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Universidade Federal de Mato Grosso - Faculdade de Engenharia Florestal

Disciplina de Tecnologia Química de Produtos Florestais

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT


FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

COLETÂNEA DE AULAS TEÓRICAS

DISCIPLINA: TECNOLOGIA QUÍMICA DE PRODUTOS FLORESTAIS

DOCENTE:

Profa Zaíra Morais dos Santos Hurtado de Mendoza

CUIABÁ
OUTUBRO/2018

Professora Zaíra Morais dos Santos Hurtado de Mendoza


Universidade Federal de Mato Grosso - Faculdade de Engenharia Florestal
Disciplina de Tecnologia Química de Produtos Florestais

SUMÁRIO

Aula 1: A Química dos Carboidratos .................................................................. 3


Aula 2: Composição Química da Madeira .......................................................... 18
Aula 3: Celulose................................................................................................... 32
Aula 4: Polioses................................................................................................... 44
Aula 5: Lignina..................................................................................................... 57
Aula 6: Compostos secundários.......................................................................... 73
Aula 7: Pasta celulósica e papel ......................................................................... 87
Aula 8: Papel – Principais propriedades ............................................................. 110
Aula 9: Carvão Vegetal ........................................................................................ 123
Aula 10: A química da casca ............................................................................... 131
Aula 11: Látex – Borracha natural ....................................................................... 136
Aula 12: Resinas .................................................................................................. 143
Aula 13: Redução de carbono atmosférico .......................................................... 148

Professora Zaíra Morais dos Santos Hurtado de Mendoza


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1a PARTE

A QUÍMICA DOS CARBOIDRATOS

1- INTRODUÇÃO

1.1- Produtos Florestais

Engloba os produtos madeireiros e não madeireiros.

- Produtos madeireiros: Produtos originados do lenho das árvores (madeira).


Exemplos: Madeira, Celulose, Carvão Vegetal, etc.

- Produtos não madeireiros: Todos os produtos que saem da floresta, exceto


madeira. Exemplos: Resina, Borracha natural, Carbono, Casca, Flor, Fruto,
Semente, etc.

1.2- Localização

- Componentes químicos que geram produtos madeireiros: estão dentro da


parede celular.

- Componentes químicos que geram produtos não madeireiros: localizados fora


da parede celular.

2- ESTRUTURA LENHOSA

A estrutura lenhosa da árvore é definida pelo arranjo dos elementos


anatômicos da madeira.

Anatomicamente a madeira é um tecido xilemático extremamente


complexo.

O xilema é um tecido característico das plantas superiores: arbustos,


cipós e árvores.

A estrutura lenhosa é diferente para gimnospermas e angiospermas.

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O lenho é formado por compostos químicos que tiveram origem na


reação de fotossíntese.

A glucose é o monossacarídeo básico que forma a madeira.

Toda madeira é proveniente de tecido xilemático, mas nem todo tecido


xilemático produz madeira comercial.

- Madeira comercial: é aquela aproveitada para geração de produtos primários e


secundários, que atendam as necessidades humanas.

3- QUIMICAMENTE

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- Fase Clara:

Produção de ATP e NADPH.

- Fase Escura:

Conversão de CO2 em carboidrato.

Na fase clara ocorrem as


reações de transferência de
elétrons gerando energia
química.

Na fase escura ocorrem as


reações de fixação do carbono,
o ATP e o NADPH servem
como energia e força redutora
para a conversão de CO2 em
carboidrato (glucose).

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3.1- Fixação de CO2:

Dióxido de ribulose 1,5-bifosfato Intermediário duas moléculas de

carbono 3-fosfoglicerato

3.2- Qual o destino das trioses formadas?

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3.3- Fatores limitantes da fotossíntese:

- Intensidade luminosa;

- Concentração de CO2;

- Temperatura;

- Fatores internos: genética, posição das folhas, nutrição, entre outros.

3.4- Ponto de Compensação

O ponto em que a respiração e a fotossíntese se igualam em alguma


hora do dia.

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Ponto de compensação para as plantas:

- Heliófitas: muita luz solar, alto ponto de compensação;

- Umbrófitas: pouca luz solar, baixo ponto de compensação.

??EXISTE OUTRA FORMA DE SE PRODUZIR COMPOSTOS ORGÂNICOS


NA NATUREZA??

3.5- Quimiossíntese

É uma reação que produz energia química, convertida da energia de


ligação dos compostos inorgânicos oxidados.

A energia química liberada é empregada na produção de compostos


orgânicos e gás oxigênio (O2), a partir da reação entre o dióxido de carbono
(CO2) e água molecular (H2O).

Etapas:

Primeira: Composto inorgânico + O2  Compostos inorgânicos oxidados +


Energia Química

Segunda: CO2 + H2O + Energia Química  Compostos orgânicos + O2

Particularidades:

Esse processo autotrófico de síntese de compostos orgânicos ocorre na


ausência de energia solar.

É um recurso normalmente utilizado por algumas espécies de bactérias.


Elas recebem a denominação segundo os compostos inorgânicos que reagem.

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Podem ser: ferrobactérias e nitrobactérias ou nitrificantes


(nitrossomonas e nitrobacter).

- Ferrobactérias: oxidam substâncias à base de ferro para conseguirem energia


química.

- Nitrificantes: utilizam substâncias à base de nitrogênio.

4- CARBOIDRATOS

4.1- Generalidades

Os carboidratos (ou hidratos de carbono) são também chamados de


açúcares, estando presentes em bolos, pães, biscoitos. Participam ainda de
estruturas como a parede celular de células vegetais e de bactérias.

São, provavelmente, os compostos orgânicos mais abundantes nos


organismos vivos. Nos vegetais compõem 75% do seu peso seco.

Fórmula geral: CnH2nOn, daí o nome “carboidrato” ou “hidratos de


carbono”.

4.2- Funções

- Fonte de energia: geração de ATP (adenosina tri-fosfato);

- Reserva de energia: impedir que ocorra uma degradação das proteínas para
geração de energia;

- Estrutural: Animais – DNA e RNA.

Vegetais – Parede celular.

- Combustível para o sistema nervoso central: o tecido cerebral “se alimenta”


quase que exclusivamente de glicose.

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4.3- Classificação

- Monossacarídeos: um açúcar por molécula;

- Oligossacarídeo: obtido pela soma de dois até dez monossacarídeos e perda


de uma molécula de água;

- Polissacarídeos: obtido pela soma de vários (acima de dez) monossacarídeos


e perda de moléculas de água.

4.3.1- Monossacarídeos

São constituídos por cadeias de carbono hidroxiladas (C-OH) com a


presença de grupos carbonila (C=O). A posição do grupo carbonila na cadeia
permite distinguir duas famílias de monossacarídeos: Aldoses e Cetoses.

As aldoses possuem o grupo carbonila na extremidade da cadeia de


carbono (sendo então um grupo aldeído) e as cetoses possuem o grupo
carbonila num outro carbono, que não é na extremidade (sendo então um grupo
cetona).

