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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


COLEGIADO DE MEDICINA

DISCENTES: CAMILA, ENDE SANTOS, JOILSON ANDRADE, LUANA SOARES,


MITHALY TEIXEIRA, SUIAN FONSECA, TAINÁ.

TUTORIAL

Hoje não o é dia de atendimento!

Conforme o cronograma da USF Montes Claros, sexta feira é o dia reservado para a médica
realizar visitas domiciliares (VD). Na ultima sexta, Dr.ª Roberta e Claudia (ACS) andavam
pelo território em direção à casa de Dona Augusta para realizar uma VD, quando ambas
foram abordadas por Marcos (Etilista Crônico) que é usuário da USF, porém, residente de
outra microárea.
- Doutoras... “espera” aí... quero falar com vocês!
- Drª Roberta é melhor nós adiantarmos porque esse senhor está bêbado novamente. Arlete
(ACS da microárea de Marcos) me disse que ele só anda assim, se pararmos, ele não vai nos
deixar sair. (Falou Cláudia em voz baixa)
- Drª... eu preciso de uma consulta!
- Vá lá na Unidade, hoje é dia de marcação de consulta, e a recepcionista vai lhe dizer pra
que dia tem vaga. Respondeu a médica adiantando o passo e seguindo para sua visita com
Cláudia.

OBJETIVOS:
 Identificar as possíveis fragilidades e potencialidades da abordagem relatada no
caso;

Neste caso, pode-se observar como possíveis fragilidades que a proposta do


acolhimento não foi contemplada, já que se estabelece número fixo de vagas, e de dia para a
marcação destas, o que pode fazer com que não se atenda à necessidade de boa parte da
população. É importante ressaltar que nem todos os usuários que buscam a USF precisam de
atendimento médico, acreditando muitas vezes que sua demanda somente será solucionada
por um profissional. Por isso, a importância do acolhimento, que pode ser realizada por
qualquer profissional, pois pode orientar e direcionar o atendimento apropriado à necessidade
apontada pelo usuário e reduzir a demanda reprimida.

Dessa forma, Camila trouxe que além da falta de acolhimento da demanda do morador
e da rigidez da agenda da USF, também houve o estigma ao morador por parte da equipe da
USF (“o bêbado é muitas vezes visto como um importuno”). Mithaly citou que ficou
incomodada com a substantivação do sujeito, além do não atendimento da demanda do
indivíduo, e que uma das demandas daquele caso seria a de saúde mental. Além disso
Mithaly falou sobre a falta de ética profissional de Arlete (ACS) ao contar que aquele sujeito
se tratava de um “bêbado” para a agente comunitária de uma outra micro-área, e para um
outro profissional (Drª Roberta). A colega mencionou que a Atenção Primária em Saúde
(APS) deve considerar o sujeito em sua singularidade e que este está inserido em um território
vivo. O profissional deve compreender aquele território não como uma fotografia, mas como
uma filmagem, algo que faz parte de uma dinâmica. Joilson, assim, frisou sobre a dificuldade
que os profissionais de saúde, de forma geral, têm em lidar com pessoas que fazem uso
abusivo de álcool e outras drogas, fazendo com que haja fragilidade na atenção à saúde dessas
pessoas, e corrobora com a ideia de que a USF não deve ficar presa ao cronograma para lidar
com a condição de saúde daquele indivíduo. O colega também falou sobre a importância da
ligação do serviço com a rede, e do encaminhamento do caso para um CAPS AD, por
exemplo; no sentido de se estimular o sistema de referência e contra-referência.

Tainá disse que a Política Nacional de Atenção Básica traz que é obrigação do
profissional fazer a escuta, o que se prevê na atenção integral à saúde e como um direito dos
usuários. Apontou ainda que o direito universalidade (que condiz com a facilitação do
acesso), no caso explanado, é violado, o que pode gerar mais demanda reprimida, ferindo-se
também o direito da equidade. A colega ainda abordou sobre a necessidade de se pensar a
redução de danos no âmbito da Atenção Primária, e disse que se o rapaz é parte de uma
micro-área, os profissionais deveriam conhecer as demandas dele. Luana também alertou
sobre a necessidade de humanização dos profissionais no atendimento, e a falta da ética.

