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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIENCIAS SOCIAIS

FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL

PROJETO DE PESQUISA MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

SOLANGE MOTTA DE LIMA

OS CONDICIONANTES SOCIAIS QUE INFLUÊNCIAM A DEPENDÊNCIA QUÍMICA


DOS PORTADORES DE ANEMIA FALCIFORME

Projeto de Pesquisa Apresentado à Universidade do


Estado do Rio de Janeiro Como Requisito de
seleção do curso de mestrado em Serviço Social

Agosto/2019
APRESENTAÇÃO

O presente projeto de pesquisa está vinculado à parte do processo de


seleção para o curso de mestrado em Serviço Social da Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (UERJ), especificamente na linha de Pesquisa Questão Social,
Políticas Públicas e Serviço Social e visa analisar como as expressões da questão
social influenciam na Dependência Química dos usuários em tratamento de anemia
Falciforme no Instituto de Hematologia Arthur Siqueira localizado no Rio de Janeiro
(Hemorio).

Este projeto surge a partir de minha inserção e observação enquanto


empregada publica da Fundação Saúde do Rio de Janeiro, lotada no Instituto de
Hematologia Arthur Siqueira (Hemorio) no cargo de Assistente Social, ao longo de
uma trajetória profissional de cerca de cinco anos (2014 até a presente data). Neste
espaço, mais especificamente na enfermaria de atendimento de emergência do
hospital, as constantes internações, em períodos reduzidos, de usuários portadores
de anemia falciforme chamam a atenção. Observa-se aparentemente, que permeia a
este grupo questões como a dependência química e as condições sociais em que
estão inseridos como fatores estes que influenciam no processo saúde-doença.

O espaço de atuação profissional se caracteriza por um Instituto de


atendimento especializado em doenças hematológicas no Rio de Janeiro. Foi
inaugurado em 1944, no bairro da Lapa, no antigo Distrito Federal, sua origem
ocorre com surgimento do primeiro Banco de Sangue Público do país, este. Desde
sua inauguração apresentou características de Hemocentro, uma vez que distribuía
sangue para os hospitais de emergência do estado.

No governo Carlos Lacerda, foi projetada a construção de um novo prédio em


um terreno ao lado do hospital Souza Aguiar. As obras foram iniciadas em março de
1964. A expectativa era de criar na Cidade do Rio de Janeiro um estabelecimento
moderno com essa especialidade, constituindo um excelente centro de pesquisas e
de formação de técnicos possibilitando o incremento da coleta de sangue, a
estocagem e o preparo do plasma e derivados, para que pudesse atender a
demanda cada vez maior.  Em 29 de setembro de 1969, era inaugurado na Rua Frei
Caneca, a atual sede.

  Durante a década de 80, o Ministério da Saúde, dentro de uma Política


Nacional de Sangue e Hemoderivados, começou a organizar uma Rede Pública de
Hemoterapia. Nesse contexto, o Instituto Estadual de Hematologia foi reconhecido,
em 1986, como Hemocentro Coordenador do Estado do Rio de Janeiro, passando a
ser conhecido como HEMORIO.

Em 1990, foi-lhe atribuída, pelo governo do Estado do Rio de Janeiro


(Resolução da SES nº 587 de 13 de setembro de 1990), a incumbência de
coordenar tecnicamente a Rede Pública de Hemoterapia do Estado.

Abastecendo com sangue e derivados cerca de 200 unidades de saúde, O


HEMORIO recebe uma média de 350 doadores voluntários de sangue por dia. Além
disso, possui um serviço de Hematologia, com mais de 10 mil pacientes ativos, que
realizam tratamentos de doenças hematológicas. 

 A Unidade de Saúde é responsável pelo atendimento a usuários com


doenças Hematológicas. Doadores de sangue, hospitais e serviços da
HEMORREDE. Realiza consultas ambulatoriais, internações, atendimentos de
emergência para usuários já em acompanhamento, exames de laboratório. 1 O
hospital possui no momento gestão pela Fundação Saúde, vinculada a Secretaria
Estadual de Saúde do Rio.

Neste espaço profissional foi mentalizado este projeto de pesquisa,


direcionado aos portadores de Anemia falciforme que são dependentes de
sustâncias psicoativas licitas ou ilícitas em atendimento na Unidade de Saúde.