Estruturas químicas da D-glicose e D-frutose, respectivamente uma aldose (poli-hidroxialdeído)


e uma cetose (poli-hidroxiacetona)

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Quimicamente, os monossacarídeos são:

- Poli-hidroxiacetonas  Cetoses;

- Poli-hidroxialdeídos  Aldoses.

Os monossacarídeos mais simples possuem no mínimo três carbonos e


os mais complexos, oito carbonos.

A classificação é baseada no número de carbonos de suas moléculas:


TRIOSES, TETROSES, PENTOSES, HEXOSES, HEPTOSES, OCTOSES.

Trioses (C3H6O3) – Monossacarídeos mais simples:

Os monossacarídeos mais importantes são as pentoses e as hexoses.

- Pentoses mais importantes: ribose, arabinose e xilose;

- Hexoses mais importantes: glicose, galactose e frutose.

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Pentoses (C5H10O5)

Hexoses (C6H12O6)

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4.3.2- Oligossacarídeos

Nem tão simples, nem tão complexos.

Oligossacarídeos são açúcares formados pela união de dois a seis


monossacarídeos, geralmente hexoses. O prefixo oligo deriva do grego e quer
dizer pouco.

Os oligossacarídeos mais importantes são os dissacarídeos.

4.3.2.1- Dissacarídeos

São açúcares duplos formados pela combinação de duas moléculas de


monossacarídeos. Os principais são: sacarose, lactose e maltose.

Os dissacarídeos mais comuns:

- Sacarose: Glucose + Frutose. Fonte: cana-de-açúcar;

- Lactose: Glucose + Galactose. Fonte: leite;

- Maltose: Glucose + Glucose. Fonte: malte.

Molécula de lactose

Molécula de sacarose

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4.3.3- Polissacarídeos

São os carboidratos mais complexos.

São macromoléculas formadas por milhares de monossacarídeos. Cada


monossacarídeo se liga com o outro através de ligações glicosídicas. Os mais
importantes são:

- Amido: é o polissacarídeo de reserva da célula vegetal, formado por moléculas


de glicose ligadas entre si;

- Glicogênio: é o polissacarídeo de reserva da célula animal;

- Celulose: é o carboidrato mais abundante na natureza. Possui função estrutural


na célula vegetal, além de ser um componente importante da parede celular.

POLISSACARÍDEOS OU POLÍMEROS ???

4.4- Polímeros

Termo que vem do grego (poli – muitas e mero – partes).

São moléculas grandes ou macromoléculas formadas de várias


unidades repetitivas (monômeros).

Podemos fazer uma analogia do polímero como uma corrente de clipes, isto é, várias
unidades repetidas.

4.4.1- Estrutura básica dos polímeros

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Linear

Reticulado

4.5- Compostos da parede celular

- Celulose - Polioses (Hemiceluloses) - Lignina

Celulose e poliose  polissacarídeos

Lignina  não-polissacarídeo.

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O QUE MANTÊM AS MACROMOLÉCULAS JUNTAS?

FORÇAS INTERMOLECULARES:

- Dipolo-dipolo induzido;

- Dipolo-dipolo permanente;

- Ligação de hidrogênio.

Ordem crescente de intensidade de interação:

dipolo induzido – dipolo induzido < dipolo – dipolo < ligação de hidrogênio

SABATINANDO:

De acordo com seus conhecimentos sobre anatomia da madeira, explique quais


são os tipos de crescimento apresentados por uma árvore e qual a importância
de cada um deles para o setor florestal.

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Composição Química da Madeira

1- COMPONENTES QUÍMICOS ELEMENTARES

Não há diferenças consideráveis, levando-se em conta as madeiras de


diversas espécies. Os principais elementos existentes são: Carbono (C),
Hidrogênio (H), Oxigênio (O) e traços de Nitrogênio (N).

Composição química elementar das madeiras em relação ao seu peso seco

Elemento Porcentagem
C 49 - 50%
H 6%
O 44 - 45%
N 0,1 - 1%

2- COMPONENTES QUÍMICOS MINORITÁRIOS

Além dos componentes elementares, podem–se encontrar pequenas


quantidades de: Cálcio (Ca), Potássio (K), Magnésio (Mg) e outros.

Estes elementos constituem as substâncias minerais existentes na


madeira.

3- SUBSTÂNCIAS MACROMOLECULARES

Dentre os elementos químicos que formam a madeira, os de maior


destaque são os componentes macromoleculares constituintes da parede
celular: Celulose, Polioses (hemiceluloses) e Lignina. Essas substâncias
estão presentes em todas as madeiras.

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4- UM POUCO DE ANATOMIA DA MADEIRA

Estrutura Anatômica do Lenho:

Parede Celular:

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Formação da Parede Celular (Anatomicamente)

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5- IMPORTÂNCIA DESSE ARRANJO INTERFIBRILAR

As moléculas de celulose irão formar pontes de hidrogênio INTER e


INTRAMOLECULARES.

Devido à formação dessas ligações, as moléculas de celulose irão se


ordenar formando as regiões cristalinas (altamente ordenadas) e amorfas
(desordenadas). Como consequência desse arranjo fibroso, a celulose
apresenta alta resistência à tração e se torna insolúvel na maioria dos solventes.

6- SUBSTÂNCIAS ACIDENTAIS

São componentes minoritários, com baixo peso molecular e não fazem


parte da estrutura da parede celular.

No tipo e quantidade, são específicos para certas espécies. São


conhecidos como materiais acidentais: os extrativos e as substâncias minerais.

A REGRA É: COMPOSIÇÕES QUÍMICAS DIFERENTES PARA DIFERENTES


TIPOS DE MADEIRA.

Composição química variável para os diferentes tipos de madeira:

- MFL e MFC;

- Madeiras de lenho inicial e lenho tardio;

- Madeiras de tração e de compressão;

- Madeiras de tração e de compressão;

- Madeiras de cerne e de alburno;

- Madeiras de clima tropicais e madeiras de clima temperado.

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7- QUÍMICA DA MADEIRA: O INÍCIO DE TODO VEGETAL

7.1.1- Celulose - Conceito

É o componente majoritário, perfazendo aproximadamente a metade das


madeiras tanto de coníferas, como de folhosas. Pode ser brevemente
caracterizada como um polímero linear de alto peso molecular, constituído
exclusivamente de -D-glucose. Este tipo de ligação glicosídica confere á
molécula uma estrutura espacial muito linear, que forma fibras insolúveis em
água e não digeríveis pelo ser humano.

Devido às suas propriedades químicas e físicas, bem como à sua


estrutura supramolecular, ela tem como função principal formar a parede celular
vegetal.

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Quimicamente: Na estrutura do anel, o carbono onde ocorre a formação do


hemiacetal é denominado carbono anomérico, e sua hidroxila pode assumir 2
formas:

- Alfa: ela fica para baixo do plano do anel;

- Beta: ela fica para cima do plano do anel.

