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8.2.

Muro de arrimo misto

Calcular os pilares, a viga intermediária e a viga baldrame do muro de arrimo misto


indicado na figura 40. Dados:

· Peso específico aparente do solo: γ s = 18 kN/m3 ;


· Angulo de atrito natural do solo: j = 30°;
· Tensão admissível do solo: σs,adm = 1,5 kgf/cm 2 (150 kN/m2 ) ;
· Peso específico do tijolo: γ tijolo = 18 kN/m3
· Concreto: f ck = 20 MPa ;
· Aço: CA-50;
· Cobrimento das armaduras: 3cm.

No caso dos muros de arrimo mistos (concreto armado e alvenaria), são feitas as
seguintes considerações no cálculo dos elementos:

· Os pilares são calculados como vigas em “balanço”, ou seja, engastados na base (no
baldrame) e livres no topo; dessa maneira, os pilares transferem momento torçor para a
viga baldrame;
· As vigas intermediárias são calculadas para um carregamento lateral relativo ao empuxo
de terra;
· As vigas baldrames são calculadas para um carregamento vertical relativo ao peso da
alvenaria e para a torção transferida pelos pilares.

OBSERVAÇÃO: Neste exemplo não foram feitas as verificações de estabilidade, admitindo


que estejam satisfeitas. Essas verificações devem ser feitas de modo análogo ao exemplo
anterior.

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Figura 40 – Muro de arrimo misto

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a) Pilar (calculado como viga em balanço)

h = 2,0m

Ea

h/3
Figura 41 – Modelo de cálculo dos pilares

O empuxo ativo fica:


1 1 1
Ea = × K a × γs × h 2 Þ Ea = × ×18 × 2,02 = 12,0 kN/m
2 2 3

O momento na base do pilar fica (a distância entre pilares é 2m):


h 2
M Base = Ea × × 2m Þ M Base = 12 × × 2 = 16,0 kN × m
3 3

A armadura longitudinal (de tração) fica:


Md 1,4 ×16,0
KMD = = = 0,175
b w ×d × fcd 0,25 × 0,192 × 20000
2

1,4
ì KX = 0,2913
ï KZ = 0,8835
ï
KMD = 0,175 Þ Tabela Þ í
ïεc = 3,5 00
0

ïîεs = 8,5154 0 00
Md 1,4 ×16,0
As = = = 3,07 cm 2
KZ × d × f yd 0,8835 × 0,19 ×
50
1,15

38
b) Viga intermediária (calculada para carregamento lateral)

h/2

h/4 h/4
VI P

1m
h/2

Figura 42 – Pressão no nível da viga intermediária

A pressão na viga intermediária fica:


2
æhö 1
P = K a × γs × ç ÷ Þ P = ×18 ×1,02 = 6,0 kN/m2
è2ø 3
O carregamento lateral na viga intermediária fica (a distancia entre vigas é 1m):
Rviga = P ×1,0 = 6,0 kN/m

22

Rviga = 6 kN/m

22

Figura 43 – Carregamento lateral na viga intermediária

6 kN/m

2m 2m 2m 2m

Figura 44 – Esquema estático da viga intermediária (carregamento na lateral da viga)

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A favor da segurança, recomenda-se que os momentos sejam calculados considerando
uma série de trechos biapoiados. Assim, tanto o momento positivo como o negativo ficam:
p × l 2 6,0 × 2,02
M viga = = = 3,0 kN × m
8 8

A armadura longitudinal (de tração) fica:


Md 1,4 × 3,0
KMD = = = 0,037
b w ×d × fcd 0,22 × 0,192 × 20000
2

1,4
ì KX = 0,0603
ï KZ = 0,9759
ï
KMD = 0,04 Þ Tabela Þ í
ïεc = 0,6414 00
0

ïîεs = 10 0 00
Md 1,4 × 3,0
As = = = 0,52 cm 2
KZ × d × f yd 0,9759 × 0,19 × 50
1,15

A armadura mínima é dada por:


As min = 0,15% × bw × h = 0,15% × 22 × 22 = 0,73 cm 2

Assim, deve-se usar a armadura mínima.

c) Viga baldrame (calculada para carregamento vertical e torção):

c.1) Esforços solicitantes

– Carregamento vertical na viga: peso próprio + peso parede


Peso próprio = 0,30 × 0,40 × 25 = 3,0 kN/m ;
Peso parede = 0,22 ×1,00 ×18 = 4,0 kN/m .

