u lares,
frivolidades clericais, no auto da abadia bene­ centradas na manjedoura e no Menino nu ber­
ditina de Beuren apenas anuncia, precoccmen- ço, conforme sobrevivem até hoje em canções
te. que a questão do nascimento virginal só e costumes locais. José aviva o fogo e se ocu­
pode ser adequadamente explicada por Agos­ pa com foles e velas, prepara um mingau para
tinho. o infante (com o no Mysière dc Gréban), flerta
A Anunciação à Maria c a Visitação ba­ com as servas c é alvo de muita zombaria.
seiam-se na história autêntica do Natal. A es­ Na capela do castelo de Hoclieppan. um
trela aparece aos tres Reges no Oriente. Eles vi­ pintor tirolês de afrescos do século XII retrata
sitam Herodes. que os recebe em presença de uma donzela ajoelhada junto ao fogo. com uma
uin mensageiro. O anúncio da Natividade aos frigideira, experimentando os habituais boli­
pastores contem um contraste teatral de grande nhos dc massa da região, antes que a puérpera
efeito na (ressoa do diabalus. que faz, o melhor receba os seus. Duzentos anos depois, no auto
que pode para demolir a credibilidade da men­ dc Natal dc Hesse, uma alma gentea dá um
sagem angélica. Os pastores vão à manjedoura, tratamento semelhante à cena. Enquanto cm
adoram o Menino e na volta encontram os Três Hocheppan José permanece quieto e entregue
Keis. que por sua vez chegam ao presépio e O a seus próprios pensamentos e Maria supervi­
veneram. Avisados cm sonho por um anjo, eles siona a preparação dos bolinhos em seu divã
iniciam a jornada para casa sem voltar a bizantino, m> auto de Hesse ela está inteira­
Herodes- Mas Herodes ouve do Arrhisynogogus mente tomada pela preocupação dc fazer com
e de seus sumos sacerdotes que a profecia se que as recalcitrantes serviçais cuidem da cozi­
realizou. Ele determina o Massacre dos Inocen­ nha. "Que queres, velho bartia de bode?" - re­
tes. Nas colinas de Belém ressoam os lamentos cebe como resposta. Ele a$ ameaça “com tuna
das mães. Raquel, a mãe judia representativa, esfrega no lombo" e elas. por sua vez. o amea­
chora por seus filhos: "O d ttke sfilii..’’. (A par­ çam "empurrá-lo sobre os carvões" e minisirar-

■ 2.Í5
38. C l-iij do m r hí/ttfrK rcp rc^-n u d a num cam í-paico u ijjlc v Jfib (o s cm seu tremo; à esquerda. a coluna do f lu id o ç
o servo com a hncia d‘ á£iui Gravura de [X iv i U Jec. kiiraukidcT Iiom u^ Sharp, AD issenatitvi ot\ ihr fiigemitsc*rfírumiihr
M istrrie* A tinrtuty í*vrfiu'Wt‘it i\t ( Vnrwfr>, J 825,
39. O Nasci meti lo dc Cristo. Cena rcuatma. H t n espectadores cm trajes coittcmpnràneus pintura itc H:ms Mulhctier,
147,3 { Berlim-l>«ihlcm< SiiiuiEichc Mnseen, Gctuúldegnlerie >
40. A mulher Hédrojt forja, os pregos, cnqnnnto seu marido exibe a wao machucada: ii i-*qucrílj. dois homens fn^em
perfurações na cru 2 . Do niamiscrilo Ms. ínS6 lfolkam Hall, c . 1300 (ttiblimcca do L orde Lciccsicr).
4 | A S;ij2;i ;iiLi R u m lktcom ;mjus. l*uinul pmLti.fi i jv * um uihm;i Ji> Reno. i 14I M). L> ............... populjr* n i í ^ ucaj de tlctjrlhc1;
c o prcsépiodo lipo M d jq u in ocrim hiiu n u on> ;ic\uk-m nci.i numiivados uulus itc NatuhHt'rlim-Duhlt;ih. Sf;i;nliche Mu u ru .
/ / f w íiiíh A fnm httf i / h Teulrt*

lhe umas bofetadas. José grila "socorro. ajndem- de Santa C atarina, que cm todos os demais de­
mc!" e tudo o que consegue é que as criadas talhes corresponde exatamente ao original, não
com os dois estalajadeiros se ponham a dançar levou em consideração esse Menc tckcl. I
lassivamcnte em volla do herço. O drama natalino mal necessitava de equi-
Mais ou menos na época do atuo Je Natal pamentos técnicos especiais. Nos países de lín­
de Hcssc. konrad vini Socsl, o criador do mag­ gua alemã, eslava e românica, ele manteve-sc
nífico altar de Niedcnvildung, com seu piso de dcmro das igrejas, mesmo quando os autos da
ouro. mostra José, de barbas brancas, ajoelha­ Paixão e das lendas começaram a expandir-se
do junto ao fogo, cozinhando pnidenremente o pelos pálios dos mosteiros e pelas praças dos
disputado mingau. O aliar jxsde ser datado de mercados. Quando mais tarde sc transformou
1404, enquanto o auto íoi escrito entre 1450 e no elemento imprescindível dos grandes ciclos
1460. embora, provavelmente, já tivesse sido da Paixão, obviamenle a "choupana natalina"
apresentado desde o final do século XIV. Os leve seu lugar, como no grande palco ao ar
mosteiros de Hcsse, maispadiculnmienie o dos livre com cenários simultâneos de Luccma. em
francisciuios de Priedberg. eram notórios, nes­ 158.1, ou nos m istérios apresentados nos
sa época, por sua "vulgaridade imprópria”. Km j>a^vaa! ra i! i ingleses.
1485, os edis foram levados a exigir tios termos Os autos dos Profetas, originalmente li­
muis categóricos que os dois mosteiros de fia- gados ao ofício de Natal, haviam sc tornado
des agoslinianos e descalços passassem a com­ independentes tla cena da manjedoura já por
portar-se de maneira mais decente volta do século XII. Em vez da interpretação
Nos aulos de Natai. como em outras peças teológica e didática do Evangelho, como a
religiosas, o robusto prazer sensual e a piedade introduzida pelos Padres da Igreja sob a cúpu­
singela estão jiniinamenie ligados. O monge que la da Hagiu Sophia. em Constantinopla, o nor­
escreveu o manuscrito de Hesse coloca uma es­ te preferiu as danças de diabos e as tuias de
tranha cantiga de ninar nos lábios do Menino espadas, âs vezes de realismo Ião cruel que
Jesus na manjedoura: "Lya. eyu. Maria lit-he alguns espectadores menos avisados ficavam
imilier hivii, xal ich \'<>n dai jmlcii liiai grti.r.vr tomados de horror. A crónica do bispo Alberto
l>irí' ("Ai de mim, ai de mim. Maria, minha mãe da Livôma registra. com satisfação questio­
querida, os judeus mc liirão sofrer tão grande nável. que seus compatriotas, de maneira al­
dur"i. Maria o conforta: "Suiçe irbiv tindclyit guma covardes, fugiram apavorados do Liulus
ir.ui chrixl. barryii driu numel niehl dirxcr PmptwHtrnm (hmnixxintits. icprcscntado cni
Irixi" ("Quieto, quieto, querido menino Jesus Id(VI por clérigos de Riga.
Cristo, não lamentes agora a lua morte de már­ Uni amo profético levado dez anos antes
tir"». A tosca comicidade de taberna é repcnli- em Regenslnug iRatisbona). em I1Ó4. não
namente sobrepujada pela premonição infantil causou pãiiÍL-11. embora abarcasse a citação div.
tla sua Paixão vindoura. anjos, a queda de Lúeiler e seus seguidores, a
Na Rei>reseitlíu iân dcl Narniiiriilo dc criação do homem e o Pecado Original. Tal­
Niiextm Scíitir. um amo da Natividade escrito vez as rctiataçõC-s fossem mais modestas - ou
pelo poeta espanhol Góincz Fvtantiqúe em mea­ talvez os habitantes dessa cidade cosmopolita
dos do século XV, mostram ao menino na man­ do Danúbio estivessem mais familiarizados
jedoura os instrumentos da Paixão: a cena ter­ com os eleitos das profecias, pelos sermões
mina Com Uma cantiga de ninar, cantada em que ouviam. Além disso, o povo de Regensburg
fornia de salmódia e. a cada estrofe, apoiada vivia numa encruzilhada de influencias bizan­
por um duplo grito: “Av tM orV tinas e antigas; talvez conhecessem não ape
O pintor flamengo Roger van der Wvyden nas as histórias de Balaão e seu asno. dos livs
incorporou, no seu retábulo dos Magos l/lflc jovens nu fornalha ardente e das profecias das
Pinakollwk. Munique), u ideia da Crtieifixãu Sibilas, mas também soubessem como Virgílio
antecipada na manjedoura. Discretamente. devia apresentar-se na lutição Je testemunha
quase despeicebido, um crucifixo esta coloca da história do mundo pré cristão.
do junto à arcada central das minas da Nativi­ O desenvolvimento posterioi rio .uno dc
dade (Uma cópia contemporânea do Mestre Natal não foi. de modo alginu. iulluenciado
* 2-10
4 2. CVi m Uc N ntol vsmi>*'íi p<i>vyik «ry tle b«4úil mp*" . unia serx a que prepara c ex |>c(i nu,- ii i ;i o pi ato KnryI a pyimr ic m e
Maria. Pinuira mural T ia ia jv tj docaMefri d* Hudicpfian, xu] do Tiro!, séutfrp MH

41. f ís. 'I L'crs Kci.s Míi^ns Lvmi ÍI itik Icx. y l'U|o pos se cfkonuyin L;cmai trios íiv-a ev.riki.x. M iniatura do ('ottv\ -bm -uvilc
Jiehlrmaell. i' I0J(I [Nmvnilvi^1. ( remnitiisi lifs Nalicmnlmiise-mm.
W i j í i i i i r t b f u t u t i o t th » T c u lr if *

por disputas teológicas enulif&s. Tendo se U- fama de seu príncipe. Muito viajados e expe­
vrado de lodo o lastro do Velho Testamento, rimentados em toda classe de missões delica­
ele conservou a magia da manjedoura de Belém das. puderam com frequência comparar-se com
até hoje. enriquecida pelos mais diversos cos­ os melhores representantes da nobreza em ha­
tumes populares locais. bilidade diplomática e cultura geral. "Eli vivo
na generosa família do Landgrave”, cama Wal-
ter von der Vogelweide a respeito de si mes­
A utos Profanos mo, "c de meu feitio estar sempre entre os me­
lhores”.
Crónicas, tratados e éditos da Igreja refe­
Joculatores, M e n e s t r é i s e rem-se aos cantores ambulantes —os menes­
E rr an tes tréis, minisieriales. minslrels, méneslreles,
iiiénetriers - e coutam que eles "serviam" a
Os mesmos argumentos com os quais o seus príncipes com o alaúde e as canções. Por
estadista bizantino Zonara defendia, por volta fim. essa designação acabou se fundindo qua­
de 1100, a reabilitação dos atores da corte fo­ se indistintamciite com a ã de joctdntor, her­
ram propostos mais (arde a uni governante oci­ dada da Antiguidade, ao termo francês jtmgleur
dental por um outro intercessor aficionado dos e ao alemão Spileman.
aulos. Na corte do rei espanhol Alfonso X de E verdade que Afonso de Castela - o rei
Castela (1252-1284), o trovador Giraut Ríquicr erudito, poeta c astrónomo - recusou a Ríquicr,
pediu ao rei para estabelecer, com a força da o mais nobre de seus trovadores, o reconheci­
sua autoridade real. uma nomenclatura precisa mento legal que ele tão fervyrosameitte dese­
para os menestréis, de modo que os artistas "no­ jam . No entanto, os sucessores do rei Afonso
bres” e os "vulgares” pudessem ser diferencia­ sentiram-se tanto mais ansiosos por se ver re­
dos tins dos outros. Não era justo, ele argumen­ tratados no 7'mfííí/o de Btnttllrts como sobera­
tava, tratar os inais altos representantes da arte nos de Oriente e Ocidente, adotando a atitude
rccitatíva. cujos versos bem-tomeados e can­ de príncipes clementes, rodeados de uegrinhus.
ções divertiam a corte, da mesma forma que toda bufões e símios burlescos.
a hoste de palhaços, bufões, comediantes, Os hurõe.s. saltimbancos músicos, dança­
charlatães e domadores de animais que desem­ rinos e domadores de animais da Idade Média
penhavam seu ofício na praça aberta do merca­ certamente não podiam reclamar dc que sua
do. diante de qualquer um du poviléu. existência fosse deixada no esquecimento. Eles
A declaração rimada e cheia de benevo­ sobrevivem nos pórticos das igrejas, nos tím­
lência que Ríquicr afirmou ser a resposta do rei panos e capitéis, nos painéis dos coros, em
a seu pedido provavelmente partiu de sua pró cornijas, manuscritos e objetos esmaltados e
pria pena. O único registro oficial que temos é de marfim - retratados nos m;tis esmerados
uma justificação para os autos nas igrejas, con­ detallies e variedade.
tida nas Leves de tos Partidas, o código de leis Nos séculos VII] e IX. o mosteiro de St.
compilado sob Allonso X. Depois de censurar Gall considerava um ponto de honra receber o
severamenic toda a "libertinagem bufa que di­ senhor feudal não apenas com cânticos piedo­
minuta a dignidade da Casa dc Deus", ele afir­ sos. mas com música, dançarinos e acrobatas.
ma: ' Mas há representações permitidas aos sa­ Seus Natais eram tão famosos que. cm !J! 1. o
cerdotes, como por exemplo a do nasci mento rei Coiirndo 1 decidiu visitar St. Gall para vê-
de Nosso Senhor Jesus Cristo..." los pessoal mente (Por outro lado. São Luís. o
Esstis palavras não satisfizeram o orgulho Pio, não se interessava por esses espetáculos:
do ambicioso trovador Guirni de Riqnier. Ele. seu cronista Thegítnus nos conta qitc ele nun­
porém, teve dc contentar-se com o favor pes­ ca ria. mesmo nas festividades mais alegres,
soal que alcançara e. coiu ele. as centenas de quando bufões c mimos, flautistas e tocadores
menestréis, cantores e músicos, exiremamen- dc cítara faziam rir a todos os presentes. | A jul­
te solicitados como poetas da corte, organiza­ gar pela biografia do erudito arcebispo Bruno
dores de festivais, conselheiros l- arautos da Je Colónia escrita por Ruotger. a herança tea-
• 2 J2
44. Saltimbanco com macucu. Baixo jek-vo români­
co, Catedral de Rayeu\.

t i <•• x T
;1

45. Saltimbanco e Sao João Evangelista Miniatura;: de uni cumenlâiio dc líeaiujv sobre o ApíL-alifisc. Manuscrito
espanhol ilu mosteiro dc Sanln [Vnimipo de Sifos. c. M(Xl (Londres. British Mu.<TimV|,
a Jttwmft ijuunu ii. fcu*Lí5
f frirpaiTtelofroulsuniral rmtmí íflitrUptriraiirrtHíif.
_ jt UKlft.fl WiiUtpiisHifter ff Wmif ntduc Wgartia
(utt filufl/nrc qtu Imtwjwdjoic i S iítà iíicnÍE ii J
ictnm ftn lui'<fUí ttiliwr íosumpic n moteftn anua
o Uco&liymifc UjjftBum te fotc noua <(tou«nu
an t itfjaaQtlibiui labat cuvwuhc t)aulm: foit a tt royiw»
bammíil It utfi qm<ienoc iruc ibic nane il qmcruftica fi<
ftti-t-ewaiS^wJtipKiwítíWí — máãmgtu rima auts taitoutjitiu
dina fit a&atu» Fúhogz íiertboic >■ « femi ttihi int matteaemawrtn
itib itf a tila r au utotiHT tutctoir - md)0i8 quetemeo mBc miauwnt <|h*u^ ;£ '
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li.il da Antiguidade estava Ião cm evidência nes­ de Kreuzenslein. do século XIV (da qual só
se tempo quanto a comédia aielana. As farsas e restaram fragmentos! prescreve um balé for­
auUts de mimos —ele nos conla —com os quais mal para Salomc e quatro de suas donzelas,
ns outros se torciam de rir. Sua Eminência so­ decerto não pretendia que fosse interpretado
mente os lia com propósitos sérios: na verdade, por desajeitados monges, Para isso, contava
ele pensava muito jxmco no contendo dessas com o menestrel errante e sua companheira de
comedias e tragédias, e muito mais no seu va­ oficio, a spiluip. Já no início do século Xli, a
lor como modelo para figuras de oratória. eremita Frau Ava, que vivia perlo de Gómveíg.
A Comediu Bile dos peixes falantes, uma junto ao Danúbio, escreveu um poema rimado
farsa popular de venlriloquia dos h h u ú m e s do sobre João Batista, apresentando Salomé como
llnal da Antiguidade, também sobreviveu até uma spihrip. conhecedora de todas as artes da
o século XV como um número de gala dos pantomima e da dança: "vil wal spilt divmagrt.
mimos. Danças de animais, imitação de suas Si begimde trai singra. snaellichlichcii springca
vozes e a farsa de tipos como meio de critica mil herpltin vnde mit gigen. mit orgeneii vmlc
social eram as fomes inesgotáveis do tniniu. má lyren" ("Como atua bem essa moça. Sabe
Quando, no século X, o Ecbasis Captivi se ins­ como cantar e dançar com agilidade, ao som
pirou ei» hsopo. numa alegoria divertida i]iie da harpu e do violino, do órgão c da lira” ).
zombava da vida monástica trauspondo-a para Assim a Salomc da região do Danúbio,
o reino animal, seu autor clerical bebeu da dc 1120. que Frau Ava faz aparecer e m ‘V/iihi/-
mesma fome que os ousados mimos e joctila- clllichem garnvr", em trajes reais, c a própria
tores. Quando o rromere parisiense Ruiebeuf, imagem da mima bizantina descrita por Crisós­
em seu Dil dc 1'Erbcrie, apresenta um médico tomo, por volta do ano 400.
charlatão que se gaba das centenas de medica- Mas na vida monástica do século XIII os
me mos que experimentou no sultão do Egito, deuses sorriam até mesmo ao mais pobre acro­
revive nessa personagem o curandeiro da An­ bata. A lenda francesa Lc Toinbrnr Notre Paine
tiguidade. tanto quanto o Mcn-aiar no auto da conta uma história comovente. Uni acrobata,
Páscoa, lissc papel é sempre dtijoi iiUitor. tan­ cansado dc vagar pelo mundo, renega seu d i­
to nas canções de ::inn'S!rcí e dos goiiardi, nheiro. cavalo e roupas, c ingressa num m«s-
qunnlo l i o drama religioso. teim. Totlas as noites, secictamenle, ele desce
Sozinhos ou aos pares, esses artistas apre­ à cripta, onde há uma estátua de Nossa Senhora
sentavam suas cenas cum trajes e maquiageni. na capela. Tira seu hábito, veste sua camisa
ticslos vividos e danças .sugestivas revelam o li na e a venera, não com orações, mas com
jix iihiior. por todas as suas ambições literárias, danças acrobáticas. Executa ns saltos francês,
como um sucessor direto da arte declamatória espanhol e bretão, “rodopia seus pés no ar”,
dos ui imos e p.inloimmos da Antiguidade - caminha apoiado nas mãos - até que. exausto,
embora ele tenha tomado a história bíblica do desmaia O abade, advertido dc seu estranho
Filho Pródigo do “poema dramático" francês comportamento, o observa secreiaitiente c los-
Comioix d'Arras, escrito c recitado por um lemunha um milagre: Maria desce do Céu e
joiigliin por volta de 1200. De sua participa­ abana o acrobata prostrado. Pmfundaiuentc co ­
ção nos niystètvs mimes não há dúvida algu­ movido. o abade o toma nos braços e oadmite
ma. Quando Filipe, o Justo. fez. representar em
paiiiomima toda a Paixão de Cristo em 1313,
durante os festejos em honra do rei da Ingla­
terra, com certeza foram "atores profissionais"
que se ocuparam da expressividade exigida
pelo auto mudo. 1: quando o autor da Paixão

-D. S ii.'iiir :11n.;■ li 1.1.11- de H em tlcs. M liuium u do


fbíilttx l V /f. int:nrni (l- JIL-i k,u1 de l . a i u l - . ! v i i c u l o
X1J.

* »-í.s
Ilusionista Pinlura d e Hierunynms lio^htSi.-G cM iuin-en-Layc, Musci; Mumupiil).

49, "Ineieirc* aprcKCMaiulo-sc para o ic i Miniatura d«> flo m i.y fh -lk u n u n t dc Hcnad d e Liim lshcrj!,. sétulo XJ1 <u
original |Vii f3c$lnitd<> pclu ío^o em lislnisfotimi. cfh IK7U».
♦ :\ id a d e M édia

na comunidade dos frades. Mas ordena-lhe ele rível experiência de um sacerdote- Cena noite,
que continue fazendo o "serviço” diante da no começo da primavera, passou junto dele. uo
imagem da Virgem, até que o “ttmiheor Mostre ar. uma hoste selvugemente mascarada, ululan­
Dome" morre em bem-aventurança. A ópera te e exaltada de demónios conduzida por uni
de Massenet. Lc Jongtcur d e Notrr Dome gigante armado com uma clava. Era a caçada
(1902). é baseada nessa velha lenda. selvagem dos arlequins, a família ílerlechini.
Conla-se que Santa Angústia de Lueea re­ Menos de cem anos mais tarde, Peterde
compensou um violinista com seu sapato de ouro filois. na sua décima quarta epístola para os
c que a Madona de Rocamadour teria baixado oficiais da corte do rei inglês 11175) mencio­
uma lâmpada do altar sobre o instrumento de um nou os feitos nefastos dos arlequins. Eles eram
humilde jaculator que a venerava. E. como no filhos de Satã, dizia, imagem do gênero hu­
fim de contas a Igreja não podia ficar atrás de mano presa da vaidosa mundanidade: seu lí­
suas próprias lendas, todas as interdições não evi­ der. o arquidemônio. não tinha outro objetivo
taram que os vagantes e "habilidosos menestréis” senão o de acometer a Igreja e Todas ns suas
fossem empregados como músicos nas igrejas. obras e levar à tentação e ao pecado até o mais
Finalmenle. também aos jocidaiares deve- virtuoso e sábio dos homens.
se agradecer a conservação de uma das formas A antiga mesitie Herleqttia francesa é uma
teatrais tnais antigas e populares: o teatro de bo­ das inúmeras versões da caçada selvagem, du
necos e marionetes. As figuras articuladas, movi­ exercito de almas penadas, do exército dos
das por cordéis e varas, con 10 retratadas no llarais mortos - todos profundamente enraizados nos
Deliciariam de Mcrrad de Landsberg. gozavam cultos demoníacos pagãos. Seus atributos são
de tanta popularidade quanto os honccosdu tmor máscaras de animais apavorantes, lobos e ca­
lai espetáculo Pituch ttnd Jttdy, nos quais os ato­ chorros como acompanhantes, o himbalhat de
res ficavam ocultos por uma cortina atris de uma sinos, uitos e fúria, assobios e gritos. Surgem
batraea. O palco dos bonecos podia, na ocasião, assim em muitos exemplos, desde a hoste
set esplendi d; imente trabalhado, como testemu­ germânica de Odin e suas muitas derivações
nha una miniatura no manuscrito flamengo do nos costumes populares, até os lobisomens na
século XIV, 1J Ronums du Boitt Roí Alixandir, Asia Menor e. mais tarde, na sileneiosa apro­
em que o palco é equipado com ameias e balcões ximação de um halo de neblina no Erlkõnig
e os guerreiros estão baleados por duas sentine­ tO Rei dos F.lfos). de Gnetlie. O arquidemônin
las amiadas com clavas e maças. A sociedade cor­ Heileqtiin acabou emprestando seu nome ao
tesã parece incitada a uma viva discussão pelo Atleechmo da Citmntedici de!!'arte.
conteúdo du peça. Um tema de tão amplas possi­ Adam de la Hulle. ex-teólogo, apaixonado
bilidades e tão rico em elementos lendários e his­ defensorda justiça, poeta e músico, confiou um
tóricos quanto o romance de Alexandre exigia importante piqie! auHcrtekia Croqttesat em seu
com certeza do útereiro medieval uma familiaii Jcit de Ut Fctiitlée (Jogo da Ramada). Nesse auto.
dade não menos pormenorizada de seu ambicio­ que foi apresentado em Arras, em 1262. a per­
so (ema do que a exigida rio wayaag indonésio sonagem Cmquesol surge com uma máscara de
ou do artista do tniiinitai japonês. Num aspecto, tlemônio peluda e dc boca grande. "Mc sietl-ii
entretanto, o litereim medieval levava vantagem: hien. li htirepitiitsT, são suas primeiras pala­
não precisava fazer com que sua hoste de heróis vras. com as quais se apresenta â plnléia, ao lo­
atuasse, sem interrupções, por horas a fio, nem que ilos sinos da hoste de arlequins que passa
renunciar a uma hou refeição com OS sentis-ou, ululando pelos ares: ”Não me cai bem essa
se fosse aceito como igual, na mesu do senhor. máscara, essa careta desgrenhada?" Possivel­
mente lambem usava um mamo vermelho com
D o P r é s t i t o ti e M á s c a r a à P e ç o capuz, que, como vestimenta comum ao diabo
e no arlequim, serve para identificar a ambos.
de P a lco
Le Jeu de kl Fcitillée de Adam de la Halle
pode ser considerado o mais antigo Jr:tm:i pro­
O cronista iiormaudo Ordeneus Vitalis des­ fano francês. Combina elem entos cultuais,
creveu, por volta do fim do século XI. unta ter­ contos de fadas c superstições de uma munet-

• 147
H i s t ó r i a M it m lit il dtt Tc.airo <

ra inspirada. Foi ;i despedida imaginativa e Os autos de Neidhan alemães tiram seu


espirituosa do autor de sua cidade natal, Arras, nome do trovador alemão Neidhan vou Rendi­
antes de partir para Paris e para a universida­ lhai, um cavaleiro c vassalo do duque duBavária,
de, certo de que sua platéia entenderia perfei­ Otto II. Por volta de 1230, Neidhart von Retien-
ta mente as suas alusões diretas ou disfarçadas, thal tomou-se desafeto do duque. Mais tarde en­
A ruidosa e desenfreada festa dos arlequins contrei! refugi o na Áustria, onde rompeu com
falava ao coração de sua época c dc sua cida­ as convenções poéticas das miivtestmg, que na­
de, assim como a sua sátira, repleta de alu­ quele tempo haviam se tomado rígidas, trans-
sões lógicas, grosseria e encanto, malícia e pa­ fonuando-se no representante máximo do que é
lavras mágicas- conhecido como "hõfist he Dotjpoesie", isto é,
Vinte anos depois, com seu Jeu de Kohin “poesia das aldeias sob influência da corte".
et Marion, uma graciosa pastourellc com M ediante essa nova form a, uma ponte é
acompanhamento musical. Adam de la Halle construída entre os costumes da cone e os dos
antecipou o modelo dos autos pastorais da aldeões - expressa ião bem na amiga cerimónia
Renascença. popular da colheita anual das violetas, da qual
No decorrer do século XIV, a fam ilia tanto os aldeões quanto os corlesãoS participa­
Herlecilini emancipou-se de uma forma das vam. No antigo auto de Neidhart, a duquesa da
mais prosaicas. Na Charivari, os arlequins Áustria promete ao Cavaleiro de Reuenthal
desmitificados transformavam-se em demónios elegê-lo seu “amante de maio”, sc cie lhe entre­
barulhentos, que saíam às ruas fazendo mal­ gar a primeira violeta.
dades e perturbando o sossego. A Charivari Precedidos por flautistas, os senhores e as
cra uma espécie de parada carnavalesca de damas da corte dirigiam-se em cortejo festivo
bufões; Seus participantes assustavam os ho­ ao campo, às margens do Danúbio. Neidhart
nestos burgueses com empurrões e com o ba­ acha a tlor que contém tantas promessas. Ele a
ter de panelas du cobre, chocalhos de madei­ cobre com o chapéu e se apressa a contar à
ra, sinos e sinetas de vaca. duquesa sua “grande alegria” Mas os campo­
Sob a proteção de peles de animais c más­ neses, que tem comas a acertar com Neidhan
caras grotescas, a mascarada, que em Adam por causa de seus versos satíricos, amargam
de la I lalie apresentava ainda um aspecto dc seu triunfo. Quando chega acompanhado da
comédia e tealro, se convertera agora num fim nobre dama e com floreios levanta o chapéu,
em si mesma, alheia a toda intenção artística. encontra sob eie algo bem menos aromático
Demónio ou bobo, o mascarado podia estar que uma doce violeta.
seguro de sua impunidade para todo o sempre. A primeira versão do auto de Neidhan está
A liberdade dos bufões é a única que a huma­ conservada num fragmento de um mosteiro
nidade tem preservado, da pré história até hoje. beneditino de São Paulo, em Kárnl (datado de
Nenhuma regra de moralidade e decoro aproximada™ente 1350). A peça provavelmen­
punha limites às algazarras noturnas. Não ad­ te deve ser recitada por dois menestréis, e ela
mira que a Igreja exortasse clero e leigos a '‘não é tealro no sentido de que seu tema é um festi­
assistir nem tomar parle nas feslividades cha­ val de primavera, em campo aberto: não obs­
madas Charivari, nas quais o povo usa másca­ tante todas as piadas rústicas, ainda é um poe­
ras de demónios e coisas terríveis são perpe­ ma distinto e cortês. No final, todos se reúnem
tradas". numa roda para dançar e concluir a peça numa
Os autos de Neidhait, desenvolvidos nos atmosfera geral de dia de festa.
Alpes austríacos e noTirol. pertencem à tradi­ Na versão tirolesa, mais extensa, do auto
ção ligada ao solstício de inverno, ao Carnaval de Neidhart do século XV, a recitação por duas
e aos ritos da primavera. Remontam a costu­ pessoas sc transforma na riqueza de cenas e ato­
mes como o da eleição de um rei e dc Uma ra­ res dos autos da Paixão. O cenário muda do pra­
inha de maio, na Festa de Pentecostes, lembran­ do primaveril para a cidade. Nada menos do que
do a italiana “sposa di maRgio" e o 'Lnrd and cento e três atores participam da peça. Trajes
hndyafthe May", o equivalente inglês do Robin típicos coloridos, gestos animados, episódios
cr Marion de Adam de ia Ha lie. humorísticos e grotescos, um contraste óbvio
* 248
[SfcuoiiKN nnhaipcMjqçg 'si.ftr({i f [£i v. w p iu i; *sog np
nstu.vií»*} ap<ipsnu>T|Ai s t s jh j sup sO| ruir:in cisa sou o rs w u u j ^ u in h a jjn jf o u v o u i., ep sapiurosEíiu np s o ^ lio o *cni aujntsoo
c m o iiio 3 ' m a p u M 3 s o s o u t s o i u n u m j t v u t 1110:1 ijç ^ p u o d s a u o n JtrsTTj) n ? c h & i p w ih k a o i a r u m b
Y o[tt.\it3 um np i;pd opnunsaitliu 9 jnwii °!<^ <>P uoum ^f ojuon? ciirsotl np cjuicuim siçmisous^
fl.fi/tfifiiit tin i

51 N t u i h t i a r ii Itufetti. Xilogravura, provavelmen­


*?
te d c nina iuipivvião dc Aitgshnrg. Antevira n 1500.

Seu firedecessor. o funileiro e amieiro dc


Nuremberg. Hans Rosenpliil. levara a antiga c
tradicional forma de cortejo, com suas piadas
de disfarce e desmascaramento de identidades
secretas, a uin rude gmlesco de anedota em
verso, a chamada Schurank. Hans Folz era eo-
nhecidn por seus contemporâneos e compa­
nheiros dc ofício coroo o "Sehtiepperer" (o
sangrudor). Ele não apenas desferiu poderosos
golpes na contenda entre u povo de Nuremberg
e o mavgravc de Brandemburgo. como também
cora as falas elegantes e corteses e com as rou­ exaltou a burguesia em seus Fuxliunhf.ispicle.
pas dos cavaleiros transformam o romance ou autos carnavalescos nos quais falava contra
numa turbulenta comédia carnavalesca. O In­ os nobres cavaleiros política c moral mente de­
ferno inteiro desata-se agora em tomo do inci cadentes. Numa das peças a ele atribuídas. Des
dente da violeta, demónios entregam-se a uma mrkcn Vasna-rluspil (Auto Carnavalesco Turco 1,
discussão barulhenta, camponeses com pernas vai Ião longe a ponto de contrastar o Oriente,
de pau dançam sobre seti fantástico brinquedo “onde o sol se levanta, e as coisas estão bem e
e velhas megeras lutam com estalajadeiros. E em paz", à corrompida situação de sua pátria.
quase um prenúncio de Hans Sachs que. em Para reforçar o argumento, o arauto, que pre­
1557, reescreve o tradicional atilo de Neidbart. side c apresenta todo o cortejo de participan­
transformando-o no carnavalesco Sclmank. tes. inclusive o escudeiro turco, faz um pro­
nunciamento evidentemente critico: "Seu país
é chamado Grande Turquia, onde ninguém
A u t a s d e C e tn u i v a l precisa pagar impostos". Segue-se então toda
sorte de disputas ruidosas e violentas am ea­
O conselho da Cidade Livre de Nuremberg ças entre os cavaleiros c os delegados do im­
eia composlo de homens muito preocupados perador. do papa e do grão-turco, que reprova
com o decoro e a ordem públicos. íí uma vez os cristãos por sua “arrogância, usura e adul­
que seus porta-vozes eram pessoas inteligen­ tério". Os cristãos respondem avisando ao mu­
tes, sabiam que a primeira coisa a fazer era çulmano que vão escanhoa-lo com unia foice
controlar os entretenimentos. Assim, cm 19 de e lavar seu rosto cont vinagre.
janeiro de 148b, assinaram e selaram uni d o ­ Dois burgueses dc Nuremberg tem de in­
cumento estabelecendo que era permitido ao terromper seu trabalho para assegurar um sal­
“mestre Hans. o barbeiro, e ao resto do seu vo-conduto ao hóspede maltratado. Agradeci­
grupo" apresentar-se num auto de Carnaval em do. o turco parte com gratidão e bênçãos de
verso, desde que observassem decoro e não re­ prosperidade, c o arauto anuncia uma mudan­
cebessem dinheiro por ele. ça para um lugar melhor. Essa é uma conclu­
O luestre I lans a quem era dada essa ]ieimis- são frequente dos autos earnavalescos. que
são era Hans Folz. nascido em Woirns, mestre sugere, como nas cenas originais dos cortejos,
cirurgião c barbeiro, que viera para Ntirem- que tudo se repetirá algumas ruas adiante.
berg em 1479. ficando logo conhecido como rea­ Uma antiga pousada ou taberna, com ce­
lizador e autor de peças carnavalescas de robus­ nário adequado, podia servir como local de re­
ta comicidade. Suas atividades encontraram um presentação sem preparativos especiais. Uni ta
cninpo ideal cm Nuremberg, com sua constitui­ blado de madeira sobre tonéis, uma parede
ção aristocrática, sua riqueza, seu orgulho bur­ como fundo e uma porta para as entradas dos
guês e artesão, seu culto às artes c as ciências. atores, talvez uma mesa ou cadeira servindo
■ 250
5 2 , 0 Kei Davi, sepudo |>.>r u m vU>l i hi sia e u m locador
Ji> alaúde. dni!Ç:i diante da Arca d.i Aliança, puxada por
nina pmin de bois:. Miniatura da Bíblia tto rei Venceslati
JV. Ç iuU w V u tJo l» * » . 29í>0. c. ]-í£XI. Os miLstcos das cida­
des c da corte boêim.u já enlâo go/a\am de grande fam.i
(Viauv Òsierreiçliistlie NalnntalVnNioihekl.

53 fjmvuni do frontispício do auto carnavalesco O


X fc rrtn tiiritc in d u l$ c n i'ia s < d e Niklaus Manuel, 1525 (Tícr-
u:i, SiaiiihiblioihckJ.
W i T í i i r f i í A / u n e h f l t *1" T e a t n * •

>4. Muthfr A n r u i k i c ti Xtuflurr R t c t i t i n i a . Xiio^tu


:)
vurcidc uma n ln a u u v d E e w o . de H:ms Folz Nurei iibcr
f. (4S0.

gicamcme. a palavra tem raízes linguísticas no


vocábulo do alto-médio alemão da Baixa Ida­
de Média, sehembim. scheneban, uma másca­
ra barbuda. Goethe estava familiarizado com
ela como epítoine de mascarada. "Mas diga-me
por que em dias tão bons. quando nos livra­
mos de preocupações c usamos belas másca­
ras barbudas..." - diz o Imperador, na segunda
parte do Fausto.
Um Nuremtrerg, o Sclirmlxirtlnuf, privilé­
gio alternado das corporações, rivalizava violen­
ta mente em certos trechos com o auto carnava­
de barra de tribunais, baleio de loja nu nono - lesco. Os digníssimos magnntas. por vezes de
lais eram os simples acessórios. Essas farsas so­ uma idade madura, que se dedicavam com pre­
bre os cavaleiros, judeus e clérigos, canónicos dileção a esses festejos pennilidus oficial mente,
c alcovi leiras, imperadores e abades, acusado­ tentavam ocasional me me ofuscar o prestígio das
res e acusados, médicos e pacientes, campone­ representações cantava lese as. Em 1516, o Con­
ses e damas da nobreza deviam lodo o seu efei­ selho da Cidade concedeu ao amo de Carnaval
to i tirada de espírito e à agudeza verbal, A vi­ uma licença limitada a dois dias. "para que a
talidade do povo da cidade e o alegre desfrutar Schvmbart não fosse desacreditada''.
da vida violavam todos os tabus, deliciando o Nas regiões alpinas, os amos de Carnaval
público com falas rudes e diretas, tanto no as­ e a SchrmlHtrthitif mantiveram seu estreito vin­
pecto sexual e fecal quanto no político e moral. culo com os costumes populares As contro­
As velhas se convertem em jovens donze­ vérsias predominantes entre a gente da cidade
las na roda dos bufões; juízes de paz matreiros e os camponeses eram menos acentuadas - ou.
tiram vantagem de seus demandantes, princí- ao menos, mio tão caractcrizadas - de modo
palmente se forem mulheres; um pai de três que o Schwaitk lirulés. ou anedota cómica,
filhos promete sua herança ao filho que d e­ baseava seu efeito no bom senso inato e hu­
monstra ser o mais rematado caluniador c va­ mor bonachão. E como o Sul sempre tivera
dia; camponeses lascivos têm de suportar pu­ uma fraqueza pelo Norte, os autos passaram a
nições cuja obscenidade faria enrubescer um situar-se na corte do rei Anui. A fama dos fei­
soldado. tos heroicos do lendário rei celta havia se es­
Um lenta favorito dos autos de Carnaval, palhado já tro curso dos séculos XI e XII |tol
usado mais de uma vez por Hans Sachs, era a intermédio dos menestréis britânicos e bretões,
história de Aristótelcs e Fílis. O triunfo da a s­ e seus cantares (lais) eram bem conhecidos nas
túcia feminina sobre a erudição c um motivo regiões alemãs. Na Suíça, o rei Artur, o mode­
que iá lia via sido explorado teairalmcnie três lo dos reis cavaleiros, tinha por companheiro
mil anos ames pelos sumérios. A resolula e o Antieristo. transformado cm tema farsesco
epigonnl Fílis lenta agora colocar o mestre de no auto Des Entkrist Vetstuu h: (O Carnaval do
joelhos e fazê-lo andar de quatro, apressam lo- Anlicristn).
o com n chicote de montaria. Nenhuma das impropriedades dos autos
Outro entretenimento que fazia parte das do sul da Alemanha, Áustria. Timl e Suíça in
diversões carnavalescas de Noicmberg era a vadiram os círculos de Lubeck. os chamados
Scliemlntnltittf ou Sdiiuihítnltuij, cujos vestí­ Zirkelgfíietixfhtiften. A dignidade das maneiras
gios ainda sobrevivem em costumes popula­ patrícias proibia qualquer piada indecente e
res da Fiavária, da Áustria e do Tivol EtinioUt- obscenidades. A tendência para a alegoria mo
55, A s w l t » ao l n l c i i w S c h c m b a rt. N u reiiiE x» fg , 1559 O J u fe n io ú rc p re s c n ía ilo p o r u iti n a v io sobre rodus, ic p lu t o d c
íiií Lm í i t ú * ile ilc iitfM iio s c d c p á ssa ros (dm t m m is c iiii] X c h e m h a r t, N o r. K . 4 4 4 , N u re m h c rg . S la Jth ib lu > t]ick i.
Festa do Astro numa cuicdral im m esa. reprcverHaçãn pm veuienic do século X V (T-*arLs, Uibliolhéque dc 1'Arsenal).

57. "A n s tó ld c s c hYlis". kniiii ijuc reajw cce nos anuis


c;unu\íilt:!icOi dc Huns Sachs. m us^uc laiubêm pode sereii-
conirikJo numa p in iu n mural toscaria <k> século X IV , cm Sun
l.iiim jjm u n o , X ilogravura du Hrms U u ig k m u ir (B e rlim ,
Slualliche Muscctl, KupfenSliirlikjbiiH-IU
* 4 l( t tu h ‘ M é d ia

5K M .- i .i: j i t í catTliiviil. ]4S4 Eshnço ã<> iitn itin a l


Jr í i, .i>1.1 ; .I , <S i j i

nado. Lseritti pm um autor desconhecido, loi


representada |wl:t primeira vc/. por volta de
1465. Sua primeira edição, não datada, aponta
para Ruão como local de origem. O diálogo
mordaz, as frases polidas a desembocar em
brincadeiras grosseiras iruem o conhecimento
do meio profissional contemporâneo dos ad­
vogados, Autores posteriores, dc Rahelais a
Giimmclshnusen. da Henno de Reucliliu às
K leinstiidter (Os Pequenos C iladínost de
Kot/ebue. apropriaram-se do tipo estúpido c
confiante dessa farsa.
rui já se fazia evidente no atilo carnavalesco. Mestre Pierie Pathelin éum advogado res­
Os registros administrativos da cidade hun- peitado, verdadeiro orna mento de Sua profis­
se ática livre de l.úbeck, dos anos de 1430 a são, No entanto, não apenas é inescrupuloso
1515, mostram que esses círculos fraternos, como encontra real prazer cm enganar seu vi­
constituídos por membros do palriciíido. dc- zinho. o negociante de lecidos Guilluittne.
díeavam-se à representação de pequenas co­ quamo ao preço de alguns melros da melhor
médias fechadas Seu palco era uma platafor­ fazenda Além disso, aceita defender um pas­
ma sobre rodas predestinada, já pela forma tor y quem GutUaunie. acusa de ler lhe rouba­
e\terna de carro palco, a ir ao encontro das do carneiros. Porém, depois dc conseguir a
aspirações da peça de moralidades. absolvição de seu cliente. Pathelin é enganado
na mesma moeda Tendo orientado o pastor a
Fitrsa e Sollie luigir-se de bobo e só responder "hc-bé" u to­
das as questões na corte, quando chega a hora
de pagar o advogado c cxatameiue isso o que
"Mas voltemos aos nossos carneiros'' -
em outras palavras, tom emos o mui citado
t-orftnx ilelicli como evidência dc que lambem
u < v/>rtí francês não dispensou o traje dc bufão.
Conta-se que as palavras "Kercnorix à ces
iiHHitonx" foram usadas pela primeira vez num
palco perto do Sena. em Ruão. Elus derivam
de um gênero de representação cujo aguçado
espccaçar teatral deve tudo à espiriluosidade
gaulesa: a larsa.
Suas origens remontam tanto às festas dos
bufões quanto âs recitações dialogadas dos
agressivantente chistosos menestréis. Sua bri­
lhante ealrada na história tla literatura e do tea­
tro foi marcada por Mnislrc Pierre fiulielin.
uma obra que trata dc um trapaceiro trapacea­
do com o negócio do carneiro acima meitcio-

59. M n ix tr t' P i n t r P a r íirtíir . Xiluiuavurj ilc umacdt-


çán Ur MW.
IhU onu M uiu ti rit ila T r a í m *

aquele faz; tudo o que Pnihelin reei-be, em vez o jovem rei Carlos VIII era representado ale-
do seti dinheiro, é "bé-bé". goricamerte como uma fome cristalina “enla­
O núcleo da peça. natural mente, é o ju l­ meada pelos cortesãos. pois podiam pescar
gamento, que se perde numa confusão de as­ melhor em águas revoltas". Era uma picada
suntes irrelevantes a ele. Em vão o juiz tema num vespeiro. A tempestade, de prutesto de­
trazei os litigantes tle volta ao ponto com o sencadeou se de pronto, F.lcs mandaram pren­
seu '7\Y'> cnoii.) à t es inotitans". der o autor e realizador da peça. Henri Baude.
A critica social e a sátira encontraram uma e também os atores. Mas o Parlamento não viu
benvindu válvula na farsa. Seus fundadores razão para condená-los e. quase em conivên
eram advogados e escritores, estudantes e asso­ d a secreta, os libertou,
ciações cênicas de cidadãos, eruditos errantes, A farsa triunfara. Maçs tarde, mudou dc
mercadores e artesãos. As melhores cm astúcia pena e mostrou até habilidade cortesã. Quando
e originalidade eram as associações de juristas em 1499 o palácio arqiuepiscopal em Avignon
conhecidas como Basoches, que haviam se es­ foi preparado para a visita do escandalosamen-
tabelecido durante o século XIV em Paris c nas te notório César Bórgia. nenhum esforço foi
províncias, Essas associações realizavam reu­ puupadu para conquistar os favores do imprevi­
niões anuais, em que se entretinham com pan­ sível visitante. Assim, o sapateiro Jean Bellieti,
tomimas e pequenos diálogos farsescos. Possu­ um obscuro precursor dc Hans Sachs, foi in­
íam um estoque incrível de cenas de julgamen­ cumbido de montar uma farsa apropriada para
to, casos íiclícius de direito e problemas de ju­ a ucasiãu. O cronista cala-se sobre o sucesso
risdição. vistos ao espelho distorcido dnsátira a dessa empresa, De qualquer maneira. César não
si mesmos. Sem dúvida, o autor anónimo do saiu dcseonlenle do palácio. E quando mais far­
Mnisirc Pierne Pothcltn veio da Bcixoche. Exis­ de Bellieti empobreceu, foi mantido pui fun­
te uma prova histórica de que a origem da farsa dos públicos, pois “compensara a cidade, com
remonta a um edito (lo Prehosie de Paris, de suas obras e farsas".
1398, e que ela se desenvolveu a partir daí com Como seu primo-irmão, n auto carnava­
as representações das Basochex iln Ptihiix de Pa lesco. a farsa não necessitava de técnicas cêni­
ris, documentadas desde 1442 Estas eram cas especiais. Um simples pódio, com acessos
marcadas principalmenie para a terça-feira gor­ laterais ou por tris - como no palco dc Tcrcncio
da e. alcançando um público bem matoi do que - eram suficientes. A farsa vivia da astúcia
o circulo dos seus membros, eram inuini nplau verbal, não importando se seu palco fosse mon
didas como divertidas "bufonarias". lado numa sala pública, num auditório da uni­
A farsa não linha escrúpulos. Sua eficiên­ versidade, numa casa particular oli no palácio
cia dependia da auto-ironia, da zombaria tios arccbispal Situações e personagens cómicas,
abusos correntes, da impudência com (pie as identidades trocadas e planos para enganar al­
polêmicas políticas eram mordaztnente dissi­ guém ofereciam esplêndidas oportunidades
muladas como alegorias inofensivas. Quando para os destaques de atuação c tornavam-se
o marechal Picrre de Rohan teve de pagar por assini um incentivo para que os mimos profis­
um processo de Estado contra a rainha Ana da sionais viessem ajudar os amadores e conse­
Bretanha com seu descrédito na corte, os guir aplausos especiais.
parisienses puderam divertir-se com uma far­ O que podia faltar ao elenco em técnica de
sa dc impacto certeiro. Um ferreiro tentando representação sobrava em indumentária e más­
ferrar uma mula é recompensado por seus es­ caras. A barba cuidadosamente penteada do
forços com um pesado coice traseiro. Todos pomposo filisteu, as atitudes solenes do advo­
sabiam a que a grossa piada teatral aludia. A gado de peruca e beca, o ousado penteado da
anexação ila Bretanha à França, a ferradura po­ aunar. os costumes requintados dos cortesãos,
lítica, era a malograda ideia diretriz dc Rohan. o capuz de guizos do bobo identificavam as ]>es-
Entretanto, uma irrestrita disposição agres­ soas e o ambiente da farsa r dc sua irmã gémea,
siva podia resultar num epílogo judicial, mes­ a .Vfíirir. Farsa e solln' divertiam público e ato­
mo na Fiança do século XV. Em 14KÍ3. as res de forma ião igual que é quase impossível
Btísor/ie.rdc Paris montaram uma farsa na qual determinar tmia diferença precisaenlre d as Os
■ .4 iiUtth.'

heróis da Lusa são truões em Lrajes comuns ou mesmo na cena do cesto No teatro holandês,
corlesãos —os heróis da sottir são geme comum encontramos um de seus predecessores em
nu da corte cm vestimenta de bolm. Mijnhecr Wenenbmeht, embora aqui a história
A Sonic está inlimaiiiente ligada nos Enhnirs aconteça ao revés, Weirenbrachl é um respeitá­
stms Sortri (crianças sent preocupações) de Pa- vel burguês, atormentado pelo destino e por seus
rise outros incontáveis grupos de tipo semelhan­ queridos vizinhos. Ele se faz levar a própria casa
te. que se espalharam pela França no século XV. dentro de um cesto, para surpreender sua mal­
Cada um possuía seus próprios estatutos, seu vada cara-metade flertando com um padre.
próprio rei dos bufões, seu pritire des s<n\ l.prín­ O Tartufo de Molière eslava a caminho.
cipe dos bobos I e sua mére iíes sois ímàe dos Mas, enquanto isso, havia as luirlesiptes ho­
bobos). Em conceito e imagem, a sottte era real- landesas, as farsas Simerniein e Klncht, cruéis
mente muito inais antiga. Já no século XII. um e robustas, que faziam uma ponte entre a farsa
entalhe de consolo na torre sul da catedral de francesa e o Fasriuichtsspiel alemão. Suas co­
Chartres mostrava a mãe gorda e feia de um res são fartas e firmes, seu humor vigoroso e
Ixibn. conduzindo um asno a tocar lira. saturado daquela auto-ironia arredonda, que é
O príncipe dos bobos e a mãe dos bobos a marca do povo camponês nas pinturas dc
são os papéis-título da peça mrtts conhecida Pieter lirueghcl, o Velho. A peça Klnc ht que
do parisiense Pierre Gringoire, autor de sáli- está sendo levada em seu quadro /I Quermes­
ras e sottics. Seu Jm dti Prince des Sots er de se, em meio a uma multidão feliz que come,
la Mire Sonc foi apresentado na terça-feira gor­ bebe e dança, pode se referir ao Mijnheer
da de 1512, cm Paris; era um afiado ataque à Wetrenbrctchi. Há nina mulher sentada u mesa
Igreja, um panorama da época sob a roupa­ com um galã a enternecer- sc. enquanto um ho­
gem da bufo na ri a. mem com um pesado fardo às costas está en­
Gringoire era membro dos Enfants sems trando na cena. Ciaramente, as coisas não vão
óouer de Paris e. não á loa. o favorito de Luís acabar hem. No tundo do palco, atras da corti­
X11. O rei não poderia ter desejado propagan­ na. alguém está recebendo um escabelo. É fá­
dista melhor cm sua controvérsia com o Papa cil de imaginar a confusão que cabe aguardar.
Júliu II. A sonic, representada em trajes de As farsas Soiicndeen e Klticht haviam sido
bufão, foi o cabaré político d» século XVI. precedidas pelas "com panhias de bobos"
Alem dc escrever sotties. Pierre Gringoire. Misrenavtmdgrapjtcn. a versão holandesa dos
como o seu contem porâneo Jcan Bonchct. autos carnavalescos, com suas mascaradas e
também representava o nutriste r huli nos identidades trocadas. As crónicas municipais
mistérios. Alem disso, escreveu uma peça dc Dendemuinde sc referem, em 1413. ao cos­
exaltando os feitos dc São Luís. e foi tam­ tume há muno estabelecido de oferecer nusjo-
bém um pmdntnr teatral dc sucesso. Gringoire
c idealizado na novela de Vtctm Hugo. O
Coii uiuln de No!ic Dtiiiic.

S o tte rn ie e n , K luclrt e P e ça s
C am ponesas

O Falslalf dc .4,r Alegres Comadres de


Windsor teve muitos precursores na farra da
bebedeira, no punisitismn pimpão à tripa forra
como bom companheiro, alegre parasita e ate

60. Piiilcijie c Mãe 4o, liilos. Imnnquc-ã* dc Jett titi


Snr\ e i t í e i t t M > 'ff S u r f e , dc tVrne Cirmgairi:.
t ‘n n e c f i e i
rcpiv-enUnla cin l-ii - 1’
61. Palco de rua franrcs, c, IMO, Desenho (Ms. 126, C anibrji. Bibliothêque Municipafe.),

62, keprestnla^uo tk urna farsa francesa cm Paris, por vollu tlf. 15ISO. C3rm ura cm cirfire de Jcan de (Jourruorit.
M. AiiEn tnTMíSi.L. dr Khirltt iiunuí qucimíMí LíimjH^a J ú sèirniti XV[ LVulhc Jc iliiiíí pmiuNi da RscnLi l=|jiiid[i£a.
scpiindi.) a linha di: Pctn KmcttheL o Vdlm i VnriM. Kimsi hiM-ciris^lbes. M u^uin i.
• .'l h h u ic M è í h u

vens “peças divertidas" no Carnaval, “goedc da Antiguidade, miliz.nr.im os temas popula­


solaselike \ como as apresentadas sobre res do passado e do presente —do veudedur de
os canos-palcos. unguentos Miiniekiu da Boémia ao Karagíiz
Essas bufonarias usavam as mesmas for­ turco.
nias teatrais do Corpus Chtisti e das represen­ Todos partilhavam do palco comum e
tações de lendas. As Soireniieêu foram atém. modesto - simples tábuas sobre banis ou pila­
num parentesco análogo ao da peça sal n ica da res de madeira nas quermesses e feiras, não
Antiguidade. Formavam uma retaguarda mais importando se os trajes dos atores e do públi­
alegre dc uma forma dramática especiftcamen- co fossem de camponeses ou burgueses italia­
te holandesa de teatro, que surgira no Brabantc nos. eslavos ou holandeses. Deles era a sabe­
por volta de 1350: os Alrelespek. produções doria dos palhaços e bobos, atemporal e ã
dramáticas eruditas, que no século XVI se tor­ vontade em qualquer lugar do mundo. O come*
nariam a especialidade dos Rederijkers. Nos diógrafo dinamarquês Ludvig Hollierg, ao fi­
séculos XIV e XV. nu Holanda, como em toda nal de sua obra Quarto de ftw » , resumiu esse
parte, náo obstante as elevadas regras da poe­ fato: “E agora vocês viram, minha boa gente,
sia. a farsa também teve seu lugar reconheci­ conio alguém que alimenta quimeras toma-se
do. No final do Abelespctc, os espectadores hobo e é objeto de riso” .
eram convidados a dar a sua atenção especial
também à Sottende que se seguiria. A le g o r ia s e M o r a lid a d e s
Naquela época, as bitriestjiies e os autos
camponeses, que estavam no mesmo nível das No final da Antigliidadc, por volta do ano
Sotteniieeu e das farsas Klutiu, começavam a •100, o retórico Prudéncio escreveu unta obra
tornar-se muito populares por toda a Europa. etn louvor à Cristandade, chamada Psyclw-
Na lláiia. os estudantes da Universidade de maritia. Seu tema - a batalha das virtudes e
Páviu levaram o linui.s S acenhs em 1427. e a vícios pela alma do homem - viria a ser o fa­
Çoniiuedia dei Falso 1/jíjítím cm 1437, ambas vorito dos autos dc moralidade, mil anos de­
peças que combinavam a sábia local com as pois. Prudéncio foi o primeiro a personificar
patuscadas eruditas os conceitos fundamentais da ética cristã. Ele
Uin grupo sitmês, a Congrega dei Rozzi. havia faiadu da F.eelesia (Igreja) e da Symt-
obteve lauto sucesso com seus autos campone­ gugo. do Príncipe deste mundo c da Roda da
ses que fui convidado a se apresentar em Roma Fortuna. Desde então, os escultores e ininiatti-
e no Vaticano Um dos seus membros mais ati lislns medievais do início do Medievo os re­
vos era o autor, aior e empresário Ntccolò presentaram. antes que o teatro reconhecesse
Campam, cujo talento o colocava mi proximi­ o seu valor cênico.
dade imedinlu do famoso "Ruzzimte", Angelo Igreja e Sinagoga. Hipocrisia e Heresia já
Beolco de Pátliia: ambos foram, em sua obra, haviam aparecido antes, no .4iitidinslo de
os precursores da Çow>urdia dei! tule. Ctunpaiii Tegernsee. e esporadicam ente em algumas
tomou-se tema de conversa na cidade de Roma Paixões, mas somente no século XV lhes foi
sob o nome de ' ‘St rasei no", seu papel favorito dada uma função direta na ação. Georges
numa de suas próprias peças O papa Leão X Chastcllain. cronista e diplomata na corte de
não lhe poupava seus favores, c em 15IK “Lo Filipe, o Bom. duque da Burgúndia. escreveu
Slrascino" apareceu num casamento em Orsini, e produziu em 1431 uma peça chamada I r
no qual, depors da apresentação dc alguns ou­ Concile de Bôle. Entre suas figuras alegóricas
tros coniedianles. lot aclamado como um intér­ estavam não apenas a Igreja e a Heresia, mas
prete solista de seus próprios textos. lamhém a Paz., a Justiça e até o próprio Concí­
Porém, diferenlumente de seu eontcm|x>- lio de Basileia t Bâlc). Elas não sãn. como nas
râneo ‘ Rtizzame". cujas peças ainda eram im­ Paixões e nos autos das lendas, lllerós alicer­
pressas no século XVI, ■‘Strascino" deixou uma ces da superestrutura espiritual e religiosa, mas
marca tão pequena na história da literatura ativos protagonistas da própria peça.
quanto a de lodos os burlescos anónimos e ato­ A personificação do mundo conceituai
res camponeses que. na tradição dos mimos correspondia aos crescentes esforços do séeu-

■ 261
H iM iira t K ítottliaf tio T e a t r o »

lo XV no sentido de ver e descobrir por trás carnaval d ‘aUégoriej ” . um verdadeiro carna­


chis coisas a relevância essencial da "m orar. val de alegorias. Mondain, o homem munda­
Pura o teatro, isso signifeava considerar o re­ no, se entrega alegremente a lodos os vícios
presentado tradicionalmente de maneira abs­ personificados, enquanto Juste, seu contra­
trata não apenas como as respeitáveis figuras ponto, não lhes presta atenção, em renúncia
ambientais do Frõlogo ou do Epílogo, mas cristã.
como o próprio tema das peças. Nesse caso, a aparição das figuras alegó­
Os estudantes do Collège de Navarre de ricas pressupunha sem dúvida alguma um des-
Paris, em 1426, converteram numa moralidade luque, por meio de figurinos originais. O mes­
um sermão pronunciado pelo chanceler da Uni­ mo se aplica à representação de 1494. em
versidade e doctor dirisliwtissiimts, Jean de Tonrs, de L ' l i a r w n c p é c h e u r , o pecador cuja
Gerson. A Razão aparecia como uma “bona alma “ascende” uo final, enquanto seu corpo
magistra'. e seus alunos eram os órgãos hu­ "apodrece” no chão. e também ã famosa Con-
manos dos sentidos, cuja tuteia era resistir âs d a n n i c n i o n de Bantjuet, impressa em Paris em

tentações terrenas e sustentar os ensinamentos 1507. e sem dúvida encenada nessa época.
cristãos da virtude, O cenho da obra era a ine­ O autor c encenador dessa moralidade,
vitável cena do julgamento, um exercício de Nícolas de Chesnuye, esboça um panorama,
disputa dialética, nesse caso uma consequên­ fundamentado em argumentos médicos, da
cia natural do próprio lenia, sob os auspícios higiene do corpo e do espírito, em parte pinta­
da “bona magistra". do com a irreverência tabelai si una e, em par­
O palco e o cenário das primeiras morali­ te. com requintes de esprit. Diner (Jantar),
dade-, eram despretensiosos. Já que os elemen­ Sottper (Ceia) e Banquei (Banquete) tentam
tos teológicos c pedagógicos dominavam, e a provar que o outro está errado e. Com a ajuda
representação servia como experiência retóri­ dc R onne Compagnie (Boa C om panhia).
ca; sn se fazia necessário urn pódio, A dicção Goannandise (Gulodice), Passe-temps (Passa­
clara era essencial, c. no caso dos espetáculos tempo) e de personificados Brindes, culpam
de estudantes, a declamação devia ser bem en­ se ututuaiuenle pelos males atentatórios à boa
saiada. Os figurinos também não precisavam vida, incluindo Caiir (Cólica), Gani ífjota),
ser iiuiilo luxuosos. A “bona magistra" usava Jaundise <Icterícia), Apoplexia e a Hidropisia.
uma longa beca dc letrado, a Igreja, uma co­ O compêndio médico inteiro é passado em re­
roa. a Sinagoga, uma venda sobre os olhos, e vista. Souper e Banqttet terminam diante da
os eruditos crant identificados por seus capelos. corte. Hipócrales e Galeno atuam como asses-
Por outro lado. a representação da mora­ sores. Snnpi,i- c condenado a usar. dai por dian­
lidade Itien avise, mal avise, em I 139, na ci­ te. “manchcttes dc plamb’' (algemas de chum­
dade de Rciines. fez consideráveis exigências bo I a lim de evitar qualquer recaída na gula;
quanto aos gastos e o poder criativo. A rivali­ Banquei, porém, é condenado a morrer enfor­
dade entre o “Bem-avisado” e o ‘'Mal-avisa­ cado. Seu carrasco c Dier, a Dieta.
do” foi elaborada em tt.OOO linhas e requereu N essa obra ambiciosa. Ni colas de la
uni elenco de sessenta pessoas. A Roda da For­ Chcsnuve oferece uma variedade dc informa­
tuita li ilha de girar no palco e, no momento de ções sobre as maneiras e a arte de servir e pre­
sua morte, o ''Bem-avisado’' era levado pelos parar a mesn. assim como sobre a música às
anjos ao Céu. O palco da moralidade aprovei­ refeições. Lie descreve detalhadamcme com
tava os apetrechos técnicos da Paixão e. na quais trajes suas personagens devem aparecer.
segunda metade do século, igualou-se a ela Mndcranoit, tíict e tudos os outros servos dc
tanto na duração do espetáculo quanto na Dante Espertence surgem vestidos dc homem
riqueza de cometido. e falam com voz masculina, porque exercem
0 auto UHontme Jnste et 1'Htmwic ,W<iu- funções na cone judicial e "se ocupam de coi­
ikiin (O Homem Justo c o Homem Mundano), sas às quais os homens se sujeitam mais a fa­
representado em Taraseou noanode 147b. du­ zer do que as mulheres” . O bobo úsa seu tradi­
rou vários dias Seu autor, Simon Bougoin. cional capuz com orelhas de asno, um casaco
valeie de Luís XII, desenvolveu um "vcnsaNe multicolorido, guizos no gibão e nos sapatos —
• 262
66, Ptaniu do leatro cm que loi apresentado O Custeio ttu I ^ w w n i f t ç a . 1425. R ttorttlnjçG tH lf Richard SouIliem.
67 Teatro tht Aiilt^útitadc. cotnnciviurhtJn pelus prmvruos huihani^uv Rcpresonia^ãtiiJc Cafm|ie como m ituit/r 3
cs<m»ertí;i, n-.i mvuuk- intvuor, o tvíiaio do draniLiJtirço Tcrémoo Mniuiiura tio T ê t v m r v f i e s D i t a , rmeio do século X V
(P a ri^ fJ ih liiv h tm iL ' di> J A rs o n ^ l].
. -I /,/,„ /< ■ M i ili.i

dc forma não diversa do que seu irmão nas glesa atingiu seu auge com The Castle o f
miniaturas do mistério de Santa Apolônia de Perseverou te (O Castelo da Perseverança),
Jean Fouquct. ou do que toda a sua parentela representada em 1425. O manuscrito reúne ao
representada nas miniaturas dos ma nu se ritos, Iodo (rês autos das chamadas Macro Morais, que
nos marfins, esmaltes, pinturas murais, na in­ também incluem um plano cênico detalhado -
finita variedade de representações pictóricas um dos primeiros esboços, senão o primeiro, de
medievais. uma cenografia leatral na Inglaterra.
Um século inteiro estava segurando um O manuscrito consiste em quatro partes:
espelho diante de si e recebendo sua imagem “The Rtmns" ("Os Proclamas”), ttm anúncio
de volta, mil vezes ampliada. O espelho refle­ da obra em forma de prólogo: a própria obra:
tia as figuras caricatas da libertinagem e da gula uma lista de personagens: e. na última página,
contra o ri eu fundo de proclamas em parábola o plano cênico. Richnrd Southem publicou unta
da jurisprudência, medicina e filosofia - mas exaustiva pesquiso sobre todos os aspetos das
também mostra, em traços niats discretos, técnicas teatrais utilizadas, em seu livro The
como e difícil a honrados pais peque nos -bur­ Medieval Theatre in lhe Houtid (O Teatro Me­
gueses lidar, “hoje em dia", com seus filhos. dieval na Arena)(1957), e. com a a juda do texto
Esses filht>s. l.es Enfuitls de Mtiiiiienam. são e do plano, reconstruiu toda a representação.
os filhos de um padeiro. Um deles, 1-inet, aca­ Dois pona estandartes anunciavam o auto
ba na forca, enquanto o outro, Wiildttiot, só é nas vilas e cidades próximas, unta semana an­
disciplinado pela vara. Um esperto pedagogo tes tla representação. Despediam-se com a es­
havia escrito essa peça despretensiosa, mas ins­ perança cie voltar n encontrar seus (air friemis
trutiva. para ser representada por estudantes. ibons amigos 1no dia do espetáculo.corno bons
Lu Mu rutile era um instrumento de resposta ouvintes. Essa proclamação correspondia a um
tão sensível no espaço do dia-a-dia quanto no costume generalizado entre as companhias de
cenário maior e ntais rico em alegoria do eam- teatro i embora não existam outros textos me­
pu de batalha. dievais comparáveis >. que a gente do circo con­
Mo continente europeu, as moralidades servou até hoje.
mostraram um ceticismo crescente: da "Ver­ O cenário do Custeio da Perseverança.
dade, como ela c expulsa de toda pane", da fé. encontrado pelo público em sua chegada, era
que é “procurada, mas nunca encontrada", até único e sem paralelos no Continente: uma área
o Henselyn de Liibeck. peça na qual a sabedo­ de representação de forma circular, circunda­
ria dos bobos prevalece uma vez mais,em unís­ ria por um fosso de água e uma barragem de
sono com o auto carnavalesco. lena lou paliçada) ria altura de um homem
Entrementes, as moralidades se arraiga­ No centro, erguia-se u "castelo”, uma ton e com
ram tirmcinentc na Inglaterra, que partilha com ameias e. na periferia, ficavam as plataformas
a França as honras de ser o berço clássico do para Deus, o Mundo. Satanás, a Carne e a Co­
gênero Já em 1.178, John Wjclif se refere a biça. As plataformas, de acordo com a recons­
um Play o fih c LanTs Prover t Amo do Padre- trução de Southern, eram construídas segun­
Nosso) alegórico, apresentado em seu conda­ do os mesmos princípios e assemelha'ant-se
do natal de York. Ent 1399. de novo, um docu­ ãs "mansituts" da miniatura dc Santa Apolónia,
mento de York menciona uma Irmandade do de Fouqttei. Cada uma das cinco plataformas
Padre-Nosso, que cet lamente apresentava au­ era fechada por uma cortina. A primeira a se
tos do Puiernusier lodos os anos. Outros re­ alu ir, 110 início do espetáculo, era a do tablado
gistros similares de Lincoln e Bcverlcy estão tio Mundo, que apresenta a si e a sua gente:
conservados até hoje. Vuhtptus (Volúpia), Siulticia (Estultícia) e um
As Virtudes e os Pecados Mortais, Bua Menino. Em seguida, entram Satã {lletyuh e a
Famtte Desgraça, Preguiça e Avareza, Astúcia Carne (Cuco), Eles anunciam que estio ocu­
e Ciência mediam forças nas moralidades in­ pados, dia c noite, em destruíra Humanidade.
glesas. tão ricas em propósitos didáticos e A pequena alma da Humanidade, "nascida esta
retóricos quanto as conferências dramatizadas noite de minha mãe", que agora começa a
sobre Ética, no continente. A moralidade in­ mover-se debaixo tla torre central iquu Soalhem
- iro
í i i s t t t r t a /Mututiitf ilti T í :h i >'<’ •

erige sobre quatro pés ailns, tle modo que ;i nar visível o invisível. Entrementes, uma ou
ea ma embaixo seja visível pnr iodos). é sub­ outra vez o ator medieval podia abandonar seu
metida a lodo tipo de tentação. liht resiste muito papel e voltar ii vida entidiana. como o "pobre
bem ao cerco, mas na velhice, quando a ]H>bre erudito" Jolinimes do auto pascal de iunshruci.
alma muito tentada já sc acredita acima de liem e as personagens do tcalro épico do século XX
e do mal. os poderes iln desu nirão planejam o - por exemplo, a família Antrobas de Tliornlon
ataque final. Salã solla fogo e fumaça. A Sal­ Wildcr em Hw Skin DfOnrTecrhiVor um Triz),
vação parece dcnniada. Mas a Misericórdia in­ ou Seis Personagens à Procuru de um Atitor.
tervém c conduz a pobre alma do homem ao de Pirattdello.
trono de Deus. "Pater sedem m mato" pro­ Na última obra das três Maem Marals in­
nuncia as palavras finais do alto de sua plata­ glesas, chamada Mcmkind (Humanidade) e es­
forma. laiiçatidu-as sobre o público e os atores crita por volta*de 1475. um dos atores dá um
reunidos: "Assim terminam nossos jogos. Fara passo à freme no momento mais crucial da re­
livrar-vos tio pecado, pensai, desde o princí­ presentação c anuncia que o arquideinônio
pio, ein vosso último momento'". Titivillus só poderá fazer sua prometida apari­
Há uma evidente analogia entre o cenário ção "se a coleta que acaba de ser iniciada na
circular do Casieln iht Perscwitiwjtt c o das pluléin limiar dinheiro suficiente". O salto do
CornttiU Roitnds. Segundo se sabe. o tcalro de plano teatral para o da realidade leni um obje­
arena era desconhecido no cominenlc como tivo liem claro e significativo. O pequeno elen­
nma forma medieval dislinlii de tealro. Um co da Mnnkind, composto de apenas cinco a
paralelismo aproximado se cnconira somente sete intérpretes, provavelmente não amava em
em teoria, nas primitivas concepções humanis­ conexão com os eventos das corporações, mas
tas do palco de Teréncio. conforme exempli à custa do próprio bol.su. Cont certeza forma­
licudas nas miniaturas do Tc vence i/e.v Dtx s. vam uma companhia ambulante c tinham de
datadas de 1400. Os atores, designados como fazei de tudo para garantir o seu dinheiro, an­
joatlttsoir/i, usam meias máscaras, clarnmcnte tes que o púhlicn se dispersasse ao final do
reconhecíveis, mais próximas do estilo cênico espetáculo.
da Cuiumcdic deWnnc do que do da Idade Mé­ De volta à sociedade corlcsíi e sob os
dia. Em ambos os casos, entretanto, encontra­ auspícios dc um patrono influente, a moralidndc
mos nma falta quase total de cenários. Os cés­ NtiMrc t "imi belo imerhidio da natureza") foi
ios e os movimentos tinham de ser exlremn- representada cm 1495 diante do cardenl Moiton.
menle habilidosos para criar a ilusão e tiàu tor­ de Cantcthury. Foi escrita pelo capelão de
Mnrton. Hcnry Medwall. autor também da pri­
meira peça profana inglesa conhecida, o
interlúdio Fnlxeits emd Lncrece- No que se refe­
re ao tealro. está completamente esquecido.
Não está esquecida, porém, a obra de mtl
poeta anónimo que permanece viva até hoje:
fcYvryumn tTodo Mundo). Enquanto os estu­
diosos discutem se concedem prioridade à pri­
meira edição inglesa, surgida em 1509. ou à
publicada em Delft, na Holanda, em 1495
(Spyegtwi tler Seilichevi izi/t Elekev/ijk). o tea­
tro cotisei va-sc fiel a ela liá quinhentos anos.
Foi Hugo von Holinanaslhal quem deu tio
Everyititin a forma verhal do dedcnnimn sob a

Í jN. Evi'i \nttiH. Km iilispiftti t)í uant do J uJim


Sfcn. i . \>2H
i A Iihnfc Ibfctfiti

qual o mundo o conhece hoje. E Salzburgo tem causaduclmva. Comoo Evercnum inglês do pas­
sido a cidade do tireryman nn século XX, gra­ sado. o atual continua reunindo os peregrinos
ças ãs suas representações na praça da Cate­ do teatro vindos dos quatro cantos do mundo,
dral- A obra preserva um reflexo do que foram mesmo que alguns críticos contemporâneos
os cenários das moralidades da Rnixa Idade célicos se perguntem “sc essa ingénua c sin­
Média - o caráter simultâneo, a alegoria de gela simplificação dn tema da culpa e expia­
brilhante colorido, as raízes numa concepção ção é ainda válida", c mesmo que a maioria dos
religiosa do niundo - mesmo quando a peça espectadores não reflita se é. e em que extensão,
precisava ser transferida para o teatro colicrtt >pui um liltinio representante do teatro medieval.

* _v.r
I
F

I
A Renascença

Introdução á qual, no mesmo momento, Copémtco nega­


va sua posição central no Universo, atribuin­
Jucob Burckardl afirmou que as duas do-lhe a categoria de uni astro entre outros.
moías propulsoras da Renascença foram a li­ Pela primeira vez. a Cristandade viu-se con­
beração do individualismo e o despertar da frontada com a Antiguidade em largo plano.
personalidade. Dante u Petrarca. em sua soli­ Nicolau de Cusa procurou conceber a ideia
tária altitude literária, já haviam sonhado com de Deus como "unidade de contrários". Os
o renascimento do homem, dentro do espírito papas mundanos do Renascimento não viam
da Antiguidade. Entre os pintores, Giotui ti­ problema algum em lançar pontes sobre a apa-
ni tu encetado a desvinculação do código de reiueincnie irredutível contradição emre a fé
Turmas bizantino. No entanto, somente no fi­ cristã no além e o apego da Antiguidade à
nal do século XV o novo ponto de vista se es­ terrenalidade. Sislo TV oferecia suntuosos ban­
praiou. e a visão de mundo escolástica do quetes com guarnições que se tornaram mito­
medievo foi finalmenle ultrapassada. Influen­ lógicas. Júlio II encarregou o jovem Rafael dc
cias decisivas emanaram dos círculos hum a­ pintar unta Esvaia de Atenas em (amanho na­
nistas romanos e fiorentinos. tural. para os aposentos do Vaticano - uma ex­
A queda de Constantinopla tomou as obras pressão pictórica do desejo de alcançar uma
dos escritores gregos acessíveis ao Ocidente. síntese harmoniosa entre a Antiguidade e o
Milhares dc eruditos e letrados bizantinos, em cristianismo, segundo o ideal da Academia
sua fugu pura o Oeste, carregaram seus ruais Platónica Ao palmilhar em procissão o caim -
preciosos tesouros, os manuscritos da Antigui­ nho que vai do Vaticano à Igreja de São João.
dade. Nos mosteiros, que deram asilo aos re­ Leão X passava por pedestais encimados de
fugiados. empilharam-se grandes riquezas es­ estátuas de A poio, Gani m edes. Minerva e
pirituais ã espera de exploração. Vénus. Ele permitia que sua criadagem travas­
O papa Paulo II instalou o primeiro prelo se. conto diversão carnavalesca, uma batalha
em Roma, no ano de 1467. e publicou obras de laranjas em frente ao Castelo dc Sant' An­
em grego. Seguiu-o. ent Veneza, a imprensa gelo e assinou, ao partir para uma caçada, a
de A Ido M aniitius. com a longa série dos bula dc excomunhão do monge agostinjano
"Clássicos A Idi nos". A Renascença tomou-se Maiiiuho I.utero.
a grande era da descoberta nos campos do in­ Os mercenários alemães c espanhóis do
telecto e da geografia. Os navegadores explo­ imperador Carlos V invadiram a Cidade Eter­
raram novos continentes e mares desta Terra. na e. com sua pilhagem e saque deram um fim
iftMiiriit i t u u i i w f tit* T r m t i t *

abrupto ao florescimento das artes e extrava­ O t e a t r o p o s h u m a n i s t a s


gâncias. Embora o velho trono de Pedro caís­
se vitima desse saque de 1527. a vitalidade do
Vaticano não Ini abalada. Michela ugrlo rece­ Quando o ainda jovem Nicolau de Cusa.
beu o encargo de desenhar a grandiosa cúpula graduado em leis [tela Universidade dc Mainz.
da nova catedral. descobriu em 1429 os textos de doze comé­
Já no desvanecer da Idade Média, n mo- dias de Planto, até então conhecidas apenas
naquismo c a cavalaria cederam seus papéis pelo nome, saudou o achado coino um ganho
de lideram,'3 às classes medias emergentes, para a retórica erudita e não como um acrésci­
Guíldas, corporações e o que os testemunhos mo para o teatro. Do mesmo mudo. um comen­
contemporâneos chamam de academias “vul­ tário de Do na tu sobre Terêncio, encontrado,
gares’', vernáculas, tornaram-se forças vitais pouco depois, pelo cardeal Giovanni Auspira.
na vida cultural. O cultivo humanista do dra­ na mesma cidade, chamou u atenção exclusi-
ma. de um lado, ia ao encontro do impulso vamente de eruditos. Um certo mestre Jolinnn
lúdico das classes populares', Je outro, Mandei, de Amberg. fez uma preleção na Uni­
A Inglaterra rompeu com o papado sob versidade de Viena, em 1455. sobre a peça
Henrique V[]]. A rivalidade entre sua filha Adctjihi (Os Adelfosl de Teiêncio. Considerou
Ehzabeth I e Maria Stuart. rainha da F.scócta. a matéria como um tema para as humanidades
na disputa pelo trono, foi um choque de poder e parti a prática da linguagem latina aspecto
político e também religioso: o protestantismo que já os escolásticos haviam enfatizado e que
espalhava-se por toda a Europa setentrional. ainda era crucial para Erasmo de Roterdã uo
Animado pelo sentimento de autovalor do nas­ começo do século XVI. "Sem Tcrêncio", de­
cente poderio mundial inglês, o teatro eliza- clarou ele. "ninguém conseguiu ainda tornar-
betano floresceu às margens do Tamisa ilumi­ se um bom Uunisla”
nado pela estrela de Shakespeare. Um filólogo romano e o príncipe renas­
As cortes imperiais de Parts e Viena co­ centista. de Ferrara, fortim os primeiros a res­
meçaram a revelar seus esplendores monárqui­ gatar ■■drama antigo dc seu cristali/tulo esta
cos. Paris e Madn. sob Francisco 1 c Filipe (1. luto de mero objeto de estudo e a rcconvcrtê-lo
tomaram-se novos centros da política européia em representação corpórea e visível. Potnpónio
de poder Foi. entretanto, da Itália que o mun­ Leio. etn 1486. promoveu a apresentação em
do recebeu as diretrizes no domínio das ciên­ Roma do Hiptilitn de Sênecnt ao mesmo tem
cias e artes, da literatura e diplomacia, da cul­ po. Mcmiechnii (Os Gêmeos) de Planto, foi en
tura e educação. cena d a na cone dos Este de Ferrara. () que nun­
O orgulho dito pulestativo do tempo tio ca hu\ ia ocorrido cm vida a Soneca veio a se
império dos Césares, segundo o quat “todos os concretizar mil e quinhentos anos depois, em
caminhos levam a Roma", mostrou pela segunda alto nível académico. Os mais lenom .ulos
vez. sua validade na história do mundo. Enquan­ humanistas de Roma tomaram parte na pro­
to no passado as vitoriosas legiões haviam leva­ dução. Sul pino Verolaiio escreveu o prólogo,
do a cultura do império romano a três continen­ e o papel dc Pedra esteve a cargo de Tommaso
tes. agora, as foiças espirituais da Itália atraiam Ingiiiramt. discípulo de Pompônio e, mais tar­
toda a Europa para seu campo magnético. de, favorito do papa Alexandre VI. O patrono
Se fôssemos escolhei um marco para a tinaiicen o da realizaçán foi o cardeal espanhol
“Renascença" do teatro, a data seria 1-186. É o Riario. o encenador, Pompônio Letoe a primei
ano em que a primeira tragédia de Scncea foi ta apresentação, no Fórum. A esta, seguiti-xe
montada em Roma pelos humanistas e a pri­ uma reapresentação perante o papa lnocêneio
meira comédia de Plauto pelo duque de Ferra­ \ III. no Castelo de Saiu Angelo, e outra no
ra. E foi nesse ano também que saiu do prelo a Palácio Riario.
Dc Archiieclimi (Dez Livros sobre a Arquite­ Ao evemn dramático acresceu uma deli­
tura) de Vmuvio. uma contrihuiçãn essencial berada teeotislruçào do palco antigo. Stilpíctu
para plasmai n palco e i> teatro segundo o V ernlano. que estava preparando a obra
modelo da Antiguidade. A n ltih-i itirti de Vitrúvio para publicação, for-
- r\ N i'H ltU rflÇ U

ncceu ;io amigo informações seguras sobre a tres da linguagem latina c do discurso fluente,
xenuii‘ fn>nx romana, descrita delalliadamente protótipos de um modo culto de vida como pa­
no quinto livro dc Viirúvio. drão de tudo o que o drama tinha a contribuir
Com isso deu-se u definitiva refutarão de para a nova imagem do homem (em que Piauto
todas as vagas e confusas concepções do teatro era o modelo da pronta e vivaz resposta de es­
antigo de arena, que se encontravam em ma­ pírito e Terêncio. de uma inteligência urbana e
nuscritos medievais. Os escolásticos aceitavam polida).
que um ieitor erudito recitasse o texto, enquan­ Em 1513, tta Praça Capitolina {hoje Piuzza
to mascaradosjuathuorcs <>representassem em dei Campodogliol, Piicnutux {O Jovem Carta­
forma pauto mímica. O último e mais esplên­ ginês) de Planto foi representada, Para essa
dido testemunho dessa visão, baseado em par­ engalanada produção, toda a praça (entre o Pa­
te cm erros de tradução e em parte cm fértil lácio dos Senatori e o dos Consei vaioi í) foi
imaginação, é o manuscrito francês Térmccdes transformada em um amplo theainun. coberto
Diicx, do início do século XV, Suas miniaturas por toldo.
dc página inteira, cercadas de ornamentos re­ A ação decorria em mn palco aberto, com
buscados, mos liam, em vez da espaçosa arena cinco portas cie acesso. Tommaso Inglliiami.
do teatro amigo, um cilindro estreito. Ao cen­ bibliotecário do Vaticano coroado com a ]áurea
tro. ladeado por músicos, um recnnwr. em uma de poeta por Maximiliano 1. supervisionou a
lenda cortina d a, designada como scetuK à sua encenação, nos moldes preconizados por seu
frente, os jactdatores representam, rodeados mestre. Pompônio Leto, Louvor particular cou­
pelo público, papiilta iviiiaiins. O narrador é be á pronúncia culta do latim por seus mores,
chamado de Caltiopius, em referência com- os jovens mais belus da nobreza romana".
pielam ente infundada ao gram ático latino Durante os trinta anos em que Pompônio
Cnhopo. do século III. que j.amais foi conhe­ Leio devotou seu ensino da retórica e expe­
cido por estar empenhado em qualquer ativi­ riência teatral, sua sala de conferências era o
dade teatral. Ele foi designado paru esse papel ponto dc encontro dos jovens eruditos europeus.
singular por uma tácita convenção póstuma, Enquanto os aspirantes a juristas dingiatu-sc a
cujas origens são desconhecidas. Bolonha e os futuros médicos a Pádua. os estu­
O palco "autentico'', orientado por Vilrsi- dantes de filosofia c retórica acorriam a Roma.
vio. para o Hipolvnis. era bem diferente. Ele à Academia Platónica dc Pompônio Lcto.
adotou o princípio da srenue frtm x romana, Konrad Ceitis, humanista germ ânico e
com sua fileira dc portas dc acesso. Em lugar professor itinerante, ficou conhecido em Fer­
das colunas ricameiue ornamentadas, um ta­ rara e Roma por suas reconstruções pniticás
blado simples dc madeira. Sulpício Verolano dos clássicos antigos. Jodocus Badius. filólogo
explicou na introdução á obra de Vitrúvio. clássico e importante colaborador da edição
publicada em 1486, logo após a apresentação Lyons de Terêncio. em 1-193. também encon­
que o palco ticava a um metro e meio de altu­ trou-se com Pompônio em sua viagem de es­
ra c era equipado com uma "grande varieda­ tudos pela Itália. Em 1497. quando o humanista
de de efeitos de cor". Trala-se presumivel­ Jnhnnn Reiichiin, de Pforzheiiu. montou seu
mente de parede ou te Ião de fundo de um ce­ Heuiin. jreça na tradição da farsa francesa de
nário-padrão. M oine Ptiihclin, utilizou-xe de Indo o que ha­
Comparado à pompa cênica dos palcos st- via visto e aprendido cm suas visitas a Roma,
nmjiálieos do Medievo tardio - como por em 1483 e 1490.
exemplo as esferas rotativas do microcosmo. O professor Jacoh Locher. da Universida­
eonstruidas cm 1438 por Bnmeltesehi para a de dc Fieiburg, fez bom proveito das impres­
iV«ra Rappicxenlciziatie da Festa da Anuncia­ sões teatrais que colheu em 1492 e 1493 na
ção em Florença - . o tcaim dos primeiros Itália, mais especialmentc em Ferrara, quan­
humanistas parecia muito modesto. O texto in­ do. em 1497, veio a publicar com sua Tragédia
teressava mais que quaisquer esforços artísti­ de Tinireis el Suidana. unia peça ao modo de
cos cm relação aos efeitos do palco. Sêneca. Ceitis e que temaliza a ameaça turca à Europa
Terêncioe Planto eram dominantes, como mes­ cristã.
271
tU stõ rm Hfltmtiiif <Ífl Tcnfro •

O teatro dos humanistas desenvolvido n tle la Taille, a tarefa do dramaturgo era misturar
partir da atividade de ensino e promovido por o bem c o mal, a paixão c o senti mento, em com­
sociedades acadêmicas especial mente funda binação que deveria revelar uma ação d aramente
das para esse propósito. íoi visto com alta con definida - no sentido renascentista - a fim de
sideração tatuo ao sul quanto ao norte dos A l­ representar “uma verdadeira imitação da vida
pes. Universidades e escolas latinas armaram humana, em que a dor e a alegria seguem-se uma
palcos improvisados cm seus pálios. Príncipes à outra e vice-versa".
e cardeais compraziam-se em ser patronos do Em Aristótcles, os humanistas encontra­
teatro. Reis, imperadore.se papas atraiam para ram a necessária aumridadc antiga para o dra­
suas cortes poetas, atores c pintores paru orga­ ma, em harmonia com as regras de Vitnivio
nizar suas festas. para a forma do palco. Os problemas formais
A arte do discurso dramático, domestica­ e temporais dos dramaturgos constituíam a
do pelo teatro escolar: para aplicação didática contrapartida dos problemas de espaço para os
e pedagógica, era combinada com os padrões outros artistas, O teatro dos humanistas tentou
da procissão e da homenagem no programa fazer justiça a ambos. Envidou seus melhores
das festividades cortesãs. Nas peças pastorais, esforços para encarar a herança medieval, re­
revestia-se de graça sentimental. Na tragédia, lacionando-a com a nova e contrastante teoria
era submetida às regras recem-redescobcrtas da arte da Antiguidade, preparando, assim, uma
das unidades arislotélicas e, eventual mente, base intelectual e teatral para o novo espirito
ajudou que os primeiros temas históricos rela­ da Renascença.
cionados com a atualidade da época ganhas
sem a luz do palco. A Tragédia H u m a n is ta
Enquanto pintores e escultores glorifica­
vam o aqui e agora, u te a iro respondia com u D generoso patrono espanhol da primeira
drama histórico, oferecido no tnelhorestilo da apreseutação de Séneca em Roma. o eardeal
tragédia - a única forma "digna de homens sé­ Riario. passou ás nlãos de Pompònio Leto. em
rios". como afirmou Jeun dc laTaille. O teatro 1492. um drama histórico. Eslava particular
medieval, escreveu ele em seu tratado L 'A n mente interessado na representação da Histo­
de in Tritgedie {A Arte da Tragédia), havia des­ rio Saetica de Cario Verardi. uma vez que o
cido ao nível dos servos e das pessoas de bai­ assunto era extraído da história contemporâ­
xa exlração - um áspero julgamento, que se nea: a recente libertação da cidade espanhola
pode atribuir tanto ã arrogância da aristocra­ de Granada do domínio mouro.
cia intelectual Itancesa do século XVI.quanto A peça foi levada no Palácio Riario. em
ao lom frequente mente vulgar dos últimos mis­ honra ao hispânico príncipe da Igreja, o qual.
térios medievais. como sc compreende facilmente, eslava em ­
Para seus próprios dramas, entretanto, que penhado no caso. Foi representada pelos estu­
eram exemplares, segundo pretendiam. Jean dantes da academia de Pompònio Leio - com
de la Taille elegeu tenras bíblicos. Na introdu­ sua devida autorização, decerto, mas Sem sua
ção ao Saul Furieicx (Saiil Furioso) de 1560, participação direta - como provou Max Herr-
em forma de livro, faz uma interpretação das tnnnn em sua Ltitstchwig der herttfsmiibigeit
três unidades aristolélicas, reduz os múltiplos Sehutispiclkwixi int Ahcnitm nrid in derNeuzeil
cenários exigidos a apenas um e sublinha, es- (Origem da Arte do Teatro Profissional na
peciíieamciue, que o "Monte Gu ilhoa" e a Antiguidade c nos Tempos Modernos).
"gruta de Endor" devem ficar muito próximas O tema da peça. embora de interesse ime­
(fer pjc.ri. Inadvertidnmente. utilizou-sc da diato, não conseguia escamotear sua inade­
concepção cenográlica do Medievo lardi o quação literária aos olhos do humanista roma­
com seus cenários simultâneos dispostos cm no apreciador de teatro. Pompònio Leio per­
plataforma - píiva dar ao seu drama a requerida manecia inuTTcdavelmente fiel aos inigualáveis
unidade de lugar "selou Fort cl l<t mode des modelos da tragédia clássica. As inovações do
i-jfiív tiurlieitrs treigú/ties" ("segundo a arte e o momento ficavam muito abaixo dos padrões
estilu dos antigos autores trágicos" I- fina Jean aceitáveis para esse exigente erudito

* 172
• .4 f í ^ H f í < £ ,V / J f í ê

A tragédia humanista, entretanto, seguiu mesmo manteve-se cotnplclamente á margem.


unta trilha sombria. Na tentativa de punir seus A cotle e a Cúria divertiam-se mais com os
heróis com o destino da antiga perdição e ruí­ gracejos da comédia do que cum o sombrio
na. chafurdou em sangue e honor, furor da tragédia e deixavam aos círculos lite­
Enquanto Trissino amda se orientava, re­ rários o encargo de desavir-se sobre os prós
lativamente, pelos padrões objetivos da tragé­ ou contras dos princípios anis ticos.
dia amiga, tanto em sua Arte Poética baseada A tmgédie ò I 'nntiqae. entretanto, encon­
enl AristóteJes quanto em seu paradigmático trou na corte francesa maior ressonância. Em
Sofonisba. drama de 1515. cm Ferrara o profes­ Paris, a Plèyade, grupo de autores liderados por
sor de filosofia e retórica Giovanni Ratttsia Pierre de Ronsard, preocupou-se em remodelar
"Cinlhio" Giraldi nutria a ambição de sobre­ o palco segundo o modelo clássico. O movimen­
pujar os horrores da saga dos Álrírlas. Sua tra- * to de reforma foi fortalecido pela proibição de
gédia Orbecche foi representada em 1541. na representar Mistérios cm 1548. Élienne Jodelle.
própria casa do autor. Era um amontoado de em 1552. colheu o aplauso unânime da aristo­
horrores. Incesto, assassinato do marido e dos cracia parisiense com sua tragédia Cléopatre
netos, parricídio e. final mente, suicídio da Captive (Cleópatra Cativa), inspirada em Plu-
infortunada princesa Orbecche. acumulavam- tarco. O autor, à época com vinte anos de idade,
se num pandemónio de Nêtnesis e das F;únas representou o papel-título O rei Henrique 11 as­
O horror e c> medo dominavam a cena. apode­ sistiu ã muntagem no Hòtel de Reinis e conce­
ravam-se do público. Vorribile" era a pala­ deu a iodeile a honra, sempre relembrada, de
vra de ordem que Giraldi. em seu Discttrso the ser pessoalmenle apresentado: não está cla­
deite Çonuiiedie e delle Tragedie (Discurso so­ ro se como reconhecimento pelos ambiciosos
bre a Comédia e a Tragédia) de 1543. prescre­ versos alexandrinos da peça. ou como recom­
via a si mesmo, com o apoio de Arislóteles. pensa pela comédia m ostrada cm seguida.
Como precursor do classicismo barroco fran­ Ettgèrte. De qualquer modo. o Abade Eugênio,
cês c de Lessing, ele usava a definição da personagem criada por Jodelle, rico em alusões
catarse arislotclica como purificação das pai­ contemporâneas c diretas, pode reivindicar a
xões por meio tio temor e da compaixão. condição de precursor imediato tio Tartufo de
Na construção dramatúrgicu de suas tra­ Molicre,
gédias de horror, que mais tarde suavizou um A peça foi apresentada com um cenário
pouco. Giraldi atinlut-se ã antiga unidade de único, cm um saláo, sobre um "mtsgtiifiqite
lugar e de ação. Em Orbecche, a cena desen­ etp)<atvil <te la st ène tuiliejue "(“magnífic11 apa­
rola-se em frente ao Palácio, Os assassinatos lato da cena antiga"), que deixou Jodelle mui­
no interior tio edifício são descritos pelo coro to satisfeito. Seguindo estritameme as regras
e por mensageiros. de unidade de lugar e tempo, representou-se o
Giraldi desatou uma verdadeira inundação trágico fim de Cleópatra, diante da fachada do
de dramas eruditos e com suas novelas em pro­ palácio, com a tumba de Antônio ao lado. onde
sa abasteceu os grandes autores da literatura uni­ a rainha se suicida para escapar ao cativeiro.
versal, Sua obra Moro di Ventiia (O Mouro de Ent uma segunda apresentação, realizada pou­
Veneza) foi a fonte do Oleio de Shakespeare, O co depuis no Culíège de Boncoun. Jodelle
tetna cio incesto pareceu tão atraente a Spcrone queixou-se da indigência do cenário. Mais
Speroni, professor de literatura e filosofia cm importante, porém, do que essa [xihnv.it, foi a
Pádua. que o levou a escrevera tragédia Cattace. influencia que Jodelle conquistou mis círcu­
inspirada em Orbecche. Ele conseguiu, com essa los acadêmicos interessados em teatro com sua
obra, despertar o interesse de seu compatriota. tragédia em cinco aios cm versos alexandrinos.
Angelo Beolco. que, conto diretor de um grupo Os colegas da Plèyade o celebraram como um
de teatro, construiu a ponte entre a commcdw promissor e jovem talento, que apontava o ca­
erudita e a Conimctlia deli a m profissional. minho pura o futuro da trtigéclie. Ele satisfez,
A dura disputa das Academias provocada inclusive, as exigências de Dtt Bellav relativas
pela publicação da obra de Speroni. em 1542, ao cultivo do idioma e. do mesmo modo, aos
durou até depois de sua inone. mas o teatro ideais poéticos dc Ronsard. Baif e Peru se.

* 271
fii\ió tia M i. n à u l 1 tio fi-itlrti
I
O êxito de Jodelle e h crescente prestigio mais tentador do que ver cm Curbodnc uma
da Plèyade incitaram o hihliotecárin real, premonição da luta pelo trono entre as duas
Mcllin de Saint-Gelais. a traduzir para o fran­ rainhas, ião diferentes entre si. Coube, porém,
cês a tragédia modelo de Trissino. Safonisba. a Thomas Sackville. Barão de Buckliurst e pri­
Henrique II proporcionou uma pomposa re­ meiro Duque dc Dorset. a tarefa de ir ao Cas­
presentação de gala na corte. As fillias do rei. telo de Fotheringav anunciar a Maria Stuart.
“fauslosamente vestidas'', colaboraram e. en­ rainha da Escócia, sua sentença de morte. Após
tre elas. a prometida do delfim, Maria Stuart. esse prólogo, no estilo dc Sêneca. o drama
A representação de 1556 no Castelo de renascentista inglês emancipou-se das regras
Blois. animada por interlúdios musicais e mon­ formais, Shakespeare, do mesmo modo qtte os
tada com grande pompe, foi apenas um entre espanhóis, preferiu o livre emprego dn lugar e
muitos entretenimentos em uma série de dias do tempo. Apresenta um mosaico de momen­
festivos organizados em lionra da jovem prin­ tos que. pela contínua mudança de cenas e
cesa da Escócia, Que significado poderia ler, contraste entre o trágico e o cómico, formam
para ela, Sofonisba - a desgraçada rainha da um grande painel. Ele resolveu na ação o que
Numídia - que precisa beber o veneno da taça a tragédia francesa do Renascimento acumu­
enviada pelo próprio marido'’ Maria Stuart. lava em imponentes solos declamatórios. O
depois da apresentação, dançou como todas as relato da morte de Hipólito em Hyppolyte. fih-
demais e com todos, sem pressentir quão logo tk Théxée, peça de 157.1 de Robert Gamier,
ela própria se lornuria título e heroína de uma tem mais de cento e setenta versos, o que pres­
tragédia europeia. supõe. além de um grande poder de concen­
Menos de cinquenta anos muis tarde, em tração do ator, uma sala de teatro fechada. Os
1601, An tome de Moutcluestien escreve a peça vôos oratórios de Gamicr. precursor imediato
L'£íwsfli.y<’ (A Escocesa ou A Ma Estrela). de Corneille e Kacinc, exigiam proximidade
Esse primeiro drama sobre Maria Stuart. es­ com um público livre de qualquer distração.
crito por um huguenote. surgiu trinta e três anos Como paradoxal contraste, essa exigência fez
após a sua morte e ainda durante o reinado de surgir na tragédia (fasstque o inau hábito de
Eli&abeih 1. Era a segunda obra teatral de reservar a espectadores privilegiados assentos
Montchrestien. Fora antecedida por um tema sobre o próprio palco.
clássico: Sophomsbe. Na segunda metade do século XV |. o dra­
A nêmesis da tragédia quis que os hos do ma renascentista dc estilo clássico começou
drama renascentista se enlaçassem ua Ingla­ a espalhar-se pela Europa. O poeta e dram a­
terra lambem com o destino de Maria Stuart. turgo polonês Jan Kochaiiuivski escolheu um
George Buduman, tradutor de Eurípedes e au­ tema da li fada para falai à consciência de seu
tor das tragédias Btiptixtc.s e Jcphn-x, foi tutor rei Seu drama patriótico O Despedimento dos
de Maria Stuart até 1567; após o assassinato de Embaixadores Gregas, em cenário único, alu­
Damley tomou-se seu inimigo e. em 1572, pu­ dia inequivocamente à Polónia, ameaçada por
blicou um sumário de culpa - Dclectia Mtiiiiie Ivã, o Terrível. Quando no palco o iroiatto An­
Regitmc - contra ela. tenor exortava o vacilante rei Príamo a agir.
A tragédia humanista inglesa, ao contrá­ respondia o público com um aprovalórin ti­
rio do culto francês pelns alexandrinos, prefe­ nir de armas. Essa representação de janeiro
riu o emprego do verso livre. O primeiro exem- de 1578 celebrou o noivado do chanceler po­
plo desse estilo foi a oliva declam atória lonês Jan Zamoyski comChristme Radziwill.
Gtiiihidiií' ar Ferrex and Parrex, inspirada em princesa da Lituânia, uo Castelo Jazdowo,
Sênecti, surgida cm 1561. Seu enredo trata da perto de Varsóvia, e cumpriu seu duplo obje­
luta pelo trono de dois irmãos inimigos que tivo: deu aos jovens acadêmicos no palco o
precipitam o pais uo infortúnio. Seus dois au­ esperado aplauso e Irotixe aos impacientes pa­
tores, Tltomas Saekvtlle e Thomas Norton per­ triotas na plateia a aprovação do rei Estêvão
tenciam ao Parlamento e ao Itincr Tempte Bathory das medidas de defesa que eles ;tr-
(Colcgiado Jurídico de Londres). No mesmo dememente advogavam - medidas que este
ano, Maria .Siuarl voltou à Escócia. Nada c Vaivoide da Transilvánia. eleito rei da Polónia
274
H i s t o r i o MHf tt fi ui tio Tetttrn •

3. Cciui da comedia .•Víí/wr d<r Terêncio. XiloEravuin


de uma edição das obra* de TcrériciO, Vencia. 1-^)7

apenas dois anos antes, teria dispensado de


bom grado.

A Comédia Humani s t a

Os príncipes da família Este de Ferrara


sabiam manter a posição de mecenas da co- '
cunliou-seoternio "cabine de banho" para des­
média literária renascentista. A retomada do
crever esse tipo de cenário.
drama clássico, iniciada em 1486, com Me-
A peça I Supposiri levou Ariosto ao salto
naechrm (Os Gêmeos) de flauto, (bi Seguida
para Roma, Em 1519, ela foi apresentada,
por numerosas representações em italiano. Em
como espetáculo de gala no Castelo de Samo
1491 Tepresentou-se Aluiria e, em 1499, £n-
Angelo, diante do Papa Leão X. Ninguém
nuchus (O Eunuco) de Terêncio.
menos do que Rafael desenhou os cenários.
A cone ducal de Ferrara atraiu humanistas
Estes, “fiéis à natureza da arte da perspeeti-
e poetas. Quando Isabella D’Este mudou-se para
va", representaram a cidade de Ferrara corno
Mântua após o seu casamento e ali promoveu u
o local de ação da comédia. Para assegurar à
prod ução dos Adeiphí (Os Ade Ifos) de Terênc to,
sua obra-prima cênica o necessário efeito de
em 1501, auxiliando os duques de Gonzaga a surpresa. Rafael ocultou o décor atrás de uma
entrar para a históiia do lealro, ein Feirara apa­
cortina, que no início da representação - ao
recia uma nova estrela: Ludovico Ariosto.
amigo estilo romano - caía num fosso aberto
Na verdade, no início de sua carreira, do diante do palco Ariosto e Rafael foram igual­
mirrado poeta, dotado de luxuriante fantasia, mente celebrados. Entretanto, o secretário da
mas vivendo em circunstâncias apertadas, mal embaixada fen arense Paolucci não fez men­
se ofereceu a oportunidade de colher a man- ção ao nome de Ariosto. ao informar seu prín­
clieias. E por isso mesmo sentiu-se tanto mais cipe sobre o Carnaval romano de 1519: “Não
incitado a enriquecer as festas cortesãs com Se falava de outra coisa a não ser de mascara­
comédias de sua lavra. Assim, em 1508. es­ das e comédias i...| e do aparato cênico dc
creveu La Cassaria t A Caixinha) e, em 1509. Rafael de Urhino construído para as mesmas".
sua obra teatral mais famosa, / Supposiri (Os Mas Os fmpasMnrs fizeram carreira nas
Impostores), diretaineute inspirada em Planto, festas da corte, na Conrmedia deli 'arte e pelo
tanto nos tipos quanto na técnica cênica. A teatro de escola Antonio Vignali, membro da
forma do palco em Ferrara, desde a primeira Academia degli Intronati di Siena, encenou a
representação em 1468. era uma fachada pla­ peça em Valladolid. em 1548, como contribui
na de rua, com cinco casas, cada uma com uma ção teatral às festividades de núpcias de
poria e unia janela. Maxinúliano da Áustria com a infanta Maria,
O princípio do palco elevado, com uma filha do imperador Carlos V. A Commedia
fileira de casas - uma adaptação reduzida da dei1’arte reportou-se à figura do sarraceno
clássica seenae frrms romana - tornou-se cn- Rodotnonte do Orlando Furioso, de Ariosto:
racierística do teatro dos humanistas. Aparece as fanfarronadas bombásticas das quais se gaba
em gravuras de muitas edições de Terêncio c o Capitaria, endossado por outros valentões,
era realizável mesmo com os modestos meios receberam o nome de “rodomontadas".
do teatro erudito. Em sua forma mais primiti­ Entre !518c 1521. pessoas ilustres rivali­
va, se houvesse necessidade, era dividido em zavam corno autores de comédias, encoraja­
gabinetes, com cortinas de correr, “parecidos dos pelo papa Leão X, cujo Gandctmius (can­
com cabines de banho em vestiário de pisci­ to litúrgico) de alegria terrena estendia-se tam­
nas" (Creizenadi). No início do século XX, bém ao teatro, Um homem de iniclecio e cul-

- 276
4. llustr.içnr panorâm ica da Àm íriu de T crcndo. im ­ X Apresentação de Fõwuia, deTerèncio. Xilogravura de
pressa em Bstrasbin^o. O gravador criou uru cená­ A Jbivchl Dui er destinado ao fnw t isp ic io da ninj ediç no i lus-
rio imaginário pai o evenlos que aparecem no lesto soh a linda quo não chegou a ser publicado dai comédias
lorma de rclaiu. e m dicon a relação enire as personagens Teivncio.e, 1492 <Basileia. Ktiploiílichkahincli).
por ineio do tinhas qtie as ta moem m.

íi. Xilograi irra paru /'Yhw iíík comedia de Terêncio Da edição de l.j on do 1493.
H n i r i n r í M u m f i t t f thi T u t t r o »

7. C v lW itil V W L lia .lt/I fffc i/Iff 5«- T ttr tu r u t t \


.ti í|-ç
ou* X i!d ® u v iii;i t t c u n u
<lus o(iva> ilf T v iín fii'. W n v/;i. I ,V> I

- cotuparar-se ;t M.tquiavel. Sua mordacida­


de, entreiamo, custou-lhe os favores da Cúria.
Im Conixitina cedeu seus direitos cênicos ;i
"Cortesã" da Coittuiedin thlPat tc, ao passo que
seus conheci mentos de ofício Aretino os reti>-
moti em l Ktiffiomimeitii (Os Argumentos).
Em geral, na época da Renascença, os au­
tiira devia mostrar igualmente, como parte do tores de comédia não podiam queixar-se Je
bom-tom. domínio da linguagem polida en- uma íulta geral do magnanimidade. O Papa
quanto dramaturgo. Já Enéas Silvio Piccolo- Leão X perdoava ao espirito polido até os ata­
mini. mais tarde Papa Pio II. baseou sua com é­ ques abertos ã sua própria cone. Tones Na-
dia Chrysis, de 1444, em leituras de Terêncio liarro, precursor das comédias espanholas de
feitas nu juventude, quando estudante em Vie­ capa e espada, familiarizou-se em casa de seu
na. O pintor e artista Leão Batista Alherti es­ amo em Roma com ainlugaeocabo-dc-gtien a
creveu a comédia latina P U U í h í o x v o í e, em por poder e influência, benefícios e sinecm as.
1582, Giordano Bruno ainda fazia sua tentati­ Deu largas a seu desagrado cm uma comédia
va com // Candcktio, sá tira aos alquimistas em chamada Tmclunit, uni afiado ataque às intri­
comédia escrita segundo as regi as. gas das ume-salas iiimlox) dc mu cardeal No
Antes de sua partida pura a França como prólogo, o autor adverte: “o que aqui vos faz
enviado papal, o cardeal romano Càisentino rir podeis castigar em casa", nas palavras fi­
Bibhientt, em 1518. organizou em Roma uma nais volta a advertir que esses abusos não be­
dispendiosa representação de gala - em ho­ neficiavam Suas Eminências.
menagem ao Papa Leão X - de sua Cttinndria, A ousada comedia foi representada em
explorando o tema dos irmãos gêmeos, con­ 1517, na presença de Leão X e do cardeal
forme o modelo de Plaulo. repetindo o êxito Giulio de Mediei, que. mais tarde, seria o Papa
que alcançara na cslréia ilc 1513, em Lirhino Clemente V11. O s excelsos senhores não ves­
(trinta anos mais tarde, em 1548. a peça foi tiram a carapuça c divertiram-.se com o gro­
escolhida como contribuição da colónia tesco parlapalório desencadeado pelo autoi.
floremma de Lyoii à recepção em honra do rei Para eles. era como um registro - como s>_- tos­
Henrique 11 e sua jovem noiva. Catarina de se unia gravação de tuna assembleia de lo­
Mediei). dos os rincões do globo. No palco, havia u
Ao autor-cardeal juiitnu se. em 1520. o mesma babel de dialetos espanhóis, france­
autor-polítien. na figura de Nicolau Ma- ses, alemães c italianos, intensificada nas ce­
quiavcl. outro adaptador de Terêncio. Sua co­ nas de bebedeira, a ponto dc assumir o aspec­
média MiuidmRaia (A Mandrágora). represen­ to dc um verdadeiro xabá de Inruxas. Leão X
tada cm Florença e pouco depois em Roma. ficou Ião entusiasmado que concedeu a Tor­
superava de longe todas as suas predecessoras res Nah,u ru um privilégio de dez anos para a
em originalidade, atrevimento e espírito. Os impressão de suas comédias. Até o cardeal
críticos modernos da literatura italiana vão Bcmurdino de Carvajal. cuja casa era referiria
além, ao considerar a peça "obra-prima dra­ lia Tiiwhiria. aceitou, senr olVnder-se. u edi­
mática não somente do iiru/neccmn. mas dc ção a ele dedicada. Torres Naharro conseguiu
todo o teatro italiano” (O- TolTanin). seu intento, ao incluir, inteligentemeiiic. a peça
Somente Piclro Aretino. amigo de Ticiano entre suas i oiiialiiis n noiiciti. comédias de
e mestre da dumnqut'scantM vusí (crónica es­ observação, disimlas das c i (j /,tutu
candalosa) veneziana, com sua comédia Lu siu, eventos fictícios com mera aparência i!e
Cot tixiimn (A Cortesã), pôde - com reservas realidade.
Íiintnriíí M undiitl < /» T fatru »

Logo a seguir sciti tjuc sc saibo o nome arte seja provida de "uma nova casa 1—1com
dos autores, duas comédias famosas do Renas­ assemos confortáveis, dispostos em anfiteatro.
cimento encetaram sua marelia triunfal por para que mesmo um público exigente se sen­
toda a Europa: a espanhola Im Celestina (A tisse à vontade".
Celestina) e a sienensc Gli Ingimnati {Os En­ Apesar da solicitação, várias décadas se
ganados), A personagem Cclesiina. que dá passaram antes que isso ocorresse. Somente
nome à primeira obra (hoje atrihuida a Fer­ com o advento da ópera, passou o público a
nando de Rojas), é uma alcovíteira de alto ní­ deliciar-se com as mágicas transformações de
vel, com um sutil conhecimento dos proble­ cenas por meio da maquinaria teatral c a des­
mas de seu ofício. A primeira edição que veio frutar teatros suntuosos c confortáveis. A a>-
a públicoc de 1499. surgida cm Burgos. Vinte media erudita do Renascimento prosseguiu por
anos mais tarde já circulavam traduções italia­ várias décadas em cenários únicos, fiel às re­
nas, francesas, inglesas c alemãs. A comédia gras. ainda que beneficiada pela utilização da
dos tngannati foi representada pela primeira perspeciiva em seus cenários, além da orna­
vez em 1531, pela Academia degli Inlronati di mentação de estuque. Os cronistas da época
Siena. e impressa anonimamente etn 1537. O qualificaram de ''suntuosa produção da cone”
espanhol Cope de Rueda. autor dramático e a comédia Le lirave {O Bravo) de Jean Anlninc
diretor de uma companhia de teatro ambulan­ de BaYf. versão francesa do Miles Gloriosas
te, represeniou-a em roas e pátios sob o nome (O Soldado Fanfarrão) dc Plauto. represe tila
Comedia <ít- tas Isngaiiados. da em 1567 no Hntel de Guise em Paris. Os
O profícuo tema dos dois irmãos e seus elogios, porém, devem talvez scr creditados a
disfarces, com a decorrente potencialidade dra­ Konsarrt e outros |>neias da Pléyade. respon­
mática, foi adotado por Shakespeare em sáveis pelos interlúdios com versos em home­
Tiret f th Nighl {Noite de Reis). Uma tradução nagem aos convidados, o rei Carlos IX e Cata­
francesa de Charles Esticnne, publicada em rina de Mediei.
1540 e dedicada ao delfim, registra cous- A influência direta da comédia romana é
eieuciosamente a origem du peça: "fngtutumi: evidente no dramaturgo M arlin Drzic, de
comédia segundo o estilo e temática dos Ami­ Dubmvnik. viajante incansável c aventureiro
gos, chamada Os Enganados. Composta pri- ancestral do teuiro iugoslavo. Seu Dando Maroje
meirameme em língua (oseana pelos profes­ colocou em cena um avarento que - situado
sores da Academia Vernacular de Siena. de entre Plauto e Moliére - . em rieochetcantes si-
nome fmronciti. e traduzida para o nosso idio­ luações cómicas, mostra já suas nelaçfrcs com a
ma francês por Charles Esticnne". comédia de caracteres. A cena dc Dttndo Muntie
Apesar da cuidadosa referência às fontes. {1551) é Roma, para onde um pai viaja atrás df
Estiennc se considerou criador de uma nova e ser, frívolo filho, lã encontrando apenas com­
origiual comédia francesa. No prólogo, o au ­ patriotas da Raguxa (Dubvovnik) nata! do au­
tor afirma ter superado a faixa primitiva medie­ tor. A peça reflete a moral da cpoca, em uive!
val, e recomenda com insisténsia que a nova comparável à titularia de Tomes Nahairo.
Na mesma linha aeha-sc também Mnther
Homhie, surgida em ! 594. obra do dramatur­
go inglês John 1-ily. que oferece um quadro
realista do eoiidíano da éptxtu elizabetana, ins­
pirada em temas de Tcrêncio. Na mesma dé­
cada, porém, apareceu em Londres a estrela
de Shakespeare. Motitrr Homhie foi eclipsada por
Htnneii eJttliem e Stmho de unta Noite de bmin.