A interconversão entre estas formas é dinâmica e denomina-se


mutarrotação.

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Deposição da celulose

Representação química da celulose

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7.1.2- Polioses (Hemiceluloses)

Biossíntese

Descrição:

Estão em estreita associação com a celulose na parede celular. Os


principais constituintes das polioses são as hexoses (glucoses, manose,
galactose) e as pentoses (xilose e arabinose). Algumas polioses contêm
adicionalmente ácidos urônicos.

As cadeias moleculares são muito mais curtas que a de celulose,


podendo existir grupos laterais e ramificações em alguns casos. As folhosas, de
maneira geral, contém maior teor de polioses que as coníferas, e a composição
dos açucares é diferenciada.

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Representação química da poliose:

Glucouronoxilose (arabinose)

- Açúcares mais comuns encontrados nas polioses: D-xilose, D-manose, D-


galactose, D-glicose, L-arabinose, ácido 4-0-metilglucurônico, ácido D-
galacturônico e ácido D-glucurônico.

Os constituintes mais raros são: L-ramnose, L-fucose e vários açúcares


metilados neutros.

LEMBRETE: Embora relacionadas, as polioses de madeiras de fibra longa e fibra


curta não são as mesmas, sendo os polissacarídeos das madeiras de fibra longa
os mais complexos, tanto quanto ao número de polioses presentes quanto às
suas estruturas. A seguir serão mostradas as principais polioses:

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Quantidade Relativa de Polioses em Madeiras de Folhosas e de Coníferas

As xilanas são consequentemente, depois da celulose, os carboidratos


mais importantes da madeira. De acordo com a espécie ela se diferencia da
seguinte forma:

- As xilanas de MFL não possuem grupos acetila (C=O);

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- As xilanas de MFL possuem grupos L-arabinofuranosil;

- As xilanas de MFL possuem 2 vezes mais grupos ácidos que as de MFC (4-o-
ácido metil--D-glucopiranosilurônico).

As polioses podem ser removidas do tecido original por extração com álcali
aquoso ou, menos frequentemente, por água.

7.1.3- Lignina

É a terceira substância macromolecular componente da madeira, sendo


essas moléculas formadas completamente diferente dos polissacarídeos, pois
são constituídas por um sistema aromático composto de unidades de fenil-
propano.

Há maior teor de lignina em coníferas do que em folhosas e existem


diferenças estruturais entre a lignina encontrada nas coníferas e nas folhosas.

7.1.4- Substâncias Poliméricas Secundárias

São encontradas na madeira em pequenas quantidades, como amidos


e substâncias pécticas.

Proteínas somam pelo menos 1% das células parenquimáticas da


madeira, mas são principalmente encontradas nas partes não lenhosas do
tronco, como o câmbio e casca interna.

7.1.5- Substâncias de Baixo Peso Molecular

Junto com os componentes da parede celular existem numerosas


substâncias que são chamadas de materiais acidentais.

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7.1.5.1- Materiais acidentais

Estes materiais são responsáveis por certas propriedades da madeira


como: cheiro, gosto, cor, durabilidade natural, etc.

Embora estes componentes contribuam somente com uma pequena


porcentagem da massa da madeira, podem apresentar uma grande influência
nas propriedades e na qualidade de processamento delas.

LEMBRETE: Alguns íons de certos metais são essenciais para a árvore viva.
Sem eles não haveria nossas belíssimas árvores.

As substâncias de baixo peso molecular pertencem a classes muito


diferentes em termos de composição química e, portanto, há dificuldades em se
encontrar um sistema claro e compreensivo de classificação. Uma classificação
simples pode ser feita dividindo-se estas substâncias em: material orgânico e
inorgânico.

O material orgânico é comumente chamado de extrativos, e a parte


inorgânica é sumariamente obtida como cinzas. A análise química das
substâncias orgânicas é feita de acordo com suas solubilidades em água e
solventes orgânicos.

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Principais grupos químicos que compreendem os extrativos

a) Compostos aromáticos (fenólicos) - as substâncias mais importantes deste


grupo são os compostos tânicos que podem ser divididos em: taninos
hidrolisáveis, estilbenos, lignanas, flavonoides e seus derivados.

Taxifolina - pertence ao grupo das flavononas, possui grande espectro de


atividade biológica como antioxidante e antinflamatório.

b) Terpenos - englobam um grande grupo de substâncias naturais,


quimicamente podem ser derivados do isopreno. Duas ou mais unidades de
isopreno constituem os mono, sesqui, di, tri, tetra e politerpenos.

c) Ácidos alifáticos - ácidos graxos saturados e insaturados são encontrados na


madeira principalmente na forma dos seus ésteres com glicerol (gordura e
óleo) ou com álcoois (ceras). O ácido acético é ligado às polioses como um
grupo éster. Os ácidos di e hidroxi-carboxílico ocorrem principalmente como
sais de cálcio.

d) Álcoois - a maioria dos álcoois alifáticos na madeira ocorre com componentes


éster, enquanto que os esteróis aromáticos, pertencentes aos esteroides, são
principalmente encontrados como glicosídeos.

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Substâncias inorgânicas (cinzas) - os componentes minerais das madeiras


são predominantemente Ca, K e Mg.

Outros componentes - mono e dissacarídeos são encontrados na madeira em


pequenas quantidades, mas ocorrem em altas porcentagens no câmbio e na
casca interna.

Composição química média das madeiras de coníferas e folhosas

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I- CELULOSE – Aspectos gerais

É um polissacarídeo de cadeia linear com comprimento consistindo


única e exclusivamente de unidades de -D-anidroglicopiranose (glicose) unidas
por ligações do tipo (1-4), possuindo uma estrutura organizada e parcialmente
cristalina.

A forma mais pura de celulose é obtida das fibras do línter de algodão


que, quando submetida a cuidadoso processo de purificação, apresenta 99,8%
de pureza, e essa celulose recebe o nome de celulose padrão ou referência.

- Fórmula molecular da celulose: (C6H10O5)n, sendo:

n = grau de polimerização (GP): número de vezes que a molécula se repete. GP


celulose: 8.000 a 10.000 e diminui com o envelhecimento da árvore.

Os grupos OH da celulose são responsáveis pelo seu comportamento


físico-químico, inclusive sua solubilidade.

As ligações de hidrogênio formam as ligações entre a molécula de


celulose, outros polissacarídeos e também entre a molécula de água.

1- TIPOS DE LIGAÇÕES DA CELULOSE

- Ligações intramoleculares: entre grupos OH de unidades glicosídicas


adjacentes da mesma molécula de celulose. – Responsáveis pela rigidez da
cadeia;

- Ligações intermoleculares: entre grupos OH de cadeias adjacentes (moléculas


de celulose, polioses, lignina) – Responsável pelo arranjo supramolecular na
parede celular.