A anemia falciforme é caracterizada por possui incidência mais abrangente na


população negra, ela é Originária da África, por uma mutação genética que
espalhou-se pelo mundo com o deslocamento forçado da população negra
escravizada. É caracterizada por alterações no formato da hemoglobina, que
dificulta o fluxo de oxigênio no corpo e pode levar à morte. Com alta prevalência
1
http://www.hemorio.rj.gov.br/html/historico_novo/Historico_1944.htm
Acessado em 10/08/2019 as 22h
entre os negros*, que são 52% da população no Brasil, os estados da Bahia e do
Rio de Janeiro lideram o ranking de casos, com 1 paciente para cada 650 pessoas e
1 para cada 1,3 mil, respectivamente, segundo o Ministério da Saúde. O país tem
cerca de 40 mil casos da doença cadastrados.2

Somada a peculiaridade de maior proporção entre a parcela da população


afrodescendente, a dependência química na atualidade corresponde a um fenômeno
amplamente divulgado e discutido, uma vez que o uso abusivo de substâncias
psicoativas tornou-se um grave problema social e de saúde pública. Nesse sentido,
discutir sobre o uso de drogas, particularmente sobre a dependência química, traz à
tona questões relacionadas diretamente ao campo da saúde, o que implica na
necessidade de realizar uma reflexão sobre suas implicações e rebatimentos no
tratamento de saúde e como as condições sociais que perpassam a vida desses
usuários influenciam toda a problemática.

Permeia a realidade Social vivenciada por esses usuários, situações como


desemprego, falta de infraestrutura sanitária e habitacional, a desnutrição, a
dificuldade de acesso à educação e à saúde e mesmo os processos de segregação
étnica. Sendo assim, o consumo de drogas pode ser compreendido como "substituto
mirabolante da fome" (Bucher, op.cit., p.30)

A preocupação que nos faz escolher tal temática se soma ao fato de que na
atualidade se acirra o desmantelamento do SUS no país, bem como da Seguridade
Social (BOSCHETTI, 2009), que rebatem no cotidiano de atendimento a estes
usuários.

A sociedade de mercado pode desprezar e invalidar o ser humano, mas


nunca o seu dinheiro. Aquelas pessoas incapazes de responder aos atrativos do
mercado consumidor por lhes faltarem recursos são então considerados
"consumidores falhos", verdadeiramente, "objetos fora do lugar" (Bauman, 1998,
p.24).

https://www.geledes.org.br/para-especialistas-atendimento-doenca-falciforme-
2

esbarra-em-racismo/
Acessado em 17/08/2019 ás 11h
JUSTIFICATIVA

O Hemorio possibilita o acesso e atendimento de diversos segmentos


populacionais, bem como uma heterogeneidade de situações que são expressões
da questão social3 e que demandam intervenção do Serviço Social, inclusive
atendimento das implicações do uso abusivo de psicotrópicos e psicoativos.

O atendimento dos portadores de anemia falciforme ocorre tanto no âmbito


ambulatorial quanto em internações. A Doença Falciforme (DF) ocorre em pacientes
homozigotos (Hb SS) e indica a síndrome provocada por uma alteração peculiar na
molécula de hemoglobina, resultando na destruição precoce das hemácias que
ocorre devido a esta alteração estrutural. Algumas alterações genéticas como a
Hemoglobina C (Hb C), a Hemoglobina D (Hb D), a Beta-Talassemia (β-talassemia)
entre outros, podem combinar-se com o gene da Hb S e gerar outras variações,
também sintomáticas. O conjunto dessas formas sintomáticas é conhecido como
Doença Falciforme (Cavalcanti e Maio, 2011; Brasil, 2001).

Os glóbulos vermelhos perdem a forma arredondada e elástica e adquirem


aspecto de uma foice e endurecem, dificultando a passagem do sangue nos vasos e
a oxigenação dos tecidos. As células morrem prematuramente, causando falta de
glóbulos vermelhos saudáveis (anemia), obstruindo o fluxo e causando dor.

É uma das doenças hereditárias mais comuns no mundo, ela faz parte do
grupo de doenças e agravos relevantes que afetam a população afrodescendente,
motivo pelo qual foi incluída nas ações da Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da População Negra, do Ministério da Saúde, regulada no Sistema Único de
Saúde (SUS) pelo artigo 187, Incisos  I a VII e parágrafo único que define as
Diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença
Falciforme e o art. 188, da Portaria n° 2.048 de 3 de setembro de 2009 (Brasil, 2009;
Cançado; Aragão, 2007; Jesus, 2010; Marques et al., 2012)

A Questão Social não é senão “as expressões do processo de formação e


3

desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da


sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e
do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o
proletariado e a burguesia” (IAMAMOTO & CARVALHO, 2003: 77).
Devido às complicações da doença, muitas são as privações enfrentadas por
seus portadores, que vão desde a dor que as desestabiliza emocionalmente e
fisicamente, as alterações na vida cotidiana, geradas pelo uso de vários
medicamentos ao longo de seu tratamento. Com repetidas internações hospitalares,
procedimentos médicos diversos e perda de parte da sua capacidade física e laboral
(Pitaluga, 2007; Lobo et al, 2007; Felix et al, 2010). Estes fatores comprometem a
qualidade de vida e de renda dos usuários atendidos, com a perda de empregos,
evasão escolar, isolamento social entre outros fatores.