9. Ccny il- com édia í ,- V r ir s tin ,i. 1 I• ■n :I•-11, |,I ,1.1


L^pjntiot:i, Toledo. 1 5 .^

• 2X0
* .4 R r n t t . i r c H ç M

A Pe ç a P a s t o r a ! Ruzzairte recitavam seus madrigais e conver­


sações comuenrreleni mentos de mesa. Por vul-
“A Idade do Ouro, para onde fugiu eia?", ta dc 1532, entretanto, uma encenação parece
lamentava-se o Tasso de Goethe, evocando a ter sido planejada, porquanto Ruzzanie pediu
imagem daqueles Cam pos Hiíseos também de antemão a ajuda de Ariosto, que tinha con­
cantados pelo Tasso histórico: “reino da bele­ sumada experiência em arranjos teatrais.
za, livre de erro”, onde heróis e poetas convi­ Tasso, também, se encarregou pcssoal-
viam harmoniosamente, onde faunos e ninfas, menle dos ensaios de sua peça Aminta. Por
pastores e pastoras cortejavam-se com gracio­ toda a Europa, esta emocionante história de
sos versos. O ar fresco da sapiência humanista amor, com sua louvação á Idade do Ouro, con-
e as inescmpulosas lutas políticas pelo poder verteu-SC eni modelo, muitas vezes copiado,
levaram - conto outrora nos tempos de Teócrilo da peça pastoral. Em sua estreia em 1573, na
e Virgílio - à fuga para o outro extremo, à bus­ pequena ilha de Belvedere, do rio Pó, na casa
ca de um irreal e ideal izado mundo de "pura de campo dos Este. o elenco incluía não ape­
humanidade", um mundo "no coração da na- nas membros da sociedade palaciana, mas al­
lureza” . guns atores profissionais da já famosa com­
Desde o inatingido am or de Dame por panhia dos Comici Gelosi.
Beatriz e desde os líricos sonetos de Petrarca A ação de Amima reúne todos os elemen­
dedicados a Laura começou a soar o novo e tos da alegoria bucólica: o prólogo é apresen­
sensível acorde. Pintores, poetas e eortesãos tado pelo Amor, em traje pastoril. O pastor
rendiam preito à beleza e à juventude. Lou- Amima, neto de Pan. corteja em vão a fria ninfa
renço de Mediei, em suas canções de Carna­ Sílvia. A prestativa intervenção de Dafne - as­
val. exortava a gozai a fugitiva e beilu giovi- sim como a de animais, a de um sátiro imper­
fiCiiíT e, em louvor à form osa Sim oncttu tinente e a de um providencial arbusto de e s­
Vespurci. organizou um concurso teatral que pinhos - ajudam o fiel Aminta a conquistar sua
durou vários dias. Angelo Poliziano aprovei­ felicidade. Ião arduamente porfiada.
tou a ocasião para compor um longo poema Giainbattista Guurini. sucessor dc Tasso
panegírico, e Botticelli inspirou-se pura pintar na corte de Ferrara, tentou supcrá-lu eom to­
o alegórico Nascimento de Vénus. Lorenzo das as complicações poéticas imagináveis: o
l.otto descreveu O Sonho de uniu Jovem como pobre pastor Mirlilo. herói e personagem prin­
romântica paisagem rupestre com fontes e cipal do Pastor Fido. tem de pelejar contra um
sátiros. A felicidade do poeta alcançava seu labirinto de ciúmes c intrigas, antes de ganhar
ápice quando a dama de seus sonhos lhe en­ a mão da bela Amarílis. O Pastor Fido foi en­
tregava a coroa de louros, em meio a um cam­ cenada pela primeira vez em Crema, em 1595,
po florido, mesmo auo da morte dc Tasso. Constituiu o
A nostalgia - literal imneme cultivada do ponto culminante e o canto do cisne da peça
homem urbano por um idílio bucólico havia pastoral do Renascimento italiano, que come­
encontrado em Penara, na cone dos Este. um çara. exatamente cem anos antes sob Lorenzo
centro de cultivo afamado peto mundo aforai de Mediei, com a pastoril Favola d'Orfeo (Fá­
uma Arcádia como celebravam Bojardo em suas bula de Orfeu) de Angelo Poliziano. o primei­
éclogas, Ariosio cm suas estâncias, Tasso cm ro drama profano indiano, cuja concepção
sua peça pastoral A m im a. Mas. no caso dc estilística ainda está inteiramente comprome­
Ariosto, já havia sinais de dúvida - percebida tida com a sacra rappresrmazione.
nas entrelinhas - sobre se esse nobre e heroico Nos cem anos que separam o período do
espirito ainda deveria ser levado inleiramente a Orfeti dc Poliziano e o Pastor Fido de Guaríni.
sério. Durante sua época de organizador de tea­ floresceu por todo o numdo ocidental uma
tro e das festas da corte de Ferrara, um novo e profusão de idílios pastoris, que. transpondo
mais prosaico elemento começou u invadir a Iralas as fronteiras, louvavam em harmonia lí­
peça cortesã, trazid o pela com panhia de rica os bosques da Arcádia.
Kuzzanie, com seus diálogos camponeses de Pá- Juan del Enema, talentoso precursor do
dua. No início, em 1529 e 1531, os atores de teatro espanhol, preferia levar suas reprr-

■ 281
![ em »lu*.■p a u a pt^a pastoril f l\is-
ãàMx ttn- V U i\*. iJL‘ í M:imbattis(a (iuantii. Vene/a. Ip02.
• .1 Kt-il>i\. ? n ç a

1!! Xilogravura itn nniisu f i a i ‘ Si'it'í il‘- h'1!. 154?


liiM õn.i tlv C.utliivim.’ TrU tle t li i cru íiuitiveLila 114
Suíça a pailu* 4.1 MuM.icU- dn séelltn XV (1 a lu ir " IV a ri
\j>h't U 11 niire-eniada |* I.| p iim , u .■ v tv em A la ! " ' I L*m
1512

srtinii itmcs e éclogas em ambientes unais,


com pastores e figuras mitológicas. Seus in­
térpretes envergavam trajes pastoris, mesmo
ua apresentação de gala de sua Kg/ngíi dei
.•dum , em 1497, na festa de eusaníento do prín­
cipe D. João de Castela com M argarida
D’Áuslria. filha do imperador Maximilíano.
Na encenação de sua Egloxu dr Ptdcidti v
Viroritttui, 11a casa do cardeal Arbórea cm
Roma. foi utilizado um eenário de bosques c tro palmos: a única decoração era uma velha
florestas. Presumivelmente. o amor esteve pre­ mania, pendurada cm cordéis, que servia de ca­
sente a essa apresentação, puis. sendo agora marim e uirás do qual estavam os músicos.
arquidiácnno em Málagu, desde I 50b, reno­ O acompanhamento musical era parte in­
vou várias vezes o contato com Roma, dispensável da peça pastoral, pois 11111 infeliz
Gil Vicente, organizador de festividades pastor que ama sem sei correspondido 0 nma
nu cone de Portugal e maior dramaturgo do jovem rústica e bela. naiuralmcnie, precisavam
país, também preferia o ambiente pastoril. A cantai para expressar suas emoções. Da peça
Deusa da Fama, em seu Aum th Fama, de 1510. pastoral e da peça musicada à ópera havia so­
surge como uma alegre pastora. mente um pequeno passo a ser dado. Mas seu
Do outro lado dos Piretieus. conto em todo caminho atravessava primeiro o cenário das ho­
lugar, peças pastorais eram aprese atadas nas menagens corteses.
salas teatrais dos palácios c nas casas de no­ O poeta inglês George J’eele. uni boémio
bres. Nos meados do século XVI, o idílio que combinava um dom líricoe panegírico com
bucólico também sc tornou parle do repertó uma educação universitária, alcançou os favo­
rio das tiupes ambulantes. Lopc de Kiieda - res da rainha em 1.5X4, com The Arm ignm rnt
autor c diretor que. de 154-1 a 15b5. pta correu ttf Paris (O Julgamento de Parts).
ioda a Espanha com sua companhia - freqiien- Paris. que aparecia vestido de pastor, to
temente escolhia roupas de pastores para re­ cnndu flauta, em versos tmiiUi bem compos­
presentar cenas da vida popular. Seu acervo tos. saudava a beleza de Vénus, a majestade
teatral, conforme registra Cervanles, consistia dc Juno e a sabedoria de Palas A lena. A maçã
em "quatro pclegos brancos, guarnecidos de dourada, entretanto, caberia a Elizabeth I. "a
couro dourado, quatro barbas e cabeleiras e nobre fénix de nossa época, nossa fada Elisa,
quatro cajados - mais ou menos. As peças eram nossa Zn beta fada" Diana e suas ninfas entre­
colócjuios ou estrofes entre dois oti três pasto­ garam-lhe o fruto, enquanto Vénus. Jlm oe Pa-
res e uma pastora; as funções eram enfeitadas las Atenn confirnutvam o prémio:
e completadas por dois ou três entremezes,
acerca de unia negra, uni rufião, um idiota 011 Eislk.1pnpiiiio dos 1‘tfii'* e dc celestes deusas.
um basco; essas quatro personagens e muitas .■Vvila*o »|iu* le c devido ]'oi Diana.
Iiuixoi d.i niM oiiíi. Ivlezíi c jnulct.
01111 as luzia esse tal Lopc com mais habilida­
<iml mWlior convém ii (uci i(w:nin|Wi(Mil
de e excelência que se pode imaginar..." Cer-
vantes acrescentava que o palco consistia me-
ramcuic em quatro bancos dispostas em qua­ Todavia, a peça pastoral somente em apa
drado, quatro ou seis tábuas um cima, de modo rcnciu era feérica, pois não perdia lutalnieiile
que o tablado se alçava do chão cerca de qua­ de vista suas intenções amiúde muito reahs-
H iitò rio \I u m lta t iit* Tetilro ■

tas. A floreada homenagem. no mais das ve­ mais baixa e partindo dc seu centro, um cír­
zes, era endereçada a uni rcceplor muito con­ culo possa scr descrito e. dentro dele. quatro
creto e perseguia objetivos muito concretos: triângulos cqiiitatcruis e equidistantes. Esses
poderia ser uma mulher, uma rainha, unia ei- triângulos tangcnciain o círculo, á maneira dos
dade - c o objetivo era obter favor. astrónomos quando determinam os doze sig­
O poeta servo-croata Gjiv» Franje Gundulic, nos do zodíaco, de acordo com as leis musi­
humanista de família tradicional c admirador de cais das esferas.
Tasso. glorificou cm 1628 sua cidade natal, Geometria, matem ática, astronom ia c
Dubrovnik, com a peça pastoral Oubrurka. Um música —de falo, Vilrúvio apresentava creden­
patrício de Nuremberg, Georgc Philipp Hars- ciais notáveis para a aparência modesta c oca­
dòrffer, glorificou, em 1641. a laboriosidade do sional do teatro. A edição de Vitrúvio de 1486,
povo da cidade sobre o rio Pcgnilz com sua com­ preparada por Sulptcio Verolano. servia anlcs
posição Pegnesisches Schâferxediclit, uma pas­ dc tudo para estudos eruditos e. na medida cm
toral dc exuberância alegórica anacreôntica, um que assuntos teatrais estavam implicados, ra­
artificial conglomerado de diálogos, poesia líri­ ramente para a aplicação prática As prescri­
ca c interlúdios musicais, que não linha nada ções de Vitrúvio não exerceram influência cm
mais a ver com o teatro. círculos mais amplos até a nova edição de
O cenário da peça pastoral, porém, acom­ 1521. suprida de desenhos de Cesariano c. ain­
panhado no romance e na poesia lírica, sobre­ da mais importante, u edição comentada dc
viveu por séculos, plasmando ainda liustien 1556 cm italiano, feita por Danicle Bárbaro,
und Bastienne. de Mozart, e Die f-ixclierin í As patriarca de Aquiléia.
Pescadoras) C OU' Ltnmc deu Veriiebien fO Ca­ No primeiro período da Renascença, as
pricho do Einamorado), de Goelhe, Em 1545. representações cm Roma c Ferrara preso
Sebasliano Serlio, em sua UArchiieitura. deu- mivelmcnlc ainda adotavam cenários relaliva-
líie como modelo básico a vcviirt satírica, com mcnie modestos, em forma de ruas achatadas
grupos de árvores, grutas e caramanchões —ou assim cabe supor, já que eram descritos
como p u tumlae scenae (cenários pintados).
O D e s e n v o l v i m e n t o do Pal co Mas. por volta da época em qoc a Calandra
em P e r s p e c t i v a do cardeal Bihbiena era levada cm Urbino. em
15 13, o cenário ganhou alguma profundidade
A perspectiva loi a grande paixão do cm perspectiva. Nessa montagem foi mostra­
{fíiu/íioríWn. Ao ideal humanista da harmo­ da no palco, conforme líaldassure Casliclionc
nia do universo correspondeu n sistematização escreveu em uma carta ao conde Ludovico
matematicamente precisa da arte e da ciência, Canossa. "uma cidade com ruas, palácios, igre­
a construção dc uni equilíbrio harmonioso en­ jas c torres, tudo em relevo".
tre o detalhe c o todo, As proporções dc um Para a reapresentação em Roma. promo­
rosto ou dc uma laça eram submetidos a cál­ vida por llibbicna em 1518. perante o papa
culos não menos complicados que os da fa ­ 1.eão X. Baldassare Pcruzzi criou um cenário
chada de um prédio, ou das medidas dc uma Ião bem-feilo. como relata Vasnri, que parecia
composição pictórica monumental. '‘não ser dc faz-dc-conlu, mas Ião verdadeiro
Brunellesciii, Alberti ts 13ramante deram quanto possível, e a praça não uma coisa pin­
expressão em arquitetura à ilusão de pers- tada e pequena, mas real e muito ampla”.
(tectiva (lo espaço; Picro dei la Franccscu, em Peru/zi havia transformado o bastidor unica­
pintura; Ghilierli e Donaiello, em escultura. To­ mente pintado dc fundo cm unia utilizável área
dos eram tanto artistas como cientistas. Simi- dc atuação a projetar unia profundidade real.
larmcnte. uma aplicação proveitosa do capítulo Isso foi conseguido pelu combinação entre um
sobre teatro, no quinto livro do DeArtíiiiecln cenário com praticáveis no proscénio c uma
ra, dc Vilrúvio, pressupunha um construtor ex­ parede de fundo pintado em perspectiva plena.
periente. O formato de um teatro, explicou Em sua ArcMtettunt fptihliçada cm Venc/a
Vitrúvio. deve ser planejado de modo que. de em 1545), Sebasliano Serlio, o grande teórico
acordo com comprimento do diâmetro da área e arquiteto que fora discípulo de Pcruzzi, Ues-

* 284
15. interior do Teatro Olímpico de Vicen/u. construído por Andreu Pailatiiu c concluído por Vincenzo Íjcíimn77,i.
[nau curado em 1584 coití Oedtpus 7Vít/«« uj de Sófocles.
* .1 AVntf.M r a .- a

ereveu como, mediante a ajuda de bastidores Andrca Palladio. que, após colaborar com
em ângulo, era possível construir toda uma Burbaro na edição que este fez dc Vitrúvio.
vista de ruas com colunatas e logjiuis, torres e propôs-se a tarefa dc reconstruir um teatro ro­
portões. Bramanle, os irmãos Sangalto e o pró- mano amigo. Ele se manteve estrita ineitte fiel
prio Peruzzi, antes de sua inovação, sempre a Vimivio no que diz respeito ao formato do
haviam lixado a perspeeriva principal e seu auditório c das scticnae finas. Três porias de
ponto de liiga dentro do quadro de pinlura, tan­ acesso inlcgram-se na elaborada arquitetura
to cm seus afrescos monumentais quanto em das paredes do palco, feitas de madeira e es­
seus desenhos para o palco. Serlio agora pro­ tuque, e com uma porta de proscénio de cada
jetava isto na distância, para além do prospec- lado. O auditório senti-elíptico, com treze fi­
10 pintado, ou seja, para além da parede de leiras, é diretaniente ligado às paredes do pal­
fundo do palco. Visava com isso liear a rapi­ co e coroado por uma galeria e uma colunata
dez de redução no plano do escorço e desta com estátuas. O conjunto constitui uma cópia
profundidade ilusória ganhar algum espaço proporcional me me reduzida dos enormes tea­
real de atuação no palco. tros tardo-romanos de pedra ao ar livre, trans­
De acordo com as três categorias do tea­ posta para dentro do espaço fechado de uma
tro humanista, Serlio estabeleceu três tipos encantadora caixa de brinquedos. Presum i­
básicos de cenário: uma arquitetura de palácio velmente, o projeto original de Palladio pre­
para a tragédia (scenti trágico); a vista de uma via que as entradas das scaenae fn m s Se apre­
rua para st comedia (jccnn ctunicn) e uma pai­ sentassem fechadas por prospectos pintados,
sagem arborizada para a pasto ral (.trena mas ele morreu pouco antes que o teatro fos­
satírica). Ele as moldou como prescrevera se acabado, e seu sucessor Vincenzo Scatnozzi
Vitrúvio: "Os cenários trágicos são dotados de transformou as vistas pintadas em vielas pra­
colunas, estátuas e omros acessórios reais. As ticáveis. Seguindo Serlio, ele situou o seu pon­
cenas cómicas mostram casas particulares com to de fuga para a perspectiva além da cena.
janelas, segundo &disposição das residências nas telas de fundo vistas através das três en­
comuns As cenas satíricas são decoradas com tradas. inlcnsilicando assim a ilusão de pro­
árvores, cavernas, montanhas e outros elemen­ fundidade.
tos rústicos, ao estilo da pintura de paisagens". O teatro havia sido encomendado pela
Giaeomo Burozzi de Vignola. autor do tra­ Academia Olímpica dc Vicenza. uma das nu­
tado Le One RegnUr delia Praspettiva Fntlicu. merosas academias teatrais humaníslicas. para
publicado postumamente por Danlj em 1583, cujas apresentações Palladio erguem, cm vá­
visa a um palco praticável composto em pers- rias ocasiões aiileriores. palcos provisórios no
pectiva até a terceira rua. isto é. com entradas saguão da basílica em Vicenza. A um a casa de
para o palco Ião recuadas quanto u dislsmte cs|>étáculos foi inaugurada em 15K4 com o
vista pintada. Ele recomenda que os bastido­ Éilijio Rei de .Sóíocles. O teatro c utilizado ain­
res em ângulo se jam substituídos por priuiktoi da boje para espetáculos em ocasiões festivas.
moldados conforme os modelos da Antigui­ No início ilo século XVI1. ninguém que
dade A cena deve ser formada por cinco pris­ viajasse pela llália c tivesse interesse em ar­
mas triangulares equiláteros de mudeira. que quitetura (ui em teatro deixava de visitar oTea-
podem girar em pinos, com dois prismas me­ Iro Olímpico. Josepli Fuiitcnbuch o inspecio­
nores, também de madeira, dc cada lado. como nou em Ki 19. em seu retorno de Florença paru
limiles laterais, e outro, três vezes maior, atrás. a Alemanha, e anotou aprceialivaiuentcem seu
O problema de como enfrentar as dificuldades llineniriíwi I I ’ que. embora ‘‘feito simples-
m íiic

técnicas decorrentes da inclinação uampit) do tnente de madeira, o cenário era construído


palco foi cabal mente investigada, cinqiieníu com |ieiieita beleza, conforme a arte da pers-
anos mais tarde, pelo teórico dc arquitetura pectiva". Ele conjeclura que 5 400 espectado­
alei não Joscpli rurtteubach. em Ulm. res poderiam assistirás comédias nesse (entro
O melhor exemplo ai mia hoje existente de sem ter a visão obstruída, mas esta é unia su­
ui ti leal ro rc nascem ista italiano é o Teatro perestima livu grosseira da capacidade do tea-
Olím pico de Viecn/a. l-oi construído por iro. que mal ultrapassa 2.01 Ni especiadores.

■ 2H7
F

ii-
I

17. V iik c iu d SciuniiKzi; desenha de unnxníriíí de mu (FlufeiK;u, LlfTuil-


18, Interior dn Teatro de SíibbjcmcLi, construído por Vmccnr.ti Scamozzi para VcspuSiartu Goíiíagu em 1587. Foram
msialadns novos bancos no tiutfsiarium oval. mas a colunata, estátuas c decorações murais originais foram preservada*.
I1), Palco a ccm íriu doT ealro O lím p ico de Vicen/.u, projetados por S cam o/^i, enro vislns cm perspectiva para iuas
praticáveis. O ponto de fujia está atrás dn cena no. N o centro, a ftt/ria w g ia. ma is u rd e im ns formada c ampliada no palco
ptep-shon do Teatro J:arncse de Pamia.

2íJ. Corte {oíigiuidtuat cisi Teatro O lím p ico dv V ice n/a . Ã esijuartía. o ccniírui da m .i ccntiak tto ãnguío do palco: ;<
d ircii:i. o í acemos em uivei*. ã lEiimciia de mi> .[h I ieumiui
.4 K e n u u - f H ç t t

Três unos depois da conclusão do Teurro um tablado. Quatro anos mais tarde, em 1589.
Olímpico. Scamozzi construiu outro teatro em Buonlalenli remodelou o auditório, converten­
Sahbioneta. Vespusiano Gonzaga, o último des­ do-o num anfiteatro com cinco fileiras concên­
cendente de um ambicioso ram o da casa tricas de cadeiras, divididas por passagens com
governante de Mântua, estava transformando o escadas, no estilo do teatro romano antigo.
povoado de Sahbionela, no sul dc Mântua, em Em Florença, no início do século XVH
sua sede de governo. O trabalho de construção (como confirmam as plantas e esboços das
levou irintu anos. e o local emergiu antes como obras de arquitetura de Joseph Funicnbach),
um dos modelos de "cidade ideal" de Ammunati o grande salão do Palazzo Pitti era usado ex-
e Vasari, projetado com régua e compasso, ele­ pressamente para torneios, justas, danças eco-
gante mente encravado numa espécie de forta­ médias. Btiomalenli eslava familiarizado com
leza pentagonal. Um edifício simples e sem todos os mecanismos técnicos; ele foi o pri­
adornos contém o teatro Este é menor que o meiro a providenciar efeitos decorativos para
Teatro Olímpico de Vicenza e tem o estilo de o palco, tais como os que o teatro barroco efe-
uma elegante casa de espetáculos partitular. Gra­ livamente adotou em larga escala. Não se sabe
ças à disposição orgânica de suas entradas e salas como Bnontalenli planejou as transformações
laterais, dá a impressão de constituir-se numa cênicas. Supõe-se, todavia, que tenha empre­
peça única, Mesmo as pinturas e ns bustos "clás­ gado os prismas giratórios de madeira, desen­
sicos" dos nichos nas paredes foram projetados volvidos por Sangallo, Barbaro, Vignoln e
pelo próprio Scamozzi. enquanto o Teatro Olím­ Dattli - os quais, no inicio do século XVII,
pico de Viccn/a ganhou suas últimas estátuas foram substituídos por um sistema de rotundas
tão-somenle depois de 1700, No que diz res­ planas e deslizames.
peito às proporções, Scamozzi seguiu as regras No decorrer dc um século, o teatro renas­
de Vitrúvio mais fiel mente até do que seu mes­ centista viveu uma repetição em cãmera rápi­
tre Palludio havia feito. O modelo de cidade do da do teatro romano. Quanto mais suntuoso o
duque Vespasiano não admitia concessões. Após palco se tornava e quanto mais atenção era
a morte do duque, o sítio recaiu em seu isola­ dispensada a seus aspectos visuais, mais des­
mento rural', mas o teatro de Scamozzi existe valorizado ficava o conteúdo literário. Bois
ainda e é conservado com muito carinho. agora, ames e acima de tudo. o principal mau -
Do scculo XVI em diante, os teatros em damento para os atores era subordinar seu mo­
palácios assumiram importância, tanto do pon­ vimento e composição ao cálculo ótico do ce­
to de vista da história cultural quanto do da nário. A ssim c o m o a m onum entalidade
arquitetura. Em Florença. Bernardo Huonta- arquitetônica das últimas sutei<at‘frait\ roma­
lenti expressou o esplendor dos prínci|>es de nas não havia deixado espaço para um drama
Mediei nos arranjos decorativos e teatrais das de qualidade semelhante, as decorações cada
festividades. Em 1585, Btiomalenli construiu vez mais elaboradas do fim da Renascença re­
n famoso grande palco da corte no lado leste legaram de fato a palavra a urna função se­
das Uffizi. e ali foram encenados suntuosos cundária.
inicniietlii e comédias durante u inverno de
1585-1586. A sala media mats de 46 m de
comprimento e 18 m de largura, e seu eixo
longitudinal era stificienlemenlc inclinado
para permitir uma boa visão a todos os especta­
dores. O palco ficava na extremidade inferior,
e os tronos para <t família governante encon­
travam-se imedialumctilc â sua freme, sobre

2 t. P la n ta Ui C Jesiu v O lím p ic a ilc V icvn /.a. C o n s tm íd u


puf ' ,' i : : S I' - vi'il. i ';iíii'■ cm I SS-t p. ■ V
5caiiíí>/vi

■ 2 9!
H i s t ó r i a M u r ti i ii i i tla t r a i r a -

O palco. com seus bastidores em ângulos cos, expressos apenas em palavras, para sua
OU prismas rota li vos de inade ira. era. na me­ representação corporal e palpável. Toinmaso
lhor das hipóteses, aproveitável para a atua­ Inghitami, corno utor em Pedra. sobressaiu por
ção somente até a altura da segunda rua tr ans­ sua maestria nu latim. Um século mais tarde,
versal e raramente para entradas na altura do não era mais a palavra que predominava, mas
prospectu pintado. Os atores deviam ficar lon­ a organização cênica. O que importava a An­
ge desta área. porque o tamanho natural de seu gelo Ingegneri era a perfeição do agrupamen­
corpo chocava-se com a ilusão de perspectiva to estético.
e destruía a perfeição do cenário, concebida
pela matemática de princípios estéticos. A re­
gra suprema da pintura renascentista, segundo Os F e s t i v a i s da C orte
a qual o olho não deveria ser ofendido por
sobreposições discordantes, aplicava-se tam­ Maquiavel considerava m ais vantajoso
bém ao arranjo das pessoas no palco. para um príncipe ser temido do que antadii.
O tipo de peça encenada e o consequente Contudo, uma de suas recomendações etn O
tipo dc decoração tamhcm determinavam a Príncipe era de que este, "nas estações conve­
escolha da indumentária. Quando o Teatro nientes do ano, deve manter o povo ocupado
Olímpico de Vicenza foi inaugurado em 1584 com festivais e mostras", uma prática que fui
com a encenação do Édipo por Angelo In- abundante no tempo da Renascença.
gegneri, esle escreveu: Os príncipes jogavam o jogo do poder com
igual perícia tanto dentro do esplendor da cone
É preciso considerarem que pcLis *c pnssa a <rçã« i\&
quanto nas teias da conspiração. Quando o am­
peçii a ter ciKCfudJ- e os atores d ew m estar vusudos yy
modo ttehwi povo. F. sc ;i peça lor imus Uacedia, os trutes bicioso Ludovico Sforza, ”o Mouro", organizou
devem sei ricos e suntuosos; se for tuna comedia, to uma enorme apresentação alegórica na corte dc
niuns. porern se. tinuim em c. tOr uma pasli>i:il, Milão em 1490. seu objetivo era obter os favo­
humildus. mas <Je bom enrm o ^ iíiuuvqs, o que vale u»ito res da jovem Isabclla de Aragão. a recém-che­
quam o a ostetuaçàu. Ny úUimo cavo, já se tomou cons­
gada noiva de seu sobrinho C ian Galeazzn
tante a pritiCd dc vestir as m ulheres u muneift ile nirilav
tiiesmo se forem irm ptes pastow* Sforza. A celebração do casamento oferecia a
melhor oportunidade para adular a "duquesa
Ingegncri empreendeu esta produção com boneca” Pouco tempo depois, Ludovico des­
membros da Academia, nnles de tudo como um posou Beatriz d'Este. outra ocasião a ser cele­
exercício coreográfico. "Foi uma maravilha brada com grande pompa e ostentação. Os prre­
como todos dominaram suas posições e movi­ las da corle torneavam em incessante produção
mentos c o quão acuradamente se colocaram", hipérboles panegíricas em rima elegante.
relatou ele. O piso do palco havia sido disposto O próprio Ludovico planejou uma gran­
em quadrados, como um tabuleiro de xadrez, e de masqite alegórica que culminava numa ho­
menagem a Isabclla. Ela foi escrita pelo poe-
cada qual vahui cm quuinti» qiLidiudov tlevcria i r c u i . e ta da corte florentina Bernardo Bellincioni e
depilis de qu.in|tts qiiíidrados devei iu punir E qiundu o organizada por Leonardo da Viiuri. que nessa
número de cm cena aum entava e tornava-sc iw- época trabalhava na corte dc Milão iiinw en­
cesisirio trocai de posiçõe*. iodos mosiravtfrn estar bem
genheiro militar, inventor, construtor de ca­
irisrrufdas com rcl^çâo n qiiét] 1'OcEra mi a qual corde q u a­
drado deveriam se recolher: assim , tentos, apicndiam sem nais, pintor e organizador de festivais. Leo­
diíivuUladv a ía/xi sim pariu. nardo desenhou um sistema planetário móvel,
trajes pitorescos parti deuses e deusas, másca­
Cem anos haviam se passado desde as ras representando selvagens e fantásticos ani­
primeiras apresentações oferecidas pela Aca­ mais de rábula. Os versos dc Bciliucioni mer­
demia Poiuponiana em Roma, desde sua pro­ gulhavam em clugios arrebatadores: Apoio dá
dução do Hipnlini. em I4SÕ. A inauguração as hous-vindas a Isabclla como o novo sol en­
do Teatro Olímpico de Vicenza foi o fmi dc tre os planetas, os governantes do ecu e tla
um processo que começara como uma ilustra terra mandam mensagens em sua honra, e até
çio de textos, a transposição de lentas clássi­ mesmo Vénus curva-se ante o esplendor da
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■ A /ír/tu .ifc n ç u

nova duquesa. Apoio oferece as sete virtudes Visconli relala que a apresentação foi organi­
a lsabella. e, cm conclusão, em rega-lhe um zada da mesma maneira que a do Caslello
livro contendo o texto completo de Bellincio­ Sforzesco.
ni, Festo dei Parudim. Com esta apresenta­ Seria, porem, subestimar as forças moti­
rão, Ludovico o Mouro reforçou sua posição. vadoras dos grandes festivais da Renascença
Os engenhosos mecanismos de Leonardo, interpretá-las meramente como uma expressão
exibidos no cintilante festival de Milão, asse­ do prazer das cortes em representar. Por trás
guraram-lhe um lugar na história da decora­ da dispendiosa propaganda pessoal escondi.t-
ção cênica. Uellinciom gabou-se por muito sc a reivindicação dc poder político, a expres­
tempo de sua colaboração com Leonardo nes­ são de medidas táticas e razões dc Estado. Isto
ta ocasião festiya; 11a posterior edição impres­ pode ser levado muito além, no exemplo de
sa de Sua Rima, introduziu a Festo drl Parndiso Ludovico Sforza. Nas festividades promocio-
com a seguinte explicação: nais em Pávia, em 1492. por exemplo, logrou
neutralizar elcganlemente o sentimento hostil
A seguinte obra do Messer Itcnvuiln Bellincioni c da família dc Beatriz contra ele. Nessa oca­
uma pega-festival ou antes um espetáculo (rappre- sião, havia encarregado Bellincioni de escre­
s e n ta z to tu r ). inlilultulo P t in t tl i s o . que n senhor Ludovico
mandou organizar cm honra da duquesa de M ilão .
ver uma composição proclamando Beatriz o
Intitula-se F a n f í t i w porque, peto grande dom de i ave ti­ “novo sol” e as cones de Ferrara e Mântua, os
ção c pela anedu mestre Leonardo da Vmct dc Horença. campos etíseos da arte c da erudição, O poe­
coroliuju-ttc o Paraíso com lodos os sele planeias giran­ ma também festejava, em elegias loquazes, o
do num círculo, os planetas sendo representados segun­ duque Ercole d'Este de Ferrara e sua segunda
do as personagens c veslimentas descritas pelos poetas.
(ilha lsabella. duquesa de Mântua, que estava
também presente. Intenções similares podem
"O Paraíso que gira num círculo" é o fa­ ser detcctadas nos inumeráveis cortejos ale­
moso primeiro exemplo de um palco girató­ góricos e procissões, por meio dos quais du-
rio, do qual, além d;i descrição de Bellincioni,
possuímos lambem alguns esboços de Leo­
nardo. Fstes nos dão algumas indicações de
como o mecanismo deve ler funcionado. O
engenheiro italiano Roberto Guaiellio rccons-
miiu para uma mostra sobre Leonardo cm Los
Angeles, em 1952. George ,1. Altman. por cuja
incitação este modelo foi executado, eita a de­
claração dc uma testemunha ocular de como o
original funcionava: “O semicírculo era divi­
dido ao meio. Os dois quartos dc círculo roda­
vam para a frente c voltavam a fechar-se, e o
palco cra subitamente transformado cm cume
escarpado de montanha". Leonardo utilizou
seu palco giratório por utna segunda vez em
1518, no Châieau Cloux peno de Amboise.
onde organizou outra aprese mação de Parndiso
para o casamento de ama das sobrinhas do rei
Francisco 1 e do duque de Urhino. Galcazzo

22, Leonardo da V i:u i desunho dc um pttjctt girató­


rio para a l-eila dcl Paradiso no Paço dc Milão, janeiro
dc MÚO. Lmbaivo. ve se Júpiter nemado nn irnnt), mtlea-
du pelos setu planeias; o cenário c uma espécie tltr gruta,
que pode ser fechada pot segtnetUos circulares móveis

■ 2V.Í
2^. Frimccxvn ilrl fossa: Carruagem frsíiva do T r iu n fo tli A f» > Íb . Mural pintado « n M7D. représcnLmdn o mcs d f
Mttio. nu S;donc J cí do Paln/zo S duljíioi.i. KTTura.
Jd. Ucrnardn íiuonl.ilciXi: figurinos pun* os ittiernictiii do grande fesiival de ícairo dos
Mediei. organizado em 158*> no salão de [cairo da 1'ITi/L Muretiça (Londres, Vidoria and
Alheei Museuuii.

2?. ÍVun de lorncio, assim jdn pelo rei e sua curte. Dcct ira^ao em uma arca. c. i-ltfil.
Alnhuida a Domcnico Mnrone il,i unires. Njcliomil Oulleryl.
f iis n r r it t M lt t u lu tt it í j T r tJ lr n *

ques e reis, usurpadores e governantes paga­ ma começou, no estilo italiano, com trionfi mi­
vam-se tributos, buscando persuadir nu tapear tológicos e alegóricos, ou antes com seus cor­
uns aos outros. respondentes franceses, as entréex .ndenellex.
Como forma específica desses festivais da e culminou com o inienincionalmentc famoso
corte, n idéia da triunfal procissão romana foi tiatiet Comit/ne dc l/i Rtnne, uma combina­
revivida e transformada no esplendor reluzen- ção de números de dança, recitações, árias e
te dos trionfi da Renascença. Enquanto o tea­ pantomimas em homenagem à rainha.
tro processional do final da Idade Média em O grande salão Bourbon tio Louvre, em
geral satisfazia-sc com o princípio único da Paris, resplandecia em ouro e fulgia com can­
sequência, ou Seja, com uma única passagem delabros. enquanto Versai lies, na época, ainda
pelos espectadores enfileirados ao lado de mas era apenas um vilarejo nos campos e havia sido
c praças, o novo empenho era “apreciar a pro­ contemplada com um único pavilhão de caça
cissão não apenas em suas seções separadas, por Henrique IV. Quão extraordinário deve ler
individuais, como o farão os espectadores sido o efeito do cenário com um jardim em
posicionados na periferia, mas antes em sua pcrspectiva como locação para os entreteni­
totalidade: de cima e, se possível, até mesmo mentos que o rei pedira a seus colaboradores
no eixo da procissão'' (Joseph Gregnr). mais próximos para projetar: sen ehamberhtin
Os átrios dos palácios, com seus areos o Balthasar Beaujoyeulx encarregou-se da en­
galerias, as praças das cidades com suas arca­ cenação, seu conselheiro d Auhignc da admi­
das e balcões, ofereciam uma oportunidade nistração c o poeta da corte de la Chesnave
para que convidados de honra assistissem aos providenciou o texto,
trionfi literal mente colocados no alto, em cinta O Bcillet Comique dc ta Royne. expressão
- enquanto 0 cortejo passava num curso circu­ de uma monarquia enganos a mente confiante
lar. Em Florença, a Piazza Santa Croce, com em si, marcou o declínio de uma di nastia ã qual
seus balcões e tribunas de honra cspecialmen- o país arrumado e. dividido perdoou (amo me­
tc construídas, e o pátio do Palazzo Pitti eram nos essa dispendiosa foto niorgnnn teatral. O
locais favoritos para os famosos festivais dos duque dc Joycuse foi derrotado em 1587 e. em
Mediei, nos quais Buonlaienu fez valer toda a 1588. Henrique III não conseguiu reprimir as
riqueza dc sua fantasia alegórica. Desenhou barricadas em Paris, nem suprimir os tumul­
trajes para os planetas, para as virtudes, para tos. Teve que fugir e morreu em 1580 retalha­
ninfas e deuses: delfins com rodas e tritões flu­ do pela fnca envenenada tlc um dominicano.
tuantes - até mesmo barcos de gala. usados Mas o novo género teatral-dançante sobrevi­
quando os átrios ou praças eram inundados, veu. e oitenta anos mais tarde floresceu de novo
para intensificar o efeito, idealizou também tra­ na corte, graças a Molière e Lilly e sua conte-
jes para gênios alados, dragões que cuspiam die-bedk-t.
fogo e querubins dançarinos que mergulhavam A arte do festival alegórico sobreviveu a
em cornucópias douradas para espalhar flores Catástrofes e dinastias, l oi cultivada. <le norle
perfumadas entre os membros da sociedade da a sul dos Alpes e dc ambos os lados dos Pire­
corte. néus. Quando, em 1581, o rei Filipe II uniu as
O povo maravilhava-se com a pompa tea­ coroas de Portugal e Espanha, os padres do
tral de seus governantes, ou a pressentia, na Colégio Jesuíta de Santo Antônio, em Lisboa,
medida em que conseguia captar algum vis­ o recebei am com a Tragicontetliit dei Desenlii-
lumbre dela. Não rato, a apnreutemenie des­ mienie y Conquista dei Oriente, encenada
preocupada magnificência representava o úl­ numa armação de três andares ao ar livre, se­
timo c eufórico lampejo de um poder há muito melhante ao da Antiguidade. João Sardinha
debilitado. Mimoso o descreveu em sua ohm Rektrioit
Quando Henrique III da França celebrou ( 1(5201 como um palco guarnecido dc damas­
em 1581 as núpcias do duque de Joveuse com co colorido e ricamente adornado com “pi-
pretensiosa pompa teatral, toda a sua cone. po­ laslras. cornijas e arquitraves". À direita c à
liticamente em extremo perigo como eslava, esquerda foram construídos portais de acesso
foi mergulhada num frenesi festivo. O progra­ aos haslidores. à semelhança das entradas do
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26. 1'csta [LMtml LkL|ii;iiÍLíMhJ,nnn;k-1iÍLii i^ inh^ ih.1ilu e ^ U li ' Uu* ^tmunnehlesin yiiL-nvm>sf ii tw iíu de lu iv u so n iam c ii-
liidcis. iirwillum ui na ilhn: em p^imuitts plumi, à iJiniiii, o rei lle m iq u e I tt c m u t^pova m ural íkvséeuUi W I
( M o r e n a a , I ÍF Ilz ii.
A li v ia s fc u iv a t pua a celebra,-*,* ■ i » j i i » i* i «b> ['fitu:i|v h n d e iio W ilh c lin da Baviera e Je Renata de |.nrci'a. cm
Murtf£Jltt\ 1 5 6 8 . G r n it r u s c o lo r iJ j s tlf N V o IíL 'S ulr*.

27. Túmeio tie çma loiros tio grundo suluo d» Reside n* if \h ,u /{of\\ cm Muimjm;

28, À'frfa'/vJ<'f7r<»JH|lisia) nu Marienpltilz. O v i\u Icde-noU 1da pwva ^■anal.ulo p.» iini* j u ^ d e uiimín iMuni
que. STadtmuscump
* A H c im sfr n^ ut

palco ilas pnm skenia gregas. Nesta produção, Danúbio, em honra de Maximiliatio I. O im­
o rei português Emanuel e seu séquito entra­ perador havia instalado sua corte em Linz para
vam no palco pela direita, c seus oponentes as semanas de Carnaval, e rodeara-se dos leais
mouros, pela esquerda. Dois nichos no pavi­ humanistas vienenses. tão dedicados a ele.
mento superior representavam a casa de Eolo. O que poderia ser mais adequado cm tal
deus dos ventos, e a boca do inferno: bem aci­ ocasião do que homenagear a Sua Majestade
ma. Ficava o trono dos anjos. Aqui, vestígios com deuses, ninfas, faunos, sátiros antigos,
dos múltiplos cenários do final da Idade Mé­ com verbosos panegíricos a pintar a glória do
dia com binavam -se com as caractcríslicas império, coroados com o louvor do vinho do
arquiteturais das antigas sraenue fn m x num Danúbio - que era despejado em "taças e tige­
estilo altamente original de homenagem cor­ las de ouro" ao estímulo de um Sileno bêbado
tesã. antecipando as futuras formas do teatro e ao som de tambores e trompas?
jesuítico. No final. Diana tomava a palavra. Prome­
A legorias cênicas e arranjos sim ilares tia ao casal imperial todas as boas graças dos
eram comuns nos festivais áulicos da Renascença deuses, dese java a Maximiliano e à sua esposa
inglesa, os interlúdios. Com as mascaradas da italiana Bianca Sforzu muitos filhos esplêndi­
corte, populares entretenimentos de mesa. dos. reunia todos tis participantes em torno de
constituíam uma variante autónoma da idéia si e declarava, num último quadro vivo com
antiga do triunfo. Um dos interlúdios de maior acompanhamento musical, que agora retor­
sucesso de John Heyivood. Wny o f llit’ Wrilther naria aos bosques de Wachau. No dia seguin­
(Auto do Tempo), foi encenado em 1533 para te, como informa a edição impressa da peça
a corte real nu::: palco de dois andares, com (maio do mesmo uno), o "divino Maximiliatio
Júpiter no topo, ouvindo as queixas proferidas ofereceu um banquete real a todos os partici­
contra o dispensador dos vemos Eolo. e o das pantes [que perfaziam um lotai dc vime c qua-
chuvas, Foibe. Os mercadores do mar pedem 1to | e os presenteou com dádivas reais” .
ventos favoráveis, exatamenie como os nave­ Koitrad Celtes e os humanistas de Viena
gadores de Vasco da Gainn na Tnaginmiéditt agradeceram-lhe com uill sem-númeru de jo ­
portuguesa. No ano decisivo de 1588. Eolo gos similares de homenagem que variavam de
eslava do lado da Inglaterra quando fez com uma ode pnlifónica ao texto latino da Mtnvhu
que os remanescentes da derrotada Invencível Triunfal de Maximiliatio - engenhosamente
Armada espanhola afundassem nas tempesta­ idealizado: construções bombásticas dc pa­
des dn golfo de Biscaia. Enquanto os poetas lavras. que hoje jazem enterradas em biblio­
corteses de nações navegantes preferiam ex­ tecas e atqutvos. Dc há muito esqueceu-se
trair seus temas e alegorias do reino de Netuno que o abade BenediclusChclidonius (que cos­
e Saturno, seus companheiros sem acesso ao tumava organizar apresenlaçõos de Ce lies na
mar preferiam a imagem das videiras e da caça. escola latina de Viena, chamada Schntlcn-
Diana dava seu nome a muitos dos espetácu­ gymnasium) exultou Maximilianus triamplia-
los dc cone: um dos primeiros a ela devotados tt>r cm versos eruditos. Não foram esquecidas,
foi escrito pelo humanista alem ã» Knnrud porém, as obras de arte que o inspiraram: a
Ceitis. magnifica xilogravura de Alhrceht Diirer,
Esse alemão oriundo das margens do Muin "Fhrcnpfone des Katsers Maximilian" ("Por­
levou sua plateia de volta no tempo e para u ta de Honra do Imperador Maximiliatio") dc
Itália, a origem do triunfo c do panegírico da 1515. c seus esboços de 1522 do 'Triunipli-
corte. Ele começara a interessar-se pelo teatro w ageif ("Can o T riu n far) - uma glorificação
em Roma e Ferrary e. em março de 1501 le­ póstuma do Maximiliatio. o "últimodos cava­
vou à cena *>primeiro exemplo famoso de um leiros”. que falecera cm 151*J.
panegírico-irúwrfri ao none dos Alpes. Junta O Barroco, com sua incansável riqueza
mente com seus amigos da academia humanis­ cénica e deenrativa. pagaria o mais suntuoso e
ta vienetisc Sodaliias Litter.ina Danuhiana. or­ úliinto tributo ao Sacro Império Romano, nas
ganizou um a apresentação de su a L ndns Litili Cacs/iivi encenadas nas eurtes de Praga
DUuuu• em cinco atos, no castelo de IJnz. uo e Viena.

• _?w
H iu in tit Muutfitii th* Tcutnn >

O D ram a Esco la r nas; outros, um cenário neutro e simples, do


tipo "cabine de banho". A contrapontistica
O estudante de filosofia o teologia Chris troca de loeal entre universidade e cidade na­
toph Siumtne], (li Frankfun sobre i> Oder, m;d ta! dos estudantes, tudo mim único cenário, c
contava vinte anos quando chegou a unia ines­ ainda influenciada pelo principio da suces­
perada fama dramática. íím 1545, foi celebra­ são da moralidade do Medievo tardio. Tran­
do em Wittenbcrg como autor de unta peça que sições desse tipo eram frequentes no drama
"agradou grandemente" aos doutos eruditos. escolar, e ainda foram usadas, por exemplo,
Era chamada Suideiiles, sem dúvida inspirada na peça Laureimti.y. representada em Coló­
na comedia do mesmo título de Ariosto, e tra- nia, em 1581.
tava-sc de uma descrição alegre e sem rodeios Não obstante todas as tentativas de vivi­
da vida estudantil da época e de todos os pra- ficação cênica, o palco escolar era um pódio
zeres e perigos que espreitavam o jovem estu­ paru a arte da dcclamação. Professores, mes­
dante, entre a severa Filosofia e a convidativa tres e reitores atuavam como autores, adap­
filia hospimlis. Ao llnal de cada ato, n coro tadores ou tradutores dc peças. Seus nomes são
profere bons conselhos, sem dúvida bem a pro­ tinia legião, do alsaciano Jakob Wimpheling e
pósito, após as bebedeiras, brigas barulhentas stta comédia Svtphal 1494). a Johann Rcucltlin
e aventuras mil umas precedentes. Fina Inten­ c sua Itvmm, encenada em 1497 por estudan­
te, os pais dos jovens irrompem em cena alar­ tes em Heidelberg. e da Tragédia de Thitrris et
mados e decidem resgatar os respectivos filhos, Siddaiui. dc Jakob Lochcr, a Philipp N. Ftis-
com um "mergulho" na bolsa de dinheiro e chlin. A este último a comédia escolar latina
um forçado “sim" ao matrimónio, protestante deve o fato de que "não morreu de
Smitimel - que havia estudado a técnica fraqueza e tédio, mas foi ahsorvtda nas novas
dramática com seu mestre, n comentador de formas de arte dramática, representadas, de um
Terêneín Jodoeus Willich - possuía que to dom lado, pelo aluno de Erischlin, ileinrich Julius
para a observação astuta, quer bom senso sufi­ von Braunschwcig e Ayrer, e. de outro, pelo
ciente para perceber que o êxito nos palcos drama jesuíta" (G. Roetlie).
escolares requeria prova de aplicação moral Philipp Melnnchtnn, o Praecrptorfíenuu-
profunda. niuf e grande refiirmador do sistema educacio­
Snidentex de Sltimmel foi apresentada nal c escolar, empreendeu intensos esforços
duas vezes em Wiucnberg, Entre os convida­ para reviver o drama da Antigiirdade. F,m sua
dos de honra estava Melanchton, que lhe con­ academia particular, em 1525. foram encena­
feriu o atributo de "elegantíssima", elogio que das Héciih/i de Lui í|H‘des, Tie.yte.s de Sêneca.
se referia tanto aos diálogos lati nos ao estilo Miles Gloriosas de Plaulo e muitas das comé­
de Teréneio e Plaulo. como it erudição que o dias de Tbrêncio, todas com prólogos do pró­
autor demonstrava. Isto, na verdade, se eviden­ prio Melanchton.
ciava já na lista de dranmiis pcrsontie. Um dos Maninho Lutem adinitiu que o teatro po­
estudantes tinha o nome de Aivlnsms. o dis­ deria exercer uma influência benéfica, como
soluto - uma reverência ao dramaturgo pro­ testem unha a seguim e passagem de seu
testante holandês Gnapheus. que em 1528 ha­ Tisdireden:
via escrito, no gênero para escola, uma peça
sobre o filho pródigo, chamada Acetaslux. (Viiwciliai encenadas nau deveriam ser pniiludas.
Eubulos. o bom conselheiro, mostrava que ■nas. cm consideração ao* rapazes da escola, peiiniudas
r lotei adas. Um pj inteiro lugar, pmquc c ] hki pratica, para
Stummel estava familiarizado com os escrito­ eles. ila linguii laiinai cm secundo lugar, jmrqne nas cn-
res gregos dc comédias. Eleullieria, a sem pre­ ineUias lei pessoas criadas, descritas e repiVSsSHadas eoiti
conceitos, testemunhava seu conhecimento da alie. de modo a tnsirim ojiovo e recordara cada um sua
mitologia antiga. siuiaçào e .' I I , lemhramlo o que é adsxpiado pai a am
Os historiadores do teatro não concordam servo, mu llicslie. mu jovem (Hl uru selim, e o • V etc
deie laiíer Na icrd.ide, li I.av, ujain ■ elidenlv cnluo
quanto ao tipo dc palco usado nessas encena­
moii espellm a posição, '..ip . . , deveres de untos
ções. Alguns, como F, R. Laclmian, visualizam 11» dlgmlanos Cenuiosaila ipml se deve eoiU|S!l1;1l v m li-
uma cena feita de diversos conjuntos dc corti­ d n /ir sua i ida púldiva e m slill j v ; s . , . i i . - . - I .■1
A Rl-forma não upojiiin acrescentou pro­ lam ente pelo confronto com o Anticristo.
fundidade ao conteúdo do teatro escolar, mas mas Bale seguiu por um caminho indireto,
também lhe deu nina nota combativa Porém, com figuras alegóricas a assumir as persona­
tomando partido nas controvérsias religiosas, gens reais, de modo que « Poder Usurpado
entrou em conflito com a intenção pedagógi­ veio a ser o Papa.
ca. Quando Agrícola, cm 1537, compôs uma Enquanto as controvérsias religiosas se
ríspida acusação cm sua Tt tigctiia de Jiiliaiinis tornavam inais e mais veementes, a rainha
Hwfs, Lutero o censurou por ser tendencioso francesa Margarida de Navarra tentou trans­
demais. Isto, afirmou Lutero. não era bom para por os conflitos com o seu AfiVotV de í'Ame
a peça escolar. Pêckéresse (1531). Mus seu escrito foi quei-
Da Suíça, também, vieram violentos ata­ mudq com o “protestante" em 1533 pela Fa­
ques contra Roma. Em 1539 Jakob Ruoff, culdade Católica da Universidade de Paris.
talhadeiro e cirurgião de Zurique, escreveu Como Calvino escreveu em outubro de 1533
IVeiíignrlenspií'/, tuna peça que acusava os aos seus amigos em Orleans, os professores e
taberneiros pelo assassinato do Filho de Deus alunos da Faculdade Católica de Navarra sen-
e os apresentava como papistas. tiram-se ultrajados com a atitude pró-protes­
Th ornas Naogeorgus, em sua Pnmnni- tante da rainha. As tentativas de mediação de
chias (1538). aproveitou o tema do Anticristo parte dessa inteligente, sensível e cultíssima
e elaborou uma complexa construção intelec­ humanista, cujas peças religiosas alegóricas
tual cobrindo um milénio dc história da Igre­ testemunham profunda devoção, foram irre­
ja. A peça deve o seu título à Figura do bispo mediavelmente afogadas mima onda de ódio
Pammachius. um contemporâneo do impera­ mútuo. Os antagonistas religiosos invocavam
dor romano Juliano, o Apóstata. Numa cena o direito de expressão livre e individual de
grotesca no inferno, ele recebe a tiara dc Satã, opinião ta! como entendido na democracia
O ruidoso festim onde o papa Anticristo antiga, mas esqueciam o segundo e crucial
Panunachius c Satanás celebram sua vitória c ingrediente: a tolerância.
interrompido pelas notícias de que Lutero Ao mesmo tempo os principais represen­
pregava suas Teses no portal da igreja cm tantes do drama escolar estavam assim empe­
Willenberg. No epílogo, anuncia-se que a ba­ nhados num agressivo cruzar de espadas: para
talha do Anticristo contra Lutero ainda c vio­ consumo interno seus praticantes recolhiam
lenta. e que seu resultado não seria decidido se a um terreno confessional mais neitlro.
até o Dia do Juízo. Como que num acordo secreto, c ttão rarameti-
Naogeorgus dedicou seu drama ao "maior te mesmo em relação direta, material do Velho
príncipe antipapisiu da igreja da Inglaterra”, o Testamento emergia conto temas favoritos por
arcebispo Thomas Cranmcr de Caitlcrbury. toda a Europa, com Susana. Jacó e Tobias à
Cramner estabelecera contatos pessoais com frente.
os partidários da Reforma durante uina via­ Sixt Etirei. de Augslutrg produziu, em
gem à Alemanha c desposara uma sobrinha do 1532, pnm eiram enie unia versão alemã, e
pregador evangélico de Ntucmberg, Osiander. cinco anos mais tarde uma versão latina, de
Presume-se que Ptimmtichiiis foi representada Susanuo Em Estrasburgo, em 1535. por oca­
na csisa do arcebispo, em Canterbury. Mas sua sião da inauguração do novo (i\'iinu>.\iu>i< (es­
primeira encenação documentada ocorreu em cola secundária), constituído de três escolas
março de 1545, no ChrisFs College da Univer­ latinas, Johamtes Sturtn escolheu o tenta de
sidade de Cambridge, Lázaro para sua peça. Na pequena cidade
Cramner cuidou também de fixar o dra­ universitária de Slcyr sobre o Enns, na Áus­
ma escolar protestante na Inglaterra. Enco­ tria, o dramaturgo evangélico e realizador
rajou John Bale. um dramaturgo inglês in­ Tobias Brtiitiiet encenou um Jakob e um
fluenciado por Naogeorgus. e ajudou ti levar lobiits. Em Praga. Malhias Collin. um discí­
seu drama histórico-alegórico ÀVttg John em pulo de Melanehion e professor de filologia
palcos universitários, Naogeorgus desde o clássica, ganhou os favores do rei com ,íu-
início havia encaminhado sua polêmica dire awt/m. A primeira apresentação, feita em

■ MU
29. Xilogravura para o Tragédia de T h u i t i s et S u b l im o , dc Jacnh LochiT, rcp rcsciilan -
do a « n a don sultões: ‘ Cônsul(alio haia/^ii ei suWani". D o L i h r i f ‘hiíi> m usi, Bsirusburgo,
1497.

30. Dcxcirtiodc cciiãiio para o inunde luinuviHJLts. tk: Sivpiun Hntulman.fÀJôuiri, 1581. A pi\"u íui aprescnudA no pálio do
L aurcn tiam T Liwso. o palco é coii^iruidu ao rcditf do duas ái votes (Colónia. Ktudi museu m).
* ^ ft r / í íf.K V <?

1543 nn Collcgium Recek. teve de ser repeli­ sedes dc grémios, salas de dança ou em pra­
da, conforme o desejo expresso de Fcrdnumdo ças públicas, quando o tamanho da audiência
1. no castelo, em presença de toda a corte: a assim exigia. Em Eger. o cantor Betulius pe­
rainha Ana e os dois príncipes, Maxiniilianu c diu permissão ao conselho da cidade, em 1535,
Ferdinando, encontravam-se no camarote real, para encenar sua comédia De Viritur cl Vohtp-
próximo do rei. íatc no m e re n d o , depois dc tet sido apresenta­
Na Hungria, na escola clássica de Barl- da “várias vezes antes, na escola e no Deuts­
field, Lconliard Siõckel levou unia História d? che r Hof, c, domingo retrasado, também na
Susana como "um exercício público de orató­ prefeitura".
ria e de comportamento moral" para a juven­ O palco simples, de uni único cenário, er­
tude guido sobre vígas cruzadas ou sobre banis, não
Outra Susana apareceu na Dinamarca, necessitava dc nenhum equipamento especial.
escrita e encenada por Peder Jansen Hegelund Um recurso popular e útil para seguir a ação,
e baseada na obra de Sixt Birck. A peça conta­ com seu elenco freqiientemenle numeroso e
va com um interlúdio chamado Cahttmiia. no com suas complicações, era a prática de es­
qual a virgiliana figura simbólica da calúnia crever os nomes das personagens no alto de
de muitas línguas. Fama Mala, surge no palco suas “casas”, em leiras claras e legíveis. Quem
num figurino pitorescamcute costurado com são as personagens que estão falando'1 De onde
línguas de pano. vêm? Para onde vão? Essas eram perguntas
A escolha de um tema do Velho Testa­ para as quais o público leigo, que não sabia
mento ou da Antigiiidade colocava professo­ latim, precisava de algumas indicações. Havia
res e alunos a salvo, do campo escorregadio muitos precedentes disponíveis nas numero­
da controvérsia confessional e política. Quem sas edições de Tercncto. cujas ilustrações em
ousasse apartar-se tinha de pagar caro por sua xilogravura apadrinharam, da mesma manei­
agressividade. O valente suábio Philipp Ni- ra, o palco "cabine dc banho”, Sc algum aces­
kodemus Frischlin - que havia recebido a co­ sório de palco fosse necessário, os carpintei­
roa de poeta do imperador Ferdinaitdo em ros Socais ajudavam.
1576 e favorecera o teatro escolar cotno rei­ O teatro escolar buscava exercei seu e-
tor das escolas latinas de Leibach (Ljubljunal feito mais pela palavra do que pela imagem
e Bratmschweig, - foi longe demais cm sua visual. (O drama barroco encenado pelas or­
obra principal, Jtdiiis Redivivas. Nessa peça, dens religiosas utilizou o cammho oposto.)
combinava o louvor às realizações técnicas lira pela declaniação alta c audível em lmiin —
alemãs com a culpa por suas fraquezas nacio­ mais tarde, na língua nacional - que os peda­
nais. Frischlin morreu em 15'Jt), prisioneiro gogos demonstravam suas intenções didáti­
no castelo de Hohenurach. por "insultos con­ cas aos pais e autoridades públicas. A atenção
tínuos as autoridades”. rio público era chamada para o falo de que "o
Na Suécia, no período de 16! 1-16M. o que não é representado na realidade eslá des­
viajado jurista iohanncs Messenius, professor crito nos versos”, com o Tobias Bnmner indi­
ua Universidade de Uppsala. procurou desper­ cou no prólogo de sua peça Jukab 11566).
tar o interesse histórico de seus alunos com Apesar do desprendimento, o mestre escola
apresentações de episódios históricos em diá­ de Steyc parece ter condescendido com o
logo, Mas seus projetos teatrais levantaram sus­ luxo de um palco cortinado. Ele fala dc uma
peitas; ete foi acusado de conspiração com os “cortina", necessária em parte para ocultar a
poloneses e levado a julgamento. Assim, as cciui e, em parle, a fim de “puxar para a fren­
ramificações do teatro escolar, cuja origem está te” no curso da peça.
na inofensiva declamação latina, perderam-se O Mcistersingcr e dramaturgo a!saciam>
em polêmicas religiosas e. llnahnente. termi­ Jõrg Wickram sem dúvida encenou seu Tobias
naram no fogo cruzado da política. de uma maneira similar, quando foi represen­
O drama escolar foi representado em pá­ tado por “cidadãos respeitáveis” em 1551. na
lios de colégios, cm salas dc aula. auditórios praça do mercado de Kolmar. c o mesmo se
de conferência em universidades, prefeituras.• aplica à apresentação ilc 1573 de Spicl vou der

• tfi.t
H is t ó r ia M ttiu iin i d o T e a tr o

31 ■ Duas cenas do S picl vou der K in d c riu c h l. dc JohdMt Rasxei. Xilogravuras <Je uma edição impressa cm Hnsisheim.
1574

Kinderzticlu (Auto da Educação das Crianças) Em ocasiões mais modestas, um pano ati­
do pedagogo Johann R asser. na vizinha rado sobre os ombros fazia as vez.es de unia
Ensisheim. toga romana, alguns atributos óbvios identifi­
As possibilidades cênicas dos pátios es­ cavam os deuses ou figuras alegóricas, c um
colares (Estrasburgo já possuía uin festival emblema corporativo servia como indicador
theatrum em 1 5 6 5 ) são ilustradas por u it i es­ dc starus profissional. Uru penacho no chapéu
boço da peça de Laurcntius. em Colónia. significava um nobre, uma clave indicava um
Seu autor, Stephan Broelinan. era professor lansquenê. uma barba branca indicava um ve­
no Imtremietner Burse. Entre 8 e 12 de agos­ lho e uma faixa cm tomo da cabeça, um turco.
to de 1581. seus alunos organizaram, em ho­ O qtte o emérito professorado esperava
menagem a seu santo padroeiro, quatro apre­ do teatro escolar enquanto meio dc expressão
sentações do drama latino no arborizado pá­ e gesto pode ser aprendido no L iber de
tio, c duas das árvores foram habilidosamemc Prononctalioitc Rheiorica. dc Jodocus Willich,
incorporadas ao cenário. O piso da rampa que é o texto das preleções por ele proferidas
consistia em tábuas unidas pelas extremida­ em Basiléia e Frankiurt sobre o Oder. Cabe­
des e apoiadas em sólidas vigns alinhadas, ça. lesta, lábios, sobrancelhas, nuca. pescoço,
suportadas por barris de vinho, Painéis de braços, mãos. pontas dos dedos, joelhos c pés
lona verde emolduravam o palco como numa ■ tudo tem seu papel predeterminado na in­
lanterna mágica. Os adereços para as várias terpretação "in theatm etul iit thetttralibtis
cenas de ação - porias inseridas, um obelis­ hitUs". Dificilmente pode-se considerar Jodo-
co, um trono imperial e uma cadeira citriil cus Willicli um especialista em estudos iudn-
para o pretor, uma prisão gradeada (cárcere) lógicos. Ele ficaria irritado se soubesse quão
e um altar de sacrifícios pagão caraelerizatn literalmente perto chegou do Naiyasastra. o
as cenas das peças - ordenadas de maneira si­ grande manual indiano de dança e atuação. O
multânea como nos autos “dc lendas" do Me­ que ele escreveu, sem pensar nas artes eleva­
dievo tardio. das, somente para o uso de escolas, ainda iria
O manuscrito de Broelman, que foi en­ ocupar Riccoboni na França, G oethe cm
contrado pelo estudioso de teatro Cari Niessen, Weiniar e Stanislávski em Moscou, muitas
de Colónia, contém não somente o texto de gerações e séculos mais tarde.
SUii peça e um esboço colorido do palco, mas
tiimhém numerosas notas sobre indumentárias,
gestos e o curso d,t ação, (!) herói c mártir ves­ AS REDEHUKERS
te uma longa e lolgada túnica e uma capa ama­
rela ornamentada com motivos vegetais. Fatis- Existe uma pintura, da oficina do pintor
tina aparece em um manto negro e com um Jan Sleen. de Leyden, que mostra um grupo
penteado alio: seu nome está afixado em le­ dc probos mestres dc ofícios numa janela. Um
tras prateadas no seu ombro. homem idoso e barbado lê alguma coisa num
♦ (tscctfçit

pedaço de papel, com visível esforço, pontua­ idéíns da Reforma, como por exemplo, cm
do pelo indicador erguido dc seu vizinho, um 15.19. na assembléia Redcrijker em Cluncl,
terceiro aponta displiccntcm entc. com uma quando o motto escolhido para o dramático
jarra de cerveja vazia, para uma tahulela na Sjit-t l tvjri Siitne foi: “O que dá mais consolo a
parede com a inscrição ui tiefde btoeinde' um homem que está morrendo?"
("florescendo no amor") sobre um vaso flori­ Quando os “Violetas" de Antuérpia esta­
do. Trata-se de membros da famosa Rctlerijker- vam preparando seu grande hm ájuw eel em
Kammer "Eglantinc". de Amsterdã. Ela se re­ 1561. deixaram a escolha final do assunto para
fere não apenas ao seu ofício, mas igualmente u regente Margarida da Áustria, duquesa de
à arte do teatro, que as guildas holandesas pra­ Parma. f>os vinte e quatro títulos a ela propos­
ticavam com crescente devoção do século XV tos, Margarida considerou três: A sabedoria c
cm diante. mais estim ulada pela experiência ou pelo
Tomados pelas aspirações culturais huma­ aprendizado? Por que um avarento rico deseja
nistas, resgataram as últimas moralidades me­ mais riquezas? O que pode melhor despertar
dievais e canalizaram-nas para a arte da retóri­ um homem para as artes liberais? Os "Viole­
ca volúvel - de acordo com seu nome, cpie é tas" finalmcnte optaram pela última questão,
derivado do francês rhéioritjuettr. Eram o um tema que oferecia maior liberdade dc ação
contraponto das Meixiersinger alemãs, no que à sua tradicional preferência pelas alegorias nu
diz respeito à sua origem nas guildas, seus retórica e na decoração. O convite enviado pela
objetivos, e também quanu» ii sua orgulhosa “Carner vnn den Violicren”. na forma de uma
hierarquia, que ia do patrono, passando pelo xilogravura, antecipa o conjunto das virtudes
deão, o porta-estandarte e o poeta, até o sim­ iluminadas pelo soi. de um lado: a desordem
ples membro, No século XVI, todas as cida­ dos vícios, do outro: e, cnlronada no meio. a
des de maior tamanho, na área entre Bruxelas Retórica.
e Amsterdã, possuíam sua própria câmara de A "Peoen-Camere" em Malincs imprimiu
retórica. O clímax de suas atividades dramáti­ o programa completo de lodos os números fa­
cas e teatrais era o Itmtljitwcel anual, um festi­ lados e cantados cm seu festival de 3 dc maio
val pura o qual as câmaras convidavam untas de 1620, Ele foi publicado em 1621, ilustrado
às outras. Esses festivais duravam vários dias. com xilogravuras, sob o pretensioso título
incluíam procissões alegóricas e i«Meaux "Uma Arca do Tesouro dos Filósofos e Poe­
rivimfj (VW/noiiíu.çt'), e culminavam numa tas".
competição de peças alegóricas morais c re­ Eruditos e artistas acorriam etn massa âs
ligiosas. At também apareciam as primeiras Rctienjkcrs Príncipes governantes aceitavam

32 . G ru p o uk-púricM dc um ■ V , C :i S liiI.- X ilo g ra v u ra m im . 'I v iL - | .|| . 1 : I.v .iiv . v i .■ n i.-v r .i.i.G p e la íriín ic r
vau den Viulienm, AI.l11.- .'I.. LVil
- jO.S
34. P-Jlcudií nra. IIU marcado dc cavalos de i lundus. Punado parAdam l :rans vau Uvr M eiikil. i IfiSd ( Vaduz. (uiU-rie
U«htemk.-in>
3_i. iiihhutu rirunt [íumcsirrn-piiícn: J lllI lic e T!<>iok-nu:v I)u |'iua ;i ítícc^ioitc JcKinathr* -<sik’l;*
em llru x c la s . r3i>;kiio tlc I^Jfv D vmJ u Iiu í U lt Iíiu . SLutllicht: M iis fn i, K iip tci^ticítk iih itk iít)
W f-iiríiífi M u tu iia t th f T íh ííij •

de bom gmdo a quiilkLirie dc membros bonurà- século XIV, e seus precursores foram os
rios, e n cintara ainsterdainesa Eglantme podia Miimesànger. O período de seu maior flores­
orgulhar-se de icr recebido sua Húmida do im­ cimento em Nurcmherg. na época de Hans
perador t \ir]os V em pessoa. De ,seu âmbito Sachs, loi imortalizado na ópera Os Mcstrex-
emergiu o dramaturgo Pieler Cornei iszooo, fi- Cantores dc Kichard Wagner.
Uio do prefeito de Amsterriã. A apresentação de Enquanto as "escolas de canlo” dos A/íé.v-
Achillesen ftiim ™ deste autor. em 1614, inau­ Wrsittger ensinavam as leis e regras de sua arte.
gurou o reflorescimento do clássico anligu nos estritamente dc acordo com o Tabnlatur, e en­
Países Baixos. Sua peça pastoral Granida fui quanto as poças canuivalescas entregavam-sc a
inspirada pelo Pastor Fido (Je Gu.irmi, e sua tra­ dísticos rimados conhecidos como Knhrelvvrse,
gédia Geenwrdvan VW.wn, embora formal men­ Hans Sachs, sapateiro c poeta, buscava fami­
te na tradição de Sèneca, tirou seu leina da pró­ liarizar seus camaradas artífices também com
pria história de seu país de origem e, assim, foi a muís alta herança do humanismo- Ele se a-
o primeiro trabalho no palco holandês a respei­ ventm nu no drama erudito e, alem das farsas,
tar a regra ans [olé lica da unidade de lugar e tem­ escreveu volumosos dramas e tragédias para o
po. O contemporâneo de Honfl, C5. A. Bredero, palco Meistrrxhijjcr. Seus temas eram clássi­
membro dos Eglanunes de Amsterdà, c famoso cos e medievais, hem como freqiientemcnle
pelas farsas e comedias populares e realistas, bíblicos, o que explica como puderam ser fei­
ricas em lipos rem iniscenles de Plaulu e tas apresentações na igreja dc Santa Mana dc
Brueghel. Elas eram encenadas principal mente Ntirentberg, conforme se tomou praxe a punir
nos palcos camponeses (Khicht), mas às vezes, de 1550, e começar com Entlianprimg Jolum-
como por exemplo S/iariachcn iSmbtuitltt em nis lA Decapitação de São João) Um pódio
1617, também por membros da própria câmara de quase lJ m dc altura foi erguido abaixo da
de retórica do autor. abóbada gótica do coro, fechado no fundo por
Pelo início do século XVI. o palco Rrdr- mna cortina, com entradas por trás e também
rijker havia adquirido eminência representati­ à direita, pela porta da sacristia. Foi assim que
va. A combinação da peça dramática e retórica Max H ermann reconstituiu o palco M eis-
e dos Venaoninge didáticos e decorativos exi­ n i sinqer. uo seu Forsclttmgeti zur di tttschen
gia unta moldura que fizesse justiça a ambos. Theittcrgexihwhte des MitteUtiters itnd drr
E assim, um palco arquitetural recuado loi de Rrnaixsante {Investigação para a História Te­
seuvolvido para encen ar a área de atuação: esta atral Alemã da idade Média e da Renascença)
divisão era ornamentada com colunas c arca­ ( I*)I4). Alberl Kõster. cm contrapartida, de­
das. às vezes dois andares acima c assim po­ fendeu o ponto de vista de que o palco leria
dia fornecer a localização para os tnblranx sido construído na nave. A controvérsia foi
vivanls dos Unaoninge. O derradeiro teatro acirrada e permaneceu sem solução. Os arqui­
Rederijker. instruído na erudição humanista e vos de Nnrcinbeig nada contribuíram pura o
influenciado tanto pela tradição teatral nativa esclarecimento da questão, mas u Igreja de
dos artífices quanto pelos atores ambulantes Santa Marta ainda existe - e deixa abertas
ingleses, usava uma forma de palco no qual as coiijecmras sobre ambas as possibilidades.
relíquias das antigas scaenae frons íundium- Podemos ler certeza dc que, no geral, o ta­
se com elementos do palco elizabetano. blado dos dias de testa dos Mestres-Cantores sc
comentava com a decoração verbal. Por outro
lado, Hans .Sachs tampouco renunciem a ter um
OS MF.tSTERStNGLR navio que era rolado para dentro da cena, como
acontecera na corte de Ferrara, na apresenta­
Os Mmlem/igiT alemães dividem com as ção de I4S6 do Mcuíiei bini. Nas instruções
Rederijkers holandesas o mérito de terem pre­ cênicas de sua Reritottt. representada eni 155*),
servado a continuidade entre as aries da atua­ lemos: "Ela beija o rapaz e desce do navio.
ção e recitação do final da Idade Média e o Eles parlem no navio". Cumpre confiar nas
m undo da R enascença. As origens dos guildas dc Nuremberg, em que elas foram tão
Mcisteraiitucr remontam á cnluira cívica do criativas quanto os bifjefjiiicrr italianos.
"Rh^toriíM” , a reiónc» personificada. cunlra um palcu dc ma. ao fundo. Aquarela
do caderno de esboçm de Hnns l.udw iu rfiu /;tn ^ k Nufuniher*. c. 15W1 (Msc. Hist. 176.
liamherg. Suunshddiothek),

M O J u U o i l f SuiiHHrttt. encenado 11a pi:n,a ilu mercado de l.í uivam. I.VJ4 A p aiiir de um desenho lie GuiU.iume
iJtmneu. 15^4, copiado pnr L, vau iVicphem, IXísi fLonv.iin. Museu daí'idade).
r

38. A grande ‘Ommegaiick" íPrueis&lu) ecn Brujcebis DclaFhc ilu carro alegórico da Nanvidade. Na margem mfcrror
da pnuura, a rainha das Ama/.onase seu séquito a cavalo. A procissão dos grémios c cor] joruç cies compreendia numerosos
carros alegoocos e ltujtos dc lamas bíblicos c mitológicos. Pmiadn por Dcius %,:in Alsjonf. 1615 (Londres, Viciaria and
Museum)
r

39. Procissão de N r d v r ij k tf n i. ehepíHido a MalirieS para apresentar a L i/rK Íju^ i't-1 cin 162(1; a CTâmara ‘'Maria Craos" de
Bruxelas com seu c a rro alegórico e escudo íTarmas (BlasoenV Do volume comemorativo O c S v h r n i t d w P h i l o s o p h r H
e m ie P a e irn , impresaocm Malines, 1621.
H is to ria SUnutiitt tio T e a tr o

O T eatro Elizabetano John Bule foi o primeiro com seu King John
em 1548. As Chronieles (1578) de Raphacl
Londres possuía três leatros ptíhlicos Holinshed constituíram uma fonte inesgotável
quando o jovem Shakespeare chegou à cidade de material. Shakespeare e seus colegas dra­
em 1590. Nos subúrbios setentrionais, bem maturgos encontraram nelas tudo aquilo dc que
próximos um do outro, ficavam The Theater e precisavam para seus dramas históricos.
The Curtuin. e no bairro das diversões, ao sul Ao mesmo tempo, influências clássicas
do Tamisa, entre as arenas de bear-hailing e ainda emanavam do continente. John Lyl v es­
bull-baiting*, A Rosa. Os barqueiros tinham colheu lenias mitológicos para suas comédias:
muito trabalho, quando a bandeira tremulava o poema H em and Lcander, de Mnrlowe, que
no telhado, indicando que nesse dia uma peça deu ao frio e cético Thumas Nashe oportuni­
seria apresentada - uma bandeira branca para dade para zombaria, é uma adaptação livre dc
comedia, uma preta para tragédia. Musaeux. Mesmo Taux Andronicus de Shakes­
O teatro tomara-se uma instituição na vida peare esta ainda embebido na paixão da vin­
da cidade. Qual uma lente convergente, ele cap­ gança e do horror de SSneca. O lem a dos
tava as radiações literárias do Continente e as Suppoxili de Ariosto volta uma vez maís em A
focalizava em cores vivas, florescendo com a Megera Donuida de Shakespeare. Romeu e
recém-despertada consciência nacional. O Julicta, em seus diálogos dc amor, não negam
tema principal da Renascença, o indivíduo seu débito para com o Canstwiirrc de Pelrarca.
consciente dc si mesmo, alcançou seu zénite e com o jogo de esconde-esconde de Rosulindu
de perfeição artística no teatro elizabetano. À na floresta de Ardcn. Como lhes Apraz con­
força de seus dramaturgos correspondia a res­ serva ainda um pé na tradição pastoral.
posta criativa da audiência. O teatro deu ex­ Mas, em suas peças históricas. Shakes­
pressão à confiança em um poder mundial as­ peare mergulhou na história da própria Ingla
cendente, cuja esquadra havia derrotado a terra e poxicionou-sc apaixonadamenie em re­
Invencível Armada. Os atores lomaram-se, nas lação aos problemas do poder e do destino
palavras de Hamlet, "as abstratas c breves cró­ Ascensão repentina e queda abrupta, a embria­
nicas do tempo", guez do poder, crime, vingança c assassinaio
Sob Elizabeth I - filha de Henrique VIII dãn vazão às imagens plenas de linguagem e,
e Ana Bolena, que desprezava o papado e era nu rápida mudança de cenas fragmentárias,
antagonista dc Maria Stuarl - meio século culminam numa brilhante síntese. Enquanto a
ganhou seu semblante. Nesse perimi», tam­ batalha se intensifica, uma luz é lançada sobre
bém o teatro encontrou seus pressupostos ar­ cia. ora do campo do rei, ora do campo inimi­
tísticos, seus temas e seu estilo. O novo lema go. A ação salta como uma faísca dc cena em
da Inglaterra elizahetana era; livre da frança, cena, A última retirada de Ricardo III o leva a
livre do papado, um orgulhoso reino insular seu fim num combate sem palavras.
"em um mar de praia", O hálito ardente dos acontecimentos, que
Em 1589, Richard Ilakluyi publicou sua n tragèdie tlasstque francesa aprisionou nos
grande obra The P rincipall Navigations, grandes monólogos do drama com unidade de
Vaiagex and Diseoveríex a f the English Nalion. lagar, explodiu com Shakespeare em diálogos
O Tambsírímne dc Cliristopher Marloue rego­ curtos t poderosamente delineados. Cada ocor­
zijava-se com os recém-descobertos tesouros rência c transposta para a ação, “Um reino por
do mundo terrestre, os “mimos de ouro, dro­ palco", almeja ele no prólogo do drama real
gas inestimáveis e pedras preciosas", e com a Henrique V, em vez do “indigno tablado" e in­
expeetativa do que estava para ser conquista­ voca as “ forças da imaginação” do especta­
do “a leste do polo antártico” . dor: “Imaginai que no cinturão destas m ura­
Ao aceno da distância correspondia a re­ lhas ! Estejam encerradas duas poderosas mo­
flexão sobre os heróis da história nacional. narquias |...]. Porque é vossa imaginação que
deve liojc vestir os reis, transportá-los de um
£ Aivou de nçubiiicutii .k eães cisu ra u, „■„ ,■ I,,J- lugar para muro, transpor os tempos, / colo­
mu acujrcnuKlu * . ' N d j T.) cando a realização de acumular numa hora de
* 3 k e i ttM te a ç a

ampulheta os acontecimentos de muitos anos" o melhor papel de Shakespeare foi o de Es­


(trad. Oscar Mendes) pectro, em Hamlet. Aparentemente, ele não
As peças de Shakespeare oferecem ali­ mais aparece no palco depois de 1603, pois
mento abundante para a transformadora capa­ seu nome não está incluído em nenhuma das
cidade da imaginação, da magia poética do listas de atores impressas para cada peça. Pes­
Sonho de Uma Noite de Verão à loucura do quisas sobre esse assunto, embora abundantes,
Rei Lear na charneca tormentosa. Ele saltou são muito dificultadas peias repetidas mudan­
por cima das regras clássicas pela força de seu ças de nome de sua companhia, sucessivamente
gênio poético. Trouxe à vida períodos e luga­ conhecida como Lord Hunsdon's, Lord Cham-
res, ternura e rudeza na “arena" do teatro, berlain’s c, finalmente, The King's Men.
Shakespeare não tomou partido na con­ Os nobres patronos conferiam às com ­
trovérsia a respeito das regras teóricas, embo­ panhias de atores que patrocinavam não so­
ra ela tenha se inflamado também em Londres. mente a licença para aluar, mas com muita
Sir Philip Sidney. nobre letrado altamente es­ frequência seu próprio nome principesco. Da­
timado na corte como sobrinho do conde de vam-lhes proteção legal, grandemente neces­
Leicester. havia defendido as unidades aristo- sária aos atores naquela época, dada a hosti­
lélicas —em sua Apologie fo r Poeiry (escrita lidade do clero puritano.
por volta de 1580, mas impressa postumamente Na corte, entretanto, sempre foram bem-
em 1595) e denunciado seus compatriotas por vindos. Ricardo, duque de Gloucester. tinha
não lhe dar a devida atenção. M as quando, em atores a seu serviço antes de subir ao trono
1603, Ben Jonson se apresentou com sua tra­ corno Ricardo Hl. O rei Henrique VIII manti­
gédia romana Sejanus. construída estritamen- nha uma companhia e. de tempos em tempos,
te segundo as normas, foi um fiasco. Sua força permitia que excursionasse, o que lhe poupa­
residia no leiTeno da comédia critica contem­ va a despesa de habitação e contida, c cra bom
porânea, realista, no qual de falo também res­ para a moral pública. A rainha Elizabeth mos­
peitou as três unidades clássicas, em protesto trou bem menos propensão para a bela arte da
contra a indisciplina dramática de muitos dra­ representação, Apesar disso, Lorde Leicester
maturgos da época. conseguiu obter dela, em 1574, para sua própria
Shakespeare divertiu-se arraiando um iró­ companhia de teatro, uma licença real auto­
nico catálogo dos gêneros exemplares de dra­ rizando seus próprios homens "a usar. exercer
ma, Quando Polonius anuncia a Hamlet a che­ e ocupar-se da arte e da faculdade de encenar
gada dos atores, exalta-os como “os melhores comédias, tragédias, interlúdios. espeiãculos
atores do mundo, tanto para a tragédia, como e similares [.,,1 tanto dentro da nossa cidade
para a comédia, a história, a pastoral, a pasto­ de Londres e seus arredores, como também em
ral cómica, a pastoral histórica, a histórica trá­ lodo o nosso Reino da Inglaterra’’,
gica, a pastoral irngicõmica-histórica, a ação Mas as peças a serem repte sentadas de­
indivisível ou o poema continuado. Sêneca não viam primeiramente ser submetidas ao Mes-
pode ser demasiado triste para eles, nem Plauto tre-dc-cerimónias, Maxter o f the Rei eis, um
leve demais. Para o que está escrito e para o funcionário que supervisionava as festividades
improvisado, eles não têm quem os iguale” reais. Em 15 8 1 outra carta-palcntc estendeu
(trad. Oscar Mendes). esse serviço de censura aos programas de to­
O jovem Shakespeare irrompeu no palco dos os palcos públicos. O Manter o f lhe Revels
elizabetanu numa época em que o alor profis­ adquiriu então o cont role todo -pode ro so e cen­
sional já tinha uma posição segura na estrutu­ tralizado que governaria o destino dos teatros
ra da sociedade. Sobre suas qualidades como e seus dramaturgos por quatro séculos. Ainda
ator não se sabe nada que seja conftável. Su- no século XX. jovens dramaturgos, em que sc
põe-se que ele tenha aparecido na comédia salienta a crítica de época, encontraram fecha­
Every Mmt in His bhtmanr em 1598 e, presumi­ do o caminho para o palco quando o Gabinete
velmente, haja desempenhado o papel de Adão do Lorde Camareiro negava sua aprovação;
em sua própria comediu Como thes Apraz.. Seu John Osboiiie e Edward Bnnd tiveram de iní­
biógrafo Nichulas Rowe julgou no entanto que• cio que se contentar com apresentações em

• M.i
41. Mapa dc Londres em 16! 6> de J, C, VUscher: detalhe d o panorama, m ostrando a margem Banksúíc d o T Im is a à
época dc Shakcspcarc; á frente t ar» centro, o Globe e o Bear Ourden.

42. Deu lhe do im pa de Londres de Ralph Aga. I V>9-1 59U (ed 163lk Bairro das diversões no Banks ide com Jtrenas
para kKiros e ursos, precursora* dc» teatros elízabcUno* construídos após J587 na maFgcm d j rei la do Tamisa.
4 V Ma scji-:(í1:i Nu fv i;i f im uus.i ilc Si r Htn rv 11nt< m . < I <"iíMI: com os crmv i ú 11iesa d<i tninij luííc, mu>ics is c dc
nxla. lX ‘(.dlK dc uma p in iu rj anónima lYprc^maTido os c\vnt<K mais mi|Hmunies da vida dd Sn Hciiry irmo» iLund^e^.
Natumjt Tonr.nx G.Jlcry >
4 4 . C ena dc Ttfus A n d r n n i c u s . 1595, Ú n ic o desenho d a época c o n s e rv a d o de uma peça d e S h a J í C S p e a r c .
a trib u íd o a H enry Peactiam (C oleção da Marquesa de Bath, LotigEeaiJ

45. X ilogravura da frontispício cia S p artish


T n tg c tly , dc Tbomas Kyd, A esqucirhi. no cura
manchão, H o iacio enforcado por nssassinns;
Hkiomrno ipai de Hoi«kit>>. tWlirrifkiu c Ijjrenzn
piueipiruEn-se para a cena. De uma edição dê 1633.
* t Kttnmcrnçn

clubes —já que o clube inglês c sacrossanto e sua tolerância e capacidade de julgamento o
livre dc interferências, mesmo da Coroa. Foi fato de ele ter deixado passar sátiras brilhan­
somente ein 1968, e após vigorosos protestos tes e cáusticas como Vidpane e O Alquimista
por parte da vanguarda, que Elizabelh II abo­ dc Ben Jonson. O Master o fth e Reveis Tilney
liu a censura teatral, originulmcnte exercida talvez tenha sido a figura mais imparcial no
pelo Master a f the Revela cabo-de-guerra pela autoridade em questões
O serviço de controle real foi duplameme de teatro. Os edis londrinos se m ostraram
opressivo para o teatro elizahetano do final do exageradamente suscetíveis a panfletos polê­
sécu lo XVI. pois o C onselho M unicipal micos como Piayes Confuted in Fne Actious
(Common Council) de Londres sentiu-se pre­ (1582) de Stephen Gosson, e chegaram a opor-
terido em seus direitos dc censura, e estipu­ se ao teatro como um antro de iniquidade que.
lou, dc sua parte, restrições. Não poderia ha­ nas palavras de Thomas White (1577), “ inci­
ver espetáculos aos domingos, e jam ais quan­ tava ao roubo e prostituição; orgulho e prodi­
do houvesse perigo de peste: fez lambem ob­ galidade; torpeza e blasfêmia". Porém, nenhu­
jeções ãs desordens decorrentes de apresenta­ ma restrição ou represália poderia reduzir a
ções em "estalagens, havendo aposentos e lu­ importância e a florescência do teatro elizabe-
gares secretos anexos a seus palcos abertos c lano. De errantes e proscritos Sem direito, os
galerias". com ediantes tinham-se tomado hom ens de
O primeiro a exercer o podei de censura uma profissão respeitável e às vezes de consi­
absoluto foi Hdmund Tilney, M aster o f lhe derável riqueza. As companhias avulsas eram
Revets por trinta anos. de 1579 até sua morte, organizadas em forma de cooperativa; os pro­
em 1610. Por suas mãos passaram as obras- prietários de casas de espetáculos possuíam âs
prima s dramáticas do teatro elizabetano, as­ vezes vários empreendimentos comerciais, parti­
sim como a torrente das produções efémeras cipavam das receitas de bilheteria e astutamente
boas, ruins e indiferentes. Nenhum dos regis­ aumentavam suas fontes de renda.
tros oficiais deTilney foi conservado, mas pos­ James Burbage, construtor da primeira
suímos o registro das licenças emitidas por um casa de espetáculos pública permanente de
de seus sucessores. Sir Heniy Herbert. que Londres, era conhecido sobretudo como mem­
assumiu o cargo em 1623. anotou cuidadosa- bro privilegiado da companhia do conde de
mente não apenas o título e autor de cada peça. Leicestcr. Quando, cm 1576, ele abriu sua
como tombem iodas as ob jeções - frequente - PUiv House (Casa de Espetáculos) em Shore-
meme tolas - e cones exigidos. ditch. fora dos limites da cidade e ao norte dc
Os in fólios de Tilney, como o próprio tea­ Bishopsgale. orgulhosamente deu-lhe O mais
tro, podiam bem ser descritos, nas palavras de direto dos nomes: The Theatre. Escolhendo
Shakespeare, como "resumos e breves cróni­ um local nos subúrbios, prudentemente colo­
cas do tempo". Suas entradas eram um inven­ cou-se fora da jurisdição imediala do Lord
tário vivo. Elas registravam os diálogos de Lyly. Mayor (Prefeito). The Theatre era uma cons­
modelos de refinada e elaborada lisonja em trução circular dc madeira com galerias e ca­
versos polidos, e certamenle tão irrepreensíveis marotes e causou sensação. Até o severo pre­
quanto as pastorais alegoricamcme enfeitadas gador John Srockwood elogiou-o ao descrevê-
de George Peele: mencionavam as peças de lo como "magnifico local dc atuação” .
maior sucesso de Thomas Hcywood e Thomas Um ano mais tarde, outra casa de espetá­
Dekker - A IVbuuni Kilted with Kindness. do culos foi construída na vizinhança. Foi cha­
primeiro, e The Honest Whore, do segundo - mada The Curtam (A Cnrlina). Com suas três
ambas precursoras da tragédia burguesa; fala­ fileiras de ha leões, o Curtam era muito seme­
vam sobre os milagres satíricos de Roherl lhante ao Theatre, assim como lodos os futu­
Greene c sobre as sangrentas tragédias em ver­ ros teatros de arena ao ar livre da Londres
so branco de George Clmpman. e. final mente, elizubetana. Já era. evidentemenie. um fato
citavam como mais importantes, no cômputo muito conhecido que um teatro nesse distrito
geral, todas as peças de Shakespeare. que poderia atrair grandes multidões. O próprio
Tilney foi o primeiro a ler. Demonstra bem James Burbage atuara tio Crnss Keys, um aes-

* 11 7
H isto rio M u n d i a l tl t* T e a t r o *

talagem em Graceclmrch Slrect, que em 1^94 ao ar livre. A rendosa margem direita do Ta­
ainda servia como quartel de inverno aos Lord misa iornou-se o centro do mundo do teatro
ChamberlaiiTs Men (Homens do Lorde Ca­ clizabetano. The Swan (O Cisne), construído
mareiro), grupo de que Shakcspcare era mem­ em 1595 por Francis Langley, foi seguido em
bro. No Buli (o Touro), perto de Bishopsgate, 1605 pelo Red Buli (Touro Vermelho).
Richard Tarleton, o grande c/ou-u e impro- O holandês Jan de Win, que visitou Lon­
visadordos Queens Men (Homens da Rainlia), dres em 1596, descreveu o Rose c o Swan como
lotara as dependências das estalagens, dez anos os melhores dentre os quatro teatros da Lon­
antes, com multidões amontoadas. dres da época. Do Swan, o maior, ele mandou
Outro bom ponto era Banks ide. ao sul do confeceionar um desenho, que mostra o inte­
Tâmisa. Aqui os melhores locais de entreteni­ rior com o palco e c o único regislro gráfico
mento eram uma arena de touros, onde se pra­ conservado de um teatro elizabeiáno, com ex­
ticava o í>id/-í>£irfú)£, indicada nos mapas de ceção dos mapas.
Londres desde 1542 como Buli Ring, e um A estrutura cilíndrica acomoda três gale­
bear garden, em que o urso era o objeto do rias de espectadores, sendo a muis alta prote­
bear-bairing, parti não falar dos acrobatas, gida por um telhado inclinado para dentro. O
funâmbulos, prestidigitadores e atores am ­ círculo fechado do auditório é acessível por
bulantes. dois lances de escadas pelo lado de lora, dentro
Aqui Philip Henslowe, pintor e agiota, eleva-se acima da estruturado palco. O amplo
construiu seu primeiro leatro em 1587, “Tlie pódio de atuação, denominado proscaenium.
Rose" (a Rosa). Este provou ser um negócio projeta-sc oa arena interna descoberta. Duas
lucrativo, a julgar pelo diário e cômputos de portas levam ao mimorum aedes, camarins e
Henslowe, que chegaram ale nós. Henslowe conlra-regragcirt. Em cima há uma galeria co­
fundou outros dois teatros, The Fortune (A For­ berta por um toldo suportado por pilares. Esta
tuna) por volta de l(i(X), em Finsbury. a sete­ poderia scr ocupada por músicos, lornar-sc
centos metros do Curtain. e The Hope (A Es­ parte da peça como um palco superior ou ser­
perança) em 1613. The Hope ficava no local vir de camarote.
do bear gtirrien, que havia sido demolido, e Acima dessa galeria eleva-se um estreito
foi a última das casas de espetáculo londrinas ático com duas janelas c um balcão ã direita.
Dali o corneteiro anunciava o começo da apre­
sentação (que dc Witr, por conveniência, mos­
tra já em plena atividade).
O esboço de Witt pode ser visto em con­
junção com um mapa de Londres de Visscher,
publicado em 1616. Este mostra o circular
Swan como um dodecágono equilátero.
A reconstrução do Globe feira por Gcorge
Topliam Furresi c similar na forma. A parede
de fundo do palco pode servir de sala interna,
a galeria central de palco superior. Existem ca­
marins nos dois lados do “Imier Stagc" (palco
interno). Acima deles, no andar superior, es­
tão os “Lords' Room", reservados aos nobres
da platéia.
Esse modelo básico, excetuando-se algu­
mas variações, foi provavelmente o mesmo
para todos os teatros redondos ou poligonais

47, Vista unonui Uo teairo Jc Swan. L-m L^míra:*».


DeMCHtiL. luihie:id<> wtu nolas dc- J l-íiji de Win, J 5%
- M8
A R enascença

ao ar livre tla era elizabetana. (Depois de 1620. gem literária. O que importava no teatro
somente salas de tealro fechadas foram cons­ elizabetano. como em outros, não era a inven­
truídas.) Os espectadores pagavam um pemty ção de uma trama, mas sua elaboração criati­
no portão externo, que dava acesso ao pátio in­ va. FreqUeniemcme, vários autores se junta­
terno - a famosa arena (Pil) - onde os givittiti- vam para uma produção conjunta. Francis
lings* elevavam suas vozes em aprovação ou Bcnumont e John Fletcher escreveram juntos
desaprovação, muitas vezes selando irreversi­ umas cinquenta comedias populares nos anos
velmente o destino de uma peça. A origem de 1606-1616. contribuindo Helclrer com seu
desse emprego do termo gmmulliiig não é co­ espirito frívolo e viva fantasia, e Beaumoni
nhecida. Talvez a proximidade doTãmisa suge­ com seu talento dramático.
risse a transferência do termo “ peixe de fundo Podia-se ganhar muito dinheiro no teatro.
de rio" para os ocupantes da arena. Aqueles Philip Henslowe fez fortuna com suas três ca ­
que pudessem custear um assento pagavam mu sas de espetáculos. Edivard Alleyn, então o
suplemento à entrada da galeria apropriada. mais famoso membro das companhias Lord
A receita da bilheteria ia para um fundo AdmiraFs c Lord Chambcrlain s e ator princi­
comum do qual cada ator recebia sua quota pal e empresário das peças de Shakespeare, re­
contratual. Lssa distribuição nem sempre era tirou-se do palco aos trinta e nove anos. como
pacífica, porém este primeiro sistema de par­ um homem rico. Dedicotr-se então ãs suas in­
ticipação nos lucros do teatro sobreviveu por clinações filantrópicas c fundou uni college.
séculos. Lm regra, pouca remuneração cabia Richard Burbage, decano da mais famosa
ao dramaturgo, a menos que ele fosse um mem­ família de atores da Inglaterra elizabetana, dis­
bro permanente da companhia u como ta! ti­ punha. segundo alguns, de uma substancial
vesse participação em todas as receitas. Caso renda proveniente das propriedades que pos­
contrário, ele vendia sua peça a um diretor, que suía. Lm comparação, a casa ent -Sliaiford-on-
então tirava tanto proveito quanto possível das Avna para a qual Shakespeare se retirou cm
apresentações. Conta-se que tudo o que Tlto- 161II - agora imi homem de renome e de situa­
mas Hevwood recebeu por sua |teça mais l,0_ ção fiiianeeiia confortável - parecia hasinme
pular, .1 IVririiíiu Kittrd \viih Kintinens. foi seis modesta
libras, enquanto Henslowc não pagou menos As irimpex dc meninos, dirigidas por mes­
do que seis libras e treze shiiting.t pelo traje de tres dc coroe professores diligentes,eram vis­
veludo negro da primeira atriz. tos mais como um estorvo pelas companhias
Hm geral, as motivações dos dramaturgos profissionais eli/.a bela nas. Grupos como The
eram as ■‘panelinhas'' e a rivalidade mútua. Children u) ihc Royal Chapei e The O iildren
Iinquaulo Shakespeare estava ocupado refor­ of St. Paufs L-onslituíam-se de rapazes canto­
mulando o Hamlet origina] de Thomas Kvd - res originalincitlc treinados para cantar no o fi­
linje desaparecido - em seu próprio herói trági­ cio divino. No decorrer do século XVI. eles
co, Ben Jonson se debruçava sobre uma tareia apareceram diante do público em apresenta­
similar. Lie estava adaptando o principal tra­ ções teatrais. Atuavam no Convcnt ol lhe
balho de Kyd. The Spanish Tnigeitic, que tam­ Blackfriai s na cidade, e por volta de 1600, num
bém envolve um tem» de vingança, a aparição teatro próprio. Seu público consistia em uni
de um íantasma e um» peça dentro da peça. 0 círculo de patrocinadores e amigos, e eles
tíaiuíet de Shakespeare foi encenado no Glohe gozavam da estim a tanto da corte como dos
no verão de 160(1, A peça conquistou Londres magistrados. Christopber Marlowe. cujos Tmn
c acabou fornecendo o mais representado he­ biirhtine llir G rrm e Doctor Fuustti* fortim
rói do teatro mundial. D esforço de Jonson encenados pela primeira vez pelos atores da
chegou tarde demais e caiu no esquecimento. Lonl Admirufs e da Lord Chamberlains. de­
O poder de atração de uma peça prepon­ sentendeu-se com os atores profissionais a res­
derava grandemente sobre a questão de sua on- peito de uma referência ás companhias de m e­
ninos e. a certa altura, pensou em confiar sua
■Os qin- íiL-avLimcm pc na pinlc illais b.H.il.l J*t Dhlo aos Qtildren - nina idéia não muno pru­
Ecairu. dente. em vista da paixão amorosa suicida da
. </o
r
H isto rio M ututtitl ,to T c ittro •

heroína. Mas as companhias de crianças po­ ludo moderado, pois alí- no próprio meio da caudal, tem­
diam scr bem aproveitadas na acirrada disputa pestade e. poderia dizer, lorvelinhc de lua |iaixão. deves
manter e mostrar aquela ienvpcrança que lorna suave e
para causar efeito. Ate Bett Jonsnn, na época
elegante a expressão. Oh!, ferc-mc a alma ler de ouvir
de sua comenda com Sliakespearc. houve por mo i obus In camarada, com uma ciionoc peruca. despe­
bem suprir os “fedelhos" com versos que ridi­ daçar unta paixão alé couceriê-la rm iranealhos. em far­
cularizavam o teatro de Shakespeare. rapos, fendendo os ouvidos do baixo povo, o qual. na
Mas Shakespeare. de soa parle, revidou, maior parle, sú se deixa comover, habiiuulmcole. por in­
compreensíveis pantumima c baralhada. (..,1 Nem lam-
em Hantiet: "apareceu unta ninhada de crian­
poucn sejas tiuudo demaist fHm-ii deixa que ico bom
ças, pintas na casca do ovo, cujas vozes dc senso seja leu guia. One :i ação responda à palavra e a
falsete se elevam tanto maís alto quanto mats palavra ã ação. pondo especial cuidado cm Rão ultrapas­
são aplaudidos Estão agora na moda e de tal sar os limiles da simplicidade da naiurezn. porque Tudo n
modo vociferam co atra os teatros vulgares (as­ que a ela se opuc, afasta-se igualmrnic do próprio tun da
une dramática, caju objetivo, [amo cm sua origem como
sim os chamam eles) que muita gente de espa­ nos tempos que conem, foi c c aprescriiar, por assim di­
da ã cinta ficou com medo da crítica de certas zer. um espelho à vida: mostrar á virituic suas próprias
penas de ganso e mal se atreve a pôr nli os feiçòes. ao vício sua verdadeira ima sem e a cada idade e
pés"*. geração sua lisiunomia c carseteiistieas. [ \ (/</.. r/iir/i

O medo das “penas de ganso" confirma a


importância atribuída á palavra falada c á dic­ Para cl eito externo. o \ atores podiam con­
ção clara, seja no verso poético ou no polémi­ tar com trajes coloridos e heqúemcmenle stin-
co. As ruhricas sugerem uma arte de represen­ inovos, e com os adereços pessoais e acessó­
tar sulilmenle refinada. Mas a declamaçâo rios de palco necessários, que poderiam ser
grandiloquente sem dúvida também estava lá. trazidos para o proscénio durante a peça e reti­
O palco descoberto, as galerias apinhadas e a rados novainente. Nos bastidores, um interior
multidão dc xmuntJlings no fosso exigiam o- e u m balcão eram providenciados. Se preciso,
brigatoriamente do ator uma voz penetrante c guindastes c alçapões estavam disponíveis,
gestos amplamente visíveis. listes eram indispensáveis, tanto para Sliakes-
James Burbage era famoso por seus po­ peare como para Calderón; gcralmente entra­
deres de expressão mesmo cm pantomima. vam cm ação com o acompanhamento de um
Mas, para ele, assini como para Edward Allcyn. som de trovão, que não só aumentava a tensão,
o grande momento chegava quando avança­ mas também encobria o rangido do muquinãrio.
vam alé a beira do palco c lançavam-se em um Mas n “cenário climático" precisava ser criado
grande solilóquio, ' Afogar o palco cm lágri­ pelo próprio ator. interpretando as palav ras do
mas e fender o ouvido comuin com terrível dramaturgo. Hle linha dc evocar a hora do dia.
discurso", tal era a ambição do ator elizahc- o sol que tinge o céu noturno de vermelho, "a
lann. Edward Allcyn. disse Bcn Jonson. havia aurora, envolta num manto avermelhado" (/</..
dominado tão perfeitameme essa arte. que nada ibirt.) surgindo atrás das montanhas do Leste e
jamais se afigurava exagerado ou artificial, c as estrelas brilhando no céu - apesar da pálida
ele parecia lotalinentc tomado pelo espírito dc c enevoada tarde londrina tas peças eram cm
sua personagem. geral apresentadas entre três e seis horas), não
Shakespeare usou o próprto palco parti obstante as nuvens ca negadas a trovejar e o
criticar o excesso patético, quando Hamlet ins- barulho inoportuno do Tàtriisa.
Imi os atores: O “cenário falado" é um iraço estilístico
crucial do palco elizabetano. .Shakespeare ma­
Dirc. por favor, tique la tirada lat cnmo a declamai, nipula-o com gênio. Os espanhóis Lope dc Ve-
m m desembaraço e naturalidade. mas se grilares, como
ga e Calderón não llte ficaram airás. É revelador
é de liãbiln etn tiuiuos de leus alares, inclina seria que eu
desse meu lesto para que n pieeueim público o apregoas­ que mesmo um teórica da /rogcV/fc clíi.ssit/itf
se. Nem seires iniiilo u ar eum a mão. riesic jejin. .Sê em francesa, que obedecia a leis lotalmenle dife­
rentes, reconhecesse a necessidade da conju­
* K x lra íd o da tra d u çã o ile I- C a rlo s de X C
ração poética do cenário. Lm seu iraiadn Im
M edeiros e Oscar Mendes. Liditora Nova Aguilar. IVSU Pmlu/itc (lu Thêâirc. o abade d' Auhignac exi­
IN d a T .) gia que odécor fosse explicado nos versos, “para

■ <2(1
4 K. |*nlco tiu lílsu de e s p e tá c u lo * R e d B u li. c it i L n iu J iv s . l ú o i i t i s f i i n n tlc The W to , d e P iu n c iv K ir k m jin , Iíi7 2 .
lh 'fíít M u n t l i o l tii* Trttlrt* ■

assim conectar a ação com o lugar e os even­ rece em meio a raios e trovões e um estrondo
tos com os objetos, e assim ligar todas as par­ surdo e confuso persegue as ninfas, que dan­
tes para formar um todo hem ordenado”. çam. O poeta diz adeus ao palco, que era seu
Seria um choque atroz se ocorresse a al­ mundo.
gum encenador combinar um canto de pássa­ "Agora os meus sortilégios estão todos
ro com as suaves palavras de amor: "Foi o rou­ desfeitos", diz Próspero com sabedoria melan­
xinol e não a cotovia” . As vezes. Sltakespeare cólica, e solicita ao espectador a sua prece e a
recorre à música quando quer acentuar um sua graça, "que assalta / até mesmo a mercê
contraste no clima. Em Romeu e Jiúiela, os mais alta. / apagando facilmente / as faltas dc
músicos param ubruptameme, quando a "ale­ toda gente. / Como quereis ser perdoados / de
gria dc casamento" transforma-se em “triste todos vossos pecados, / permite que sem vio­
velório". Em A Tempestade, Ariel entra, invi­ lência / me solte vossa indulgência".
sível, tocando e cantando, música solene e es­ Estes foram os últimos versos escritos por
tranha envolve Próspero: o banquete desapa­ Shakespeare.
O Barroco

In tro d u çã o tes. E assim como a arte barroca desabrochava


em teatralidade resplandecente, do mesmo
modo o absolutismo lutava por uma apoteose
O historiad o r de arte suíço U cinrich
grandiosa da soberania, e a Contra-Reforma
Woiftim caracierizou certa vezo barroco como
invocava todos os meios óticos e intelectuais
"a convulsão das formas renascentistas", A ob­
da arte do palco - assim também o teatro vivia
servação é liierulmenle confirmada pelos gran­
um momento dc extraordinária ascensão.
des botaréus com vulutas da Igreja de Santa
Palavra, rima, im agem, representação,
Maria delia Saiote em Veneza. Na era barroca
fantasmagoria c aplicações pedagógicas uniam-
a linearidade clara e clássica da Renascença
se agora à música, que emergia, de inero ele­
adquiriu apelo emocional, a linha reta - tanto
mento de acompanhamento do teatro, para uma
nas estruturas quanto no pensamento —dissol­
arte autónoma. O barroco viu o nascimento da
veu-se no ornamento, a clareza deu lugar à
ópera. Das cortes da Itália, a ópera seguiu em
abundância, a autoconfiança, à hipérbole. Os
marclia triunfal, levada pelo patrocínio de pa­
conceitos vestiram os trajes da alegoria, e a
pas. príncipes, reis e imperadores. Pintores e
realidade perdeli-se num reino dc ilusão. O
arquitetos se lhe entregavam. Romain Rolhmd
mundo se tornou um palco, a vida transfor­
descreveu o teatro musical do tempo do papa
mou-se numa representação, numa sequência
C lem ente IX com o um a paix ão doentia
de transformações. A ilusão da inftnilude pro­
(peissiort maladive). que exibia todos os sinto­
curou exorcizar os limites da breve existência
mas de uma loucura coletiva;
do homem na Terra.
O barroco reviveu a abundância alegórica Um papa compõe óperas e envia sunetus a pnm.i-
do fim da Idade Média e a enriqueceu com o dona». Os cardeais fazem o trabalho de libre tisras e cc»
mundanismo sensual da Renascença. Mas, ao nôgiafos: desenham (i guri aos ç organizam apt estimações
fundo da cena, a areia do tempo estava corren­ rcarmis. Salvator Rosa aum em com edias, liemini estre*
vc óperas, para as quais piiuu cenários, esculpe estátuas,
do, c o memcnto mori da Dança da Morte soa­
inventa nia|uiiiariúã\ ew reve o resto, tvitqxV j música c
va de novo. Os prazeres do mundo c a sombra fiuisirói o tCiitirt
da morte, coisas terrenas e coisas celestiais,
fluíam juntas teatral e espiritual mente, num Nos últimos dias da Renascença e nos pri­
grande crescendo. Uma era estava encenando meiros dias do período barroco, a sala de es­
a si mesma. petáculos lomou-se um dos mais importantes
Nunca, antes ou depois, uma época pin­ espaços de representação de qualquer palácio.
tou sua própria imagem eni cores tão exuberan­ Foram erguidos palcos no Vaticano em Roma.
ffisrònti M ít m lia t ii<t Ta cam *

no palácio Uffizi cm Florença, no Palais Royal ÓPERA E SlN G SP IE L


em Paris. Cercado pelo esplendor do castelo
de Versailles, a graça cadenciada da dança cor­ No ano de 1531. quando Galilcu Galilei.
tesã deu origem à arte do bailei. Ij i í s XIV apa­ aos dezessete anos, matriculou-se na Univer­
receu num figurino dourado dc raios de sol sidade de Pisa. seu pai Vineenzo publicou uma
como o jovem Roí Soteit, muito antes da his­ obra altamente erudita sobre teoria da música,
tória ter-lhe outorgado este nome. Rainhas fa­ Dmiógo deita Musica Antica e delia Moder­
ziam o papel de ninfas, príncipes e princesas na. Vineenzo Galilei, um matemático, era além
vestiam-sc de querubins - lanto no palco quan­ disso um uomo ttití versair no sentido comple-
to nas telas dos pintores. Para agradar à rainha 1o do ideal clássico, Foi ele quem dou o passo
Cristina da Suécia, o filósofo Rerté Descartes ousado que Vilnivto apenas ensaiara, ou seja,
escreveu um balé chamado O Nascimento da partir da lógica dos números para calcular o
Paz, que foi encenado no Castelo de Estocol­ segredo das notas musicais.
mo em 1649, logo após o término da Guerra Vineenzo pertencia ao cenáculo 11oren-
dos Trinta Anos. Enquanto isso, os atores am ­ tino de conde Gíovanni de' Bardi, um círculo
bulantes e a Comniédia deli'une serv iam dc académico. Seus membros passavam longas
ponte entre os campos inimigos. horas conversando sobre a doutrina aristotélica
Partindo da improvisada sala de espetá­ da música como parte essencial da tragédia.
culos dos patronos da arte, o passo seguinte Nessas discussões, embora procurassem de­
levou à casa de ópera independente e autóno­ monstrar com exemplos práticos a "dramati­
ma: o teatro arquitetonicamente ornamenta­ zação da música", também tinham por certo
do, com seu auditório de fileiras e galerias, em alia conta a arle da comedia. Bardi, com
com um camarote do soberano e articulado seu ,4mícn Fido ÍO Amigo Fiel) encenado em
de acordo com a hierarquia ãulica dos espec­ 1585 por Buomalenti, foi aclamado por toda
tadores. O palco assumiu a fornia de lanterna Florença. Este ainigo e patrono escolheu
mágica, emoldurado por um esplêndido arco Vineenzo como seu interlocutor no animado
no proscénio, C ariãiides suportavam ar- debate sobre a polifonia contemporânea e
quifraves, querubins seguravam cortinas de composição iiislrum ental. Enquanto Bardi
estuque. O recém-desenvolvido sistema de defendeu a posição mais moderada nesse diá­
bastidores laterais alternados possibilitava a logo, pois. afinal, devia a seus amigos, os mú­
ilusão de profundidade e as frequentes trocas sicos florentinos, a música festiva e os inter­
de cena. médios de dança de seu Amicn Fido, Vineenzo
Transformação é a palavra mágica do bar­ atacou com palavras duras a música cortês
roco. A metamorfose tornou-se o seu tema fa­ de seu tempo. Acusava-a de impropriedade e
vorito. inexaurível em suas potencialidades dc chamava-a dc ' prostituta depravada e sem pu­
exaltação gloriftcante. Vendo a Natureza como dor". Exigiu a subordinação da música à poe­
a grande manifestação de Deus, nas palavras sia e, como exemplo do que pretendia dizer
de Gtordano Bruno, o Homem agora emergia com slito reppreseniativo da composição do
como o encenador de si mesmo. Porém, "a futuro, musicou algumas passagens da Divi­
Vida é Sonho”. O universo é o grande teatro na Comédia de Danle e as lamentações de
do mundo cujos papéis são distribuídos pelo Jeremias.
mais poderoso dos mestres de cena. Calderón Em 1594, três anos depois da morte de
desnuda o avesso da hybris do barroco, num Vineenzo Galilei, a primeira obra no novo es­
símbolo apropriado de sua era: a imagem do tilo dramático foi encenada diante de um cír­
teatro no leatro. Quando seu mendigo recla culo pequeno e seleto em Florença. Foi esta a
ma que só u ele fora adjudicada “a obrigação famosa primeira ópera do mundo, Dafite. com
da pobreza", que ele não recebera nem cetro música de Jacopo Peri para um texto de Ottaviu
nem coroa, a resposta vem das mais profun­ Rimtccini e intermédios cantados de Giulio
das convicções da cosmovisão cristã: “Quan­ Caccini.
do um dia a cortina cair, você íe n soberano) Em 1597. numa reaprescmaçâo no palá­
serão iguais". cio do erudito florentino Jacopo Corsi, o anfi-
■ 324
* O B a rrn vo

trião, o compositor e o libretista foram felici- Era II RtipiiiieMo th Cefalo, de Giulio Cacei ni,
lados por uma plateia ilustre a propósito de que desla vez é eitado como único composi­
sua "revivifieação do drama antigo no espírito tor, Gabriele Chiabrera havia escrito o libreto,
da música". e Buontalenti mais uma vez criara os cenários.
O produto erudito de arte tinha, porém. afo­ As despesas foram custeadas pela cidade de
ra louváveis intenções, pouco em comum com Florença. Perto de quatro mil convidados, de
o drama da Antigtiidade. Mas, no fundamento acordo com u generosa contagem dos cronis­
de seu teor lírico-dramático ia ao encontro dos tas. admiraram os milagres cênicos revelados
esforços da peça pastoral, dos imeintethi e dos quando a cortina de seda vermeIIia ornamen­
irionfi. Com sua graciosa pintura sonora, trans­ tada se abriu: a carruagem dourada de Hélio,
figurou os campos cliseus de pastores e ninfas o trono magnifieenle de Júpiter, montanhas que
e absorveu suas canções corais, originaimente desapareciam no chão. baleias surgindo aqui
independentes, no novo slilo reppresenlarívo. e ali, terremotos assustadores e prados adorá­
Orfeu. o bardo da Trácia que lançava seu en­ veis restende n d o a perfume.
cantamento sobre árvores, rochas e animais sel­ Lançava-se a ópera em sua mareha triun­
vagens guiava a nova arte com sua lira. fal. com toda a luxuosa extravagância cênica
Peri e Rimiccini cooperaram ntais uma vez da arte du transformação cênica do palco no
numa “tragédia di musica’’ conjunta, para o inicio do barroco. Seus cenógrafos c encena­
casamento de Maria de Mediei e Henrique IV dores mostraram-se incansáveis na invenção
da França. Eles escolheram o tema de Orfeu e de mecanismos sempre novos, de puxar, voar
chamaram sua segunda ópera de Furúlice. Ela e deslizar para movimentar a multidão de fi­
foi encenada com grande esplendor em 9 de guras alegóricas que sufocavam o verdadeiro
fevereiro de 1600. no salão do Palazzo Pitti, tema da ópera.
Caecini iiovumenle contribuiu com algumas Levando-se em conta a variedade de te­
inserções cantadas, como Itavía leito em Duftte. mas da Antiguidade, é surpreendente a mo­
Jaeopo Peri cantou Orfeu, o papel de notonia com a qual os primeiros composito­
Ettrídice foi interpretado por Vittorta Arcliiiei. res de óperas se fixaram nos mesmos poucos
a celebrada soprano color atura da época. Pas­ ternas. Sem dúvida, os pioneiros do slilo
tores. ninfas e espíritos do inferno estavam re­ rappresentatieo percebiam o quanto era ques-
presentados no coro. encabeçado por um lionáve] sua interpretação musical do teatro
coreuta principal, conforme o exemplo da clássico. Por décatlas. agarraram-se aos dois
Antiguidade Rinuccini seguiu à risca u peça lenias que não podiam ser contestados por­
pastoral Orfca de Poliziano. mas uma vez que que ninguém conhecia nenhum melhor, ou
sua "tragédia"' pretendia ser uma celebração seja. Orfeu e Dafne. Nenhum texto teatral a
nupcial, ele concedeu-lhe um final feliz: Orfeu respeito de ambas as personagens nos foi
faz Plutão enlemecer-sc e é autori/ado a tra­ transmitido pelos dramaturgos gregos ou ro­
zer Eurídiee do Hades, de volta à vida. manos antigos.
O cenógrafo desta apresentação de gala. A D afne dc R inuccini foi uovamenle
provavelmente BuuntalentL tinha a tarefa de­ musicada em I óOS, desta vez pelo meslre-de-
safiadora de contrastar o cenário pastoral dos capeta fhiieiitino Marco da Gagliano. A nova
' maravilhosos campos" com os sombrios hor­ obra foi encenada a pedido do Duque Vjticettzo
rores do inferno, que. no final, são retransfnr- Gonzaga na cone de Mântua, onde prevalecia
tnados e voltam à limln cena pastoral. “Si ri- um alto padrão no cultivo lauto do teatro quan­
volgf Ia secnu. e lorna conte prima " f ‘A cena to da música. Já cm lóOI o príncipe havia in­
se transforma, e volta a ser como antes” ), con­ dicado. como maestro tli citppclla de sua coi-
forme Rinuccini especifica em sutis instruções le. o violistu e cantor Cláudio Monteverdi de
cênicas. Cabe supor que BuotHalcnh tenha tra­ Cremuna. Nas festividades do Carnaval de
balhado com os prismas rotatórios de madei­ IÓ0 7. Monte verdi surgiu pela primeira vez
ra. já utilizados cm 1535 no Amicn Fida. comn compositor. O iji*o era o tema e o título
Três dias depois de F.nrúUce. oulia ópera de sua obra. O texto, dc Alessandra Slriggio.
fui encenada na sala de espeiávtilns do Lifftzi. conservava o desfecho original. Orfeu olha para
H tstórta Mii n du tí W» Tc ti tro

trás ao deixar o Hades; Eurídice está perdida verdi, L 'Incorouaúone di Voppca (A Coroação
para ele. Apoio o consola asm a promessa de de Popéiu). Florença, Roma. Bologna, Génova
que os dois se encontrarão novamejite no ou­ e Módena logo seguiram o exemplo.
tro mundo. O espetáculo encerrava-sc com Ao norte dos Alpes. Salzburgo, Viena e Pra­
uma dança mourisca. ga adotaram a nova forma de arte. imcialmenle
Os primeiros admiradores da obra foram no quadro do teatro dos festivais da cone e com
os membros da Accademia degli Invaghili elencos de cantores predominantenirnte italia­
(Academia dos Apaixonados), que costuma­ nos. Ao poeta Martin Opitz e ao compositor
vam marcar seus encontros no palácio do du­ lieini ich Schiitz coube a glória de terem levado
que e que haviam recomendado a encenação. a primeira ópera em língua alemã - Dafiie. ba-
Conforme o desejo do duque, Orfeo foi reaprc- * seada nas obras de Rinuccini e Perl. e encenada
sentada na corte cm 24 de fevereiro c em l" de no castelo Hartenfels perlo de Torgau. por oca­
março daquele ano. A Itália inteira falava de sião do casamento da princesa Luise da Saxõnia
Monteverdi. Os admiradores do mestre esta­ e do landgrave Georg de Hesse-Darmstadl.
vam entusiasmados: era impossível, afirma­ Na corte de Viena, estreitos laços de fa­
vam, dar melhor expressão aos sentimentos da mília com a Itália asseguraram à ópera uma
alma na harmonia da poesia e da música do recepção hospitaleira. A imperatriz Eleonora,
que havia sido feito em Orfeo. esposa de Ferdínando II, que pertencia á casa
O grande lamento de Ariadne na segunda ducal dos Gonzaga em Mântua, recebeu as no­
ópera de Monteverdi, .4 rrír/mu, lornou-SC amais tícias dos últimos acontecimentos musicais em
famosa ária hcróic o dramática de seu tempo. A primeira mão, por assim dizer. Em 1627. ela
primeira a interpretar o papei foi Virgínia palrocinou a encenação de um dramma per
Andrcitu, cuja expressiva interpretação, como m u sica com personagens da C om m edia
lembram os cronistas, contribuiu muito para o d e iV a n e . apresentada no grande salão do
sucesso da apresentação inicial em 1603. A era l-fofburg em Viena. Monteverdi foi homena­
da prima danntt estava próxima. geado com uma encenação de sua Anaima.
Por cineo anos ainda, a estrela do nome Franccsco CavalN dedicou sua ópera Exista à
de Monteverdi brilharia sobre a cone de dinastia dos Habsburgos. O músico italiano
Mântua. Em 16)3, após a morte do duque Antonio Bertoli foi nomeado regente do coro
Vincenzo Gonzaga, Monteverdi aeeilou um da capela da Corte imperial.
convite de Veneza, onde. eomo diretor de mú­ Mas a magnificência cênica da casa de
sica em S. Marco, testemunhou, em 1637. a ópera de Viena dcu-sc com Gtovauni Bumaeini.
abertura da primeira casa de ópera pública, o um arquiteto c desenhista que provara seu gé­
Teatro di S. Cassiano. Seu fundador foi o nní • nio em Veneza e Mântua, e que Ferdínando III
sico, compositore libretista Bcnedetlo Ferrari, chamara para sua corte em 1651. Bumaeini
que havia escrito o texto para o espetáculo de fez sua estréia em 1652, com a montagem de
abertura, unia ópera chamada Andromeda.çom uma ópera chamada íkiftie, provavelmente a
música de Manelli. versão de Rinuccini-Feri. Um ano mais tarde,
A nova arte da ópera - termo usado pela pri­ impressionou a Dieta de Regensburg com uma
meira vez peio discípulo de Monteverdi. Erancesco construção improvisada para o festival, "um
Cavalli - utiediatamenle conquistou Veneza. teatro erigido simplesmente com tábuas, nas
Construir casas de ópera tomou-se um negócio dimensões e altura de urna igreja de tamanho
lucrativo. Ingressos baratos atraíam multidões de médio". Foi ajudado por seu filbo Ludovico,
espectadores. Quem quer que se desse alguma que logo em seguida sucedeu ao pai em Viena
importância alugava um camarote e fazia-se de e igualou-se □ e]e tanto em habilidade quanto
patrono. Dentro de poucos anos, Veneza possuía em fama.
meia dúzia de casas de ópera, que eram muitas Ludovico Bumaeini desenhou cenários,
vezes abertas simultaneamente durante a princi­ maquinaria de palco, canos alegóricos e figuri­
pal estação cênica, as semanas do Carnaval nos para mais de cento c cinquenta óperas, alem
Nápoles inaugurou sua primeira casa de de festivais aquáticos no lago do castelo Favo-
ópera em 1651. enm uma produção de Munte-• t ite. e de bates a cavalo, no estilo llorcnlinn.
• m
I . Interiur d j la ta dc ópeni de M uriquc. no Salvaioiplali. cu n^lrilfilii por Friíiircsco Saniuríni c inaugurada cm 1654.
O CuRuroic real ío i acrcsccnlodo cm 1685. por Domcnico c Gasparo Mauro. Gra\ura dc M ic b c l Wcning. 1686.

2. Apresonla^fwi no ur livre dii grtindc «>[>tT4 Afiftvtictt, I íit r it/ir c eii Aíaiutt , dc J. J. f'iix . mi EJiirquc K ivm ttc di* Viena.
I7]f>. C rij^ io de LCllirio J l' FenJinanJu e finHL|lpe C.liilli Billiena: gravura ilt F A Dielel.
3. Ludovicu Uiunacini; projeto de cenário para a ripem // P<mut d 'O w de ro d i e Sbarra, Viena. IriííR. R o ça d o inferno
com o barqueiro tarou to. G ravura de Mathiius Kiiiel

4. EspcliÍLtilo de £r L i tíe II Pcumt rí ‘t)rn ria ruua casa de ripera ile Viena, construída por l.udmico Uumncini em l(»6K
Na primeira fileira da plateia. t> impeiadoí Leopoldo I c Marcarei a com seu séquito- Gravura de Fran* (icffels ío edilicio
foi de.stai ido etu 1783*.
5. À r i s e t G t i íi it h è i', ópera de J. (1. I.uljy. levada em Versaille'-. 1740. com a Madanu: de Pumpndonr c o Visconde de
Rotmn nos papéis puncipiiis. B i*» de pena de C . N Cochiu. O Jovem

6. L 'O p e r a S e n t i imm kMlro veiuviano do sêuiJn X V III fim u ia tto cscoh A c Picim l.nnglii {M iláo. Mus*> IVatralc
j IEj i.
H is to r io M in tiiia t tfo T c tt im *

A nova casa de ópera de Viena foi aberta pecificomenie adequada à cone e à alta socie­
em junho de 1668 com u provado tema do dade. Nesta nova fomia teatral a parte princi­
trtonfo, de Páris e seu pomo de ouro. Nesta pal dizia respeito ã dança: o bailei de emir.
ocasião, Burnacini superou a si mesmo - e à Ele respondia ao reclamo de pompa da cone e
obra musicai também. Apresentou um gigan­ abria um infinito campo de ação para home­
tesco desfite de coros de deuses, piiorescanien- nagens magnííicamenle encenadas. Ao mes­
le agrupados; nuvens maciças que recuavam mo tempo, dava ao rei uma oportunidade de
para um fundo infinito e finalmente desliza­ exibir-se em sua mais adorável faceta, como o
vam para os lados, para revelar Júpiter em seu destinatário c patrocinador de todos os suntuo­
trono; ondas sobre ondas espumantes de um sos cortejos, masques, intermezzi e danças or­
mar cqalhado de navios; terríveis monstros ganizadas para o prazer da cone, em última
marinhos e ninfas delicadas —tudo isso sem instância, do povo.
dúvida prendeu mais a atenção da admirada O absolutismo encontrou no cortejo tea­
assistência festiva do que os esforços conipa- tral uma forma congenial de expressão. "Foi
raúvamente modestos dos cantores e da orques­ um remoinho e um êxtase - muita beleza c
tra. O ator que fazia o papel dc Páris teve a cultura, uma grande espirituosidade e pro­
honra de descer do palco, na apoteose final, e digalidade de riqueza e caráter", escreveu o
entregar o pomo dc ouro à jovem imperatriz historiador Veil Valenlin. "a mágica total da
Margareta. Ela o aceitou cotn um sorriso, não aventura, da vida improvisada, do espeláculo
menos lisonjeada do que a rainha EHzabclh da despreocupado com as questões mais sérias; a
Inglaterra se sentira um século antes, na apre­ sedutora atração do inal envolvia essas cortes
sentação da peça pastoral de George Peele. governadas peio absolutismo, e é por isto que
A ópera, nesse meio tempo, havia chegado elas eram sempre censuradas pelos teólogos,
ao pomo em que o próprio teatro, pretensa- mas admiradas c amadas pelos artistas".
mente seu servo, fazia-se seu mestre. A ópera Quando Ouavio Rinuccini e Giulio Cacei
era um mein para um fim. unta oportunidade ni. os dois pioneiros da ópera italiana, chega­
para a exibição da magia da decoração c ma ram a Paris em 1604, tiveram de começar a
quinaria barrocas. Quando I! Pomo d'Oro foi pensar em lemios compleiamcnte diferentes.
apresentada em Viena em 1668, sua música, O rei Henrique IV não desejava recitativos
composta por Marc Antonio Cesti, e seu estatuescos. mas. sim, a graça da dança. Ele
libreto, de autoria do jesuíta Francesco Sbarra. amava as "mascaradas-bulé". bailes a fantasia
tiveram um papel secundário, diante do suntuo­ dos quais toda a corte participava.
so cenário desenhado poi Ludovico Bumacim, Nem Rinuccini nem Caccini poderiam
sob cujo nome o espetáculo encontrou seu lu­ vencer na vida teatral francesa com seu drama
gar na história do teatro. per musica. Contudo, foram bem sucedidos ao
intercalar recitativos em estilo italiano no balé
da corte - primeiramente, nos versos recita­
O tiALl.ET DE COUK dos pela feiticeira Alcinc no bale do duque de
Vendômc, encenado em janeiro de 1610, uma
Plutareo, que certa vez descreveu a dança ocasião lembrada como evento teatral e corte­
como "poesia sem palavras”, foi uma das prin­ são memorável no reino de Henrique IV.
cipais autoridades invocadas por Baif e seus Mas o próprio nome que aparece no título
colaboradores em seus esforços para reviver o desse baile noturno às margens do Sena mos­
drama antigo. Na sua visão, a combinatória das tra que o evento correu mais sob a estrela da
quatro grandes formas de ;ule - música, poe­ graça real do que sob o signo de uma arte ca­
sia, dança e pintura - ofereciam a única possi­ paz de marcar época. O duque de Vendòine -
bilidade legítima de "expressar lodo, represen­ filho legitimado de Henrique IV e Gabrielle
tar tudo e ilustrar tudo. ate os mais profundos d'Estrées. um homem elegante, inteligente e
segredos da alma e da natureza". ambicioso - dingiu cie próprio o balé. com
Na fi ança, essa idéia renascentista de "fu­ três apresentações em uma semana. A primei­
são das artes" gerou uma forma de teatro es ra apresentação no grande salão de baile do
• 330
íi. Tomeiu na curte de U kvciu, em N íukv latqncs Calloi: ’l ,e Otmkit h la tljirriêre'’. Ií>27
9. Representação de gala da ópcrn A í c r s t t , dc Lully e Q uinauI i , no pátio do mármore de Versai lies, na abertura do
festival dc corte organizado uíi por Lu is XIV, em julho e agosto dc 1674. G ravura em cobre de Le Pauire, 1676.