Representação das ligações inter e intramoleculares na estrutura da celulose:

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Representação da configuração da β celulose:

As estruturas primárias, formadas pelas ligações hidrogênio, são as fibrilas que


formam as camadas da parede celular.

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Arranjo físico da celulose na parede celular:

Cristalinidade da celulose:

2- MODELO HIPOTÉTICO DE FRANJA MICELAR DA CELULOSE.

a) seção longitudinal de parte de uma microfibrila;

b) seções transversais de 5 microfibrilas adjacentes, sendo que 3 estão ligadas


lateralmente por co-cristalização.

Quanto mais cristalina a celulose, maior a sua densidade: a densidade


da celulose cristalina é 1,59 enquanto a da celulose amorfa é 6% inferior.

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O valor da cristalinidade da celulose também depende da metodologia


utilizada para a sua medição (difração de raios-X, densidade, hidrólise ácida,
oxidação com periodato, sorção de iodo, oxidação com ácido crômico). A alta
cristalinidade da celulose é devido ao grande número de ligações hidrogênio
presentes.

Em se tratando de reatividade, a organização física das moléculas de


celulose se tornam mais importantes que a estrutura química de suas moléculas
individuais. A celulose mais cristalina existente na natureza é a do rami.

3- ISOLAMENTO DA CELULOSE

- Redução da madeira em pequenas partículas;

- Extração das partículas de madeira com solventes orgânicos e água para


remover resinas e outros extrativos;

- Deslignificação suave da madeira com clorito acidificado ou cloração seguida


de extração com monoetanolamina (NH2-CH2-CH2OH) ou oxidação com ácido
peracético (CH3COOOH);

- Extração das polioses com bases.

Resultado: celulose parcialmente degradada e contaminada com lignina e


frações de polioses resistentes ao álcali.

4- GRAU DE CONTAMINAÇÃO DA CELULOSE

Determinado pela hidrólise do resíduo e análise dos componentes


individuais por cromatografia. A degradação será avaliada pela medição do peso
molecular do resíduo e pela determinação do teor de grupos carbonila e carboxila
na celulose.

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A celulose não degradada não contém grupos carboxila e somente um


grupo carbonila por molécula.

5- REAÇÃO DE NITRAÇÃO

Um método de isolamento mais suave consiste da nitração direta da


madeira seguida de extração por solventes orgânicos.

Problema: O produto desse isolamento é também contaminado com polioses.

6- HIGROSCOPICIDADE DA CELULOSE

6.1- Fenômeno da Histerese

Fenômeno pelo qual uma determinada propriedade, modificada por um agente


externo, não retorna ao seu estado original quando esse agente é removido.
Também é conhecido como “enrijecimento da celulose” (hornification).

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6.2- Teorias sobre a ocorrência da histerese

- Primeira: Baseia-se na interconversão da ponte de hidrogênio de celulose-água


e celulose-celulose.

Durante a dessorção, muitas pontes de hidrogênio entre a celulose e a


água são convertidas em pontes de celulose-celulose, as quais somente podem
ser desfeitas pela absorção de água à pressão de vapor elevada.

- Segunda: Baseia-se no fato de que a região amorfa da celulose é a única capaz


de absorver água, pois esta não penetra na região cristalina.

Quando a celulose sofre a secagem, as cadeias da região amorfa se


aproximam umas das outras, diminuindo a capacidade de absorção de água.

Mudança das ligações de hidrogênio durante a remoção de água de duas


cadeias de celulose adjacentes

- Interconversão de ligações de hidrogênio de celulose-água e celulose-celulose.

- Regiões amorfas e cristalinas.

-> Interconversão de Grupos Funcionais: Processo de converter um grupo


funcional em outro, por meio de reações de substituição, adição, eliminação,
redução ou oxidação.

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7- INCHAMENTO DA CELULOSE

A celulose sofre inchamento em diferentes solventes. A extensão do


inchamento depende do solvente e da natureza da amostra de celulose.
Exemplos de solventes: metanol, etanol, anilina, nitrobenzeno e benzaldeído.

De acordo com o sítio de absorção do solvente, são distinguidos dois


tipos de inchamento: intercristalino e intracristalino.

- Intercristalino: o solvente penetra somente nas regiões amorfas das


microfibrilas de celulose e entre as microfibrilas.

- Intracristalino: o solvente penetra na região cristalina das microfibrilas.

O inchamento intercristalino típico é aquele que ocorre na presença de água e o


intracristalino é o que ocorre na presença de hidróxido de sódio.

Resumo sobre inchamento da celulose:


Objetivo: torná-la mais reativa para a produção de derivados

- Ocorre devido à sua alta polaridade (grupos HO-);

- Inchamento intercristalino: pela água

» Ocorre entre as regiões cristalinas, isto é, ocorre nas regiões amorfas das
microfibrilas.

- Inchamento intracristalino: por ácidos e bases fortes;

» Ocorre dentro das regiões cristalinas das microfibrilas;


» A penetração de íons hidratados (HO-, H3O+) requer mais espaço que as
moléculas de água.

8- MERCERIZAÇÃO DA CELULOSE

É o processo de dissociação das microfibrilas, misturando umas às


outras e desordenando o sentido das mesmas. Técnica desenvolvida por John
Mercer, em 1844, que consiste no tratamento da celulose com álcali. Dois tipos:

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- Celulose alcalina I

» Celulose tratada com NaOH 8-12%;


» Produção de viscose/rayon.

- Celulose alcalina II

» Celulose alcalina I tratada com NaOH 21%;


» Utilizada na fabricação de outros derivados (acetatos, nitratos).

Microscopia eletrônica de varredura, mostrando a morfologia da celulose e o


efeito da mercerização.

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Representação esquemática das ligações intra e intermoleculares na


celulose I

9- DISSOLUÇÃO DA CELULOSE

A celulose é insolúvel em solventes comuns, devido a sua alta polaridade e


cristalinidade.

Dissolução da celulose:

- Solubilização em solventes específicos

- Via transformação em um derivado solúvel

» Nitrato - solúvel em acetona;


» Acetato - solúvel em clorofórmio ou acetona;
» Xantato - solúvel em hidróxido de sódio.

10- DEGRADAÇÃO DA CELULOSE

Por degradação entende-se a quebra da ligação 1,4 glicosídica da


molécula de celulose, ou seja, a quebra da ligação entre dois monômeros de
glicose. A degradação produz moléculas com grau de polimerização menor,
afetando, portanto, as propriedades que dependem do comprimento da cadeia
molecular da celulose, tais como viscosidade e resistência mecânica.

- Classes de degradação da celulose: hidrolítica, oxidativa, microbiológica, entre


outros tipos.

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10.1- Degradação hidrolítica

A degradação hidrolítica pode ocorrer em meio ácido e em meio alcalino.