Total = 3,0 + 4,0 kN/m = 7,0 kN/m

7 kN/m

2m 2m 2m 2m

Figura 45 – Carregamento vertical na viga baldrame

40
– Diagramas de esforços solicitantes

Figura 46 – Diagrama de força cortante (valores em kN)

Figura 47 – Diagrama de momento fletor (valores em kN∙m)

8.0 8.0 8.0 8.0

8.0 8.0 8.0 8.0

Figura 48 – Diagrama de momento fletor (valores em kN∙m)

c.2) Armadura de flexão (momento fletor isoladamente)


A armadura de flexão, calculada para o maior momento fletor na viga (no caso o
momento negativo – vide diagrama), fica:
Md 1,4 × 3,0
KMD = = = 0,0072
b w ×d × fcd 0,30 × 0,37 2 × 20000
2

1,4
ì KX = 0,0148
ï KZ = 0,9941
ï
KMD = 0,01 Þ Tabela Þ í
ïεc = 0,1502 00
0

ïîεs = 10 0 00
Md 1,4 × 3,0
As = = = 0,27 cm 2
KZ × d × f yd 0,9941× 0,37 ×
50
1,15

41
A armadura mínima é dada por:
As min = 0,15% × bw × h = 0,15% × 30 × 40 = 1,80 cm 2

Assim, deve-se usar a armadura mínima.

c.3) Armadura de cisalhamento (força cortante isoladamente)


– Verificação da compressão diagonal do concreto (verificação das bielas):
VSd = 1,4 ×VSk = 1,4 × 8,5 = 11,9kN
æ 20 ö 2
VRd 2 = 0,27 × αv 2 × f cd × bw × d = 0,27 × ç1 - ÷ × × 30 × 37 = 393,9kN
è 250 ø 1,4
onde:
æ f ö
αv 2 = ç1 - ck ÷ , com f ck em MPa.
è 250 ø
VRd 2 ³ VSd Þ OK!

A armadura de cisalhamento (estribos verticais) é dada por:


æA ö
VSd = ç sw ÷ × 0,9 × d × f ywd
è s ø
Adotando f = 6,3mm, o espaçamento entre estribos fica:
æ 2 × 0,32 ö 50
1,4 × 8,5 = ç ÷ × 0,9 × 37 × Þ s = 78cm
è s ø 1,15
No caso de vigas, deve existir sempre uma armadura transversal mínima constituída
por estribos colocados em toda a sua extensão e com a seguinte taxa geométrica:
A f
ρsw = sw ³ 0,2 × ctm
bw × s f ywk
onde:
f ctm = 0,3 × 3 f ck2 (com f ck em MPa), é a resistência média à tração do concreto.
Adotando f = 6,3mm, o espaçamento máximo entre estribos fica:
2 × 0,32 0,3 × 3 202
³ 0,2 × Þ s máx = 24cm
30 × s 500
Por metro de comprimento da viga, essa armadura fica:
100
Asw / m = × (2 × 0,32) = 2,67cm 2 /m
24

c.4) Armadura de torção (momento torçor isoladamente)


– Determinação da seção vazada equivalente:
A 30 × 40
he £ = = 8,57 cm
μ 2(30 + 40)
he ³ 2 × C1 = 2( 3,0 + 0,63 + 0,5 ) = 8,26 cm
Portanto, adota-se he = 8,5cm.

42
– Cálculo da área efetiva:
Ae = (30 - 8,5)(40 - 8,5) = 677,25 cm 2

– Verificação da compressão diagonal do concreto (verificação das bielas):


TSd = 1,4 × TSk = 1,4 × 800 = 1120 kN × cm
æ 20 ö 2,0
TRd,2 = 0,50.αv 2 .f cd .Ae .he .sen2θ = 0,50 × ç1 - ÷× × 677 ,25 × 8,5 × sen(2 × 45)
è 250 ø 1,4
TRd,2 = 3782,93 kN × cm ³ TSd Þ OK!

– Cálculo das armaduras de torção:

1 – Estribos transversais
A90
TRd,3 = .f ywd .2 Ae .cot gθ ³ TSd
s
A90 1120 ×100
³ = 1,90cm 2 /m
s 50
× 2 × 677 ,25 ×1
1,15

2 – Armadura longitudinal
Asl
TRd,4 = .f ywd .2 Ae .tgθ ³ TSd
u
1120 × 2 × (21,5 + 31,5)
Asl ³ = 2,02cm 2
50
× 2 × 677 ,25 ×1
1,15

– Verificação da Torção e Cisalhamento :


VSd T
+ Sd £ 1
VRd 2 TRd 2
11,90 1120
+ = 0,33 < 1 Þ OK!
393,9 3782,93

c.5) Detalhamento das armaduras


As seguintes armaduras devem, ser utilizadas no detalhamento da seção:

Armadura longitudinal de flexão = 1,80cm².


Armadura de cisalhamento = 2,67 + 1,90 = 4,57cm²/m.
Armadura longitudinal de torção = 2,02cm² (distribuída em todo o contorno da seção).

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Figura 49 – Detalhe da armação das vigas do muro de arrimo misto

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Figura 50 – Detalhe da armação dos pilares do muro de arrimo misto

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2003. Projeto de


Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120:1980. Cargas para o


Cálculo de Estruturas de Edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1980.

GUERRIN, A. Tratado de Concreto Armado. São Paulo: Hemus, 2003.

MOLITERNO, A. Caderno de Muros de Arrimo. 2ed. São Paulo: Editora BLUCHER, 1994.

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