10 t) tcalvo do castelo do Príncipe Srlnvarzenhcrg cm Ce.sky K iumlov. decorado pnr J. Wctschel e L. M erkel 11766-
I767j. Talco com cenário dc bastidores rcprc-seuiundu uma cidade e pano de fundo piniudo.
\ 1 Teatm do Castelo cm C cskv K n iin lo v vista dos bastidores tio lado esquerdo do palco.
H is lf ifr t t M u n d ia l tlíi T en irtt *

Louvre, em 12 de janeiro de 161(1. seguiram- Na verdade, cm 1653, l.uís XIV. então


se outras duas r.os dias 17 e IK du mesmo mês, com 15 anos, participou dc uma peça-dança
no Arsenal. O duque de Siilly, superintenden­ da corte, intitulada liallei de la Nuit (Bale tla
te de finanças, não quis ser lembrado por suas Noite), em que se apresentava como “o Rei-
medidas de poupança nessa ocasião e mandou Sol” flamante de ouro, mas cm seu reinado,
guarnecer o salão com dois palanques para Jean Bapliste Lully e Molière desenvolveram
espectadores e outros arranjos para o espetá­ uma nova forma de arte. nu qual a dança esta­
culo de bali!. va mais inliniíimenle do que antes ligada à
O rei e toda a sua corte homenagearam palavra. Eira a eomAiie-ballei, uma te inativa
Manseigitetir te Duc com sua presença: bem-sucedida de fundir o espírito da comédia
com a graça cortesã do ballet.de eour, e, para
Sua Majestmle cm 'Cu : i c. a rainha Maria dc Molière e sua companhia, uma chave para a
Media ç a rainha p.cccdc.Mc. Muíyud.clc. ao 'C.I lado. n benevolência de Sua Majestade, Um grande
delfim n::\ 'C.iu jue. c p.n i,-Klu u c.ociisào de suã.:, eslns
festival de teatro aconteceu em Versailles em
os |u :n .i|vs :■ p' iic s '.i' dc sn:isi;c real, c mures p inci­
des e |ii ius -'sus du reino, limcionáia» da coroa, duques, mato dc 1664. Sob o Irma dc Plaisirs d'lsle
marqueses, condes, hurõci, cavalheiros, nobres, as da­ Enckantêe (Prazeres da [lha Encantada). su­
mas da cone - lodos colocadec dc acordo cnel sua psIv:■ cederam-se duas semanas de torneios, banque­
cão c nièriin. O h . u-.:,k' s da çuu:. . u> ctolas dc Sua M -
tes, cortejos, fogos de artifício, bales e pasto­
jesladc. c aliás il- l-.-'. os aiqocjios uniiudos: ndcials lI c
policia com os inesiivs-Uv-cerimonia exícios s' pare
rais. Nesta ocasião Molière contribuiu com as
des, pani ,'MS. J.I qualquer I*U i i'\i,.ã i ou coiilusào, contediehiillcts Les Fâehettx in Vata (Os Im­
pertinentes em Vuux), Le Mariage Force (O
O bulé do duque de Vendóine foi um dos Casamento à Força) c La Princesse tVElide (A
últimos grandes festivais de (entro organiza­ Princesa d Elide).
dos no reino de Henrique IV, que morreu as­ Quando, em outubro de 1670. Luís XIV
sassinado em l i de maiode 1610 expressou o d esejo de ver encenada «m a
Seu filho Luís XI[I a princípio deixou Os imqiiertc - tudo o que era turco eslava alta-
ambições lentrais para sua mãe, Maria de mente cm ntixla na época - Molière o obse­
Mediei - que foi sua tutora e logrou também quiou cont uma comédie-M Iet, Le Bourgenis
fazer-se regente - e , ruais tarde, para o cardeal Centib/uvniue (O Burguês Fidalgo), a qual.
Richelieu, que. cm 1624, tomou as rédeas do com seus elementos da Commedia deli 'arte. è
destino da França. uma seqiiência cintilante de paródias de atua­
Richelieu encenou o suntuoso Bailei ele lidades sobre presunção de cultura e nioda. es­
Ia Fmspciilc des Armes ite la Frcmee (Bale tupidez e vaidade, canção pastoral e minueto
da Prosperidade das Armas da França) em ho­ na casa burguesa e, sobretudo, sobre os efei­
menagem ao casa! real. O espetáculo foi apre­ tos secundários do estabelecimento da embai­
sentado no recém-construído teatro do Palais xada otomana, cuja entrada em Paris poucos
Cardinal, e pela primeira vez a ação aconte­ anos antes havia provocado uma onda de pito­
ceu cxclnsivamenle no palco, deixando a pla­ rescas aberrações de gosto.
teia para os espectadores. O cenário foi m on­ “O Senhor sabe que o filho do Grão-Tur­
tado a partir dos bastidores laterais, segundo co está na cidade, não sabe?”, o criado Covieliu
o moilclu italiano, e algumas das máquinas, pergunta a Jourdain, o “burguês fidalgo", cuja
utilizadas para a abertura um mês antes, com filha ele conquista para o seu atno graças a uma
o drama Mirante, foram dessa vez utilizadas desenfreada mascarada. “Como, o Senhor não
para o bale. Como resultado, o bailei <in et/ttr sabia? Fie trouxe um séquito esplêndido, e todo
adquiriu uma forma inteiramente nova. Dora­ inundo foi lá para saudá-lo, e cie foi recebido
vante seria encenado exriusivamente m> pal­ por aqui tio país como convêm a um grande
co e, assim, separado do piso principal da sala, senhor".
o que significava uma divisão entre a dança O rei divertiu-se muito com esta obra-pri­
no palco v a dança áulica. Foi a primeira a- ma da comédia e não se ofendeu com as indis-
bordagem da dança profissional c du "Inilé farçadas alusões de Molière à sua própria di­
clássico". plomacia pió-iurca. No final, uma lembrança
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• O B a rro co

do ballet de cour. um pequeno bnlé de cau­ lanterna mágica, atrás do qual se escalonavam
ciones espanholas, duelos italianos, com seis pares de bastidores deslizantes. Assim
Arlecchino. SvaramucciaeTrivellmo ]slo per- Aleotti foi o primeiro a aumentar a área de atua­
miiiu uma irunsição ao festival de corte e deu ção cm profundidade até a parede dc fundo do
a Lully. parceiro de Molière, a oportunidade palco, característica do melhor período dn tea­
de contribuir com os ingredientes musicais e tro barroco e decisiva ruplura formal com a
de dança para a bem-succdida apresentação. área de ação transversal Uo proscénio da Re­
nascença.
Seis anos após a morte de Aleotti, Nicola
B astidores D eslizantes e Sahbattini, arquiteto de palcos em Pesaro, pu­
blicou um trabalho pioneiro em maquinaria
Maquinaria de Palco teatral, chamado Pratica di Fabricar Srenc c
Muchinc ne Teatri (Prática de Fabricar Cená­
Os bastidores em nível e deslizantes cons­ rios e Maquinarias no Teatro) ( 1638). Recor­
tituíram a grande novidade di> teatro barroco. rendo à sua própria experiência, ele requer,
A nova forma de decoração de palco veio da como primeiro piessuposto para tinja troca dc
Itália, e a partir de 1640 aproximadanicnlc cs- ccnárin funcional, um palco com bastante es­
pulhou-sc por Ioda a Europa. Sua invenção c paço, dc maneira que “atrás, ao lado. em cima
creditada a Battista Alçou i. arquiteto da corte c abaixo do fundo da cena e do cenário haja
dc Ferrara, que desenvolveu um sistema de espaço suficiente paru lodos os tipos de maqui­
mudança de cenário que diferia dos bastido­ naria que devam ser usados para o aparecimen­
res em ângulo e dos prismas giratórios de ma­ to de céu. temi. oceano e mundos infernais,
deira usados então, oferecendo possibilidades bem como para os necessários afastamentos e
ruais ricas do que os habituais três cenários aproximações". Em uníssono eom os bastido­
padrão do palco da Renascença. Esle novo res móveis, ele lambem modificou a cortina
cenário consistia cm uma serie lateral de ntol dc fundo com sua pintura em perspeeliva. sus-
duras de ripas revestidas de tela pintada que pendendo-u nu abaixando-a dentro de uni poço
deslizavam sobre irilhos. Sahe-se que foram arrás do palco.
usadas no Teatro Famese em Parma, construído íiiucnmo Torelli, que estabelecera n sis­
por Aleotti em 1618. Em 26 de julho, c regis­ tema de bastidores nivelados e deslizantes. foi
trado, "u scenti tragica ali estava, completa''. celebrado em Vcnc/a. Paris e Versai!les como
O bastidor em uivei havia chegado. O públi­ o "grande mágico" dn cenário barroco. Tecni­
co, todavia, não conseguiu ver a inovação se­ camente, a mágica dc Torelli residia no siste­
não dez anos depois, quando o Teatro Famese ma inventado por Alenlli e desenvolvido pelas
lhe foi inrdiamente aberto, em 1628. léenicas de Sabbidlini, Em Florença. Allonsn
Possivelmente. Aleoiti instalou um siste­ Farigi rcídizuu lima obra importante com ce­
ma similar dc troca de cenário no teatro que nas fantásticas em baslidores. Seu dvctn para
construiu em 1606 para a Aecademin Jegli La Flora (A Flora) 116281c Le A'nzzi r/eg/r Dei
Inircpidi (Academia dos Intrépidos) de Fer­ (As Núpcias dos Deuses) (16.17) introduziu no
rara, que gozara a fama na época de sei o mais lealro barroco as visões em profundidade que
belo teatro barroco da Itália, Ele pegou fogo l.udovico Burnavini levaria à perfeição na
em 1679, e os croquis que chegaram alé nós Opera de Viena.
não fornecem indicação correta do mecanis­ Enqunnlu isso, cm [jlm. Joseph Fiirllen-
mo da cenografia dc palco. baeh conlinuava usando o "mclodo correio de
O magnífico edifício de madeira do Tea­ transformação do palco", o coníiãvel sistema
tro Famese em Parma. que foi bombardeado ichiri que havia aprendido em Flnrciiça (por
na Segunda Guerra Mundial, consistia numa volla de 1620) com Guilio Pungi (pai dc AI-
sala de espectadores em turma de ferradura fonsol. O ícatro poi ele construído cm 1641
diante dc um palco, onde a poda rtftiti central no Bmderhof. em Ulm. que é descrito em por­
se alargava a fim de formar um arco dc menor no sen Moitithiilfler Kitntspiegel (publi­
proscénio para um palco interior, ou ilo tipo cado em 1661). possuía (rés pares de prismas
12. Projeici |>;3fj SciLi dc <-s|uii:it;it|í» cniu jwtcos. |H>r Josrph Furt(ehbuch Gravura tlu Munulmfíni
* O Bd rrttco

dc madeira, um para cada tipo convencional chada rio abaixo até Viena, onde u utilizaram
de cena. segundo Scrlio. Apesar desse “retro­ posteriomiente cm apresentações populares.
cesso", Funtenbach guarneceu seu palco com Foi o que Bóckler relatou ao c.vpm cm maté­
navios e monstros marinhos, que eram movi­ ria teatral, Funtenbach, sobre o "Teatro" dc
dos no fundo, ao longo de um poço à nioda Rumacini:
típica barroca, com sofilos pendentes que re­
Em 12 tlc fevereiro. Sua Majestade Imperial tez com
presentavam nuvens, com prospeclos móveis,
que fosse encenada uma comédia ex ire mame nle bela. ua
na parte de trás do palco, com luzes que po­ qual roais de duas m il c quinhentas pessoas tomaram par­
diam ser diminuídas para eleitos de ilumina­ le. O teairo é espaçoso e equipado com emeo Irocas de
ção e máquinas voadoras. Outra das ideias dc cena moiro bonitas, e. segundo sc alogu. custou Ib.OGO
Furttenbach. inteiramente no espírito do con­ coroas. O niesrrc que o construiu é chamado loliaun
ttum aciili. um Italiano, [fado que os italianos são muito
ceito barroco da necessária ilusão de profun­
sigilosos no que diz respeito a seus preciosos interesses
didade. fui seu dispositivo para, em casos es­ prdpnos. não pude ver o equipamento Mas. como sei
peciais, iluminar os espaços dos camarins atrás qoc o Sc ii I ioi é um perito nestes assunlos. im plom-lhc
do prnspectos do fundo do palco e incluí-los que me explique de que maneira as pessoas vão Ião rapi-
no quadro cênico para efeitos espetaculares. Jainente dc um lugar para outro, do palco pai a dentro
das no vens. ('onstnit um dispositivo movido poi um ha
Modesto como parecia ser por fora. estreito lanço. Porém, oâo sei se o seu funciono do mesmo modo.
como cra por dentro e mobiliado somente com
cadeiras planas e fileiras dc bancos, do ponto O s miraculosos truques da técnica cênica
de vista de seu construtor era comparável aos não eram compreendidos nem mesmo por co­
teatros posteriores das cortes de Schwelzingen, legas de ofício. Isto não somente explica por­
Hannover e Ludwigsburg do fim do barroco. que Furttenbach se limitava tão conservadora-
O teatro dc Funtenbach foi. na verdade, a mente aos seus lelari, mas tem um paralelo
primeira casa de espetáculos civil da Alemanha nos projetos cénicos do inglês litigo Jones.
(construída nas redondezas de onde oulrora Jones estivera em Florença mais ou menos ao
existira um monastério dominicano); perten­ mesmo tempo que Funtenbach e também ha­
cia aos munícipes da cidade. Servia ao teatro via estudado com Giulio Parigi, Assim como
escolar e aos Meisiersiiiger. como também a Furttenbadi, Inigo Jones obedeceu, por déca­
atores ambulantes ingleses e alemães. Em das. ao sistem a renascentista italiano dos
1652, Furttenbach vendeu todo o seu equipa prriaktai. Após 1640, entretanto, abandonou
mento de palco ptirn uma sociedade de come­ o csqucmuimno rígido dus prismas giratórios
diantes da sua Letnkircli natal, "leluri. apare de madeira com cetins diferentes cm cada face.
lhos, máquinas, figurinos, e. para resumir, tudo Passou a desenhar cenários de florestas revol­
o que lhe pertencia, por um preço baixo", como vidas por um olhar impressionista, que influ­
sabemos por seu diário manuscrito. O edifício enciaram. a partir do palco, o desenvolvimen­
foi ulilizado mnis tarde para outros fins e to da pintura da paisagem inglesa,
destruído na Segunda Guerra Mundial. Outro arquiteto de teatros dc sucesso des­
Enquanto Funtenbach se mostrava tão ge­ te tempo foi o veneziano Francesco Sutmirini.
nerosa mente informativo, outros cenógrafos Em 1650 ele foi chamado pela corte bavm iana
guardavam seus segredos com ruais ciúmes, em Munique, onde começou sua carreira ao
isto se evidencia numa c an a que Furilenbach construir uma casa de ópera em estilo italiano
recebeu em 1653 de Regensburg, datada de 17 nu lugar de um celeiro na praça Salvator. que
de fevereiro c assinada pelo engenheiro de foi inaugurada cm 1654. Santurini também
Frankfun. Georg An dicas Bóckler. Refere-se projetou os cenários, embora tenham sido con-
à famosa construção do teatro, erguido cm Re- fecciojKidos por Francesco Mauro, o ‘‘mestre
gensburg por Giovanm Burnueini com ajuda de maquinaria" do novo teatro. Mais tarde, os
de seu filho Ludovico. A instalação teatral ha­ filh o s de Francesco M auro. D ontcnico c
via sido encomendada pelo imperador Fcrdi- Gasparo. por sua vez. aplicaram bem o conhe­
Datido III cm homenagem à Dieta e. depois de cimento dc técnica teatral transmitido pelo pai.
terminada a celebração, foi cnldadosamenie no teatro de Munique. Alessandro, neto de
desmontada, carregaria em barcaças e despa­ Francesco Mauro, veio a Drcsden.ondc Juhann
H tstõ n a M u n d i a l d o Teau-o

Oswald Harms. o "pintor da corte e o inais Em 1748 Giuseppe Galli-Bibiena foi cha­
importante pimor de teatros" nascido enr Ham- mado a Bayreuih. Ali, juntamente com seu fi­
bttrgo, trouxera faina para o Teatro Saxão Bar lho Carlu, executou o projeto do interior, mo­
roco com seti suntuoso cenário de óperti e balé, bília e decoração da Ópera de Margrave. Na
Alessandro M amo aumentou o renome de reforma da Opera de Dresden, em 1750, pôs
Dresden com suas espetaculares e suntuosas en­ em ação seu ideal de fusão da sala de especta­
cenações de gala, gigantescos fogos de artifício dores e do palco. Em 1751, Frederico 0 Gran­
e festivais aquáticos. No espírito do alto barroco, de o chamou a Berlim, Ali, em 1756, Giuseppe
a característiea dominante dc todas essas produ­ Galli-Bibiena morreu, enquanto trabalhava
ções era o efeito sensível das mudanças de lua. numa ópera etn colaboração com o composi­
A arte do cenário em perspectinva barro­ tor Cari Heinrích Graun. Sua morte pôs fim à
c o - e sua exposição na escrila e na ilustração grande era do cenário teatral barroco.
- atingiu seu zénite nos trabalhos do jesuíta Três anos antes, "a mais preciosa jóia do
italiano Andrea Pozzo, Em seu tratado Pers- rococó" era concluída em Munique: oResidenz-
pectivae Pictonim cuque Archilectonan (Pers- theater dc François Cuvilliés, resplandecen­
peclivana Pintura e Arquitetural, publicado cm do cm branco, dourado e vermelho,
Roma em 1693, ele estabeleceu os preceitos
para os artistas do barroco e do rococó nas­
cente: a perspeclivu ilimitada, contínua, que o teatro J e s u ít a
dava a ilusão dc expansão infinita do espaço —
a ser conseguida por meio da pintura. Andrca A consagração da Igreja dc São Miguel em
Pozzo aplicou tais preceitos em afrescos, cm Munique culminou, em 1597, num espetáculo
aliares e, em Viena, nos projetos de arquitetu­ dc massa como nunca se havia visto antes na
ra para as celebrações jesuítas das grandes fes­ Baviera. Ao som de tambores e trombetas, cen­
tividades da Igreja, tenas de pailicipantes, em parte a pé c em parte
Na arte dos teatros e dos palcos, este pre­ a cavalo, uniram-se durante horas num gigan­
ceito foi realizado gcnialmente pela família dos tesco desfile dc grupos alegóricos: representa­
Galli-Bibienas. Mestres consumados na apli­ vam o Triunfo de São Miguel. Enviados do céu
cação dít per.specitva diagonal e no uso dc com e dragões das profundezas, idólatras, apóstatas,
plicadas escadarias, areadas c na arquitetura hereges e déspotas imperiais podiam ser vistos.
de palácios, criaram projetos de palco de pro­ A mostra concluía com uma cena tumultuosa,
fundidade ilimitada, superlativos iui tradição na qual trezentos demónios, dotados dc másca­
do palco ilusionista, levada até o século XIX ra e cauda, eram arremessados ao inferno. Esta
adentro, graças a artistas como Qiiaglio. Ga- memorável festa dc consagração da nova Igreja
gliardi e Fuenles. de São Miguel foi organizada pelo Colégio Je­
Giuseppe Galli-Bibiena, o mais famoso suíta. Imponente igreja, inspirada pela II Gesii
representante da família, desenhou cenários Je de Roma. ela foi a primeira construção do bar­
ópera em Viena, Dresden, Munique, Praga, roco inicial ao norte dos Alpes F.la conferiu ex­
Bayreuth, Veneza e Berlim. Em seus imponen­ pressão efetiva ao poder da Companhia de Je­
tes cenários ao ar livre, ele replasmava o jardim sus (fundada por Inácio dc Loyola em 1540) e
que Ibe era dado ou a locação arquitetural numa tomou-se um baluarte da Contra-Reforma. O
apoteose cm perspectiva na qual realidade e ilu­ teatro, tão comprovado em seu serviço da reli­
são se fundiam harmoniosa mente. Há uma sé­ gião quanto condenado como um perigo para a
rie de gravuras dc seus cenários para a ópera fé quando enveredado jxir trilhas erradas, en­
Constonzu r Ftmezza (Constância e Força j. que contrava patrocinadores decididos nos jesuítas.
foi encenada em 1723 no parque do Castelo Em toda pane, nas escolas latinas secundá­
Imperial dc Praga, em honra ao imperador rias, nos colégios da Socíetas Jesu, a arte da
Carlos VI [compunham uma polifonin ótica cuja retórica, a disjnttano na eloquência, era posta
giandiosa muo-sitliciência tomava quase para­ à prova no palco.
doxal esperai que uma orquestra e cantores pu­ O drama escolar protestante, em sim ma­
dessem ainda impor-se em ial cenário.* neira modesta, havia ajudado os defensores da

* <JS
13. Projeto de cenário de Inigo Jones poifl 3 peçn pastoral F ln r im ê n e . c . 1625 (Coleção d» Duque de Dcvonshirc.
Londres. OjurUuild Instituce o f Art),

'■rw. .JÊSkíã\
Í4 Giuscppc Galli-Bibicnu: apresentação de gala da grande ópera C o n s l a n z a e F & rtezzo* de J. J- Fux. no Cnslclo
Tmfbertal dc Praga, 1723, O palco ao ar livre, ladeado por duas torres e lim jindopor nove hasiidores, ábrc-sccrapeixpectiva
ilusionista em profundidade. As eorjjitNtçfíes arquitetônicas» no plano dc fundo, podem ser alteradas para combinar com a
tripla uocu dc cenários (Munique, Museu do Teatro).
■ S. Giuscppc Galli-Flihiciu; canário em pespeciiva diagonal para uma apresentação de jiala para a celebração do
casamento do príncipe eleitor da Saxõniu ínuiis tarde Kei Auguslo J)I) e da princesa austríaca Maria Josepbu. em Dívsdcn,
IV 19. Gravura de J. A. P fclíd.
■ O B a rro c o

Reforma a afiar o fio de sua navalha verbal -Ago­ O bávaro Jakob Balde, pregador e tutor
ra o teatro jesuíta, por outro lado, procurava da princesa, foi o autor de uma tragédia cha­
deliberudamente efeitos cênicos e endossava as mada Jeflias, apresentada em Ingolstadl em
artes que falavam aos olhos e ouvidos, à mente 1637. A narrativa bíblica e a herança cultura)
e aos sentidos. A palavra simples do púlpito foi humanística entrelaçam-se com as ideias mis­
superada pela representação viva no palco. 0 sionarias da Conlra-Refomia, e o tema apa­
poder do júbilo, ao qual a arquitetura da igreja rentado com o de Iligênia é apresentado dc
barroca devia tão decisivo estímulo, provou es­ modo a apontar simbolicamente para o sacri­
tar “em primeiro lugar cm efeitos frutíferos". fício e a morte dc Cristo. A caracterização ha­
Assim lemos no prefácio da edição de bilidosa da obra e sua construção dramática
1666 das peças de Jakob Bidermann, um jesuí­ são tais que, mesmo na época de Herder, ela
ta e dramaturgo do sul da Alemanha: mereceu comentários apreciativos.
Em Praga, os estudantes je s u íta s do
B sabido que C rtr /I ! .n n \ . qtie conto quase ncitltu- Clementinum encenaram um drama intitulado
ma iHitra peça sacudiu a plateia inteira com uma garga- Maria Sruurt, em 1644, que, com a ajuda de
Ihada tilo festiva a ponto dc os bancos quase desfihnrem,
uma rica alegoria, demonstrava quão vergo­
causou. ajjesaL" dinio. uma grande movimentação de pie­
dade veidadeirít nn espírito do cs|Xx ! íiiío i , dc modo nhoso era esse julgamento aos olhos dos cató­
us pOLicus horas devotadas a esta peça H/Cram o qui' tuna licos. No argimiensuni, um programa em ale­
centena de sermões dificilmente poderiam ter lei 10 . Por mão que explicava o significado e história das
que catorze homens da matx eminente ennc da Ruvána e peças jesuíticas para o público, a peça era cha­
da cidade de Munique foram tinidos por salutar temor a
mada uma "Tragédia Real”, ou “Maria Stuuri,
Deus, o severo juiz dos asos humanos, e nnn itmiro de-
poi* de a peça hav<i tètnmutdo. rei ira caiu-se eonosco para Rainha dos Escoceses c Hcrdeira do Reino da
OS exercícios Lltiidanoâ. e> cmno resultado disso, muitos Inglaterra, que Eiizabeth, a Rainha Regente da
ddesexpej imentiram uma conversão m iraculnsaí. .|. F:n- Inglaterra, mandou decapitar por ódio à reli­
tie àquele^ que se tciinuEmi pata os c.veJ cicios, irslykn o gião católica c por ambição". A. A. Haugwitz.
hmnem quu havia Feito o jKípcl de CcmxJo.xUh excqxiim
mil mente hem. í:()i recchtdo cm nossa Conipaitliirt uuo
o dramaturgo do alio barroco siiesiano, tomou
muito tempo íkfptu^. e viveu nela •[>.'11 muitos anos unta o mesmo tema em 1683 em sua tragédia M a­
i ida Ião sem pecado c suma que conseguiu 11 vitória ciei ria Staar t , baseando porém s e u tratamento nas
nu c :igor:t hjihitii entre os anjos sai?nulos. heróinas de (iryphius e Luhcnstcin, que, em
nome da fé, passam por duras provações, sem
O objetivo pedagógico e propagandistico discutir a questão da culpa.
fora atingido: catorze áuliens renunciaram ao O tratado teórico Ars No eu ArgunSianim
mundo. A Comico-Tmxoctlii) de Bidermann 11649). de Masenius, um professor jesuíta a-
dobre a vida vaidosa, a d a nação e a c ouve iasã u luanle em Rhineland e na Vestfáiia exerceu
do lelrado Cenodoxus, que mais larde íundou enorme influência no drama jesuítico da se­
a ordem cartesiana como São Biuno, tem o gunda metade do século XV] í. Jakob Maxell
apelo du perfeição real e suprema. Elementos ingressara na Companhia em 1629, e seus pró­
da comédia antiga misturam-se à alegoria cristã prios dram as contribuíram m uito para o
num todo eficaz. A peça ■encenada pela pri­ florescimento do teatro jesuíta na Alemanha
meira vez em Augsburg em 1602 e reapresen- setentrional. A sua tragicoiuédia, A ndro-
tada em 1609 no Colégio Jesuíta cm Munique phi/ns, foi concedida a honra dc ser encenada
com o sucesso missionário acima relatado - nas negociações de paz no fim da Cíucrra dos
foi o protólipo da fornia barroca da tragédia Trinta Anos, em Múnster, na Vestfáiia, em 1647
de mártires. Personagens da Bíblia, espeeial- e 1648. Sarmiis, outra peça deste autor, influen­
mcnle do Amigo Testamento, da história da ciou Milton na execução de seu grande épico
Igre ja e as lendas dos santos forneciam mate­ religioso Paratiise Lost (Paraíso Perdido).
rial que demonstrava a futilidade de todas as Ao lado dos jesuítas, as ordens dos piaris-
procuras terrenas diante da ameaça da dana- las e beneditinos promoveram o drama cm gran­
ção eterna; aqui o espectador era dispensado, de escala. A Akademiethcater em Salzburgo e
como em CouhIkxus, com a admoestação; o munastério beneditino em Kremsmúnsler tor­
M i m i t i d i s p e n s e g a tsd U s! naram-se grandes centros do teatro monástico
t - íis U m t i iI í h n tlto l íto f n r í n '

no alio barroco, sob Simnn Reltenbaclier. Ele Caesarei) que. a partir da metade do scculo
próprio, quando era professor de ginásio, es­ XVII. exaltaram a dinastia de Habsburgo no
creveu e compôs a música para cerca de vinte teatro. Tais projetos levaram o drama jesuítico
dramas em lalim. dos quais apenas uns pou­ muito alem dos limites do teatro de colégio c
cos foram impressos. escolar. A glorificação da dinastia reinante
Como as ordens religiosas pretendiam que havia garantido o generoso apoio desta últi­
seus dramas falassem não tanto 1 mente por ma. Para Pietas Vn trix. a conc providenciou o
meio da palavra, mas aos sentidos pela ima­ dinheiro, parte dos ligurinos e - a mais impor­
gem. os limites nacionais e de linguagem não tante de todas as ambiciosas fantasias cênicas
eram obstáculos. Se a apresentarão era em la­ de Avancini —os serviços do arquiteto de tea­
tim. o espectador podia seguir a ação com a tros Giov.mni Burnacini.
ajuda do Argumentam, escrito em sua própria O tema da Pietax Viarix de Avancini é a
língua. Além disso, flexíveis como eram. os vitória do imperador cristão Constantino so­
jesuítas sempre tentavam encorajar talentos bre o “imperador pagão” Maxêncio. Ambos
locais para suas propostas missionarias. Isto os governantes são guiados por visões em so­
se aplica mais partículannentc ao drama esco­ nhos: Pedro e Paulo fortalecem Constantino,
lar. Os ginásios jesuítas cm Liubliana. Krumlov o espírito do faraó incita Maxêncio coniru o
e Chomutov na cidade da coroação húngara. povo de Jeová. A batalha de Roma em 312 faz
Pressburgo. hoje Bratislava na Eslovãquia. e parte do enredo, assim como n sonho de
na Polónia, logo atraíram os dramaturgos lo­ Constantino ames da batalha, no qual. de acor­
cais. Por volta de 1628, foram encenadas pe­ do com a lenda, ele vê uinaeruz incandescente
ças em lalim em Pressburgo. inicialmente num no céu com as palavras "Hac xignti Yictorcris ‘
palco simples ao ar livre, e mais tarde em re­ —acontecendo ã direita do palco. Anjos emer
cintos fechados; em Tirnau, hoje Trnava. por gem dc colunas de fogo. os espíritos do infer­
outro lado. a lingua húngara lói usada no pal­ no intervêm na batalha, chamas bruxuleiam no
co do Colégio Jesuíta já cm 1633. Na Polónia, Tihre. Os soldados de Constantino constroem
ojesuíta Gregório Cnapíus dirigiu seu martirio- escadarias vivas, que seus companheiros es­
lógico e moralizame Exempla Dramttlica, ini­ calam até o lofxr dos muros da cidade, enquanto
ciou o desenvolvimento de um estilo étnico, no outro lado do palco uma batalha naval rai-
distinto, do drama polonês, que se espalhou vecc no Tihre. Mesmo para um técnico de cena
até cidades distantes como Pultusk. Vilnu e experiente corno Giovanni Burnacini isto não
Poznanv era um tnibalbo fácil.
Enquanto nas lenas distantes o drama mo­ Ofw-wtitt das dinâmicas de palco de Avan­
nástica sc contentou por um longo temjxi com cini era estillsticaineiite significantc. na medi­
um palco neutro erguido no pálio do colégio, na da em que trabalhava de modo consistente com
sala de reuniões (aula) e !i$ vezes até mesmo o deslocamento tipicamente barroco da freme
numa igreja, o teatro jesuíta na terra natal da para o fundo do palco. A visão onírica dc Cons-
Companhia logo proveu a si mesmo de hrdos os tunlino acontecia na retaguarda do palco c. ao
meios existentes de ilusionismo. acordar, cie caminhava para a fic-nlc a fim dc
Em Viena, Nikolaus de Avancini escreveu proferir um glande monólogo; enquanto isso.
alegorias e milagres para os quais exigiu a a cortina caía para esconder a iransformação
magia completa da decoração e transformação que ocorria atrás. Este ritmo espaiitosameiite
cênicas do barroco: iluminação e fogos, deu­ teatral de "frente" o de "trás" pode ser traçado
ses, fantasmas e demónios, com interlúdios dc ao longo de toda a peça.
música c insertos de bale, e outros veículos do P iftti.v Wrrri.v terminava cum uma apoteo­
barroco. Sua peça Pietas Virtrix foi apresenta­ se barroca no estilo das Ltttli Cursarei, mos­
da diante do imperador Leopoldo I. em Viena, trando o im perador Constammo entroiiado
em 1659. Esta apresentação fui o clímax da como vencedor, rodeado por seus súditos e
contribuição da ordem jesuíta para o "eston­ abençoado por um anjo que flutuava numa nu­
teante esplendor do catolicismo barroco", den­ vem. O arco triunfal dc irès portais atrás ilo
tre todas as peças imperiais panegíricas (Ludi trono, decorado com a dupla águia dos llulis-

■ 142
17. /'t tw v iiiíi D iw tv x w c tu ii, I kiJc thí.s f.iu tt i 't f r . \ n m mítuniiN,. lia corte im perial <ie h jy v , cr» IM 7
tlisiórta M undial do T eatro *

burgos, (ornavam a quintessência da peça cla­ A questão do tempo que o dramaturgo


ra até mesmo para aqueles que não eram capa­ pode conceder à ação dramática e a do lugar
zes de compreender a totalidade do texto ern da cena é discutida com grande minúcia na
latim: o império cristão dos Habsburgos basea­ Pratique du Théaire (Prática do Teatro) do aba­
va-se na vitória de Constantino, Nove gravu­ de François Hedelin d Aubignac. O cardeal
ras de cenas da Pietas Victrix estão conserva­ Richelieu, não menos meticuloso como admi­
das e mostram o quanto este drama, com seus nistrador do capital intelectual do que o era
interlúdios de coral e balé, estava próximo da em relação aos bens económicos, fundou a fu­
ópera barroca. mosa Sociedade dos Cinco Autores, para in­
Na França, o teatro jesuíta harmonizava, vestigar e experimentar as regras teóricas em
no princípio, com o gosto da corte pela ópera e um trabalho conjunto. Entre os indicados por
balé. A densa rede de escolas e colégios da Com­ Richelieu para formar esta sociedade éstava um
panhia dc Jesus garantiram o grande alcance de jovem advogado de Rouen, que conseguira seu
sua influência no desenvolvimento do teatro. Al­ primeiro sucesso teatral em Paris, em 1629 -
gumas das obras teóricas fundamentais foram Pierrc Comeille.
produzidas em círculos jesuítas, O padre Um ano antes, Comeille havia encontra­
M énéstrier escreveu a primeira história e do, em Rouen, o ator e empresário Mondory,
metodologia do balé francês, e a Perxpective que lá realizava espetáculos sob uma licença
Pratique (Perspecliva Prática) do padre Jean provincial concedida por Richelieu. Mondory
Dubrcuil foi uma importante contribuição para começara sua carreira como membro da com­
o desenvolvimento da perspecliva de palco, panhia de Valleran-Lecomte e, tal como o seu
Mais do que isso, da escola da influente antigo patrão, representava um vínculo entre
Societas Jesu, vieram os maiores escritores os teatros tardo-medieval e humanista, e a
clássicos franceses: Comeille, Molière, Voltaire imipção da grande época do drama clássico
e Le Sage. francês. F-m Paris. Mondory partilhou de in í­
cio com os cinntidiens italiens o tradicional
teatro do Hotel de Bourgogne, que pertencia à
F R A N Ç A : T R A G É D I A O . Á S S i C A F. Confréric de la Passion. mas, em 1634, trans­
feriu-se com sua companhia para uma sede
C o m é d ia d e C a r a c t e r e s própria, na Vicille Ruc du Tcmple no bairro
do Marais, em Paris. Este novo Thcãtre du
Desde que Aldus Manulius publicara o Marais estava destinado a tomar-se um dos três
texto grego original da Poética de Arislóteles esteios da vida teatral parisiense.
em sua prensa veneziana em 1508. o afluxo O repertório de Mondory consistia em
de comentários eruditos a respeito desta obra pastorais c tragieoinédias. do prolífico escri­
nunca cessou. Na França do século XVII. as­ tor de peças Alexandre Hardy, de tragédias ins­
sumiu proporções torrenciais. O problema mais piradas em Sêneca, de autoria do advogada cri­
discutido c controvertido era o apresentado minal Robert Garnier. de adaptações dc Plauio
pela regra das três unidades, que Aristóteles e Terêncio e, finalmente, de peças alegóricas
dc modo algum havia estabelecido tão inequi- bíblicas. F,ra um conjunto que correspondia ao
vocadamentc quanto seus intérpretes posterio­ programa do teatro da corte e do teatro ama­
res alegavam. Todos concordavam sobre a dor acadêmico. Quando, em 1628, o advoga­
requerida unidade de ação - porém, cm rela­ do de vinte e oito anos, Pierre Comeille. lhe
ção à unidade de lugar e a unidade dc tempo - ofereceu em Rouen uma comédia que havia
“unta revolução solar ou pouco mais" - , não escrito, Mondory concordou imediatamente
se sabia se deveriam ou não, e em que exten­ em estreá-la em Paris. Chamava-se Melite ou
são, ser consideradas igualmente obrigatórias. les Fausses Letfrest (Mélete ou as Cartas Fal­
Esta última questão estava no cerne dos deba­ sas), e era uma peça inteligente e elegante à
tes teóricos que formavam o clima intelectual moda espanhola, de acordo com o gosto da
no qual a fragédie dassique francesa sc de­ época. Seu sucesso abriu ao jovem e promis­
senvolveu. sor autor as portas da aristocracia parisiense, e
• 344
• O fía r m c o

trouxe-lhe a honrosa indicação para a Socie­ teto Le Mercier para equipar o palco de seu
dade dos Cinco Autores, de Richclieu. palais urbano com lodos os mecanismos trans­
Richelieu encarregou este grupo de escre­ formadores da maquinaria cênica barroca.
ver em conjunto peças sobre um lema datio, Lima dispendiosa cortina de tecido escondia o
cada autor um ato, e estritamente de acordo Aécor de bastidores escalonados em perspec-
com a regra aristotélica das três unidades. (iva que, ao ser suspensa, revelava o cenário
Comeille obedientemente contribuiu para a de George Buffequin em atmosferas variadas,
Comedi e des Tuilerics, que foi elaborada em com iluminação mutante dc acordo com a hora
1635 por este método. Ele tinha grande espe­ do dia desejada. A peça era Mi mine. hoje es­
rança de vir a ocupar uma cadeira na Acadé- quecida. assim como o grupo de dramaturgos
mie Française. que havia sido fundada por recrutado para escrevê-la. Diz-se que o pró­
R ichelieu. Sua prim eita tragédia, M édée prio Richelieu teria assinado como autor. Na
(Medeia), também se mantinha fiel ao esque­ apresentação dc balé que se seguiu a Mirame,
ma clássico. Porém, um ano mais tarde, Cor- relatam os registros, o novo teatro exibiu seus
neille viu-sc privado das poderosas graças do assombrosos e engenhosos dispositivos de
cardeal devido a um acesso de gênio dramáti­ transformação.
co. Ele pôs em cena um tema que transgredia Comeille precisou esperar o devido reco­
todas as regras acadêmicas. De uma fome es­ nhecimento até 1647, quando finalmenie foi
panhola. Aíocedades dei Cid. Comeille criou admitido na Academia Francesa. No entre­
Le Cid, o jovem herói ideal, ardente de am ore meio, escreveu os dramas históricos Horace,
paixão, coragem c espírito de luta. Nenhum Ciinm c Polyencte, nos quais se Submeteu aos
palco francês ouvira antes linguagem poética princípios acadêmicos da íonna. Sua Andro-
de tal força. mède foi encenada em Paris no Petit Bourbon
Le Cid tomou-se o idolo da geração jo ­ durante as semanas do Carnaval de 1650, conr
vem. O teatro rompeu suacasca dc cstcticismo os mui afamados bastidores em cena criados
conservador, e voaram faíscas. O drama de por Torelli em 1647 para a representação de
Comeille, que foi montado pela primeira vez Orfeo em Paris. O privilégio do reaproveita-
em 1636 no Théalre du Matais, desencadeou mento de adereços de ópera sugere que mes­
uma onda de entusiasmo. A jettnesse de Fraiu e mo em Paris uma eventual economia de recur­
viu sua própria glorificação na postura resolu­ sos não era desprezada no campo das artes.
ta de dom Rodrigo no fatídico conflito entre a Mas havia a contradição de estilos. A ópera da
honra e o amor. O Cid espanhol tom ou-se o corte da França trazia n marca da arte teatral
herói nacional francês. do barroco italiano, A fm g é d ie e h is s it/ n e , por
Mas Comeille foi severamente censurado outro lado, era, do ponto dc vista da lingua­
por seus colegas dramaturgos. Eles o acusavam gem. um tem perado tóul linltas classicistas,
de ofensas imperdoáveis às leis da moralidade e como nas pi nl urus em antiqúe dc Foussin. Sua
da verossimilhança. As temerárias mudanças de força emocional cra expressão, não de senti-
cena. a unidade de lugar c de ação ditada não mentos transbordantes. masdeunifl escala cui­
por um princípio, mas por unin disposição poc- dadosa mente graduada. “Espectadores glaciais
tica, contradiziam toda o sua penosamente pra­ de sua própria fúria, professores dc sua pai­
ticada arte regrada. Amigos e adversários toma­ xão". definiu Schil ler cena vez as personagens
vam partido na disputa. Uma cauda! de panfle­ da tragédie ciassiqtte francesa.
tos manteve a controvérsia acesa por meses. Em As regias do verso alexandrino (a linha
nome de Richelieu. a Academia Francesa con­ iâmbica dc doze sílabas, cujo nome se origina
denou o dramaturgo e sua obra. dos versos utilizados num velho romance fran­
D esiludido, C om eille rei irou-se para cês sobre Alexandre, o Grande), com sua rigi­
Rouen. E assim deixou de figurar entre os con­ dez anliiética, determinavam o ritmo do ver­
vidados de honra no mais resplandecente dos so. Por uma regra correspondente, o número
eventos teatrais du Paris de sua época - a aber­ de atos devia ser obrigatoriamente cinco, sen­
tura da nova sala dc espetáculos no Pulais Car­ do o terceiro seu eixo central. A ligação das
dinal em 1641. Richelieu convocam o arqui­ cenas era indispensável; quando uma persn-
tlis tò tiii M tin tlia l 4i> T eutrp •

nagem deixava o palco, tinha de estabelecer a criar um lugar no palco que não seja nem o
lima conexão com a cena seguinte, mesmo que quarto de Cleópatra, nem ode Rodogune na peça
fosse com frases Ião banais como: "Masquem eoin título, nem o de Focas. Leuntina ou
vejo chegar'.' A rainha se aproxima. É preciso Pulquério em Hcrtu linis iHcrãclio). mas um
que eu me vá tapidameme" espaço sobre o qual estes diferentes aposentos
Corneille c, melhor ainda, seu jovem con­ se abram...”
temporâneo e rival Jean Racine conduziam o Tanto as Figuras dramáticas de Corneille
verso alexandrino com elegância soberana Por como as de Racine loram dominadas pela sun­
vinte anos, disputaram entre si quem seria o tuosidade dos figurinos barrocos. Entravam em
mestre da tragédie dassique. Quando Racinc sapatos de Crinoluia e com fivelas. Polyeucto
estreou em 1664 com sua peça La Thébáide tirava o chapéu emplumado para rezar, e será
(A Tebaida), Corneille havia começado a re­ preciso Diderot para que alguém encontre en­
gistrar a colheita de sua experiência anterior. sejo para louvar uma atriz - Mlle Clairon -
Ein Discoun di’j> Tm is Unitès (Discurso das pela tentativa de representar realisticamente o
Três Unidades) e na autocrítica Examen incluí­ desespero. Alem disso, na cpoca da tragédia
da na edição de 1660 de suas obras completas, clássica francesa, ganhou terreno o hábito no­
curvou-sc à reprovação por ter feito mudan­ civo de dar a espectadores dispostos a pagar
ças de cena demais e muito arbitrariamente em lugares privilegiados no palco, um abuso do
Le Cid. Quão afastado estava, então, de Lope qual ninguém antes de Vollaire conseguiu se
de Vega, que zombou dos pedantes masísteres livrar.
e desafiou as regras aristolélicas - e quão afas­ Jean Racine. filho de um advogado c dis­
tado estava, também, de Le Soulier de Saiin cípulo dos jansenistas de Port-Royal, deve seus
(A Sapatilha de Cetim) de Claudcl, que tão primeiros sucessos no palco - Im Thêbnide (A
imagiualivantente se deleitava na plenitude cé­ Tebaida) em 1664 c Alexandre le Grand (Ale­
nica do drama espanhol harroco. Apenas o ab­ xandre, o Grande) cm 1665 - a um empresá­
soluta mente essencial deveria ser mostrado no rio teatral c colega dramaturgo cujo nome co­
palco, declarou Racíne no prefácio ao M i l h r i - nheceu uma subida meteórica como o do pró­
date. prio Racine: Molière. Controvérsias pessoais
A coerção auto-impostít de linguagem e e rivalidades pelos favores da atriz Du Pare le­
lugar da tragédie clnssiqne, à qual mesmo Vol- varam Racine a enlregar sua Andrnmaqite
taire ainda se sentia obrigado, linha seu con­ (Andrómaca) e ns tiranias subseqiientcs aos
traponto na eslilização deliberada do mundo e rivais de Molière, a companhia do Hõtel de
da imagem humana, que só ela parecia apro­ Bomgngiie. Foi aqui. tio venerável e ancestral
priada à exigência ética. "Doravante, as per­ berço da tradição teatral de Paris, que o gran­
sonagens do palco clássico francês são atrela­ de estilo declamatório da tragédie classiqite
das como trabalhadores da empreitada tio e s­ se desenvolveu. Este foi o solo no qual se en­
quema de tempo da ação e, acorrentadas à es­ raizou o “sublime ai!" que Racinc exigia de
taca de suas próprias crises, devem deixar sua suas personagens em um grito melricamente
alma nua" (Karl Vossier) temperado. Racine não via a regra arislotélica
Em questões técnicas, Corneille sempre das três unidades como uma imposição árida,
se submeteu ao sistema do palco barroco. Ape­ formal, a ser aceita du má vontade - mas como
sar de toda n sua atrevida ir regularidade, mes­ uma estrita concepção drumatúigiea que c o
mo Ij ? Cid além-se ao princípio barroco do pressuposto necessário para a imensidade psi­
palco frontal e posterior. O palácio imperial cológica.
ao fundo permanece constante, enquanto u pla­ O conflito de consciência de Berenice, o
taforma livre à sua frente permite todas as tormento d'alma em Milhridnre. ambos decla­
mudanças necessárias de cena. "Os juristas mados em grandes e ariosos monólogos, difi­
admitem certas licções de lei", Corneille es­ cilmente requeriam algum cenário. Até hoje
creveu em seu discurso sobre as três unidades fascinam qualquer frequentador de teatros em
aristotélicus, “c eu pretendo seguir seu exemplo Paris, preservados das agruras do tempo como
e introduzir cenas ficções de teatro, de maneira estão, no grandiloquente estilo da Comcdte
• 346
+ O B arro co

Française, Nenhuma outra língua, nenhum Madeleine Béjart e assumiu o nome artístico
outro dramaturgo, jam ais fez o metro alexan­ de Moliêre, Representou num salão perto da
drino obter poder tão majestoso. Porte de Nislc e em uma quadra de jogo de
Em sete prodigiosas tragédias, contundo- péla. Toí detido por dívida em uma prisão para
se de Androinuipie a Rhédre (Fedra), Racine devedores e manteve viva sua paixão pelo tea­
percorre a gama de sua experiência moral e tro ao longo de anos de pobreza enquanto ex-
artística. Sua admissão à Aeadémie Française cursionava pelas províncias.
reforçou o seu prestígio público, mas sua Em 24 de outubro de 1658, veio a grande
autoconfiança fot minada por violentos atritos oportunidade com a qual qualquer diretor de
com os jansetiistas, que detestavam o teatro. companhia sonhava: Moliêre e seu conjunto
Após uma intriga de corte que restringiu sen­ apresentaram-se no Louvre diante do rei, O
sivelmente o sucesso de sua Phèdre, pela apre­ programa consistia na Ntcomède de Comeillc,
sentação de uma peça rival de mesmo título, e seguida da farsa do próprio Moliêre, Le Dépit
após seu rom pim ento com a atriz Mlle de Amoureux (A Decepção Amorosa), A peça
Chumpmeslé, ele se afastou do teatro por doze principal redundou em um fracasso, mas a di­
anos. vertida inlrigaque se lhe seguiu e seu a u to r-e
Um novo interesse por questões religio­ intérprete - foram calorosamenle aplaudidos
sas reconciliou Racine com Port-Royal. A ati­ por Luís XIV e sua corte.
va Madame de Mainlenon. esposa morganática A feliz ocasião trouxe uma consequência.
do envelhecido Roi So/eil, conseguiu (inalmcn- O jovem rei, ainda sob a tutela de Mazarin nas
le reconquistar Racine paro o palco. Um 1689, questões de Estado, agradou-se em ser patrono
ele escreveu a tragédia bíblica Esther para a do teatro. Moliêre e sua iion/ie tornaram-se
Maison de Snint Cyr, pcnsiontiUi fundado por uma companhia de atores oficiais de “Mon-
Mme De Mainlenon para a educação de meni­ síeur de frêre unique du Roi". e receberam pri­
nas polires da nobreza arruinada, e, dois anos meiro o palco do Petit Bourbon e mais tarde,
mais tarde, Athaiie, uma tragédia baseada no cm 1661, o Palais Royal. Sob o sol da benevo­
Livro dos Reis, com um papel-título que, à lência rea], Moliêre começou a colaborar com
época de Voltatre, ainda era cobiçado pelas Lully. e juntos criaram a comédie-baltel para
atrizes trágicas. o divertimento da sociedade da corte. O “esprit
Ao longo de poucas décadas, a m igfdie gaulois" (espírito gaulês) com o qual Moliêre
dassiqur havia erguido a fama do teatro bar­ contribuía para essas brincadeiras de come­
roco francês a alturas literárias estonteantes, diantes serviu de abertura para a arte elevada
que levou também Moliêre a arriscar sua pena tla comédia dc caráter.
no gênero Em 1661 ele escreveu um drama Em Êcole des Mar is (Escola de Maridos),
heroico chamado Don Garc ia tk‘ Navarre ou em 1661, Moliêre extrai seu lenia do Adciphi
Le Prínce Jaioitx. A peça teve uma pobre car­ de Tcrêncio, mas um ano depois, na peça que
teira de sete apresentações e ensinou-lhe que lhe faz par L 'Écale des Fentmes {Escola dc Mu­
sua força residia em outro campo. lheres'). ele usou como modelo e confiou in-
No mesmo ano, 1661, o rei cedeu a Moliè- leirameute em sua própria perspicácia, quamo
re e sua companhia o teatro do Palais Royal, à crítica de época. Durante dez criativos anos,
outrora o Faiais Cardinal de Richeíieu, em re­ numa obra-prima após ouírn. Moliêre decla­
conhecimento aos longos e duros esforços a rou guerra aos hipócritas, fanãlicos e invejo­
Serviço tio teatro. Foi aqui que a contiapartc e sos. ou a quem mais a carapuça servisse. Dois
pendam da iragcdie classiqiic desenvolveu-se anos antes, em 1659, Paris inteira havia perce­
como a huuie coutrdu’. a comédia clássica fran­ bido, em Les Précicases Ridicutes (As Precio­
cesa. Seu gênio soberano foi Moliêre, Desde sas Ridículas), a sátira subjacente ao afetado
1648, Jcan Baplisle Foquelin, filho de um círculo literário do Hôtel de Rambouillct. Ele
lapeceiro c valete real, discípulo dos jesuítas e não poupou nem sequer seus atores rivais do
estudante de direito graduado, dedicuva-sc ao Hôtel de Bourgogtie, como descobriram em
teatro Fundou a companhia l.'l Ilustre Théâtte 1668 por ocastâo do L'lmpn»iiptii dc Versailies
(O Teatro Ilustre) jiuirauiente com a atriz iO Improviso de Versailles).

■ -M 7
18. Sala de teatro do Pulais Cardinal em Paris - os convidados de honra. incluindo o CanieaJ Richelicu. o R d Lufa XH1,
a Rainha c o Delfim. Gravura de Lodwin. anterior a 1642, segundo lima g r i s a i t t e (pintura escura ou cinzenta) agora no
Musèc des Artfc Décnraiifs «m Paris.
O fíarroeo

A competição era aguda, c não foi fácil critica social e moral, tttas também os desen­
para a companhia de Molière manicr-.se em ganos pessoais ile Molière. O casamento ins­
face das duas comprovadas casas teatrais, o tável com Amtandc Béjart. filha de Madeleinc.
Hòtcl de Bourgogne, onde a grande tragédia solapou sua saúde. A proposta de eleição para
clássica imperava, c oThéalrc du Marais. com a Acadéinic Françaisc não foi adiante, porque
suas comédias recreativas. Em adição, havia a significaria abandonar o palco, e isto parecia-
com édie italtenne, adaptação francesa da lhe um preço alto demais (tela honra. Era tão
Comntedia deli'arte, também autorizada a re­ apaixonado com o comediante quanto como
presentar quatro vezes por semana. comediógrafo. Como autor, escrevia para o
Molière expôs-se à hostilidade dos círcu­ ator; conto ator. guiava a pena do autor.
los clericais c literários. Os ataques mais vio­ Molière foi profundamente influenciado
lentos foram dirigidos a Le Tartuffe (O Tartu­ pela comédie italienne. Baseava sua atuação
fo). Intrigas de corte c rivais, más-tínguas c em Tibcrío Fiorilli. o famoso Scaramuccia: sua
irritadas reações dos ofendidos resultaram na tmupe e os italianos representaram durame um
proibição de aprcsenlá-lo ao público: só de­ período o mesmo teatro, c a linhagem de tipos
pois de vinte anos de um cabo-dc-gucrra da Comntedia deli'arte forneceram-lhe con­
exasperante conseguiu Molière mostrar a peça tornos, e às vezes até nomes, de susis próprias
às plateias em geral. personagens. Molière. porém, o criador da co­
A profunda e vulnerável tristeza por trás média dc caracteres, deu-lhes uma vida nova,
do Tartufo, do Misantropo, do Avarento e tam­ individual. Colocou no palco figuras que eratn
bém do Doente imaginário reflete sem dúvida mais que meros pretextos para situações en-

L E S P R E C IK U S E S R IIJ IC U L E S
)9. Cenas tle B o u rg eo ix Çwnniitlum unr tlc Muljcic Lei Préeiruces Kidnule\ Gravura cm cobre dr P. Rrissan,
*uh*eqtiente á cdiçÃo dc hn> iic Í682

• J 49
20. Cena de O Dtw/ue U na^inârio dc Moliòre. Pinmrn de Corne] ius Tmosi. 1748 l Berlim , S u niliche Museen).

2] O PttrnSeInuiginuriti de MoJièn: em Venaillcs. ]674 G ravura em eobre de Le Paulrc, 1676.


22. Lcs Çomédierxs Frun^ihA. IHntur.i d * Auioinc Wattcau. c. 1720 (Nova York. Melropoltisn M useum o f Art>.
ftistiiriít Afinttli ní tffl T e ut r o *

graçadas. Seu Scapino e seu SgunurelU), u mico de seus estudantes eslava sendo posto em
guardião Arnolfo em Escola de Mulheres c a risco pelos "costumes livres" dos comedian­
piada do clister no final de O Doente Imagi­ tes. La Grangc transferiu então sua troupe pura
nário não negam sua origem na Çoiumedia o Jeu de Puume de 1‘Etoile desocupado, uma
deli'arte, mas revelam maior diferenciação e quadra de péla com uma área espaçosa o sufi­
sensibilidade. Molière deu forma literária a ciente para abrigar o palco e uma platéia para
personagens derivados do rqiertório de tipos mil e quinhentas pessoas, construída pelo arqui­
da peça de improviso. teto François d'Orbay. O novo teatro foi inau­
De início, Molière utilizou também a gurado em 1689 e logo se (ornou o centro dos
gama dc máscaras dos italianos. No papel de círculos literário, artístico e galante de Paris.
Sganarello, simplesmente escurecia suas so­ É mais ou menos desia época, lambem,
brancelhas e bigode, como é bem mostrado na que procedem os primeiros registros de paga­
conhecida gravura de Simonin. Algumas per­ mento de percentagem na Comcdic Franç3i$e,
sonagens qnc cie tomou deliberadainente da Eles rezam que ao autor cabia um nono da re­
commedia, tais como os dois pais em As Aríi- ceita, e concediam em contrapartida ao elenco
mcmhas de Scapina, OU os filósofos em O Ca­ n direito de riscar do programa uma peça que.
samento Forçado, continuaram cm sua troupe, abaixo de um certo percentual mínimo de cai­
para surgir com as tradicionais meias másca­ xa. não é mais rentável, A quota mínima foi
ras de couro. cirigmalmenre fixada em trezentos livre.t no ve­
Molière atuou em mais de trinta papéis rão e quinhentos no inverno, sendo mais de
em suas próprias peças, até o fatídico dia 17 unta vez subseqúentemente alterada e aumen­
de fevereiro de 1673, quando, na pele de Argan, tada. Os dramaturgos procuravam melhorar seu
em O Doente imaginário, leve um colapso no status legal Em 1775 Beaumarchais pediu
palco e ntorreu. vistas dos balancetes de bilheteria quando a
Sua companhia, agora sem patrão, uniu- Comédie Françaisc quis tirar do repertório O
se, sob o ator I .a Gratige. ao elenco do Théatre Barbeiro de Sevithu, de sua autoria. Ele fun­
du Marais, e toda esta nova troupe muque dou a Socíeté des Auteurs Dramaiiques (So­
mudou se para o Hotel Guéncgaud. A peça ciedade dos Autores Dramáticos), a primeira
apresentada no espetáculo de abertura, erri 9 associação para a proteção dos direitos dos
de julho dc 1673, foi a obra mais violentamente autores da Europa. Mas cia foi atTuslada pela
atacada de Molière: Le Tarwjfe. Revolução Francesa, e mais uma vez a única
Sele anos mais tarde, a Comédie Françatse oportunidade dc o autor proteger-se. tanto fi­
nascia, por uma proclamação de Luís XIV, di nanceira como artisticamente, cra o coniato
lada num campo militar em tíliarlevilk. Este pessoal com o teatro.
famoso documento, que traz a data de 13 de A mone de Luís XIV, em 1717. marcou o
agosto de 1630, e é contra-assinado p o r fim de uma era. Os Comédíens du Roi esta­
Colbert. declara: vam estabelecidos em Paris em seu próprio
teatro, do qual nenhuma calúnia maldosa con­
Sua Majestade decidiu unir Us ilois vl il|';is Jv ate­ seguiu desalojá-los. porém a escassez de es­
res estabelecidos no Hõtel de Bnureogne e na Rue de paço forçou-os a migrar duas gerações mais
Guénegaud. c yvivvidem' i.c para que no futuro prossigam
como uru só empreendiniemo, coitt o objetivo dc chegar
tarde.
a atuações ainda mais perfeitas. A Salle Ricltchcu, onde a Comcdic Fran-
çaise ainda hoje representa, deve sua destina-
La Graiige foi nomeado diretor das duas ção a uma ordem emitida por Kupoleão em
companhias unidas. A nova Coniédie Fran- 1812, às portas de Moscou - uma analogia ex­
çaise permanuccti no começo no Ilôtel Giténc- traordinária com o edilo dc fundação que Luís
gaud. com a comédia predominando no verão XIV expediu no acam pamento de Charle-
e a tragédia no inverno. Mas a proteçíto tlrt rei ville. A Comédie Française ainda relembra
não conseguiu evitar que os professores do vi­ com orgulho este "aio que redunda na fama
zinho Collège ilcs Qualre-NalUms i fundado eterna de Napoleão que. mesmo no campo de
por Mazarin) reclamassem que o zelo acadé­ batalha, c como Luís XIV antes dele. se preo-

• 752
• () fím r o c t '

cupava com o destino de seus comediantes". cia da peça pastoral, ao passo que suas tilli-
Não poderiam desejar melhor lema do que as mas obras La Piavannti e La Vaccaria são
tão citadas palavras de Napoleão: "D teatro adaptações de Planto, "reformado para vestir
francês é a glória da Franca, a ópera, tliera- os vivos".
menle uma expressão de sua vaidade". Ruzzante apresemou-se pela primeira vez
com seu pequeno grupo em Veneza, durante o
Carnaval de 1520. Atuou em residências par­
C o m m e d i a D e l l -A r t e e- ticulares, ganhou acesso a círculos erudilos por
T ea tro Popula r intermédio do abastado patrício Alvise Cor-
naro, a quem conhecia de Pádua, e em 1599
Commedia delfarte - comédia da habili­ foi chamado a F errara pelo duque Ercole
dade. Isto quer dizer arte niimética segundo a d'Este. Ruzzante tinha um pé no teatro huma­
inspiração do momento, improvisação ágil. nista e o outro no teatro popular. Pela forma
rude e burlesca, jogo teatral primitivo ta! como em cinco atos de suas comédias, ainda perten­
na Antiguidade os atelanos haviam apresenta­ cia ã commedia erudita, mas com seus tipos,
do em seus palcos itinerantes: o grotesco de que caracterizava por diferentes dialetos, abriu
tipos segundo esquemas básicos de conflitos a porta para o extenso campo da Commedia
humanos, demasiadamente humanos, a ines­ deli arte. Seus servos e a gente do campo fa­
gotável, infmitamente variável e, em última lavam o dialeto de Pádua ou o bergamasco: os
análise, sempre inallerada matéria-prima dos patrões, o dialeto vens/.ia no ou o loscano—um
comediantes no grande teatro do mundo. Mas expediente desenvol vi do mais tarde por Andrea
isto também significa domínio artístico dos Cal mo.
meios de expressão do corpo, reservatório de A fixação de tipos pelo dialeto tornou-se
cenas prontas para a apresentação e modelos traço característico da Commedia deli'arte. O
de situações, combinações engenhosas, adap­ contraste da linguagem. ,ttatus, sagacidade ou
tação espontânea do gracejo à situação do mo­ estupidez de personagens predeterminadas as­
mento. segurava o efeito cómico. A tipificação levava
Quando o conceito de Commedia deli'arte os intérpretes a especializar-se numa persona­
surgiu na Itália no começo do século XVI, ini­ gem em particular, num papel que se lhes a-
cialmente significava não ttiais que uma deli­ justava tão perfeitamente e no qual se movi­
mitação em face do teatro literário culto, a mentavam ião naturalm ente, que não havia
Commedia cnttlira Os atores deUarie eram. necessidade de um texto teatral consulidado.
110 sentido original da palavra, artesãos de sua Bastava combinai, antes do espetáculo, o pla­
arte. a do teatro. Foram. ao contrário dos grupos no de ação: intriga, desenvolvimento c solu­
amadores acadêmicos, os primeiros atores pro­ ção. Os detalhes eram deixados ao sabor do
fissionais. momento - todas as piadas e chistes ao alcan­
Tiveram por ancestrais os mimos am bu­ ce da mão, os trocadilhos, os mal-entendidos,
lantes. os prestidigitadores e os improvisadores. jogos de prestidigitação e brincadeiras panlo-
Seu impulso imediato veio do Canta vai. com os mínucas qne sustentaram os improvisadores
cortejos mascarados, a sáíira social dos figuri­ por séculos. Agora entravam na Commedia
nos de seus bufões, as apresentações de rui- deli'arte como Ittzzi, ou seja, truques pré-ar­
meios acrobáticos e pantomimas. A Coirmie- mados ou repertório de tramas. Os lazzi adqui­
dia d e li‘arte estava enraizada na vida do povo, riram uma função dramulúrgíca e lomaram-se
extraía dela sua inspiração, vivia da improvi­ as principais atrações de determinados atores.
sação e surgiu em contraposição ao teatro li­ O ln~zo da mosca é, hoje, a obra-prima pan-
terário dos humanistas. Em seu limiar e n ­ lornímica efe Arlecchino, Servi tore di Dtie
contra -sc Angelo Bcolcode Pádua, apelidado Padroni (Arlequim. Servidor de Dois Amos),
11 Ruzzaiite, por causa da personagem do es­ na encenação de Giorgio Strehler da obra de
perto camponês que criou e interpretou. Ele Guidom no Piccolo Teatro di Milano. li quan­
escreveu peças baseadas na observação da vida do Charles Chuplin, em silencioso esquecimen­
coiidiana no campo, de início com ressonân­ to de si mesmo, come os cordões dos sapatos
23, 1’crsonagcns da Ctvrtmfiiiu Pantaiefio. o
jo v e m herói (ou C a pila n n ) e Z an nt. A ç u a s -fo rte s ik*
lueques C a lhit. F:lniença. 1619.
* O tiurrm r

em vez de macarrão, está saudando o brilho Vomita citações em lalmi. cria uma confusão
dos lazzi da Cannnedia drtVanc. da mesma desesperadora, toma as Gr aças pelas Parcas e
forma que o alor que finge ter um cabelo na brilha pela mais cândida lógica - por exem­
boca - e por isso c elogiado por Stanislãvski. plo: "Uni navio que não está no mar, obvia-
Na representação de qualquer peça. os ato­ mente está no porto".
res seguiam o scentirio. ou sangria (roteiro), O terceiro na liga dos enganados é o Ca-
do qual duns cópias eram afixadas atrás do pal­ pitano. uni tipo mites gloriosas. um fanfarrão
co. unia à direita e outra ã esquerda, para in­ pusilânime c um covarde quando as coisas se
formar os participantes do curso da ação e da complicam. Originalmcme uma caricatura de
sequência de cenas. oficial espanhol, tomou-se em seguida uttivcr-
O esteio do elemento cómico eram os Zanni, salmcnte intercambiável como valentão e fa­
as figuras c servos provenientes de Béigamo. (As lador. O mais conhecido representante desta
variantes de seu nome. Zannoni. Zan ou Sanni figura foi o ator Franccsco Andreini do grupo
sugerem tratar-se de uma forma do dialeto dos Comici Gelosi. Ele publicou suas impro­
veneziano para Ginvanui: outra teoria, que faz visações cênicas em 1f>24, num livro intitulado
remontar a etimologia até u Antiguidade, liga-u Lr B m v itre ilrl Capitan S p m r iílo (As Bravu­
ã palavra grega sannos, bobo. e ao latim stiimio. ras do Capitão Spavenlo). Um dos sucessores
pantutnimcím.) O Zanni geral mente aparece em do Capitano foi o Scaramuecia, que ficou fa­
parelha. £ esperto e malicioso, ou bonachão e moso cm toda a Europa na pessoa dc Tihci io
estúpido e. em ninhos os casos, glutão. Usa uma Rorilli. o astro da comedir iialirmir cm Paris,
meia máscara feita de couro, barba descuidada, professor de Molière e celebrado com o “o
um chapéu de abas largas e. no cinto de suas maior dos palhaços" e "o grande excêntrico
calças largas c bufuntes, uma adaga de madeira do teatro cõmico”.
sem fio. Os sucessores dc Zanni constituem le O filh o e a filha do D otlore oti P an talo n e.
gião - Brighella e Arlecelumi, Tuflaldino, os amantes limutmamli), cortesãos c alcovi­
Trivellinn, Coviello. Me/zclino, Frilellinn c teiros participavam dn elenco de personagens,
Pedrolino. Suo Huusvvurst. Pickle-hcrrinp e sc necessário. Estes tipos eram menos fixados
Slockftsh. e todos os inumeráveis Itpns locais - mais deli nida. talvez, fosse a criada Colom-
de bufões do campo ou da cidade, O Pulcinella bimi ou Smeialdtiv.i.como parceira, amante ou
de Accrnt uanstumttm-.se em 1'uiich tia Ingla­ esposa de Ariecchimi - e em geral não usavam
terra. Pulicliiuclle Ma fian ça. Pctrusllka UU másciuas.
Rússia, e algumas de suas caineicnMicas sobre­ Uma das mais lamosas intérpretes da
vivem no Kusperl alemão. C o m m e d i t t d r t f a r w foi 1sabei la Andreini, cs-
O alvo e o objeto tios jogos cómicos são os |x>Sii do alor Francesco Andreini. Era —cotmi
tipos passivos, sempre trapaceados, qnc se tur- é largamcme estampado na página-título da
nam caricaturas grotescas de si mesmos. São edição de suas Canas pot seu marido - inte­
encabeçados por dois papéis paternos. Pnnta- grante da Accadeniía dei Signori Ititenti. rece­
lone e Doltore. Pamalloae. o scuil. rico c des­ bia sonetos de Tusso c respondia-lhe etn ver­
confiado mercador dc Veneza, o Signor Mag­ sos igualmente liem-feitos. Seu papel de maior
nifico com o cavanhaque branco e o manto brilho foi em l.a Pazzia. um Itinr dc fo rre
negro sobre o casaco vermelho, possui ou uma linguístico. "Brito di nome, hrlla di corpo r
filha casado ira, ou atrai a gozação por scr ele bctUsxinui d'umnto" - "bela no nome, bela dc
próprio mu cnttcjndor tardio. Seu criado Zanni corpo e belíssima em espírito” - assim era ela
o precipita cm aventuras, mts quais Pantalone aclamada na Itália Quando, tio século XVIII,
leva a pior. Zaniit. na melhor das hipóteses, ga iíustelli criou as suas figuras da Conmirdin
nliit alguma coisa para comer, porém, com mais i/rll 'orle em porcelana de Nymphcnhtirg, deu
freqiicncia, leva uma sonora ,
s u it íl ti nome de Isabel la à mais graciosa das esta­
O Di more dc Bolonha. Ittz erudita de to­ tuetas femininas.
das as faculdades, usa tuna toga preta com gula Na metade do século XVI. a Cmmnrdia
branca, capuz preto apertado sob um chapéu dcIVurte começou a expnndir-se para os paí­
preto com as abas largas viradas para cima. ses ao norte dos Alpes. Os comediantes ilalia-
24. Commcdia 'artet
Cam avai na PiazTa NasOna cm Rom a. Tendas de alores ambtrlanles; à direitá* jllftlo aíu n tc
um caiuordc babdas macabras; detalhe de uma gravura cm cobre de l*etru$ Schenk, Amsterda, 17A8-

25. Ctnmn?di{i de!fa rte com figuras simplórias de c a m p u n o ^ . P rÓ K im aàscriaiU sco m máscaras, à d írc i . um Zana
c Panialcão. 1'inlura anòmni:i ik ts c c u lo X V lll (Mildo. M useu T ra lra l a l l j Scala|.
O Barroto

26 Cenas da v u n w d i f i t c t U a t n t na época de Henrique UI. Séries de xilogravura, publicadas poi f^jsinrd, Paris *r.
1575 tda coleção B n t t e i J F f i s m n t , Droumnpholm Theater Munmimj.

l» s apareceram em Nórdlingen em 1349, e O príncipe herdeiro Wilhelm e sua noiva le­


logo depois ein N urem berg, Estrasburgo, varam com eles os comediantes para o Castelo
Stultgart, em todo o sul da Alemanha, e ma is de Trausnitz, em Landshui, onde, por dez anos.
particularmeme em Linz e Viena. Os Comici “muito aficionados a diversões e coisas es­
Cielosi, osCunfidenli e OS Fidellt foram hospi- trangeiras”, deleitaram-se em ser os patmnos de­
ta leira mente recebidos na corte de Viena. Em dicados dos atores nesta alegre e festiva coríe.
Munique, onde Orlando di Lasso regia a or­ Finalmente, ordens paternas de Munique deter­
questra da corte, a Commedia deWane já em minaram medidas de economia e deram fim à
I56S granjeara a maior popularidade. Neste prosperidade dos comediantes. Desta forma, o
ano o duque bávaro Albrecht V organizou um príncipe herdeiro Wilhelm viu-se obrigado a dis­
programa de festividades que durou várias se­ pensar os intéipretes da conunediir, uma coisa,
manas, para comemorar o casamento de seu porém, ele logrou preservar: um retrato, cm ta­
filho Wilhelm com Renata de Luirainc. O pro­ manho natural, de seus atores. Esta pintura de
grama incluiu uma série de torneios, concer­ Alessandra Scalzi, conhecido como Padovano,
tos e apresentações teatrais, e fechou-se, em 7 guarnecia totaJmenie a “escadaria dos palhaços”
de março, com uma “Commedia aWimproviso no Castelo de Trausnitz, da adega ao quarto an­
alia italiana" Orlando di Lasso dirigiu a en­ dar, com afrescos ilusionistas mostrando varia­
cenação e fez o papel de Pantalone. A ação ções dos tipos básicos e situações da Commedia
compunha-se de elementos do Carnaval burles­ d eli‘arte. Este é o seu primeiro testemunho pic­
co veneziano. Correspondia aos xoggeni habi­ tórico ao noite dos Alpes. Correspondem ãs des­
tuais e está descrita em detalhe no livro do festi­ crições de MassiiiK) Troiano, mas não são cópia
val, escrito por Massimo Troiano par» o noivo do espetáculo de Munique.
c príncipe herdeiro Wjlhelm. Afrescos das personagens da Commedia
A trama pode ser considerada como típi­ deli 'arte, pintados por Lederer em 1748 e ar­
ca Ua Commedia deli 'arte- Um rico veneziano tisticamente mais ricos e mais festivos, podem
entra e exalta as alegrias do amor. Recebe uma ser encontrados no Castelo de Krumlov nu Bo­
carta que o afasia instantaneamente da com­ émia. Vinte anos mais tarde, a família Schwar-
panhia da bela cortesã. Pantalone c seu servo zenberg, então vivendo etn Krutnliiv. contra­
Zanni cortejam a beldade abandonada. Um tou os pintores Wetschcl e Merkel para deco­
nobre espanhol aparece e emerge como um rar o teatro do castelo com um novo e enge­
rival preferencial Cenas de equivocadas iden- nhoso cenário de bastidores alternados.
Iidades e pancadaria, serenatas trocadas e due­ Paris afrancesou a Commedia deífarse.
los quixolescos precipitam-se umas sobre as que se tomou a comédie imiiemte. adotou a lín­
outras. Tudo termina em reconciliação pacífi­ gua do país anfitrião e adaptou-se à sua exi­
ca. e atores assim como espectadores partici­ gência de "maior plausihil idade, regularidade
pam de uma dança italiana. e dignidade”, como coloca J. B. l)u Bos. En-
■ « 7
H iaòriu M himííuí ito Te atro *

trelanlo, a julgar pela coleção de cenas e diá­ A peça improvisada autêntica, como nos
logos publicados por volta de 1700 por Eva- velhos tempos, retirou-se para as feiras e, em
risto Gfierardi sob o título Lr Théâtre Ihtlieii. Paris, para o Théâtre de La Foire. Ela agora
o contrário estava mais próximo da verdade. procurava o seu público entre o povo. Seus
A comédie ímfimtie prestava-se muito bem não principais centros eram Satnl-Germain e Saint-
apenas à crítica moral geral, mas também à Laurent. De acordo com o escritor dinamarquês
paródia hilariante de seus rivais franceses. Ar­ L. Holberg, que esteve em Paris por volta de
lequim {um sucessor do Hailcqutn medieval, 1720. paródias “extremamente felizes e fiéis"
com a máscara peluda) entrava como Vulcano, dos gestos e vozes dos interpretes franceses
operisticamente aparelhado num traje alegóri­ podiam ser vistos nestes palcos. Mas, prosse­
co; Pierrot. como Mercúrio; Colombina, como gue ele, prejudicava esse tablado a sua exces­
Vénus; arrastavam Pégaso, encarnado na figura siva multiplicação, pois "lais paródias eram le­
de um burro, e passavam a apresentar o vadas pela cidade inteira, nos subúrbios, em
Arlequin Prolêe (Arlequim Proteu), uma pa­ todas as praças públicas e palcos".
ródia da grande tragédia de Racine, Bérénice. Em uníssono com o seu inicio cm Paris,
O mote dos atores da comédie itaiienne sem muita adaptação artística específica, a
cra "Castigar ridendo mores" ( 'Lite castiga os Commedia deli'arte também se dirigiu para o
costumes pelo ridículo"), que haviam apren­ leste. Em sua forma original, ela chegou a Var­
dido tanto com Molière quanto Moliirc com sóvia, Cracõvia, Vilna c Gdansk. Em 1592, no
eles. Castelo de Cracóvia, o “fiel ao original’' Zanni,
A comédie iwlienne aluou, nos anos de cm triphcata. tomou pane no inlcrmedii musi­
1658-1673, no Petil Bourbon, depois no Hótel cal. apresentado na celebração das núpcias dc
Guénegaud, e mudou-se, após a fusão da tra­ Sigismundo 111 e Ana da Áustria. Em festivi­
gédia e com édia fran cesas na Comédie dades em Varsóvia, na corte de Lndisiau [V, a
Françaisc em 1680, para a sala de espetáculos Commedia deli 'arte foi uma das atrações fa­
do Hótel de Bourgogne. No Hôtel de Bnur- voritas. pois o rei havia via jado pela Itália e lá
gogne, com suas veneráveis tradições, viveu apreciara o teatro popular e improvisado. O
os momentos de sua maior glória. E aqui. em jogo de tipos de improviso era capaz de supe­
1697, ela própria cortou o fio de sua vida. Uma rar as limitações da língua, classe social e con­
sátira insuficienteinenle dissimulada atacando venções. Poucas d é cad as m ais tarde, a
Mmc de Maintenon. a comedia La Faitsse Commedia delParte atravessou o oceano. Em
Prttde (A Falsa Pudica), ã maneira de Saint fevereiro de 1739. os convidados do Mr. H oils
Simon. provocou o fechamento instantâneo do Loiig Room em Nova York puderam apreciar a
teatro por Luís XIV. Os comedianies italianos primeira pantomima artequinada que se sabe
tiveram de deixar Paris. ter sido apresentada ent solo americano. Foi
Watteau registrou a Partida dos Come­ anunciada como “Uma nova Diversão Panto-
diantes Italianos numa leia. a partir da qual o mítmea, com Personagens Grotescas, chama­
ilustrador Louis Jacob criou um sotiveitir im­ das 'Aventuras de Harlrquim e Searamouch mi
presso: a última reverência de Mezzetin antes o Espanhol Enganado"'.
de partir, um adeus pesaroso das damas da Viena, na cpoca o celeiro da cultura da
companhia, mulheres assistindo das janelas Europa Central, abrira suas portas à Commedia
vizinhas, um jovem afixando o decreto real de deli'arte por volta de 1570. Os interpretes dos
proibição na parede da casa. "htzzi estrangeiros", Zanni c seus comparsas,
Dezetuive anos mais larde, em 1716, os foram entusiasticamente recebidos; porém,
comédims itaUens estavam de volta a Paris. logo se confrontaram com um rival nascido em
Encabeçados por Luigi Riccuboni, consuma­ solo austríaco; Hanswuist.
ram a transição da peça improvisada para a O titereiro Josef Anton Slranítzky destro­
escrita, Riccobom, que ames. cm Veneza c nas nou Zanni. Arlecchino e Brighelht. Criou a fi­
cidades da Lombardia. fora ativo relorniador gura de Hanswurst, o ancestral de muitas ge­
da tradição nativa da comtnedia italiana, agora rações de irreprimíveis tipos leulruis popula­
aceitava dramas franceses em seu repertório. res, chegando até Nesiroy e Raimund.
• J5H
27, C e n a U u { fium M r</frJf/fl/ / W / f ir purAL(.jN s:u]ilruS i;xili'o . c h a m a d o h 1’j d m j r M , i Ic n c u s m u ra is n a irs c a J jriu . U us b o b o s
110 f a s i c l o T r d iis m i/ c in I . u u ls lin f {157fl»r 1 'a o n le ã o n /jm iii t'a7i?mio s crcn u ia : ii ja u d a . u m £UJ<>, u<> lu ^ a r d a itam a
cortejada
2K. (.K i <m rwv fntm;ni,v r t iítih rm . tm TliOíurc Roy:it em ÍVins. 1670. Â estucai li. Maiaêrc: distribuídos, ytravrs nL>
p^ilcti, vt/.iului-xn.i cm grupos, ;is persoiuiíníiis iibuncosudiis í \;i CtitmactHii th 'i/ itrtc Pmturu y óleo cmôcwua ípati-. C o Uul-úoíi
dc Li (.'iiihL-dic J•!lIiii^íjísiL-í .
20. Palcos nas feiras anuais de Paris: Théàtre dc la Pbirc, na Place Vcndôme. Este, e ainda Saml-tàermiim c Sami-
Laurenr, deram abrigo à Comédie Italienru», a G m i m v d i u t i v i f a f K nfraticesada. após a interdirão real de 1697. lis ia m p
colorida, século X V II.

30, A r l c q u i n G r a t u i C r n m {i l U mf f o u v c U t ’. de Puzelicr, encenada pela A n tic n n e TroupC dc la Comédie lialiem ie iicj

pu leo do Hòtc I de fJourg,ogJie cm Par is, pi ovjivdm enie em 16N7, N o [íapd -líiu lo, Domen k n Ii ia n co] d Ii , o faj i insi > >nu a uj uc
da inut/w, que morreu cm lúHfi f im u f a de H o m u l, do AlmanacEi dc Paris de 1688.
\ \ , Inveslidura dnnovoHarfeLjLmi da lom ddk: |(aht:nne nu Hotel do lioiiryu^iHr, apds a morte dc iíumcniLVi Bianuoielli
[Di>nnmtjUt'K cujo .siarvólagoc a iôva, aos primio*. podem ser %islo> an Itnulo Almanach de Paris para o imo de Iritfy ide
O . K lin ^ a r. f h r ( ‘( H iird if^ tttiifD iic ut i\ t n s m tch d e r Sammhtng um t ift r u m h . E L s E ra s b u rç o , I9 ()2 h
32. U x CoiHêdiem /rulitns. Pintora de Anloine Waiieau, 1720 N o centro da irnupe, Pierrol ou G iiles; & sua csqiterdas
H arkquin corn máscara negra, i Washington. Natioriai Gallen,'. K ress Colleçlion),
* O Burroeti

33 PaJco com figuravtLpo da C/mmwdia ileHtirle. Áfiua-fVutc, frontispício para o Baili di Sfeysania. <lc Jseques
Calloi, J622

Em 1707, no mesmo ano cm que o estu­ Hanswurst de Stranitzky anunciava: "Com os


dante de odontologia Strnníukv era aprovado diabos, minha blinda e$(ã balançando como ba­
em seus “examen dentifragidi deniuimqitc nira de porco”. E quando o rei da peça indul­
medicaioris" na Universidade de Viena, o co­ gentemente o perdoa por sua língua solta, di­
mediante Stranitzky. co-diretor dos Comedian­ zendo: “É preciso levar a bem a tolice dos bo­
tes Alemães, tirava seu chapéu verde e pontu­ bos”. Hanswurst replica: "Também penso as­
do com devoção grotesca no palco do Ballliaus sim, caro colega".
naTeinfalstrasse. A seus pés rejubilava-se uma Mas quanto mais tosca a improvisação,
entusiasmada plateia suburbana, para quem cie mais vulgares as piadas C ruais obscenos os
havia apresentado o protótipo do homenzinho assuntos se tornam, ruais próximo está o peri­
simples e astuto, na pessoa de Hanswurst. o go da decadência, da degradação na mera vul­
camponês de SuJzburgo que vinha instalar-se garidade. Nem u Cniiiuiedifí deli'arte. nem o
em Viena. teatro popular foram capazes de evitar esse pe­
O Hanswurst de Stranitzky, nascido da rigo. Fossem Zanni. Arlequim ou Hanswurst,
inventividade teatral individual e alimentada Stoekfish ou Pickie Herring - nenhum deles,
pela esperteza materna nativa, tomou-se a figu­ no final, teve o poder de dar vida nova a pia­
ra nuclear do teatro popular austríaco. A das gastas. Em Viena, o sucessor de Stranitzky.
Commedia deli'une foi sua madrinha. Suas ca- o jovem Goltfried Prehauser. manteve-se na
ractensticas externas eram uma jaqueta verme­ altura da esperta malícia; em Eeipzig. Hans­
lha curta, calças amarelas, um chapéu pontudo wurst foi expulso, com iodas as desonras, do
verde e uma gola branca de buíâo. Couto espe­ palco da adorável Karolinc Neuber,
cialidade particular, desenvolvia piadas sexuais Na Itália. Guidom e Gozzi tentaram tra­
e escatológicas grosseiras, que logo ultrapassa­ zer o teatro popular improvisado para o reino
ram em crueza seus predecessores italianos. da literatura. Goldoni reduziu o número de ti­
Quando, por exemplo, o Zanni da Conminlici pos cómicos da Coimtiediti deli ‘une para qua­
deWarte. conforme o cenário pendurado, de­ tro ou cincu, e ajustou-os a ambientes soiida-
via representar r>"medo" e para isso choramin­ meiue estruturados ou comédias de costumes.
gava; “Oh, meus joelhos estão tremendo", o • Colhia seu material ila vida cotidiana de Veneza
• .tflã
34. Tnntps de saltimbancos num lablado erguido
sem cenários, Utn charlatão apregoa suas mercadori­
as; próximo a ele, um comedi aMc em costume <je
Zanni. urna cantora com alaúde e dois músicos,
ttufócs nas Tciras anuais eram uma forma primitiva
da CommeJiadeli 'arte. Aquarela anónima* du inicio
do século XVI (tamberg, Siaiisbibliothek).

35. Folia mascarada cu«t figuras dc Pulcinella da


Commedia th U 'n r tt\ Pintura cm parede dc Giovaritfi
íigmernco Tiepolo ( I 72 6 -1 7^5}. da V illa Zianigo
(Veneza. Mosco fV K w /o n ii.u ).

!
{> Httt triCtr

t escreveu O Sen-idtrr tir l)ot.\ Amos para o a imaginação de Stanislâvski com a idéin dc um
grupo do famoso intérprete de Truffaldino, o palco de improvisação, no qua] os "próprios ato­
alor Antoniu Sacchi. Com suas peças. Gol dom res criam as peças".
realizou a tão tardia renovação do teatro italia­ A Cnmiiicdia drll 'arte é o fermento da mas­
no e repetiu o processo de fusão que. um sécu­ sa azeda do teatro, Elíl se oferece como fornia
lo antes. Molière havia efetuado cm Paris. intemporal de representação sempre e quando o
Gozzi rejeitava a imitação dn natureza pre­ teatro necessita de uma nova forma de vida e
gada por Gotdoni. Ele negava a necessidade ameaça paralisar-se nos caminhos batidos da
da comédia de costumes e mostrava a magia convenção.
multicolorida de suas Fiabe. suas comédias de
conto de fadas, que ele povoava de feiticeiras,
fadas e magos. Em sua violenta controvérsia O T eatro barroco E spanhol
com Goldoni. defendia o teatro improvisado,
alegando que Goldoni o havia maltratado. Mas O Dom Quixole de Ccrvanles encontra uni
embora Gozzi desejasse insuflar vida nova à dia um estranho veículo na estrada. Parece
improvisação, exigia que os intérpretes se man­ “mais a barca de Caronte do que um carreto
tivessem fiéis aos textos que escrevia. Por vin­ comum” , e é puxado por mulas conduzidas pnr
te e cinco anos, trabalhou em estrita colabora­ um horrível demónio.
ção com o grupo de Sacchi. A admiração pelo
celebrado intérprete de Truffaldino, Sacchi, A primeiri ligliru que Dom QlúxoLc viu [nralc csirsi-
que viajara até mesmo a Portugal com sua com ­ nlid veículoj foi ;i da própria monc. com ittólo humano:
panhia, era o único ponto onde G oldoni e jmiio dela vinha uni anju coto grandes r pintada» a»a.s:
Gozzi concordavam unanime mente A Força do dum líido estava m» im]jorndor, com uma coroo, que }Xue-
cm de ouro. nu cabeça: uos pés da monc viuha o deu* que
teatro vivo reconciliou - e incorporou - as chamam Cupido, sem venda ik» nllios. mas com o seu
intenções opostas destes dois antagonistas e arco, uljavj c seios: vinha tainbém um cavaleiro armado
reformadores. de ponto em bnmco. mus win momào, ncin cckada. e em
A herança de Goldoni e Gozzi influiu, por vez disso um chapéu cleiu dc plumas de diwíNas cones^.
sobre a fria razão do Iluminismo, no teatro po­
pular de Viena do século XIX: na figura do Alarmado. Dont Quixotc ban a o caminho
Kasperte de Laioclie, nas comédias parodfs- do carro e pede informações sobre aquele es­
ticas fabulosas do período do Bãuerle (peque­ tranho carregamento. E ouve a resposta.
no camponêst. no grande reino romântico da
fantasia de Kaimuiid e no mundo líiedermeier* Senhor, somos comcilianies d» companhia de
Anjlilo. o Mau: rcpi escutamos Itojv. I;i n;i ilkivia. que
cético e irónico de Nestrov. fica atrás da coliiui, porianto após si oitava do Corpo de
Em suas obras de juventude. Gocthe deu Deus. o auto do Cfirtc *iu Mtule. r havítnos dc o repie-
chão para Scupiuo e para o Dntiore; Ludwig seniar c^tsi urde naquela oulm aideu que daqui sç avist»;
Tiecfc convocou Scaramouchc. Pierrot, Paittalone |HX cmar ião piõxim.». t ptua pou|wmnv o lruitalho dc
iwjvdespirmos c dc nos (onuiiiiins a vestir, vamos com os
e Truffaldino para a amarga c irónica crítica de mesmos fatos com que hovemos de entrar cm cena iA/.r
sua época: Grillparzer tirou suas melancólicas M )
e sagazes figuras de criados do reservatório de
tipos da Commediu deli 'arte: Huffiuann escre­ O incidente descrito por Ccrvantes. que
veu uma suite de bale chamada Arlequim* e a obviamente conduz a unta quixoteseu batalha
grotesca e teatral mente jocosa Plumutsiestii- com o “demónio'', caracicriza a situação do
cke iu Caltots Munier (Eaiuasias à Muda de teatro espanhol no início da era barroca: o espí­
Callnl): Richurd Strauss concebeu sua Ariadue rito resoluto dos comediantes de troupest am­
tu tfN a m s como uma peça improvisada ;i ma­ bulantes. a mistura da Antiguidade e do cristia­
neira italiana: Górki, no exílio cm Cnpri, inte- nismo na alegoria de suas apresentações, n
ressou-se [telas improvisações da C t w u n e d i t i
d elftia e napolitana: mais tarde, tentou inflamarl
OituQhr.i,t*rt\ Mi$<id dc Ccrvaiircs Sua\ edra. ini-
riiKào dc Visconde dc Castilho c Azevcilo, vul II, Circulo
l 'h ie i!L 'iim .'ia i‘’ : r s liln p ,. ;m : .r hm hh-h s. do Livro.

♦ 367
H islãrin M u n d u ii d O Traíra

tradicional ouropel de seus figurinos c, não me­ do crem e em suas relações com Deus” - por
nos. o falo de que não necessitavam de grandes exemplo, quando cm EI Cabaltcro de Olmedo
preparativos para atuar em muitos lugares num (O Cavaleiro dc Olmedo), de Lopc dc Vega.
mesmo dia. especialmcme durante a "tempo­ uma prostituta grisalha veste o hábito de uma
rada de teatro", que acontecia por volta da fes­ freira e ensina a uma jovem dama da nobreza a
ta dc Corpus Christi. tabuada do amor, ou quando o mesmo autor
O contraste entre a mais alta esfera misteri­ mobiliza a famosa operadora de milagres, a
osa da fé e a mais primitiva realidade não pre­ Madona de Guadalupe, para promover uma
judicava, de maneira nenhuma, a intensidade “cura” miraculosa com a qual uma bela viuva
do efeito: o milagre da Eucaristia projeta-se esconde um lapso muito mundano.
além do crepúsculo da catedral, sobre as tábuas Todas essas comédias foram impressas -
rangentes de um palco mambembe. Os atores juntamente com os interlúdios [entremezes) e
ambulantes, ainda situados pelo legislador jun­ loas, originaríámente prólogos curtos e, mais
to aos ladrões e assassinos, cumprem uma mis­ tarde, peças independentes - na época de sua
são dogmática na peça de Corpus Christi. apresentação, e distribuídas cm centenas de
A exuberante alegoria do retábulo espa­ exemplares, e todas tinham dc passar pela cen­
nhol repete-se no denso simbolismo do auio sura da inquisição. Contanto que todavia os
sacramental, que, ao contrário dos ‘‘mistérios’*, escritores não se subtraíssem à censura oficial,
diz respeito não à representação da Paixão mas conseguiam sair-se com falas maliciosas so­
à transfiguração simbólica do sacramento da bre o clero, as instituições estatais e até mes­
Eucaristia. O fantástico, o metafórico c o espi­ mo sobre o fanatismo religioso.
ritual combioam-se, seja na mais modesta peça As pesquisas científicas tem mostrado que
teatral, ou no mais suntuoso cortejo barroco. a influencia da Inquisição na literatura, arte e
Ambos deviam servir aos propósitos tanto da teatro foi incrivelmente pequena. De qualquer
edificação religiosa quanto da propaganda da maneira, o pulular exuberante da fantasia não
Contra-Reforma. O teatro espanhol, com sua sofreu a menor perda. “Não repare Vossa Mer­
retórica aguçada pelo espírito do conflito cen­ cê em ninharias. Senhor Dom Quixote, nem
tenário com o Islã, forneceu a imagem para o queira levar as coisas tanto à risca. Não se re­
conceito. Vestiu o sacramento da Eucaristia presentam lodos os dias por aí mil comédias
como colorido da fábula Interpretações mora- cheias de impropriedades e dc disparates, c
lizantes haviam removido largamcnte o “pe­ com tudo isso elas percorrem felicissimamente
cado" da herança espiritual ria Renascença. a sua carreira e são escutadas não só com aplau­
Mais de quatro séculos se passaram desde que sos, mas com admiração?" Assim mestre Pe­
Bernardo de Morlaix denunciara o influxo de dro, o titereiro. defende o nnnsen.se extrava­
ideias da Antiguidade na literatura teológica, gante de seu inundo encantado mouro-cristão.
como “beijos indecentes trocados por erudi­ ‘‘Anda para diante, rapaz, e deixa dizer que.
tos cristãos com Zeus”, tendo eu enchido a bolsa, pouco importa que
Agora, assim como os generais espanhóis represente mais impropriedades do que átomos
estavam lutando pelo ouro e os missionários tem o sol." (Manuel de Falia homenageou este
jesuítas, pelas almas dos índios, o teatro tam­ episódio de Dom Quitute em seu adorável halé
bém não ficava atrás. Lopc de Vega, em sua II Retalho de Maestro Pedro - O Teatro de Tí­
peça de Corpus Christi, Armicana, caracteri- teres dc Mestre Pedro.)
zou o Filho de Deus corno um chefe indígena O olhar para a bolsa de dinheiro foi, por
sul-amcricano e, com cerleza para impressio­ lim, também o que ajudou a levar as com­
nar a plateia indígena, O fez exibir sua destre­ panhias itinerantes espanholas :i locais per­
za muscular na luta c no salto em aluíra. manentes de atuação na segunda metade do
Airás do esconde-escotiJe espiritual com século XVI. As irmandades religiosas reco­
seus desnorleadores disfarces, cntrclanm. en­ nheceram as vantagens do explorar a afluên­
contrava-se o inviolado poder da Igreja c, cia do público com propósitos caridosos. Pu­
como disse uma vez Karl Vossler, “a certeza nham os pálios de seus hospitais (corrates) à
muitas veies de uma insolência quase jocosa disposição da gente de teatro, cuidavam da

• .168
* O B a rro c o

licença local para a apresentação da peça e, muitas vezes ainda utilizavam os carmções-
seja como organizadores ou arrendadores, d i­ palco do teatro processional do fim da Idade
vidiam os lucros com comediantes e autores. Média. Dispostos lateral mente junto ao tablado
Assim o teatro encontrava sua sede, e o do corral. completavam o palco, ou coloca­
caixa do hospital, uma renda extra, li as auto­ dos atrás, serviam de espaço interno do cená­
ridades conseguiam controlar os comediantes rio. Além disso, podiam também ser utiliza­
sem problemas, mantendo-os dentro da ordem. dos como vestiários para os atores.
Em Madri. a Confradía de la Pasión manteve Ornais importante acessório cênico era unia
esses corrnles a partir de 1565. um na Calle escada, que conectava o palco de baixo, o princi­
del Sol e outro na Calle dei Príncipe: em 1574 pal e o superior. Sua indisfarçada visibilidade
a Confradía de la Solednd abriu seu Corra! de não prejudicava de modo nenhum a magia do
BurguiSlos. Valência linha um teatro-corral sobrenatural. Em data tão tardia quanto 1675,
desde 1583, e em Sevilba há registros de se­ Marie-Cathérine d'Aulnoy, viajante francesa na
guidas representações num Corral de Dona Espanha e autora de uma das ruais importantes
Flvira, de 1579 em diante, e divertidas descrições do learro-corral. escre­
Por volta desta época, em Londres, o pal­ veu de Madri: “Na cena em que Aline conjura
co elisabetano começava a tomar forma: mas, os demónios, estes sohcm do inferno assnz con­
em contrapartida, o teatro-cor™ / espanhol fortavelmente por meio de escadas".
mantinha seu caráter provisório. A era de gran­ Mas o teatro espanhol barroco estava di-
de florescência do drama espanhol, o siglo de retamente ligado à tradição do medievo tardio
om, de 1580-1680, ocorreu na modesta estru­ não somente por suas técnicas de representa­
tura de um palco ao ar livre rodeado pelos m u­ ção, mas também por seus temas. Quando Lopc
ros das casas, um palco que podia ser armado de Vega, aos trinta anos, principiou a escrever
num dia c desmontado no outro. para o palco cm 1575, teve. de certo modo.
O tablado erguia-se junto à fachada do pá­ "de simplesmente abrir as comportas da repre­
tio pavimentado. Lhua cortina escondia os ca­ sa” A riqueza contida nas epopeias e roman­
marins dos intérpretes ao mesmo tempo que ces, a história nacional, mitos e lendas supri-
servia de pano de fundo para o palco. Os bal­ ram-nu de material temático. Ele encontrou,
cões e galerias da frente da casa formavam lo como coloca Grillparzer em seu belo poema.
alto del teatro, o palco superior, que era tão
p;u:i Tudo o L|u£ a humanidade desde Sempre havia experi­
indispensável quanto u alçapão. mentado. uma palavui- aiua illiaeein. lima ríllia e lllli lia.(I
As janelas c galerias das casas vizinhas
serviam de esplêndidos cantaroles para as se­ Por quarenta anos, Lope de Vega foi o so­
nhoras da plateia, enquanto os cavalheiros sen­ berano incontestável do palco espanhol. Seus
tavam-se em fileiras de bancos. No século XVII contemporâneos chamavam-no “Monslruo de
uma galeria especial só para mulheres (co- la Naluraleza" IMonstro da Natureza) e "Fénix
zaela) foi acrescentada ao lado. de los Ingenios" (Fénix dos Engenhos). Ele pro­
Mas os que podiam, c não se furtavam de duziu nada menos que mil e quinhentas obras
fazê-lo, consagrar ou destruir uma peça eram dramáticas, das quais quinhentas, aproximada
os mosqueteros. homens do povo que lotavam mente, estão conservadas, incluindo peças para
a arena. Externavam suas opiniões com o po­ o Corpus Chrisli, comédias e comedias de capa
der vocal de mosqueteiros, e eram temidos v espada. Por trás da doida alegria da infatigá­
pelos dramaturgos espanhóis não menos do que vel escritura dc assentamento, enconlrase, po­
o eram os groimdlings pelos colegas autores rém, sempre, cirt Lope de Vega, a consciência
na Inglaterra elizahetann. de sua pertença nacional. Já em uma dc suas
Fosse nus longínquas encostas dos Pire­ primeiras obras, Jorge Toledano. exaltava a eo-
néus, além do Canal ou. na verdade, cm qual­ ragem e o orgulho espanhóis: "Acho estranho
quer outro lugar onde existissem palcos ao ar que Alexandre seja natural da Macedõnia, e
livre sem instalações de iluminação, os espe­ não da Espanha".
táculos aconteciam ít tarde, antes de escure­ Nas assim chamadas peças de honra, um
cer. Nas cidades, as peças dc Corpus Chrisli irmão ou pai vinca-se da virtude ultrajada de

369
iitMÒrio M ttmtiat tio T fa lr u m

uma donzela; as de capa e espada são ricas em ma leria sido possível encenar uma peça como
vivos duelos verbais e de armas, intrigas sulil- Las M occàades del Cid - a maior obra de
mente urdidas, dissimulações, e rrrramente dis­ Guillén de Castro, e modelo para o EI Cid de
pensam um servo esperto e eonfidentc (gracio­ Conieille - um drama épico com tamanha ri­
so) eomo figura de contraste cómico. queza dc locações'! (O teatro clássico francês
Nas pegadas da “fénix" radiante que era resolveu o problema com o sistema do palco
Lope de Vega trilhava o monge mercedário longo e do curto. O fundo do palco exibia o
Gabriel Téllez. que começou a escrever peças palácio do rei. a boca de cena era essencial-
em 1624 e as publicou sob o pseudónimo de mente neutra e acomodava as mudanças de
Tirso de Molina. Assumiu a técnica tealral de cena.) Um segundo contemporâneo de Tirso
Lope de Vega e triunfou pelo cuidadoso desen­ de Molina. Juan Ruiz de Alarcón. foi o inicia­
volvimento psicológico de suas personagens. Es­ dor da comédia de costumes na Espanha. Sua
pecialistas em Tirso dizem que o confessionário principal obra, Ln Verdnd Sospeehoso (A Ver­
aguçou o seu conhecimento da natureza huma­ dade Suspeita) lom ouse um sucesso perene
na, Lima de suas peças mais brilhantes c Don no palco, graças ã adaptação de Goldnni e da
Gd de las Catzas Verdes (Dom Gtl dos Calções adoção anterior do tema por Comerlle em seu
Verdes) - na verdade. Dona Diana disfarçada, L f Menleur (O Mentiroso. 1644).
uma jovem adorável e inteligente que resoluta­ Com o desenrolar do século X VII, as avan­
mente desafia a educação convencional femini­ çadas técnicas da transformação ccriica barro­
na e sai em husca de seu noivo infiel. cas, então comuns nos teatros das cortes de
Com Et Burlados de Seiilla (0 Burlador toda a Europa. apareceram também na Espa­
de Sevilha), peça que retoma duas velhas sagas nha. O arquiteto florentino Cosi mo Luiti ins­
espanholas, Tirso de Molina trouxe pela pri­ talou um teatro na ala leste da residência real
meira vez a figura de Don JuanTcnortu para o de verão. Buen Retiro, a leste de Madri. e seus
palco. Ele seria o protótipo dc muitos suces­ dispositivos técnicos eram comparáveis aos de
sores do sceuario da Commediti deli'arte ao Florença e Viena. A parede dc fundo podia
Do» Juan de Molièrc, do Don Giaranni de abrir-se para mostrar a vista do jardim. Lope
Mozart a Don Juan, ou o Amor à Geometria de Vega, no entanto, não se agradou das artes
de Max Frisch. E a elegante máxima de Tirso do mago Lolti, Quando, em 1629, sua Lu Sel­
de Molina, "a misericórdia de Deus adapta-se va sin Am or (A Selva sem Amor) loi encenada
à nossa natureza e a enobrece sem destntí-la”. diante da corte no palácio de Zarzuela com uni
encontra eco na epígrafe de ,4 Sapatilha de Ce­ rico cenário de L-otii, ele ficou desapontado.
tim de Claudeh "Deus escreve certo mesmo "Meus versos eram a intima parte de tudo",
que por linhas tonas". Com seu subtítulo "dra­ disse. "Diante do esplendor visual do cenário
ma espanhol em quatro dias". Ciaudel retoma de Loiri, o sentido du audição teve dc retirar-
o esquema formal do teatro barroco espanhol. se." O velho Lope dc Vega achou difícil entre­
Dividia as peças não em aios. mas. siin. em gar-se ao moderno "varal para roupas e prega­
jantadas de um dia, o que fornecia a possibi­ dores" em que o teatro estava se desintegran­
lidade ilimitada para a troca alternada através do. Seu coração pertencia ao despretensioso
dos tempos c dos espaços, e deixava um cam­ pillco-twiw/. onde a fantasiada linguagem e a
po florido it poesia, que nele vicejou em luxu­ sagacidade verbal reinavam supremas.
riantes entrelaçamentos de lirismo, aventura, Porem, assim corno na llálin, na França e
burlesco e misticismo. por toda u Europa do barroco, a sociedade du
A grandiosidade do drama barroco espa­ corte deleitava-se com os elaborados mecanis­
nhol está na força da palavra poética. Embora mos do palco de transformação dos bastidores
modesto, o palco-rr»™/ era suficiente. Alguns laterais. Os .sucessores dc Lotti. Baccio del
acessórios cênicos, um palco superior e um Bianco e Francesco Ricci cuidaram dc que os
alçapão era tudo de que se necessitava; todo o figurinos no palco nfio fossem menos stmiuo-
resto - a atmosfera sugerida pela iluminação, sos do que os Ilajes de veludo e brocado da
a imaginação cênica c a Irocu dc cenário - era plaléia. e de que as palavras, faladas ou canta­
criado pela palavra falada. De que ou ira for­ das. fossem distribuídas em uma "armação"
■ 370
36. T « iro r o t r a l espanhol dn sârtiln XV1Í: apresentação no C ortai dei Frincipe, Madri. Desenho i k reconstrução de
Juan Comba v Garcia f l 888),

37. Coiml de AI mugiu, Ciudad Kcal, O pálio foi restaurado e hoje c1 ulílÍTaido para «peidei lios no estilo Uo *'Sipto de
Oro".
38. Carro-palco tripariite, trazendo uma apresentaçao da comédia La A d u tte ra
Perdt>i\ada,áe Lopedc Veja, em Madri, 160#. Reconstrução <ie Richard Southern (1960).

39. Cortejo lestivo com grupos alegóricos em Barcelona, na recepção do Arquiduque


Carlos dc Habshurgo. pretendente ao (rono espanhol ícorno Carlos Hl), Licograsura da
época (Paris, Bibliothèque de l'Arsenal).
O Barroco

capaz de fazer o autor semir-se tanto lisonjea­ pada, juntameme com os espirituosos peque­
do quanto sobrepujado. nos interlúdios conhecidos como “lances de
Durante esta época áurea, mais de trinta Calderón”.
mil comedias foram escritas na Península Ibé­ Mas, além da requintada rede de intrigas
rica. Seu clímax e canto do cisne estão ligados em A Senhora das Fadas, o inflexível código
ao nome do grande dram aturgo espanhol. de honra de O Juiz Alcaide de Zalamea e o
Pedro Calderón dc la Barca. Sua origem aris­ melancólico auto-sacrifício de O Príncipe
tocrática deixou marcas em sua vida, persona­ Constante, Calderón verte lodo o seu poder
lidade e obras dramáticas. Ele não necessitava criativo nos autos sacramentales, a celebração
dos mecanismos cênicos, mas não os despre­ teatral da recondução do homem à ordem di­
zava. Nas produções de seus grandes autos vina do mundo. O poeta sublima e estiliza emo­
sacramentales - com suas solenidades cerimo­ ções e reduz o destino terreno à concepção fun­
niais, sua sublimação da matéria, de um lado, damentai de Deus e do homem.
e sua personificação de conceitos abstratos, de Em Ei Gran Teatro del Mundo (O Grande
outro - ele se utilizou de bom grado dos aces­ Teatro do Mundo), Calderón tira a soma me­
sórios técnicos da magia cênica, sem tomar-sc tafórica da "máquina de los ei elos", do gover­
dependente deles. “Suas peças são compleia- no divino que administra as órbitas das estre­
m ente adequadas ao palco", en alteceu -o ias e da distribuição do quinhão de cada ho­
Goethe mais tarde, “não existe nelas nenhum mem. Este é também o título de uma de suas
traço que não seja calculado para obter um efei­ maiores obras, encenada em 1675 no teatro do
to deliberado. Calderón foi um homem de gê­ palácio real de Buen Retiro, com Calderón su­
nio que ao mesmo tempo possuía uma inteli­ pervisionando [tessoalmente a encenação. Nas
gência superior". palavras da peça soa algo da suntuosidade bar­
Mas ao entendimento acrescentava-se o roca que é adjudicada ao cenário e aos figuri­
poder de uma imaginação soberba e criativa, nos desta obra de gala: “Provede adornos, e os
através da qual capturava o transcendental, e ostentai”,
“da plataforma da eternidade refletia a vida E quando se diz que a criação do mundo
como um sonho, antes do despertar do homem se apresenta num “jardim com os mais gracio­
em Deus (La Vida es Siteno —A Vida é So­ sos contornos e maravilhosas perspectivas",
nho)". Calderón via o significado e o propósi­ pode-se imaginar prontamente a maquinaria
to de sua própria vida como um serviço de barroca dos bastidores entrando em ação para
honra à Igreja, à nação e ao rei. Em 1640, du­ abrir à visão os verdejantes jardins do palácio
rante a rebelião catalã, quando a Ordem de de Buen Retiro.
Santiago, da qual Calderón era membro, cha­ Em Calderón, a coife real espanhola en­
mou às armas todos os seus cavaleiros. Filipe controu um diretor teatral extremamente ver­
IV tentou impedir seu poeta por meio de or­ sátil que fornecia não somente o grande dra­
dem real: insistiu em celebrar o festival em ma pejado de pensamentos filosóficos, mas
Buen Retiro conforme havia sido previamente também a alegre comédia musical A ele re­
combinado. Calderón terminou a peça em unta monta a zarzuela, a forma específica de co­
semana —e correu ao campo de luta. média musical da Espanha do século XVI1. que
Comparada à profusa fecundidade de recebeu este nome por causa do pavilhão de
Lope de Vega, a produção de cento e vinte co­ caça real, Zarzuela, próximo de EI Pardo, nas
médias. oitenta autos sacramentales c vinte pe­ encostas ao $u! das montanhas de Guadarrama,
ças menores pode parecer "uma limitação a um onde o rei Filipe IV e o infante dotn Fernando
círculo muito restrito de motivos”, como decla­ gostavam dc assistir a entretenimentos musi­
rou uma vez Adolf Friedrich von Schack. Mas cais. Calderón escreveu por encomenda tex­
Calderón foi único na precisão impecável com tos de peças musicais líricas em dois atos (cujas
que as engrenagens de seus enredos se articu­ partituras, de compositores anónimos, se per­
lam. Sua força motriz é o inexaurível estratage­ deram).
ma dos disfarces c identidades trocadas que são Por volta de 1657, quando a “écloga de
a marca de qualidade da comédia de capa e es­ pescadores” de Calderón, El Golfo de las Si-

37.1
ffittótitl Mvntial Traírn ■

■ W Desenlw de cenário paia uma peça liiica ile Ciildrióri. De unia série dc desenhos de ceuáni» de IIjVi11
Bibliwecii Nacional I.

renas (O Golfo das Sereias), foi encenada, e grande era da iragédie elassiqne e a Commedia
onde *'a senhora Zarzuela" era uma das perso­ delVane encontrava portas abertas em todos
nagens alegóricas, a designação zarziteia tor­ os lugares, a F-uropa central cra atormentada
nou-se comum para conceituai o género. O pela Guerra dos Trinta Anos. Como sempre e
texto da zarziteia era uma variante do aprecia­ em qualquer parte, bufões e atores ambulantes
do tema de Odisseu-Circe, <|uc as peças pasto­ seguiam na retaguarda dos corpos do exérci­
rais de toda a Europa consumiam. O próprio to. Onde quer que houvesse luta ou onde a ba­
Calderón já lhe dedicara em 1637 a sua comé­ talha estivesse encen ada, eles podiam estar cer­
dia Et Mayor Encanto Amor (Amor, o Maior tos de seTem bem-vindos, fosse sob a bandeira
Feiticeiro). A encenação de O Golfo das S e­ imperial (católica) ou a sueca (protestante), na
reias no palácio de Zarzuela em 1657 deve ter corte ou nas cidades, na praça do mercado, nas
sido, levando-se em coiua a sua fama. uma das feiras e nas estalagens dos vilarejos. O s atores
mais caras na época de Calderón. Teria custa­ ambulantes eram capazes de lançar pontes en­
do 16 000 ducados. A zarzuela, com seu cará­ tre países cujos governantes estavam em guerra.
ter original e quase intocada pelos desenvolvi­ Via Dinamarca e Holanda, os comedian­
mentos da música ocidenlal, sobreviveu no tes ingleses haviam perambulado até bem ao
século XX. Sul. como a Saxônia e Hesse, por volta do fi­
nal do século XVI. A intensa competição cm
seu próprio país, e mais ainda, os volúveis fa­
OS A to r es A m bu lan tes vores da rainha Elizubeth, que podia ora pro­
mulgar proibições, ora distribuir privilégios,
Na primeira metade do século XVII. en­ obrigaram muitos grupos profissionais ingle­
quanto no além-Pireneus o drama barroco es­ ses a emigrar. Cartas de recomendação de uma
panhol florescia, a França contribuía com a corte a outra facilitaram sua trajetória através
■ }74
* O H t ír r o c f i

do Continente. Eles eram aplaudidos em io­ tral áulica de sua propriedade. O próprio d u ­
dos os lugares. Em breve, passaram a aceitar que escreveu em lomo de dez peças em prosa,
atores locais em seus conjuntos, adotando a forlcmente moralizamos mas teatral mente de
língua local e assim exercendo influência per­ efeito, contando em parte com a habilidosa arte
manente sobre o teatro dos Países Baixos, Di­ de etmvn de Sackviile.
namarca e espectalmenle da Alemanha. O chefe de companhia, Robert Browne.
Enquanto a Contundia deli 'arte brilhava por outro lado, era um daqueles que tornavam
com o cómico das situações da comedia dos as coisas difíceis para si mesmos. Sua am bi­
tipos, os diretores ingleses gabavam-se de pre­ ção era oferecer teatro literário, embora tem­
sentear sua plateia com "belas, magníficas, a- perado pelo anúncio de que ele e suas Actiones
Icgres e confortadoras comedias tiradas de assegurariam “esplendido oblectameaturn con­
narrativas históricas". E como nos países pro­ veniente a todos e, para os melancholicis, um
testantes do Norte a lição de moral contava tan­ divertimento muito agradável". Uma parle de
to quanto a ane da atuação perfeita, Roben sua gente foi contratada pelo landgrave Moritz
Browne, ao solicitar ao Conselho da cidade de de I lesse, cm cuja cone atuava o organista
Fninkfurt permissão para atuar, em 1606. deu- Heinrich Schútz. Browne retornou à Inglater­
se ao trabalho de acentuar que sempre fora seu ra, deixando seu grupo sob a adminisiração de
ma is "sério esforço" proporcionar aos honra­ seu bem -sucedido e ambicioso cíoirn John
dos espectadores “motivo e oportunidade para Green.
seguir a probidade e a virtude". Alguns anos mais tarde, em maio de 1618,
Mas no final das comas o público deseja­ Browne voltou ao Continente, com um novo
va um pouco menos de edificaçãoe um pouco grupo e novo repertório. Em Praga, contribuiu
mais de divertimento, Nesta brecha entrava o com várias "comédias, tragédias e histórias
hufão e o palhaço. Ele era o primeiro a saltara bem-feitas" para a breve glória real do "rei de
barreira da linguagem com uma espiriíuo- inverno” , o outrora eleitor palatino Frederick.
sidade verbal direta c sem rodeios. Kclaia-sc e para sua rainha, a princesa inglesa Elizahctlt-
que havia um grupo de comediantes ingleses Dcpois disso, as pegadas de Browne perderam-
em Munique já eni 1599 que contava, entre se na confusão da Guerra dos Trinta Anos.
seus intérpretes, com um palhaço "que profe­ Outro inglês, John Spencer. um hábil táti­
ria muitas arengas c asneiras em alemão". co e homem de muitas práticas e versatilida­
A rivalidade entre as pretensões literárias des, criou fama em Lcidcn e Haia por volta de
e a bufoneria de Hanswursi. que iria alcançar 1605, viajando enlíto muitos anos, via Drcsden,
o seu manifesto ponto alto em 1737. nos dias a lugares tão distantes quanto Kõnigsberg e
de Karoline Neuher. já se desenhava no pri­ Gdansk. Em 1615. conveneu-xe ao catolicis­
meiro estádio da eena ilinerante. Um dos co­ mo em Colónia, adquirindo desiarte o privilé­
mediantes mais populares foi Thomas Sackvi- gio de representar "actiones religiosas, respei­
lle. pai espiritual c criador de uma persona­ táveis c aprovadas", mesmo na temporada de
gem chamada variadameme com derivativos Quaresma.
das palavras cbnvn ou pos.set (grogue j, even- E em conexão com a troupe de Spencer
malineme conhecido pelo nome artístico de Jan que podemos ler uma das poucas indicações
Bouschet. Sackviile era membro de uma das preservadas de como teria sido o palco dos co­
mais antigas companhias inglesas que viaja­ mediantes ingleses no Continente. Para a apre­
ram através do Continente, e chegou, após uma sentação de uma “Comédia sobre o Triunfo
estada em Copenhague, à corte do duque Turco”. Die Einnnhme vou KonmantinnpeL er-
Heiiirich Julms de Brunswick, em 15 9 2 .0 du­ gueu-sc uma dispendiosa construção de m a­
que casara-se com uma princesa dinamarque­ deira cm Regensburg, elaramente inspirada no
sa c linha informações prévias, vindas de Co­ modelo clisabeiano, mas, nesta forma particu­
penhague. sobre a representação do grupo vi- lar. mais provavelmente na exceção do que na
silame. Ele gostou tanto de Sackviile que o regra. Era “um teatro onde os músicos toca­
manteve em sua cone em Wolfenbiiucl de 1595 vam mais de dez gêneros diferentes, em lodos
a 1598 como diretor de uma companhia tea­ os tipos de instrumentos. Sobre o palco havia
H is t ó r ia M u n d ia l tfo T tu u ro *

um segundo tablado, erguido a dez metros so­ Em Frankfurt. jáem 1649. "die Greene-Reinoi-
bre seis grandes pilares: em cima de tudo isto dsche Trnppe" anunciava orgulhosaruente que
foi construído um telhado e, embaixo, uma havia “de longe superado a arte dos estrangei­
boca de cena aberta, onde realizaram actianes ros". Naquele mesmo ano, Joris Jolliphus, que
maravilhosas'. chegara a Colónia em 1648 vindo da Holanda,
Spenccr era versátil não apenas emassun- fez saber que possuía "uma companhia que
tos religiosos, mas também nos artísticos. Ele falava alto alemão, facilmente compreensível,
ofereceu a seu público um novo tipo de cbwn, e que poderia oferecer pastorais e peças musi­
apresentado em L6 17 em Dresdcne.em 1618, cais à moda jialíana, bem como tragédias",
na corte de Brandemburgo com o nome de “cujas histórias nunca antes haviam sido colo­
Stockfish - um co n trap o n to para o Jan cadas no palco destas redondezas".
Bouschet dcThomas Sackevillec paraoPickle É provável que isto se refira às primeiras
Herring criado por Robert Reinolds, um ator apresentações das peças de Gryphius. porque
que penenccra originalmente à companhia de se sabe que, em 1651. suas peças mailirioló-
Robcrl Browne c que mais tarde sc tornou, ele gicas f* a Arménias c Cníharina von Georgien
próprio chefe de uma companhia. foram levadas por atores ambulantes em Co­
A origem inglesa permaneceu até a meta­ lónia. Andreas Gryphius havia conhecido o
de do século XVII uma garantia da qualidade teatro profissional holandês quando estudante
dos intérpretes, que foi aceita em toda a Euro­ em Leiden. Viera para admirar o drnmalurg»
pa central e até na oriental, como por exemplo humanista barroco Joost van deit Voodel, o
cm Elbing, Varsóvia e Graz. Comediantes In­ maior dentre os autores clássicos holandeses.
gleses do Landgrave em Cassei era n título de A obra de Gryphius foi muito influenciada pela
honra outorgado por Moritz de Hessc ii sua de Vondel; se bem que, como seu Horribilicri-
companhia de teatro da corte, que teve o privi­ bifax demonstra, ele tanihém linha laços es­
légio de representar no primeiro edifício tea­ treitos com a Commedia deiVarie.
tral de pedra da Alemanha, o Ottonium. cons­ Gysbrecht vau AemsteL dc Vondel. foi a
truído em Cassei em 1606. O Ottonium ainda peça escolhida para a abertura dc gala du
existe. Após muitas reconstruções, abriga hoje Schouwburg de Amsterdâ em 1658. I.É ainda
um museu de história natural e as exposições hoje encenada lodos os anos no Ano Novo.)
da Sociedade de Arte dc Cassei. Graças às peças de Vondel, os atores itinerantes
Em 1651, quando a Guerra dos Trinta holandeses tomaram-se os bem-sucedidos con­
Anos havia terminado, um grupo de comedian­ correntes dos comediantes ingleses, O grupo
tes ingleses foi o primeiro a ser autorizado pelo dc Bruxelas do uyquiduque Leopold Wilhelm
conselho da cidade de Ulm a representar no da Áustria, durante uma rauméc apresenlou-
teatro no liindefhnl construído por Joseph se em ArnSlerdã. Postcriormenle viajaram e ga­
Funtenbach. Inaugurado cm 1641, foi o pri­ nharam fama com seus espetáculos com » con­
meiro teatro municipal na Alemanha: ao lon­ vidados no Castelo de Gottorp em liolstcin
go desses dez anos - na medida que os tempos (setembro de 1649), e em Flensburg, Copenha­
atribulados permitiam - sediou apresentações gue e Hamburgo Quando voltaram a Amsterdâ
de atores ambulantes e do drama didático. em 1653, Vondel recebeu-os com um poema
& n Ulm. como em qualquer outra parte, que expressava sua gratidão e admiração. Seu
os administradores teatrais que eram também diretor Jan Baptistu Fumenbcrgh em 1666 ga­
dramaturgos garantiram que o drama didático nhou o elogio tio padre e poeta de Ilnmburg-
continuasse a manter-se ao lado das peças apre­ Wedcl, Joliann Rist, ti qual declarou que ele e
sentadas pelos atores profissionais, Eventual sua excelente companhia haviam superado em
mente, ambos vieram a dividir as mesmas as­ muito a infelbm cnte famosa maneira dos “■cu­
pirações e os mesmos aurores. As ubras do randeiros. arrancadorcs de dentes e poetas
silesiuno Andreas Gryphius e do holandês Joost bufões”. Rist fora especialmente a Allona a fui)
van deu Vnndeí - que original mente haviam de assistir à apresentação convidada. Ficou um
escrito para o teatro didático - foram incluí­ tanto perplexo com o fatu de que os holande­
das no Teperlório de histariis à muda inglesa. ses, de acordo cum um hábito que sobrevivera
• ,I7ft
• O B a rro c o

41. Cena nn labladu de atures am bulamos: drama


herúico ( H a u p i - v n d S t n a í s u k t i m ) Gravura em cobre,
frontispício de uma coleção alemã de ]>eças apresentadas
por atores ingleses e franceses íos c n g t i s c h e m k o m õ -
í t i u n i e n y Frankfurt am M ain, 1fi7í I.

à época dos Rcderijker, introduziam suas pe­


ças com um labieaii vivam. “'Quando aque­
la exibição, que é g cra lm c n te ctiamuda
Vertooninge, termina", conta Ri st, "cada es­
pectador já sabe quantos e que tipo tle atores,' .
e com que figurino eles aparecerão nas comé­
dias c tragédias que serão levadas".
Sc alguém tosse traçar os itinerários dos
comediantes ingleses c holandeses, dos atores
da Çammedia delFarte c seus companheiros,
dos burattini com suas tendas de marionetes,
e, enfim, das inúmeras companhias itinerantes
da Europa central, faria um mapa inextricavel-
mente confuso e marcado por linhas cruzadas.
Os nomes dos diretores de companhias conhe­
cidos abarcam uni século inteiro da história do
teatro europeu, do Barroco c do lluminismu até
a fundação dos teatros nacionais.
Rivalizavam por causa dos favores de prín­
cipes e magistrados, das melhores peças c da­
tas mais favoráveis, e dos serviços de atores
de mais sucesso, e velavam para que o teatro lógica de notáveis grupos posteriores". Durante
não se cobrisse de ferrugem. As tnmpes am­ quinze anos Veltcn c sua companhia perambu­
bulantes abriram a Europa para o teatro mun­ laram de lugar em lugar, ganhando populari­
dial. O diretor de companhia Cari Andreas dade e estima em toda parte. Em Nurcmbcrg,
Paulsen, de Hamburgo, e a companhia de Breslau e I lamburgo. ele levou à cena a assim
Michael Daniel Treu apresentaram à Europa chamada Ratskamõdie (comédia de conselho),
setentrional e oriental Marlowe, Kyd c Shakes- uma encenação beneficente que expressava a
peare, Lope dc Vega c Calderón, mesmo que gratidão dos atores pela recepção hospitaleira.
em seus esforços prevalecessem sempre as Nestas ocasiões, coma Devrienl, "os conselhei­
boas intenções mais do que os resultados artís­ ros compareciam in corpore, ocupavam os lu­
ticos e, no que diz respeito ao texto, se mostras­ gares mais privilegiados, ou seja, no próprio
sem Ião distantes do original quanto na geo­ palco em ambos os lados do proscénio, c não
grafia. Encenaram também Vondcl e Gryphius, se recusavam a ser homenageados com uma
cuja tragédia política heroica Fapinianus teve oferenda musica] {Serenada} pelo alto favor e
uma montagem dc sucesso cm 1685 diante da graça demonstrados". Em Dresden, Vclten foi
corte bávara no Castelo Schleisshcim, onde convidado por Johann Georg II para partici­
ulilizaram todos os meios disponíveis para in­ par dos festivais dc teatro da corte organiza­
tensificar a emoção em um palco improvisado dos cm 1678 e, depois dc 1684, foi emprega­
num salão de baile. do permanentemente por Johann Georg III.
O edil Johanncs Vclten e seu Chur-Sã- Vicna, Graz c Klagcnfurt foram o domí­
chsische Komõdiunlen provernm Drcsdcn com nio do elenco de Andreas Eleuson, cuja suces­
seu teatro. Neste "famoso grupo Icalral", con­ são conduz por intermédio de Johann Caspar
ta Ediiard Devricnt. "radicava a árvore genea­ 1laacke até o ator Karl Ludwig HolTinann. que
História Ma ad ia l da Te at ro •

*Í2. C unj 'I'' UruFna harrvco (le marírii! Caduinna roa Gcor%icn. de A ndrtvr. G iyphiu*. Gravuro em cobre dc lidi.
llsmji, ; íi>.‘v

cm 1724 orientou a «Ucia de uma jovem atriz tes conhecidos com o Skotnorokiti. foi agora
cuja estrela nasceu e sc pôs no íinnanieuin do apresentada, pelorrivem ô/rde Kunst, ao dra­
lluminismo: Karolme Neuber, nascida Weis- ma europeu ocidental, nmda que em reflexo
senborn. fillia de um advogado dc Zwicktiu, tímida. Com C orncille c Molière. entretan­
que. recebeu uma educação humanista, e fu­ to, teve dc aturar também um amplo reper­
giu de casa para desposar o ator Juhann Neubcr. tório de tragédias heroicas no estilo bom ­
Finaltnenle, um dos não menos importan­ bástico de Lnhcnstcin. tuna especialidade de
tes grupos pioneiros do teatro mundial foi a Kunst.
iroupo de Joltann Chrisiian Kunst. que abriu Os cenários e figurinos das tnmper am­
seu caminho através da Prtissia oriental che­ bulantes eram de início bastante modestos.
gando alé Moscou. Trinta anos anles, Paulxen, Com o seu custo crescente, o desfile barroco
então cm Dan/ig (Gdansk !. havia sido convi­ de roupas suntuosas e chapéus emplumados
dado polo czar para aluar no Kremlin, mas a dependia inlciramentc do que estivesse dispo­
viagem não se realizou. Kunst c seus homens nível em caixa e da generosidade de quem por­
ai ingiram o Volga em 1702.0 czar Pedro I pôs ventura empregasse os atores. Se o grupo esti­
à disposição deles o palco de salão no Kremlin, vesse a serviço de um príncipe ntào-abena. o
em uso desde 1673, e os contratou como ato­ guarda-roupa da corte sem dúvida ajudava a
res de sua corte. Em 1702. um teatro especial reabastecer o estoque dc figurinos. Quando a
para comedias foi consmiído na praça diante peça original incluía papéis que não podiam
do palácio (hoje Praça Vermelha). A socieda­ ser distribuídos ou adornados adequadamen-
de áuliea russa, até então entretida pelas te, estes eram reescritos ou. se preciso fosse,
oferendas artístico-musicais de hulões erran­ cniuplctaincnlc omitidos.