A hidrólise ácida é bastante dependente do pH e, se a concentração do


ácido for alta, sua velocidade é alta, mesmo em temperaturas abaixo de 100°C.
A hidrólise alcalina, por sua vez, ocorre essencialmente de duas maneiras:

- Em temperatura superior a 150°C, mesmo em soluções concentradas de


álcali;

- Em temperatura acima de 70°C: resulta na retirada de uma glicose na forma


de ácido sacarínico. Essa reação denominada polimerização terminal, continua
até se formar (no término da cadeia de celulose), um grupo carboxílico que
estabiliza a celulose quanto a sua degradação.

10.2- Degradação oxidativa

A celulose é facilmente oxidada, sendo os grupos hidroxilas e aldeídicos


os pontos mais susceptíveis ao ataque. A maioria dos processos de oxidação é
ao acaso e leva, principalmente, à introdução de grupos carbonilas e carboxilas
em várias posições das glicoses da cadeia de celulose.

As ligações glicosídicas ativadas pelos grupos introduzidos na cadeia de


celulose podem sofrer degradação em meio alcalino ou ácido. Portanto, a
degradação oxidativa consiste em uma oxidação seguida de uma degradação
hidrolítica. Exemplos de agentes oxidantes: Cloro e peróxidos.

10.3- Degradação microbiológica

É uma hidrólise enzimática catalisada pela celulase, enzima produzida


amplamente por fungos e bactérias. É semelhante à degradação hidrolítica, mas
há uma diferença básica: na microbiológica, o ataque é localizado, devido as

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moléculas das enzimas serem grandes e, portanto, não poderem se difundir


rapidamente na celulose. Na hidrolítica ocorre o contrário.

Na degradação microbiológica, embora haja perda de resistência da


celulose, conforme a degradação vai se processando, esta não é acompanhada
por uma grande diminuição da massa e do grau de polimerização da celulose.

10.4- Outros tipos de degradação

- Calor: A celulose pode ser aquecida sem ocorrer perdas até a temperatura
de 120°C. Se deixarmos sob uma prolongada exposição a essa temperatura
ela ficará escura em virtude da ausência de oxigênio. Em temperaturas mais
elevadas (140-150°C), as fibras tornam-se frágeis e perdem a maioria de suas
propriedades físicas. A 200°C, a celulose perde a sua estrutura fibrosa e a
325°C ocorre sua destilação.

- Luz: A luz produz uma intensa degradação da celulose, e os efeitos são


iguais a ação do calor (diminuição do grau de polimerização, oxidação,
resistência).

Resumindo: Reações de degradação da celulose

- Pela ação de ácido: Hidrólise;

- Pela ação de álcalis: Hidrólise alcalina e despolimerização terminal;

- Pela ação de oxidantes;

- Pela ação microbiológica;

- Pela ação do sol e da luz

11- Principais derivados da celulose

- Ésteres:

Nitrato de celulose: Usos: explosivos (TNC), laquês, filmes fotográficos;

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Acetato de celulose: muito utilizado na indústria têxtil e fotográfica, podendo em


muitas aplicações substituir o nitrato de celulose. Filmes de segurança e de raio
x.

- Éteres:

Metil celulose: plásticos, revestimentos, outros;

Carboximetilcelulose: Utilizada na indústria alimentícia, farmacêutica e de


cosméticos.

- Xantatos:

Xantato de celulose: Utilizada na indústria alimentícia, farmacêutica e de


cosméticos: Viscose e celofane.

Fixação de conteúdo

a) Descreva os tipos de ligações que ocorrem na molécula de celulose.

b) Descreva as teorias para explicar o fenômeno de histerese na celulose.

c) Descreva os tipos de inchamento que ocorre na celulose e qual é sua


importância.

d) Explique o processo de mercerização da celulose e qual é sua importância.

e) Descreva os tipos de reações de degradação que ocorrem na celulose.

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II- POLIOSES (HEMICELULOSES) – Aspectos Gerais

Fração dos CH2O extraível em álcali, correspondendo a 20 - 30 % do


peso da madeira. São polissacarídeos de baixo DP (~200), constituídos por
diferentes açúcares e ácidos:

- D-glucose, D-manose, D-galactose, D-xilose, Larabinose, L-fucose

- Ácido 4-O-metilglucurônico, ácido D-galacturônico e ácido D-glucurônico.

1- DISTRIBUIÇÃO E FUNÇÃO

- Estruturas ramificadas e amorfas;

- São associadas à lignina e a celulose;

- Possuem função estrutural;

- Localizadas em toda parede celular;

- Maior teor em S1 e S3;

- Alto teor em células do parênquima;

- Estas células podem conter até 80% de xilanas em madeiras de folhosas.

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Açúcares componentes das Polioses

2- COMPOSIÇÃO DAS POLIOSES

As hexosanas resultam da condensação de hexoses. Ex: mananas,


glucanas, galactanas, glucomananas, galactoglucomananas (Coníferas).

As pentosanas resultam da condensação de pentoses. Ex: xilanas,


arabinanas.

Condensações de outros açúcares: Arabino 4-O-metilglucuronoxilana,


O-Acetil-4-O-metilglucuronoxilana (folhosas), arabinogalactana.

3- ISOLAMENTO DAS POLIOSES

- Extração com água: Arabinogalactanas

- Extração com álcali:

• Fraco: xilanas e arabinogalactanas

• Forte: galactoglucomananas

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• Forte + borato: glucomananas

- Extração com DMSO (DIMETHYLSULFOXIDE): xilanas de folhosas.

4- SEPARAÇÃO DAS POLIOSES

- Extrações seletivas com álcali;

- Cromatografia de coluna;

- Metilação completa;

- Hidrólise total ou parcial;

- Identificação de monossacarídeos metilados;

- Determinação, em separado, de ácidos urônicos, grupos acetila e metoxila.

Quantidade de Polioses em Madeiras de Folhosas e de Coníferas

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5- CLASSIFICAÇÃO DAS POLIOSES

- Madeiras de Folhosas:

• O-Acetil-4-O-metilglucurono-xilana;

• Glucomananas;

• Hemiceluloses extraíveis em água;

• Galactana de madeira de tensão.

- Madeiras de Coníferas:

• Arabino-4-O-metilglucurono-xilana;

• Galactoglucomananas;

• Arabinogalactanas;

• Galactana de madeira de compressão.

5.1- Poliose de Folhosas:

5.1.1- O- Acetil-4-O-metilglucurono-xilana

- 1-2 ud ácido 4-O- metilglucurônico: 10 ud xilose;

- 7 ud acetila : 10 ud de xilose;

- Ramificada e amorfa;

- Alta solubilidade em álcali;

- Representa cerca de 20-35% do peso madeira.

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Estrutura da O-Acetil-4-O-metilglucurono-xilana

Estrutural:

Simbólica:

5.1.2- Glucomananas

- Representa cerca de 3-5% da madeira;

- Relação glucose:manose 1:2;

- Lineares e de difícil isolamento;

- Seu peso molecular exato é desconhecido;

- Boa estabilidade em ácido (C5 não disponível);

- Ligações manosídicas mais facilmente hidrolisadas que as glucosídicas.