A respeito da potencialidade no caso abordado, todos concordaram sobre o quanto a


realização da Visita Domiciliar (VD) é importante para o estabelecimento e manutenção de
vínculos entre os profissionais de saúde e os usuários da USF. Ressalta-se que A Portaria nº
2.527, de outubro de 2011, diz que Atenção Domiciliar constitui-se como uma “modalidade
de atenção à saúde substitutiva ou complementar às já existentes, caracterizada por um
conjunto de ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação
prestadas em domicílio, com garantia de continuidade de cuidados e integrada às Redes de
Atenção à Saúde”. Com isso, a visita domiciliar, sendo uma modalidade de Atenção
Domiciliar, no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) tem um papel de destaque no
mapeamento de risco, no conhecimento das necessidades de saúde e situações de
vulnerabilidade da população. A VD, dessa forma, traduz-se como uma tecnologia de
assistência em saúde que procura compreender as relações entre os indivíduos que compõe
uma família, bem como a maneira como estas relações auxiliam para a existência de
processos protetores ou de desgaste para a saúde.

 Dialogar sobre os princípios e diretrizes na Atenção Primária apresentados na


Política Nacional, correlacionando com o caso apresentado e a vivência na USF
Amparo;

A PNAB traz como seus princípios básicos a universalidade da acessibilidade, do


vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da
humanização, da equidade e da participação social. A atenção básica considera o sujeito em
sua singularidade e inserção sociocultural, buscando produzir a atenção integral.

Assim, além de possibilitar o acesso universal e contínuo dos sujeitos aos serviços de
saúde, estes serviços devem ser os mais resolutivos possíveis, caracterizados como a porta de
entrada aberta e preferencial da rede de atenção, acolhendo os usuários e promovendo a
vinculação e corresponsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde. A leitura e
análise da PNAB aponta que tanto a acessibilidade quanto o acolhimento pressupõem uma
lógica de organização e funcionamento do serviço de saúde que parte do princípio de que a
unidade de saúde deva receber e ouvir todas as pessoas que procuram os seus serviços, de
modo universal e sem diferenciações excludentes, além de adscrever os usuários e
desenvolver relações de vínculo e ordenar as redes.

Dessa forma os colegas puderam dialogar sobre os princípios e diretrizes na Atenção


Primária apresentados na Política Nacional, correlacionando com o caso apresentado e a
vivência na USF Amparo da seguinte forma:
Joilson:

- Muitas vezes o profissional não tem o perfil para se trabalhar na APS, o que implica
na postura ética e moral do profissional. O ideal era se ter uma educação permanente na
saúde, onde a secretaria de saúde investisse e vistoriasse isso. Muitas vezes a gestão
municipal não gere de forma adequada as necessidades mínimas da USF. A forma como se
houve e se atende implica na logitudidade do cuidado

Tainá:

- O profissional de saúde deve ter o mínimo de respeito e consideração ao atuar na


saúde. Não se deve ter um perfil específico, mas geral e baseado na troca empática. O
conhecimento para a PNAB não deve se restringir aos estudos para concursos públicos, mas
na formação profissional em todo o processo. Será que estamos nos atendo aos princípios e
diretrizes dela durante as nossas práticas profissionais? Como o profissional está se
responsabilizando por aquele usuário? O currículo dos estudantes da UFRB é diferenciado,
por conta das discussões do BIS, mas ainda assim são incipientes as nossas discussões sobre a
atuação no SUS. Imagina-se que em outros cursos seja mais incipiente ainda, e impacte na
resolutividade das ações em atenção à saúde na APS.

Mithaly:

-Não devemos confundir aproximação com intimidade. A importância da


longitudinalidade no cuidado. As mudanças de gestão no município quebram muito esse
processo de longitudinalidade (efeito dominó das vulnerabilidades programáticas).

Camila:

- Educação é o ponto-chave para se trabalhar. Não sei como mudar, mas quando se
muda uma gestão, muda tudo. Não sei como isso é trabalhado com o ACS ou até a pessoal da
recepção. O cuidado deve ser construído de forma conjunta. O controle social é importante.
Houve a quebra dos três princípios: universalidade, equidade e integralidade.

Luana: Deve-se trabalhar a corresponsabilização da saúde dos usuários que procuram


a USF.