• .17*
* O /tiirruríi

O palco era em essência dividido ao meio tas possibilidades. Figurinos orientais estavam
por uma cortina, que deixava uma área de ação muito em voga, como pode ser visto nas gravu­
neutra à frente e, como elemento de surpresa ras das cenas de Cmhanna vtm Gcorgien, da
adicional, um palco de fundo, já equipado com montagem de 1654. cm Wohlau. César usava
acessórios. Na metade do século XVII. as cor­ uma peruca de cachos, e Aimínio um penacho.
tinas de frente do palco fcuja função de "m as­ O Bcliieriícher Macchiaveitua (Maquiavcl
cararas maravilhas" já havia sido discutida em Bávaro) de Christian Wcise sentava-se num tro­
detalhe p elo arquiteto de teatros Joseph no sob uni dossel barroco, e a pompa e a pose
Furttenbacli. de Ulm) era geral mente usada pe­ da personagem principal na tragédia herói ca as­
las ttoupes ambulantes. Ambos os tipos de cor­ semelhava-se á do Roi SMeil ein seus muis sun­
tina cornam da direita c da esquerda. Durante tuosos retratos, ‘"Nem tudo o que reluz é ouro”,
o século XVHl, o próprio aspecto externo do escreveu ó -gravador de Augsburg, M artin
palco beneficiou-se da tendência geral para a Engelbrechi. no topo de suas páginas povoadas
consolidação, quando grandes cidades perm i­ de atores ambulantes luxuosamente vestidos c
tiriam que determinados grupos atuassem re­ portando cetros. A tentativa de aplicar esta divi­
gularmente em temporadas definidas nus sa­ sa a uma reforma dos figurinos teatrais envolve­
las de IcatrOS existentes. ria Gottsched, o crítico e refor-mador do drama,
Os efeitos baseados cm disfarces sempre numa batalha amarga e assaz infrutífera, que pôs
foram populares, espccialmenle as trocas de tra­ fim à sua colaboração com Karoline. Neuber, a
pos de mendigo [W trajes de rei, com suas mui­ famosa atriz c chefe dc um grupo ambulante.
I

I
i
A Era da Cidadania Burguesa

in t r o d u ç ã o dicionário secularizador e cético, e a Epístola


de Tolerância de John Locke eram avidamen­
Em toda a Europa, o século XVII] foi uma te lidos nas bibliotecas públicas. O Terceiro
época de mudanças na ordem social tradicio­ Estado aumentava sua exigência de participa­
nal e nos modos de pensar. Sob o signo do ção nos assuntos do mundo e da mente.
[luminismo instituiu-se um nnvo postulado: o Mas as fundações sobre as quais apoiava-
da supremacia da razão Ideias humanitárias, se a sociedade europeia no século XVIII eram
entusiasmo pela natureza, noções de tolerân­ ainda feudais. Sob o rótulo "Ancieti regime",
cia e várias "filosofias'’ fortaleceram a confian­ seu curso foi direcionado para a Revolução
ça do homem na possibilidade de dirigir seu Francesa, que fundiu Iodas as glandes emo­
destino na terra. Em 1793, Deus foi oficia)- ções do século numa explosão tremenda de
mente destronado na Catedral de Nutre Damc povo, natureza, sentimento e razão, definindo
de Paris, e a deusa Razão fui colocada em Seu sua própria forma de vida e exigindo seus de­
lugar. vidos direitos humanos e civis.
Apesar de sua fragmentação em peque­ O teatro tentou contribuir com a sua par­
nos Estados, a Europa conjuiuara-se mats. le para a formação do século que seria tão
Durante a primeira metade do século, senliu- cheio de contradições. Tornou-se uma plata­
se unida na atmosfera otimista da Ilustração, forma do novo autoconhecimento do homem,
ao passo que nas c o rte s p rin cip esc as o um púlpito de filosofia mora], uma escola éti­
fartíssimo do barroco ia morrendo nos espe­ ca, um tema de controvérsias eruditas e tam­
lhos e m olduras do rococõ. Enquanto os bém um património comum, conscieniemen-
galantes da sociedade da cone de Walleau em­ lc desfrutado. Le Père de Famitte fO Pai de
barcavam para a ilh a de C itera. Hogarth Fam ília), de Diderol. o grande m odelo do
perambulava pelas ruas de Londres fazendo novo dram a dc classe média, conforme de­
esboços de prostitutas e criados. A corte e a clarou Lessing, não era "nem francês nem
cidade foram os dois centros da sociedade do alemão, nem de qualquer outra nacionalida­
século XVIII. e a França e a Inglaterra forma­ de, mas simplesmente humano” . A peça as­
ram as duas esferas de influência das quais a pirava a expressar apenas ‘‘aquilo que cada
sociedade recebia suas ideias. um podia expressar, como o entende ssee sen­
De Paris e Londres emanavam os primei­ tisse” .
ros esforços pura conciliar as novas ideias se­ A era dos grandes teatros da cidadania
culares e científicas com o modo de vida da burguesa começava. Dentro de poucas déca­
classe média. O Dictionmurc. de Pierre Bayle, das, esplen d id o s teatros e ó p e ra s seriam
M íjf âriti M u i tí tu i l tio T e o t r e *

construídus por ioda a Europa, com Ires. qua- O ILUM1N1SMO


iro ou cinco fileiras de assemos em semicír­
culo ou em forma de ferradura, diante de Um
O T e a t r o Europeu e n t r e a
alto e magnificamcnic emoldurado palco do
tipo “cosmorama". Alguns deles, sem dúvi­ Pompa e o Naturalismo
da, foram encomendados ainda por monarcas,
mas foram concebidos com a mesma finali­ Visto que. para a Ilustração, a forma tilais
dade que inspirou Augusto, o Forte, eleitor da elevada do pensar e do atuar humano consistia
Saxõnia, quando construiu o Zwinger em na possibilidade de subordinar a existência e o
Dresden: ser um cenário para festas do povo. seu meio ambiente ao conceito de razão, o tea­
cm grande estilo. O Théâtre de la Monnaie. tro, por sua vez. foi também chamado a assumir
em Bruxelas, foi o primeiro na longa serie de uma nova função. O palco viu-se convocado a
edifícios teatrais imponentes do século XVI! 1. ser o fórum e o baluarte da filosofia moral, e
do Teatro Argentina em Roma ao Haymarket prestou-se a este dever com decoro e zelo. na
e ao Covent Gardcn em Londres, dos Grand- medida em que não preferiu refugiar-se 110 rei­
Théâtrcs em Lyon e Bordeaux au Royal Ope­ no encantado da fantasia ou do riso da Commedki
ra House em Copenhague, do San Cario em deli'arte. Os critérios do novo drama literário
Nápoles ao Grau Teatro del Liceo em Barce­ Foram o da máxima da vcrossimilhança, isto é, a
lona. regra do bon seus - senso comum - como de­
O lema era: “No que os olhos vêcm. o senvolvida por Bnileau em sua L'Art Poetique
coração crê”, e o teatro, como edifício festivo ÍA Arte Poética) (1674) c o princípio moral.
e cenário do drama da cidadania burguesa, for­ O século do Iluminismo tendia para a re­
necia uma moldura descomedida para auto- flexão, O sentimentalismo e a crítica. Houve
reflexão comedida. muita moralização c argumentação, autoriza­
A época, iniciada sob o sopro frio da Ra­ das c inspiradas pela nova deusa da Razão.
zão, terminou em se mi mental ânimo, sendo Surgiram as revistas semanais para as classes
ao mesmo tempo, porém, abrasada pelas no­ médias, e elas dedicavam páginas inteiras ã
ções de gênio do 5turm and Drung qae. en­ questão do teatro. Mas o erguido dedo indica­
tão domesticadas, foram centrais na era do dor da admoestação fazia prosperar ma is a
classicismo de Weimar. A represa do século respeitabilidadeqaeogêrio. No prefácio à tra­
decorrido inundou as correntes intelectuais e gédia burguesa The f-yitig Lorcr (O Amante
políticas do século XIX. O romantismo lor- Mentiroso) (1702), unia adaptação sentimen­
nou-se o primeiro movimento literário cos­ tal de Le Menieur de Corneille. o dramaturgo
mopolita capaz de reunir tanto a Revolução inglês Richard Steele esperava que a graça se
quanto a Restauração. Os países da Europa recuperasse de seus excessos e encorajasse a
central, setentrional e oriental desejavam um virtude, enquanto o vicio pelo contrário fosse
teatro próprio, e este era um dos impulsos entregue à vergonha.
principais do teatro; o outro era a idéia de um Na França. Marivaux. o primeiro especia­
repertório mundial, como o idealizado por lista na psique feminina, escreveu uma série
Goethe. de comédias brilhantes, nas quais elementos
Para Vicior Hugo. o drama histórico ro­ do nouveau théâtre italicii de Luigi Riccobotii
mântico era rnn “m im ir de concentrado»'’ são refinados para servir aos propósitos de es­
(“espelho de concentração") - a ópera o en­ tudos psicológicos sutis. Marivaux foi autor
volveu na ebriedade sonora das grandes or­ de trinta peças singulares e criou uma forma
questras, e o realismo iransformou o palco no de arte conhecida como comédie gcirc (comé­
cenário da arqueologia ou no salão elegante, dia jovial), que era em muito superior à mora­
A diversidade de formas simultâneas procla­ lidade sentenciosa do lacrimoso drama bur­
mava a aproximação de um processo dc de­ guês, embora contribuísse bastante para o sc»
mocratização que encontrou sua primeira ex­ desenvolvimento,
pressão no naturalismo do inicio dn século Luigi Rjccoboni fez-se, ent 1738, o pri­
XIX meiro campeão de um tipo de comédia na qual
• 382
I. M lk \ r ia im n tim iu ldann.\ f i n t.'O rphe!m it r ín C him ' t i c Vollaírc. l>idcn>t. cm 1 7 d n g io u .1 c o r j j i e m ÚL'\t;i u l r r /
por usyr u mi ligurino-úiM U sM c m c s iilu chinc^, sem a n q u i i i h u v M;is uo 2 í r C o ítiv r tit' Costumes Frun^uis. publu/ado trn
l^uns 177‘J, cia é mo\ir;i<J;i. num fipurimp d.i nuprfa, to m c r im tlitu . derie-nhado pcln ll^ iiriiiis la da c u rlc . Sanaziii
2. Dispositivo cçnográfiCO paru uma cena do drama burguês L BnfamPro<U$(u’<1736». Jc Voliairc; o filho pródigo no
bordel. A vista pintada do jardim. na tela de fundo, acentua a ilu&iio ilc profundidade e ástãncia.

3. Apresentação da tragédia Irètiv, de Vo Llllí rt-, jiu Comedi o l',pnçai.'ie, em Paris, no dia »0 de março do I77X. No puleo.
o busto de Volta ire coroado com uma grinalda de Inums. O aulnr de Caiuthtc. então coili Kd anos. observa i Jo camarote
acotiinado u esquerda I enquanto é homenageado.
J. Q uadro fin a l de Lx> Pèt€ <U‘ Funuite dc D id c ro í, Icvudo no Nieuvve Schouwburg em Am ^lerda, 1775

5. C c iu dc l.<> tttoricstx. de P. N Desloudio-s, na Cu médio F ra n g i se. com Ciram ivnl no papel de Vulêre, Quinau ll
DulVesne no de C oim e de T u f ic ir . r M llc . G ra u d v íil no de K a belle. Gravura de N. D u jm is. a [>yrm ck N icolíw Lancret.
r- 1738.
H is t ó r ia M u n d i a l dt* T r a í r a

a magnanimidade e a renúncia se combinam “Um poeta inglês é um homem livre que


num final feliz, c que ChilSSirort descreveu deixa sua linguagem o servir enquanto o espí­
zombetetramenle como comédie larmoyanl rito o move”, escreveu Voltaire em 1730, quan -
(comédia lacrimosa). (Lessing, em sua tradu­ do enviou Urutus ao lorde Bolingbroke, com
ção das Réflexions sur le Cotttiqtte-larmoyatn quem permanecera em correspondência des­
- Reflexões sobre o Cómico-lacrimoso - de de sua estada na Inglaterra.
Chassiron, escolheu o (ermo alemão weiner-
lisches Lustspiel. cujo advogado no palco ale­ O francês è um escravo da rini.i. e è obrigado ulgu-
mão foi o dramaturgo Gcllert.) m s vezes a pôr para fora quaitu linhas a lini de expres­
Na Inglaterra, a assim chamada comédia sar uma idéia que um inglês pude descrever numa única.
sentimental foi igualmentc bem sucedida e
atraiu uma série de autores, de Richard Steele Voltaire invoca Comeille, Racine e Boileau
ao ator-empresário Colley Cibber e aos con­ antes de chegar ã seguinte conclusão:
temporâneos da Sentimeiaal Jtmmey thnmgh
Quem quisesse Livrar-se do fitrdo carregado pc! i>
France and haly (Viagem Sentimental através grande Comeille seria sisln não como um espiiito auda­
da França e Itália) de Laurence Stem. Lessing cioso a abrir caminha numa nova estrada, mas como um
traduziu a palavra inglesa sentimental por fraco incapaz de sobreviver na velha trilha
Empfindsam e com isso cunhou um termo ale­
mão para o idílio burguês por volta de 1730: Voltaire não via futuro na tentativa de "nos
Empfindsamkeir. O V Enfant Prodigue (O Fi­ dar tragédias em prosa". Diderot demonstrou-
lho Pródigo) de Voltairc não está longe da lhe o contrário - o audacioso proponente da
comédie larmayante, mas intensifica o tom metodologia do Pamdoxe sur te Comédien (Pa­
sermonário. Voltaire adulava o espírito de sua radoxo sobre o Comediante) e compilador te­
época sem se sujeitar a ele. "Vejo a tragédia e naz da grande Enciclopédia declarou-se parti­
a comédia como preleções sobre virtude e res­ dário do drama sentimental burguês e escre­
peitabilidade". também declarava, nias prefe­ veu Le Père de Fatnille (O Paí de Família), na
riu provar a nobreza de suas personagens em prosa simples da linguagem do quotidiano,
terras distantes governadas por príncipes mu­ O teatro francês teve seu triunfo de senti­
çulmanos e tártaros, em vez de fazí-lo no té­ mentalidade. Mesmo um dos “mais empeder­
pido conforto dos interiores burgueses. nidos egoístas de sua época, o rei Luís XV",
"Fui conquistado por sua virtude", confes­ contam-nos os cronistas, derramou lágrimas
sa Gêngis Khan, no final do drama LOrphctin na representação de Le Père dc Família em
de la Chine (O Órfão da China), a Idamé, a março de 1761. A consistência com a qual a
esposa do mandarim, que incorruptível mente era da cidadania burguesa forjou sua própria
resistira tanto à sua corte quanto a suas amea­ forma dramática corria ã frente de sua lingua­
ças. Voltairc reinterpretou seu modelo chinês, gem no palco. Os atores da Comédie Française
de quatrocentos anos de idade, segundo n es­ estavam acostumados a observar a partitura
pírito da Razão e do Juízo. Admirava a sabe­ declamatória do verso. Quando foram priva­
doria do Oriente e a tenaz persistência com dos dela, sentira m-se perdidos num pais des­
que suas tradições se defendiam de qualquer conhecido. Após o espetáculo, Diderot escre­
tipo de violação, E assim atribuiu a seu impe­ veu a Voltaire:
rador tártaro o mérito de render-se à virtude
de Idamé e ser um vencedor inteligente. “F,sle Somente Brizanl. nr> p.i|K-[-tiiuk> c a senhora de
é um estranho exemplo da superioridade na­ Pníville cumo Cécile real mente responderam uixt requi-
siros da |teça. Para ns outros, o novo género era tão estra­
tural da razão e do gênio sobre a força cega e nho que, asseguraram-me eles, tremiam o tempo lodo etn
bárbara", escreveu Voltaire em seu prefácio. que estiveram em cena.
Seus heróis perseguidos sofrem em verso, exa-
tamente como os de Comeille e Racinc, Ele A esta altura, a Comédie Française já ha­
admirava Shakcspeare, mas senti a-se incapaz via introduzido uma reforma cujos inícios ha­
de tirar proveito do tratamento livre de seu viam causado um choque: a renuncia ao ab­
diálogo. surdo lastro do figurino barroco. A exigência

* 386
* A E ra 4 a C iJa d o ttttt B u rg u e sa

de rratsemblance Cveros si miíhança). entendi­ tabilidade, já cm 1710, com sua ópera Rinaldo,
da por Voltai re e D iderot como “natureza seguida alguns anos mais tarde por Pastor Fido
embelezada”, passou por maus momentos na (O Pastor Fiel) e Teseo e, em 17 17. pela Water
prática teatral. Houve quem sentisse como uma M usic (Música Aquática), composta para uma
impertinência que a atriz Clairon, no papel de festa real noTámisa. Mas então Jonathan Swift
Idamé em 1755. se atrevesse a aparecer numa deu a John Gay a ideia de escrever a mais bem-
indumentária cm estilo chinês sem anquinitas. su ced id a sátira m usica] d o século. The
Mas Diderot enalteceu-a entusiasticamente em Beggar's Opera (A Ópera dos Mendigos), que
seu De la Poesie Dromalique (Da Poesia Dra­ satirizava inteligente e im pudenlem ente o
mática), de 1758, em que pede: palitas do estilo operístico de Haendel. os sen­
timentos elevados e heróícos do teatro musi­
N w c o m in lii que o preconceito c a muda a subju­ cal contemporâneo, atrás dos quais soavam
guem. C onfie cm icu go&it» c génio. M cstrc-im u a natu­
eom bastante frequência ecos vazios e, por fim,
reza e a vcnlode: porque este é o dever daqueles a quem
amamos e cu jo * talem os nos inclinaram a aceitar de bom mus não menos importante, o sentimentalismo
gr&do qualquer coisa que ousem querei- burguês.
Quando John Rich produziu 77re Beggar's
A medida do ressentimento do público Opera, em 1728. noLincoln*s Inn FieldsThea-
francês, ao ser privado dos costumeiros robe ire, arriscou o pescoço. A despeito de Defoe
à la m ode, pode ser constatada pelo que acon­ ter trovejado, tachando-a de “imoral peça de
teceu à ópera e ao balé. Louís Re ué Bouquet, escândalo”, a obra foi um sucesso e cornou
o imaginativo mestre do figurino rococó. ves­ sessenta e três apresentações que, como gra­
tiu suas bailarinas com crinolinas de seda cejavam os londrinos, tomaram o compositor
bufantes, mangas pregueadas, véus de renda, “Gay rich" e o diretor "Rich gay“ *.
plumas de avestruz e guirlandas de flores. Os A forma escolhida por Gay, que alternava
hcróís-lilulo do Castor et Pollus de Rameau canções e diálogos, tinha paralelo no Singx-
apareceram com enonrtes penachos: Febo usa­ p iet (peça cantada), uina espécie de ópera có­
va uma volum osa saiu balão, e as Fúrias mica. O Singspiel alemão desenvolveu-se em
resplandesciam em profundo décolleté e apli­ linhas muito próximas às da opereta: em Pa­
cações de pele de cobra. A tfigênia de Gluck ris, o Théàtre de ia Foire transfomiou-o em
e a Zemira de Grétry. nas respectivas óperas, vaudcviHe com um toque de cabaré; trinta anos
tinham a mesma elegância que a$ figuras mi­ mais tarde, as tin'a.v bafa de Viena, parodian­
tológicas do mestre de danças Jean Georges do a opera seria, eram primas em primeiro
Noverre. grau de The Beggar s Opera. Um segundo de­
Desde sempre, a ópera reivindicava o pri­ senvolvimento foi a forma artística do melo­
vilégio de ser conservadora. Financiada pelas drama. mais hem tramada: já experimentada
cortes, desafiou todas as ordens da razão, m es­ pelo teatro didático e ainda mostrando sua in­
mo na época do racionalismo, e regalou-se na fluência na Zaide de Mozarl. tinha sua ori­
mágica dos bastidores laterais e maquinaria gem nomonodrama para um só ator. cujos pio­
de palco, com vulcões em erupção, navios neiros foram Jean-Jacques Rousseau e Geor­
afundando e balés orientalizantes. (Uma en­ ges Benda.
cenação restrospectiva de Les Indes Galantes A retomada dos modelos básicos da Anti­
- As índias Galantes - de Raineau, na Ópera guidade lambem na música e suas aplicações
de Paris, foi entusiasticamente aplaudida em ao inundo sentimental burguês abriu um vaslo
Í952 e leve casa cheia por três anos.) campo de possibilidades teatrais entre os pó-
A vida operístíca de Londres foi domina­ los da pompa e da nalnralidade, um campo de
da por Haendel a partir de 1720. Como compo­ correntes e contra-correntes contrastantes.
sitor e maestro da recém-fundada Roval Aca- O esplendor áulico do ahsolutismo estava
demy «f Music. ele levou a ópera italiana a celebrando seus últimos triunfos, A burguesia
um brilhantismo muito aJcm daquele alcança­
do em Paris. Viena c mesmo na Itália. Haendel Troeadiilw entre us palavras gpy (alteie) c r u f i
buvjn obtido os favores da corte inglesa e no­ triu n f ijttv num» Ju Juím Guy c John Rich.
H is t ó r ia M u t t d iit f do T e a tro

provou ser uma fonte de poder criativo. O es­ Espetáculos), opusera-se i predominância do
pírito puritano e pietistn revelou uma obstina­ drama clássico francês no teatro suíço c cha­
ção rabugenta em limitar os domínios de ati­ mara a atenção dos seus amigos confederados
vidade que mal acabavam de ser conquistados, para sua própria tradição de teatro popular.
mas não logrou a "jornada na direção do bom Voltaire divertiu-sc á socapa fazendo o papel
gosto". “Oh. permiti que o espirito lúdico se de advogado do diabo na assim chamada
aproprie dos campos, da trilha dos desejos de “guerra do teatro suíço" que ele havia desen­
nosso coração, do jardim dos nossos sonhos cadeado.
amorosos", assim Tieck. em Prinz Zerbino (O Medido por Comeille e Racinc. o poder
Príncipe Zerbino), zombou, um século mais dramático dc Voltaire era muito menor que sua
1tarde, de uma era na qual grandes pensamen­ razão crítica. Mas os atores o amavam. Com­
tos e iditas revolucionárias amadureceram petiam pelos famosos papéis principais de
debaixo de perucas que iam até os pés. Zaíra, Maomé, Alzira, Brutus. Méropc. Quan­
Com O Barbeiro de Sevilha, Bcaumar- do Voltaire. aos oitenta e quatro anos, voltou a
chais irrompeu através da hierarquia clássica Paris mais uma vez em 1778 para uma apre­
de personagens do drama e da ordem social da sentação de sua tragédia Irene, foi recebido
sua época. Elevou o tradicional papel se­ como herói nacional, no palco e pela Académie
cundário do confidente, transformando-o no he­ Française. agora que. nas palavras de Goelhe.
rói da peça, que engana duques, doutores e clé­ “avançara em anos, como a Literatura, que ele
rigos e desacredita a política c os privilégios. dominara por quase um século".
E. em As Bodos de Figarn, que a censura barrou O sucesso de um autor media-se pelas lá­
por seis anos, Beaumarchais revelou os abismos grim as derram adas na p iatéia. Chrisloph
sobre os quais a guilhotina logo se ergueria. Martin Wieland. então jovem professor parti­
Em O Barbeiro de Sevilha, Fígaro paro­ cular em Zurique, cm junho de 1758 viu Sophte
dia a garbosa arte do verso antilétic» e, ao mes­ Ackermann. diretora da Troupe Ackcrmann,
mo tempo, também o grande Voltaire. que ha­ no papel da Alzira dc Voltaire. Ele havia co­
via se mostrado incapaz de libertar-se tanto de meçado a escrever uma tragédia, Lady Johnmut
Pictro Metastasio na inúsica do alexandrino Cray. e agora retomava o trabalho. Um mês
quanto da “invenção de lugares plausíveis” . mais tarde, em 20 de julho de 1758. a senhora
Jumamente com Rameau. Voltaire havia escrito Ackcrmann representou o papel-título da peça
a ópera-balé La Princessede Navarre ÍA Prin­ de Wieland em Winterthur. Arrebatou o públi­
cesa de Nirvana), que foi encenada cm Ver- co com “encanto dulcíssimo" alternado com
sailles em fevereiro de 1745, e com isso incor­ “frequentes lágrimas". O autor elogiou sua a-
porou a sucessão da comédie-battet, forma tuação. por ter ela expressado toda a dignida­
criada por MoJicrc c Lully. de da personagem, e também aquilo que ele
Mas cm Genebra, como dono primeira próprio pudera apenas sentir, mas não traduzir
mente de uma casa de campo chamada Les cm palavras.
Délices c depois dc uma propriedade nos re­ Chorar e rir à saciedade, numa única noi­
dondezas de Femcy, Voltaire deu-se ao prazer te. era a exigência do público, à qual o teatro
de desafiar a lei das autoridades cal vinislas que de Londres do século XVIII também obede­
proibia espetáculos teatrais. Convocou os as­ cia. A í o drama burguês prosperava em dois
tros daComédie Française, as atrizes Dumesnil teatros rivais, o Dntry Lane Theatre, fundado
c Clairon e os atores Lc Kain e Aufresnc, en­ em 1663 c originalmentc a casa da King's
saiando com eles seus dramas. Ele próprio Company. e o Dorst Garden Theatre. projeta­
contracenou com Lc Kain em Maftamet e con­ do em 1666 por Christopher Wren. O Dntry
seguiu que “lágrimas jorrassem aos borbotões Lane Theatre encenou a bem-sucedida The Tra-
de lodos os olhos suíços", no “domínio de gedy o/L a d y Jane Grcy (A Tragédia de Lady
mando das vinte e cinco perucas" do conselho Jane Grcy) (1715) de Nicholas Rowe. que ser­
da cidade de Genebra. viu de modelo â versão alem ã dc Wieland.
Rousseau, em sua Leltre àd'Alembertsur Gcorge Lillo foi um pioneiro do drama burguês
les Spectacles (Carta a d'Aleinbert sobre os com The Lnndtm Merekum (O Mercador dc
- JSfl
6. pnmunpin J r um a íyV m umUifUr de cardirr burgucs nu | Jixel de Buurpogne. Paris. I761/ Bastidores na pane de trás do
Uít
palco, que fn i aumentado jsara a freme t cipiipadu e i*n de ribalhi r cai*u de pucitn. resenho tie P A. W illc, u Jovem (Pans,
Bihlmicca Nacional)
7, T h e B í ’g g a r * s O p e r u . q u a d ro d e W íllia m íío g a rth 11729). P o lly e L u c y . im p lo ra n d o pe la v jd a d e M a c h e a ih . A
'"O pe ra d o M e n d ig o -",, de Jo h n G a y . fo i ap resentad a p e la p rim e ira v e z e m 172Ã. n o l.jr t c o ln 's Inti F ie Jd s P la y h o n s e e m
L o n d re s , p o r Joh n R ic h

8. G ra v u ra satírica de W i l l íi i u i H o e n id i T h r ite g g íir '^ O fte r u : a o fu n d o , u rn a c o m p a n h ia d a c o r lc e n c e n a a


ubra; d ia n te de (a, um a frrw p c p n p td a i. d o atu res a m bulantes, e rgueu u m ta b h u lo e fa z a p .in x lia d o s c a n to re s d a óp era
c o m gro te sca s m áscaras dc a n im a is .
* .A EftJ tía Cutiufartttt /íiiry iifA /i

Londres), e seu tipo de "comédia sentimen­ Addison foram encenados também no outro
tal" atraiu respeitosa atenção também no Con­ lado do Atlântico Atores profissionais ingle­
tinente. Diderot discutiu-a, c Lessing escolheu ses npresentaram-se em Nova York. Filadélfia.
The Landim Merchtml como modelo de sua Boston e Charleston e deram a conhcccr ao
própria tragédia burguesa. Miss Sara Sumpsoit. Novo Mundo o drama burguês do lluminismo
The fteiruiiing Officer (O Recruta), de europeu. A própria primeira peça de Garrick,
George Farquliar, c um retrato áspero e licen­ a burlcla mitológica Lethc, cuja estreia ocor­
cioso da classe dos burgueses e dos costumes reu no Drury Lane Theatre cm 1740. quase
do exército, embora se destaque por sua saga­ im edialantenle depois conheceu sucessivas
cidade e humor bem acima do nível da "co­ representações nos palcos norte-americanos,
média de costumes" contemporânea. Rnt The em geral como o número que se seguia a uma
Beaux' Stratagème (O Estratagema dos Jano­ tragédia —costume recebido de uma tradição
tas), uma comédia sobre a conversão de pati­ europeia que remonta à amiga peça satírica (e
fes encenada pela primeira vez no Haymarket que na Comédie Française é usual até hoje).
T heatre em Londres em m arço dc 1707. G arrick atuou primetramente em vários
Farquhar criou o protótipo da confissão dc teatros de Londres, inclusive o Covent Garden,
amor dramática no qual dava as mãos »s heroí­ construído em 1731. Em 1747, ele se uniu a
nas de Marivaux. exercendo uma influência James IJtcy para adquirir o Drury Lane Theatre
ainda presente sessenta anos depois na Miwut c dividiu cotrt ele sua administração até 1776.
vou Btirnhelm de Lessing. A heroina de classe Existia grande rivalidade emre os dois teatros,
média da peça, Dorinda, obedece ao princípio que ficavam disputando a glória de estar le­
dc "honestidade inigualável" e considera seu vando o melhor de Shakespeare. Em 1750. am ­
amor mais hem recompensado quando se pro­ bos encenaram simultaneamente Romeu c
va iles interessado: Julieta. com Spratiger Bairy e Susaiuiah Ma­
ria Cibbcr no Covent Garden, e David Garrick
Ames eu me or.saltisvn. scnhui. cie sua riqueza e de ao lado de George Annc Belhmiy no Drury
s^u titulo, mu'- niuiu me I-.-u,1!o-1 nutts , rte qth-
Lane. O público e os críticos tomavam parti­
-enhor não tenhn u ir!-•- nuoi.i | - - 1í ,. 1.1.■: ,r u mi-u
amor estava correi Imii-mc .l : --i.u c q .ir i . :: i:i.i ne­ do, npaixo nadamente. O Dnmuitic Censor, en­
nhum propósito, salvo t> amor. tretanto, pílheriou; “De novo Romeu?.., M al­
dição sobre ambas as casas".
Em meados do século XVI11 houve uma Renunciando deliberada mente â ostenta­
retomada de Shakcspeare nos teatros londri­ ção. Garrick usou os corriqueiros cenários pa­
nos de público burguês. A nova proposta na drão estocados no Drury Lane Theatre. Em
época era compreender a alma du escritor, e conlraste aos vistosos tiécors de John Riclt no
fazendo exatameiile isto Duvid Gamck. em­ Lmcoln's Inu Fielils e mais tarde no Covent
presário e ator. moldou o tca iro inglês por trinta Garden. Garrick achou mais iinporlatile inten­
anos. Eie "baniu declam açòes, linguagem sificar a palavra falada. Mas permitiu a seus
bombástica e caretas", como escreve seu bió­ convidados a ostentação que recusava a si
grafo Thomas Davies. e “restaurou a naturali­ mesmo, Quando, no verão de 1754. ele convi­
dade. a desenvoltura, a simplicidade e o hu­ dou o célebre mestre de danças e coreógrafo
mor genuíno” . francês Jean Georges Novetre a apresentai-se
O Ricardo III dc G am ck tomou-se o mo­ no D nuy Lane Theatre para a temporada de
delo dc interpretação sha kc spearia na na Ingla­ inverno de 1754-1755, Noverre. conforme nos
terra oitocentista. Samuel Johnson, que em conta Tliomas Davies. “compôs aquele acu­
1765 publicou sua grande edição da obra de mulo de figuras mutiifárias, denominado Fes­
Shakespeare, via a própria alma do dramatur­ tival Chinês: nm espetáculo no qual foram exi­
go incorporada cm G amck e pagou-lltc o m- bidos vestimentas e figurinos dos chineses, cm
htiro de dizer que este havia sido o primeiro a form atos e caracteres quase inum eráveis".
espalhar a fama de Shakespeare pelo mundo Como que por má sorte, verificaram-se con­
todo. De mais ou menos 17.10 cm diante. flitos de fronteira na América, c. quando as
Shakespeare. Farquhar. Congreve. Onvay e hostilidades irromperam entre Inglaterra e
Ilistóriti Ahiuíliiíl Tcntro *
França, o público começou a protestai contra trigas destruíram seu em preendim ento, e
o fato de Garrick empregar tão grande núme­ Garrick. segundo Davies, “sempre aliando a
ro de franceses num teatro inglês. Consideran­ mais estrita economia às tnais liberais despe­
do o quanto já liavia investido na produção, sas”, transferiu u espetáculo do Jubileu para o
Garrick foi cm frente e estreou. A nobreza Dmry Lane. como quadro de encerramento do
aplaudiu nos camarotes, mas a plateia ultraja­ repertório programado, e “o publico ficou tão
da descarregou seu ódio numa luta generali­ encantado com a incomum procissão [...] que
zada. Garrick só conseguiu sair ileso sob es­ sua apresentação foi repetida perto de cem ve­
colta policial. zes”. (Por iniciativa popularo primeiro Memo­
Pouco depois, empreendeu uma longa via­ rial Theatre de Shakespeare foi construído em
gem ao continente. Foi festejado na Itália e na Stratford em 1879, e. após ter sido destruído
França, mas não deu espetáculo público em lu­ num incêndio, um novo teatro foi erguido em
gar nenhum Ocasionalmcntc consentia em apa­ 1932 como sede do festival anual.)
recer numa récita de amostra em círculos priva­ Enquanto isso. na Alemanha, o estilo na­
dos, e numa dessas ocasiões foi visto por Diderot tural de representar encontrou um campeão em
em Paris, que o elogiou entusiasticamente: Konrad Ekhof, cujas caracterizações cênicas
próprias chegaram até o tempo dc Lessing e.
Nós 0 Vimos representar :■ rena do punhal de ua verdade, foram responsáveis peta confian­
nu sala. simplesmente, coin seus trajes comuas,
M íK -b eih .
ça deste último nas pretensões artísticas do tea­
sem qualquer uu.ntin de ilusão ícairal Fnqiiiimo seguia
com os olhos o punhal (invisível) suspenso u sua ireIIIr e tro. O Odoardo de Ekhof, na Emilia Galotti de
se ataviava, sua aiuaçãn era tão escelente que etc pravo Lessing, foi elogiado como um estudo exem­
rou- em todas os convidados, um VIII,1de admiração. plar da emoção contida. “Suas nuanças de rai­
va sufocada, fúria e ranger de dentes, dor aba­
Após o seu retorno do continente, Garrick fada. sua risada de desespero quem poderia
introduziu um novo sistema de iluminação no d escrev e-tas” , escreveu o critic o Johann
Drurj' Lane, que eliminava os candelabros em Friedrich Schink: suas palavras:
arco (os quais ao iluminar o palco sempre obs­
truíam a vista da galeria I. LIc intensificou a m a \ minha filhn P;i mesma forma que j teira trente
iluminação proveniente dos bastidores por sob uma iempesr«ide iioiuina, av»nu lambem o coração
meio de refletores embutidos e, com isso, con­ lio espectador neniin quaixli» ele as piominciava. Todos
Âcutiam o sopro da nioiiv* c eucofliwiivM.* com Mia dm.
seguiu a vantagem dc tuna iluminação brilhante
e graóuável para o meio e o fundo do palco tam­
Em adição a seu poder pessoa] de plasma-
bém. Durante o período romântico, o Dmry Lane
ção. Ekhof demonstrava um zelo de reforma­
Thcatre manteve sua dianteira nas técnicas de
dor. Fundou uma academia de intérpretes etn
iluminação, sendo uni dos primeiros teatros eu­
Schwerin em 1753. cujos objetivos fixou em
ropeus a introduzir a iluminação a gás.
vinte e quatro artigos. Sua idéia de “harmoni­
Mas a rejeição de toda a pompa conven­
zação da interpretação” foi a primeira defini­
cional não cerrou em Garrick a ambição de ter
ção conceituai dos futuros princípios da dire­
figurinos e cenários “fiéis à natureza e ao esti­
ção teatral.
lo". “As vestes eram ricas e magnificentes”,
A arte deve estar tão próxima da nature­
conta Thotruss Davies, referi ruiu-se à produ­
za, exigia Ekhof,
ção, em 1749. da tragédia !ri‘ne de Samuel
Johnson, “c as cenas esplêndidas e alegres,
que a v - 1 ‘: v.. h:i ser tom ada ; i;: vurítíiLte, ou
porque hem adaptadas ao interior de um o que se passou repruLlu/iilo táti luturalinente
serralho turco; n vista de seus jardins estava , uim i sc estivesse .tcurttccensUi agora. A iin g ir pioãssio-
ao gosto da elegância oriental". iialism onestaanvdciiiautiai.1 m uigin.iç.n,, ivu jm yosiu-
Em !7íi9. Garrick organizou as celebra­ ceiu. esloiçn míangável e prática m iniemipia.

ções do jubileu etn Straifnrd-on-Avon em gran­


de estilo, com uma procissão de personagens Este cóiligo profissional pode soar algo
shíikespearianns. concertos, fogos de artifício professoral. Votiaire expressou isto com mais
e mostras dc teatro, Uma chuva copiosa e in­ temperamento. “C c si lc i setil t/ni fa it te

• ÍV2
9. Cena d e O Aíifnim ixuit de Ben Jonson, com John B unon com o SubLle, John Pulmer com o Face e David G am ck no
papel [iiulo. M ezzo unia de John D i^on. a partir de J. Zofíany, |7 7 l l Londres. Brilish M useu in, Socnersci Maugham
CoJlecTiun).

10. T liv S d i i w i f t t r S n n t £ Í o Í t de R irtiard Hrinsley -Shendan, tal corno encenada cm 1777 im [>mty Lane The alie.
LonUn.-v
í 1. Davi d fiarrick m> papel de RicunJo III Pintura dc Wtlímin Hogarth

12 Wviur í Jr&at*nvii, de Thiuhns Oittav, innltm tu' i:riceii;ulii em 3762 no Diury Lane Thcsurc. [.ontlrcN. com David
Garrick eS M CiM icr. Mrzut imiu de J McArdelJ. 17fi4
* A £ m At* Huri*iu‘.ut

succés ou ta chute", escreveu ele paru a atriz apresentação de Alhatie de Racine na Comedir
Quinaull - “só o coração decide solve o su­ Fnmçai&e precisou ser interrompida porque os
cesso ou o fracasso”. Mas Schvverin não era intérpretes corriam perigo de serem esmagados
Paris. Portanto, tunlo mais instrutiva é a iden­ pelos ocupantes das hanquettex. No prefácio
tidade de pontos de vista acerca da direção tea­ de Brunis. Vollaire reclamou amargamente
tral. Repetidas vezes Vollaire. como Ekhof. desse abuso, que tornava "qualquer ação qua­
insistiu em que um cuidados» cálculo deveria se impraticável". Mas não foi antes de 175*>
ser feito para a “vcrossimilhança". na atuação que ele, íinalmenie, conseguiu acabar com o
conjunta do elenco e na relação entre cenário inconveniente. Ele persuadiu o conde de Laura-
e enredo. gnais á fazer uni donativo de sessenta mil fran­
Diderot foi ainda mais longe. Ele ditou cos para compensar a gente do teatro pela per-
regras de direção teatral tais como elas voltam da da fonte de renda.
a aparecer no estilo de encenação de Gocllie No caso das truupcs itinerantes, o abuso
em Weimar. ‘‘Os atores devem ser combina­ dos lugares no palco também era comum em
dos, separados ou distribuídos, isolados ou ioda a Europa. Há uma pintura, do Grónnegade
agrupados”, exigia D ide rol. Theuler em Copenhague, tratando dn assunto.
Lcssing menciona, na seção 10 da Htuubm -
e u n to .i 1. 1 . tk-|L-S ' í l .. . piniLIUIS, lo.!.:, d e ..!!!'
gixche Drauiaturffie (Dramaturgia Hnnibur-
pasiçiia guinde verdadeim (,'L .1.■ >.l . ;-i. ' nii ser o
piuíor |'.i.n I ' I .1 ■-i . j; J I'i!■l . i 1 s.'. I. , :ii leLN
guesa). "o bárbaro costume de permitir e s­
so paru iLperfciçivir Unis nl.|X’C:i >I . : l-xivi, siintilut- pectadores no palco", Uma representação em
neamente. rnurnte do grande inlérprelede Lear, Fricdridi
Ludwig Sehroder, cm Hamburgo no anu de
A exigente concepção de Diderot pressu­ 1784, atraiu tamanha afluência que cadeiras
punha atores nos quais se poderia esperar que extras foram colocadas até entre ns bastido­
isto tivesse algum eco - protagonistas capazes res. Mas esse foi um expediente cxcepeional
de formar estilo, como por exemplo o célebre que presumivelmente não diminuiu, de modo
intérprete de Vollaire. Le Kain. que se tornou algum, o logo de Sehroder.
renomado por sua impressionante interpretação
gestual e que, como diretor, aspirava a uma
As Origens d o Te atro Nacional
peinture tuuméc (pintura animada). O grande
FrançoisTatma baseou seu estilo de interpreta­ na Euro pa S e t e n t r i o n a l e
ção n» de Le Kain c reconheceu sua dívida para Oriental
com ele em Réfle.xion* sur Le Kam et mu- FArt
Théãrml (Reflexões sobre Le Kain e sobre a A França não enviou para o exterior ne­
Arte Teatrali (1825): mas mesmo antes, por nhuma trou/ie ambulante, mas seus clássicos
volta de 1800. Talm.i serviu de ligação direta foram encenados em Ioda a Europa. Esta apren­
com Weimar, Wilbelm von Hunibofdi o havia deu a graça do movimento com os mestres de
visto ent Paris e escreveu a seu respeito a Cioethe dança franceses, a conversação elegame com
numa cana detalhada. professores franceses, as delicadezas culiná­
Entretanto. na comedie Fnmçaise da épo­ rias com os cozinheiros franceses. Quem quer
ca de Le Kain qualquer võo de imaginação da que aspirasse à cultura, lia c escrevia francês.
encenação tropeçava nas famigeradas pernas 1’aris ditava a moda até para F.slocolmo c para
das cadeiras: os lugares es|K'ciais em cima do Moscou.
palco, que se adquiriam por preços mais ele­ O primeiro país no qual o teatro tomou
vados. Essas assim chamadas hauijuvítes sig­ autoconsciência de suas potencialidades nacio­
nificavam um subsídio bem-vi mio para o cai­ nais foi a Dinamarca, que já servira ouimra de­
xa, mas para os atores eram uma imposição poria de entrada para os novos impulsos tea­
suficiente para liquidar qualquer disposição. trais vindos da Europa. Via Copenhague, os
Numa frase muito citada, um diretor de cena primeiros comediantes ingleses chegaram ao
leria pedido: “Meus senhores, abram espaço continente no fmal du século XVL E, em Co­
para o fantasma de César!” Em 1JV>. uma penhague. no inicio do século X VUL uma arte
H is tó r ia M t u u i ia t tio Teatr o *

teatral nativa começou a emergir, com o iiuxí- contou ele, a multidão foi tão grande que “mui­
lio dos atores franceses. Seus iniciadores fo­ tas pessoas simplesmente não conseguiram
ram o riicreiro Étieime Capion c René Maguon atravessar e tiveram de permanecer cm pé do
de Montaigu, que chegaram com uma cana de lado de fora” . Mas Holberg ressentiu-se com
apresentação à corte dinamarquesa. Estando as interpretações erradas ou mal compreendi­
Capion tão profundamente endividado que pa­ das: “Houve, apesar disso, aqueles que não
recia ameaçado de perder o alento, Montaigu gostaram desta comédia", notou com irritação,
redigiu uina petição ao rei dinamarquês Frede­
rico IV, em quem, após o término no Norte da ]M>ique iiju COiufucciuIeiimi stfii sentido c nnaginui Jni
que ela prtienJia zombai lIon edis tla cidade. Mas iiui-
Oucrra dos Trinta Anos, o povo depositava
guem aiices escreveu uma eotin>iiia que afirmasse mais
grandes esperanças na revivescência do país. eiifaucumcnie o prestígio das autoridades.
Montaigu tentou atrair o interesse do rei para
o teatro. "A construção de um teatro", dizia o Por mais ferino que Holberg gostasse de
pedido, ser em sua crítica, ele não era de confessa-lo
mais tarde. "Vollo minha pena apenas contra
na hinõria de pi ta, .1 .".-I I:■ todos o s !v \ - V i.Mit! ■>I i ' j
o vicio, e não contra pessoas", protestou. "De
O período n u õ jimspem da leino. A paz p i Vossu Ma
jesinde recememente p: P'.r. i o i ;h ó V .j.v, i;. , : . .. n - - 1- resto, enconirar-se-á mais brincadeira do que
ns vitórias de ama 1 .11;.| .. |'..|..V . i r : i.iic;!i o amargura em minhas obras; porque eu não
momento latas npiopiimln ptirtt esMt eiaineendiaieiatt, busco a censura pela simples censura, mas len-
lo corrigir as faltas dos homens".
A época foi hem escolhida. Frederico IV A lime ênfase de Holberg na função mo­
anunciou sua aprovação. Porém, mais decisi­ ral da comédia correspondia inleirameme á
vo ainda foi o "sim" da história, que exala visão utilitária da Ilustração. Eslava preocu­
mente então produzia o primeiro dramaturgo pado com n efeito didático e apei feiçoador do
dinamarquês - Ludvig Holberg, palco público. Seus esforços em vestira ação
O novo teatro cm Lille Grómiegade. cm e lis personagens Com os trajes de sua própria
Copenhague, foi inaugurado em 23 de selem nação serviram dc modelo par» Goltsched na
brn de 1722, cnm O Avarento de Molicre numa Alemanha, assim como para os reformadores
adaptação dinamarquesa. Dois dias mais tarde do leulro nacional nos países da Europa seten­
foi encenada uma comédia de origem dinamar­ trional e oriental.
quesa. Deu politixke Ktnuiestiiber (O Esianha Em cinco anos, entre 1722 e 1727. Hol-
dor Politiqueiro). Seu autor, anunciado como herg escreveu vinte e seis comédias. Suas fon­
“um novo mestre dinamarquês- , era prolcssor tes eram sua própria observação do mundo em
de metafísica, retórica e história em Copenha­ derredor. Plauto. a quem admirava grande-
gue, mas descobriu que a profissão acadêmi­ mente. e. mais do que ludo. as personagens dc
ca, da qual tirava o sustento, lhe era insuportá­ Motière. Tomara conhecimento da Conimeilin
vel. Escreveu suas primeiras peças cómicas sob tlclParte durante uma viagem n Itália, e na ver­
o pseudónimo de Hans Mikkelsen e não reve­ dade enlrara cm contato com uma irottpe des­
lou a autoria até o lançamento de uma colctâ ses atores quando cm Roma. Isto lhe trouxe,
nea de suas comédias. Sua peça O Estintluitlor então, frutos. O Théâtre ttalien (Teatro Italia­
Politiqueiro logo S c tornou a epítome de tudo no) dc Glterardi. a muito usada, inexaustível
o que ele atacou numa sálira franca e liberal - coleção de lenias utilizados pelos improvisa-
o sabichão político das tabernas de cerve ja de dores. era uma fonte de chistes e replicas, às
classe média-baixa. vezes dc cenas e situações completas. Em sua
Holberg nunca prestou muita atenção ã comédia Feitiçaria, Holberg propõe uma cena
afluência cm seu auditório de preleções. Mas na qual dois atores, aos quais inesperadamen-
quando seu teatro alraiu grande alluxode es­ le se pede um epílogo alegre, puxam rápido
pectadores. ele orgulhosamente mencionou o uma cópia de Glicrardi e seguem o modelo.
Talo em “Notícias de Minha Vida cm Três Car­ Molière havia dito: "Je premiu nmn hien
tas para itm Cavalheiro Distinto" Na primeira purrottt oii je le íro l/v c"; assim também
apresentação de t í Estanhatlor Politiqueiro, Holberg colheu os frutos dc suas leituras.
• J9li
A Ern ilti C iiU u io n iu fíitrç u p ui

para produzir seus papéis-lítulo inteiramente Copenhague. A partir de então, de 1728, e sob
originais, definidos com agudeza e realisti­ o reinado de Crisliano VI, a influência do cle­
cam ente pintados: Jeppe da Montanlia. o ro dominou. Não havia com o pensar numa
Barbeiro Volúvel. Jean de France, Ulysses, revivência do teatro popular. Quando Frederi­
Jaeob von Thyboe fum tipo atiles glorias us). co V ascendeu ao trono em 1746 e ofereceu
Dom Ranudo de Colibrados, os astuciosos uma nova chance ao teatro. Holberg, após uma
servos Henrik e Pemille (tomados dirctamcn- pausa de vinte anos. pôde produzir apenas
le da Caimttedia delFarte). Em outras peças, "filhos pálidos de um pai idoso".
tais como No Balneário, A Festa de Baco, O Um desenho do século XIX de R. Chris-
Salão de N atal e O Q uano de Parto, ele tiunsen nos reconstrói o teatro Grónnegade du­
criou quadros coloridos dos costumes de seu rante uma representação de Jeppe da Afonro-
tempo. ttha. A plateia e as duas ordens de galerias es­
Entretanto, mesmo no teatro Grõnncgade tão cheias de espectadores, dois candelabros
de Copenhague, os primeiros passos do drama com muitas velas espalham luz e fuligem, uma
nacional dinamarquês eram obscurecidos pela ribulla distribui os focos de luz. e. ao lado, en­
haute comédie francesa. O próprio Holdberg tre os bastidores, alguns cavalheiros ocupam
misturava suas peças para que “fossem repre­ cadeiras no palco.
sentadas em alternância com as famosas comé­ iohann Elias Schlegel. tio dos românticos
dias de Moíière e recebidos como mesmo aplau­ alemães Wilhclm e Friedrich Schlegel. foi por
so". De fato, acrescenta ele. as apresentações lá algum tempo secretário do embaixador saxão
eram muito melhores, porque “o Senhor Montai - ua c o rte din am arq u esa. E m seu tratado
gu, um famoso ator francês", instruía seu pes­ G ed a n ken zn r A u fn a h m e d e s dãnisrhen
soal com muito cuidado sobre a forma como de­ Theaters (Considerações sobre a Recepção do
veriam pronunciar suas falas, c a respeito dc Teatro Dinamarquês), escrito cm 1747. usou
"maneiras, gestos e outras questões". suas experiências em Copenhague cuino base
As peças dc Holberg eram levadas cm para uma crílica literária e social. Suas consi­
tavernas, casas de fazenda e salões públicos. derações levaram-no, por via do otimismo edu­
As pragas, murros e pontapés ali distribuídos cacional do Humorismo, a uma discussão so­
mantinham a casa real longe do Li lie Grónttc- bre necessidade de um teatro nacional, e fo­
gadei concediam-lhe a benevolência real, mas ram logo em seguida mais bem desenvolvidas
não a presença, Quando, em janeiro de 1723, em ZnjitUige Gedanken Uher die dentschc
Frederico IV convidou os atores dinamarque­ Sehaidiiittne in Híwi (Considerações ao Acaso
ses a apresentarem-se na corte, escolheu duas sobre a Casa de Espetáculos Alemã em Vie­
comedias dc lavra francesa, preferindo-as ao na). Ao defender o teatro nacional como uma
gênero rude dos dramaturgos nativos. instituição estatal, sustentada e financiada pe­
Cinco anos durou u fama do primilivo tea­ los soberanos, J , F.. Schlegel pressupunha a
tro nacional dinamarquês. F.m 25 Uc fevereiro existência de dramaturgia nativa, que. em sua
de 1727, a aventura iniciada com tão grandes opinião, era de longe preferível à francesa.
esperanças foi ao túmulo com a farsa melan­
cólica do Funeral da Ctwtrdkl Dinamarquesa J;S fu-hindo ik lomui gemi, é piejudlcfa] ao es­
dc Holberg. "O que vou fazer doravante, visto pirito iW tirou noção o ki|o cfcc :ivir ise sempre com UMu
çóes tio ohjas estKnití,i.‘ir;is e falhar m imcor^aiucniiMbs
que a comedia está acabada’”, Ia me n luva-se mentes hnliuinlos tio próprio puis.
no palco a atriz Sophie Hjorl. “Onde hei de
encontrar emprego? Brigamos com lodo mun­ Schlegel pmtestou conlni a dominação das
do. com oficiais, médicos, advogados, funilei­ peças clássicas francesas nos palcos da Euro­
ros. marqueses, barões e barbeiros". No final, pa e coima sua indiferença endémica às pla­
apenas Tália permanecia para descrever o mi­ teias comuns, que as impediam de atingir o
serável estado da Comédia, enlre o embargo e coração do largo público.
a prisão por dívida, antes dc "morrer de lísica",
Um ano ruais tarde, o teatro Giõnnegade U tioinetu emniim tifia pode i. i >sutileza ila
foi reduzido a cinzas no grande incêndio de* ,,f M , t- . |,1 I>0-!;,1, I1,'- C

* ÍV7
I V O (jronncgadc Thcaiercm Qjpenhagcii (1722-1728) durante um:i apresentação dc J e p p r d a M o n t a n h a de Holbeij.’
Há cspccludorus scnfadc» itos bastidores; um conlN itg fa está ajustando os pavios das velas da ribalta RcconstituiçOo
num desenho de R. Cliristianseii, século XTX tCopenhagert, Cbrtslianshorg Thcaler Muscum).

14. Cena de J c p p e t h M a m m ih a Cruvuta de J. K. Clemens. a painí dc uma pi mura de


C\ W tticcsb e rg íò a G a kn e Holherpx. Copenhapcn. 18281
3i. El[ik,o Je rrofifw junbuhmtc >u’ Anger em Munique, e. 1750. Q oíhIio de Josepli Slcplian Mu*cu Uo

]ív. (ivAbrccht vwi \t» b n 'f. de Jnust vjm den Yiuicid, im Niem vc SchmisAlHii^, A m siertlii, 177^ < im u r u a p u n ir de K
\ ;m D re d it.
H i s t ó r ia M i n i f i f i i i ilf l T e a tro

dc outras peç;i> itesíc tifK*. ao paftso qui: elas sào ujiiíi de 1742 e 1743, quarenta e quatro foram dc
atração piintcitl.tr paro as pessoas da coric, visioqut; pen­ obras de Holberg.
sam reconhecer ekjlii t- uíi o reuíiTO ile alpccni dc suas
relações c. :is vcjcí, \ coiu a si prripniu*
O teatro nacional, como concebido por J.
E. Schlegel, por Johann Gcorg Sulzer na Suí­
Esta deveria ser a preocupação de todo dra­ ça, pelos promotores da Empresa de Hambur­
maturgo, prosseguia Schlegel, eleger ternas po­ go e também porGellcrt e Klopstock, seria “um
pulares próximos da gente de seu próprio pais; espelho de au toconhecimento". Com o desper­
na escolha dos personagens o escritor precisa­ tar das forças criativas próprias de um país.
va "ser guiado pelos costumes de sua nação’’. A faria, ao mesmo tempo, justiça aos “modos par­
partir deste ponto de vista, Schlegel não fazia ticulares e temperamento de uma nação". Ha­
objeção à comédie lamioytmte e às buriesques via razão para esperar, declarou Sulzer em
populares rejeitadas por Gottsched como “far­ 1760, em sua contribuição anual à Academia
sas dissolutas”, porque estas seriam “a mais Real Prussiana de Ciências de Berlim, “que
natural descrição dos costumes do homem co­ um número de circunstâncias favoráveis irá
mum" O dramaturgo, entretanto, deveria ir mais restaurar no teatro a dignidade que possuía no
longe ao retratar as grandes massas e incluir apogeu da República dc Atenas".
também círculos mais elevados, de modo a ofe­ Como exemplo do que entendia por drama
recer ao público “o prazer da diversidade | ..| nacional alem ão, J. E. Schlegel escreveu
um financista francês, o Ootlore da comédia ita­ Hennann, que apresentava estreita afinidade pa­
liana. um gentleman da zona rural inglesa", as­ triótica com o HeniuiiiHx Schlachí (A Batalha
sim pensava Schlegel, “fariam pobre exibição de Herman) de K lopstock (Herm ann c o
num palco dinamarquês". Holberg experimen­ Arminio citado por Tácito. Como chefe dos
tara o contrário disso. O plano de representar qucruscos. conduziu as tribos alemãs à vitória
seu Esuuthudor Politiqueiro cm Paris falhou. contra o comandante romano Quintílio Varo na
Numa tradução francesa, queixou-se ele, “lo­ batalha da Floresta dc Teutohurg). Nenhum de­
dosos artesãos teriam de se transformar em dou­ les conseguiu sucesso no palco com essas obras
tores ou advogados ou outras pessoas distintas”, nascidas dn sentimento patriótico c do compro­
e sua comédia leria desse modo perdido todo o misso cultural. Em IKCI9, quando Kleist propôs
significado, "porque a coisa toda se dirigiria pre- produzir sua própria Hennaiuisscltlaclit. escri­
cisamentc contra o homem comum". Vestir sua ta com um olho na época e na situação política,
peça com figurinos parisienses, temia Holberg. ele disse: "Sou indiferente a qualquer condição,
faria de sua “comedia divertida e moral itm es­ faço [desta obrai um presente aos alemães”. Se
petáculo banal e maçante". se contar também com o drama de Grabbc, dc
A pena crítica de Lessing deixou passar mesmo nome. perfaz-se um total de qualio ver­
apenas algumas poucas peças de Holberg Es­ sões, nenhuma das quais foi bem-sucedida,
crevendo em 1751 no Berlimsche privilegicrie Os campeões da ideia nacional no apara­
Zeittmg, ele o incluiu entre aqueles autores que. to da vitória alemã na Batalha da Floresta dc
“graças a algumas obras juslificadamente bem - Teuloburg falharam onde, um século antes, o
recebidas, tiram vantagem da feliz suposição dramaturgo sueco Joost van den Vondel logra­
de que tudo n que Hui de suas ativas penas seja ra êxito em Amsterdã. Sua tragédia Gyxbrciitt
excelente", o interesse de Goclhe por Holberg vuu Aemstet, uma glorificação da cidade de
limilou-se u O EsHmhador Poliqtiriro, Scltillei Amsterdã baseada cm fontes históricas, sobre­
não tinha nenhum uso para cie; Kotzebne, po­ vive até hoje como uma grande peça festiva
rém. emprestou lentas de Holberg para suas nacional e é apresentada anualmenle no Ano
próprias turbulentas peças. Novo no Schouwburg. Na Holanda, um Teatro
Holberg foi o grande trunfo de bilheteria nacional vital nunca foi problema, nem no sé­
das troupes ambulantes na Alemanha setentrio­ culo XVIII nem mais tarde. Gysbrechl rim
nal e nos países háliicos. A Ackermaiin. Knnmd Amurei, obra enraizada no passado du país e
Ekhof e Friedrich I.udwig Sehrõdcr encena­ nas tradições locais. "6 vista quase como um
ram suas comédias. Das cento e noventa apre­ drama nacional", como Frilhjof van Thienen
sentações registradas em Hamburgo, nos anos prudentemente se exprimiu em 1963.
• •WO
^TllY iHfnty.
in^nu^Mimri hi n *8j,i,r :W nur lídi, ésr iníii.' ^cú-fiíín4ín,ii
i í u-rtp <;o r ii i%-ii( nuii r >u ^ rri.v it, LtfoJÀjifirít.iPir ÍW im,'|Mli^iinw,í»i'ti p
!#L*lii kj | m>k-Ji imf4$ti i i . iihiIlíi*m<miqL^ítu^lÍJlijí mijitilu/l,
líflU^Tljl l'tl|l 1'lll'lT líiWl‘1', «Vjtiftr^íiíVSsijt-tn*mjn i‘r iu-iíiii-ííi l
míefi JWiceí» l^íWj^iSírit-ív, jt>t{í uuL J mAr i<| u ui a r Uiíile' -
1UU'i’ÇlÍdj ílt .l míf í>clfdl -
____I
l cí, A ”tnmacdieo-Hy,us ' no Fçchdujf ciu NurcmtHMi:, prô&uiukUruente com um espeláeula ti» tniU ftr Ncubci. que
sempre $c apresentava a !i, Trngcdia hcnuca I Haupí e Slsiatsaklion t com o par á*t amantes c quaim bobos. Grítvora colori­
da, do A n f i t n d i n i e f íi tt if r iu .it , Nuremherg>( . 1730.

20 falei] to m Jíusntloivs v cenário para vEimcdia ilv tarai cr burguês; orna ianesi:a com I Iuti^wlii-nI com o piniiir rvlTiilistíi; ím
pniTieifo pLicn i. cai\ n dc | mmi i*t«ibcd a. I*ini i sn u i'i3l-i i.. J7 s;n (Mm i rque. M ushíu do Tcalro)
1 A t . n t tin C uh fi í tt n it i

Graças tanto a seus grandes dramaturgos iiK aT scd ljiiív c }X*riiiJf7rcer sul» tncn cotttrolc. i<niv
m H! cu a m i s iiltn autuiiilíKW LVluCDCtiMUil c «Vvo pon.m-
quanin u um dom natural para a atuação, a In­
to |TcrrruMici:cr re.sjTonsávcl iluintr <1? D cu’>iK>b woiatilt*
glaterra, França, Espanha c Itália desenvolve­ meu po\<i,
ram suas formas nativas de teatro iro século XVI
ou XVII, numa época em que « Norte e o Leste Em Varsóvia, a capital da Polónia, a tradi­
do continente europeu ainda estavam tateando ção do teatro jesuíta sobrevivera ao lado da tra­
seu caminho através da auto-expressão no teatro. dição da ópera áulica e do Singspiel. O teatro
Politicamente, o século da ilustração ain­ público, construído em 1779 por Bonavemura
da estava sob o signo da monarquia absolulu. Solari. foi oíicialmente chamado Teatr Narn-
Assim como Luís XIV se fez patrono da Liowy, o Teatro Nacional. Seu primeiro drama­
Conrédie Française, do mesmo modo os teatros turgo notável foi o padre jesuíta Franciszek
nacionais emergentes do século XVIII quase Zablocki. um porta-voz das ideias radicais
sempre deviam sua criação às ambições artísti­ burguesas. Traduziu L r Père de Famille de
cas de um roí soleil em miniatura. Gimo em Diderol para o polonês e encenou o Figurn dc
Copenhague, a realização prática sempre exi­ Beaumarchais como exemplo, para o povo
gia a ajuda de atores franceses. Quando, em polonês, da lula pela liberdade.
1737, Estocolmo conseguiu o seu primeiro Tea­ Enquanto isso, em Praga, o amante das ar­
tro Real Sueco, a direção foi assumida pelo ator tes, conde Nostic-Rhineck. dedicou-se a cons­
francês Langlots. Cinquenta anos ma is larde. truir um teatro nacional na Praça Carolinum. e.
porém, o Teatro Real Dramático de Estocolmo no espirito do cosmopolitismo da Boémia c
possuía seu próprio elenco de intérpretes sue­ da Iradiçâo centenária do teatro de Praga, o
cos e um m aravilhoso leairn barroco em dedicou a "lodo e qualquer ripo de peça per­
Drottninghnlm. um edifício do palácio real dc mitida, sem discriminação de língua”. O novo
verão reformado em 1766 (que está preserva­ teatro lín inaugurado com grande pompa em
do). O rei Gustavo III. ele próprio autor das pri­ 21 de abril de 1783, com uma encenação da
meiras peças escritas em língua sueca, atraiu Endliti Gidntii de Lessing.
poetas c homens de letras paru a corte. Em seu A pi inteira companhia teatral tcheca foi
encantador teatro no Castelo Gripsholm. gosta­ formada em 1786, numa tentativa de tomar o
va tanto de aluar em peças de teatro como en­ tchcco a linguagem do palco de Praga. Nos
cená-las. Seu cenógrafo eia Loms-Jeun Desprez, sessenta anns que se seguiram, a ideia dc um
a quem o rei trouxe de Roma para Estocolmo. teatro nacional tchcco, conforme Vladímir
Na Rússia, a dramaturgia nativa deveu mui­ Prochazka observou crilicamcmc num con­
to à imperatriz Catarina II. Ela escreveu comé­ gresso em Liubliana cm 1963. "evoluiu, de um
dias e d rama 5 com temas da história da Rússia, racionalismo ilustrado, para um pohrc nacio­
e fazia-o influenciada por modelos franceses e nalismo burguês".
esforçando-se por desenhar suas personagens A história nus ensinou a acolher com ce
"estritamente fiéis à realidade". Discutia os prin­ licistno a ideia de um teatro nacional. No de­
cípios da composição dc diálogos cm sua cor­ correr dos séculos seguintes, cia foi não ram
respondência com Voltaire e Didcrol. c enviou invocada para propostas que pouco tinham a
a Voltaire suas comédias, disfarçadas como ver com as aspirações de seus pioneiros. Mas
"obras de um jovem autor desconhecido”, para foi. também, aplicada a teatms que real mente
que desse sua opinião. O mestre foi cavalheiro provaram ser Oque o termo originalniente que­
o suficiente para expressar à autora imperial sua ria dizer. No período de 1767-1786, os inais
"cxíréme admiration jionr vntiv attteiir incoitnn. novos desses teatros - o que ineluía os teatros
qiti ccrit des comédies dignes de Molière" ("ex- n acio n a is alem ães dc H am burgo. Viena.
ttrraa admiração por vosso autor desconheci­ Mannhcim c Berlim - dedicaram-se a “ser ins­
do, que escreve comédias dignas de Molicre” l. trumentos dc idealismo humano" e tentaram
Catarina II aderiu à filosofia do llumimsmu fran­ cumprir seus objetivos.
cês 11a visão do teatro corno "a escola do povo". Ma is ou menos na mesma época, emergia
Ela via o problema de um teatro nacional em o conceito de um "teatro universal". Goetbe o
lermos concretos, educacionais: defendia em Weimai c cunhou o temto "lilera-

• átri
H i s t ó r ia M u i t t i i f t l ilo Tetttra •
lura universal". "Mais e mais. estou chegando a É bom provável que não teria havido ne­
ver que a poesia é um bem c o m u m a humani­ nhuma aproximação entre o jovem e inteligente
dade’ disse em 1827 a Eckermann, “a li lei.au­ esteta e o tacanho professor, mesmo em época
ra nacional não conta muito nos dias de hoje. A mais propícia. Mas Lessing veio a conhecer u
época da literatura universal ai está. e todos pre­ ditador literário em Lcipzig somente quando
cisam contribuir agora para realizá-la". o ardor reformista do último estava quase pe­
Entre o supremo senso de cidadania do trificado em pedantismo ressentido.
mundo em Ooethe e os autores da ideia de um O próprio Gottsched. em seus dias de ju­
teatro nacional estão as décadas durante as ventude, enquanto docente universitário com um
quais o teatro aletuão se esforçou para adqui­ interesse apaixonado pelo teatro, abordara com
rir um rosto próprio. A trilha de seu desenvol­ ardor a tarefa que inflamava as grandes mentes
vimento leva, via Scbaubuhne de Gottsched do século. “O razoável é ao mesmo tempo natu­
(Deutsche Scltaitbuhtic nach tiett Regel/t der ral” - tal era a proposição estética que Gottsched
aiten Griechen und Ritme r emgeri-chlct, “o queria não apenas proclamar ex cathedra, mas
palco-cênico organizado segundo as regras dos ver praticada no drama. Isto implicava, para ele,
antigos gregos e romanos", (i vols.. 1740-1745) uma arte poética instruída nas regras racionalis-
e a Hamburgische Dnmiatttrpe (Dramaturgia tas dc Boileau, submetida ã lei das três unida­
de Hamburgo) de Lessing. acra do classicismo des de Arislóteles tanto quanto ao princípio mo­
de Weimar e aos ecos que despertou em Berlim ral. que não ofendesse nem a verossimilhança
c Viena. nem o bom gosto, e sc baseasse na "inalterável
natureza do homem e no senso comum".
As R e f or m a s D r a m á t i c a s de “O poeta escolhe orna proposição moral,
Gottsched que deseja imprimir nos espectadores de ma­
ne ira concreta, Ele inventa uma fábula geral para
Se fôssemos nos guiar apenas pelas apre­ ilustrar a verdade de suas proposições", expli­
ciações criticas de Lessing, o curador ião des- cou Gottsched em Versuch eincr Critischc/t
preconcebido do teatro alemão da era da Ilus­ Du htkwtsl vurdie Dcmschen (Tentativa de uma
tração, o professor de literatura Johaitn Arte Poética para os Alemães, 1730). Ele dis­
Christoph Gottsched teria poucos méritos a seu cutiu as possibilidades dc decidir-se por uma
crédito em ussunlos de teatro. Pois Lessing fábula cómica, trágica ou épica ou esópica. Um
escreveu: ponto essencial era que a comédia, por expor o
vício ao ridículo, deveria proporcionar não so­
Nos cliii-s dc apDtitw ila Mil. N fiilvr. miss.k | x v m j mente prazer, mas também uma lição, isto é.
eJihumium nivm tmm cmw Iu mivíiávdl. Não aíM iatu rc
riso saudável sobre as tolices humanas.
«ias. muguem iitvdeciii a nciihiiiu minlolo. N u>sos J iíi
iii^ s heróiciw 'iStmtt.s-un/i. Hcfttcn-(XktnwcuJ t rjmckicii»v As teorias de Gottsched estavam em larga
í k tolices. tingua»em bombástica. piaU»* wdccciiies v medida em uníssono com as do teórico da poé­
vulgares Nossas “ comédias'* íLrob/vW*-* eotuisrúwi cm tica do barroco, Martin OpitX, cuja obra But lt
d i& fiitm c bmxuTixs. c (h im u iw c «viu. eram Mia mais Vtnt der dcttlxcheii Paeterey (Livro da Poclica
M piniboui mvenção. Não liavu tiecesjuUadc de nl-i um
Alemã, 1624) permaneceu como autoridade no
csptm o^tticulanncnic grande mt smil par» pertcbcrcsia
degradação. assunto c obra dc orientação do século XVIII.
Invocando Horãcjo, Gottsched baniu o
Esta passagem, incluída em 1759 em "miraculoso", tudo o que ia contra a verossi­
Briefe. die neueste Liieramr bettvffend (Car­ milhança. tanto em termos de poesia como dc
tas sobre a Nova Literatura) foi o primeiro pas­ palco - e isto significava Ioda a "feitiçaria, fór­
so para o assassinato literário de um homem mulas mágicas e trapaças" que envolviam o
de quem Lessing, numa passagem muito cita­ palco italiano e o Théãire de la Foire em Paris,
da, disse concisamente: “Seria de se desejar e do qual ate mesmo Motière, "para agradar à
que o sr. Gottsched nunca tivesse se melido Coroa", havia emprestado muitas invenções.
com o teatro. Seus pretensos melhoramentos Outra coisa que Gottsched não gostava em
referem-se a assunlos desnecessários ou tor­ Moliére era que, apesar de suas peças serem
nam as coisas piores” construídas de acordo com as regras e os mo-
• 4tu
21, Matttwijfci do sul da Alemanha com figurino de
camponês. Gravura coincida, c. 1790.

22. Joiícph Fcrdimnid MuMtr, chefe da t tc w p r riv.il da


companhia da Frau N cuK t em 1A-jp/igf cuino A rlcijirim
Gravura da niciadc do isdcuJn X V(|J
H i s t ó r ia M ia t t lit t t titi T e o m >

dei os dos Amigos, "ele sempre tomava o vício Gottsched confiou sua peça Der Stctbende
apenas muito agradável, c uxla virtude muito Caio (Catão Moribundo) ã companhia dos
teimosa, incivilizadu e ridícula". Netibers em 1731, texto que foi anunciado
Natiire - rtiisoii - a m iq u iié , exigia como "a primeira tragédia original em alemão”
Boileau, e Gottsched, da mesma forma, guia­ e que eia uma recomposição de ptmes tiradas
va-se por esla trindade. Ele assistiu aos espe­ de Addison e Deschamps, um tipo de tradu­
táculos das íroupes ambulantes, a despeito do ção-compilação que mais tarde provocou do
muito que elas o irritavam com suas histórias crítico de arle suíço Johann Jakob Bodtner o
e criaturas de "uma imaginação perturbada” e comentário desaprovador de que ‘‘Gottsched
com todas ns “coisas inacreditáveis que não construía suas peças com cola e tesoura",
têm precedente na natureza” . Mas em 1725, A representação foi um brilhante suces­
uma jovem atriz ganhou sua aprovação. Numa so, Frau Neuber havia insuflado vida teatral
peça chamada Das Gespriiehe int Reiche der no anémico produto da mente do professor. Ela
Toten (A Conversação no Reino dos Mortos), própria interpretava Pórcia, vestida com o tra­
ela atuou em quatro papéis masculinos dife­ dicional figurino, de comprovada popularida­
rentes - utri pastor, um diletante em línguas de, “com um toucado mais largo que a rua,
orientais, um briguento e um gentil-homem - rijo e com todas as cores de um papagaio",
o tipo de rour de force de discurso e máscara, segundo Cliristlob Mylius a descreveu. Como
por meio do qual Isabella Andreini se tornou Catão, Friedrich Kohlhardt vagava solene men­
famosa em sua época. Gottsched escreveu um te com uma peruca e de meias com pompons.
artigo entusiasmado sobre a jovem intérprete. Para Gottsched, foi uma amarga vilória.
Ela havia "caracterizado tão inimilavelmente Ele havia sonhado com trajes romanos, não
quatro rapazes das mais famosas academias com um desfile de moda com chapéus emplu­
saxónieas”, que ele nunca havia visto nada mados e espadas de pano. Mas neste ponto
melhor em toda a sua vida. Esta crítica - Frau Neuber era conservadora. Era uma mu­
publicada em 21 de outubro de 1725 no sema­ lher sensata e decente: mantinha em ordem a
nário moral Die vemiinfiigen Ttidlerinneti de vida privada de sua troiipe c dava, ela própria,
Gottsched - foi o primeiro tributo impresso a um bom exemplo; apreciava as reivindicações
Karoline Neuber. da literatura e era uma atriz completa. Mas não
De nada adiantou o esforço de Gottsched ficaria sem seu chapéu de plumas. Aceitava o
para interessar a companhia Haacke-HolTman. palco como "uni púlpito da filosofia m o ra r -
então atuando em Leipzige à qual presumivel­ mas não um palco sem o efeito dos figurinos.
mente pertencia Karoline Neubcr. em suas pro­ Ela uniu suas forças ãs de Gottsched na
postas de reformas. Ele pleiteava a adoção do batalha contra Arlequim. Em outro de seus "se­
discurso métrico segundo o modelo da tragé­ manários morais". Der Bicdcriiuiiiii. Gottsched
dia clássica francesa, mas o diretor, HolTman, declarara guerra ao "licencioso Huns Wursle",
declarou que seus atores não estavam acostu­ a popular personagem folclórica retratada por
mados ao verso declamado. Diderot deparou- comediantes c palhaços. Dez anos mais tarde.
se com a objeção oposta quando a Coinédie Frau Neuber traduziu os repetidos ataques às
Française estava ensaiando sua comédia em “brincadeiras vulgares" do palhaço numa ação
prosa l.< de Fiwuiíe. demonstrativa. Num erguer de cortinas, ela
Por volta de 1727, Karoline Neuber e seu baniu solenemente Hanswursl do palco, (Ele
marido eram chefes de uma companhia pró­ foi banido e não queimado, conforme escre­
pria, e ela se mostrou simpática às ideias de veu Eduard Devrienl, e como pode ainda ser
Gottsched. Compreendeu as vantagens que a lido ocasionai mente hoje, embora este ponto
colaboração com Goltsched poderia trazer parti tenha sido esclarecido já em 1S54 por E. A.
a melhoria do nível geral da atuação. Concor­ Hagen cm Geschtchte des TUeaters iti Preusseii
daram numa combinação de teoria e prática, à | História do Teatro na Prússia j. i Não existem
qual o teatro alemão ficou devendo alguns registros exatos de como isto se pritcessou no
novos impulsos importantes e também alguns Rossmarkt em Leipzig. Provavelmente, Arle-
eventos espetaculares. quino e Scnrumutz foram desapossados de sutis

■ 406
* ,4 l:t a tlít Ç íd ttd t\n iu n m í> U i'M i

vestes de palhaços e depois obrigados a deixar 1740 e 1745. estabelece rum a base de um fu­
o palco. Para Frau Neubcr. o episódio foi tem­ turo desenvolvimento que atraiu para o teatro
perado com a satisfação (ressoai de assim obter a burguesia com suas aspirações culturais. Es­
vingança contra seus competidores em Leipzig. tes volum es contêm p eças d e H o lb erg .
a companhia do popular Arlequim. J. P. Muller. Destoucbes, Dufresny e Addison. com tradu­
Lessing entendeu a coisa como "a maior ções dos alunos de Gotlsched em Leipzig, dele
das arlcqni nadas”, (fíriefc. tlie neueste Li- próprio e de sua esposa, Luíse Adclguiidc.
reralnr betreffená. Carlas Relativas ã Novís­ M olière está representado apenas com O
sima Literatura, n. 17) por mais que, confor­ Misantropo. Gotlsched também incluiu uma
me disse num outro lugar. litiga seleção de peças de autores do início da
Ilustração alemã. Gellerl. Borkenstein, Quis-
todos os teatros alemães | .| pareccí.M;tn l w i h c Iíii coui
lorp, Mylius, Ghlich e Fuchscontribuíram com
esle banimento. Digo jxtreccsscm". |H>it|iir na u-rdade
iqxaias removeram o e.is:ii|iiinlio «airu dio c o nome. ni;<$ suas “comédias originais"; J. C. Kriiger, o tra­
n u iu ivciiin i o tnião. A própria Frnu Nvuber iiprewoimi dutor de Marivaux, e 1. E. Sclegel estavam re­
mui las peças nas quais Arlequim era o personagem prin­ presentados e, é claro, também o próprio Goits-
cipal. Mas Arlequim era chamado Manschen, c vcsii;i-sc ched, com sua tragédia modelo e numerosos
lodo de branco, cm Imiai <le \udie7..
insertos de sua teoria, desde as idéias de
Lessing reconheceu o lado da questão so­ Fcnelon sobre a tragédia até as polêmicas de
bre o qual Gottsched fazia vista grossa, ou seja. St Evremond contra a ópera.
de que, com o banimento do bobo. muito da Díe Deutsche Scimubiihne de Gottsched
valiosa herança da representação popular havia lornou-se o fundo literário do teatro ilustrado
sido jogada fora e. com mais faro para a comé­ de língua alemã. A teoria do utilitarismo mo­
dia. acrescentou; "Acho que lanamos melhor ral. mais tarde tão injuriada e tão peduntemen-
se lhe devolvêssemos seu casaco mnllicolorido". le remodelada pelo próprio Gousched. chamou
A colaboração eu ire Gotlsched c Frau á cena forças posteriores que exerceram uma
Neubcr foi interrompida por um compromis­ influência duradoura e validou seus esforços:
so em S, Petersburgo. Quando a irtmpe retor­ embora não haja contribuído com nenhuma
nou a Leipzig em 17-11, desapontada e desilu­ obra original de qualidade, esse teórico e et íli­
dida. Gousched havia se ligado á Companhia co criou as condições para isso.
Schdnemaiin. Frau Nenber queria uma estreia As mmpcx ambulantes tomaram como |x >n-
sensacional, Ensaiou o Sierbciulc Caiu. e in­ to de honra a apresentação regular de peças em
tensificou n aspecto de paródia que dez anos verso e. remetendo-se ã "bem conhecida alian­
antes havia rejeitado. 011 seja. o "traje romano ça entre o professor Gotlsched e Frau Neuber”.
Fielmenie copiado", cujo melhor efeito con­ a demonstração dc que eram tão capazes quanto
sistia nas pernas nuas "di apojadas com linho eles de satisfizer as exigências de unia plateia
cor da pele’". O público. eonUi-se. “enterrou a meticulosa c severa. Há evidência dos dois as­
tentativa com gargalhadas". pectos nas petições dc uma recém-fundada com­
Por lim, em IX de setembro de 17-11. Frau panhia em Dattzig (Gdanskl e em documentos
Neubcr conseguiu levar à cena. como espetá­ relacionados com as companhias teatrais 11a Áus­
culo de ahcriura Der allcrkiisibaisle Scliniz IO tria. Quando as liottpes de Eckcnherg e Hilver-
Tesouro Preciosíssimo), peça 11a qual punha ding avcniiirarani-se nu drama em verso ao esti­
em cena seu antigo mentor sob a figura de um lo de Goitsched, conta-se que foram muito aplau­
criticastro, e zombava dele não apenas com didos, "embora a plateia fosse da velha guarda e
propriedade mas com sucesso, apresentando- parcial aos autores vienenses".
o corno um guarda-noturno com asas de mor­ A s peças recomendadas por Gottsched.
cego. Isto selou sua ruplura com Gottsched. com sua estreita unidade dc lugar, adequavam-
Assim, o que começara cm zelo comum ]x>r so até a teatros equipados com os cenários mais
uma boa causa terminou num escândalo |ie- modestos. Se preciso, podiam ser levadas mini
qiteno e mesquinho dc vingança. palco simples dividido |xir uma cortina central
Mas os seis volumes de f)u tlcitisehe a forma básica do palco itinerante do barrneo.
Sehaitbiilme, que Gotlsched publicou entre* As companhias mais completas e de sucesso
* 4<r
Hi o á rn r M u n d ia l ilit Teatro *

podiam valer-se dos géneros costumeiros de centena de bagatelas importantes que um poe­
cenários que. de acordo com a classificarão ta dramático precisa conhecer
de Opitz sobre tipos de espetáculos, diziam Em 1748. Frau Ncuber apresentou a pri­
respeito à tragédia ou ã comédia, lais como o meira comedia de Lessing. D er junge Getehite
salão de um castelo, um templo com átrio, uma (O Jovem Erudito). Aos dezenove anos, o jo­
vivenda com jardim, um campo de batalha ou vem viu-se festejado pelos amigos como um
uma floresta. futuro Molière. Somava-se ã sua felicidade o
Gortschcd considerava crucial que "o lugar faio de esse ter sucesso acontecido em Leipzig.
representado permanecesse o mesmo ao longo o baluarte da vida literária da época, dentro do
de toda a tragédia (ou comedia)", pois. argumen­ horizonte do "grande Duna" (Besta Quadrada),
tava, uma vez que o espectador permanecia cm que foi como Lessing rotulou Gottsched em
sua cadeira no curso da representação, parece­ 1759 na Litemrurbriefe (Cartas sobre a Litera­
ria inverossimil se houvesse uma troca dc cená­ tura). criticando violentam ente seu "teatro
rio no palco. A regra racionalisla da verossimi- afrancezado" Mas numa questão Lessing con­
thança era a razão do preconceito dc Gottsched cordava completamentc com Gottsched, e ao
contra o théõlre italien e seu descendente em mesmo tempo antecipava o conceito dc Schillcr
Paris, o opèra comique, e o mundo de contos do teatro como uma instituição moral: na con­
de fadas e fantasia da ópera e Singspiel. vicção de que a comédia tem valor porque pro­
Mas enquanto Gottsched pontificava com voca o riso (embora pusesse objeção ao riso de
severidade edificante sobre a simplicidade em­ escárnio pretendido por Goltsched). É a con­
polada, a razão fazia um jogo duplo no teatro trapartida da interpretação da catarse aristotélica
áulico do rococó, A sociedade elegante enfeita- como a transformação da compaixão e medo
va-se com gniriandas dc flores, ccrcava-se de em “práticas virtuosas" - interpretação que deve
rhinoiseries e usufruía de seu frívolo jugo como ser compreendida com o mesmo senso moral.
os deuses embelezados do Parnaso. O amor Enquanto trabalhava coino jornalista ent
entalhava seu arco no bordão de Hércules Berlim. Lessing serviu de intérprete a Voltaire.
Em Munique, o mais belo teatro do rococó Com ele aprendeu a “distinguir o moral do pn-
foi inaugurado em 12 de outubro de 1753, no Titmente intelectual", e aguçou o senso crítico
dia do nome de seu patrono, o eleitor Mux nesse comuto com o divino e ab.sohnametue
Emanuel Construído por Françots Cavilhes uo não-div ino Voltaire, cujo Esprit não o impedia
pátio do palácio Residem, onde resiste ate liojc. dc perder a Contenancv, o autocontrole. Lima
sua inauguração, com a ópera C/titmo tu Vlit tt desavença acabou com a colaboração. Lessing
dc Ferrandini. constituiu-se nunvi celebração de tetilnu ent vão "obter um perdão do filósofo";
gala: as tapeçarias suntuosas e as pulntetlvs rias perdeu uma posição bem paga, e o secretário
paredes brilhavam rubras e douradas à luz dos dc Voltaire. Richierde Louvam. que conseguira
itK-ontáveis candelabros. O herói da ópera era o o emprego para ele. também foi despedido.
próprio Catão da época de César, que Gotlsched O rei Frederico o Grande ficou sabendo
forçara a envergar o apertado casaco das re­ do ocorrido, e sua lembrança do fato, quinze
gras austeras de sua tragédia modelo. anos mais tarde, amimou as bem-fundadas es
|iei anças de Lessing com respeito ao posto dc
Lessing c o M o v i m e n t o do diretor da biblioteca real. E a esta circunstân­
Teat ro N a c i o n a l Al emão cia que a história do teatro alemão deve um dc
seus mais brilhantes documentos, a Httmbttr-
A paixão de Lessing pelu teatro desper­ gische Dramaturgiv (Dramaturgia Hamhur-
tou sob os olhos dc Frau Neuher. Seu primo guesa) de Lessing.
Christlob Mvlius o apresentara ao círculo dos Hamburgo, a liberal cidade lianseática so­
Musenshline (Filhos das Musas), que se diri­ bre o rio Alsler. já era importante centro cutiii-
gia em bundo ao Qiiandtsdle Hoí. na Nikulai rui no período barroco, Os Comediantes In­
Strasse em Leipzig, para admirar a estrela e gleses, os primórdios da ópera, as peças dc
sua tmtipe. Lessing participava dos ensaios, fa­ Johunn Risi, as apresentações de l-rau Neubei
zendo-se Útil como tradutor, e aprendeu ‘'uma como convidada da Comoedienbtidc in der
■ -tat
w

23, O leatro no Giinsemiirki em Hamburgo, conslruído cm 1765 por K. Ackcrmann e administrado como Teairo
Nacional com u colaborj^uti de l^ssing, de 1767 a 1769, Desenho a lápis, 1827.

i
!

24. Cenário para u estreia dc P i r RaH h?? { O s Sal madures) de Schillercm 13 de janeiro de I7H2 no Teairo Nacional cm
Mannhcmi. J-iHogmíiii deis cenários originais, que foram preservados até 1944.

I
{
25. Palco para drama v. 17 HO. A cena Irm ri baila aberta, caixa de poniu e bastidores com poiias prai icávcis^
janela* piniadas. Escampa da época.

26. O 1 cairo Nacional cm Mannhciru, prujciiulu por Lorcnzu (JuagJiu c con^tnudo cm 1778. Dcscnlio de j, F- von
Sdilichtcr: piuturadc Ktaubcr. 17H2,
• .A f <vi ih t (.'id a d itn itt fíu

Fuhlentwiet, i recepção precoce ;i Holberg c seu Lessing era bastante cuidadoso para não
eco em llnokesbeutcl (Livro de Bolso) (1742) cair em nenhuma das duas armadilhas. Mas os
de Bnrkcttstem, indo isso furam pedias 1111liares acontecimentos o puseram à prova mais de­
na vida leatrnl ite Hamburgo. Em 1764. o dire- pressa tio que temia. Os empresários não con­
101 Koiiiad Ackermunu conseguiu permissão seguiam concordar entre si nas questões dc ne­
para demolir a velha ópera do Gansemãrkt e gócios e nas questões artísticas, havia intrigas
consumir no local um novo e espaçoso teatro cont entre os atores e, para completar, o pastor-mor
duas galerias para espectadores. A peça ale­ de Hamburgo. J. M. Goezc, andava pregando
górica Die Comedic ini Tein/reí der Tugem! (A contra “o pecado do tealni". Tudo isso prejudi­
Comédia no Tem pio das Vi nudes) de Friedrich cou o impulso e o lucro do empreendimento. E
Lowen encetou um breve período áureo, que co­ assim a encenação de Miittui vrwt Gtimlwlm de
meçou em .11 de julho de 1765 e letminou um L.essing, em 70 de setembro de 1767, reve uma
uno mais larde com á ruina de Ackemiann. Ele recepção moma da parle do público.
alugou o prédio a um consórcio de do»- cida­ Na reapre se mação do espetáculo houve
dãos hamhurgueses que se interessaram pela arte uma tentativa de divertir a plaléiu inserindo-se
do teatro em pane por razões financeiras, em números acrobáticos. A Dranumtrgie dc Les­
parte por consideração a suas atrizes. sing não fornece esclarecimentos a esse res­
O comerciante Ahei Seylcr assumiu a di­ peito. Suas notas ficaram no período bem an­
reção financeira, e l-riedricli Lówcn, a artística. terior às estreias. Sua elevada demanda esléti
Rn» apoio às exigências dc J. E. Schlegel. o novo ca. sua cuidadosa apreciação de uma arte “tran­
empreendimento ehamou-se Teatro Nacional sitória por nalureza", sua integridade pessoal
Alemão. Esta assim chamada Empresa Ham- e seu senso de responsabilidade com relação
burguesa Foi constmida por atores que rivali/a- ao projeto e a si mesmo não puderam evitar o
vam entre si e por homens de negócios experi­ condito com os intéqi reles Sua posição no tea­
mentados em matéria de bancarrota: Faltava-lhes tro, como critico pago pela direção, era cm si
uma insígnia seria e um nome respeitável. própria c<intraditóri a.
A escolha recaiu sobre Lessing "Acoute A sra. Suplne Henscl, a principal atriz, do
ccu de cu estar parado nu praça do mercadu. elenco c esposa de Abel Sevier. ofendeu-se se-
sem nada para fazer; ninguém queria me em­ riiimenie com o que Lessing ousou dizer na
pregar, sem dúvida porque ninguém precisava seção 20 da Dranmittrgie sobre seu papel cm
dc mini para nada", lembra Lessing no fmal da Cctiie. "Parece-me ver um gigante exerci leni -
Htunlwrgixeheii A ideia de tomar do se com a ni triu de um cadete" e: "Eu prefe­
paile em empreendimento ião promissor, o txnn ri na não lazer tudo o que sou perfeita mente
salái-io e o desapontamctilode ter sido rejeitado capaz dc fazer muito hem".
em Berlim concorreram para que aceitasse. Enquanto a companhia estava lentando
Em 22 de abril de 1767, o Teatro Nacional remendar seu destino financeiro exenrsio-
de Hamburgo (na) Gánscmai kt foi inaugurado nando, Lessing discutia os problemas de um
com a tragédia de niunírio Oliul und Sniilmniia Teatro Nacional Alemão e as causas da - vIli-
deJ, R vimCYonegk No mesmo dia Lessing amai- lamenie previsível - falência em Hamburgo.
ciava a publicação de sua Hiuiiburfiimlten Ao encerrar a limnmturgie com a seção If 1-4.
Dnmuiimgic. O novo empreendimento, prome­ ele o fez com uma amarga verificação: "Te­
tia ele. não [loupari.i esforços ou eustos: "se vai mos atores, mas nenhuma arte da interpreta­
ter bom gosto e espírito critico, o tempo dirá". ção. Se alguma vez existiu tal arte. não a pos­
Ele se comprometeria a dar "um relato detalhado suímos mais: está perdida: é preciso descobri -
de tudo o que for leito aqui tanto na alie da la inteiramenle de novo".
dramatutgia quanto na da representação" Não Lessing permaneceu etn Hamburgo por três
seria possível, entretanto, evitai |ieças medíocres. anos. Depois, partiu. O sonho de um teatro na­
‘ Não quero elevar demais as e\|iccialivas do pú­ cional acabara, no que diz respeito tanto a suas
blico. Ambos dão-se mal. os hoíueiiN que prome­ aspirações artísticas quanto a seus objetivos
tem demais c os que esperam muito", concluía sociais. O ator continuou, como antes, ã mer­
Lessing, cuja experiência o ensinara a ser cético, cê das vicissitudes de uma vida nómade. A de-

- -m
H is t ó iiu \ fn u d u } t ito T e ttlrn

stUisão de Lessing culminou cm zombaria so­ de Maximilian L- Klingcr. Em vez dos princí­
bre “a bem inlencionada ideia de proporcio­ pios de Aristóteles e do classicismo francês, c
nar aos alemães um teatro nacional, quando dc sua adaptação no Critische Dicbtkiuisi (Arte
nós, alemães, não somos sequer uma tiaçao! Poética Critica) de Gottsched. Shakcspeare era
Não estou {alando da constituição política, aclamado como o novo modelo. Sustentados
porém exclusivamente de caráter moral". pela tradução cm prosa dc Wíeland, os patrícios
H erdei concordava com a queixa de do Stunn wid Drang porfiavam 11a linguagem
Lessing- Em seu premiado ensaio Uber die solta e na arrojada sucessão de trocas de cena.
Wirkung der Dichtkaii.il auf die Sitleii der Já J. E. Schlcgel havia zombado contida-
Võlker in alten undneuen Zeiten (Sobre o Elei­ mente da regra da unidade de lugar com a
to da Poesia na Moral dos Povos nas Epoeas lacónica nota: “l.ocal da cena: sobre o palco",
Antigas e Modernas) ele explicava a ausência e também Justus Mõser em Harlequins Heirath
dc uma arte poética nacional pela falta de urna (O Casamento de Arlequim), com a rubrica:
língua viva comum, e em penetrante alusão à "Local: no lugar marcado"; agora, J. M R.
prática dos governantes alemães de vender seus Lenz, em seu Der neue Mendoza (O Novo
súditos indefesos para trabalhar na América, Mendoza), declarava sueintamenle: "Local da
acrescentava: “A Alemanha não terá por certo cena: aqui c ali”.
nenhum Homero, enquanto este tivesse dc can­ Um pouco antes, com a peça Der Hofineis-
tar sobre seus irmãos embarcados como lotes ter (O Preceplor), na qual uma abundância de
de escravos para a América". personagens coloridamente variada transmite
Na Kiibnle und Liebe (Intriga e Amor) de um vívido corle transversal na estrutura social
Schiller, o criado de quarto de ladv Milford da época, Lenz havia pelo menos levado em
relata como um soberano vende seus súditos. conta as possibilidades cênicas do palco. Die
I [ouve uma explosão de piedade e amargura. Soldateu (Os Soldados) também era ainda uma
O otimismo da Ilustração que imperou na pri­ peça encenãvel e, em seu ensaio Uber die
meira metade do século foi submerso por uma Veriindeniiigcn des Theaters in Shitkespeure
onda de apaixonada rebelião contra o esta­ ISobre as Variações do Teatro em Shakcspeare i.
do político e social das coisas. Os jovens dra­ I.enz admitia que as mudanças de cena em
maturgos do movimento 5furm und Drong Sliakespeare eram sempre exceções às regras,
(Tempestade e ímpeto) descarregaram suas que ele sacrificara apenas por “vantagens mais
emoções anti-iluministas num protesto con­ altas” . Lenz apresentou a alegação de que o
tra os poderes da compulsão política. teatro era "um espetáculo dos sentidos, não da
“Plenitude de coração" e liberdade de sen­ memória". Armado com essa franquia, impe­
timentos eram as palavras de ordem de um mo­ liu a errárica situação técnica de Der neue
vimento renovador burguês e jovem que tira­ Mendoza ao excesso caracierizado por Erich
va sua inspiração de Rousseau: "Le xenrimenr Sclmiidt como "caos frenético".
est plus que la ims<«i.r - *‘o sentimento é maior O apaixonado engajamento com que es­
que a razão". O ideal de uma humanidade cons­ tes jovens Stiinner und Driinger desafiaram
tituída pela personalidade autónoma do ho­ Seu tempo desprezava qualquer concessão à
mem "natural" emergia. O condito entre o que convenção, e desdenhava também das limita­
era então chamado na Alemanha dc "gênio ori­ ções do palco. Isto significava renunciar ã pos­
ginal’ e a ordem do mundo existente derru­ sibilidade de cumprir a função de sálira e cri­
bou as barreiras dos tabus políticos, sociais e tica social que traziam no coração Renoll
morais e desafiou a complacência da atilori- Brechl adaptou D er H ofmeister em 1950.
dade até então inquestionnda. No drama, islo numa tentaiiva de renovar o aspecto de críti­
encontrou expressão numa enfática dinâmica ca social da peça a partir de um ponto de visla
da ação. do século XX, O 1'rnnkfurter g eleh rtc
O movimento dum seu nome dc Sliirm um Anzeigen (Notícias Doutas de Erankfuri) de
Drang do titulo alternativo que C Kaitfniaiin 26 de julho de 1774. entretanto, declarava:
de Winlerlhur, um apóstolo do movimento, ha­ "A peça inteira transpira conhecimemo da na­
via dado ao drama Per Ilírnvtu rfA Confusão) tureza humana" e:
• A Ef t t tf» Ci*Uuittnui f!

Gr,n,\iv Mijam *\x&ts ao homon que km 4 n*r;i£ciTi cultural já tentado no teatro alemão: Goethe.
ilc icbciuar o que a*i ilhoa n()HMmciuc e cuutvim, e nos Seu teatro em Weimar tomou-se o embrião do
pro}K>rciona em ikicj o que < lfu> raro - peiso.is resii> e
«riitiinciKo verdadeiro. Graças lhe Ntfjam dada.s por nào classicismo alemão. Da cooperação de Goethe
ve ikin ijiiando a (onvnic 6c seu penio sc deiTainu. e Schiller brotou a harmonia entre criação poé­
tica e teatro que a Inglaterra havia conhecido
Um dos poucos homens de teatro. con­ nos dias de Shakespcare. a Espanha, nos de
temporâneos, que abriu suas portas no drama Calderón e a França, na época de Molière.
do Snirm niiti Drang loi Fríedrich Ludvvig O estilo cênico de Goethe em Weimar não
Schrôder. Em 1771, aos vinte e sete anos de possuía nem a espontânea vitalidade do teatro
idade, havia sucedido Konrad Ackermann em elizabetano nem a perfeição artística do ihéàtrc
Hainhurgo. Seu credo artístico viria u scr o "ver­ /rançais. Era o resultado de cuidadoso c árduo
dade uo" e o não "belo". Sentiu-se chamado e trabalho preliminar, uma tentativa de transfigu­
interpelado pelo ímpeto dos jovens dramatur­ rar os prosaicos tijolos de um enxembte inade­
gos de “gênio” e pelos “negros sonhos do dese­ quado nos átrios de nuinnore dos altos ideais.
jo poético”, conforme colocou Merck, em de­ "Os alemães, em média, são pessoas retas
saprovação critica. Encenou CUtiigo e Gõtz vwi e decentes, mas não possuem a mais vaga no­
BeHichiiigen de Goethe em Haintuirgo. e tam­ ção do que seja originalidade, inventividade,
bém Die ZwiUinge (Os Gêmeos) de Klinger e caráter, unidade c acabamento numa obra de
Der Hofineister de Lenz. arte” , queixava-se Goethe em 28 de fevereiro
A alternância da representação no proscé­ de 1790, numa caria a J. F. Rcichardl: “Dadas
nio ou em profundidade oferecia alguma pos­ estas condições, o senhor poderá imaginar que
sibilidade de fazer pelo menos uma remota jus­ esperanças deposito em seu teatro, esteja a car­
tiça ao dinâmico “aqui e agora" da ilimitada go de quem estiver". A ocasião para estes cé­
mobilidade dos dramaturgos do S u m a untl licos comentários de Goethe foi a reconstru­
Dniitg. Mas o exemplo de Schrôder. que ar­ ção pendente, em 1791, do teatro da eorte de
riscou muito por esc as só sucesso, não encon­ Weimar. do qual se tornaria vítima e salvador.
trou imitação. A estreita moldura do palco de Ele não tinha motivo para subtrair-se a essa
l>eep-xlitne era Lima constante que não cedia. tarefa e provavelmente nunca teve nenhuma
Em 1786, o jovem Schiller confessou numa intenção séria de fazê-lo.
carta a Friedrieh Lttdwig Schrôder em Ham­ Desde 1775. Goethe foi o coração e a alma
burgo: "Agora conheço muito bem os limites da feliz e artística sociedade da Corte em
que as paredes de madeira e todas as circuns­ Weimar, como poeut, encenador e ator. Suas
tâncias necessárias do preceilo leaital impõem primeiras operetas, farsas e mascaradas desti­
ao dramaturgo". navam-se ao seleto círculo íntimo e à duque­
sa-mãe. Atina Amai ia. No palco provisório do
Redoulenhuus de Weimar, a primeira versão
C l a s s ic is m o A l l m ã o em prosa rítmica de ipMgcnte auf Jau ris foi
encenada em 6 dc abril de 1779, Goethe inter­
IV e í ui a r pretou O lestes, o príncipe C onstantin foi
PyUsde, Seidler —um secretário - fui Arkas, e
U lcjii ol- uni .L.i.pcle: iu' - . k iu. i | . menos se | ljv>- vnn Knebcl. tutor do príncipe, aparecia como
I.1I1I i um ir.ilaiueiun pl-.rc:J.liv li :.-:ii: m i.inc::: ' depen- Thoas. O papel de [figênia foi desempenhado
imai!umenlir lI o tempo c J.i cíimempniHiieKlitde: por Curona Sclnoter, a atriz que Goethe havia
aquilo qilc o LiittOE quei CsCIWUl. o ttUíc. iiikNptVlUl. o
entusiasticamente admirado em seus dias de
põhlico. ver c ouvir, v isto que titaiii/u os ;nl ruim Miado
re> v os de qiulquei jm/o pioj>no. estudante em Leipzig.
Ela musicara e cantata os versos de Dic
Osia passagem consta do exemplar de mar­ Ftscheriu (As Pescadoras) dc Guethe quando
ço ele 1802 du Jaiinutl dex Luxas and der encenados em 1782 no Parque de Tiefurr “em
Mn/leii (Jornal do Luxo e da Modal. Quem a cenário natural” - uma pitoresca pastoral em
escreveu estava prolundameiite envolvido no estilo rocircõ sob o céu noturno às margens do
mais sistematicamente planejado programa Ilm.
27. Cena tie iphigenu' a u f T a u r\xt dc Cuiethc: Iphigcnic. O resles e Pyladcs. Desenho ;i dc A u g d ik u Kauftm^m
( W e tm a r. M u s e u N a c io n a l Guctfic).
2*J. O p A c o o cenários do lealm de LauclMiiiU, uitdc n Teatro da Curte de Weiniai, soti a d jie \à o de Oocilic. nnum nos
meses de verào dos .itnts de ÍKÍI2 a I80í>.
H iitò riu Mutttlujl tit> Tcittrri *

A primavera de 1783 marcou o lím das re­ Um novo elenco foi reunido e fez sua es­
presentações amadoras de Goethe, Ele precisou treia sob a nova direção em 7 dc maio de 1791.
dcvotar-sc its obrigações de suas funções públi­ com D if Jtiger (Os Caçadores) de iffland. nm
cas, espeei a Intente às finanças do Estado, das retrato dos costumes rurais. Eoi o eonteço de
quais havia se encarregado em 1782, De 1784 um importante quarto de século da história do
em diante, Joseph Bellomo e sua “Companhia teatro alemão, sob a administração e direção
de Comediantes Alemães" tomaram conltt da anistie a de Goethe. O prólogo ao programa
vida teatral da cidade. Durante o inverno, três daquela noite de abertura davu expressão do
espetáculos semanais eram programados na que ele tinira em vista: “Harmonia da repre­
Redouten-und Comõdienhaus em Weimar; no sentação inteira" e "um belo lodo conjunta-
verão, o elenco de Beilotno apresentava-se nas mente representado”.
termas da Turíngia, especialmente em Lau- Já o grande ator-diretor Ekhof havia, al­
chstádt. onde ele adquirira um teatro próprio, e gum tempo antes, falado do “concerto" cêni­
também nas cidades de W. Eisennnclt, Gotlia e co. Goethe. por sua vez, também gostava de
Erfurt, na Tiiringia. (Em Gotha, sua tronpe teve retirar suas metáforas da música, conforme tes­
como rival por algum tempo a companhia Seyler, temunha a seguinte passagem a respeito da arte
liderada por Konrad Eklioí. qne sobrevivera ã de rep resen tar, extraída de seu rom ance
bancarrota dos Empresários de Hamburgo.) W if/ir/n i Meinter.
Bellomo teve licença para usar livreinen-
te a Redouten-und Comõdienhaus de Weimar, Nâo devemos abordar çnm a nwsmii p rccisio <r com
inclusive, além do edifício, o equipamento de o musrnci eiqWrito o uosso ínibalho, jãque praticamos uma
furte muita mais delicada <!o que qualquer oculto de ími-
calefação e iluminação - e também o cenário sícíu já qiic sumos cxmlsidus a dar uma representação
e decorações, dos quais, dentro de tun conjun­ c
SfiUirosa e mtcressnuic ttos mais cnimms raras das nu-
to de sessenta e nove itens, faziam parle uma ni!estações lutnKmuK1?
cascata pintada em papelão, uma torre de teci­
do e um carro triunfal com duas rodas e um A base do “estilo dc Weimar", coroo con­
varal. O tesouro ducal contribuía com quaren­ cebido por Goethe. era a linguagem métrica.
ta tálcrs por mês para custos operacionais. Uma distribuição disciplinada do verso e uma
Porém a mais importante contribuição vinha estrutura ordenada a lim de formar um todo
de “consideráveis subsídios dos cofres parti­ pictórico parecia-lhe essencial para uma apre­
culares de vários membros da família ducal", sentação imaginosa sobre o palco. "Não ape­
que. em troca, recebiam cadeiras reservadas e nas im itar a natureza, mas rep resen ta-la
entrada livre a qualquer hora. idealmenlc", era o que ele esperava de um ator
A Redouten-und C om õ d ien h au s de que. “assim, deveria combinar verdade e bele­
Weimar, construída em 1780 próxim a ao za em sua atuação".
Wittumspalais da duquesa-mãe Anua Amalia, Educam-se pela arte - este era o grande
era um teatro da cidade e da corte, como outros ideal de Goethe. que ele próprio pôs em práti­
tantos existentes alhures - nem pior. neni me­ ca. A auto-educação como compreendida pelo
lhor. se bem que sua aparência externa fosse olhar humanista da Grécia era o tema de seu
mais modesta: “Não ntaís vistosa que a da rei­ romance Wilheim Mei.rfrr, dos dramas iphigeitie
toria cm nossa cidade", contentou desapontado e Tusso e. essencial mente, de Fausto. A voca­
o filho dn maestro da corte. W. G. Gollluidi, ção do homem para a liberdade moral e a dig­
quando esteve pela primeira vez em Weimar. nidade, a "nobre inocência e grandeza silencio­
lista era a situação que Goethe encontrou sa" de Winckclmann enquanto uma definição
quando, após a dispensa da Companhia de da beleza clássica - com base nestas ideias era
Bellomo em 1791, o duque Cari Augusl pe­ possível construir obras-primas da arte poética.
diu lhe que assumisse a direção do teatro, Sua Mas como ficavam, no meio tempo, os prosai­
primeira reação foi cuidadosa: "listou come­ cos asjiectos do trabalho prático do teatro ?
çando a trabalhar bastante i>it»io: talvez saia, A preocupação imediata de Goethe era
final mente, alguma coisa disso, para o públi­ tirar gradualmenie os atores “do terrível estilo
co e para mim“. rotineiro em que a maioria se acomodava reci-
* tira da C id a d a n ia B u r g u e s a

10. O Teatro da Corte ecn Wcimar. n:i dpoca de Goethc. G ravura d e L. Hess.

latido mecanicamente seus versos". Ele sc pro­ F.gmont. de G oethc, esp ecialm en te para
punha a escrever algumas peças, fazendo con­ Iffland, e trabalhou com o atoi na elaboração
cessões razoáveis ao gosto corrente, e então do papel. Naluralmente, o grande galardão nos
verificar se os interpretes poderiam pouco a papéis de Iffland - Fraz Moor, em Die Riiuber
pouco acostumar-se a textos métricos inais so­ (Os Salteadores) de S chiller- também eslava
fisticados. no programa. Iffland criara o papel na primei­
Goethc não considerava de modo algum ra apresentação dc Die Riiuberem Mannheim.
o palco de Weíniar coino instrumento para seus em 13 de janeiro de 1782. e pnr toda a sua
próprios dramas. Uma vista d" olhos sobre o vida sentiu que possuía um direito e uma liga­
repertório mostra que mesmo durante o perío­ ção com clc.
do áureo de Wcimar esse palco foi dominado No total, Iffland apareceu em catorze pa­
pelos “confeccionadores" de peças para o gos­ péis diversos, de preferência em peças de sua
to público, encabeçados por Kotzehuee, a uma própria autoria. Estas eram exemplos de dra­
certa distância. Iffland, com Goeihe, Schiller, ma trivial burguês, que Goeihe estava predis­
Shakespeare e l-essmg formando a retaguar­ posto a aceitar dc maneira inais indulgente do
da- No trabalho refletido do ator August que Schillcr. A tentativa dc ligar Iffland per
Willtelm Iffland, Goethc via muito de seus manenicmentc a Wcimar falhou após prolon­
próprios esforços colocados em prática; ele gadas negociações. Berlim ofereceu-lhe a di­
apresentava, como exemplo para o seu elen­ reção do Teatro Nacional Real. e é possível
co, “a inteligência com a qual este excelente também que tivesse tomado consciência de
artista sc mantém distante de seus papéis, faz quão pouco o estilo artístico dc Weímnr lhe
um todo balanceado de cada um c pode retra­ assentava. Na realidade, Schiller valeu-se da
tar tanto o que é nobre como o que é comum, o p o rtu n id a d e em 1796, em sua paródia
sempre artisticamente e com beleza". Shakespeares Schaiien (A Sombra de Sltakes-
A temporada de um mês de Iffland em peare), para ridicularizar os fabricantes de pe­
Weimar em abril dc 1796 foi o primeiro gran­ ças sentimentais que, etn vez dc César, Ores-
de acontecimento sob a adm inistração de tes ou Aquilcs, levavam ao palco nada além dc
Goeihe. Schillcr c a esposa vieram de Jena “clérigos, homens du negócios, guarda-mari­
(onde ele ocupava um cargo de professor dc nhas, secretários ou majores de hussardox", c
história na Universidade), e a casa de Goethc cujas maiores ambições eram ser completa-
em Hraucnplan tomou-se o centro dc copiosas mente populares, dom ésticos e burgueses.
conversas sobre o teatro. Schillcr adaptou Schiller queria ver em cena “o grande, gi-
4S7
Htsrõriti M u n d i a i tio f e a t r v •

gnniesco desuno, que e\;tllu o tuimcm mesmo em agosto de 1799. Goethe publicou a carta
quando o esmaga". Os heróis de suas Iragé- de Humboldt em seu periódico Propylâen em
dias foram Fausto, Dou Carlos. Mary Sluarl. 1800 com o título U brr die gegeuw anigc
Joana d'Are e Wallenstein, franzii.mche tragische Biilme {Sobre a cena
Wallenswiiis ÍMgcr (O Acampamento de francesa atual).
Wallensleio) dc Schillei iao lado de Dte Korscn O que Humboldt escreveu sobre a arte
- Os Corsos - de Knlzcbue) foi a peça esco­ do celebrado ator Tal ma, que preservara a tra­
lhida para a reabertura de gala do teatro de dição daComédte Française auavés do perío­
Weimar, em 12 de outubro de 1798, após sua do da Revolução Francesa, pareceu a Goethe
reconstrução e redecoração pelo profcssur uma confirmação brilhante de seus próprios
Thouret. Em dezembro de 1799, SchiUer mu­ objetivos. ‘ Se em outros atores pode-se de
dou-se defiiHiivameme para Weimar. Todas as vez cm quando notar unta bela pintura, como
noites, ele e Goethe sc encontravam para con­ dizem aqui", escreveu Humboldt. "sua (dc
versar, e assim se iniciou a colaboração direta Ta)ma) atuação mostra uma sequência inin­
entre ambos nas questões da criação dramáti­ terrupta delas, um ritmo harmonioso de lo­
ca e do teatro. dos os movimentos, pelos quais a coisa toda
Nesta época, Goethe havia começado a retom a de novo à natureza, embora muito des­
procurai um caminho de ligação com a tragé­ te jeito de interpretar, munido em detalhe, a
dia clássica francesa. Desde os dias do Sturm deixe pra trás".
mui Dranç e da influencia de Herder em Em especial. Humboldt elogiava no esti­
Estrasburgo, embora apreciasse Diderol c lo francês de atuação a perfeita harmonia es­
Rousseau, rejeitava Voliaire, No entanto, in- tética de movimentos e gestos com a cadên­
ieressou-se poi Mtthnme! e Ttmi rhte, deste cia do verso, "os aspectos pictóricos do jogo
autor, Propôs a Scliiller uma adaptação alemã da atuação”, a justa proporção entre a graça e
de Míthihitne tle Racine c do Ckl de Comeillv. a dignidade que Goethe lutava com tanta fir­
A sugestão originalmente viera de Wilhelm meza para atingir no palco de Weimar.
von Humboitit. mima longa carta sobre o tea­ O trabalho diário de Goethe. no tocante
tro que ele havia escrito a Goethe de Paris. ao teatro, é documentado em seu famoso, ou
famigerado. Res-elnfíir Sihauspwh-r (Regras
para o Ator), que Eckennami coletou em 1824
a partir dc notas dispersas em pedaços Soltos
de papel e que, com a aprovação de Goethe.
reuniu em noventa e um parágrafos. As re­
gias referem-se a questões tais como técnica
da tala. recitação e dec! atuação. postura do
corpo, atuaçáo conjunta e, ponto repetido
exaustivameute. agrupamentos em quadros
estilizados. As regras de Goethe têm muitos
predecessores e sucessores no teatro univer­
sal para serem lembradas como excepctonais.
Gramáticas da arte da atuação existiram em
todas as épocas cm que a reflexão critica foi
ma is forte que a vitalidade mímica e o inte­
lecto ponderador tnais pesado do que a emo­
ção espontânea,

Itllulid mi jiiipc! dc Nadidll tíin Miihítu tUir Hi^sc


tN.iun. u SíibiíO i3l‘ l.essiiití, Áuuii-íonc ih hcrit itfciuth
bfii}ii.\rlhm (.Los |nn;n.>s Hcum I ii']. Berlim.
• A E m tla C i f i u t i u i t i o B u r g u r u t

O que irrita nos parágrafos de Goelhe não em Weimar, em 2 de março de 1808, consti­
É o fato nem a época de sua redação (Konrad tuiu um fracasso catastrófico. A divisão em
Ekltof, também, havia começado sua promis­ trôs atos desta peça lesamenle construída em
sora, embora de vida curta, academia de ato­ um só ato foi apenas uma das razões. A causa
res, em Schwerin, com um programa de vinte interior do malogro estava na estalicidade do
e quatro princípios), mas o formalismo con­ estilo wcimariano de jogo iníerpretativo e na
vencional das regras de postura e movimento. indelével declamaçâo aprendida no desem­
O parágrafo 43. por exemplo, reza: penho do ator principal. Um dos integrantes
do elenco de Weimar. Anton Genast. escre­
Uma hcla e refletida postura - por exemplo, para veu: “A despeito de todas as descomposturas
um joxem - é quando permaneço na quarta posição de . de Goelhe nos ensaios, não havia como tirá-
dança, o peito e o corpo todo virador para fora. v inclino
a cabeça ievcinente para o lado, fixo os olhos no solo c
lo (o ator principal) de seu ostentoso fluxo ora­
deixo o* braços penderem tório".
Semente lançada j>or Goethe... Este era o
Mas há uma explicação para esse aparen­ título de um panfleto publicado em 1808 pelo
te pedantismo. Por trás se acha Noverre, cujas ator K. W. Reinhold. após sua demissão de
famosas Letlres aur la Danse forant divulgadas Weimar. Vale a pena mencioná-lo, nem que seja
na Alemanha desde 1769 na tradução que única e exclusivam ente por ter induzido
Lessing fez. de vários excertos; e em volumes Gerhart Hauptmann em eno, quando ele o usou
inteiros das muis variadas discussões teóricas. para escrever P ie Raiten (Os Ratos). Nesta
Goethe os versou com domínio suficiente para peça. o diretor de teatro Hassenreuter profes­
que, no parágrafo 90, ele os resumisse como sa “o catecismo dos atores de Goethe” conu»
se segue, inteiramente no espírito de Diderot: sendo o alfa e o ômega de suas convicções ar­
o ator deve "apropriar-se, conforme os seus tísticas. O parceiro de Hassenreuter nos diálo­
significados, de iodas essas regras técnicas, e gos, o jovem estudante de teologia Spitta, re-
deve sempre aplicá-las, de modo que se tor­ jeita as regras de Goethe como "completo dis­
nem um hábito. A rigidez deve desaparecer e parate in um iFicado", O Spiila de Hauptmann
a regra [ornar-se inerainente a se creia linha exclama triunfalmente:
mestra da ação viva".
Goethe estava hem consciente do perigo L u que dizer st1e]c decreta ir "Todo ator, irnlqtcn-
do maneirismo frígido. Sua máxima "primei­ deutemeiiic do pericmagtfm que representa, precisa -
cu cttosua* palavras - 'precisa mosirur algo de cjuiíIw
ro belo e depois verdadeiro" levou a um tipo libiico cm sua llsitanoiuiii* - cslas foram suas pal;ivi:.is, -
de eslilizaçao que se tomou uma camisa de ‘alguma coisa que nos lembre unertiatamciUi’ a alia tra­
força, Eduard Dcvrienl apontou por certo um gédia”'.
importante critério do trabalho de Goethe
para o teatro, em Geschichte der deinscheit Hauptmann expôs seu ponto de vista alta­
Síhítiuijiielkttiixl (História da Arte do Teatro mente teatral, mas Goethe é inocente da impu­
Alemão). Ele argumentava que a "abordagem tação. A fonte, conforme Hims Kuudsen pro­
poética e crítica" preponderava e que Goethe. vou, não é G oelhe, porém o panfleto de
a despeito de seu fino sentido para a arte cio Reinhold, Saat i-<>» GViWie Gesiict dem Tage der
desempenho, "não sentia sua pulsação". Garben zi> reifert. Eia Handbuch fiir Ãsthetiker
As teses de Goethe na estética do teatro andjunge Schattsjriekr (Sementes Lançadas por
formaram unia concepção básica da arte clás­ Goethe para Amadurecerem no Dia dos Eeixes.
sica de escrever e montar peças teatrais, que Um Manual para Estetas c Jovens Atores),
serviram de pedra de toque para gerações fu­ Após a prematura morte de Schiller (em
turas. Elas causaram algumas violações, como, 1805, aos quarenta e seis anos), Goethe conti­
por exemplo, nas adaptações de Sitakespeare nuou no caminho que haviam percorrido jun­
em Weimar: e falhavam completumente quan­ tos, sem ceder em nenhum de seus princípios.
do um espírito independente irrompia no an­ E assim cresceu o condito cnlre Weimar e a
seio apolíueo pela harmonia. Per ztrbrochcne escola de Hamburgo, cujo objetivo supremo
Kntg (A Bilha Quebrada) de Kleist encenada era a representação realista. A principal figura

• J/9
H is t ó r ia M u n d ia l tin Tt'<ttra

no teatro hamburguês era então Friedricli nos países de língua alemã, ambas tornaram-
Ludwig Schrõder, o grande intérprete de se foco do desenvolvimento c do destino da
Shukespearc e chefe de companhia, cuja força herança clássica e das formas classicistas.
era a individualização das personagens. Dc
inicio, tão logo assumiu o teatro de Weinur, B e r lim
Goethe Tez diversos contatos com Schrdder e
ficou interessado no sistema de direitos auto­ Quando Schiller esteve em Berlim em
rais c de divisão de lucros que este último ha­ maio de 18fH. passava as noites no teatro, des­
via introduzido em Hamburgo, como também frutando de um programa metropolitano que
em sua organização financeira', mas no que oferecia generosas produções de Mozarl e de
dizia respeito ao estilo individualista e realista Gluck, c um repertório dramático no qual o
de interpretação da escola hamburguesa. dramaturgo de maior sucesso era... Schiller.
V/eimar não fez nenhuma concessão. A incom­ Iffland, » diretor do teatro, encenou suas
patibilidade dessas duas concepções artísticas, mais ambiciosas produções para o convidado
tão basicamente diferentes que dei xarain ambas de Weimar: Die Bruni vrm Messinu (A Noiva
sua marca no século, foi o assunto de um acalo­ de M essina) c a brilhante m ontagem dc
rado debate ainda cm vida dc Goethe e Schrõdcr, JunRfrau vou Orletms (A Donzela de Orlcans).
e também muito tempo depois. "Se e como as que fora uma fome de dinheiro durante os úl­
escolas dc Weimar e Hamburgo podem ser re­ timos três anos. O clímax da noite era o quarto
conciliadas'*, escreveu Heinrich Laubc, ‘‘esta c alo com os cenários da catedral neogótien e o
a verdadeira substância de tudo u que preocupa cortejo da coroação com duzentas pessoas. "O
os amigos que se dedicam honesta e reflctida- esplendor da apresentação é mais que régio”,
niente ao teatro alemão, desde o começo do sé­ entusiasmou-se K. F. Zelier. “e. incluindo a
culo". música e todo o resto, dc efeito tão notável
Schrdder morreu em 1816. Goethe aban­ que a plateia entrava em êxtase a ioda hora”.
donou o teatro em 1817. Havia íniriga detnais O crítico teatral do BUr/terbltitt de Berlim atre­
para seu gosto. Quando Carolinc Jagemnnn. a veu-se a usar n atribulo "sensacional'. Scliillei
First lady que dominava o teatro e o coração reagiu de maneira bem mais fria. A suntuosa
do duque, teve o gosto do triunfo e viu aceita a parada da coroação, decidiu ele. sufocava a
peça de um grupo visitante rejeitada por peça: o público havia visto o "cortejo" e não a
Goethe. Der Hiuni des Anhry ile Miuit-Ditfíer "Donzela”. Assim também reclamou ouirora
(O Cachorro de Aabry de Mont-Didicr). cie L.ope de Vegn quando viu seus versos submci
pediu imediata demissão do cargo, hm 12 dc girem na maquinaria cênica do barroco
abril dc 1817, o ator Karsten subiu ao palco Mas para Iffland. desde novembro de
com seu piinclíe adestrado, c cm 13 de abril o 17% diretor do Teatro Real Nacional, o apa­
duque Cari August, a contragosto, teve de anuir rato externo era parle de sua concepção dc
ao desejo de HerrGeheimrat c Staatminisier da jogo teatral. Conhecia seu público e sabia
Intendência do Teatro da Cone, de ser dispen­ como eonquislá-lo. ”() que é passionid. român­
sado dessa função. Assim terminou a grande era tico e suntuoso afeta a lodos, enaltece as emo­
do teatro de Weimar sob a direção de Goethe. ções dos melhores e ocupa os sentidos da mul­
Durante a noite de 21 para 22 de março de 1825. tidão", havia ele escrito a Schiller em 30 de
o edifício foi destruído por um incêndio. abril de 1803 e, referindo-se a Aui.ç/nni c[hj
Goethe recebeu a notícia cal mamente na­ Orleans. chamou a atenção do autor para o
quele momento, pois não estava nem um pou­ falo de que dado que a bilheteria ganha consi
co interessado no trabalho prático do teatro. deravelincnte com espetáculos deste gênero,
Suas ideias não estavam presas a nenhuma ela pôde fazer mais pelos autores de peças, do
casa. As meias propostas e as realizações efe­ que antes. Iffland sugeriu a Sdullci que con­
tuadas no seu exercício da intendência tea­ duzisse impcrceptivelmente seu espírito livre
tral continuaram a exercer influência direta e c sobrepairai! le lia direção de um assunto não
às vezes indireta no teatro alcinãn. Berlim c excessivamenle abstrato. "As enormes despe­
Vicna tinham estreitas ligações com Weimar: sas operativas forçam -me a uma aproximação
• -120
X I. Cen;< de Urd/pwsfím.f U i \ te r fO Acampamento de WnllcnMein) de Schiller. apresentada pela primeira vez em 12
de outubro de H9&.. nu rsiaf*tifiura doicntro de Weimur recniislumlo Gravqtu colorida de J. C. f í . Mullcr. u pamt de G.
M. Krsius.