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Estrutura da Glucomanana

Estrutural:

Simbólica:

5.2- Polioses de Coníferas

5.2.1- Arabino 4-O- metilglucurono- xilana

- Difícil isolamento quantitativo: requer deslignificação prévia da madeira;

- Corresponde a 5-10% do peso da madeira;

- Resistem mais ao cozimento Kraft que as galactoglucomananas.

- Estrutura:

• β-D-xilopiranoses unidas por ligações β (1-4);

• grupos laterais de ácido 4-O-metil-α-D-glucurônico ligados ao C2 (2 ud


ácido : 10 ud xilose);

• grupos laterais de α-L-arabinofuranose ligados ao C3 (1-3 ud arabinose:


10 un. xilose).

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Estutura do Arabino- 4 -O- metilglucurono- xilana (formas estrutural e simbólica)

5.2.2- Xilanas de Coníferas x Xilanas de Folhosas

- Mais acídicas que as xilanas de folhosas (2 ud ácido: 10 ud xiloses);

- Não possuem grupos acetila;

- Possuem grupos laterais de L-arabinofuranose;

- Grupos laterais;

- Facilmente hidrolisados em ácido;

- Aumentam a resistência dessas xilanas ao álcali;

- Tornam essas xilanas parcialmente solúveis em água.

5.2.3- Acetato de Galactoglucomananas

- Corresponde a 15-20% do peso da madeira;

- DP~150;

- Estrutura:

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• β-D- glucopiranoses e β-D-manopiranoses unidas por ligações β(1-4);

• Grupo acetila no C2 ou C3 (2-3 acetila: 10 ud G:M);

• Grupo lateral de α-D- galactopiranose ligado no C6;

• 3 man: 1 gluc : 1 galac = galactoglucomananas;

• 4 man: 1 gluc : 0,1 galac = glucomananas;

• Ramificada.

Estrutura do Acetato de galactoglucomananas (formas estrutural e


simbólica)

5.2.4- Galactoglucomananas

- Facilmente despolimerizadas por ácido;

- Solubilidade em álcali:

• alta (as de alto conteúdo de galactose);

• baixa (as de baixo conteúdo de galactose).

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- Podem formar cristais após despolimerização e desacetilação, especialmente


as de baixa solubilidade em álcali.

Distribuição das polioses – Estudo aplicado

6- FUNÇÃO

- Facilitar a incrustação das microfibrilas;

- Planta que contém lignina contém hemiceluloses;

- Influenciam no teor de umidade da planta;

- Todas as hemiceluloses importantes da madeira são intrinsicamente solúveis


em água e, portanto muito hidrofílicas;

- Adesão à celulose através de pontes de hidrogênio.

7- IMPORTÂNCIA PRÁTICA

- Aumentam o rendimento em produção de celulose;

- Desejáveis na fabricação de papel refinado;

- São hidrofílicas: facilitam o refino da polpa (lubrificante);

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- Melhoram resistências que dependem das ligações entre fibras (adesivo);

- Indesejáveis na fabricação de papeis sanitários;

- Formação de finos;

- Aderência ao rolo Yankee (expulsão de água).

8- REATIVIDADE

Diferenças em relação à celulose:

- Químicas:

• Maior número de grupos funcionais;

• Monômeros menos estáveis;

• Menor peso molecular.

- Físicas:

• ramificadas;

• amorfas → maior facilidade de acesso aos reagentes;

8.1- Particularidades

Embora a celulose e as polioses apresentem reações semelhantes, há


diferenças entre suas reatividades, que são devidas a diferenças em
acessibilidade.

Por não possuir regiões cristalinas, as polioses são atingidas mais facilmente por
produtos químicos. Entretanto, devido à perda de alguns substituintes da cadeia,
as polioses podem sofrer cristalização induzida pela formação de pontes de
hidrogênio, a partir de hidroxilas de cadeias adjacentes, dificultando, desta
forma, a atuação de um produto químico com o qual esteja em contato.

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8.2- POLIOSES – PASTA CELULÓSICA

As polioses são responsáveis por diversas propriedades importantes das


pastas celulósicas. Devido à ausência de cristalinidade, sua baixa massa
molecular e sua configuração irregular e ramificada, as polioses absorvem água
facilmente. Este fato contribui para: entumescimento, mobilidade interna,
aumento de flexibilidade das fibras, redução do tempo e da energia requeridos
na refinação de pastas celulósicas e o aumento da área específica ou de ligação
das fibras.

Outra influência das polioses nas propriedades das fibras de pastas


celulósicas pode ser observada na secagem.

As polioses, sendo amorfas e adesivas por natureza, tendem na


secagem, a perder sua elasticidade e endurecem, pois aumenta o contato fibra-
fibra no tecido da madeira, não deixando a água retornar quando a madeira sai
da estufa ou entra em contato com uma umidade relativamente maior que a da
madeira. Essa propriedade também atua na formação da folha de papel e sua
secagem.

Quantidades extremamente altas de polioses podem resultar em um


decréscimo das propriedades de resistência a tração, não devido ao efeito de
ligação, mas possivelmente devido à diminuição da resistência da fibra
individual, em decorrência do decréscimo do grau médio de polimerização do
sistema.

A presença de polioses é indesejável na fabricação de derivados de


celulose, por causa da formação de gel.

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8.3- Derivados das Polioses

Produtos derivados das polioses por hidrólise ácida, a partir de xilose e manose.

- IMPLICAÇÃO NA PRODUÇÃO DE DERIVADOS

Precisam ser removidas, pois são impurezas prejudiciais à xantação,


esterificação e eterificação e causam entupimento dos filtros, porque estes
formam gel.

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9. OUTROS CARBOIDRATOS DA MADEIRA

9.1- PECTINA

- Mais abundante na casca;

- Estrutura (pouco conhecida):

• Consistem de unidades de ácido α-Dgalacturônico unidas por ligações


α(1-4);

• Podem conter L-arabinose e D-galactose;

• De alto peso molecular.

9.2- AMIDO

- Principal polissacarídeo de reserva da madeira;

- Consiste de amilose e amilopectina:

• Amilose → α-D-anidroglucopiranoses unidas por ligacões α (1-4), linear


e de alto PM;

• Amilopectina → α-D-anidroglucopiranoses unidas por ligacões α (1-4) e


α (1-6), ramificada e de PM muito alto;

- Proporção: 1 amilose: 2 amilopectinas.

 FIXAÇÃO DE CONTEÚDO

- Formule e responda 10 questões sobre a matéria dada.

OBS: As perguntas devem abranger todo o conteúdo exposto.

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III- LIGNINA – Aspectos Gerais


Nem tudo é branco no preto

1- INTRODUÇÃO

A lignina é o terceiro componente fundamental da madeira, ocorrendo


entre 15 e 35% de seu peso.

- POR QUE TANTO INTERESSE?