Um fator comum e relevante na doença é a manifestação de crises álgicas


que acarretam constantes idas à emergência e internações, sendo de grande
importância uma assistência multiprofissional, qualificada e capacitada para seu
cuidado (Carvalho, 2014; Soares et al, 2014). O uso é constante de medicamentos
para alivio das dores, podendo ocorre a ministrarão entre outras, de sustâncias
psicoativas licitas como os opióides: codeína, metadona, morfina entre outros e que
podem ocasionar dependência se usado indiscriminadamente.

Os opióides compõem um grupo de analgésicos que não têm dose teto,


apenas os efeitos adversos servem de guia para o estabelecimento da dose
necessária para cada paciente. Os efeitos colaterais dos opiódes são bem
conhecidos e incluem prurido, náuseas, vômitos, sedação, depressão respira tória e
crise de abstinência.4

Nesse sentido podemos analisar que substancias psicoativas são utilizadas


pela humanidade ao longo dos séculos para diversos fins, discutir a dependência
química exige uma reflexão sobre como a droga foi encarada ao longo da história,
tendo em vista as questões de saúde/doença e os paradigmas hegemônicos em
cada momento por mulheres e homens desde os primórdios da humanidade. O uso
de substâncias psicoativas é uma realidade antiga, que pode ser encontra em
registros arqueológicos toda a sua trajetória, desde os primórdios da antiguidade.

4
Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
84842007000300011

Acessado em 09/08/2019 ás 16h


Dessa forma, é possível perceber que as drogas, atualmente denominada de
psicoativos, sempre existiram. Pode-se entender por droga, toda e qualquer
substância natural ou sintética que produza efeito sobre o sistema nervoso central
(SNC), resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. (BRASIL, 2013,
p.7)

Algumas sustâncias encontradas na natureza ou sintetizadas em laboratórios,


atendem a diversos fins e diversas necessidades humana: alivio de dores, controle
de ansiedades, regulação de sono, e/ou apetite, estimulo a criatividade, aumento da
deposição mental, fins religiosos e ate mesmo interação social ou de interação .

Motivações que são socialmente determinadas e que


transformam o modo como os indivíduos sociais se
relacionam com os diferentes psicoativos (naturais ou
sintéticos), alterando seu significado e padrões de consumo.
Portanto, o uso de psicoativos pode: estar associado a
indicações cientificamente comprovadas, decorrer de
autoadministração; ser esporádico, ocasional, recreativo,
abusivo ou dependente. O uso de psicoativos (drogas) é,
portanto, uma prática social - profundamente alterada pela
lógica mercantil e alienante da sociedade capitalista madura.

(CFESS, 2017)

Atualmente, verifica-se o aumento do uso dessas substancias; neste sentido a


Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que parte considerável da carga
mundial de doenças e incapacidade pode ser atribuída ao seu consumo. 5

Destacamos a importância de apreender as diversas dimensões envolvidas


nesse fenômeno, condições de saúde, assistência social, acesso a habitação,
cultura lazer e etc.

Nesta pesquisa levar-se-á em conta a importância da investigação


permanente como condição para a construção de um fazer profissional critico e
5
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), num conceito amplo, pode-se considerar droga “qualquer
substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas,
produzindo alterações em seu funcionamento” (SENAD, 2011, p. 18). Entre as chamadas “drogas” existem
aquelas psicoativas ou psicotrópicas que têm como característica principal a ação sobre o funcionamento do
cérebro. Todavia, o termo “droga” hoje é usualmente empregado a um grupo mais restrito de substâncias
psicoativas que foram tornadas ilícitas (FIORE, 2012).
competente, sendo necessário para tal, o desvelamento dos processos sociais que
os indivíduos atendidos estão inseridos, a partir de situações concretas
(Vasconcelos. 203). Para concretização desta atividade reconhece-se a necessidade
da competência teórico-metodológica, o que nos permite uma leitura mais próxima
da realidade de nossos usuários quando então poderemos dar visibilidade às
situações singulares do coletivo, quanto ao conhecimento que possuem esses
sujeitos sociais com os quais o assistente social lida na sua vida profissional
cotidiana:

Realizaremos uma análise das relações de poder no espaço ocupacional e as


forças sociais existentes, que ora abrem a perspectiva de possibilidades de
construção de respostas eficazes junto à população atendida nesta Unidade de
Saúde a curto ou longo prazo e que ora parece impossibilitar soluções.
Na arena de disputa de interesses antagônicos, cujo projeto neoliberal vigente
não reconhece os direitos sociais e sim visa à concepção de dever moral para com
os necessitados, esta pesquisa é, sobretudo, a possibilidade da construção de
mediações que liguem a vida social dos usuários ao acesso á cidadania e aos
direitos sociais. Lembramos que com base no conceito neoliberal, o termo cidadania
tem sido substituído pela ajuda e filantropia, além da ênfase no cidadão consumidor
e não de direitos, com a despolitização da questão social e da sociedade de forma
mais ampla.

Não desligada dessa discussão macrossocietária é relevante pesquisar os


entraves e as possibilidades existentes nesse espaço profissional, buscando assim
apreender a as questões relacionadas à dependência química e sua implicações
interligadas as condições sociais dos usuários, como expressão da questão social.
Em meio às contradições da sociedade capitalista na atualidade, onde predomina
um distanciamento entre Estado e sociedade civil. Contradição que se revela nos
limites da efetivação da política pública de saúde no plano jurídico-legal (SUS/90)
/no campo institucional e a realidade concreta.
PROBLEMATIZAÇÃO

A anemia falciforme é genética e hereditária, o gene alterado provém do pai e


da mãe. Se passado por apenas um dos pais, o filho terá o traço falciforme, que
poderá passar para seus descendentes, mas a doença não se manifesta. Seus
sintomas se caracterizam por palidez, infecções, dores e fadiga. Os tratamentos
incluem medicamentos, transfusões de sangue e, em casos raros, transplante da
medula óssea. Na rotina do tratamento são utilizados ácido fólico, penicilina,
antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios, entre outros.

A administração de drogas licitas é uma constante na vida dos portadores da


doença na tentativa de reduzir o número de crises, estes ficam mais expostos a
males infecciosos, úlceras de difícil cicatrização, fadiga e icterícia.

O uso de diversos tipos de drogas no tratamento de doenças possui uma


relação histórica, com a humanidade, já que em todas as sociedade existem
registros do uso de alguma dessas substâncias, nesse sentido, o seu uso e seus
significados são produtos da práxis social historicamente construída: seja os usos
terapêuticos, rituais ou alimentares das sociedades tradicionais, seja os usos
hedonistas ou dependentes atualmente presentes na sociedade capitalista tardia
(Brites, 2006).