31 Cena da monlupem hetlweiist* de H a m h - t, em 177*; J H,lK k«umn como H jm le i c K M. lX«bhelm eumn


Ofélia- Gravura de D Hcrgct. \i purur de D amei U knio ttieckL tieitrm. 1 7M) f dn Ijvm Í U m u í h - S c h u u s in e U r ScliHUcn
Jci GewllseliaM fih'TI tratei peNitin h te, m »I IX. Heilim . t»Jtí7i
34 Curicjo stilcnt: da coroaqm <í;i ciccriu^iti.t ib Ilíbui! tlc í>u‘Juttiifhtu vou Orlva*1.1 [A Durruel.i di* U rlfuiM <k'
S cJu Uct; da Lfual SchiMft a;*)*; *im vi*ii« a B it Iieu i 1 H<J4í, “tiuc huvium rq>rc%cniiuln i\ ttirtqn, c dãn a rJuE>xx>l:i<'.
Gravuru dc K Jaget, u p a r m dc H, U;tbf
* A E r a da C id a d a n ia t l u r g itr in

prática das coisas do espirito. Posso alegar exibir sua arte", podemos ler lio /liiwiífH de
com o desculpa apenas que estou tentando 1802. "A Zona rural dc Nicéia é um ensejo para
combinar os interesses do dramaturgo com os esplêndidas e românticas pinturas; Verona re­
da bilheteria". velou-se utu mestre do cenário, porque a deco­
Estes eram os princípios irancamcnle ração é poderosa, rica. variada e cintilante."
admitidos de um homem que foi tão bom ad­ Enquanto Goethe, no estrito cenário e com
ministrador quanto artista. Em troca de um o apertado orçamento de Wcimar, precisava
salário de três mil tálers por ano e uma apre­ pensar cuidadosamente no equilíbrio das des­
sentação beneficiente anual, sua tarefa, con­ pesas e dos lucros, [ffland tinha plenos pode­
forme definida pelo rei Frederico Guilherme res. O cenógrafo Bartolomeo Verona era ver­
II, em sua ordem no Conselho de 1796, era: sátil o suficiente para ir ao encontro de todos
os desejos ahamente subjetivos de lífland.
O senhor não devotará xua atenção exclusiva nrm ã Iffland dirigiu o Teatro Nacional de Berlim
ópera. nem :to drama. Ames. dedivumtu ipuat tonsitiem* até sua morte em 1814. Foi encenador, ator e
çãn ús duus alies irmãs, deverá tentar manter um cquili*
viajou em lumes. Em estreita colaboração com
brio global. Tanto na ópera quanto nn tira ma. procure
varinr a distribuição de papeis, a fim tlt- apresentar talen­ Schíller e Goethe, coube-lhe o mérito de elevar
tos recuiiliceidus c revelar os qnc brinain. e salvar o alor a direção teatral à categoria dc arte. Que tenha
tla negligencia, e o ptihliro. do tédio defiiiitivu. custeado o dia-a-dia do teatro com peças popu­
lares do repenórin sentimental corrente; que não
Até 1801, o velho teatro na Beluenstrasse tenha encontrado uma chave de acesso a Kleist
eslavn em funcionamento. Nele. a M imiti vou e que tenha acolhido com reserva as obras dos
Bontlifini de Lessing e o Gòlz r nn Berlit-hingen românticos - estas foram falhas que partilhou
de Goethe haviam ganhado o aplauso do públi­ com Wcimar. Um ano nntes de sua morte, IITIand
co berlinense, e foi neste teatro que Cari Theophil chamou a Berlim I .udwig Dcvricnt. um ator cuja
Dohheliu iniciou e terminou sua carreira dc di­ arte era totla mistério fantástico, paixão e fasci­
retor-empresário. O rei comprou sua participa­ nação demoníaca - em crasso contraste eoni o
ção toda no ativo da sociedade por quatorze mil seu próprio modo de representar. Iflland, o in­
tálers e a integrou no Teatro Naciona]. térprete pautado pelo intelecto que tinlta em
Em l'*de janeiro de 1802. MThiiiri mudou- vista a “pintura dos sentimentos", cuja preocu­
se para uma nova e espaçosa casa de espetácu­ pação estava no efeito polifônico do mimo e do
los. Suas poltronas inelinadas e três galerias gesto, reconhecia o gênio deste conflituoso in-
acomodavam dois mil espectadores. Localiza Iciprcle do horror,
vá-se na Gendarmemnarkl c tora construída Iflland não viveu para ver o thHntt de De­
|*jr Langhans, o Velho: um edifício de amplas virem em Berlim. Um novo Franz Mixir pisou
instalações com portal clássico. no palco, "um monstro espreitanie armado dc
Iflland prometeu a seu patrono real Frede­ venenos c punhais”, um gênio autodestrulivo,
rico Guilherme! II produzir "o melhor teatro ale­ um expoente do romântico - demoníaco gosto
mão no mais fino edifício teatral' . O rei e sua |icla vida. o companheiro de E. T. A. Hoffmaiin.
esposa, a rainha Luís», compareceram à inau­
guração de gala. Ifllnnd recitou um prólogo que
expressava sua gratidão. Seguiu-se uma apre­
sentação de Dia K m rfa krer (Os Cruzados) dc
Kot/.ebuc Isto deu a Iflland a oportunidade de
exibir o esplendor completo de sua vistosa de­
coração. "A peça confere ao cenógrafo uma
oporl unidade quase ininterrupta e brilhante de

33. Ludu ij; Deviuuit koiiui t-rcm/ Mddi uns H t u t b v r


(O s S aíiLM dtiftN i, dv Schiller, [ ura tl;i cpoc.i.
ttcHith -, IH15

• d2d
titsíòviti ilo T a i t m *

bebendo noite adentro na adega de vinho de O teatro construído por Laughans, o Ve­
Lulter e Wcgncr- Fulstaffe Mefistófcles em um. lho, na Gendarmenmarkl em Berlim, eompar-
Após a morte de lfiland, o conde Karl Brithl lilhuti o destino de muitos de seus contempo­
assumiu a administração do Teatro de Berlim em râneos Templos da Musa. aos quais velas de
1815. Ele contratou como cenógrafo o grande sebo e candelabros causaram desastres: incen-
arquiteto clássico, planejador de cidades e pintor diou-se em 1817. Para substitui-lo. Schinkel de­
Kari Friedrich Schinkel, tentou adaptar o estilo senhou um novo e representativo edifício clás­
dos figurinos a cada drama individualmente e, sico, combinando deliberada devoção ã revi-
no todo. estava preocupado com a “exatidão his­ vência do estilo grego com o funcionalismo em
tórica e geográfica" da decoração, conforme A. grande escala. Goethe seguiu os trabalhos de
W. Schlegcl exigira em sijas conferencias sobre acabamento com grande interesse, conforme
arte dramática. Nomes como os de Claude evidencia sua correspondência dc Weimar com
Lorrain, Poussin c Ruysdael começaram a vir à o conde Brúhl e Schinkel em Berlim. A inau­
baila como modelos para dévors teatrais. guração solene, em 26 de maio de 1821, foi
Schinkel criou, em 1816, o cenário para A dominada pela tríade: Antiguidade, Weimar c
Flauta Mágica de Mozart, e conseguiu fama Beriim, Começou com um prólogo, escrito por
rmmdial com o firmamento majestoso e estrela­ Goethe, seguido por sua Iphigenie a u f Ttntrts,
do. a imponente esfinge, a misteriosa arquitetura emoldurada pela abertura dc Iftgêitta cm Àiilis
de pedra cercando □ salão do templo antigo. de Gluck, c concluída com um bale chamado
Aquilo qne Goethe havia desenhado para o Tea­ Die Rosenfee (A Fada das Rosas), do duque
tro de Weimar com a modesta intensidade de sua Karl de Mecklcnbiug. irmão da rainha Luísa
pequena escala em prodigamente realizado cm Goelhe recebeu o convite para honrar a oca­
Berlim pela cenografia de Schinkct. Goethe lo­ sião com sua presença, mas. a pretexto dn ida­
cara a melodia. Schinkel a ciaborou mima parti­ de, recusou (tinha setenta e dois anos!. FJe sem­
tura completa. Os croquis dn templo jónico de A pre felicitara seus amigos de Berlim por suas
Flauta Mágica trazem à mente « pórtico do pe­ maiores possihil idades e pela "vantagem de
queno e antigo Templo de Diana em Assis, cuja pertencei1 a um grande Estado", e ele pode
luinnonia parecia perfeita a Goethe, enquanto ele muito bem ter se poupado lambem então da
não tinha nada de bom u dizer a respeito das experiência de efetuar pcssoalmente a compa­
"subconstnições góticas" do grande monastério. ração com seu próprio c "pequeno inundo" de

íí>. lias Mi-uv Sdiauq>ictlu(is cm b o tim . m> lieiiJaiiHciimarkl, projetada jm r Kart l-ricdricli Schinkel e eoauiuKfci
cm 1 8 2 1 . D c s d itm d e H i í f g c u ^ r . t v n r a |H i r S i> h u

414
■'i !. >C i !<: C l:’i i i í í' !• ” ’ l'

Weimur. O príncipe Hardeubcrg indicou o con­ Mcrkstr. Mas o imperador José 1] foi bastante
de Briilil pura diretor-geral dos teatros reais cm sagaz, e bastante vienense, para não sacrificar
l K15 e. segundo se relata, leria dito as seguin­ o jardim florido da tradição do teatro popular
tes palavras: "Faça deste o melhor teatro da à nova c ambiciosa instituição cultural. Todas
Alemanha e diga tne quanto custa". O edifí­ as fig u ras fo lc ló ric a s das q u ais Jo se p h
cio de Schinkel no Gendamicnmarkt foi com- Sonnenfds teria com tanlo gosto se livrado,
pletnmeiile destruído em 1944; sua reconstru­ lodos os Knperls e Staberls e Thaddâdls (arle­
ção começou em 1967 quins nativos c personagens bufas) continua­
vam a viver alegremente nos teatros suburba­
Viena nos - sob Larocbe, no teatro em Leopoldstadt.
sob !. A. Gleich e Adolí Báuerle no teatro em
O terceiro vértice do triângulo do teatro der Josefsiadt. ate num nível maís elevado, na
clássico alemão foi Viena. Aqui foram dados comédia de conto de fadas e magia de Rai-
tis primeiros passos rumo a um teatro nacio­ tnund e na espirituosa sátira toca) de Nestroy.
nal na época de Ixssing. Quando, em 1776. o O Don G im anni dc Mozan leve uma re­
imperador José II elevou o .víurits de Haus an cepção fria no Burgtheater em maio de 1788.
der Burg para o de teatro nacional c imperial. Seu librelisla l.orenzo da Ponte lembra o co­
Lessing teve a esperança de qne se lhe abria mentário apologético do imperador: “A ópera
ti m novo campo dc atuação no Danúbio, de c divina, talvez inais bonita ainda do que
qne uma nomeação o capacitasse a participar Ff/çam, mas não é comida para os dentes dos
da formação rle uma instituição central de cul­ meus vienenses".
tura e dc progresso cultural no espirito do idea­ Contudo, foi prccisaincntc no domínio
lismo humano, tal como Klopstock havia so­ da ópera que Viena conquistou seus méritos
nhado. mais relevantes durante as primeiras décadas
O imperador incumbiu seu teatro da tare­ de seu Teatro Nacional. Acolheu as reformas
fa de 'disseminai o bom gosto c o refinamen­ de Gluck. difundiu a fama dc M u/art c. em
to dos costumes". Sua administração foi con­ 1808. montou uma brilhante apresentação de
fiada a um colégio governamental de cinco pes gala da Criação de Haydn. F- :t especiliea-
soas. D ator J H. F. Mtillcr foi incumbido de mente vienense opeitt hitfftt combinou lodos
realizar uma viagem exploratíu ia peia Alema­ os elementos mágicos e exóticos que alcau
nha a fim de procurar jovens talentos, çaium até ti. T. A. I loífinann. Cari Maria Von
Fie encontrou Lessing em Wolfenbiitiel. Weller e Alberl Lortzing na ópera romântica,
que lhe disse; e cujos vestígios sc encontram U iin h é n t tio
Futctio de Beeilntveit.
[iii eaava iirisliqxiMo emitia n |uL-i! I1. V il- iiii . |hh As decisões concernentes ao programa,
;| I ;■'. .Ml 11■i lMi, |i;il.'leS ', :M'v. iIò -.', -1.i. nãu VI+11II j , esealação de elenco e contratos ficavam a car­
iiK-ltiorcv i 'm: ■! vaik-i -ii:i, cm iiiinjitt opinião conevlii- go da comissão dos cinco nomeados pelo im­
ila. eiiniu ' seaEim1 mesma juste cei It.essing ■ :.i, i;i estu­ perador. A instância suprema, porém, conti­
lta viu '■ i, i i mo iiiin i.ite. i i e;'i I ?7fi. e nvera itina (C-
.11■ i n :n -' i . .11 A ind a falia llllllla e u isa . I" :l' u I r ;1-
nuou sendo ele próprio. Ele intervinha, no tra­
i :; i r ii' r M.' ,; .; i.i ,|i i’i inilrn .| le L,'ii. V , ' balho teatral prático, com sugestões e instru­
ções, Havia necessidade de mais ensaios, e
Ele deu ao projeto do Teatro Nacional de ensaios mais intensivos; na distribuição de
Viena prioridade suhre Mannheim, onde tam­ papéis para espetáculos importantes cumpria
bém se cogitava ter a colaboração dc Lessing. prever Lima dupla indicação (titulares e substi­
porque Mannheim. disse ele, não contava com tutos), c os direitos de prioridade deveriam ser
uma população suficiente mente grande para le­ observados; a responsabilidade pelo funcionu-
vantai os recursos necessários para lai em­ metito desimpedido dos trabalhos no teatro de­
preendimento. veria ser alternada de acordo com uma lista
"Viena deve ser pura a Alemanha o que semana! de revezam ento -- um sistem a de
Paris é para a França", escreveu Wivluud. por stnjtenniiutxer - por coincidência aquele que
sua vez. cm sua revista literária D er Temsiite Goethe adotara em Weintar.
■ djã
37. Castelo tlcTbiirneck. Desenho de ccidríodo Kurl 1-rLedrich Schinkcl para a peça de K lcist, K ò t r h c n vo n f ie i ib r r m t l
encenada nu Kociigliche SchauspilhíiUN, Berlim, 1824 Aquarela du Djecneh.

38 Pulcu qujnln[>aji]íe de Dtu der


fhtus triíifMtfimvift’ ÍA Casa dos Tetnperuroenlo.s) de Nestruy. Ciravnn coioridu ile A
\*tur Humu>z<‘dni\g
Cicijíer. a punir de i C . Sel»ooIler, cmruÍLk■c|i» II de AdolI tiúuerie. 1H38.
■ A L r n tf<Jt Cníii tit in it i RurffufAii

A im provi são de qualquer tipo foi d;tí por dade entre os objetivos de Goclhe e Schróder.
diante estrita mente banida do Holf und Natio- perdeu algo de sita agudeza em Viena, Schróder
naltheather. Em suas instruções aos atores, José temperou seu estilo da naturalidade no Burg-
lt estabelecia explieitameme: lheaier, e não perdeu a oportunidade de ence­
nar suas próprias tragédias burguesas e adap­
A niii&uém é pernim do dehbi.’ n itjiiiiu*nic a d ic io im tações.
CjUiik|ueil coisa u seu pupel, n ltr o - ln ou empregm1çl-slos Um elo imediato entre Weimar e Viena es-
iilC iHlvcnienios: an cciurám i, todos tk '\c m iii.u ite rs ^ cx-
labeleceu-se na pessoa de Joseph Schreyvogel.
ciiiKjvnmemt.' nos term os piescrirov pelo tnitor c ;mmn7.:t-
dns |K'hi censura im perial e do teafru te ;il. iu> caso de dramaturgo e guardião artístico do Burgtheater
iiilYa^àn, o ofensore m ullâdoem l/y du seu salário mensal. de 1815 a 1832. Ele havia vivido pur três anos
na cidade universitária turingiana dc Jena, es­
Se, no entanto, u texto do dramaturgo de­ crito para o Jeiiucr Urenmtmitung e respirado
via ser respeitado, assim também devia ser a a atmosfera intelectual de Schiller c Goellte.
autoridade do censor, que eventual mente as­ Apurara sua crítica no exemplo do estilo tea­
sumia proporções grotescas. Kubíilc itnil Litbe tral dc Weimar e havia refletido sobre a aguda
(Intriga e Amor) de Schillcr escapou de ser disparidade entre o sobrepujame poder de
rebatiz.aiia K túm k mutNeigimg (Intriga e Afei­ Goetlie como poeta e a mediocridade do tea­
ção) por um triz. Mas o censor topou com um tro de Weimar, Mas. após dois anos de seu pró­
outro problema: o presidente teve que lornar- prio trabalho de Sísifo uo teatro, seu julgamen­
se tio de Ferdinando. porque sua atitude para to abrandou-se substancial mente.
com o filho era indigna de um pai, b. assim o Joseph Schrevvogel construiu sistemati­
texto de Schi 1ler precisou ser retificado, dc for­ camente um repertório no Burgtheater de Vie­
ma que a fala de ferdinando declamada em na, nos moldes do "teatro universal" de Goclhe.
Viena soou assim: "Existe uma região em meu Como editor do SnnnUtgsbUiH de Viena, até
coração onde a palavra tio nunca penetrou..." 1818. ele tentou ao mesmo tempo educar seu
Enquanto cm Berlim, sob a ocupação fran­ público. O grande dramaturgo austríaco Grill-
cesa. Iflland pudera, sem maiores entraves, ape parzer reconheceu dever suas primeiras rela­
lar para sentimentos patrióticos com sua ence­ ções com o mundo intelectual de Weimar in-
nação do WiiHcnslcitu Ltigci. o censor napoleô- ieirameiile a Schreyvogel e seus artigos e crí­
nico em Viena suspeitou de conspiração em ticas no Sttntitofisbltttt-
Fiíh lii’, e a permissão para o espetáculo foi datia Em matéria dc trabalho teatral prático.
apenas no último mumentu. (Wieland Wagner Schreyvogel perseguia objetivos inteira mente
salientou, em sua montagem desta obra cm pessoais. Não seguia nem o estilo declamatório
Stuugan, cm 1954. o que a vienense. cm 18(15. de Weimar. nem o estilo espetacular de Berlim.
encobrira: fez com que o governado! Dou Setl mandamento exigia a pias mação imerpie-
PizaiTO aparecesse em máscara de Napolcão, i taiivu do papel a partir "de dentro", ideia esta
Friedrich Ludwig Schroder foi chamado forte mente influenciada pelas noções român­
de Hamburgo cm 1781, e levou pura Btirg- ticas. Schreyvogel levou Ahn/rtni (Avó) de
theaier r> ardor passional do estilo do Sliirui Grillparzcr e sua lírica c melancólicaSappha.
mui Dnmg. Uma onda dc prohlemas artísticos Sopluc Schródcr foi elogiada pelo romântico
agora envolvia a escola de Viena. "Toda Viena sueco P. D. A. Atterboiu pur haver compreen­
é testemunha da mudança que tomou conta da dido “a música total da poesia ent suas som­
interpretação desde que cheguei", escreveu bras mais sutis" e por tê-la expressado em
Schróder muna carta ao diretor Dalhcrg, do ■‘sons celestiais”.
leairo de Maimlieim. Naquilo que Goclhe falhara em Weimar e
Schródcr pretendia com ti mear a lodos os Iflland cm Berlim, Schreyvogel realizou em
atores alemães ‘'natural idade e verdade” , que Viena: estabeleceu a fama dramática de kiei.st.
eram os próprios mandamentos aos quais o sé­ Conseguiu estrear com sucesso Der Prinz rtm
culo inteiro se dedicara. I j i mitnre et ! e v m i . Dom burg tO Príncipe de Hamburgo) - sob o
haviam sido os ideais de Voltaire. Mas, em con­ título Pie ScUUtcht vmi Fe/iliiellin ÍA Batalha
traste com Weimnr, a aparente incompatibili­ de Fehrhelliii), corno insistiu u censura - e as

- J ’ 7
r ftiyforiu Mundial da Trarro *

sim tomar uma presença viva no palco um tenha se apressado a assistir ã prvmière, pois
herói que, sob o radiante poder de triunfar, re­ comentou: "a censura pode em seguida encon­
vela o reverso humano, o medo da morte. trar um cabelo na sopa e proibir a peça. e eu
Philipp von Slubcnrauch, um experimentado não conseguiria vê-la".
perito em todos os estilos de épocas, n cujo Em seus princípios básicos, o estilo do
cargo estiveram os cenários dos teatros impe­ Burgiheaier viencusc caminhava bastante pró­
riais de Viena nos anos de 1810-1848, vestiu o ximo aos ideais dc Weímar, e a cena do Da­
i elenco cm uniformes fielmcntc copiados da núbio eslava iguairneme preocupada com os
época do Grande Eleitor. Sclircyvogel, porém, arranjos pictóricos. Isto se evidencia numa des­
precavidaniente apressou-sc a oferecer a seu crição da celebrada atriz Sophie Schroder na
público não apenas o Kleisl “pnissiano”, mas revista Eiimpu:
também, logo depois, o inspirado poeta român­
tico de Kãthchen von Heitbrimn, como um Fia esitve cnunovcotc c emocionante, emocionante
prato palatável. nada problemático. até 0 ponto do terror, S uíis postura* foram belaititmc cal­
culadas: mesmo nas ma is ousadas, nunca excedeu os li­
Schrcyvogel demonstrou um infalível sen­ mites da beleza. Sempre projetou uma composição
so de qualidade artística no decurso de seus pictorial: o jogo com seu manio. a queda de uma dobra,
dezoito anos como “secrelãrio e consultor" do ludo foi cuidadnsatrKtilc estudado-
Burgtbcalcr, o que assegurou a este um reper­
tório dos inais exigentes. Incluía Shakespcarc Goethe nunca veio a Viena, mas teria acha­
e Holberg, Gocthe e Scliiller, Caldcrón e Gol- do seus ideais admiravelmente realizados na
dom. Sheridan e o menos ilustre Kotzcbue. “harmonia da postura e expressividade cêni­
Contra a cxpcctaliva, o Tartufo dc Molièrc, na ca” que seus contemporâneos tão efusivameme
1 adaptação de J. L Deinhardsteiii, passou pela elogiavam em Sophie Schroder.
censura, embora para apenas dois espetáculos. O szenischer kcalídvahsmus (o realidea-
E de sc presumir que o imperador Francisco lismo cênico) dc Schreyvogel. como A. W.

trilogia !>.. ■ g,.i'./r» V i tt l( ' í . . . . i Ile (Jiim l f>tréiu - in IX ?-I i <i Biirglhealcr. Viena.

* 42K
• ,-l Er a iia C ntt utm uti H\tr$ticSfi

Sclilcget o chamou, manteve-se a meio cami­ ciam uma boa visão e habilitavam o palco, que
nho entre o estilo Uthiemt de Weimar e os sun­ eslava indo de encontro ao realismo, a ter a
tuosos cortejos de Berlim. O orçamento, sem­ inclinação requerida para adequar o cenário.
pre lamentado pela exigúidade de sua dotação,
podia ser esticado o Bastante para permitir pro­
duções muito respeitáveis. Schrcvvogel equi­ R o m a n t is m o
pou a maioria das peças com cenários e um
gardr-robe de sua própria autoria e - auxilia­ Utu certo numero de definições teóricas
do por um considerável ftmdus iiislrurnis, co­ frequente utente citadas foram propostas para
mo coma o ator Heinrich Anschulz com um distinguir o classicismo do romantismo. Pa­
estoque permanente, especial mente de figurinos. res dc contrastes tais como lei e génio, inte­
O palco do velho Burgtlieaicr media qua­ lecto e emoção, forma fechada c aberta, com-
se 9 m de largura por 12 m de profundidade, e. pleteza e mfiiiilude, arte objetiva e subjetiva,
com o auxílio da cena curta e longa, podia efe- iodas tocam apenas aspectos parciais, tal
lívumenle fornecer uma ilusão de profundida­ como a polêm ica observação dc Gocilre: "O
de. Em adição às costumeiras pcrspcctivas clássico é o que c saudável, o romantismo é o
diagonais no estilo de Gali-Bihiena, o pintor que é doente".
da cone e memhro da Academia Imperial de Entrementes, concordou-se em desligar
Artes, Joscph Platzcr, que começara a traba­ os dois conceitos dc sua polaridade hostil. E
lhar para o Burgthealer em 1791, desenvolveu deixou-se de incluir no romantismo exclusi-
um outro artifício ilusionista para nina perfei­ vamente a poesia e a pintura do período entre
ção exemplar, o puno de lundo arqueado, uma 1800 e 1830 com o uma fornia específica de
tela perfurada que podia ser erguida e inserida arte alemã. Estudiosos mais recentes retira­
diante da parede pintada atrás do palco, per­ ram o romantismo alemão de sua posição iso­
mitindo assim a multiplicação do efeito de lada e lhe asseguraram um lugar no quadro
pe rs pe cliva. total dn Europa. "A partir do meio do século
De zc nove dos cenários típicos criados por XVIII". escreve Klaus Lanklicit em seu livro
Plal/er para o teatro do castelo em Leitomischi /íecfi/tfÇfTo e Resiauniçdo, "o pré-romantismo
(Lilomisl) na Boémia ainda estão conservados, propaga-se a partir da Inglaterra. Era em p ri­
Incluem um "salão gótico", cujo prospecto du­ meiro lugar literário, eont Thotnsnn, Youttg,
plo continua engenhosantente a peispectiva Burke e M ucphcrson tia Inglaterra, com
diagonal do escalonamento em profundidade RoussenU na França, eont o Sutnu mui lim iif;
pm|eluda por seis pares de bastidores late­ na Suíça e Alemanha". As expressões mats
rais que eram arranjados em ziguezague c abri­ vigorosas do romantismo alemão foram os ir­
am a vista dc um salão aberto Esses bastido­ mãos Schlegel, Tieck. Novalis, Wtickenroder,
res laterais podiam se combinar com diferen­ o Dirhrerkreix [Círculo de Poetas) de Hetdel-
tes pros|->ectos para formar novos cenários, berg c E, T, A. Hoiiinami. O movimento ro­
O mesmo sistema foi usado por Lorenzo mântico francês começou com Lr G ruir du
Saccliettí e Amonio de Piun. cenógrafos da ChristHmixme de Chateaubriandt [ K02> e cul­
ópera dc Viena, e também por Georg Fueutes minou em Victur Hugo e Alfred de Musset,
em Frankfurt e por seu aluno Friedricli Beutber Na Itália. Ugo Foscolo e Alessnndro Manzoni
em Weimar, O princípio do palco curto e lon­ inflamaram-se com as ideias da nova corrente
go desempenhou um papel importante até a literária. Nu Inglaterra, seus mais fortes repre­
metade do sceulo. O problema da diagonal em sentantes foram Scotr, Byron. Shelley. Keats
prol'uiulidade oferecia algumas dificuldades e Wordswortb. Na Suécia, o grupo dos Ris-
técnicas adicionais, desde que o teatro e o sa­ Coristas reunia-se ã volta de Per Daniel Ama­
lão do baile de máscara dividiam um recinto e deus Alterbom. A literatura da Rússia e da
as poltronas siluavam-sc no nível do chão. Isto Polónia foi profunda mente influenciada por E.
loi eliminado com uma nova prática, a da cres­ T. A. Hoffmann, c Púschkm e Ciógul lançaram
cente construção de casas de espetáculo in­ a ponte para a "escola natural" de meados do
dependentes. Agora. |«iltrunas elevarias ofere­ século
H istõrht M uitiliuí Jn fftilri?

O romantismo floresceu cm ioda a Euni- ponte sobre o abismo entre o finito e o infinito
pa. Nas palavras de E. R. Meijer.ele acometeu por meio da ironia romântica, a peça espirituo­
todo o inundo ocidental “como uma epidemia". sa com a ilusão e o anio-aiitilamenio - todas
Era cosmopolita e. ao mesmo icmpu, desper­ estas fornias de âutocriuçãn c auto-aniquila­
tava impulsos nacionais nos países individuais. ção conferiram ao drama do romantismo suas
"A poesia romântica é uma poesia progressiva características improvisacionais. fragmentári­
universal", escreveu Friedrich Schlegel, “pre­ as e tendentes ao arabesco. O “ego artístico”
tende primeiro mesclar e logo fundir a poesia servia de significado, as múltiplas refrações
à prosa, n literatura criativa à crítica, a poesia justificavam-se no "jogo do teatro consigo
da arte à poesia da natureza". E: “Ela sozinha mesmo”. Em Der gesliefelte Kater (O Gato de
é infinita, da mesma forma que ela sozinha é Botas) e Prinz Zerbinn. l.udwig Ttcc-k brilhan­
livre, c sua primeira lei é que o livre-arbítrio te-mente pôs fim â identidade do público cont
do poeta não reconhece nenhuma lei superior". o palco, do jogo com a realidade.
Novalis deu o lemu: "Para dentro vai o cami­ A impregnação da vida com as formas exis­
nho misterioso", tenciais do teatro é um aspecto do romantismo
O teatro, por outro lado. é uma ntte diri­ primitivo na Alemanha, que, ligado à “lea-
gida para fora, social izimte, e veio a ser nesta (romania" da época dc (ioethc, enconln >uexpres­
época associado às técnicas de palco e a pa­ são numa série completa de romances teatrais, de
drões sociológicos e organizacionais, cujos Anton Reiser de K. P. Morilz, passando por
princípios parecem, à primeira vista, ter esca­ Willwlni Meiserde Goethe. até Tuan de Jean Paul.
pado a qualquer influência saliente do movi­ Não era tão fácil, escreveu Tteck. "divcrtir-sc com
mento romântico. Tanto mais forre poréns era o teatro, sem ao mesmo tempo divertir-se com o
seu impacto na estrutura íntima do drama e na mundo, porque ambos desaguam de todo um no
arte da interpretação e, em última análise. n:t outro, principalmente em nossos dias
atle da representação cênica. A mais alta autoridade para n desintegra­
O teatro da corte e a ópera da corte eram ção romântica da forma, como anieriortnenie
flanqueados por teatros municipais e do Esta­ para o Stunii tind Dnmj>. foi Shakespeare. Em
do. Os cidadãos haviam tomado a iniciativa Prinz Zerbinn ele faz uma aparição em pessoa a
de construir esses teatros independentes e os fim de assestar um suave golpe liai \n em Weimar.
consideravam como suas próprias instituições “Bent. então tomam-no por um espírito selva­
culturais. Queriam ver seus próprios heróis no gem, sublime” - Zerbi no o saúda - “que estu­
palco. A Schicksalsimgõdie. ou “tragédia de dou apenas a Natureza, que se abandona por
destino", que Schiller ainda encarava conto <■ completo à sua paixão c inspiração, e depois vai
conflito da personalidade moral livre com os em frente e escreve o que quer que seja - hom c
poderes da história, tornou-se um retrato da mau. sublime e ordinário, tudo desordenada-
família burguesa. No período Uiedcrmeier, o mente". Shakespeare segue por um trecho do
povo entregou-se ao verso escrito, leu sobre caminho com Zerbino. mas diz adeus quando
moda, poesia e teatro em almanaques poéticos e chega à sua casa. o “Jardim da Poesia”, pois
livros de bolso, e em sua literatura de enlretcni- Zerbino sem dúvida gostaria dc ir adiante.
mento desenvolveu um gusto peto honível, que Os românticos sentiam-se ligados por afi­
no palco tomou a forma de peças de fantasmas. nidade com o “seu” Shakespeare precisamen­
Um desenvolvimento paralelo foi a cres­ te neste Jardim da Poesia. E é assim que August
cente comercialização do teatro, que começou Wilhelm Schlegel, Ludwig Tieck e seus cola­
nas grandes cidades da Europa e estimulou a boradores levaram a ctibo a grande obra-pri­
tendência para o estrelato no palco. A Améri­ ma da tradução alemã de Shakespeare. utnu
ca entrou cm cena cunt sedutores contratos para recriação congenial no espírito do início d»
convidados e atraiu os grandes atores român­ século XIX. um Shakespeare "romamizadn”
ticos, espeeial mente os de Londres, para Nova que. nã corrente das ideias cosmopolitas, con­
York. Filadélfia c Boston. quistou a Europa inteira. A França. Espanha,
A ideia cósmica, o primado da imagina­ Itália e Rússia aprenderam a admirar Shakes­
ção livre, criativa, a tentativa de construir uma peare por meio dos românticos alemães.
■ 430
/I Ent ths Ciítuthwun lUuçiit sii

Uma participação em uido isso teve Mme nuliva no/imlies medulo da Outtctlie Frtiitçtii.st’,
de Suei, Ela se deixou cuia/ pelo conselho lite­ O espírito do rei Lear de Kean parece ainda as­
rário de A- W Sehlcgcl ao elogiar, cin sua obra sombrar os desenhos a nanquim estratiliameiUe
De fAllentngiie, a forma imaginativa dos dra­ lúgubres de Victur Hugo. Edmund Kean mor­
maturgos alemães, inclusive as traduções de reu em 1833. um ano d ep o is de Ludwig
Shakespeare e Calderón. Em seu salão no Chú- Devricm, a ‘‘flama a elevar-se em alias labare­
teau Coppcl, junto ao Lago de Genebra, encon­ das" da atuação romântica na Alemanha.
trava-se a elite intelectual da Europa. Foi aí que Por estranho que pareça, Ludwig Ticck
a tragédia Der vientmlzwatizigsle Febntar (O reagiu de maneira bastante confusa à ênfase
24 de Fevereiro), de Zacharias Weiner, foi passional dos intérpretes sliakcs pearia nos in­
encenada em 1809 para um círculo literário gleses. Ele foi a Londres em 1817 à procura
privado, bem antes de sua primeira apresenta­ do teatro “genuíno", mas ficou desapontado,
ção pública no Teatro da Corte de Weimar em Kemble e Kean. us aclamados prediletos do
1810: íoí aí que Benjamin Cnnstant collicu o público londrino, paieceram-lhe arruinar os
estímulo para suas Réflexiens m r le T h é à lr e textos com sua interpretação febril. Charles
Atlemuttd e sua adaptação francesa de Wtillen- Kemble lembrava Iffland a Ticck. por causa
sieii i para o ator francês Joseplt Tal ma. de sua nhordagem cerebral e recitação pesaro­
Ao mesmo tempo, Walier Scott e lorde sa, enquanto Edmund Kean parcciá-lht estar
Byron deram asas na Inglaterra ás fantasma­ desintegrando os papéis com sua maneira im­
gorias históricas, líricas e satíricas dc sua poe­ petuosa e excêntrica. Tanto no Covenl Gurden
sia cosmopolita. Goethc assenta no Euforioii quanto no Drury Lane. o palco era demasiado
do Fuitsto II um monumento a Byron, ‘por grande e o jogo dc conjunto demasiado fraco
intermédio de cujos membros as melodias eter­ para permitir qualquer “atmosfera romântica".
nas são postas em movimento '. O palco não Nem em Straiford-on-Avon encontrou
estava à altura da tarefa dc dominar o Dtm Jitttn Ticck o que sentia falta no teatro. Em vez dc
de Byron. grande épico cm verso, que trans uma graciosa paisagem do Smtlw de Uma AW-
vende fronteiras e satiriza o mundo inteiro - le tle Vente, ele encontrou uma cidade indus­
da mesma forma que também era inadequado trial cuidadusamenlo edificada, dando testemu­
para o Prmz 7,rrhinn de Tieck. nho tanto da arte da manufatura quanto do
Os grandes atores do romantismo inglês enluarado êxtase da poesia.
juravam por Shakcspcare. Charles Kemble e Nem mesmo a nova iluminação a gás.
Edmund Kean celebiariim seus grandes triun­ iniroduziJa nesta época ua Covenl Caldeu v
fos nos papéis-título desse teatro. "Vê-lo amar", no Drury Lane, uma realização técnica pio­
disse Coleridge a respeito dc Edmund Kean, "é neira. redimia a situação aos olhos de Tieck.
corno ler Shakespearc ao cinlilar dc raios", Ale­ (3 príncipe Piickler-Muskau. por outro lado.
xandre Dumas, pai, era Ião fascinado pela vida em suas lliiefe eiitrx Verxlorbriirn (Cartas aos
turbulenta da "alma titânica" de Kean. que es­ Mortos) elogiou em consonância poética de
creveu um drama sobre ele. uma "peça-cspelículo" sem valor dramático,
Etn 18)8, Edmund Kean levou, no Drury porém su ge st ivau tente encenada que havia vis­
Lane Tbeatte em Londres, o draina Rntlitx. tio to no Drury Ume em 1X27: "É noite, mas a lua
americano John Howtud Payne. Dois anos maix resplaiidcsce no céu azul e sua luz pálida mes-
tarde, apresentou-se cm Nova York com a mes­ cki-.sc com as janelas hiilhamcmcntc ilumina­
ma peça. c. é claro, também com suas famosas das do castelo e da capela”. Poderia ser a des­
interpretações de Ricardo 111. Hamlet. Otclo e crição dc uma pintura dc Uaspar David Frie-
Shylock. A filha de Kcmhíc. Fimny. Tyionc lilidl.
Power e W. C. Mncready mantiveram a cor­ Quando, após anos turbulentos como con­
rente de astros da representação teatral atra­ selheiro dramntúrgico do Teatro da Corte ein
vessando o Atlântico para o Oeste. O próprio Dresden. I .udwig Tieck finalmeiHe leve a opor­
Kean visitou os Estados Uuitlos uma segunda tunidade de efetuar uma encenação própria na
vez em 182S e. em IS28, apresentou-se cm corte do rei prussiano Frederico Guilherme IV
Paris, introduzindo uma romântica força pri- em Berlim, esta era quase um anacronismo.

■ v.-v
H is t ó r ia M u n d ia l d a T e a t r o •

40. Edmuiul Keufi como Ricardo 1[| no Drury Lane Thcalrt\ Londit*, c. I fí 15. Gravura da época.

Tieck, então com setenta anos, juntamen- Inesperadamcnle, as ideias reformistas dc


te com o compositor Fclíx Mcndelssohn, en­ Tieck haviam falhado exata mente lá onde ele
cenou o Sonho de Uina Noile de Verão cm 1843 confiara no mais alto grau em sua competên­
no Neues Palais em Potsdam, como um mo­ cia - em Shakespeare. Uma produção anterior
delo póstumo do “teatro romântico”. da Antígona de Sófocles. com "imitação fiel
O arvoredo no qual Titânia e Boltom se da ikene antiga”, levantara menos problemas
aninhavam foi colocado sob um lance dc es­ e encontrara uma aprovação unânime. Ohvia-
cada que se erguia dos dois lados. Em vez dos mente, era mais fácil lançar a ponte entre o
costumeiros bastidores laterais, o palco era classicismo e o realismo histórico do que con­
delimitado por tapetes pendurados na vertical. cretizar uma concepção romântica dc palco.
O quarto na casa dc Quince. o carpinteiro, era Karl Jmmermann o havia tentado desde 1829
pintado num cenário mais abaixo. etn Dilsscldorf com suas representações mo­
A montagem foi mostrada em 14 de ou­ delares para o Thcaterverein. Ele parece ter
tubro de 1843 para a corte cm Potsdain e a sido consistente ao excluir a “farsa insípida"
seguir transferida para o Teatro Real em Ber­ (ainda que precisamente o romantismo tivesse
lim, onde entrou para os anais da crítica dra­ tirado muita inspiração de elementos da Com-
mática corno "a curiosidade lítero-lcatral pro­ media deli‘arte e da idéia da “peça dentro da
duzida pelo poeta Ludwig Ticck” , nas pala­ peça”), o melodrama cruel e traduções dc ''in­
vras do Ulusirirte Zeitung dc Leipzig, em 21 significâncias estrangeiras”; mas, com lodo o
de dezembro dc 1844,0 crítico nota cont em­ seu elim reformista, ele não estava imune a uma
baraço que o espetáculo não era consistente certa unilateralidade.
com os princípios teóricos tão freqiientemen­ Os efeitos cênicos do ilusionismo, músi­
te expressos pelo poeta. Graças à excelente ca e a mágica da atmosfera sugestiva mediante
música dc Mcndelssohn, ao cenário pinlado a mutação cenográftca desafiava qualquer ti­
por J. C. Gerst, aos ricos c brilhantes figuri­ po de puritanismo cultural- E, T, A. Hoffmann.
nos e à inclusão de danças, canções e procis­ apontado em 1808 como diretor cênico e mu­
sões à luz de velas, havia se revelado “uma sical do teatro de Bamborg, deliciava-se em
mistura de curiosidade histórica, concepção “despertar no espectador aquele deleite que
fantástica e acessórios esplêndidos como os liberta o seu ser inteiro de ioda a tomtenta deste
de um balé". mundo, lodo o peso depressivo da vida colidia-
■ 432
A E r a rín Citiiu/ont/j H u r g n t s a

na e todo o entulho impuro". As condições ex­ ris, enquanto isso. o balé do compositor Etienne
ternas com as quais leve de trabalhar em Nicholas Méhul. La Daiisonuinie - q ue inciden-
Bamberg. com a truupc Secondn, a seguir, em talmente apresentou os parisienses á valsa —
Dresden e Letpztg, eram ceriamente modes­ em 1800 ditara a moda para a mania pós-revo-
tas. Mas Hoífmann conseguiu atrair o clero de lucionária do balé. Coreografia, temas, figuri­
Bamberg para o teatro com versões alemãs de nos e estilo iam na direção do nomeai* mervei-
La Devnción de la Cmz. a "mais profunda e llettx, uma ramificação do romantismo alemão.
ao mesmo tempo mais vívida peça” de Caldc- O cenário e os figurinos criados para a
rón, e de EI Príncipe Constante, do mesmo ópera e o balé de Paris por Cicéri, Despléchin
autor. Hoffmann reconheceu sua dívida em e Joseph Thierry tentaram combinar o encan­
relação à Commedia deli'arte. com sua Prin- to do romântico e do maravilhoso com elemen­
zessin Bramhilla e a suíte de balé Arlequino. e tos do folclore c da história. Tomaram-se os
sua ópera fantástica Undine. que se baseia em predecessores da “cor local”, que em meados
Fouqué, inspirou, em 1816, o classicista herii- do século levaria o realismo romântico aos lu­
nense Karl Fricdrich Sehinkel a criar um ce­ xuosos figurinos dos Mciningcrs e dc Makart.
nário com água e castelo que o tomou um alia­ Quando a encenação da ópera romântica
do do romantismo. e histórica La Mttette de Portici. de Auber, es­
Se os historiadores da arte de hoje lidas­ tava sendo preparada em 1828. Cicéri foi en ­
sem. com referência ao fenômeno geral da Eu­ viado â Itália para estudar paisagem e arquite­
ropa. de um “classicismo romântico", seu pri­ tura. Iria também a Milão e se familiarizaria
meiro representante na cenografia seria Sehinkel. com as técnicas teatrais do La Scala. construído
Seus projetos para a Flauta Mágica cm Berlim em 1778, com capacidade para 3600 pessoas
em lííló o u .em 1821, para a ópera Olvmpia de o que era, jiintamentc com u San Cario em Ná­
Spontini leom texto de E. T. A. Hoffmann), são, poles. o maior teatro da Itália, admirado pela
com a sua fusão de conceitos clássicos e român­ Europa inteira.
ticos. o mais puro "classicismo romântico". A fim de chegar ao clima certo para a espe­
Cari Maria vnn Weber apreciou muito a tacular ópera Robert le Diable. dc Meyerbcer
Undine de E. T. A. Hoffmann (embora tenha (com texto de Eugène Scribe e Germainc Dela-
sido ultrapassado por Lorrzing. trinta anos mais vigne) e o balé no convento que a ópera contém,
tarde). Hoffmann, por sua vez, abriu caminho o cenógrafo Cliarles Sécluin esteve em Arles e
para o Freischiitz (O Franco A tirador), de observou o claustro de SaintTropliime, buscando
Weber. O ideal de uma "progressiva poesia colher ideias para a montagem, programada paru
universa]” de Friedrich Schlegel confirmava- 1831 na Graud Ópera em Paris. Spontini e
se, pelo menos até certo ponto. Rossini competiam pela fama de regente c com­
O público de Londres de 1845 foi convida­ positor, Les Hugucnots de Meyerbeer transfor­
do para o espetáculo de quatro das maiores bai­ mou um dos mais brutais atos de violência da
larinas do mundo, que apareceram juntas num história num "triunfo de virtuosismo”.
pas de qiiatre: Maria Tagííone, Fanny Cerriln, Quando a Cnmédie Française. em 25 de
Carlota Grisi e Lucile Gralm. Quatro anos an­ fevereiro de 1830. apresentou pela primeira vez
tes, em Nova York, Fanny Elssler recebera o o drama romântico liem ani de Victor Hugo.
maior cachê até entãn registrado no mundo, a houve uma batalha espetacular no teatro. Os
saber, quinhentos dólares por noite. O Novo simpatizantes dos clássicos franceses protes­
Mundo subia como atrair c celebrar os astros da taram contra o tratamento dramático livre de
ópera e do bale europeus, seus bailarinos e can­ Victor Hugo, mas os jovens o festejaram. Gri­
tores. Em 1850. Jeriny Lind. o Rouxinol Sueco, tos indignados de "Racine, Racine!” vinham
teve uma recepção extasiada em Nova York. Fora da plateia. Mas Théophile Gautter levantou-se
contratada por P.T. Barnuni. e o maior xfimwiatt e pronunciou o verediclo da nova era: “Vidre
e empresário de então montou um primeiro Racine est um polissem, Messtrurs" - “ Seu
exemplo do sensacional tipo de campanha Racine é um tratante, senhores".
prontocional que mais tarde se tornaria uma téc­ 1’ara os historiadores franceses da litera­
nica bem-sucedida do teatro comercial. Em Pa­ tura, o dia da b a u i i t l e i t 'H c m m \ i marca a vító-
* 433
4 \ . Jnicrtor tio velho BuTgfhealt;; na Michaclenplat/ cm Viena, (eatro que após (776 passou a chamar-se Hof-uml
Naiirmahheaier Gravura colorida, início tio século XIX.

42. O Covenl Ciarden Thcuirc cm Londres, no início do século X IX P a série de caricaturas Irm f o f I h $ \u u t \ tu
S e a r r h o f tftr H ^ t u n ^ q n c dc Thnmas Kipwljtidson. |.oiulres. |f>]5.
43, O Cov-eui Gar<ien Thcatre cm excursão cm Paris: apresenta^ão de I L i m l c r u t i 11 de scLcmhrode 1X27. com Charles
Ketnblc no papel ele Hum I cl e. no cie Ofélia. Hen ritma ConMaficc Smuhson. que sc casou tonn Heciur Berlíuz, Litogravura
de Gau^uin. a partir de hoill aufere Deveria 1 Paris. BiHioihéqi,JV de I'Arsenal).

44. S h u k cs p e a rc n o p a lc o r o m ã n t iv ir iiio n ta e e m d c Lud\vi>! T ir e k d o S tw /to d t u n t a N a i t t ' d e l | jr t iíí, B e r lim , 1X44.


<‘c n ã n o de J C . C le rsi. m ú s ic a d e l :e lix M e n d c ls s o b » iliT O C p v a ta tlu L je tfi-ifu t iíia r tr ir te /.r tn tiix , 1X44).
H is tó r ia Mimtíitt! tin T ^ n tr a m

-15. lix b o ç o d e Vicior H uga pura seu ãrama l .e s


aro II. t-birêia em 18-13. mi Coniêiln: Fran­
ça ise. 1‘iin -

mas Gocthe considerou l! Coute di Ctirmagno-


la merecedor de apreciação mais detalhada em
sua própria revista Ubcr Kuitss imd Alterthitm
(Sobre Arte e Antiguidade),
Stendhal alinhou-se com Manzoni quan­
do, cm Rnciitc et Shakespeare (1828), rejeitou
as unidades aristotélicas cm favor da iragédia
psicológica em prosa, transmitindo um qua­
dro verdadeiro e acurado das emoções huma­
ria final do romantismo. O He muni dc Victnr nas. Não era. argumentava, urna questão de
Hugo tornou-se o drama romântico francês por imitar Shakespeare, mas de aprender, com seu
excelência. Mas o fracasso de Les Bitiganrs exemplo, “a olhar e entender o mundo no qual
cm 1842 pôs fim à sua breve glór ia. Hugo era vivemos". Esforços para revi ver o interesse nas
« centro do Cénucle, um grupo liit-rário que obras de Manzoni lêm sido envidados desde
incluía, além de Théophik Guutier. outros es­ 1940 por R. Simoni rto Maggio Musicale dc
critores. tais como os irmãos Emite e Antonv Florença e desde 1960 por Viitorio Gassman
Deschamps, Sainte-Beuve e Brizettx: seu tnais em seu Teatro Fopoiare Italiano.
jovem e, para o palco, mais importante mem­ Na Rússia. Alexander Púschkin escolheu
bro, era Alfred de Mus set. o elegante e elegíaco para sua tragédia Ho ris Godtmov um tema his­
herói do mui dtt sièelr. tórico tios "tempos conturbados" da Rússia.
O romantismo foi capaz de ligar-sc tanto Shakespeare e Karamzin foram seus modelos.
à Revolução quanto ;t Restauração. Quando Ln Mas o teatro não podia compelir, cm igualda­
Mnelle de Porlki foi apresentada, na véspera de dc condições, com a audaciosa mistura de
da revolta popular da Bélgica em Bruxelas, o tragédia heróica e elementos folclóricos, ilus­
público, ao deixar o teatro, tomou de assalto trada em vinte c três cenas, com sua riqueza
as barricadas. "Aqui o teatro representou o ele­ de personagens vívidas e conlradilórias c al­
gante c nobre papel da tocha epie acende as ternância dc verso e prosa. O drama nacional-
chamas da Revolução", escreveu Aleksaudr popular de Púschkin compartilhou o destino
Jakoviéviteh Taírov um século mais tarde: ”u da maioria das grandes obras do romantismo,
pulsação do propósito comum, que despertara fazendo exigências ao poder de imaginação
no teatro, incendiou a Revolução mas extin­ que « palco, cônscio de suas limitações, pre­
guiu a ação teatral". feria evitar.
Na Itália, o principal desafio à tradição Embora Bons Godunoi-estivesse comple­
clássica veio de Giovairni Bereliel. tradutor dc to em 1825, não foi encenado até 1870. no Tea­
Fénelon, Schiller e Croldsmith. em 1816. com tro Muriinski em São Peietshuigo. Quatro anos
sua Lenem sentiseriu tli Crísostomo, que deve ma is tarde, musicado por Mussórgski. foi mon­
muito às baladas de G. A, Biirger, Ele queria tado como uma grande ópera nacional russa
escritos críalivos, "ião livres como u pensa­ A força dramática elementar desta obra abriu
mento que os inspira e tão audazes como a mela caminho para o futuro desenvolvimento do
ã qual aspiram". Alessandro Manzoni pôs à estilo realista da ópera.
prova a fórmula em seus dois dramas, Adehiii Nikolai GógnJ fez uso dc uma anedota que
c II Conte di Canmignola. e deliheradameiue Púschkin ilie contara, jiiniameiUe com alguns
voltou as costas á tragédia clássica para abra­ lenias da comédia Pie dcin.ulten Khinstiklter
çar. ern vez dela. o princípio da verdade hisló- (Os Provincianos Alemães) de Kotzehue, para
rica. l-oi violentamente atacado pelo jornal escrevei O Inspetor Geral, Conta-se que o czar
acadêmico Lu fírW/uínYi Italiana de M ilã o . Nieolau 1 esteve presente à estreia no Teatro
■ 4,n>
46. i j ! íttiU v ih ' rfVATuti/u.Tumulto ikc csiréiu do H t - n u m i de V icior Hutio mi Comédie Fran^íiisc. P í i i í s . 25 dc fevereiro
do \ %M) Pintura dc Albori Kcsuiird iTari*, Museu Vietor tíu^oj.
48.Ccnu Jt: Btwix Omíimav dc Alcviiuk-r rushkiu. mnm miccnuU^citi I M7íí mi AlcxuEiUiiE^kvTliLMlti^r. Sun l \ iiers;tnn-g«v
49, CVr>j i k Ailrirmtr i ^ r o u v r r t t r . ile Eu^ímc Scrihc c L-j-nesr l^pouvc, t.il como encenada em IS-W eu Cnmêdtc
Française. f^iris. Desenha de H Valentí» í P;ina. Bihliudk^ue de I'Arsenalj

50. t \ '» a tio ha lê i> A íí .v ” th .s C m w .s, t o m m iK ic a t k T e lia ik o v s k j* apresem a d o p e la p n i n c i ia vc* iuj 'Je u lro B ol-sh oi.
M o s ia ni í k s c t i l u ^t k (501 iic h a m v IMc>seita, M i em :ii H jtk ím ts e f) i et j .
H larAria M u n d ia l d o T e a tr o -

SI, Dcrenhu fciiu pw solicitação de Gógol pari a ccnn finai de O I n s p e t o r U e m l . Estrdiã cm 1836, no Teatro
Alejttmdrinslti, SSo Petersburgo.

Alexandrinskí, em São Petersburgo, em 19 de R ealism o


abril de 1836 e comentou, com uma gargalha­
da: ‘‘Esta foi uma peça para lodo mundo, mas Os historiadores da arte têm um ponto de
especial mente para mim'*. referencia legítimo para datar o início do “Rea­
Mas há mais nesta peça da que simples­ lismo**: o momento em que o termo se tomou
mente ridicularizar o tapeador (apeado e cri­ o lema programático dc um movimento. Seu
ticar a burocracia corrupta da administração iniciador foi Gusiave Courbet. Quando o júri
provincial russa, que tanto divertiu o czar e da Mostra Universal de Paris rejeitou, em 1855,
ajudou a peça a ter êxito nos palcas europeus. dois de seus quadros, ele construiu uni pavi­
Ela é. nas palavras de G. von Wilpert, “uma lhão próprio, separado do salão oficial, sobre
peça sarcástica, com uma base metafísica, so­ cuja entrada escreveu em letras grandes “Le
bre a suscetibilidade do homem às tentações Réalisme*'.
do mal c sua inclinação a ouvir o demónio, No teatro e na literatura, o conceito de
que termina com o surgimento do juiz do realismo tomou-se objeto de discussão muito
mundo conto representante da incorruptível antes, pelo menos em termos teóricos. Na prá­
justiça divina". tica, a oscilação mais larga do pêndulo é
O s dramaturgos do realismo europeu ado­ traçada pelos espetáculos dos Mciningers e de
taram os elementos folcloristicos de O Inspe­ Chaiíes Kean, cm Londres.
tor Geral, e Wcmer Egk fez dela uma ópera Já em 1795, Schiller, em seu ensaio Qber
cm 1957. Os esboços cênicos e os figurinos, naive und sentimentalische Dichiung (Sobre a
que um desenhista amigo de Gógol realizou e Poesia Ingcnua c Sentimental), estabeleceu
que chegaram até nós, mostram a importân­ uma distinção entre o realista e o idealista. O
cia que atribuía ao destaque dos elementos primeiro, reconhecia ele, era consciencioso,
titerescos em suas personagens, o fato de es­ enquanto o segundo “reconciliar-se-á até mes­
tarem ã mercê de um titereiro superior, em ou­ mo com o extravagante c com o monstruoso".
tras palavras, a enfatizar aquela "verdade in­ Ele usou a imagem do “bem planejado jar­
terior" que, no espírito do romantismo, fun­ dim*' do realista, “no qual tudo lem seu uso" e
dem numa só coisa as fronteiras entre o jogo dá frutos, em contraposição ao mundo do idea­
da peça na peça e a realidade. lista, de “ natureza m enos u tilizad a, mas
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A E r a d a C id a d a n ia h u rttu tsn

disposta numa escala maior". Isto parece an­ mármore, cortinas drapeadas proporcionavam
tecipar a violenta controvérsia entre Stifter e a intimidade de boadoir requerida por Sardou
Hebbel. e Labiche para suas comédias de costumes. O
Goelhc c o pintor-lilógraío Schadow di­ extenso monólogo dramático foi substituído
vergiam a respeito do que denominavam ‘‘na­ pela ação episódica sustentada por adereços.
turalismo". Adolph von Menzel. um mestre da As personagens sentavam-se ã mesa tomando
meticulosa pintura histórica tanto quanto da chá ou jogando paciência e. falando com seus
atmosfera mágica, declarou: "Nem tudo o que parceiros, em vez de dirigir-sc ao público, ca­
é medrosamente copiado da natureza é fiel à sualmente revelavam seus problemas. “Hoje o
natureza”. Lembrando o exemplo das figuras palco é uma sala de visitas mobiliada para pa­
de cera. “nas quais a imitação da natureza pode recer exatamente como os elegantes salões de
atingir seu mais alto grau”. Schopenhauer re­ hoje", escreveu Sardou. “No centro, os atores
jeitou ioda aparência de realidade que “não sentam-se em volta da mesa e conversam com
deixa nada para a imaginação". O conceito de bastante naturalidade, olhando um para o ou­
“realismo poético", de Otlo Ludwig, talvez seja tro. com o fazem as pessoas na realidade”.
o que melhor haja caracterizado a fase estilís­ No lugar de "la nature et le vrai". como
tica entre o romantismo e o naturalismo. no tempo da Ilustração e ainda no teatro de
Compreender os tempos e sua realidade Goelhe. a nova palavra de ordem cra “le miliea
significa também ver o homem em sua vida et la réalitd" - o meio e a realidade - e isto se
quotidiana, em seu meio ambiente e seus com­ aplicava não apenas á peça de costumes con­
promissos sociais. Como afirmou Alexandre temporânea. mas também ao dram a histórico.
Dumas Filho, cra tarefa do teatro realista des­ Para Tkéodora, cuja ação se passa em Bizãn-
nudar o abuso social, discutir o relacionamen­ cio, Sardou cxpressamenic pediu um "ambien­
to entre o indivíduo c a sociedade e. tanto no te tão correto, do pomo de vista arqueológico”,
sentido literal quanto cm outro mais elevado, quanto os produzidos para m odernos inte­
mostrar-se como um théãtre utile (teatro útil). riores.
Enquanto Eugène Scribe ainda se limita­ Esta abordagem levou a lodos aqueles
va a elaborar sobre a “condição humana" es­ suntuosos décorx cênicos com os quais se re­
pirituosas comédias de boulerard, o jovem galavam tanto o teatro quanto a ópera. Graças
Dumas era mais dado â moralização. Em seus aos esforços combinados do coreógrafo e do
dramas, ele luta por uma causa (especialmen- cenógrafo, o Benvenuto C ellini (1838) de
le, por exemplo, em Le Demi-moade e Le Fils Berlioz exibia-sc numa turbulenta mascarada
Naturel - O Filho Nalural I e denuncia a burgue­ rom ana desenrolada diante de um colorido
sia de sua época, sua inescnipulosa avareza e pano de fundo renascentista. Philem on e
seu apego à vida. seus sentimentos fingidos, B auiix (1860). de Charles Gounoud. foi ence­
seus preconceitos e suas convenções antiqua­ nado entre monumentais colunas dóricas. A
das. O tema foi tratado por Dickens, Carlyle c Carmcn (] 873) de Bizct deu ensejo para o ima­
Thackeray na Inglaterra, por Dostoiévski. ginativo folclore mouro antigo. Mas a monta­
Tolslói e Turguêniev na Rússia, por Biichner e gem parisiense de Tunnháuser inflou as ban­
Grabbe na Alemanha. deiras da controvérsia entre os partidários e os
O drama de crítica social e de realismo oponentes de Wagner. O desafio de Saint-Saêns
histórico precisava de uni novoestilo de repre­ —“a Wagneromania é uma doença” - tomou-
sentação e um novo cenário. Stendhal havia se o leitmoiiv apaixonadamente debatido no
falado do "artista cspelhantc". O crítico de desenvolvimento da ópera realista na França.
teatro do Journal des Dcbatx de Paris. Julcs- Da tradição da opera comique proveio
Gabriel Jaitin. atribuiu à revolução na arte Jacques Offenbach. cujo teatro de miniatura,
dramática consequências a serem percebidas o Botiffes Parixiens, tomou-se o contrapeso da
tanto na arte da palavra escrita quanto da fa­ pompa opcrística parisiense. Apelidada de La
lada. Bombonniêrc pelo público, u espaço de bolso
O palco convcrtcu-sc numa sala de estar. servia muito bem para as operetas de câmara,
Sofás luxuosos, vasos de plantas, lareiras de derivadas do vaudevdle. que deitaram o ger-
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íliM óritf Mit/nSiai rfv T ca trv *

ine da fama mundial de Offcnbach. Luduvie fantasmagórica tla luz a gás e tochas. Ele se
Halévy e Henri Meilhac escreveram libretos permitia mexer livremente nu texto da peça,
para ele, e sua música deu uma ênfase eletrí- mudava cenas, reduzia e cortava, a fim de con­
zanle à sálira c à frivolidade, ãs frases de efei­ centrar o curso da peça cm seu suntuoso dêcnr
to e aos paradoxos. Orphce uux Eiifers (Orfeu (Georgc Bcmard Shaw não perdoava essa “bár­
no Inferno), Ltt Betle Hétène (A Bela Helena), bara arbitrariedade" dos sucessores dc Kean.
La Pérkhole. tomaram Paris de assalto. Pare­ Henry Irving c Hcrherl Beerbohm Trec).
cia que Offcnbach, "por aeaso, tivesse desper­ Entretanto, sir John Watson Gordon. o pre­
tado as emoções latentes do público", escre­ sidente da Royal Scottish Academy c decano
veu o critico Francisque Sarcey. A Paris amante dos pintores históricos ingleses, considerava
do prazer c ligeiramente decadente do Segun­ uma honra desenhar os cenários c figurinos das
do Império, e logo toda a Europa, regalou-se remontagens “Shakespearian Revivais” nas dc
com o ritmo do cancã e da valsa. E quando Charles Kean. Especialistas eram consultados
Offcnbach apresentou A Grande Duquesa de em questões de figurinos c armas. O palco dava
Gervlslcin. cm 1876. em Nova York. o públi­ lições dc história tão suntuosas e caras que
co o ovacionou "tão entusiasticamente como Kean inaugurou o sistema de longas têmpora
a poucos artistas europeus antes dele” (Craimw das de até cem espetáculos conseculivos. Como
des Étuts Unis). ator, Charles Kean não alcançou o poder de
Duas décadas mais tarde, os superlativos pias mação de seu pai, F.dmund Kean. Sua for­
dos críticos americanos concentraram-se em ça estava na grandiosa concepção global de
uma atriz cu ja estrela se levantara com os dra­ suas montagens no estilo de sua época. Ele foi
mas de Sardouem Paris: Sarah Bcmhardt. Seus o mais destacado representante do teatro rea­
papéis mais famosos foram o da imperatriz lista na Inglaterra. De 1848 em diante, combi-
bizantina marcada peio escândalo Tcndora - a nou suas atividades teatrais com o oficia de
esposa de Jusl imano - no drama homónimo censor de peças encenadas, o Master o f Ri -
de Sardou e u do jovem duque de Rcichstadt. vcls abaixo do Lord Cliamberlain.
filho de Napoleãu I. em l.'Aigtnn. de Etlmond Na Alemanha. Franz Dingclstedt foi am­
Rosiand, O diretor da Comédie Française, bicioso em seu uso de achados arqueológicos
ÉmilePcmn, trouxe Sarah Bemllardt doOdéon, na montagem da Anrígona, dc Sófucles, em
onde era conhecida por seus colegas como 1851 cm Munique. Ansioso para apresentai
"Madame la Révolte" PMadutne Revolta” ). produções exemplares em grande escala, vol­
Jtmiocom Moimct Sttlly.ela introduziu um so­ tou-se para a arte e para a ciência como fiado­
pro moderno, realista, ao declamatório estilo ras da inlcipretação fiel à Antiguidade. O filó­
intcrpretaiivo do venerável teatro. logo Fricdrich Thierscli trabalhou o texto, o
Em Londres. Charles Kean aproveitou-se cenógrafo Sinton Quaglio foi orientado pelo
do trabalho pioneiro dos arqueólogos ingleses arquiteto Leo von Klenze, o pintor Willielm
cm suas montagens no Princcss's Tlieaire. von Kaulbach. diretor da Academia, opinou
Quando encenou Sardtnmpala, de Byrou, em sohre os figurinos e a coreografia, e a música
1853, sobrepu jou o esplendor histórico do con­ ficou a cargo de Felix Mendelssohn. O espaço
tinente em autenticidade As então recém- cénico era um cenário dórico e eslritamente
publicadas milícias dc Layard sobre suas esca­ simétrico, com um altar adornado dc folhagens
vações no sítio da antiga Ninive serviram-lhe no primeiro plano, um lance de escadas erguen­
de fonte para um magnífico e pitoresco cenário do-se no centro e, ao fundo, um pórtico de tem­
de palácio, que, no climax da ccna da destrui­ plo com quatro colunas.
ção final, desmorona ein pedaços enquanto a Dmgelstcdi confiava no poder dc persua­
“estátua genuína" do rei assírio Assurbanipal são óptica d» cenário. Quando, em 1859, mon­
despenca estrondosamente dc seu pedestal. tou Wallensiriíi corno o climax das celebrações
Kean era não menos conhecido por suas de Sehiller em Weimar. encerrou a peça com
encenações de Shakespcare. nas quais trans­ um tubiemt revestido peto espírito da época e
punha para o palco o estilo contemporâneo da de grande efeilo: "Seni. junto ao cadáver dc
pintura histórica, rodeado pela iluminação Wallensiein”. arranjou conforme o famoso

4 42
54. Cenário móvel em Bayreulh; Gumcmjuiz e Pur^ifal ã caminhe do castelo 4o Sartlo Graul. Desenho de cenário 4c
Ma* Brúvkncr para a abertura de Mestspklhansconi F iir s ifa l. 26 de julho 4c 1&R2.

55, MortC de Sicgfried Cena final th ‘ic^nnd.i parle de O s Nilwlutinos, dc Qiristiun Friedrich Hehbel. imuDado em
186] em Wcuiuir eetn a direção de I -Vuiix. Dm^chtedi. Desenho de Cari Fmil Ducpler (extraído tio L c i f w w r /Itu s fr ir U '
I fíí> l J
A t'ra r/n C u U u la n io BurtfutWàj

quadro de Rarl von Píloiy. de ISSS (Sem cra sua Briefen iiberilttx ileutxcbe Thrater (Carlas
lima personagem da peça). sobre o Teatro Alemão), falava abertamente
No Cairo, a estreia da Afifa de Verdi. em 24 contra o "exagero e empolamenlo" do estilo
de dezembro de 1871, foi uma ocasião espeta­ contemporâneo de encenação e representação,
cular e festiva, combinando temas da história e e exigia em seu lugar que toda palavra c con­
do folclore. A ópera havia sido encomendada ceito deveria ser expresso com clareza, e qual­
pelo Quediva pouco tempo depois da abertura quer detalhe tratado com cuidado a fim de com­
do Canal de Suez, e. cm homenagem àquele por um grande espetáculo.
evento, deveria recorrer a um tema do Egito an­ Die Karlsschiiler (O Discípulo de Karl)
tigo. O libreto é baseado numa novela do egip- dc Laube foi apresentado pela primeira vez na
tologista Auguste Mariette. que escavara a ne- segunda-feira de Páscoa de 1848 em Viena. Seu
crópole de Mentis, e a ação acontece nos locais herói é Schitler. em seus dias de estudante, e
revelados pela pá: templo, portão da cidade e nenhum outro tema poderia ter inflamado mais
tumba cm Mêofis e Tebas. o público naquela época. Um uno mais tarde,
Em Aula, Verdi criou uma ópera em gran­ Laube tornou-se diretor do Burgtheatcr dc Vie­
de estilo, uma fusão da pompa operístira fran­ na. O cáustico e espirituoso Wiener Thea-
cesa, do bei cimtii italiano e do drama musical terzettung, de Adolf Bãuerie. preveniu-o so­
wagneriano. Os cenários vieram dc aleliês bre o que o esperava: “Pégaso domesticado e
parisienses. Enquanto o palco mostrava uma transformado em cavalo de parada imperial e,
"noite enluarada às margens do Nilo”, o gran­ em vez do templo dos deuses, um salão públi­
de rio, a cintilar com mil luzes, fluía majesto- co de chás estéticos” .
5a mente diante das portas da Casa de ópera. Mas Laube sabia o que queria. Seu teatro
"Copiar a realidade pode scr uina coisa boa", não devia destinar-se merameme aos olhos,
disse Verdi uma vez, “mas inventar a realidade mas aos ouvidos e à mente. Construía seu tra­
é melhor, muito melhor". Sua Atila até hoje balho numa linha de direção voltada para a
dificilmente pode ter um efeito mais "real” do palavra e com base em ensaios meticulosos.
que na vastidão noturna do anfiteatro de Em vez dos bastidores laterais, introduziu o
Verona; lá. Lodos os esforços hislorícizumes cenário-caixa, representando interiores com
para colocar o realismo no palco falham, e o paredes. Isto lhe dava a inlimidade óptíca e
firmamento inteiro torna-se parte da peça. acústica da qual necessitava tanto para a peça
A última expressão maior do expirante dc conversação francesa quanto para a comé­
realismo romântico-histórico foi a ideia do fes­ dia de salão Biedcrmcier. Baniu lodos os ex­
tival de teatro. Ela levou Kichard Wagner a cessos do cenário distrativo. Quando a cortina
construir sua Feslspiclhaus (Casa do Festival) se erguia e revelava três cadeiras no palco, o
em Bavreuth, aberta em 1882 com "um a peça público podia estar certo dc que devia esperar
festiva de consagração de palco": sua ópera precisamenlc três pessoas - nem mais. nem me­
Parsifal De acordo com a concepção de Wag­ nos. Laube acreditava que qualquer tipo de de­
ner c com um plano que Schinkel havia pro coração ostensiva encorajava a plateia ã pre­
posto uma vez para Berlim, o fosso da orques­ guiça e à leviandade, e era "inimiga morial do
tra foi oculto dentro do que Wagner chamou casio mundo poético”.
de "um abismo místico". Tomou-se grande A severa oposição de Laube ao cenário
cuidado para evitar tudu o que parecesse lu­ elaborado constituía, na verdade, um protesto
gar-comum: "Panifat. em última análise, pode mais profundo. Era uma declaração de guerra
pertencer somente à minha criação em Bay- à influência da ópera sobre o palco, uma con
reuth", escreveu Wagner, cinco meses após a fissão de fé no “seco esqueleto do drama” —
premièrc. "Doravante será apresentada exclu- um protesto contra o mundo co lorido de
sivamente lá, em meu festival de teatro". Wagner c Meyerbecr, que sepullou a decluma-
O teatro de efeitos realistas também ti­ ção num “túmulo florido e ressonante”. Como
nham, porém, sons oponentes, c um dos mais diretor teatral. Laube - embora também não
extremados fui u dramaturgo, crítico e produ­ se opusesse a prazeres epicurislas - não tinha
tor alemão Heinrich Lanhe. Já em 1846. em gosto pela culinária gnnnnet da pompa nperis-
H iM o r ia M u n d i a l do T e a tr o

lica; preteria a ela até mesmo a comida caseira W iener Stadttheater. Um ano mais tarde
de Ernst Raupach. "as balatas do teatro ale­ deflagrou a luta entre as duas causas - ambas
mão, o prato quotidiano da pobreza". esforçando-sc para aprontar e estrear Eia
Surpreendente mente, essa ahordagetn o- Bruderzwtsl ia Habsburx (Uma Briga entre
tientada para o teatro da palavra folhou com Irmãos em Habsburgo) de Griilparzer. Franz
um dos maiores dramaturgos daquele tempo. von Dingelstedt, diretor do Burgtheater desde
Friedrich Hebbel. Laube deu-se bem melhor 1870 e diametral mente oposto a Laube em
com o prato mais leve do Der Erbfiirstcr (O questões artísticas, levava dupla vantagem.
Guarda Florestal) de Otto Ludwig do que com Possuía de longe os melhores recursos técni­
Herodes und Marianute de Hebbel. Na sua es­ cos e, graças ao trabalho anterior de Laube no
treia em 19 de abril de 1849, a sombria tragé­ Burgtheater. os melhores atores. O Stadttheater
dia foi mostrada para uma casa quase vazia. O apresentou a obra póstuma de Griilparzer em
ator Heinrich Anschiitz, cujas memórias são, 24 de setembro de 1872. o Burgtheater, em 28
em vários aspectos, mais honestas c imparciais de setembro. Laube precisou pagar a dianteira
do que a prestação de contas do próprio Laube de quatro dias com a censura de ter deixado
acerca do seu tempo de Burgtheater, explorou unta “impressão de pobreza e improvisação”.
as razões para esse fracasso. O Burgtheater, por outro lado, foi elogiado pelo
Ele as viu na situação política na prepon­ Wiener Extrablatt por ler sido “maravilhoso"
derância de que dispunham então Karl Gulz- e por haver causado uma impressão profunda,
kow e Gustav Frevtag, os dramaturgos da ‘‘Jo­ espccialmente na cena do campo.
vem Alemanha” (cujo objetivo era encontrar Todo o realismo e historicismo, toda a arte
um teatro nacional e democrático) e, sobretu­ da cenografia, direção de cena e de palavra que
do, no próprio Laube. Ausehittz achava que havia amadurecido nos teatros da Europa atin­
precisam®nle Die Karisschuier de Laube, este giram seu último grande ascenso no estilo dos
"primeiro gole de mel da taça da liberdade", Comediantes de Meiningen, cuja forna e in­
fora tão sedutoi amente fácil que obstruíra a fluência se espalharam por todo o Continente
receptividade da plateia para o espirito pesado c a Grã-Bretanha, e até mesmo os Estadus Uni­
e complexo de Hebbel, Mas ele acreditava que dos. Esta inntpe mostrou ao mundo, em 2591
a outra metade da parte da culpa cabia ao pú­ espetáculos em Immiée, apresentadas em 38
blico, tão obcecado como materialismoecom cidades, o que um trabalho teatral metódico
o realismo que "o mundo feito de telas por irás havia conseguido em termos de qualidade cê­
da ribalta" estava deslinadn a lutar em vão. nica na pequena capital do ducado de M ei­
0 próprio Laube protestou contra a im­ ningen.
putação de que se mostrara complacente com O príncipe herdeiro de Saxe-Weimar le­
qualquer "tendência" de sua plateia. Durante os vado em 1866. como Georg II. ao modesto tro­
dezessete imos de sua administração do Burg- no de seu ducado, devotou seu principal inte­
theater ele se concenlrou cada vez mais em di­ resse ao teatro da corte, construído em 18 3 1 e
rigir a elocução do texto e cultivar a dicção, e até então usado sem maiores pretensões. O
atraiu para a sua casa de espetáculos atores e duque Georg [I agora o desenvolvera num tea­
atrizes de primeira linha, tais como Friedrich tro modelar. Abdicando da ópera e concen-
Mitterwurzcr, Adolf von Sonnentlial. Bcmhard trando-se no drama, construiu um repertório
Baumeister. Stella Hohenfels. Charlotte Woller clássica de montagens que sobressaiu nunm
e Hugo fhiming. Em seu repertório, deu a ambiciosa combinação de palavra e imagem,
Griilparzer a merecida prioridade. Se não era precisão em estilo e cenário. Neste projeto, foi
possível distribuir os papéis nas suas peças, disse assistido pela atriz Elien Franz, que recebeu o
ele, isto apenas revelava as folhas do elenco e a título de Frctfmu von Heldhurg quando se ca­
necessidade de recrutar gente nova. sou com o duque em 1873.
A rivalidade em forno do legado de Grill- O ator Max Grube. que foi um dos inter­
parzer trouxe a Laube uma Je suas mais amar­ pretes, deixou um registro do trabalho de am­
gas derrolas. Ele havia deixado o Burgtheater bos na G euhiiiite der Meininger (A História
em 1867 e. em 1871. assumido a direção do dos Meininger. 1926). "A atração do duque
■ 446
57 IJnsi M u i iin/l Fiiu.ll, sii! CliriMÍan Dit-u id i Ctrabbt, nu I lofth calci. M cininncn, lS'á7
H istória Af um iin f itt> t r u t r o *

pela encenação", escreve, “de início pania de nou-se tão grande autoridade para as encena­
uma abordagem puramente pictórica das tare­ ções dos Meíninger quanto o eram os efeitos
fas. A importância literária e dramalúrgica do da pmtura histórica inglesa para Charles Kean
que foi feito em Meining.en é, em primeira ins­ cm Londres.
tância, atribuída à influência que I-'rcifrau von Mas havia um ponto no qual os Meinin-
Heldburg exerceu sobre seu marido". gers diferiam basicamente dos princípios dc
Em longos ensaios, qualquer produção era direção cênica de Kean: nunca se permitia que
elaborada nos mínimos detalhes, e cenas em o centro do cenário pintado coincidisse com o
solo ou de multidão eram concatenadas e har- centro do palco real; Nada de simetria! O du­
moníosamente ligadas. Tão precisos e "autên­ que lera Boileau; Vennui naquii un jo n r de
ticos" quanto os desempenhos deviam ser os 1’unifarmiié ("O tédio nasceu um dia da uni­
décors e os trajes, e o próprio duque desenha­ formidade’’). E seu interesse em arte japonesa
va os cenários e os figurinos. Ele escolhia a ensinou-lhe que a assimetria marcada aumen­
cor, o corte e o material dos costumes, aten­ ta o encanto óptico.
tando para cada detalhe. Tecido pesado, velu­ Para cenas em interiores, o teatro de Mei-
do precioso, seda pura. peles de qualidade em ningen preferia o cenário-caixa, um cômodo
vez da habitual pele de coelho, foram introdu­ com pletam enle decorado com leto, nichos
zidos - não "tecidos de teatro de Katz de embutidos; no primeiro plano, colunas e balaus­
Krefeld", como diz Max Grubc, mas fazendas tradas constituíam um pré-requisito, sugerindo
feitas sob encomenda especial cm Lyon e Gê- a “quarta parede" invisível. Esta inovação havia
nova, A.s armas vinham de C>rangel em Paris. sido introduzida em Paris nos primeiros dias do
Os cenários, segundo os esboços do du­ realismo, e também por Laube, em Viena.
que, eram executados pelos irmãos Bruckner O duque Georg não empregou os cenários
em Coburg, que trabalhavam também para móveis que então causavam sensação em Viena
Bayreulh, A cor básica da cena era um mar­ e Londres, embora tivesse ficado impressio­
rom avermelhado que realçava as cores bri­ nado com u uso que Charles Kean fazia deles.
lhantes dos figurinos. O duque havia estudado Em Henrique VIU, de Shakespeare. o diretor
com o pintor histórico Wilhelm von Kaulbach inglês apresentava um panorama completo, da
em Munique, cuja teoria da composição para Abadia de Westminster em Londres até Grey
o palco, inspirada por Comelius c Piloty, tor­ Friars em Greenwich, deslizando num painel

bcscnbmlc cenário elo Duque Cieivri; 11 ite S;ixj.' Mviningen |Kir-i u iragólis Aj/ ki SVuiu I', de Jtilhu, MiirJinc.
Mcinin«cn. 187 í

• -N8
■ A £ > fl du C idvilntiia t! ,’i r " t ui

de pano ao fundo, O duque Georg. entretanto, mentos criadores da atmosfera das grandes ce­
permaneceu fiel ao velho princípio teatral: o de nas de multidão ícalisúcamenle movimenta­
manter a pintura estática e n coreografia em mo­ das. O astro de hoje poderia ser o figurante de
vimento. amanhã. Os mellrores intérpretes alemães do
Os Meininger, em suas extensas tournées, jser iodo atuaram com os Meiningers e apren­
efetuaram mudanças em suas montagens, e o deram com eles - incluindo Ludwig Barnay,
mundo do teatro começou a seguir seu exem­ Josef tCainz. Max Grube, Fríedrich Huase,
plo. Bastidores laterais suspensos davam espa­ Arthur Kxaussneck, Ludwig WUllncrcAmanda
ço a elementos tais como pedestais, escadas ou lándner.
um piso com terniço. a fim de fornecer diversos Quando o mais íntimo colaborador do
níveis. (Já em 1858, Dingelstedt havia utiliza­ duque, o diretor de cena Ludwig Chronegk,
do um lance de escada arquitetural no teatro em teve um colapso e morreu, o duque Georg sus­
Weimar.) Não importava o quão volumosa a tou as excursões. O último espetáculo da com­
bagagem da Companhia pudesse ser, o duque panhia no exterior foi Noite de Reis de Shakes-
nunca se punha em marcha sem levar consigo peare, em le de julho de 1890, em Odessa.
lodos os itens dos cenários e contra-regragem. Mas os princípios cênicos dos Meininger
Os Meininger nunca permitiriam que um sobreviveram ao naturalismo, adentrando o
figurante recrutado durante uma tournée pi­ século XX, Stanislávskí, em Moscou, e Antoi-
sasse o palco de suas representações, sem pri­ ne, em Paris, admitiram sua dívida para com
meiro treiná-lo; nenhum membro do elenco, eles, em matérias tais como: a exatidão histó­
por menor que fosse sua pane, era substituível. rica, a sugestão cênica de uma quarta parede,
Mesmo papéis mudos eram individuaJmente a atuação em conjunto e a ideia de que a dire­
escalados, porque cada papel era um dos ele­ ção cênica cria um estilo.

-
Do Na t u ra lis m o ao Presente

In t r o d u ç ã o ‘‘A arte tende a lomar-se de novo natureza.


Ela o faz até o máximo de seus recursos, em
A eradn máquina havia começado, A ciên­ qualquer época dada", disse Amo Holz, o pio­
cia empreendeu a tarefa de interpretar o ho­ neiro defensor alemão do naturalismo con­
mem como produto de sua origem social. Fato­ sequente. sob a influência de Zola. A fantasia
res biológicos foram reconhecidos como forças subjetiva deveria ser totalmcnte eliminada, ar­
formativas da sociedade e da história. Numa gumentava Holz. Com isto. Dumas Filho, na
época em que a sociologia começou a investi­ França, havia dado um corte afiado à sua ampla
gar a relação do indivíduo c da comunidade c crítica moral izante. ainda que Seu conceito de
a derivar novas teorias estruturais das mudan­ liicâlre utile a serviço da renovação social fosse
ças observadas na vida coletiva, os historiado­ bastante tópico. Mas para ele o demi-monde era.
res da cultura clarimtente precisavam também antes de tudo, um meio rico em contrastes.
de novas categorias de classificação. No drama naturalista, o próprio quarto
A visão de que o desuno individual c con­ estado erguia sua voz. uma voz de acusação,
dicionado pela disposição e pelo impulso ins­ sofrimento e revolta. Tolstói, Górki, Gerhart
tintivo ím eíi), no contexto de juízos de valor Hatiptmann desceram aos bairros tios oprimi­
moral derivados de conflitos de poder e inte­ dos e humilhados. A coletividade, mais que o
resses, governava o nr>/u«/i experimental dos indivíduo, era agora o herói do drama: os fa­
grandes realistas franceses Balzac. Flaubert mintos tecelões silesianos em Gerhart Haupc-
e Stendhal, e deu novas dimensões i ficção mnnn, os párias arruinados de Nu Ftmdo. de
narrativa de escritores como Dickens e Tha- Górki, os habitantes dos bairros miseráveis de
ckeray, Dostoiévski eTolstói. Hippolyte Taine Dublin cm Senn 0'Casey.
exigia o mesmo “seus du rée!'' (“senso do A denúncia da ordem social existente as­
real") do dramaturgo. O dever deste último, sumiu um gume revolucionário. Ela foi afiada
declarava ele, era o de levar an palco uma rea­ pelos expressionistas e, mais ainda, no teatro
lidade que explicasse lodo o comportamento proletário e político após a Primeira Guerra
humano conforme determinado pela "raça. Mundial. O espírito agressivo transferiu-se do
meio-ambiente e momento", Émilc Zola, em texto pura a encenação, conto se viu em Meierttold.
seu Lr Ncmtralisme au Thcàtrc (O Naturalis­ Piscafor ou tio teatro dc Agiipiop, A direção
mo no Teatro, 1881), cunhou uma senha pro­ versas o texto levou às controvérsias em romo
gramática para a nova abordagem que se tor­ de P iscator nos anos 2Í> e, após I9(>5, à
nou a divisa da lula social contra a burguesia provocativa demolição total da velha estrutura
convencional, da peça como tal.
H ix tA r ia M u n d ia l do Fpotra

O diretor moveu-se pura o centro da plas- O N a t u r a l i s m o C ê n ic o


mação do espetáculo e da crítica teatral. Defi­
nia o estilo, moldava os atores, dominava o O T h é â i r e L i b r e ile P a r i s
cada vez mais complexo mecanismo de técni­
cas cênicas. 0 palco giratório, o ciclorama, a Zola criticou com palavras duras o teatro
iluminação policromática estavam à sua dis­ de sua época e não deixou dúvidas de que seu
posição. Formas de estilo e de jogo teatral se­ alvo principal era a venerável instituição da
guiram em rápida sucessão dentro de poucas Comédie Française, Seu escrito programático
décadas, sobrepondo-se: naturalismo, simbo­ Ije Naturalisme au Théâire, de 1H81, era um
lismo, expressionismo, teatro convencional c incisivo ajuste de contas com o patetismo con­
teatro liberado, tradição e experimentação, dra­ vencional da declamação petrificada, e decla­
ma épico e do absurdo, teatro mágico c teatro rava guena às "mensonges ridicutex" ("men­
de massa. tiras ridículas") das peças de sala de estar com
Bcrtolt Brecht propôs a questão dialética: as quais Émile Augicr. Alexandre Dumas Fi­
o teatro serve para o entretenimento ou para lho e Victorien Sardou dominavam o palco.
propostas didáticas? Avaliando meio século de Zola exigia um drama naturalista que aten­
experimentos em quase lodos os países civili­ desse a todos os requisitos do palco sem se
zados, onde “domínios temáticos c conjuntos apegar ãs leis obsoletas da tragédia clássica.
de problemas inteiramenie novos foram con­ Como um exemplo didático, recomendava a
quistados e convertidos em um fator de emi­ adaptação que havia escrito em 1873 de sua
nente Significação social", ele chegou à con­ novela Thérèse Raquin. Thérèse e Laurent,
clusão de que tais fatores “levaram o teatro a entregues ao azar de seus apetites, eram "ani­
uma situação em que qualquer ampliação ul­ mais humanos". Ele, Zola. como autor, havia
terior da vivência intelectual, social e política simplesmente praticado em dois corpos vivos
destinava-se a arruinar u vivência artística''. a dissecção que os cirurgiões praticavam nos
Este diagnóstico de uma crise tem vttlidade a- mortos. O método do dramaturgo naturalista,
temporal e não restrita ao período de ! 890- dizia ele. correspondia aos procedimentos da
1940, ao qual era dirigido. pesquisa científica, que o século empregava
Stanislávski e Max Reinhardt. Toscanini com zelo febril. Zola trabalhava com o escalpo:
c Stravinski. Diaghiiev e Anna Pavlova des­ revelava, fria e imparcial mente, os b e i da cri­
pontaram como meteoros no firmamento do se. Empunhava o escalpelo e começava a cor­
teatro. Pessoas viajavam a Paris. Londres. tar de fora - enquanto Dostoicvski colocava
Berlim, Monte Cario e Moscou para assistir seus heróis diante de uma câmara de raio-X
aos espetáculos de drama, ópera ou balé sobre para explorar, a partir do interior, o que havia
os quais "se” falava. O leatro lançava pontes em sua altna.
sobre fronteiras e entre continentes. A Améri­ Apoiado nas reivindicações do grande
ca fazia contribuições cada vez ma is signifi­ Zola e encorajado por sua benevolência, um
cativas para o concerto teatral do século XX. funcionário desconhecido da Companhia de
A tlta de cinema desenvolvia-se muna obra de Gás parisiense ousou abrir a primeira brecha
arte autónoma. na perfeição do leatro estereotipado. Em pou­
Obsoleta, a opereta foi suplantada pelo cas semanas André Antoínc e um grupo de in­
musical, com seu ritmo agressivo, dança, pan­ térpretes amadores haviam atraído a atenção
tomima e aparato cênico. Show tíocil, Porgr não apenas de Paris, mas dc toda a Europa.
and Bess, West Side Story, com seus colori­ Em 30 de março de 1RR7, o Théâire Libre
dos ensemblex foram mostrados pelo globo (Teatro Livre) de Anloine apresentou-se pela
lodo. Agências mundiais trouxeram sucessos primeira vez perante um círculo estrito dc crí­
da Broadway a Viena, a Ópera de Pequim a ticos e homens de letras. O nome tinha sua
Paris, o baíé Bolshoi a Londres, a Comcdie origem nas palavras de Victor Hugo sobre “te
Française a Nova York. Os teatros do mundo théâire en lib erte' (“o leatro em liberdade’ );
tornaram -se propriedade comum do teatro o local de desempenho situava-se num quin­
mundial. tal na Passãge (hoje rua)dc 1‘Elysée des Beaux
• 452
* D o tta!urf)ti. 1 ino tio / ' r f - j c j ; c

Arts; o programa conslituía-sc de peças de um apagou. Antoine registrou, cuidadosameme, os


ato de Byl, Vida), Durauty e Alexis, ma is o d e ­ enlretons desse desenvolvimento. Após uma
mento decisivo de seu sucesso, uma dramatização apresentação de O Puto Selvagem de lbsen cm
do relato Jncquis Dumour de Zola. 1891. declarou que seu teatro estaria aberto ao
O crítico de teatro do Figuro, Henri Fou- drama simbolista, tanto quanto ao naturalista.
quier, escreveu com detalhe sobre esta "curio­ Mas se recusou a levar La Princesse Muletnc,
sidade” que se havia produzido num lugara­ de Maurice Maelerlinck, com o argumento jus­
nho fora de mão em Monlmurlre, numa Paris tificado dc que uma peça assim não estava ao
que não se cansava de surpreender. Ele a acla­ alcance de seu teatro e que montá-la significa­
mou como “uma daquelas lâmpadas acesas por ria entrar numa aventura que fatalmente ter­
um gênio ou um maluco, e que um dia será ã minaria na distorção do intuito do autor. Os
fonte de um novg amanhecer ou uma confla­ simbolistas assumidos tinham um campeão cm
gração". Lugné-Poé, que lançou a ponte até O teatro po­
Antoine não era um gênio, mas sabia o ético moderno.
que queria. Havia se familiarizado com o ofí­ O olhar dc Antoine vo!tou-se para Berlim.
cio teatral quando figurante na Comédie Adquiriu os direitos franceses de Die W^bcrtOs
Française e com as teorias naturalistas da arte, Tecelões) de Gerbart Hauptmann, que o Tliéãlre
como ouvinte das palestras dc HipolyteTaine. Libre produziu com o título Les Tisserruuh,
Habilmente, estendeu o repertório do Théâtre menos dc três meses após a estreia na Ircic
Libre e incluiu nele peças de toda a Europa. Biihne. Antoine conseguiu mais com esta mon­
Depois de tomar em consideração os autores tagem. declarou o crítico Jaurès de Paris, do que
franceses contemporâneos que não tinham todas “as lutas e discussões políticas".
acesso aos grandes teatros, acolheu lbsen, A peça foi como um grito de desgraça e
Strindberg, ToJstói. Turguêniev, Bjornson. desespero. Firmin Gémier representou o Pai
Heijermans e Hauptmann. Suas obras "tinham Baumctt - ele projetava uma acusação única,
o efeito de um trovão no palco francês” silenciosa e ameaçadora, com a canção dos
(Catulle Mendes). tecelões retumbando fora de cena durante todo
Esses autores eclipsaram os pioneiros do o segundo ato. No quarto ato. em que os tece­
dram a naturalista francês. Zola, os irmãos lões invadem a casa do industrial, a plateia sal­
Goncourt (cuja Hettriettc Marechal causara um tava das cadeiras. O sombrio quadro da revol­
escândalo em 1865) e H enrt Becque (Ler ta de I 844 dos tecelões sílesianos pintado por
Corbemtx - Os Corvos) já eram vistos como Gerbart Hauptmann ajustava-se à atmosfera
ultrapassados, quando vieram a ser montados, de crise social que impregnava tuda a Europa
em 1890, pelo Théâtre Libre c pela Frete Biihne nos anos 90. Estava destinada a ter um efeito
em Berlim. político numa época de sublevação, quamlo o
O grande esteio do teatro naturalista, po­ palco Unha. como nunca antes, o adquirido
rém, foi Henrik lbsen. No correr de poucos direito de ser tópico e agressivo. O teatro na­
anos, sua peça Espectros havia atiçado vivos turalista deu o primeiro passo. Mas em 189b.
debates acerca do drama moderno em toda a Ubtt Rot (Ubu Rei), a cáustica fursa de Alfred
Europa. Em 1889, constava do programa da Jarry sobre os usurpadores, bascou-sc cm re­
inauguração da Freie Biihne em Berlim. Em cursos de estilo iiueiramente diferentes e an-
1890, foi apresentada pelo Théâtre Libre em tinaturalistas.
Paris, em 1891 pelo Independem Theatre em Q uando André Antoine escreveu suas
Londres; foi produzida em 1892 por Ertnette memórias, dividiu-as ent três fases, tratando
Zacconi em Florença e em 1896 em Barcelo­ respectivamente da lula do Théâtre l.ibrc con­
na; Slanislávski en ecn o u -a em M oscou; tra os defensores do teatro convencional, no
Meierliold apresentou-a em São Petersburgo período de 1887 a 1895: da conquista com­
em 1906 - já numa encenação sem cortinas, pleta do grande público pelo Thcâtre Antoine,
de 11bera damen te a ui iii m tu a 11sla. entre 1896 e 1906; e de suas atividades como
Como programa combativo, o naturalis­ administrador do Odcon. subsidiado pelo go­
mo constituiu um fogo impetuoso que logo se verno nos anos 1906 a 1914.

• t -■
H islo riít M titittioí r/n T cr ttr o

A fase importante para o desenvolvimen­ açougueiro no palco, coisa que fez num aces­
to do teatro foi a primeira, o período no qual i> so de raiva, quando um cenógrafo o deixou na
Théâtre Libre mudou-se das dependência» pro­ mão. Foi uma suluçã» relâmpago, nascida do
visórias na Passage de 1'Elysce des Beaux Arts mau humor, não um barbarismo inerente a seus
para o Théâtre Montparnasse na margem es­ princípios.
querda do Sena e. finalmentc, para o Mcnus- Não existem fronteiras claras entre a in­
Plaisirs no Boulevard dc Strasbonrg. tensificação de efeitos e flagrantes verdadei-
O estilo cénico naturalista de Antoinc, r.imcntc realistas e naturalistas e o realismo tos­
“impregne de rêalité" ("impregnado de reali­ co. não artístico. Elas são, em última análise,
dade"), inspirou-se nos Mciningen. Ele viajou uma questão de gosto pessoal. Certa vez, ibscn
especial mente para Bruxelas, em julho de cumprimentou o cenógrafo do Christiaiiia
1888, para vê-los atuar no Monnaie Theater Theater de Oslo. Jens Wang. dtzendo-lhe que
durante duas semanas. Como Stanislávski em suas árvores eram pintadas de maneira tão fiel
Moscou, ele admirava o cuidado que tomavam à natureza que poderiam enganar um cachor­
com o detalhe realista (embora desaprovasse ro. Max Reinhardt. em sua famosa montagem
as despesas desnecessár ias que faziam) e elo­ do Sonho de Uma Noite de Verão ein Berlim,
giava a consistência lógica de sua concepção não resistiu ã tentação de trazer das florestas
cênica. estatais prusstanas e erguer no palco giratório
"O milieu (meio) determina os movimen­ um bosque de árvores e arbustos verdadeiros.
tos das personagens". Antoine explicava, "e David Belasco, o precursor americano do na­
não o contrário”. Este era todo o segredo da turalismo. trouxe ao palco nova-iorquino o que
novidade que ele pretendera introduzir por considerava como cópias fiéis do Oeste selva­
meio de seus experimentos no Théâtre Libre. gem. com a aura romântica de seus explora­
Milieu “genuíno” , no sentido da “repruduetioti dores de ouro e bandidos. Quando encenou The
exaae de la vie" ("reprodução exata da vida") fíirl o f the Golden llksf (A Garota do Oeste
de Zola. implicava, no palco de Amoine, uma Dourado), à qual a música de Puccini deu um
caixa cênica mostrando aposentos com portas brilhante arranco upcríslico em J9I0, trans­
praticáveis e janelas, tetos de madeira susten­ formou o palco do New York'* Metropolitan
tados por pesadas vigas. trancos de árvores na­ Opera House num "genuíno" t antfi dc cuba­
turais, gesso de verdade caindo das paredes. nas califomtano. E. no terceiro ato, quando o
Seu famigerado golpe de mestre foi pendurar, laço c postn no pescoço do bandido Ramcrrez
certa vez, postas de carne crua em ganchos de —Enrico Curuso foi aplaudido no papel, conto
o astro da noite - as árvores da II aresta virgem
do cenário eram tão reais quanto as árvores de
Reinhardt em Berlim,
O segundo componente do naturalismo
cênico de Antoine cra o jogo cum a "quarta
parede"; ou seja, a que mandava ignorar o pú­
blico. Quando a cena requeria, o ator voltava
as costas para u platéia. A primeira lei da dire­
ção cênica era não ntais o efeito pictórico fron­
tal, voltado ptirn o espectador - mas a posição
relativa dos atores, exigida pelo curso da ação
e pelo diálogo. O inais famoso exemplo é a
cena de Rua Profunda na m ontagem dos
Mciningen de Guilherme Telt de Schiller, em

I. .i Kl-1 I >. - 1' I : tle A lliftt J.nfs I ,u;i ; h ç i


trIvt Rei lY iritorj eiu iJWft, uo Thiiijiir ilt
r U e m r e . J’ari»,

• 454
• f i o N f i f i t r i t t i s f n o <t*t f ’ i * 'S C U tr

que ;i suplicante e seus dois filhos, ao se apro­ paráfrases do sonho e do intelecto, do engaja
ximar do governador Gessler. que está cnmi- ulcnlo social e da ironia romântica.
nhaudo à sua frente voltam as costas para a
plateia. O F r c i e B ii hne d e B e r l i m
‘‘Por que esta novidade lógica e de modo
algum dispendiosa não deveria substituir aque­ Em Berlim, o impulso para o teatro natu­
las intoleráveis fornias convencionais que acei­ ralista originou-se no descontentamento críti­
tamos setn saber o motivo?", perguntava An- co com os estereótipos do teatro comercial e
loinc. Mas nem os astros da Comédie Françai- como reação contra a tutela da censura. Poe­
se, nem Snruh Bernhardt, nem Coquclin teri­ tas e dramaturgos aceitavam O apelo que lhes
am permitido que seu efeito sobre o público era feito no sentido de que abordassem os pro­
fosse prejudicado dessa maneira. Durante sé ­ blemas de sua época. Die natitnvissensebaft-
culos, todo grande ator havia exigido o privi­ lichen Grttndlagen der Poesie (Os Fundamen­
légio de ocupar a frente do palco, de dirigir tos Científicos da Poesia, 1887), de Wilhelm
seus monólogos diretamente ao público c olhar Biische, foi escrito intejramente no espirito dc
o palco como moldura decorativa de sua atua­ Zola, Em seu folheto Revrdution in der Litera-
ção pessoal. Não obstante todas as mudanças ittr (Revolução na Literatura), Karl Bleibmeu
de estilo, os princípios do teatro da Renascen­ exigia do poeta uma participação ativa na vida
ça perm aneciam , basicamente, inalterados. pública e a coragem dc descer às áreas mais
Haviam de sobreviver até mesmo no estreito sombrias da fome c da pobreza.
espaço do palco-caixa, pelo menos por razões Da mesma forma que a Paris da mesma
acrist icas. época, a indústria do espetáculo em Berlim
Antoine obteve exm> na sua tentativa de vivia da peça de sala de visita e da comédia de
concretizar um desempenho naturalista de con- costumes. O Teatro Real. altamente subvenci­
junto porque seus atores eram amadores, ceie, onado. limitava-se a adular os clássicos. Um
por conseguinte, não era delido em seu cami­ grupo de homens engajados no campo da lite­
nho por bastiões de ambição pessoal. Stanis- ratura e do drama seguiu o exemplo do Théátre
lávski conseguiu o mesmo devido á devoção Libre de Paris e. em abril de I880, fundou a
que lhe dedicavam os seus intérpretes profis­ associação teatral Frcie Biihne. Aqui, lambem,
sionais. Isto não ocorreu entre Shaiv e Hcury o nome expressava ao mesmo tempo o pro­
b ving. o guarda-selo da imergenle era do ator- gramai livre dc considerações comerciais e li­
diretor, que se desvaneceu finalmeme soh a vre da coação da censura. O grupo elegeu como
opulência das novas possibilidades cénicas, lais seu presidente o jovem crítico de literatura e
como Max Rcinhardl abriu-as nos primeiros lealro Otto Brahm.
vinte anos do século XX. A difundida suposição dc que André
A época do naturalismo foi também a das Antoine e seu grupo tivessem representado em
primeiras aventuras com o “cinematógrafo". Berlim em I887 e assim inspirado a empresa
Os filmes de Charles Chapim c Busiei Keaitm equivalente ê errónea. As próprias memórias de
sobre a Ima do homem comum contra si trai­ Antoine nada dizem a esse respeito. Eniretanto.
ção das coisas inOclirnm a ênfase nautialista Oito Brahm. o diretor-administrador do Freie
ao mundo da coisa material para o grotesco e Biihne, estivera em Paris em 1888. Ele havia
para o cómico. Anioiuc dedicou-sc inreiramen- conhecido o brilho declamatório da Comédie
le ao cinema apôs 1h 14, primeiro como ator e Française e lamlicm o seu reverso, o estereótipo
diretor, e por fim como crítico. Rodou pelícu­ alheio à natureza, e sem dúvida havia ponderado
las utilizando material de Dumas. Hugo c Zola. criltcamcnte as potencialidades doTIiéálie Libre.
e iranspós seu estilo naturalista do palco para a O Freie Búluie obtinha seu respaldo finan­
tela. Como Renê Clair escreveu em 1922 trata­ ceiro dos assim chamados membros “passivos”
va-se simplc-smcnle lie Iranspor “a doutrina do que o integravam em base associativa. Seu nú­
Théátre Libre ao cinema". Dclc proveio o im ­ mero cresceu em um ano para inais de cem. Suas
pulso ntuis forte para o contra-movimento que Contribuições cobriam as despesas dc atores e
conduziu ao tiliue fantástico e surrealista, ãs dtrelores. como luinhcm o aluguel do leatro. As

- J.s.í
2. M anhtuitijs Tvcetôes. Afiuu-fortcUc K eíiIíc Kollwn^. Berlim, SH4J7. ítu p irad n e m <U.vTecelões de G erhun Himpnmnrw
dram a m onteio pela primeirn w y nu h v ie (iiihne cm Berlim, |1W3. Kiilhe K olB vju com e^ni a duborur o C iclo dos
Tecelões dois anos após j estreja.
* Do \nritraiismo tio Prexetiff

organizações tie frequentadores habituais dc tea­ posital mente o instrumento. Mais tarde, des-
tro, que ainda são comuns em diversos países da cnlpou-se formal mente por isto quando o Freie
Europa, baseiam-se num sistema semelhante. Buhne o levou aos tribunais).
Uma das primeiras foi a Frcie Votksbiihne, fun­ Com estn montagem, o naturalismo explo­
dada em Berlim já em 1890, por pessoas em parte diu no palco alemão. Não apenas u interpreta­
anteriormence associadas a Brahm. ção, mas a cenografia, também, era “fiel ávida”.
O Freie Btihne foi inaugurado com um O cenário do segundo ato representava um pá­
tributo à “cabeça da nova escola realista", tio de fazenda com todos os detalhes, incluindo
Ibsen, o grão-senhor do teatro naturalista, um poço, um pombal, estábulos, arvoredo e jar­
Brahm escolheu Espectros, o mais controver­ dim frontal, banco e portão do jardim e nieia
tido e celebrado drama do grande norueguês. dúzia de diferentes portas e portões. “É uma pena
Ele fora apresentado dois anos antes em Ber­ que eles tenham esquecido o item principal",
lim, mas após a estreia havia sido interditado escreveu malevolamente o critico Karl Frenzel,
pela censura. Agora, numa mcttinée dominical “um monte de esterco com um galo cantador
de um clube privado, estava protegido da poli­ em cima". (A tentativa de reproduzir os cheiros
cia. Um elenco brilhante acentuou a singulari­ do ambiente foi rejeitada - porque teria sido
dade do evento, em 29 de setembro de 1889. impossível livrar-se deles nasuocasdecena.que,
O programa anunciava orgulhosamente a se­ no melhor dos casos, poderiam apenas ser
guinte distribuição de papéis: Emmerich Ro- recobertos por novas “nuvens de odores".)
bert, do Burgtheater de Viena, representava o De repente, o nome do jovem dramaturgo
papel de Oswald; Arthur Kraussneck o do Pas­ estava na boca de todos. O principal crítico
tor Manders; Marie Schanzcr (a segunda es­ dramático de Berlim, o novelista e poeta Theo-
posa do diretor Hans von Biílow, que perdera dor Fontane. colocou-se ao lado dc Hauptmann.
Cosi ma para Richard Wagner) interpretou a sra. Aprovadoramente, descreveu-o como "o ver­
Alving; e a jovem Agnes Snrma atuou como dadeiro capitão do bando negro dos realistas",
Reginc, Assim o Freie Buhne deu mostra de que mostrava a vida como ela realmente é. em
ter não apenas objetivos ambiciosos, mas tam­ seu com pleto horror, que não acrescentava
bém meios consideráveis. nada. mas tampouco nada subtraía, e merecia
A segunda produção tornou-se um marco o elogio de ser uni “ Ibsen inteiramente desi­
lia história do naturalismo na Alemanha. Foi a ludido”
primeira peça de um jovem e ale então desco­ O Freie Btihne havia encontrado o “seu”
nhecido dramaturgo alemão, que havia circula­ amor. Tornou-se o porta-voz de Gerhart Haupt-
do apenas privadamente e alertado a oposição: munn. da mesma forma que o Teatro de Arte de
o drama social VnrSonneuatifyaDg (Antes da Moscou tomou-se a casa de Tehékhov. Nem a
Aurora), de Gerhart Hauptmann. A peça trata representação de Hmríette Marechal. dos inliãos
da exploração dos camponeses silesianos, da Goncourt. nem o esboço ambiental berlinense
vida e atitudes dos no vos-ricos, do alcoolismo da Familie Selicke, de Amo Holz e Johannes
e da pobreza crónica. Esta famosa montagem Schlaf. nem as obras dc Bjomson, Anzengruber
do Freie Btihne leve sua espetacular estreia em e Sndemiann puderam comparar-se com a res­
20 de outubro de 1889, no palco do Lessing sonância das peças de Gerhart Haupimann.
Theater. Cartas anónimas de ameaça aos ato­ O efeito de Die Weber (Os Tecelões), en­
res participantes anunciavam o escândalo que tretanto, revelou-se mais agitador no Théâire
se devia esperar. A excitação febril no teatro Libre do que em Berlim. Isto se deveu prova­
lotado chegou a seu clímax no quinto ato. No velmente a considerações pessoais de Otlo
momento que a rubrica pede que os gritos de Brahm. Uma primeira representação pública
uma mulher cm trabalho de parlo sejam ouvi­ original mente planejada por Adolphc L’Arron-
dos dos bastidores, o médico Isidor Kaslan - ge para o Deutsches Theater foi proibida pela
no meio de um tumulto dc aplausos e protes­ políeia no último momento. Assim, coube ao
tos - ergueu-se dc sua poltrona e brandiu um Freie Búhiie, um clube livre da censura, o
par de fórceps sobre a própria cabeça (ele ha­ mérito de ser o primeiro a representar essa
via planejado esta demonstração e trazido pro­ “ mais poderosa obra da moderna literatura

• Jã 7
X Cenário de H<innetcs H im mclfahrt { A Ascendo de tla n n e le ). Jc G erhait Hauptmann, num tuJii pela prim eira vezciu
I SQfli no Kòni^liche& Schauspielhaus, Berlim. Aquarela de Liujjen Q uagho (M unique. Theutcr Museu in)

Krumcr.
A. Cena d c M k h a t l de Gerií.in Haupimaim, f*iemu'r c m 1 'J II O no Dcntsebes Theniei; Iterlim. M a \ Reitlhurdi
fà esquerda) no papet-iilulo, L.uuise Dmiuini íã direiiak tom o Michuliuo Kramcr. K.Mraídii de Htttntf tiutl UW/(Palco c
Mundo), vol. IWfMSNll.
T • D o N a u t r a t i s u t l * it r i / ’ i r \ ,WÍIr

de acusação”, em 26 dc fevereiro de 1893. Os 1891, George Bernard Shaw publicou seu en­
principais críticos notaram que, estranhamente, saio .4 Essência do Ihscmsinn, uma aguda re­
o efeito não havia sido tão eletrificanie como jeição do teatro comercial c dos astros, da peça
seria de esperar a partir da leitura da peça. de intriga à la Sardou (sanlootlledum igual a
Otto Brahm possivelmente já tinha planos sardónica-patética), e dos assim chamados
futuros em mente. Um ano mais tarde (em pseudo ibscnistas. Conto crítico de teatro do
1894), deixou a direção do Freie Biihnc c as­ Salurday Revietv, Shaw interveio diretamente
sumiu o Deutsche Theater, na Scliumanns- nas polemicas correntes sobre o novo drama.
trasse, por dez anos. Lá. em 25 de seiemhro de Os alvos favoritos de seus violentos ataques
1894, apresentou ao público geral uma versão eram as peças “bcm-feitas”, de problemática
desarmada de Die Weber. de Huuptmann. com realista, de Pinero, cuja The Second Mrs.
Rudolf Rittner. Josef Kaimr. e Aithur Kmuss- Tanqtieray (A Segunda Senhora Tanqueray)
ncclc nu elenco. A censura manteve-se calada leve casa cheia durante meses.
e o sucesso de público foi garantido. Mas para Shaw media as qualidades dos diretores
o Freie Biihne a saída de Brahm significou ao de companhia em Londres por sua relutância
mesmo tempo a perda do "autor da casa”, cm encenar Ibsen, Henry Irving e Hcrben
Gcrhan Hauptmann, que agora nattiralmcmc Beerbolun Tree. os dois celebrados represen­
entregava suas peças ao Deutsches Theater. A tantes do teatro realista, saíratn-se muito mal.
presidência do Freie Biihne passou a Paul Shaw não os perdoou por cortarem Shakcspeare
Schlenther, que se tornou também na ocasião a seu critério e por destruírem a estrutura de
seu diretor administrativo e era um dos mais suas cenas em prol do grande efeito pictórico.
destacados membros fundadores da associa­ A guerra aberta explodiu quando Irving rejei­
ção, juntamente com os escritores Maximilian tou unia peça de um ato sobre Napoleãn que
Harden. Theodor Wolff, os irmãos Hcinrich c Shaw havia escrito cspecialtnciite para Ellen
Julius Hart e o editor Samuel Fischer Quando Teny, The Man o f Destiny (O Homem do Des­
Schlenther, em 1898, uccilou um convite do tino), montando, cm seu lugar, uma outra peça
Burglltealer de Viena, foi sucedido porLttdwig sobre N apoleãn, Madorne Sans-C ênc. de
Fulda. O Freie Biihne buscou então uma parti­ Sardou.
cipação periférica no misticismo lírico dos sim- Exatattiente então, também em Londres,
bolistas. Os duros contornos do naturalismo um pequeno teatro amador ficctu de um dia
social Iroirarani-sc na poética canção de des­ para outro no centro das atenções. Em 1891.
pedida de Madomut Ditmorti de Hofniannsthal. L T. Grein, homem de negócios de origem ale­
de Tote Zeit (Tempo Morto) de Eritsl Hurdl. mã, fundou uma associação teatral com n ob­
ou Frithlinxsopfcr (O Sacrifício da Primave­ jetivo dc produzir “peças avançadas", paru as
ra). de Etiuard von Keyserlille, quais os grandes teatros permaneciam fecha­
Quando, em 1909, o Freie Bulinc celebrou dos; esl ri bando-se no Théátte Libre etlt Paris
seu vigésimo aniversário com uma apresen­ e no Freie Biihne em Berlim, ele o chamou de
tação comemorativa de Vfír Smineiumfxang Independent Theatre Society.
(Ames do Amanhecer), de llaupimann, não A intenção de Grciti era. também, colo­
houve nem barulho nem protesto O autor foi car o valor literário acima de considerações
festejado, com Otto Brahm ao seu lado. O rá­ comerciais e contornar a censura; de modo bas­
pido curso da história e do teatro haviam de há tante lógico, produziu primeira mente uma peça
muito acertado e desarmado o que, vinte anos do porta-voz do naturalismo europeu, Ibsen.
atrás, dividira o espírito dos homens. Apresentou os Espectros em J 8 9 1. no Rnyally
Theatre no Soho. que havia alugado para essa
O I n d e p e n d e n t T h e a t r e em ocasião. Shaw não poupou elogios à produção
e deu a Grein sua primeira peça longa, W id iw rs
L on dr es
H ouses (Casas de Viúvas), que estreou em 1892.
Ela fui representada como u “primeira peça
O terceiro pólo do campo de tensão do original didático-realista” . Aplausos e vaias ga­
teatro naturalista na Europa foi Londres, Em rantiram a necessária sensação e uma nova


H fjflíriu M u n d ial d o Teu ir o *

apresentação no quadro que a protegia da cen­ nos. Seu método didático, aprendido com
sura, isto é, a da associação. Era algo muito Ibsen. proporcionava um acessível esquema de
parecido com o que acontecera cm Berlim: um ensino. Para Shaw o teatro moderno havia co­
começo com Ibsen, seguido pelo succès de meçado no momento em que Ibsen escrevera
scandaie (“sucesso de escândalo") de um jo­ Casa de Bonecos, e Nora convidava o marido
vem autor nacional. para sentar-se e discutir seu casamento. Ele via
Mas Grein não era Brahm. e Shaw prosse­ a tarefa do drama realista (ou seja, naturalista)
guiu. Enquanto o Independem Thcatre lutava na discussão de conflitos psicológicos e con­
para manler-se vivo do melhor modo possível vencionais. O palco convertia-se em cenário
até 1897, Shaw seguiu seu rumo para a fama de debates. Em seus prefácios e indicações cé­
mundial por meio de patrocinadoras devotadas nicas, Shaw desenvolvia o plano dc fundo es­
às artes. Miss A. E. F. Homiman, abastada piritual dc suas peças - as próprias interpreta­
quacic. ajudou na montagem de Arms and lhe ções do autor com base na técnica analítica da
Man (As Armas e o Homem), em 1894, no cena ibseniana. (Este exemplo seria seguido
Avenue Thcatre. Subseqiicntemente, o ator e por dramaturgos posteriores, com o Eugene
pmducer (diretor) americano Kichanl Mansfield 0 'N e ill. A n h u r Mil ler, G raham G rcene e
levou essa peça. e também The DeviPs Discipte Tennessee Williams.)
(O Discípulo do Demónio) p;ira Nova York, onde Na Inglaterra, a evolução do teatro mo­
ambas tiveram uma longa e lucrativa carreira. derno nos leva a Morder in lhe Calhedral (As­
Nesse meio tempo, a enérgica miss Horni- sassinato na Catedral), de T. S. Elliot; An
mam estava empenhada em criar um teatro na­ fnspecror Calls (Um Inspetor Chama), de J.
cional irlandês. Em 1904. fundou a Irish B. Priestley: e Prnus Observed (Vénus Obser­
National Theatre Socíety, em Dublin. W, B, vada). de Christopher Fry. Desviando-se da
Yeats. que co-participavu do projelo, obteve poesia e da comédia da Restauração, favore­
de seu compatriota Shaw a promessa de escre­ cia a cozinha, a alcova e o sotaque dos jovens
ver uma comédia irlandesa: John Buil s Uther frequentadores de teatros. George Dcvme. o
Istnnd (A Outra Ilha de John Buli) uma espiri­ fundador e diretor da English Scage Company.
tuosa e afiada peça desmasearadora. Mas Shaw determinou o curso do moderno teatro inglês
a entregou, assim como Caiuhda, ao ator e e seus dramas de auto-análise com sua monta­
encenador Harley Granville-Barker, que a gem de Laok Back in Anger (Olhe para Trás
montou no Royal Court Theatre de Londres, com Raiva), de John Osborne, cm I9S6 no
oito semanas antes da Irish National Theatre Roya! Court Theatre cm Londres. Típicas des­
Socíety abrir suas portas. Quando as cortinas tas novas peças são The Kitchen (A Cozinhai
do Dub1in’s Abbey Thcatre se ergueram em e Chicken Soup H'ir/1 Btiríey (Canja com Ceva­
27 de dezembro de 1904. foram levadas duas da). dc Amold Wesker. que mostram a vida da
peças dc um ato. uma de Yeats e a outra tlc classe média dominada pela política e pela re­
Lady Gregory. Elas não ofereciam material signação; Careiaker (O Zelador), de Harold
inflamável: este havia sido depositado lucrati- Piníer, e a vigorosa peça realista Suved (Sal­
vamente por Shaw, vos) de Edward Bond. Muitas destas peças,
O realismo (lermo anglo-americano para como to o k Back in Anger, estrearam no Royal
aquilo que se chainuva naturalismo na Euro­ Court Thcatre de Londres, anfitrião fidedigno
pa) de um tipo perturbador era o objetivo da do palco vanguardista. Algumas, porém, como
Manchestw Repertory Company. outro empreen- os velhos dramas pioneiros do teatro natura­
dimento de Miss Horniman. Ela colocou o lista, precisaram da segurança das apresenta­
Gaiety Theatre. em Manchester, à disposição ções em clubes fechados.
de uma audaciosa companhia de repertório, pa­ Já em 1909 Shaw havia atacado violenta-
ra a encenação dc peças de Stanley l loughton, mente a censura. de cujos poderes ninguém fora
St. John Ervinc e Ha rol d Brighouse. Shaw nun­ capaz de se livrar desde os dias do Manter oj
ca mais voltou a associar-se a cia. Ela influen­ lhe Rcvets, mestre-de-cerimónias elisabetano.
ciou menos a vanguarda teatral curopéia dc sua Quando M n. Warrvn's Profession (A Profissão
época do que os jovens dramaturgos america­ da Sra. Wancn) foi proibida, Shaw. que sedes-

* 460
5, Qnano ate dn drama F u t m n u n n H r n s u h e í (O Cocheiro lieíische)i, <Jc Gcrhâit Jfatipttmnn, encenado ern IKW tio
Lobe-Theatei',, Bnc.sluu (extraído do B u / tu s a n d ttr/j, voj, |K99j,

A
V Jjfr

fi. Projeto de cenário jMni O s G w r t r i r v S r m H f t f t t l t v u í . de lliMrti cena n* Islândia Aquardn de Itagen (Jo íi^ I ío (Mu-
aique, Thcaler Mti&cumF
H i s l o r t a Munt fia t da T c a i r a *

crevia como um “especialista cm obras imorais com grandes interesses em música e teatro, Os
e heréticas", enfureceu-se diante do insulto e pais de Stanislávski (seu nome real era Kotis-
da repressão do censor teatral. O resultado foi tantin Serguêievitch Alexêiev) mantinham em
não um afrouxamento, mas um aperto no para­ sua casa palcos infantis e amadores.
fuso. Foi somente em 1968 que a Câmara dos Quando os Meiningers foram a Moscou
Comuns aprovaram um projeto, apresentado em 188S. Stanislávski. então com vinte e dois
pelo governo trabalhista, que abolia a função anos, não perdeu nenhum de seus espetácu­
da censura do Lord Chamberlain (Lorde los. Ele admirava a "espantosa disciplina re­
Camareiro-Mor) como táaster o f the Revelx. velada nesta grande festa teatral”, mas os m é­
todos "despóticos” de direção de Chronegk
levaram-no i sua primeira ponderação crítica
A E x p e r im e n t a ç ã o d e N o v a s de prós e contras do podei do diretor e seus
possíveis efeitos tirânicos. O próprio Stanislávski
Form as
nunca foi um diretor tirânico. Nunca se can­
sou. muitas vezes ao lango de centenas de en­
S t a n i s l á v s k i e o T e a t r o de Ar te saios. de apelai para a compreensão de seus
de M o s c o u atores. Nunca lhes imputou suas próprias con­
cepções. mas sempre se empenhou em sinto­
Em jlmho de 1897. houve um encontro, nizá-los com as exigências de seus papéis -
mim restaurante de Moscou, entre o escritor este seria a base de trabalho sobre o qual mais
Vladímir Ivanovirch Nemirovitch-Dantchenko tarde construiria o "método Stanislávski”.
e Stanislávski, o jovem teatrômano filho de um Mas. desde sua primeira representação do
industrial de Moscou. A conversa durou de­ ponto de vista da verdade histórica, o Teatro
zoito horas - das duas da tarde até as oito da de Arte de Moscou adotou por completo o prin­
manhã seguinte. O resultado foi a fundação de cípio da veracidade histórica prescrito pelos
um novo empreendimento teatral privado: o Meiningers- O teatro foi inaugurado com o dra­
Teatro de Arte de Moscou. ma histórico Czar Fiodor h-anoriteh de Alexei
Os cuidados prodigalizados desde o início Konstammovitch Tolstói (parente afastado de
ao planejamento de todos os detalhes artísti­ Leon Tolstói). que havia sido escrito em 1868
cos e organizacionais permaneceram caracte- e tinha, na época, sido proibido pela censura.
rísticas do Teatro de Arte de Moscou durante Durante os meses que antecederam a estréia,
todo o seu futuro desenvolvimento: nenhum Stanislávski, sua mulher Lilina e o cenógrafo
outro teatro manteve tão inalterado o seu sen­ Victor Simov haviam visitado locais históri­
so de missão durante tantas décadas com dedi­ cos. Procuraram vestimentas oriundas dos
cação tão firme. Stanislávski assumiu a res­ monastérios e igrejas na área entre os rios Voiga
ponsabilidade das questões artístico-cênicas. e Oka. esquadrinharam lojas de antiguidades
Nemirovitch-Dantchenko. a direção literária. e mercados de trastes a fim de reunir material
Os fundos eram proporcionados por acionis­ para unia produção de poder emocional e am ­
tas, pela Sociedade Filarmónica de Moscou, biente “genuínos”. O resto do elenco, enquan­
que já mantinha uma escola de arte dramática to isso. prosseguia os ensaios num celeiro em
onde Nemirovitch-Dantchenko lecionava in­ Pushkino, um local de veraneio a cerca dc 32
terpretação, e pela Sociedade para a Arte e a km de Moscou.
Literatura, cujas apresentações amadoras Em 14 de outubro de 1898, a cortina se
Stanislávski estivera financiando nos últimos ergueu pela primeira vez no Teatro de Arte de
dez anos. Moscou. O ator Moskvin pronunciou as signi­
Nesta época. Moscou era afortunada por ficativas palavras introdutórias ao Czar Fiodor
possuir generosos patronos da arte. Industriais e /víHinvifí,')!: "Neste empreendimento deposito
homens de negócio devotavam sua fotiuna a toda a minha esperança". Nesta tragédia eles
propostas artísticas. Os irmãos Tretiakov pro­ não chegaram a nada. mas lançaram o Tealro
moviam a pintura; a ópera e os concertos eram de Arte de Moscou na estrada da fama mundial.
Financiados por 5. I. Mamontov. uru homem A fama do tealro ligou-se ao nome de "seu"
• 462
* Dt> N tttttruth mr i tto P r r t r n r c

amor, Anton Tchékhov. e baseou-se em /I Gai­ Com as obras de Maxim G órki, S ta ­


vota, a segunda de suas montagens, que estreou nislávski ganhou uni novo componente, o dra­
em 17 de dezembro de 1898. A peça havia fra­ ma de acusação e crítica social, O "realismo
cassado um ano antes no Teatro Alexandrinski, externo” era agora trabalhado com a mesma
em São Petersburgo, e Tchékhov foi persuadi­ intensidade que a fidelidade histórica ao meio
do, com dificuldade, a apresentá-la uma se­ ambiente, que levou Stanislávski a enviar um
gunda vez. grupo a Chipre antes da encenação de Oteio, e
Esta encenação tomou-se a pedra de to­ Simov, o cenógrafo, a Roma para a de Jtiiio
que do Teatro de Arte de Moscou. Se, no caso César, ou encomendar mobília da Noruega
do Czar Fiador Ivaitovitch. o maior esforço para uma montagem de lbsen.
dizia respeito ao cenário, agora, concentrava- Durante os ensaios de No Fundo, de Górki,
se na interpretação, na projeção de estados de Stanislávski levou seus atores ao mercado
ânimo, pressentimentos, alusões, matizes de Khirrov, num subúrbio de Moscou, onde os va­
sentimentos. A interpretação enveredou pela gabundos e marginais costumavam acoitar-se.
nova estrada da intuição e do sentimento, um Eles comeram com essa gente, e Olga Knipper
caminho, como dizia Stanislávskj, "do exte­ dividiu um quarto com uma prostituta, a fim
rior para o interior, em direção ao subcons­ de “aclimatar-se” no (ipo de vida em que se
ciente”. Isto significava a entrega total à peça, dava o papel de Natasha. A pias mação a partir
uma devoção quase religiosa. "Nós nos abra­ da realidade - ‘'representar significa viver" -
çamos como na noite de Páscoa", escreveu é um dos ingredientes do muito gabado (e
Stanislávski após o sucesso da estreia de A igual mente pouco entendido) método de Sta­
Gaivota. nislávski. Isto lhe valeu a crítica de que subes­
O Teatro de Arte de Moscou havia encon­ timava a capacidade da imaginação. Na ver­
trado seu autor e seu estilo. Toritou-se a "casa dade, porém, Stanislávski pretendia que seu
de Tchékhov" e. daí por diante, uma gaivota "método", tão amiúde mal interpretado como
com as asas abertas lornou-se seu emblema, um abracadabra da arte do ator, fosse um guia
figurando nas cortinas, programas e nos ingres­ flexível que levasse à colaboração entre dire­
sos. A estreita conexão artística e pessoal com tor e ator, Stanislávski, também, tomou uma
T chékhov-ele desposou a atriz Oiga Knípper posição intermediária na controvertida ques­
- aprofundou-se com as montagens subsequen­ tão da identificação, que sempre tem sido de
tes de Tio Vânia, At Três Irmãs e, posterior- novo debatida de Riecoboni a Brecht: o ator é
mente, de O Jardim das Cerejeiras. Stanislávski aquilo que ele interpreta, ou interpreta alguma
desenvolveu um refinado estilo impressionista. coisa que ele sabe que não é? Em última aná­
Ele mobilizou todos os meios concebíveis de lise, o sistema de Stanislávski era uma pro­
ilusão ótica c acústica, de forma a criar a posta de delicado equilíbrio. Ele advertia seus
“atmosfera” coneta para seus atores e para o atores a não abusar do palco para confissões
público. Coadjuvavam e integravam também privadas. Emoções pessoais, argumentava, não
este jogo de efeitos o som da balataícka e de enriquecem a arte do desempenho teatral: utn
grilos, de sinos de trenó tilintando ruidosamen­ ator que este ja tomado, ele próprio, pelo ciúme,
te próximos, ou tenuemente à distância. Com não faz unrO tclo melhor, mas um pior. infor­
desarnuinte autocrítica. Stanislávski admitiu mava ele cont base em experiência pessoal.
que tendia ao exagero nesse domínio, e ele M ichael Tchékhov (sobrinho de Anton
mesmo gostava de contar a difundida anedo­ Tchékhov), cujas anotações sobre seu traba­
ta: Tchckhov teria dito uma vez que escreve­ lho nos estúdios do Teatro de Arte de Moscou,
ria uma nova peça, começando-a da seguinte sob a direção de Stanislávskj, foram utilizadas
forma: "Como é maravilhosamenle tranquilo no início dos anos 30 pelo New York Group
aqui, não se ouve um pássaro cantando, ne­ Tlieatre, resumiu a essência do método de
nhum cachorro latindo, nenhuma coruja pian­ Stanislávski com a fórmula: "A ma té ri a-prima
do, nenhum rouxinol cantando, nenhum reló­ da imaginação é sempre tirada da vida",
gio batendo, nenhum sino tocando, e nem O próprio Stanislávskj, entretanto, apoiou-
mesmo um simples grilo cricrilandu”. se nos dois conceitos, o de “ação física" e o de

♦ 46 1
T

8, P fcm icr da inanj^ur;t^ào do Tcairn du Ane ile Moscou, |N<JH: Tsur F x tx lo r Iv n iM w h . íle A. K, lòlítót, d ir ig id a por
Stanislávski, Cqrwio dc V. A. Simov.