Ende: As visitas deverão ser programadas em conjunto com a equipe, considerando os


critérios de risco e vulnerabilidade de forma que famílias com maior necessidade sejam
visitadas mais vezes, mantendo uma certa regularidade nessas visitas. Ela também observou a
necessidade de uma frequência de reuniões para a discussão de alguns casos atendidos na
unidade, e que essas reuniões inclua os ACS. Ende questionou a atuação do NASF em relação
a parceria deste com a unidade, uma vez que sabe-se que os NASF devem buscar dar apoio ao
processo de integralidade do cuidado aos usuários do SUS principalmente por intermédio da
ampliação da clínica, ajudando na elevação da capacidade de análise e de intervenção sobre
problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários.

o No caso da USF Amparo, levantar avanços e desafios na implementação


destes princípios e diretrizes, sugerindo alternativas para cada desafio
levantado.

Como principais desafios levantados foram a rigidez do cronograma para marcação de


consultas na USF Amparo e uma maior necessidade de um trabalho em rede. Assim, Tainá
trouxe que a agenda da unidade poderia ser livre (todo dia haver marcação de consulta), o que
estava em consonância com a opinião geral dos colegas sobre a necessidade de flexibilização
da marcação de consultas na unidade, e que também deveria se ter cuidado com o
esgotamento do profissional na sobrecarga de funções no dispositivo de saúde. Joílson, então,
assim como os demais colegas citaram sobre a importância de gestores promoverem
condições de trabalho apropriadas e estímulo à formação continuada de modo a permitir a
atenção integral e qualificada à saúde. Luana também citou sobre a possibilidade de se
estabelecer planos de carreira na APS como uma forma de incentivar o trabalho dos
profissionais.
Ressalta-se que quanto à ordenação da rede, para a USF trabalhar com o acolhimento,
o que pressupõe, entre outros aspectos, o atendimento das necessidades de saúde dos usuários,
faz-se necessário que o sistema local de saúde esteja organizado com base na referência e
contra referência de forma a garantir a integralidade da assistência. Ou seja, não basta a UBS,
mais especificamente, os profissionais desejarem incorporar o acolhimento no seu processo de
trabalho. Precisa-se de uma articulação em rede de atenção.

 Refletir sobre organização do acesso e a agenda dos profissionais na APS, dando


enfoque a proposta de “ACESSO AVANÇADO” (buscar relatos de serviços que
utilizam este modelo).
Trabalhar flexibilidade, como propõe-se o acesso avançado, é representar a
diversidade do Brasil na APS, construindo uma APS adequada às necessidades
diversas no país. Assim os colegas trouxeram as seguintes contribuições sobre a
temática:

Mithaly:
Acesso avançado predispõe em se ter uma agenda aberta, mas também uma agenda
fixa. Envolver os profissionais em todo processo de trabalho. Redução do tempo de
consulta a partir da longitudidade do cuidado.

Luana:
-“Fazer o trabalho de hoje, hoje”;
- A marcação de consultas pós festa de São João (durante o São João a USF está
esvaziada).

Camila e Joilson:
-Trouxeram dois estudos para exemplificar. Abrir mão da agenda fragmentada, evitar
esperas prolongadas.

Joilson:
-Como não conseguimos ser resolutivos com uma febre, crise hipertensiva e diarreia?
Todo médico que atua na APS deveria ser formado em medicina da família e
comunidade.

Tainá:
-A equipe deve trabalhar de forma coesa. O profissional as vezes se restringe a sua
própria agenda, ao que fará naquele dia.

Referências:

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 648, de 28 de março de 2006. Dispõe sobre a revisão de diretrizes e normas para a
organização da Atenção Básica para o Programa da Saúde da Família (PSF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(Pacs). Diário Oficial da União. 2006 Mar 28. [acesso em 2018 Ago 18]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/gm/2006/prt0648_28_03_2006_comp. html.

_____________________. Portaria n° 2.527, de 27 de outubro de 2011. Redefine a Atenção Domiciliar no âmbito do


Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, v. 1, n. 208, 28 out. 2011a. Seção 1. p. 44.

_____________________. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica,
estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2017. [internet]. [acesso em 2018 Agos 18]. Disponível em:
http://www.brasilsus.com.br/index.php/legislacoes/gabinete -do- -ministro/16247-portaria-n-2-436-de-21-de-setembro-de-
2017.

LOPES, Gisele Vieira Dourado Oliveira et al . Acolhimento: quando o usuário bate à porta.  Rev. bras.
enferm., Brasília, v.67, n.1, p.104-110, Feb. 2014.

SHINZATO CAMELO, Marina et al. Acolhimento na atenção primária à saúde na ótica de enfermeiros.  Acta Paulista de
Enfermagem, v. 29, n. 4, 2016.

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