“Simplesmente” porque a lignina é a substância que mantém o vegetal em pé.


Interfere na produção de pasta celulósica e papel. Por isso, é a “menina dos
olhos” da área de bioenergia.

O que se procura atualmente é a manipulação genética de árvores para


produzirem menos ou mais lignina, ou um tipo de lignina diferente, que poderia
ser facilmente retirada. Tem um grande interesse econômico.

2- IMPORTÂNCIA GENÉTICA

2.1- Xilogênese

É o desenvolvimento do xilema secundário, ou seja, é a formação da


madeira propriamente dita. Etapas da xilogênese: divisão celular, elongação,
biossíntese da parede celular, lignificação e atividade celular programada.

3- LIGNINA

O termo lignina, de forma mais ampla, refere-se à lignina que compõe


os diferentes tipos de plantas, mas que diferem uma da outra de acordo com a
espécie e localização dentro da planta.

O termo protolignina ou lignina “in situ” refere-se à lignina associada ao


tecido da planta, uma vez que para separar a lignina da sua associação natural

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na parede celular há, pelo menos, ruptura das ligações lignina-polissacarídeos e


uma redução no peso molecular.

PROTOLIGNINA (Macromolécula)

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LIGNINA

A lignina se localiza principalmente na lamela média onde é depositada


durante a lignificação do tecido vegetal. Quando o processo de lignificação
termina, geralmente coincide com a diminuição das atividades fisiológicas da
célula. Conclui-se, portanto, que a lignina é um produto final do metabolismo da
planta.

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Localização da lignina

Lignina – Distribuição na parede celular de um traqueoide


Madeira Região Volume do Lignina (% do Concentração
morfológica tecido (%) total) da lignina (%)
S 87 72 23
LI ML 9 16 50
CC 4 12 85

S 94 82 22
LT ML 4 10 60
CC 2 9 100
LI - lenho de início de estação; LT - lenho de fim estação; S - parede secundária ; ML -
lamela média composta e CC - canto das células.

A lignina assim como a celulose, também é uma macromolécula, mas


difere desta porque é predominantemente um composto aromático e porque é
altamente irregular em sua constituição e estrutura molecular.

As ligninas presentes nas paredes celulares das plantas estão


associadas com a holocelulose, não só através de interação física como também
química (ligações covalentes).

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A lignina é encontrada em muitas plantas do reino vegetal, porém, sua


constituição não é a mesma em todas elas. Não deve ser considerada como uma
substância química única, mas sim como uma classe de materiais correlatos.

4- LIGNINA - CONCEITO ATUAL

É um polímero de natureza aromática, com alto peso molecular, que tem


como base estrutural unidades de fenil-propano e provavelmente está ligada aos
polissacarídeos (polioses e celulose) da madeira.

É bem aceito o fato de a lignina ter sua biossíntese a partir da


polimerização dehidrogenativa (iniciada por enzimas) dos seguintes precursores
primários: álcool trans-coniferílico, álcool trans-sinapílico e álcool para-
trans-cumárílico.

É constituída de unidades de fenil-propano unidas por ligações C-O-C e


C-C e com diferentes teores de grupos alcóolicos e metoxílicos dependendo da
madeira.

4.1- Lignificação

Precursores Majoritários da Lignina (monolignóis)

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4.2- A química da lignina

Além dos monolignóis, diversas classes de compostos derivam, em


menor proporção, da mesma rota biossintetizante dos fenilpropanóides,
principalmente: flavonóides, isoflavonóides, furanocoumarinas, fenóis simples,
ácidos e álcoois coniferílicos glicosilados.

Essas substâncias possuem funções de defesa (fitoalexinas e protetores


à luz ultravioleta), ecológicas (pigmentos e fragrâncias) e de reguladores do
crescimento (hormônios).

4.3- Estrutura química da lignina

A estrutura química da lignina não é totalmente conhecida,


principalmente, devido ao fato das alterações que ela sofre durante o seu
isolamento na madeira.

4.3.1- Composição elementar

Na composição química elementar da lignina ocorrem única e


exclusivamente: carbono, hidrogênio e oxigênio.

A composição elementar percentual varia de espécie para espécie e


também conforme o método de isolamento da mesma.

4.3.2- Base estrutural

A base estrutural da lignina é o fenil-propano. No anel benzênico são


ligados um número variável de grupos hidroxílicos e metoxílicos. Esses grupos
fazem com que o fenil-propano tome a forma de radicais químicos bem definidos.
As ligações são do tipo éter (c-o-c) ou c-c.

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Na lignina que ocorre nas madeiras das gimnospermas predominam


radicais do tipo guaiacil-propano (metoxi-3-hidroxi-4-fenil-propano). Tipo:
G.·

Na lignina que ocorre nas angiospermas dicotiledôneas predominam


radicais do tipo siringil-propano (dimetoxi-3-5-hidroxi-4-fenil-propano), mas
tem também guaiacil-propano (metoxi-3-hidroxi-4-fenil-propano). Tipo - S:G.

Quimicamente

(7) Predominância nas coníferas (G); (8) Predominância nas folhosas (S); (9)
Predominância nas monocotiledôneas (H).

Lembretinho ...

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- Posição Orto: os grupos metila estão paralelos (juntos) – C2, C6.


- Posição Meta: os grupos metila estão separados - C3, C5.
- Posição Para: os grupos metila estão completamente opostos em relação ao
anel aromático que os contém - C4.

4.3.3- Grupos funcionais

a) Grupos metoxílicos (OCH3)

São os grupos funcionais mais característicos da lignina, e apesar de


aparecer também nas polioses, cerca de 90% dos grupos metoxílicos da madeira
são da lignina.

De maneira geral, a lignina das coníferas apresenta em torno de 16% de


OCH3 (0,95/unidade de fenil-propano) e das folhosas cerca de 22 (1,40/unidade
de fenil-propano).

b) Grupos hidroxílicos (OH)

Os grupos hidroxílicos que ocorrem na lignina representam cerca de


10% de seu peso (1,1/unidade de fenil-propano) tanto para coníferas como para
folhosas. Estes grupos em geral são de natureza fenólica ou alcoólica (álcoois
primários, secundários e terciários)

c) Outros grupos funcionais

Na lignina ocorrem outros grupos funcionais entre os quais se destacam


os grupos carboxílicos (COOH) em torno de 0,05/unidade de fenil-propano e
grupos carbonilos (CO), 0,1 a 0,2/unidade de fenil - propano.

Carboxila Carbonila

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4.4- Propriedades da lignina

4.4.1- Massa molecular

As massas moleculares dos derivados solúveis de lignina situam-se


numa faixa bastante ampla. Na literatura há desde valores inferiores a 103 até
valores acima de 106, tanto para lignossulfonatos como para ligninas alcalinas.