J
■ ,'l ■ ' -1 'M s fífí

"superobjetivo”, o que significava a adoção de Os artistas que lideravam os novos tem­


uma tese criativa básica para a interpretação pos - Vsevolod Meierhold, Eugcni Vakhtãngov.
de um trabalho teatral. Como exemplo, esco­ e AleksanderTaírov - vieram da escola de Sta­
lheu o Hamíct (a sua plasmação com Gordon nislávski. dos estúdios experimentais do Tea­
Craig, em 1911, deixou rastros profundos e tro de Arte de Moscou. Já em 1905, Meierhold
duradouros). Hamtel, afirmava Stanislávski, tentara interessar Stanislávski no princípio da
podia ser interpretado como drama familiar u cena estilizada. Mas a revolução de 1905 pôs
partir do seguinte aspecto: “Quero honrara me­ lim ao Estúdio da Rua Povarskaia antes que
mória de meu pai”. Ele poderia ser interpreta­ Meierhold alcançasse quaisquer resultados prá­
do como a tragédia de um homem decidido u ticos para mostrar.
explorar os segredos da existência, Einalmcn- O assim chamado Primeiro Estúdio do
te, há a possibilidade do mais alto “supcrobje- Tearro de Arte de’ Moscou empreendeu expe­
tivo": “Quero salvar a humanidade”. rimentos sistemáticos sob a direção dc L. A.
Mas, se a tragédia de Shakespeare é inter­ Snlerjítski e, após a sua morte em 1916, sob
pretada em termos de política aplicada - “Que­ Vakhtãngov. Maxim Górki cedeu ao Estúdio
ro que o estado feudal seja abolido” - então o suas anotações sobre os métodos de improvi­
princípio de “superobjetivo” nada enr águas sação usados pela Commedia deifa rte napo­
perigosas. O diretor, a seu arbítrio, pode colo­ litana, que ele estudara cm minúcia durante seu
car o “superobjetivo’' a serviço de ideais hu­ exílio voluntário na ilha de Capri. O caráter de
manitários ou das autoridades constituídas. início muito provisório da sala de espetáculos
Num estado totalitário, a expressão máxima do Estúdio impôs combinações não convencio­
da arte equilibra-se no fiu da navalha. nais, com praticáveis e plataformas móveis.
Durante um tempo, a “ideologia completa - Stanislávski inventou uma grade de metal presa
mente burguesa” de Stanislávski foi tão suspei­ ao teto, no qual poderiam ser pendurados pai­
ta na Rússia quanto as chamejantes palavras néis decorativos, como se desejasse.
“Senhor, dê-nos liberdade de pensamento’’, No formato em miniatura das possibili­
pronunciadas pelo marquês Posa no Don Car­ dades técnico-cênicas dessas improvisações de
los. de Schiller. ou o juramento de Riiili em estúdio. Stanislávski experimentou coisas que
Guilherme Tel(, na Alemanha de 1940. Já os o teatro revolucionário ntais tarde transpôs para
distúrbios dii revolução de 1905 faziam Sta­ dimensões de massa. Há registros detalhados,
nislávski sentir-se num heco sem saída. E, após por exemplo, do emprego do veludo negro em
a ( evolução de outubro dc 1917. ele manteve cenários de peças simbolistas. Na peça A Vida
se longe das massas em ebulição. Felizmcnte, da Homem, de Andréiev, ele usou tapeçarias
A. V. Lunachártski. o primeiro comissário do desse material para sugerir uma floresta, e
povo para a Educação, ergueu uma mão pro­ transparências cobertas igualmente de veludo
tetora sobre Stanislávski. De setembro de 1922 negro, mas com pequenos pomos de luz re­
a agosto de 1924. o elenco do Teatro de Arte cortados. a lim de dar a ilusão de lanternas de
de Moscou esteve em hmnive no exterior, hon­ uma eslação a brilhar ao longe. Uina cena se­
rando compromissos duradouros na Europa e melhante. imeiramente desmaterializada, foi
na América. "Precisávamos ganhar distância", projetada por Stanislávski para encenação que
escreveu Stanislávski em sua autobiografia não chegou a realizar-se, do drama lírico .4
Minha Vida na Arte. publicada pela primeira Rosa e a Cruz, de Alexandre Blok.
vez em 1924, "distância de uma atmosfera dc No exterior, o trabalho de direção de Sta­
desorganização”. Isto se refere à época em que nislávski foi conhecido apenas por montagens
a tempestade revolucionária nos teatros luivia clássicas do Teatro de Arte de Moscou, no seu
ganho a força de tormenta e o Teatro de Ane mais alto grau de perfeição, com cada detalhe
de Moscou não eslava sendo absolulumeme refinado ao longo de décadas de repertório en­
considerado com benevolência. De falo. não cenado. Seu jogo soberano com a “quarta pa­
era apenas o próprio governo que o desapro­ rede” - como por exemplo no segundo ato de
vava, mas também a gente de teatro que se­ 4 Gaivota, quando um banco ê colocado dianle
guia estritameilte a linha do Partido. da ribalta c os aiores sentados vollam as cos­

• 465
H i s t á n a líw iiiI n O ilfl T c a l r n *

tas para a plateia - tornou-se exemplo para o um teatro ‘ de dentro", da mesma forma que
mundo todo, os românticos haviam procurado pelo “cami­
A experimentação com novas formas lí- nho para dentro”.
mUavam-se aos estúdios, que se tomaram a Baudclaire falava da "floresta de símbo­
despensa do teatro russo moderno. Ao Primei­ los". Para ele. o universo visível era uma des­
ro Estúdio seguiram-se o Segundo, o Terceiro pensa de imagens e símbolos, às quais somen­
(mais tarde o Teatro Vakhlángov) e o Quarto, te a imaginação poclíca podia atribuir devido
como também um Estúdio Musical dirigido por jroms e valor. Valéry dizia que a bela palavra
Nemtrovitch-DaiUchenko, Slamslúvskt leve precisava recuperai da música aquilo que lhe
participação pessoal no desenvolvimento do pertencia de direito. E assim, poesia e música,
estúdio de atores do teatro hebraico Habima, juntas, deram ao teatro do simbolismo sua mais
onde. a seu pedido. Vakhtângov ensinou por convincente justificativa. O antiquíssimo pro­
alguns anos e ele próprio deu cursos sobre o blema. a rivalidade entre palavra e música se­
seu método. O clímax artístico deste estúdio ria a matéria da última ópera dc Richard Strauss,
foi a montagem dc Vakhtãngov, em 1922. de sua aguda e polida Capriccio.
O Dibitk, a dramatização de Sch. An-Ski de O naturalismo era um programa, mas não
uma lenda hassídíca. Após excursionar pela necessariamente uma limitação para a perso­
Europa e América, parte do elenco do Habima nalidade criativa. Ibsen viera de Peer Gynl. da
dirigiu-se para a Palestina em 1928. fixando- atmosfera nacional do romantismo norueguês,
se mais tarde ali. e quando o Estado de Israel onde estivera antes de escrever Espectros e
veio a ser fundado em 1948, tornou-se o Tea­ Casa de Banecas. Mais tarde, ele também dei­
tro do Estado Hebraico de Tel Aviv. xou o naturalismo puro para trás e criou o mis­
Outros grupos que trabalharam com os terioso simbolismo de O Pato Selvagem.
métodos de Stanislávski foram o Estúdio Gefhart Hauptmann já havia ido além da crueza
Arménio em Moscou, o Reduto polonês, fun­ doutrinária em Hamteles Hintmelfahr (A As­
dado em 1919 em Varsóvia, o estúdio estabe­ censão de Ha neleJ c entrou no nuindo neo-ro-
lecido em Kíev pela atriz polonesa S, Wisocka, mântico do mito com Die Verstntkene Glockc
c o Teatro Nacional Búlgaro, em Sofia, sob a (O Sino Submerso) e Und Pippa líinzr (A Pipa
direção de N, O. Massalmnov, um discípulo Dança). O jovem Konstantin, em A Gaivota.
de Stanislávski. Todos esses teatros do méto­ suplicava por novas formas, por forças que pu­
do Stanislávski formavam uma corrente, cujos dessem pôr fim à rotina do teatro contemporâ­
elos, por intermédiodeMikliailTchékltov. che­ neo e a seus patéticos esforços “de pescar Lima
garam até os Estados Unidos. moral em figuras e frases b atidas” . Mas
Konstantin Treplev naufraga m> caos de seus
Si mbol i s mo - I ma g ina çã o e sonhos e figuras. O próprio Tchékhov, na fron­
teira entre o naturalismo e o simbolismo, re­
Iluminação conhecia o perigo, para a arte e para a vida,
representado pelo escapismo para o reino dis­
O realismo cênico, como proposta progra­ soluto dos sonhos, de uma jornada para o nada
mática, originou-se em Paris, e foi da França dos estados emocionais, no qual o TitnagUes
tamliém que proveio como reação, o abando­ de Maeterlinck se perde.
no deliberado do naturalismo: o simbolismo. Um dos mais jovens simbolistas de Paris,
Stéphane Mallarmé, ‘‘o príncipe dos poetas", Paul Fort, vollou-se contra o realismo doThéâtre
protestou, em nome da poesia, contra a exi­ Libre já em 1890, Com o apoio de um grupo de
gência de que tudo quanto se jxideria esperar escritores com ideias semelhantes, fundou o
do poela fosse uma mera cópia do que o olho Théâire d‘Art e nomeou, como seu diretor artís­
do não iniciado encontra. A tarefa do poeta, tico, o ator Alexandre Lugné-Poé, que Iwvia
afirmava Mallarmé, não era nomear um obje­ começado a catTeira com Antoine. A atmosfera
to, mas conjurá-lo com o poder de sua imagi­ intelectual no teatro em Paris, dividida pelo con­
nação, Mallarmé sonhava com “um teatro m i- tido de estilos, foi bem caracterizada por Ltignc-
ravilhnsamenie realista da nossa imaginação''. Poc na época: “Minha mente confusa oscilava
9. Cenánodc Joseph Wening. paraA/írcfeer/i, representado no Nationallheiiter, Praga* 1914.

10. Desenho de ce n á rio de lid u a rd Siurm para A)jV f U i t ^ e t C okiix (O s Burgueses de ('aluis ), d e (je o rg Kaiser.
dirigido p o r Gusiuv Lmdcmunne l.ouise DumoitT. SchuiJspiclhutib. Dússeldorf, I92K ( D iis s d d o i f, Diinnuii-Urideivumi -
A rch ii}.
T

11 Projclo dc cenário para o conto-de-fadas im ibo lisij O P á s s a r o A z u l . de M otirkc Maeietlinck, Paris 1923 (Paris
Biblioihèquc d? 1’Ar^nalí

12. Alírcd ftnller: desenho dn quarto de dormir dn Fkddihnrschallintrm D t r R m * ' n k a y n t i v r \ 0 Cavaleiro das Rosas). de
Richa/d Sírytíjis', e-vifL-adíj no Hoíopei. Dresdcti, i'í í I
• Da Narurahxtnt* ao Presente

do realismo .10 simbolismo, e em ambas as Essa simultaneidade de aparentes contra­


mangedouras encontrava pouco alimento' . dições tornou-se a marca característica de de­
O Théâtre d'Art leve O seu centro de gra­ senvolvimentos futuros. No mesmo instante em
vidade no simbolista Maeterlinck, no drama que as convenções dramáticas tradicionais
lírico de solidão e melancolia. A repercussão eram rompidas, o palco também começava a
favorável a Pelléas et Mélisattde. em maio de fazerem pedaços sua habitual moldura de “cai­
1893, encorajou Lugnc-Poc a fundar um tea­ xa de vistas” (cosmorama). Os primeiros a to­
tro próprio, o Théâtre de 1'Oeuvrc. Nesta em ­ mar a iniciativa foram os simbohstas, com suu
presa, teve o respaldo do escritor e crítico recusa de serem escravizados pelo detalhe rea­
Camille Mauclair. O teatro foi inaugurado em lista. Em O Pato Selvagem, de lbsen, a vida do
outubro de 1893 com Rosmerskobn de lbsen. jovem Ekdal como fotógrafo é uma decepção;
Em sua procura de um alimento mais substan­ ela denuncia o emaranhado de mentiras de um
cioso, Lugné-Poé deparou-se com Ubu Roi arranjo conveniente. A cãmera tomou-se um
(Ubu Rei), uma peça do jovem boémio pari­ instrumento de auto-engano.
siense Alfred Jarry. Esta farsa colegial, com Para os simbohstas. o empenho fotográ­
sua amarga crítica social, estreou em 10 de fico do drama naturalista era uma tela que
dezembro de 1896, e terminou num tumulto obstruía a penetração do olhar em vistas mais
que Paris não via desde Hernani. Firmin profundas. 0 palco não deveria apresentar um
Gcmier fazia o papel de Ubu, e sua primei­ milieu real, mas explorar zonas de estados
ríssima palavra - “Merde" - estilhaçou o con­ d ’alma. Sua tarefa não era descrever mas en­
forto pós-prandial das plateias. cantar. A luz adquiriu uma função importan­
As poltronas estavam ocupadas pela elite te. e a palavra encontrou auxílio na música e
do culto simbolista da beleza. Ali estavam na dança. Em alguns casos felizes, os simbo-
Mallarmé e Henri Ghcon. W. B. Yeals e Arthur listas conseguiram transpor disposições inti­
Symons - e diante de seus olhos nascia 0 tea­ mas enraizadas no lirismo para o domínio pú­
tro de vanguarda do século vindouro. Aqui se blico do palco. O mérito de o drama simbohs-
abria a estrada do drama simbolista para o sur­ ta ter sobrevivido sem danos a tais revelações
realista e. final mente, para o drama do absur­ do ‘Vrnr de Tâme" (“estado de alma"),pode
do. via Victor, 011 Les F.nfants an Pauvoir ser creditado unicamente à música.
(Yictor, ou As Crianças no Poder), de Roger Foi a música de Claudc Debussy que con­
Vitrac, até lonesco, Bcckett e Audiberti. quistou para o poema L ’Après-midid itn Faune
Quase cinquenta anos mais tarde, Henri (O Entardecer de um Fauno) um lugar nu tea­
Ghéon, em seu ensaio retrospeetivo L'Arr di< tro e na sala de concerto. Na coreografia de
Théâtre (A Arte do Teatro, 1944), ainda enal­ Nijinsky, ela se tornou, em 1913, unidos pon­
tecia Ubu Roi como sendo uma peça "cem por tos altos do balé nisso em Paris, E foi a música
cento teatro” que. "no limite da realidade, criou de Dcbussy que conferiu ,10 drama clfico de
outra realidade com o auxílio dos símbolos” - amor, de Maeterlinck, Pelléas et Mélisande.
uma interpretação que demonstra quão de peno um grau de transfiguração poética inalcançá-
05 círculos divergentes rcalmeme se locavam. vel pelo teatro som ente falado. Hugo von
(Em 1958. Jean Vilar redescobriu o valor cêni- Hofmannsthal encontrou um parceiro conge-
cu de Ubtt Roi. quando o montou no Théâtre nial cm Richard Strauss. E o turbilhão simbo­
National Populaire em uma encenação do gro­ lista de som c cor de Gabriele d'Annunzio vi­
tesco e agressivo jogo de máscaras. Uma via du escura c sugestiva melodia da dicção dc
adaptação tcltcca foi mostrada em toda a Eu­ Eteonora Duse.
ropa, a partir de 1960. peloTeairu Balaustrada Esta foi a época em que Auguste Rodin
tle Praga.) esculpiu os amantes em mármore branco, em
A prática do teatro se deixava envolver tão que Rainer Maria Rilke escreveu o Soneto a
pouco pelas conlrovcrsias de natureza crítico- Orfett. em que Jnngeiidstil e arl-ntntvemt re­
estilística, que, em março de 1908, Gémier galavam-se com decorativos ornamentos en
também apareceu como Peru Ubu 110 Théâtre trelaçados, em que Isador.i Duncun dançou
A moine. Afrodite vestida com uma túnica e sandálias

■ 4W
R i . M á r i a Mi usditil dti T e at ro 9

de tiras, e declarou, com efusão ingénua e O Tris ião e Isaida de Appia para o La
entusiástica: “Minha alma era como um cam­ Scala, de Milão, em colaboração com Jean
po de batalha onde Apoio, Dioníso, Cristo, Mercíer e Arturo Toscanini, seu Anel dos
Nietzsche e Ricltard Wagner disputavam ter­ Nibetungos para o Stadttheater na Basiléia, scib
reno". a direção de OskarWãlterltn, e seu cenário para
O mundo ocidental fazia o seu inventário. UAnnunce Faite à M ane (O Anúncio Feito a
Na cena da ópera, isso foi feito por Richard Maria), de Paul Claudel, para Hellerau, foram
Wagner. Seu ideal de Ocsamskunstwerk, a obra aitida mais longe na luta pela transcendência
de arte conjunta, manteve ocupados os estetas metafísica. Sua culminação utópica, divorcia­
da Europa e da America. Já em 1892, o cenó­ da do teatro, foi a "Catedral do Futuro".
grafo suíço Adolphe Appia projetou uma série O primeiro pré-requisito de Appia era
de esboços e maquctes para Das Rheingold (O manter o palco livre de qualquer coisa que pre­
Ouro do Reno) e, em 1896, para o Parsifcil. judicasse a presença física do ator. “O corpo
Ele atribuiu à lua uma tarefa que até então o humano está dispensado do empenho de pro­
teatro não fizera nenhum uso, ou seja, lançar curar a impressão da realidade, porque ele pró­
sombras, criar espaço para produzir profundi­ prio é realidade. O único propósito da ceno­
dade e distância. Appia construiu formas arqui­ grafia é tirar o melhor proveito da realidade,"
teturais de pesados blocos, cubos e cunhas, Essa era a convicção de Edward tíordon
transformando-as nas largas superfícies daqui­ Craig, também. Mas em seus desenhos ele tra­
lo que chamou dc “cena interior”, de acordo tava as figuras no palco e seus movimentos
com seu principio do palco estilizado em três como componentes do lodo gráfico. Os bra­
dimensões, com pontos de luz. Mas o convite ços estendidos de Elcctra, as costas curvadas
de Bayreuth nunca veio. Cosima Wagner sal ■ de Lear. a silhueta esguia de Hamlet não eram
vaguardava o testamento do mestre, com o acessórios, mas elementos préviuS da visão
Vai hui la e o Castelo do Santo Grani lei los de cênica. No Hanúei dc Moscou, lanças, setas
papier-maché, panoramas realistas móveis e c bandeiras erguidas cm escarpa acentuavam
plataformas com rodas que carregavam as a monumentalidade das verticais e, abaixa­
Donzelas do Reno. O primeiro core radical das, transpunham o fim trágico em imagem
com essas convenções precisou esperar meio ó plica.
século por Wicland Wagner, que livraria o palco Filho da atriz Ellcn Tcrry, Craig estava
de Bayreuth dos velhos cenários c realizaria familiarizado com o palco desde a infância.
as visões de luz e espaço que os dois grandes Aprendera a conhecer e interpretar Shakcs-
reformadores simbolislas do palco - Adolphe peare com Hettry Irving. Considerava-se her­
Appia e Edward Gordnn Craig - haviam pla­ deiro de Irving. por mais opostos que fossem
nejado. seus caminhos artísticos, da veneração por
Por mais que os desenhos e idéias de Shakespeare à rejeição a Shaw. Craig preferia
Appia fossem ao encontro da sensibilidade dramaturgos com grandes curvas da emoção.
poética dos simbolislas. foi limitada na práti­ Fascinava-o converter linhas patéticas e místi­
ca a escala etrt que puderam ser comprovados. cas sobre o destino humano em luz e espaço,
No teatro particular da condessa de Béarn, em para espiritualizar o realismo cênico.
Paris, Appia teve oportunidade de criar, em Quando Craig. em 1900, juntamente com
1903, "imaginações” cênicas, isto é, não rea­ seu amigo Martin Shaw (nenhuma relação com
listas para parles da ópera Gimien, de Bizet, e G. B. Shaw) montou a ópera Dido e Eniias, o
para o Mcmfred, de Byron, que linha sido mu cenário consistia em um simples pano de fun­
sicada por Robert Schumann. O encontro de do azul. Mas este azul expressava a alma.
Appia com Émile Jacques-Dalcroze levou à “1'êiat de l'âine", da ópera de Purcell: clarida­
série de esboços que ele chamou de Espaces de brilhante, pálido crepúsculo e, ao fundo,
Rythmiques - contrapomos óticos ao conceito uma distante, delicada filigrana de mastros de
de direção eurrilmicn desenvolvido pelo Insti- navio. O esboço para o drama Os Vikings cui
Itlto Suíço Jacques-Dalcroze em Hellerau. per­ Hetgeland, de Ibsen, parece uma antecipação
lo de Drcsden,• du Parsifal de 1953, em Bayreuth.
•m
* b n N uli tr uli sn io ao Prc ic ntc

Quando montou a liricamente simbólica palco disponha apenas dc "meios grosseiros c


Das gerettete Veiicdig, cie l-iofímannsthal (ba­ primitivos" para satisfazer as "mais altas aspi­
seada em Veneza Preservada, de Tlumins rações que nascem das mais puras profundezas
Olway), no Lessing Theater de Berlim para estéticas" do homem, A Stanislávski e seu di­
Ouo Brahm, Craig limitou-se a longas corti­ retor Stilerjítski coube a difícil tarefa de adap­
nas coloridas. Os refletores criavam, com in­ tar o modelo trazido c apresentado por Craig a
terseções e feixes de luz, aquela iluminação realidades práticas inadequadas.
mágica que se tornaria também um traço dis­ Craig alcançou em Florença, em dezem­
tintivo do teatro expressiontsta c ma is tarde de- bro de 1906. um de seus mais felizes sucessos
senvolvida por Kukoschka e Cocteati - por pessoais, quando montou tiomersholm, de
este, até mesmo em filmes - em seu estilo dra­ Ibsen, com Eleonorn DilSe. Ela lhe escreveu uma
mático próprio. (Em 1054, o diretor londrino carta de agradecimento no dia seguinte à es­
Pcler B rook apresentou um protesto contra a treia: "Atuei ontem à noite como num sonho -
pintura cênica por efeito de luz. Ele afirmou e muito além. Sentia sua ajuda e sua força,..".
que Craig havia superestimado a importância O sonho de Craig de ter um teatro próprio
do spollighr. A seu ver, mesmo anteparos co­ nunca se tornou realidade. Sua escola de tea­
loridos podiam apenas suavizar gradual mente tro em Florença também durou apenas alguns
a crueza e não podiam rivalizar com o pincel anos. Mas seus escritos teóricos foram difun­
do pintor, nem em sutileza, «em em sombras didos no mundo inteiro, tanto seu livro funda-
ou cor). mental. The A n ofTheatre (A Arte do Teatro.
Craig concebia seu palco não apenas na 1905), como sua revista teatral The Mask (A
qualidade dc simbolista da luz. isto é. como Máscara), que com algumas interrupções cie
iluminador. mas também, na mesma medida, editou cm Florença de 1908 a 1929. Era uma
como arquiteto. Os sorva s (biombos) que ele publicação bem ilustrada, que abordava iodos
usou na famosa montagem de Hwnter, no Tea- os aspectos do teatro. Ilusão, naturalismo e
Irn de Arte de Moscou de Stanislávski, em estilismo cênico eram discutidos, assim como
1911, aspiravam a algo mais do que apenas n velho problema do ator: identificação ou
uma monumentalidade vazia. Pi opunham se, distanciamento? Craig desenvolveu a teoria da
au mesmo tempo, a apagar o efeito visual da siipeimarionete, da peça de máscaras, que por
"caixa de vistas" tradicional para realçar, com si só —dizia cie —era capaz dc eliminar lodos
imponente mobilidade, a ação interprciativa do os traços dc "egotismo” , e então, "coada pelri
ator e fornecer aberturas cambiantes às luzes fogo dos deuses c demónios", liberta e indene
em sucessão. “da fumaça e da exalação da murfalidade", po­
Temos o registro do próprio Stanislávski deria "pretender vestu-.se dc uma beleza cada­
sobre os preparativos em conjunto para a me­ vérica. exalando ao mesmo lempo urn espírito
morável encenação: de vida”, Algumas de suas ideias voltam em
Meierhold, 0'N eill e Breclil.
CraÍ£ pensava mim cqNitnculo '. ; .11.1 - .ili , IV :i A mística da luz de Craig encontrou um
cottilKVi. O |'i . h diHÈiiiriíL uo IL -a n rj c I I . I - ven s v ! , '. | i. i seguidor no cenógrafo americano Roheri
coisa puiciáUii. Os liinmbos !,'ia. i■i,., ■.i , ■:i .: ;n>
Edniond Jones. cu jos desenhos para as produ­
loiiurmieiiTuarquitetunil U.i a . j u j - i . I 'i - ■se ,
inonirariam com esla. Mas «o início da :i'-i,-,.-i:.i, .-..I . . ções de Hopkms-Ranymore de Ricardo UI e
hioiabos sc movanciaariam graciosa e soksiemcnte: Io­ Mncbeth em 1920 e 1921, em Nova York. fo­
das linhas e ;/ii I.ipai'.a- n :ru dc II I.iiv i> ram grandemeiite influenciadas por Appiu e
outj o. aic que se fixassem por fim -:-i, i ' :-il' ivi,'X-- Craig, Tlês grandes arcos, contra um lundu
De ,i Vi.n lagar, :|co,:■l : . 1 - 1 , , LI- |-|--|.I.| I M.1
negro, serviam dc equivalente ópticu às ambi­
elas efeilos ;"i.a;: V is e ;; -.C- i:-., —i.- V no ,v;:i se­
riam levados, cmnn imm sonho, para algum outm inumin
ções de Mncbeih, Eles desmoronavam quan­
soirrenre insinuado pelo aoisia. mas que -v , ,i real do a curva da fortuna de Maebeth declinava.
pela s irtude das -Lv- r , da inuie inação dos -.V\ I !|. -n: ■ Na Europa, os jovens pintores abstratos
no fim dos a tios 20 recorreram às ideias sim-
ó interessante ler adiante, na autobiogra­ holistas dc reforma, Nu um Garbo c Anloine
fia de Stanislávski. o quanto ele lamenta que o Pevsnev. com sua montagem dc La Chcme í A
13. Adotphc Appni- L u z d o i j t a r . da serie dc ccnúrios E x p a ç o x R i l m i c o A . estimulados jhw seu encontro com tifnilc
Jacques-Dykroze. I90X-19J2. Em 1913. Appiu desenhou cenários pura LAnnounce f a i t v <i M ti r w , Uc CJaiukl, c para o
O r fe u . de Gluek. no liisiíiuio Jsiequci-Dalcrozc, cm hlcller.ui, peno de Dresdcrt.

14, Adolf^ie Appia: Hòffvidiònnwntnn iA Alvitrada dos Deuses), secundo silo, MOV Espu^-u cênico cstiliiadn para 4
montagem dc Osksu' WiiliorlLn dc ttA m d . de W^iu-i', no Suriíllicnicr, RasdcM.
1

16. Página do caderno de direção de Craig. cum


inslruv^i para a cjicciia^àude ftu m fc i rtoTealmdc
Arte de M oscou. M>ll Mandei e ns aioces, no aio li.
cena 2: t) p rim e iro :iu h e*tá rcvitandu as linhas. "'I Iic
rcjLgcd l^yrrhus" dit iis^assinaio de Priamo.
17. Edtvard Ciondon Craig; desenho p m M tR -b c fh , JWW (extraído de Craig. T o w a n ts n Aeiv T f i t t i i r t , I9|3).

ÈS. |;d^;ird GordnuCraig: cenârioe^m bintnhns móveis, desenhado para n produt^n de 1^11 de noTeairu de
Arte d e M »euu de StanKlávski. Jhiwnlios para o último alo.
/> n fl/tiíiirttiinHti tio N r if m í

Gala) cm 1927 em Paris, e László Molioly- listas (In porvir, o conflito entre o instinto livre
Nagv. com Coiitus Je Hnffnuum. em 1928 no c restos castradores de religião - tudo isto loi
Kmlinper em Berlim, lentaram, no espírito de se somando a um fardo tão pesado que rom­
Craig. constituir "espado a partir dc luz c som­ peu a linguagem coerente. Êxtase, conlissàu.
bra". Os bastidores tornaram-se meros requi­ protesto explodiam, numa condensação frené­
sitos para a produção de sombras, ludn era tica da linguagem, em dinâmicas estridentes
translúcido, e ioda esta transparência culmina­ do som: no grito. Obras como os assim cha­
va numa estruturação dc espaço "superabun­ mados Sihrei Drtiniin (Dramas de Grilo), dc
dante, mas ainda compreensível". August Stiamm, e Seeschlachl (Batalha Na­
A plasmação dos processos cénicos em val), de Reinhard Goering, que começavam
lermos de palco e de atuação por uma única coni um grito - tudo parecia padecer com a
personalidade criativa, que os simbolistas ha­ agonia do estar perdido. Lm sua peça de um
viam exigido ein nome da poesia e Craig em alo Ein Geschlecht (Uma Geração), na frente
nome da magia do espaço e da luz. viria com do muro de uin macabro cemitério, Fritz von
os grandes diretores do século XX: Konstantin Unruh faz a soma do horror: uma conjurante,
Slanislávski (1863-1938) cm Moscou: M as extática denúncia da guerra c de suas atroci­
Reinhard! (1873-1943) em Berlim. Viena. dades. um chamamento à humanidade e à
Siúzhuig c Nova York: Jacqucs Copcau (1879- fraternidade em pentâmetros iâmbicos áspe­
!949>em Paris. Elia Ka/an(nascidoem I909) ros e agressivos.
em Nova York. O grande ator c diretor Jcan-Louis A geração dos pais tornou-se o alvo dos
Barrault (19UM994), de Paris, deu a Craig o poetas c dramaturgos profeticamente agressi­
cumprimento supremo: "O trabalho de Craig vos da selva das metrópoles. A luta entre o novo
foi meu catecismo, e ele próprio, o artista de e o velho, entre filho e pai, irrompeu cm mani­
teatro mnis perfeito". festos e no palco. O cunllito de gerações, nas
comédias DerSuoh (O Esnobe) e 191J. de Cari
Lxpyessionismn. Surrealismo e Steinheiin, ainda tema da cáustica sátira aos
burgueses filisteus, cra agora estimulado até a
Fut ur i smo
execução sangrenta, em peças como Der Solm
(O Ei lho I. de Waltcr Hascnclever, Oies Irar,
Desde a Antiguidade, as controvérsias in­ de Anion Wildgans. Der Bcltier {O Mendigo),
telectuais difundidas nii palco fazem parte da de Reinhard Johunnes Sorge. até Vatermonl
herança teatral, assim como o esplendor de sua iPaiTicídio). de Arnolt Bronnen, e Die Kmnkbeit
festividade. Arislófanes tirou o fôlego dos d a Juvenil i A Doença da Juventude), de Fer-
atenienses com suas polêmicas provocações. dinand Bmckuei.
Em todas as épocas, escândalos e brigas ven O palco possuía apenas uma possibilida­
tiladas no teatro foram fermento em sua fari­ de dc captar cenicamente essa violenta in­
nha. Tornaram-se mais frequentes quando a vestida dos "sonâmbulos", com sua "cargo de
arte começou a se opor á pressão niveladora atualidade de lciTor". como Alfred fceiT cha­
da sociedade industrializada de massa. O pro mou celta vez Os dramaturgos cxpressitmislas:
gresso técnico e a competição pelo mercado utilizar todo o potencial dc iluminação como
haviam levado â Primeira Grande Guerra e sua um inein de encenação de luz, visualidade cê­
mania, a seu delírio. A pessoa humana foi de­ nica. coinu um sinal tempestuoso da crise in­
gradada. reduzida a nada. deixada indefesa, à telectual. emocional e política, já cm 1911.
mercê de poderes incontrnláveis. Oskar Kokoschka exigiu, para seu drama Der
"Sumos marionetes cujas cordas são pu­ bramentle DnmbiiM h (A Sarça Ardente), um
xadas por mestres desconhecidos", diz o Dttn- aposenio iluminado [tela lua, "grande e cheio
toti de Huchncr. em Ihtnums ToJ(A Mone de de sombras ardilosas, que desenhassem figu­
Danlon) O drama expressionista alemão res­ ras no chão". Cones de luz se procurariam uns
pondia à crise da autodestruição com um gri­ aos outros, cmzando-se para formai um halo
lo. Pesadelos e utopias, o determinismo por em tomo do Iioniem mono. Kokosdtka via a
trás das decisões individuais, as visões socia­ cena como um pintor Mas o alvoroço vausa-

- 475
H i i t ó r i n Af itnfiitif tio T f i t t r a ■

do pelo espetáculo de 1919. em Berlim, foi seu mestre em Leopold Jessner, diretor do
atribuído mais à exuberante imaginação de sua Staatstbeaier dc Berlim na Gedartnenmarkt.
linguagem do que às suas imagens visuais. Jessner for de Kbnigsberg para Berlim, e em
Por sua vez. Reinhurd Sorgu, quando a 1919 cncarrcgou-se do Sctiinkel-Baucs. suce­
sociedade literária Dos junge Dfittschland (A dendo uma direção até aí marcadamente tra­
Jovem Alemanha) apresentou seu drama Der dicional. Em 12 de dezembro de 1919, apre­
Bellter, em iyi7,noDeUlsdiesTheaterde Max sentou um Wilhebn Tell (Guilherme Tel!) que
Reinhardt, pediu refletores móveis que real­ evitava, ngorosamente, todo o esplendor da
çassem uma figura isolada ou um grupo den­ paisagem de montanhas suíças: um austero sis­
tro da escuridão noturna. Na montagem de tema de degraus contra um fundo de cortinas
Richard Weichen. em 1918, de Der Sohn de escuras era o cenário inteiro; e havia Albert
Hasenclever, em Mainheim, unt facho de luz Bassermann como Tell, um gigante do tipo re­
incidindo vcnicalmente sobre o palco atingia tratado nas pinturas de Hodler, e Fritz Kortner
o grau de total isolamento que u dramaturgo como Gessler, numa caracterização marcial e
pretendia. No drama extático de humanidade. forrado de medalhas. Não havia nenhum "lago
Die Wandlung (A Transfiguração), de Emsi risonho", nenhum "desfiladeiro” , mas em vez.
Toller, que Karl Heinz Martin montou em disso o estenlóreo chamado à ordem de Bas­
1919, noTribiine de Berlim, o palco fui reves­ sermann, da rampa para a plateia, quando a
tido com tecido escuro, e os poucos e insigni­ continuação do espetáculo viu-sc ameaçada
ficantes cenários curvavam-se, mal saltando pelo tumulto e gritaria: "Ponha os arruaceiros
aos olhos, ao furip.it> da palavra. pagos pra fora!"
As peças de Emst Bariach tornaram evi­ A situação foi salva, e o espetáculo conti­
dente a conexão entre o drama e.xpressionista nuou. Jessner firmou-se no caldeirão de bruxa
e a pintura expressionisla. O mesmo efeito ob­ das intrigas de teatro. E o lance de escadas que
teve Ernst Slern com seus cenários da monta­ ele usou nessa montagem tornou-se sua marca
gem de 1919, em Berlim, de Die Híip/jer. de registrada artística. Para o Ricardo 11/ de Sha-
Else Lasker-Schuler, na qual chaminés de fá­ kespeure. Emil Firehan lhe desenhou uma larga
brica se inclinavam sobre casas vermelho-fer­ escadaria frontal, que se estreitava suavemen-
rugem de operários, e violemos contrastes de te na direção do topo - uma interpretação vi­
cor enfatizavam a atmosfera realisticamente ex­ sual da ascensão c queda do rei assassino e
pressiva da peça. dominador, retratado por Fritz Kortner num
A tendência para a luz colorida como re­ estilo diabolicamente adequado e elegante.
curso cênico encontrou outro partidário cm Emoções e discórdias eram indicadas pelas co­
Herwarth Walden. editor do Der Sntrni. Uma res vermelho, preto e branco.
produção de Sancta Sus atina, de Augusl As escadas dc Jessner fizeram escola.
Slramm, no Kiinstlerhaus de Berlim dispôs o Prestavam-se a ser interpretadas principalmen­
espectro inteiro como pano de fundo paru um te como expressão de um cósmico sentimento
interior de igreja: utn semicírculo vermelho dc inundo, testificavam portanto a pretensão
profundo e, acima dele, anéis concêntricos em intelectual. Eram também fáceis de imitar, po­
amarelo, azul, roxo e. final mente, preto. As diam ser usadas para quase todas as propostas
cores primárias repetiam-sc nos figurinos. Mais e não apresentavam dificuldade, nem mesmo
tarde, Oskar Schlemmer, em sua montagem de para um palco tecnicamente primitivo. Quando
Das TrUutixchc Bailei (O Bale Triãdico), no Jessner, ao retornar de uma viagem por alguns
Balthaus. também jogou com cor rítmica e con­ teatros de província, foi questionado sobre suas
trastes de furmas. impressões, deu uma resposta muito citada:
Os grandes palcos dos Teatros de Estado, "Escadas, nada mais além de escadas". Mais
com seu representativo programa de clássicos, tarde, em 1900, durante uma discussão em Mu­
dificilmente podiam custear experiências com nique. ao ser interrogado sobre aquele "cós­
dramaturgos expressionistas. exceto cm mico” lance dc escadas, Fritz Kortner decla­
matinéex literárias. Mas os princípios da abs­ rou evasivameute: se o Sliiatstheater tivesse um
tração por meio da lo/ c da cor rncomniiuin palco giratório, não seria obrigado u recorrer a
■ 476
19 Foctigrafu de uma rciw <,la impedia h.m líf s ih lc d t t ílJm uGeríivkd. tJu Frita wvq I lnn.ill mnnuiLi pela primeira vez
eiti |V|ít no S d 7J^;>»db;uis ile ÍTankJurt am Mai». rjin.\’ãi>: Giibtav fljilun^1: roubn: Aupusi HaMicrjicr. C\>jji Riuu
Bcriens conu» a Mãe. f lerda Mullur eonm a hl Um e Cari íibcrt emno n Filho.
20. Projeio de cenário dc Ot to Re igbe rl para D er Softn (O Pi! hoj , de W kl LCr H asene lever,
dcsiin.ido ao SíadiíhChicr de K id . 1919,

■ — «m i ............. ...;
* A t f ER t K&/V MOR G E NCfoff A 4ÍT tF & AtA r n r €& IA Q teLE?h
21. M w it na A n w e , Pintura de Céxni Klein (Wa n cenário da m ontagem ele Victor Barntnssky para o drama
e*prcssionis[;i em "estações*' U«i M o t^ t ix tns Mittenuiehts (Desde ts M anhã à Meia-Noite)^ de Georg Kaiser, levado em
1920 no Lcssingtlieatci, Berlim
22. P in tu ra d e cenário 1'eiia por O it o Rciebert, para a in o n ia g e m d c O u o F a lcke n b e rg de HurtKÍi-s to ui M a riu m n t'. dc
F rie d ric h H ebbet, D e u tsch e s T h e a te r, B e rlim . 192 í.

23. A s escadas de JeSíner. Projeio d e c e n á rio de Fmií Pire ha n para R i t i a i i U t f l í . de


ShEikespeare, na encenação de Leopokl Jessner, Smaisthcaicr nm Geihkiiiiiennuiikt.
Berlim. 1920
tiijiiõ rn i M u n tfm l tltt T*'tnnt •

escadas para conseguir seu efeito. Quaisquer Denis, que se tornou diretor du Escola de Arlc
que sejam os motivos conducentes, transfor­ Dramática do Old Vic.
mar uma necessidade em um principio artísti­ O Théâtrc du Vieux Colombier fechou
co é privilégio do encenador. F, o emprego de suas portas em 1924. Mas os ensinamentos de
escadas no palco remonta já a Piranesi. Juvnra, Copeau permaneceram vivos no "Cartel des
os Mcinittgers e Appia. Quatre", conhecido como os "Quatro Gran­
Jacqucs Copeau, o reformador da arte tea­ des". um grupo fundado cm 192fi c que durou
tral francesa, formalizou similarmente o pateo até a Segunda Grande Guerra. Consistia nos
com combinações de escadas. Pediu a Frnncis mais importantes diretores de teatro particula­
Jourdain que criasse, para o tablado doThéàtrc res de Paris: Louis Jouvet. Charles Dullin.
du Vieux Colombier em Paris, que ele inaugu­ Gaston Baty e Georges Pi toe ff. Apesar de di­
rara em 1913. uma moldura arquitetônica fixa. ferirem muito quanto à origem e temperamen­
com uma área neutra para a atuação na frente. to, tinham em comum o objetivo de produzir,
Seu modelo era a cena elisabetana, seu objetivo no sentido dc Copeau, um teatro não-conven­
era a “rcteatraiízação do teatro": um palco cla­ cional. de humanizar a arte do palcne de opor-
ro, simples, bem-proporcionado; um incons- se à corrente da crescente urtitieialização. Logo
pícuo tablado para o texto dramático, que não veio a censura que os "Quatro Grandes" esta­
requeria mais do que "um pódio vazio". riam superestimando o papel do diretor. Mas
Copeau estava em contato com Appia, esse era um desenvolvimento natural numa
Craig c Slanislávski. e de sua escola vieram época em que o pluralismo das possibilidades
diretores como Louis louvei e Charles Dullin. de pias mação alcançara uma primeira culmi­
e mais tarde, quando foi co-dii cinr da Comédie nância.
Française em 1944, lambem Jean-Louts A direção teatral pressupunha discrimi­
Barraull e Jean Vjlar. O foende interesse origi­ nação crítica e requeria urna habilidade para
nal de Copeau residia na literatura. Seu ideal fundir os elementos mais heterogéneos numa
era a humanização do teatro a partir da pala­ forma dc arte internamente consistente. A es­
vra. Foi um dos fundadores da NaiweRe Revttc colha começava com as técnicas cénicas e não
Française. em cuja edição de setembro de 1913 se limitava à peça em si Oito Brahm havia se
anunciou a criação de seu próprio teatro e seus arvorado cm advogado de Gerhart Hauptmann:
objetivos artísticos, sob o título Le Théàirc r/it o Teatro de Arte de Moscou de Slanislávski
V rcJiA Colombier fO Teatro do Vieux Colom- foi a casa de Tchékliov; e Louis Jouvet suge­
bier). riu e promoveu alivumciile a mudança de
A primeira vez que Copeau causou sen­ Giraudoux do romance para o drama. Na
sação foi quando da dramatizaçãn do último Comédie des Champs-Elysces, Jouvet produ­
romance de Dostoiévski. Os Irmãos Kant- ziu. em I92S. Sirgfticil. de Giraudoux. um
mtizov. em 1910. (O espetáculo produziu uma “diálogo com a Alemanha, o paroxismo da pai­
impressão tão duradoura que, em 1927, o sagem e da paixão, ao qual somente a alma
Theatre Guild pediu que ele o encenasse no­ pode dar plenitude"
vamente cm Nova York.) A influência de Co Gaston Baty, o principal dos Compagnuns
peau entrama-se como um fio vermelho nu dc la Chimère (Companheiros da Quimera),
todo o moderno teatro francês. Ela se estende, agia na área entre a religiosidade, coill um to­
com certeza, até Giraudoux e Anuuilh, mas in­ que de simbolismo, e o imponderável verbo
clui afloramentos aparente mente tão remotos, espirituoso dc 1.abiche, leve como uma pena.
como por exemplo a peça bíblica Noé, de Georges PuoetT. nascido na Armênín c estabe­
André Obey. diretor da Comédie Française lecido em Paris em 1922, náo apenas encenou
após 1946. cujo sucesso no palco, em 1931.se imitires russos e escandinavos, mas também
deveu ao sobrinho e pupilo de Copeau, Michel Pirandellu, Shiove Ferdtnund Brucknci. Quan­
Saínt-Denis. Pierre Fresnaye fez o papel-títu­ do Charles Dullin montou Rirtirrin Ui mi
lo cm Nova York, John Gielgud. em [zunires. Tliéatre de 1'Alclier. estilizou as cenas de ba­
Muitas das ideias de Copeau contt ihuiruin p.ira talha à maneira do balé - uma afronta ao modo
0 desenvolvimento do leatio inglês, viu Sainl tradicional de representai os clássicos.
■ 4SCt
* Otr t\u p r c s a t i*'

As qualidades dramáticas do bale não fo­ ficou mais irritado não tanto pela recepção de
ram postas em dúvida desde Serge Diaghilev. seus filmes surrealistas, de Le Sang d'un Poete
Schéhérttzade (1909) e Petmuchka (1911) de­ (O Sangue de um Poeta) a Orfdiée (Orfeu), ou
claravam-se obras de arte coreográfico-musi- de seus dramas ím Mttehine h tf entale {A Má­
cais independentes. Léon Bukst e Alexandre quina Infernal) ou Bacchtts (Baco), quanto peta
Benots ganharam fama da noite para o dia com recepção da montagem dc 1962, cm Munique,
seus projetos de cenário e figurinos. A primei­ de L ’aigle à deux têtex (A Águia Biccfala), que
ra bailarina, destaque exclusivo no entardecer se realizara sob a égide pessoal deste autor. Os
do século XIX. dividia agora o aplauso com o jovens protestaram. Mas a razão não era. ah-
pintor e o coreógrafo. Ter participado de uma solutamente, um surrealismo tardio mal-enten­
encenação de Diaghilcv. eiti Paris. Londres ou dido. porém, o protesto, neste caso. devia-sc
Monte Cario, era o primeiro degrau na escada às suas inadequações de melodrama histórico
do exilo internacional. barato.
Jcan C ocieau alcançou seu prim eiro A grande realização dc Coctcau no limiar
sitcrèi de sctmdale em 1917. em Roma. com do surrealismo consistiu em haver despertado
um balé chamado Parade. A música era de Eric o interesse dos pintores da Escola de Paris pelo
Salie. o cenário, de Pablo Picasso, e seu estilo teatro. Picasso. Malissc. Braque. Utrillo, Juan
foi descrito no programa por uma palavra, cu­ Gris. G iorgio de C hirico. André D eram ,
nhada por GuMIaume Apollinaire: Surrealismo. Delaunay, Mux Ernst e Joan Miró desenharam
Era uma nova palavra de ordem para uma for­ cenários e decorações para Stravinski e
ma de arte que pretendia ser não-nuiuralista, Prokóftev. para Maurice Ravel e Manuel de
não-realista, supcr-realistu. O termo apareceu Falia, para Albcniz e Richard Slrauss.
pela primeira vez no sublíiulo da faniãsriea e O palco tornou-sc o portador das compo­
grotesca peça de choque Les Mainelíes de sições pictóricas dc vanguarda, etn grande es­
Tirésias (As Mamas de Tircsias), que os ami­ cala. O Bate Russo, alcançando nova glória,
gos do autor encenaram como um "dram a desde 1917. no quadro da Opera de Paris, e <>
surrealista" em 24 de junho de 1917 noThéâtre Balé Sueco, no Théâtre Hébertot a partir de
Maubcl. em Montmartre. A reação dos críti­ 1920. celebraram os triunfos dos dêcors alta-
cos parisienses foi morna, A apresentação não mcnie expressivos. Para Le Tricame (O Cha­
levava nem ao sucesso, nem ao escândalo, Os péu de Três Bicos), de Manuel de Falia, que o
conceitos de Apollinaire exerceram influencia Balé Russo trouxe a Londres em 1919. Picasso
mais duradoura sobre o teatro do que suas pe­ virou o espelho d'águn do lago de Miller na
ças. Dele também procede o termo "íayonis- vertical c alinhou um lado dos outros elemen­
mo", para a vu ri ante especifica mente ntssa do tos ciibislas. Fernand Lcger derivou o cenário
futurismo (os i.mius começavam a se multipli­ de Skating Rink (O Rinque de Patinação) de
car) que atingiu reconhecimento mundial, gra­ dinâmicas de cor cttbistas. e Dc Chirico ergueu,
ças aos colaboradores de Diaghilcv, Natália ao fundo da cena de La Jarre, as serenas vasti­
Gontcharova c seu marido Mikhail La rio no v. dões dc sua perspectiva na pintura - ambos
Balé e música estavam emancipando-sc para as memoráveis produções experimentais
rapidamente, e o ímpeto desse movimento en­ do Balé Sueco cm Paris, em 1922 e 1924, res-
controu expressão no assim chamado "Grupo pectivamente, Idéias estimulantes deste apo­
dos Seis” —ou seja. os seis compositores: geu da arto da dança ainda continuam a atuar
Georges Auric, l.otiis Durey, Darius Milhuud, no interlúdio halético do oratório dramálico
!;rancis Poulenc.GermtiincTailleierree Aithur Jeantte d'Arc an Bncher (Joana d'Arc na Fo­
Honegger. Seus ataques aos seguidores de gueira) de Anlmr Honegger. A fama mundial
Wagner e Dehussy trouxeram a estes últimos, de Honegger, entretanto, remonta a 192l,e sua
conforme Coctcau - que era aliado dos "Seis” música para o Roi Duvid, apresentada tio Ies­
- gracejou com malícia, o perigo de serem le­ tival vanguardista dos irmãos Rcné e Jean
vados a sério. Murax. cujo Tliéatrc du Jorat em Mézières.
O próprio Coctcau ficou muito Contraria­ perto de l.uusamic, visava propiciar uma es­
do quando o publico o pós em dúvida. Mas* treita colaboração entre o palco e a plateia.
* J .s l
24, Quadro dc cenário de Pahln Picasso paru o bciltct O ChUf/tu ti# Trrjt Pontua, de Manuel de Falia, com coreografia
de Leómde Massinc. Levado peki Bnllei Rnssc, sob direção dc D ia ç h ik v . no Alhamhra Tbeatre, Londres, 1919.

25 ProjuiruJe cenário de Imncu Pr.m>fH>tim . \ t ^ u i M u n t M #f\'.tfixtca. 1924.


É f)a NaturatisiOf* tto P r r s e n t t

Na Itália, o futurismo começou nus artes M a x Rei nhar dt : M a g i a e


plásticas e converteu-se numa rejeição radi Técnica
cal à tradição. F. T. Marinetti precisou em seu
Proclama tul Teatro Futurista (Manifesto do
Teatro Futurista) (1915) as exigências do fu­ O século dos grandes diretores contou
turismo em relação à cena. Os critérios para o com um segundo trunfo além de Slanislávski:
teatro do futuro deveriam ser a dinâmica da Max Reinhardl. Ele também percorreu, em
máquina, a mecanização da vida, o princípio suas concepções artísticas, os estilos mutanles
funcional do autómato. Para o ator, isso sig­ de sua época. Reinhardl chamou a si mesmo,
nificava um staccato de nwittages verbais certa vez, de “mediador entre o sonho e a rea­
acusticamente condicionadas, um movimen­ lidade". Verdadeiro herdeiro do espírito do bar­
to de marionete elevado ao nível acrobático e roco austríaco, gostava de abandonar-se, sem
a redução da própria pessoa a uma engrena­ reservas, à magia festiva do teatro. Era parte da
gem bem azeitada do '‘teatro sintético". natureza de sua arte e de sua personalidade re­
Também a cenografia há de ser dinâmi­ correr generosa mente a recursos caros, espa­
ca. A cena deve tornar-se parte do ritmo do lhar no palco iodas as riquezas apreensíveis
movimento, de acordo com a Scenografia dc atmosfera e cor, de expressão visual c inte­
Futurista de Fnric» Prampolini. Léger ado­ lectual.
tou esse princípio até certo pomo. Em seus Por sua vez, o teatro naquele exato mo­
desenhos para o bulé La Création àit Monde mento foi equipado com os novos meios técni­
(A Criação do Mundn) (1923). havia algu­ cos, pelos quais metamorfoses ate então nunca
mas seções planas na composição geométri­ suspeitadas poderiam scr arrancadas do tosco
ca de cores fones, concebidas para estar em aparato tradicional da cenografia. Em 1896.
movimento constante. Como uma variante cm Munique, Karl Lautenschlãger inventara O
tardia, temos o Ftgurales KabineU, de Oskar palco giratório e assim criara as condições prá­
Schlemmer, concebido para uma banda dc ticas para realizar um velho sonho do teatro.
jazz e desenhado, em 1927, para o Bauhaus No Oriente, o kabtiki japonês conhecera já
em Dcssau. omros predecessores, primitivos, e i-co nardo
Os experimentos da era da máquina com da Vinci. cm Milão, havia construído um ce­
a nova forma encontraram expressão efetiva nu nário giratório em 1490; mas o palco giratório
nova arte do cinema. O pintor Rohert Wienc não se tornou acessório comum e praticável
usou. em 1919. em seu filme de horror Das do teatro ale que Lautenschlãger inventou a
Kttbincn des Dr. Ccdigari (O Gabinete do Dr. plataforma giratória operada eletricamente. O
Caligarií, um cenário expressionisla, truques ciclorama, iluminação mullicolorida. horizonte
de luz e reflexos de choque para sugerir as em cúpula e projetores de efeitos completa­
visões de pesadelo de uma personalidade pa­ vam o arsenal das novas possibilidades dc
tologicamente cindida. Rcné Clair, em seu pe­ magia e Max Reinhardt tomou-se um mestre
queno filme E utr'aci, trouxe à mostra o em seu uso.
bruxuleanle subconsciente de uma bailarina Ele supervisionou a reforma do Kleincs
acometida do medo de representar no palco Thcaterem Berlim em 1905, e suas instruções
- um tributo ao Balé Sueco, para o qual a pe­ nessa ocasião ilustram a importância dos dis­
lícula pretendia servir, como seu nnme suge­ positivos técnicos para a arte dramática do fu­
re, de entreato. Em Lc Sttng d 'uri Poète (O turo. O sistema de ihuni nação precisava ter
Sangue de um Poeta), Jean Cocteau demons­ “ricas possibilidades, de fato, cores e projeto­
trou, num fantástico pitoresco e intelectual, o res” . Deviam substituir os cenários, aos quais
que poderia ser feito com o cinema como “uni Reinhardt quer então renunciar. Não importa­
documento realista dc eventos irreais". Seu va o que acontecesse, o palco giratório preci­
uso surrealista da cã mera foi raais tarde sava scr constiuído: “Eu atribuo a major im­
inesgotavelmente repetido no Orphéc e, pos- portância possível a este palco giratório!"
teriurmente. no Textament dO rphée (Testa­ Nada de bambolinas, “esses farrapos de­
mento de Orfeu). ploráveis”; da mesma forma. Reinhardl não via

483
26. Pintura de cennriode Qskar SchlemtTKrpariíM/i Juane Fausí de Chi. D. Grabbe, Nailímalthealer* Wcmiar, 1925.
Cena simultânea em Remu: □ esquerda. uma rua: à dircún, ei>lódu> dc Famsío tio Aveniino.

27, Pioftsu de cefiafin de Alexandra l:\ier pan ( f M m zadnv t(r Veneza, 1927.
r

28. Cenário de linú i Pirchan purj íài.ç, de írw iry Kaiser levudo cm l l>28 no SchiHerihealcr, Berlim.
r

29. Karl LauEenMrhliigen palcn ginilóno iiperjdueleiricamcnie. Usadn pela primeira V423 em 1896. no Naiionallhealer
de Munique.
* D tt : \' ( tt n r u i is m n ao f w c t t / r

utilidade no urdiincmo: “O que vem lá de cima tapete dc grama, árvores atrás das quais a lua
está quase sempre podre” . Seu ideal residia no nascia e sobre as quais as estrelas hrilhavani
palco giratório, cujo cenário tridimensional nas abóbadas celestes. Em cena aberta, a flo­
para a peça toda deveria, se possível, ser insta­ resta girava, bem como o aposento do carpin­
lado com antecedência, tendo conto abóbada teiro e o palácio. Reinhardt encenou n Sonho
um céu em cúpula. de Uma Noite de Verão aproximadamente uma
Max Rcinhardl chegou a Berlim por Vie­ dúzia de vezes, e sempre de fornia diferente -
na, Bratislava e Salzburgo, onde Oiro Brahrn sendo a última vez em 1935, num filme em
o viu no papei de Franz Moor e o convidou Hollywood, juntainenle com Wilhelm Dietcrle
para o Deutsclics Thealer. A li, ele eslreou jun­ - mas nenhuma apresentação lhe trouxe mais
tam ente com Josef Kniiiz, Agites Sorin.t e faina do que a do palco giratório e das árvores
Albert Bassermann. Mas o naturalismo frio, verdadeiras de Berlim,
objetivo e invariável do protesta ui e OltoBralim No verão de 1905, Reinhardt transferiu-
não poderia satisfazer Reinhardt a longo pra­ se para a Schumannstrasse como diretor admi­
zo. Ele queria transformar as coisas. Procura­ nistrativo do Dcuisches Theater e. poucos me­
va as outras possibilidades, ntais luxuriantes, ses mais tarde, comprou-o de seu fundador,
mais enfeitiçadoras do teatro, a realidade mais Adolphe L’Arronge, o contediógrafo. Era o
elevada e sensual, em vez de sua cópia profa­ mesmo local onde Reinhardt atuara sob a di­
nada. reção de Otto Brahm; um dos mais proemi­
O trampolim de Reinhardt foi o cabaré li­ nentes teatros alemães na época, recuperou
terário. Ele arriscou a sorte com um grupo de essa posição depois de 1945, quando Gustav
jovens artistas que se auto-inlilulava '‘Schall Grimdgens. Paul Wegener e Horst Caspar pro­
und Rauch" ("Som e Fumaça’”) c começou a porcionaram novo brilhu ao nome Max Rei­
atrair atenção desde 1901, primeira mente com nhardt Deutsches Theater.
números em fornia de esqneles curtos e logo Após ler reconstruído em 1906 uma sala
com peças maiores. (Tudo se iniciou com um dc dança vizinha ctinvertendo-a no Kammers-
espetáculo beneficente para o poeta Christian picle, Reinhardt usou esses espaços menores
Morgenstern, doente e incapaz de pagar por para peças de Sternhcim. Wedekitid, lbsen e
sua permanência num sanatório suíço.) Max Slrindberg, enquanto no teatro principal do­
Reinhardt desvinculou-se de Brahm. Q intér­ minavam sobreludo os clássicos, Stnndberg
prete tomou-se diretor, e dentro de poucos anos veio em pessoa e ficou impressionado com a
o diretor lornou-sc o mais apaixonado motor atmosfera elegante c íntima do Kammcispiele
artístico e o maior empresário teairai de Berlim. e o estreito contato entre a plateia e o palco,
Novos projetos, novos palcos, reconstruções, sem qualquer rompa que o prejudicasse Em
amplificações para dimensões cada vez maio­ 1907, ele fundou o Teatro íntimo em Estocol­
res, teatro de massa, arena, festivais - a conta- mo, segundo o modelo de Reinhardt. Compor­
ginnte energia de Max Reinhardt superava to­ tava ajrenas cento e sessenta pessoas, c assim
dos os obstáculos. oferecia a garantia desejada para as sutilezas e
No final de fevereiro dc 1903, assumiu a nuanças psicológicas que, sob a direção dc
administração e direção do Neues Thealer am August Falck. finalmenre trouxeram sucesso à
Schiffbauerdamm. Ali. o seu ápice foi unta Senhorita Júlio, também em Estocolmo.
encenação picante eparodística de Orphée aux Para Max Reinhardt, o Kanimerspiclc era
Ettfers (Orfcu no Inferno), de OtTenbach. com simplesmente um acorde da orquestra de seus
Alexander Moissi como Plutão-Aristeu c o planos—um acorde que sustentava com requin­
jovent Oito Klcmperer brandindo a batuta de tada delicadeza, conveniente a esse auditório
regente. No Kleines Theater, na Unter deu que. com seu revestimento escuro e cadeiras
Linden, a modernizante sala do “Schall und confortáveis, parecia tão particular quanto uma
Rauch”, o sombrio e naturalista No Funda, de sala de eslar. Para a inauguração, em X de no­
Górki, foi seguido por uma não menos natura- vembro de 1906, ele levou os Espectros, de
lista feéric, o Sonho de uma Noite de Verão, lbsen, com cenários do pintor norueguês
de Shakcspearc, com árvores reais num verde Edvurd Muncli.
■ 4tí 7
t t n t ò r i i p M í m d j a l <:■' /"( I *

Reinhardt também obteve os serviços dos modo passivo, mas ativainente. E ele produziu
pintores Max Slevogt, Lovis Corinth e. em então o seu famoso e notório Dantnn, de Ro-
Genoveva, de Hebbcl, de Max Pedis te in Emst main Rolland. foi no Grosses Scliauspielltaus
Stern, César Klein e Eniii Orlik colaboraram em Berlim, em 1920. Sentados entre o públi­
com ele durante anos. Estabeleceu contato com co. mais ou menos cem atores lançavam aos
Edvvnrd Gordon Craig e envidou o seu cVoii e gritos sucessivos apartes durante a assembléia
autoconfiança para transformar em realidade revolucionária, saltando da cadeira com ges­
aquilo que Romatn Rolland e Craig proclama­ tos selvagens. Todo o imenso espaço, trans­
vam como o Teatro do Futuro: o espetáculo formado por Hanz Poei/.ig numa monstruosa
para as massas, espaço festivo, de dimensões abóbada de estalactites, transformou-se no Tri­
colpssais, onde as multidões se reuniriam como bunal .
haviam feito na Antiguidade ou na praça do "E então, entrava Paul Wegener como
mercado, na Idade Média cristã. Danton, alto, largo, maciço: parava sob uma
Rcinhardt alugou o Zirktis Sclmmann, luz brilhanle, na rampa da tribuna gradeada,
com capacidade para cinco mil pessoas, para que avançava diante do palco efetivo, até as
encenar o Édipa Rei, de Sófocles. na nova primeiras fileiras” , relata Paul Fechter. Ele es­
adaptação de Hugo vott Hofmannsthal. Alfred tava entre os poucos dispostos a admirar
Roller construiu para ele uma imponente es­ Reinhardt também nesta encruzilhada crítica,
cadaria, a fim de introduzir a tragédia antiga em 1920. A platéia conservadora interpôs seu
dentro da arena. Como coro, Rcinhardt orga­ veto. O "teatro total'', que menos de meio sé­
nizou uma multidão em movimentos monu­ culo ntais tarde se tomou a divisa comum dc
mentais. Ele assenhorou-se da arte da direção todos os experimentadores, nasceu na Alema­
de massa e conquistou o público, primeiramen- nha comograndioso fracasso de Max Reinhardt
le com o Édipo Rei ein 1910, e, um ano ma is no Grosses Schauspiclhaus. em Berlim.
tarde, também no Circo Schumann, com a Em otttuhro de 1920, Reinhnrdt retirou-se
Oresicia de Ésquilo. No mesmo ano - em 1911 da administração do Deulsches Theater (seu
- transformou o grande salão do Olvmpia, em velho colaborador. Felix Hollacnder. o substi­
Londres, numa catedral gótica, para o Mila­ tuiu por dois anos) e foi para Viena. No outo­
gre, de Karl Vollmõller, Janelas com vitrais, no e no inverno de 1922 e 1923. encenou al­
arcos ogivais e colunas, desenhados por Ernsi gumas peças no Wiener Redoutensaal e no
Stern, mascaravam a austera estrutura de aço e Deutsches Volksihealer e. em 1924. assumiu a
banhavam toda a sala numa pcnumbia mágica. direção do Theater tu der JosefsUidt. inaugu­
O públ ico era inserido em uma atmosfera medie­ rando-o em I- de abril, com O Scnidor de Dois
val mística, para a qual a música dc Engelliert Auio.v, de Goldont -- a declaração de amor de
Humperdinck também contribuía, Reinhardt à Cutumedin deWarte. uma decla­
Tentativas similares de realizar um teatro ração que ele nunca se cansou de tepelir, em
de massa foram empreendidas pelo diretor Tran- muitas variantes.
cês Firmin Gémter no Cirqtie d'Hiver, em Pa­ Reinhardt considerava a mais simples for­
ris. Ali ele produziu, em 1919, Ocdipe. Rui de ma de encenação tão desafiadora quanto a mais
Thébes (Édipo, Rei de Tebas), uma versão do elaborada. Reiteradamentc reexaminou e pòs
tema em pauta simbolistae religiosa, de autoria à [trova a extensão de seus poderes criativos.
de Saint-Georges dc Bouliélicr, O cenógrafo Julgava tentador enveredar por trilhas não pal­
Emiie Bertin, no entanto, recorreu aos modelos milhadas, jogar seu feitiço metamorfoseado!1
romanos, cm vez dos gregos, edificando na are­ sobre comediantes que não conhecia. Em 1929.
na elementos de arquitetura do circo no estilo recebeu os primeiros participantes de seu se­
de Orange. A essa produção seguiu-se, em mar­ minário sobre interpretação c direção no
ço de 1920, La Grande Pastorale (A Grande SchUnbunner Schlossllieaier em Viena, com
Pastoral), uma peça cristã de Charles I lellcm e eslas palavras: “Não c o inundo da aparência
Pol d‘Estoc, montada por Gastou Baty. este que vocês adentram hoje: é u inundo do
Reinhardt porém foi ainda mats longe. O ser". Aqui, em poucas palavras, está a própria
público precisava tomar parte não apenas de fé de Reinhardt na verdade superior do teairo.
• 4&S
31 M ;i\ Kcimíi;iclJ< m i m cM isuin J o <lo S õ I ik .í c s / . n l - u s S t l u n iia N u , I V j- U m , 1 4 1 0 t k J ’. m i | O r i i k K
3-1. A Morte de Dantoh, de íjcur? Riichner, encenado por Max Reitih;ird( no KammefspieJe de Munique. 1929: V.
Sokoíoff como Ftobcspirrre. Det^nhn dc Pelcr Tnimm.
r

H i s t ó r ia M u n d ia l d o V c a ir o *

Max Reinhardt não se agarrou exclusiva­ de um grande evento festivo. Era lima cidade
mente nem a formas estilísticas particulares, bonita, intelectual e alegre, e a combinação de
nem a autores particulares. Ele apresentou um ambiente natural encantador com lima es­
Ludwig Thoma e Ludwig Anzengtuber a plêndida arquitetura, numa localização tão con­
Berlim. Criou espaço para os exprcssionistas veniente, lhe parecia ideal para um centro de
pacifistas nas m aitnées de dom ingo do peregrinação artística. Sob o signo de Mozart,
Deutsches Theater e em seu periódico Das ele pretendia recuperar para o teatro o “espíri­
Junge Deulschlaiut (A Jovem Alemanha). to festivo e alegre, a singularidade” que ”é a
Amava Shakespeare, Hebbel e Kleisl, e captu­ marca de toda arte, e que o teatro da Antigui­
rou uni reflexo do teatro do longínquo Oriente dade possuía”.
com uma montagem de Sumuruii, no Kam- Hugo von Hofmannsthal apoiava essa
merspiele de Berlim, em 1910, na qual o ator idéia. Reinhardt escreveu cartas insistentes para
principal fazia sua entrada numa passarela de despertar o interesse cultural e económico dos
flores que ia até o alto da plateia, conro no edis de Salzburgo. Finalmente, no verão de
kabttki japonês. 1920, tudo estava organizado, e o primeiro fes­
Em 16 de junho de 1933, Max Reinhardt tival, estruturado. Em 22 de agosto, o ehama-
escreveu o que talvez seja a mais comovente do de Ereryman (Todo Mundo) foi ouvido pela
carta jamais escrita por um homem de teatro primeira vez na praça diante da catedral bar­
bem-sucedido, depois de voltar as costas a um roca, e a fortaleza de Hohensalzburg repercu­
regime totalitário. Os nazistas haviam expro­ tiu o eco. Reinhardt convocara suas melhores
priado seus teatros, cu ja administração ele en­ forças para representar a versão do mistério
tregara, em 1931, a Kudolf Beer e Karl Heinz tardo-medieval reescrito por Hofmannsthal.
Martin. Agora. Reinhardt reconhecia formal- Alexander Moissi interpretava Todo Mundo.
mente a situação: VVilhelm D ieterle, o Bom C om panheiro.
Heinrich George era Mamon. Werner Kruuss,
Com esses teatros eu pervo não típeius os frutos de a Morte e o Demónio, Hedwtg Bleibtreu. a Fé,
trijttu e sete imos de liitbãllm. mas :.n s n o solo t|ue
Johatma Terwin, o Amor Sensual e Helene
cultivei d ti rume roda a miuita vida o no cresci, Perdi
nritihs casa... Mas visco do Estado criou uma Thimig, esposa de Reinhardt, as Obras de
situação em que ja iráo liri mais nenhum Lugar .ijs. ç r . ■ Deus, Salzburgo guardou essa primeira ence­
para o meu rrabaitin, e visto o re. desse modo. se tomou nação do Festival como um legado. Nos anos
impossível pura mim coiuiiwar aiidiindo da obra da mi- 60. quase meio século mais tarde, elú ainda
- \ vida. e cumprir as ohrtauções it e h ligadas, é
qac eu encare . r,ii,■r:;.i .1 ,Irl... I e s t e Iriiballio '• era um dos esteios sacrossantos dos progra­
Estado... Alem de preencher s. principal I..I .!, mas - com frequentes mudanças na distribuição
tnanter suas portas abertas às corretnes vivas do teuipti, e dos papéis, mas piedosamente preservada no
trazer à iuz as obras dramaltcas itacion.its. n Deiusílles estilo.
Tlteater adquiriu uma napatuçãrt internacional iucouitvt-
Dois anos depois de Jedeniuuin (Todo
rdvel, por numerosos espetáculos que foi convidado a
aprtsentar em todas as granvks capimis tio immdLr.. A
Mundo), em 1922, Reinhardt montou Das
satisfação de ter dado n íneilior de mim. ao contribuir SalzJxwgei- Orafie Weluheater (O Grande Tea­
pata este resultado, modera a amargura do meti adeus, tro do Mundo de Salzburgo), a peça barroca re-
Iigiosa de Hofmannsthal, baseada em Caldcrón.
Reinhardt enviou cópias desta carta a Ele a encenou numa igreja, u Kollegienkirche.
muitos órgãos do governo ein Berlim. Nenhum Tudo o que tivera de conjurar em austeros sa­
deles respondeu. lões solenes, para o Milagre, de Vohnóller, a
atmosfera de um espaço sagrado, estava pronto
A I d éi a do Fes t iv al ali. para ele, Reinhardt submeteu-se à majesto­
sa arquitetura de Fischer von Erhtch. Escolheu
O nome de Max Reiiihardt está associado dosséis estilizados e painéis de tecido verme­
não apenas a Berlim e Viena, mas também a lho brilhante como únicos complementos u fria
Salzburgo, a cidade de sua primeira infância e alvura dos plintos, colunas c piiaslras.
a cidade do Festival. Desde 19t)3 vinha alimen­ O mais importante, porém, foi o ano de
tando a idéia de convertei Salzburgo em palco 1922 para o estabelecimento do futuro peso
• 4<n
35, Jcdennnrvi, de Hugo von H ofm annsihjl, na praça da Catedral cm SâLzburg, 1920, A montagem de Rcinhardf abriu
o festival de Salzburg, qoe ele criou juniam enic com Hofmannstha!.

36. Das Svlzburgcr gmsse \VeItiiwairr> <tc Itugo


vou HofriiaiitiíilhaE, [evada pela p rim eira vez em
Salzburg, em 1922. na KolEegíenkirche, foi rceoce-
nndq em 1925 no Festspidhuus: palco com cenário
dc baldaqui no gótico.
H ia o tiu M tH tiíitil J f T v íilm

musical do Feslival de Salzburgo. Peta primeira é, eslâo fora do alvoroço da metrópole. Mas.
vez, qtialno óperas de Mozan figuravam impro­ não inipoita se com esforços prodigiosos ou
grama. cada uma delas com quatro apresenta­ modestos, todos possuem sua justificativa e seu
ções: Omi G m vim i. Cosi Fim Time. Ar Batias mérito, na medida em que sua preocupação é
í/e Fígam e O Rapto do Serralho. (Salzburgo com O teatro e não com o mero turismo.
conhecia festivais de música com obras de Para completar o quadro, cabe mencio­
Mozari desde 1877.) Era o começo de uma nar as peças e os cortejos locais, os grandio­
mudança em favor da ópera, reforçada pela sos espeiácnlos, tão difundidos especialmen­
construção da casa de espetáculos do Feslival te na Suíça, desde os ludos de Tcll ao ar livre,
e sua ampliação, em 1926, por Clemens em Altdorf nu Inlerlakcn, à ti adicional festa
H olznieister Entre os maestros estavam dos taberneiros de Vevey. com milhares de pes­
Richard Strauss. Arturo Toscanini, Bruno soas tomando pane na» procissões e espe­
Walter, Clemens Krauss e Withelm Furtwãngler. táculos.
Os papéis principais eram cantados por astros
de Viena, Milão e Nova York. No espaço pito
resco da Fdsciueilsdiuic. amiga escola de O T ea tr o Engajado
equitação, acomodavam-se ópera e drama,
oralório e bidé, O velho teatro tornou-se ímn-
lo pequeno para a caudal de visitantes. Clemens R ú s s ia S o v ié tic a : O " O u tu b r o
Holz me ister desenhou uni novo e uliramnder- Te a t r a i "
no edifício, profundamente incrustado nas ro­
chas de Mònchsberg. Sua inauguração, em Com a Revolução Russa. o teatro assistiu
tóófl, também deu inicio ã cra Karajan. rica a uma rupuira das mais elementares, radicais
em realizações artísticas e reveses administra­ e duradouras com a tradição. Nos anos imedia-
tivos, o que trouxe tuna nova mudança, etn lamenlc posterinres a 1917, uma violenta pres­
1968, cotit o Festival da Páscoa, idealizado e são foi exercida para levá-lo á mobilização po­
largamente custeado por Herbert von Karajan. lítica. A Revolução celebrava a si mesma e a
Junlumente com Bayreulh. Munique e disseminação dos ideais comunistas Comícios
Viena, Salzburgo fornia o núcleo do festival gigantescos, com coros falados c canções, cum
de música de verão da Europa. Á sua volta proclamações rihumbantes Je tanques e armas,
agrupa se a inahrungívct multidão dos mais eram teatral mente armados - meio feslival
diversos tipos dc festivais Incaiv Seus nomes popular, meio rep esentaçãi >de omuvli ire' Gru­
são legião, e atraem artistas dc renome inter­ pos especialmente treinados para a itgitprap
nacional. Para mencionar alguns exemplos, lui i“propaganda de agitação*') e gente de rearro
o Feslival da H olanda, em Amslciilà: o com experiência assumiam a organização dos
Festwochen, de Berlim; o Maggio Musicale, eventos de massa diietameine patrocinados
em Florença; o Musical, cm Bnidcaux. o Fes­ pelas autoridades do Pari ido Ccnlial nas capi­
tival de Musique, em Aix-en-Provence: o Fes­ tais - e lambem dos não menos esimamenle
tival Giilbenkian de Música, em Portugal; o controlados "eventos improvisados'' iui país
Imemaiional Festival, em Edimburgh; o Festi­ lodo. Por essa cpoca. Mcierhold declarou que
val Norueguês, em Bergen; as semanas do Tea­ o objetivo do teatro não era ■'apresentar uma
tro Nacional Finlandês, em Helsinque -e os obra de arte acabada, mas. anles. tornar o es­
festivais de Atenas. Epiduuro. Avignon e pectador co-criador do drama"
Sliatford-on-Avon. predominantememe dedi­ "Devemos representar o espirito do povo ’,
cados ao drama. Além disso, lui iodos os espe­ escreveu Vukbiângov cm 19 IN, ”em iodos os
táculos de verão que acontecem nas mireis de atos c a própria massa que atua,., E ela que
mo mistérios, conventos e teatros ao ar livre, asstdia os obstáculos e os vence. Ela liiunfa.
que leniam mantei-sc à margem da competição Enterra seus mortos. Canta a canção mundial
do grande festival. Alguns não têm muitotnnis da liberdade”,
a oferecer alem do pitoresco cenário natural Um das mais imponentes realizações de
que Reiithardl. originaria mente. buscou - isto massa do período foi A Tomado do Ridtirio dc
* -VVZ
■ Dt> fJiutrroliniti* ijii t't r \i' h ti'

inverno, encenado cm IV iroer; ido. em 7 de cenário, pôs figurantes a correr a toda a velo­
novembro de 1920. como uma celebração dra­ cidade ao longo das primeiras fileiras da pla­
mática e teatral dos « m u is históricas d;t Re­ teia dispostas em cena, fé-tos escalar andai­
volução cm sco terceiro aniversário. Houve mes e escorregar por escadas de corda,
salvas de canhão. fanfiurax e holofotes; uma Meierhold varreu os últimos vestígios do tea­
plataforma branca e outra vermelha eram uti­ tro burguês; não estava preocupado com a at­
lizadas como palcos para a apresentação dos mosfera, mas com u agitação propagandislicu.
czarisias esmagados e dos bolcheviques v ito­ Como uma reprodução da Revolução no
riosos; houve fogo de anilharia, e o assalto ao palco, ele concluiu a peça sobre a Guerra Mun­
palácio. Exibiu-se uma estiela soviética gran­ dial. Terra Kevolta. de Tretiakov. com uma cena
de e vermelha - e toda a assembleia cantava a lia qual os soldados do Exército Vermelho to­
htírmanmiul. enqumiio fogos dc artifício con­ mavam de assalto o palco, o auditório e ofttyer,
cluíam esse enorme espetáculo ao ar livre. O arvoravam bandeiras vermelhas e entoavam a
evento foi dirigido por Nikolaí Evreinov. ã cuja {tnrriKicituial. Em Berra, China, de Tretiakov.
disposição havia cerca de quinze mil partici­ Meierhold sublinhou o conflito ideológico
pantes. uri elenco formado por soldados do entre cules e colonizadores, fazendo os euro­
Exército Vermelho e por atores. Coma-se que peus usarem máscaras e comportarem-se como
o número de espectadores Ireirou os cem mil. muna opereta, cm provocativo contraste com
"Tealvalização da vida” - era como Evreinov o realismo da miséria dos trabalhadores. Para
descrevia estas festas —espetáculos de massa, efeitos de pura pantomima, acrobacia ou rfmv-
para os quais os feriados do calendário ver­ nmi’, Meierhold vestia seus atores com maca­
melho ofereciam, unualinvntc. repetidas opor­ cões-uniformes: roupas prosaicas de trabalho
tunidades. como correspondência consequente ao palco
O mesmo mono regia o trabalho dos três operário despido de ilusionismo. Nada deve­
niais importantes encenadores de teatro da Re­ ria disirair a atenção, nem adornar a ação "bio­
volução. que canalizaram a caudal supera­ mecãnica" no austem cenário de plataformas
bundante dos eventos de massa nas dimensões giratórias, alçapões, guindastes c cordames.
mais limitadas do drama: Meierhold. Vakhtân- O nntiil usinais mo dc Meierhold não co­
aov e Tuírov Todos eles procediam do Teatro nhecia [imites. Iiíri Elagin. testemunha visual
dc Arte de Moscou e da ti adição dn humanismo da Revolução no teatro nisso, conta, em seu
burguês de Slaiusiávski. livro ,-t D/imentiraçiui tlas Artes 119S1), que
Nos palcos imjtclluis de São Pelei sbingo. ele nunca chegara a ver. >uhsc quente me me. nos
Meierhold começara, logo após a v ii tida do sé­ palcos da Europa e América, qualquer artifi­
culo, a desenvolver um estilo próprio dc van­ cio cênico que Meierhold já não tivesse usa­
guarda. juiuameiitc com u atriz Vera Knmmi- do. Isio. acrescentava ele. aplicava-se não ape­
saijevskaia. Em vez da harmonização sensível nas aos anos posteriores a Í9I7, mas uunbéui
almejada por .Stanishivski. Meierhold esuilse- aos experimentos anteriores de Meierhold com
Jeceu o domínio da razão. Cada movimenro. o teatro "místico" de Macterlinck. aos conlu­
cada gesto, era considerado por ele como pro­ ios estilísticos com o Miinchner Kiinsller-
duto de cálculo matemático preciso; eles ad­ theater. com Max Reinhardt em Berlim, com
quiriam significado simbólico, nos termos de as peças de marionetes e bonecos (cujo inter­
sua "biomecãnica” remiti tsccnte Jo teatro da nacional mente conhecido tnesire vosso foi
A.sia Oriental e dos "efeitos de distanciamen­ Serguei Obratsov, um homem dc muita inteli­
to" de Brecht. gência e sensibilidade) e. sobretudo, com a
Meierhold apresentou seu método em Conimetfía tlell 'arte, cujas técnicas Meierhold
191S. quando encenou em Pelrogrado O Mis­ escolhera cm 1912-1913 como matéria de es­
tério Bnjo. Je Vkulimir Maiakóvski. e em 1922. tudo. nos seus estúdios de ensino.
na Terra Rrvu/ta. dc Serguei Tretiakov. Ele usou Danton, a Uuiuilenta montagem de 1920,
projeção de filmes, jazz e concertina, acelerou dc Max Rcinliaidi no Grosses .Schauspielhaus
o ritmo das máquinas, de nioiores e todas em dc Berlim, parece muito menos isolada e úni­
movimeiilo: montou estruturas de metal como ca quando vista no contexto do teatro rcvolu

■ -i‘)S
I t n t i t r i n MitHtfiol i/ n i <,uvt>

domino nisso. O paralelo c bastante pioxuuu rnado pelo consli uiivixmo e |iela mama de im­
tanto nu lenia quanto nn estilo, A escolha por provisação de Meicrltold, Mus sua encenação
um tema da Revolução Francesa »t> cuso iJe inais afamada, e muis pessoal, foi a dc Prince­
Rcinhardl explica-se peto situação jtolílisxi. O sa Tmvadot. de Cario Go/zt. cm 1922. noTer
fato dc ter escolhido para seu teatro de massas ccuo Estúdio do Teatro de Arte de Moscou,
não .4 M ane dc Dourou, de Biichner, mas que Ingo em seguida foi rehatizado de Teatro
Damon. de Rotnain Rolland - que advogou o Vaklitángov. Vakhtângov. já sob a sombra da
espetáculo popular organizado continua o iiuutc. mais uma vez invocou uo palco toda a
quanto Reinhardl estava próximo de Meier- magia do mundo das fadas, o encanto e a gra­
Itold. A linha pode ser estendida nuns adia me ça galhofeira das marionetes. Os intérpretes
passando pelas montagens herlineiises de entravam cm cena em fi aque e vestido de noi
Píscator durante os anos 20. e além. por exem­ te, e, eoin a ajuda dc algumas poucas fazendas
plo, até a encenação de Orxon Weiles de Jidinx coloridas, irunsformavam-sc em eneanladoras
Cesur, em 1937 no Mcrciiry Tltealcr. na cdiiiitiscrics improvisadas Acidentada pela
Rroadway, Os romanos de Shakespeate surgi­ nuisica dc Sisos, c dominada peloTauagliado
am em roupas feitas modernas. Orson Weiles jovem Buris Sisehukin. numa armação meio
interpretava Bruius. O palco não tinha cená­ onírica, meio mui ilusionista, a fábula deconia
rio. No texto liviemenle adaptado, o críiico no seu curso como mil relógio dc carrilhão.
Burns Mantle.de Nova York. delcclou alguma Precisamentc os atores que nada unham a fa­
coisa remi niscente de uma conspiração contra zer no momento misinruvnm-se com o publi­
um ditador do tipo Mnssolini. co das primeiras fileiras, comentavam o espe­
Nos anus 30. Meierhold permitiu-se uma táculo com piadas improvisadas e punham em
"recaída em imitações burguesas". Enquanto prática o princípio a que Vakhlàngnv aspiras ;i:
as idéins de seu teatro dc agitação política eram "Lembrem os espectadores, inais de unia vc/
avidamente absorvidas onde quer que houvesse no clímax da ação dramática, que isto é uma
tumulto, ele pagava, agora, seu iitbuto ao tea­ peça. e não a realidade, que não deve ser leva­
tro de ilusão. Levou,4 Dama das Ciimclin.\, de da tão a sérm. pois o te . tiro não c vida”
Dumas/i/x. num cenário sutil e íntimo. Margue- Tairnv, o terceiro dos grandes diretores do
rite Gatithier. interpretada por Zinaida Raikh. Outubro teatral, desenvolveu uina Parr ptnir
amava e sofria entre mohilia de mogno genuí­ Pari t“a arte |rcla .me") rigorosa mente rucio-
no. valiosa porcelana dc Serres e fúnebres luili/ada. Era uni esteia de estiita olsediènciu íi
cortinas de veludo. Meierhold explicou que as fornia o que não se deixou arrastai, nem pela
belas antiguidades irradiavam um amluciue LeinpesUide da Revolução, para além das fron­
que. ele esperava, pudesse enobrecer a sensi­ teiras do Icatio. em que a realidade sobrepuja
bilidade dos atores. Estava de volta ao remo c o teatro cessa, t omo exemplo. Tairnv cila a
de Sumislávskí. com ênfase pitmária num es­ histórica representação da opeia Ui hhictic dc
tilo dinâmico diferem.Indo. AirHVt.de \ uIkt. que em 1X3(1. em Ifrtixelas.
Improvisação e perfeição eram os duo tlett o sinal para a rebelião do povo helga.
polos entre os quais se movimentas a também "Aqiti. o teatro desempenhou o requintado v
o trabalho de outro diretor russo desta época. nobre pape I da toclui que ateou o Idgi >da Revi i-
Evg(u)c'ni Vakhtângov. Como um dos mem­ lução. mas o espetáculo foi com isso imei rom­
bros e, a partir de 1916. cabeça do Primeiro pido. A pulsação do sentimento de unidade que
Estúdio do Teatro de Arte de Moscou, ele ha­ tlesjicrlOLt no teatro acendeu a Resolução, mas
via tomado parte cm ccrlas experiências extinguiu a ação teatral"
sugeridas por Maxim Górki. entre elas a que A consequência desse discemuueiuo cha­
pretendia revivei a noção da ('«tiiiitediii mava-se. para Tniruv. "lealvalizaçãodo teatro
itetParir segundo a qual os atores tem unia Ele exigia que o ator iluminasse igtialmeute
função criativa e deveui “dai foi ma ãs peç as"' bcin lodosos meios de expressão No Kamerny
enquanto muniu. Em I9IK. Ynktnàiigui otg.i- ile Moseott. um teatro e.xpetimooial dittgidu
nizou nm grupo ieiu]soruniimeiile conhecido por Tairnv de 191 | em diante, o elenco preci­
como Iciilro )’u|Uil.ii de Aitc. c lá se sni to­ sa i-stat apto a amar. cantar c dançar, lidar con)
np J-l6I
‘X^saoiis(j ,tíipuiív.i|V Nv.iM.irj/_y y iNp-MHmi: ij.mhJ p|i’i^i,ir-i|^ op iu.^r]M^ui rp p-iuM ui.' i:pw,i*.'» uh*.i oi.irin )
39, M rd e lo rò u c o pjjiia cm:en:ição<lc VLikhTãm-ov. cm 1*J22, de Prou-mv Iinw itfoi. de Ciozzi. m> Terceiro IEmucIu »do
Teatro de Ai(e ífo Moscou. que logocit» p.issouo isc chamar Teuli o Vakh(;'meov. Esboço de Vukliliittgovc N h ó n k y .

!
• Hf* A,iriiN'<Ji.iiN[i ut> P r ^ w n t c

41, Pt tMUmihm* t Ct>i isi >m i Lca tlc A le-


£xfcr pum n Kamoniv dc T íuidv. M iw m i.

situações de solenidade liiúr^ica e de varieda-


de excêntrica, exibir alma e fogos de artifício,
cobiça brutal e fantasia enigmática, Este é o
programa visado pelo lírulo de seu livro O Teu-
rrn Dcsocorrennulo, que se tornou o rótulo do
Outubro teatral.
Tafrov era uni encenador decJnrndumenie
literário. Ele inaugurou o Teatro Kamcrny de
Moscou com Shakiinttiia, de Kalidasa. fasei-
nado pelo velho drama hindu, como o fora
Lugné-Poé em Paris, que na montagem de
1895 dc Le Chttriot Jc Ti-nv Otite (A Carroça
de Buntr) contou com os cenários desenhados
ciou a isto mais tarde e seguiu seu próprio ca­
por Toulouxe-Lautrec. Taírov utilizou a Co-
ntinho. No cinema, ele encontrou um meio dc
Hmtcriia th'U ‘ane com peças de Goldont. e
cuja dinâmica formal e visual obteve obras
como sua primeira montagem pós-revolucio­
punias, como o seu Eitromoçiido Aómfci».
nária escolheu uma arlequinada fantástica,
de 1925. Por meio de cortes de efeito Cmonta­
baseada na Prínzvssiu HramhUht (Princesa
gem. F-insenstein conseguiu, em seus filmes,
Brambíllii), de E, T. A. Holfmauii, Encenou
uma potencialização das cenas de massa e do
Claudel e descobriu lios primeiros dramas de
dcfalhe. lun rompimento das dimensões cos­
CVNedl não apenas crítica social, mas a confu­
tumeiras, que o palco jamais lhe possíbiluria.
são psicológica do moderno senti mento de mun­
do, que. lhe deu oportunidade Jc pôr à prova o
conceito e u efeito de seu Gesto de Emoção. P h c t i t o r c o T e a tr u P o l í t i c o
Em contraste com o teatro "proletário" da­
quela época, o Teatro Kamemy de Taírov per­ A Revolução Russa tentou estabelecer um
tencia ao âmbito do palco "acadêmico". Nele novo princípio que uniria lodos os povos. O
também se inseri rum. enquanto insútuiçiiex his­ proletariado e muitos intelectuais euiopeus
tóricas. a Ópera do Bolslloi. o Teatro MalV. o emiti iiigaram-se com o ideal de uma socieda­
Teatro Korscli. que fora construído pelo patrono de sem classes e sem Estado. “A Rússia é o
de arte Bakhvushin. e o Teatro dc Ane de Mos­ rochedo que propagará a onda da Revolução
cou de Stanislávski- Como expoente do lado Mundial", escreveu Erwin Piseator em 191*1.
oposto eslava o “palco ria cultura proletária", do em seu manifesto endereçado aos trabalhado
Pioletkult, de Sergei Einseiistcin. com seu ex­ les de Berlim, conclamando a criação de uni
cêntrico c acrobático estilo de um teatro “emo- Teatro Proletário” . Foi em Iteilim. no Rio
cionalmenle saturado”: "O gesto c nuensifica- Spree, que as rajadas vindas de Moscou so­
do em ginástica, a fúria expressa por uma pi- praram mais violcntamcnie. Piscatoi utilizou.
nietti. a excitação, por um •mito iiitiirtile" :ts para um teatro dc agitação. O objetivo de
Einseiistein admitia que essas tendências, apli­ seu empreendimento não era produzir arte. mas
cadas direta e lileralmentc. não encontravam propaganda eletiva, para conquistar aS massas
logicamente seu raminho no drama, mns “tor­ uinda politicamente hesitantes e indiferentes.
navam-se conhecidas por meio da huloneria. As salas e prédios usados para as assembleias
excentricidade c da Montagem de Atrações", no distrito operário de Berlim eram seu cam­
isto é, de números circenses. Elas se ligavam po de ação. As massas deveriam ser atingidas
aos slogans de Meicrhohf e <le Taírov: da emo­ lá onde muravam, como na Rússia, pelos sm-
ção à máquina, da superexciiação ao truque, posda eigitftruf» leatia! Palcos miseráveis, ce­
do palco à arena do circo. Enisenslcni lemin nários primitivos, fumaça de tabaco e vapor
. vvv
ltÍM * 'rtn M tin d ttil th * f t mt J i n * 9

de cerveja seriam sobrepujados pelo ímpeto scmido) mas, na verdade, um jornal com
da proposta. O "teatro proletário" de Piscator papéis dramáticos distribuídos".
era um instrumenio da luta ilr classes. JJtrí- Não apenas o teatro dc Piscator e o da
gia-se à inteligência dos espectadores com ar­ Revolução Russa empenhai am-se nesta linha.
gumentação político, económica e social Sua Por volta de 19.15, uma forma de rejuirtagem
proposta era pedagógica, como seria mais tar­ cênica de atualidades, chamada Uving News-
de a dc Brecht. Ela se chamava neste caso: puper, desenvolveu-se também nos EUA e por
sucesso de propaganda. volta dos anos 60, o "jornal vivo", soh a forma
Para as eleições parlamentares de 192-4. de peça-documentáríii. conquistou inegável
Piscator, a pedido do Pari ido, monloti a Revne significação internacional, ainda que envolta
Roter Ruminei (Revista do Barulho Vermelho), em veemente debate
com textos de sua autoria e de seu futuro cola­ Ern 1925, Piscator meteu-se cm proble­
borador, Ciasbarra, "Muita coisa foi reunida de mas com as autoridades (hii causa de seu dra­
maneira crua, o texto era bastante despreten­ ma-documentário de massa Trot: alledem
sioso. mas foi justa mente isto que pcrmiliit a (Apesar de Tudo). O titulo provinha dc um
intercalação, até o último momento da atuali- reparo de Karl LiebcWnecht após o esmaga­
dade”, relembra Piscator em seu livro Dus mento da rebelião esparlaqiiisla. John Hearl-
Fnlilisclic Theuter IO Teatro Político) ( 1929); lield encarregou-se da montagem cênica de dis­
“e nós usávamos iiuliscrtminadamcnte todos cursos impressos, artigos, recortes de jornal,
os meios possíveis: música, canções, acroba­ manifestos, folhetos, fotógrafos c filmes, diá­
cias, caricaturas rupidamettle esboçadas, espor­ logos impressos, entre personagens históricas
te, imagens projetadas, filmes, estatística, ce­ e cenários arranjados. A representação deu-se
nas interpretadas, discursos”. no Grosses Schauspielhaus de Berlim, onde
A técnica de Piscator. livre de considera­ Mas Reiniuitdl havia encenado o seo espela-
ções estruturais, dc martelar o l e i t m o i i v políti­ eular Dunliin em 1920 c |x-rdido tantas simpa-
co conslantemenle repetido com uma saraiva­ lias entre uma larga falia da plateia de teatro
da de exemplos, era conhecida conto "ação convencional. Piscator percebeu, com sulisla-
direta", palavra muno etn voga na época. A çáo, que a ativação das massas co-atiiaittes con­
quebra provocativa da forma dramática bur­ cebida por Reinhardt não havia ido alem dc
guesa havia começado antes em Berlim, com uma “boa ideia" de movê-las. Após a segunda
os espetáculos duduístas e sua nJgioMtrn. des­ apresentação de T inir tilh ilein. a censura in­
crita por Piscator como Khmnink t"bimi[lm terveio. Quando. em 1920. Piscator atual irou
ensurdecedor"). t)u- Riiuber l()s Salteadores I. de Schitler. con­
Na França da mesma época. Amonin vertendo-o em peça politicamente engajada V
Artaud proclamava rtma teoria do teatro en­ fe/ com que Paul Beidi. ao papel de Spiel-
quanto "tição" pura e simples - níio mais a ilus­ lierg, asasse unia máscara de Tróiski, houve
tração dc um texto literário, mas "forjado no tumulto.
palco". O conceito de Anauil de Theãnr th la Um Uliaiilto ainda tilais forte segliai-sc à
Cruanté como do "teatro da crueldade" leio apresentação, um uno mais tarde, da encena­
sido minto mal interpretado: ele significa ba­ ção de Piscator dc ííc iiiller i i lf r G o r h i n il
sicamente algo hem diverso, o uso irrestrito (Temporal sobre Gol landi de Qhm Welf. para
de todos os nteios teatrais, entregando o palco o Volksbiiline. Apesar de seus receios iniciais.
a um vitalismo eruptjv» que transforma a ação Piscator havia assumido a direção do Berlinei
cênica num loco dc inquietação contagioso e Volksbiiline cm 192-1. Aproveitou u oportuni­
ao mesmo tempo curativo. Os cintos, com os dade para piodit/ii teatro político, ievoluem-
quais Artaud argumentava, eram os mesmos tuirio. com uni atsem N e primoroso.
dc Piscator, Geteilíí i i l h a G n i l n i u l . dc t-lim VVclk.
Allied K m . o advogado do diuhn entre atxirda a luta do pirata Klatis .Slõrivhekcr coli­
os críticos dc Icatro alemães, escicvcti, |á vrn na a Liga llaiíseãtica. que lemuimu em Uril
1910: "No futuro, niuitus dramas poderão sei com a execução de Sinticbekcr. em Hambur­
apenas um pretexto para o drama nm velho go. Piscalor deu ao tema orna leitura atuali/.a-
■ SWI
■ /íe tV a tu rttiiititu tttt f * r i 's r it t i '

da, colocou o acento polifieniioAsmiis hanseá- técnica, cm que Piscator anil mia á parte fil­
líco. a quem apresentou com uihh máscara de mada uma acentuada Itmção didática. Toller
Lcnin. glorificando assim o primeiro detentor foi utu dos dramaturgos do cxpressiunisnio
do poder da União Soviética. ipie morreia em tardio cujas peças antiheliei.stas combinam
1924. intcrpreum a peça como "a revolta do acusação antibelicista e simpatias socialistas
revolucionário sentimental Sldrtebeker. que radicais. Vinte anos ntais tarde. Wolfgang
provavelmente seria hoje um nacional-socia­ Borcherl escreveu uma peça parecida em esti­
lista. contra o sensato e positivo homem de lo e acusações, sua D n h iw h ro r (ler Tiir IDo
ação. A sm us. o típico revolucionai in raciona- Outro Lado da Horta), a primeira peça a abor­
lista, tal como exemplificado por Leniu". dar de maneira pcrduranle o tema da hora pre­
O escândalo loi inevitável Nem Heinrich sente 11a Alemanha após a Segunda Guerra, iàii
George com o Slõrtebeker, nem Alexuudcr o grilo extático e comovente de uma jovem
Oranach como Asmas, nem o inaterinl filmado geração defraudada c desarraigada que voltou
(cedido [ror Cim <knel para estabelecer a asso­ da guerra para as ruínas. Piscator colheu os
ciação com Léniiil pudernm justificar a maciça últimos rebentos tio drama exptessiunisla ao
violação do material histórico. As próprias ob­ qual Se opusera violentamcnLe em 192(1 e ten­
jeções de Ehm Weik haviam sido imiteis. Re­ tou impregná-los de grande tensão pulinca.
signado. ele tomou o partido dos críticos, que Dos fracassos e semifracassos de Piscator
declararam: "um grandioso trnhalho de direção, uasccu sua obra-prima incuti leste, a realiza­
uma direção colossal coima uma peça". ção da sátira épica Dic Aheiilmer des tirm-m
Isto levou a uma rtipturu cuiu u Volks- SaMaieii Schivejk I As Avenl uras do Bravo Sol
biihne Piscator concebeu o plano dc construir dado Sdiw ejk) Bcrtoll Brecht, Feltx Clasbarra.
um palco próprio de agitação e propaganda em I.eo Lama c o próprio Piscator llaviam adapta­
seu estilo singular, grandioso e impressionista. do o romance do escritor de Pl aga. Jaroslav
A atriz Til la Dmieux amimou-thc patrocina­ llasck. para o palco - um cmpreciulimenlo
dores financeiros Waltcr Gropius. o diretor do problemático, dada a natureza puramente cpi­
Bnnhatis em Dessau. enUisiasntoii se com a ca da obra. Seus ingtedienles - um herói pas­
ideia. Desenhou para 1’isvalnr um ultnunn- sivo. continuas trocas de cena e passagens
denw “teatro total'', uma proposta de casa dc glosaittes como portadores dc teor satírico -
espetáculos polivalente, audaciosamcnle con­ são inats adequados ao teatro “épico" do que a
cebida. com piso giratório e adaptável a quase um drama no sentido convencional, mas ames
lodo aparato cénico lile poderia ser usado para n leatlo "épico".
como anlitealto. conto arena com palco cen­ Piscator descobriu uma saída Inillinnle
tral. ou ainda com atuação peuférica e acessos paru mamei a açfm em movimento, o unindo
ciicumluitilo o auditório O modelo elaborado
poi Grupais. exibido em Paris em 1'Utl- foi
muito admirado, mas nunca realizado; perma
neccii como Utu piojeto gi.uidioso. nm castelo
no ar. conto os planos igual mente dispendiosos
ile Meierhold para um leulrn toinl Je vanguar
da. em Mttscou.
Piscator alugou o Theaier ant Nolleu-
dorfplatz cin Berlim e o inaugurou em è ile
sctctnhro de IdJ7. com a peça anlilairgucsa
de Lnist Tollet. Hiippht. u-ir Ir h m tOha!
Estamos Vivos!) muna montagem allamente

1' huilltln .rfer t’i . >1.-11. ,1,- t\.ila-i l nogins f'.u.i


1-nnn Piscai!». |*>:r
H i.M Ó rtn Atuiutivt d o Trttrrtt

rantos episódios quanto possível numa conti­ O comentário de Kerr sobre o “jornal com
nuidade sem costuras: a esteira rolante. Os papéis distribuídos", datado de 1910, confir­
modernos processos de manufatura em linha ma-se ao ritmo das crises de geração, mostran­
de montagem deram-lhe a ideia: cie usava duas do ser verdadeiro nu teatro do início dos anos
esteiras rolantes atravessando o palco da es­ 30, nos EUA. quando o gráfico de temperatu­
querda para a direita, em direções opostas. ra económica do Afcrr Deal atingiu seu clímax.
Montadas sobre elas ficavam seções niveladas O dramaturgo Klmer Rice foi o poder impul-
mostrando o ambiente de Sliwcik: “os tipos sionante por trás do Federal Theatre Project. o
petrificados da vida política e social na velha único palco subsidiado pelo governo, que as­
Áustria", um mundo grotesco-satírico, no qual sumiu a dupla tarefa de dar emprego a cente­
Schweik. “único ser humano, se vê indefeso. nas de atores sem trabalho e pôr em discussão
A intenção original de Piseator havia sido até as questões económicas da época. Elmer Rice
a de preencher o papel- título com um só ator e usou a documentação dramática corrente do
contrastá-lo com uni aparelho exclusivamente Living Newspaper para acrílica social e socio­
mecânico. lógica. Power (Poder) era o nome de uma das
O pintor (Jeorge Gmsz desenhou os ce­ dram atizações-documentário da March of
nários de Irucagcm e marionetes, dando tanto Time, mediante as quais ele punha no palco
aos apetrechos quanto aos tipos de figuras uma discussões políticas. Neste caso, acendia as
função cómica supercaricnturesca, cómico- questões do desenvolvimento e da proprieda­
clownesca. (Seus desenhos terminaram na de do poder económico da energia elétrica.
mesa do promotor público e acarretaram-lhe Outra edição ocupou-se do problem a da
um processo por blasfémia. 1 Para as cenas de extinção dos cortiços: chamou-se One-Third
ma em Praga. Piseator usou como fundo um o f a Norton (Um Terço de uma Nação), com
filnte feito no loca). Para a marcha a Bude- referência a terça parte da população america­
jovice, havia renques de árvores copiados du na que. segundo uma palavra de Rnoseveli.
naturezas mortas, desenhados ao longo do pal­ habitava cortiços c bairros miseráveis. Passa­
co, como represenlação da estrada infinita. O gens épicas, episódicas e pedagógicas, jograis,
grande ator Mas Pullenberg interpretava comentários, poemas e inserções musicais
Schweik. Ele deu ã personagem a substância constituíam os elementos motores do Jornal
humana, e mats do que isso, inteintmenle de Vivo. Em Washington, os críticos da proposta,
acordo com as intenções de Piseator, “algo logo depois, cortaram o fio da vida dessa
reminiscente do espetáculo de variedades e de "representação ao mesmo tempo parlriótica e
Charles C hapliif. Pallenberg viera do grupo verdadeira de interesses vitais": sustaram os
de Max Reinhurdi. e Piseator accntuuva, não subsídios governamentais para esse controver­
sem orgulho, o imenso esforço interior a que tido empreendimento, que assim chegou ao
Pallenberg fora por ele induzido a efetuar, a fini.
fim de “fazer justiça a este novo, matemático A relação entre o teatro e a política tem
gênero de interpretação”. sido tensa há dois mil e quinhentos anos. Aris-
Piseator se pronunciou repetidas vezes tõfanes investiu, a partir do palco, contra os
sobre a questão de como definir seu estilo es­ demagogos e advogados da Guerra do Pelo-
pecífico. Sua proposta, explicava ele, era in­ poneso; ele o fez na soberana fomta artística
tensificar o efeito ao grau máximo, pelo uso da Comédia Atica. que atrai como forma tea­
de meios extrateatrais. Crucial para a intensi­ tral original mesmo lá unde as alusões políti­
dade do efeito era que a escolha correta do tema cas não são compreendidas. Mas quando se
deveria ser idêntica ao efeito político. O efeito trata somente de provocação política, a sua
de propaganda desejado não poderia ser con­ atrelagem ao palco torna-se dispensável.
seguido na falta de uma peça sufi de n temente Artaiid falou da “impotência da palavra",
fone, nem com uma montagem técnica que quando comparada â vitalidade da ação dire­
transmitisse mera mente umn lição de objeti­ ta, do LOttp de rhéôlre ritual e rítmico, da foi ­
vos estéticos. Tal critério divide as opiniões ain­ ça da peça cuja ação é desdobrada espacial-
da hoje. passadas décadas. mente na direção dos quatro pontos car deais.
■ .to?
43. O palco de Piseator t t i i Berlim, IM2V: con^iru^ão transparente com vários uiularcs para H o jw k t. U-i> í ^ í a u,1 { Oba,
listamos Vivos!) tlc tm slTuller, com uma leio. central para a combinarão de palco e filme (quydrodc montnpem do Sashu
Sronc. com a silhueta dc Pi^caturj.

44, Cena?. com marionetesde Cjcnrge (no?./, pina a “esteira ío ta iu e " n a /n /ií-o fí .vc^icde P í^ a to i para f * t r
iit's f lr a v c n SoU iatetr St h w ejk «As A ve»U iu s do liravo SojJadn S c J m c jij adaptarão do m n iu iiie de Jartisla\ Hasek.
Berlim, t<)27
H i s t ó r i a M i m t ii a i t/í» T r a t r o *

cindida por paroxismos e depois enfeixada Brrcitt e o T e a t r o Épica


pela luz, c de novo atiçada. Ele considerava o
grito o elemento primordial da ação direta, um O palco assumia o ritmo de nossa época,
grito lançado da extremidade da sala de espe­ o “tempo” do século XX. Enquanto a refor­
táculos e transmitido de boca em boca, num mulação com fins de agitação e propaganda
acceteraiido selvagem. As criações coletivas da peça ainda estava em andamento, o novo
do Living TKcane, assim como a obra do di­ drama encontrou um autor cm Bertoll Brccht.
retor polonês Jerzy Grotowski, devem muito Este. em sua colaboração com Piscaior. veio a
ao ritual do movimento e gesto de Artaud. Seu percebei que o teatro revolucionário dependia
teatro total da “tição direta" contribuiu parti não apenas da peça. mas também da direção.
os impulsos de destruição da forrna no teatro Mas a encenação "dinâmica" permanecia para
político da segunda metade deste século. Brechl uma solução provisória, válida apenas
O lenia do teatro dc agitação política de enquanto não fosse possível uma transforma­
hoje é; a direção para a ação. O texto subja­ ção radical dn teatro pela base. Não aceitava
cente. na medida em que é considerado obri nem o “milieit como destino" naturalista, nem
gatório. é simplesmente matéria-prima. Pode o pathos expressionista do Ó-Homem. e tinha
ser substituído por provocadoras colagens de suas reservas sobre a direção puramente agi­
filmes, cartazes, noticias de jornal, sinais nu tadora. Não desejava provocar emoções, mas
transparências - pela "introdução de meios apelar para a inteligência crítica do especta­
extrateairais", como dizia Piscaior. dor. Seu teatro devia transmitir conhecimento,
A peça-documentário tem seu lugar numa e não vivências.
zona intermediária foimalntcnte restrita, que O drama da era científica, como o via
vai. digamos, dc The Caine Mmm\ C om i Brechl. entende u homem cunm pane daque­
Martin! (O Motim do Caine). de Herman Wouk le mecanismo im eiramcnlc calculável que
(baseada em seu romance) a Der Sreihvrtretei mantém cm funcionamento a história mundial:
(O Deputado), dc Rolf Hochluith. e In tler trata o homem como um instrumento dos ór­
Sache J. Roher! Oppenheiiiicr [No que Diz gãos executivos que o manipulam a seu bel-
Respeito a J. Robert Oppenheimcr), de Heinai prazer. F.nmiemccnu o empacoiador'Gitly Gay.
Kipphardt, a Die ErmiuUmg (A Investigação), homem inofensivo que sai uma manhã para
dc Petcr Weiss, A peça de Weiss é como um comprar peixe, cai mis mãos dos soldados no
oratório, um documentário completo sobre o caminho, e é transformado mima “máquina hu­
inferno dn hulocuusio nazista, que. segundo mana de combate”. Ga!\ Gay, o licnii remo­
ele assinalou, não contem "nada a não ser fa­ delado de ilí t it u t is t M t i i u i iG Homem é o I lo-
tos lais como surgiram nos processos penais". meml, de Biechi, tornou-se o exemplo clássi­
Da documentação factual, o teairo polí­ co do novo teatro didático.
tico dos anos 00 foi á mforniuçãu engajada, Pctei Lurre interpretou o papel em I9.il,
conto cin Vichtaitt R epun i Relatório do no Slaatstheater dc Bcilim (enquanto ti abai lia­
Viemã). de Petcr Weiss, MncRaii. dc Barbara va ao mesmo tempo sob a direção de Fritz
Garson. Une Saltou nu Cimgu l Unia Tem­ Laug, no Thritter dc Crime At). Ele fez da se-
porada tio Congo) - a peça de Aimé Césaire qiiência de incidentes separados aquele ■‘inven­
sobre Patrice l.umumba - Xoi.tiaiÍMibiiug tário de argumentos" que Breclit linha em
(Exercícios de Emergêncial. de Michael mente. Lone. comentou Brechl. havia realiza­
Hatry. ou na encenação de Brctnen ou na re­ do convineenfemciitc a “exibição niajs ohjeti
vista-colagem de Wilfried Minks. O comen­ va possível de um processo interno contradi­
tário de Elagin sobre Mcierltold - dc que nin­ tório como um iodo". O cenário, neste caso a
guém. no teatro europeu ou americano, pode­ Índia, não é crucial para a ação. Brechl estã
ria imaginai um iruquc cênico que Meierhold empenhado em lazer derivar dc um ato indi­
já não tivesse usado - poderia também ser vidual a validade geral. O caráter “exposickinal"
aplicado a Piscaior. visto que o teairo políti­ de seu teatro c um t e n u n t u s que Brechl insisliu
co ainda luije vive da sua pm\ isão dc "meios cm reiierar. Refere-se a unta forma dramatúrgica
extiateairais específica, ao princípio do teairo épico. Suas
- 5rW
• D t t N i i l u t i r f i M T i v íir r P r r \ t ‘t t te

caraclerístieas externas são: comenttinos inse­ instituição moral, onde cada indivíduo "des­
ridos na ação, feitos por um narrador, títulos fruta o prazer de todos", e “seu peito dá lugar
de "capítulos" em grande cartazes, máscaras e para apenas uma emoção, a de ser um ser hu­
imagens projetadas. mano”. Brecht recusa a ambos drasticamente.
A origem conceituai e didática do teatro A peça anarquista de Brechl sobre solda­
épico remonta ao circulo de Piscatot. Lion dos que voltam do f m m para casa, Tnmtmeln in
Feuchtwangcr. que em 1924 colaborou com der Nacht (Tambores na Noite), foi encenada
Brecht mima versão racionalizada, topica­ por Otto Fulckenberg em 1922. primeiiamenlc
mente atualizada, du Eduardo !!. de Marlowc. no Muilich Kammerspiele e, logo em seguida,
atribui u invenção do princípio épico a Breclll, em Berlim. O autor queria pendurar cartazes no
Alfred Ketr reivindica tê-lo definido já em recinto do auditório, com aforismos tais como
1915, quando falou do drama do futuro como “Em sua própria pele, lodo homem éxjznelluir",
um "jornal com papéis distribuídos". O pró­ ou o tão citado "Não arregale os olhos tão ro­
prio Breclit aceitou a atribuição da primazia manticamente", Eles culminavam na categóiiea
cont a autoconfiança do escritor criativo, re- afirmação: " O teatro não é um dis|tensário de
ceptivo aos sinais de sua época, processando- sucedâneos para vivências não tidas”.
os no estilo de seu tempo. Influências da psi­ Em suas anotações p;uu a ópera Aufsticg and
cologia behaviorista americana e a conexão Ftill der Stodi Maliagoimy (Ascensão e Queda
que se estabelece entre a produção de bens e da Cidade de Maliagonny), Brecht, pela p rimei -
consumo de massa deixaram marcas cm suas ra vez, dispôs a lista antitética das formas “dra­
peças, da mesma forma que as teorias do pal­ máticas" e "épicas” do teatro. A tabela que se
co tusso da agilpivp. o teatro "produtivo” ba­ tomou desde então exemplar c que foi, eom li­
seado nas funções de agitação e organização, geiras modificações, usada novamenlc por
Mas Brechl ancorava em horizontes mais Brecht cm Vcrsiiiigiuigsrheanr oder Lehr-
distantes as raízes de seus princípios estilís­ thmler'! (Teatro de Divertimento ou Teatro Di­
ticos. "Do ponto de vista estilístico", escreveu dático?). em 1936. Ver tabela na página se­
ele no início dos anos 3t>. "o teatro épico não é guinte.
mula parltciilarnteme novo. cnm sen caráter Para o trabalho de ensaios. Brecht reco­
cxposicional e sua ênfase no artístico, ele é mendava três constelações de apoios: nuidar
aparentado ati antigo asiático. Tais tendências as talas do ator para a terceira pessoa: tranqui­
didáticas são evidentes nos mistérios medie las para o passado: c incluir, na leitura das ta­
vais. assim conto no drama clássico espanhol las. as ruhrieas.
e no teatro jesuíta". Toihi ação representada adquire automa­
Foi do estudo da arte chinesa do espetá­ ticamente o caráter de um modelo. A sim.
culo que Brechl derivou a quiiuaesséiicia da D ukiiht der Smdre (Na Selva das Cidades),
encenação c representação do seu teatro épi­ esciitaem 1924, trata <ln "lulacm si", demons­
co: o eleito do distanciamento Ele se baseia trada pela obstinada prova de força cinte dois
mima neutralização completa dos meios tradi­ homens, tendo como pano de fundo a grande
cionais de expressão teatral. Manter distância cidade de Chicago Brechl amtneia sua inten­
é o primeiro mandamento, tanto para o ator ção didática logo na apresentaçãu: "Não que­
quanto para o público. Não é permitido que se bre a cabeça eom os motivos desta luta. porém
forme nenhum "campo hipnótico" entre o pal­ compartilhe dos empenhos humanos, julgue
co e a plateia. O ator não deve despertai emo­ imparcial mente a fornia de luta dos oponentes
ções no espeeiador. mas provocar sua consciên­ c dirija seu interesse para o final".
cia crítica "Em nenhum momento deve ele (o Esta nora aos espectadores antecipa a es­
ator! permitir que ocorra sua completa meta­ sência de Brecht: a função pedagógica e a
morfose na ligura da personagem, escreveu metodologia artística de seu teatro: a renúncia
Brechl em 1948. em Kieines Organtm fiir dax à psicologia em favor da exemplaridade: o
Theoter (Pequeno Órganuii para o Teatto). A apelo ã objetividade crítica. Ê uma consequên­
tradição tiristotélica é tão insustentável quanto cia lógica de seus objetivos que ele os mostre
a ideia de hdullei do palco cênico enquanto de preferência em seus heióis negativos, tal

- 5 0 5
’J 5 ,Q h;m,Iio c c iiic o ííc D tio tíei-ibcTi pir» 77'rwi;m'/pr in ih ’t •N w h t <l,mih*oies na N n iíc i.d o lí^ r itili HurdK. nu miada pc h
primeira v c/ jxm OKo FíiU konííeiy iu.> kumim.T-.iiiJi' Air MmmjiK-. W *k' sclemhm ilc 1422.
■ f)tt i\ttt a r a lis nttr ttt‘ P>'v' l ('

Tfíitn» Puiniiitieo 7i-atnf Épica


—1> p a lco i-vorMinifica um evento - ele o m u ra
- envolve o espectador numa ação e - to m a -o u ru o b s e rv a d o r, m as
- 111:1 sua atividade - desperta sua alrvirlade
- possibilita lhe sentimentos - e x ig e d ele d e c isõ e s
■ transmite-lhe vivências - transmite-lhe conhecimento
- u espectador c unerso 11a ação - é confrontado com ela
- clã è trabalhada com .sugestão - ela é trabalhada cmn argumentos
- os sentimentos são preservados como lais - são levados ao pomo do conhecimento
- o Irumem é pressuposto como algo conhecido - o h o n re m c o b je to de u m a investigaçã o
- u homem c imutável - o homem se transforma e é transfontiúvel
- tensão voltada pan o desfecho - tensão voltada para o processo
- uma cena em liinçàu ila outra - cada cena para si
- os acontecimentos desenvolvem-se num
curso linear - os acontecimentos rlesenvolvetn-se ern curvas
- luiliiui iifiu fncil satnm ■■fiici! sutídiv
- o mundo como ele c - 0 inundo com o cie se torna
- u que o h o m e m deve r.i/e i - a que o homem te tu de Tarei
- seus in stin to s - seus motivos
- o p e n s a m e n to d e te rm in a a e s is le n c in - a esislência social determina o |iensamenlo

conto podem ser encontrados, desde Nt 1 Seh a de 1943. sohre Sehweik. Transposto dn am­
das Cidades {] 924 i, ao longo dc sua obra dos biente original da Praga de Hnsek para uma di­
anos 30, até em suas grandes obras posterio­ tadura totalitária na guerra, 111te rói de Sc/neeik
res. Mtiiler Ctnmigt' nnd ihre Kinder (Mãe Co­ ini Zieriten Weltkrieg (Sehweik na Segunda
ragem e seus Filhos j - encenada pelu primeira Guerra Mundial) é um daqueles que marcham
ver em 1941. sob a direção de L eopold para Stalingrado. que precisam levar a própria
Lindlbcrg em Zurique, n corajoso refúgio do pele pata o campo de batalha, e assim forne­
teatro dc língua alemã no exílio - não preten­ cer o couro para o tambor. Brcclit cltamou-o
de provocar compaixão, mas promover o co­ de contraponto à Mãe Coragem e o concebeu
nhecimento e a condenação da exploração da de maneira intnlo inais cortante nesta ocasião
guerra. Quando Mãe Coragem enfia a mão no do que na montagem Je 1927. feita por Pis-
bolso a llm de entregar suas ultimas moedas catot. dn original dc Hnsek. O Hum Saldado
para o luneral de seu último li lho. ela ma rapi­ Sihweik. A peça estreou, com canções musi­
damente algumas: pois a guerra cnminua. e cadas por l lanns EixJer. em Varsóvia, em 1937.
um ano depois da morte de Bnecht.
A sucria ruii» c•xcn;n> lint iv jífV t».
As canções tiveram um papel importante
L*mvg/. dc %cr u>»i ijucrtt). t*çimi cfuimho
Ia H' O LUxIl t tlllld^SN,l ItM* nas peças de Btecht, desde o início. Elas inter­
niVHM iif.is n.i |)ui;ulii il;i viliina. rompem a ação, marcam a pausa, que às vezes
c anunciada por um gongo. Em Dreignvn he-
Therese Ciehse em Zurique e Munique, e noper (A Ópera dos Três Vinléns). e em A.s-
a esposa de Brcchl. Helene Wciycl. 110 Heiíinei eensáa e Queda da Cidade de Mahagoinn-,
Theater no Schiffhuuerdaiiim. fizeram da Mãe somam-se à música "culinária" dc teatro, em ­
Coragem uma figura inesquecível, sem parale­ bora Urechl pretendesse que ela fosse “anli-
lo ent sett poder de impacto atual e agressivo. ctilinária". A bicentenária B eg g a r\ Opera
O desempenho modelar do líeilitter linsem íOpctu dos Mendigos), com tuna função didá­
ble, com Heleno Weigel, li 11 filmado, osiando tica nova em rolha, teve um retomo brilhante
assim disponível conto regisiro. em I92S como .4 Ópera dos Três Vinléns. No
A objetivaçãu crítica c também a imen­ Tfieater am Schiffbaueidnmin, em Berlim.
ção Je /.<'bvi,1 des Geditei IA Vida de Cralileu Lolte Letiva. F.ncti Ponto e Roma Baliu asse­
Galilcí), Je Herr TuutiUt uudsein Kiirchl Muni guraram um grande sucesso para Benolt Hreclil
(O Senhor Puntila c seu Ctiailo Maná I e da peça e seu compositor Kurt VVeill. Mas foi um iriun-
48, Charles i-aughtnn rui montagem de A Wtla de Gaiileu, de Brechl, dirigida pelo autor, no Coronel Theatei, Los,
Angclci. 194?.

