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BANANA: FONTE DE ENERGIA

Cristiane V. Tagliari Corrêa1, Vera M.C.S. Santos2, Tatiane Silva3, Zâmbia O.


Santos4, Tamara F. Araujo5.
1
Prof a Orientadora: Doutora em Engenharia Química CASCGO/UFSC. 2 Prof a Co-
orientadora: Engenheira Agrônoma Mestre CASCGO/UFSC. 3 a 5 Alunas do Curso
Técnico em Agropecuária Concomitante CASCGO/UFSC.

RESUMO

Atualmente existe uma crescente tendência em agregar valor ou utilizar os resíduos


agrícolas de forma eficiente. A bioconversão tem se demonstrado uma boa alternativa
para o aproveitamento integral e rentável dos resíduos de processos agroindustriais,
contribuindo assim com a preservação do meio ambiente. O objetivo deste trabalho foi
estudar a viabilidade da produção de bioálcool a partir da fermentação dos açúcares
presentes nos resíduos da banana. Foram utilizados cascas, pseudocaule e folhas de
bananeira, na proporção de 2:1:1 respectivamente. O processo fermentativo foi
monitorado por 15 dias e amostras foram retiradas para análise de açúcares redutores e
pH. Encerrada a fermentação passou-se para as etapas de separação como filtração e
destilação. Após este estudo preliminar concluiu-se que estes resíduos são adequados
para a produção do bioálcool e que investigações para a otimização dos parâmetros
fermentativos são necessárias para uma produção em maior escala.

Palavras-chave: fermentação, bioálcool, banana.

1. INTRODUÇÃO

Em uma era onde o homem está acabando com as fontes naturais, cada vez mais
se busca formas de gerar energias “limpas”. É o caso das renováveis, as quais procuram
um meio que produza menores impactos com os mesmos rendimentos, ou até melhores.
A queima dos biocombustíveis também liberara CO2 na atmosfera, no entanto, alguns
deles como o álcool, seqüestram o carbono liberado através da fotossíntese das plantas
(no seu crescimento, desenvolvimento, etc.), utilizadas na sua produção. Assim diz-se
que determinados biocombustíveis mantém um balanço energético neutro (eq.1 e 2).

C2H6O (l) + 3O2 (g) → 2CO2 (g) + 3H2O (l) ∆H= -1367 KJ/mol (1)

6CO2 (g) + 6H2O (l) → C6H12O6 (l) + 6O2 (g) (2)

Com o crescente preço dos combustíveis e o possível impacto causado pelas


monoculturas, como no caso do etanol da cana-de-açúcar, surge a necessidade do
desenvolvimento de vias alternativas para a produção de biocombustíves.
O Brasil é o principal consumidor de banana do mundo e ocupa o terceiro lugar
na produção mundial (com 5,5 milhões de toneladas), somente atrás do Equador e da
Índia. Em Santa Catarina, cerca de 5.000 famílias de agricultores tem no cultivo da
bananeira a sua principal fonte de renda. O estado é o 3º produtor nacional de banana,
consome em torno de 28% da produção local, sendo importante exportador para outros
estados e países, tem uma produtividade anual em torno de 596.700 toneladas
(SAMPAIO, 2008).
Em geral, as culturas agrícolas produzem uma quantidade de sobras muito maior
do que a parte utilizada para fins alimentícios ou industriais. Dentre os possíveis usos
desses resíduos (cascas, folhas e palhas), destacam-se a sua transformação por meio de
bioconversão em matéria orgânica para o solo e de alimentos para os ruminantes, como
o feno ou o ensilado, ou mesmo a sua utilização como substrato para a produção de
biomassa protéica de fungos e de leveduras (TAGLIARI et al., 2003). A quantidade de
resíduos gerados a partir da cultura da banana é abundante, para cada tonelada de fruto
são geradas dez toneladas de resíduos (SOUZA, 2008).
As cascas das frutas apresentam diversos nutrientes como vitaminas, fibras,
gorduras benéficas e substâncias antioxidantes. O detalhe é que, muitas vezes, as cascas
fornecem uma composição maior de alguns elementos essenciais, como é o caso da
banana, cuja casca tem até três vezes mais vitamina C que a polpa. Dentre os rejeitos do
cultivo e processamento da banana, a casca é que apresenta maior teor de açúcares
disponíveis, porém a folha e o pseudocaule apresentam celulose e hemicelulose que
também podem ser convertidas durante o processo fermentativo.
Desta forma, neste trabalho buscou-se reaproveitar os resíduos da banana para
produzir biocombustível através da conversão do açúcar em álcool por via fermentativa
(eq. 3).
C6H12O6 → 2CO2 + 2C2H6O (3)
Trata-se de uma alternativa interessante aos produtores de banana, devido ao
aproveitamento dos “restos” e ao meio ambiente, pois não gera os mesmo impactos que
seriam produzidos pela intensidade dos monocultivos.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Substrato: Para alcançar os objetivos propostos neste trabalho, foram utilizados os


resíduos de banana das unidades didáticas Culturas Anuais e Indústria Rural do Colégio
Agrícola Senador Carlos Gomes de Oliveira.
Microorganismo: O E.M. (efficient microorganisms ou microorganismos eficientes)
consiste em uma mistura de diversos microorganismos, patenteada pela fundação
Mokiti Okada MOA localizada em São Paulo. Insumo amplamente difundido na
agricultura natural, principalmente para aceleração da decomposição de resíduos
orgânicos animais e vegetais, visando à utilização destes como adubo orgânico de
diversas culturas.
Inóculo: Inicialmente foi realizada a ativação (multiplicação) dos microorganismos
existentes no E.M, utilizando os resíduos como meio de cultura, proporcionando assim,
uma seleção natural em função do substrato utilizado.
Fermentação: 100ml de inóculo foi adicionado ao meio de cultivo preparado com
1000ml de água, 100g de açúcar e 400g resíduos de banana na seguinte proporção:

Resíduos: Quantidade (%)


Casca 50
Pseudocaule 25
Folha 25

Os experimentos foram realizados em triplicata com três condições diferentes:


Amostra 1: Cozida em panela de pressão por 20min.
Amostra 2: Sem cozimento
Amostra 3: Tambor no qual foi utilizado 320ml de inóculo, 8L de água, 800g de açúcar,
1600g de resíduos na proporção conforme apresentado na tabela acima.
Para proporcionar condições adequadas ao desenvolvimento dos microorganismos,
o meio de cultivo inoculado foi colocado em estufa a 37ºC e com pH em torno de 6,5.
Análises: Foram monitorados o pH e os açúcares redutores durante os 15 dias de
fermentação. A produção de álcool foi quantificada utilizando um alcoômetro após o
processo de destilação simples.
A avaliação dos açúcares redutores foi realizada seguindo o método do DNS (ácido
3,5-dinitrossalicílico (MILLER, 1959). 0,5 ml da amostra devidamente diluída foi
adicionada a 1ml do reagente DNS, que reagiu por 5 min em água em ebulição. A
interrupção da reação foi feita por resfriamento dos tubos de ensaio com banho de gelo,
e a absorbância lida a 540 nm em espectrofotômetro.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise cinética é um procedimento que descreve o desenvolvimento de um


determinado processo e neste trabalho foi utilizada para avaliar a conversão de
carboidratos complexos em açúcares simples e a posterior transformação em álcool.
A figura 1 apresenta os resultados do monitoramento dos três processos
fermentativos realizados neste trabalho. Pode-se observar que o pH permaneceu
constante na faixa da neutralidade em todas as amostras durante a fermentação,
indicando a ausência de ácidos no experimento. Este fato demonstra que a conversão
não ocorreu por via láctica nem acética.
redutores (mg/ml)

160 7
140 6
120 5
100
4

pH
80
3
60
2
Açúcares

40
20 1
0 0
1 3 5 7 9 10 14
Tempo (dias)

Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 pH

Figura 1: Gráfico do monitoramento de açúcares redutores e pH

A amostra 1 apresentou um menor teor de açúcares no início do processo


provavelmente devido a um intenso consumo do substrato e produção de biomassa nas
primeiras 24 horas. Entre o 7º e o 10º dia foi verificado uma intensa produção de
açúcares redutores devido à presença de microrganismos capazes de degradar celulose e
hemicelulose no inóculo. A possível produção de álcool ocorreu a partir do 10° dia.
Na amostra 2 o consumo de substrato e a quebra dos açúcares complexos
ocorreu de forma mais moderada, porém, a queda dos açúcares após o 10° dia se
equipara a da amostra 1.
Na fermentação do tambor (amostra 3) ocorreu a maior conversão de açúcares
complexos em redutores e a maior consumo de substrato portanto este foi o ensaio
escolhido para prosseguir para e etapa de destilação. Após a primeira destilação, o teor
de álcool encontrado foi de aproximadamente 4ºGL. Esse teor ainda é muito baixo se
comparado a processos comerciais, porém os parâmetros ainda precisam ser
otimizados.

4. CONCLUSÃO

Em relação ao pouco tempo de pesquisa os resultados foram satisfatórios. A


produção de bioálcool a partir de resíduos da banana é um assunto que foi pouco
estudado e pode originar várias linhas de pesquisa, fato este, que dificultou o
embasamento teórico do projeto.
Baseado no fato do pH ter se mantido constante e a baixa produção de álcool,
conclui-se que o açúcar consumido foi convertido em biomassa. Fato este que sugere a
utilização de outros microorganismos, talvez uma levedura do gênero Sacharomyces,
para dar continuidade ao trabalho e garantir uma maior produção de álcool.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

An Jaraguá. Região busca opções naturais de energia: Secretaria e vereador de


Jaraguá defendem projetos para aproveitamento de resíduos da banana e dejetos. 18
mar. 2007.

BORZANI, W.; AQUARONE, E.; LIMA, E. A. Tópicos de Microbiologia Industrial.


São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda – USP, 1975.

MILLER, G. L. Use of Dinitrosalicylic Acid Reagent for Determination of Reducing


Sugar. Analytical Chemistry v.31, p.426-428, 1959.

MOURA, Johnson Pontes De; SELVAM, P.v. Pannir. Geração de energia com
inovação tecnológica. Santa Catarina: Abril, 2007.

SALGADO, Gerbeli. Seleção de fungos para hidrólise de bagaço de cana-de-açúcar.


Piracicaba: Ática, 2006.

SAMPAIO, Marcia C.. Exposição conta a história da banana em SC. Disponível em:
<http://www.abanorte.com.br/noticias/exposicao-conta-a-historia-da-banana-em-
sc/?searchterm=bananicultores>. Acesso em: 09 jul. 2008.

TAGLIARI, C.V. Desenvolvimento de um bioprocesso para produção de cafeína e


teofilina demetilase por Rhizopus delemar em fermentação no estado sólido usando
casca de café como substrato. UNICAMP, Campinas, 2003. Tese (Doutorado).
ANEXO 1: ETAPAS DO PROCESSO

Fig. 1: Etapa de filtração durante o Fig. 2: Substrato obtido a partir dos


preparo do inóculo resíduos

Fig. 3: Triplicata do experimento com Fig. 4: Incubação dos frascos à 37oC


substrato não cozido

Fig. 5: Análise de açúcares redutores


Fig. 6: Destilação do álcool produzido
no tambor

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