De certo modo a molécula de lignina pode ser reduzida a um tamanho


suficientemente pequeno, neste caso, sendo considerada um composto químico
que exibe comportamento dos compostos solúveis, ou suficientemente grande,
assumindo o comportamento de um polímero artificial de cadeia longa.

A maioria dos valores de massa molecular para ligninas isoladas está na


faixa de 1.000 a 1.200, dependendo da intensidade da degradação química e/ou
da condensação ocorrida durante o isolamento. Considerando a massa
molecular do fenil/propano (unidade formadora) como 184, o grau de
polimerização das ligninas isoladas encontra-se na faixa de 5 a 60.

4.4.2- Transição vítrea

É uma propriedade dos materiais amorfos na qual um mesmo composto


pode se apresentar no estado vítreo ou no estado “maleável”, sem a ocorrência
de uma mudança drástica em sua estrutura química. É um processo
termodinâmico e cinético que ocorre de forma temporária e é induzido pela
temperatura.

A lignina sendo um polímero amorfo possui um ponto de transição vítrea


(de amolecimento ou enrijecimento), que varia consideravelmente conforme a
origem e o método utilizado para o seu isolamento.

4.4.2.1- Temperatura de transição vítrea

Professora Zaíra Morais dos Santos Hurtado de Mendoza


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Disciplina de Tecnologia Química de Produtos Florestais

- Conhecida também como Glass Transition Temperature (TG), é o intervalo de


temperatura na qual um composto amorfo começa a plasticizar ou vitrificar.

- Experimentalmente seria o intervalo de temperatura abaixo do qual um


composto amorfo se torna duro e frágil (estado vítreo), e acima do qual o mesmo
composto se torna macio e maleável (estado “borrachoso”).

- Intervalo de temperatura de plasticização da lignina: 135 a 190°C. Essa


temperatura é influenciada pelo teor de umidade (quanto maior a umidade menor
a temperatura de plasticização) e pela massa molecular (quanto maior a massa
molecular, maior a temperatura de plasticização).

- Torna-se pegajosa – vira adesivo.

- É importante na fabricação de papel/papelão não-branqueado e nas


confecções de chapas de fibras.

4.5- Funções da lignina na planta

- Aumenta a rigidez da parede celular;

- Une as células umas às outras;

- Reduz a permeabilidade da parede celular à água;

- Protege a madeira contra micro-organismos (sendo essencialmente fenólica, a


lignina age como um fungicida);

- Fórmula elementar baseada no C9 (fenilpropano): C9H7,92O2,40(OCH3)0,92;

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4.6- Derivados da lignina

4.7- Reações químicas da lignina


As reações químicas da lignina foram estudadas para conhecer sua
estrutura química. Estas reações servem também para explicar os fenômenos
que ocorrem no cozimento da madeira para a produção de pasta celulósica e no
seu branqueamento.

4.7.1- Tipos de reações químicas

- Sulfonação;

- Hidrólise ácida;

- Hidrólise alcalina;

- Condensação e mercaptação;

- Halogenação;

- Oxidação.

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a) Sulfonação

Ocorre quando a madeira ou a própria lignina é tratada com sulfitos ou


bissulfitos metálicos. Forma-se: compostos a base de ácido sulfuroso. Estes
produtos são denominados ácidos lignossulfônicos ou lignossulfonatos, que
ficam na solução enquanto os polissacarídeos permanecem insolúveis.

b) Hidrólise ácida

A lignina é bastante resistente à hidrólise ácida, porém quando aquecida


em meio ácido sob condições específicas, pode ocorrer hidrólise, principalmente
nas ligações éter.

c) Hidrólise alcalina

Quando a lignina é tratada com soluções alcalinas em altas temperaturas


podem ocorrer rupturas nas ligações de éter entre as unidades de fenil-propano,
formando grupos fenólicos, responsáveis por sua solubilização.

d) Condensação e mercaptação

Condensação é a reação que os componentes hidrolisados da lignina


podem sofrer entre si ou com outros componentes químicos. Neste tipo de
reação poderão ser formados compostos de elevado peso molecular e em
algumas espécies, poderá haver a reversão da hidrólise e solubilização da
lignina. Em alguns casos os produtos da condensação podem apresentar peso
molecular superior ao da lignina original.

A mercaptação é o resultado da reação de certos grupos da lignina com


os íons hidrossulfeto ou sulfeto. O nome mercaptação vem do fato de que entre
os produtos da reação ocorre a formação de mercaptanas. Esta reação é
bastante importante sob o aspecto da ocorrência de reações de condensação.

e) Halogenação

Do ponto de vista prático a reação de halogenação mais importante é a


cloração. A cloração da lignina seguida de extração alcalina é utilizada
comercialmente como estágios do processo de branqueamento da celulose.

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Cloração

f) Oxidação

Uma série de agentes oxidantes atuam sobre a lignina e o emprego dos


mesmos é importante nos processos de branqueamento da celulose. Os
principais agentes oxidantes empregados atualmente são: hipocloritos de sódio
e cálcio, clorito de sódio, dióxido de cloro, peróxido de hidrogênio e sódio.

4.8- Importância da lignina

Para o vegetal: Marco de evolução dentro do reino vegetal.

- Adaptação da planta à vida terrestre.

- Condução eficiente de água e nutrientes.

- Defesa vegetal ao ataque de patógenos

Para o homem: Geração de coprodutos para a área de adesivos e


bioenergia.

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4.9- Novidades na ciência

4.9.1- Função fisiológica

As ligninas parecem exercer um importante papel na ancoragem e


sustentação de polissacarídeos da parede celular durante a deposição dos
mesmos.Ou seja, celulose e polioses só conseguem se manter na parede por
causa da presença da lignina.

4.10- Classificação atual

- Lignina não core: consiste de compostos fenólicos de baixa massa molecular,


liberados da parede celular por hidrólise, que é representada por ácidos p-
hidroxicinâmico éster-ligados.

- Lignina core: consiste em polímeros fenilpropanóides da parede celular,


altamente condensados e muito resistentes à degradação. Eles são compostos
de unidades p-hidroxifenilas (H), guaiacila (G) e siringila (S) em proporções
diferentes, de acordo com sua origem.

Compostos químicos da hidrólise da lignina

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4.11- Problemas à vista

Pouco se sabe a respeito da formação do polímero de lignina per se, sua


estrutura in situ e sua biodegradação.

O Fio de Ariadne: A rota metabólica de formação dos monolignóis.

 Aplicação de aprendizado:

Responda as questões abaixo, mas, por favor, SEM CONSULTA.

1) Quais são os principais precursores da lignina?

2) Quais são os tipos de lignina predominantes em MFL e em MFC? Diferencie-


as quimicamente.

3) Quais são os grupos funcionais presentes na lignina? Fale sobre um deles.

4) Qual a importância dos grupos funcionais da lignina?

5) O que é transição vítrea e qual sua importância para a utilização da lignina?

6) Qual a diferença entre protolignina e lignina.

Professora Zaíra Morais dos Santos Hurtado de Mendoza

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