49. D>vi}intschenfit>er IA Opera dns Trè* Vinténs), de Qreciii, no Kauimcrspiclc iic Minu^ue. 1929. Direçãrv Jian>
Sirhweiknrt, com Kwi Uoivnl* como Mnchcnlh. Thcnjst; Gieh.se como Sia, Píadiw m Maria Bínd como Polly e HcrU
[Jrews couto Jen/tv. Cenário de Campar Neltcr,
H iM iir iíj 1 it u T rn tn r '

fo contrário is intenções de Brecht. O dedo bados até que a completa infra-estrulura dessas
indicador erguido em acusação ficou submerso ideologias seja à força alterada".
sob o deleite do público com o romantismo de O sistema de brechtiano da fonna aberta,
gangstere de bordel. As pessoas divettiam-se isto é, com um futuro opcionalmente prorro­
deliciosameme, as canções davam a volta, e a gável, desafia o dogmatismo ideológico. Ele
provocação ficava fora. A proposta didática pretende que seus incidentes dramatizados se­
havia sido parodiar a ópera romântica burgue­ jam compreendidos como situações exibidas
sa, com seus próprios meios, e transformá-la, de um "acidente social", como ações que po­
de entretenimento, num orgâo de informação. dem ser prolongadas à vontade. "Sentimo-nos
Esta proposta falhou. Brecht, o artista. vence­ desapontados, c nos levantamos com desalen­
ra Brecht. o teórico. to quando a cortina se fecha, e nossas pergun­
O escândalo e a controvérsia que não hou­ tas permanecem penduradas no ar”, como ele
ve nesta ocasião aconteceram dois anos ma is próprio diz no epílogo da peça parábola Dergute
tarde, com a estreia em Lctpzig de Ascensão e Mensch vou Sezuan (A Alma Boa de Setsuan).
Queda da Cidade de Mahagonny. A agres­ As peças de Brecht não apresentam pala­
sividade deliberada de Brecht rompeu a em­ vras de ordem - desmascaram fatos. A lição é
balagem do meio de entretenimento operístico. rompida em múltiplas refrações irónicas e con­
A denúncia cínica da sociedade capitalista lo­ duz o espectador por trechos de rica e áspera
grou seu intento. Quarenta anos mais tarde, poesia. Brecht sempre recorre à parábola, que
quando Brecht foi promovido a clássico do tea­ c uni modo de guinar a ilusão - modo que Max
tro moderno —com “a penetrante falta de efei­ Frisch e Friedrich Dúnenmatt também perse­
to de um clássico", como Max Frisch gracejou guiram, cada qual em seu próprio caminho.
- os diretores retomaram com predileção as
óperas "culinárias" de Brecht, como, por exem­ Técni cas d o T e a t r o Épico:
plo, a encenação feita por Giiniher Rennert de O P a l c o tt o P a l c o
Mahagonny. cm 1967. em Sttuigart. com Anja
Silja, Martlia Mõdl e Geriu rd Stolze. A rupmru diamatúrgica da ilusão teatral, a
Com dialética brilhante. Brecht negou, por peça dentro da peça, a inserção do discurso di­
fim, que pretendesse "emigrar do reino do reto ao púbiico, o pronunciamento de senten­
agradável'1. Lacónica me me, ele admitiu que o ças críticas ou didáticas e canções sobre teinas
caráter didático de seu teatro épico não preci­ da época - todos são expedientes que o teatro
sa necessariamente excluir os aspectos burgue­ conheceu e usou por milhares de anos. desde a
ses da beleza e da fruição. Fez as pazes enlre j j í im iit t s is da velha comédia ática à canção de
os irmãos distanciados, 'Teatro" e "Diversão", Salomão em A Ópera dos Três Vinténs. Sob o
porque "nosso teatro precisa provocar o pra­ signo da ironia romântica, o drama extraiu cen­
zer no conhecimento, organizar a brincadeira, telhas poéticas do salto entre o infinito e o finíli i
u alegriu da mudança da realidade. e usou o teatro dentro do teatro para pnlemi zar.
Brecht. todavia, não mudou decisivamen- "Se devo dizer qual é minha efetiva opinião,
le a função social do teatro mas. sm , o próprio vejo a coisa toda como um truque para difun­
teatro e o drama. Sua proposta de denunciar e dir opiniões e insinuações entre as pessoas.
abolir a.s contradições económicas e sociais da Vocês verão se estou certo ou não. Uma peça
sociedade burguesa pressupunha, atires de tudo, revolucionária, na medida em que a entendo,
a convenção como o oponente indispensável, com monarcas e ministros horríveis...” Estas li­
que cumpria desafiar, e o espectador deveria ser nhas são encontradas. não numa peça política do
transformado, de um observador saborcante século XX. mas cm 1797, num ataque jxirodístico
num parceiro especulativo. Consequentcmen- ao lluniinismo de Berlim, Der Gcsliefclte Kincr
te, "nossas peças não são definitivas ou. Talan­ (O Gaio de Botas), uma peça dc Ludwig Tieck.
do francamente. são inacabadas", e a razão c Os personagens da Camnedia deli 'arte e
que "o conjunto de todos os complexos concei­ da mascarada agem como forças atemporais,
tos necessários para a sua compreensão sãn ain­ aiiti ilusionistas, quer em seu próprio nome, como
da muito vagos c precisam permanecer inaca­• nas famosas montagens dc Goidoni e Gozzi,

• SíO
• D o fV iiU ltiilrM IK t ttt* P lV S fltfi1

por Max Remhardt, Evg(u)eni Vakhtítngov ou guns dos manifestantes irrompem no ensaio,
G iorgio Strehler, ou ainda como figuras O "Chefe" distribui os rebeldes em seu elen­
"clnwncscas" intercambiáveis, despersona­ co, tenta refundir suas emoções em teairo, en­
lizadas e neutralizadas, como na niilista Espe­ carando a realidade como o material bruto para
rando Gfklot, de Samuel Beckett (1954). a sua montagem.
No limiar do moderno teatro, antiiiu- PeterWeiss usou um esquema análogo em
sionista, encontramos Ltiigi Pirandello, Já em Die Verfolgnng mui Emwrdung Jeoit Paul
1918, sua peça-parábola Cosi è (se vi pare) Manos, dargesielh durch die Sdum spiel-
(Assim É [se lhes Parece]), levantou a questão gruppe des Hospis.es z» Charenton nnter
basicamente insolúvel de ser e parecer. O pro­ Aiiieinmg des H erm de Sade (A Perseguição
blema da identidade fragmentada levou-o. do e o Assassinato de Jean Paul Maral Represen­
drama Enrico IV, à sua obra mais conhecida e tada pelo Grupo de Atores do Hospício de
de maior sucesso. Sei Persoiiaggi in ceiva Charenton sob a Direção do Marquês de Sade).
ri'aurore (Seis Personagens ã Procura de um Já com a natureza de seu título, ele nos dá a
Autor). Os seis personagens são membros de conhecer o duplo chão dc seu jogo de moldu­
uma família decadeute de classe média - ima­ ras, que culmina na luta furiosa dos loucos in­
ginada como material dramático cru e não ternados no asilo, a quem nada inibe.
completamente elaborado - que invade o pal­ 0 teatro no teairo oferece uma oportuni­
co durante um ensaio. Eles representam seu dade de apresentar dramaiurgicainente o fa­
próprio destino para o pessoal do teatro, e os miliar como estranho, empurrando-o para a
comediantes tentam, por sua vez, reproduzir distância, na acepção breehtiana. dando-lhe
"a vida real"- Dois, três, até mesmo quatro ní­ uma refração irónica, inlerpretando-o "epi-
veis de consciência sobrepõem-se. O conflito eamente" com o auxílio do diretor, locutor,
entre a realidade e a ilusão, entre a vida e a narrador ou do coro. Os dois mais importantes
forma, é lançado abe ri umente. Quando o dire­ dramaturgos do século XX que Iriiharam uma
tor. no final, manda embora os espectadores, senda análoga à do princípio épico de Brecht
para continuar a ensaiar, ntrás das cortinas, "a são Thornlon Wilder e Paul Claudel. ambos
peça que ainda está por ser feita", a questão da muito diferentes entre si na sua orientação em
■'verdade" humana remanesce tão aberta quan­ termos de visão de mundo e diametral mente
to a de Brecht no tocame á revisão futura das opostos a Brecht.
relações sociais. Wilder vem de um backgmundde convic­
O esquema formal de Pirandello. o de si­ ções quielistas, luimamstico-rcligiosus, e é
tuar sua ação nu moldura de um ensaio leatral, nesta direção que aponta o seu gestns indi­
propagou-se em um sem-número de ecos, O cativo. Mas no que diz respeito ao intento de
dramaturgo americano Maxwell Anderson o "des-iludir* o palco, ele é, pode-se dizer, mais
tomou emprestado para a sua Joait ofLormine rigoroso que Brecht. Prefere um palco inleiru-
(Joana de Lorena). Dentro das dúvidas e re­ mente despido cie cénario, arranjando-se com
ceios da primeira atriz, ele gradual mente in­ uma mesa e algumas cadeiras que, como nos
troduz os problemas humanos da Joana D'Are jogos infantis, servem de canos ou trens, O
histórica, junta mente com os de sua intérprete narrador explica a cena e os aconteci mentos,
moderna, e encontra paralelos atemporais e re­ apresenta as personagens co-aluantes e inter-
correntes entre o passado e o presente. prela os incidentes episódicos da vida real, pura
Outro exemplo nos é dado por Glinter revelá-los como pequenas parábolas do gran­
Grass com sua "tragédia alemã" de 17 de ju ­ de curso de toda a existência.
nho de 1953. Die Plebejerjiroben den Atifstaml Se em O n r Ttnvn (Nossa Cidade) í 1938),
(Os Plebeus Ensaiam a Revolta). Grass traba­ Wilder nos oferece o mundo numa casca de
lha em ucs níveis. No palco do teatro, ensaia- noz, a cidadezinha de GtoverN Conter, em The
se Corioiann, de Shakespeare; o encenador é Skin o f Cur TeerU (Por um Triz) (1942). ele
o "Chefe", isto é, Bcrtolt Brechi, que escreveu tenta abranger o drama da humanidade em cin­
uma adaptação dc Coriolano. Fora, na rua. está co mil anus de história do mundo. A idade do
em curso a rebelião dos trabalhadores, e al­ gelo, o dilúvio e o bombardeio da Guerra Mun-

* >11
50, Cenário de Woltgíing ZnunicMactk paru amontugem Ue Friedrich Domiii de O Chinelode Puttl Cluudel.
no Kiimnvírspicki de Munique., 1947
1

• í i u N u tu r iilÍ M u tf u r> iU is v n h -

dial são as grandes catástrofes das quais o pro­ S how B u s in e s s na B r o a d w a y


tótipo da família média de Wilder escapa "por
um triz”. e depois das quais toma a reunir-se e
:t recuperar-se das ruínas restantes, seguindo A fórmula medular de Mas Reinliatdt para
adiante num novo começo, para velhos con­ o teatro de Nova York era "divertimento como
flitos. Na Europa exangue do pós-guerra, esta negócio". Comparando-o a quatro importan­
peça refletida e pertinente, na qual os atores tes centros teatrais europeus, ele observou que
ficam saindo de seus papéis para recair na rea- o prazer artístico era predominante em Paris,
lidade. causou grande impressão. Karl Heinz que o prazer seusorial dominava o palco em
Svroux encenou-a cin 1946 no Teatro Hebbel, Viena, que em Berlim “um trabalho inaudito
e ninguém que tenha visto o espetáculo, entre preparava a batalha entre atores e espectado­
as ruínas de Berlim, é capaz de esquecê-lo, res críticos'1e que em Moscou tanto os atores
As experiências dramaíúrgicas de Paul quanto o público tinham uma dedicação qua­
Clandel com o teatro épico remontam no ano de se religiosa à arte do teatro.
1927. Quando, a pedido de Max Reinhurdt e ten­ No que diz respeito tanto à forma quanto
do como iíbretista de Dantis Miihaud. Claudel a substância, durante dois séculos os teatros
começou a escrever seu Chrisinphe Colomb, da América do Noite recorreram a modelos
optou por um mediador entre o palco e a plateia europeus. Logo, porém, mostraram maior ha­
nu pessoa do narrador. Colocou-o ao lado do bilidade em fazer o teatro dar certo como em ­
palco, com um livro aberto apoiado numa es­ preendimento comercial. Nas palavras da fa­
tante: Lf Livre de Chri.stuphe Colojub (O Livrn mosa canção de Irving Bei lin, os americanos
de Cristóvão Colombo) íeste é o título da ver­ descobriram que riicieA lio bii.íi/ie.vv tike Show
são revisada, produzida por Jeun-Louis BarramIt hnsiness ("não há negócio como o negócio do
e publicada em Ió5j em Bordeaux.) O explora- show"i.
dor é dividido em duns figuras - um ancião do­ Vários aspectos da cena americana foram
ente que se aproxima, no lado du narrador, e sen­ discutidos previamente com relação aos dife­
ta-se. paruo próprio julgamento, num nível “neu­ rentes géneros dramáticos, mas o capítulo se­
tro” de espaço e tempo; e o jovem navegador guinte diz respeito, suei mamente, ao teatro en­
que singra os mares para descobrir a América, quanto xlttnv hiixinexs, nu ucepção que acabou
Um solene Aleluia é cantado pelo coro para cnn- sendo exemplificada pela Broadway,
clttit a alegoria, enquanto em uma teia o pere­ Em bora, para o bem nu pura o mui.
grino Tiago e a Mãe de Deus aparecem Nova York seja hoje o centro teatral incontes­
Chri.itopht' Ctdtwtb* de Claudel. íni vista tável dos EUA e poucas peças possam ser
durante muito tempo como o modelo almeja­ bein-sttcedida.s sem a chancela de uma pro­
do de reutro total, em contraposição á peça re­ dução nesta cidade, as origens do teatro pro­
volucionária. que se propõe a apresentar uma fissional americano devem ser procuradas nu
visão religiosa do mundo com meios moder­ cidade vizinha e por um longo tempo rival:
nos. Esta abordagem volta, em larga escala, Filadélfia. Nu verdade. foi ali que a primeira
em l.c Soidiei Je Stirin IA Sapatilha de Ce­ peça escrita na América para sei montada
tim); aqui. Claudel, inspirando-se no drama por uma companhia profissional de atores,
barroco espanhol, caminha entre o mistério e The P rim e o f Pmihin tO Príncipe de Partia),
a farsa numa poderosa obra-prima de imagi­ de Tlumias Coclitey Jr., estreou em 1767 no
nação e linguagem. Pantomimas, dança e Soulhwiirk Thcatre, o primeiro teatro permu-
esqtietes. interlúdios alegóricos e filosóficos nenle dos Estados Unidos, Tragédia em ver­
alinham-se entre a peça religiosa do século so, com um cenário exótico, tratava, de uivui
XVII e as formas modernas de expressão. Fica maneira que inua cl ura mente sua inspiração
a critério do diretor te dos recursos financei­ shakespeariami. da rivalidade principesca en­
ros à sua disposição) intensificar verbal mente tre dois irmãos. Houve apenas uma represen­
a peça num palco tut. nu transformá-la num tação.
grande espetáculo com a ajuda de todos os re­ .Assaz proferiearnenle. entretanto, Nova
cursos técnicos do teatro moderno. York foi o cenário du primeira comédia nativa

* s/.t
H iM è r ia M t i t t d i u i 1/ Tentie *

da América, Tlie Çonlrast (O Contraste}. 1787, Foi no Park Theaire que William Dunlap.
de Royall Tyler. Nela, o autor lisonjeava seus dramaturgo e autor da pioneira Histary o fth e
compatriotas, no país recém-independente, American Theaire (História do Teatro Ameri­
com uma história envolvendo a competição cano) 118321, ofereceu o mais estimulante car­
romântica entre Billy Dimple, um anglófilo dápio teatral da cidade. Sua grande atração e
de desconcertante facilidade com as mulhe­ bilheteria era Kotzebue, cujas peças eram vis­
res, e o Coronel Manly. um leal oficial revo­ tas como aplicações introdutórias de idéins das
lucionário, pelo amor de uma pura garota Revoluções Francesa e Americana. Na tem­
americana. Comédia ainda encenável, mas não porada de 1799-1800, foram m ontadas
muito frequcntemeute encenada, sua popula­ qtiatorze peças de Kotzebue em Nova York.
ridade e importância devem-se à introdução, Produzida anonimamente, um dos sucessos de
na peça, do primeiro personagem teatral tipi­ Dunlap etn 1799, The halian Falhei (O Pai
camente americano - Jonarhan. servo do Co­ Italiano) foi também atribuída por muita gen­
ronel Manly. Sua visão da vida, direta, práti­ te a Kotzebue. até que Dunlap reconheceu sua
ca e rural fariam dele o protótipo de centenas dívida para com The Honest Whare (A Prosti­
de Figuras similares na ficção, no drama, nos tuta Honesta), de Thomas Dekker. Dunlap
filmes e nas comédias musicais. adaptou também Oon Carlas, de Schiiler. La
Embora hoje esteja cm moda dizer que o Fenime à deux Maris (A Mulher com Dois
teatro da 13roadway é tão antigo quanto o ci­ Maridos; de Pixerécourt, c uma variedade de
nema e tenha emergido em condições pareci­ peças de autores populares europeus. Houve,
das, suas origens são. na verdade, considera­ além disso, um 11uxo constante de rem on­
velmente ruais antigas. As práticas comerci­ tagens de Shakespeare.
ais. a administração, as tendências para 0 Não era costume então de nenhum teatro
perfeccionismo, O princípio do ttctr e o siste­ concentrar-se exclusivamente seja 110 drama
ma de longa temporada vigentes na Broadway ou na ópera. Encenava-se o que prometesse
foram desenvolvidos já no século XIX, Gran­ casa cheia. Um grupo de ópera italiano, sob a
des atores e cantores, cuja apresentação po­ direção tle Monlrésor. lotou o Riehmond Hill
dia assegurar um sucesso sensacional, foram Theaire de Nova York por três meses em 1832.
trazidos da Europa. Ao longo dos anos c pelo num total de irima e cinco récitas, O conse­
século XX adentro, astros como os Kembles, lheiro ariístic o do em preendim ento foi
Sarah Bernhardl, Coquelin. Jenny Lind, Lurenzo da Ponte, outroru amigu e libretista
Eleonora Duse. Caruso e FUcliará Tauber re­ de Mozart.
peliram seus triunfos europeus no palco ame­ Em Lomsvillc, Kentucky, cm 1828, o ator
ricano. Thomas D. Rice. indicado para ntierpretar um
Comediantes e colonizadores cruzaram trabalhador negro do campo num melodrama
juntos o Atlântico. O contingente teatral foi locai, observou um velho negro cantando e
conduzido pelos chefes dos pioneiros, e suas dançando do lado de fora do teatro. Ficou tão
trmtpes chegaram logo, liem providas em nú­ tutnndo pela situação, que a incorporou a seu
mero de atores e rapidamente: em 1750. papel, e de sua bem-sucedida inleiprelação da
Murray e Kean; em 1751. Roberl Uplon; em caução Jinii/i Jim Orne. com o rosto pintado
1752, Wiuiam e I.ewis Hallam. Nos dias de de preto, nasceu n Hií«.ffrc/ shtnr. A moda pe­
George Washington - um defensor do teatro, gou como fogo na palha, e em 1843 um novo
quando vivo. e que mais tarde seria glorifica­ com petidor 110 show buxiness, o Virgin ia
do como herói de inúmeras peças seitl sucesso Minstrel Show. fez sua estréia no Bmvery
- Nova York já podia vangloriar-se de possuir Amphithcater de Nova York. O programa con-
muitos teatros permanentes. inclusive o John sislia em uma mistura senti mental de baladas,
Slreet Theaire, onde ocorreu a estréía de O números musicais c diálogos curiós: a música
Contraste levada pela American Company, o era fornecida por banjos, violinos, castanho­
literariamente ambicioso Park Theaire. e o las e pandeiros, Logo, apresentava-se ininMrcI
Ricetts Circus aclamado como o "novo e cô­ shtiwx em todo 0 país. Atores brancos, com o
modo anfiteatro”. rosto pintado de preto, divertiam plateias com
/> » * N titu n x lism o ut* P r e w n i c

uma paródia da vida dos negros, que se toma­ Por causa do já poderoso .v/ur sisteni. mui­
ria uma tradição difícil de destruir. tas das melhores primeiras peças americanas
Em 1847, a situação do teatro de Nova foram escritas como veículos para atores fa­
York era tal que Walt Whitman. escrevendo no mosos. Além disso, cenários exóticos ainda
Brooklyn Eogle, estigmatizou todos OS teatros, agradavam muito. Antes de descobrir que a
com exceção do Park, como "lugares baixos falta de leis sobre direitos autorais tornavam
onde a vulgaridade (não apenas no palco, mas precária a subsistência do autor, Robert
diante dele) predomina, e o mau gosto triunfa Monigomery Bi rd. um dos melhores drama­
com poucos pontos favoráveis qite diminuam turgos românticos dos primórdios, escreveu
sua grosseria”. Até mesmo o Park, dizia ele, para Edwin Forres! peças como The Gladiator
proporciona somente "imitações de terceira ÍO Gladiador). 1831. uma história sobre Espár-
ciasse dos melhores teatros de Londres. Ence­ taco e a Roma antiga, na qual predominavam
na os dramas recusados e os atores desempre­ sentimentos abolicionistas, e The Broker o f
gados da Grã-Bretanha, c nestes dramas e ato­ Bogola (O Agente de Bogotá) ( 1834). um tu­
res, da mesma forma que trajes de segunda mão multuoso drama passado na Colômbia.
dados pelo cavalheiro ao valete, tudo cai desa- Porém, o texto "importado" continuava a
jeiladameiue”. dominar na Broadway. Essa preferência refle­
Whilman estava sendo, talvez, algo in jus­ te-se no preambulo ao "sucesso inequivoca­
to. mas ele pôs o dedo nas duas forças mo­ mente brilhante" de Fashian. or Life in New
trizes do teatro americano de sua época: a já York (M oda. ou A Vida em Nova York), de
demasiado opressiva e deciinante tradição in­ Anna Mowatt ia descrição é da própria auto­
glesa e a tendência a ficar no slur svsieni. "Al­ ra, porém justificada), que lotou o Park por
guns atores ou atrizes passam pelo país, traba­ várias semanas em 1845. Correndo os olhos
lhando uma semana aqui e outra ali, trazendo por um anúncio da peça m> jornal, o Prólogo
conto sua maior referência a novidade - e comenta cm verso: 'Bali1. Calicôs feitos em
muito ire quente mente nenhuma outra.'' Nos casa podem ser bons o suficiente / Mas dra­
intervalos entre estas apresentações de \ inuo- mas feiios em casa são neeessaríumentv uma
os teatros ficavam sempre vazios, a des coisa estúpida / Se tiver a estampa London. ai
peito do fato de que excelentes companhias sim..." A peça não era só planta de casa. mas
de repertório locais estivessem muitas vezes escrita por uma imilher]
encenando peças interessantes. inspirando-se em O Comrasie. de Tyler. e
Apesar das repreensões de Whiiinun, u dc The St him /for Seandid (Escola do Escân­
drama americano mostrou considerável vitali­ dalo». de Shertdim. a Sra. Mmvalt api esentavn
dade e habilidade no emprego de elementos uma intriga em que as virtudes nativas eram
nativos. No Cheslnul Street Theaire. em Fila­ contrastadas com a desonestidade estrangeira.
délfia. James Nelson Barker apresentou 77te O honesto Adam Trueman. convidado rural da
liuikin Prmcess, ar Lu Betle Sativage t A Prin­ atrapalhada sra. Tiffany. que espera casar sua
cesa índia, ou A Bela Selvagemi (1808): um filha com o conde Jolimaitre - "uma importa­
conto de Pocahontíts. a jovem indígena que ção europeia em moda” - é uma reencumação
teria se apaixonado pelo Capitão Smith e por reconhecível do Jonnlhan. de Tyler.
isso salvo ;i sua vida. foi o primeiro drama en­ Opondo-se ã tendência da comédia, do
cenado na América que utilizava personagens melodrama exótico e da celebração das virtu­
índios. No ano seguinte, a peça loi apresenta­ des democráticas, assinalam-se as tragédias
da no Park e em seguida cm teatros de lodo o patrícias em verso de George llenrv Boker, que
país. Sua lama difundiu-se tamo que conse­ desenvolveu a tradição inaugurada em Filadél­
guiu a distinção de urna montagem adulterada fia com O Piíncipe de Pomo. de Godlrev. Ele
e pirateada nu Druiv Lane. em Londres, cm próprio um filadelfiano. Boker seguiu u con­
182(1. Alem de muitas adaptações de peças, selho que ifern ao poeta Richard Ueury
novelas e poemas europeus. Barker lambem Sloddard: "Afaste-se para o tnais longe possí­
escreveu Supcrstiium (Superstição). 1824. um vel de sua época". A mclltor dc suas peças é
drama sobre a intolerância puritana. sem dúvida Fruiu est o do itiiniiii (1855). que

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U iM it r f it ' ' . - r : r : t io T f ilt t o

permanece como o mais tino tratamento dado inventou um trem endo sucesso du .rfioir
no drama inglês aos amantes condenados de Jw.wte.tt, que se nratueve no pateo pelas três
Daute. décadas seguintes, a despeito dos ataques do
Conforme Whitman havia observado, es­ púlpito e da imprensa.
petáculos inovadores e vtrluosíslicos continua­ Airiinjado com as exigências da Broadway
ram a dominar o teatro em Nova York. Quan­ em mente, o musical floresceria ati, ao lado
do. por exemplo. Edvvin Btwith. em parceria do .v/ime de variedades, onde u canto, u dança
com um homem de negócios de Boston, abriu e os atos curtos de vários tipos eram amarra­
seu novo teatro em 1869. Nova York engalti- dos um no outro sem o intuito de desenvolver
nhmi-se pelos ingressos. i|uc foram leiloados uma história linear. Foi no recém-inaugurad»
a preços superiores a US$ 125. A noite da teatro de Florenz Ziegfeld, cujo espetacular
prãnier no teatro de Booth causou tripla sen­ Zigfcld FoHica havia começado, em 1607, a
sação: a magnificência da casa. o equipamen­ "glorificar n garota americana", que o musical
to lêcmco promissor - que incluía alçapões americano alcançou um novo pico com Show
hidráulicos - e a lembrança do irmão de Edwin. B o a t (1927). Baseado no romance sentimen­
John Wilkes btoolh, n assassino do presidente tal de Edna Perbei. do ano anterior, apresen­
Lincoln. tava um libreto de Oscar Hammerstcin e mú­
Descrito, com a projsensão americana para sica de Jerome Kern. Sun canção de impacto
a hipérbole, como "o maior sucesso du mun­ OTMan Ri ver arrecadai ia milhões para o tea­
do". a dramatização do romance abolicionista tro e as gravadoras.
U ndf Tom\ Cohin (A Cubana do Pai Tomás) Seu sucesso, entretanto, seria ofuscado, em
de Han iel Becchei' Sinwe, estreem nu Musetim 1943, por OkUihiiwitl, musical baseado nn cn-
The ater em Truy. Nova York. em 1852, Um média fttlk G irai Grou- lhe /Jhtes (Os Lilases
efetivo êxito, toi transferida no ano seguinte Crescem Verdes), de Lynn Riggs. datada de
paraoPuidv s National Theatre em Nova York. 19 3 1. A peça inrnxluzui uma tendência em que
Perene lavo ruo. no curso dos anos, este espar­ ii coreografia desempenharia um papel cada vez
ramado ataque à escravidão em seis atos de mais ímponante. Por causa da fabulosa combi­
«envolveu vida pró pua. Seu tema. da desuma­ nação de diálogos, canções, bnlé e rilmus sedu-
nidade do homem para com o homem, era re­ toramente orquestrados. Okltihonui\ quebtoLi
vestido de uma variedade de efeitos cênicos todos os recordes de bilheteria, atingindo 2250
espetaculares, e acom pau liado de danças e catl apresentações somente cm Nova York. No m-
çõe.i com baniu foi linalmente encenado, em icrvalo enlre Show R,no e Okhthomo1entraram
1881, luiin.i produção de P, T. Buimunc James em cartaz as efervescentes comedias musicais
A. Bailcy, de inmn circense. Esta apresenta­ de GeorgcGeisIwiii: Strike Up thc Bom! (1930)
ção tornou-se assim, de cena forma, um an­ c Of Thee i ,Siíift i [93 I ) i com libreto de Genrge
cestral da grande enniribuiçâu da América pap a S. Kanlman). o primeiro deste gênero a ganhar
o palco: o desenvolvi mento. pn>-Guerra Civil, um Prémio Pulitzer
do musical. O musical americano alcançou êxito in­
Porém, a verdadeira tome deste gênero ternacional e triunfou sobre os vestígios da "era
nativo é provavelmente The Bhuk Cirmk lO de praia” da opereta, quando obras de Johaiin
Trapaceiro Negro), de Charles M. Barras, que Strauss. Franz Lehar. Frarz vou Suppé, Nico
estreou em 1K6Í» para o encantado aplauso dos Doslal c Emiucrích Kalman floresciam no
nova-iorqttinos no Nihltfs Garden. A monta­ Oaristheater e noTheater nn der Wien. em Vie­
gem deu-se como resultado do um foi tuim aci­ na, e no Metropol, em Berlim.
dente. que pôs cm dificuldade um corpo de Ao desenvolver o musical. ;i Broadway
baile em Nova York, após o teatro onde espe­ curvou-se ao desejo do público de uma forma
ravam atuar ter pegado liigo - um aconteci­ especificnmente am ericana de expressão.
mento contemporâneo contuin. Combinando Como exprimiu o tato Gtdeon F-ieud, esta é
belas bailarinas escassamente vestidas com um uniu forilra que "a America inventou a lim de
melodrama a envolver es|VUictilaies exibições desabafar em grande escala Seu estilo é flu­
cênicas, o adiminslradoí do Niblo - Gurdcn tuante e até agota não atingiu nenhum caráter
5 /(i
* D<* Ntilurtilim ão a o P rc\en w

final. É Ião novo, barulhento e Ião fora de qual­ dão indicação segura de como a Broadway rea­
quer padrão quanto o continente que o o ri­ girá, e estreias etn Nova York são um negócio
ginou”. tenso para os "anjos" —os investidores finan­
Percebendo que nada mais poderia ser ceiros. Se a primeira noite é um fracasso, ntdo
extraído dos velhos c sentimentais clichés, a está perdido; se é um estrondoso sucesso, os lú­
Broadway recordou-se das bibliotecas e entre­ cios aumentam como urna bola de neve. A apos­
gou-se aos modelos literários, rcinterprciaiido ta está entre o êxito estrondoso e o malogro to­
os clássicos contemporaneamente; Kiss me tal; There's no bmtinexM lihe shme business.
Kate (Beije-me, Kale). 1948, baseado em .4 Um pouco menos espetacular que o de­
Megera Domada, de Shakespeaie; Wt.w Side senvolvimento do musical foi a evolução após
S to n . 1957. inspirado em Romeu e Jidieio: c a Guerra Civil do drama, que começou, num
My Fair Lady, 1956. inspirado etn Pigmaleão certo senlido, com o sucesso brilhante, um ano
de G. B. Sliarv, Caudide (1956), baseado no antes do conflito, de The Ocmroon (O Oicavão)
rumance satírico de Voltaire. destacava um ( 1859), de Dion Boucicault, um drama sobre
libreto de Lillian Hellman, uma partitura dc o amor de um homem branco c uma jovem
Leonard Bernstcin; e canções com letra de inutara livre Alur-aulor irlandês, que veio pura
Richard Willnir. John Lalouche e Dorolhy Nova York após ter estabelecido sua reputa­
Parker. Embora este musical haja atingido no­ ção em Londres, Boucicault linha um senso
vos cimos cm termo de habilidade Itieráiia c seguro do teatro como entreteninientu. Embo­
humor, foi um fracasso financeiro. Continuou, ra sua peça tratasse de problemas sociais que
entretanto, a desfrutar de uma vida oculta, cm continuam a rondar os Estados Unidos, sua
forma de gravação. ênfase - como grande parte do teatro social
Tentativas de trazer o musical da Broad­ que se seguiria —estava no sentimento. Alem
way pura mais perloda ópera- Porgyatul Bexs. disso, oferecia um certo mimem de cenas es­
de Gershwin (1935). baseado no romance petaculares, que iam desde uni leilão dc escra­
Porgx. de Dubose Hcyward, e Strct! Seene vos até um navio a vapor se incendiando.
(Cena de Rua (, de Kurt Weil I (1947), cutn base Boucicailll lambem teve parte num dos
na peça homónima de Elmu Rice, c com mais famosos sucessos do palco americano
plemcntada por canções com leiras do poeia quando colaborou com Joseph Jefferson III
Langston lluglies - inicial mente tiveram su­ tla última adaplaçãn da clássica história de
cesso financeiro limitado, mas são ainda revi Washington Irving. Rip Vau UtoUc (João Pes­
vidas. Em 1950. Ptogy tmd Hess e.xctirsionou tana). A peça estreou original mente em Lon
com muito êxito pela Europa, levado por um dri-s, tnn 1865, mas fot logo transferida para
elenco todo de atores negros, que atuou inclu­ Nova York e logo depois para ou lias parles
sive em Moscou, Posleriormente, dentre os mu­ do pais. No decorrer dos anos. Jefferson. se­
sicais americanos que tiveram sucesso inter­ guindo os passos de seu pai e avó (arnosos,
nacional figurou Fiildlcrun tile l Um Vi­ que haviam apresentado adaptações anterio­
olinista no Telhado). 1964. baseado nas histó­ res da história de Irving, alterou muitas Ve­
rias imortais de SeholcmAletkhem sobre a vida zes a peça.
de Tevie, o Leiteiro, numa aldeia russa pré- Pode-se dizer que o realismo no lenho
Primeira Guerra Mundial —dirigido e coreo- americano data do "ousado" tratamento dado
gi rifado pot Jeromc Robbins. e Hair, 1969, uma ás consequências do adultério, por James A.
mnt-celehração do misticismo e protesto do He me em Morgorei Fleming (1890), que leve
mundo hippie. uma única matinée nu PalmerThealrede Nova
A Broadway produz pelo menos dez no­ York. um ano depois de sutis primeiras apre­
vos musicais a cada ano, tendendo reccnlemeti- sentações em Lynn, Massachusetts Um admi.
te a produzir ]rouca coisa a mais, Os investi­ rador apaixonado de Ibsen, o iitor-aulm Merne
mentos podem facilmente chegar n mais de meto despiu seu drama dc muitas das convenções
milhão de dólares com atores, músicos, ceno­ teatrais da época com vistas aos favores das
grafia e coreografias. Pouquíssimos musicais plateias da Broadway, mas a peça rara mente
fazem sucesso. Testes em cidades t>eqiienas não chegou a ser reenccnuda, mesmo depois que

• 5 /7
ti i.o ãr iít ‘ O . ; í. ! tf a T t t t t m •

ele reescreveu o último aio, a fim de sugeru profundamente em The Threr o f Us (Nós Três),
uma possível reconciliarão entre mando e 1906. de Rache! Crothers, u primeiro de unta
mulher. Antcriormenle. em sua carreira, Herne série de dramas e comédias nos quais n autora
dividirão palco com David Belasco, o brilhante examinava questões sociais do ponto de vista
ator, diretor c draniitlurgo cujas noções de rea­ feminino. As Hiixhimd.'; Go (Quando os Mari­
lismo. de um teor mnis bombástico do que as dos se Vão), 1931, Whe» Ltidtcs Meei (Quan­
de seu amigo parceiro, dominariam o palco da do as Senhoras se Encontram). 1932 e Strsrrn
Broadway por alguin tempo. Belasco é atnal- and God (Susan e Deus), 1937. Após 1922,
mcnle lembrado sobretudo por suas adaptações Philip BaiTV divertiu e confundiu a Broadway
dasõperas Mudame Btttterfly. 1900. c TheGirt alternadamente com unia série de cintilantes
of rhe Golíleu IFesí (A Garota do Oeste Doura­ comédias sociais e dramas com orientação
do!, 1910, de Puccini. mística, incluindo Hohday (Feriado), 1929, a
O realismo, no sentido da dramaturgia de revolta de um jovem contra a vida "sensata":
critica social e sãtira, encontrou seu expoente The Animal Kingtlam (O Reino Animal). 1932.
mais bem-sucedido em Civde Filclt, que havia um exame da verdadeira natureza do casamen­
originalnicnte formado sua reputação com co­ to, Itere Come rhe Clooiis (Aí Vêm os Palha­
médias românticas como Bean Bnttnmd, IS9Í1, ços), 1938, uma fascinante - mas comercial-
e Captai» Jinks o f The Horxe Marines (Cttpi mente malsucedida - investigação das raízes
tão Jinks da Cavalaria Marinha), 1901. Hm profundas da motivação humana, e The Phila-
peças como The Clinibcrs (Os Alpinislas). delphia StoryiA História de Filadélfia). 1939,
1901, The Tm th (A Verdade), 1906, e The. City um relato hilário e mordaz de uma indócil
(A Cidade), 1909, Fitch volta sua consciência mulher da sociedade às vésperas de Lim se­
ética da Nova Inglaterra para aspectos questio­ gundo casamento. Mais ou menos na mesma
náveis da sociedade amerícana. época, Maxwell Anderson tentava, em peças
Quatro anos após o triunfo do drama ro­ como Elizaherh rhe Qiieen (A Rainha Elisa-
manticamente "realista' de Belasco, sohre o beth). 1930, e More o f SratLm d (Maria da
longínquo Oeste americano, William Vaughn Escócia), 1933, e 1Viarei,ver (O inverno). 1935,
Moudy apresentou, em The G r e a t Divide (A - inspirada no caso Saceo e Vanzetti - reviver
Grande Fronteira), 1909. uma adaptação de sua o drama em verso.
antiga peça em verso, The Sahine Woiijaii (A Durante os anos 30. a Broadway mostrou-
Mulher Subirei i. 1900. tiin interessante drama se â altura do desafio da Depressão e do
que focaliza os valores conflitantes dti Leste acúmulo das nuvens daguena. ctun uma série
puritano e do rude e disponível Oeste. Sozi­ de dramas vigorosos que examinavam as con­
nha na cabaun de seu irmão no Arizona. Ruili. vicções básicas da sociedade americana. Tal­
uma garota crescida no Leste, é assediada pur vez o mais representativo deles tenha sido
três rufiões. Ela se salva ao implorar a um de­ Awttke and Sins'. IDesperte e Cante!), 1935.
les que a torne sua. Stephen Ghenl “compra" de Clifford Odets. no qual um jovem c apai­
a moça de seus companheiros, e quando Rnllt xonadamente exortado a "partir e lutai, por­
consegue o dinheiro para "recomprar" a si que a vida não deveria ser impressa em ninas
mesma, volta para Nova Inglaterra. Mas em de dólares” Detui End iScm Saída). I935, de
essência ela rejeita os homens cultivados de Sidnev Kingslev, deu ãs plateias da Broadway
seu ambiente e anseia pelo indómito compa­ it m sinistro lampejo dos bairros da margina­
nheiro a quem mostrara as possibilidades de lidade e do crime em Nova York. Etn Idiot ’s
vida. The Ftiith Healeri O Curandeiro pela I é). Delight (O Deleite do Idiola). I935. Robert E.
í 909, embora uma peça possível mente melhor, Slierwood retratou as forças que estavam le­
obteve menos sucesso por causa de seu tema vando o mundo a uniu conflagração dc grande
místico, em que o podei espiritual inato do ho­ porte e conclamou o homem comum a resistir
mem é contraposto uo racionalismo e à reli­ a elas. De forma pouco menos agressiva mas
gião conveiieionul. não menos interessante - porque a despeito dc
O contraste entre o Leste e o Oeste nos seu fervor moral Shenvood não havia esque­
Estados Unidos foi tratado um pouco menos cido que a função essencial ila Broadway era
• 5 Ui
* fh) '• i ; . - ;i ■ i.' , -a:n

em reter - Witiiiim Saroyan contrapôs as foi­ Nos últimos anos, o palco da Broadway
ças modernas do bem e do mal em The Time t f tem sido dominado quase no seu lodo pela
Yotir Life {A Chance da sua Vida]. 1939. esco­ comédia leve e sobretudo pelo musical - qua­
lhendo romanticamente uni boteco de San se nenhum dos temas parece resistir ao trata­
Francisco corno cenário para seu encontro. mento com canção e dança.
Naquele mesmo ano. Lillian Hellman exami­
naria as raízes do capitalismo americano em
The Lillte Faxes |As Raposinhas). em que a
O T e a t r o c o m o E x p e r im e n t o
tradição aristocrática sulista é mostrada como
agente no processo pelo qual as forças do
industrial is mo abrem caminho. Em 1900, a revista ilustrada mensal The
Os anos 40 assistiram à emergência de Thentre foi fundada em Nova York. Ela infor­
dois dramaturgos que - ao lado de Edward mava seus leitores sobre montagens america­
Albee. após o sucesso de Afreúd a f nas, publicava as teorias e projetos dos refor­
Virgínia Wooif? (Quem Tem Medo de Virgínia madores europeus do palco, Appia e Craig. e
WooIT?), 1962 - permanecem até hoje como criticava o comei ciaiismo do teatro da Broadway.
os mais representativos do teatro da Broadway Em 1913, publicou um grito de alerta: "O que
em seu espírito "sério”: Tetmessee Williams e há de errado com o palco americano?”
Anhur Miller. Em The GUtss Menagerle (À A solução, ao que parecia, encomrava-se
Margem da Vida), 1944, William autobiográ­ fora da Broadway - fora do alcance da dita­
fica mente refletiu sobre as lastimáveis preten­ dura do teatro comercial - na descentraliza­
sões dos remanescentes da tradição sulista e ção e na coragem de experimentar. A era dos
mostrou sensibilidade refugi ando-se da aspe­ Little Theatres, pequenos teatros, desponta­
reza do mundo moderno nos sonhos c no re­ va. Na liderança estavam os teatros da safra
traim ento. O tem a foi expandido em A de 1912. o Tov Theater em Boston, o Little
Streetcar Nmtted Desire (Um Bonde Chama­ Theater cm Nova York e o Little Theater de
do Desejo). 1947. em que a sensibilidade de­ Chicago. Eram os correspondentes america­
cadente de B lanche se opõe ao vigor brutal de nos do Estúdio russo, teatros experimentais
seu cunhado Stanley. Williams continuou neste que se interessavam mais pelo repertório do
caminho com variações cada vez mais grotes­ que por longas temporadas e ofereciam a jo­
cas sobre seu tema. vens autores c artistas de vanguarda uma
Enquanto a crítica de Williams à vida oportunidade de experimentar novas peças e
americana parece, de certo tnodo. vir de um técnicas de encenação.
ouisider. um margi utilizador. o exume que An mesmo tempo, começaram a sei ati­
Miller faz da ética dos homens de negócios vados os palcos universitários da América. Em
em Aii My Son.s (Todos os meus Filhos), 1947, Harvard, o professor George Pierce Baker fun­
aceita, ineonscienteniente. muitas das regras dou. em 1913. o seu 47 IVbrfcr/w/». que foi logo
fundamentais do capitalismo - tanto que as seguido por numerosos departamentos simi­
apresentações da peça foram suspensas na lares de drama e teatro em outras universida­
URSS - e apenas criliea as infrações. Foi so­ des pelus EUA. Os aspectos artísticos, práti­
mente com Dcath o f a Salesntan (A Morte de cos. técnicos e organizacionais do teatro pas­
um Caixeiro Viajante). 1949, que Miller ofe­ saram a cnnslar do currículo académico. Gru­
rece uma crítica mais fundamental dos valo­ pos amadores universitários apresentavam-se cm
res americanos, na história da destruição de espetáculos públicos e com isso exerciam uma
Willy Loman pelas ilusões que guiaram sua influência indireta no teatro profissional. O
vida. Em algum as de suas úliimas peças. workshtip do praf Baker encontrava-se déca­
Miller trocou sua ênfase na crítica social pelo das à frente de empreendimentos europeus si­
estudo psicológico: A Vietr/nun lhe Bridge milares. Lais como Os Théophiliem, grupo fun­
(Panorama Visto da Ponte). 1955. revisada em dado em Paris poi Gustavc Cohen. que esticou
1957. A f iei thc Fali t Depois da Queda l. 1964. em 1933 com o M imcle de Thénphile (Mila­
The Price fO Preço). 1968. gre de Teófilo). de Ruieheuf, de onde o con-


W í .W í j | - | « M mi tl {ttl </ í) Teilfiii “

junlo tirou seu nome. Baker estava também incentivava a colaboração tle escritores, pin­
muito avançado em rei ação aos palcos experi­ tores c compositores, que poderiam, nas pala­
mentais, hoje em dia vinculados a quase todos vras de Herbcrt Machiz, diretor destas encena-
os departamentos de teatro das universidades çóes, "experimentar com novas perspectivas
europeias. De seu 47 Wtirkshop emergiram os para si mesmos e oferecer exjreriências fres­
dramaturgos americanos Eugene 0'Neill, S. cas para a plateia". As peças evitavam o realis­
N, Betumam Siduev lloward, Philip Barry, mo que dominava o palco "sério" da Broadway
Percy MncKaye e Thomas Wolfe. e, ironicamente encaravam a situação do ho­
Eugene 0'Neill, o primeiro criador teatral mem moderno num mundo complexo, que não
estadunidense de estatura internacional, percor­ se prestava a uma interpretação única ou sim­
re. dentro do compasso de suas próprias obras, ples. Muitas das peças - Tryf Try! (Tente! Ten­
todas as fases do drama europeu contemporâ­ te! ). de Frank O* Haia. The Heroes (Os Heróis),
neo. Escreveu peças naturalistas e simbolisias. de John Ashhury, e The ítait (A Isca), dc James
peças de crítica social e de psicologia profun­ Merrill - foram escritas em verso, mas sua sim­
da, peças romântico-realistas e expie.xsiotiistas. plicidade e objetividade estavam em agudo
Seu desenvolvimento e escolha de temas são contraste com o teatro “poético" autocons-
sintomáticos em relação a seus contemporâ­ cicnte de Maxwell Anderson. Talvez a mais
neos e ã geração seguinte de dramaturgos. interessante tenha sido Absalom, de Lionel
Assunto e ambiente são tirados da experiên­ Abel, uma adaptação em prosa da história bí­
cia pessoal: um lai despedaçado, emprego ca­ blica. na qual o dramaturgo tentava introduzir
sual, exploração do ouro, navegação marítima, no palco americano o tipo de drama filosófico
atores ambulantes, o sanatório, e, nesse ínterim, que havia sido popularizado na França por
teatro aplicado no Workshop Os Provi ncctowji Sanre e Camus
Plavers, um dos teatros experimentais impor­ O teatro off-Broailwav, iinediaianicnte
tantes desde 1915. montou o drama de mari­ posterior à guerra, esteve durante muito lem-
nheiros de 0'N eill, Hmmrí Easl for Çardiff po preocupado com a recriação dos clássicos,
(Rumo a CardilT): cm 1921. oThcatie Guiid. lanlo antigos quanto mudemos. Esta foi. em
então com dois anos de existência, encenou ccria medida, a verdade do Living Theater,
Beyoiul tlte Hortum IAlém do Iloi izoníe) c deu formado j>elos imrépidos Judilli Malina Beck
a 0 ‘Neill seu primeiro sucesso na Broadway. e Julian Beck. que encenavam seus primeiros
Três anos depois. Th? Ahitm o f lhe C i t r i h h e e s espetáculos em seu próprio apartamento. To­
tA Lua do Caribe), foi levada por Piscutoi no davia, as primeiras montagens do grupo in­
Voikshiiluic de Berlim, bem como o drama cluíam itens tão exoticamente não comerciais,
expressii mista The Hairy Ap? (O Macaco Ca­ como Dm tor Faustas Lighis th? Ligltts iDr.
beludo! e, logo depois, De\i>v iiiuk-rih? Fluis Fausto Acende as Luzes), de Geri rude Stein. e
(Desejo sob os Olmos, apresentado no Brasil Many Laves (Muitos Amores), dc William
como Desejo), foram montados por Tairuv no Carlos Williams. Por íim, os Beck introduzi
Moscciw Kameiuy Tlieater. rum cm seti repertório obras experimentais de
0*Ncill disse uma vez que escrevia peças dramaturgos americanos jovens e desconheci­
a fim de tornar claro o pedaço de verdade que dos. A mais notável destas foi The Couiieitiuii
lhe fora dado alcançai-. Sua obra explora a me­ (O Cnniato). de Jaek Gelbcr. um drama em dois
lancolia da vida privada, a exposição de suas aios e em forma aberta que enfocava aspectos
mentiras, fazendo uma aplicação dos ensina­ do vício nas drogas e do ja zz - produzindo u
mentos de breu d na revelação das casualida­ efeito de uma improvisação brutal - e Tlte Bríg
des psicanalítícas. (A Prisão do Navio), de Kenneth Brovvit. uma
Um dos mais interessantes teatros experi recriação terrivelmente realista de um dia itimi
mentais do pús-Segunda Guerra foi o Amsl s complexo presidiário da Marinha americana.
Theatre que, em sua curta vida. emrc 1953 e No início dos anos N). após algumas tem­
I95b. montou dezesseis peças originais de pestuosas discordâncias com o Serviço Inter­
homens que eram a principio podas. Danilo no de Rendimentos Públicos acerca dc impus
delenuinadamentc as cosias ao lucro, n grupo los não pagos, o Living Tltcalre "exilou-se"

• S 20
• Ott N u t u r t t i m m o um P n ^ n t r * *

na Europa por vários auos. Foi durante este O T e a t r o f. m C r i s e ?


período que o grupo desenvolveu uni novo con­
ceito de teatro, no qual o dramaturgo como tal (1 século XX não está sozinho ao pergun­
parecia ser abandonado, e a obra apresentada tar se o teatro está em crise. Já Sêneca. em
surgia a partir da colaboração e da inovação Roma, e Lessing. em Hamburgo, questiona­
de parte dos vários membros da companhia na ram o sentido e a forma do teatro de sua épo­
criação coletiva. Em discutidas montagens ca. Mas é especial mente alarmante o d ia ­
como Frankcnstein e Paradise Noiv (Paraíso gnóstico pessimista que desde os anos 50 vem
Agora), os Beck davam grande ênfase ao fino sendo apresentado com crescente frequência
de que seu “teatro livre" era mseparáve! de sua sob os quais diversos aspectos na esfera do pú­
orientação anarquista e pacifista, e que consti­ blico, em congressos de teatro, pelos respon­
tuía o resultado direto do estilo de vida comu­ sáveis por subvcnçõds. teatrais, por clubes de
nitário do grupo. frequentadores de teatro, por críticos e drama­
Enquanto o l-ivíng Tbcater parecia ler se turgos. Arthur Miller declarou a certa altura
dispersado, o Open Tbeater. um dos mai$ vi­ que "o nosso teatro, medido pelos padrões vi­
gorosos grupos experimentais nos EUA, tor­ gentes. alcançou aparentemente um insolúvel
nou-se uma de suas ramificações mais dura­ fundo de poço". E no caso não importa saber
douras. Foi fundado em 1963 por Joseph se ele se referiu apenas às condições america­
Cliaikin. que iniciou uma série de u oikshops nas ou à situação geral.
devotados a novas experiências na forma. Mais O teatro dc hoje é tãosecularizadoem suas
uma vez o resultado Final nascia da "colabo­ possibilidades formais e tão uniforme cn> suas
ração” entre o grupo e o autor. Entre as mais tendências, que a agulha do barómetro assina­
conhecidas produções do Open Theatre des­ la em Nova York ou Londres, Paris ou Berlim
tacaram -se Viel Rock. de Megan Terry, e iguais níveis dc alta ou baixa. Hoje o teatro do
America Httrrah (O Grito da América) e The inundo é verdadeiramente um teatro mundial.
Serpem (A Serpente) de Jean-Clande vati Graças aos meios de comunicação de massa,
Itallie. ao rádio, ao cinema e à televisão, ele tem nma
Na tradição do Teatro do Absurdo dc plateia quase ilimitada. No limiar da era ató­
[onesco e Beckett, cumpre citar The American mica. a prescrita-se conto um fenómeno inter
Dream tO Sonho Americano), de F.dward nacional, É um sismógralo do esiado político
Albee, que estreou uo York Playhouse. nu nit- e intelectual da humanidade nurn momento du
Brondwny dc Nova York. Em sliii peça, Albee história que, à custa dc desastres devastado­
procede a um frio diagnóstico e exposição do res. nos oferece nada mais do que uma paz
tuttericun tiviv oflife. da grotesca trivialidade parcial ilusória entre novos focos de crise.
e banalidade dos ídolos estereotipados do ho­ Exortado :i servir de campo de teste para
mem comum, o isolamento sem esperança do uma nova ordem, o teatro acumula o entulho,
indivíduo na estufa das neuroses. dc uni lado, e os estreitos veios íle minério de
O esforço para escapar das restrições dn muro, diante dc uma vara de medida com a.s
Broadwuy levou à fundação - sempre efémera mais contraditórias escalas: lugar de diversão
- de um grande número de companhias off- e ou agência de propaganda, terra prometida ou
ofT-off-Broadwuy, Merece menção especial o fórum de debates, eterno "como se" de uma
Bread and PuppclTheater, um grupo de teatro realidade mais elevada ou tela de raio X de
de rua. politicamente radical, dirigido por Pcter uma realidade mais baixa, instituição moral no
Schunrann. que utilizou clemenios como ba­ sentido dc Schiller ou "reflexão ativa do ho
ladas c parábolas terrificantes colhidos etn ineni sobre si mesmo" nas palavras de Novalis,
mistério-, medievais c espetáculos circenses: c plataforma dc lançamento de discussões éti­
o La Mama Experimental Theatei Club. de cas, ideológicas e filosóficas ou museu para as
Ellen Siewart. cuja ínlluència em técnicas só clássicas estrelas fixas, trilha para o encontro
de interpretação foi tão extensa que se refletiu do homem consigo mesmo ou mostra sem ini­
lios gnipris de realfo experimental da F.urnpu bição das próprias emoções... Tantos slogtins,
e do Japão. lautos argu mentos sérios, superficiais, prescr-

■ 5 :;
H is tó r ia Muntiitíi tio Teutt o *

vadores ou provocadores"de uni fenômeno que não ter pé nem cabeça, e assim o palco surge
de modo algum pode ser suficientctticiirc lili- como um espelho deformante a refletir uma
giosa. imagem que o público não está preparado paru
A frase de Hanilet sobre o teairo como "a aceitar.
crónica abstrata e abreviada do tempo" lalvez lonesco disse certa vez que o traço mais
nunca tenha sido mais verdadeira d» que hoje. caracierístíco das pessoas de nossa época é que
A breve crónica da era atómica que apenas elas perderam "qualquer tipo de consciência
começou está saturada de problemas, de con­ mais profunda de destino"'. O drama mostra,
trovérsia social, sociológica, psicológica e po­ necessariamente, um quadro tragicõmico da
lítica, de ilusória autoconfiança de uma parte vida. numa época em que não mais podemos
e mal-estar e protesto, de outra, da suave radia­ evitar a questão sobre “o que estamos fazen­
ção dos homens de boa vontade e da turbulen­ do na terra e como podemos suportar o peso
ta vigília dos que dirigem o mundo para uma esmagador do mundo das coisas".
nova catástrofe. O Teatro do Absurdo é uma consequência
O teatro permanece cxatamenlc no meio lógica dessas considerações. Anunciava-o dc
dc tudo isso. A Alemanha, entre as ruínas da uma maneira provocadora c brutal, em 1895,
Segunda Grande Guerra, precisou cobrir a de­ o Ubu Roi (Ubu Rei), de Jarry, e lonesco e
manda reprimida de uma dramaturgia interna­ Beckelt o estabeleceram Solidatnente no pal­
cional. Nos liltiinos anos, construiu modernos co da segunda metade do século XX, Albert
palácios de vidro e concreto, que se prestam a Camus definiu, em Le Mythe de Sisyphe ÍO
propostas múltiplas. Rtn Nova York, edíticou- Mito dc Sísifot, 1942, de que forma a moder­
se o complexo do Lincoln Center, com o Mc na conscientização do absurdo; "Um mundo
tropolilan Opera e suas salas de couccrtoe tea­ que pode ser explicado, mesmo que com fun­
tro, Iíiti Londres, um novo e grande centro de damentos inadequados, é um mundo familiar.
arte emergiu na margem sul do Tâmisa, com Num universo, porém, que é repcnlinamente
uma galeria de ane, três salas de concerto e despojado das ilusões c da luz da razão, o ho­
um Teatro Nacional. A Capital da Austrália. mem seu te-se um estranho |_..] Esta separação
Sydney, possui um imponente teatro de ópera do homem e de sua vida. do ator e de sua ex­
em forma de um grande barco a veia, situado periência, é este, precisamente, o sentido do
no porto, numa poma da enseada. Seu projeto absurdo",
foi idealizado pelo arquiieio dinamarquês Jom lonesco escreveu algo muito senielhante
Ulzon. Ele ganhou com sua ousada constru­ em 1957, num ensaio sobre Kufku tG ihierx
ção em conclui o primeiro prémio em concur­ th ' h l O n n / K í.iít w M u tle le iu e R e n titttl — J iw i-
so público, Ltmis Btumtth "Absurdo é algo que não tem
O teatro tornnu-se mais culinário e ao mes­ objetivo. Quando um liumem está desligado
mo tempo mais espartano do que nunca, mais de suas raízes religiosas, metafísicas e trans­
intelectual e subjetivo, gosta de posar de cendentais, ele se perde, tudo o que faz fica
anliteatro. Ele está tentando verificar ate onde sem sentido, absurdo, inútil, ceifado em seu
pode ir no questiona mento de sua própria va­ gérmen”.
lidade. Conta com a possibilidade de servir-se O qne conta é a realidade psicológica. O
de lodos os mecanismos teatrais modernos con palco torna-st- tiro espaço sem nenhuma refe­
eebíveis ou de provai, an contrário, que não rência identificável, o pesadelo visível dn va­
necessita dc ahsolulamcnte nenhum acessório cuidade. Um planalto desolado com unia últi­
cênico. O teatro pode dever seus impulsos a ma árvore nua, diante da qual Vladimir e Es­
um dramaturgo, a um diretor, a um adminis­ tragou, numa auio-sugesião sem sentido, es­
trador. a um órgão que o subvencione ou a uma peram Godot; um deserto de areia no qua!
companhia comercial. Winnie vai afundando mais e mais profunda-
Mas. quando o público fala de unia crise mente: duas latas de lixo onde Nagg e Nell
no teatro, ele u faz não tanto com referência a consomem-se na expectativa do miserável fi­
condições externas, como à substância da re­ nal do Etulyjitue (Einr dc Jogo)—este e o inun­
presentação tentnil. O drama moderno pnreee do cénico do Absurdo de Samuel Beckelt.
* D fl iV t r r jf r i f / i .Y » l i f t t n i i 11 ‘

51. PlV|c(<r c ííi írlfo riti W5A | k.-J« .•(rqwn.-iu Jiiiiimaiqiiés Jom Ul/t>n pura o Traiw de Õpeiu de SyCney.
Atistijllu.

A "mensagem" prometida em Les Chai- como também do cinema. A dedução do princí­


vr-.t (As Cadeiras), de lonesco, é uma farsa: um pio épico, por Brechl. a partir do “caráter ex-
surdo mudo apresenta-se em centi como o ora­ posilivo" do “antiquíssimo teatro asiálictfé tão
do: cheio de promessas que a anime ia. uma pa­ pertinente quamo, digamos, a declaração de
tética personificação de grotesco desamparo. Einsenstein de que devia a idéia d» montagem
As personagens de Inncsco erram à deri­ do filme ‘ primeilamente e antes de inais nada
va mim mundo desconectado. confinados cm tios princípios básicos do circo e do mtisic hair.
seus medos, caricaturas de si mesmos, palha­ pelos quais linha paixão desde a infância.
ços macabros de um ‘trágico espetáculo de fan­ O primeiro passo à frente em técnica ci­
toches''. lonesco fala do processo criativo do nematográfica foi o da fantasia e do truque,
dramaturgo como mu "empreendimento de alcançado por Georges Méliès; o segundo loi
pesquisa '. Não promete descohnr tetra nova. a farsa burlesca; o terceiro, o nciiini Utblraa
Ao cu nl rd rio, o objetivo da vanguarda dia má (quadro vivo), que se originou no lealro do
ticadeve ser redescohrir. não inventar, "tis for século XIX.
mas eternas e os ideais esquecidos ilo teatro Quando ffemy írving momo li Ktmtcn c
em seu estado mais puro”. Jttliria em I .onrires, em 1882, tentou criar nina
"Precisamos romper com o s clichés", con­ reprodução fotográfica da época e do lugar por
tinua ele. "fugir rio 'trodicionalismo' tacanho. meio de cenários e de quadros vivos. Trinta
Precisamos redescobrit a única, verdadeira e anos mais lande, quando Louis Mercanton fil­
viva tradição". O Teatro do Absurdo c a Com- mou Quccn EUzabcth. trabalhou com cenários
ntedifí dcWiuli' do niilismo, o grtuul guigiuil e técnicas teatrais. Sarah Bernhardi não ape­
de um nuuulo de paradoxos. nas filmou a chamada para os aplausos, como
escreve Nicholas Vardnr, “mas seu mergulho
final em uma pilha de travesseiros diante da
O T e a t r o e os M eios de cãmera, no clímax da cena da morte, parecia
mais comédia burlesca do que drama".
C o m u n ic a ç ã o de M assa
O desafio oferecido por Qiu-ni Etiznbeth
e pelas produções italianas de G Paxtrone foi
A "redeseobeiia". sob outros signos, tor­ aceito por D. W. Griffith. Jiuliiii o f Bi rhuiiti
nou-se eamcterisúca do teatro do século XX. baseou-se 110 espetáculo homónimo de T. B.
* .i2 .(
H istória A lu m tia i T fft rro

Aldrich, na época um sucesso de palco. Mas possível uma transição fluida entre as cenas
foi com Intoleraiice e The Birth o f a Natian de interiores e as de rua. Esse tipo de cenário
(0 Nascimenio de Uma Nação) que Grifíilh era, no entender de Mielziner, o mais fasci­
pôs fim aos dias do "poeira". Nesse ponto, fui nante de todos. Por seu intermédio as ideias
preciso construir grandes cinemas ou tomar de Appia c Craig, que chegado aos EUA por
posse dos teatros para a exibição de novos fil­ intermédio de Robert Etlmond Jones, voltavam
mes. para a Europa com formas novas e diferencia­
René Clair rejeitou qualquer aproximação das graças ao cinema. Suíl influência mais di­
entre os irmãos díspares - teatro e cinema. reta pode scr encontrada, talvez, nos cenários
Reivindicou para a tela o privilégio dc trans­ feitos no início dos anos 50, por Wolfgang
gredir o dogma do realismo - mais ou menos Znamenacek. para o Kammerspiele de Muni­
como Robert Wíene fez em 0 Gabinete do que, como, por exemplo o de Die Ehe des
Doutor Callgarí (1919) - e de configurar Uma llerrn Mississippi (O Casamento do Senhor
“verdade subjetiva". René Clair argumentava Mississrppi) de Dúrremnatl, ou, a partir da dé­
que teatro e cinema são governados por leis cada de 60, no cenógrafo tcheco Josef
artísticas completa mente diferentes e precisam Svobodu. Para uma montagem do Édipa Rei,
ser claramcmc separados E ainda em 1950, dc Sófoclcs, no Teatro Nacional de Praga, em
ele declarava consistente mente: “Não compar 1963, Svoboda construiu uma escada de qua­
ti lho da opinião daqueles que sempre encara­ se dez melros de largura com degraus semi-
ram o cinema como um mero instrumento para transparentc.t, que se erguia do fosso da or­
a expansão das peças teatrais". Ele tinha uma questra até o urdimento do teatro. A música
fórmula simples para uma distinção básica das era ouvida alravés de perfurações na escada.
duas categorias; “No teatro, a palavra conduz Outro tipo de convergência entre as técni­
a ação, enquanto a óplica possui importância cas artísticas do teatro e do cinema surgiu com
secundária, No cinema, o primado cabe à ima­ o palco miniatura, que se tomou popular na
gem, e a parle falada e sonora aparece em se­ Europa após 1945 sob várias denominações,
gundo lugar, Fico tentado a dizer que um cego como tealro “intunista" ou “de cãmera". Numa
não perderia dinheiro indo ao learro.e um sur­ sala pequena c sobre um palco nu, os atores
do, ao cincnuT. encaravam a plateia quase tão dirctamcuic
Não obstante, elementos e possibilidades quanto a cãmera e o microfone do estúdio.
do filme exerceram, por sua vez. influência Qualquer excesso de voz. gesto ou mímica era
artística estimulante sobro a moderna cenogra­ captado pelo espcclador, sentado bem próxi­
fia teatral. Quando, em 1949, Jo Mielziner mo, como que por lentes fotográficas - sem,
desenhou o cenário da montagem nova- entretanto, possibilidade de correção
iorquina de A M ane de mil Cai.xeim Viajante Enquanto no teatro com cenário a distân­
(dirigida por Elia Kazan.i. dispôs em cena o cia, no /icep-shou- ou na arena, o ator tem de
esqueleto de uma casa, de uma só família, aper­ prender a alenção do espectador de uma dis­
tada entre arranha-céus, mas mostrada no meio tância dc 20 m ou 30 m e introduzi-lo no espa­
de árvores banhadas pelo sol nas ações re- ço vivenrial dramático, no teatro de cãmera
trospectivax em flashback. Um leve véu de mus­ acontece o oposto; destaca-se a emoção, a sim­
selina com fileiras de transparentes janelas pin­ plicidade e. se tanto, atenua-se a empostação
tadas dava a impressão de melancólicas facha­ do texto; o ator não usará maquiagem. e a in-
das: unta projeção verde-amarela de folhagem letprelação será intensiva, em vez de de ex­
transformava o mesmo quadro - depois de apa­ tensiva. Esta é a origem da economia de mei­
gadas as luzes de fundo e da supressão do am­ os, baseada na constante consciência do close.
biente das casas numa atmosfera de radiante Quando essa técnica de interpretação é trans­
primavera. ferida para a distância do cenário comum, em
Parti Um Bonde Chamada Deseja, de forma de peep-shtnr. u audição pude. às ve­
Tennessee Williams, dirigida em 1947 por Elia zes, ser prejudicada.
Kazun, Mielziner usou paredes transparentes O apogeu do tealro de cãmera contempo­
que. com a ajuda de luz e sombras, tomavam râneo deu-se na metade do século XX. A farsa
■ 324
5 2 . N el ] c N o i ti <;j ui ■s ] m i ic f i.\ s>, c u i l ' i w i U* J t »£i í. i Ic S a n i u c l H ccko-i E, l|ii c c s l i c o í i c n 1 U ! e liIm i I J c 1 5 7 n o R o I
C o u jt Thcíiírc d c I o i h Itcis Diruyíio; R o ^ c i K ííji. l ' l n . 1 • im ^ o s c o m o N c l l e O . A U u i c u i n n
f-ftxtoitu Mu tuíiet l (in T r t t i r v

Le DésirAttrapéparta Qitcue (O Desejo Pego A tecnologia atual permite pelo menos que um
pelo Rabo) de Picasso, foi encenada pela pri- grande número de cópias de qualquer filme
meira vez durante a Segunda Guerra Mundial, sejam feitas antes que ele se estrague, permi­
em 1944, pelo pequeno círculo em tomo de tindo, assim, guardar testemunhos documen­
JeanPuul Sartrc e Simone de Beauvoir. Foi tais tanto de seus primeiros tempos quanto dos
uma conspirativa sessão privada, da qua! par­ acontecimentos teatrais. Na verdade, um es­
ticiparam os liirrali importantes de Paris, num petáculo teatral filmado é um "híbrido", a ineio
apartamento em Saint-Germain-des-Prés - um cantinho entre teatro e cinema, mas. no míni­
happeniug. uma brincadeira de a te liei, na tra­ mo, pode ser, desta maneira, repetido e trans­
dição dada, surrealista e do Cabaret Voltaire. portado. Abre espaço para comparações, que
Canuis e Queneau estavam entre os partici­ podem ser fascinantes e instrutivas mesmo
pantes. quando a deterioração começa a se tornai vi­
Na Alemanha, o primeiro teatro de câmera sível. Um exemplo é o filme para a televisão
foi organizado em 1947 por Heimulb Gineim. da montagem mtlanesa de Giorgio Strehlerde
no piso superior de sua casa em Hamburgo: Arlecchino Servttore di Due Padntmi, com
logo em seguida, transferiu-se para um edifí­ Mareei lo Moretti- Quando Femiccio Soleri
cio neoclássico, onde, entre outras obras. passou a desempenhar o papel, a mudança foi
Giinther Rennert. da Ópera de Hamburgo, en­ quase imperceptível, mas, conforme a tela
cenou Esperando Godol, Berlim, Frankfurt mostra, existem em sua interpretação nuances
(sob a direção de Fritz Rérnond t, Wiesbaden. murcadamente diversas da de seu professor e
Dússeldorf e Colónia o seguiram com teatros predecessor.
de câmera: Munique, em 1949, com um tea­ O Hamiet de sii Laurence Olivier foi fil­
tro-estúdio no Scliwubing. o bairro dos artis­ mado em 1948 como um registro de uma im­
tas. Luigi Malipiero estabeleceu-se no torreie pressionante sequência de cenas teatrais dian­
de Somirteihausen. mu povoado da Francónin. te de sers móveis, e este acordo entre o palco e
Ent 1953. foram inauguradas em Milão duas a tela foi premiado com quatro Oscars e com o
versões em miniatura do space sntge - o Leão de Ouro em Veneza. O mesmo aconte­
Teatrangolo, organizado pelo professor de li­ ceu com ú montagem do Fausto em Hambur­
teratura Francesco Prandini em sua própria sala go, com Gustaf Griindgens como Mefisto e
de jantar, e logo em seguida no Teatro Will Quadflieg como Fausto. Na versão filma­
Sant'Erasmo. O esforço de converter a neces­ da, a câmera se colocou tão perlo dos rostos
sidade numa viitude acústica triunfou em mui­ dos atuies que o que se justificava para ii dis­
tos casos. Em inúmeras cidades universitárias tância do teatro surgiu com um grosseiro
existem aié hoje teatros de câmera ativos: eles embrutecimento. Para a posteridade, porem, o
desenvolveram um estilo próprio e maniêm- filme Fausto é de valor tão inestimável quan­
se a meio caminho entre o palco e o cinema to. digamos, a filmagem do Dou Giovauui,
Jerzy Grotowski diz: dirigido em Salzburgo por Wilhelm Fumviin-
gler em 1950, no velho Festspielhaus. ou a
Há ;ipciKib LIIII ilC iiiciM ii qiiLr o cincuut C U loluvivjo versão para o cinema, teiia por Palitzsch e
não poJcm itu ik n do k 'u irt> -;i mrimiiLido do Wekwerth, da encenação modelar do Berliner
vivo PnrcuusLi disso. O í Iíi Jcsutio p;im o uKH. f jJ d um
Ensemble. de Muiter Coitmge, no Theatei am
dos ?.ojb Liiii^fcos iqnc u pbtéiu c ii‘capaz dc a*pn»
d u /ir l formi-sc ul^m iiii l OÍno dc grtmdc, dc c w a w d m á - Scliiffbauerdainm. 1960.
rnv «<Uwm:i coisa p iõ m iiu i do cxiiibc. É poitaiwo hcccsmí- O filme jap o n ês sobre os samiirais.
rii> alio lie a di>tãiKi:i cnirc o u to i c a plalcia. cliiniiuuKki Rashoman. de Akira Kt irosa \va. é sem dúvida
o palco. iciiKfVcOvUf tro iu c ik iv l) ó i\a r i|uc ;»s
incomparavelmente mais impressionante do
cciijn ruui> di;istic.i'> ik h it :uh lace u íacc com o c-ípccu-
tloi. pura t|iic jsstm o lo uMcui ã iniU xIn aloi. |wkn;i f v iw - que a história em quatro versões imitada em
her mui respiração c w n tii sU:i iriíiivpijuçiio. I>m i irii|>hca alguns lenlros alemães, e. graças à montagem
a iicccvsiiludc dc uin k u ir o d c câmera. de Peter Brook. o Marat/Sade de Peter Weiss
teve na tela uma sugestiva força dc impacto
Os pioneiros do cinema lamentavam sua que dificilmente se alcançaria em qualquer
(temeridade, a escassa duração de seu uY.itetr.il palco,
* Dti N i m t n i t i j u n o no Prv-stntt*

Nada disso elimina o fato de que o teatro c anfiteatro, Raymond Queneau foi ao extremo
0 cinema baseiam-se em pressupostos artísti­ do nonsense espirituoso com seus Exercida.*
cos compleiamente diferentes. 0 teatro filma­ de Estilo. um malabarismo parodístico com a
do é mais convincente quando a fim se mantém linguagem. Seu romance Zozie dims te Aferir•
fiel a sua própria lei. que é o enunciado óplicn, atingiu o grande público graças ao cinema; seus
a expressão visual. Com o aparecimento da te­ exercícios estilísticos foram interpretados em
levisão como um novo veículo de comunica­ pantomima pela primeira vez, em 1948, por
ção de massa, acentuaram-se as antinomias. Yves Robert, e, em 1966 e 1967 viajaram pe­
Centenas de cinemas de bairro tiveram de fe­ los teatros da Alemanha e da Suíça como o
char suas portas, mas dificilmente um único tea­ petisco predileto dos gourmets da linguística.
tro foi afetado. O teatro, talvez por causa da sua René de Obaldia levou a cândida perfeição da
função social, mantém o seu terreno, apesar da banalidade para além da trilha do absurdo. O
televisão. A TV transmite trechos de estreias simplório agora fala com ironia: " 0 acidental
teatrais e até mesmo festivais inteiros ou espe­ tomou-se permanente'', diz Zephryn, na farsa
táculos de ópera. Diretores teatrais encenam Le Cosmonaute Agricole (O Casamento Agrí­
shows de tevê. Dramaturgos escrevem para pro­ cola). de Obaldia.
gramas de rádio e de televisão e transformam Na Seène à Quane (Cena em Quatro), de
peças breves para rádio e TV em obras mais loneseo, somos informados de que as pessoas
extensas para o teatro. Max Frisch ampliou seu “falam para não dizer nada” . Pcter Handke.
Biederwaim und dii- Bramlstifter t O Homem em suas Sptechstiicken e em Kaspar (1968).
Honrado e os lucendiários) e Martin Walser tenta usar o frágil veículo da linguagem com o
acrescentou um segundo ato a Die Ziimners- objetivo oposto: tornar o homem consciente
chlachi (A Batalha de Almofadas), por suges­ de si mesmo. Quando Kaspar Hauser, o miste­
tão de Fntz Kortner. "O tenra da peça me pare­ rioso enjeitado de Nuremherg. diz: "leh
cia um pouco privado demais”. Walser admitiu mòchi ‘ein sotcher wenteti, u ir eiiimal ent
numa explicação 3 respeito de seu desvio em anderer getvesen isl" ("Quisera me tornar al­
direção aos meios de comunicação de massa. guém como ninguém nunca Tot antes”), a fra­
"Pensei que o teatro deveria dedicar-se em pri­ se se converte numa tortura linguística, no exer­
meiro lugar as questões políticas.” cício beat de um eco que vem e vai.
Em 1967, Martin Walser atacou o teatro Nesse pomo H andke-ou seus encenadores
como um "balneário de almas". Em seu en­ - encontra-se com o Uappenitig inventado pelos
saio. ele escreve: músicos e pintores "O meio é a mensagem'',
proclaimocunuden.se Marshall McLuhan- Des­
Se . v i : '- íiv V , r a i .i a Ue teatro k g iu n in . de 1958, o estúdio de pintura de AI Hansen e as
isto lí. u sonui ds LodlLt, Eis Çram;itLi]aLU\ tt-.idÉcsonills e ll-
aulas de música de John Cage na Neiv School
umo. vemos que t> ivsultildo è uma sequêiieiu tiuia) de
eventos, ;;U.‘ se treecssjiio. re,. e.' I.!I,\ C.I eum for Social Research em Nova York converteram
l'tmij'ões coneiliatlouts de UMÍn^fie e assim se oferece a um o ttiippeniiig nu m evento anil teatral. Seu lenia c
pnlilico de hà muito espeeittliZLtdo. Como ixxlemrts rom- "Um vôo para dentro da realidade”, em vez do
|>. essa rotina? Seritt |>ossíve] errme^tn como o iovem rlta- convencional vôo a partir da realidade. Coolja:.:.,
1tta111rerci ulcmfio Hrtmike tnaserdtr ent 10-131. etrni i-a
latas de tinta derramada, ritmos frenéticos, ruí­
hliktifn.vbt'HL'liiiíii>iimg (IUMilUa ã Fkileiu i e Sctfyytbct.i-
i ie1.1 tAuttr-Acitseçun). Mas esperuv que se ;v>' dos de fundo, trapos e pedaços de papel de em­
eoiuiruLar reptesemundo Eitgu que 'I !enii:i | | brulho são os ingredientes do htippeiiing, e seu
resultado é ama colagem de charadas, cópias per­
O protesto contra o teatro culto conduz, vertidas em forma de espantalho da mcxlerna
por um lado, ãs acima mencionadas Sprechstfl- sociedade de consumo e do mundo ersiiiz cm
cken (peças de discurso) de Pcter Hundke. ou, estilo da tme pop e op.
por outro, á direção oposra - às ações cruas, à "Queremos ultrajar o público, obrigá-lo
combinação de ação e ruído com o fito de cho­ por meio do choque a uma participação dire­
car: o happcning. ta". declarou Jean Jacqucs Lehel. que organi­
loneseo j á havia descrito Lo Canunríce zou unia semana de Itoppentitg.t no Centro
Otoirve í A Cantora Careça) como tuilipeça e Americano de Artes de Paris, eni 1964. Seus

* 527
53. Projelo úc cenário de Jo M ic litn e r pnnia moniasem de E liu Ka*an de A Morte de um Caixctn> M ijei» <y, Uc A riluir
M il ler, que estreou em I dc fevereiro de no Moro.scn Thenire. Nova York,

54, C e n an e de W ciltgam ; /n u m o n a c c k para a cnceua^ao d e í la tis S e ltw e ik a rt de O C o .s tu n tm u tíi> S ? n fttn -

de Fn e drieh L H h re nm n ii, cu ja estreia ale m ã se tleu no K a im u c is p ie lc tk - M u n iq u e em 2 íi <le mat^o de I cí52 .


• />i' Nttlttritli \ntt' Prt?\rntv

companheiros de ai ma alemães. por exemplo maiores consumidoras do teatro de repertório.


os pioneiros do htippcninç descartável de Ulm. Os teatros alemães subsidiados pelos municí­
em 1966. proclamaram que iriam "vencer u pios ou pelo Estado devem hoje algo entre vinte
banalidade" descotieclandu e alienando pro­ e quarenta por cento de seus rendimentos a um
cessos concretos de seu coniexto normal. Os público li liado à Volksbiihne e à Thealerge-
dadaístas veem a mente como precursores i e- meinde.
lalivamente inofensivos, e a estetízação, por O sistema de assinaturas e u aluguel de
Martnetti, das barragens de artilharia e das ex­ camarotes ou lugares pura a orquestra remon­
plosões. oferece um paralelismo discordante. tam aos primeiros dias rias óperas de Veneza o
A itihnhi rasa que Eebel exige eomu ponto de aos tempos dos teatros municipais e da corte.
partida para um novo "teatro" encontra nmn Em muitos países europeus, n venda de ingres­
resposta vívida, mas efémera, em Barcelona, sos paru a temporada é ainda a Lmica negocia­
Amsterdã. Belgrado e na Escandinávia. ção entre os teatros e o público, A primeira
Entre os músicos, Karlheinz Stnckhnusen. associação teatral a sei fundada na Alemanha
John Cage e Maurício Kagel tentaram domi­ foi a Fveic Volksbiihne, chada em 1890 (que
nar os paradoxos da era do medo por meio de não deve ser confundida com a naturalista Fi eie
música espacial, concertos para latas d'água, líiihne. sociedade para a produção de novas
manipulações aleatórias c em cenas mudas de peças). Lima mmifiençào dela. a Ncuc Freie
peram hui ação com uma liem! ala ttlíbls^tini. Volksbiihne, estabeleceu-se em 1914 num tea­
O pintor Max F.rnst, um dos fundadores tro próprio, o Tliealer um Biilovvplalz em
do dadaísmo em 1919. não dava o menor crédi­ Berlim e. por meio de um convénio, admitia
to à destruição de formas segundo a maneira também os membros da organização matriz.
antiga. F-le diz ceticamente: "Dada fui uma bom Em 192(1. leuoinim-se numa sociedade con­
ba. Sena possível t|tic. meio século depois de junta. a Volksbiihne. á qual em 1926 sc aliou
sua explosão, alguém se incomodasse em pro­ uma outra empresa independente, o Theater
curar seus estilhaços e grudá-los ilovamenteV nnl Scliiffbauerdunuu tlioje o fteilmer En-
(filem lieipicnta o teatro, em caráter pri­ semblc 1.
vado é livre para decidir, caso a caso. até onde Para eompleiar. constituiu-se em 1919 n
deseja ser envolvido na problemática do Ica Diihncvulkshund. cinn o pi opósilo explícito dc
tio". Os administradores dos clubes e organi­ promover uma compreensão de lodos os cam­
zações de frequentadores preocupam-se com pos de vida artística entre todas as classes da
o que podem olctecer e rccomemlar a seus população, apoiando sc- muna base religiosa
membros, oti. em último caso. esperar que eles cristã. As duas associações chegaram a siicmn-
suportem Padrões. tidos oiigiiialmciuc como bir :i]kís 1933. Voltaram n ressurgir em 1949
evidentes por si mesmo, convertem-se cm te na Vcrband der Deiilschen Volksbiilmemereitu'
mas de conferências. lais como: "Existe um tl-iga das Comunidades Teatrais Alemãs) e na
tealio ci istão'.'" ou "O tcalro deve ser um Inmm Uund der Thealeigemiiiiden t Liga dos Teatros
da época ou uni lugar da atemporal idade1’ Alemães), fundada em 1931 para sucedei a
Hanns Braun. critico teatral de Munique, exa­ Búlinenvolksliiind. Organizações similares de
minou em 1936 a situação do lealro e do dra­ Ireqúemadores de teatros existem lambem na
ma a partir do ponto de vista de que ambos Áustria e na Suíça.
chegariam ao fim quando, além da incerteza
sobre seu significado e seu pmpósito. chegas­
sem a perder sua lonna. “Neste estádio, o tea­ O T eatro do D iketok
tro do diretot autónomo já nàn detende >na
substancia drama Uca' , escreveu, "ele sc ll1' u- No início dos anos 6(1, sets montagens
trali/oit a si mesmo: a novidade de moa ence­ diferentes do Tiirmln de Molière estavam em
nação parece mms importante duque qualquer cartaz cm Paris, em seis tlilcremes teatros,
outra coisa ’. durante a mesma temporada. Os críticos vi­
Nos últintos cmqtictitLi anos. as organiza­ ram-se diante da necessidade de especial i/ar-
ções de frequentadores de teatro têm sido as• se cm "análise comparativa de direção teatral” .

• 32V
H i s t ó r i a Mtunlictf í/fj T e a t r o *

Essa tarefa volta agora a competir-lhe amiúde, O grande aristocrata do teatro inglês, sir
não apenas no caso dos clássicos, mas também Laurence Ohvier. que em 1962 assumiu a di­
no de obras novas. Die Erminluug (A Investi­ reção artística do National Theatre de Londres
gação), de Peter Weiss, estreou simultanea­ (o novo Old Vic), promoveu um estilo de cons­
mente em dezesseis teatros em 19 de outubro cienciosa dicção culta, sutil de naturalidade e
de 1965 e. no fina! de janeiro de 1968, Biogra­ de intensa replasmaçâo. mesmo no mais míni­
fia, de Ma* Frisch, foi encenada mais ou menos mo papel. Em 1966, ele encenou no National
ao mesmo tempo em quatro cidades. Theatre Juno e o Pavão Real, drama de Sean
A questão de como eclipsa a de o quê A 0 ’Casey sobre a guerra civil irlandesa, e o fez
interpretação dos Clássicos é a pedra de toque, sem qualquer aparato externo - como uma
hoje, em todos os países que possuem unia tra­ advertência de que o nacionalismo fanático e
dição importante em teatro. Quando Roger fraseologias de segunda classe não podem exi­
Planchon, diretor do Théâtre de la Cité, em gir um sacrifício cruel c sem sentido da vida.
Villeurbanne, perto de Lyon, se propôs a mon­ Em suas grandes interpretações de per­
tar o Tartufo de Molicre, constatou que dois sonagens de .Sluikespeare, Olivier gostava de
expressivos intérpretes haviam concebido a peça aluar sob a direção de Peter Brook. cerca de
de dois pontos de vista totalmente opostos: vinte anos mais jovem. Em Slralford-ori-Avon.
Coqueiin utilizou a obra para atacara religião. trabalhou também com Peter Hall. O Arc-hie
Femand Lcdoux, para defendê-la. Na termino­ Rice dc Olivier. em The Eiitertaincr, de John
logia de Stanislávski, poder se-la di/.er: "Tudo Osborne, montada em 1957 em Londres e em
depende do tiupcrohjelivu que se atribui à obra". 1958 em Nova York, assim como o Bérenger
E tarefa do diretor distribuir o peso. O ce­ de Rhinocerôs <0 Rinoceronte!, de lonesco,
nário cria para isto uma atmosfera, que pode no Royal Cotiri Theatre em 1960, foram mo
scr tão reflexiva e miemumenlc retratada quan­ nientos luminosos da interpretação dramática
to a encenação [tode ser. Quando, em l%7, Kun contemporânea. Neste teatro, o mais impor­
Hiibner montou Mucheth eni Bremen, Wilfried tante palco experimental de Londres. Roger
Minks preparou lhe um palco revestido dtt cor BI i n montou F m l game (Fim dc Jogo) de
marrom enferrujada. Um cenário superior trans­ Beckeii, em 1957. Ele mesmo interpretou o
versal horizontal íoí equipado com uma linha Hamm. com um lenço sobre o rosto, sentado
de tubos dc néon coloridos, e o ciciorama tinha em uma poltrona, como os dignitários sem face
um brilho avermelhado. Fora os painéis de ma­ do pintor inglês Francis Bacon.
deira escura que se deslocavam ao fundo, o meio O filósofo Edmund liusserl fala em seus
para transformar a cena era a mudança de luz. escritos fenomennlógicos da "evidência intui
As ideias de Cniig continuam a estar em voga. tiva" e da necessidade de "preservar toda a
e as dos Meiningers. bem distantes. escala completa de variações". Seus termos
Foi. entretanto, apoiatido-se nos Meiningers poderiam ter sido cunhados especialmenle para
que Stanislávski. em sua época, procedeu às as concepções cênicas do século XX Ques­
primeiras reflexões sobre o “despotismo do tões de estilo são hoje não mais condiciona­
diretor". O qne linha em mente era o proble­ das pela época, mas pelo indivíduo: ficam à
ma da disciplina do ator. mais do que o discrição pessoal do diretor. Karl Heinz Stroux
subjetivismo na encenação. No caso de Max em Diisseldorf: Boleslaw Barlog em Berlim:
Keinhardl, seu temperamento pessoal determi­ Oscar Fritz Schuh em Colónia. Hamburgo e
nava o estilo de direção e cenário. Leopold no Festival de Salzburgo; Gustav R. Sellner
Jessner introduziu a redução criativa dos re­ em Darmsiadt e Berlim: Heinz Hilperl em
cursos externos. Ervviu Piscator iniciou a dire­ Gõttiugen - todos, enquanto produtores e di­
ção "contra a obra". Jiirgen Fehling e Fritz retores, devotaram-se, em todo o seu âmbito,
Kortner eliminaram a concepção pessoal do à necessidade de recuperação, após 1945. do
ator para retrabalhá-lo a partir do zero. de acor­ agressivo drama moderno e dos clássicos in­
do com sua própria visão. Gustaf Griindgens ternacionais. Cenógrafos como Caspar Nehei.
trouxe a paixão fria c límpida de seu intelecto W olígang Znamenacek, MeJmut Jiírgens,
para a plasmação de seus papéis c encenações, Roehus Gliese.Teo Ottoe limil Preetorius cui-

■ .UO
55 A clássica Noilc de Walpoigis. na segunda parte do F n ti.\io : ccnogofia tfc Teo Ouo para a moldagem de Gustav
Griindgens no Schauspicíhaus. Hamburgu. 1958,

56, Estreia cm Berlim de D ie E n jiis tlw ig <A Imeslitiatãok de JVler Weiss Kreie V t ílk s h L ilin c , ]*J de miiubm de J965.
Direção: Erwm Piscaioi" música: Luigj Nono: cenário; II U, Selim ueklc À cstiocrdn, o acusado; sj dirciia, o advogado; à
freme, íliEde M jkuliezcom o acjuinla lestemunlia c Martin Berlinci como a úiiava lesíeiminlia
3

57, M is? <»i ,í( ífr f dc Ollu Sthcnk dn M a c b f t h de Verdi, com Anja S ilj*. Naíionaltheaicr, Munique. I% 7. Cenário
ttíenito estilizado dc Kudolf Hcinrieh.

5S. Projeto de cenário tlc Caspcr Ni'hcr |>ara CornAwut, de Shukesptíare, 192?».
* Pn *- a ;. 11 : i r - ■<■

daram da "escala completa dc variações" nos morc Theatre, Nova York), quanto por sua ver­
cenários. Transparência cinematográfica dos são para o cinema, com Marlon Brando c
elementos do dévor e na fria estihzução e Vivien Leigh - e, na Suécia. Ingmar Bergman.
irrealidade imaginativa no aspecto visual con­ Enquanto Kazan filmava Sindicato de ladrões,
tribuíram muito para o estilo de encenação. Bergman criava o sombrio e melancólico Noi­
Durante muitos anos, Jean Vilar foi a favor tes de Circo. Após o sucesso de sua montagem
de um palco nu e revestido de prelo, que po­ da ópera de Stravmski The Ruke 'í Progress (O
voava com um elenco vestido de trajes colori­ Progresso do Fairista), na Ópera Real de Esto­
dos, cativante pela perfeição geslual e declama­ colmo em 1961, Bergman esboçou planos para
tória. Ele inaugurou o Théâtre National Hopu- um teatro de repertório sueco, de status inter­
taire em 1951. no Paliais de Chaillot, diante da nacional, que não deram em nada. A magia ou
Torre Eiffcl em Paris, com dois papéis centrais as chances do cinema foram mais fortes.
para Gérard Philipe: o Cid de Comeille e O Jan Grossman, do Balusiradc Thcatre de
Príncipe de Hamburgo de Kleist. Com o Festi­ Praga, desenvolveu uma forma individual de
val d'Art Dramatique de Avignon, Vilar tentou, estilização que se mostrou altaniente sugesti­
como faria mais tarde Roger Planchon, em va nas montagens de Ubti Roi de farry e de O
Lyon, renovar o teatro francês levado nas pro­ Processo de Kafka. O diretor polonês Tadeusz
víncias. Em 1967, encarregou-se, por iniciativa Kantor fez profissão de fé no "circo como a
de André Malraux, de realizar uma reforma ra­ base elementar", com sua encenação alemã de
dical nas casas de ópera estatais de Paris. DerSchrank iO Armário), de S. I. Witkiewicz,
Como diretor de lealro e de cinem a, ein 1966 - baseada no original IV malym
Luchino Visconti, ãs vezes em colaboração dworktt (Numa Pequena Casa de Campo).
com Roberto Rossellini, í visto na Itália como Em Moscou, Rubcn Simonov continuou
o fundador do nco-realismo. Conseguiu que a tradição de seu mestre Vakhtãngov. Reviveu
Salvador Dali trabalhasse para uma produção sua última montagem, a famosa Princesa
dc Stiakespeare em Roma, produziu óperas de Turandot, recebendo por ela aplausos unâni­
Bellini e Verdi no La Scala de Milão, em mes nos festivais de Viena e Zurique cm 1968.
Spoleto, em Paris e em Berlim. Sua monta­ Mas a devoção fiel a uma concepção tea­
gem do Faisiaff em Viena foi regida por tral particular durante décadas, como por e-
Leonard Bernstein; a de O Cavaleira da Rosa, xcrnpln no caso do Jederntann de Salzburgo.
por Clcorg Solti, cm Londres. Engajamento c hoje um isolado pólo oposto cm face dos
social, obsessão objetiva e iria. e paixão pelo esforços de inovação c subjetivação do teatro
elementar são caractcrísticas também dos fil­ moderno.
mes de Visconti. como seus títulos já indicam: Qual pode e deve ser a tarefa do diretor?
Ossessione (Obsessão) (19431 e La Terra Tre­ A primeira resposta que vem à mente c a tra­
ma (A Terra Treme) (1948). dicional: servir à obra. A segunda é levar a obra
Seu compatriota Franco Zeffirelli ganhou adiante, prolongando o trabalho do autor. A
o primeiro prémio na temporada de 1965. do terceira, desafiar a obra. As fronteiras se des­
Thcatre des Naticms. cm Paris, com sua monta­ vanecem. Aparentemenlc. apenas servir à peça,
gem de Romeu e Jiilicta ensaiada pelo elenco explorar suas possibilidades e expor sem reto­
do lealro de Florença. Um ano antes. Zeffirelli ques o seu núcleo pode, em tempos conturba­
dera prova de sua versatilidade artística ence­ dos. realinente equivaler a um desafio. Duran­
nando a obra de Albee, Quem Tem Medo de te a Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945,
Virgínia Woalf?, em Veneza, e a Tosca na Ópera o Sdiauspielhaus de Zurique permaneceu no
de Paris, com Maria Callas no papel-título. continente como a última ilha do teatro cos­
Dois diretores hoje internacional mente mopolita e livre de língua alemã. Sob a dire­
conhecidos começaram no teatro, vindo depois ção de Oskar Walterlin. Leonard Steckel e
a dedicar-se predominantemente ao cinema: Leopold Lindtberg, abriu suas portas a obras
nos EUA. Elia Kazan - responsável lanto pela modernas que uão haviam encontrado acesso
primeira montagem de Um Bonde Chamado ao palco em nenhum outro lugar da Europa.
Desejo de Tennessec Williams (1947, Barry- Foi aqui que tiveram lugar as primeiras apre-
tl is rã r ia htuniliaí d o T entro *

scntações dc O Soldado Tanaka, de Georg A segunda possibilidade de direção cria­


Kuiser (1940). de Mãe Coragem (1141) e /I tiva. a de continuar o trabalho do autor. pode.
Alma Bna de Seiatan (1943), de Brccht. A em casos afortunados, levar a resultados bas­
adaptação do romance The Aloou ix liawn (A tante satisfatórios. Quando Jcan-Louis Barrault
Lua se Pôs), de John Sieinbeck, estreou em preparava, em 1943, a montagem de A Sapali
língua alemã em 8asiléi:t. em 1943- As repre­ lha de Cetim, de Claudcl. com a Coinédie
sentações no Sladuheater desta cidade tiveram Française. em Paris, manteve-se em constante
cominuamente casa lotada. contato com o autor. Sua ideia original, apro­
Na Suíça, a obra de Steinbeck foi com­ vada por Clatidel, dc dividir a enorme peça em
preendida como uma contribuição para a de­ duas noites foi rejeitad a pelo comité da
fesa espiritual do próprio país. Oskar Wal- Coinédie Française. A única coisa a fazer era
tcrlín. que cm geral dificilmente se interes­ cortar, cortar, cortar... com resultantes quebras
sava por uma peça oslensivamente política, no texto e no significado. O próprio Claudcl
escolheu uniformes imaginários de cor ca­ compareceu aos ensaios. Barrault propôs mu­
qui e deu ênfase às “pessoas amantes como danças e contou com que fervor Claudel as
ferramentas das potências por trás delas" na acolheu:
lula em que “a brutalidade é derrotada pelo
No dia seguinte, cu estava na Comcdie Française
espírito” (G. Schoop). Toda a sua eficácia foi
te oiio limas <la manhã O telefone locou: Claudcl nvero
trazida de dentro. Seu sucesso tanto mais re­ uma mtpiiíiçào na noite anterior é lu o u reescrito a cena
tumbante. Ao servir à obra, demonstrou sua inteira, Ais nove d c eslava Já, cm fágritrro. O autor dc
importância para a época, intensificada pela sessenta c seis anos sohiçava como um garoto dc deroitn
profissão de fé responsável e pessoal do d i­ [. .) Imncitmo- no* muna saleta do teatro, c ele leu para
mwt Uulo o i|UC havia escrito numa única tirada durante
retor.
a tirwic.
Wallerlin escreveu, em 1947:
A verxion poitrlu scènc (versão para o pal­
O tealío iiíivi! ii ehra dc enução, mus. a ohru pi eci?.y co) elaborada em conjunto fui incluída na edi­
iespirar o sopm de mu e&pctârulu atual e viu», que não
aireUu 4 jmposiçfm de nenhuma exigdn^ij prngfamâiiia ção das obras completas dc Claudcl. com a se­
A (.fiação poética precisa ressaltar a visão c a atilude iiv guinte nota: “abreviada, reescrita e organizada
iciior da representação. Sem isto, ela é por sua ve; um em colaboração com Jean-Louis Barraulf.
simples livro de icxiosa oferecer oportunidade para uni Mas hã exemplos contrários. Em 1967,
movimento, (jur ú a ntesma ohm independente de sua Kudolf N odte assumiu a direção da nova peça
icpivtenfcupici cêiiicii. ligatla a ijualqm mmiwitlu M i
DiiuiTe tle tiõá, curaianuis oiio uma siiuuçitu dc validivik de Max Frisch, Biografia, cm Zurique. Os en­
Câlálica. mus iiaii ptmess** saios começaram na presença do autor c do
diretor, mas então as diferenças dc opinião
A mesma abordagem pode ser encontra­ cresceram entre eles. Leopold Lindiherg tomou
da cm Piscator. a despeito dos resultados com o lugar de Noelie. Noclte. por sua vez. entrou
plciamente diferentes de sua encenação. O di­ com uma ação exigindo que as alterações fei­
retor não pode simplesmente ser um mero ''ser­ tas segundo suas sugestões deveriam ser
vo" da obra |que escreve), porque umu peça indicadas com» tais. Frisch porém se opôs.
não c uma coisa rígida e definitiva mas, lima Há menos probabilidade de conflito quan­
vez lançada no tnundo. arraiga-se no tempo, do se trata de um autor já falecido. Giorgio
adquire uma pútina e assimila novos conteú­ Slrehler montou a peça inacabada de Piran-
dos dc consciência. É tarefa do diretor encon­ dello. I Giganti deliu Montagna (Os Gigantes
trar o ponto de vista a partir do qual poderá da Montanha), com mn terceiro ato adiciona­
descobrir as raízes da criação dramática. Este do, em pantomima. Seu ponto tlc partida para
ponto de vista não pode ser sutilizado, nem isto fui uma informação do filho dc Pirandello,
escolhido arbitrariamente. Apenas na medida segundo o qual, na noite unlcrinr à niorlc de
em que o diretor sinta-se como servidor c ex­ seu pai. este havia lhe falado da intenção de
poente dc sua época, d e conseguirá fixar o terminar a peça com uma pantomima c lhe ex­
modo de ver em comum cotn as forças cruciais plicara toda a concepção da cripticamente obs­
que modelam a natureza dc uma época. cura ohra.
59. ('L-nário tic J-ranz M c rtí para a ençcnsiçan ie ila por CJ, R. SeUrvcr do t\dipa R i‘i dt: S ófodcs no l-amtesíhcíjicr,
P tintiM iult. 1952 Um tixtinph> dc dr;m ui clrtssico t-slilivjdu nu palco m oticm o
60, Open Tliealre, Nova York, durante ensaio da montagem de PeterFeldmun da peça The Masks (As Mlistaras), com
peças em um ato de Brechlr íoneseo e outros

61. Cenário deTeoOuo para a montagem dc Kurt Hircchfield de A n dorra, de Max Frisch. Fstréia em 2 ile novemhm
de 1961 no Schauspielhaus. Zurique. Cena iinal com Pcicr Brogle como Aridri.
62. Cena de Kosiw^y na inonu^cm de Pelei' ZadcL de íA* Solf^tiJtnvs, de Schillcr. em Bicincri, 1966. Cenário Jc
WiJfried Mirik*, com projeção <1e fi indo buscada cm pimiiiy de Roy LichieivUeiiv
H i s t ó r i a M u n t t i n i tln T e a t r o ■

Na primeira montagem, em 1930,de Pie Schiller, fazeudo Spicgclberg (um ambicioso


Sudpalexpeditimi dcs Kapilims Scotl (A Ex­ vilão) usar uma máscara de Trótski. Em 1966,
pedição de Capitão Scott ao Pólo Sul), de cm Wiesbaden. Hansgunlher Heyme chegou
Reinhard Qoering, Leopnld Jcssner dispôs o ao ponto de retrabalbar Guilherme Tell para
terceiro ato antes do segundo. Rudolf Noelle. fazer a peça expressar “a desumanidade de
ao dirigir As Três Irmãs, de Tchékhnv, em todas as revoltas de massa”.
Suntgarl em 1965, reduziu a peça inteira a um A procura de novas abordagens para os
cenário: uma sutil troca de luz transpunha u dramas históricos dc Shakespeare. Peter
drama lírico e melancólico para um domínio Paliizsch, cm 1967 em Sluttgart, forçou a
de aguda solidão, cuja resignação total equi­ trilogia de Henrique VI a assumir um formato
valia ao niilismo. que se desenrojava em duas noites. Com o tí­
Não apenas diretores, mas também dra­ tulo de As Guerras das Rosas, apresentou esta
maturgos deram novas e diferentes interpreta­ monumental crónica (com cenários de
ções a obras de outros. Jean-Paul Sarlie adap­ Wilfried Minks), inlerpreiando-a como um
tou Aí Troianas, de Euripedes; Peter H.icks, A exemplo program ático de ganância ines-
Pai, de Aristófanes (Eirene). Mais ou menos crupulosa pelo poder. O coxo e corcunda
na mesma época, Karolos Koun, viajando com Ricardo de Gloucester anuncia num monolo­
sen Teatro Grego de Arte de Atenas, apresen­ go (exeenado de Ricardo IU e reorganizado
tava sua versão do drama clássico. Ele o via num prólogo) até onde sutis ambições o esta­
'‘profundamente enraizado em seu solo, uni­ vam levando. Um ano depois. Palilzsch
versal e eterno", Em 196)1, versão greco-anti- logicamente prosseguiu com uma nova mon­
ga do Prometeu - montada cm Stuttgort por tagem de Ricardo III - um paralelo do ciclo
G. R. Sellncr c em Munique por August shakcspeariano das Guerras das Rasas mon­
Everding - o compositor Cari Orff sobrepu­ tado em SIraiford-on-Avon por Peter Hall. cujo
jou seu Édipti e sua Antígona. Ele extraiu da vasto e rico empreendimento trazia assassi­
tragédia clássica novas possibilidades de efeitos natos, política, intriga e guerra.
musicais e cênicos que puxavam-no da Anti­ Thomas Mann certa vez fez uma pilhé­
guidade para a época moderna. ria a respeito de Os Salteadores, dizendo que
O teatro, quando alcança a perfeição, c a peça podia ser considerada como uma es­
igualmente a mais antiga e a mais contempo­ pécie de “western superior". Isto é aproxi-
rânea representação da vulnerabilidade do ho­ madamente o que Peter Zadek realizou cm
mem diante de forças inescrutáveis. sua montagem de 1966, cm Bretncn. Trans­
Há gerações que se travam inúmeras dis­ pôs a obra para o mundo da atual sociedade
cussões acaloradas sobre como dirigir e mon­ dc consumo. Wilfried Minks desenhou utn
tar os clássicos. Shaw, em sua época, já se irri­ ciclorama com tiras de quadrinhos, segundo
tara bastante coma reorganização arbitrária de uma tela de Roy Lichlenstein. Um ano de­
cenas quando Beerbohm Tree e Henry Irvíng pois, Zadek montou Medida por Medida, dc
montaram Shakespeare nos seus palcos lon­ Shakespeare, como exemplo dc uma “dire­
drinos realistas e majestosa mente equipados. ção intuitiva, subjetiva”, conforme ele pró­
Seu objetivo, como o de Charles Kcan ames prio explicou. Num palco vazio, adornado
deles, era conseguir quadros vivos comoventes. por Minks com uma fileira dc lâmpadas co­
Assint, traduziam a fantasia cênica de Shakes- loridas, Zadek mostrou “o que acontece com
peare para seu próprio conceito realista de es­ a imaginação ao ter uma obra” . Indagado,
tilo teatral. numa conferência cm Munique, sobre até
No século XX. obras de Shakespeare c onde iam os limites da direção subjetiva.
Schiller serviram para explorar o outro aspec­ Zadek respondeu com desconcertante fran­
to problemático da direção teatral: trazer à luz queza: “Quando o público se recusa a nos
a provocação denlro da estrutura da peça. Os seguir, é preciso parar”,
resultados, não raramente, foram escândalo e Peter Brook resumiu o problema em ler­
choque. Em 1926, em Berlim, Piscalot mos de uma dimensão maior, a da relação
politizou Die Rãuber (Os Salteadores) de crucia] entre o teatro e a sociedade:
- 5.1$
P o N a tu r a l is m o ao P r e se n te

U m ít tc ic d â á c ntivdc híirraomo^ precisaria ape­ Enquanto as plateias nâo esquecerem de


nas procurai cam inhos para refle tir c reafirm ai essa har­ que são parceiros criativos no teatro c não ape­
monia em seus toiros. Esses ícattos poderiam se cstalvr- nas consumidores passivos, enquanto afirma­
lecercom clcnco e plaicui unidos num “sim” m útuo. Mas
rem seu direito de participar espontaneamente
um mundo eaõiico, e em uansformaçwi. preovu escolher
emre um teatro que ofereça um “ s im " espúrio ou uma do espetáculo mediante sua aprovação ou pro­
provocação Ião forte que estilhace su;i plateia em f r a ^ testo, o teatro nâo cessará de ser uni elemento
mentos de intensos *‘nfto”. excitante cm nossa vida.
Bi bl i ograf i a

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- 5U
índice

Abel, Liancl: Absalotn, 520 A lexandre, o Grande, 7 . 8 , 1 7 ,2 3 ,2 9 , 124, 13 0 ,3 4 5


Á cio , Lúcio, 144 Aléxio 1 Comncno, 25, 182
A ckem iann, konrad, 411, 413; iroitpe de, 400 Aléxis, 124
Ackerm ann. Sophie, 388 Alfonso X. 242
A d d is o n Juseph, 391. 406. 407 Alleyn, Edward, 319. 320
A<b (segundo ator), 87 Allmati. George J., 293
Adrasio. 104 Ambrósia, Santo, 191
Adso He Toul: Ubettus de Antivhnsiú^ 203 Amenólís III. 13
Aerobindo, 177 Ana da Bretanha, 256
Afrãnio, Lúcio: Caso em Chamas. 155 Anu. Rainha. 303, 358
Agaiarco. 114 Anastácio 1. 172
Ágaton. 120 Anaxundrides. 124. 130
agon, 107. 113, 121 And. Mctin, 25
Agop, G íillti, 26 Andersotv MaxwdL 520; EU-abeth thr Qitcen [A
Agostinho, Santo, 212, 235 Rainha niisabcilil, 518; Joan af Utrrnine (loan
A g o sti manos, 240 de Lorenai, 5M, Mary of Scotiand (Maria da
Agncola. Juhannes: Tmgcdiu d*TJahuutos Huss. 301 Escócia). 518: WUuerset (O Inverno). 518
Alarcón, Juan Ruíz de: Lo Verdad Soxperftost*(A Andreint. Francesco, 355, Le Brovure dei Capitem
Verdade Suspeitar. 370 Spavemo íAs Bravuras do Gi pilão Spavcnfo).
Albee, Edward: The American Dtento (O Sonho 355
Americano), 521; Who's A/raid of Virgínia André im. Isabel!a, 406: Canas, 355
W a o t f ? (Quem Tem Medo de V irg ín ia Woolf?), Amireim. Viiginia, 326
519.533 Andreyev. Leonid Nikobevich: A Vida do Homem,
Albéníz, baac, 481 465
A lb e rii, Leão Batista, 27ST 284; P h i i o d o s e o s , 27S anfiteatro, 140, 155-161; e ícatiti de mistério in­
Alberto da Livônia. 240 glês. 232
Afbrecht V, 357 Angústia de Lticca. Santa, 247
Aldríeh, Thornas Bailey: Jnetiih o f H ethniia, 523, Aníbal, 14)
524 Anna Amulia. 413, 416
Alegorias, medieval. 261-267 Aununzio. Gúbrick ó \ 469
Aleikheni, Scholcm, 517 Anoutlh. Jean. 147.480
Alemanha: classicismo da, 413-429; teatro da. 529; Ansdliiiz, Heinrich, 429, 446
Teairo Nacional da, 408-413 An-Ski. Sch: O Dibut, 466
A k o tti, Batiista. 335 Ànrichristt* (Tegemseej. 203-204.235.2<\ | - ínfiuên*
Alexanderstift, 196 cm! nos autos de Natal, 235
Alexandre VJ, 270 Anufanes. 124
H is tó r ia Ah u u l i u t tto *

Anioine, André. 449. 452. 453. 454. 450 Augusto. 139. 140, 154. 155, 157. 163. 164
Anzcngrubei. Luiiwig. 457. 442 Augusto, o Forte, 382
Apollinairc, Guillaumc: [jcs MamtJtrs de Tiresins Aulnoy, Maric-Cathcrine d', 369
(As Mamas de TiresiaO. 481 Aurélio, Marco, 154
A|>olodoro. 114 Auric, Georges. 481
Apolònia* Santa. 227. 205 Auspira. Giovanm, 270
Appia, Adolphe.470, 519; Cnpeau, e,480; iníluên- Atuo de Paixão. 185, 191, 194, 195.212-222.223,
cia cm tones, 471; influencia cm Mídzmcr. 524 227. 233, 234. 240. 248, 261, 262; Àleoròo. e.
Apuleio. 137. 155; O .-Víiifufr Qttm. 137. 155 19; Alsfeld, 215, 227; Angora, 223; Donauc*
ttragoio, 91. 92. 95 schmgen/Villmgen. 219; drama grego* e* 173;
Arca de Noé. 228. 231 Egípcias, 7.8,11; Hussoin. 4. 23; influência nas
ArchUeu Viuoriíi. 325 representações profanas, 248; irmandades, e,
Ardálio, 169 200; Kreuzenstein, 245, Luccma. 216; medie­
Areoi da Pnlinésia. 4 val, 178; Obermmergau. 23; palco* 262: Persa.
Areimo, Pjetio: Ut Cartiginun (A Cuftcsà), 278; / 19, 20; Tiro! fEtozen), 216, 219; Viena. 216
Ragionamcnri (Os Arrumemos). 278 Auiode Páscoa, 178. 185. 186, 189, 194-203. 212,
Anadne. 136 2i9.245; Eríau. 199; inusbruck. 198. 199. 209:
Anon dc Lcsbos* 104. 11)5 Viena. 216. 221
Arioslo, Lodovico, 281; Im Cassaria (A Caixinha). Auto dc São Nicolau, 205
276; Orfatulo Furioso, 276: Shakespeare. e. 312: Aulo do Padre-Nosso, 265
Stuilciftrs, 300; / Sttpfiositi(Os Imi^íMores), 276, Auiodos profetas, 219* 240
312 Auto sacramentai, 209, 212. 368, 373
Anslodeino, 130 Autos de carnaval. 216, 250-255. 308
Aristofnnes dc Rtzâncio. 129 Auius de Natal. 185. 198. 199. 233-240; abadia
Aristofanes. IM. 117, 118 124. 141.475. 502; Os beneditina dc Bcuren. 205. 235; alemã. 182;
ArraiUanos, 123, J24; 4 Assenibicitt <U\s Mu "Bárbaros". 80: Bizantina. 182; Gótica. 181,182
Uiarcs, 124; Os Sabiiánitts, 124; Os Buoqiti - Auios de Ncitlliatf. 248. 250
fendores. 120. 121; Os Ceiettleiros. 121-123; Ayame. Veja Ynshtzawa. Ayame
deuses, e, 121. 123; Lidstraiu. 123, 4 aNuvrit*. Ayrcr. Jakob, JHM)
121, í 23; Os Fásjunm. 123; A I\t~. 118. 123.
538; As Rãs. 104. M3* 12): A Riqueza (Ptutusi.
121; Aí Wm/kw. 120, 123 Bacrin del Biahcn. 370
Arislritcks. 140. 211. 272. 273. 411. 412: defini­ Bacon, Francis, 530
ção de trutictlm. 1KJ; Pilis. c. 252: música, u, Badius, Jodocus, 271
324, origens da comediu, c, 120, /Wwiw. 120. tínlin. Roma, 507
130. 344, .Sófocks. e. ! 14 Baif, k\ui Antouic de, 27.3. 280. 330
Arlequim. 162. 247. 248. 353, 358. 4061407. 425 Bruley. James A., 516
Arqudau. 110 Baker George Piorce. 519. 520
arquitetura: do Àlcoas, l30:duRoma. 130. Vejuiíiim Baklinishin, 499
bem construção de icatros Bukst. Léoti, 48)
Ammge, Adotplie L\ 457, 487 Biilhu. Lúcio Come lio. 154
Artaud. Amonin. 500, 502, 504 Ralhulo. Nolkcr. 189
Ane tomâniica, 177. 195. 234 Balde, Jukob: Jeftitts, 341
Ariur. 252 balé, 433; aquíllico, 164; Pizaniiito. 164; coric har-
Ashbury. Juhn: The Menus (Os Heróis k 520 roca. 330-335; historia do, 344: influencia cm
Aspcmlus. 154 Diíigliilev, 481: Humano, 164. 167; Russu, 469,
Assurbiinipal, 442 481; Sueco, 481
Asvaghoshu, 39 Bale, John: Kiu# John. 30J, 312
Atores ambulantes. 374-379. 395, 396, 407 Bal/iict lionoré de. 451
Altcrbom* Per Daniel Amadeus. 427. 429 [iiinqncoes, 395
Aubei, Daniel l.a Msirtre dc Portici. 433.436, 4% Barharo. Daniele. 284, 287t 291
Aubignac, Abade Irançois d'; La ftrtuiqur du Barbai ossn, 203
ihêâtre, 320. 34-1 Bardi. Gkivanni de": A n u to F id o íO Amigo Fid).
Auhulo. 124 324. 325
Audiberti. Jatijues. 469 Barkcr. James Nelson: The Indian Princesa, or
Aufresne. 388 Lit ihtíe Sífttvttgc íA Princesa índia, ou A Bela


• índice

Selvagem). 515; Superxtttion fSuperstiçioj, Berthct. Gimanai; Leiíi mscmiserui di Crfiovtottio


515 416
Barlach, Lmsl, 476 Bcrgmnn. lugmar: Noite* de Circo, 533
Bartog. Bolesíaw. 530 Bcrlin, lrvi«g„ 513
Barnav, Ludmg, 449 Berlíoz, lluclor; Benvcnitío Crlihti, 441
Barmim. P. T, 433, 51* Bemard de Morlaix. 368
Barra*. Charles M.: The Black t Toitk (O Trapaceiro Bemhardt, Sarali, 442. 455, 514. 523
N egro). 516 Bemban. Joseph. 109
BurrauU. Jean-Louis, 475. 480. 513, 534 Bcrnini, Gmvanni Lorenzo. 323
BARROCO, 155. 323-324; comédia de caracteres. Bemsiem. Leonard. 517, 533
344 >352: Çammedta deli arte, 353-367; Ballct Burtin. Emilc. 488
de Cout, 330'334; Lemro francês. 344-352 Bertoldo de Kcgensburgo, 144
Barrv, Pjnlip. 520; The Animal Kmgdom (O Keinn Bcrtoli. Amonio. 326
Animal), 518; Hrre Come thc CYonn.v (Aí vêm BeluLiUS; De virtutr ef \tduptaíet 3tt7
os Palhaços), 518: lioliday (Feriado), 518; The Beuther, FrnidricU. 429
WuhdefphiaSlaryiA Htslona de HlaJétiud, 518 Bharui. 42
Bany, Sp ranger. 301 HEiarara: Ntityasasim. 29. 32, 33-37, 38
Basílin, São, 181 Rhasa: BiSittcorisn, 39; Chtítvdnila, 39; Duitivijk\uL
Bassermnnn, Albcn, 476, 487 39
Bttthory. Esiêvâo, 274 Bluvabbmi. 42
Balilo, 164 Bihbiemi, Cnsenlino: Caltmdritf, 278. 284
Baíy, Caston, 480. 488 Bidcrnuinn. Jakob, 341; Ç.rtwdoxm. 341
Buudc, Henri, 256 Bicbcr. Margarete, 134, 161
Baudcluirc, Charles Pierre, 466 Birck, SiM: Sasantu^ 301
BKucrle, Adolf, 425; Ufrrpe/' Thcatcrzeiiitittt. 445 Bird, Rohcrl Montgoinery The Brokcr of ítoyora
Baumcisici, Bemhard, 446 (O Agente dc Boguuí). 515; Thr Gltidintor tC)
Bayle, Pierre: Dictiowuiire. 381 Gladiador), 5 15
Benujoycuíx, Bullhasar. 2% Bizet, Georges: Carme», 441. 470
Bcauimirchais, Aligustm Carim: O fíinhruo de Se* B1ZÀNC10. 171182.186,240; arte. 172.173; baló
vilha, 352. 388: As Bodii\ de Ffgantt 3H8, 403 at|uátieo c jogos. 164: influência no tcairo de
Rcnnmoni, Fratrcis. 310 mistérú». 232; nnino. 162. 163, 172-177; intkj.
Bcnuvojr. Simoiac de, 526 ca, 172; padres da Igreja. 175. 240: lenho gre­
Bcck. Jtidnli Malina e Julian. 52(1,521 go. e, 173-175: lealro iui «irena. 177-178: leairn
B«kcii. .Samuel. 469, 521. 522; £wfgwuc <Fmi de na cone. 181. 182; loairo igivju, ]78-223;
><>£«), 522. 530: Fyierwufo Oodoi. 5| |. 526 leiilio \em drania. 172-177
Beci|uc. Henri: Les Corbctmv iO\ Corvos i. 453 Bjtivnson. Bjiímstjerne, 453, 457
Bccr. Rudoir. 402 Bleiblieu. Hedwig, 492
Beethnven. Ludwig van: Fidetio. 425. 427 Bleihlreu, Karl: Revalution m der Lia'ratar iRevn.
Belirman. S. N__ 520 Luçâo na Lateral um), 455
Béjan, Armando. 349 Sim, Roger, 530
Bcfiin. Mndclcinc, 349 Bodul, Joan. 257
Belasei*, David. 518; The Oiti af rhe Colden Urr( Bixrklei, Georg AmíieiLs, 337
(A Garota do Oeste Dourado). 454. 5ig' Bodel, Jeun: Le Jea de SaiahNfctdtts (O AutL» de
Madorne Buiierfly, 99. 518 São NiudaU), 205
Belííimy, George Annc. 391 Bodmcr, Jolmnn Jako1\ 406
Beífay, Joacfum Du, 273 Bugener. Moim icli der, 196
Bellieti, Jean. 256 Boiieau-DcspléEtux, Nicolas, 404, 406;
Bdlincioni. Bernardo. 292. 293; Leonardo c 292 Paéritfiif' (A Arle PíMÍUca), 382; Vohaire. o. 386
293; rima. 293 Rnjardo, 2KI
Bcllmi. Vinccnzo, 533 liokcr. (ieorge Hunrv, 515: Frtim ewa da Hirnini,
Bcltomo. Joseph. 416 515
BemLi. George*. 387 Bolenar Ana. 3 12
Beneditinos. 203, 248 Jtolinghrokc. 386
Benois, Alexandre. 48I Bbtsdie. Wiliidnt: ific nafiinvixHwschtt/thchcu
Beolco. Angelo. rRiizzamc"), 2f>l. 273. 281: La Grtttufhftcn der ftu-ste lOs FnndimwntON Cien­
Fím aiina, 353; Im Vaceario, 353 tíficos da Poesia I. 455
íii.\iúritt M itntíial tio Tvotro •