Nesse sentido drogas passam a ser objeto de preocupação da sociedade


somente no contexto da sociedade capitalista. Seja vinculada ao circuito da
produção, circulação e concorrência intercapitalista; seja associada ao consumo
“problemático” desta mercadoria e aos danos sociais produzidos em decorrência
deste uso e da relação estabelecida pela sociedade com esta prática. Assim, na
sociedade moderno-contemporânea a “questão das drogas” se materializa como
uma das expressões da questão social, aqui entendida como a “expressão politizada
das desigualdades sociais” produzidas pela sociabilidade capitalista (MOTA, 2009).
As abordagens sobre dependência química atualmente mais complexas,
tendem a ir além do saber medico - psíquico, o que favorece romper com a
hegemonia nesse campo de conhecimento, porem as analises abrangendo aspectos
psicológicos permanecem, onde a determinações são subjetivas e pautadas no
desejo e nas escolhas dos sujeitos. Recorrer a uma abordagem ontológica e
histórica para analisar a política sobre drogas no Brasil e as tendências dominates
que balizam a profissão de serviço social no enfrentamento a esta expressão da
questão social, perpassa pelo reconhecimento de que as escolhas, desejos e outras
mediações subjetivas do ser social são constructos sócio-históricos, objetivações
resultantes das relações sociais de produção na sociedade capitalista madura
(Brites, 2006).
O termo “drogas” foi se distanciando de seu significado original (folha seca em
holandês antigo, droog) e passou a ser usado como sinônimo de “algo que é em si”
ruim e nocivo, e para designar quase que exclusivamente os psicoativos ilícitos
( drogas ditas ilegais). A associação entre o termo droga e os psicoativos ilícitos
contribui para banalizar os danos sociais e de saúde associados ao uso de
psicoativos lícitos, como tabaco, álcool e medicamentos.
O uso, o abuso ou a dependência de psicoativos resultam de interações que
envolvem determinada substância, o indivíduo singular e condições sociais
particulares. É relevante aprender os aspectos que envolvem o tratamento de saúde
desigual entre os que utilizam psicoativos lícitos, que podem ser tratados como
sujeitos de direitos, ao passo em que, os que se utilizam de psicoativos ilícitos, é
relegada a condição cultural de maior condenação dentro do espaço institucional
como na vida em sociedade.
Na verdade, o “uso de drogas” é expressão do contexto atual da sociabilidade
capitalista, cuja materialidade se expressa na profunda desigualdade social,
articulada ao contexto de extrema massificação e alienação nesta sociedade (Brites,
2006), mediada por valores como consumismo, hedonismo e individualismo. Nesse
sentido se faz necessário entender dependência química e as respostas
historicamente construídas pelo Estado através de políticas públicas.
Embora tenha tratamento, a enfermidade é crônica, com difícil acesso a cura
e consideravelmente limitadora, trazendo aos usuários uma rotina assinalada por
situações que os tornam vulneráveis, ocasionando, frequentemente, perdas de
cunho social, físico e psicológico. Por consequência, diversos aspectos da vida dos
sujeitos e de seus familiares são alterados, já que estes são frequentemente
impedidos pela doença de executar suas tarefas e ocupações diárias, gerando alto
grau de sofrimento. Como resultado, a qualidade de vida desses pacientes é,
geralmente, seriamente prejudicada (Pitaluga, 2007).
No tempo presente, temos a relação homem droga inserida em um contexto
no qual as drogas são colocadas como uma mercadoria disponibilizada para
consumo no mercado e classificadas pela via de sua legalidade ou ilegalidade.
Como mercadoria, as drogas geram muitos lucros e muitos danos (individuais e
coletivos). Como mercadorias, circulam em mercados legais e ilegais (KOPP, 1998).

Considerando a conjuntura de domínio do capital financeirizado (da


mundialização do capital), portanto com hegemonia da classe burguesa, os projetos
societários que respondem aos interesses da referida classe (trabalhadora), sempre
dispõem de condições menos favoráveis para enfrentar os projetos da classe
proprietária e de interesses dominantes, o desmantelamento das politicas de saúde
ocasionando perdas de direitos a medicamento, atendimento de qualidade
É na direção assegurada pelo Projeto Ético-Politico, pela Constituição Federal
de 1988 e as Leis Orgânicas de Saúde (1990) já construídas, que os profissionais
podem buscar contribuir com o desenvolvimento da consciência politica e sanitária
dos usuários.

OBJETIVO GERAL

Identificar o impacto das expressões da questão social que impulsionam a


dependência química dos portadores e anemia falciforme do Hemorio.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Analisar a influência do contexto e da dinâmica social capitalista e a agudização das


expressões da Questão Social no uso abusivo de substancias psicoativas licitas e/ou
ilícitas

Identificar se as expressões da questão social contribuem no uso abusivo de drogas

Investigar o tratamento disponibilizado pelo SUS e seu impactos no processo saúde


doença dos usuários atendidos portadores de anemia falciforme e que colaboram na
dependência química.
HIPÓTESE

A atual conjuntura com predomínio da ideologia neoliberal revela o antagonismo


entre o Projeto Privatista e de Reforma Sanitária, fator que influencia as politicas de
saúde, implicando na criação de um campo fértil para dependência química de
substancia licita e/ou ilícitas

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O projeto será desenvolvido através de levantamento bibliográfico de leitura


específica sobre o assunto. Neste momento será possível conhecer e entender o
posicionamento e as questões teórico-conceituais que envolvem a dinâmica dessas
temáticas. Para a construção dos eixos de análise e para compreensão da
dependência química no contexto atual, será utilizada como ponto de partida três
eixos: fatores sociais, saúde e dependência química.

Acrescentamos como fontes de informações secundárias, a necessidade de


efetivarmos entrevista com usuários em tratamento de anemia falciforme na Unidade
Saúde pesquisada, onde a metodologia de investigação levantará dados
quantitativos e/ou qualitativos para melhor compreensão do conteúdo a ser
trabalhado. A coleta de informações ocorrerá através da aplicação de questionário
semiestruturado.
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