Bond, fcdward. 313; Sawd íSulvos). 4fi() (A Doença da Juventude). 475


Bnoth* Fdwin. 516 Brneghcl, Picter, o Velho. 257. 308
Routh. John Wilkcs. 516 Bruhl. Kari. 424
Borchert. Wotigani»: Dranwen iw der Tui <tio Bruncllcschi. Filippu. 2 7 1 .28 4
Outro Lado da Porta). 501 Brunner, Tobias: Jakob. 301. 303
Bõrgia, César, 256 Bruno de Colónia. 242
liorkensiein: iinakesbeuteL 4I1 Bruno* Giordano, 324; / / C a n d e t a i o , 278
Borlusc. Willúnil- Obtcenvdanx on thc Antiquitits Bruno* São. 341
HtsiorUal and Monumental of Connvtifi (Ob­ Brunswick, duque H cin rich Julius dc* 375
servações sobre a* Antiguidades Históricas l* Buchanan. George: t f a j n i s i e s . 274; D e t e c t i o M u r i t i r
Monumentais da Cornualha), 232,233 R e g ã t a e , 274; J e p h t e x * 274
Roiticelli. Sundro; Nusdtnrniv de Vénus. 281 Búchner, Georg, A .. 4 4 1; D w ito n a Tod (A M orte de
Biutchei, Jesn. 228 Danton), 4 7 5 .4 9 5 .4 9 6
Boucicauli. Dion: Thv Qvtornon íO Omivão), 51? Ruda. 39; nascim ento d c , 78; dança em honra a.
Bouguin* Simon: LHomrne Juste et L tionwu' 9 1; personificação de. 41
Mvndain, 262 Budismo. 39. 54: ascetismo. 42; dranut do* 42; in ­
Souhélier, Saint-GeOrgesdc: Oedipe. Rui {Ir Thébeu fluencia no teatro de máscaras. 75; Japão, e, 78;
(Édipo, Rei de TebasMHH Mahavana. 39; irô. e. 8 1* 9 1; poesia, 39; S amurai,
Bouschet. Jun. Veja Thomus Sackcvi llc c, 8 1; yujpert, e. 3 8 ,8 3 ; z a , e, 8 1
Brabante. 261 Burfcquin, George, 345
Brahm, Ouo. 455-460, 471.480, 487 b n g a k t t %78-H0
Brahmu, 29. 33* 36, 37 Búlow, Hans w n , 457
Bramunte, 284,287 h m ruku, 7 5.2 6 0 .2 4 7
Brando, Murlon. 533 Bunrakuken. Veja Uem ura, Bunmkukcn
Rruquc, Georgcs. 481 B u o niakn ii. Bernardo. 2 9 1 .2 % . 324.325
Braun. Hnnris* 529 Buxhage. James. 317. 320
Braunsdiwcjg. Heinrich Jubus vou. 3íXl Burtwge. Richnrd. 319
Breclu. Bertoh. 42, 412. 452, 463, 471.495. 5<>K Burckhardl. Jacoh, UM. 269
501* 504-510, 523: Aitfjitieg tntd Faií der Stadi Btirger. G. A.* 436
Muhugonttv (Ascensão e Queda da Cidade de Burkc. Fdmund. 429
MahaguTmyí. 505, 510: Der gute Meusch i t>u burlcscn: caracteres tio . 191: fin th a stw tt. e. 42. Veja
Srzwitf (,A Alma Boa de Sctsuan). 510, 534; também farsa
[Jickiíitt der Sttidte íNsi Selva das Cidades). Bumacini. G iovam ii. 3 2 6 ,3 3 0 .3 3 7 .3 4 2
505, 507; Hctr Punida und srin Rnrdit Motri Bumacifli. Ludovico. 326, 330. 335, 337
(O Senhor Puntilj c seu Criado MutU). 507: flustelh.355
Rtrines Organon Jiir das Thrtitrr (Pcqucuo B y l.4 5 3
Órganoo para oTcalso). 505; tfts Ga/ilt i B yron , G e o r g e G u r d o n . 4 2 9 ; /Jo n J n tm . 4 3 1 ;
l A Vida dc G;i11leu C aIilei I*507; Aitttw isf Ataun M e titfr e d , 470; S n r d a n t i / « d o , 442
(O Homem é o Homem), 504; MuHrr Cottruge
uttd ihre Kinder (Mito Coragem e seus Filhos).
507. 526. 534: A Òjn ru dos Trih Vinténs. 307. Cacuni. Giulii), 330: Da/in\ 324: JTufYVJrrr. 325: ll
510: peças de Grass. e, 311; Tagure. tf. 42. 44; Rupnnento di Cejah. 325
teatro asiático, e, 54: O teatro épico dc, 505; Cage. John. 527. 529
Trínnittrfti w der Nada (Tambores nu Noite), Caillftiu.Huben, 223
505: Vet^migungstheater oder Lehrttieaterí1 Csldemn de la Pedro, 320, 377,413.42S, 431;
(Teatro dy Divertimento ouTeatro Didático?), 505 L a devoción de la C ru z . 433; JS7 g o lfo de hix s ire -
Bredcro, G. A„ 308 tms (O Golfo das Sereias j, 373,374; t7 g w n tettrrrt
Bri»huuse, llamld.460 d e i m undo íO Grande Teatro do Mundo). 373; O
Bri/eu)t, Jiilicn Auguste PéInge. 436 P rfn d fH ' C o n s tijn h . 373. 433; A Senhora das F ú -
Uroadway. 513-319 d a \. 373. 0 J u iz A/i o id e d e T /ila iw a * 373; I J M n vor
Rrodman. Stcphaii, 304 Fneunto A m o r { Amor, O Maior h^iticcin>). 374
Bronnen, Amole \\aeruumt (Parricídio), 475 Qdigulu, 164
Broulc. Peter. 471. 526. 530. 538 Callas, Maria. 533
Btmvn. Kcmtcih: The ting iA Prisáo d» Navio j. 520 Calltopius.271
Browne, Kolicil, 375: Aetumes*375 CaUino, 30i
EIturkner, l;c n luiaml, 4811;/ >ú•A'rwtkhrit der JttgtW Camcr van den Viohcren, 305
tm tie c

Campani, Niccnlò. 261 Chikam aisti. Mon/actnotk 75, 89. 9 2.9 5


Canms, Albert. 520, 526: ir Mythe de Shyphe (0 Chikazane. Kom a no. 78
M ito de Sísifo), 522 C H IN A , 53-73', “Cem jogos**. 54-58; como tema
Canções dos goliãrdi, 245 no balé de Novcrrc, 3 9 1; conceito xafnánko da,
canto: Bizantino, \H\cmticti. 147;Grego. \y iju d i 78; drama do Norte e do Sul da, 61-66: fa rd itn
saiouct, 140; Romano, 16 1. Veja também kabuki das P erus. 5 8 -6 1; Ópera de Pequim, 66-70; peça
Capion. Étiennc. 396 musical da, 66; toairo de mascaras japonês, c.
Ciircovt 155 75; teatro moderno, 73
Carino, 161 CUirico. G io rgio de, 481
Cari Augusl. 416* 420 Chrisliano V I, 397 , : i'
Carlos IV, 215 Chnsiiansen. R .t 397
Carlos IX, 280 Chronegk, Ludw ig. 449.462
Carlos V. 269.276.308 Chuang, 54
Carlos V[, .138 C ib b e r Co tlcy. 386
Carlos VJ11. 256 Cibber. Susannah M aria, 39) -1
Carlvle, Thomas, 441 C icc ri, 433
Camnte. 114, 367 Cícero, 139, 16 2, 163
Cariusianos, 341 C ic lo de Towneley, 232
Caruso. Enrico, 454, 514 Cinem a. Veja film es
Caso Sacco e Vanzetti, 0 . 518 Cip iã o Africano M aior. 141
Caspar, Horst, 487 Cipiãn A fricano Menor, 147, 148
Casliglione, Baldassare, 284 circo: Barnum e Bailey, 5 16 ; Bizantino. 177. 178.
Cnstro, Giiillõn de: Las Mocedaelex del Çid„ 370 L81, L82; Oriente Próximo. 19; Romano, 139.
Catarina M, 403 140, 155, 15 7 . 16 2. 172: Turco. 26
Catulo, 205 C I V I L K A Ç Õ n S IN D O -P A C ÍF IC A S . A S . 2 9 -5 1;
Cavalli, Francesco, 326; Lpisto, 326 índia. 32-44: Indonésia. 44-51
C e itis. Konrad, 271; Lndstn Ditítwe. 299 C I V I L I Z A Ç Õ E S IS L Â M IC A S . A S . 19 -28 : P om a.
Cem jogos, 54-58 20-23; Turquia, 23-28
Ccaottoxas, 341 C la ii, Kené. 455, 524: E n r r ‘a c ie . 483
Censura. 317, 388. 427-428; Freie Búlme, s\ 457. CLairxm, M llc., 63. 346. 387. 3SK
459; Shaw, e, 460. 462; teatro político, e. 500 Clíiudel. Paul.4 9 9 .5 1 1.5 13 : L A u u o m e fo iir nA /<tne
Carito, Fanny. 433 (O Anúncio Feito a Maria). 470: Bnecht. e. 5 1 1:
Cervanies, 283; D tm Q ttix o tc , 367-368 C h n s to p ite C o L iiu h . 5 13 : Le S o u lie r de S a fitt (A
Césaire, Aitné: Une Saisott au Congo (Uma Tem’ Sapatilha de Cetim ), 54, 346. 371), 5 13 . 534
porada do Congo K5tM CLemcnt V I L 278
César. Júlio. 151. 155, 157. 163 Clemente IX , 323
Cesariano, 284 Cléotv 12 3 , 124 , 141
Ccsii, Marc Anionio: // Pnmo d'Oro, 3.10 Cleópatra. 4]
Ch'i Ju-shan. 67 C lísien es. 104
ClCicn Lung, 61. 66 Cnapius. G re g ó rin : E x e m p la d n w u td c a . 342
Chat km. Joseph, 521 C oclrau, Jean. 4 7 1; l / A i g t e à deux r ê t e s ÍA Á g u ia
Champmesié. Mlle de. 347 R ic é f t la ) . 4 8 1 : B a c e h u s (B a c o ). 4 8 1 : L o
Chang Tse-tuan, 60 M a e h iu e la fe r tu d e (A Máquina infernal). 4 8 1;
Chapelain-Midy, 155 O rp h é e (O rlcu), 4 8 1 . 483; Purade, 48 1; l w Sm f,ç
Clwplin, Charles, 353, 502 d tm p o e te (O Sangue de um PoeiiU. 48 1, 483;
Chapman. Gcorge, 317 T estam cm d ‘O rp h é e (Testamento de Orfcu 1,483
Charivari. 248 Cuhcn, Gustave, 519
Chnssiron: Rcjlexions sur te Contiqm■-lonnoyant C o lb e il, 352
(Reflexões sobre o Cómico Lacrimoso). 386 Coleridgc, Sam uel Taylor. 431
Chasidlaill, Georges: i r Concite de Bufe. 261 Coliseu, 154 . 157
Clialcaubriand. Fnmçois Rcné de: Lc Geme du C o llin , M allbias. 301
Christianisme. 429 Comédia de caracteres. 344-352
Chevt-isuny, 59 Corvuncdia erudita, 273. 353
Chesnayc, Nieolas do la, 262, 296; Ctrndauuitifiou Comédia humanista, 276-280
de Banquei, 262 comedia: Grega. 1 18 -120 : comédia média romana
Chiabreríi, Gabride, 325 (mr.vcK 12 4 : Com édia nova 129; Grécia
/ ít s lõ r t n M u iu tin t do Teatro

Amiga. 120* 124; origens da. 118-120; Roma­ Comelius, 448


na. M4-I48. I6L 162; scrw cómica, 287 Conuiallin, 232, 233
Comédie Française. 352. 431, 433, 442, 452-453, Corporação de teatro Shocliiku-Kuisha (Shochiku
455; 481. 534 sociedade anónima). 90, 98. 102
comédie gate (comédia jovial), 382 Corsu iacopo, 324
comédie italicnnc. 227, 357, 358 cortejo teatral. 228-233
comédie-balícr. 296, 334. 347 cortejo, medieval, 228, 23]
Commedia delVarte, x. 1. 3, 4, 16. 120. 162, 247. costumes: atores ambulantes, e. 378. 379; Buonta-
261. 266. 276. 278, 324. 352, 353, 374. 375. lemi. 296; farsa, 256; francês do século XVE11,
377,510, 523; adaptação francesa de, 349; bar­ 387; Garrick. 392, Goitschcd. e. 406. 407;
roco. 353-367; cumédia erudita, e, 273; comédie- Holberg, e. 400; medieval, 200: ópera de Paris.
bailei, e, 334; definição de, 353; Górki. e. 367. 433; realismo, e. 448; teatro primitivo c, 2-4.
465; Gnltparzer. e. 367: Gryphius, e, 376. Veja também máscara
Hoffmann. e, 432.433; Hunimismo. c, 382; in­ Courbef, Gustave. 440
fluência em Hnlberg. 396; influência cm Craig, tidward Gurdon, 232, 465. 470, 471, 475.
Molière, 349. 352; influência no teatro russo, 488.519; The Arf af lhe Theatre <A Arte do Te®'
496; início da ópera, c, 326: tw gw , e. 87; más­ iro). 471; Copeau. e. 480; influência em Barrault.
cara medieval, e, 266: Mcicrhold. c, 495. 496; 475; influencia em Jones, 471: influência em
napolitana, 367; orta oytmu. e. 26: Kcmhardl. c, Mietziner. 524; The Mask (A Máscara), 471
488; Romantismo, e. 433; scenario para. 355; Craniner. Thomas. 204, 301
Taírov. e. 496.499 Cniics, 121
Conincna, Anua. 25, 182 Crabno. 12); A Garrafa, 121
Concílios da Igreja, 169. Basiléia, 261; Cartago. Creizcnach. The odor. 276
178, 182; Nicéia. 181 Crisóstomo, São Juno, 172-175, 245
Confúcio, 53. 54. 61.63.66 Cristãos: aceitos em Roma. 167; e aulos de
Gmgreve. William. 391 moralidade. 261; c mitologia, 17; Ncstomno,
Conrado de Constança. 195 54; perseguição. 140; ridicularizaçào dc, 167
Conrado l. 242 Cristina da Suécia. 324
Conrado IV, 195 Cristo, 109: ascenção de, 212. 219. 232; batismo
Consiant, Reaja mm; Rtfle.Kions sur le théátir di1. 212; encarnação de, 173; Marduk. e. 17;
ailemaud, 431 m im n .c , 167-169; mune de, 13, 167, 186.215.
Consiamin. 413 219, 240. 341: nascimento de. 181. 242: ressur­
Constamiito, 155, 171, 172, 186 reição de. 186, 189, 219, 228 Veja também
Construção de teatros: Bumacim. 326, 33Q: casado Amkitristo. autos de Nal.nl
ópera, 324, 326; início do período eli/abetano. Cronegk, J. F. vou: Oíint mui Sopitnmm, 411
317- 319; 11aliíiniiH433; do Langhan. 424: fmraski' - Croques*>i, ílerlekiti, 247
nia, 130; primeiro público, 317; prvscenia, 134; Croilicis, Rachel: A.v Husbamh Go (Quando os
icvivência do ctttlo grego. 424: Romana,!48-15 1, Maridos se Vão), 518; Sasmt and ("uni (Susan e
154, 155; de Schinkel. 424, 425; século XVIII, Deus), 518; T h e Thrce o f Ux (Nós Trési. 518;
382; "teatro toial'*, 501. Veja também palco Whfn iMdien Meet (Quando as Senhoras se Fm
Copeau, Jacqucs, 475. 480 comm m ), 518
Copémico, 269 Cruzadas. J7l. L95. 203
Coquelin, Bcnoíl ConMafjt, 455. 492, 514, 530 Cupido, 367
cor: e montagem de cenário, 475.476, cubista, 481: Curió, Escnbônio, 157
no teatro chinês. 70 CuviLliés. François, 338. 408
Corímh, Unis, 488 Cynfhius. Veja Giovnnni Giraldi
Comaro. Alvise, 353 Cysai, Renward, 216
Conieille, Picirc. 274. -H4, 379. 388, Andromêde,
345: Lc í 81.345.346,370,418,533; Cuma,
345; Discours de.t írr>i.çuuiiés (Discurso das Três Dactcr. Anne Lclèvrc. 148
Unidades), 346: Txatnen. 346. Hontce, 345; Dadaístas. 500. 524, 529
Médée (Medeia 1. 345; Mélitc ou les fauxscs Dali. Salvador. 533
tetrres tMelete ou as Cartas Falsas), 344. Le dança: A n a iô iiti, 25: Asiática. 76: Australiana. 3;
Menfeur (O Mentiroso}, 370. 382; Mcomèdc. Budista. 78. 80. 91; húfalo. 3; btiSoht, 78, 80,
347; W yon ir, 345: Kacine.e. 3X6; Voltnirc.c, burro. 136; Chinesa. 60; Coreana. 58; tkrvtdus.
386 c. 26; frgipeia, 7, 11, 14, eutbu. c. 80; espada.
• 558
• itu lU e

205. gigaku, 58,78; guerreiras ntuais germâni­ D ioniso. 103. 1 0 5 .1 0 9 .1 1 8.12 0 .1 2 1, l3 0 :A ria d n c .
cas. 3; Haior. 7.8; Indiana, 29-32, 33.38, 162; e. 136; festivais de. 2, 103. 105- (0 7 ; N em , c.
Iraniana, 23; Japonesa. 38, 76,78, 80,99. 102; 134; em A r Rãs, 113; sacerdoic de, 114
kahukL 90-99; kagura. 75; kordax, 123: leão, D ionysa*. 194
78; tudi scarnci, 140; magia. 33; mimo. 2; D ja r a n -k é p a n g , 4
/mmuí, 162; morte. 198; musical americana. p o n a t u r a l ism o ao pr esen te , 4s k s 39;
516,517; mim. J4; Plutoico, e, 330:/)>rr/nr, 137; B re c h t,404-510; Broadw ay.5 1 3 -5 1 9 ;desenvol­
Renascença. 2%; representação, e. 32. 33. 36; v im e n to do palco, 466-475; E xpressionism o.
ritual, 91; Romana. 162-163; Sassâmda, 175; 475-483; Fieie Iííih n c . 455-459; Futurism o. 475.
simbolismo, c, 469; Turca. 25.26; urso, 3; u-u 483; A ideia do Festival, 492-494; I n d e p e n d e u /
«■«, 54 T h e a t r e , 4 5 9 -4 6 2 ; M e io s de com unicação de
Damlolo. doge, 171 massa. 523 -5 2 9; N aturalism o, 452-462; palco
Danjúró. Veja Ichikawa, Danjúrõ ‘ . no palco. 5 tO -5 l 3; Piscator, 499-504; Rcm hardt.
Dante, 269, 281. 516; Divina Comédia. 324 4 8 3 -4 9 4 ; S im b o lis m o . 466-475; S ta n islávski.
Danti. Vincenzo. 151, 287. 291 462 -4 6 6; Surrealism o. 475-483; teatro de a ite
Davtes. Thomas. 391.392 de M oscou. 4 6 2 ,4 6 6 ; O teatro d o d ire to r. 529-
Debussy, Claude, 469,481 539; o tea tro engajado. 494-513; Teatro É pico,
Décimo Labério. 163 504 -5 1 0; Teatro Experim ental. 519-521; Teatro
Dekker. Thomas: The Honest Wkore {A Prostituta P o lítico , 499-504; teatro russo, 494-499; T t w i v r e
Honesta), 317, 514 L i b r e (Teatro L iv re ). 452-455
Delatmay. Julcs Élie. 481 D ò b b d in , C a ri The o ph il, 423
Delavigne, Germaine, 433 D ulg cr. Franz. 17 L 172
Dcmak, sultão. 44 D om iciano, 140, 157. 164, J67
Domódnco, 1ÍM D om inicanos. 209. 337
Dcndermonde, 257 DonatcLlo, 284
dengaku, 80. 81 Donato, 150. 163. 270
Dcrain. André, 481 Dosscnus, 161
Descartes, Renê; O Nascimento tla Paz, 324 Dosud, N ic o . 5 ) 6
Dcschamps, Emifc e Antony. 406. 436 D o stoié vski. Fedor M ik h a ilo v ic h . 4 4 1. 451. 452 ;
Dcspléchín, 433 O s I t t u â o s K a r a m a z o w 480
Dcsprez, Louis-Jean, 403 Drama do Sul e d o N orte (China). 6 1-66
Dcstouehes, Phillippe, 407; líraggart, 397 D ram a escolar, 300-30-1
deus (deuses): Arislófanes, 121. gregos, KM. 139; D rzíc. M a rtin : D a n d o M a r o j e , 280
(catro medieval, 185,186; personificação de. 19; Du Bos, J. B., 357
Romanos, 139, 140; teatro. 103, Veja também D ub re u il. lean; P c r s $ * e c iiv e p r a t i q u e fPerspecliva
religião Prática), 344
deus ex machtnat 117, 118 DuíYcsny, C harles R ivière, 407
Deutxches Thettier, 457, 459 D iillin . C harles. 480
Devine. Georgc, 460 Dumas. A lexandre. 7 3 .4 3 1 .4 4 1 . 4 5 1 ,4 5 2 .4 5 5 : A
Dcvricnt. Hòuard, 377, 406; Gcsrtuehtc der D a m a d a s C a m é lia s * 7 3.4 96 ; L e f í e m i - n t o n d e ,
drtitschen St'ltattspirlkun.tt (História da Arte da 441; f j ? F t i s n a l u r d (O F ilh o N atural), 4 4 1
Teatro Alemão), 4(9 D um esnil, M a rie , .188
DevrienL Ludwig, 423. 424, 431 D uncan. Isadora. 469
Dtvrienc. Otio. 227 D u n la p . W illia m . 514; H i s t o r y o f l h e A m e r i c a n
Diaghilev, Sergei Pavlovich, 452, 481 T h e a tre (H is tó ria do Teatro Am ericana), 514
Díekens, Charles, 441, 451 P urant)'. WaJtef. 453
Didcrot, Denis. 63. 346. 392. 395, 4iy; Catarina D iirc r, Albnecht, 2 l i . 299
II. t\ 40,1; De ia paésie drumatique (Da Poesia D urcy, l^ouís, 481
Dramática), 387; Goeihe. c, 418; Ac Pèrt de D urieu x, T ília , 5 0 l
fatmUc (O Pai de Família;, 381, 386. 403,406: D u rre n n u tl. F n e d ric h , 510 : P i e k 'h e d e s H e n n
Puradoxe surta comédien, 386; Voliaire*c. 386, M is s is s ip i (O Casamento do Senhor M ississip i),
387 524
Dicierle, Wilhelm. 487. 492 Du$e, Elcancir». 469. 471, 514
DífUus: influência em Terêncio, 147. 148
Dingclstedl. Franz, 442.446. 449
Diodeciann. 169 Ebcrle. Oskar: Ceiudora, 1,4

5 5 9
tl i\t ó i iíi Miiml 1411 d II Teatro

Eckermanm, Johann Peter. 404. 419 Bacantes, 110; Ésquilu, e, 110; Hécuba. 300;
CG[TO E ANTIGO ORIENTE. 7-17; Mesopotâmia, liipólito, 117; Iftgênia em Àutis. 110; tftgênia
14-! 7; teatro bizantino.«, 175; tema no Realis­ tni 7 úuride. 110; Medeia, 117; Orestiada. 117;
mo. 442,445 A.t Peliades. 110; Sófocles, e. 110, 113; As
Egk, Wemer. 440 Troianas, 134. 538
Eisenadi, 205 Eustácio de Salomca. 173
Eisenstein, Sergci. 499.523; Encaunifiulo Potem- Evcrding. August. 538
kiu, 499 Everyman. 266, 267
Eisler, llaniis. 507 Evreinov, Nikolai. 495
Ekhof. Konrad. 392. 395. 400.416,419 Expressionismo, 475-483
Elagin, Yuri. 504; A Pomeslicaçâo das Artes, 495
Elenson. Andreas, 377
Eliot. T. S.: Manter in lhe Calhedml (Assassinam Fábula alelana. 161, 162
na Catedral), 460 Fakk, August, 487
blizabelh l, 270, 283, 312, 313,330, 374 Fakkcnberg, Ono. 506
Elizabetti [I, 317 Fálla. Manuel de: II Retalho de Maestro Pedro (O
Elssler, Fanny. 433 Teatro de Tileres de Mestre Pedro). 368; le
Encina, Juan del. 281: Egloga del Amor, 283; Tncome (O Chapéu de Três Bicos), 481
Egloga de Flácida y Vitoriano, 283 Farijuhar, George: The Beaux Siraingem, 391; The
Engelbrecbt, Martin, 379 Recruiting Officer, 391
Énto, Quinlo; Alexandre, 14l;Amj/j, 141; Atpàles, farsa: Alcorão, e. 19; Chinesa. 59, 60: Egípcia. 7,
141; Sabinas, 141 8; Francesa. 257; Indiana, 42; tomos gregos, 120
ERA DA CIDADANIA BURGUESA, A. 381-449; Favor, 163
Berlim, 420-425; Classicismo alemão. 413- Fcchier, Paul. 488
429. Lessmg c o Movimento do Teatro Nacio­ Fêhling, Jiirgen. 530
nal Alemão, 408-413; As Origens do Teatro Fénclon, François de. 407, 436
Nacional na Europa Setentrional c Oriental. Fenícia, 175
395-403; Realismo. 440-449; As Reformas Ferbor. Edna- iViem Boat. 5)6
Dramáticas de Goltschcd, 404-408; Romantis­ Fcrdioand II. 326
mo, 429-440; O Teatro Europeu entre a Pompa Ferditutnd 111. 326. 337
e o Naturalismo, 382-395; Viena. 425-429. Fcrdinando I. 303
Wcimar. 413-420 Ferrandini: Cotouc m Utira. 408
Erasmo de Roterdã, 270 Ferrari. Benedcttn: Andronmlu, 326
Erlach. Ftscher von. 492 Festa de Coipus Chrisli. 208-211. 216. 228. 261.
Erasl, Ma*. 481, 529 367, 368, 369
cirantcs. 242-247 Festivais da corle. 292. 299
Ervine. Sainl John. 460 Festivais de Ano Novo: antigo. 17; Bizantino. 177;
Esopo. 245 Romano, 157. 161
Esquilo. 63, 105, 107, 110. 113. 114, 117. 130; festivais. 492-494
Euripides. e, I I3;0rcsteia, 48S;Os Persas, 107, Feuchtwanger, Lintt. 505
109, 120; Pesagem das Atinas, 118; Prometeu Hdias, 109
Acorrentado, 107; Prometeu, o portador ito Fiknton. 129
Fogo, 107; Sófocles. e, 114 Filipe II da MaccdiTniu, 124. 130
Eslações medievais, 208 F ilip e II. 270. 2 %
Este, Ercole d', 293, 353 Filipe IV, 373
Este, Isabella d*, 276 Filipe, o Bom, 261
Estienne, Charles, 280 Filipe, o Justo, 245
Estoc. Pal d' : La Grande puslviutr (A Grande Pas­ Filis. 252
toral). 488 filmes. 455: Broadway. e. 514: Cocteau. c, 471.481;
Esirées. Gabrielle d', 330 como documentários de teatro. 526. 527; de
Elelvoldo. 189 Eisensiein. 499; Expressionismo. e. 483; Futu­
Eudõxia, 175 rismo. e,483: Japonês. 99, 102.526; montagem.
Eupõlide, 121 523; de Reinhardt. 487.488: Surrealismo, e. 481.
Eurídice. 325, 326 483: teatro, e. 523-526; teatro político, e. 500.
Euripides. 38. 110. 113. 117. 118. 130. 134. 141. 501. 502: televisão, 526
173, 274; Againrwn, 117; Argueltm, 1 1 0 ;, Filogelo. 137
• 560
* jW fr i1

Filonides. 120, 12,1 Futurismo, 475-48?


Fiorith, Tiberio. 349, 355
Fischer, Samuel, 459
Filei». Clydc: ííeau Brummeit. 518: Captam Jinkx Gabo, Naum. 471
í >/the Hor$r Morines (Captiao Jinks da Cavala­ gcigaJru, 78,80
ria Marinhai. 518: Tiie City (A Cidade), 518. Gagliano, Marco da. 325
Tile Cftmhvrs (Os Alpinistas). 518: The Trttfh Gagliardi, 338
(A Verdade )h518 Galilei, Galileu, 324
Flácio. IflO Galilei. VinctW-o: Dialogo íi<ifo musica anuca e
Flauhert. Gustave, 451 delia moderna, 124
Heichcr, John, 319 Galli-Bibiena. Giuseppe, 338
Folz, Hans: l-rtístitacltt5spicle1 250: Ocs Turkrn Gama, Vasco da, 299
Vosnei-chtxpit* 250 Gandcrshcim, Hruisvitha von: influenciado por
Fontane. Theodor. 457 Terêncio. 148
Fomenbergh, Jau Baplista. 376 Gandhi, Maliatma, 32
Fune&t. Edwin. 515 Gammedes. 269
Furrest. Ccorge Tophnm, 318 Gardiner. 204
Fort, Paul 466 Garmer. Robert, 344: Htppolyte, fits de Thésée, 274
Foscolo, líg n. 429 Garrick. David. 391, 392; tethe, 391
Fost, 155 Garson, Barbara: MarBird, 504
Fouquci, Jcan, 223, 227. 22R, 265: Heun*a d'E\- Gasbarra. Felix. 501
tieime Chevutier, 223 Gassman. Vitlorio, 436
Fouquier, Henri. 453 Gaulier. Théophile, 433,436
Francesca, Piero delia, 284 Gay. John: The Brigar's Opera (A Ópera dos Men­
Fnmciscanus. 186. 240 digos). 387. 507; Haendel. e, 387
Francisco l. 270 Gegário dc Nissa, São, 173
Franz, ELLlcn, 446 Gdber. Jack: The Conticciion {O Contato). 520
Frederico Guilherme II, 423 Goilen, Christbn, 386.400. 407
Frederico Guilherme III, 423 Gcmier, Firmin. 453. 469. 488
Frederico Guilherme JV. 431 Genásio. 169
Frederico IV, 396, 397 Gêagi* Khan. 23, 25. 53, 60.61,63. 386
Frederico V, 397 Georg II. 446
Frederico, o Grande. 338, 408 George. Heinricli. 492. 501
Frederico, o Temerário. 205. 208 Gcrlrah de Reichersberg, 203
Frete Btihne, 453, 455-459 Germano, 178. 232
Frcnzcl. Karl. 457 Gmhwín, Georgc: Torgy c Hess, 517; Of Thee /
Fnssnayc. Pierre, 480 Siog. 516; Strgke Up the Band. 516
Frcud. Gideou. 516 Gerson. Jcan de. 262
Frcyiag. Gusuv. 446 Gerei. J. C.. 432
Fncdrich. Catpíir David. 431 Ghéon, Hem i: L*/\rt da théútte ( A Arte do Teatro).
Frínico, 107: As Fenícias. 107 469
Frisei». Mas. 510, Biedcnnmu itnddir Braudsttjter Glierardi dei Tesla. 396
(O Homem Honrado e nu Incendi sinos), 527: Ghcrardi, FvarisUi: Le Théâtrc italien, 358
Btograjio. 530, 534: Úoh Jituiu rui O Amor n Ghiberti. L»muo, 284
Geometria. 370 Giehsc.ThcTcse, 507
FrischlJiiTMiilipp Nikodemus, 300; Julius Redivivas, Gielgud. John. 480
303 gigjtku, 78-81
Frj1, Cliristopher: Vemts Qhjierwd (Vénus Obser­ Giolto di Bondone. 269
vada}, 460 Girai Ji, Giovanm: Distwrso datto conimethc e defie
Fuchs. 407 iragvdie (Discurso sobre a Comédia e ;i Tragé­
Hitímes. Georg. 338, 429 dia). 273; influência cm Shakcspeaic. 273; in­
Fulda. Ludivig, 459 fluência em Sprioni, 273; Aforo di Xbttezia (O
Furtienbach. Josepli. 150.287,291. 335, 337.376. Mouro dc Veneza), 273; Orbccche, 273
379: ítinrmnum Italiae. 287: Moiwfuifftcr Giraudoux. Jean. 480; Siesfr ird, 480
Kunstipicgcl, 335 Gfcich. J- A., 425
lu rtw iiiijrie r. W ilh c lm , 494, 526 Glie*c. Rochus. 530

• Aól
H is ió r m M m ttU tft d o T r o tr ti

GluckXheisCóph Willibald, 387,420,42$; Ifigênia. Grahbe. Chrístian Dictrich. 40(1


387.424 Grahn. Lucile, 433
Gmelin, Hclmuth. 52b Granach, Alexandcr. 501
Gnapheus: Acobstus. 3(K) Gmnvillc-Barker, Harlct. 460
Go-Komatsu, 83 Grass, Gunler, 511; Die Plcbejer proben den
Gobineau. Joseph Arthur dc. 23 A u f s t a n d (Os Plebeus Ensaiam a Revolta), 511
Godfrey. Thomas, Jt.: Thr Prmce of Panhia (O Prín­ Graun, Cari Heinrich. 338
cipe de Pania), 513,515 Gréhan, Amoul. 222; Mystère de la /Vurion. 222.
Goering, Reinhard: S e e s c h h t c h t (Batalha Naval). 723. 235
475; D i e S u d p o l e x p e d i t i o n d e s K n p i ti i n s S c o t t GRÉCIA. 103-137; comédia. 118-130; Influência
(A Expedição de Capilãn Scotl ao Pólu Sul). 538 arquitetônica em Roma. 15 1 .154; influência em
Gocthe. Johann Wulfgang vnn. 26.41.63.281. 367t Terêncio. 147. 148; influência na índia. 37;
395. 403. 404. 4 13-420. 423. 425. 427. 430. liturgia. 186-189; mimo. 136-137; *<>, e. 83; lea-
C t a v i g o , 413; na dança indiana, 32; Diderot, e. lio helenjsiico, 130-136; tragédia, 104-118
4 J8; E g m o n t , 417; E i} » e t\o r , 63: F r i k b n i g . 247: Grecn. John. 375
F a u s t o . 26. 208. 227. 252. 416. 431. 526; D u - Greene. Graham. 460
F h c h e n n (As Pescadoras). 284.413; Gotz vou Grecne, Robert, 317
B e r l i c h i n g e n . 4 13.423; Herder. e. 4 18. Holberg, Gregor. Joseph, 2%
e. 400; Iffland. et 423; t p h i g c n i e a u f T a t t r i s Grcgóriode Nazianzo. São. 172. 173
(Ifigènia cm Táuride). 63. 413. 416, 424; D i c Grein, Jacob Thomas. 459
L a u n e d e s V e r l i e b t e n (O Capricho do Enamora­ Grélry. André Emest Mndestc. 387
do). 284; Manzoni. e. 436; Realismo, e. 441; Griffnh, David Wark: Judith of Beihuíiti, 523
H e g e ln f u r S c h u u s p i e l c r (Regras para o Ator), Grillparzer. Franz, 367, 369, 427. 428; A H n f r a u
418; na representação. 419; Rousscau, e. 418; (Avó), 427; E i n B n t d e r z ^ i s t i n H a b s h u r g (Uma
Schadotv. c. 441: Schilltr. eT417.418; Schinkel. Bnga entre Irmãos cm Habsburgo), 446; S a p j t h o .
et 424; Schroder, eh427; Tusso. 416; Voltaire. e. 427
388. 4 LR; D e r W e s l o s l l i c h e D n v m , 41; W il it e tm Griínmclshauscn, Han.v 255
M e t s t e r . 4 16, 430. Willich, c, 304 Gringoirc. Pierrc: J e u du P r i m e ttes S o r t e t d e la
Goeze, J M., 411 Atèrv Sotte, 257
GôgoL Nikobi Vasilievich. 429; O inspetor Gerui Gns, Juiiit, 481
436 440 Gri-S*. Carlotta. 433
Goldoni, Cario. 26,367. 370,428.499,511): O Ser­ Gropiu.s, Wallcr, 501
vidor de Dois Amos, 367. 488 Grossman, Jan, 533
Goldsmiik Olivcr. 436 Grosx, Gcorge. 502
Goncourl. Kdmond e Jules: Hotrirtfe MurédwL Groiowski, Jerzy, 504, 526
453, 457 Grube, Max. 448. 449; Gescftich/e der Mettiitiger
Gontcharnva, Nathalic, 481 (A História dos Meininger), 44Ó
Gonzaga. Duque Vincenzo, 325, 326 Griindgeris. Gurtuf, 487, 526, 530
Gonzaga, Vespusbnn, 291 Gr>rphius. Andreas, 376: Cuihiirmu von Gcorgien.
Gordon, John Watson. 442 376; Cmvrmer/fii deli'tir/c, c, 376; Fforribi-
Górkí. Máximo. 367,45 L 463,465,496; No Fun­ licríbifax. 376; Len Annenius. 376; 1’apinianus.
do. 451.463,487 377
Gosson, Stephen; Pktves Confutcd in Jfve Activns. Guarini. Giambattista: Pastorf i d o , 281.308; Hoofi.
317 e. 308
Gotlhardi. W G.,416 Guatelli. Roberto. 293
Goitsched, Johann Chrisioph, 379, 404-408: Gundulic, Gjivo Franje: Duhruvka. 284
Deutsche S'chaubiihiie.4\}4,4Ú1\Lessing. e, 404. Gusiavo HL 403
Molièrc, l\ 404; Ncuhcr, c, 406, 407; Schiller. Gutzknw. Karl, 446
e, 408; Der Sicrbcnde Coto (Calão Monbundol.
406, 407: Vemu-ti einer Çrítisehen Dichtkwist
vordir Deuf&tiwn (Tenialiva de intui arte PéícIí - liaacke, Johaan Caspar. 377
ca para os Alemães h 404, 412 Haase. IFriednch, 449
Goitached, Ltii.se Aridgurukr. 407. 408 lla cks. Reter. 147, 538
Gffltweig. 245 Hncndcl. Georgc l:rcdcnch, 387; Pasror Fido (O
GounodL Charles: Phiiettum and JÍ<uk >s. 441 Pastor FielL 387: Bimttdo, 3X7; Tescu, 3S7;
Gozzi, Cario. 365,367.510: Princesa Tttnmdor, 496 H4i/cr Musir \ Música Aquáõcu). 387

• 562
Ín d ic e

HagCft. E. A.: Gvschichte des Thraters in Prensam Henstowe, Philip, 318. 319
IH^tória do Teatro na Pnissia). 406 Henze, Hans Wemer: O Pequeno Lorde, 81
Hakluyf. Richíml; The Principal! Naviftatlons. Henáclito, 104
Voiages and Diatoveries <tf ike Engtish Haitott, Herbcrt. Henry, 317
312 Hércules, Maximimano. 164
Haiévy, Ludovjc. 442 Ilerder, Johann Gott fried von, 4 1,34 L. 412; Goctht,
Hall, Pcter,530 e, 418; Oherdic IViMwtg der Dichtkunít auf die
Hallam. Willian» c Lewis, 514 Siitett der Voíker in alten und ncuen Zeiten (So­
Hillk, Adam dc la: Le Jeu de la Fcuitiéc. 247; Jeu bre o Efeito da Poesia na Moral dos Povos nas
de Rohin et Marionr 248 Épocas Antigas e Modernas), 412
Hammersiein. Oscar, 5)6 Heme, James A.; Margaret Reming. 517
Hamurabi. 16 Hemnann, Max: Entsiehung der berufsmàbigcri
Handke. Petcr 527; Kosfmrt 527 SrfviuapieUíiArtSt im Altertum und in der Neuzeit
Haiísen, Al. 527 (Origem da Ane do Teatro Profissional nu An-
Harden, Maximilian. 459 tigúidade ç nos Tempos Modernos), 272;
Hardenberg, Fricilrich von. Veja Novalis Forschungett zur tíeufschen Theaiergeschichtc
Hardenberg, Kurl August von. 425 des Mittélalters und der Renaissance (Investi-
Mordi, Emst: Tote Zeii (Tempo Morto), 459 gaçáo para a História Teatral Alemã da Idade
Hardy, Alexandre, 344 Média e da Renascença), 308
Hurm*. Johann Oswald, 337, 3,18 Herwies, 215, 216. 221, 234, 235
Harsddrfíer, Geurge Philipp: Pegnesisrlurs Scha- Herodes Ático. 154
fergerticki' 284 HeródolO, 7, 13, 14, 23. 104
fiarsha, 32; P n y u d a r s i k a , 4); R a l n a v n í i , 41,42 Hcrondas de Cós* 137
Hart, Heinrich e Julius, 459 Herraddc Landsberg: Ilortus Deliciarum, 235.245.
HartL Fduard. 1% 247
Hasèk, Jaroslíiv; O Bottt Saldada Schncik, 507 Hesfcdo, 175
Hasenclever, Wulier: Der Sofoi (O Filho), 475, 476 Hcyme. Hansgúnlhcr. 538
Hassenreutcr. 419 Heyward. Dubose: fhrçjy. 517
Ffatry, Michacl: Noistadsubung (Exercícios de Heywood. John: P l e t y t t f i h e W e a t h e r (Auto do Tem­
Emergência). 504 po), 299
Haugv.it?;, A. A.; Maria Stuari. 341 Heywood, Thomus: A Woman Killed nidi Kindncss,
Huupímann, Gerhurt, 99, 110. 451, 453. 457. 459, 317, 319
48ÍJ: D t e R a t t c n (Os Ratos), 4 19. P i e Y e r s u n k e n e Hikiix Awaji-no-jo. 89
Glocke (O Sino Submerso l, 466; D i v Webcr í Om Hilário. 205
Tecelões], 453.457.459: Htuwefex Himmeifahn Hilpcrt, Heinz, 530
(A Ascensão de Hanele), 466; U m i P i p p a t a n z t Hinduísmo. 29* 44. 47
( A Pipa Dança). 466; \ h r H o n n e n a u f g n n g (An­ Hypokriles, 105, 107
tes da Aurora), 457, 459 Hjort, Sophic. 397
Haydn, Joseph: C r i a ç ã o , 425 Hochhuth, R olf: D e r Stelherireter (0 Deputado),
HcurtField. John. 500 504
Hebbel. Fnedrich, 441, 446, 492; GVnfn rna, 4K8; Hodler, Ferdinwnd, 476
He rodes und Martamnc, 446 IlofTmann Karl L u d w ig , 377
Hédroit, 223 H offm íinn, E . T. A ., 367, 406. 423, 425, +29, 432,
Hegelund. Peder Jensen; CalutnnUa, 303 433; A r t e q u i n o , 367 , 433 ; P f t a n t a s i e s t i i c k e irt
Heijenttans, Hernian, 453 Ç a l h t s M a n t e r (Fantasias a Moda de C allftt).

Hclio. 325 367: P r i n z e s s i n i t r r t m b d t a , 433* 499; U n d i n e ,


Hellem, Charles: /it Grande pastonde (A Grande 433
Pastoral), 48B Hofmannslhal, Hugo von, 266. 469.488; D a s g e ­
Hellman, LiJlian. 517; The Unte 6w.r{ As Raposi- r e t t e t e V e n e d i g , 471; M a d o n n a D i a n a r a , 459;

nhas), 519 D tà s S a t z b u r g e r G r o f t e W e l t t h c o t e r (O Grande

Henrique [I, 273, 274, 278 Teatro do Mundo de Saizhurgo), 492; D e r T o r


Henrique ML. 296. 29y u n d d e r Tod (O 1uiucu e a M orte), J98
Henrique [V. 2%. 330. 334 Hugarth. Wiiiiam, 381
Henrique VIII. 27a 312.313 Hohcnfels, Sretla. 4+6
Henry VI. 2 II Holberg, Ludvig. 358, 396-4ÍX)* 4Í)7T428; Ho Bal­
Hcn.wl. Sophic. 411 neário, 397; Feitiçaria, 396; A Festa de ttauK

• 563
H is tó r ia M iu u trrii <i<i T e a tr o *

397; funeral da Conusdiu Dinamarquesa, 397: O inimigo do Povo, 73; no Japàu, 102; O Paio
Jeppeàa Montanha. 397; Dvn politiske Kvndexi- Selvagem, 453, 466, 469; Peer Gytil, 466;
bòer {O Esiranhador Politiqueiro), 396* 397; Roswershoiinr 469, 471; Os \rikings em HeigC'
Quarto de Parto, 2t>1♦ 397; O Saião de Notai, land. 470
397 Ichikawa. Danjuro IX. 99
Holinshed. Ruphael: Chranides, 312 Ichikawa. Danjuro: Kajtneha, 95
llt>llacnderTFelix, 4Btí IDADE MÉDIA, A, 185-267; alegorias, 261-267;
Holz, Amo: Famiiie Stdicke, 457; Zola, e, 451 amo de canuv.il. 250-255; amo de Natal, 233-
Holzmcister» Clomens, 494 242; auto de Paixão. 212-222. auto dc Páscoa,
homens: como mulhere* em peças, 148, 368, 369, 196-203;autos de moralidade, 261-267; cortejo
370; em Arisrôfanes, 123, 124, em taziyé, 20, teatral, 228-233; Estações, procissões e teatro
na China, 70, 73; no Japão, 70; no teuirond, 83, em carros, 208-222; jocutalprcs, menestréis e er­
84 rantes, 242-247; peça de palco. 247-250; peça
Homero. 104, 175,412; Odisseia, 140 Ktuchl, 257-261; peças camponesas, 257-261;
Honegger, Artliur, 481; Jcanne d ’An au buchcr peças de lendas. 203-208; poças religiosas, 186-
(Joana dfArc na Foguc ira), 4S l; Roi David, 481 242; préstito de máscara, 247-250; representa­
Hoofi. PiCtcr Comeliszoon: AchtUes cji Polysena. ções profanas, 242-267; StutemicPn, 257-261;
308; Geertterd víhi Velsen, 308; Granida, 308 íorrie, 255-257; teatro de mistério, 222-228;
Horacio, 105, 139,404 tlteater in lhe rottnd, 228-233
Hormnian. A. H K. 460 1111and. Augusl Wilholm, 417, 420, 423, 424, 427,
Houghioo, Sianley, 460 431, Die Jãger (Os Caçadores), 416
Howard, Sidney, 520 llumimsmo, O, 382-413
Hrot&vúha, 199 [mmcmiann. Karl, 432
Hsuan-isun^. 58 Inácio dc loyola, 338
Huang Ti, 54 Indupeiuienl Thfaler, 459-462
Huang-hutlg. 59 Índia, 32-44; dançarinas. 32-33. 162; drama clássi­
HiJbner, Kurt, 530 co, 38-44; música. 78. 80
Hughes, l.angston, 517 índios. Norte-americanos, 515
Hugo. Victor. 257. 3S2, 429r 43 lr 452. 455; Lr* Indonésia. 44-51
Bitrgrúves, 436; O Corcunda de Notre Dame. Inferno representado no palco ("portões do Infer­
257; Heruuni, 436,469 no"). 198. 215. 216. 227. 231. 299. 301. 338
HuMSWig, 60 lngegncri. Angelo. 292
Humboldi, Wilhelm wn, 395. 4J8 Inghirami, Tommaso. 270. 271, 292
humor nas alcgona*. 265; atores ambulanies, 375: Inocêncio VIM. 27(1
em amos de Ncidhan. 248.250: em liliana. 42: (onesco. Rugene. 1.469.511: Lu Ctmlarricr chuuve
bnriestjuc, 257. 261. comédia grega, 118-13(1; (A Cantora Caiecai. 527; Lcs Chuises (As Ca­
corte bizantina. 182; farsa egípcia. 78. Hans- deiras). 523; sobre Kafka, 522; Rhiiwcerâs (O
wurst, e. 365: mimos romanos. 162. 163-167; Rinoceronte), 530; Sciue <1 quatre (Cena em
cm Molièrc. 347, 349. 352; orla oyunu tuico. Quatro 1. 527
26,28; Renascença. 278; representação profana [rving. Henry. 442.455.459.470, 523, 538
medieval, 245: São Luís. o Pio, e, 242; Schwank. Irving. Washington: Rip Vau Winkle (João Pestana).
e. 252; no leairoda Mcsopotâmia, 16-17; no Ica- 517
Iro de misicrio, 200. 228. 232. 235; teatro ilc Isabella de Aragão, 292
sombras dc Karagòz. 26.28; tcairo japonês. 75, Itallie. lean-Claudc van: Americu Hurrah (O Gri­
76, 87; teatro primitivo. 4, 6; zanni. 355; to da América), 521; The Serpent (A Serpente).
Ztrketgc.wltschqften, 252, Veja também Comnte- 521
dia delParte, comédia, farsa, soítie Itchu, 83
Huinperdinck lingdbcrl, 488 Ivã. o terrível, 274
Husscrl, Bduumd. 530 Izuiuidayu. 92
hypokrttcs. 105. 107

Jucoti, Georg, 28
íaroslav, o Síihit», 182 Jacob. Lottis, 358
IbsCfl. Hem ik: Cosa dc {loncctis. 46U, 466; Espec­ Jagemann, Caroline. 420
tros, 453, 457. 459. 466, 487; intluência etn ianiti. Jules-Gabricl. 441
Herne, 517, 518: influencia em Shaw, 459,461); Janry, Alfred: Utm Rui lUbu Retl. 453, 469, 533

■ 564
índice

JAPÃO. 75-99; ÍHtRttkti, 78-80; dcngaku, 80-81; Kamasutru, 33


7R; kttbttki^ yO-99; kagitm. 7 6 '7 ; Kanlor.Tadcusz. 523
87;nó. Kl-87;.t<7rH#oku, KO-KT.AÍiimpíj, Knn Ming: O Canto th Alaúde. 63
99: shingfkh 99-102: leairo tirr boneco*. 87-90 Karagoz. 19, 25.26. 28. 261
Jaqucs-Dakro/e, fcmile.470 Karajan. Ilerbert von. 494
Jardim das Perus, 58-61. 175 Karamzin. Níkolai Mikhailovich: Puschkin. e, 436
Jaurò, Jean Lé<m. 453,476 Karl, Duke of Mecklcuburg: Die Rasenfce (A Fada
Jeffcrson III, Joscph, 517 das Rosas), 424
Jens. Walter. 110 Kaisien. 420
Jensen, Peter, 17 Kastan. Isidor, 457
Jessner. Leopold. 530,538 Kaufman. Georgc S-, 516
Jesuítas. 90,2%, 299,300.330.138344.108.403. Kaufmami, C„ 412
505 Kaulhuch, Wilhelm von. 442,448
Jiirnnu Tetmo, 76 Kawakami, Qtqjiru, 99
Joana D'Aro, 511 Kazan,Bliut 475.524,531
João VIU, 20K Kean. Charles, 440. 442, 44K. 538
jonduiores, 222, 223. 242-247, 266. 271, Veja lam­ Kean, Etfmund, 431,432
bem mcnesircis Keaton. Busier, 455
Jodellc, Étienne. 273, 274; Cléttijaiw t <tptivv Keais, John. 429
(Cleópatra Culiva). 273; Encene* 273 Kemul. Namik; Vatan, 26
jogos* Gregas, Jí>3, 104; Olímpicos, 157: Roma- Kemble, os, 431.314
nos, 139, 14X1, 151. 154 Kenu, 83
Johatin tieorg II, 377 Kcm, Jcrome, 516
Johann Georg 111, 377 Kcrr, Alfrcd. 475.499. 505
Johnson, Samuel, 391; írfne, 392 Kcyserling, tiduard vim: Friihlinxsopfer (O Sacri­
JoIUphus, Joris. 376 fício da Primavera). 459
Jones, Inigo, 98. 337 Ki Kiun-smng: O Órfão da China (Volcnrc), 63
Jones. Roben fedmond. 47!; Appiu, e. 524: Craig. KLingsíey. .Sidney* Dettd Etid (Sem Saída). 518
c. 524 ktofietr, 87; farsas. 75; nó, c. 91
jimg/rur. Veja menestréis Kipphurdl, Heinar: hi der Sache J. Rohm Oppe-
Jonsom Bcn, 3)9. 320; O A/í/mmísM, 317; Evrty nheimer (No que Diz Respeito a J Knbcri
Ma» iji His IJumiHir, 313: Sejanns, 313; Sha- Oppenhdmer). 504
kcspcarc. e, 319; Voipone, 317 Kirchmuycr Thonus. Veja Naugeurgus
José II, 425, 427 Kitabaiake. Gene Moni, 87
Jouvel. Louis. 480 Klein. César. 488
Joyeuse. Duque de. 296 Klcisl. IIciirich von. 400.419.423.428.492: Anfi­
Jukichi. 98 triã», 147; HennttnnsscMaeht, 400; Kãíiuiieti
Juliano, o Apóstyia, 3í)t lo» Heilimtitti. 428: O Príncipe de fltmthurgo,
Júlio II. 257, 269 533: “Sobre o Teatro dc Marionetes". 89; Der
Júrgens. Helmut, 530 lerhrot hene Krus,: <A Bilha Quebrada). 419
Jutfjniann. 162. 171. 172. 175. 177 Klemperor, Oti». 487
Jusiilid, 222 Klcnzc, Leu von. 442
Juvenal, 155, 161 Klinger, Maximitiau; t)er WirnvtirriA Contusão),
412; Die ZwiUmxe (Os Gêmeos). 4 [3
Klopsiock, Kriednch Gottlieb. 425; livntuiw t.v
k a b íik i, 75. 87. 8 9 -9 9 , 4 8 3 , 492 Srfdtichi íA Bacilha de Hermanl. 4(XJ
Kadikiiy, 26 Knippcr, Ol ga. 463
Kafkrt, Franz: Ioucaco. e, 522; O Processo, 533 Knudstn. Haris, 419
Kugcl, M aurício, 529 Kochiinowski, Jan: 0 /Jí^f^/iw/íviífj tios Enthuixo-
kugutti, 76 -7 8 ; Tragédia grega, e, 105 dores Gregos, 274
Kainz, Josef, 449, 459, 487 Kohlhardt, E-ricdrich, 406
Kaiser, Gcorg: O Soldado Tamtka. 534 Kokoschkd, Ojikstr, 471: Der hrenncndc itonduíst h
Kulidasa. 38, 41-42: influência cm Zugimma. 42. IA Sarça Ardente), 475
Shnkutitahi, 33. 41, 4‘KJ Komachi.Sotoha. Kl. 83
Kulmun, Emmcrich. 5 16 Komiilisarjcvskaia. Vera, 495
Kalvodovã-Sís-Vimis, 66 Kortner. FritJt. 527, 530

• 565
M u t U r u Muintiií! dti Tftifrv

Koster, Albert. 3QS U ãoíll, 181


Kotaro, 83 Ijíío X, 261, 269, 276, 278, 284
Kolzebuc, August Friediich Ferdinaml, 4(10, 4 ]7 , Lehel, jcan-Jacques, 527. 529
429, 514; D i e t l t u t i d t r n K l e i n s i a d i c r (Os Pro­ Ledcrer, George W., 357
vincianos Alemães), 436; P ie K n n m {Os Ledoux, Fmtand, 530
Corsos}. 418, Die Krcit^fahrer (Os Cruzador), Léger, Fcmand. 483; Skating Rink 1,0 Rinque dc
423 Paiii^ção), e, 481
Koun. Karolos, 538 1-char. Frant, 516
Krauss, Clcmcns. 494 Lcicester, 313
Krauss, Werner. 492 Leigh. Vjvien. 533
Kraussneck. Anhur. 449,457.459 Lenda do Papa ioão, 208
Kriiger, J. C , 407 Unéias, 140
Ku Ch u lu, 63 Leniu. 501
Kuait Han-King: A Permuta entre OVento e a Lua, l<enya, l^otie, 507
63 Len7_, J. M. R.: Der Sftifmeistee {O Preceptor). 412.
Kublai ICban, 63 413; Der neur Mrndoza (O Novo Mcndoza),
Kumsada, 95 412; Die Soldaten (Os Soldados), 412; Ober die
Kunsl. Johann Chrisuan. 378 Ventnderungen des Theatcrs in Shakespeare
Kurosawa, Akira: 526 (Sobre as Variações do Teaiment Shakespcarc).
Kwanami. Kiyoisugu. 81, 83 412
Kwanze Kojiro Nobumitsue, 87 Leonardo da Vinei. 98. 292. 293.483
Kyd. Thomns. 377: The S/tanish Tragedie. 319 l^opoldo 1. 342
kyogen. 75, 87; ciclo de Tòwndey, 232; medieval, Leshns. 151
255-257; Romano, Ifil, 162: Turco. 25. 28 Lessing, Gotthold Lphraim. 26. 110, 273. 382.400.
4CHL413. 417, 425. 521, Arlequim, e, 406, 407;
Brieje. die ncurstr Lilerntur hetrefjemi (Cartas
Ln Grunge, Sieur de, 352 Sobre a Nova Literal ura}, 404; Dramaturgia de
La Mottó-Fouqué. Friednch, 433 Hatnburgo, 148. 395.404,408.4)1,412. Emitia
Labichc, Eugcne Marin, 441, 480 CwfotTi. 392. 403; GnitMhcd, e. 4(M, 406. 408.
Lachmann, F R , 300 P rr jungir (telvhrír (O Jotem Frudilok 408;
Lactáncio. 169 1411o, v, 3SS, W], Litemturhrhfe (Cartas sobre
Lacy, James, 391 a Literatura), 408, Mimut v/wr fiúrnhtám. 39),
Ladislau IV, 358 4)1; Mím Sara Sampson, 391; Natan. o Sábio,
Lang. Fntz. 504 26; Vultaire, e, 408
Lange. Cari, 194 Leto. Giulio Pompomo, 164
Lânghans. 423, 424 Leto. Pompònio, 164. 270-272
Langley, Francis, 318 Libànio, 175
Lama, Leo, 501 Lichtensiem. Roy, 538
Lankheit, Klau: Revolução € Restauração, 429 Licurgo, 118, 130
Larionov, Mikhail, 481 Liebknecht, Karl, 500
Laroche- J- L. 367. 425 Li lio, Gcorge; 77rr Ijandtm Stnvhant (O Mercador
Lasker-Schuier, Else: Die Wupper, 476 de Londres), 388. 391
Lassu. Orlando di,, 357 Lincoln, Abraham, 5 16
Laslerbalk, 194 Lind, Jenny, 433. 514
Latouche, John, 517 Lindncr, Amanda, 449
Laube, Heinrich, 420. 446: Briefen Vber das Lindtberg, Leopold, 507. 533. 534
deuische Theater (Carlas sobre o Tcalro Ale* Lipoldo. 196
mãO}h 445; Die Karhschiíler (O Discípulo de Liuiprando de Crcmomi, 181
Karl). 445. 446 Living Thcaicr. O. 520. 521
Laurcotus, 167 Lívki Andròtiico, 140. 141, 147, 148
Laurcnschlagcr, Karl, 98. 483 Lívio, 139, 150
Layard. Ausien Henry. 442 I^o-yang, 58
Líteló. Moholy-Nagy. 475 Locher, Jacob: Tragi diti de Titnn i\ et Siddaita, 271,
h u i. 353. 355 300
Le Kain, Hcnn Lotus, 388.395 Locke, John: Epístola de Totcnhr<‘úa. 381
Le Mercier. Lotus Jean Népomucène. 345 Lohenslcín, Daniel Casper von. 378
• 566
Índice

L o m m cl. André as. 3 Mandei, Juliana. 27(1


Longino, Cássio, 150. 15 L Manelli: Andntmedu, 326
Lope de Vega, 148, 345. 369-373. 377, 420: Mauílio. 129
Awíkwim. 3681 Ei cahaUcru de Olmedo (O Ca­ Mium, Thomas. 538
valeiro de Olmedo), 368: Jorge Tolctlauo, 369 Mannquc. Gómez: Rcpirseniacion dei naeinueura
LorTíim, Claude, 424 de Nueslrv Sedor, 240
L ottc. t^ le r, 504 MansfícLd. Richard, 460
L o m in g , Albert, 4 2 5 .43 3 Mande, Burns. 496
L o u i. C osi m o. 370 Manuel 1LPaloólogo, 25
L o tiu . LorenZd. 281 Manulius, Aldus, 269. 344
L ouvam . Richiet de. 408 Manzuni. Atessandro, 429. 436: Adelchi, 436: H
Lowon, Friedrtch: Die Comedir im Tempel der Coute th CtirmuRtutía^ 436
Tugeitd ÍA Comedia no Tempo rias Virtude* |, Maomé. 19. 20, 29, 47
4 LL Maquiavel, Nicoluu: Mandragoh (A Mandrágoríi),
Lúcio. 137 278; O Príncipe, 292
Lúcido, Lúcio c Marco, 150 Marceau, Mareei» I, 70, Í64
Liuii Caesarei, 299. 342; tcairo jesuíta. c, 341, 344 Marcial; UhelUts spctacuhrum, 164
Ludi Romani, 139-144. 151, 162 Marco Polo, 61
Ludwig, Oito, 441; Der Erlfftirxter (O Guai da FU>- Margarida da Áustria, 305
restai), 446 Margarida» Rainha. 301, 334; Mtroir de Pâme
Lugné-Puc, Alexandre, 453, 466, 499: pdfdets et pévhdresse, 301
M e l t e t i t t d f * et 469 Marictíe, Auguste, 445
Luís XII, 257 Marinctti, f:, T.t 529; Proclama sul leatnt futurista
Lufs XUL 334 {Manifesto do Teatro Futurista), 483
Luis X IV . 324, 334, 347, 352, 358, 403 marionete. Veja teatro de bonecos
Luís X V . 386 Marivuux. Picrre Carlct de Chamblain de. 382.407
i-rUÍK, Saor 257 MarLowc, Chnstopher, 312,377; Dido. 319: Doctor
Luliy. Jean Baptistc, 2%, 334. 335, 388: Moliènr, Fuustus, 319; Eduardo U. 505; Hera and
c. 347. 349 Lamder, 312; Tamburlaine the Great. 319
Lumumha, Palrice, 504 Martin. Karl Heinz. 476, 492
Lima diarista. A. V.. 465 Mascar:» e teatro dc máscara: arlequim, 358: do
Lútero. Marli nlliv Ti&ehreden. 300 arquidcinómo, 247; Bizantina, 175. 182: Chi­
L^dgate. John. 211 nesa. 70; Egípcia, 7, 11; farsa, 256. 257; Grega.
Lyly. John. 312. 317, M u t h r r f t u m b i c t 2MO J05. 107, 117, 123; Indiana, 36, 37; Japonesa,
75. 76-81; medieval, 248: rnimo, 162, 167;
Piscamr (uso de). 538; primitivo. 2-6; Romana.
Macluz. Herbert. 520 148; taziyé, 23; Teairo épico, 511; teatro políti­
MucKuyv. Percy, 520 co, 50fl. 501; teoria de Craig, 471,475; Ubu Rot
Macphorson, James, 429 (Uhu Rei). 469, urso, 157; ztintti. 355
MuLTeady. W. CL, 431 Mascnius: Andntphilux, 34 L Am Nova Argitriaritm,
M u e te ilin c L Maurice, 495: PcHeus et MeHsawte. 341; influência cm Milton. 341; Sarrotis»341
4 1,469; Íãj Prinee.t.t<* Matcine. 453; 7r/rtflgite.s. Máspero, Gaston, 11
466 Massalitinov. 466
Magnos, 120. 121, 123 MiisscncL J u l e s Émilc Frédéric: t e Jungie ttr de
Magno. Carlos, 89 Miínr-ÍJiimc, 247
Mahendra-Vjkramavarnlan: Maia \ iUj.wi-po duiwna, Maussc. Henri. 481
42 Mauclair, Camillc. 469
Mamkóv&ki. Vladímir O Mistério Bufo. 495 Mauro. Alessandra, 337, 338
M am tenon. M ailtim c de, 347, 358 Mauro, Franccsco. 337
Makart, 433 Maxénciu. 342
Mâle. Emilc. 194 Maxuniliutin I, 271. 276. 283, 303; Marclut Triun­
Maíipicro, Luigi. 526 fai, 299
Mallarmê. Stcphanc, 466.469: ^l.Après-midi d'un Mazarin. Jules. 347
Fítttne i.O Entardecer de um Famiof, 469 McLuhan, Marshall, 527
Mttlraux, André, 533 Mediei, Catarina dc, 278. 280
Msmiontov, 5. 462 Mediei, Júlio de, 278

• Só?
llt s t ò r in M iíiu íiu f d o T e a tro

Mediei, Lourenço de. 281 M im ashi. 78


Mediei, M aria de, 325. 334 Mimo inuntus), 136-137. 151. 157. 161* 162,235;
Medicus, 191 Amicno. 25; Bizamíno. J77, 178; caracteres doT
M edwall. H cnry: E u t g e n s a n d L u r m e . 266 Í9 |; Cigano. 25:erisloIógicn, 167-169; delTarie,
Megalenses, 140 353. Egípcio. 7,8, 16, gjgaku, 78; Grego, 25.38,
Mégara, Epicamici <k, 120* 124 136-137; improviso, e, 163, 164; Indiano. 33,36;
Méhul, Nicholus: L a D u n f a m a n i e , 433 influencia em Bhurata. 36, 37; influência no auio
Mei Lan-fang, 66. 67. 73. 164 de Paixão. 167; Japonês. 78; judeus, 25; magia e.
Meiertiold. Vscvolod Eniilievich. 45 lr 453, 465. 2; Majteau, e, l; mistério medieval, 185, 186,
471, 494. 495. 496* 499. 501, 501 L94, 245; pagão. L75; Romano, 151, 162-167;
Meijcr, R. R., 430 Tojuru. 92.95; Turco. 25; Yu-mcng. 54
Mcilhac, Henri, 442 Mimoso, João Sardinha: Relacúm. 296
Meiningcrs. os, 530 Munanimo no Himmasa, 80
Mdanchthon, Phihpp. 300. 301 Ming lluang, 58,59. 70
Méliès, Georges, 523 Mints. Wilíried, 504. 530. 538
Memling, Hans: Os Sete Gozos de Maria r As Sete Miro, Joan. 481
Dore* de Maria, 1% Miiterwurzer, Friedrich, 446
Menaechmi (Os Gê meos)T |47 Miyakn, Dennat, 95
Mcnajidro, LIS, 129* 172. 175; A A r b i t n t g e t n . 129; Mnester, 164
Mal-humorado}. l29;Ptouto,e, 129. Mo Ti, 54
144, 147, 175; Terênclo. e. 129. 147. 148. 175 Mddl, Manha. 510
Metidelssobn. FeliX. 442; Sonho de Uma Noite de Mohammed II, 172
Verão. 432 Moissi, Akxander, 487. 492
Mendes, Catulle. 453 Molière. 26,120.129,227,280.296.334,344.346.
mencslrcis e joculaiores. 242-247. 266, 271 347.349,355,367.370.378.388,408.413* 428.
Ménéstrier, 344 530; Anfitrião, 147; Ar Artimanhas de Seapino,
Memikiya, Choznburo, 89 352; O Awrento, 147. 396; Le Bottrgeois gentil-
Mcnzel, Adolph von. 441 homme ÍO Burguês Fidalgo). 334; Çomêdie
Mercade, 223 iiuheiine, t. 357. 358: Le Depii atnonretn (A
Mcrcuiion. Louis: Qucen Elizttbcth. 523 Doeepção Amorosa), 347: O Poente Imaginário,
Mercatj, Giovitnni. 178 352, VÊcoie dtwfntttttex (EZscuLu de Mulheres.)*
fdercator. 191. 194, 200. 216* 245 347. 349; Ecote des tnarix i Escola de Mandos)*
Mereier, Jean. 470 347; Les Fâcheux in Vanx (Os impertinentes em
Merck. Jolvmn Hemrich* 413 Vau\). 334; Doa Garcia de Navarre ou LrPtttxcc
Merkd. 357 jíthsíi.1. 147; Gousched. c, 404. 406; LTnipropru
Merrill, James: The Btdi (A Isca}, 52fl de Versailies (O hnpí<iviso de Versai! les). 347:
McsopoiAmia. 7. 16-17 influência ein Hulberg, 3%, 397; iodelle. c. 273;
Messcnms. Johannes. 303 Dita Jnútt. 370; Le Sfatinge forve tO Casamento
Mcyerbeer. Giucomo: L r s H u g t t e m t f s . 433, f t o b e r t i Força), 334, 352; Mhtítuhmpos^ 129, 397.407;
1? Diahte. 433 Les Prérienses ridicnles (As Pveci»>s;is Ridícu­
Mezzettn, 358 la *1. 347; La Princessc d'Elide tA 1'rincesii
Michd, Jean. 223; M y s t è r e d e la P a s s i o n t í e n o s t n í3hLltde>, 334: OTurtttf». 257* 34y, 352.428.529.
S a u h e u r J h e s u c r i s t , 223; Àfvxfêrr d e ftt 530; Tcrêncio. e. 347
Ressurrectitm. 227 Molina. Tirso de* Vc)a Tirso de Mohnu
Michelangdn. 270 Mommscn. Theodor. 141
Micl/iner, Jo, 524 Mondorj'. 344, 345
Mikkelsen. JLans. Veja Ludvi« Holhcrg MonlaigUt Renê Magnon de, 396, 397
Milhaud. Danus. 481: Reinhardt. e. 513 Motiichreslien, Anloinc de: /_7-Ã<*v.soise (A Esco­
Miller. AriUur. 460; A Vtexrfmm rhe liridgt' (Pano­ cesa ou A Má Estrela). 274; S ttp h fw ix h e . 274
rama Vislo da Ponte), 519; Afier the folt íDe­ Monteverdi. Cláudio: Arianua. 326; /.*hico-
pois da Queda), 519; A í l M y S o n s (Todos m mnaztan* d i P o p p ea . 326; Orleo, 325, 326
Meus Filhos), 519: Deatlt of a Snlcsmnn (A MumréMir, 514
Morte de um Cnixeim Viajanie). 519, 524: T h e Moody. William Vauglm: The hititft Hetder. 618;
Price (O Preço). 519 Tire Grtat Divtdv (A Grando Fronteira), 518. The
Milton. John: Maseniu*. e. 342; P a n n t i s e Last [Pa­ SnNtw HíMan (A Mulher Sahina), 5IK
raíso Perdido}, 341 J ranz. 423. 424. 487
t ad ic e

m oralidade, medieval, 186, 252. 255. 26 1'2 6 7 Napuleãn, 352


M orax, Renc c Jcun. 481 N m y í t s a s r r a . 32. 38. 304
M o re n /, S.. 16 Nehcr, Caspas, 530
M o re tli, M areei lo, 526 Ncmirovich-DanLchcnko, V la d ím ir Ivanovich. 462.
M orgenstcrn, C hnslian. 487 466
Mortlz, K . P.: A m u n Rei &cr. 431) N ew , 134. 154. 155. 157, 164
M o rto n de Canierbury, 266 Nestroy* 367, 4 2 5
MÕser. Juslus: H a r l c q u i n s N e i m t h íO Casamento Neuber, Jnltann, 378
de A rle q u im ), 412 Nrnber, K aroljne, 365. 375* 378, 379, 406, 407.
M o skvin , 462 408; Ciotlsched* e. 406* 407* 408
M oulène. 155 N évio, Gneu, 141. Rornutus, 141
M ounel-Sully* 442 Nicetas dc T rie f, 191
Mo watt, Anna: F a s h io n . o r L ife m N e w Y o rk (Modii. Nicfrcdas dc Verdum A n t c p e n d i u m , 234
ou A Vida em Nova York), 515 Nicolatt dc Cusa, 269, 270
M o zan , WoLfgang Amadeus. 420, 424, 425* 5L4; Nicolau I. 436
B a stien n n d B a siietm e, 284; A s B o J m d e F ig o ro, Niessen. C ari. 304
425. 494; C o s i fa tt tu ltc , 494; A F f a u la A f â g im , N ijinsky, Wasiaw, 469
424, 433; D o r r G io va m ú , 370, 425* 494* 526; O Nikolaus de A vancim : P i e t a s Wefrí.t, 342, 344
R a p to d o S e rm ffio , 494; Zaid e, 387 NoelLe, R udulf, 534. 538
mulheres: com o homens em peças. 369, 370, 406; Norton, TViomas* 274
dramaUsrgas, 515, 516. 518. 519; M a nva u x. c . No&hC‘ RhinecV., 403
382; m im o bizantino, 245; m im os, 136. 137, Novalis, 429. 521
175, 177; no auto de Paixão, 245; nos autos de Noverre, Jean G eorgcs, 387, 391; Lelires sur ta
carnaval, 250, 252; no Coliseu. 157; nos m im os úfcífur, 419
romanos. 162; no teatro de mistério* 198* 199; N óviúi 161
no teatro japonês. 91, 92. 99 Numcrianu, M arco Aurélio* 161
M u lk r . J . H . T., 425
M iim io . L úcio , 150
M uncb. Edvard, 487 0 ‘ Cascy. Seno. 451; J m t o e o P a v ã o R e a l , 531)
M urray e Kcon. 514 O ila ra . prank: T r y f T r y f íT enre! Tentcí), 520
música; a m u r a , 147; Chinesa. 53. 54* 55. 59. 60. O N e ill. Lugene. 4 6 0 ,4 7 1.4 9 9 : B e w n d i t t e H u r i z t m
61* 63. 66. 78 , 80; com édia in g le sa . 3 7 6 ; (A lé m do H o riz o n te ), 5 2 0 ; B a u n d E a s t f o r
C o t n m e d i t t rfiV/Vi/M* 35?: cone medieval* 242, C t m í i j J 4R um o a C aid iíT ). 520; D e s i r e u m l e r l h e
24 5: Egípc i a, 7, 8 , 1 1. 13 - 16; g a m e h in . 5 1 ; G rc - Ehns (Desejos sufi us O lm os [ DesejoJ), 520; T h e
gu, 10 5. 136* 13 7: lndmnu* 32* 33* 36. 3 7 ; H o in A jte (O M acaco Cabeludo), 520: h t i p e r u -
Im irgicu, 189; minto romano, 163. 164: o r tt t d o r Jo n es, 6; T h e M o o n o f f h e C a r i h h e é s \ A L ua
m'unr<. 25; peça pastoral. 283. 284; poesia, t \ do Caribe), 520
466; primitiva* 3. 4* 6; cm Shakespeare. 321Í* Obaldia, René de: L c C o s m o n a u i e a g r i c o t e (O
322; smtbnltsmu, c. 469; a n teatro dc mistério Casamento A g ríc o la j. 527
ittglês. 232. 233: o leatro de Tagonc, c. 42, 44; Oúcy, André; f f e t é . 480
Teo ria arisioteliana de, 324; Tu rco . 2 5 . 2 6 ; Obratsov. Sergei. 495
46: z a r z n e í a . 373. 374, Veja também Odets. C liffo rd : A w a k e a n d S i n g f (Desperte c C an­
balé, ópera, canções te!). 518
M úsica g u m e l a n , 46, 5 1; s te n d i r * e p r l o g , 5 1 Odoardn, de Jtonrad Eikhof, 392
M usical americano, 516 Oc-no-Masafusa; R a k u v o d e n g a k u - k i , 81
Mussct* A lfre d de, 429, 436 Oerlel, C u n T 501
Mussórgski, Modest Petrovich. 436 Offenhach, Jacques: ía j B e ile H c lè n e (A Oela H ele­
M yltus, C hristloh, 406, 407. 408 na), 442; C o t i o s d c H o j f n u i n n , 475; A G r a n d e
D u q u e sa d e G e r o fs te in , 442; O r f e u n o I n f e r n o .
36, 442, 524 ; L a P é r i c h o l e . 442
N agícr, A . M . 216 O gim nchi, 95
Nakamuro, 91 Okuni, 91
N a in ikL Shozo. 89. 98 Olearius, 23
N am iki, Sosukc: Kanahedon C ím -shingura. 98 Olivier, Iju re n c e . 526. 530
Naogeorgus Cnw nius K ird m m ycr); P i u t i w u e h m s , Open Tlteatcr, O. 521
204* 301 o p e r a t n /j ft t, 425

* 569
H ls tp rta M u n d ia l do T fttln i

opera comique, 408, 441 Chinês. 66* 67, 7 0; circular, 232; Comédia gre­
Ópera dc Pequim. 53, 59, 66-70* 73. 452 ga, 123; com édia inglesa, 375» 376; comédia nté ■
ofvra seria, 387 dia» 129: de C o r n e ille , 346; d e scriçã o dc
ópera: Barroca. I, 324, 330, 342, 34-1; drama, c, Slan i sl ávsk i de» 471: d e u s e x a u i c h i n a . 117-1 IS:
420, 445, 446; drama indiano, e, 38; Francesa. dois andares. 299 ;ccicle in a , J 17. IJ8: E liw h e -
352, 353. 386, 387; Guilherm e 11, c. 423; Ja lano, 318, 319: v p i s k e n i m , 129, 130; escadas
ponesa. 99, 102; noa c7j ' u> 61; Napoleão cm. no, 476, 480; esteira rolante, 502; estudantes de
352, 353 ; nascimento. 325; Pequim, 59; Ro­ teatro, 304 ; expressionísta, 475» 476; Ferrara.
mântica, 425; St. tvre m o n d , c. 407; Hingspiei, 276; film e , e» 524; giranSnoT89, 293, 452. 454.
e, 324-330, 387, 403, 408; teatro p rim itiv o , 3, 476; Guttsched, e* 407. 408; Grónnegndc. 397;
4; Turca, 26 h u n a m i c h i , 98; ilum inação. 392; de Jçssner. 476;
OpilZ-, M artin* 326, 408; ítoctí m u der deut&ehen dc Jones, 471 ; k a b u k i . 98; K l u e h l , 308; l o g e i o n .
Poeterey (L iv ro da Poética Alem ã!. 404 129: lugares nu» 395, 397. maquinaria* 335-338,
Orbay* François í í \ 352 373, ,387,420; mecanismo. 373; M c h i e r s i n g e r .
oreiiestroy 123, 129, 134. 175, na tragédia grega, 308; m iniatura, 209 ; moralidade, 262. 265-267.
104. *05. 107, 118 m u ltim íd ia , 495; t \ â , 83* 84» 87* 98; ópera, 3B7;
ordens religiosas, 303,341,342; Agostmiiinos. 240; palco no* 511-513; plano cénico de Donaue*s-
Beneditinos, 203, 248, 34 l ; Canusinnos. 341; ch ingeri, 216, 219; p a r a s k e n i a , 118* 130, 154;
Dom inicanos, 209, 320,3 3 7 ;l?r3iiciscanos. 185. peças cam ponesas, 261; p e r i a k i o i , 150, 151;
240; Jesuítas. 90, 296, 299, 300, 330, 338-344. perspectiva, 284» 287,291,292, 344; dc Piscator.
368, 403, 505; Fiarisiav 341 534; plataform a, 211, 222, 223, 227; de Plalzer,
OrtT, Cari, 109; Amigam, 538; Carmina Buratw, 429; p rim itiv o , 2, 3; produção dc Hiibner, 530;
205; Caliulti Carmina, 205; Édipo, 538; Pro­ p r o s k e a io n , 123» 130, 134; p u l p i t u t n , 154; a
meteut 538 quarta parede, 448, 449, 465; raised, 429; rea­
O rlik , E m il, 48B lism o* e, 448 . 4 4 9 ; R e d e r i j k e r , 305. 308: úe
O m n i* G iu lio , 261 Reinhardi* 483-492; Renascença.2 2 3 ,29 1 .2 9 2.
Orta oyurut.
25. 26 300; roeu, 209: R om ano, 148-151, 154, 155:
Ortega y Gassei, José, 114 século X V II I, 382: jrfc&Jn* 20, S c h ilie rn o .4 1 3 ;
O rrolani. Benito, 99 x ig h d e o ro » 369; sim holista, 469. 471, 475;
Gsbom c. John, 313; The Entertainer, 530; Laok s p íic c s tu f it \ 526; dc Stcm. 488; dc Svoboda*
Back i n Anger (Olhe para T ris com Raivai, 460 524; teatro escolar, 300-304; teatro medieval.
Osúmder, Andnsas, 301 186, 2 0 0 , 2 1 2 , 2 1 5 , 231, 240, 2 4 7 2 5 0 ,
Osman , 25 Tegerasec, A f í t i r h r i s i u , 203, 204; t e f o r i . 150:
O m iro, 83 \ h e o l o g e h n . 118, 123; deTieck, 431» 432; Tra ­
O ilo I* 181 gédia g rega. 1 14; três níveis. 227» 296; de
O tio [[. 248 Veroita. 423: de V ilar* 533; de V itrúvio , 271;
O ito III, 175 Weimar» 413-420; dc Wieland Wagner. 470. Vejn
O ito, Teu* 530 também construção de teatros
O iway, Thomas. 391; V e n e z a P r e s e r v a d a , 47 i Palic^fch, Peter. 526, 538
Ouseley, 20 Palíndio, Andrca* 287, 291
O v íd io . 205 E*a1lcnherg* M jix» 502
Pammaehius. 301
p a n to m im a , 157, 161, 534 ; A u s tra lia n a , 3;
Pucúvio, M ., 144 Biaantina, [7 2 , [7 3 , 177. 181» 182; X c m jo -
PaechL Otio* 194 gusT. 58; Egípcia, 163, 164; Festivais de A no
Paládio, 172 Novo, 17; Indiana. 29.42: Japonesa, 76, 78; me­
palco: agitprap, 505; dc Antoinc, 453, 454,455; de dieval» 1 9 1 .2 3 4 ,2 3 5 ; pagã, 175, 181. 182; p r i­
Appiu. 470; arena, 524, Ateniense, 118; auto cie meira na A m e ric a , 358; Q uintiliano» u, 164;
Paixão, 215. 219, 221; Autos de carnaval» 250. -Sumcria. 16; t a z i y é . 20; no teatro épico, 513;
252; autos dc Natal, 240* de Avandni, 342; halé, universa!. 164. Veja também mimo
334; Barroco. 323, 325-326. 330, 334» 335-338, Paolucd* 276
342, 344-346, 370,420: Bayreuth, 470; Berlim. 123. ,511
p itm h a s is ,
488; bonecos, 87. 89, 247; bugnkit, 78» 80, 1 18, 130, 2 %
fv jr a ík e n ia ,
Buonialcnu. 325: Burglhcater» 428. 429; Pare, du, 346
Catricrón. e. 373; eanoçac carro palci >,208-212. Parigt, A lfon so . 335
22S-242* 255. 257; anca, 151; cenário, 441 Parigi. G iu lin . 3*35. 337

• 570
• í ndi c e

Páris. o Jovem. 164 P io N: C h y r x i s , 278


Páris. o Velho, 164 Pirandcllo. L uigi, 480; C osi è is e vi p a r e } (A ssim
Parker, Don*1i>\ 5 L7 É. |sc lhes Parece]), 511; E n r i c o ( V . 5 1 1 ; /
pfftfriiirW fc, 248 G i g u n t i t i e t í a A f n n t u g i w (Os Giganles da M o n ­
Pastrone. G., 523 tanha), 534; S e i s P e r s o n a g e n s n P r o c u r a t l e u m
PutanjalL 33, 37 A m or,266. 511
Paul, Jean: Jitan. 430 Piseator. B nvin, 451. 496. 499-504, 530. 534, 538;
Paulo II, 269 D i c A b e n te u c r d e s B r a v e n S o tiim e n S t l w e j k (A s
Paulo, Lúcio H m flio, 147 Aventuras do Bravo Soldado S c h w e jk L 501;
Paulsen, Cari Andrea^ 377, 378 0 ’ NeÍN, e, 520; P a s p o h t i s d t e T h e a t e r (O Tea-
Pavio va* Auna. 452 iro P o lític o ), 500; R e v u e R o t e r R u m i n e i (R cv is­
Payne, John Howard: B m t u . s , 431 lã do B a rulh o Vermelho), 500; T r v t z a t l e d c m
Peça de Igreja, 178*181 (Apesar de Tudo), 500
Peça de lendas. 203-208, 233 Pilágom s, 169
Peça dentro da peça, 41, 42. 208. 209, 211. 432. PilocfT, Georges. 480, 481
433. 510.511 Pixerecourt: L a F c m m e ò d e u x m a n s (A M u lh e r com
peça musical ( k ' u n - c h «J, 66. 67 D ois M aridos), 514
Peça pasionil, 330; ópera, e. 324; Renascença, 280- PLinchon, Roger, 530, 533
284; .Trena satírica > 237: Shakespcare. e, 312. Platão, \ 1 \ \ B a n q u e t e { S y m p o s i u m ) , 118
313 Plaizer, Joseph. 429
Peça satírica. 107,161; de C ríhas. 113; de Euripide*. Ptauiu. 16, 144. 150, 161,270.271,3(X>. 30K. 344;
110; Surfe, 134; de Sóíocles, 109 A m p h i t r u o , 147; A u t u t a r i a (O Pote dc Ouro ou
Peças camponesas, medieval. 186, 2 57-26) Comédia da Panda), 147; Beolco. c. 353:
Peças K i t i c h i , 257-261 C i - s t c U a r i a , 147; influência em Ariosi». 276; in­
Peças xiilas de Hussein. 14 fluencia em llolhcrg. 396; M e n t t c c h m i (Os Gê­
Pechstein, M ax. 488 meos), 147, 270. 276: Mcnandro, c. 129. 144.
Pedro J, 378 147, 175; M i l e s G l o n o s u s (O Soldado l*'aní'ar-
Pedro, Mestre, 368 rã(>L 147. 2KÚ. 300; P s e u d o l u s , 147. Shakes
Peclc, George. 317, 330; T h r A r r u i g a m e m v f P a r i s pearo. e. 3 13; S u c h u s , l47;'Jérêncio,e. 147, 148
IO Julgamento de Párisi. 283 Plèyadc. 273, 274. 280
Pelágia. 208 Pluiarcu, 194. 273. 330
P d ly , LewLs. 20. 23 Poclzig, Elans, 488
Pentecostes, 198. 223 Poli eleto, o Jovem, 130
P e n . Jacopo; Da/tie, 324 . 3 2 6 : Eittidice* 325; Pólio. Asímo, |41
Schíilz, and, 326 P olijciano. A n g e lo : F a v o i u d ' O r f e t r i F á M a dc
P d id e s, 107, 113, 114. I 18. 161 O rfc u j, 281, 283, .325. 345
P euin, ám ile, 442 Pompeu, 151. 154
Pérsia. 20-23 Pompónio, Lúcio, 161
Péruse. 273 Põncio Pilatos, 186, 196, 215, 223
Pertizzi, Baldassarc. 284 Ponte. Lorenzo da. 425. 514
Peshkov. Veja M á xim o G ó rki Pomo, fcrieh. 507
Pelei de Blois, 247 Foque Im . Jean Bapti&le, Veja M o licre
Peier&cn. Julius, 212. 215 P o rfírio , 169
Pcterweil, Btddcmnr von, 212 Porfirogcnito, Constiintino. 181
Petrarca, 269. 281; Canzaniere* 312; Slukespearc. Poulenc, Francis, 481
0 .3 1 2 . 313 Poussin, 345, 424
Pevsner, Antoinc. 471 Power. Tvrone, 431
Phihpc, Gérurd. 533 Po/KO, A rtd iC a ; P e r s p c c t i v a c p i c t o r m u t H q u e
Pinn, Anionio de, 429 a r x h ir e c to r u H t (Perspccúva na Pintura e A rq u i-
Picasso. Pahlo. 4 8 1: L e D e . \ i r a n r a p é p a r ia q u e n e letLiraj. 338
( O Desejo Pego pelo Ruho), 526 P ra nijxd in i, L iu ic o : S r e n o g m j i u F m t t n s u i , 483
Pihdes, 163, 164 Prandim. Prancesco, 526
P iloty, Karl vou, 448 E*ratinsis. 107
Pitioro; The S e c o m i M r s . T a n q i w m y I A Segunda Prcetorius, Emtl, 530
Senhora Tanquerav), 459 Prehauser» G o tifn e d . 365
P im ir, Harold: C a r e t u k c r IO Z elador). 460 Prcsnto de máscara, 247-250
Mu/ítliai do Teatro -

Pnesilcy. J. B : A m i n s p e e u ji* C < itts ( l!in Inspetor Rasscr. Johamr SpivI \o\i der Kbiderzuchi, 304
Chamai, 460 Raiskomndte. 377
Prochazka. V aldím ir. 403 R aupach, Entôí. 4 4 6
procissões; de A n o N o v o , 17; Bizântim i, 189: Ravci. Mnurice. 481
Charivari, 248; Cortejos teatrais. 209; d e s t e , 20: realismu, 440-449; mi auto dos profetas, 240; no
Egípcia», 8. J l . ^ í f ^ i í , 7K; em JusUfiiano, 177; teatro de mistério. 227
lilúrgicu, 171; medieval, 208-212; Páscoa. 178; Redentor. 219
prim itiva, 4; Renascença, 29í> fíedrrijkcrs, 261, 305-308; Mel,ttcrsingert e, 308
Proclo, 178 Reforma, A, 209; influência nas peças de mistério.
Prokôftev, Sergei Scrgeievitch, 481 216
Frordgoras, 110 Regras aristotelianas, 272. 346, 404: catarse, e. 38;
Prudêncio: P s y r f u m i M - I u i i , 261 Kalidtisa, e, 4J: Stendhul. t. 436
Psisírato, 104 Reich, Hennann. 167. 175
Ptolomeu, 129 Reinhardt. Max. 98. 452. 455. 475. 476, 483-494.
Piíblio 5 iro. 163 500. 502. 511; Dantoti, 495. 496. 500: influên­
Puccini, Giacomo; T h e C t r l a f l h e G o l d e ti ttfesf (A cia cm Meierhold, 495. 4%; Milliaud. e, 511;
Gârota do Oeste D ourado). 454. 518: M a d a m c teatro de Nova York. c. 513
B u t t e / f t y T 99,
518 KrinholiL K W.; Saat itwi Gdtbe gesaet dem Tage
P u c k le r-M u ska u . H e rina rm vo n : B r i e f c e in e j* der Çarben zu reifett Ein Handbuch fú r
V e r s i o r h c n e n (Cartas aos Mortos), 431 Àxthetiker und junge Schunspieíer (Sementes
Putcher, Caio C láudio, 150 Uinçadas por Goeihe para Amadurecerem no Dia
P urcdl. Henry: O i d o c E n é i a s t 470 dos Feixes. Um Manual para Estetas c Jovens
Pdjfchkin, A le x a n d e r S e rgcie vitch , 429 . B o r i s Atores), 419
G o d m x o v , 436 Reinolds. Robert. 376
Pusterbalk, 191, 194 Religião do Islã, 18L. 209
religião, l, 2. 3. 177. 488. 529; censura, e. 368;
ClaudcL e, 513; cm Critias. 113; drama escolar,
Quadflieg, W ill. 526 e. 300; Egípcia, 11-16; ciu Esquilo. 109, na
Quaglio. Siimm. 338. 442 Grécia* 103, Itl4; Igreja Oriental. 178-181; In-
Quediva. 445 d ianii. 29. 32. 33, 36, 39. 41: teatro barroco. e.
Qucneau, Raymond. 526; E x e r c i d o s d e E s t i l o . 527; 367. 368; em teatro de mistério, 186-242
Z n z i e dattJi l t • métro* 527 Rémtmd, I‘riií. 526
Qmriault, 39,5 RENASCENÇA, 269-322.330; Comédia humanis­
Q uim iliaim , |6J ta. 276-280; desenvolvimento do palco. 284-292:
Quiònides. 120 drama escolar, 300-304; festivais da cone, 292-
Quistorp. 407 299: Metstersingvr, 308:peça pastoral. 281-284;
Kederijkers, 304-308: Teatro dizabetano, 312-
322. Tragédia humanista 272-276
Kabdais, Prançois. 255 Rctmert, Gúnther. 51 D. 526
Rabei, Vigil, 219 Representações profanas, medievais. 201). 242-267:
Racine, Jean. 274, 346. 38S? 418. 433; Ataurofa» Francesas antigas, 247; Inglesas antigas, 266
te Grwnd (Alexandre, o Grandek 346; Andto ReitenKacher, Simon, 342
r n a q tr e (A ndrôm aca). 346. 347; Atkoltc, 347. Retz, Iranz von: Lecntra saper Salve Reginat 212
395; Corne tllc, eT386; E s t h e r , 347; I f t g é n i t i e m Rcuchhft, Johann. Hetvm. 255. 271. 300
A u lis , 110; ( f j g ê t t i i t e m T à i t r i d e , 1Jb \ M i i h r U i t i u >, Rcuenthal. Neidhart von, 248
346, 4 1S; paródia de B M n t c e . 358; P i t è d r e Rezvani. Medjid, 23
(Fedra}, 347; L t j T h r t m t c l e (A Tebaida), 346; Riario, 27Í). 272
VbJteirc. e, 386 Jiicardti 111,312.313
Radziwill. Cluistine, 274 Ricardo, duque de Gluucctter. 313
Rafael. 276; E s c o l a d e ;Wufa, 269 Rtcct. l-ranccsco. 370
Riiikh, Zinaida, 496 Riccohum, Luigj. 358. 382.463; Wdlich, e, 301
Rairnutid, Fcrdinundo. 367. 425, 427 R ite . Elmer: OiTe-77ir;r/ ofn Natuw fUm Terço dc
Kameau, Jcnn P !ttíip [V < a s f o r e t P o ( h t.\, 387: urna Nação), 502. Fbuer (Poder), 502: Street
I n d e x G t i l t w r f A i A s índia* Gulanlcs), 155. 387; iVí mic (Cena de Kual. 517
Lii PrhtccMic 11*Ntivunt' t A Princesa tle NaMir- R ico. Ihom as D , 514
ra), 388 Rit-U. John. 387. 391
* 572
* I titi te r

Richelieu. 334. 344* 345 Sácchi. Antonio. 367


Rigiz^ Lynn: Grveti Grenv lhe Ulacs <CK Lilasex Sachs, Hans. 232. 250. 252. 256; Bentala, 308;
Crescem Verdes). 516 Menaccftmi (Os Gêmeos), e. 308
Kilke. Rainer Maria: Soneto a Orfeu. 469 Sackvillc. lhomas. 274, 375.376
Rim.ski-Korsakuv, Nikolai: Schéhértèzvdv, 481 Sage. [.e. 344
Rintão, 124 Samt Evremond, 407
Rinuccini. Oliuviu. 330; Dufne. 324.325 .fíttridicc. Saint-Denis, Michcl. 480
325: Sehtitz. and. 326 Sainl-Gcktis. Meltin de, 274
Kipoll. 195 Saim-Saens, Camillc, 441
R iquier. G u iru t de. 242 Saint-Símon. 358
Rist. Johann, 376, 377.408 Sainte-Beuve. 436
R itm cr, R ud o lf. 459 Sakata. Tojuro, 92. 95
R o b b in s .ie ru m c .5 L 7 ’ • Salviano. 161
Kubert. Emmcrich. 457 Samurat, 75.81,83.87.89.92,95. cstéiica de, 91:
Kotert.Yves, 527 ética de, 98; em jiduitnono. 91; nôTe. 9(1
Rodtn. Auguslc. 469 Sanga!Lo, 287
Roetlie, G-, 300 Sanniones, 162
Rogers. David. 231 Sãnscrito. 36. 39-41; dramas. 42
Rogers. Robeii, 228 Saniurini, Francesco. 337
Rohan, marechal Pierre de. 256 São Luis, o Pio, 242
Rojas. Fernando de, 280 Sarcey, Francisquc. 442
Roltand, Romain, 323.488; D a n r o n , 488.496, 500 Sardou, Víciorien, 452; Meuiamc Saas-Gêne. 459:
Rotler Alfred. 488 Théodora, 441.442
Rollinger. Wtlhclm, 216 Saroyan. William: The Time ofYour Life (A Chance
ROMA. 139 169; aníileairo. 155-161; comédia. da sua Vida). 519
L44-148; evolução da construção de leairos. 148- Sanne. Jean-Pard. 520. 526. 538
151: fábula ale! ana. 16L. 162; Lutii Rwmiiii* 140- sarngaku, 80-31
144: mimo Histológico, 167-169: mimo e pan- Salie, Erie, 481
tommia. 1G2-167; Teairo na Roma Imperial. 151- Sbarra, Frjncesco: it Pomo d'(h*>. 330
155 fttraenae jton$T 148-151. 154. 162. 223. 271. 276.
RnTTuintismo. 41.4294(1 287. 299. 308
Riimcrberg, 215 ScaLzi, Alessandro. 357
Runsard. Pi en e de, 273, 2R0 Scamnzzi. Vincenzo. 287, 291
Rt^sjr Sal vai nr. 323 Scauru. Emílio. 15(1
ftusenphil. Hans. 250 Schack. AdolT Frkdrjch von, 373
Rossellini, Roberto. 533 Schadewaldl, NVolfgnng, 110
Rossini. Gioaccliino Antomu. 433 Scludmv. 441
Kosinnd. Edmnrnl; UAifgtan. 442 Scharer. Hcinricli, 13
Rouss&au. Jeím-Jaeques, 387. 412, 429; Goethe, e. Schanzer. Miirie, 457
418; Lrttrr it tVAiettiberf surfes spettticlr.s (Caita Schefícr, Tliassilo von. 1(34
n d’Alemberi sobre os Espetáculos). 388 Srhcmhcrg. Dietridi: Spieí von FruuJntten (O Aino
ftottc, Kichulas, 313; 71v 7r< jg cd \ o f 6 m/v J í w c da Senhora Juiia), 208
Grey (A Tragédia de ljd> Jane Grcy). 388 Schiller, Johann Clmsioph Friedrich von. 345,412.
Rueda. Lopc de. 280,283 420, 427. 428. 430. 436. 445. 505; Dic Bmnt
RuofF. Jakob: Wnnganensfuet. 301 von Messitio (A Noiva de Messma). 420; iXatt
Ruolger. 242. 245 Cartas. 465. 514; Gfwthc, c. 413. 416-418:
Rulebcuf, 208. 245; Le Mn acfe de Thèajddle (Mi­ LíTUnd. e, 423, 424: Dic Jmgfran von Orleans
lagre de Teóftlu), 208, 519 (A Donzela dc OrLcans). 420; Kubalc und Urbe
R uysdad. J_. 424 (Intriga c Amor). 4 12.427; Lcssing, e, 408: l}ie
Ruzzante, Veja Angelo Beoleo Ríiuher (Os Sídieadorcs l. 4 17. 500. 538:
Sliúki>spcan!S Schatteti [ A Somhru de Sliakcs-
pearc), 417; Obcr tative und setrtitnftttidische
S íib b a ltim , N ic o la : P r a t i c a t í i f a b r i c a r s c e n e e Dichíwtg lSobre a Pi^sia Ingénua e Scuúmen­
m a c h i n e n e 1t e a i r i ( Piãlica de Fabriciu- Cenãnos tal ), 440; Wallcnstcins LnxeriO Acampamento
c Maquinarias no l&itrm. 335 de Wallensleinl, 418, 427. 442: Wiitieim Tctt
Saccheui, Lorenzo. 429 (Guilherme Tcll). 454. 465. 476. 53H
Ht s i òr t i t Mt t ntli af d o I r t n t o

Schink, Johann Friednch. 392 280. 312. 322, 391. 517, 523. 533: S diródcr, e.
SchinkcL K íirl Fríedrieh. 424. 433; GnetJn.-. e, 424; 430; Seneca. e, 312: Shaw, e.459; S o n h o d i * U m a
Wagner, e. 445 N o irc d c V e n to . 136. 313. 431, 432. 454. 487;
Schlaf. Joharmfs; FanUlic Setickc, 457 tcairn perca, e, 23; A T e m p e s t a d e . 322: Tetêncio.
Schlegel. Augusl Wilhclm mjii. 397. 424. 429. 430 e, 147, 148; Tiec L e, 4 3 1,4 3 2 :77rtfJ A ju b v n i r t t s .
Schlegel. Fricdrich. 397,429, 430, 433 312; T i v d j í i t N i g h t iN o iie de Reis). 2K0, 449:
Schlegel, Johann Elias, 397, 400. 407. 4t L 412; verdio japonesa de, 99: Vòlhiire. c , 386
G e d a n k r n z iir A u fn a fa n c if c s d tiu t s c h c n T h ea te rs, Slian W im g. 55
(Considerações sobre a Rcccpçâo do Teatro Di Shíimku. 95
namarquési. 397; Hcrmat?«. 400; Zafálligc Sh;i\s\ Gcorge Bernard, 442, 480, 538; Ar/n.r and
G e d a n k e n tiber d k d e u fs ç h c S f b a t tim h n e in W/Vn thc Man. 578; Ctiudidiz. 460;Craig, e. 470,471;
(Consideraçoe* ao Acaso sohrc a Casa de Espc- The DrviPs Disripfe (O Discípulo doDemOnio),
táculos Alemã em Viena), 397 460: A Essência do Ibseuismo* 459; discn, e,
Schlcmmer. Oskar; Figumtes Kabinctr. 483 459,460; Irvmg. e, 455; JfWuj Buir* O/ln i hhmd
Schlenthcr. Piiul, 459 (A Ouira Ilha de John BulO. 460; The Man of
Schmidi, Erich. 412 Dcstiny (O Homem da Pesimoi, 459; Ligma-
Sdunòkd. Hartnmi, 17 teãa. 517; A/r.r 03im'n s Pntfcssion I.A Profis­
Schoop. G-, 534 são dn Sra. Wanen), 460, Bfd<nimTHome*
Schopcnhauer» Anhur, 44 i (Casas dc Vulvas). 459
Schrcvvogel Joseph. 427. 428 Shaw. Martin» 470
Sclirorter, Riedrich Ludwig, 395,400.413.420.427 Shelley, Perc>'. 429
Schroder, Sophie, 427, 428 Shei idan. Rictiíird Bnnsley: 7V;í'5,i7íoo//í>rLSVij/íífíií
Schmtçr, Corona, 413 tEscoJa do Escândalo). 51.5
Schuh, Oscar Frilí. 530 SherWíxíd. Rohcit E,: IdioCs i)elight (O Dcieiie do
Scímmann. Pekr. 521 JJiotn). 518
Sduimann. Rohert, 470 s/mn/hf. 9 8 -9 9
Scliulz, Heimich, 326, 375; D ciphnc. 326; Peri. e, shmgeki, 9 9 . 102
326; Rincrini. e, 326 Shinraci Shonin. 84
Schw Q itk. 250-252 Shi»li>kn Taislii. 78
Scou, Waiier. 429,431 Stunv* de menesircis, 514
Scribe. Eugènc, 433» 441 shows de varicdiules. Chineses. 60
Séehan» Clvarles, 433 Sidnev. Sir Philip: Apologicfor ÍWtr\\ 313
Sellner, Gustav R., 530, 538 Sigismundo III. 358
Séncca. 144. 161. 164. 270. 27 J. 272. 274. 521; Silja. Anja. 510
ffipóitlo, 270.271; Hooft, e. 308: influência em bimlxílnv. 466-475: Chinês, h7-70; Índiaim. 44. Ja­
Garmer. 344; Shakespcarc- e. 312: Tiestci. 300 ponês, 76. 7K; cm t a z r y c . 20; Veja lamlxhu c o r
Serliu, Sebastiano. 287. L A rc h tte ffu r ri, 284 Simom. R.. 436
Stííóstris ||[, 13 Simoiudcs, 194
Severo. Sepumo, 172 Sinumtn, 352
Seylcr, Abel. 411 Simatinv. Ruhen, 533
Sforza, Bi anca. 299 Simos. VíctoT, 462. 463
Sforza, Uodovico, 292-293 júigspíV/. 324-330
Sforza, Ludovieo, o Mouro. 292, 293 Sinuhc. 14. 16
Shakespeare, William. 41. 63. 270. 274, 377. 391, Sisov. 496
412. 413. 417. 428. 430. 431. 436; Ariusk). c. Sislo IV. 269
312; Comedia dos frips, 147; Como HtesApmz, skenc. 114. 118. 130; em Os An oatanos, 123; cm As
312.313; C n n o la n a , 511; Cr.iig, e. 470,471; Ar M / i c r í . 123; em A Paz, 118, 123; em Pesagem
Guerras das Rosas* 538; Hamtel, 319-320. 465, tln,\ Ai/ntis>T 118; Romano, 155; acaemtefrotts. 148
470, 526; Henrique VUL 448; Htnvy VI, 538: Sievoui. Ma,\. 48R
Irving.c,470: Johnson, and, 391: Jonson, e, 319, S m im o rf 23
326; Júlio César, 463. 495, 4%; Lenz, e, 412: Sócraiev. 118. 120, 136; Arisidtanes. e, 121
Macbfúi, 392. 471. 530; Medida por Medida, Soesi, Koíirad vchi, 240
53H; A Megera Dtwutda, 312. 517; O Mcnrtkior Sófoclcs. 107. IWl IÍ3.1 14. 117. 118. I3U: Anrígn-
de VéncTtj, 99; Olivier, c, 530; O/rK 273,463; tut. 4 3 2 .4 4 2 : Êdipo Rfi. 287. 4 8 8 .4 9 5 : Esquilo.
produções de Kean 442; Púschkm, e, 436; C. 114. E u ríp id o , e, 1 1 0 .113; /Ví T n i q u i n i o s , 110
Ricardo IIL 471.476.4K0.538. Rnuten e Jtdirni, Sofri» i. 136

574
índice

SoLin. Bonaventura. 403 Slravinski, ígut FcdorovtcU. 4>2. 481; Prftwttrhktt.


Solai. Femiccii1*, 526 4X1; Tht Rukrs Pntgm s (O Progresso do
S o lli, Geurg. 533 Fsimsial. 533
Soinadevasuri: Nilivakytímrtti, 37 Sirehler. (íiorgio, 353. 511, 526. 534
Son neidels. Josci'. 425 Siriggio. Alessandro. 325
SonncnthaJ, A d o M vnn, 446 Strindfcrg. Augusl. 99. 453.4S7
Sorgo, ReinhnrJ Johannes: A t BtnirriQ Mendi Stroux. Karl Heinz, 513, 530
go>. 475, 476 Slsrhukin. Bons. 496
Sorniâ, Agncs. 457. 487 Sluati. Mana. 270. 274. 312
S tflota Komachi: " K o w t t d t i m * SepulcnC. 81. 83 Slubenraueh, Philipp von, 428
Solterrtteèn, 257. 261 Sfucumel, Christnph: Studentts* 300
wttie, 1S6. 228, 255-257 Sntrnt utul Dmnjf, 382. 4 L2. 413. 418. 427, 429,
Southern. Richurd 233; The Medieval Th ctiftr ttr 430. Veja também Cioethe
the Roiuid. 265 Suinu. Johannes. 301
Spencer. John, 375. 376 Sudermann, 457
Spcroni. Speronc: CVmotv. 273 Sudo. Sadanorí. 99
Spomini. 433; Ofywpia. 433 Sudraka. 41
Ssimuíi Ch’ieo. 54.55: Registro Histórico. 54 Sugimoi i. Nohumori. Veja Chikamalsu. Mon-
Slaél, Anne l.ouisc Germatoe de: A 1í‘Allemagth\ zacniou
431 Sulerjílski. L. A.. 465. 471
Stanislávski. 102, 355. 367. 449. 452. 453. 454. Sulzer. Johann Georg, 400
455.457.462 466.471-475.483,495.499.530, S itm u n w . 98
Copeau. e, 480; Górki.c, 367; Meierhold, e.496, Snppé. l-ranz von* 516
método de. 463: Minha Vida na Arte, 465 ,Otrío. Surom. Noto. 5 1
e. 463; Tchékhoo. e. 463: WiIlidi. c. 304 Surrealismo. 475-483
Sieckel, l_ennariJ. 533 Sutri. 194
Slcele, Ríchiti d: The Lyitig Lover íO Amante Men- Svoboda. Jusef. 524
lirosoj* 382 Suilt. Jonathan. 387
Sleen. Jan. 3ÍM SwohiKta. Karl M.. 234
Slcin. Gettrudc: Dwtnr Fitnatas Ltghts fhr Ughtx Symons. Anliur. 469
(Dr. Fausto Aconde as Luzes). >20
Sieinbeck. John: The Aftnnt I.s i)awn\ A Lua se Pôs).
534 T’ang Ilsien-lsu: O Pavilhão das Ptônias. 63
Siendhal. 436. 441. 451: Mmizoni. c, 436; Racmv Júcin. Tito. 141. 155
tt Shúktiftttm'. 436 Tácito. (Tunêlio. 4(0: Anaist 150
Slem. Erast. 476. 488 Taglitmi, Maria. 433
Slerne. Lamcnce: Stnttintttnd Jvttmt) through Tagore, Rabmdranaib. 4 2 .4 4 : B rccht. c. 42: O C i
Frattcr and hah (Viagem Sentimental Através d o d a P rim a vera . 44; W itder. e. 42
da Franca e liãlia). 386 T a ille , Jean de la: L'art dt Ut tragêdie I.A A n e da
Sternheim. Cari. 487; A t Sttob (O Lsiiobc). 475: Tragédia). 272, Sauffuruii.i fSnuh l 7inios<^, 272
1913, 475 T n ille íe rre . Cerm aino. 481
Steuart. Ellen, 521 Taiiic, H ip p o lv ítí. 451. 453
Slifter: IJebhel. e. 441 Ges-
Taím v, A ieksandrJakíw lèvitch,436. 3 87 ,49 5 ;
StiickeL Lcnnhard. 303 lo de Emoção, 499; O N e ill. c, 520; O Teatro
Stockhausc», Karlliem/.. 529 Dtsarorreiituiií). 499
Stockvood, Í«»ím, 317 Takedn. í / uitx>: Ktuiahcdon Chioshingttm, 98
Sloddard. Richard Henrv. 5 15 Talmu. François Josepll. 395, 4 18. 431: Réthwiotis
Stolze. Gerliurd 510 xitr Lt Kaiu tt wr í'arl tlwârnd tRéllcXocs so-
.Hiòilebckcr. Klaus. 500. 501 htv l.e Katn e solvo a Arte Tcntra] 1. 395
Stowe. Hanict Beedtei Vm lv lom s Cabia iA TamExirlajne, 312
Cafeína tio Pai Tomás), 516 Tara scon. 262
Sinitnm, August. 475, Sanefa Susinuta. 476 Tíii leton. RicUiirJ. 318
Siranitzky. Josel Amo». 358. 365 Tiirquímo, 155
Slrauss. Joh.mn. 516 Tas st», (oiqnaio. 284. 355: Atuiitttã 281
Stiauss. Richard, 469.4HI, 494; Anudtn- nafMr,vn.v. Taul>et. Ridtard 5N
367; Oí/Hiaío. 4Wi 'fiivormc-r, Jcnn Bapti.sto, 23
f li x t ò r in A tu m fu tt tio T c m r o

Taziyé. Paixão, 19. 20. 2.1 Teodoro. Mánlio. 161


Tcliékhov, Anion. 457, 480; ,»1 Gaivota. 463. 465. Teodoro, o Erudito. São. 181
466; O Jardim das Cerejeiras, 461, As Três Ir­ Teodrtsiu II. 178
mãs, 463. 538: Tio Vânia. 463 Teólilo, 208
Tchékhov. Michacl. 463. 466 Terèneio. 129. 144-150. 161. 175. 270, 271. 278.
TeDeam, 112, 189, 191. 203. 232 300, 303, 344; Aitcífrlu (Os Adélfos). 147. 148.
Tealro de Arte de Moscou, 462-466 150, 270, 276, 347; Andria (Ándria). 147.276:
Tealro de Berlim, 4.'6 424: Reinhardt no, 513 concepções humanistas de palco de, 266; £ imh-
Teatto de bonecos. 87-90. 247. 377; bunmku, 75: clius (O Eunuco), 147. 276; Hrautomimoru-
no Festival de Muliairam, 20; Indiano. 38; ojf- mrnos (Aquele que Castiga a si Próprio), 147;
Broadway. 520, 521; em Pequim, 55; em Wervra (Hecital, 147, 150; llrotsvitha. c. 199;
Szechuan. 55; Turco, 19-20. 28: em iMJvnng Menandro, e. 129, 147, 175; Molicre, 347,349:
gotek. 47. Veja também teatro de sombras rhormio (Fonniâo). 147; Pio 11. e, 278; Plaulo.
Teatro de Câmera, 526 c. 144, 147. 150, 161, 175; T o m a d a s (O Jovem
Teatro de mistério. 11, 178, 194, 222-228; Brcclit Cartaginês) 271
no, 505; Europeias, 19. 20; Francês, 222, 223, 1'eiTy, Ellen, 459, 470
227; Inglês, 228-233 Terry. Megan: Via Rock. 521
Teatro de Nova York, 513-522; Reinhardi no. 513 Terluliano: De speetaculis, 167
Teairo de Paris. Reinhardi, e, 513 Tcrwin,Johanna, 492
Teatro de sombras. 19,28, chuytmoioka, 37; Chinês. Teschncr, R., 47
55; Egípcio, 14; Indianu. 37, 38.39.41.42.54; Téspis, 104, 105, 107
Indonésio. 55. 80; Karagor, 26. 28; Oriental. 14; Tessalo, 130
Tuico. 25,44, 55. Veja também teatro n-ayruig Tevfík. Mustafã. 28
Teatro de Viena. 425-429; Reinhardt no. 513 Thackeray, Wiltiam Makepeacc, 451
Teatro de Weiniar. 413-420 th é à te r /r a n ç a is . 413
Teairo do diretor. 530-539 th e a te r in th c ram al. medieval. 228-233
Tealro Elizabetnno, O. 312-322, 41.1 lliéd tre ilalien. 40S
Teairo em crise. O. 521-523 Théillrc Libre (Teatro Livre). 452-457.46<>
teatro engajado, 494-513 Theganus. 242
Teatro Épico. 504-510; Teatro dramático, e. 505: Tliévenot, 23
técnicas do. 510-513 Tliienen, Frithjof van. 400
Tealro espanhol: Barroco, 367-374: Breclit. e, 505: Tliieiry, Joseph, 43.1
drama indiano, e, 42 Tliiersch, Friedrich. 442
Teatro Experimental, O, 519-521 Tllimig- Helene. 492
Tealro francês. Barroco. 344-353 Thiinig. Hugo, 446
Teairo heleníslico. o. 130-136 Tllonia, I iiillv ir 492
Teairo na Corte Bizantina, O, 181. 182 Thomson- lamcs. 429
Teairo na Igreja, Bizantino, 178-181 Trago de Kokkinobaphos. 178
Teairo Nacional tla Dinamarca, 396-397 Tibério. 164
Tealro Nacional, 395-404 Teia no, 278
Teatro nó, 38,66, 75, 81-87; estética do. 91; kvogen, Tieck Ludivig. 367. 429. 431.432; D e r ■g fs tw /e h c
e. 37, 91; tragédia grega, e, 83, 84 Ktitcr (O Galo de Bolasl, 4.10. 510: Trinz
Teatro Pol/tico, 499-504 Zrrlrhw (O Príncipe Zerbino). .188, 4.10. 431
Teatro popular, barroco. 353-367 Tiliiey, Lidmmid. 317
TEATRO PRIMITIVO, O. 1-6 Timocles. 124
Tealro nisso. 378,403.436,440,462-466.494-499; Tirol. 248. 252
teatro políijco, 499-504; Reinhardt. c, 513 T jr s o de M o tin a , 148. .170: / : / (iu r la J n r S cxtila (O
Teatro suéco, 403 B u rla d o rd e S e v ilh a ). 3 7 0 ; D o ii G il ile la s r a b o s
Teatro tcheco. 403 K-rntcs (D o m G il tios C a lções V e rd e s ). 3 7 0 ; Lope
televisão, 526-527; filme, 526 de Vega, e, 369. 370
Téllez, Gabriel. Veja Tirso de Molina T iro , 155
Temócrilo. 114 T o fíu n in , 0 . , 278
Teitji, 78 T õ ju rõ . Veja S a taia . Ir./u /t
Teócrito, 137. 281 T o lfe r, Ernst: IS j. ■■ :■ S I-,:: tO b a ! E stam os V i-
Teodora, 177 v o s !). 501; D íe W im dhm g t A T ra n s fig u ra ç ã o ),
Tcodorico. o Giaodc. 161 476

S76
T«lsiói. Alexoi Kon&tantjjun jch. C e a r F i o d o r Vcrdi. Gmseppe; A i t h , 445
fv itn m ic h . 4(>2, 463 Vèrokmo, Suipício. 270. 271. 284
Tolslni. Leon, 441. 45I.453, 462 Verona, Bartokmien, 423
Torelli. Giocoino. 335, 345 Vespasj;mo, 155. J57. 163
Torres Naharrn: Tm elarin. 273. 280 Vespucei, Simonciia, 281
Toscnniiu. Arturo. 494 Vicenic, Gil: Amo da Fama, 283
Toulouse-Lnutrec, 499 Vidal, Paul Antonin, 453
Tragédia humanista. 272-276 Vignali. Antonio, 27ó
tragédia, 344-353. 374,470: antes de Esquilo. 105. Vignola, Giacomoda. 1 5 1 , 2 9 1 ; l e d u e regale d e lia
107; descrido de, 110; etimologia de, 103, Gre­ p r o sp e ta v a pratica., 287
ga, 104-118 VilorTJean. 469. 480, 533
ira g ^ d ie clftxsiíHK* (tragédia clá ssica i. 3 4 4 -3 5 3 , 374 Virgílio, 151,240. 280
T ra jíin o . 154, 155 Visconti, Galeazzo, 293
Tree, Hertieri Bterbohm, 442, 459. 538 Visconii, l.uciiíno: Ossessionc (Obsessão). 533; La
Trdimgei; O.. 182 terra trema (A Tetra Treme), 533
Trcplcv, Konsumiin. 466 Visschcr, Cornelis, 318
T re tia k o v , S e rg e i,4 6 2 , Berro, C h in a . 4 9 5 ; T erra R< - Yitalis, Ordericus. 247
yfiha. 4 9 5 V iira c , R o ger: Victor. o u L e s E n fa n ts an p o u v o ir
T re u , M ic lrn e l D a n ie l, 377 (V ic io r. o u A s C ria n ç a s no P o der), 469
T ris s in o , G io v n n n i: A rte P tjética. 2 7 3 ; 5V>fb n is b a . V ilru v iu s P o llio . M u rc u s ( V iin iv io ) , 114, 150, 2 7 2 ,
273 . 274 284, 287 , 3 2 4 ; D e A r c h ittc ttir a , 270. 284
T ro ia n o . M a s s in io . 357 V o g e lw e id c , W a lilie r v o n der, 242
T r ó ls k i, 5 0 0 VolIm OUer, K a rl; M ila g r e , 4 8 8 ,4 9 2
T s u h o u e h i. S h u y o ; K iri flita H a, 102 V o lla ir e . 3 4 4 , 3 4 6 . 3 9 2 . 4 2 7 ; B r u lu s , 386 . 3 9 5 ;
T u rg u ê n itív . A lc k s a n d r Iv a n o v jc h , 453 C ú to iid c , 5 1 7 : C a la r in a I I . e, 4 0 3 ; d C n f a n t
T ú r p io . L d c io A m b iv itis . 150 p n td ig u e íO P ilh o P ró d ig o ), 3 8 6 : G o e lh c .c . 388-
T u rq u ia . 2 3 -2 8 . 334. 335 4 18; Irè n c, 3 8 8 : 1je s s in g . e, 4 0 8 .4 1 1 ; ftta tu n n e t.
T u lilo . 189; / /r v /íV C anh m d u s. 233 388. 4 1 8 ; L O r p h e l in d e tu C h u te iO Ó r là o da
T y le r. R o y s ill; T he C ouintJit íO C o n tra s te ). 5 1 4 , C ilin u k 63, 3 8 6 : L a P r im a s s e d e N a varre l A
515 Princesa de N u v a rru ). 388 ; Tancrède. 418
V o n d e l. J oost \a n d e u . 3 7 6 -3 7 7 ; G y sh ree h f \w \
A e m stel, 376 , 4 0 0
U e u m ra , B u n n ik u k e n , 90 Vossler. K a rl. 186. 346 , 3 6 8
U lilic h . 4 0 7
L U m ili. E;r ilz v o u : fuin G c s r h h c h t ( U m a G e ra ç à o i.
475 W a c k c n rix le r. W ilh e tn v 429
U p io n . R o b tfii. 514 W agne r, R ic h a rd , 4 4 5 . 4 5 7 . 4 7 0 . 4 8 1: A n e l
dos
D i b a n o [V , 208 Nibehutgos, 0 , 470; Mdsterxiugcr. 308; Puni’
U t r iilo , M a u r ic c , 4 8 1 fa l, 4 4 5 ,4 7 0 . D u \ R h e in g a td (O O u ro do R e no).
U lz o n , J o rn , 5 2 2 . 523 4 7 0 ; Tunnhiiuser. 4 4 1 ; Trisído e i. solda. 470
W agner, W ie la n d . 4 2 7 . 4 7 U
W a k lie v iic h . 155
V a k h líin g o v . J : \ g t u>cni, 46(>. 4 9 4 ,4 9 5 ,4 9 6 . 5 1 1, 5 13 W alhrun, 195
V n k r iim , V e it, 3 3 0 W íiltk n , H e rw a n h , 4 7 6
V a lé ry. Paul A m h ro is e * 466 Walscr, Martin. P i e Zimmerscltiacltí (A Raiallia tle
V a lle , P ie iro d e lia : 28 AImoradas I. 527
V a ran gos. 182 Wall cr. Bruno, 494
V a rda c. N ic h o la s , 523 Waltei lin, Oskur, 470. 533, 534
V o M iri, G io rg io . 284 Wang Shih-lu: Romance d<i Câmara Ocidental. 63
Vai k ano. 195. 261. 269. 2 7 1 Wjing, Jen&, 454
Vedas. os q u a im , 3 3 ,3 8 Wasliingloii- G e o ru e , 514
V é d ic o : r e lig iã o , 29 . 32, liis ló ria s . 39. 41 Waiiean, Jean Anioine, 358
V e lie n , Joha ntics: "Chur-Sà< 'hsisi fu ' K o a u h tia m e u " , 29, 44-51; le a lro de hunecos medieval, e.
377 247
V e n d ô m c. D u q u e de, 330. 334 W ebcr. C a ri M a r ia v o n , 42S . 4 .(3 ; Fn-i.wlmiz tO
V c ru rd i. C a rio ; Ih x to r ia lia c h , tí. 272 r ra n o o A iir a d n r ) . 4 3 3
Hixtoria da Truiru

Wcdekind. Frank. 48"? Wilbur, Richard. 517


W egcner. RauL 4 8 7 , 488 Wildc. Oscar O Lt\fue de Ltufy Windcrmere. 73
Wei Liang-fu, 66; Quatro Sonhos da Sola Yu-Míhr. Wilder, Tbomton: Hrcchl, e. 42. 511, 513; 7Irr Skiti
66 of our Teeth (Por um uiz). 266* 511; Tagorc.\ e,
Weichert, Ridianl 476 42; toairo asiático, e. 54: Our Toun (Nossa Ci­
Weigel, Hdene, 507 dade), 5 II
Weill, Kun, 507; S treet Sccnc (Cena de Rua), 517 Wddeshausen, Heinrich der Bogcner, 196
Weise, Christian: B à u rr is c h e r M a c c ltid e e litts , ,170 Wildgans* Anion: Dics irae. 475
Weiss, Peter: D it* E rm iU lttn g (A Invesiigaçao), 504. Wílhelni, Leopold, 376
530; D ie V e rfo tg m g tm d E rm o rd tu tg Jefln P a ul Williams, Tenne ssee, 63,460; The Glass Meiuigerie
M u ra is * d u rg e s te ill dureh d ie S çh iutsp ielgruppc (À Margem da Vida), 519; A Stretcar Nmned
des H o spizes zu C h are pto n u n ie r A n le itu n g des Delire (Um Bonde Chamado Desejo), 519, 524,
H e m i de Sade (A Perseguição e o Assassinato 533
de Jean PíuiI Maior Representada pelo Grupo de Williams, William Carlos; Muity Loves (Muitos
Atores do Hospício de Charenton sob a Direção Amores). 520
do Marques de Sade), 511,526; V ie tiia m R e p o n Wilhch. Jodocus, 300; Liber de prononciutioite
(Relatório do Vietnà). 504 rhctoriea, 304
Wckwenh, 526 Wilpert, G. von. 440
Welk, Elinr Gewitíei iiber GotlunJ (Temporal so­ Wimpheling. Jakob; Stylpho, 300
bre GoiLmdv 500 Winckelmann, lohann Joachim* 416
Welles, Orson, 496 Wisocka. S.t 466
Werner Zacharias: Der vierundzutmziç.ue Febtuur Witkiewic2, S. I.; Der Schnotk (O Armário), 533
(O 24 de Fevereiro), 431 Wilf, Jan de. 318
Wesker. Amold: C/tieketi Soup with íiu H e y (Canja Wolfe. Thomas. 520
com Cevada), 460: 7fie Kitcheti (A Co/inha), 460 WoJÍT, Thcodor* 459
WcÊschel, 357 Wóltllin, Hemrich. 323
Weyden, Rogcr van der, 240 Woher, ClwlutteT446
Whtre, Thonias. 317 Wordsworih, William. 429
Whitman, Wall, 516; no teatro de Nova York* 515 Wouk, Hermaci; Tfte Cíiine Mutiny Comi Martiaf
Wickhant. Glvrme, 2 1L 231 (O Motim do Crime), 504
Wickrant, Jotg: Tobias. 303 WrenTCliristophor. 388
Wiclif, John, 265 Wu-li* 55, 58
Widand, Cluistop Martin, 412; Lady J o h a w a G rttw Wúllner, Ludwig. 449
388
Wicne, Roheri: D a s Kttbinett des D r, C a tig a ri ((>
Gabinete dn Di, Caligaiik 483, 524 Zwtmi, 38, 81-83. 87

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